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TÓPICOS

• AÇÃO SOCIAL..............................................................................04
• A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA IGREJA: UM DEVER
LEGAL OU UM MANDAMENTO BÍBLICO? …........................06
• A VIDA E PENSAMENTO DO MORADOR DE RUA.................92
• EFEITOS DA AÇÃO SOCIAL SEM PROSPECÇÃO...................100
• OS EFEITOS DE UMA AÇÃO SOCIAL COMPLETA.................105

1ª Edição :NOVEMBRO de 2022


Produção : Comunicadores Sem Fronteiras
Capa: Comunicadores Sem Fronteiras / Canva
Revisão/Edição/Gost Writer: José Eduardo Viana
Pedidos +51 955344028
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por escrito do Ministério Comunicadores Sem Fronteiras sejam quais meios empregados.

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APRESENTANDO

Jose Eduardo Viana


Jornalista e radialista, Missionário no campo Peruano, professor e
consultor na área de comunicação, membro das Assembléias de Deus de
Madureira do campo de Guarulhos.
No momento como missionário na região de Cusco como diretor de
comunicações desenvolvendo trabalho de Jornal e Tvweb ( o primeiro no
pais das Assembleias de Deus no Peru).
Diretor e administrador do ministério Comunicadores Sem Fronteiras,
atuando com a montagem, formação e consultoria na área de rádios, tv e
jornais no Brasil, Bolívia, Angola e Peru. Produtor e editor de dezenas de
áudios livros distribuídos pela internet, sendo o maior trabalhos
produzindo os mais de 200 áudios livros do Pr Márcio Valadão, da Igreja
Batista da Lagoinha (www.audiolivros4.webnode.com )
AÇÃO SOCIAL
O conceito de ação social pertence ao universo da sociologia, que é a
ciência que se dedica ao estudo dos grupos sociais. Em sentido lato, ação
social é toda e qualquer ação que afecta a conduta de outros. O sociólogo
Max Weber contemplou quatro tipos de acção social: a tradicional
(vinculada aos costumes), a afectiva (relacionada com as emoções), a
racional em conformidade com os valores (guiada por uma norma moral) e
aquela que visa a obtenção de um fim racional.

O conceito de ação social pertence ao universo da sociologia, que é


a ciência que se dedica ao estudo dos grupos sociais. Em sentido lato, ação
social é toda e qualquer ação que afecta a conduta de outros. O sociólogo
Max Weber contemplou quatro tipos de ação social: a tradicional
(vinculada aos costumes), a afetiva (relacionada com as emoções), a
racional em conformidade com os valores (guiada por uma norma moral) e
aquela que visa a obtenção de um fim racional.

Por outro lado, a acção social também aparece em momentos


específicos, perante catástrofes naturais ou situações de emergência. Uma
província que sofra com a seca pode ser destinatária da acção social do
resto do país. O mesmo se aplica no caso de uma nação que esteja em
guerra, podendo vir a usufruir do apoio dos seus países vizinhos no
sentido de ajudar a população civil afectada pelo conflito.

Noutros termos, este tipo de ação pretende transformar o estado das


coisas para alcançar outro estado com maior qualidade de vida. A ação
social visa o bem comum e não procura satisfazer interesses pessoais.

A ação social costuma ser muito praticada pelas religiões, a exemplos


das cristãs, levando alimento, roupas, entre outras coisas para regiões
menos favoráveis ou consideradas de risco.

Desse modo, para que se caracterize como a ação social é necessário


que haja duas partes: a parte que realiza ação social (chamado também de
agente) e a parte que recebe os benefícios resultantes dessa ação.
É importante ressaltar que para que seja realizada ação social não é
preciso contar com muitas pessoas, porém para que se caracterize por ação
social é necessário que uma população seja beneficiada: uma cidade, um
bairro, etc.

Essas ações sociais podem ser classificadas em quatro tipos:

Ação social racional, ou seja, onde se tem relação a fins, quando se


tem um fim que será buscado e usa-se dos meios mais eficientes para isso.
Quando a ação social possui foco em valor, ou seja, é o valor o elemento
motivador e orientador, podendo ser valor religioso, ético, etc.;

Acção social movida por sentimentos, tais como amor, empatia,


vingança, medo, entre outros;

E, por fim, há a ação social que tem como motivadores hábitos,


costumes, etc.

No tocante a sociologia, a ação social contribui para a formação do


cidadão, para ajudá-lo a se desenvolver e a ter oportunidades para isso.

Ainda que a ação social tenha como foco ajudar a sociedade (em
especial os mais carentes), há quem a realize de maneira mal intencionada,
visando benefício próprio, por exemplo: promover sua imagem, sua
marca, etc. (1)
A responsabilidade social da
Igreja: um dever legal ou um
mandamento bíblico?.
Resumo: Apesar dos avanços alcançados por muitas igrejas na área
social, os cristãos não podem ignorar o desafio social segundo o
entendimento do ensino bíblico, do exemplo de Cristo e das lições da
história, assim também de todo o aparato bibliográfico, jurídico e
doutrinário a respeito do assunto. O propósito foi trazer uma reflexão
sobre o papel e a responsabilidade sociais desempenhados pelas igrejas
evangélicas, e se estes são um dever legal ou um mandamento bíblico;
além de traçar um paralelo com a missão integral que a igreja desempenha
na sociedade e o posicionamento da Jurisprudência e da doutrina no Brasil
a respeito da imunidade tributária aos templos religiosos. Foi realizada
uma pesquisa bibliográfica e na internet, descritiva, expressada de forma
qualitativa, com levantamento de informações sobre o papel e a
responsabilidade sociais desempenhados pelas igrejas evangélicas
brasileiras. Das análises efetuadas, concluiu-se que a responsabilidade
social das igrejas é um mandamento bíblico, mas também é um dever
legal, pois os motivos que levaram os legisladores a concederem
imunidades tributárias aos templos são os de que os beneficiados de tais
renúncias fiscais terão que promover conjuntamente atividades de
interesse da sociedade como um todo, não apenas dos seus membros, de
forma integral.

A impulsionadora ideia da separação da Igreja do Estado foi da igreja


evangélica, isso não significa que a Igreja deva ignorar o Estado, nem que
o Estado venha a ser um obstáculo à Igreja. É sempre desejável que
existam protocolos de cooperação entre um e outro e que exista um espaço
saudável no sentido de a Igreja se mobilizar no que diz respeito à
sociedade, no sentido de trazer para ela toda uma intervenção termos de
solidariedade, assistência social, promoção da pessoa humana, e dos
valores que suportam o pano social (PINHEIRO, 2005).
Ao se analisar as Escrituras, observa-se que o papel social não é
algo tão recente na história da igreja do Senhor. A partir da sua fundação, a
igreja é vista como um local de auxílio material aos seus membros mais
necessitados. O apóstolo Tiago, no capítulo 1.27, exorta para que a igreja
olhe, vele, assista às pessoas que estão carentes de assistência social, de
ajuda, como os órfãos e as viúvas em suas necessidades. A Bíblia Sagrada
segue exortando a cuidarmos dos órfãos, das viúvas em suas dificuldades
(Tg 1:27); a ajudar os irmãos necessitados”; (Tg 2:14-17; 1 Jo 3:17); a
cuidar “não somente dos seus interesses.” (Fp 2:4); a “ajudar os fracos”.
(At 20:35-38); a lembrarmos “dos que estão na prisão, como se
aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se vocês
mesmos estivessem sendo maltratados” (Hb 13:1-30).

Infelizmente, a grande maioria das igrejas, e cristãos individualmente,


demonstra preocupação social por meio da oração pelos problemas sociais
que afligem o mundo. Esta preocupação é legítima e incentivada na Bíblia.
Bem menor, porém, é o número de igrejas e crentes que desenvolvem
algum tipo de serviço social. Este serviço também é incentivado e acha
apoio na Bíblia, principalmente no exemplo dos primeiros cristãos, como
Jesus e seus discípulos. O maior problema atual, entretanto, está na ação
social.

Nesse sentido, a Constituição Federal de 1988 (CF/88), em seu artigo


6º, positiva os direitos sociais, com o objetivo de promover a justiça social
e uma distribuição mais igual, integral e universal dos recursos
econômicos e sociais (BRASIL, 1988). A Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948, em seu artigo XXV, item 1, declara que todo
ser humano tem direito a um padrão de vida que possa assegurar-lhe e a
sua família saúde e bem-estar, inclusive os serviços sociais indispensáveis
(ONU, 1948).

Já o artigo 150, VI, “b” da CF/88 isenta as igrejas de serem taxadas e


de pagarem tributos tanto da entrada, dízimos e ofertas, como pelos
serviços prestados (BRASIL, 1988). A Carta Magna é clara ao descrever
que é vedada a instituição de impostos sobre os templos de qualquer culto.
Já o Código Civil de 2002 se refere a essas como Organizações Religiosas,
que na atualidade, executam atividades de alcance amplo, notadamente na
promoção social e na propagação da fé, contribuindo, assim, na
diminuição de graves problemas que ainda assolam o país (BRASIL,
2002).

O texto de Wladimyr Mattos Albano sobre a imunidade constitucional


aos templos de qualquer culto descreve bem essas isenções:

“A imunidade é concedida para a entidade religiosa, pessoa jurídica,


em virtude da realização de seu culto, não decorrendo impostos sobre a
estrutura que o abriga, denominado de templo (prédio, casa, tenda, lona),
estrutura esta compreendida em espaço físico e operacional, incluindo-se
seus anexos, não decorrendo impostos sobre os seus rendimentos,
investimentos ou aplicações, uma vez que seja provado serem reutilizados
em prol da continuidade e da expansão da atividade religiosa, dentro de
seus preceitos fundamentais e suas finalidades essenciais, tais como,
cultos e liturgias, educação religiosa, culturismo religioso, auxílio e
caridade às pessoas carentes, disseminação de campanhas de apoio às
causas humanitárias, manutenção de institutos de assistência social e
científica, como hospitais, asilos, cemitérios, creches, núcleos de
atendimento e apoio psicológicos, colégios, universidades, gráficas, entre
tantos, e não podendo ser confundido ou separado o culto do templo, posto
que ambos são incindíveis, já que uma vez realizado um deles o outro
estará compreendido” (ALBANO, 2010, p. 2).

A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) tem interpretado


que as obras sociais feitas e mantidas pelas igrejas e templos estão isentas
de pagarem impostos. Entendimento, esse, que reforça as exonerações
previstas na Carta Maior (BRASIL, 2015).

Dessa forma, os desvios dos dízimos e das ofertas para além das suas
finalidades essenciais não serão admitidos, como: manutenção de seus
templos, ações de ajuda aos necessitados e a promoção de interesses
espirituais.

Nesse diapasão, o Relatório do Congresso Internacional de


Evangelização Mundial, ocorrido em Lousanne, Suíça, em 1974, ficou
estabelecido que a igreja foi chamada não só para a evangelização, mas
também para a ação social (TENNENT, 2014).

Assim, a Igreja do Senhor não existe apenas para desenvolver uma


preocupação social e para prestar somente serviços sociais, mas também
para exercer uma ação social efetiva e de forma integral.

Diante do exposto, surgem as problemáticas em questão: As Igrejas


têm desempenhado o seu papel e a sua responsabilidade sociais? Esta
responsabilidade é um dever legal ou um mandamento bíblico? A igreja
tem desenvolvido a sua missão integral na sociedade?

Em decorrência dos problemas levantados, têm-se as seguintes


hipóteses:

1) Os motivos que levaram os legisladores a concederem imunidades


tributárias aos templos são os de que os beneficiados de tais renúncias
fiscais estarão promovendo a espiritualidade dos seus fiéis, como também
atividades de interesse da sociedade como um todo, não apenas dos seus
membros.

2) Muitas igrejas evangélicas não têm desempenhado com êxito e de


forma integral o seu papel e a sua responsabilidade sociais, assim como a
sua missão junto à comunidade.

Dentro desse contexto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e na


internet, descritiva, expressada de forma qualitativa, com levantamento de
informações sobre o papel e a responsabilidade sociais desempenhados
pelas igrejas evangélicas no Brasil e a sua fundamentação na CF/88, na
Jurisprudência e na doutrina pátrias.

Este trabalho de conclusão de curso tem como propósito trazer uma


reflexão sobre o papel e a responsabilidade sociais desempenhados pelas
igrejas evangélicas, e se estes são um dever legal ou um mandamento
bíblico; além de traçar um paralelo com a missão integral que a Igreja
desempenha na sociedade e o posicionamento da Jurisprudência e da
doutrina no Brasil a respeito da imunidade tributária aos templos de
qualquer culto, bem como, tentar chegar a possíveis conclusões.
1 A imunidade tributária dos templos na atual Constituição Federal

A imunidade tributária dos templos de qualquer culto estabelecida pelo


texto constitucional em seu artigo 150, VI, “b”, compreende somente o
patrimônio, a renda e os serviços relacionados com suas finalidades
essenciais, ou seja, aquelas inerentes à própria natureza da entidade,
abrangendo tanto os bens imóveis quanto os móveis (BRASIL, 1988).

Essa imunidade tem como objetivo garantir a aplicabilidade do art. 5º,


VI, da Magna Carta, onde é garantido a todos a inviolabilidade de crença,
assegurando o livre exercício dos cultos religiosos e garantindo a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias. Nenhuma barreira, portanto, pode ser
criada para impedir ou dificultar esse direito (BRASIL, 1988).

Para a professora Regina Helena Costa “a origem dessa norma


imunizante remonta à separação entre a Igreja e o Estado, consumada com
a proclamação da República de 1889” (COSTA, 2009, p. 85).

Com a proclamação da República, a nossa Constituição passou a


constar que o Estado Brasileiro é laico, e mesmo assim começou a dar
proteção ao culto a todas as religiões por meio da dispensação de
impostos.

O artigo 19, I, da CF/88 preconiza a neutralidade do Estado perante


as igrejas e os cultos religiosos, com o intuito de se assegurar o caráter
laico, proibindo que os entes públicos dificultem os seus funcionamentos
ou os subvencionem, garantida a colaboração de interesse público, dentro
dos limites da lei (BRASIL, 1988).

Dessa maneira, SOUZA escreve que mesmo o Brasil sendo um Estado


laico, não existindo religião oficial, o constituinte de 1988 buscou
assegurar a liberdade de culto a todas as religiões, inovando em relação às
outras constituições passadas que condicionavam o exercício dos cultos
religiosos de acordo as suas próprias conveniências políticas e sociais
(2017).

A imunidade aos templos de qualquer culto, constitucionalmente


garantida, também está inserida no Código Civil Brasileiro de 2002, o qual
se refere a esses como Organizações Religiosas por atuarem na promoção
social e na propagação da fé, como já foi mencionado anteriormente
(BRASIL, 2002).

Diante deste contexto, é imprescindível a observância, pelos Poderes


Constituídos, da garantia constitucional da imunidade outorgada pela
CF/88 aos templos de qualquer culto, como forma de respeito à liberdade
de crença e de culto, e também pela importante colaboração das
organizações religiosas na atenuação dos problemas pelos quais sempre
passaram e ainda passam as classes menos favorecidas em uma sociedade
tão desigual.

Segundo Flávio Porto da Silva, uma nova ordem social passou a ser
uma tendência no campo constitucional e assim vislumbrou-se também a
liberdade religiosa, no entanto, para que esta fosse possível, a imunidade
tributária era o caminho a ser concretizado, o que foi aperfeiçoada ao
longo da história nas várias Constituições promulgadas no Brasil (SILVA,
2015).

Diante de inúmeras influências teológicas no contexto social e político


resultou a garantia constitucional da imunidade tributária para os templos
religiosos.

Dessa forma, considerando o advento da fé pela espiritualidade e a


transmissão do seu legado às futuras gerações, ressaltamos o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III) e as garantias
previstas nos incisos VI e VII, do artigo 5º, da Carta Magna aduzem à
isonomia e o livre exercício dos cultos religiosos bem como a assistência
religiosa em entidades civis e militares (BRASIL, 1988). Neste contexto é
que o Estado tem o cuidado de aferir sua organização, conforme o artigo
14 do Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966), e a forma de
expressão da fé, considerando se a religião ou seita a que se pretende
conceder a imunidade tem características “estranhas” ao culto, se estão
baseadas, segundo Eduardo Sabbag (2012) em rituais demoníacos e
satânicos que promovem e pregam condutas totalmente reprováveis como
os sacrifícios humanos, a violência, o fanatismo, o racismo, entre outros
(SABBAG, 2012).

Ainda sobre a exoneração de impostos, nos apercebemos que a


Constituição Federal prevê a não incidência de impostos concernentes às
atividades essenciais do templo (artigo 150, VI, § 4º), como um direito e
garantia fundamental do sujeito para o exercício da liberdade religiosa,
independentemente da extensão da igreja ou do seu número de adeptos
(BRASIL, 1988). Ademais, a imunidade tributária não compreende os
outros tributos, como, por exemplo, a taxa de iluminação pública, entre
outros serviços, a contribuição de melhoria, dentre outros.

De acordo com o dispositivo constitucional supramencionado, os entes


políticos tributantes não podem exigir das entidades religiosas qualquer
imposto que onere o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com
suas finalidades essenciais. Neste contexto, percebe-se que a alínea “b” do
art. 150, VI, visa assegurar a todos a livre manifestação da religiosidade,
ou seja, a fé que todos têm em certos valores espirituais e morais.

Nesse sentido, é interessante frisar, segundo o próprio texto da CF/88,


que a imunidade contemplada aos templos de qualquer culto é restrita
somente aos impostos, não incluindo assim, outras espécies de tributos
como a cobrança de taxas e de contribuições. Desta maneira os templos de
qualquer culto ou as organizações religiosas estão obrigados a pagar as
taxas de iluminação, de água, de bombeiros, bem como as contribuições
de qualquer natureza, como as sociais melhorias (SOUZA, 2017).

Desse modo, a imunidade é uma forma absoluta de não tributação que


garante às liberdades de exercício aos direitos fundamentais, limitando o
Estado Fiscal e garantindo valores considerados como direitos inerentes ao
ser humano. Entre eles a inviolabilidade da liberdade de consciência e de
crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias
assegurados pela Constituição Federal de 1988, artigo 5º, inciso VI
(BRASIL, 1988). Ou seja, conforme descreve Wladimyr Mattos Albano
(2010), o fundamento da imunidade para os templos de qualquer culto é a
liberdade de religião (ALBANO, 2010).
Portanto, os tributos englobam impostos, taxas, contribuições nas
suas variadas espécies e os empréstimos compulsórios, porém, os templos
religiosos estão imunes constitucionalmente apenas aos impostos
relacionados à renda, ao patrimônio e aos seus serviços relacionados às
atividades essenciais. Isso se dá pelo fato de que as taxas e contribuições
geram contraprestações específicas para a sociedade e também favorecem
a infraestrutura e o funcionamento dos templos. Além de serem
asseguradas pela nossa Lei Maior, tais isenções são também motivos de
posicionamentos e debates pela Jurisprudência e pela doutrina pátrias.

2 Imunidade tributária dos templos: a jurisprudência e a doutrina

Neste capítulo discutiremos o posicionamento dominante do Supremo


Tribunal Federal e da doutrina brasileira em relação à interpretação dada
sobre as imunidades aos templos religiosos.

Segundo SILVA, “a imunidade tributária é hoje o corolário da


evolução histórica de um privilégio, oriundo do Estado Feudal, que, em
decorrência das espantosas lutas sociais travadas especialmente nos
séculos XVIII e XIX, transformou-se numa garantia constitucional,
destinada a preservar e a incentivar a atividade de relevante interesse
coletivo de certas pessoas descriminadas no Texto Constitucional” (2011,
pp. 14,15).

Em resumo, as imunidades do artigo 150, VI, conforme elucida


Ricardo Lobo Torres (2011, p. 72), “[…] protegem certas pessoas e coisas
contra a incidência dos impostos, mas não dos tributos
contraprestacionais, que não ferem os direitos da liberdade garantidos
naquela norma. […]” (TORRES, 2011, p. 72). Isso porque os tributos
contraprestacionais auxiliam na materialização da infraestrutura dos
bairros e cidades, com as taxas e contribuições que não raro são destinadas
às melhorias para os cidadãos.

A Suprema Corte deu interpretação extensiva nas atividades


relacionadas às finalidades essenciais em relação à imunidade dos
templos. Aqui também, de igual forma, se a atividade não tiver relação
direta com as finalidades essenciais da instituição, mas o produto dessa
atividade for aplicado nos fins precípuos dela, não haverá óbice à
imunidade. A respeito dessa interpretação há uma disposição expressa por
meio da Súmula n°. 724 do STF, como se segue:

”Súmula 724/STF – 2003. Tributário. IPTU. Seguridade social.


Imunidade. Partido político. Sindicato. Entidade de educação e assistência
social. Locação de imóvel. Aluguel aplicado nas atividades essenciais.
Imunidade reconhecida. CF/88, art. 150, VI, «c». Ainda quando alugado a
terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente a qualquer das
entidades referidas pelo art. 150, VI, «c», da CF/88, desde que o valor dos
aluguéis seja aplicado nas atividades essenciais de tais entidades.”
(BRASIL, 2003).

Jurisprudência posterior ao enunciado pela Súmula 724/STF:

“Entidades beneficentes de assistência social: imunidade do IPTU e


aplicação do valor do aluguel nas atividades essenciais

1.O Tribunal de origem não divergiu da orientação da Corte de que a regra


imunizante contida no art. 150, VI, c, da Constituição Federal afasta a
incidência do IPTU sobre os imóveis de propriedade das instituições de
assistência social sem fins lucrativos, mesmo que alugados a terceiros,
desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas suas atividades essenciais
(Súmula nº 724/STF). 2. Para ultrapassar o entendimento consagrado pelo
Tribunal a quo, especialmente no que concerne à destinação dos aluguéis
do imóvel, seria necessário o reexame dos fatos e das provas dos autos.
Incidência da Súmula nº 279/STF.” (ARE 852600 AgR, Relatora Ministra
Cármen Lúcia, Segunda Turma, julgamento em 6.3.2015, DJe de
5.3.2015)” (BRASIL, 2015).

Como se pode observar, essa norma exonerativa não alcança somente


o templo, a edificação propriamente dita, pois segundo a pronúncia do §
4º, do artigo 150, da Magna Carta, a imunidade referente aos impostos dos
templos de qualquer culto também incluem o patrimônio, a renda e os
serviços, relacionados com as finalidades essenciais das entidades
religiosas.
A jurisprudência brasileira tem decidido nesse sentido, de maneira a
propor a ampliação do alcance da imunidade a todo o patrimônio, renda e
serviços, desde que essenciais à sobrevivência das entidades religiosas.

O STF estendeu essa interpretação, inclusive aos cemitérios que


estiverem ligados a uma entidade religiosa. Em análise dos Recursos
Extraordinários nº 578.562 e RE 325.822 encontramos decisões na
Suprema Corte que apoiam essas afirmações:

“Recurso extraordinário. Constitucional. Imunidade Tributária. IPTU.


Artigo 150, VI, b, CF/88. Cemitério. Extensão de entidade de cunho
religioso. Os cemitérios que consubstanciam extensões de entidades de
cunho religioso estão abrangidos pela garantia contemplada no artigo 150
da Constituição do Brasil. Impossibilidade da incidência de IPTU em
relação a eles. A imunidade aos tributos de que gozam os templos de
qualquer culto é projetada a partir da interpretação da totalidade que o
texto da Constituição é, sobretudo do disposto nos artigos 5º, VI, 19, I e
150, VI, “b”. As áreas da incidência da imunidade tributária são
antípodas.” (RE 578.562, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 21-5-08,
DJE de 12-9-08) (BRASIL, 2008).

Instituição religiosa. IPTU sobre imóveis de sua propriedade que se


encontram alugados. A imunidade prevista no art. 150, VI, b, CF, deve
abranger não somente os prédios destinados ao culto, mas, também, o
patrimônio, a renda e os serviços ‘relacionados com as finalidades
essenciais das entidades nelas mencionadas’. O § 4º do dispositivo
constitucional serve de vetor interpretativo das alíneas b e c do inciso VI
do art. 150 da Constituição Federal. “Equiparação entre as hipóteses das
alíneas referidas.” (RE 325.822, Rel. Min. Ilmar Galvão, julgamento em
15-12-02, DJ de 14-5-04). No mesmo sentido: AI 651.138-AgR, Rel. Min.
Eros Grau, julgamento em 26-6-07, DJ de 17-8-07” (BRASIL, 2002).

