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presidente da RepQblica
JOSE SARNEY
Ministro da Cultura
JOSE APARECIDO DE OLIVEIRA
-
Fundação Joaquim Nabuco Editora Massangana
-
Rua Dois Irmãos, 15 - Apipucos Recife - PE - Brasil
CEP 52.071
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
Conselho Editorial
Fernando de Mello Freyre (Presidente)
Alubio Bezerra Coutinho
Bráolio do Nascimento
Clbvis de Vasconcelos Cavalcanti .
Frederico Pernambucano de Mello '
Gilberto de Mello Kujawski
José Geraldo Nogueira Moutinho A escravidão tem suas origens com a prõpria humanidade: desde
Leonardo Dantas Silva os tempos blblicos, descritos no livro do GBnesis. os vencidos eram tor-
Luiz Antônio Barreto nados à condição de escravos, em troca de suas vidas. A escravidão era
Maria do Carmo Tavares de Miranda dessa forma, vista como um gesto humanitário, chegando a fazer parte
Tânia Bacelar de todos os grandes c6digos da antiguidade, como o de Harnurabi, com
especial enfoque no Direito Romano e nas Ordenações do Reino, que
Direção Executiva da Editora Massangana serviram de norma escrita ao mundo português at8 o século XIX.
Depois que Antão Gonçalves e Nunes Tristáo capituraram os aze-
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Leonardo Dantas Silva Diretor Geral negues do Rio do Ouro, em 1441, a serviço do Infante D. Henrique de
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Maria da Conceição Luna Rodrigues Gerente Administrativo Portugal, as expedições portuguesas e espanholas transfonnaramse em
-
Si'lvio Bentzen Pessoa Diretor de Editoração verdadeiras empresas,, com objetivo de incrementar o com6rcio escravo,
fixando na Costa da Africa, várias feitorias, especialmente na regiáo do
Evaldo Donato - Diretor de Comercialização Cabo Branco, estabelecendo-se poçtenomente na ilha de Arguim (1448)
Capa: Vanilda B. Pordeus, Composição: Maria do Carmo Oliveira e e no Senegal (1460), com a finalidade de adquirir prisioneiros de triboç
Selme Galvão. Revisão: Rômulo Freire, Ednéa Paiva, Rosa Martins, africanas, para transformti-Ias em escrava.
Ana Carmelina e Edilice Pessoa. Na estimativa de Vitorino Magalh3es Godinho, in Os descobri-
mentos e a economia mundial v. 1V (Lisboa, 1981-83), citado por JosB
Ilustração da capa: A Escravidao -"Negros novos" e a legenda Ramos Tinhoráo, in Os negras em Portugal (Lisboa, 1988), foram im-
original do desenho refletindo cena thica do tempo em que era ainda portados como escravos berberes, árabes e n e g m africanos, entre 1448
permitido o tráfico de escravos, De: Joann Moritz Rugendas. e 1505, de 136.000 a 151.000 indivlduos.1
Em Portugal, foram os escravos, inicialmente, destinados aas ser-
Folha de guarda: Mapa de Pernambuco publicado em 1624 no origi- viços domésticos e logo em seguida passaram a ser usados na florescen-
nal holandes, "Roteiro do rico Brasrl, no da Prata e Magalhjes, no te lavoura da canade-açúcar nas ilhas da Madeira, Açores e Cabo Verde.
qual se vê as condições de suas terras e cidades, comercro, frutos e
fertilidade de seu solo, ilustrado com gravuras em cobre':
'Em 1638 n%ose punha mais resistencia A escravidão de negros; o
Conselho Eclesiástico ao pretender educar os escravos na religião
reformada, achou dispensável 'cogitar-se atualmente se 6 lícito a
um cristão comprar e vender negros para escravizá-los'. E no mes-
mo ano já se diz: 'sem escravos não é possível fazer alguma coisa
.
no Brasil. . e por nenhum modo podem ser dispensados: se al-
".
g u h sentir-se nisto agravado, será um escrúpulo inútil'
7 - op. cit p. 183, nota 27.
8 - op. cit. p. 181 nota 23.
9 - COSTA, F. A. Pereira d a Anais Pemambucanos. Recife,
1983-1985, v. V11, p. 195 (Coleçao Pernambucana 2Vase).
10 - MELLO, JosB AntBnio Gonsalves de. op. c i t p. 184.
-
11 CALMON, Pedro. op. cit p. 347.
-
12 MELLO, Joçé AntBnio Gonsalves de. op. cit. p. 185186. Vide ainda
a obra de Gaspar Barlaeus, Histbria dos feitos recentemente
praticados durante oito anos n o Brasil etc., impresso em
Amsterdarn em 1647, traduzida para o portugués por Cláudio Braw
dão, Coleção Recife v. IV, 1980, que às p. 253-254 nos dá porme-
norizada descrição dos quilomboç dos Palmares.
- -
13 COUTO, Domingos do Loreto (c 1696 c 1762). Desagravos do
Brasil e g161ais de Pernarnbuco, 1981, p. 545 (Coleção Recife
.
v. Xl)
14 - KOSTER, Henry. Travels in Brazil. Londres, 1816. Esta obra foi
traduzida para o portugub por Luiz da Câmara Cascudo e sua r e
edição publicada sob o titulo Viagens a o Nordeste do Brasil.
Recife, 1978, v. XVII. (Coleção Pemambucana, 15 fase).
15 - COSTA, F. A. Pereira d a op. cit v. IX, p. 313-317. DIARIO DA VIAGEM DO CAPITÃO
JOÃO BLAER, AOS PALMARES EM 1645
LIVRO DE COMPRA E VENDA DE ESCRAVOS - 1864 A 26 de fevereiro partiu de Salgados o capitão Jogo Blaer com
sua gente e tendo marchado duas milhas chegou a um rio chamado
Elinga, al6m do qual havia um alto monte; dali caminhamos ainda
DOCUMENTAÇÁO: ESCRITURAS DE ESCRAVOS - 1866 duas milhas e chegamos junto a um rio de nomesebahúma, em cuja
margem meridional pernoitamos e onde, na mesma tarde, os nonos
Indios fisgaram alguns peixes chamados tarairais.
A 27 do mesmo, pela manhã, transpusemos o rio e o alto mon-
te e, tendo marchado boas quatro milhas, chegamos a um pequeno
rio chamado Tamala, onde descansamos um pouco: prosseguindo
depois a marcha, um quarto de milha além chegamos a um antigo en-
genho de nome S. Miguel onde ainda vimos jazeralgum cobre e ferra-
gens do velho engenho, dali caminhamos uma milha e chegamos ao
rios. Miguel, acampando pela noite na sua margem do norte.
A 28 continuamos a marcha ao longo da dita margem, pores
paço dum quarto de milha; atravessamos então o rio e caminhamos
uma milha pequena, quando de novo passamos para o lado norte e
após meia milha de marcha encontramos alguns rnondgs ou annadi-
C
DIBrlo da Viagem do CapitKo JoUo Blser aos Pai- em 1BSã RIAP. ~rrtt..(88):-
96, 1902.
lhas para pegar caça às quais, porém, estavam abandonadas; ali acam- nossa gente que só com grande trabalho tinha conseguido subir aque
pamos para no outro dia mandar examinar se não havia nas imedia- te rio Paraiba andando pelo leito cheio de penhascos submenos, por-
ções pegadas de negros; à mão direita do nosso acampamento ficava quanto às margens estão cobertas de vegetação tão densa que é quase
um grande lagradiza (alagadiço) ou pântano. imposslvel atravessá-la; este rio é muito piscoso e estende-se mais
A 1 de março pela manhã o capitão dos nossos lndios matou para o norte; ali pernoitamos.
