Você está na página 1de 24

1

Entender O Homem E Desvelar O Sentido Da Ação Social Max Weber


- 1864-1920
Rita Amélia Teixeira Vilela

O que a Ciência tem condição de mostrar ao homem é, em primeiro lugar o sentido


daquilo que ele faz, em segundo lugar o que ele racionalmente tem condições de fazer,
mas a Ciência não pode mostrar ao homem o que ele deseja e dizer a ele o que deve
fazer.

INTRODUÇÃO

A importância da obra de Weber para as mais diversas áreas das ciências sociais e
humanas é indiscutível. Nos cursos universitários nestas áreas, no Brasil, ele ocupa,
junto com Durkheim e Marx (na Alemanha também junto com outros), a tribuna
daqueles que merecem ser considerados os fundadores da sociologia. Na opinião de seu
intérprete alemão mais respeitado, Johannes Winckelmann, a grande contribuição
epistemológica de Weber -sua sociologia compreensiva como teoria das relações
sociais, e sua teoria política como sistema explicativo das relações de poder ou de
dominação, ambas construídas na prática ativa do cientista como acadêmico e como
homem público - é de tamanha magnitude que ainda hoje não foi suficientemente
analisada em toda a dimen-são que esta obra nos impõe. Como conseqüência, nem na
pró-pria Alemanha teria Weber o reconhecimento e o valor a que faz justiça
(WINCKELMANN, 1992).
Ainda segundo este weberiano, a obra de Weber, na medida em que, realmente, oferece
fundamentos para o entendimento das relações sociais e da estrutura da personalidade
humana sob as
dimensões política e econômica, dimensionadas para tempos, lu-gares e seres
específicos, desperta o interesse de pesquisadores de variados matizes. Portanto, ela tem
merecido inúmeras publica-ções, nem sempre fiéis ao conjunto organizado pelo próprio
teóri-co. Assim, as diversas edições intituladas "textos selecionados" que se propagam
pelo mundo, em diferentes idiomas, já apresentam um recorte dado pêlos organizadores
das coletâneas, o que evidentemente retraiam apenas as dimensões escolhidas que por
2

sua vez evidenciam as diferentes óticas de interpretação da obra (WINCKELMANN,


1992).
Essa circunstância já seria suficiente para indicar as dificuldades para o entendimento da
dimensão total da obra de Weber, constantemente dialogando com a política, com a
filosofia, com a sociologia e com a história, e recomendaria extremo cuidado aos
leitores e estudiosos que empreendessem a tarefa de compreendê-la. Entretanto, faz-se
necessário acrescentar outras situações, igualmente significativas, no processo de
dificultar (ou até mesmo deturpar) o entendimento da real dimensão do projeto
epistemológieo de Weber.
Uma delas é a célebre divisão, dentro das ciências sociais, entre "teorias sociais
marxistas" e "teorias sociais burguesas", produzida na discussão do marxismo europeu
nos anos 50, do que tem resultado uma insistente classificação de Weber como "teórico
burguês" e, portanto, reacionário, situação que tem definido atitudes de recusa da sua
obra antes da consideração do extremo valor de suas contribuições. Além disso, tal
rotulação não é apropriada, tendo-se em consideração sua ativa vida acadêmica e
política, ambas sustentadas pelo empenho absoluto para que o homem, sujeito histórico
e social, fosse engajado e responsável pelas relações sociais que podiam definir o seu
destino e o da humanidade. Não bastasse essa injustiça, tal demarcação acabou
orientando uma leitura parcial de Weber. Diversos de seus intérpretes privilegiam
alguns textos de sua obra que analisam as relações capitalistas e ainda descolam suas
análises do entendimento dado por Weber, ou do sentido que para Weber, teve o

estudo das relações sociais capitalistas: integra-da na totalidade de seu projeto teórico e
metodológico, o objetivo dessa análise era procurar o entendimento do homem e das
suas relações sociais sob as condições de vida na sociedade capitalista de seu tempo.
Diversos desses intérpretes têm-se dedicado ao exa-me de diferenças entre o
pensamento de Weber e de Marx, o que é correto, outros a tentativas de demonstrar
como Weber se contra-põe a Marx no sentido de refutá-lo ou recusar a teoria marxiana,
o que é incorreto, já que este não era o projeto de Weber, embora possa se considerar
como legítimo valer-se da teoria weberiana para criticar e negar algumas assertivas do
marxismo (SILVA, 1988).
Uma outra situação é conseqüência da nacionalidade do autor, tornando sua produção
disponível numa língua de difícil acesso e que, por isso, tem sido farta em traduções.
Sobre as implicações para a produção intelectual dependente de informações que são
3