A tendência dessa interpretação ampliativa é possível, também, ser


notada nos recentes acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo:

“APELAÇÃO CÍVEL – Mandado de Segurança – Entidade religiosa


– Pretendido reconhecimento da imunidade tributária sobre terreno –
Templo de qualquer culto – Segurança concedida, sob o fundamento de
que o terreno está vinculado às finalidades essenciais da entidade, vez que
ocorrem cultos ao ar livre, enquanto o imóvel ainda não foi construído –
imunidade prevista no art. 150, inciso VI, da CF, que deve ser interpretada
em conjunto com o § 4º, compreendendo o patrimônio, a renda e os
serviços relacionados com as finalidades essenciais das entidades –
Terreno recém adquirido para a construção de templo, no qual foi
demonstrada a ocorrência de diversos cultos ao ar livre, relacionados,
portanto, às finalidades da igreja – Sentença mantida – Recurso
improvido” (Apelação nº 0004022-55.2010.8.26.0292, 15ª Câmara de
Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, Relator:
Desembargador Eutálio Porto, Julgado em 22/09/2011)” (BRASIL, 2011).

Como se pôde observar, o Supremo Tribunal Federal fugindo a regra


geral, no âmbito da imunidade de templos de qualquer culto, concedeu
uma interpretação ampliativa, passando a permitir a imunidade mesmo em
atividades que não guardem relação direta com os fins da entidade
religiosa, desde que o produto dessa atividade seja revertido para as
finalidades precípuas da entidade. Como por exemplo, o aluguel de
imóveis, ainda que esta atividade esteja desafetada da atividade principal,
desde que o produto desse aluguel seja revertido para o templo. Faz-se
necessário, no entanto, a análise da destinação dos recursos obtidos pelo
templo, de forma a aplicar o dispositivo constitucional quando houver
relação entre a renda e as suas finalidades essenciais.

A imunidade tributária conferida às entidades religiosas chama-se


genérica e se estende a todo o patrimônio relacionado com as suas
finalidades essenciais, e não apenas ao local em que são celebrados os
cultos, a teor do art. 150, § 4º, da CF/88 (SUCUPIRA, 2011).

Ou seja, haverá imunidade a qualquer culto prestado no templo, seja


qual for a religião, por decorrência do princípio de o Brasil ser um Estado
laico. Por ir de encontro a teleologia do texto constitucional, não
abrangerá apenas os templos de inspiração demoníaca, nem os de cultos
satânicos, nem suas instituições.
Em relação à imunidade tributária genérica conferida às entidades
religiosas, o seu reconhecimento depende somente do preenchimento dos
requisitos constitucionais, não estando condicionado a deferimento do ente
responsável pela tributação.

A proteção constitucional em discussão propõe salvaguardar a


liberdade religiosa, desde que esta esteja ligada às finalidades essenciais
da entidade religiosa, como está explícito no §4º do art. 150 da CF/88:
“§4º A vedação expressa no inciso VI, alínea “b”, compreende somente o
patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades
essenciais das entidades nela mencionadas” (BRASIL, 1988).

Destaque-se ainda que o art. 150, VI da Constituição Federal, o qual


traz as chamadas imunidades tributárias genéricas, refere-se a quatro
hipóteses sobre as quais a Carta Magna veda a incidência de impostos,
limitando-se, assim, ao poder de tributação. No entanto, as previsões
contidas nas alíneas “a” a “d”, do inciso IV do art. 150 da CF/88, ficam
imunes somente em relação aos impostos, devendo pagar normalmente as
demais espécies tributárias, inclusive os templos. Dentre essas hipóteses,
vejamos os termos do referido dispositivo constitucional sobre a vedação
de tributação dos templos:

“Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao


contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios:

VI – instituir impostos sobre:

(…)

b) templos de qualquer culto;” (BRASIL, 1988).

BALEEIRO ratifica os esclarecimentos a respeito da imunidade genérica


ao ensinar que a referida imunidade que atinge os “templos de qualquer
culto” não se refere aos prédios, conforme descrito abaixo:

“O templo de qualquer culto não é apenas a materialidade do edifício,


que estaria sujeito tão-só ao imposto predial do Município, ou o de
transmissão inter vivos, se não existisse a franquia inserta na Lei Máxima.
Um edifício só é templo se o completam as instalações ou pertenças
adequadas àquele fim, ou se o utilizam efetivamente no culto ou prática
religiosa” (BALEEIRO, 1991, p.311).

A imunidade em questão refere-se apenas ao templo, e não,


necessariamente, a ordem religiosa como um todo, isto é, somente o lugar
onde se realiza o culto ou a cerimônia religiosa está protegido por essa
imunidade constitucional.

O consagrado jurista Aliomar Baleeiro (1991), contudo, acompanhando


uma linha mais liberal e a uma interpretação mais extensiva, distingue os
templos de qualquer culto como todo um conjunto de bens e atividades
organizadas para o exercício do culto religioso, ou a ele vinculadas.
Segundo o ilustre tributarista, o templo não deve ser apenas a igreja,
sinagoga ou edifício principal, onde se celebra a cerimônia pública, mas
também a dependência acaso contígua, o convento, os anexos por força de
compreensão, inclusive a casa ou residência especial, do pároco ou pastor,
pertencente à comunidade religiosa, desde que não empregados para fins
lucrativos (BALEEIRO, 1991).

Do ponto de vista de BALEEIRO, a palavra “templo” alcança o


próprio culto e tudo quanto sujeita o órgão à função, tendo em vista que a
imunidade dos “templos de qualquer culto”, no que se refere às atividades
ligadas as suas finalidades essenciais, apenas produzirá os efeitos
desejados pelo legislador constitucional se for interpretada extensivamente
e de forma benevolente (1991).

Entretanto, nas atividades executadas pelas organizações religiosas


ocorre uma grande dificuldade em se identificar, na prática, quais delas
seriam ou não associadas as suas finalidades essenciais, com o propósito
de gozarem a garantia da imunidade prevista na Constituição Republicana.

Existem duas correntes dominantes, na doutrina brasileira, que almejam


uma melhor interpretação a respeito da relação das atividades dos templos
de qualquer culto com suas finalidades essenciais.
A primeira corrente, intitulada restritiva, postula que o patrimônio, as
rendas e os serviços em questão sejam originados nas atividades essenciais
da entidade e sejam destinados a sua manutenção. Essa corrente entende
que a destinação dos recursos auferidos é insignificante, importando-se,
meramente, a sua origem, para os propósitos de delineamento da
imunidade das organizações religiosas.

Uma reduzida fração da doutrina e da jurisprudência acompanha este


posicionamento. Para os seguidores dessa corrente ficam de fora da
garantia constitucional em questão todas as atividades que não forem
relacionadas diretamente com o culto religioso ou com o ritual de
adoração. Não caberia, assim, a incidência da imunidade na receita
alcançada com a venda de produtos diversos, não vinculados ao ato
religioso, nem sobre os valores recebidos a título de aluguel de imóveis ou
móveis, de estacionamento de veículos, dentre outros.

Dentre os seguidores dessa corrente, ressaltamos o posicionamento de


Guilherme Von Müller Lessa Vergueiro:

“Ao lado dessa posição condizer com nossas premissas, essa linha parece
ser a mais sensata, vez que a demarcação da imunidade de uma receita não
pode ficar condicionada a sua ulterior destinação. Isso porque a permissão
ou a proibição da tributação se perfaz no momento da realização de
determinado fato tributário e não na pertinência do emprego posterior
desses recursos.

Professar em sentido contrário rompe com toda a teoria da


fenomenologia da incidência tributária que sustenta que a hipótese
tributária somente incide quando do relato linguístico da ocorrência do
fato tributário. Nessa situação, não bastaria que a receita derivasse da
prática de alguma atividade litúrgica pelo templo, mas seria necessário que
essa fosse empregada nos seus propósitos. Não é difícil constatar a sua
improcedência.

Além disso, o aspecto subjetivo da pertinência ou não do emprego


dos recursos em ofício vinculado a sua finalidade essencial torna bastante
nebuloso o universo da destinação para fins de demarcação da imunidade
dessas receitas, o que macula a sua eleição como critério delimitador da
imunidade” (VERGUEIRO, 2005, p. 177).

Para a segunda corrente, a melhor interpretação para o art. 150, §4º, da


CF/88 é de que a imunidade da norma deve alcançar a expressão
“patrimônio, serviços e rendas relacionadas com as atividades essenciais”
da instituição religiosa, desde que as receitas sejam obtidas de forma lícita.

Alexandre de Moraes afirma que:

“A Constituição Federal assegura o livre exercício do culto religioso,


enquanto não for contrário à ordem, tranquilidade e sossego público, bem
como compatível com os bons costumes. Desta forma, a questão das
pregações e curas religiosas deve ser analisada de modo que não
obstaculize a liberdade religiosa garantida constitucionalmente, nem
tampouco acoberte práticas ilícitas, como a obtenção de lucros por tais
entidades” (MORAES, 2007, p. 77).

Os templos de qualquer culto ou organizações religiosas se inserem


entre as entidades do chamado Terceiro Setor, dentre as quais não têm por
objetivo o lucro, uma vez que sua finalidade não é atuação no mercado,
mas esforçam-se elas para obterem uma receita maior do que a despesa,
receita esta que pode ser denominada superávit, imprescindível para sua
sobrevivência. Contudo, as atividades ou operações que dão origem a estas
rendas geralmente não estão relacionadas com suas finalidades essenciais,
até porque o objetivo social das organizações religiosas, além do próprio
exercício do culto, envolve muitas vezes atividades de assistência e
promoção social, de maneira que as propostas estatutárias de tais entes
geram, em verdade, na grande maioria de casos, despesas, custos, e não
receitas (SOUZA, 2017).

Justifica-se, pois, uma interpretação mais extensiva do dispositivo


legal, considerando-se a importância das atividades sociais e espirituais
prestadas pelas entidades religiosas, as quais, o Estado, muitas vezes, não
consegue realizar com a eficácia necessária.

SOUZA salienta também a necessidade da verificação, em cada caso


concreto, da amplitude que é dada a interpretação dessa imunidade, pois a
execução das atividades com o fim econômico pelos templos de qualquer
culto deverá verificar o princípio da livre concorrência previsto na
Constituição Nacional. Ainda segundo ele, seria inconstitucional as
instituições que recebem essas imunidades concorrerem de forma desigual
com a iniciativa privada, beneficiando-se da imunidade, enquanto que o
particular fique sujeito à alta carga tributária do País (2017).

Ele ressalta ainda que ao invés de interpretar a imunidade tributária


religiosa sob uma visão estrutural, onde o importante é natureza do bem,
do rendimento ou manifestação de capacidade contributiva, o Supremo
Tribunal Federal defendeu uma interpretação funcional da norma
constitucional imunizante, onde o ponto central reside na destinação da
renda ou do bem às finalidades essenciais da entidade religiosa (SOUZA,
2017).

Não há que se falar na imunidade de impostos em favor dos templos,


quando o tributo tem como sujeito passivo terceiro diverso da entidade
religiosa, a qual é atingida pela tributação somente reflexamente. Tal
fenômeno ocorre nos tributos indiretos, como o Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços decorrente do uso de energia elétrica,
transportes e serviços de telefonia, e Imposto sobre Produtos Industriais,
tributo objeto da Súmula 591 do Supremo Tribunal Federal (BRASIL,
2011).

MACHADO entende atualmente que a imunidade, a fim de atingir seu


escopo, não deve se limitar aos impostos, atingindo todas as modalidades
tributárias (2009).

A interpretação ampliativa do escrito “impostos” não se mostra


razoável, com o intuito de considerá-la como tributo, de forma a abranger
as outras espécies tributárias. Essa interpretação contraria diretamente o
Texto Constitucional.

A jurisprudência majoritária, de forma correta, repele o entendimento


que a imunidade alcançaria as taxas.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região, na Apelação
200104010462914, de lavra do Desembargador Federal Alcides
Vettorazzi, reafirmou a abrangência da imunidade constante da alínea “b”
do inciso VI do artigo 150 da Constituição Federal somente no que se trata
de impostos, não abarcando as contribuições previdenciárias devidas pela
entidade religiosa. Dessa forma, não merece tratamento diferente a
questão relativa à incidência de contribuições (BRASIL, 2001).

Arnaldo Ricardo Rosim orienta que deve ser salientado, contudo, que é
considerada indevida a incidência de contribuição previdenciária relativa
aos empregados no caso da construção do templo em regime de mutirão.
Isto porque o fato gerador do tributo mencionado não ocorre, uma vez que
não estabelecido o vínculo empregatício nos casos envolvendo trabalho
voluntário, realizado para o bem comum. Importante, não de se falar na
imunidade referida, mas em não incidência pela falta do fato imponível.
Esta é a lição extraída do brilhante acórdão proferido na Apelação
200071040079434, oriundo da pena da Desembargadora Federal Maria
Lúcia Luz Leiria (ROSIM, 2013).

O parágrafo 4º do artigo 150 funciona como vetor interpretativo das


alíneas “b” e “c” do inciso VI, como já apontado pelo Ministro Gilmar
Mendes no Recurso Extraordinário 325.82. O Ministro Eros Grau, em
voto resumido e apurado no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento
651.138, explicou que a imunidade que beneficia os templos abrange não
somente os edifícios, mas também a renda, patrimônio e os serviços
ligados às atividades essenciais das entidades de caráter religioso. Tal
julgado serviu como apoio a diversas decisões judiciais posteriores
(ROSIM, 2013).

Uma ação bastante cautelosa faz-se necessária ao se delinear a extensão


das prerrogativas da imunidade, de maneira a harmonizar o conceito de
liberdade religiosa com o de atividades essenciais, caso contrário, essa
imunidade será transformada em regalia inaceitável. Visto que, a prática
tem mostrado vários casos de entidades religiosas realizando inúmeros
ilícitos reprováveis e não condizentes com o fim para o qual obteve tal
imunidade.
PONTES DE MIRANDA já alertava sobre o uso inadequado da
interpretação constitucional: “A Constituição de 1967 foi explícita; não
criemos, com interpretações criminosas, problemas graves, que, em vez de
servirem à espiritualidade, a porão em xeque e risco” (1970, p. 425).

As finalidades essenciais da entidade ligam-se diretamente à


vantagem da imunidade patrimonial. Segundo a Teoria Clássico-Liberal,
Concepção do Templo-Atividade, tudo que direta ou indiretamente tem o
objetivo de viabilizar o culto no que se refere a casa e ao veículo
ministerial, será abarcado pela imunidade tributária, segundo aponta
Eduardo Sabbag:

“Não deve haver incidência de IPTU sobre a residência do religioso,


sobre a casa ou salão paroquial, sobre o centro social, sobre todos os
anexos ao templo, como nítidas pertenças do templo […] não deve haver a
incidência de IPVA sobre o veículo (carro, avião, barco) utilizado pelo
religioso para a realização do trabalho eclesiástico” (SABBAG, 2013, p.
332).

CARVALHO esclarece que o fato da não incidência dos impostos


aos templos religiosos é em si uma regra quando diz que “[…] Por outros
torneios, significa que a relação jurídica não experimenta alterações em
face do cumprimento ou do descumprimento dos deveres nela
estabelecidas. […]” (2010, p. 200). Ou seja, a Constituição está
determinando que com relação aos entes federativos existe uma obrigação
de não fazer no sentido de não exigir impostos aos templos religiosos, sob
pena de motivar a instauração de procedimentos administrativos para a
obtenção da benesse da imunidade tributária. Em outras palavras, o autor
assevera que é um direito do contribuinte e um dever do Estado cumprir o
dispositivo constitucional criando meios para a sua concretização (SILVA,
2015).

Flávio Porto da Silva escreve que “tendo em vista que a imunidade é


uma garantia constitucional de não tributação em stricto sensu, também
preza pela valorização cultural harmonizando-se com o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana. Portanto, enquanto o artigo
5º, VI, da CF representa um direito fundamental e pétreo, promovendo a
prática dos cultos religiosos, o artigo 150, VI, ‘b’ da CF, nos mostra que o
legislador teve em mente o favorecimento do exercício dos cultos
religiosos” (SILVA, 2015, p. 24).

Aliomar Baleeiro (apud FERREIRA FILHO) doutrinava que o templo


religioso não se resume apenas à edificação, compreendendo ainda o
próprio culto (BALEEIRO apud FERREIRA FILHO, 1994). Em sentido
ainda mais amplo, CARRAZZA tutela que a referida imunidade alcança a
igreja, entidade mantenedora do templo, bem como abrange outros bens
imóveis que tenham relação com o fim institucional das religiões, como os
denominados “anexos”, isto é, locais que viabilizam o culto, não
empregados em fins econômicos (2000).

Acolhendo o entendimento acima, o STF decidiu que a imunidade


concedida aos templos abrange os imóveis que tenham relação com seu
funcionamento e finalidade (Agravo de Instrumento no Agravo
Regimental 690.712, Relator Ricardo Lewandowski). No Recurso
Extraordinário 578.562, relatado pelo Ministro Eros Grau, assentou
também que os cemitérios são considerados extensões de entidade
religiosa, aplicando-se a imunidade prevista no dispositivo em comento
para afastar a incidência do Imposto Predial e Territorial Urbano (ROSIM,
2013).

Conforme ensina COSTA, buscam assegurar efeitos às normas


constitucionais que garantem às liberdades de culto e de expressão, assim
como o direito de acesso à cultura (2006).

Doutrinou o Ministro Ricardo Lewandowski no Recurso Extraordinário


562.351 que, diversamente do modo como se apreciam as liberdades, as
quais devem ser interpretadas ampliativamente, no tocante às imunidades,
a interpretação a ser dada é restritiva.

Na Remessa de Ofício 200104010578424, em visão concordante com


a Suprema Corte, a Desembargadora Federal Vivian Josete Pantaleão
Caminha legitimou que não somente o templo, mas também a própria
instituição igreja (como um todo) estaria alcançada pela imunidade.
Logo, não há que se falar na imunidade de impostos em favor dos
templos, quando o tributo tem como sujeito passivo terceiro diverso da
entidade religiosa, a qual é atingida pela tributação somente de forma
reflexa. Isso também ocorre nos tributos indiretos, como o Imposto sobre
Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) decorrente do uso de
energia elétrica, transportes e serviços de telefonia, e Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI), tributo que já é instrumento da Súmula
591 do STF.

Carrazza expõe que a imunidade não abrange atividades realizadas


com intuito meramente econômico, mesmo que tais valores sejam
destinados exclusivamente à manutenção do templo. Decerto, aluguéis de
imóveis, exploração de estacionamento, venda de itens religiosos ou
produzidos por religiosos não são considerados para a obtenção do
benefício constitucionalmente previsto. Discorda-se do ilustre mestre. O
parágrafo 4º do artigo 150 da Constituição Federal garante a ampla
imunidade tributária fomentadora da liberdade religiosa, pouco
importando a origem dos valores, sendo imprescindível, porém, a
destinação especialmente ligada às atividades religiosas (CARRAZZA,
2000).

Vejamos a pertinente lição de BECHO: “a indigitada imunidade é, em


princípio, objetiva, por ter sido direcionada aos templos. Todavia, o
beneficiário é a instituição, a igreja, e a proteção inicial é ao culto e às
demais atividades religiosas, que incluem atos pios, como os caritários”
(2011, p. 478).

É cabível ressaltar, ainda, que o preceito da imunidade tributária


alcança exclusivamente os impostos – tributos não vinculados a uma
atuação estatal.

Portanto, não há que se falar em imunidade tributária dos templos de


qualquer culto no caso das outras espécies tributárias. Nesses tributos, a
exação decorre de uma prestação efetiva da administração pública,
trazendo certo benefício ao contribuinte, não havendo manifestação de
poder de império do Estado. Caso se admitisse que a imunidade também
alcançasse os demais tributos, implicaria o enriquecimento ilícito da
entidade religiosa sobre o Estado, considerando-se ter aquela efetivamente
prestado o serviço ou colocado a disposição deste.

Extrai-se do exposto anteriormente, que nos dias atuais as imunidades


tributárias relativas aos templos religiosos não se restringem aos edifícios
propriamente ditos, aplicando-se às entidades religiosas, como um todo.
Contudo, é indispensável que se reconheça que a destinação a ser dadas às
rendas, patrimônios e serviços das entidades religiosas é fator
determinante para a configuração ou não do privilégio constitucional
imunizante, sendo imperiosa a reversão dos valores obtidos para a
consecução de suas atividades essenciais, se pretende o ente religioso ser
alcançado pelos favores constitucionais tributários.

3 O que há de novo sobre a imunidade tributária dos templos

Recentemente, o Senado Federal aprovou a proposta de emenda à


Constituição (PEC) que isenta templos religiosos, de qualquer
denominação, do pagamento do Imposto sobre a Propriedade Predial e
Territorial Urbana (IPTU). O texto prevê que igrejas que funcionam de
aluguel deixem de pagar também o tributo. Porém, na prática, templos
proprietários de imóveis já não pagam IPTU (BRASIL, 2016).

Essa isenção passará a valer também para entidades religiosas que


sejam apenas locatárias do imóvel. A matéria, que foi aprovada sem
polêmica, segue agora para avaliação no plenário da Câmara dos
Deputados (BRASIL, 2016).

Ainda nesse sentido, os templos religiosos que são proprietários dos


imóveis que ocupam já não pagam IPTU de acordo com vedação tributária
prevista na Constituição Federal. No entanto, a PEC aprovada, deixará
expressa a proibição da cobrança do imposto e estende a isenção a templos
que alugam imóveis para exercer as atividades religiosas, sendo que o
IPTU é um tributo de responsabilidade municipal.

O ex-senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), que é bispo da Igreja


Universal, é o responsável pelo texto juntamente com outros senadores.
Para justificar a matéria, os parlamentares afirmam que as igrejas
cumprem “papel social” importante para o país, por isso não devem ser
criadas barreiras para a prática religiosa (BRASIL, 2016).

Os senadores argumentam que “a criação de obstáculo para o exercício


das religiões, mesmo que por meio da exigência de impostos, não é
interessante, pois, como se sabe, as igrejas cumprem papel social
extremamente relevante e indispensável para um País tão desigual como
ainda é o Brasil”. Conforme Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n°
200, de 2016, a seguir, a qual teve origem na PEC 133/2015:

“Ementa:

Acrescenta § 1º-A ao art. 156 da Constituição Federal para prever a


não incidência sobre templos de qualquer culto do Imposto sobre a
Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), ainda que as entidades
abrangidas pela imunidade tributária sejam apenas locatárias do bem
imóvel.

Explicação da Ementa:

Altera a Constituição Federal, para estabelecer que o imposto sobre


propriedade predial e territorial urbana – IPTU não incide sobre templos
de qualquer culto, ainda que sejam apenas locatários do bem imóvel.”
(BRASIL, 2016).

Tal Proposta está agora em tramitação na Câmara dos Deputados


aguardando votação no plenário (BRASIL, 2016). A referida matéria em
votação, que isenta também os imóveis alugados pelas entidades
religiosas, já foi aprovada por unanimidade há mais de um ano no Senado,
após duas votações por se tratar de uma PEC. Também na Câmara, a PEC
será submetida a duas votações e precisará dos votos favoráveis de três
quintos dos deputados em cada turno, ou seja, 308 votos (AMARAL,
2017).

Atualmente, como já citado anteriormente, o entendimento do


Supremo Tribunal Federal é que a imunidade tributária dos templos em
relação ao IPTU é restrita aos imóveis de propriedade das entidades
religiosas.

Recorde-se também que, conforme o texto constitucional, a proibição


de os entes federativos criarem impostos sobre templos de qualquer culto
compreende apenas “o patrimônio, a renda e os serviços relacionados com
as finalidades essenciais das entidades”. Essa imunidade tributária pode
ser entendida como uma extensão de outros mandamentos da Constituição,
como a garantia à liberdade de crença e o livre exercício de cultos
religiosos. Assim, locais de culto não pagam IPTU, os veículos usados
pelo templo não pagam IPVA e das doações e dízimos recebidos não é
cobrado imposto de renda, por exemplo.

