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Responsabilidade Social da IMUM

Tiago 2
“…5Ouvi, meus amados irmãos. Não escolheu Deus os que para o mundo são pobres,
para serem ricos em fé e herdeiros do Reino que Ele prometeu aos que o amam?
6Contudo, vós tendes menosprezado o pobre. E não são os ricos que vos oprimem? Não
são eles que vos arrastam para os tribunais? 7Não são os ricos que blasfemam o bom
nome que sobre vós foi invocado? …”

O conceito de Responsabilidade social sempre esteve atrelado à essência


do Cristianismo primitivo, o cuidado com os mais pobres e excluídos
permeia o texto sagrado cristã o. Em um cená rio atual de incertezas,
nunca foi tã o necessá rio colocar em prá tica o amor e a misericó rdia.
A Missã o da Igreja no Mundo está em ser “boca de Deus”, como também
está em ser igualmente os braços, pernas, o abraço, o carinho, o cuidado
de Deus para com as pessoas. Mas para que isso seja possível é necessá rio
que ela viva uma vida compromissada e transformada por Cristo, amando
o pró ximo como a si mesmo, e compreender que a maior missã o dela é
servir.
Jesus deixa bem claro a verdadeira missã o da Igreja no texto de Mateus
25:31-46. Missã o esta que muitas vezes vem sendo deixado em segundo,
terceiro ou à s vezes em quarto plano na vida dos cristã os atuais. A
preocupaçã o demonstrada por Jesus nã o é com templos religiosos,
formaçã o de instituiçã o, ou com costumes de determinados grupos, mas
sim com as necessidades bá sicas da vida.
Ao invés da Igreja sair em uma caminhada para demonstrar sua crença
para a populaçã o na já tradicional “Marcha para Jesus”, ela deveria
realizar esta “marcha” em seu dia a dia, marchando para hospitais, asilos,
creches, bairros, cadeias, está dios, praças, ruas, escolas, e em qualquer
outro lugar, nã o para gritar sua crença, mas para agir segundo o amor de
Jesus, amor incondicional, que nã o olha recompensa nem mérito.
Diante da condiçã o em que a humanidade se encontra hoje, o ser humano
precisa transformar-se. Ser transformado nã o é mudar de personalidade.
Transformaçã o de facto nã o é tornar o que o ser humano nã o é, mas sim
quem o ser humano é e nã o quer ser, ainda que a rejeiçã o seja
inconsciente, ou mesmo fruto do entupimento que a ignorâ ncia espiritual
produz. A nova criatura é uma espécie de retorno ao que seria a

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verdadeira essência da criaçã o humana que foi corrompida pelo pecado
(Gn.6:12).
Russell P. Shedd (2013) em seu livro “Justiça Social” comenta como a
justiça social esteve presente em boa parte do Antigo Testamento onde as
leis de Israel foram instituídas por Deus a fim de criar e manter uma
sociedade justa para todos os seus membros, independente de classe ou
posiçã o, e que Deus rejeita totalmente qualquer separaçã o entre religiã o
e justiça, pois a legislaçã o social e as regras de culto sã o justapostas no
Pentateuco para sublinhar o princípio de que Deus ordena aos homens e
mulheres que nã o só mantenham uma relaçã o vertical adequada com ele,
mas também atribuíam a necessá ria importâ ncia ao seu relacionamento
com a criaçã o e, especialmente, com o seu pró ximo.
Já no Novo Testamento a teologia nã o está dissociada da vida, os cristã os
sã o obrigados a praticar a rectidã o, e a levantar suas vozes contra a
injustiça. Só assim terã o condiçõ es de demonstrar fidelidade a Deus e a
veracidade de sua profissã o de fé como cristã os membros da Igreja, cujo
cabeça é Cristo.
Enquanto os humanistas seculares vã o à luta para defender as causas
sociais, indignados com a desigualdade, os evangélicos parecem aceitar
com tranquilidade todo este descontrole social, e o fato de grande parte
desse mundo nã o ter ouvido ainda a mensagem da salvaçã o. “Entretanto,
onde o Evangelho foi proclamado e aceito, nova alegria e esperança
substituíram o desespero predominante” (Shedd, 2013, p. 26).
Estes desafios podem ser solucionados à luz do Evangelho. É necessá rio
fazer uma releitura da Palavra e da prá tica de Jesus à luz da realidade
atual, reavivando a solidez dos ensinamentos recebidos, voltando à s
origens a fim de encontrar luzes para o momento presente. O evangelho
de Lucas dá atençã o especial à s pessoas pobres marginalizadas chamando
a atençã o dos ricos à conversã o, como é o caso de Zaqueu (Lc. 19:1-10).
No texto de Mateus 25:31-46 Jesus demonstra sua preocupaçã o com a
justiça social; esta preocupaçã o é tã o grande, que inclusive define aqueles
a quem Ele irá receber em seu Reino: aqueles que foram alcançados pela
graça do evangelho, e através deste evangelho produziram as
características de Cristo em suas vidas.
As boas obras nã o sã o um acréscimo da missã o da Igreja, mas parte
fundamental na integralidade da demonstraçã o presente do Reino de
Deus.