à flexa um grande pássaro chamado Anhima, na nossa Ilngua pássaro A 7 do dito permanecemos acampados e mandamos a nossa
de chifre (hoornvogel), pois tem um corno do comprimento de um gente pescar; pegaram peixes em abundância tanto a flechadas como
dedo sobre a cabeça e outros em cada asa, os quais dizem servir de com anzóis.
contraveneno. A 8 do dito passamos para a margem sul deste rio e subimos o
A 2 do dito mês o capitão matou ainda um outro destes pás- rio Parengabo por espaço de cinco milhas, margeandeo ora dum ora
saros; neste dia mandamos a nossa gente e os índios à procura de pe- doutro lado; este caminho tivemo-lo nós mesmos que abri-lo; acam-
gadas; mas, nada encontraram, por isso ficamos ali aquela noite e pamos junto à margem sul do mesmo rio.
tamb6m o capitao João Blaer, tendo caldo mortalmente doente, vol- A 9 do dito pela manhã continuamos a marcha por dentro do
tou, com cinco holandeses e doze índios, carregado para as Alagoas; mato durante seis boas milhas e transpusemos alguns montes, um dos
o tenente Jurgens Reijmbach continuou conosco a marcha e cami- quais bem alto, até chegarmos ao passo de Dona Ana, distante cin-
nhamos uma milha por dentro do mato na margem sul do rios. Mi- co milhas de Salgados, junto a um rio de nome Itvbahúmma, perto
guel e quatro através duma campina chamada Campo de Húmanha; do qual pernoitamos.
ali pernoitamos I na I margem sul do rio S. Miguel, que estava todo A 10 do dito pela manhã marchamos duas milhas; tendo dei-
cheio de lajedos. xado à nossa direita um alto monte chamado Waipoú, chegamos na
A 3 do dito, prosseguindo na marcha através desta Campina campina a um rio arenoso e seco onde os nossos lndios mataram a
Hfimanha, passamos três rios arenosos e secos, nos quais apenas havia flechada seis grandes e dois pequenos porcos do mato; dali caminha-
água para beber; estes rios são chamados Cammera; continuando o ca- mos ainda três milhas em parte pelo leito do rio seco, até o rio S.
minho pela campina e, por espaço duma milha, por dentro do mato, Miguel, junto ao qual acampamos.
deixamos à nossa esquerda um monte muito alto chamado Taipoú; A 11 do dito seguimos rumo de oeste passando ora por dentro
pouco depois chegamos a um rio de nome Sagd junto ao qual acam- do mato, ora pela campina e às vezes pelo leito de rios secos, em
pamos. um dos quais, chamado S. Miguel, pernoitamos.
A 4 do dito, depois duma pequena milha de marcha, chegamos A 12 do dito subimos o rio de S. Miguel durante cinco milhas,
a um braço do citado rioSagoú; tlnhamos um bom caminho que dei- encontrando aqui e ali água para beber; depois passamos para a mar-
xamos à esquerda e metemo-nos pelo mato e, uma milha adiante, gem sul e chegamos a um campo aberto chamado Pasto Novo w
atravessamos um alto monte duas milhas além do qual pernoitamos Campo de Tamala; ali deixamos à nossa direita dois montes alcantila-
junto a um riacho. dos, a que dão o nome de Grasicqda; também havia em vários lugares
A 5 do dito marchamos durante três boas milhas por dentro muito capim comprido; esta campina tinha duas milhas de extensão
do mato e transpusemos alguns montes, porém nem altos nem In- e, tendo feito ainda meia milha por dentro do mato, acampamos e fi-
gremes e ali acampamos. zemos cavar poços a fim de achar água para beber.
A 6 do dito prosseguimos na marcha e chegamos a um rio d A 13 do dito pela manhã seguimos em direção ao norte e feito
nome Pevirgavo, o qual subimos por espaço de cinco milhas, ora n i meia milha de caminho chegamos de novo ao rio S. Miguel que um
ma,ora noutra margem, at6 chegarmos ao rio Para/ba, que despej quarto de milha mais adiante despenha-se dum monte situado ao
na Alagoa junto do engenho de Gabriel Soares; encontramos a nossa oeste; galgamos este, que era todo de penhascos e tem o nome de Ca-
gente, que havia reconduzido o capitão João Blaer para a Alagoas, a choeiradest. MigUel; esta cachoeira não 6 tão elevada quanto a do
cinco milhas do engenho de Gabriel Soares no lugar chamado Barra Paraiba, que tem bem quatro vezes a sua altura; estivemos acima de%
de Parúgavo, onde o rio Parengabo desemboca no Paraiba; disse a ta cachoeira do Para/ba, mas não junto a ela; neste lugar descansamos
um pouco e enviamos um negro, que trazíamos conosco, com alguns seguida chegamos ao velho Palmares que os negros haviam deixado
Indios a bater o mato, os quais trouxeram-nos quatro grandes porcos desde três anos, abandonando-opor ser um sltio muito insalubre e ali
do mato e um pequeno, mortos a f1echa;depois prosseguimos na mar- morrerem muitos dos seus; este Palmares tinha meia milha de compri-
cha e acampamos junto à margem sul do rio S. Miguel. do e duas portas; a rua era da largura de uma braça, havendo no cen-
A 14 do dito, depois de havermos subido por algum tempo tro duas cisternas; um pátio .onde tinha existido a casa do seu rei,
este rio, passamos para a margem norte e uma milha adiante galgamos em cujo local está ainda agora uma grande palhoça (groot kluys), no
um elevado monte, de bem meia milha de altura, de cima do qual qual o rei fazia exercício com a sua gente; as portas deste Palmares
subimos ainda um outro monte, porém não tão alto; caminhando eram cercadas por duas ordens de paliçadas ligadas por meio de tra-
quase sempre com rumo norte ou nordeste cerca duma milha além vessões, mas estavam tão cheias de mato que a muito custo consegui-
chegamos a um rio arenoso e seco, cheio de penhascos; marchando mos abrir passagem; dali por diante marchamos por espaço de milha
mais duas milhas passamos perto do lado ocidental duma cachoeira, e meia sempre por dentro de roças ou plantações abandonadas, nas
não muito íngreme, mas presentemente sem água, no rio que aflue quais, porém, havia muitas pacovas e canas com que matamos a fc+
para o Para/ba; no dito rio acampamos, chovendo durante a noite. me; em uma destas roças acampamos e assamospacovas.
A 15 do dito, pelas oito horas da manhã, conquanto ainda cho- A 19 do dito pela manhã caminhamos meia milha e chegamos
vesse, partimos e depois duma milha de caminho deixamos aquele rio ao outro Palmares, onde estiveram os quatro holandeses, com brasi-
à nossa direita chegando a um outro cheio de penhascos; no seu lei- lienses e tapuias e incendiaram-noem parte, pelo que os negros aban-
to marchamos durante todo o dia, saltando dum penhasco para ou- donaram-no e mudaram o pouso para dali a sete ou oito milhas para
tro como os cabritos nas ilhas do mar do Norte, na extensão de cin- o sul, onde construlram um novo Palmares igual ao que precedente-
co ou seis milhas, ora em direção ao norte, ora a leste, até o rio Para/- mente haviam habitado; uma milha adiante demos com um bonito
ba; choveu todo o dia e pernoitamos na margem norte deste rio. rio, cheio de penhascos, chamado Cabelero e afluente do rio Mondoú
A 16 do dito subimos o rio Paraiba bem umas seis milhas e \ que despeja na Alagoa do Norte; depois de ainda duas milhas de
mos à direita alguns altos montes; neste dia marchamos com granc marcha chegamos a um riacho, que corria em direção a leste, e pas-
trabalho por cima dos penhascos que eriçavam o leito do rio; onc samos dois montes tendo continuamente chuva; ali pernoitamos.
muitos dos nossos deram quedas entortando as suas armas e os s A 20 do dito, depais de caminharmos quatro boas milhas,
membros,.mas não se extraviaram; acampamos na margem norte passando alguns montes e rios, chegamos a um rio chamado Japondá;
Paraiba. durante este dia encontramos todas as meias horas mucambos feitos
A 17 do dito, partindo da margem norte do Para/ba, chega- pelos negros quando deixaram o velho Palmares pelo novo situado ao
mos, depois de boas cinco milhas de caminho, a um outro rio que, leste e sudeste do primeiro; duas milhas adiante demos com um outro
vindo do norte, despeja no Paraiba, e subimos por ele durante todo mucambo dos negros onde tivemos de esperar bem duas horas por
o tempo, o leito estava cheio de penhascos; neste dia esgotaram--- três dos nossos soldados estropiados;. ctiegados estes. ainda caminha-
os nossos vlveres bem como os dos brasilienses, quando teremos o mos uma milha, até que a noite caiu e nada mais podfamos ver, e
tros s6 Deus sabe; ali na margem sul deste rio pernoitamos, avistam estávamos despidos e com frio, pois tivemos chuva o dia inteiro; es-
do lado do norte um alto monte que no dia seguinte galgamos. tivemos acampados junto a um rio até a saída da lua; às duas horas
A 18 do dito ganhamos o cimo do referido monte, que era alto da madt'ugada fizemos alguns fachos que acendemos e marchamos
e lngreme e sobre o qual encontramos água para beber; a este monte milha e meia por dentro do mato até chegarmos à porta de Palmares,
demos o nome de Outeiro de mondés ou monte das armadilhas por quando já vinha amanhecendo.
