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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ANNA CAROLINA C. V. DOS S. CAVALHEIRO (TIA: 32129785)

DAVI MORAIS CAMARGO SILVA (TIA: 32113218)

DIOGO DEGANELI DE BRITO (TIA: 32121903)

FILIPPO JACOB AIRAGHI (TIA: 32122039)

LEYLA MANUEL HAYAZAKI (TIA: 32144407)

CALVINISMO E ECONOMIA

São Paulo

2021
ANNA CAROLINA C. V. DOS S. CAVALHEIRO

DAVI MORAIS CAMARGO SILVA

DIOGO DEGANELI DE BRITO

FILIPPO JACOB AIRAGHI

LEYLA MANUEL HAYAZAKI

CALVINISMO E ECONOMIA

Trabalho apresentado ao Curso de


Psicologia do Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde do Instituto
Presbiteriano Mackenzie, como
requisito parcial à obtenção da média
semestral da disciplina Introdução à
Cosmovisão Reformada

Professor: Prof. Marcelo Coelho

São Paulo

2021
TEXTO

O Calvinismo, como uma cosmovisão de versátil aplicação, compreende


diversas áreas que constituem a experiência humana em sociedade; dentre elas,
um dos mais vitais conceitos abordado pela teoria calvinista seria o da Economia, e
como este se manifesta nas relações cotidianas dos indivíduos com a riqueza e com
o divino.

Primeiramente, deve-se estabelecer qual é a base essencial na qual a


abordagem calvinista sobre a economia se sustenta, esta sendo a correlação feita
pelos teóricos entre os atos laborais e o louvor ao Deus monoteísta cristão. Tal
relação se fundamenta no preceito de que o trabalho (aqui definido como qualquer
ato desempenhado pelo sujeito na sua aptidão específica que gere um produto,
empírico ou não, supostamente contribuinte para o funcionamento das diversas
facetas da sociedade) pode ser classificado como uma forma de reverência à
entidade divina e que, por conseguinte, quanto maior esforço for colocado no labor,
maior será a demonstração individual de graça a Deus, pois o homem foi criado
para trabalhar, e é no trabalho que ele realiza seu destino aqui na Terra ("tomou pois
o senhor deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar."
Gênesis 2:15).

Esse conceito, por si só, opera apenas como uma gesticulação correlacional;
contudo, ela é elevada à base teórica fundamental quando se considera suas
implicações no âmbito da remuneração, implicações estas de que, como forma de
consequência meritocrática, o ganho de bens econômicos seria uma recompensa
divina dada aos indivíduos que, por exercerem esforço considerável em seus
ofícios, concomitantemente demonstraram sua reverência ao Deus cristão,
mantendo-se, assim, a sociedade e a própria sobrevivência dos indivíduos. Porém,
o acúmulo de capital e a avareza são vistos, por Calvino, com maus olhos, como é
demonstrado pelo trecho do texto “A ética econômica calvinista segundo Calvino”,
de Jonas da Cunha, citando “O pensamento econômico e social de Calvino.”, de
André Bieler: “a natureza contenta-se com pouco que vai além do uso natural e
supérfluo. Não que usar das coisas um pouco à larga seja coisa em si condenável.
Mas, a cobiça é sempre danosa”, (BIELER, 1990: 417). Ainda, afirma que a
prosperidade desfrutada pelos mais abastados deveria ser utilizada de modo a
assistir os necessitados, promovendo a circulação dessa riqueza acumulada:

“o Senhor ordena que demos em justa proporção dos recursos que nos estão
disponíveis, tanto quanto nossos fundos permitem, socorrendo aqueles que se
acham em dificuldades, de tal modo que não haja alguns com extrema abundância e
outros com extrema carência”, (CALVINO,1995:174).

Em suma, para a doutrina Calvinista, o conceito mais importante é o de não


se desejar mais do que se tem.