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A Igreja pode e deve ser um agente transformador da sociedade, através
da aplicaçã o do Evangelho em sua totalidade. Assim como Jesus
transformou o mundo com sua vida dedicada em favor da humanidade, a
Igreja se seguir o exemplo de Cristo, nã o se omitindo e nem
negligenciando em favor da sociedade, terá por resultado a
transformaçã o tanto dela como da sociedade.

Misericórdia: Ao lado de diaconia, aparece na Bíblia o


termo misericórdia. Ele também é decorrente da fé e expressa as açõ es
que os cristã os executam por causa da sua fé em Jesus Cristo. Expressa
um coraçã o que se parte por causa da dor do outro. Muitas vezes usado
como sinô nimo, há o conceito de compaixã o. Um de seus sentidos, na
língua original, é o de um sentimento que brota das entranhas como um
ato de se colocar no lugar do outro e sentir o que ele está sentindo. E por
causa deste exercício piedoso, é agir a favor do pró ximo. Ambos os
termos focam na motivaçã o da açã o.

Assistência social: É um direito garantido por lei, como um direito do


cidadã o e da cidadã e um dever do Estado. Este termo é muito utilizado,
talvez o mais conhecido. Inclusive é um termo de uso pú blico, que
conceitua acçõ es em favor de pessoas que precisam ser assistidas em
alguma situaçã o de vida porque estã o enfrentando alguma fragilidade,
por causa da qual necessitam de um apoio externo para sobreviver ou
para progredir.

Assistencialismo: É a prá tica que se opõ e à assistência social. É o acesso


a um bem ou serviço por meio de doaçã o, favor, que depende de boa
vontade e interesse de alguém. No assistencialismo nã o há garantias e
nem direitos. Do termo assistência deriva esta forma pejorativa – o
assistencialismo –, que é uma forma de tornar a pessoa necessitada
dependente, e até chega a ser uma exploraçã o da parte de quem está
oferecendo o serviço; muitas vezes visa usufruir préstimos no futuro pela
açã o oferecida. Este conceito é usado em situaçõ es de troca de favores,
sem visar uma real transformaçã o da vida das pessoas assistidas. É uma
das características do assistencialismo criar a dependência, e nã o o
desenvolvimento e a emancipaçã o.

Esmola: Esmola nunca foi açã o social. Ela nã o deveria nem aparecer
neste contexto, mas incontá veis vezes somos questionados sobre o tema,
assim, pretendemos aqui elencar um conceito que é, na verdade, uma
convicçã o pessoal. A esmola aparece como exercício religioso da caridade,
mas nã o a encontramos na Bíblia como boa obra fruto da fé. O há bito de

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dar esmolas caminha pelo campo do desencargo de consciência de
pessoas cristã s que sabem que até colaboram para a manutençã o do
sistema opressor e excludente. A esmola faz mal a quem doa e a quem
recebe. Quem doa se engana pensando que está fazendo o bem, mas pode
estar sendo explorado e até alimentar o crime da exploraçã o de crianças e
pessoas deficientes, ou simplesmente a preguiça. Faz mal a quem a
recebe, pois a pessoa se conforma, deixa de sonhar, buscar crescer e
alcançar desenvolvimento. Entretanto, há situaçõ es em que a ú nica forma
de sobrevivência de uma pessoa é a esmola. O cristã o nã o deveria se
contentar em somente dar esmola, mas buscar uma relaçã o que visa
desenvolvimento e emancipaçã o.

Inclusão social: Este conceito expressa exatamente o que a expressã o


diz: incluir na sociedade quem está fora dela. A inclusã o tem muitas faces
ou vertentes. Ela pode se dar lutando por um determinado grupo
excluído, contra determinada barreira legal, cultural ou política que gera
exclusã o. Este conceito traz consigo um movimento de colocar na
caminhada cidadã quem estava fora dela, por algum motivo. Significa
promover o acesso aos serviços e equipar a pessoa para a plenitude do
direito cidadã o.

Justiça social: Este conceito expressa a atuaçã o no campo da defesa de


direitos, a construçã o de relaçõ es justas e a luta pela desconstruçã o das
situaçõ es opressoras. É mais uma forma de atuaçã o pautada nã o
simplesmente na piedade, mas no reconhecimento da dignidade do outro.
É uma construçã o, de ordem moral e política, baseada na igualdade de
direitos e na solidariedade coletiva. Quando usado no contexto de
desenvolvimento, ele faz a interseçã o entre o pilar econô mico e o pilar
social. Por vezes, justiça social engloba tratar os diferentes de forma
diferente, com a perspectiva de ser justo dando oportunidades iguais. Isto
conflita com o conceito de que todos sã o iguais perante a lei, mas
considera que a lei nã o tem o poder de tornar todos iguais. Entã o o
conceito de justiça social luta pela construçã o de mecanismos que possam
gerar a igualdade. Aqui se preceituam as políticas compensató rias, por
exemplo. As políticas sociais exercem um papel idêntico a, diante de um
muro de dois metros, dar um suporte de 50cm para uma pessoa de 1,7m
de altura e outro de 1m para uma criança de 1,2 metros de altura, e
ambos terã o a mesma visã o sobre o muro.