Nesse interim, já se debate também no Congresso Nacional o fim da


imunidade tributária para igrejas. O parecer é aguardado na Comissão de
Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado, embora o
art. 150 da Constituição de 1988 proíba a União, os estados, o Distrito
Federal e os municípios de instituírem impostos sobre “templos de
qualquer culto”. Porém, uma sugestão popular que já está sendo analisada
pelo Senado (SUG 2/2015) propõe a extinção da imunidade tributária das
igrejas. A matéria aguarda parecer na CDH e está disponível para consulta
no site Consulta Pública, do portal e-Cidadania do Senado (BRASIL,
2017).

A autora da sugestão justifica que “os constantes escândalos financeiros


que líderes religiosos protagonizam estão tornando-se o principal
motivador da ideia de que a imunidade tributária das igrejas deve ser
banida e que o Estado é uma instituição laica e qualquer organização que
permite o enriquecimento de seus líderes e membros deve ser tributada”
(BRASIL, 2016).

A sugestão é uma das mais populares em número de votos no portal,


como se observa pelos números já alcançados. Até abril de 2017, a
Consulta Pública já tinha recebido 226.040 respostas, sendo 114.475
favoráveis e 111.565 contrários ao fim da isenção de impostos para igrejas.
Observa-se, porém, que não há um consenso sobre o tema, como mostram
os resultados da Consulta Pública (BRASIL, 2017).
Apesar da referida Sugestão argumentar que as igrejas usam a
exoneração de impostos para enriquecer seus comandantes, existem
aqueles que argumentam que as igrejas prestam um relevante serviço
social e que elas fazem um papel social que seria do Estado, levando
cursos de formação, apoio psicológico e outros (BRASIL, 2017).

O Relator explicou ainda que “é um assunto que desperta muitas


paixões por conta de toda a questão religiosa versus o Estado laico. Em
ambos os lados os argumentos são muito fortes. Por um lado, as
instituições religiosas em geral retornam os incentivos que recebem por
meio do suporte à saúde, à educação e outros. Por outro, há líderes
religiosos que fazem uso indevido do dinheiro proveniente da atuação da
instituição e a utiliza como meio de vida” (BRASIL, 2017).

Porém, ainda cremos que as igrejas verdadeiras e sérias têm um papel


social e espiritual positivo na sociedade.

Em meio a tanta discussão relativa à imunidade de impostos aos


templos de qualquer culto, foi sancionada a Lei nº 5.947/2017, de 28 de
julho de 2017, que assegura a renovação automática da imunidade
tributária às entidades religiosas do Distrito Federal (DF). Com a Lei,
apenas as pessoas físicas e jurídicas representadas por “templos de
qualquer culto” ficam dispensadas da necessidade de reiterar perante os
órgãos da administração pública do DF o requerimento do benefício. No
entanto, o governador vetou a aplicação da norma às instituições
educativas e sociais sem fins lucrativos, partidos políticos e sindicatos
(BRASIL, 2017).

Nesse sentido, existem também inúmeras razões para sermos


contrários à isenção de impostos às igrejas, pois muitas igrejas funcionam
como genuínas empresas, em que muitos pastores e músicos recebem
grandes salários para exercerem seus trabalhos, além do que muitos deles
deveriam viver para Deus, ao invés de viverem de Deus. Vemos ainda
inúmeras igrejas que sequer prestam contas aos seus membros dos valores
arrecadados e das suas despesas, muito menos ainda dos seus gastos com
ação social, e muitas sequer oferecem qualquer tipo de trabalho social.
A nosso ver, a justificativa para a isenção de impostos para as igrejas
seria o fato de que elas possuem um trabalho social em prol da
comunidade, independente do trabalho espiritual. Inclusive, isso evitaria
que qualquer astucioso abrisse uma igreja com o intuito apenas de recolher
os dízimos e as ofertas dos membros e de recorrerem à religião para
lucrarem com as vantagens adquiridas com as isenções recebidas e sem
desenvolver nenhum tipo de trabalho social. Essas atitudes nefastas
acabam por prejudicar aquelas igrejas honestas, as quais realmente fazem
jus à isenção de alguns impostos por parte do Estado, pois prestam contas
corretamente, além de desenvolverem relevantes trabalhos sociais e
espirituais.

Temos que fazer justiça àquelas igrejas de bem e que fazem a diferença
na sociedade. No entanto, não devemos esquecer que a regra da
responsabilidade social leva as empresas a prestarem contas do papel
desempenhado por elas na área social; assim, as igrejas também deveriam
ter que comprovar quanto gastou da sua arrecadação no trabalho social,
como: cestas básicas, serviços diversos, doação de roupas, de remédios e
outros.

Corolariamente, uma reportagem da Revista VEJA publicada em 30 de


maio de 2017, intitulada “Por que Igreja não paga imposto? Ou a
austeridade vale para todos, ou não é austeridade”, cita que) “na prática
cada brasileiro paga pela imunidade fiscal das igrejas. A justificativa é um
suposto ‘interesse social’, mas, por essa ótica, todas as empresas e
trabalhadores que pagam impostos também trazem ganhos ao Brasil.
Então, mereceriam isenção (ANDRADE, 2017).

Ainda segundo a reportagem, “sabemos também quão nítida é a


finalidade de acumulação de capital por algumas entidades religiosas. Da
mesma forma que existem bons e maus ateus, católicos, judeus,
umbandistas, existem evangélicos incríveis e outros, não (em presídios e
favelas onde o Estado não chegou, por exemplo, algumas organizações
religiosas chegaram – e muitas delas com um bom trabalho de assistência
social)” (ANDRADE, 2017).

Não existe, portanto, “justificativa plausível para isentar entidades


religiosas da cobrança de tributos, em especial em um momento de crise.
A austeridade precisa ser ampla, geral e irrestrita, ou não é austeridade”,
continua a argumentar ANDRADE ( 2017).

Tal Revista não satisfeita com a reportagem anteriormente citada, onde


questiona a isenção de impostos a essas instituições, voltou a publicar uma
reportagem em outubro (04) intitulada de “Essa gente incômoda”. O artigo
do jornalista J. R. Guzzo faz diretamente apenas uma crítica contra os
evangélicos, semelhante a feita por muitos de nós, diante dos pregadores
que prometem o que o Senhor Deus não promete, o Evangelho da
prosperidade a qualquer custo e quanto à presença de lideranças religiosas
fraudadoras, em alguns casos (GUZZO, 2017). Por isso, temos que cuidar
para que os recursos entregues em nossas igrejas sejam bem geridos,
sejam efetivamente destinados para fins nobres (como por exemplo, para a
ação social da igreja) e apresentados com absoluta transparência.
Devemos, portanto, ter temor do juízo de Deus e fazermos o que é certo,
mesmo que a proteção da lei dos homens nos force a fazer o oposto.

Mais do que nunca precisamos ser sal desta terra e luz para este
mundo tão carente de pessoas de bem e que tenham temor do Senhor à luz
da Bíblia. Para isso, precisamos ser exemplos em todas as áreas e em tudo
o que fizermos; além disso, não devemos abaixar a cabeça e nem deixar de
praticar as boas obras, especialmente àqueles que mais precisam, e isso é
amor ao próximo.

4 Fundamentos bíblicos que reforçam o papel social das igrejas

Sabemos que a Bíblia está repleta de ações que empoderam o nosso


papel social na sociedade desde os seus primórdios até os dias atuais.
Esses ideais sociais cristãos foram corroborados por vários homens de
Deus.

A temática social está cheia de preceitos e de referências narrativas no


Antigo Testamento. A justiça, a misericórdia e a generosidade no trato com
os sofredores se tornam um tema dominante na literatura profética,
especialmente a dos “profetas éticos” do século oitavo a.C. (Isaías, Oséias,
Amós e Miquéias). As Escrituras Hebraicas estão repletas com as figuras
do pobre, do órfão, da viúva e de outras pessoas encontradas em situação
de vulnerabilidade (MATOS, 2014).

Essas preocupações foram retomadas e aprofundadas por Jesus. O


Senhor corrigiu algumas distorções vigentes, ensinando que a prática da
caridade deveria ser humilde, desinteressada e motivada pelo amor, em
uma ocasião em que a religiosidade judaica havia se cristalizado em torno
de três práticas formais – esmolas, oração e jejum (Mt 5.7; 6.1-4; 7.12).
Jesus apontou como uma de suas características a sensibilidade diante da
dor alheia e a prontidão em assistir os menos favorecidos ao anunciar o
Evangelho do Reino. Ele mostrou isso primorosamente por meio de alguns
de seus ensinos mais respeitados, como a parábola do Bom Samaritano
(Lc 10.30-37) e a perturbadora história do Grande Julgamento (Mt 25.31-
46).

A imagem de Jesus como alguém que passou pelo mundo fazendo o


bem ficou na mente das primeiras gerações de cristãos (At 10.38). A
beneficência foi colocada no centro da vida cristã pelo ensino apostólico –
a misericórdia ou benignidade é um dos dons espirituais e um fruto do
Espírito (Rm 12.8; Gl 5.22); deve-se fazer o bem a todos, a começar dos
irmãos (Gl 6.9-10); a solidariedade deve ir além das meras palavras, para
manifestar-se em ações concretas (Tg 2.15,16; 1 Jo 3.17,18). A
importância desse aspecto da vida cristã foi atestada pela própria
instituição do diaconato.

É possível perceber uma nova maneira de ver a vida, na caminhada


com Jesus pelo seu ministério. Em Cristo, o velho torna-se novo, a justiça
estabelece-se, o miserável sai da marginalidade, o órfão é amado, a viúva é
respeitada, o estrangeiro é acolhido, o pecador pode ser amado. NEle, todo
carente, tem a oportunidade de ser acolhido e abraçado.

Jesus não era indiferente à tragédia humana, o sofrimento do ser


humano sempre atraiu a Sua atenção (Mc. 1.40-41; Lc. 7.11-14; Mt. 14.14;
Mt. 15.32). Ele via a dor do outro e se compadecia dela. Porém, a
compaixão de Jesus não era algo restrito ao sentimento. Parece que a
igreja não age com total indiferença à miséria do homem, até consegue
emocionar-se e chorar. Jesus, no entanto, não apenas sentia, mas seu
sentimento sempre se transformava em ação prática. Como está escrito em
Mateus que Ele curava todas as doenças e as enfermidades (Mt 4.25-25,
9.35-38).

Em Mateus 25.31-46, a parábola que Cristo utilizou para descrever o


juízo final compreendem verdades fundamentais aos Seus ensinos. Como
por exemplo, a Sua presença entre os homens, a Sua preocupação com a
condição da criatura, a Sua permanente identificação amorosa com os
mortais. “Quando te vimos? ”, perguntaram eles. O Senhor lhes respondeu
em Mateus 25.39, 40: “quando fizestes isso a um destes meus irmãos mais
pequeninos, a Mim o fizestes. ”

A importância que assume a nossa atitude para com o próximo, na


determinação de nossas relações com Cristo, é outra implicação da
parábola. E há ainda algo a respeito da natureza dessa atitude: o Mestre
não se satisfaz com uma preocupação abstrata ou romântica com os nossos
semelhantes. Ele entrega aos nossos cuidados os famintos, para lhes
darmos de comer; os forasteiros, para os recebermos: os nus, para os
vestirmos; os maus, para os perdoarmos, os enfermos, para os visitarmos;
os presos, para os consolarmos; os sedentos, para lhes darmos de beber.
Isto é, devemos suprir todos os necessitados de acordo com as
necessidades de cada um (LESSA, 1965).

No livro do profeta Ezequiel 3.15 está escrito: “Vim aos do cativeiro,


a Tel-Abibe, que moravam junto do rio Quebar; e eu morava onde eles
moravam, e fiquei ali sete dias, pasmado no meio deles”. O apóstolo Paulo
segue a mesma linha ao recomendar na carta aos Hebreus 13.3: “Lembrai-
vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e dos maltratados,
como sendo-o vós mesmos também no corpo. ”

O capítulo 2.1-26 do livro de Tiago insiste na expressão da nossa fé


por meio de atos de amor e de justiça para com o nosso próximo, pois
esses atos são a evidência indispensável do nosso amor aos semelhantes.
No capítulo 1.27 sua ética é tanto pessoal como social, como quando nos
encoraja a “visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se
da corrupção do mundo”.
Tiago, em vários capítulos do seu livro, demonstra preocupação com
a pureza do coração (1.21), com a sabedoria no trato e as atitudes piedosas
(5.13-15), com a discriminação entre pessoas baseada nos bens que
possuam (2.1-4), com a injustiça feita aos pobres pelos ricos e poderosos
(2.6, 7), com os nus e famintos desamparados (2.15, 16), com as causas
das guerras e das tensões entre os homens (4.1-3), com a exploração do
trabalhador que teve os seus salários diminuídos e os seus pagamentos
atrasados, para que seus ricos senhores ainda mais entesourassem (5.1-4),
e com a ignomínia daquele que mataram e condenaram o justo, que não
lhes resistiu (5.6). Sentimos que subsiste, ainda hoje, o mesmo imperativo
tão eloquente e objetivamente ilustrado por aquele servo de Deus – o
demostrarmos a nossa fé pelas nossas obras (2.18-20), numa perfeita
adequação da doutrina à vida.

Alguns entendem que tais pronunciamentos, que consideram


incidentais ou acessórios, não nos autorizam hoje à ação social, uma vez
que o próprio apóstolo Paulo, por exemplo, a despeito de por eles
informado, nunca denunciou as estruturas sociais ou as instituições que ao
tempo contrariavam flagrantemente os princípios da doutrina cristã. O
incidente de Onésimo é a ilustração preferida pelos que assim entendem o
problema. As sementes da justiça, no entanto, estavam no bojo dos
preceitos e atitudes daqueles que seriam os instrumentos, muitas vezes
inconscientes da significação total dos seus gestos, da revelação de Deus.
Foi assim quando Paulo escreveu a Filemon.

Quando receber Onésimo como um escravo, devolve-o a Filemon


“não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado” (v. 16).
A concessão do estado de homem livre a um escravo – um fato
eminentemente social – é subentendido como a resultante óbvia do
impacto do Evangelho na vida daqueles homens, como conteúdo legítimo
da salvação que receberam de Deus. Em Hb 13:1-30 está escrito que o
fato serve ainda para definir a atitude típica dos verdadeiros cristãos em
face dos problemas da mesma ordem (LESSA, 1965).

O Antigo Testamento salienta que o Senhor requer justiça para os


pobres, assim como aqueles que os oprimem serão julgados. Russel Shedd
(1984) declara que as leis de Israel foram instituídas por Deus, objetivando
produzir uma sociedade justa para todos os cidadãos, independentemente
de sua classe social. A leitura da Lei e sua compreensão levariam a nação a
entender a paixão, a justiça e a imparcialidade de Deus ao tratar com seu
povo. Com o objetivo de fornecer descanso para a terra e alimento para os
destituídos, Deus instituiu o período do descanso sabático, tanto no jubileu
quanto no ano sabático. Esse benefício tinha o propósito de alcançar os
pobres, as viúvas, os órfãos, os estrangeiros e os escravos sem distinção,
de forma que todos fossem tratados com o mesmo zelo (SHEDD, 1984).

O apóstolo Tiago (Tg 2.14-16) nos fala sobre a necessidade de a fé


tornar-se uma realidade mais indiscutível por meio das obras. Afinal, qual
valor de uma fé que contempla a necessidade do outro com indiferença? A
primeira carta de João (I Jo 3.17-18) pergunta como o amor de Deus pode
permanecer no coração de alguém que tem recursos, mas não os
compartilha com o irmão necessitado. João entende que o amor de Deus,
derramado em nossos corações, precisa ser espalhado sobre o outro de
forma prática. O apóstolo Paulo também aduz algo sobre a questão da
generosidade do cristão diante da necessidade do outro e, em sua segunda
carta aos Coríntios (II Co 8 e 9), debruça-se sobre a questão da coleta que
a igreja na Macedônia levantou em favor das igrejas da Judéia. É possível
acrescentar textos, como: At 10.38, Gl 6.9-10, II Ts 3.13 e Hb 13-16 e
perceber que o desafio é o mesmo: a Igreja de Jesus precisa ser generosa;
precisa dispor-se a fazer o bem (ROCHA, 2003).

A Bíblia Sagrada segue exortando a cuidarmos dos órfãos, das viúvas


em suas dificuldades (Tg 1:27); a ajudar os irmãos quando estiverem
necessitando de roupas e do alimento diário, do contrário, nenhum
proveito há em dizer “Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-
se”, sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?” (Tg 2:14-17); a cuidar
“não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros.”
(Fp 2:4); a “ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor
Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’. (At
20:35-38); e que “se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão
em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o
amor de Deus?” (1 Jo 3:17); a lembrarmos “dos que estão na prisão, como
se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se vocês
mesmos estivessem sendo maltratados.”
Não devemos esperar achar sempre nas Escrituras uma situação
análoga às que enfrentamos, para informarmo-nos do proceder
aconselhável a nós atualmente. Logo, o papel social das igrejas envolve
uma regra elementar de exegese ou de hermenêutica.

Para LESSA, assim como a Bíblia não é um livro de ciência, ou de


sociologia, ou de história, também não é um manual de serviço ou ação
social. Isto, não só porque a complexidade do mundo moderno nos situa
em meio a problemas e realidades absolutamente inéditos, nunca vividos,
ou suspeitados sequer, pelos profetas ou pelos primitivos cristãos, como
também, e principalmente, porque ela é antes um veículo de princípios que
Deus nos revelou para que nos situássemos no mundo e orientássemos a
nossa vida de testemunho e serviço em todas as circunstâncias e em todos
os tempos. Se tivéssemos de resumir em um texto as razões inspiradas da
nossa preocupação social, citaríamos o mandamento bíblico que está em
Levítico 19.18 – “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”. A
justificativa dessa escolha está no fato de que sendo um preceito da Lei,
foi endossado por Cristo, e por ele próprio e pelos seus discípulos
afirmado elemento imprescindível a uma verdadeira e completa
experiência cristã (Mateus 19.19; Marcos 12.31; I João 4.20). São bastante
amplas as implicações desse mandamento, que nos constrange a
procurarmos assegurar ao nosso semelhante todas as circunstâncias e
elementos que consideremos necessários ou desejáveis para o nosso
crescimento, para a nossa paz, para o nosso aprimoramento, para a nossa
felicidade terrena, para a nossa segurança eterna; enfim, para a plena
realização da nossa humanidade. Mas, essa mesma virtude do
mandamento – sua universalidade – nos obriga a cogitações mais objetivas
(LESSA, 1965).

Em resumo, as Escrituras nos oferecem todas as evidências necessárias


à fundamentação dos imperativos que a Teologia contemporânea encontra
para a ação social cristã. Nós somos, pela graça de Deus, instrumentos
para a realização do seu propósito redentor, pelo que a Igreja não existe
para si mesma, mas para redimir o mundo. O amor de Deus pelas suas
criaturas nos constrange a buscarmos justiça e bem-estar para todos os
seres humanos (LESSA, 1965).
5 A responsabilidade social desempenhada pelas igrejas

Os dicionários de administração definem responsabilidade social como


a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da
empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo
estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos
ambientais e culturais para as gerações futuras, além de respeitar a
diversidade e promover a redução das desigualdades sociais (DUARTE,
2015).

A responsabilidade social da Igreja está no seu cerne desde a sua


instituição no capítulo 2 de Atos dos Apóstolos: “Todos os que creram
estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e
bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha
necessidade” (Atos 2.44-45).

Neste trecho de Atos, está-se iniciando a Igreja de Cristo após a morte,


ressurreição e a vinda do Espírito Santo sobre os que creem. Nesse início
de encontro e ajustes iniciais dessa comunidade primitiva Cristã, tem um
ponto muito forte que nasce juntamente com a Igreja, a responsabilidade
social. A preocupação por uma igualdade social, pela vida digna do
cidadão e da comunidade, fez com que a igreja começasse a sua
caminhada trabalhando para o bem comum. Uma comunidade que tinha
como prioridade o anúncio da salvação e da vinda de Jesus como o
Messias a todo o povo e que após o cumprimento desta primeira etapa, já
partia para o próximo passo que era o suprimento das necessidades básicas
do povo.

CUNHA relata que a o chamado de servir ao mundo em nome de


Deus é a inclinação original da Igreja ou Eclésia, que se constitui na
“Assembleia de pessoas chamadas para fora” (CUNHA, 2003).

Na maior parte da história da igreja, os cristãos entenderam que o


socorro aos sofredores era uma parte importante da sua vocação no
mundo. Eles não acreditavam que havia qualquer conflito entre essa
preocupação e outros interesses da vida cristã. Foi somente no século 20
que o envolvimento social da igreja se tornou um pomo de discórdia,
rompendo o consenso que havia imperado por longo tempo (MATOS,
2014).

Em seu Parágrafo 15, o Relatório da Consulta Internacional realizada


em Grand Rapids sob a presidência de John Stott, no segundo volume da
Série Lausanne, publicado pela ABU sob o título “Evangelização e
Responsabilidade Social”, cita que: são coisas bem diferentes a ação social
responsável, colocada sobre os nossos ombros pelo Evangelho bíblico, e o
“evangelho social” liberal, considerado uma perversão do verdadeiro
Evangelho. Como é declarado pelo Pacto de Lausanne, “nós rejeitamos
como sendo apenas um sonho da vaidade humana a ideia de que o homem
possa algum dia construir uma utopia nesta terra” (STOTT, 1983).

Onde quer que o avivamento espiritual de cunho bíblico eclodiu


declarou guerra ao analfabetismo, à alienação, ao vício, à violência, ao
absentismo, à miséria, à doença, à morte prematura e outros.

Se a cura divina é um fato bem patente na vida de muitos cristãos não


é menos marcante a prevenção que os princípios bíblicos de vida acabam
por realizar. A influência da Igreja na sociedade move-se na dimensão
sobrenatural e na dimensão natural. Tanto uma como outra estão
interligadas na sua dinâmica. Não há qualquer dicotomia entre elas, o
natural apenas é para nós o sobrenatural que acontece todos os dias.

A assistência social é uma vertente por excelência da ação da Igreja


com uma forte influência sobre a sociedade tão carecida dessas ações.
Estas ações dirigem-se antes de tudo aos domésticos da fé, mas alarga-se a
todos os que na sociedade dela necessitam e a Igreja tem possibilidade de
alcançar.

A Bíblia traz claras referências à ação domínios da área social. Esta


foi a razão pela qual os diáconos foram instituídos segundo o relato que
encontramos no livro de Atos 6:1-7:

Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve


murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles
estavam sendo esquecidas na distribuição diária. Então os doze
convocaram a comunidade dos discípulos e disseram: Não é razoável que
nós abandonemos a Palavra de Deus para servir às mesas. Mas, irmãos,
escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de
sabedoria, aos quais encarregaremos deste serviço; e, quanto a nós, nos
consagraremos à oração e ao ministério da Palavra. O parecer agradou a
toda a comunidade; e elegeram Estevão, homem cheio de fé e do Espírito
Santo, Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de
Antioquia. Apresentara-nos perante os apóstolos e estes, orando, lhes
impuseram as mãos. Crescia a palavra de Deus e, em Jerusalém se
multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes
obedeciam à fé (Atos 6:1-7).

É interessante reparar também que essa foi a chamada de atenção que


os apóstolos deixaram a Paulo em Gálatas:

(…) e, quando conheceram a graça que me foi dada, Tiago, Cefas e


João, que eram reputadas colunas, me estenderam, a mim e a Barnabé, a
destra de comunhão, a fim de que nós fôssemos para os gentios e eles para
a circuncisão; recomendando-nos somente que nos lembrássemos dos
pobres, o que também me esforcei por fazer” (Gálatas 2:9,10).

O apóstolo João, em sua primeira carta, também exorta o mesmo em


relação a todos os cristãos membros da Igreja de Jesus Cristo: “Ora,
aquele que possuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer
necessidade e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o
amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de
fato e de verdade” (1 João 3:17,18).