disponibilizadas através de traduções, o próprio Weber, coerente com o seu projeto para
as ciências sociais, nos apresenta importante ponto de vista. Em seu texto introdutório
ao trabalho sobre a sua sociologia das religiões, ao registrar os limites do trabalho e
comunicar que suas conclusões eram provisórias e apenas hipotéticas, assinala que um
dos fatores que deveriam ser considerados na limitação do estudo que divulgava era o
fato de ter ficado submetido à condição de ter que usar traduções sobre algumas das
religiões que abordava. Segundo Weber, o cientista que ficar sujeito a usar informações
traduzidas de um idioma que ele desconhece precisa estar ciente que ele já está
trabalhando com informações modificadas, no mínimo selecionadas. Ele precisa estar
ciente que pode estar utilizando dados controversos e não os mais apropriados dentro do
conjunto infinitamente mais rico e maior das fontes originais, situação que ele próprio
não tem condições de avaliar (WEBER, VzR, p. 353). Essa é uma situação importante
sobre as nossas possibilidades de entendimento de Weber.
Se Silva e Winckelmann têm razão, os textos de Weber, dis-poníveis em tradução, já
operaram um recorte daquilo que nos é possível ler de sua monumental obra. É preciso
acrescentar a isso o fato de que uma tradução nunca consegue ser fiel ao original, já que
um idioma é produto social e expressa também formas de pensamento e de cultura. Um
texto traduzido é, portanto, apenas a comunicação literal possível daquilo que foi
pensado e escrito por alguém numa outra estrutura de pensamento - toda tradução é, em
certa forma, também uma interpretação.
Uma situação particular deve ser ainda mencionada acerca das traduções de Weber
disponíveis em português. Uma grande parte delas é originária de versão do inglês ou
do espanhol, e, portanto, já sofreu um processo anterior de interpretação. Temos
também tido acesso a traduções portuguesas e o que dissemos an-teriormente vale para
a situação do nosso idioma - é um em Portu-gal e outro no Brasil, o que, às vezes, nos
acarreta grandes dificul-dades de entendimento.
Não pode deixar de ser registrada ainda a grande dificul-dade para se lidar com as
traduções de Weber por ser sua obra produzida em alemão - um idioma igualmente rico
e difícil, com vocabulários e expressões verbais apropriados para determinadas áreas do
conhecimento, prefixos apropriados para si-tuações sociais carregadas de sentidos
diferentes, o que acarre-ta para leitores e tradutores inúmeras situações de dúvidas,
enganos e controvérsias.
Com estas observações gostaria de deixar claros a dimensão do texto que se segue e os
limites encontrados para produzi-lo para que, coerente com a lição do mestre, ele possa
4

ser aceito e entendido na sua provisoriedade. Ao procurar os textos de Weber escritos


em alemão escolhemos aqueles mais difundidos através das traduções disponíveis no
Brasil. Foram lidos com cuidado redobrado os parágrafos onde são apontadas
argumentações essenciais do teórico, e de onde são geralmente tomados trechos para
citações e que em algumas traduções encontravam-se por demasia simplificadas ou
mesmo deturpadas.
A intenção que orientou as leituras é a mesma que orienta a argumentação que se
pretende usar neste texto: procurar explicitar o projeto intelectual de Weber:

A Ciência Social que queremos praticar é uma Ciência da realidade concreta. O que
queremos é entender a singularidade da vida social, tal como ela nos apresenta e se
desenrola. De um lado queremos entender todas as relações concretas dos
acontecimentos sociais com a realidade social e cultural contemporâneas e, de outro
lado, queremos entender as causas históricas que definem que sejam dessa forma c não
de outra (WEBER, OSE, p. 212).

Dessa forma, o texto que se segue, como a maioria dos textos disponíveis que procuram
apresentar Weber e sua obra, usará, como recurso didático, a nomeação de algumas
categorias analíticas, não necessariamente nomeadas pelo teórico. Entretanto,
tentaremos manter a argumentação coerente com o projeto epistemológico de Weber -
procurar esclarecer por que, para ele, aquelas categorias têm o sentido que ele lhes
atribuiu e não outro. É esse o fio condutor que usaremos para tentar explicitar, em
Weber, algumas lições essenciais para que os educadores possam encontrar em sua
teoria social pistas para o entendimento da função social da escola e da educação.

