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Ji-Paraná
2023
NILTON MOTA DE OLIVEIRA
Ji-Paraná
2023
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O CALVINISMO E A POLÍTICA
Nilton Mota de Oliveira1
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
Governo; Política; Sociedade; Soberania; Calvinismo; Estado;
INTRODUÇÃO
1
Estudante do nono período no curso de Bacharel em Teologia no Seminário Presbiteriano Brasil Central
Extensão Rondônia (2019 a 2023). Endereço: Rua João Batista Neto, 2356. Jardim Nova Brasília – Ji-paraná –
Ro. E-mail: niltom_2@hotmail.com
4
Ora, ainda que o teor desta consideração pareça ser em natureza distinto da
doutrina espiritual da fé, o qual me propuz haver de tratar, contudo o andamento
da matéria mostrará que com razão tenho que enfrentá-la, mais ainda, sou
impelido pela necessidade a fazer isso, especialmente porque, de uma parte,
homens dementes e bárbaros tentam furiosamente subverter esta ordem
divinamente estabelecida; de outra, porém, os aduladores dos príncipes,
exaltando-lhes desmedidamente o poder, não duvidam opô-la ao domínio do
próprio Deus. A menos que se resista a um e outro desses dois males, a
integridade da fé perecerá.2
1
PORTELA, S. Ministério Fiel, 12 jul. 2009. Disponível em: <https://ministeriofiel.com.br/artigos/o-
calvinismo-e-o-governo-civil/>. Acesso em: 16 maio 2023.
2
CALVINO, J. As Institutas. Clássica. ed. São Paulo: Cultura Cristã, v. 4, 2006. Pg 451
5
Mas quem sabe discernir entre o corpo e a alma, entre esta vida presente e
transitória, e aquela vida futura e eterna, não terá dificuldade em entender que o,
reino espiritual de Cristo e a ordem civil são coisas muitíssimo distintas entre si. E
visto ser uma loucura judaica buscar e incluir o reino de Cristo sob os elementos
deste mundo, nós, refletindo melhor ser um fruto espiritual o que a Escritura
claramente ensina, fruto que se colhe do benefício de Cristo, nos lembramos ainda
mais de conter dentro de seus limites toda esta liberdade que nele nos é
prometida e oferecida.3
É muito claro que aqui o reformador está defendendo que há uma separação
entre o governo de Cristo e o magistrado civil. Calvino tece uma crítica aos judeus
por não terem compreendido essa separação.
Calvino defendia que a ordem civil não era algo imundo e “impertinente aos
cristãos”. Apesar de alguns defenderem que os cristãos não devem se preocupar
com as coisas desse mundo, pois pertencemos a um mundo celestial, Calvino
defende que o governo terreno, apesar de ser diferente do governo de Cristo, de
forma alguma é contrário a ele, pois esse reino espiritual começa exatamente aqui.4
De forma mais prática Calvino enumera os objetivos do governo terreno, que
ele chama de “governo temporal”:
De forma brilhante, Calvino argumenta que o governo civil não deve intervir na
ordem eclesiástica, a não ser para protegê-la de ataques esternos que dificultem a
livre manifestação do culto.
O objetivo de Calvino com a primeira e segunda seção das institutas é afirmar
que o cristão não deve se privar de participar do governo civil, por isso ele conclui:
3
(CALVINO, 2006, p. 451-452)
4
(CALVINO, 2006, p. 452)
5
(CALVINO, 2006, p. 452-453)
6
Se, pelo contrário, for a vontade de Deus que, enquanto aspiramos à verdadeira
piedade, peregrinemos sobre a terra, enquanto suspiramos por nossa verdadeira
pátria; e se, além do mais, tais auxílios nos forem necessários para nossa jornada,
aqueles que querem privar aos homens delas, os querem impedir que sejam
homens.6
A conclusão é que o reino de Deus se acha entre nós, que vida presente é uma
extensão do reino porvir, por isso o cristão não deve se privar de participar do
governo civil, pois precisaremos do auxílio deste enquanto peregrinarmos aqui na
terra.
2 As Formas de Governo
Calvino não levantava a bandeira de uma forma de governo específica, pois ele
entendia que todas são dignas de crítica, ele entendia que todas estavam afetadas
pelo pecado contido no coração do homem.
Quando essas três formas de governo, das quais tratam os filósofos, são
consideradas em si mesmas, de minha parte longe estou de negar que a forma
que se sobressai muitíssimo às demais é a aristocracia, quer pura ou modificada
pelo governo popular, não deveras em si mesma, mas porque mui raramente
sucede que os reis não governem a si mesmos de tal modo que nunca discordem
do que é justo e direito, ou se deixem possuir de tanta intensidade que não
conseguem ver corretamente.5
Segundo Calvino, para frear os vícios e defeitos dos homens é mais seguro
quando diversos exerçam o governo, pois assim eles podem se prover de
aconselhamento mútuo, punindo aqueles que se exalta mais do que é justo. Para
defender essa teoria o reformador utiliza o argumento da experiência e da própria
Escritura Sagrada, onde instituiu entre os israelitas um sistema de governo
semelhante ao aristocrata (Êx 18.13-26; Dt 1.9-17).
O ponto mais importante para Calvino, não era a forma de governo em si, mas
se esta promovia entre o povo a liberdade:
E como de bom grado admito não haver nenhum gênero de governo mais ditoso
do que aquele em que a liberdade é combinada a uma conveniente moderação, e
devidamente constituída de modo a ser durável, assim também considero mui
ditosos aqueles a quem é possível usufruir desta condição, e se para conservá-la
e retê-la laboram árdua e constantemente, concordo que não fazendo de seu
ofício algo alheio. Mais ainda, mesmo os magistrados devem fazer o máximo
empenho para prevenir a liberdade, da qual foram designados guardiães, para que
não permitam seja ela diminuída, e muito menos violada.6
5
(CALVINO, 2006, p. 458)
6
(CALVINO, 2006, p. 458)
1
Teocracia (do grego Teo: Deus + cracia: poder) é o sistema de governo em que as ações políticas, jurídicas e
policiais são submetidas às normas de algumas religiões. O poder teocrático pode ser exercido direta ou
indiretamente pelos clérigos de uma religião: a subdivisão de cargos políticos pode ser designada pelos próprios
líderes religiosos (tal como foi Justiniano I) ou podem ser cidadãos laicos submetidos ao controle dos clérigos
(como ocorre atualmente no Irã, onde os chefes de governo, estado e poder judiciário estão submetidos ao aiatolá
e ao conselho dos clérigos).
8
2
KUYPER, A. Calvinismo. 1ª. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. Pg 69
3
(KUYPER, 2002, p. 72)
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ABSTRACT
In this article we will analyze the thinking of Calvinism in relation to politics. In
his analyses, Abraham Kuyper brings, in a primordial way, what is the vision that
Calvinism has of the state, and how far its sovereignty goes. In addition, sin affected
the entire political order, and the state can be an instrument of God to curb the
despotism of those who hold power.
Calvin in his Institutes clearly defended the active participation of Christians in
political matters, not only as indirect participants, as in democracies, but also directly
as civil magistrates. He also says that politics is not a worldly practice, but that it is
also part of the kingdom of God on earth, therefore, as Christians, we must actively
participate in it.
This article, in summary form, talks about the three forms of government cited
by Calvin in his Institutes, and demonstrates what the reformer thought of each of
them and which he considered his favorite.
KEYWORDS
Government; Policy; Society; Sovereignty; Calvinism; State.
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5 Bibliografia