Textos que reforçam o que foi relatado anteriormente ditos pelo próprio
Jesus Cristo:

“ Quando vier o Filho do homem na sua majestade e todos os anjos


com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão
reunidas em sua presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor
separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os
cabritos à esquerda; então diz o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde,
benditos de meu Pai! Eentrai na posse do reino que vos está preparado
desde a fundação do mundo. Porque tive fome e me destes de comer; tive
sede e me destes de beber; era forasteiro e me hospedastes; estava nu e me
vestistes; enfermo e me visitastes; preso e fostes ver-me. Então
perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te
demos de comer? ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos
forasteiro e te hospedamos? ou nu e te vestimos? E quando te vimos
enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em
verdade vos afirmo que sempre o fizestes a um destes meus pequeninos
irmãos, a mim o fizestes.

Então, o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-
vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos, Porque tive fome e não me destes de comer; tive sede e não me
destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me
vestistes; achando-me enfermo e preso não fostes ver-me. E eles lhe
perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede,
forasteiro, nu, enfermo ou preso, e não te assistimos? Então lhes
responderá: em verdade vos digo que sempre que o deixastes de fazer a
um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer. “E irão estes para
o castigo eterno, porém os justos para a vida eterna (Mateus 25:31-46).

E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de


por Jesus à prova, e disse-lhe. Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na lei? Como interpretas? A
isto ele respondeu: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de
toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e
amarás o teu próximo como a ti mesmo. Então Jesus lhe disse:
Respondeste corretamente; faze isto, e viverás.

Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu


próximo?

Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para


Jericó, e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe
roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se deixando-o
semimorto. Casualmente descia um sacerdote por aquele mesmo caminho
e, vendo-o, passou de largo. Semelhantemente um levita descia por aquele
lugar e, vendo-o, também passou de largo. Certo samaritano, que seguia o
seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. E,
chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e,
colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e
tratou dele. No dia seguinte tirou dois denários e os entregou ao
hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem e, se alguma coisa gastares a
mais, eu te indenizarei quando voltar.

Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas
mãos dos salteadores? Respondeu-lhe o intérprete da lei: O que usou de
misericórdia para com ele. Então lhe disse: Vai, e procede tu de igual
modo” (Lucas 10:25-37).

As igrejas evangélicas como organismos espirituais e instituições civis


e jurídicas têm também uma influência com um peso significativo
atualmente em várias áreas, como: – Apoio à terceira idade – apoio
domiciliar, abrigos e asilos, terapias ocupacionais; – Apoio à infância –
creches, escolas para o 1º ciclo, adoção; – Apoio à saúde – cuidados de
saúde, prevenção das dependências; – Apoio social – recuperação e
inserção social de toxicodependentes, acolhimento de mães solteiras,
apoio a reclusos, apoio a famílias disfuncionais, apoio aos sem abrigo,
centros de alfabetização; – Apoio à cultura – bibliotecas, periódicos,
edição de livros sobre as mais diversas temáticas, produção de rádio e
televisão; – Apoio às artes – escolas de música, canto, teatro, som e
imagem, pintura, ateliers, seminários; – Apoio transnacional – a mesma
assistência além-fronteiras.

Segundo Wildo Gomes dos Anjos, fundador e presidente da Missão


Vida, instituição filantrópica que recupera mendigos, entende-se por
responsabilidade social “tudo aquilo que entendemos que devemos fazer
para tornar o mundo mais justo e igualitário no que diz respeito aos mais
fracos, pobres e necessitados. Essa missão é um dos papéis fundamentais
das igrejas no enfrentamento dos diversos problemas que atingem a
sociedade” (ANJOS, 2008).

Na visão de Wildo Gomes, a maioria das igrejas está envolvida em


algum tipo de ação social. Se a Igreja Evangélica no Brasil deixasse de
realizar o seu trabalho, que muitas vezes é feito de forma anônima e
silenciosa, o povo brasileiro sentiria grandemente. Ele disse que há 25
anos, quando iniciou o trabalho da Missão Vida, ação social era coisa para
espírita e comunista, mas isso, graças a Deus, tem mudado
gradativamente. Disse ainda que daria nota seis à visão das igrejas
chamadas históricas (tradicionais). As igrejas pentecostais e
neopentecostais receberiam nota quatro. As igrejas que hoje estão
envolvidas com células são as que têm a visão mais deficitária, pois têm
um trabalho muito voltado para si mesmo, esquecendo-se que todos
fazemos parte de um mesmo time e quando alguém faz um “gol”,
independente da denominação, é o Reino de Deus que ganha. Mesmo
diante deste quadro, que ainda não é o ideal, ele acha que 80% das igrejas
têm algum tipo de ministério voltado para os carentes, seja para os
domésticos da fé ou para população de um modo geral (ANJOS, 2008).

Para ele ação social também é caridade. A Palavra de Deus nos diz
em Marcos 6:34: “E Jesus, vendo a multidão, compadeceu-se dela”. Se
Jesus, que era Deus, precisou ver a necessidade das pessoas para sentir
compaixão, quanto mais nós, seres humanos. O que move as pessoas a
terem uma atitude positiva diante da dor e do sofrimento é, sem dúvida, o
sentimento de caridade e amor ao próximo, mesmo que às vezes, elas
mesmas não consigam identificar isso dentro si. Todos nós somos bons e
ruins ao mesmo tempo e se permitirmos esse lado bom pode aflorar
(ANJOS, 2008).

Segundo o Pr Josivaldo de França Pereira, “evangelização e


responsabilidade social são partes integrantes da missio Dei, portanto,
inseparáveis e indispensáveis na missão integral da Igreja de Jesus Cristo
no mundo e para o mundo” (ANJOS, 2008).

Toda igreja, inclusive cada cristão individualmente, possui uma


responsabilidade social. O cristão vive tanto na igreja quanto no seu
mundo, e por isso, tem uma dupla responsabilidade para com os dois.

LESSA já dizia que a ação individual, no entanto, não esgota de


maneira alguma, as possibilidades e responsabilidades de atuação do
Cristianismo na sociedade. Há uma faixa dentro da qual o esforço
individual só tem sentido prático quando integrado num projeto da Igreja
local. Essas iniciativas, além de prestarem relativo serviço ao povo,
ilustram eloquentemente a sua mensagem de amor (LESSA, 1965).

Em seu livro “A IGREJA: O POVO DE DEUS” (Edições Vida Nova),


Bruce L. Shelley, estabelece uma distinção entre Preocupação Social,
Serviço Social e Ação Social, que considero importante para nortear nosso
estudo acerca desse assunto (SHELLEY, 1978).

Vejamos um resumo de como ele define cada um desses termos:

A PREOCUPAÇÃO SOCIAL é uma atitude. É a percepção por parte do


Cristão de que a salvação é dirigida ao homem inteiro. Trata-se do
reconhecimento da aplicação do Evangelho aos ferimentos e fomes do
homem, assim como à sua culpa.

O SERVIÇO SOCIAL refere-se a todos os serviços que as igrejas ou os


cristãos prestam a fim de assistir as vítimas de problemas sociais.
A AÇÃO SOCIAL é mais ampla. Seu alvo é corrigir as estruturas e
processos sociais e políticos de uma sociedade que provocam os
problemas.

A grande maioria das igrejas, e crentes individualmente, demonstra


preocupação social por meio da oração pelos problemas sociais que
afligem o mundo. Esta preocupação é legítima e bíblica (I Timóteo 2:1-3).
Bem menor, porém, é o número de igrejas e crentes que desenvolvem
algum tipo de serviço social. Este serviço também é incentivado e acha
apoio na Palavra, principalmente no exemplo dos primeiros cristãos (Atos
9:36; I Coríntios 16:1-3).

O maior problema hoje, entretanto, está na ação social. É muito raro


ver igrejas ou crentes verdadeiramente envolvidos em uma ação social.
Em geral a igreja se omite e mesmo desencoraja seus membros acerca de
envolvimentos em causas políticas que visem modificar ou mesmo
derrubar estruturas injustas. No entanto, esta atitude também está presente
na Palavra. Muitos servos do Senhor no passado estiveram envolvidos em
ação social, confrontando governantes ou mesmo se rebelando contra
governos injustos (Exemplos: Joiada, o sacerdote, que fez aliança com os
capitães, para derrubarem a usurpadora Atalia, a fim de estabelecerem Joás
como rei de Judá – II Crônicas 23; Daniel, em Babilônia; Neemias, em
Judá; José, no Egito; entre outros).

Coube à Igreja Metodista, entre os evangélicos brasileiros, a primazia


nesse campo, com a criação de uma Junta Geral de Ação Social em 1930.
O VIII Concílio Geral, reunido em julho de 1960, aprova “O Credo Social
da Igreja Metodista do Brasil”. Além de cultivar a preocupação dos fiéis
pela realidade nacional, através de mensagens e documentos diversos nos
momentos de crise para o país, sempre procuraram os seus elementos
representativos sugerir à nação, diretrizes que emanavam da Palavra de
Deus. Surge depois, como produto da preocupação de alguns crentes, a
Comissão de Igreja e Sociedade, logo transformada em Setor de
Responsabilidade Social da Igreja, da Confederação Evangélica do Brasil
(LESSA, 1965).

Entre os batistas brasileiros, talvez tenha cabido ao grande servo de


Deus que foi o Dr. Alberto Mazzoni de Andrade, a honra de erguer, pela
primeira vez, essa bandeira. Certa feita, perante a 45ª Assembleia da
Convenção Batista do Distrito Federal (hoje, Guanabara), quando lhe
coube proferir o discurso de encerramento, escolhe como tema o
ministério social, e profeticamente exorta e vaticina: “o verdadeiro
Cristianismo não deixará de atentar para as suas responsabilidades sociais
pelo simples receio de que o chamem sumariamente de evangelho (“social
gospel”) ou quejando”. Seu pensamento, sua cultura, sua coragem
inspiraram a outros (LESSA, 1965).

No âmbito internacional, é inconteste o valor da contribuição feita


pelo Conselho Mundial de Igrejas através do seu Departamento de Igreja e
Sociedade e do seu Instituto Ecumênico em Bossey, Suíça. Pesquisas
sérias, literatura abundante, conclaves internacionais, cursos, serviços de
socorro (principalmente a emigrantes e deslocados de guerra) são algumas
das facetas de um labor consequente.

Na América Latina, é digna de menção a atividade da Junta Latino-


Americana de Igreja e Sociedade (ISAL), que com a edição de livros, a
publicação da revista Cristianismo y Sociedad, a promoção de Institutos
para Líderes, tanto de zonas rurais como urbanas, tem contribuído para
relacionar diretamente a mensagem cristã com os fatos específicos da vida
em nosso hemisfério neste continente (LESSA, 1965).

Com o passar dos anos e com o crescimento do Evangelho e


consequentemente da Igreja, algumas necessidades foram surgindo e
tomando o lugar muitas vezes das necessidades básicas.

Com isso, a Igreja foi perdendo sua referência inicial (Atos 2) e


percebendo que deixou para trás muitas ideologias cristãs ensinadas por
Jesus e princípios bíblicos. Talvez no afã de querer corrigir este
esquecimento pelo bem da vida social, as igrejas começaram a dar tanta
ênfase na prática social, que a dividiu da prática espiritual.

KAPPAUN escreveu que a práxis Cristã no cotidiano é potencializada


por meio das práticas sociais da igreja, de maneira a focar problemas
sociais reais e a buscar a promoção do enfrentamento dos mesmos, com
vistas à mudança de uma determinada realidade social (KAPPAUN, 2008).

A Igreja deve refletir o amor de Cristo às pessoas da sua comunidade,


de forma a não deixá-las da maneira como se encontram. Para isso, é
necessário demonstrar interesse e dar importância à realidade ao seu redor,
e buscar a sensibilidade do Espírito Santo para saber quando, como e onde
agir para trazer dignidade integral à vida das pessoas.

Rubem Alves escreveu sempre que “a Igreja se dispõe a servir a uma


situação social concreta, esta determina a sua estrutura” (ALVES, 1964, p.
65). Embora seja uma cogitação nova para o nosso Continente, já é uma
verdade evidente para muitos. Já ARLT fez a seguinte declaração:

“No Novo Testamento encontram-se várias concepções sociológicas


(estruturais) da Igreja. Todas elas são a consequência do encontro da Igreja
(comunidade que atende ao chamado de Cristo) com e em determinadas
formas sociais que, por sua vez, são o resultado de condicionamentos
históricos, geográficos, raciais, políticos, culturais, econômicos” (ARLT,
1964, p. 95).

Consideramos que a igreja tem uma responsabilidade social e


espiritual muito importantes, mas também, ela deve ser integral.

Para que haja um mover na justiça social através da Igreja, é


necessário que a mesma viva o Evangelho em sua plenitude que resume no
amor incondicional. Pois, quando a Igreja vive no amor de Cristo, suas
ações sociais são consequências deste amor (CICILIATO & MOREIRA,
2014).

Russell P. Shedd em seu livro “Justiça Social” comenta como a


justiça social esteve presente em boa parte do Antigo Testamento onde as
leis de Israel foram instituídas por Deus a fim de criar e manter uma
sociedade justa para todos os seus membros, independente de classe ou
posição, e que Deus rejeita totalmente qualquer separação entre religião e
justiça, pois a legislação social e as regras de culto são justapostas no
Pentateuco para sublinhar o princípio de que Deus ordena aos homens e
mulheres que não só mantenham uma relação vertical adequada com ele,
mas também atribuíam a necessária importância ao seu relacionamento
com a criação e, especialmente, com o seu próximo (SHEDD, 2013).

Já no Novo Testamento a Teologia não está dissociada da vida, os


cristãos são obrigados a praticar a retidão, e a levantar suas vozes contra a
injustiça. Só assim terão condições de demonstrar fidelidade a Deus e a
veracidade de sua profissão de fé como cristãos membros da Igreja, cujo
cabeça é Cristo (SHEDD, 2013).

A Palavra de Deus é incisiva quando trata da questão social da igreja:


“Não te furtes de fazer o bem a quem de direito, estando na tua mão o
poder de fazê-lo. Não digas ao teu próximo: Vai e volta amanhã; então, to
darei, se o tens agora contigo” (Pv 3:27-28). Deus espera que sua igreja,
permeada de solidariedade, saiba repartir com responsabilidade social tudo
quanto dEle tem recebido (ROCHA, 2003).

A verdade é que poderíamos e devemos fazer muito mais do que a


igreja e os cristãos têm feito hoje. A avaliação do trabalho social
desempenhado pelas igrejas evangélicas no Brasil não é plenamente
negativa. Existem, sim, trabalhos belíssimos realizados por muitas delas
nessa área. Precisamos por em prática aquilo que foi realizado pelos
nossos ascendentes em prol dos menos favorecidos, com a humildade de
nos perguntarmos se nas mesmas condições teríamos feito mais e melhor.

6 A Igreja e os desfavorecidos

A ajuda aos necessitados, encontrada na passagem do livro de Mateus


25:31-46, é a verdadeira comissão integral da Igreja deixada por Jesus
Cristo, pois envolve não apenas o alimento espiritual do homem, mas
também do corpo e da alma, e em todas as suas necessidades. Esta
incumbência vem sendo deixada e lado por muitos cristãos atualmente.
Nessa passagem, Jesus mostra-se preocupado com a justiça social.

Nesse capítulo 25 de Mateus percebemos, ainda que, além da


importância de desempenharmos a nossa missão como Cristo a
desempenhou, a nossa atitude para com os desfavorecidos será um
preceito fundamental para o julgamento da humanidade no Último Dia.

A maior preocupação revelada por Jesus não é com grandes templos


religiosos, criações de novas instituições, ou com grandes eventos, mas
sim com as necessidades básicas da vida dos nossos semelhantes. Segundo
Silva “Cristo veio para proclamar o Reino de Deus, se recebido e aceito,
amenizaria as iniquidades e produziria um sentimento de família e
responsabilidade mútua” (SILVA, 2004, p.138).

Os apóstolos Pedro, Tiago e João recomendaram a Paulo e a Barnabé


para não se esquecerem dos pobres; e o apóstolo Paulo, em Gálatas 2.10,
disse: “o que também me esforcei por fazer”.

O Evangelho de Lucas dá atenção especial às pessoas pobres


marginalizadas chamando a atenção dos ricos à conversão, como é o caso
de Zaqueu (Lc 19:1-10).

Em um planeta em que a distribuição da riqueza é tão desigual, é


natural que a pobreza continue a crescer. Milhares morrem vítimas de
guerras civis, outros morrem por desidratação, desnutridos e doentes,
vítimas da fome, da falta de higiene e de saneamento básico. A abundância
de uns poderia suprir as necessidades de outros, e os poderes políticos e
econômicos poderiam redistribuir melhor a renda. Porém, a indiferença
desses não pode justificar a igreja e seus membros, aqueles a quem Deus
deu comissionou o Seu amor. Vejamos a declaração dita por Jesus quando
um discípulo aconselhou um fiel a abençoar os pobres com o valiosíssimo
presente oferecido em sacrifício a Jesus: “Os pobres, sempre os tendes
convosco…”. Esta é uma realidade dos nossos dias; assim sendo, temos
muita ocasião para os abençoar, pois temos muitos pobres ao nosso redor.
Ajudar os pobres é algo inerente à própria essência da igreja, porque isso é
amor ao próximo e o amor é a razão de ser da igreja, visto que “Quem
trata bem os pobres empresta ao Senhor, e Ele o recompensará” (Pv
19:17).

Uma Igreja que condena as desigualdades econômicas deve procurar


eliminar tais males dentre aqueles cujos problemas econômicos estão, de
alguma maneira, sob seu controle. Uma Igreja que prega os princípios da
igualdade e da fraternidade para todos deve gerir as suas instituições pelos
mesmos princípios, e deveria, até onde lhe fosse possível, somente
cooperar com aquelas instituições e organizações que se norteiam por
esses princípios. Uma Igreja que proclama um Evangelho que transcende
todas as distinções de raça, classe e nação, deve tomar o máximo cuidado
para não negar aquele Evangelho em virtude de uma política ou atitude
que denote arrogância racial, cultural ou nacional (INTERNATIONAL
MISSIONARY COUNCIL, TAMBARAM, 1938, SECTION XIII).

A responsabilidade da Igreja no campo dos desfavorecidos é imensa;


além dos delinquentes, dos dependentes químicos, dos órfãos, dos velhos e
dos necessitados. A ajuda aos pobres é aquilo inato à igreja, porque o
verdadeiro amor de Cristo com os nossos semelhantes é o motivo da
existência da igreja. Para isso, basta olhar ao nosso redor para encontrar
esses tais desfavorecidos, não é definitivamente necessário ir muito longe,
basta “sair para fora” das quatro paredes, dos templos. E isso é a definição
da verdadeira Eclesia (Igreja).

Além disso, a Igreja como sal da terra e luz do mundo deve fazer a
diferença nos vários setores da sociedade, principalmente no socorro aos
menos favorecidos.

O verdadeiro desrespeito contra a imagem e semelhança de Deus


chama-se injustiça social. Esta injustiça tem minado nosso país e a Igreja
muitas vezes tem se omitido como se não tivesse nada a ver com isso. Fato
é que a Igreja não é e nunca será uma entidade política e muito menos
partidária. Porém, tem o dever moral e ético de ser a mais honesta das
instituições. Conforme salientou Jorge Goulart, a Igreja “não prega uma
forma de governo, mas cria uma consciência democrática, à luz dos
conceitos de liberdade, de dignidade humana, de respeito ao próximo e,
sobretudo, de amor a Deus e à humanidade” (GOULART, 1941, p. 229).

A Igreja deveria ser impactada pelos milhões de pobres existentes no


Planeta. Lamentavelmente, não é isso que temos visto na maioria das
igrejas brasileiras. O que temos assistido é um habituar-se à miséria dos
nossos próximos, como se isto fosse apenas uma representação do reflexo
do juízo de Deus. No entanto, é necessário que a Igreja tenha indignação
frente a miséria do semelhante, nem que para isso abra mão de sua
ostentação, e se tornando mais generosa diante daqueles que precisam.

Os sofrimentos emocionais e os espirituais têm crescido na atual


sociedade por causa das expectativas não alcançadas e do ritmo frenético
da vida. Existem pessoas que precisam da Igreja por estarem sofrendo por
relacionamentos partidos, por não se encontrarem, por não se realizarem,
por não serem tão bem-sucedidas e nem tão competitivas. É também essa
a sua vocação. Oferecer um ouvido que ouve com empatia e compreensão
e que não julga, mas ajuda a encontrar caminhos para fora do sofrimento.
Portanto, o papel da igreja tem que ser voltado para uma ação social e de
forma integral, que supra as necessidades da comunidade na qual está
inserida em toda a sua plenitude.

7 A missão integral da Igreja

A consciência social da igreja brasileira atualmente parece ser maior


do que há algumas décadas. YAMAMORI disse que, embora a Igreja
venha melhorando em sua visão social, ainda não amadureceu tanto em
sua concepção de missão integral, justamente porque ao se discutir
prioridades – estamos falando apenas de evangelização e ação social – a
igreja deixa de fazer bem as duas coisas (YAMAMORI, 1998).

No entanto, ao nosso olhar, a evangelização e a responsabilidade social


devem andar juntas “como causa e efeito de uma mesma verdade
evangélica. ” Não que ambas devam ser entendidas como sendo a mesma
coisa. E, também, não estamos afirmando que sejam duas coisas
completamente separadas. “Um ministério integral verdadeiro define a
evangelização e a ação social como funcionalmente separadas, mas
relacionalmente inseparáveis e necessárias para um ministério integral da
igreja” (YAMAMORI, 1998, p. 14).

O relatório da Consulta Internacional realizada em Grand Rapids


(EUA), presidida por John Stott em 1982, concluiu que a evangelização
tem certa prioridade em relação à ação social. Segundo o autor, “não
estamos falando em prioridade temporal, mas em prioridade lógica, pois
há situações em que o ministério social precisa vir primeiro” (STOTT,
1983, p. 23).

A evangelização e a ação social são inseparáveis, na prática, como


aconteceu no ministério público de Jesus, pelo menos nas sociedades
livres, e muito raro temos de escolher entre uma e outra. Ao invés de
competirem entre si, elas são mutuamente sustentadas e fortalecidas, como
uma espiral ascendente de preocupação crescente (STOTT, 1983).

Nesse sentido, diante da pouca discussão no meio cristão sobre a


missão prioritária da Igreja no planeta, o Comitê de Lausanne elaborou
uma declaração muito oportuna. Em um de seus artigos, o Pacto de
Lausanne cita que “os resultados da evangelização incluem a obediência a
Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo” (O
PACTO DE LAUSANNE, 1983, V).

E mais:

”Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens.


Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela
reconciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens
de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de
Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe
social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual
deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos
arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes
considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas.
Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus,
nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação,
afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos
parte do nosso dever cristão” (O PACTO DE LAUSANNE, 1983, V).

O Pacto prossegue dizendo que “A salvação que alegamos possuir


deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades
pessoais e sociais. A fé sem obras é morta” (O PACTO DE LAUSANNE,
1983, V).

A missão integral da Igreja é bíblica; não uma filosofia ou uma


necessidade passageira, mas sim, uma verdade bíblica que precisa ser
resgatada e praticada em sua totalidade urgentemente. A Bíblia não existe
para satisfazer os nossos interesses carnais; Ela é doutrina e prática. Além
disso, Deus não nos permite optar por apenas um desses seus aspectos
doutrinários e práticos, pois a Sua Palavra é uma só e serve para todos, e
assim deve ser a missão integral de Sua Igreja.

A missão integral de Deus é ampla, assim como a missão integral da


Igreja, visto que a dimensão dessa missão é vertical (compromisso da
Igreja com Deus) e horizontal (resulta nela um compromisso com a
criação em geral e com o ser humano em particular). GRELLERT definiu
a missão integral da Igreja em “comunhão, adoração, edificação,
evangelismo e serviço” (1987, p. 22).

Ainda tendo a Bíblia como embasamento da missão integral das


igrejas, YAMAMORI escreve que a “missão integral tem raízes bíblicas
profundas. ” Ela adverte: “tanto no Antigo como no Novo Testamentos a
Bíblia ordena à igreja que ministre à pessoa como um todo. Isto quer dizer
que se deve atender tanto às necessidades físicas como às espirituais, que
estão inseparavelmente relacionadas, ainda que sejam separadas em
termos funcionais (1998, p. 15).

