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CONFISSÃO RELIGIOSA E ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

Relação entre crença religiosa e tipo de atividade econômica

Proprietários do capital e origem protestante

Educação técnica no âmbito protestante

Educação humanística no âmbito católico


O Espírito do Capitalismo

O “Geist” Espírito e o ethos capitalista

A forma capitalista

A relação entre prática individual e o ethos capitalista

Benjamin Franklin como exemplo


WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.
Se nos demoramos ainda um pouco nessa passagem, cuja filosofia de vida é assim resumida no Cansado da América de
Kürnberger: “Do gado se faz sebo; das pessoas, dinheiro”, então salta à vista como traço próprio dessa “filosofia da
avareza” [o ideal do homem honrado digno de crédito e, sobretudo,] a ideia do dever que tem o indivíduo de se interessar
pelo aumento de suas posses como um fim em si mesmo. [Com efeito: aqui não se prega simplesmente uma técnica de
vida, mas uma “ética” peculiar cuja violação não é tratada apenas como desatino, mas como uma espécie de falta com o
dever: isso, antes de tudo, é a essência da coisa. O que se ensina aqui não é apenas “perspicácia nos negócios” — algo que
de resto se encontra com bastante frequência —, mas é um ethos que se expressa, e é precisamente nesta qualidade que
ele nos interessa.]
Na obra À ética protestante e o espírito do capitalismo, o sociólogo Max Weber analisa a influência de um tipo de
comportamento religioso no desenvolvimento do capitalismo moderno. O autor destaca a relação particular entre a “ética
protestante” e a questão do “trabalho” para mostrar, por exemplo, que: I) o trabalho deve ser encarado como “um dever”
(vocação) e não como “uma obrigação”; e II) “o aumento de salário não significa aumento da produção”.

Com base no enunciado e afirmações acima é CORRETO afirmar:

a) O surgimento do capitalismo moderno é o produto autêntico de uma mentalidade protestante.

b) O surgimento do moderno capitalismo do ocidente surgiu de modo acidental.

c) A suposta correlação entre aumento de salário e maior produtividade do trabalho nunca pode ser comprovada.

d) A maneira protestante de encarar o trabalho contribuiu para o maior desenvolvimento do capitalismo em países como a
Inglaterra e os EUA.

e) O modo protestante de encarar o trabalho debilitou a expansão da produção econômica nos países de maioria
protestante.
A Ética protestante e o espírito do capitalismo é um dos trabalhos mais conhecidos e importantes de Max Weber. Nessa obra, o autor
evidencia o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Weber estabelece algumas
características da doutrina sobre o desenvolvimento do capitalismo. Essas características têm como base

a) os valores do protestantismo como: a disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho
atuando de maneira decisiva sobre os indivíduos para formação de uma nova mentalidade, um ethos propício ao capitalismo.
b) a motivação do protestante que, segundo Weber, é o lazer enquanto dever e vocação, como um fim absoluto em si mesmo.
c) vocação, indisciplina e o dever
d) os valores do catolicismo presentes nos indivíduos que revelam a tendência ao racionalismo econômico que predominará no
capitalismo
e) a disciplina voltada para a construção de condutas de comportamento exteriores aos indivíduos.
A noção de Vocação em Lutero

A tradução de Klésis κλῆσις para Beruf (trabalho) (vocação)

“vocação é aquilo que o ser humano tem de aceitar como desígno


divino, ao qual tem de se dobrar.”

A ideias de vocação permeia o surgimento das igrejas reformadas como


o calvinismo, pietismo, metodismo entre outras.

A noção de vocação da espaço para o surgimento do tipo de


mentalidade capitalista, mas o próprio Lutero, por sua perspectiva
mística seria contrário à mentalidade capitalista.
As ascese intramundana no calvinismo

Weber aplica a noção de tipos ideais para abordar o Calvinismo.

Coloca a teoria da predestinação como o ponto mais característico


do calvinismo e, a partir dela, vê as consequência na modificação da
mentalidade europeia que possibilitaram parte da ética capitalista.

O calvinismo é abordado como um movimento histórico e dotado de


consequências causais para a construção das individualidades.

“[...] quando se tem em mente sua significação causal em virtude de


sua influência sobre outros processos históricos”
As ascese intramundana no calvinismo
A teoria da predestinação afasta meios mágicos de alcançar a graça

“Não havia nenhum meio mágico, melhor dizendo, meio nenhum que proporcionasse a graça
divina a quem Deus houvesse decidido negá-la. Em conjunto com a peremptória doutrina da
incondicional distância de Deus e da falta de valor de tudo quanto não passa de criatura, esse
isolamento íntimo do ser humano explica a posição absolutamente negativa do puritanismo
perante todos os elementos de ordem sensorial e sentimental na cultura e na religiosidade
subjetiva”
As ascese intramundana no calvinismo
O trabalho intramundano como meio de glorificação

Como associar essa tendência do indivíduo a se soltar interiormente dos laços mais estreitos
com que o mundo o abraça à incontestável superioridade do calvinismo na organização
social, à primeira vista parece um enigma. É que, por estranho que possa parecer de início,
tal superioridade é simplesmente resultado daquela conotação específica que o “amor ao
próximo” cristão deve ter assumido sob a pressão do isolamento interior do indivíduo
exercida pela fé calvinista. [A princípio ela é de fundo dogmático.] O mundo está destinado a
isto [e apenas a isto]: a servir à autoglorificação de Deus; o cristão [eleito] existe para isto [e
apenas para isto]: para fazer crescer no mundo a glória de Deus, cumprindo, de sua parte, os
mandamentos Dele. Mas Deus quer do cristão uma obra social porque quer que a
conformação social da vida se faça conforme seus mandamentos e seja endireitada de forma
a corresponder a esse fim. O trabalho social33 do calvinista no mundo é exclusivamente
trabalho in majorem Dei gloriam {para aumentar a glória de Deus}. Daí por que o trabalho
numa profissão que está a serviço da vida intramundana da coletividade também apresenta
esse caráter.
As ascese intramundana no calvinismo
A certeza da eleição divina frente à teoria da predestinação