Weber no seu tempo: entender o homem para entender eu projeto epistemológico

É possível entender a teoria social de Weber sem relacionar a sua produção com as suas
condições particulares, condicionadas histórica e concretamente na sociedade e no
tempo onde viveu? Esta seria uma questão típica da própria teoria weberiana: - o que
possibilitou a Weber edificar a sua teoria social e por que estas são "as suas
contribuições" e não outras?
Weber nasceu em 21 de abril de 1864 em Erfurt, em uma família da alta classe média.
Vários membros da família de seu pai eram empresários bem-sucedidos e juristas de
5

renome. O pró-prio pai era, quando Weber nasceu, um jurista respeitado, tendo se
tornado posteriormente um parlamentar influente em Berlim. A mãe de Weber vinha de
uma família com tradição intelectual: vários de seus familiares eram ativos em círculos
culturais e intelectuais, inclusive professores universitários. Weber (como seu irmão
Alfred Weber, também cientista social de projeção na Alemanha) foi iniciado bem cedo
em estudos de línguas e humanidades tendo recebido sua formação básica c secundária
em Berlim, entre 1873 c 1882, no ramo da escola de tradição humanista-intelcctual e
propedêutica ao ensino superior (das Gymnasium). Na sua formação universitária
dedicou-se simulta-neamente aos estudos de direito, administração, história, filosofia e
teologia. Casou-se também em família da alta burguesia inte-lectual. Sua mulher
(Marianne Weber) foi criada participando de círculos intelectuais e culturais como
sobrinha e cunhada de projetados professores universitários. Consta que foi sua grande
incentivadora e colaboradora e, posteriormente ã sua morte, a sua mais importante
biógrafa.
Weber viveu na Alemanha em momento histórico muito particular: em estado de
reorganização social (a transição do reino alemão para a República de Weimar). Viveu,
como homem, como cidadão e como político (Weber foi Constituinte e oficial do
exército alemão tendo atuado como administrador de um grande hospital durante a
Primeira Guerra), o processo de tentativa de consolidação de um Estado Federado e,
portanto sob uma particularmente forte onda de nacionalismo. Viveu a difusão do
marxismo dentro dos próprios matizes sociais oferecidos pelo legado deixado por Marx
- o marxismo doutrinário e o marxismo científico. Testemunhou o estágio de um
capitalismo diferente do estágio analisado por Marx, principalmente na Alemanha.
Viveu as mudanças sociais marcantes no continente europeu da virada do século e as
grandes rupturas sociais que produziram a Primeira Grande Guerra. No plano intelectual
conviveu com intensa controvérsia entre os paradigmas dominantes das ciências sociais:
o retorno às "ciências do espírito" (Geistwissenschaften); surgimento de um "novo
kantismo"; a presença permanente de Hegel; a penetração da crítica nietzscheana e o
auge da corrente sócio-histórica representada por Dilthey. Os círculos intelectuais na
Alemanha, essencialmente aqueles vinculados à área das ciências sociais e humanas,
enfrentavam uma reflexão aguda sobre a luta política e as perspectivas de transformação
social, juntamente com um processo que parecia ser continental (Durkheim na França)
de firmar a sociologia como ciência (questões de método e a discussão em torno da
objetividade e neutralidade).
6

