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WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.

São Paulo: Martin


Claret, 2013.

INTRODUÇÃO
O autor apresenta em sua obra a relação do desenvolvimento do sistema
econômico capitalista com o conceito protestante de vocação. Weber aponta
que para os protestantes a vocação é um chamado de Deus para exercer uma
profissão e assim sendo, eles valorizavam o trabalho e a riqueza produzida por
ele como um dever moral. A questão é se essas ideias estão ligadas ao
desenvolvimento do sistema econômico capitalista moderno.

DESENVOLVIMENTO
No primeiro capítulo o autor apresenta a questão do problema da filiação
religiosa e a estratificação social. Ele inicia o capítulo afirmando que ao analisar
as estatísticas ocupacionais de qualquer país com uma composição religiosa
mista, nota-se que os líderes empresariais e os profissionais mais bem
qualificados, eram na em sua maioria protestantes. Por esses protestantes
serem em sua maioria homens que ocupavam altas posições e obtinham
comércios e indústrias naquela época, eram acusados por católicos de se
dedicarem mais a questões econômicas, enquanto aqueles se dedicavam as
questões humanistas. O autor diz que os católicos acusam os protestantes
dizendo que o materialismo surge da secularização dos ideais protestantes, os
católicos eram mais voltados a um estilo de vida mais manso com uma
devoção extramundana o que os levavam a não ter grandes interesses por
coisas desse mundo, essa era a diferença, os protestantes compreendiam que
Neste primeiro momento fica inequívoca a correlação entre desenvolvimento
econômico e religião, considerando os direcionamentos tomados pelo
protestantismo.
No segundo capítulo dessa primeira parte é apresentado o espírito do
capitalismo, para Weber essa expressão é um tanto pretenciosa e dar uma
definição a esse conceito é complicado devido a natureza desse tipo de
investigação. Ele diz que se existe algum objeto ao qual esse termo possa ser
aplicado é sobre uma individualidade histórica. O autor apresenta uma series
de ideias atribuídas a Benjamin Franklin que refletem esse espírito capitalista,
tal forma de pensar visa sempre o que se deixa de lucrar quando se deixa de
trabalhar, mesmo que o motivo para isso seja uma folga. Outra ideia é a que
dinheiro gera dinheiro e, portanto, não se deve deixar o seu dinheiro nas mãos
de outro.
Nessa linha de raciocínio deve-se trabalhar muito, acordando cedo e seguindo
no trabalho até altas horas, dessa forma, sempre se terá crédito, diferente
daqueles que levam a vida de uma forma mais boemia. Essa maneira de viver
e trabalhar dará ao indivíduo uma boa reputação no mundo capitalista. Esse
espírito se apresenta como um modo de vida que não pensa em produzir
apenas para a sobrevivência, mas visa sempre um ganho e um maior crédito
na praça. Algo interessante é que existe princípios para esse ganho na
concepção americana, ele devia ser de forma legal, pois é fruto de uma
vocação. Porém, essa ideia prendia a pessoa a esse sistema forçando-a
produzir cada vez mais para se adequar a esse espírito capitalista.
Os católicos eram indiferentes a esse espírito, afirmavam que o comerciante
dificilmente, ou nunca, poderia agradar a Deus, porém havia uma reconciliação
por meio de presentes entregues a igreja, Weber diz que alguns homens ricos
morriam e deixavam a sua herança com a intenção de se obter o perdão da
igreja, assim os católicos toleravam o capitalismo. O racionalismo e seu
desenvolvimento também estão ligados a esse desenvolvimento e ambos eram
contrários a todo tradicionalismo religioso.
No terceiro capítulo dessa parte é abordado a concepção da vocação de
Lutero. Objetivo da investigação. O autor aponta que existe uma conotação
religiosa na palavra vocação, foi na reforma protestante que ela recebeu uma
valorização em relação aos deveres das atividades rotineiras no mundo, assim,
expressando um desígnio de Deus para o exercício de uma profissão. Ele diz
que a palavra vocação não havia sido usada dessa forma nem na Antiguidade
e nem por católicos, e que com essa conotação apareceu pela primeira vez na
tradução de Lutero. Dessa forma, se torna um conceito protestante incorporado
a sua ética em relação ao trabalho. Enquanto para católicos vocação está
relacionado apenas a superação moral mundana. Ainda que se encontra essa
conotação da palavra para os protestantes não se pode afirmar que eles eram
amigáveis ao pensamento capitalista. A ideia era que o trabalho é uma virtude
e o êxito na vida material uma benção. Por isso não se pode atribuir o espírito
capitalista a Lutero, para ele o trabalho também deve expressar amor fraternal,
assim, a questão que fica é qual é a influência da Reforma sobre o espírito do
capitalismo moderno.
Na segunda parte do livro o autor apresenta a seguinte divisão, os
fundamentos religiosos do ascetismo mundano e o ascetismo e o espírito do
capitalismo. Weber analisa os principais representantes desse ascetismo laico.
O primeiro a ser analisado é o Calvinismo, por sua crença na soberania de
Deus os calvinistas consideravam que o destino de cada homem foi
determinado por Deus, escolhendo uns para a vida e outros para morte, sendo
assim, a salvação não pode ser perdida e nem conquistada por homem algum,
é uma obra exclusiva de Deus. Essa doutrina foi considerada uma ameaça até
mesmo política, uma vez que o caminho de cada um já está traçado e