Uma questão impunha-se de imediato a cada fiel individualmente e relegava todos os outros interesses a
segundo plano: Serei eu um dos eleitos? E como eu vou poder ter certeza dessa eleição? Para Calvino
pessoalmente, isso não era problema. Ele se sentia uma “ferramenta” de Deus e tinha certeza do seu estado
de graça. Assim sendo, para a pergunta de como o indivíduo poderia certificar-se de sua própria eleição, no
fundo ele tinha uma resposta só: que devemos nos contentar em tomar conhecimento do decreto de Deus e
perseverar na confiança em Cristo operada pela verdadeira fé.

Com efeito, na medida em que a doutrina da predestinação não se altera, nem se atenua e nem
é fundamentalmente abandonada, surgem na cura de almas dois tipos básicos de
aconselhamento
2
1

E, de outro lado, distingue-se o trabalho profissional sem descanso


“De um lado, torna-se pura e simplesmente um dever como o meio mais saliente para se conseguir essa autoconfiança.48 Ele,
considerar-se eleito e repudiar toda e qualquer dúvida e somente ele, dissiparia a dúvida religiosa e daria a certeza do estado de
como tentação do diabo” graça
As ascese intramundana no calvinismo
O ascetismo é transportado para a prática da vida cotidiana por meio do trabalho racionalizado

“Ora, se perguntarmos: em quais frutos o reformado {o calvinista} é capaz de reconhecer


sem sombra de dúvida a justa fé, a resposta será: numa condução da vida pelo cristão que
sirva para aumento da glória de Deus.”

Mas quais as características dessa conduto? E qual as suas diferenças com as outras
mentalidade?

O reformado propõe uma racionalização da sua


prática de vida em função do louvor a deus por
A prática católica era fragmentada via do trabalho.

“O Deus do calvinismo exigia dos seus, não “boas obras”


isoladas, mas uma santificação pelas obras erigida em sistema”
As ascese intramundana no calvinismo
O ascetismo é transportado para a prática da vida cotidiana por meio do trabalho racionalizado

Só que o calvinismo, na sequência de seu desenvolvimento, acrescentou a isso um aporte


positivo: a ideia da necessidade de uma comprovação da fé na vida profissional mundana.

Até agora nos movemos no terreno da religiosidade calvinista e, portanto, pressupusemos a


doutrina da predestinação como fundamento dogmático da moralidade puritana no sentido
de uma conduta de vida ética metodicamente racionalizada.
As ascese e capitalismo

Weber demonstrou como essas crenças religiosas


modificaram a visão religiosa que se tinha da riqueza.

Ela nunca poderia ser um fim em si mesma, mas


agora era considerada como uma comprovação da
honestidade e da idoneidade religiosa do indivíduo.

Nunca a riqueza tinha sido vista de forma tão positiva.

A partir dessa crença, a dedicação ao esporte, às artes


e as outras atividades era considerada uma falha com
a principal obrigação da vida: trabalhar
As ascese e capitalismo

A religião protestante contribuiu assim para formar


o moderno homem de negócios e mesmo o
trabalhador dos tempos atuais: "ela fez a cama
para o homem econômico moderno" (p.158).

O espírito profissional dos tempos modernos tem


sua raiz na moral religiosa puritana.

Em outros termos, apesar de atualmente estar


apagada, a motivação religiosa está por detrás do
impulso aquisitivo que está na base da conduta
capitalista.
A F-1 começou a perder as características que encantaram gerações nos anos 1990 quando o salto tecnológico tornou o piloto quase um
coadjuvante no cockpit. “Os carros de corrida são equipamentos e não mais automóveis. No volante, há mais de 100 botões. O condutor
virou um operador de máquinas”, reclama Bird Clemente, 72 anos, primeiro brasileiro a guiar, profissionalmente, um carro de corrida. No
passado, esse esporte dependia muito mais do talento do piloto para regular um carro. Hoje, espremido no cockpit como mais um
funcionário de um negócio que movimenta bilhões de dólares, o piloto cumpre religiosamente as regras do mercado.”
Adaptado de: CARDOSO, R.; LOES, J., O Esporte Perdeu. Revista Isto É, 4 ago. 2010, ano 34, n. 2125, p. 84-85.

A lógica do esporte e da fruição é englobada pela lógica do mercado. A importância dada ao negócio (negar o ócio), conforme análise de
Max Weber em sua “Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, revela que
I- o trabalho atende às regras do mercado, destacando a prevalência do negócio, em razão da necessidade de produção capitalista.
II- a dimensão religiosa, presente nos primórdios do capitalismo, na figura do protestantismo de orientação luterana, valoriza o caráter
sagrado da atividade fabril, em detrimento do trabalho braçal.
III- o negócio, quando praticado de acordo com os preceitos divinos, viabiliza a distribuição igual e solidária das riquezas produzidas.
IV- o ato de negociar, próprio do comércio, depende da força produtiva, conectada à divisão social do trabalho no mundo secularizado.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

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