Segundo Baumgarten nenhum desses fatores pode ser esquecido para entender Weber, o
homem, o político e o cientista social. De um lado, o político envolvido nos grupos que
aspiravam à formação de uma Nação Alemã, cujo poder deveria assegurar a
legitimidade dos ideais de justiça endireites sociais e com eles a vida digna dos homens
e a sua felicidade - nesta dimensão pode-se entender em Weber sua resistência aos
movimentos dogmáticos sustentados pelo marxismo, tanto da classe trabalhadora
quanto de círculos acadêmicos, pois, na sua ótica, o perigo do dogmatismo consistia em
prometer uma sociedade impossível de se consoli-dar na prática (via a sociedade
socialista preconizada pêlos mar-xistas como uma utopia) e comprometer o projeto
nacionalista da Alemanha porque as lutas e as cisões internas enfraqueciam o país
internamente e o colocavam em situação desfavorável no continente. Dentro desta
perspectiva, ainda segundo Baumgarten, pode-se entender por que Weber era contra a
política expansionista, primeiro de Bismark e depois de Guilherme II, e um fervoroso
defensor dos camponeses do leste alemão na questão agrária com a Polónia, que ele não
analisou apenas como uma questão de fronteira territorial e de soberania nacional,
analisando também como se davam as questões de vida social dos envolvidos,
oferecendo, em seus escritos, um verdadeiro tratado de análise das questões sociais do
momento"1. Do outro lado, o cientista, profundo conhecedor da filosofia alemã,
dialogando igualmente com Hegel, Nietzsche e so-bretudo com Kant, que é capaz de
conduzir uma reflexão contu-maz para provar a incompatibilidade da filosofia para dar
conta de explicar a sociedade e oferecer novas perspectivas de vida social porque ela
pretendia ser absoluta, universal e atemporal. É sobre-tudo em Dilthey (1833-1911) que
Weber toma a sustentação para seu projeto de contrapor ao pensamento filosófico uma
teoria soci-al concreta. Ao firmar uma corrente de análise hermenêutica histórico-social,
Dilthey se projeta como um "filósofo social" embora fosse filósofo (ocupava na
Universidade de Berlim a cátedra de filosofia antes ocupada por Hegel) e assume lugar
importante como precursor da sociologia na Alemanha. Para Dilthey, a interpretação do
mundo no seu suceder histórico, através dos processos sociais vividos pêlos homens
seria a condição básica para entender a so-ciedade construída pelo homens. O método
de investigação que leva ao conhecimento da realidade social deve, portanto, substi-tuir
os conceitos formados pela razão (como na tradição da filo-sofia) pela busca de
esclarecimento (interpretativo) com base na compreensão das relações do social com a
7

história. Coerente com sua identificação com essa nova corrente, Weber procura
aprimo-rar sua formação sociológica. Forma com Simmel (1858-1918), Tónies (1855-
1936) e Sombart (1863-1941) um grupo seleto de cientistas sociais para tentar dar
estatuto à nova disciplina, e, neste grupo, enfrenta as grandes polémicas das ciências
sociais em torno das questões teóricas e metodológicas. Com eles edita a partir de 1903
a revista Arquivos de detidas Sociais e Sociologia Política, e com o último cria em 1909
a Sociedade Alemã de Sociologia (BAUMGARTEN, 1992).
Sua vida profissional foi marcada por irregularidades devido a questões de saúde que,
por diversas vezes, lhe afastaram do exercício de suas atividades de professor e
pesquisador. Como profissional sempre esteve dividido entre a Ciência e a Política
embora ele próprio tenha sempre se declarado como intelectual.
Na avaliação de Winckelmann, o que se destaca em Weber pode ser resumido em duas
grandes características: ter sido pioneiro na ciência social empírica e um grande
pensador que almejava descobrir a verdade nas relações sociais. Como pensador, ele
encarnava duas dimensões no relacionamento com o conhecimento - "pensou como
político; foi cientista com olhar de político e foi político com o olhar do cientista", além
disso, ética e tolerância foram características que se mantiveram constantes na sua vida
particular e profissional (WINCKELMANN, 1992, p. IX).
Como intelectual do seu tempo, dialogou com o marxismo como cientista - querendo
entendê-lo como teoria social, almejava completá-lo e não refutá-lo. Como professor
universitário, consta que foi pioneiro na promoção de Marx como cientista social,
levando suas teses para o ambiente universitário e abrindo espaço para a discussão
acadêmica e científica das mesmas, que ele declarava serem "geniais". Consta também
que conviveu com vários marxistas (teria sido professor de Georg Luckács e
companheiro profissional de Eduard Bernstein na Universidade e no Partido Social
Democrata - SPD -, que ambos ajudaram a fundar), além de ter sido ardoroso defensor
de socialistas contra a perseguição nas instituições universitárias (negação de cadeira
para lecionar). Há biógrafos que assinalam que viveu em conflito entre largar a
atividade acadêmico-científica e ingressar ele mesmo nos movimentos sociais
revolucionários, tamanha era sua angústia diante das irracionalidades produzidas pelo
capitalismo (HENR1CH, 1988).
Não é, portanto fortuito que Weber tenha desenvolvido sua teoria social tendo como
foco de análise a sociedade capitalista do seu tempo e tomando a obra de Marx como
interlocutora. É o en-tendimento dessa interlocução que deve e pode orientar um
8

