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TIVE FOME...

(Mateus 25:35,36)
→ Pensando na relação que Jesus faz com a ação do Amor, ou seja, a prática do amor que prova a
nossa fé diariamente em favor do próximo, resolvi lançar uma pergunta: Por que a Igreja precisa se
envolver com ação social?
→ Essa pergunta já deveria estar ultrapassada no cotidiano missionário das igrejas locais (visto que
nunca se falou tanto de Missão Integral, porém, de tempos em tempos ela surge com maior ou menor
força. É muito difícil encontrar um pastor ou um crente fiel que considere a ação social algo
desnecessário ou não essencial na missão da Igreja.
→ Porém, por muitas vezes recebi resistência por trabalhar com uma ação social forte atrelada ao
evangelismo, pois sempre acreditei que o evangelho de Cristo é o amor prático... Por que tal
resistência, mesmo concordando que faz parte da essencialidade da igreja de Cristo?
→ Quando estávamos projetando o Centro Médico na Bolívia, houve uma resistência muito forte e
consequentemente pouca ajuda na elaboração e concretização do Projeto... porem, insistimos,
acreditando muito que seria uma forma da igreja mostrar um Deus vivo e atuante através de pessoas, e
que os menos favorecidos seriam olhados com atenção pela Igreja do Senhor.
→ De fato, o que incomoda mais e causa muitos preconceitos são algumas questões teológicas e
ideológicas que precisam ser melhores entendidas e, em alguns casos, superadas.
→ Quando a igreja opta por uma Teologia que enfatiza a ação social, é comum surgirem resistências
dos grupos mais conservadores. Assim foi com Walter Raushenbush, principal criador e articulador da
Teologia do Evangelho Social, teólogo-pastor que soube conjugar adequadamente o amor a Deus e o
amor ao mundo no início do século XX, nos EUA, mas que foi duramente criticado pela centralidade
da ação social em sua Teologia.
→ John Wesley, fundador do movimento metodista, na Inglaterra do século XVIII, também enfrentou
os mais conservadores de sua época quando optou por anunciar e viver um evangelho com dimensão
social. Por exemplo, a doutrina da santificação wesleyana inclui dois movimentos que devem estar
integrados: os atos de piedade e os atos de misericórdia.
→ Para Wesley, não há santidade sem a conjugação adequada desses dois aspectos. Segundo ele, a
santificação se alarga e se concretiza na interação humana. Enquanto a justificação pressupõe um ato
de fé pessoal e intransferível, a santificação pressupõe a existência do outro, do próximo, tanto no nível
comunitário eclesiástico como na esfera pública.
→ Na tradição wesleyana, ninguém se santifica sozinho, pois a santificação é sócio-comunitária. No
entendimento de Wesley “não há santidade que não seja santidade social (...) reduzir o Cristianismo tão
somente a uma expressão solitária é destruí-lo”.
→ O ministério de Jesus, conforme relatado nos Evangelhos como memória de fé das primeiras
comunidades cristãs, evidencia a primazia da fé em ação, da prática das boas obras, ou seja, da ação
social.
→ Lembremos apenas a ênfase posta na prática ao fim do Sermão da Montanha (Mt 7: 21-27) –
Exortação a Prática do Evangelho, em outras palavras um Evangelho Cristocêntrico, não o que eu
quero, mas o que Deus quer através de mim.
→ Ou ainda a parábola dos dois filhos (Mt 21: 28-32) – Novamente uma exortação à Vontade de Deus
sobre tudo e todos.
→ E um forte exemplo da importância da ação social está na parábola do ‘último julgamento’ (Mt 25:
31-46), onde Jesus aponta com clareza quem participará do Reino preparado desde a fundação do
mundo: “Vinde, benditos de meu pai, recebei o Reino (...), pois tive fome e me destes de comer. Tive
sede e me destes de beber. Era forasteiro e me recolhestes. Estive nu e me vestistes, doente e me
visitastes, preso e vieste ver-me” (Mt 25, 35 e 36).
→ Portanto, a ação social não pode ser vista ou compreendida apenas como dever, no sentido de uma
obrigação formal e farisaica, pois ela é parte integrante da Missão da Igreja e deve ser acolhida como
fruto natural de uma fé integral que tem, pelo menos, três elementos essenciais:
a) afetivo (esfera dos sentimentos, das emoções)
→ A primeira esfera é a emotiva que permite ao indivíduo a conquista da autoconfiança. Todas as
relações interpessoais no âmbito da evangelização devem ser movidas por ações amorosas uma vez que
consiste no alcançar o coração (só podemos alcançar o coração se movidos formos pelo nosso
coração). Essa esfera desenvolve-se, através do relacionar-se o que permite ao indivíduo confiar em si
mesmo (recuperação da autoestima). O filósofo Hegel comenta: [...] o amor representa a primeira etapa
de reconhecimento recíproco, porque em sua efetivação os sujeitos se confirmam mutuamente na
natureza completa de suas carências, reconhecendo-se assim como seres carentes: na experiência
recíproca da dedicação amorosa, dois sujeitos se sabem unidos no fato de serem dependentes, em seu
estado carencial, do respectivo outro...”
→ Praticamente é a relação que Jesus trouxe do Bom Samaritano, onde esse descendo para trabalhar
encontrou um homem caído (que havia sido espancado e roubado)... a relação que fez o Bom
Samaritano se aproximar daquele homem machucado foi o afetivo (compaixão por aquela situação que
vivia aquele homem)... ele gasta recursos para ajuda-lo... movido simplesmente pela compaixão.
→ Jesus certa vez olhou a multidão com fome e teve compaixão daquelas pessoas, e os discípulos
disseram à Jesus: “Senhor, temos que liberar essa gente para irem às aldeias próximas para comerem”.
Jesus então responde: “Dai vós de comer a eles...”
→ Jesus queria mostrar a importância do envolvimento afetivo, antes mesmo de dar uma solução ao
caso de mazela e sofrimento do próximo.
b) cognitiva (esfera da razão)
→ A esfera cognitiva corresponde a faculdade que temos para processar informações, do
processamento das experiências com o meio externo e interno e as modalidades de categorização
dessas experiências, resultando na adaptação contínua e progressiva do ser humano às condições do
ambiente físico e social.
→ O que nos levaria ao conhecimento adquirido e características subjetivas que nos permitiria
valorizar as informações que recebemos.
→ Quando temos pleno conhecimento que da realidade social de um povo, e percebemos que o
ambiente que eles estão vivendo pode ser alterado para melhor, através da ação da igreja na sociedade
que vive (independentemente da cultura), então somos convocados à reestruturação de tal sociedade,
através do evangelho que trás transformações, onde o amor que a igreja tem por aquele povo seria
convertido em ações que melhorariam tal ambiente.
c) comportamental-normativo (esfera da ação)
→ Ou seja, se conseguirmos chegar até esse ponto, é porque houve grande desejo de “fazer algo”.
→ Esse é o ponto que após uma análise afetiva, deixando-se influenciar pelo evangelho de Cristo,
chegando ao nosso cognitivo, onde conseguimos gerar informações produtivas em favor daqueles que
vemos que podemos ajudar, e nesse nível, gerarmos projetos de ação, e com o conhecimento adquirido
(envolvendo inclusive métodos de pesquisas de campo)
Portanto, a relação com Deus “implica conhecê-lo, amá-lo e servi-lo”.1 Sendo assim, a ação social,
como uma das dimensões da fé em ação (práxis da fé), é essencial para a vivência do Evangelho

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