quanto em cima dele havia bem cincoenta ou sessenta destas para pe-
A o amanhecer do dia 21 chegamos 8 porta ocidental cle Pal-
gar caça, mas eram todas velhas de três anos; transposto este monte
maris, que era dupla e cercadq de duas ordens de paliçadas com gros-
chegamos, uma milha adiante, a uma antiga plantação onde encontra-
sas fravessas entre ambas; arrombamo-la e encontramos do lado in-
mos algumas pacovas verdes; dali por diante tivemos que cortar ca-
terior um fosso cheio de estrepes em que calram ambos os nossos
minho atravbs de um denso tabocal na extensão de duas milhas; em
cometas; n3o ouvimos ruldo algum senão o produzido p o r dois ne podlamos conduzi-la tendo j6 muita gente estropiada que era mister
gros, um dos quais prendemos junto com a mulher e filho, os quais fazer carregar; enchemos os nossos bornais com alguma farinha seca
disseram que desde cinco ou seis dias ali havia apenas pouca gente, e feijões a f i m de voltarmos para casa; neste dia a nossa gente quei-
porquanto a maioria estava nas suas plantações e armando mondés no mou para mais de 60 casas nas roças abandonadas; o caminho deste
mato; ainda mataram os nossos brasilienses dois ou três negros no Palmares era marginado de alas de palmeiras que são de grande pr6sti-
pântano viiinho; disseram ainda os negros pegados que O seu rei m o aos negros porquanto em primeiro lugar cobrem com elas as suas
sabia da nossa chegada por ter sido avisado das Alagoas; u m dos nos- casas, em segundo fazem as suas camas, em terceiro abanos com que
sos cornetas, enraivecido por ter caldo nos estrepes, cortou a cabeça abanam o fogo, em quarto comem o interior dos cocos e destes fa-
a uma negra; pegamos tambem outra negra; n o centro de Palmams zem os seus cachimbos e comem o exterior dos cocos e também os
havia outra porta, ainda outra do lado do alagadiço e uma dupla do palmitos; dos cocos fazem azeite para comer e igualmente manteiga,
lado de leste; este Palmares tinha igualmente meia milha de compri- que B muito clara e branca e ainda uma especie de vinho; nestas Bwo-
do, a rua, larga duma braça, corria de oeste para leste e d o lado norte res pegam uns vermes da grossura de u m dedo os quais comem, pelo
fmva um grande alagadiço; no lado sul tinham derrubado grandes ár- que têm em grande estima estas áwores. Ali, também, feriram-se mui-
vores cruzando e atravessando-as umas em cima das outras e também tos dos nossos nos estrepes que havia por trás das suas casas. Este era
o terreno por tds das casas estava cheio de estrepes; as casas eram o Palrnares grande de que tanto se fala no Brasil; a terra ali 6 m u i t o
em número de 220 e no meio delas erguia-se uma igreja, quatro for- própria ao plantio de toda sorte de cereais, pois B irrigada p o r muitos
jas e uma grande casa de conselho; havia entre os habitantes toda
sorte de artlfices e o seu rei os governavacom-seve- justiça,-não pe
- e belos riachos; a nossa gente regressou à tarde sem nada ter consegui-
do; ainda esta noite dormimos nos Palmares
rnitindo-feiticeiros_entrewa~ua-gente-equando alguns negros fugiai A 23 do dito queimamos o Palmares com todas as casas exis-
(mandava-lhes crioulos ao encalço e uma vez pegados eram morto tentes em roda bem como os utensllios nelascontidos, que eram caba-
de sorte que entre eles reinava o temor, principalmente nos neg ças, balaios e potes fabricados ali mesmo; em seguida retiramenos
da Angola; o rei também tem uma casa distante dali duas milhas c vendo que nenhum proveito mais havia a tirar; após uma milha de
uma roça muito abundante, a qual casa fez construir ao saber da r marcha chegamos a u m rio, todo cheio de penhascos, denominado
sa vinda pelo que mandamos um dos nossos sargentos com vinte ho- Bonguá; ali deixamos de emboscada, junto aos Palmares u m dos nos-
mens a fim de prendê-lo; mas, todos tinham fugido de modo que ape- sos sargentos com 25 homens, mas, não soubemos o que conseguiram;
nas encontraram algumas vitualhas de pouca importância; n o cami- nesta tarde, próximo ao referido rio, ainda pegamos u m negro com
nho para a casa do rei tivemos de atravessar u m monte alto e muito a mulher e u m filho, e ali pernoitamos.
Ingreme, da altura de bem uma milha; queimamos a casa d o rei e A 24 do dito pela manhã subimos este r i o durante milha e
carregamos os vlveres; também encontramos roças grandes na maior meia, ora na margem norte, ora na meridional, e ali encontramos
parte de milho novo e achamos muito azeite de palmeira que os ne- u m negro cheio de boubas em companhia de uma velha brasiliense,
gros usam na sua comida, porbm nada mais; as suas roupas são quase escrava da filha d o rei, os quais nos disseram que nas vizinhanças ain-
todas de entrecasca de amores e pouca de algodão e todas as roças da corriam outros negros, pelo que acampamos ali e com vinte ho-
são habitadas por dois ou três casais; perguntamos aos negros qual O mens batemos o mato; chegando à casa da filha d o rei, que não estava
número da sua gente ao que nos responderam haver 500 homens nela, queimamo-la, mas nada conseguimos achar; passamos ali a noi-
alem das mulheres e crianças; presumimos que uns pelos outros h6 te.
1.500 habitantes segundo deles ouvimos; nesta noite dormimos nos A 25 d o d i t o permanecemos acampados e visitamos o mato em
Palmares redor num raio de cinco a seis milhas, porém sem resultado; pernoita-
A 22 do dito pela manha saiu novamente u m sargento com mos de novo ali.
vinte homens a bater o mato, mas apenas conseguiram pegar uma ne A 26 d o dito marchamos com rumo de.leste e de sudeste, du-
rante quatro boas milhas, sempre à vista de montes e transpusemos
gra cbxa de nome Lucrécia pertencente ao capitão de cavalaria Ley
que ali deixamos ficar porquanto ela não podia andar e nós não dois destes. cada u m de uma milha de extensão; deixamos a nossa di-
reita um grande monte muito alcantilado; fizemos sempre caminho
matamos alguns jacqús e à tarde atravessamos algum riachos indo
por dentro do mato e chegando à margem dum pequeno rio, ali per-
acampar junto à margem esquerda do Parafba.
noitamos.
A 1 de abril partimos pela manhã e durante uma milha tívemos
A 27 do dito pela manhã partimos com rumo de sudeste em de transpor cinco ou seis vezes um riacho, atravessamos em seguida
direção a um monte alto, porém não muito íngreme e marchamos um monte, de uma meia milha de altura e chegamos a uma estrada
duas milhas até alcançarmos o seu cimo; mandamos explorar, d o alto de carros distante três milhas do antigo engenho situado junto à Ala-
de uma h~ore,as imediações, e o espia descobriu a nossa direita uma goa do Sul; dormimos esta noite no engenho de Gabriel Soares.
grande planície e um elevado monte a oeste; transpusemos este mon- A 2 do dito marchamos com a nossa gente para o alojamento
te, que erguia-se muito ingreme, no que andamos três boas milhas na Alagoa do Sul, de onde havíamos partido.
antes de chegarmos a planície onde atravessamos alguns riachos are-
nosos e secos; a referida planície estava coberta de mato fechado e
de tabocas chamadas canabrava, de modo que só dificilmente podla-
mos avançar e não conseguimos conseivar o nosso rumo tão densa
era a vegetação; em seguida subimos um rio que despeja n o Parafba,
e junto a ele acampamos perto de um poço, por causa da chuva; pas-
samos mal a noite por não temos pindovas para fazer choças onde
nos abrigássemos da chuva que durou toda ela.
A 28 do dito pela manhã partimos deste rio e deixando-o à
nossa direita, chegamos a um outro que descemos por espaço de duas
milhas até a sua afluência na margem norte do Para/ba; descemos este
durante meia milha e acampamos junto a sua margem esquerda; cho-
veu muito durante a noite.
A 29 do dito pela manhã seguimos ao longo da mesma margem
do Paraiba e meia milha adiante nos embrenhamos pelo mato com
rumo norte e nordeste; depois marchamos para o sudeste ao longo do
rio e fizemos quatro milhas em direção ao sul; transpusemos alguns
montes de pouca elevação e pernoitamos na margem esquerda.