Que a missão integral da Igreja é ampla, isso é verdadeiro. E isto é


patente à luz da Bíblia, na qual o papel integral das igrejas é aquele que
está diretamente relacionado ao indivíduo ou, mais especificamente, aos
necessitados deste mundo. Nesse sentido, BRYANT escreveu: “Nada é
mais claro na Bíblia do que ser Deus o campeão dos pobres, dos oprimidos
e dos explorados” (1988, p. 56).

No Antigo Testamento existe uma transparente opção preferencial de


Deus pelos pobres e oprimidos, embora Deus não faça acepção de pessoas
ou de classe social. Porém, Ele tem um olhar especial para aqueles que
necessitam. Somente no Antigo Testamento temos 300 referências sobre a
realidade, as causas, e as consequências da pobreza. Temos vinte e cinco
palavras hebraicas para descrever o oprimido, o humilhado, o desesperado,
o que clama por justiça, o fraco, o desamparado, o destituído, o carente, o
pobre, a viúva, o órfão, o estrangeiro.

Vejamos o que Deus respondeu ao povo em Isaías 58.3-8, e também


em Isaías 1.17; 10.1,2, quando o povo de Deus perguntou por que Ele não
respondia aos seus jejuns e orações: “É porque vocês jejuam e oram para a
iniquidade, vocês estão oprimindo os pobres, e seus próprios operários, e o
jejum que eu quero, é que vocês cortem as ligaduras da impiedade, é que
ajam com justiça em relação aos desamparados”.

Em Ezequiel 16.49 afirma que o pecado de Sodoma era que aquela


cidade, sendo rica e abastada, nunca atendeu o pobre e o necessitado, além
do orgulho, da vaidade e da imoralidade. Se buscarmos nas leis do povo de
Deus no Velho Testamento, veremos que o objetivo era que não houvesse
miseráveis e injustiçados no meio do seu povo.

Jesus Cristo é a revelação máxima da missão integral de Deus no


mundo, no Novo Testamento. O Senhor Jesus deixou bem evidente a sua
missão no início do Seu ministério na terra, ao anunciar a seguinte
declaração: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e
restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, e
apregoar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19). Jesus sempre se
preocupou com os pobres e marginalizados, como se pode ver nas
seguintes palavras de MACEDO FILHO: “Nós nunca encontramos Jesus
Cristo de dedo apontado contra os pobres e marginalizados, mas
enfrentando exatamente aqueles que oprimiam o povo, quer pelo sistema
religioso, quer pelo sistema econômico, ou sistema político de sua própria
época”(1988, p. 33).

Atos, capítulos 5 e 6, mostra a missão integral de Jesus sendo seguida


pelos apóstolos em seus ministérios.

As igrejas de Corinto (II Co 8 e 9), da Galácia (Gl 6.2-10) e das doze


tribos da dispersão (Tg 2. 1-7,14-26; 5.1-6) foram orientadas pelas cartas
paulinas a atuarem com a visão de integralidade bíblica realizada pelos
apóstolos.

Padilla diz que o desafio da missão integral é o maior desafio


enfrentado pelas igrejas nos dias de hoje (PADILLA, 1992).

Em Atos 2 fica evidente que as responsabilidades das igrejas não são


apenas o acompanhamento e o desenvolvimento dos seus membros, mas
também da comunidade onde ela se localiza. Temos que buscar em Deus
quais são os propósitos divinos para a localização daquela igreja naquele
lugar escolhido; por isso, temos que ter o discernimento que a igreja foi
constituída por Deus.

A igreja deve se interessar e se importar com a realidade ao redor da


sua comunidade. Porém, amá-las de tal forma para não deixá-las da
maneira como estão. Para isso, deve amar as pessoas sem distinção com o
amor que o próprio Deus nos ama, da maneira como somos, de maneira a
não nos deixar como estamos. Devemos buscar a direção do Espírito Santo
de como agir na vida das pessoas de maneira que elas alcancem uma
dignidade integral.

Sabemos que os problemas sociais brasileiros não são pequenos e nem


poucos. Isto tem trazido desafios enormes às igrejas evangélicas
brasileiras. Por isso, é preciso que encaremos com seriedade e maturidade
esses desafios para sabermos até onde podemos e devemos nos envolver.
Porém, as igrejas evangélicas brasileiras não devem fugir da sua missão
integral, como está escrito no item 5. A Responsabilidade Social Cristã, da
declaração de Lausanne de 1974:

”Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com


Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação,
afirmamos que evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos
parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de
nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso
próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo” (LAUSANNE, 1974, V).

LINTHICUM declarou que é preciso que a Igreja seja a consciência


da sociedade e a voz profética que denuncia os desmandos desta mesma
sociedade. E que como Igreja de Cristo podemos e devemos fazer
confrontações sociais sérias, mas não com ignorância e nem com
violência, pois uma boa e eficaz confrontação nunca deve levar à
violência, mas sim à resolução do problema, explica (LINTHICUM,
1996).

A Igreja deve encarar seus desafios sociais nesse espírito de verdadeira


confrontação com propostas em doses terapêuticas para uma sociedade
doente, onde os direitos sejam verdadeiramente assegurados, o amor ao
próximo evidenciado, a moral dignificada, o Evangelho e o bom
testemunho não sejam prejudicados e, sobretudo, o nome de Jesus seja
glorificado. Portanto, devemos nos empenhar pela dignidade da pessoa
humana e reivindicar os nossos direitos sociais constitucionalmente
garantidos, como: saúde, segurança, educação, trabalho e salário digno.

Embora o governo tenha as suas responsabilidades, não podemos ficar


omissos ao que ocorre ao nosso redor, apenas julgando e criticando os
governantes. O povo de Deus precisa também assumir alguma
responsabilidade pelo bem-estar social, principalmente daqueles que estão
passando por algum tipo de necessidade.

É preciso destacar que a Igreja Evangélica tenha condições, tenha


consciência da soberania de Deus sobre a totalidade da vida, e não
somente a vida religiosa e que de alguma maneira se reconheça que a
Igreja foi criada com o propósito de colaborar na realização da missão de
Deus, para implantar a Missão Integral, e a missão de Deus é ver o ser
humano como a plenitude de vida, e a plenitude de vida está conectada
com a satisfação de todas as necessidades básicas do ser humano. A Igreja
precisa ser agente ser exemplo de mudança para a sociedade. Para René
Padilla um dos desafios da Igreja é o desenvolvimento humano no
contexto da justiça, e que faltam modelos de missão plenamente adaptados
a uma situação marcada por uma distância absurda entre pobres e ricos
(PADILLA, 1992).

René Padilla cita que:

“O desafio tanto para os cristãos no Ocidente como para os cristãos


nos países subdesenvolvidos é criar modelos de missão centrados em um
estilo de vida profético, modelos que apontem para Jesus Cristo como o
Senhor da totalidade da vida, à universalidade da igreja e à
interdependência dos seres humanos no mundo” (PADILLA, 1992, p.
152).

Para Wildo Gomes a evangelização e responsabilidade social devem


ser praticadas pelas igrejas conjuntamente, pois Jesus nunca viu as pessoas
apenas como um espírito. Ele sempre tratou o homem como um ser
integral: corpo, alma e espírito. Pode ser que em países de primeiro
mundo, como Suíça, Suécia, Finlândia, ação social não seja tão premente,
mas num país miserável como o Brasil, é impossível pensar em alcançar
as pessoas pobres sem termos uma estratégia para o homem todo. Às
vezes nós pensamos em grandes coisas, e nos sentimos impotentes em não
poder realizá-las, mas mesmo as igrejas menores e mais pobres podem
desenvolver ações que podem mudar de forma significativa a vida das
pessoas. Pequenas atitudes, muitas vezes, fazem toda a diferença
(RENAS, 2008).

O poder prático de Deus que se torna visível por meio de sinais


concretos, os quais mostram que Jesus é o Messias é o Seu Reino. E uma
nova realidade que entrou no centro da história e que afeta a vida humana
não somente moral e espiritualmente, mas também física e
psicologicamente, material e socialmente (PADILLA, 1992).

As boas obras são parte fundamental na integralidade da demonstração


presente do Reino de Deus, não são um acréscimo da missão da Igreja.
Segundo René Padilla, essas boas obras mostram para o Reino que já veio
e para o vindouro (PADILLA, 1992).

A Igreja em sua totalidade precisa seguir o exemplo de Cristo e não se


omitir e nem se negligenciar em favor da sociedade, assim como Jesus
transformou o mundo com sua vida dedicada em favor da humanidade.
Com isso, alcançará a transformação tanto dela quanto da sociedade como
por resultado (CICILIATO & MOREIRA, 2014).

Os dois reformadores Martinho Lutero e João Calvino tiveram


importantes papéis em relação à questão social.

Martinho Lutero Lutero era famoso reformador, pregador e teólogo.


Para ele, o elemento religioso é construído na história, em meio aos
fenômenos sociais, aos políticos e aos econômicos (D’ARAUJO FILHO,
1987). Ainda segundo Lutero, o cristão é cidadão pertencente ao Reino de
Deus e ao reino deste mundo, e sob o prisma de Lutero, o ser humano é
responsável diante de Deus e da autoridade civil. Por isso mesmo, ele dá
ênfase ao papel social do cristão em suas 95 teses, dentre elas destacamos:

43º – Os cristãos devem ser ensinados que aquele que dá ao pobre ou


empresta ao necessitado pratica uma obra melhor do que comprar perdões.

45º – Os cristãos devem ser ensinados que aquele que vê um homem em


necessidade, e passa por ele, e dá (seu dinheiro) por perdões, não compra
as indulgências do papa, mas a indignação de Deus (BETTENSON, 1967,
p. 235).

Pensar sobre a ação social na perspectiva de João Calvino é pensar,


inevitavelmente em sua teologia, pois ocorre que toda a leitura de Calvino
sobre o aspecto social é fundamentada na realidade vivenciada por ele. Ele
pastoreou uma igreja na cidade de Genebra e ali, os problemas sociais
comuns por toda a Europa se faziam presentes. Aquela era uma sociedade
enferma. No meio dessa sociedade foi que Calvino desenvolveu sua
teologia e sua visão sobre a responsabilidade social da Igreja. Ele faz
sérias denúncias sobre os pecados sociais, falando sobre a estocagem de
alimentos que visam ao enriquecimento de poucos, denunciando a
especulação financeira oriunda do egoísmo e da avareza do ser humano.
Mas Calvino dispunha de uma teologia que ultrapassava questões
individuais e espirituais. Cristo Jesus é o Senhor de toda a existência
humana, sendo assim, era dever da Igreja dar atenção também aos temas
sociais e políticos. A visão de Calvino sobre a responsabilidade social da
Igreja pode ser resumida em três ministérios: didático, político e social
(ROCHA, 2003).

Wesley (WESLEY, apud ROCHA) praticou muitas ações


transformadoras na área social para o bem-estar espiritual e material dos
que proclamavam o Evangelho de Jesus Cristo, como a abertura de
clínicas gratuitas, o estabelecimento de uma espécie de cooperativa de
crédito, escolas e orfanatos (ROCHA, 2003). Stott lembra que “Os
historiadores atribuem à influência de Wesley — muito mais que a
qualquer outra coisa — o fato de a Inglaterra haver sido poupada dos
horrores de uma revolução sangrenta como a da França” (STOTT, 1989, p.
23).

Nota-se uma omissão da Igreja brasileira quanto à sua função social,


cuja explicação parece se fundamentar em raízes históricas, fruto de um
aprendizado preconceituoso e de uma hermenêutica equivocada e
deficiente. Usa-se a fala de Jesus em Mateus 26.11 “porque os pobres
sempre os tende convosco…”, uma citação do livro de Deuteronômio
15.11, para se esquivar da possibilidade de fazer alguma coisa pelos
pobres. Pois, por mais que se pretenda tomar algumas atitudes, tudo
permanecerá como está. Sem dúvida, Jesus não queria dizer isso. Ele
estava repreendendo a atitude preconceituosa dos discípulos que
criticaram uma mulher que, demonstrando carinho e querendo honrar o
mestre, derramou sobre a Sua cabeça um valioso perfume.

Um dos discípulos, indignado, sugeriu que seria melhor vender aquele


precioso unguento para ajudar aos pobres. Cristo, no texto apresentado,
não estava prenunciando sobre a perpetuação da miséria, mas lembrando
aos seus discípulos que aquela mulher tina feito algo maravilhoso e que o
seu ato não afetaria o exercício prático de ajuda aos pobres, pois estariam
sempre sujeitos a serem socorridos. Outro problema de interpretação está
relacionado com a escatologia herdada pela Igreja brasileira. Ela assegura
que o mundo irá de mal a pior de tal forma que não podemos fazer muita
coisa capaz de mudar esse caminho inexorável. No entanto, essa doutrina
precisa ser revista à luz das escrituras, pois “A religião pura e sem mácula,
para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações…” (Tg 1.27).

Observamos com tristeza que muitos membros das igrejas evangélicas,


bem como a igreja como instituição, não compreenderem a importância do
seu papel social. E, diante disso, quando se deparam com desafios sociais,
levantam vários argumentos contra a missão integral, como uma postura
individualista percebida no meio de muitas igrejas evangélicas, onde o
privativo sempre é o que prevalece na Igreja, além, de ser comum a
percepção de uma autocelebração de uma comunidade preocupada apenas
com os seus próprios interesses.

René Padilla declara que “o Evangelho de Jesus Cristo é uma


mensagem pessoal: revela um Deus que chama cada um dos seus pelo
nome. Mas é ao mesmo tempo uma mensagem cósmica: revela um Deus,
cujo propósito abarca o mundo inteiro” (1992, p. 152).

Ele prossegue afirmando:

“A falta de valorização das dimensões mais amplas do evangelho


inevitavelmente conduz a uma distorção da missão da igreja. O resultado é
uma evangelização que concebe o indivíduo como urna unidade autônoma
– um Robinson Crusoé a quem o chamado de Deus chega à solidão da sua
ilha — cuja salvação se realiza exclusivamente em termos de sua relação
com Deus. Perde-se de vista que o indivíduo não existe isoladamente e
que, portanto, não se pode falar de salvação sem que se faça referência à
relação do homem com o mundo do qual ele faz parte. Esse
individualismo leva a igreja a viver no isolamento, na alienação, na
ausência do mundo, mundo do qual ela foi chamada, mas para o qual foi
enviada a fim de ser sal e luz” (PADILLA, 1992, p. 152).

Esse desinteresse moral, político, social ou simplesmente intelectual


pode ser definido como alienação. A comunidade evangélica parece
omissa à realidade atual devido a sua cegueira espiritual. Isso a tem levado
a enxergar somente as coisas nas quais a própria igreja está envolvida.

Isso tem levado à perpetuação da pobreza, tanto que é até comum os


cristãos citarem Deuteronômio 15.11: “Pois nunca deixará de haver pobres
na terra…”, para justificar a inutilidade de se fazer algo mais relevante
contra a injustiça e a pobreza, pois os pobres sempre estarão entre nós. O
texto em questão não deve servir de justificativa para uma deformação do
Evangelho. Como comentou J. A. Thompson, a pobreza em Israel seria
uma grande possibilidade em razão de sua desobediência a Deus. Se a
primeira parte de Deuteronômio 15.11 fala sobre a presença da pobreza,
não se pode deixar de ler o resto do versículo, o qual estimula a
praticarmos a generosidade e a exercício da misericórdia, em favor do
necessitado, como se pode observar: “… por isso, eu te ordeno:
livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o
pobre na tua terra”.

Outro elemento que serve como barreira à ação social é a preocupação


das igrejas com o custo elevado para praticar tal ação. Na verdade, muitas
das preocupações das igrejas estão mais atreladas a aspectos
administrativos do que a uma práxis social. Observa-se a construção de
templos grandiosos que refletem a preocupação de muitas comunidades
apenas no luxo e no conforto, reflexo do individualismo protestante, mas
que não tem uma noção do que significa ser “Igreja fora dos portões”.
Indaga-se sobre o que é mais dispendioso: cuidar hoje de uma criança
carente ou tratar o marginal de amanhã? Parece ser mais barato conferir
dignidade à criança.

A presença de aproveitadores nas igrejas deveria despertar o zelo, mas


o que se tem visto é o exercício da desconfiança. Apesar desses
aproveitadores, mentirosos e espertalhões, a possibilidade de encontrá-los
não deve servir de desculpas para a omissão e ineficiência social da igreja,
pois a pobreza continua sendo fruto da injustiça social vigente.
Com o objetivo de acrescentar outros aspectos que dificultam a efetiva
ação social da igreja, QUEIROZ questionou em seu livro, “Eles Herdarão
a Terra”. ‘Por que a Igreja, no Brasil, tem-se distanciado do compromisso
com os pobres? ’

”1 – Mantemos atitudes egoístas e cômodas;

2 – Sacralizamos a riqueza e profanamos o pobre;

3 – Utilizamos mecanismos de seleção por exclusão;

4 – Dicotomizamos devoção X responsabilidade social;

5 – Trocamos os desafios das boas novas do Reino de Deus pela


ameaçadora “evangelização pé-na-cova”;

6 – Usamos uma escatologia escapista e alienante;

7 – Temos uma visão distorcida da Criação, da Queda e da Redenção;

8 – Reduzimos a proclamação comunitária a um apelo individualista;

9 – Fomos afetados pelo rompimento com o movimento norte-americano


do “Evangelho social” no final do século XIX;

10 – No Brasil, fomos afetados pela revolução de 1964” (QUEIROZ,


1960).

Existe uma frase interessante que diz: “Nós estaremos realmente


mexendo nas formas quando fizermos filantropia, projetos de
desenvolvimento, ação política, na retaguarda, intercessão, ensino, apoio e
profecia nesse sentido. ” No Evangelho de Lucas, Jesus assegura que “…
se eles se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lc 19.40). No entanto,
esse profetismo por parte da Igreja tem estado um tanto ou quase
totalmente ausente. Grande parte das igrejas tem silenciado como se não
tivesse nada a ver com o problema, ou porque sabe que, no momento em
que isso for exposto, fatalmente enfrentará problemas. Mas se a Igreja se
calar, certamente Deus levantará outras vozes (ROCHA, 2003).

Segundo Calvino Teixeira da Rocha seria, no mínimo, ingenuidade


imaginar que o complexo problema da injustiça social será resolvido
totalmente pela ação social. Porém, certamente, a ação da Igreja,
independentemente de sua dimensão e alcance, será um diferencial na vida
de algum necessitado, por isso vale a pena lançar essa semente que poderá
abençoar o outro. Talvez, esse trabalho não faça muita diferença no âmbito
geral, mas fez enorme diferença na vida de quem precisa. Por isso, é de
suma importância aprender a valorizar pequenas ações que podem causar
transformação na vida do próximo (ROCHA, 2003).

Daí a importância de se identificar os desafios que estão ao nosso


redor. No entanto, muitas igrejas, ainda hoje, continuam com os seus olhos
fitados no além, distantes, alheios à realidade que as cercam, sem
perceberem o que está acontecendo à sua volta; embora muitas delas
tenham se estabelecido muito próximas a bairros muito necessitados
socialmente e mesmo assim, ainda não conseguiram se dar conta da
realidade onde estão inseridas.

Baseados nessas informações, sentimos provocados a fazer uma


análise crítica do potencial de financeiro de muitas igrejas, porém ter
potencial e não agir não vai fazer nenhuma diferença. Podemos ver que a
igreja evangélica no Brasil tem um grande potencial quando vemos
quantos colégios, faculdades, terrenos, acampamentos, templos, prédios
destinados a cultos, à educação religiosa e a seminários pertencem à
comunidade evangélica brasileira e poucos são usados na obra social.

ROCHA continua a questionar quantos templos e edificações de


educação religiosa fecham as suas portas durante alguns dias da semana,
ao invés de utilizarem suas instalações em benefício da comunidade. As
igrejas precisam aprender a compartilhar os seus recursos, tanto
financeiros quanto àqueles ligados à estrutura, aos imóveis, ao tempo, aos
profissionais, como os médicos, os professores, os assistentes sociais, os
empresários que poderiam usar sua profissão e seu potencial para
amenizar o sofrimento e a disparidade social (2003).
A falta de estruturas funcionantes tem favorecido o mau desempenho
da Igreja em sua missão integral; isso tem tornado as suas estruturas
enrijecidas ou impedido a visão da maioria das igrejas. Para que a
estrutura de uma igreja se torne funcional é fundamental uma quebra de
paradigmas e muita coragem para mudar certos parâmetros que já não
funcionam mais, e isso não é tarefa das mais simples. Os acomodados e,
principalmente os saudosistas, precisam mudar a mentalidade daqueles
que confundem a inovação com a busca incessante pela inovação, a
tradição com o tradicionalismo.

As igrejas não funcionais têm minado muitos crentes, tanto os novos


na fé como os velhos, pois essas se limitam a exercer suas atividades de
forma interna, fechadas entre quatro paredes. A igreja precisa se
conscientizar de que ela está inserida na sociedade para servi-lo de forma
integral.

A igreja precisa estar ciente de que sua missão no mundo é integral.


Dessa forma, evangelizar não é somente distribuir panfletos como alguns
pensam, mas sim, suprir o necessitado em todas as suas necessidades.
Nesse sentido, a Igreja jamais deve deixar se levar pelo paternalismo e
assistencialismo paliativos, mas sim, deve exercer uma ação social
transformadora e permanente, do indivíduo e da sociedade, para a honrar o
Senhor de forma a comprimir o mandamento bíblico de amarmos o
próximo como a nós mesmos.

Nesse sentido, cada igreja deve fazer uma reflexão sobre sua motivação
e o seu verdadeiro papel na face da terra, de maneira que praticar o
evangelismo e a ação social, e todas as suas atividades desempenhadas
nessas direções devem estar primeiramente debaixo do serviço a Deus e de
forma integral.

8 A importância do Pacto de Lausanne de 1974 sobre a responsabilidade


social das igrejas

O Congresso Internacional de Evangelização Mundial ocorrido em


Lausanne, Suíça, em julho de 1974, teve como tema “Que o mundo ouça a
Sua voz! ” Muitos o considera como o maior evento protestante do
mundo, no século passado. A contribuição mais importante desse
Congresso foi a ligação entre evangelização e ação social, a qual se
encontra registrada no Pacto de Lausanne – documento que expressa a
confissão de fé de grande parte do movimento evangelical ao redor do
Planeta (PACTO DE LAUSANNE, 1974).

Convocado pela Associação Evangelística Billy Graham, esse Congresso


teve a participação de cerca de 4000 líderes das mais variadas
denominações, provenientes de 151 países. A Igreja mundial foi desafiada
a reafirmar a sua vocação, com o objetivo de buscar estratégias e
programas para cumprir a grande comissão. Ou seja, procurava-se
visualizar desafios e recursos, visando à evangelização de todo o mundo.

Lausanne 74 foi, indubitavelmente, o maior evento da história do


evangelicalismo. Isso demonstrou que a Igreja se encontrava em perfeita
harmonia com a sua época, como pode ser evidenciado pela imensa
quantidade de temas propostos e discutidos pelos congressistas,
encabeçados pela evangelização, e mais: a questão cultural, a realidade da
pobreza que vem atingindo milhões de pessoas, a responsabilidade social
cristã, a batalha espiritual e vários outros. A sintonia e a preocupação com
a realidade foram muito significativas e contundentes, e serviram de norte
para as décadas seguintes (ROCHA, 2003).

O Pacto de Lausanne foi o principal destaque dentre as inúmeras


contribuições importantes advindas daquele Congresso. Neste Pacto foi
formulada uma Declaração, dividida em quinze parágrafos, a qual é
respeitosamente lida até os dias atuais, pois inovou ao se posicionar contra
um evangelho dilacerado, além de estabelecer um conceito restrito para a
missão cristã. A questão da responsabilidade social da Igreja de repente
tenha sido o de maior delicadeza, dentre os muitos temas agraciados pelo
Pacto.

O Pacto de Lausanne tem sido ainda um documento de leitura e


releitura constantes, pois conseguiu visitar e tratar, com absoluta
seriedade, temas presentes na agenda da Igreja, apesar das reações
contrárias terem sido tão variadas.
O tema mais polêmico de todo o Pacto, sem dúvida, foi a
responsabilidade social cristã, o qual precisou ser debatido com mais
tranquilidade, em Grand Rapids, 1982. O aspecto social foi apresentado
em uma visão, pelo menos, inovadora, apesar de o enfoque teologicamente
centrado em Jesus Cristo ter demonstrado o conservadorismo da
Convenção.

