Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CALVINISMO E ECONOMIA
São Paulo
2021
ANNA CAROLINA C. V. DOS S. CAVALHEIRO
CALVINISMO E ECONOMIA
São Paulo
2021
TEXTO
Esse conceito, por si só, opera apenas como uma gesticulação correlacional;
contudo, ela é elevada à base teórica fundamental quando se considera suas
implicações no âmbito da remuneração, implicações estas de que, como forma de
consequência meritocrática, o ganho de bens econômicos seria uma recompensa
divina dada aos indivíduos que, por exercerem esforço considerável em seus
ofícios, concomitantemente demonstraram sua reverência ao Deus cristão,
mantendo-se, assim, a sociedade e a própria sobrevivência dos indivíduos. Porém,
o acúmulo de capital e a avareza são vistos, por Calvino, com maus olhos, como é
demonstrado pelo trecho do texto “A ética econômica calvinista segundo Calvino”,
de Jonas da Cunha, citando “O pensamento econômico e social de Calvino.”, de
André Bieler: “a natureza contenta-se com pouco que vai além do uso natural e
supérfluo. Não que usar das coisas um pouco à larga seja coisa em si condenável.
Mas, a cobiça é sempre danosa”, (BIELER, 1990: 417). Ainda, afirma que a
prosperidade desfrutada pelos mais abastados deveria ser utilizada de modo a
assistir os necessitados, promovendo a circulação dessa riqueza acumulada:
“o Senhor ordena que demos em justa proporção dos recursos que nos estão
disponíveis, tanto quanto nossos fundos permitem, socorrendo aqueles que se
acham em dificuldades, de tal modo que não haja alguns com extrema abundância e
outros com extrema carência”, (CALVINO,1995:174).
Mais que isso, Calvino afirma que a produção, como forma de louvor, não
pode se desviar para a ganância e nem para o ócio, como se observa em “A
contribuição de Calvino na administração da economia de Genebra no século XVI e
seu impacto no mundo contemporâneo”, tese de Antonio Oliveria:
“Calvino valorizou a livre iniciativa, base do capitalismo liberal, ressaltando que tal
liberdade correspondia a um aspecto Importante da vocação: a direção que Deus
dava a cada indivíduo pelo exercício de seu trabalho particular. Além disso, ele
mostrou a necessidade de uma legislação social rigorosa capaz de proteger os
pobres e os fracos contra os abusos sempre frequentes dos ricos sobre eles. A
legitimidade de tal legislação fundamentou-se na vocação providencial do estado.”
Ademais, cabe mencionar que tamanha fora a força e influência das teorias
de Calvino as quais, além de atuarem como agentes vitais na reformulação da
sociedade em um sentido social e econômico, também foram responsáveis por
redefinirem o sentido e propósito do ato de “trabalhar”, como descreve o trecho a
seguir, do texto “O desemprego é uma oportunidade?”, de Elísio Estanque: “A
influência da ética protestante e do calvinismo na economia contribuíram para que o
‘trabalho’ se tornasse merecedor de algum respeito (estatuto), salientando a
dimensão ética e de prazer que se lhe associam”.
in Soeiro, José; Serra, Nuno; e Cardina, Miguel (Org) (2013), Não Acredite em Tudo
o que Pensa. Lisboa: Editora Tinta-da-China