A 30 do dito pela manhã continuamos a marcha pela referida
margem, por espaço de três milhas, passando alguns pequenos mon-
tes, mas sempre por dentro do mato fechado que só com grande tra-
balho conseguíamos atravessar e algumas vezes tivemos de caminhar
pelo leito do rio por cima dos penhascos; neste dia os brasilienses
pegaram muitos peixes, mas a nossa gente poucos; também o capi-
tão dos índios matou dois patos; durante todo o dia choveu muito
e pernoitamos na margem esquerda do rio.
Extraido da c o l e 0 de In8ditos denomina* - Blkwn sn Pr(~Ierm uit B m f i k n [alta
A 31 do dito pela manhã prosseguimos descendo o rio ao lon- e pep6lr promdenta do Brerill e traduzido do holan&ls por P.lfre<(o de Csfvalho.
go da margem esquerda e tivemos que abrir caminho com grande di-
ficuldade atrav6s do mato fechado, até darmos com uma antiga estra-
da que percorremos até chegarmos de novo à margem do Parafba; este N.E. Para u m publicaç80, e trsduwo de Alfredo da b r v i l h o wfmu nvirbo. II visti &do-
cumento original, por Jo& Antbnio Gonrnlvei da Mello (1988).
rio é muito piscoso e nas suas vizinhanças há muita caça; neste dia
F
>-
Restituldas as capitanias de Pernambuco ao domínio de Sua '
Alteza, livre já dos inimigos que de fora asykramonquistar; sendo \
poderosas as nossaC5rmasParãsãcudiF o inimigo, que tantos anos ' '
nos oprimiu; nuncaforam eficazes p a r a ~ d e ~ t r u i ~ c p n t ~ á r i o ~ q u e ~ d a s
portas a dentro nos infestou; não sendo menores os danos deste, do
que tiiiiia sido as hostilidades daquele; náo foi o descuido a causa
de se não conseguir este negócio; porque todos os Governadores,
que nesta praça assistiram com cuidado se empregaram nesta e m
presa; porém as dificuldades do sítio, a aspereza dos caminhos, a
impossibilidade das conduções, fez impossível, a quem o valor nao
fez poderoso; os melhores Cabos desta Praça, os mais experimenta-
dos soldados desta Guerra se ocuparam nestas levas, e náo sendo
pouco o trabalho, que padeceram, foi muito pouco o fruto que al-
cancaram.
E para que com alguma evidência se conheça o incontrasttivel
desta empresa, brevemente recopilarei as noticias, aue a ex~eribncia
descobriu; estende pela parte superior do rio de S. ~ r a n d s c ouma
corda de mata brava, que vem a fazer termo sobre o sertão do Cabo
5 C *. (
E\.( r-"--?
.- . ;
de Santo Agostinho, correndo quase Norte a Sul, d o mesmo modo , >i c. C><
que corre a costa do mar; são as árvores principais Palmeiras agres. po o fez crescer na quantidade, e a vizinhança dos_ moradores-os fez
tes, que deram ao terreno o nome de Palmares; são estas tão fecun. destros nas armas; usam hoje de todas, umas que.fazem, outras-que
das para todos os usos da vida humana, que delas se fazem vinho, roubam; e murtas que compram; as que fazem são arcos e flechas, as
azeite, sal, roupas; as folhas servem às casas de cobertura; os ramos que roubam, e compram-So de-fogo; os nossos assaltos os t8m
de esteios, os frutos de sustento; c da contextura com que as pencas feito prevenidos, e o seu exercício os tem feito experimentados; n ã o / , -C-.
vivem todos juntqs porque u m sucosso não cabe a todos, em palma-1,, ,=, ,.,
se cobrem no tronco, se fazem cordas para todo o gênero de gia
ras, e amarras; não correm tão uniformemente estes Palmares, que
os não separem outras matas de diversas Arvores, com que na dis-
tância de sessenta lbguas, se acham distintos palrnares: a saber ao
l&.,
res distintos tem sua habitação, assim pelo sustento, como pela se- , I
gurança; são grandementetrab-alhadores, plantam todos os legumes
da terra, de cujos frutos formam providamente celeiros-para os tem- J :,
' -' -- o;
pos da guerra, e do inverno; o seu principal sustento é ~ milho'( o
Noroeste o Mucambo do Z s dezesseis lbguas de Porto Calvo; e grosso, dele fazem várias igua~rias;ascaças os-ajudam-muito,~~por-tc&.-f&h
ao Norte deste distancia de cinco lbguas o de A r o t i r e u e ~ elogo para que são aqueles~matosabundantes~de~s. ~
a parte do Leste destes dois Mucambos chamados os das Tabocas; e Toda forma-de_.Guerra se acha neles, com todos os-s
destes ao Noroeste quatorze Iéguas o de Da_mbrabaaga, e ao Norte \ P !
Maiores e inferiores, assim para o sucesso das pelejas, como para a
deste oito léguas a Cerca chamada Subupira; e ao Norte desta seis a s s i ~ r a a d o l R e i ; reconhecem-se todos obedientes a u m que se ,
16guas a Cerca Real chamada o M-o; a Oeste desta cinco léguas o chama o 8Ganga Z ~ m b a . ~ q u e _ q u ~ ~Senhor i z e r Grande; a este tem . , . .- , . >
Mocambo do QsenlE?, e nove 16guas da nossa povoação de Siri- por seu Rei e Senhor todos os mais assim naturais dos Palmares, e
nhaem para o Noroeste a cerca do &muJ;e vinte e cinco lbguas das como vindos de fora; tem palácio, Capas da suãamTIia~;Fassist~do
Alagoas para o Noroeste o Palmar de Andalaquituxe; Irmão do , de guardãs-e6flCIãTs, que costumam ter as Ca&z~Reais;é tratado
Zarnbi; e entre todos estes que são os m a z e s e mais defensáveis, com todos os respeitos de .Rei, e com todas as cerimbnias de Se- . - .
hA outros de menor conta, e de menor gente; distam estes Mocam- nhor; os que chegarnasua presença põem logo o joelhono-chão, e ' * " '
bos das nossas povoaçóes mais ou menos léguas, conforme o lan- batem as palmas das mãos, sinal do-seu reconhecimento-, e protes- ,',:
,-
çamento deles, porque como ocupam o vão de quarenta o u cinquen- , ~ . t a ç á O ~ a ~ l ~ e X c é l ê ~falam-lhe
ncía; p o r Majestade,~obedecem-lhepor
ta lbguas, uns estão mais remotos, outros mais próximos. admiração; habitam na sua Cidade-Gal, que chamam o Macaco, no- e.'' -,
me sortido da morte, que naquele lugar se deu a u m animal destes;
É o sitio naturalmente áspero, montuoso, e agreste, semeado
esta é a metrópole--tre.as mais Cidades-e povoações; está fortifi-
de toda a variedade de árvores conhecidas, e ignotas, com tal es- cada toda'= um cerco de pau-arpique, com treneiras abertas para
pessura, e confusão de ramos, que em muitas partes é impenetrável ofenderem a seu salvo os combatentes; e pela parte de fora toda se .i
a toda a luz; a diversidade de espinhos, e árvores rasteiras nocivas semeia de estrepes de ferro, e de fojos tão cavilosos, que perigar8
'
A
C;.'"
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arriscados. Facilitou-lhes a com4dia a estancia, e com presas, que
começariam a fazer, e com persuasões da liberdade, que começaram Conce.çiãort.ã-&e S. Braz; escolhem u m dos mais ladinos, a quem
a espalhar se foram multiplicando. veneram como a P a o ç h o , este-os.bat~izaeos casa: porém o batismo - ,
b sem a forma determinada pela Igreja, e os casamentos sem as sin- o ~.
Há opinião que do tempo que houve negros cativos nestas gularidades, que pede ainda a lei da natureza; o seu apetite é a re- , . , :
w' a' Capitanias começaram a ter habitadores os Palrnares; n o t e m p g u e
,r z a Holandabtupo~estas Praças engrossou aquele nú.meio; porque-a
gra da sua e l e i ç á o ~ ~ ~ ã a ~ ~ asu mulheres
~ t e n i que quer, ensinam-se
entre_elesjlgumas orações cristãs, observam-se os documentos da
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mesma perturbaçao dos Senhores era a soltura dos escravos; o tem- , , .
L., '.