Ficou estabelecido em Lausanne que a Igreja foi chamada, tanto para


a evangelização quanto para a ação social, embora sejam elementos
diferentes devem integrar o dever cristão, por se relacionarem com o Ser
de Deus e com o caráter e a necessidade do ser humano. Portanto,
evangelização e ação social não devem ser consideradas excludentes, mas
sim como parceiras na missão (PACTO DE LAUSANNE, 1974).

Diante do que foi narrado até aqui, permite-nos dispor de uma


suposição do que o referido Pacto ratificou a respeito da responsabilidade
social da Igreja. Porém, se a afirmação de Lausanne foi um avanço, no
entanto não foi vista com tanta tranquilidade. O Pacto colocou a
evangelização e a responsabilidade social lado a lado, embora não tivesse
definido a relação existente entre elas. A responsabilidade social da igreja
fomentou questionamentos quanto à predominância sobre quem viria
primeiro: a evangelização ou a responsabilidade social. Essas discussões e
desconfianças foram instrumentos que levaram um grupo a debater e
definir com mais clareza essa relação.

A respeito da Responsabilidade Social Cristã podemos afirmar que


Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. E, como o ser humano foi
feito à imagem e semelhança de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça,
religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade
intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.

Aproveitamos também esse momento para pedir perdão a Deus por


nossa negligência e por termos considerado algumas vezes a
evangelização e a ação social reciprocamente excludentes. Apesar de a
reconciliação com o homem não ser reconciliação com Deus, nem a ação
social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a
evangelização e o envolvimento sócio-político são parte do nosso dever
cristão. Pois, elas são expressões necessárias de nossas doutrinas acerca de
Deus e do homem, de nosso amor com o próximo e de nossa obediência a
Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de
juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não
devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam.
Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem
procurar não só evidenciar, mas também divulgar a retidão do Reino em
meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos
transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e
sociais. Afinal, a fé sem obras é morta (PACTO DE LAUSANNE, 1974).

Nos artigos 5º e 13 a respeito da responsabilidade social cristã e da


liberdade e perseguição, o Pacto de Lausanne levou o movimento
evangélico global a escutar as vozes de muitos cristãos em todo o mundo
que sentiam que a igreja não tinha sido solidária o bastante com aqueles a
quem a justiça havia sido negada e sofriam com várias formas de
marginalização. Como tal, o Movimento de Lausanne afirma a
preocupação de Deus com a justiça e a libertação de todas as formas de
opressão. Por vezes a igreja tem tido dificuldades ao articular o
relacionamento entre a evangelização e a ação social no mundo. O
compromisso de proclamar o Evangelho, às vezes, é reduzido a
campanhas evangelísticas que não são acompanhadas pela preocupação
com os pobres, as pessoas sem-abrigo e os excluídos. Por exemplo, a
igreja reconheceu os testemunhos vibrantes de Billy Graham e da Madre
Teresa, mas não soube sempre compreender como ambos estão
relacionados. Para alguns evangélicos, a ação social é uma ponte para a
evangelização. Para outros, é uma consequência natural da evangelização.
E outros ainda tentam vê-los como complementares (PACTO DE
LAUSANNE, 1974).

O Movimento de Lausanne apresenta três importantes características:


contextualiza teologicamente a ação social de forma adequada,
relacionando-a às doutrinas de Deus, da reconciliação, da justiça e ao fato
de todos os homens e mulheres serem criados à imagem e semelhança de
Deus; a Declaração afirma que a evangelização e a ação social não são
“mutuamente exclusivas”, assentando os alicerces para uma visão
integrada acerca de como a pessoa e obra de Cristo são refletidas na vida e
testemunho da igreja; no centro do Pacto de Lausanne existe uma
expressão de metanóia, ou de arrependimento, pelo fracasso da igreja em
viver de maneira consistente com o testemunho bíblico de ação social e
luta pela justiça em favor dos oprimidos.

Esse Movimento também foi alinhado teologicamente com a


Declaração Universal dos Direitos Humanos. Importa reconhecer que a
ação social não é apenas necessária junto dos não-crentes, mas também
para milhões de cristãos injustamente presos e que sofrem perseguição. O
Pacto de Lausanne afirma a importância de abordar tanto as expressões
pessoais como estruturais do mal que negam a liberdade religiosa a
milhões de pessoas.

Será que evangelização exclui a ação social da Igreja? Ou será que a


ação social é que exclui a ação evangelizadora?

Atualmente, falar sobre responsabilidade social encontra certa


resistência de alguns, porque existe considerável preocupação de que a
ação social forje algum tipo de alienação evangelística. Peter Wagner
ratifica que vários grupos de trabalho foram nomeados pelas sete maiores
denominações nos Estados Unidos da América, onde a maioria dos
membros é branca, entre elas a Igreja Metodista Unida, a Igreja
Evangélica Luterana, a Igreja Presbiteriana, a Igreja Luterana — Sínodo
de Missouri — a Igreja Episcopal, a Igreja de Cristo Unida e as Igrejas
Batistas, para verificar a razão da diminuição ocorrida em sua membresia
no período entre 1946 a 1996, quando perderam dois terços de seus
membros. Os relatórios concluíram que a forte preocupação com o social,
em detrimento da obediência ao mandamento evangelístico, tem sido uma
das principais causas do declínio das igrejas (WAGNER, 1998).

Quando nos referimos à responsabilidade social não significa


simplesmente evidenciar a filantropia, área muito bem visitada por muitas
igrejas. A Igreja consegue por meio de cestas básicas, serviço médico
ambulatorial, dentistas, tratar de questões no tocante à carência imediata
do povo. Numa tragédia é possível ver a Igreja sendo solícita, como nas
tragédias provocadas pelas chuvas, onde é possível ver a Igreja Evangélica
mobilizar-se e engajar-se no socorro às vítimas. No entanto, toda essa
ação, por mais evidente e importante, continua apenas no campo da
filantropia, não alcança as estruturas mais profundas que visem a uma
grande transformação. Por isso, quando falamos sobre responsabilidade
social precisamos ir mais além.

A responsabilidade social foi definida por Hélcio da Silva Lessa em


três categorias: Assistência Social, Serviço Social e Ação Social (LESSA,
1965).

Já o Comitê de Lausanne, após requisitar uma consulta para discutir o


tema da relação entre responsabilidade social e evangelização, chegou à
conclusão de que seria mais fácil dividir a responsabilidade social cristã
em duas categorias, “serviço social” e “ação social”, e foram separadas da
seguinte forma:

a) SERVIÇO SOCIAL:

Socorrer o ser humano em suas necessidades;

Atividades filantrópicas;

Procurar ministrar a indivíduos e famílias; e

Obras de caridade.

b) AÇÃO SOCIAL:

Eliminar as causas das necessidades;

Atividades Políticas e econômicas;

Procurar transformar as estruturas da sociedade; e

Busca da Justiça (PACTO DE LAUSANNE, 1974).

Afinal de contas, qual a relação entre responsabilidade social e


evangelização? Neste sentido, lembra Stott:
“Muitos temem que quanto mais nós, os evangelicais, nos
comprometermos com um, tanto menos estaremos comprometidos com o
outro, e que, caso nos comprometamos com ambos, um dos dois com
certeza sairá prejudicado; e, especialmente, que uma preocupação com a
responsabilidade social certamente acabará embotando nosso zelo
evangelístico.

Ao contrário do que muitos pensam, entendo que a tarefa da Igreja


deve abarcar as duas ações, a evangelizadora e a social. Ora, se houver
fidelidade ao Evangelho de Jesus, a Igreja não cometerá o equívoco de
priorizar uma ação em detrimento da outra. No entanto, creio, ainda, que
se deve usar o bom senso ao decidir qual será a atividade a encabeçar o
contato da Igreja com dada comunidade. Conquanto devam andar juntas, a
evangelização e a ação social podem existir independentemente” (STOTT,
1983, p. 23).

ROCHA cita que em trecho de determinado artigo, abaixo transcrito,


observa-se que o autor fez severa crítica à falta de influência da Igreja
Evangélica Brasileira. Segundo este mesmo autor, “a Igreja se diz grande,
mas essa superdimensão não transforma o estado de miséria e
desigualdade social presentes nem mesmo na comunidade na qual ela está
inserida” (ROCHA, 2003, p. 42).

Ele continua:

“A crítica acima comete o equívoco de não fazer uma análise histórica


dos fatos que influenciaram a Igreja Evangélica no Brasil, tornando-a o
que é hoje. Consubstancia-se fácil colocar a Igreja na berlinda e atirar-lhe
pedras. Essa posição reveste-se de comodidade e simplismo, pois não
detecta os fatores que a levaram a ser o que ela é. Se, por um lado, o artigo
peca por desprezar a história, por outro, tem a virtude de enfatizar a
necessidade de coerência entre discurso e prática. Neste capítulo, revisita-
se a história da Igreja, buscando entender porque uma Igreja como a
evangélica brasileira, com tanto potencial e que continua a experimentar
um crescimento tão expressivo, denominado por alguns de avivamento,
não consegue exercer uma influência mais significativa e transformadora
no contexto em que está inserida e ainda, porque contínua restringindo sua
ação social à filantropia e, muitas vezes, limitando-a à igreja local.
Relendo a história, será possível perceber o enorme desafio que pesa sobre
a Igreja, isto porque, tanto na história da Igreja Cristã, como na história da
Igreja Evangélica no Brasil é possível vislumbrar dados maravilhosos
sobre o papel social da Igreja” (ROCHA, 2003, p. 43).

Isso demonstra que a igreja deve trabalhar conjuntamente com a


evangelização e a ação social, de maneira a cuidar daquele filhinho recém-
convertido até que ele cresça na graça, no conhecimento e na estatura do
Senhor, de maneira a inseri-lo na sociedade.

Conclusões

Este trabalho de conclusão de curso teve como propósito trazer uma


reflexão sobre o papel e a responsabilidade sociais desempenhados pelas
igrejas evangélicas, dentro da problemática se este papel e esta
responsabilidade sociais são um dever legal ou um mandamento bíblico;
além de ter analisado a missão integral que a igreja desempenha na
sociedade e a amplitude interpretativa da jurisprudência e da doutrina
pátrias em relação ao tema.

Para isso, foi realizado um amplo levantamento bibliográfico, na


internet, na jurisprudência e na doutrina deste País, com o intuito de
buscar informações e dados que reforçassem as hipóteses, a problemática
e os objetivos deste trabalho.

Este trabalho objetivou levar o leitor a perceber que a Igreja, o povo de


Deus, foi chamada para realizar sua missão além das suas próprias divisas.
Foi chamada e enviada para demonstrar misericórdia por aqueles que são
carecidos de amor, e não somente para viver em uma autocelebração.
Assim sendo, Calvino Teixeira da Rocha recomenda duas ações a serem
praticadas pela Igreja:

“1. A Igreja precisa tornar-se uma comunidade amorosa. Não se sentir


desanimada ao ver tão pouco sucesso em seu ministério. Como respondeu
Madre Tereza ao ser questionada por um determinado Chefe de Estado se
ela não se sentia desanimada pelo fracasso do seu ministério: ‘- Não, eu
não me sinto desanimada. Veja, Deus não me chamou para o sucesso. Ele
me chamou para um ministério de misericórdia. ’

A Igreja precisa ser mais sensível, diante do desafio que tem perante
si. Devemos olhar com o devido cuidado o que acontece ao nosso redor,
percebendo que o desafio não pode ser minimizado, antes, deve ser
encarado com a devida seriedade e urgência. Em I Rs 3.7-9 é
impressionante perceber que o rei de Israel não minimizou o desafio que
tinha diante de si; antes possuía uma noção exata do mesmo, mas ele não
quis enfrentá-lo de qualquer jeito, desejou fazê-lo com justiça. Talvez esta
seja a hora de clamar por discernimento, admitindo a dimensão do desafio
e as nossas limitações para superá-lo. Salomão pediu discernimento para
julgar com justiça. Que a Igreja clame por discernimento para fazer
justiça” (ROCHA, 2003, pp. 100,101).

Nesse diapasão, a Igreja precisa perceber a sua vocação, entendendo


que o desafio que está diante de si é precioso e não deve despertar um
desejo por resultados. Os resultados são importantes, no entanto, a nossa
vocação deve ser exercida em obediência àquele que nos arregimentou e
ao mesmo tempo com o coração repleto de misericórdia. Esta misericórdia
precisa desembocar em ações práticas, efetivas, que possam, em alguma
proporção, fazer diferença nesse mundo de indiferentes.

De acordo com os vários trabalhos analisados, foi possível observar


que muitos dos cristãos estão ainda a ignorar o desafio social que lhe é
lançado, como a justiça social à luz do ensino bíblico, do exemplo de
Cristo e das lições da história. Evitar essa área acarreta sérias dificuldades
para a consciência cristã e para o testemunho cristão. Não isenta os
cristãos da sua responsabilidade, o simples fato de alguns movimentos
terem tido dificuldades nesse questionamento. Ao invés disso, é
fundamental que os cristãos redobrem os seus esforços para seguir os
passos dAquele que “nos tirou das trevas para a Sua maravilhosa luz”, em
um planeta afligido por tantas situações que empreendem contra a vida, a
dignidade e o bem-estar dos seres humanos.

No entanto, não vemos a necessidade de que todas as igrejas Cristãs


protestantes tenham que ter trabalhos específicos para todo tipo de pessoas
em suas mais diferentes e difíceis realidades. Mas, a direção de Deus deve
ser buscada por cada um, individualmente e consequentemente por toda a
Igreja, como uma família, para entender e praticar as “boas obras” que
Deus nos confiou para realizar. Essa direção de Deus vai manter o foco da
Igreja onde ela deve agir nos aspectos mais necessários das pessoas com
as intenções mais puras e com humildade.

A Igreja sozinha não irá conseguir por ela ou somente ela mesma
resolver todos os problemas e suprir todas as necessidades dos seus
membros e da comunidade em torno dela. Isso porque as necessidades são
praticamente infinitas quando se trata do ser humano e em reconstituir
todo o estrago que o pecado fez nos seres humanos e no mundo. E também
porque a Igreja, ainda que seja uma instituição Divina, tem a parte
humana, mesmo confiada por Deus, tem suas imperfeições e suas
limitações. Mas, a igreja deve sim apontar a direção para a solução e fazer
o máximo para levar as pessoas até este curso, que é o caminho estreito até
a cruz de Cristo, que vai sarar e restaurar todos os aspectos humanos que
afastam as pessoas de Deus. Portanto, a responsabilidade da Igreja deve
ser ampla, de maneira a englobar todas as áreas: social e espiritual, ou
seja, integral, de forma a colocar em prática a imunidade tributária a Ela
conferida.

Nesse sentido, SOUZA defende que a imunidade conferida aos


templos de qualquer culto, também denominados de organizações
religiosas, faz-se necessária, haja vista a relevância das atividades que as
mesmas atuam em face do interesse coletivo, merecendo, assim, a
proteção e o incentivo por parte do Estado que a CF/88 lhes conferiu. Por
isso, deve ser uma norma de aplicação imediata, por uma questão de
lógica constitucional, pois na imunidade o ente estatal não tem poderes
para instituir impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços dessas
instituições (SOUZA, 2017).

Fica evidente também que a imunidade tributária que se encontra no


artigo 150, IV, “b” da Constituição, abrange apenas os impostos; as taxas,
contribuições de melhoria e contribuições sociais ou para-fiscais não são
alcançadas. Esta tal imunidade se estende ao patrimônio, à renda e aos
serviços ligados à atividade fim das entidades, perdendo essa imunidade
quando a atividade fim for distorcida. Essa interpretação mais extensiva
extraída da leitura do art. 150, § 4º, da CF/88 objetiva assegurar o livre
exercício da atividade religiosa para todos.

Verifica-se, também, que a referida norma decorre do deísmo do


Estado brasileiro, considerando-se que a nossa atual Constituição invoca
em seu preâmbulo a proteção de Deus, apesar de sermos um Estado laico –
acredita-se em um Criador, contudo sem adotar qualquer religião.

É importante ressaltar que o STF mudou seu posicionamento ao longo


das décadas passadas e vem dando uma interpretação mais ampla ao
instituto da imunidade. Desse modo, a Corte Suprema defende,
atualmente, uma teoria ampliativa quanto à extensão dos efeitos
imunitários a atividades essenciais da Igreja. Fica evidente, assim, que a
melhor explicação deste tema é aquela que preconiza a amplitude da
expressão “rendas relacionadas com as atividades essenciais”, disposta no
§4º do art. 150 da CF/88, pois desde que as receitas sejam aplicadas na
consecução dos ideais estatutários dos templos religiosos, devem elas
receber a garantia da norma imunizante, desde que adquiridas licitamente
(BRASIL, 1988).

Percebe-se que tal instituto surgiu com o intuito de proteger valores


maiores contidos em princípios constitucionais, como o da livre
divulgação de ideias, de conhecimentos, da proteção da cultura e da
propagação da religião; além da obra social que as igrejas devem prestar
para justificar que tal isenção constitucional valeu a pena.

O julgamento pelo Supremo Tribunal Federal do Recurso


Extraordinário 325.822-2/SP, julgado em 18 de dezembro de 2002, foi
importante, pois serviu como um paradigma para algumas decisões que
estão sendo sentenciadas pelos juízes e desembargadores no Brasil
(BRASIL, 2002).

Por fim, SOUZA relata que se faz necessário à realização de outros


estudos com relação a esse assunto, com o intuito de melhor se debater e
aperfeiçoar a matéria diante do constante desenvolvimento que a
sociedade sempre passa em face da mudança e da reestruturação de certos
valores, considerando-se a importância das entidades religiosas na
sociedade brasileira frente as suas atividades essenciais (2017). Frise-se
que, não apenas no contexto espiritual, mas também na área da ação social
frente aos necessitados.

Outra conclusão retirada das análises anteriores, quanto à extensão do


termo templo, é que a doutrina e a jurisprudência não chegaram a um
consenso, uma vez que existem entendimentos de que a isenção dessa
norma deva alcançar somente os templos propriamente ditos, isto é, a
edificação, como, também, há entendimentos abrangendo os seus anexos,
ou seja, a casa paroquial, casa do rabino, e outras, pois, para eles, o que
seria imune é a entidade religiosa.

Observou-se também que o entendimento jurisprudencial que tem


prevalecido é que a imunidade tributária alcança tanto o templo, como
também os outros locais necessários para a realização do culto. Tem
prevalecido também, o entendimento de que as entidades filantrópicas não
estariam abarcadas por essa norma, haja vista não terem cunho religioso.

Apesar de todos os argumentos aqui expostos, nota-se que em razão


dessa imunidade religiosa o Estado deixa de arrecadar um montante
significativo que poderia ser aplicado em vários setores, como saúde,
educação, entre outros, com o argumento de que essa tributação sobre os
bens e valores pertencentes à entidade religiosa atrapalharia a liberdade de
culto prevista constitucionalmente.

No entanto, como exorta Hélcio da Silva Lessa, com base nessa


proteção constitucional dispensada aos templos é que algumas igrejas “de
fachada” são abertas, com o único propósito de regularizar ativos
financeiros ilícitos, além de não recolher aos cofres públicos os impostos,
o que gera um enriquecimento a margem do ordenamento, eis que, no
mínimo, desprestigia-se o princípio da moralidade presente no artigo 37,
CF/88 (LESSA, 1965).

Além disso, temos também aquelas igrejas em que os membros


investem na igreja, todavia as igrejas não investem em seus membros,
muito menos ainda nas causas sociais em favor das comunidades carentes,
de forma a fazer a diferença na comunidade à qual está inserida.

No entanto, sabemos que existem várias igrejas sérias desenvolvendo


um papel muito importante junto à sociedade, não apenas espiritual, mas
também de ajuda no campo da preocupação, da assistência e da ação
sociais, de maneira a retirar das ruas e cuidar de mendigos, de
delinquentes, de necessitados e inseri-los novamente no seio da sociedade.
Infelizmente, esse papel de ação integral das igrejas é ainda realizado por
um número muito pequeno de igrejas ou de cristãos individualmente.

A grande maioria das instituições religiosas estão preocupadas com


grandes templos e grandes eventos. Isto tem ocupado muito o tempo
dessas instituições que deveria ser dedicado aos órfãos, às viúvas, às
criancinhas, aos necessitados e aos presidiários, cumprindo, assim, os
mandamentos do nosso Manual de Vida – a Bíblia.

Inegavelmente, a esfera mais restrita de serviço e testemunho do


cristão é a individual, no âmbito da sua influência e da sua
responsabilidade pessoais, na medida dos seus dons e recursos peculiares
(LESSA, 1965).

A ação individual, no entanto, não esgota de maneira alguma, as


possibilidades e as responsabilidades de atuação das igrejas na sociedade.
Há uma faixa dentro da qual o esforço individual só tem sentido prático
quando integrado num projeto da igreja local. Essas iniciativas, além de
prestarem relativo serviço ao povo, ilustram eloquentemente a sua
mensagem de amor.

Infelizmente, a grande maioria das igrejas e crentes individualmente,


demonstra preocupação social por meio da oração pelos problemas sociais
que afligem o mundo. Esta preocupação é legítima e é incentivada na
Bíblia. Bem menor, porém, é o número de igrejas e crentes que
desenvolvem algum tipo de serviço social. Este serviço também é
incentivado e acha apoio na Bíblia, principalmente no exemplo dos
primeiros cristãos, Jesus e seus discípulos. O maior problema atualmente,
entretanto, está na ação social. É muito raro ver igrejas ou crentes
verdadeiramente envolvidos numa ação social. A Igreja do Senhor, não
existe apenas para desenvolver uma preocupação social e para prestar
serviços sociais, mas também para uma ação social mais efetiva.

Os apelos dos necessitados, o constrangimento da miséria ao redor de


nós, e o sussurro do Espírito Santo, nos dirão como, quando e a quem
manifestarmos o nosso cuidado caridoso. Como membros de uma Igreja,
eventualmente despreocupada de suas responsabilidades sociais, assiste-
nos o dever profético de despertar o nosso rebanho para esse aspecto do
seu testemunho. Servirão, para tanto, o nosso exemplo, a exortação
constante e humilde aos irmãos, o estudo dos fundamentos bíblicos de tais
preocupações perante as organizações da igreja, o apelo ao Pastor, a
intercessão contínua para o despertamento da congregação pelo Espírito
do Senhor.

Depreende-se, ainda, das análises realizadas anteriormente que a


primeira responsabilidade da igreja local no que tange à ação social é a de
incutir nos seus membros a ideia de uma cidadania responsável. Fazê-los
entender que o ideal do amor cristão os faz responsáveis não somente pela
sorte eterna de suas almas, mas também pela sua condição terrena. Além
disso, pode ser tema e motivo para mensagens, conferências, debates,
institutos, retiros, dentre outros. A simples comemoração de datas cívicas
pela Igreja poderia contribuir para a comunicação dessa verdade
elementar, mas fundamental, de que somos cidadãos de dois reinos e,
responsáveis, portanto, perante ambos.

Ciente dessa preocupação com a nossa responsabilidade social, deveria


a igreja local estimular os crentes a relacionar a mensagem cristã com os
problemas da comunidade, o que pressupõe o seu estudo carinhoso e
objetivo. Além dos instrumentos e circunstâncias já mencionados, poder-
se-ia promover visitas a bairros e regiões onde certos problemas se
revelam mais caracterizados, para observação no próprio local.

Instituições que se dedicam ao estudo e à solução desses problemas


deveriam ser objeto também de visitas orientadas, onde técnicos,
observadores e estudiosos poderiam comunicar os seus conhecimentos da
realidade humana em circunstâncias várias, capacitando assim os crentes a
um testemunho e a um serviço mais inteligentes e consequentes. Assim, a
igreja, como tal, deve estar inserida na sociedade por meio de iniciativas
de natureza assistencial, tais como a criação de um ambulatório;
distribuição de gêneros e roupas; organização de creches e centros
recreativos; clínicas pastorais de aconselhamento; apoio financeiro
eventual (principalmente aos do próprio rebanho); serviços de auxílio para
internamento hospitalar; assistência jurídica e outros.