enten-dimento correto de sua obra, isentando nossas análises de uma to-mada prévia de
partido diante dela, sustentada apenas por posição ideológica.
Num certo sentido, as premissas marxianas podem explicar o caminho tomado por
Weber. O próprio Engels, ao tentar refutar acusações de que sua (e de Marx) teoria
social excedia no valor atribuído ao peso das determinações econômicas nas relações
sociais, apresenta-nos uma argumentação brilhante para podermos entender Weber:

(...) Segundo a concepção materialista da história, o fator que em última instância


determina a história da produção e a reprodução da vida real é o econômico. Nem Marx
nem eu afirmamos mais do que isto. Se alguém nos deturpa dizendo que o fator
econômico é o único determinante, converte nossa proposição numa frase vazia,
abstraia e absurda. Afirmamos tão-somente que a situação econômica é a base rnas não
deixamos de reconhecer que diversos outros fatores da superestrutura (as formas
políticas da luta de classes e suas conseqüências, Constituições e Regimentos
elaborados e sancionados pela classe vitoriosa, diferentes formas jurídicas de regulação
da vida social e, mesmo os reflexos de todas essas lutas reais nas cabeças de seus
participantes, transmudadas em teorias políticas, jurídicas, filosóficas e até em doutrinas
religiosas, tanto na sua gênese quanto na forma de sistemas dogmáticos nos quais se
converteram) exercem igualmente a sua ação sobre o curso dos processos históricos, e,
em muitos casos, podem ser predominantes na determinação de sua forma I...] O que eu
e Marx ressaltamos em nossas afirmações é que somos nós. sujeitos históricos c sociais,
quem definimos o curso das nossas vidas e que nós o fazemos, em primeiro lugar, de
acordo ou condicionados por situações muito concretas e estas são, em última instância,
as de ordem econômica [...] Mas não deixamos de reconhecer que também
desempenham papel muito importante, mesmo que não a.s consideremos decisivas, as
condições políticas e ate as tradições culturais de toda ordem que se alojam como
fantasmas nas cabeças dos homens (ENGELS, 1890, In. Marx; Engels, 1979, p. 456-
457). Os grifos são nossos.

Engajado socialmente na luta social de seu tempo, Weber busca na própria teoria
marxiana e no marxismo do seu tempo os elementos para construir sua teoria social:
descobrir e explicar quais os fantasmas se alojam na cabeça dos homens, como o fazem,
por que e sob quais condições, quais as suas conseqüências.
9

A sociologia compreensiva no centro do projeto epistemológico de Weber

Entender a Sociedade - entender a ação do homem. Esta foi a premissa fundamental de


Weber para desvendar o sentido da vida social ou das relações dos homens na sociedade
e que, portanto, determinam sua postura metodológica e a sua orientação teórica. Como
na passagem já citada anteriormente, o fio condutor de Weber está na sua afirmativa:
Die Sozialwisssenschaft, die wir treiben wollen, ist eine Wirklichkeitwissenschaft - "a
Ciência Social que queremos praticar é uma Ciência da realidade concreta" (WEBER,
OSE, p. 212).
Aqui está o ponto de partida para entender, segundo Baumgarten, o projeto
epistemológico de Weber. Na afirmação deste estudioso, embora esta premissa perpasse
toda a sua produção, ela está brilhantemente delineada no ensaio publicado em 1913
com o título de Über einige Kategorien der verstehenden Soziologie (Sobre algumas
categorias da sociologia compreensiva) e objetivamente retomada em dois outros
ensaios: Die "objektivitaí" SozialwissenschaftlicherErkenntinis e DerSinn der
"Wertfreiheit" der Sozialwissenschaten, respectivamente: A "objetividade" do
conhe-cimento social e o sentido da "neutralidade" nas ciências sociais (observar que
Weber grafa entre aspas as palavras objetividade e neutralidade). Entretanto, para o
mesmo Baumgarten, a obra-prima de Weber, onde o seu projeto epistemológico está
evidenciado e, inclusive metodologicamente demonstrado, é Wirtschaft und
Gesellschaft: Gntndrizz der Verstehenden Soziologie, também es-crita em 1913, onde,
no capítulo introdutório (Wirtschaft und Gesellschaft im allgemeinen), Weber nos
apresenta em apenas vinte páginas, até hoje sem similar na história das Ciências Sociais,
a mais densa e criativa proposição da sua sociologia, a explicação do processo de
construção social pêlos homens, de seu modo de vida e de suas instituições, nas suas
relações entre eles e com o mundo material, ou seja. na ativa, intencional e racional ação
social (BAUMGARTEN. In. WINCKELMANN, 1992, p. XXI).