>-C.( <L
L. ,-e ,
fb que cabem na sua .oãpacidade; o Rei que nesta cidade assistia es. .v-
, .- - .
praças, vinte e cinco entradas se fizeram aos Palmares, e malogran-
tava acomodado com três mulheres, uma mulata e duas crioulas, da
do-se nelas grandescãbedais, a si-&a-fãz%iaa7ea~ corno da d o s rno-
primeira teve muitos filhos, das outras nenhum; O m o d o de vestir
radores, e perecendo~muito~~soldad~os, nunca se lhe enfraqueceram
entre si, 6 o mesmo que observam entre nós; mais o u menos enrou. as forças; e para que conste com evidênciao@aii?Íexidado q u e
pados conforme as possibilidades. tem dado este negócio; e os grandes abalos que t e m causado este
Esta B a principal cidade dos Palmares, este o Rei que os do. empenho, referirei o nome dos Cabos que lá fizeram entradas.
mina, as mais cidades estão a cargo de potentados, e Cabos Maiores Despojados os Holandeses destas capitanias, que injustarnen-
que as governam, e assistem nelas: umas maiores, e outras menores te dominavam pelo memorável mestre de campo General Francisco
" ' :conforme o sítio, e a fertilidade os convida, a segunda cidade cha- Barreto, cujo nome não s6 merece entalhar-se nos mármores d a
.C
ma-se Subupira; nesta-assiste o Irmão do Rei, que se chama o Zo- eternidade, mas também imprimir-se nas lâminas da nossa memória;
na,-16 fortificada toda de madeira e pedras, compreende mais dFoí;- pois foi o farol que nas trevas do nosso cativeiro, despedindo o s
.. tocentas casas; ocupa o vão de perto de uma légua d e comprido. E raios do seu valor, que Holanda sentiu, nos conduziu ao p o r t o segu-
, ,
abundante de Bguas porque corre por ela o .rio Cachingi;. esta era a ro da liberdade, que hoje logramos; recolhendo-se restaurador d e .-
i C . c estância onde se preparavam os negros para o combate de nossos todas estas capitanias, não quis deixar de as remir ultimamente d e f e 'i ,--;-,
assaltos: toda a cercavam fojos, e por todas as partes p o r vias aos todos os seus contrários; e a si entre os parabéns dos sucessos pas-
sados se acendeu o brio para os estragos futuros, e prevenindo per- --
,-.c 4
p nossos impulsos, estava semeada de estrepes; das mais cidades e
. . ' povoações darei notícia, quando lhe referir as ruínas. to de seiscentos homens com tudo o mais necessario para as mar- , . , ,
chas, os entregou a ordem do capitão André da Rocha para que fi- . -) ! L
Este B o inimigo que das portas a dentro destas capitanias se
, .-
conserva a tantos anos, a quem defendia mais o sítio, que a cons-
zesse a primeira entrada por aquelas m a t i s nunca dantes penetra- .. . -
, ; -,. -
.das: entrou a gente, começou a desembaraçar os estorvos daquelasc " ,
tancia; os danos que deste inimigo nos tem resultado sáo inumerá- . c montanhas, e a buscar os habitadores daqueles desertos; porémC--. .
b. <L & \
;
. veis; porque com eles periga a coroa, e se destroem os moradores;
periga a coroa porque a seus insultos se despovoavam os lugaies
.,r- como eram os capitães, que entraram briosos, e o s soldados resolu- ,.,
. ; ; :., -.a.--.
. tos, a-d[scó~diaasdes.u.~;do que tendo notícia o mestre d e Campo
C
:, circunvizinhos; e se despejavãm as capitanias adjacentes;-e deste. L..'..' General mandou o tenente Antonio Jacome Bezerra para continuar. i
:.&ano infalível se-seguiam outros inevitáveis, como era impossibili-
\ -
tar-se-a cons&ação de todo Pernambuco; porque como ocupam o s '
. :. o empenho; o que fez com tanto acerto, que alcançou uma famosa r c $ .
vitória, em que acabaram muitos dos Palmaristas,
- e se cativaram
. \"'
-
@'.iminentes
Palmares do rio de S. Francisco.at6 o Cabo de S. Agostinho, ficam
a Ipojuca, Sirinhaém, Alagoas U n < P 6 r t o Calvo, S. Mi--
' \ quase duzentos.
-- ----
.-. . ,
vilas,-e-freguesias, que estão a beira-mar; sem cujos provim6ntos fi- este foi o último aplauso com que se coroou o mestre de campo Ge- , ,
camiodas inconse~áveis;porque os frutos, que dão, são os de que neral em Pernambuco; tendo a g16ria de ser o Único restaurador +
mais se necessita: a saber: gados, farinhas, açúcares, tabacos, legu- destas capitanias; e o renome de ser o primeiro conquistador dos
mes, madeiras, peixe, azeites.
Destroem-se os Vassalos, porque a vida, e honra, a fazenda,
Palmares.
Teve circunstancias de prodigiosa aquela vitória; porque na-
.
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.
< S .
' . -
-1,,.i,'"'porque lhe-aifitroçam,_e lhe-roübam os e s c r ã ~ o s ; - ~hónia33orque
s quele tempo, as experiências eram muito poucas, e a multidão dos '
\ as mulheres,.filhas irrev-erentemente se-tratam; as vidas porquces- negros era muito grande; julga-se sustentavam..aqueles.matosde
C.,'c , tão
I-'' ?, &postos sempre a repentinos assaltos; demaisque os caminhos dezesseis-at6-vintemalrps; que com este feliz sucesso foram de-
, não são livres, as jornadas poucos seguras; e s6 sgmarchã com tro- clini-ndo, porque ficaram os segundos mais descobertos para as
.nossas entradas; e os negros mais tímidos para os seus assaltos.
' ., <Crq)pas; qué~possam rebater osseus encontros.
.c;\ C'''I 7 E parecendo fácil destruir-se este dano, foi até agora impos-
sível conseguir-se este intento: porque depois da restauração destas
Entraram depois vários Capitães, Sargentos-Mores, e Mestres
de Campo, e todos mereceram louvor, porque sobre o s trabalhos
que padeceram, causaram danos que se sentiram; e porque n o breve
deste papel não cabe a relação d o que obraram sirva-lhes só a de-
claração dos nomes para glória d o que mereceram.
Entraram nos Palmares o Capitão-Mor Sebaldo Luiz, o Capi-
deceram até 22 de-dezembro em que se descobriu uma grande cida-
tão Clemente da Rocha, o Capitão-Mor Christováo Luiz, o Capitão
de de mais de 2.000~asas.fortificada de estacada de pau-a-pique, e
JosB de Barros, o Capitão-Mor Gonsalo Moreira, o Capitão Cipriano
defendida com 3 força; e com soma grande de defensores, preveni-
Lopes, o Capitão Manoel Rebello de Abreu, o Tenente Antonio Ja-
dos com todo o g E i e r o de armas, e depois de se pelejar de uma e
come, o Capitão Braz da Rocha, o Capitão, Antônio da Silva, o Capi- outra parte mais de 2 112 horas, largaram os nossos soldados fogo a
tão Belchior Alvares, o Capitão Manoel Alvares Pereira, o Capitão algumas casas, que como são de material capaz de incêndios come-
Sebastião de Sá, o Capitão Domingos de Aguiar, O Capitão Francis- çaram a arder e os negros a fugir. Deram sobre eles, mataram mui-
co do Amaral, o Mestre de Campo Antonio Dias Cardoso, o Coronel tos, feriram nao poucos e prenderam 7Q; ao dia seguinte se incorpo- Cr
Zenobio Acheoli; o Sargento-Mor Manoel Lopes. raram outra vez os negros, e reconhecido pela nossa parte o sítio,
Com todas estas entradas ficaram as nossas povoaçóesdes- foram investidos, renhiu-se fortemente com dano considerável dos
' . 1 truldas, e os Palmares conservados; sendo a Causa principal deste Palmaristas; até que no seu retiro tiveram o seu remédio; Assistiu o h-- , --A
8
' => dificuldade dos caminhos, a falta das águas, o descomodo Sargento-Mor com arraial formado perto de 5 meses entre os segre-
r,
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'e ,..