Já no âmbito do serviço social, superando, portanto, a ação paliativa


das promoções assistenciais e contribuindo para a integração do homem
em níveis sociais condignos e estáveis, poderia as igrejas realizar cursos
de capacitação para a vida, tais como alfabetização de adultos; de
orientação pré-matrimonial, vocacional, profissional, secretariado, de artes
domésticas, como: corte e costura, culinária, trabalhos manuais… A
oportunidade de cada promoção será determinada pelas necessidades
comunitárias, pelos recursos da Igreja, pela visão e pela disposição de
serviço dos seus membros.

Aquelas congregações que operam em bairros pobres, pequenas


localidades, proximidade das favelas, hospitais, creches, casas lares,
abrigos, centros de recuperação de viciados, poderiam manter uma
assistente social, mesmo em regime de tempo parcial, para a visitação,
levantamento de suas necessidades maiores (para orientação da
beneficência da própria igreja), ministração de instrução elementar sobre
alimentação, higiene, puericultura, cuidados médicos. Tal assistente
ofereceria às populações uma imagem de esperança da igreja e a esta uma
caracterização preciosa do seu campo de testemunho além do serviço
efetivo que prestaria à comunidade.

A Igreja deveria participar de certames culturais artísticos


promovidos pela comunidade ou promovê-los para a comunidade,
ampliando assim a faixa onde a sua atuação seria mais útil aos propósitos
morais e espirituais da Igreja. A doação de obras de bons autores
evangélicos às Bibliotecas de Colégios, Faculdades e Instituições diversas,
se constituiria num gesto de cordialidade, além de tornar possível uma
presença atuante, um testemunho permanente.

As autoridades locais – sejam Administradores Regionais, Prefeitos,


Autoridades policiais, Governadores, Representantes do povo – deveriam
ser alvos da atenção das igrejas representadas pelos seus Oficiais que,
àquelas autoridades, levariam não só a Palavra de Deus, mas a sua
disposição de com elas cooperarem no serviço ao povo. Essa atitude, além
de sua extraordinária significação moral e espiritual, poderia tornar-se
ponto de partida de uma cooperação positiva para a dignificação e
melhoria da comunidade. Há iniciativas de caráter prático que os grupos
eclesiásticos, como tais, poderão assumir, por exemplo, inúmeros
problemas crônicos em nossas comunidades que subsistem como campos
quase virgens de serviço para os cristãos.

No entanto, para um atendimento eficaz, é exigido, de quase todos, a


união de esforços e recursos. Dentre eles: o estabelecimento de
educandários de todos os níveis; a criação de hospitais; a organização de
cooperativas de produção, consumo e crédito; a criação de casas de
estudantes, pensionatos para moças, orfanatos, asilos para anciãos, lares de
mães solteiras; serviços de recuperação de penitenciários, alcoólatras e
prostitutas, manutenção de albergues. Em muitas localidades, estas
promoções seriam pioneiras, prestando por isso mesmo, relevantes
serviços à comunidade e credenciando a Igreja perante as populações. As
vítimas que tais problemas fazem são tantas que o seu número assume as
proporções das consequências dos grandes conflitos bélicos. Mas parece
que os nossos corações só se enternecem por aqueles abatidos nos grandes
conflitos e nos grandes desastres.

Como bem retratou Hélcio da Silva Lessa: Enquanto houver tais lides
para enfrentar, essa voz profética não poderá se calar (LESSA, 1965).

Complementa H.C. Lacerda: Toda a raça estará no cativeiro, à medida


que um desgraçado trouxer a marca do cativo no pulso; a humanidade será
arrastada na lama sempre que um indivíduo permanecer na podridão do
vício; o gênero humano se achará faminto todo o tempo que uma criatura
de Deus carecer de pão; o mundo não terá um homem livre, enquanto um
homem for objeto de exploração econômica pelo homem… Todos nós
estaremos no chão, enquanto não levantarmos o último caído (LACERDA,
1948). Por isso, a nossa missão é ampla e urgente.
Baseados, ainda, nas inúmeras referências bíblicas analisadas nesse
trabalho, podemos verificar que esse é um serviço que devemos ao Senhor,
desde que Ele próprio nos afirma em Mateus 25.40: “Em verdade vos digo
que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a Mim o
fizestes”. Cumpre-nos dar o testemunho que salva a alma e praticar a ação
que alimenta o corpo e dignifica o espírito se queremos a plena realização
do homem à imagem e semelhança de Deus.

As referências bíblicas examinadas ainda continuam a bramar aos


nossos ouvidos, quando lemos esta passagem das Escrituras em João
13.17: “Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis se as fizerdes”.
Portanto, os cristãos se constituem em consciência do mundo. São uma luz
nas trevas. Uma chama que deve se manter acesa. Uma voz a clamar no
deserto.

Insistimos em dizer que a igreja não existe somente para louvar a


Deus; para consolar as pessoas e dar esperança; para levar o Evangelho
aos perdidos; para ser um farol na comunidade; mas também para apoiar
causas nobres e para trazer a justiça social, principalmente nas
comunidades carentes a sua volta.

Desse modo, nossa vida aqui na terra deveria refletir este propósito
Divino. Nossas igrejas deveriam avaliar suas práticas e perguntar-se: como
cumprimos esta comissão?

Creio que Jesus em seu ministério não deixou registrado nas páginas
dos Evangelhos diversas orientações e exemplos práticos de como
devemos cumprir esta missão ordenada por Ele à Sua Igreja por acaso
(MACARTHUR JR., 1998). Portanto, o desafio que a igreja encara no
campo de desenvolvimento hoje é fundamentalmente o desafio de um
desenvolvimento humano, no contexto da justiça social.

Portanto, a missão integral da Igreja é basicamente evangelização e


ação social. Na verdade, a missão integral da Igreja é universal por
englobar inúmeros aspectos. A Igreja tem por primazia a evangelização,
mas também a responsabilidade social deve estar dentro do propósito das
igrejas. Nesse sentido, a verdadeira espiritualidade do povo de Deus
deverá ser expressa em sua integralidade. Assim, a mesma igreja que
proclama as Boas Novas do Reino deve ser a mesma que estende a mão
aos necessitados.

Desse ponto de vista, verifica-se que a missão integral é uma verdade


bíblica. Sendo assim, não deve haver fragmentação entre a evangelização
e a ação social, pois quando isso ocorre, o indivíduo é deixado de ser
contemplado em sua totalidade. Assim, poderemos verificar a realidade
bíblica de uma missão integral em nossa sociedade.

Todavia, é saudável que a participação e envolvimento do cristão


enquanto cidadão se estenda a outros domínios além do seu emprego, da
sua vizinhança e da sua família, como é o caso das várias associações,
organizações e instituições que desenvolvem projetos culturais,
assistenciais, desportivos e educacionais à população.

O presente trabalho demonstrou que o aspecto do testemunho cristão


que poderia ser definido como ação social deveria inserir-se no contexto
da experiência do crente, exercido com a mesma naturalidade com que se
espera que ele cumpra as suas demais responsabilidades no Reino de
Deus. A ação social cristã é, pois, uma tarefa para todos. Esta é a
convicção que se precisa comunicar aos seus membros, dos púlpitos, nas
classes, pela literatura, insistentemente, se alguma coisa significativa se
pretende realizar.

Percebe-se, outrossim, que a ação da Igreja nem sempre será exercida


por meio de seus projetos e de suas inciativas particulares, promovidos
ante a sua exclusiva responsabilidade. A Igreja pode e deve emprestar a
sua cooperação a outras instituições, particulares ou estatais, as quais já se
encontrem empenhadas nas causas que preocupam a Igreja e que
porventura tenham maiores possibilidades de serem prestadas aos homens
por meio de um auxílio mais efetivo.

A igreja possui um relevante serviço a ser prestado na comunidade


onde está introduzida. Basta para isso pedir ajuda ao Espírito Santo sobre
aquelas áreas que mais necessitam de atuação. Por conseguinte, como
agência do Reino de Deus na terra, a Igreja do Senhor, e isso significa
cada cristão, inclusive eu e você, possuímos uma responsabilidade social.
O cristão vive tanto na igreja quanto no seu mundo e tem
responsabilidades para com ambos.

A espiritualização de seus membros tem sido a tendência das igrejas;


assim os seus membros se tornam apenas frequentadores de reuniões ou
cumpridores de programas. Em geral, a mesma evangelização que visa
tirar o homem do pecado, é a mesma que muitas vezes se esquece do
dever de devolvê-lo ao mundo mental, física e espiritualmente são,
transformando-o, com novas convicções e novos padrões.

Observou-se, além do mais, que a intenção do legislador constituinte,


ao garantir a não incidência de impostos sobre os templos de qualquer
culto, era de promover a liberdade religiosa, porém o que se vê em alguns
casos é um desvirtuamento desse instituto jurídico com seu uso
inadequado.

Nessa perspectiva, existem ademais aquelas igrejas e cristãos que


vivem envolvidos em escândalos, praticando o nepotismo, tão nefasto no
meio secular, de forma a beneficiar apenas os seus familiares; outras
instituições oportunistas, sem transparência alguma na gestão financeira.
Isto tem denegrido a imagem dos “cristãos verdadeiros” e da “Verdadeira
Igreja” do Senhor e trazido desconfiança tanto entre os seus membros
quanto no mundo secular em relação à credibilidade e a confiança dos
cristãos. Com isso, a Igreja acaba por se esquecer ou se desviar da sua
missão integral na terra, a qual está escrita em Mateus 22:29 onde Deus é
bem claro quando destaca os dois grandes mandamentos, sendo o primeiro
“amar a Deus sobre todas as coisas” e o segundo “amar o próximo como a
ti mesmo”. Porém, o que se tem observado no mundo atual é que as
pessoas estão cada vez mais orgulhosas e sem amor ao próximo.
Precisamos colocar em prática esses dois mandamentos na nossa vida,
para sermos exemplos de cristãos, e fazermos a diferença neste mundo.

Para isso, precisamos repartir o pão, os nossos recursos financeiros,


de forma a suprir as necessidades daqueles que nos cercam de forma
plena. Este é o espírito e o sentido da ação social, e isso é assegurar aos
nossos semelhantes desfavorecidos/necessitados a nossa ajuda, no sentido
de assegurar o direito de todos à dignidade da pessoa humana e à
igualdade constitucionalmente garantidos nos seus artigos 1o e 5o, além
de cumprir também um mandamento bíblico de “amar o próximo como a
si mesmo”, e isto é o verdadeiro amor de Jesus refletido em nós quando
ajudamos os órfãos, as viúvas, as criancinhas e os presidiários nas suas
necessidades.

Apesar dos avanços conseguidos por muitas igrejas na área social,


os cristãos não podem ignorar o desafio social segundo o entendimento do
ensino bíblico, do exemplo de Cristo e das lições da história, assim
também de todo o aparato jurídico e doutrinário a respeito do assunto.
Evitar essa área acarreta sérias dificuldades para a consciência cristã e para
o testemunho cristão, visto que a justiça social é uma das implicações do
Evangelho. Os cristãos não estão isentos da sua responsabilidade pelo fato
de alguns movimentos terem tido problemas nesse tratamento. Em um
mundo afligido por tantas situações que atentam contra a vida, a dignidade
e o bem-estar dos seres humanos, contrariamente, é fundamental que os
cristãos intensifiquem os seus esforços para seguir os passos dAquele que
“andou pela terra fazendo o bem” e “sem acepção de pessoas”.

Juntamente a esse turbilhão de informações, das hipóteses e dos


questionamentos levantados por esse trabalho, e mediante as reflexões
extraídas dos textos bíblicos, da Carta Magna de 1988, da Jurisprudência e
da doutrina brasileiras, pôde-se observar que muitas igrejas têm
desempenhado com algum sucesso o seu papel social e a sua missão
integral junto à comunidade que a cerca, porém existe ainda um grande
número que precisa levantar a cabeça para enxergar a sua verdadeira
responsabilidade e o seu verdadeiro papel diante do elevado número de
ações sociais que podem ser implantadas e implementadas em favor
daqueles mais necessitados e que estão ao seu redor.

Consideramos, portanto, diante das análises realizadas, que esse


papel e essa responsabilidade das igrejas são um dever legal e um
mandamento bíblico. Um mandamento bíblico, pois o Livro do Destino
nos deixam constrangidos diante das inúmeras passagens e dos vários
exemplos deixados pelos grandes homens e líderes de Deus, de
compaixão, de ajuda e de amor ao próximo, principalmente aos
necessitados. E um dever legal, no sentido de que as isenções tributárias
aos templos de qualquer culto têm o aval constitucional, da Jurisprudência
e da doutrina deste País, não somente para a proteção aos templos das
religiões, mas também para que essas tenham a liberdade de culto e
desenvolvam as suas espiritualidades, sem se esquecer do seu papel social
aos desfavorecidos, pois tudo isso caminha junto, de forma integral.

Portanto, os motivos que levaram os legisladores a concederem


imunidades tributárias aos templos são os de que os beneficiados de tais
renúncias fiscais estarão promovendo atividades de interesse da sociedade
como um todo, não apenas dos seus membros.

Não se pretendeu esgotar o tema com o que aqui foi declarado. Não é
também um roteiro compulsório nem uma regra a serem seguidos
obrigatoriamente pelas igrejas. São apenas sugestões e pontos de partida.
Só o Senhor conhece e sonda os nossos corações e as nossas vontades; Ele
é quem nos conduzirá por caminhos excelentes. Porém, “convém que eu
faça as obras dAquele que Me enviou, enquanto é dia; a noite vem,
quando ninguém pode trabalhar” (João 9.1). Portanto, a nossa tarefa é
grandiosa e urgente; temos de nos esforçar “até que tudo esteja levedado”
(Mateus 13.33).

Conclui-se, portanto, que um grande número de igrejas não tem


desenvolvido o seu papel e a sua responsabilidade sociais junto à
comunidade, além da sua missão integral na sociedade, para fazer jus a
essa imunidade tributária. Enquanto isso, estão preocupadas em lotar os
templos de membros, em realizar cerimônias grandiosas, em desenvolver
apenas o lado espiritual desses membros, mas se esquecem que a sua
missão não se resume apenas em cuidar do espírito dos seus fiéis, como
também do corpo, da alma e das suas necessidades básicas, de maneira a
integrar novamente aquele que estava perdido à sociedade como um
cidadão e um cristão honrados. Isso se chama missão integral. E missão
integral é a igreja agir e intervir em toda a sua plenitude, com amor ao
próximo e com temor a Deus, nos diversos problemas que assolam a
sociedade.
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________. O cristão em uma sociedade não cristã. Niterói: Vinde, 1989, p.


23.

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TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 18. ed.


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WAGNER, Peter. A Igreja Saudável. São Paulo: Editora Quadrangular, 1.


ed. 1998. (2)
A VIDA E PENSAMENTO DO
MORADOR DE RUA
No Brasil são recentes os estudos com população em situação de
rua, considerando que a maior parte dessa população é do sexo masculino.
Os motivos destes encontrarem-se nas ruas são diversos, de acordo com
cada contexto social ao qual o indivíduo está inserido. A presente pesquisa
analisa a história de vida de pessoas em situação de rua, e avalia aspectos
psicossociais que fazem parte do processo de tornar-se morador de rua.

Foram entrevistadas 10 pessoas do sexo masculino, que relataram


suas histórias de vida, e de como se encontravam inseridos no convívio
social até se tornarem pessoas excluídas da sociedade. Os principais
resultados demonstram que situações conflituosas os levaram a exclusão
gradativa do convívio com a família e amigos, até encontrar-se em
situação de rua. A vida nas ruas os expõe a constantes situações de
violência física e psíquica, na qual suas identidades são constantemente
modificadas. O morador de rua perde todos os direitos sociais e torna-se
uma pessoa invisível para a sociedade.

No decorrer dos anos a população que vive em situação de rua tem


chamado a atenção de pesquisadores ligados a questões sociais, pois se
encontram em condição de completa vulnerabilidade social e apresentam
aspectos de fragilidade nas suas relações sociais e psicológicas.

No Brasil são recentes os estudos com a população em situação de


rua, e de acordo com Andrade, Figueiredo e Faria (2008) no final da
década de 1980 surgiu a organização de um movimento social para
identificar esses moradores nas cidades de Belo Horizonte e São Paulo. A
partir desse movimento foi criada uma metodologia de estudo que
possibilitou a criação do censo da população em situação de rua, que foi
aplicado nessas duas cidades. O término desse trabalho influenciou na
criação do Movimento Nacional da População de Rua no Brasil.

Atualmente, a compreensão e o conhecimento sobre as experiências


de vida do morador de rua tornaram-se de extrema importância no âmbito
das políticas sociais, para que se possa criar políticas públicas e medidas
que beneficiem essa população.

A existência humana é estabelecida e ordenada por grupos de


pessoas que se relacionam entre si, e a partir dessa relação podemos
encontrar as diversidades culturais que existem no mundo, as quais devem
ser entendidas a partir da convivência dessas pessoas em sociedade,
considerando seu contexto social, que é determinado por um período de
tempo e lugar. Em estudo sobre como a realidade social é construída numa
sociedade, os autores Berger e Luckmann (2004), afirmam que, o
conhecimento humano na vida em sociedade ocorre a partir da experiência
individual, provendo uma ordem de significados, que embora se reporte a
uma condição sócio-histórica, surge para o indivíduo como uma maneira
natural de conceber o mundo.

De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2001), a psicologia


sócio-histórica compreende que o ser humano constrói sua existência
quando realiza uma ação sobre a realidade, procurando satisfazer suas
necessidades, no entanto, essa ação e essas necessidades possuem um
aspecto fundamental, o de serem sociais, e são produzidas de acordo com
a história das pessoas que vivem em sociedade.

O cotidiano de vida das pessoas é revelado por meio de uma


conduta subjetiva repleta de sentidos que produzem a história de suas
vidas. O indivíduo quando nasce se relaciona com o mundo externo de
forma complexa, e torna-se pessoa a partir de sua relação com o ambiente,
conforme afirmam os autores Berger e Luckmann (2004, p.71),

A socialização acontece em um determinado contexto a partir de


especificidades de uma estrutura social. E o processo de socialização
ocorre quando o indivíduo, no início de sua vida, começa a absorver do
mundo social a realidade objetiva presente, sendo que essa última se
relaciona com a história de vida que cada um produz, ou seja, a realidade
subjetiva do indivíduo. Nesse sentido, faz-se fundamental a reflexão sobre
a história de vida de pessoas para que possamos compreender as vivências
e as necessidades sociais que surgem no cotidiano e que podem contribuir
para a melhoria de políticas públicas que atendam à população que delas
necessitam.

A presente pesquisa trata de fragmentos da história de vida de


pessoas em situação de rua. Inicialmente os participantes dessa pesquisa
narraram suas experiências de vida com sua família. Ao relatarem sobre
seu passado e constituição familiar, constata-se que todos nasceram e
passaram por um processo de socialização primária com suas respectivas
famílias. É importante considerar que embora muitas dessas famílias
encontravam-se em situação de pobreza nunca estiveram antes em
situação de rua, ou seja, os participantes da pesquisa não eram
provenientes de famílias que teriam passado por situação de rua. Também
podemos considerar que todos os nossos participantes da pesquisa tiveram
experiência sócio-familiar, ou seja, nenhum destes esteve durante sua
infância numa Casa de Acolhimento para crianças e adolescentes.

Consideramos, portanto, que a família constitui uma parte


importante na vida dessas pessoas que no decorrer da vida, em seus
processos de socialização, foram progressivamente tendo seus vínculos
fragilizados até serem totalmente rompidos até tornarem-se moradores de
rua.

O contexto social em que a família é constituída nos dias atuais


foi influenciado pelo modelo familiar burguês, no qual, os membros da
família são motivados e influenciados e orientados pela questão do
trabalho. As crianças desde muito cedo são encaminhadas para as escolas
com o objetivo de formação e preparação para o mercado de trabalho. O
trabalho por sua vez é orientado pelo consumo, que faz com que as
pessoas sejam valorizadas por aquilo que elas possuem.

Os conflitos familiares existentes nas famílias dos participantes


da pesquisa são por essa forma de pensar da sociedade atual. No caso dos
participantes da pesquisa que vivem em situação de rua, seus vínculos
familiares foram quebrados, e por se encontrarem em situação de exclusão
pela falta de oportunidades de emprego ficam à margem da sociedade,
sobrevivem às dificuldades da rua, por meio de serviços socioassistenciais,
que por sua vez, na maioria dos casos suprem somente as necessidades
básicas do morador de rua.

Sendo assim, o processo de exclusão ocorre de forma gradativa


na vida do morador de rua, começando com a fragilidade dos vínculos
familiares, depois de um tempo a quebra dos vínculos, diante da
dificuldade de uma nova oportunidade de trabalho a pessoa perde a
motivação para novas buscas e acaba se tornando dependente dos serviços
assistenciais, que incluem e excluem na medida em que não oferecem um
atendimento e/ou apoio no qual o morador de rua possa reconstruir sua
vida com dignidade.

Em esta análise sobre a vida de moradores de rua, por


infelicidade ou para experiência Deus me permitiu viver isso. Em uma
época que fui abandonado pelas igrejas quando retornei do campo
missionario, e outros problemas decidi não mais atentar para a chamada
missionária. Nisso notei o silêncio de Deus em minha vida (ou a surdez
espiritual, não sei) que devido a idade e não alcançar trabalho aceitei o
convite de um amigo que, aparentemente vivia bem em uma vida sem
compromissos de contas, morava no maior albergue de São Paulo, o
albergue do Arsenal que fica localizado próximo a estação de metrô da
Moóca em SP. Me inscrevi, passei na seleção para ter uma cama e comecei
a viver um local até muito bom. A comida (somente o café da manhã e
janta) eram abundantes. Nisso comecei a conhecer o mundo dos
moradores de rua. Em sua maioria são dependentes quimicos. Mas
encontrei tambem um publico que me assustou, pessoas com alta gama de
conhcimento, alguns com várias universidades de formação e devido ao
mesmo problema citado acima, por problemas familiares ou falta de
trabalho decidiram depender desse aparente apoio.

O governo vem com muitos apoios, soube como me inscrever


para receber o bolsa família, também a procuradoria do estado me
acessorou para aproveitar da lei e retirar todo e qualquer dinheiro que
tiversse em qualquer deposito feito enquanto trabalhei como fgts, inss, etc.

A principio a vida parece boa, sem compromisso, com a leva


de moradores que existem em Sp ( o Arsenal diariamente, cadastrados e
atendidos são 1.200 pessoas, somente homens ) comecei a aprender a me
aproveitar das oportunidades. Nos albergues você não tem direito a ficar
durante o dia, somente quando esta cadastrado em alguma capacitação ou
atividade (que são poucos), então normalmente se desperta as 6hs, toma-se
um excelente café, com pão a vontade, um mingau e depois até as 8hs
precisa estar na rua.

Na rua você segue o comboio, onde a maioria já vai para outra


instituição para se preparar para a fila do almoço, pois os cupos são
poucos. Existe perto uma instituição católica que oferece assistencia e
almoço diariamente, muito bom e a vontade, além que em épocas festivas
recebiamos até copos de sorvete. Pela tarde, normalmente a leva segue
para ficar nos parques e bibliotecas, pois são locais onde tem internet e
banheiros. A assitencia do INSS ou SUS é completa também quando você
tem o cadastrado social de morador de albergue. Em São Paulo existe
uma infinidade de lugares que dão apoio e assistência a esse publico. Por
essa razão eu sempre digo que passar fome em São Paulo é uma mentira e
jogo politico.

O governo do Estado promove várias atividades para resocializar


esse publico, mas parece mais uma lavagem de dinheiro que qualquer
outra coisa, você nunca consegue nada. Uma vez uma rede de Fast food
internacional muito famosa captou pessoa para trabalhar, mas o salario era
menos que o minimo e nada podia comer, os alimentos não usados eram
literalmente descartados na lixeira, um desperdicio que a lei exige.

Nos albergues tem as assistentes sociais que para mim são mais
secretarios (as) do diabo, nunca te dão apoio nenhum, e qualquer coisa que
fale automaticamente te dispensam ou realizam a transferencia para outro
albergue, assim fica a rotatividade. Por lei, um morador de rua nunca pode
ficar em um albergue mais que seis meses, sempre transferido. Niso você
conhece pessoas que vive nessa condições a anos e que passaram por
quase todos os albergues.