Uma pista essencial para apreender a matriz teórica de Weber está no entendimento da
sua vinculação ao "novo kantismo", que poderia ser tomado como "a moda" nos
círculos intelectuais da Alemanha, como o foi a ligação com Hegel no grupo ao qual
Karl Marx se vinculou anteriormente (Marx e os Jovens Hegelianos). O próprio Weber
teria se declarado adepto desta corrente e dois de seus representantes mais
significativos, W. Windelband e H. Rickert, teriam sido referências mestras nas
10

discussões de Weber acerca das diferenças entre ciências naturais e ciências sociais,
fornecendo ao nosso mestre os elementos fundamentais para defender sua sociologia
como uma "ciência da cultura" (BAUMGARTEN, In. WINCKELMANN, 1992, p. XII).
A especificidade de uma análise das condutas humanas impregnadas de sentido,
motivos e significados particulares para os sujeitos envolvidos (sinnvollen sozialen
Verhalten = Verhandeln - resultado das suas Wirtschaften (substantivo) e suas formas
de virstschafíen (verbo), em contraponto às ciências da natureza, evi-dencia, na obra de
Weber, as lições de uma "filosofia social", e sua clara identificação com o novo
kantismo. Assim, as duas matrizes kantianas: (a da irredutibilidade do ser ao saber e a
separação entre juízos de valor e juízos de fato) e a indiscutível subordinação do objeto
de conhecimento aos sujeitos sociais, os pilares do novo kantismo, servem a Weber na
construção de sua matriz para des-vendar a realidade social: Compreender; explicar e
interpretar a realidade de seu tempo, considerar as chances determinadas
his-toricamente e possíveis de serem conhecidas através da análise de uma cadeia de
relações históricas e culturais, empiricamente de-monstradas, este foi o projeto
epistemológico de Weber. Para ele, a ciência havia se tornado uma prática social
produzida na sociedade ocidental na busca premente de uma racionalidade de ordem
técni-ca e de ordem teórica, uma arte de agir com sentido, cada vez mai-or e cada vez
mais necessária para tornar possível a vida dos ho-mens com eles e entre eles. As
ciências sociais não podiam ter um projeto diferente.
É, portanto, como "novo kantiano" que Weber teria lido Marx e é nesta leitura de Marx
e na sua declarada insatisfação com a teoria marxiana para dar conta de explicar a
autonomia dos sujeitos nas relações sociais, associada à sua posição, também declarada,
de resistência aos movimentos sociais marxistas, que ele avalia como dogmáticos, que
Weber busca as motivações para desenvolver sua teoria. De acordo com
BAUMGARTEN (l 992), algumas teses do "jovem Marx" são o ponto de partida de
Weber. Para Marx:

o idealismo toma a realidade como um processo edificado na cabeça dos homens,


constrói dela imagens abstratas e as querem impor na vida dos homens. Nós queremos e
devemos conceber a realidade como acontecimentos reais produzidos por homens reais
como conseqüências de suas ações, de sua prática como sujeitos históricos (MARX,
citado por BAUMGARTEN, In. WINCKELMANN, 1992, p. XXVII).
11