. ? '
dos soldados, porque como são montuosas as-serras, infecundas as dos ásperos daquele sertão padecendo indizíveis misérias excessi- V-
, Arvores, espessos os matos, para se abrirem é o trabalho excessivo,
porque os espinhos são infinitos, as ladeiras muito precipitadas, e
vos trabalhos, e fomes grandes; campeando sempre aquelas espes- +
suras: grande fruto se colheu desta assistência do arraial, porque
wb
', 2'i;fincapazes de carruagens para os mantimentos com que é forçoso tímidos os negros de tão próxima vizinhança mais de 100p_gp?çe 'w'
-- ?,-ri*'
que cada soldado leve as costas a arma, pólvora,~balas,capote, fari-
nha, Agua, peixe, carne e rede com que possa dormir; com a carga,
- ----
recolheram ao povoado
- ---- buscar seus s e n w e s . SC\
Nestas esperas alcançou por notícias o Sargento-Mor, que se ---:r
que os oprime, é maior que o estorvo, que os impede; ordinariamen- tinham passado os negros 25 léguas além dos Palmares entre as
te adoecem muitos, assim pelo excesso do trabalho, como pelo rigor
do frio; e estes ou se conduzem a ombros, ou se desamparam às fe-
fragosidades de uns carreiros tão espinhosos e bravos. que pare-
ciam incontrastáveis a toda a resolução; porém não os apatrocinou
1%. .,
I,
ras; e como os negros são senhores daqueles matos, e experimenta-
dos naquelas serras, o uso os tem feito robustos naquele trabalho, e
ainda assim a aspereza, porque assaltados dos nossos ficaram mui- C;i \
tos mortos, e os mais fugiram, aqui se feriu com uma-pala ao Gene-
-
fortes naquele exercício; com que nestas jornadas nos costumam fa- ral das-Armas, que se chamava o z b i , q!e-quq-dizer-Deus da *' cl
zer muitos danos, sem poderem receber nenhum estrago, porque p,<,\ ;^>
guerra, Negro-desingular v a l o r , ~ g ~ a n d e ~ n i m o L e ~ c o n s t â n c i a ~ r ~ a .
encobertos dos matos, e defendidos dos troncos se livram a si, e nos E3te é o espectador dos mais, porque a suaindústria, juizo e forta-
maltratam a 176s. leza aos nossos serve de embaraço, aos seus de exemplo, ficou -.-vivo,
--
Este era o estado em que achou os Palmares D. Pedro de Al- porém-aleijado, de uma(?e[na.
meida, quando entrou a governar estas Capitanias; e como os cla- Chegaram e&s novas com o Sargento-Mor a D. Pedro de Al-
mores do perigo comum, e a guerra da insolência dos negros era meida, e compreendendo dos Palmares o sitio, das entradas o peri-
geralmente lamentada de todos os moradores; logo tratou de acudir go, dos soldados o descômodo, dos negros a resolução, das cidades
.- 3 .. ,ao remédio daqueles Povos, e de conquistar a soberba daqueles
'
L;. ', "' inimigos; e dispondo com ordens as povoaçóes de Sirinhaém, Porto
a fortaleza, com madureza grande e zelo maior tratou de dar último
fim àqueles inimigos, e prevenindo todos os estorvos, que os suces- C r ,.,, ,. -
Calvo, Una, Alagoas, e rio de S. Francisco: mandou prevenir carnes sos passados lhe tinham descoberto com singular resolução, tomou -\ I z
Achou-se na Povoação do Porto Calvo em-2-e setembro de causa da quietação e segurança, que hoje logra aquela cidade, e .kp
.
,\ r .
., 'vn 1675, com 280 homens ent~e_bi~s,m"Iatos,--e-í@ps; em 21 de seus arredores, pois já estão os caminhos livres, os engenhos segu-
.
,- ' novembro-'pafirú para os Palmares, onde foram grandes os traba- ros, as fazendas sem receios, os gados quietos, e os moradores gos-
tosos, sendo neste empenho tão intentado de muitos, e não conse-
, lhos, excessivas as necessidades, e contínuos os perigos que se pa-
, ,..'
r:
guindo de nenhum, o seu assunto o serviço de sua Alteza, e não o
interesse de suas conveni8ncias, porque é patente a t o d o o Brasil, Partiu- desta-praça-do-Acrecife, e da presença de D. Pedro,
que nestas ocupações destroçou o seu cabedal, e não recolheu ne- Fernão Carrilho levando todas as ordens necesshrias para a empre-
sa, e todas as disposições convenientes para o intento. Causa prin-
nhum emolumento, achando-se por bem pago das vitórias que al-
cipal do bom sucesso que se conseguiu: porque n o lançamento das
cançou com o nome e glória que universalmente mereceu.
primeiras linhas consiste a perfeição da melhor fábrica, e como se
A este Capitão-Mor escreveu apertadamente D. Pedro de Al- tinha empenhado D. Pedro e m sair à luz com este emprego, estudou
meida para lhe entregar a Comissão deste negócio tão considerhvel; muito particularmente o modo com que se havia de fazer a guerra
a'ce?foü com gosto a empresa, e convidando alguns parentes e alia- servia-lhes alguns desacertos das levas passadas, de prevenção para
dos seus partiu logo para Pernambuco a avistar-se c o m D. Pedro; e o acerto das esperanças presentes, todas as pessoas que tinham al-
' 5 reconhecendo D. Pedro nele valor, e experiência, e satisfeito da prh- guma experiência daquelas montanhas consultou, para colher de to-
,.o tica com que discorria sobre os Sertões, escreveu logo a todas as .+ das a resolução mais certa para as direções, e assim foi o regimento,
Camaras destas Capitanias, para que dessem o concurso necesshrio
ao intento que determina conseguir; empenhou juntamente com car-
1 1
mais acertado ao sítio, e mais nocivo aos inimigos, que até a presen-
te se tinha feito, e como entendeu que a causa principal para se
C
L tas aos homens nobres e principais das povoações circunvizinhas conseguir este fim, consistia, em perpetuar arraial n o coração da-
, ' aos Palrnares, aplicando-lhes a glória daquela facção; estimulando- : queles desertos, para deles se fazerem assaltos, e terem sempre in-
I OS com a honra daquela empresa. quietos os negros; ordenou a Fernão Carrilho, que t o d o o seu cui-
dado havia de se perseverar, e persistir com arraial fortificado den-
t C Muito facilitou as Camaras, e a nobreza daquelas povoações a
cortês indiistria com que D. Pedro se mostrou independente da 916-
I tro dos Palmares; e como este empenho era o mais dificultoso desta
ria do último sucesso, e juntamente a isenção singular d o desinte- 1 conquista, porque a experiência tinha mostrado ser impossível as-
resse com que Ihes escreveu, que a Jóia que se costumava dar aos
Governadores, ele lhe oferecia para prêmio d o seu trabalho: e só ;
, sistir naquele sertão; pelos frios excessivos, grandes descdmodos,
faltas de mantimentos que se não podem prevenir, lá e m cima, e são
fiificultosos de conduzir das povoações de baixo. Atendendo a t u d o
queria ter parabéns de ver livre estas Capitanias dos sobressaltos
continuas, e dos perigos iminentes em que flutuava para a sua rul- D. Pedro com singular providência dispds pelas povoações circunvi-
na; e que o seu intento todo era o serviço que nesta matéria resulta- zinhas os mantimentos, de sorte que não faltassem a seu tempo aos
o va a Deus, e a Sua Alteza, e o sossego a seus vassalos; pois ao con- ' assistentes no arraial.
+ ~ b i trbrio ~ se seguiam duas-,monstruosidades indignas_dese_publicarem Com todos estes ditames, conselhos e ordens partiu Fernão
\ no-p, . - -.
a primeira .-levantarem-se
- com o d o m í n i o das, melhores Carrilho para a Capitania do Porto Calvo, onde o estava esperando a
Capitania-e-Pernambuco, negros cativos, a segunda era domina-- gente que se tinha conduzido das mais freguesias; que segundo a
, rem a seus próprios senhores seus mesmos~esZravos.~.' ~-
~
Pernambuco, servir-lhe de açoite, os mesmos negros, que p o r eles arruinar a Cidade que p6r em perigo as pessoas: apoderou-se deste
' j I 1-foram muiTas-- vez-amue s 6 i i i u ~ a v a mda guerra o m-me sítio a nossa Gente, nele formou arraial, fortificou-se e m baterias, e
$c c i 6 ' não o uso; por tantos anos estiveram com as armas nas mãos s e m deu-lhe o título de Bom Jesus, e a Cruz; titulo que elegeu para pa-
pre cofiiã Holanda, e ainda hoje estava do mesmo m o d o contra os drão da sua fortuna, e mandou que se invocasse e m todos o s suces-
Palmaristas; que se o m o d o d e gu-ar era diverço-por não-se= sos, e encontros; daqui despediu dois soldados a dar notícia ao Go-
Campanha, era t a m b h mais fácil por a s s a m ; que ele nao vernador D. Pedro de tudo o antecedente; pedindo-lhe socorro d e
qúeriãdo seúfrabãmo outro prêmio mais que o b o m sucesso; quem gente, e de mantimentos, pois naquele sítio determinava fazer as-
mais semeasse mais recolheria: porque-- e>- as presas ara eles haviam sento; despedidos os Correios, ordenou uma tropa para bater
de ser: que o G o v e m B n d , . Pedro n e m l i a queropara-si: q u e a aqueles matos, e combater aqueles inimigos; vagando pelo inculto
-
'
7 -
SíZZ%íKo j f i a a gl<ria deTa=&é serviço a Sua Alteza, e de
l i d i o conSid<ráveis daios e s t a s T a ~ i a n i a s ;e que se des-
v f V * s truissem os Palmaristas teriam terras para a sua cultura, n e w a -
daquelas asperezas em descobrimento dos negros; passados o i t o
dias na espeonça de-aigma f o ~ r u n a s erecolheram aesunidos, e
amo-s, com f&aAeAnte e cinco homens, q i Z G Õ r i g o - ~ -
&à* :
e -
>
+,J
!a o seu serviço, honra para a sua estimaçáo; que o seu intento era balho. se. retira&
. - . fugiti"os, d a l h poucos dias dee%-pãieceram --- ou- mnT\ C
buscar o maior Doder, porque queria ou acabar, o u vencer; por- tros- vinte c i n c o _ p o d e ~ d ~ m a ios d e s a 3 - i --
-~ - í w d -o
- sitio gara.oç_levar, bc
que do contrário se seguiria terem os negros noticia d o pouco po- que o b r i ó d a empresa-para os deter; com que se achou n o arraial
der, que levava, e zombarem da guerra que Ihes fazia: Fernão CaTilh-o c o m 130 h o m e n s .