Transformação social: Pode ser compreendida como um processo


continuado de total reorientaçã o da vida com todas as suas aspiraçõ es,
ideologias, estruturas e valores. A transformaçã o rejeita aquilo que
desumaniza e conspurca a vida, e almeja aquilo que reafirma os valores
nobres da vida e sua coexistência em todas as suas dimensõ es de paz e

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justiça. A transformaçã o chama as pessoas a protagonizarem a mudança,
a serem parte, a quebrarem os muros das injustiças, a romperem com o
conformismo e se colocarem como agentes da graça doadora de Deus
para mudar vidas (Rm 12.2).

Diante destes conceitos, assumimos a preferência pela expressã o ação


social. Ela é uma açã o, um feito, uma atitude que ultrapassa o interesse
pessoal e beneficia o pró ximo, por isso social. Ela pode ser resposta de fé
em forma de diaconia, misericó rdia ou compaixã o; pode ser uma
assistência, uma defesa de direitos, a justiça social ou desenvolvimento e
promoçã o humana com vistas a uma transformaçã o da realidade de vida,
emancipaçã o e autonomia. Pode estar sendo feita de forma exclusiva por
pessoas cristã s, mas pode estar lado a lado com a sociedade, feita por
motivos cristã os e civis, tendo como o alvo o bem-estar do ser humano e
de toda a criaçã o de Deus.

Açã o social, ainda, expressa uma açã o que nã o é isolada e individual.


Mesmo que haja apenas um benfeitor ou benfeitora, que estende a mã o
solidá ria a alguém, precisa que a pessoa que recebe a açã o a abrace e se
disponha a caminhar junto rumo a uma nova vida emancipada. Assim a
moderna conceituaçã o da açã o social migra seu foco, do potencial e
motivaçã o de quem faz algo por alguém, para valorizar o potencial
adormecido ou oprimido de quem vive em vulnerabilidade. A pessoa com
necessidades deixa de ser objecto da acçã o de outros, e passa a ser sujeito
da sua pró pria vida e desenvolvimento, e passa a ser parte integrante da
acçã o com vontades e particularidades que devem ser consideradas para
o alcance dos objectivos da acçã o.

O dinheiro nã o é tudo na vida. A Bíblia diz em Provérbios 13:7-8: “Há


quem se faça rico, nã o tendo coisa alguma; e quem se faça pobre, tendo
grande riqueza. O resgate da vida do homem sã o as suas riquezas; mas o
pobre nã o tem meio de se resgatar.” Ainda que o mundo honre os ricos,
nã o se surpreenda com o fato de que Deus honra os pobres. A Bíblia diz
em Tiago 2:5: “Ouvi, meus amados irmã os. Nã o escolheu Deus os que sã o
pobres quanto ao mundo para fazê-los ricos na fé e herdeiros do reino
que prometeu aos que o amam?”

Devemos ajudar os pobres com diligência. A Bíblia diz em Gá latas 2:10:


“Recomendando-nos somente que nos lembrá ssemos dos pobres; o que
também procurei fazer com diligência.” É pecado ignorar os necessitados.
A Bíblia diz em Amó s 5:12: “Pois sei que sã o muitas as vossas
transgressõ es, e graves os vossos pecados; afligis o justo, aceitais peitas, e
na porta negais o direito aos necessitados.” Deus abençoa os que ajudam

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os pobres. A Bíblia diz em Salmos 41:1: “Bem-aventurado é aquele que
considera o pobre; o Senhor o livrará no dia do mal.”

Honramos a Deus quando cuidamos dos pobres. A Bíblia diz em


Provérbios 14:31: “O que oprime ao pobre insulta ao seu Criador; mas
honra-o aquele que se compadece do necessitado.” A igreja deve auxiliar
e ajudar os pobres que nã o têm famílias. A Bíblia diz em 1 Timó teo 5:5-6:
“Ora, a que é verdadeiramente viú va e desamparada espera em Deus, e
persevera de noite e de dia em sú plicas e oraçõ es; mas a que vive em
prazeres, embora viva, está morta.”

Deus promete recompensar os que ajudam os pobres. A Bíblia diz em


Isaías 58:7-11: “Porventura nã o é também que repartas o teu pã o com o
faminto, e recolhas em casa os pobres desamparados? que vendo o nu, o
cubras, e nã o te escondas da tua carne? Entã o romperá a tua luz como a
alva, e a tua cura apressadamente brotará . E a tua justiça irá adiante de ti;
e a gló ria do Senhor será a tua retaguarda. Entã o clamará s, e o Senhor te
responderá ; gritará s, e ele dirá : Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o
jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; e se abrires a tua alma ao
faminto, e fartares o aflito; entã o a tua luz nascerá nas trevas, e a tua
escuridã o será como o meio dia. O Senhor te guiará continuamente, e te
fartará até em lugares á ridos, e fortificará os teus ossos; será s como um
jardim regado, e como um manancial, cujas á guas nunca falham.”

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