Em todo material pesquisado até o momento você pode estar


perguntando, não existe a atuação da igreja evangelica?

Sim existe, e esse é o ponto mais importante que dedico este


livro. Apesar de as maiores instituições de ajuda social são as catolicas, a
igreja evangelica atua tambem, mas de forma muito menor. Se dedicam
somente em oferecer uma sopa ou uma marmita (ou quentinha de acordo
com a região que o denomina).

Entre tudo isso, e conversando com muita gente dentro dos


albergues notei uma coisa, existem dois tipos de categorias entre os
moradores de rua. Os viciados (em uma gama da mais diversa) e os
desempregados. Não vou dedicar ao problemas dos viciados, pois ai sim
que esse livro não teria fim, mas vou dedicar a parte dos desempregados
como eu vivi.

Conforme disse acima, conheci pessoas com muita capacidade


mas por ironia da vida perderam seus empregos ou estavam desiludidas
com a família ou com a vida (depressão), assim como eu tentei, essa gama
de pessoas desempregadas nos albergues seguem procurando retornar ao
mercado de trabalho e não conseguem, pois quando você informa que é
morador de albergue todas as empresas o descartam por julgar que todos
são vagabundos e viciados. Então você precisa “roubar alguma conta de
luz, agua ou correnpondencia para pegar um comprovante de endereço
para falsificar sua situação.

Morar na rua, para quem não quer compromisso não é ruim,


mas as interpéries da vida o fazem ter depressão. Você tem todo tipo de
comida, tem muitas instituições (inclusive espiritas) que doam roupas ( e
muitas delas de qualidade e condições), mas como você não pode carregar
nada, somente a mochila nas costas, ou você troca de roupa e joga a antiga
fora ou você descarta a doação.

Mas quero levar esse tema as igrejas, eu como cristão, ainda


que estava como rebelde, tentava de todas as formas me recolocar no
mercado de trabalho, mas não conseguia. As igrejas? Bem, outro problema
a parte. Na sua grande maioria te despreza e os pastores não te dão atenção
por várias razões, uma por não ter um departamento qualificado para
ajudar, outra por não ter como acomodar essas pessoas ou mesmo por
saberem que morador de rua será somente um consumidor da obra e não
participante.
Uma das coisas que mais notei e até hoje tenho um pouco de
revolta quanto a isso é que as igrejas não tentam capacitar o departamento
social de forma concreta e eficaz. Como assim? É mais facil distribuir um
prato de comida do que ajudar esses moradores a sairem da rua, por
acreditarem mais uma vez que morador de rua é viciado ou vagabundo.

Se envolver com moradores de rua tem diversos problemas


que vou relatar aqui. O promeiro é o verdadeiro compromisso com o amor
ao próximo, e de outro lado a lei. As leis no Brasil exige muito e não dá
nada. Vou explicar. Conforme meu conhecimento e prática (posso estar
errado), se você ajuda uma pessoa, e não oferecea condição conforme a
lei, o governo vai processar as pessoas e instituições que estão tentando
fazer algo. Ou seja, se você não organiza um albergue com toda a
infrestrutura você é condenado por má ajuda????? Existe uma
denominação no Brasil que sua catedral fica na Liberdade que tem um
albergue no Jaçanã, mas o albergue administrado pela igreja, os
administradores e assistentes sociais são verdadeiros carrascos. Então
como fica a assistencia social realizada pela igreja?

Não fica, pois a lei no Brasil não permite. O que entendi com
tudo isso que é mais lucrativo você manter o morador de rua na rua com
tudo que precisa do que dar condições para ele retornar a mundo do
trabalhador. Vou contar algo que vai entender a revolta minha. Um adito
(um viciado em drogas) que participa da assistencia social do governo,
assitindo a palestras semanais que não levam a nada recebem de ajuda
financeira R$600,00 enquanto na mesma época um bolsa família recebia
R$90,00 por mês. Talvez você faça a mesma pergunta que eu. Para que
um viciado recebe mais que uma mãe de família? Para pagar os remedios
para sair das drogas? E você acredita que quem recebe R$600 compra
remedio? Mas quando você pergunta eles alegam “é a lei”. Nisso você
começa a entender que eles querem que você se mantenha nas ruas do que
voltar a mercado de trabalho.

Uma outra coisa tambem vou relatar aqui por experiencia.


Note bem quando você for em cidades pequenas, dificilmente encontrar
moradores de rua, vai visitar os albergues (pois todas as cidades tem para
receberem auxilio do governo federal) e está sempre vazio... Porque,
porque essas assistentes sociais deixam os moradores por 3 a 5 dias,
depois manda a guarda municipal levar o indivíduo até a rodoviária
pagando a passagem para ser enviado para a capital, no caso em São Paulo
que eles alegam ter mais condições (mentira), mas sem uma carta de
encaminhamnto ou indicação, simplesmente te jogam na capital. Se você
algum dia for no terminal do Tiete procure a assistencia social que tem no
terminal e tire suas duvidas.

Então o que eu posso definir é que manter um morador de rua


nas ruas é mais lucrativo para todos, pois assim tem condições de
mobilizar mais dnheiro em favor dos necessitados. Um mercado
vampiristico e canibal.
EFEITOS DA AÇÃO SOCIAL
SEM PROSPECÇÃO
De acordo com o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada),
em 2018, o Brasil contava com mais de 820 mil Organizações da
Sociedade Civil (OSCs) atuando, principalmente, nas causas de defesas e
de interesses, com projetos sociais decisivos para a sobrevivência ou para
a melhoria da qualidade de vida de muitos brasileiros.

Agora, em 2021, as inciativas realizadas por essas organizações do


terceiro setor – mesmo que de forma online – têm chamado ainda mais
atenção ao amparar famílias e zelar pelo futuro das próximas gerações.

O que é impacto social?

É o efeito que seu projeto causa às pessoas e ao ambiente onde as


atividades acontecem. Impacto social “positivo” ocorre quando várias
atividades resultam em uma melhora no bem-estar, acesso aos direitos
humanos e outros benefícios para todas as pessoas que são, direta ou
indiretamente, afetadas pelo projeto.

O que é análise de impacto social?

Análise de impacto social se refere ao processo de avaliação de curto,


médio e longo prazo das suas atividades em um grupo e individualmente,
em uma comunidade ou região, afetados de forma direta ou indireta.

Por que devemos analisar o impacto?

Analisar o impacto das suas atividades enquanto líder de projeto de


impacto social é crucial e pode te ajudar a:

• Compreender melhor os efeitos diretos e indiretos do seu projeto;


• Encontrar pontos de melhoria na forma como você entrega suas
atividades, produtos e serviços;
• Entender como beneficiários e stakeholders (“partes interessadas”)
veem seu trabalho e seus resultados;
• Comunicar melhor a importância do seu trabalho a seus potenciais
apoiadores, doadores e investidores;
• Celebrar seu trabalho e também as contribuições dos membros do seu
time!
• Agora que você sabe o que é análise de impacto social e o motivo
pelo qual você deve se preocupar com isso, vamos conhecer a Teoria
da Mudança!

O que é Teoria da Mudança?

A Teoria da Mudança (TdM) é um método visual para delinear


mudanças que motivam projetos de impacto social. Ela te ajuda a alinhar
os “porquês” de se realizar o projeto com o que vai ser feito e quando vai
ser feito. Ela também serve para ajudar a construir projetos, monitorar e
avaliar estratégias, metodologias de coleta de dados e materiais de
comunicação com stakeholders. A TdM tem cinco pontos que devem ser
considerados:

Recursos: os materiais, informações e conhecimentos que você e seu


time devem ter para serem capazes de executar as atividades do projeto.
São expressados com substantivos (contas em redes sociais, avaliações e
pesquisas, papel e caneta etc.)

Atividades: as tarefas que serão realizadas durante a execução do


projeto, expressadas em verbos (performar, prover, criar, entregar, ensinar,
fazer etc.)

Resultados: os efeitos diretos causados pelas atividades. São melhor


expressados por verbos no tempo passado (feito, entregue, treinado etc.),
ou verbos que expressam uma mudança de estado (tornar-se; ter; sentir;
entender; etc)

Objetivos: os efeitos de curto prazo das suas ações, expressados por


palavras que caracterizam uma mudança percebida pelas pessoas atingidas
pelo projeto (aumentou, diminuiu, melhorou etc.)

Impacto: os efeitos de longo prazo causados pelas suas ações,


representados pela expressão“contribuir para”, pois mudanças sociais
raramente são causadas por apenas um fator isolado (por exemplo:
“contribuiu para a redução do desemprego em São Paulo”).

Ao liderarmos um projeto de impacto social, nós estamos contribuindo


com a diminuição de problemas sociais, mas, infelizmente, não de modo a
acabar com eles completamente. Qualquer impacto positivo gerado auxilia
os esforços para criar uma mudança sustentável.

As atividades envolvem a construção de casas e seus resultados serão


novas moradias para famílias vulneráveis. Os objetivos desse projeto são o
aumento do sentimento de felicidade e de segurança dessas famílias com
as novas casas. A longo prazo, o impacto desejado será também alcançado.

Ao desenvolver sua Teoria da Mudança, garanta que todos os passos


sejam complementares e que forneçam os resultados e conhecimentos que
você precisa para seguir adiante no projeto.

Para entender melhor, imagine que sua meta seja oferecer workshops
de soft skills para jovens profissionais, a fim de auxiliá-los a se tornarem
melhores líderes para suas comunidades.

SE tivermos papéis, canetas e facilitadores com experiência na área


(recursos), ENTÃO nós poderemos desenvolver workshops de alta
qualidade (atividades).

SE oferecermos workshops de alta qualidade em soft skills


(atividades), ENTÃO jovens profissionais poderão sentir um aumento da
confiança em si mesmos e em suas habilidades (resultados)

SE jovens profissionais aumentarem suas soft skills (resultados),


ENTÃO eles se tornarão melhores líderes e seus times performarão
melhor (objetivos).
SE jovens profissionais se tornarem melhores líderes e seus times
tiverem uma melhor performance (objetivos), ENTÃO nós poderemos
contribuir na promoção do crescimento econômico em suas comunidades.

Como você pôde ver neste exemplo, todos os passos da Teoria da


Mudança devem estar alinhados e conectados. Eles são a base para
qualquer estratégia de mensuração de impacto.

Coisas para ter em mente ao desenvolver sua Teoria da Mudança

Aqui estão algumas coisas importantes que você sempre deve ter em
mente enquanto desenvolve, discute e monitora seu projeto da Teoria da
Mudança:

1. O impacto do projeto não é a mesma coisa que os resultados


obtidos.

Um erro comum dos líderes é falar apenas dos resultados ao


comunicarem o impacto de seus projetos. Mas fazem um bom trabalho
relatando quantas pessoas foram atingidas, o que elas aprenderam ou quais
atividades foram realizadas pelo time.

2. Impactos realmente efetivos acontecem a longo prazo.

Impactos acontecem quando o projeto vai além dos resultados e


objetivos e contribuem para mudanças significativas na comunidade onde
o projeto foi implementado. Mesmo a menor das mudanças deve ser
identificada e celebrada, até porque a maioria dos projetos começa
pequeno. Medir seu impacto te ajudará a entender como escalar o projeto
mantendo uma alta qualidade e considerando o efeito real que ele
proporcionará.

3. A sua Teoria da Mudança deve envolver todos os membros do seu


time e também os stakeholders.

Envolver todos durante o design do seu projeto é o ideal, pois


permite que todos contribuam com suas perspectivas sobre o que deve ser
feito para que todas as necessidades sejam atendidas.

4. Sempre seja honesto sobre seu impacto.

Se o seu impacto ainda não é o que você gostaria que fosse, não tenha
medo de reavaliar, redesenhar, de buscar entender melhor a perspectiva da
comunidade e adaptar. Como empreendedor social, combater um problema
é mais importante que estar certo. Está tudo bem se você errar: erros são
importantes para ajustar as coisas quando elas saem diferente do esperado.

Além do mais, se você perceber que suas atividades estão tendo um


impacto negativo você pode procurar maneiras de mitigar estes efeitos, ao
invés de ignorá-los.

5. Seja transparente.

Mostre seus indicadores, sua análise de estratégia de impacto, e como


você chegou nestes números e seus insights sobre eles. Tudo deve ser
compartilhado. Isso irá aumentar a sua credibilidade e atrair mais
potenciais investidores.

6. Mantenha sua determinação, coração e mente abertos.

Quando você for implementar seu projeto, mantenha seu coração


aberto para qualquer feedback que você venha a receber; mente aberta
para considerar todas as mudanças que sejam necessárias e mantenha a
determinação para sempre testar novas formas de trabalho e realizar tais
mudanças. Está tudo bem se você não tiver todas as respostas agora, desde
que você se mantenha aberto para elas no futuro. (3)
PERSPECTIVAS DE AÇÃO
SOCIAL COMPLETA NA
IGREJA
Neste ponto quero deixar meu ponto de vista pessoal. Exstem
muitas passagens biblicas falando de ação social, uma delas é dizer o que
o próprio Jesus disse sobre os pobres...(Mateus 26:11). E tentei ao menos,
em bases de pesquisas mostrar os dois lados da ação social na igreja cristã.
De uma parte as igrejas que atuam no movimento social somente para
“desencargo de consciência” e de outra para promoção ministerial.

Atuar no social nestes dois pontos de vista é colocar Jesus em


uma situação muito problematica quanto ao testemunho. Não conheço
ministérios que atuam em ouvir o lado do necessitado. Muitas vezes
ouvem mas dão, de modo forçoso, a sua resposta em mudar a roupa do
morador de rua, ou dar somente alimentos.

Diante de tantas dificuldades que a igreja tem enfrentado quanto


a se mobilizar diante do social, o governo tenta, de uma forma também
preponderante, impedir de que a igreja atue de uma forma incompleta, ou
seja, sem as ferramentas necessários (que julga ser necessárias) para essa
atuação (a exemplo de ter assistentes sociais profissinais, ter infra
estrutura, etc).

Mas como resolver esse impasse? Como disse é do meu ponto


de vista, que vivi nas ruas, em albergue e qu me impulsiona contra atitudes
parciais que as igrejas executam.

Dar o alimento somente, como as sopas ou as ditas “marmitas”


(pratos de comida) não soluciona de forma nenhuma a vida do morador
de rua, muito pelo contrário, alivia somente de momento esta situação.
Recordo na época que entrei nesse giro maldito de albergues, que desejava
fazer qualquer coisa para sair deste regime, mas ninguém ajudava. Em
outras palavras, todos diziam; “Você tem tudo o que precisa, porque se
preocupar...”. Em outras palavras, manter o morador de rua, pois assim o
suporte que estava chegando nessas ONGs e grupo se manteriam, fazendo
com que mais pessoas investissem nessa área ( o dito Terrorismo Social,
“olha para a desgraça e disponibilize dinheiro para a obra” ).

Não digo que isso deve acabar, de forma alguma, mas porque não
fazer uma pesquisa em encontrar entre essa população pessoas que tem
condições de sair e dar uma oportunidade, como incentivar empresas de
irmãos de suas igrejas a dar uma vaga de emprego a eles. Isso melhoria em
muito, além do mais esse antigo morador de rua certamente seria um
futuro participante dessa ação social. Existe casos de pessoas que
moravam na rua, tiveram uma oportunidade dessas, se levantaram e hoje
emprega somente moradores de rua, mas que sua quantidadesão infimas.

Também conheci igrejas, e neste caso quero apontar uma


pesoalmente, como a Igreja Batista da Liberdade de São Paulo que tem o
departamento de psicologos membros da igreja que dão atendimento a
pessoas neste estado, o que tem mudado a vida de alguns que alcança
ajudar.

A vida na rua é uma sociedade a parte, com suas leis e ordennças


totalmente paralela a vida social das pessoas, mas que não se cohabitam,
julgando mal uma a outra. Neste ponto que deveria ser melhor tratado para
que acabe com esse pré julgamento de ambos. Não colocando o morador
de rua como um coitado, mas como uma pessoa que, na maioria das vezes,
por uma infelicidade, caiu e que precisa ser ajudada a se levantar. Jesus
mesmo ensinou isso.

Mas agir de forma correta dá muito trabalho e requer investimento,


coisa que muitos ministérios coloca em segundo plano, ou pior, tenta
terceirizar, alimentando o “vampirismo” de casas de recuperação, asilos,
entre outras. Quando digo “vampirismo” estou dizendo que o investimento
que deveria sera para os necesitados é dividido com o custo de
pagamentos de custos e pessoal, inclusive o sustento da diretoria em sua
família (o que é justo, mas errado). Assim como escrevi o livro “Missões,
uma obediencia a Deus ou a Homens” coloco o mesmo entendimento aqui,
a igreja precisa tomar frente a ação social em suas mãos e nunca permitir a
terceirização, aproveitando os profissionais que estão dentro de sua igreja.

Como envolver esses profissionais?

De uma forma que os pastores sabem fazer muito bem, a pregação


da palavra dentro do tema. Muitas vezes o Espirito Santo precisa pertubar
esses pastores nessa situação, permitindo a ação dos demonios para que se
apresente a necessidade. Por essa razão que já usei esse termo que em
alguns casos, o demonio, que não tem o poder da criatividade (que
pertence somente a Deus criador) é usado como manobra para cutucar os
lideres diante dessa necessidade. Na história da igreja vemos isso muito
claro, quando Pedro queria que quem se convertesse deveria vir a
Jerusalem, teve a famosa discussão de Paulo e Pedro quanto a esse
assunto, o mão de Deus mostrando a Pedro o lençol com animais para
comer e Pedro (o santarrão) se negando em favor de uma religiosidade,
então Deus permitiu que Roma se levantasse em perseguição a igreja para
que saisse de seu conforto para ir onde Deus queria que sua palavra
chegasse.

Muitas vezes os problemas aparecem na igreja, demonios se


levantam, com permissão divina (sempre) para que lideres saiam de seu
confortável pupito e escritórios, paara resolver situações que, caso não
resolvem, faz parar sua caminhada. E muitos ficam achando que o
demonio, em muitos casos não ajuda na obra.... (claro, deixando claro, que
acredito que Deus tem sempre o controle de tudo, somos nós que não
entendemos o agir de Deus).

O que pensar? O que agir? Como agir? Isso está claro, Deus
levanta pessoas inconformadas como eu para declarar uma mudança de
prisma e agir em favor da sociedade, pois a igreja é a única na terra que
tem o poder, através de Jesus Cristo, a mudar a vida das pessoas, mas para
isso precisam descer de seu pedestal, a exemplo de Pedro. De uma forma
ou de outra Deus está fazendo ler esse livro para tomar uma atitude.

Vamos trabalhar....
Fontes:

(1) Citação: Equipe editorial de Conceito.de. (29 de Junho de 2012).


Conceito de acção social. Conceito.de. https://conceito.de/accao-social.
(2) Autor: Cosme Santana Cardoso – Graduado em Farmácia-Bioquímica
pela UFBA. Especialista em Direito Sanitário pela Fiocruz/Brasília e em
Citologia Clínica pela SBCC. Bacharel em Teologia pela Faculdade Entre
Rios do Piauí - https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-
constitucional/a-responsabilidade-social-da-igreja-um-dever-legal-ou-um-
mandamento-biblico/
(3) https://observatorio3setor.org.br/observatorio-em-movimento/o-
mundo-em-acao/analise-de-impacto-para-projetos-sociais/
(4)
Conheça meus livros:

Neste livro que somente Neste livro é a tradução dos Um ebook promocional
termina quando eu for comentários da Bíblia Em provando que rádio web pode
arrebatado ou quando Deus Espanhol com os links dos produzir dinheiro assim como
desejar que me encontre com arquivos de áudio produzidos rádios comunitárias e
Ele, conto minhas experiências para rádio gratuitamente. comerciais.
de vida e ministério, bem como O maior livro que já escrevi até Para o Site de uma das
minhas caminhadas pelo o momento, depois de minha minhas escolas em EAD
campo missionário, atualizado biografia. Visite
anualmente. Visite www.estudioescolacomunica.
Visite www.navegandopelabiblia. Com.br
https://.minhascaminhadaspelo blogspot.com
mundo.
yolasite.com

01 -A História de um profeta 02 - A história do Profeta 03 - Deus não está


traído e como Deus usa este Jonas, o primeiro missionário preocupado se tem um terno,
relato para mostrar como as transcultural da Bíblia que foi ou dezenas, se tem um par de
pessoas até hoje prostituem a chamado a falar do julgamento sapatos ou 100. Mas isso
palavra de Deus. de Deus a uma nação inimiga, pode pesar na sua caminhada
Visite que fazia as piores e ministério.
www.ahistoriadeumtraido. atrocidades aos inimigos O maior problema de nossas
Webnode.com capturados e como a nação se orações é com que pedimos e
converteu. desejamos.
Visite Visite
www.amaiorhistoriadeamor. www.cuidadocomoquedeseja.
Webnode.com Webnode.com
04 - Todos deixaremos 05 - Um livro direcionado para 06 – Amizade e Lealdade em
lembranças, o grande cristãos. Uma parábola de tempos dificeis Em um
problema é saber como essas Jesus que mostra o quanto momento que vivenciamos a
lembranças serão marcadas. pecamos estando em Cristo luta pela catástrofe do
Um livro para refletir sobre sua que poderá impedir nossa CORONAVIRUS ou também
vida entrada no céu com Ele. chamada COVID19, a
Visite Para refletir amizade é provada até os
www.qualmarcaquevocedeixar Visite momentos mais cruciais
a. www.voceestacondenado. quando precisamos saber que
Webnode.com Webnode.com são os amigos e que não são.
Neste livro estarei
apresentando a problemática
da fraqueza de certas
amizades que alimentamos e
descobrimos se valem ou não
durante as
lutas. Boa leitura!
https://amizadeelealdade.webn
ode.com/

07 - Um dos detalhes mais 08 – O Conceito Missionário 09 – A Igreja antes e Pós


importantes que temos saber Missão é um encargo, uma pandemia
para onde estamos seguindo! incumbência, um propósito, Vários evangélicos brasileiros
Não saber para onde você é uma função específica que sentem uma tensão entre a
vai, de onde você vem, muito se confere a alguém para maneira tradicional de ser
menos o objetivo na vida é um fazer igreja e o que eles encontram
dos grandes problemas que algo, é um compromisso, um na Bíblia. Suspeitam que as
podemos criar em nossas dever, uma obrigação a formas da igreja local muitas
vidas para não ir para lugar executar. vezes não combinam com o
nenhum. https://oconceitomissionario que a igreja deve ser e fazer.
https://decisoesqueprecisa .webnode.com/ Um grupo de pastores
mosescolher.webnode.com/ concluiu recentemente que a
maioria das atividades das
igrejas brasileiras giram em
torno de quatro conceitos
centrais: o templo, o sábado
cristão, o culto e o clero. Na
verdade, somos mais
veterotestamentários do que
neotestamentários em nosso
pensamento sobre a igreja.
https://aigrejaantesepospan
demia.webnode.com/

010 – MISSÕES OBEDIÊNCIA 011 – ROMOÇÃO DE 012 – AÇÃO SOCIAL X


À HOMENS OU À DEUS. MISSÕES NAS IGREJAS IGREJA
https://missoesobediencia.web https://promocaodemissoesna https://acaosocialxigreja.webn
node.page/ sigrejas.webnode.page/ ode.page/

Séries que estou produzindo

As caminhadas do Mochileiro Série Minha Conversão a Cristo Série Meu Batismo com Espírito
Andarilho visitando cidades e Uma série de relatos de pessoas Santo.
países, contando suas pelo Brasil e mundo que contam Uma série de relatos de pessoas
experiências. como foi seu encontro com Cristo que tiveram a maravilhosa
Nome do personagem e autor são Jesus. experiência do batismo com fogo
fictícios. e poder do Senhor.
Veja os livros produzidos desta Visite Visite
série em www.minhaconversaoacristo. www.meubatismocomespiritosant
www.asaventurasdeyuricolombo. Webnode.com o.
Webnode.com Webnode.com

Série Minha Chamada


Ministerial.
O testemunho e relato de pessoas
que tiveram a experiência da
chamada para diversos ministérios
para o crescimento da igreja de
Cristo Jesus.
Visite
www.minhachamadaministerial.
Webnode.com

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