Chegados os avisos a D. Pedro, e convocando a conselho o s
Receberam todos os Soldados com b o m ânimo estas razões, e Cabos Maiores da praça, p6s em pareceres a forma que havia de se-
e logo partiram em demanda da Cerca d e A qu?ltune, e* 6 o nome guir no socorro, que Fernão Carrilho pedia; para conseguir o f i m
da mãe do Rei, que assiste em m m b o fortificado, trinta Ié- que se intentava, e continuar n o sitio em que se aquartelara; resol-
I guas distante do Porto Calvo ao Noroeste, contavam-se então qua- veram todos, que despedisse u m Cabo Maior deste exército c o m
rC/' tro de outubro; tanto que do Mucambo se sentiu a nossa gente pre- trinta soldados pagos a fazer gente pelas povoaçóes circunvizinhas,
'
.
, \b-cipitadamente desampararam a Cerca, deram sobre eles o s nossos,
'mataram muitos, e surpreenderam nove, o u dez; a mãe d o Rei nem
e para lhe enviar os mantimentos necessários para o arraial; vota-
ram todos na pessoa do Sargento-Mor Manuel Lopes, porque a ex-
4 viva, nem moita aDareceu, e passados alguns dias,% achou a Dona
que a acompanhava morta.
peribncia daquele negbcio o tinha bem opinado n o conceito geral de
todos.
,(O*,'- h-0) Serviu este sucesso de nos dar Guias, e notícias porque pelos
Partiu o Sargento-Mor c o m trinta homens e fez altos nas Ala-
goas para a expedição da gente, e dos mantimentos; ação f o i esta
prisioneiros constou decerto que estava o ,Fki Gangazumba c o m seu
em que luziu muito o zelo de D. Pedro, e o empenho desta conquis-
ri &Irmão Gana Jbm, e todos os mais potentados, e Cabos maiores na ta; porque como desejava levar as novas desta fortuna solicitou os
L v,& Cerca Real c h a m a d a S u b u ; ocupa este Mucambo uma grande Ci- meios mais acertados para conseguir esta felicidade.
dade muito fortificada na distância de três montes, de pau-a-pique
I
com batarias da pedra, e madeira; distante da Cidade Real cinco ou Animou-se muito o arraial tanto q u e teve noticia d o cuidado
com que o Governador lhe prevenia o necessário para o sustento, e
\/P seis Iésuas. da Vila de Porto Calvo auarenta e cinco:. -servia
. . então
. de lhe multiplicava os companheiros para o trabalho; despediu entao
0 praça de arm2s, e nela intentava o 'Rei esperar a nossa gente, para Fernão Carrilho cinqüenta soldados à obediência d e tr6s Capitães
. t'b~
h:-):se defender em forma de batalha.
. I
38
$tA \-%
qtie pereceram nyitos,e-se--penderam cinqüentae seis; entrando riscos, que os assaltavam discorriam os Vassalos por aquelas bre- e -af
ne es por prisioneiro o Ganga mulsa mestre de Campo..da-gen_tte de nhas sem ordem. e sem governo; cajlvaram t W e seis peças, mata-
>, .+x""~ngola; era este grande ~ 0 ~ ~ ~ o I m ~ ~ s o ~e binsolente; . e r b o .f o m ram muitos, entre os mortos se conheceu o -pote_ntado entre
eles; e atrevido en hw-I
C.- o m g o nesta ocasião, que se avalíõu o sucesso mais por favor do : -- t q n ~ t ' ã Mathias
- o Fernandes com vinte homens -W
<,. "'(
Clu, que por esforço dos soldados; acabaram nele os Cabos de
maior fama: como fora Gaqea~~Capiiãn-da. Guarda do. Rei, João Ta-
L puya Ambrósio am~s-~pitães-afamadose outros a quem ai- .
pela outra parte dos Mucambos, e grassando aqueles contornos,
descobriu alguns que andavam vagos sem se atreverem a fazer as-
sento certo; foram matéria ao nosso estrago, e ficaram presos qua-
%S*,)-?
1
h,
C*'b r â @ ~ ~ s S s e p u l t em~pérpetuo6squecimento;
ou o R ~fugiu
I ..,. --.Como a fortuna
tn170
!*'(\J: ' ~ ~-
a \ c o m a & ~ r n ~ ~ t e q u e~-i vdo
r o-.assalt-o.
u estava favorável aos nossos intentos, todos
os soldados receavam -ir aos encontros, para se recolherem com
<'& Tanto que a notlcia deste feliz sucesso bateu às portas do
e f-Tnosso arraial; foi grande o alvoroço que elegeu a todos, e maior a rléspojg?, e s t a m a por* que ia com h n o s prevencão se es-
Falhava quelas asperezas como dominadores, e a á o como es- &-
e/-. resolução com que se animaram para a empresa; logo se expediu m
-rt o Capitáo Mathias =andes com a sua tropa, saiue
òp outra leva, a cargo dos capitáes Estêvão Gonçalves, e Manoel da animoso e recolheu-se animado, porque aos fios da sua espada se
,,e. Siiveira Candoro; e em espaço de vinte e dois dias aos onze de no- ; atavam vinte e um oresos, e ficaram por ela enfiados muitos mortos; --C
omesmo sucesso aos Capitães Antonio Velho Tinoco, e Felippe de
Melllo de Albuquerque, os quais lançando-se.-para-a&arte do Mu-
2 5
cambo do Amaro, se ,recolheram com ,presas e ficaram algunç_com Ss-r
dano.
u
-
&K?-r
Neste mesmo tempo que o nosso arraial estava dominante
naquelas brenhas, cujas vias incultas nunca foram examinadas por
outros passos, de tal maneira se facilitaram as nossas tropas na di-
vagação daqueles desertos, que grassavam tão confiados, que não
receavam ser ofendidos tudo vence o valor, tudo contrasta a dili-
gência; tudo facilita a consti3ncia. daqui se colhe por ditame certo,
que nenhum trabalho é insuperável à resolução intrépida; e nenhum
soldado repugna a perigos formidáveis se Ihes presidem coraçóes
animosos: como D. Pedro era a alma que alentava esta empresa, do
seu brio aprenderam os Soldados a serem constantes, d o seu zelo a
'
eles; o Rei do furo serem diligentes, da sua vigilância a serem cuidadosos; da sua dis-
w m e n t e que larqou uma- posição a serem prudentes: com todas estas influências d o Gover-
@+ @+:-CfiGz geral que uma nador D. Pedro se conseguiu em quatro meses, o que se intentou ha
% @voar com as penas de todos os negros que se conglomeraram com 0 muitos anos; pareceu o sucesso por maravilhoso, lisonja que a for-
maior parte acabou à nossa fúria, a outros salvou a sua li- tuna lhe quis fazer; e pesadas bem as circunst~nciasfoi a certo que
a prudência soube dispor; mais custou a disposição que o sucesso,
pois gastando D. Pedro três anos em lavrar estes imposslveis, co-
L Recolhidos ao arraial estes capitães com as notícias do Rei fe- lheu em quatro meses o fruto destes trabalhos: não deixa de emular
$5; rido, acendeu-se o ânimo dos nossos; e em seu seguimento saiu ou- esta ação prodigiosa a restauração singular destas Capitanias; s6
tra leva de cinqüenta homens, e quatro capitães a saber, José de digo que se na primeira se venceu u m inimigo, que de fora nos veio
UCT Brito, Gonçalo de Siqueira, Domingos de Brito e Gonçalo Reis de conquistar, nesta se superou outro que das portas a dentro nos do-
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Araújo discorreram estes pela vastidão daqueles matos em segui- minava.
v mento das relíquias do Mucambo do Amaro, não tiveram d o Rei no-
G.