Weber, como uma considerável ala das ciências sociais de seu tempo, na Alemanha,
considerava esta a grande premissa, ou o embrião promissor para consolidar a
sociologia como uma ciência da realidade concreta. Numa direta ligação e aceitação
dessa premissa marxiana, Weber defende a sociologia como "Wissenschaft vom
menschlichen Haiuleln " (ciência da ação humana), na medida em que seria dotada da
possibilidade de explicar o sentido das relações dos homens orientadas para os outros
homens e a sua produção cultural (material e política). Explicara sentido, da ação
humana, esta era a chave de Weber. Explicar o sentido seria buscar (descobrir e
nominar) e esclarecer os significados subjetivos que na cabeça dos sujeitos ativos nas
relações sociais definem sua conduta e produzem as conseqüências da ação. Por isso é
correto afirmar que a sociologia weberiana construiu, no seu núcleo, uma teoria da ação
social - não uma teoria sobre as ações objetivas diretas (como a conduta manifesta ou
expressa), nem uma teoria sobre manifestações de comportamento sustentadas por
visões metafísicas sobre a realidade, nem uma teoria para explicar as causas
inconscientes da conduta, mas sim, uma teoria da ação social que colocou no núcleo o
sentido particular que mobiliza cada sujeito social a agir de uma forma e não de outra".
Nesse sentido é possível entender onde e por que Weber se distancia de Marx. A
premissa marxiana de que é o homem, dotado de conhecimentos e de ferramentas, quem
constrói a sua realidade social, sendo capaz de agir sobre a natureza, interferir nela e
introduzir mudanças, é a mesma encontrada na obra de Weber. Entretanto, diante da
explicação monocausal de Marx, que considera o grau de possibilidades de ação dos
homens condicionado pêlos determinantes econômicos desdobrados das relações de
produção vigentes na sociedade, Weber apresenta as seguintes questões: Com que grau
de liberdade os homens podem agir para superar os determinantes de ordem econômica?
Com que processos particulares eles se organizam para dominar a natureza e edificai-os
caminhos da vida entre eles? Quais as chances de destino social se colocam para os
homens que estão sujeitos a formas específicas de soberania política, de relações de
poder, de relações racionalizadas de produção, de processo político e de direito social?
Esses são, portanto, os temas das análises de Weber (BAUMGARTEN, in WINCKELM
ANN, 1992, p. XXXI).
É com esse entendimento do "projeto weberiano" que nos é possível apresentar e
discutir algumas de suas categorias analíticas que têm merecido a atenção dos autores
das obras de ciências sociais, tanto entre intérpretes de Weber quanto entre editores de
partes selecionadas de sua obra (Concepção de homem e de sociedade, Categorias da
12

análise social, Categorias de estratificação social, Capitalismo e religião, Sociologia do


poder).
Em especial, esse entendimento é fundamental para se compreender principalmente o
trabalho Wirtschaft und Gesellschafi: Grundrizz der Verstehenden Soziologie (traduzido
como Economia e sociedade) no qual Weber procurou apontar as respostas às suas
questões (como o homem conduzia seu destino sob as condições de existência)
procurando apreender e explicitar os sistemas sociais e intelectuais da sociedade
capitalista do seu tempo nos seus traços singulares.
No texto que introduz a obra Wirtschaft und Gesellschaft im Allgemeinen ("Economia"
e Sociedade em geral), cujo título ainda acopla um longo subtítulo Wesen der
Wirtschafts, wirtschaften.de und wirtschaftsregulierende Gemeinschaft (Natureza da
"Economia" e da organização social produzida e regulada), Weber nos apresenta a mais
profunda discussão do funcionamento da ação social dentro da sociedade/€àpitalista de
seu tempo. Estamos grafando a palavra "Economia" entre aspas porque, na discussão
que se segue, esperamos também conseguir assinalar a impropriedade da tradução
generalizada do vocábulo Wirtschaft para economia, o que acaba fortalecendo o fator
econômico como determinante da organização e da ação social, exatamente o que
Weber queria evitar e que deixa claro nesta obra.
No primeiro parágrafo do texto, Weber anuncia que não usará o termo em nenhum dos
sentidos usuais a que se presta na língua alemã e anuncia enfaticamente sua definição:
...sondem sind (na frase refere-se a Wirtschaften já no plural) zweckrational orientierte
Technik. Totalmente sem sentido a tradução literal da frase: uma técnica orientada
racionalmente. O que queria dizer Weber usando o termo "técnica"? No alemão, além
do termo usual, também entre nós, de técnica como conjunto de meios e processos
gerais para se processar atividades (apesar de que na linguagem corrente não é usa-do o
termo latino Technik usado por Weber mas sim o alemão Minei), a palavra tem um
outro sentido e quando é usada tem uma outra conotação muito precisa: é a arte de usar
(saber escolher e saber aplicar) os melhores meios para se conseguir os melhores
resultados em empreendimentos, é a arte de usar meios racionalmente escolhidos para
fins determinados para que esses sejam obtidos com a maior eficiência. Em várias
passagens de sua obra, não apenas no texto acima, Weber insiste que não quer reduzir o
entendimento do que trata como Wirtschaft às práticas dos homens nos setores da
economia e com finalidades tipicamente económicas (conceito para o qual Weber usa os
13