Além disso, o contexto histórico da formulação das teses calvinistas também


deve ser levado em conta nesta análise, principalmente a ascensão da burguesia e
as primeiras manifestações de características, hoje, tipicamente capitalistas.
Durante o século XVI, o poder da Igreja Católica Apostólica Romana (grupo
dominante até então) foi contestado no período do Renascimento.
Simultaneamente, a reativação das rotas comerciais com o Oriente possibilitaram a
pré acumulação de capital por pequenos comerciantes, que deram origem à
burguesia. E é neste quadro que Calvino elabora suas críticas à Igreja Católica, no
contexto da Reforma Protestante. Esta, protagonizada por Martinho Lutero, se
fundamentou em críticas ao estilo de vida esbanjador da Igreja Católica e da
autoridade da instituição religiosa em questão sobre a natureza de Deus e como
deveria ser realizado seu culto. Na Suíça, a burguesia ascendente também travava
conflitos com a Igreja. Enquanto a Igreja defendia que a riqueza material era
pecaminosa, Calvino, com a tese de predestinação, afirmava que Deus havia
definido aqueles que seriam salvos e os que não seriam, devendo os homens viver
uma vida pura e de boas práticas.

Mais que isso, Calvino afirma que a produção, como forma de louvor, não
pode se desviar para a ganância e nem para o ócio, como se observa em “A
contribuição de Calvino na administração da economia de Genebra no século XVI e
seu impacto no mundo contemporâneo”, tese de Antonio Oliveria:
“Calvino valorizou a livre iniciativa, base do capitalismo liberal, ressaltando que tal
liberdade correspondia a um aspecto Importante da vocação: a direção que Deus
dava a cada indivíduo pelo exercício de seu trabalho particular. Além disso, ele
mostrou a necessidade de uma legislação social rigorosa capaz de proteger os
pobres e os fracos contra os abusos sempre frequentes dos ricos sobre eles. A
legitimidade de tal legislação fundamentou-se na vocação providencial do estado.”

Neste sentido, a produção é vista como uma direção divina ao exercício do


sujeito, este visto como forma de louvor a Deus. Ainda, a produção deve ser sujeita
a uma legislação que garanta proteção aos trabalhadores, e também aos
produtores, de cair em avareza. Tal prerrogativa foi amplamente utilizada pela
burguesia e nobreza de diversos reinos distribuídos pela Europa, como a Revolução
Inglesa. Do mesmo modo, a livre iniciativa inibe o ócio, a vida à custa dos outros,
sendo isso também considerado uma má conduta. Assim, aquele que vive às custas
de outros e não contribui de modo algum à humanidade, vai contra os princípios
divinos e, portanto, é uma ofensa a Deus.

Ademais, cabe mencionar que tamanha fora a força e influência das teorias
de Calvino as quais, além de atuarem como agentes vitais na reformulação da
sociedade em um sentido social e econômico, também foram responsáveis por
redefinirem o sentido e propósito do ato de “trabalhar”, como descreve o trecho a
seguir, do texto “O desemprego é uma oportunidade?”, de Elísio Estanque: “A
influência da ética protestante e do calvinismo na economia contribuíram para que o
‘trabalho’ se tornasse merecedor de algum respeito (estatuto), salientando a
dimensão ética e de prazer que se lhe associam”.

Assim, pôde-se concluir que o labor assume nova dimensão graças ao


Calvinismo, se tornando um ato digno de reconhecimento e de prática, não mais
apenas por indivíduos com baixas condições, mas por todos que desejam usufruir
de suas recompensas como forma de louvor a Deus.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DA CUNHA, Jonas Araujo. A ÉTICA ECONÔMICA CALVINISTA segundo CALVINO.


2009. 10 p. Tese de Mestrado (Mestrado em História Social) - Universidade Federal
do Pará, Fortaleza, 2009. Disponível em:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/anpuhnacional/S.25/ANPUH.S25.1
236.pdf. Acesso em: 22 nov. 2021.

in Soeiro, José; Serra, Nuno; e Cardina, Miguel (Org) (2013), Não Acredite em Tudo
o que Pensa. Lisboa: Editora Tinta-da-China

OLIVEIRA, Antonio José. A Contribuição de Calvino na administração da economia


de Genebra no Século XVI e seu impacto no mundo contemporâneo. Orientador:
Prof. Dr. Hermisten Maia Pereira da Costa. 2008. 76 p. Dissertação (Pós-Graduação
em Ciências da Religião) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009.
Disponível em:
http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2526/1/Antonio%20Jose%20Oliveira.
pdf. Acesso em: 22 nov. 2021.

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