\I Neste tempo que se contavam vinte e nove de janeiro de mil
r~tQs-eesetefia-eoitoO saio do Arraial d o :Bom Jesus ea-~, pos, com despesas de sua fazenda, e zelo d o serviço d e Sua Alteza e
Fernão Carrilho com um soldado menos que morreu, e c o m alguns neles gastara de assistência perto de três meses, e pelo r i o d e Moh-
feridos que mandou curar, e reglheu:se- na Vila de Port.%Calvo, dau, que lava as faldas a dois montes altos, e incultos encontrara
dando por destruidos os Palmares, e por vencidos 0 s Negros. Foi re- com uma tropa de negros, escondidos entre o s rochedos, e matos,
cebidõcom todas as demonstrações do aplauso, e c o m todos os pa- que o rio e montes fazem, porém como f o r a m o s nossos gentidos,
, rabens que merecia triunfo tão desejado; e como na tropa dos ne- e s c a p ~ a ~ s - u x &e ,morreram alquns.
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'C gros, que se cativara na guerra se conhecesse u m negco- Todas estas notícias chegaram a D. Pedro d e Almeida junta- &&'c
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, Mathi@s-D=bi, e uma_negraangQia-por nome @gdalena, i4 de-
maior idade, que era s o g o d e ~ m ~ ~ d o s _ f i l k & d ~ & Fernáo
i, Carrilho
mente com Fernão Carrilho, o qual f o i recebido c o m o s parabéns e c-,
alegrias gerais que pedia sucesso tão favorável a t o d o o Pernambu-
dandoTeõ?iéCessttrio para o provimento da viagem, o s mandou se co: e tomando D. Pedro informaçáo particular d o q u e restava n o s d Irs
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fossem em boa hora a buscar os seus companheiros, e Ihes dissesse,
que o seu arraial ficava fortificado, e que se não rendessem todos
Palmares, alcançou que a2 Cidades principais, cabos, e a m e l h o r
gente de guerra ficava morta e-destruída, e que a l g u m resto q u e fi-,.-
ao Governo de Pernambuco, logo havia de tornar a consumir, e a cava em companhia do Rei andava espalhado esperando a sua últi- !<i<,-e$ ,&
acabar o Rei e as relíquias que ficaram; c o E e s t e recado partiram os ma ruína; voando-então de-uma prudente indústria e razáo d e - a -
d- dois velhos; e com a maior tropa a si de soldados c o m negros e com do, ma"d@ u m Alferes-doutrinado nadísciplina-dacjüelao montã>~-!
e-a mais Nobreza, e povo da Vila, e seus contornos, se foi
para a Capela do Bom Jesus, onde se cantou solenemente uma Mis-
nhas;~quesubisse aqueles desertos,--e dissesse aos negros,-q.u.e fica-
va preparsndo - W n ã o - C a ~ i l h o para voltar a destruir asq-equenas
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sa em ação de graças do felicíssimo vencimento c o m que se domina- rellqü~iasquet X h á m ficado; e q u e T a n a a G a i s & r ~ e ~ ~ o d oaquele
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ram aqueles inimigos; e com que se contrastaram aqueles impossi-
veis; que na opinião dos cursantes daqueles matos, e dos experi-
Sgrtãb, p m c n m r h r h a b i t a d o r dele ficasse c o m vida; q u e
eles-quisessem
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viver e m paz com os Moradores, ele lhe ass-eguraria
em n o ~ m e _ d e . S í i ~ ~ a ~ o ~ n ~ b q m ~ r a t a mI hes ns at sosli _
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mentados naquelas montanhas, foi o sucesso mais benéfico que o
CBu nos fez, que fortuna que o valor conseguiu. nahria terras para a sua v i v e n d a , ~ e ~ l h e s ~ e n t r e g a r i a m ~ a ~ u l h e r e s ,
& Logo conforme a ordem que levava Fernáo Carrilho do Go-
filho~~qüéefinóSâõ~jFo~~i.e~avam.
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( V vernador D. Pedro y separaram os quintos para sua Alteza, e as Passados todos estes sucessos, alegres o s povos c o m estes q ' -'b?
1 mais peças se repartirampelos soldados; feita a r e r t i ç ã o por seis triunfos, livres os soldados destas marchas, sossegados o s morado- \
\ h ~ r n dse s i n W ~ a d o s com
, que ficaram os soldadoos satis-s do res destes insultos, e recebendo D. Pedro o s vivas, e parabéns desta 2 0
wq b' t~balho,que padeceram, e cõntentes do desinteresse que mx-a- n u b w t á o sinaular fortuna. correram os meses seauintes d e a b r i l e a u e *f15 .~ -
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v a ~Ação
. foi esta que de grande crédito para o Governador D. Pe- largou Õ Governo destas Capitanias a ~ k e - s A e ~ o u se aC a s t r o s e u
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+ dro, pois nela se conheceu publicamente o seu intento que era fazer , - sucessor; e m cujos dias brevemente se confirmou a verdade desta -.
'&\ a Sua Majestade este serviço tão grande; como libertar estas Capi- w.n r e m e lhe tocou parte da gl6ria que D. Pedro soube dispor. ;'~.r*J3
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tanias tirano, que as oprimia, sem esperança outra mais que
a conseguir.
Porque aos 18 de junho d o mesmo ano e m um sfibado 31 tarde,
véspera d o dia e m que na Paróquia d o Arrecife se celebrava a festa
Nesta mesma ocasião chegou aviso e m como uma tropa que d o nosso Portugubs Santo Antonio, entrou o alferes que tinha man- p\
tinha despedido o Sargento-Mor Manuel Lopes, que assistia nas dado D. Pedro aos Palmares com aviso, a c o m p a ' 1 h B i c - d e ~ 3 ~ . d 7 q.) h,
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Alagoas para a condução dos mantimentos a cargo d e João Coelho, ei com 12 n e g r O ~ ~ ~ ~ u a ~ ~ ~ s e v ~ a m ~ p P r D. o s t c ~ a o /--
e Manuel de S. Paio, para correr os Campos de S. Miguel, topara ho-déATm6i8a-@-m ordem d o Rei para lhe renderem~vassaiagem, ' i10
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com uma marcha de
a tropa sobre eles: Efn%am
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sos souberam que encaminhava a w a , o Gana lomba,
e mataram muitos; pelos
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& E d T e T a p a z q u e ~ d è s ~ a v ~ m ~ ã i z e ~ d o qéul ee~~usd6e r a c o n q u i s - -ZLQ )
tãr a8fiCuldade~doçPalmares.que tantos governadores e Cabos in-
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tenfãra%ènáo conseguiram; que sB ~ i K m Õ f ' e i G é r á Z 6 i uarbítrio,
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do Rei negro vaboso, e reconhecid~daquele6 brutas como Rei que n a s u e r i a m mais guerra, que-s_óqroc-m sai~ara~ vidas
s dos
&' a(,s t m . que fka_rarn, que e ç t i i a m S e m Cidades, sem mantimentos, s m u - -5C;
Logo chegou outra notícia que o Capitão Francisco Alves Ca- lhe= nem filhos; e-@erjispusesse dos que restavam como a sua+% '(u'e-
b*'melo, com Cento e trinta homens se espalhara pelos mesmos Cam- n6bi-eg=(ieterminasse. - , \ > , . A &E/
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g16ria, toda a glbria desta ~0nCIuistasoube merecer o zelo g e n r ~ deu debfir~cee paz
e a p~dhnciasingular de D. Pedro de Aimeida, que não repara
em nenhum impossivel se dispds a conseguir esta fortuna; seu 4
ser&eterno na lembrança dos filhos de Pernambuco; seu vai
aceita errc juuh de 1678 *
mado nas incultas montanhas dos Palmares, seu aplauso es
nos ~er~btuos brados da fama.
Pedro Paulino da Fonseca
Por
S6cio honorário do Instituto
~rqueológico'eGeográfico Alagoano.
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M e d r i a dos acontecimentos havidos nos primeiros anos de guerra
contra 0s negros das Palmeiras, e dos sucessos obtidos, atb a Paz
feita com 0 rei Gangasuma, em junho de 1678.