determinado, cabia a cada indivíduo buscar o seu caminho, para encontrar
aquilo que já estava determinado para ele e para a eternidade. Assim, elimina
por completa a dependência de qualquer instituição, pois, o único que pode
ajuda-lo é o próprio Deus, o qual, ajuda aqueles que se ajudam, essa visão se
estende para o trabalho. Deus exige dos fiéis dedicação e com isso encontra-
se uma base para a racionalização do trabalho e a estrutura do sistema
econômico capitalista.
Em relação ao Pietismo, o autor diz que esse é um movimento que surge de
uma cisão do calvinismo, os pietistas levavam uma vida voltada para a ética
vocacional, criam que os sinais externos de suas condutas eram a evidência de
uma conversão. A benção divina estava sobre os escolhidos e isso os fazia
bem sucedidos no trabalho. Diferentes dos calvinistas eram legalistas e não
desenvolveram a racionalização de atividades mundanas, estavam mais
ligados aos empreendedores capitalistas burgueses.
Um terceiro movimento que surge é o metodismo, tinha uma conduta mais
sistemática e metódica, buscavam a certeza da salvação com base no puro
sentimento da certeza do perdão, derivado do testemunho do espírito. Jhon
Wesley foi influenciado pelos moravianos e do fundamento da graça, mantém
apenas o conceito da regeneração, para ele as boas obras ser realizadas
apenas para a glória de Deus. Quem não as práticas não é um bom crente,
esse pensamento se estende a todos os metodistas.
Por fim encontra-se as seitas batistas, junto com os menonitas e os quakers se
diferenciam em princípios das doutrinas calvinistas. Eles entendiam que a
comunidade religiosa deveria ser composta apenas de pessoas crentes, na
qual apenas os adultos, que tivessem adquirido pessoalmente sua própria fé,
poderiam ser batizados. Diferente dos protestantes ortodoxos, justificação pela
fé era vista por eles como uma tomada de posse espiritual do dom da salvação,
o que ocorria apenas pelo trabalho do Espírito Santo que revelava tal obra a
cada crente de forma individual. Essa salvação era oferecida a todo mundo e
era necessário apenas não resistir ao Espírito, se desapegando do mundo. Isso
era feito por meio de um rígido afastamento do mundo, se relacionavam de
forma estrita com os quais consideravam mundanos. O modo de vida dos
primeiros batistas evidenciava um radicalismo e uma ruptura com gozo da vida.
Em virtude a esse estilo de vida se recusavam a aceitar cargos a serviço do
Estado, em razão de um dever religioso de repúdio das coisas mundanas.
Porém, a aplicação dessa conduta na vida secular, apresenta um caráter
significativo no desenvolvimento do espírito do capitalismo, o princípio de que a
honestidade é a melhor política.
Weber conclui que em todos os casos o individuo deveria provar sua fé com
base em trabalho honesto e disciplinado, contudo, é no calvinismo que se
encontra a melhor explicação da relação entre a ética protestante e a origem
do capitalismo.
Capítulo quinto, nessa parte o autor aborda como as ideias religiosas
fundamentais do protestantismo ascético e seus preceitos sobre a conduta
econômica cotidiana contribuíram decisivamente com as bases do moderno
sistema capitalista. Ele nos chama a atenção para a discussão da riqueza
apresentada nos livros Saint’s Everlasting Rest, Christian Directory de Baxter,
nesse ponto afirma que para Calvino o problema é não estava na riqueza do
clero e sim no desejo de prestigio, ela não pode ser vista como eticamente má,
mas sim, considerar conversas ociosas, dormir mais do que o necessário para
a saúde, a perda de tempo como pecados mortais, para ele o trabalho é
considera a própria finalidade da vida, considerando o desanimo como uma
falta de graça, uma vez que Paulo disse que quem não trabalha não deve nem
comer. A riqueza é posta como eticamente má apenas se for utilizada para um
gozo de uma vida ociosa.
A visão puritana acerca do esporte era como algo ascético que só serviria se
tivesse um proposito racional, eles eram contrários a qualquer coisa que não
apresentava um valor religioso imediato, rejeitavam todo simbolismo, ou ideia
de salvação sacramental, essa concepção favoreceu o desenvolvimento
econômico burguês, se tornado o berço do homem econômico moderno. O
entendimento que o trabalho é uma vocação se torna o fundamento para o
espirito capitalista, para eles a questão da desigualdade no mundo é explicada
pelos propósitos individuais de Deus para cada um.

OPNIÃO PESSOAL CONCLUSÃO

A obra de Max Weber não é tão fácil de entender, o livro apresenta algumas
questões que ligam os protestantes ao capitalismo, a visão da predestinação e
da Soberania de Deus apesentada pelos protestantes, faz com que eles
rejeitem toda crenças e mitos sobrenaturais. Essa racionalização apresenta
uma relação mais fria na sociedade, assim, surge a ideia que uma evidência de
ser um predestinado é encarar o trabalho como uma vocação, ou seja, como
um dever de produzir para glória de Deus. Esse pensamento se fundamenta
em encarar a vida por meio da racionalidade, rejeitando as paixões e os vícios,
negando o ócio da vida. Weber diz que esse sistema econômico moderno
capitalista é uma consequência dessa forma de viver, tornando a vida do
homem mais individualista, valorizando a riqueza e o acúmulo do capital. O
autor faz uma análise profundo acerca do tema e a obra contribui muito para
uma compreensão sobre o tema.

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