vocábulos latinos Okonomie e ókonomisch) e que esta é apenas uma das dimensões
daquilo que trata como Wirtschaft".
O entendimento do conceito de Wirtschaft é de fundamental importância para entender
o conjunto da obra de Weber e, em especial, os textos destinados à análise do
capitalismo e das relações sociais capitalistas. O que Weber pretende anunciar na
apropriação deste vocábulo junto com o vocábulo designador da organização social
(Gemeinschaft) formando o título do seu ensaio não é nada mais nada menos do que
precisar que não vai discutir a sociedade capitalista, sua organização social e seus
mecanismos como na teoria marxiana (as relações de produção como determinantes dos
lugares dos homens na hierarquia social e da conduta dos homens), mas que pretende
exatamente inverter essa relação: como os homens, agindo racionalmente para fins
específicos e determinados, intencional e conscientemente, de posse de meios
escolhidos racionalmente, se organizam para produzir relações sociais particulares,
entre elas o próprio capitalismo e conseqüentemente as relações sociais capitalistas. Seu
objeto de análise é, portanto, o conjunto das instituições sociais produzidas pelos
homens em processos de relação entre eles e com o mundo material. É dessa premissa,
Wirtschaft, não como economia, mas como o espírito da mais alta racionalidade, como
propriedade dos homens organizados na sociedade, e presente nos processos em que os
homens se envol-vem para organizar sua vida social e edificar as suas instituições, é que
podemos entender o alcance do projeto weberiano: o objetivo da ciência social
(sociologia) é compreender a "existência vivida". Para Weber, em essência:

a vida humana é feita de urna sucessão de escolhas circunstanciais c determinadas


historicamente e com as quais os homens edificam um conjunto de valores. A ciência
social, a ciência da cultura, almeja reconstruir e compreender as escolhas humanas com
as quais um universo de valores-o capitalismo, a sociedade capitalista, as suas
instituições e as relações sociais sob as condições de vida sob o capitalismo, foi
edificado (Weber, BW p. 316).

Esta é a lógica que permite a Weber apresentar sua análise da sociedade capitalista
(forma de organização, estratificação social e de ação social, formas de dominação,
organização racional e burocrática) que se encontra sobretudo em alguns dos seus
trabalhos bastante divulgados entre nó.
14

Podemos resumir a dimensão da sociologia compreensiva de Weber em quatro grandes


características: substituição da abordagem filosófico-social pela análise empírica;
introdução, na análise social empírica, do conceito de "chances" - o que lhe possibilitou
substituir uma concepção estática de explicação do social por uma explicação dinâmica
(a existência social não é, ela pode ser); no plano metodológico a construção dos tipos
ideais como recurso heurístico; ter firmado a possibilidade de a ciência social
desenvolver e apresentar análises não valorativas.
A título de síntese, apresentamos a seguir algumas categorias essenciais da teoria de
Max Weber, geralmente tomadas para explicitar seu pensamento e que gostaríamos de
anunciar, coerente com sua condição de síntese, apenas como "algumas lições"
weberianas. Para não extrapolar a condição deste ensaio, tendo-se em vista sua
finalidade, não reproduziremos definições das categorias aqui relembradas, elas devem
ser buscadas diretamente na obra do autor (ver nota 13).

"Algumas lições" weberianas:" Sociedade, religião e capitalismo

Weber procurou apreenderes sistemas sociais e intelectuais da sociedade capitalista do


seu tempo nos seus traços singulares -pretendeu desvelar como as diferentes atitudes
religiosas exerceram influência sobre a conduta dos homens, notadamente sobre sua
conduta econômica. Ao demonstrar a “ética protestante" como o "espírito do
capitalismo", pretendeu demonstrar como a conduta humana é orientada em função de
uma visão geral de mundo, tomando, como recurso heurístico, a ética protestante.
Os estudos de Weber sobre religião centram-se em dois grandes problemas: o primeiro é
histórico - em que medida certas seitas protestantes, ou, de modo mais geral, o espírito
protestante, influenciaram a formação do capitalismo? O segundo é sociológico e
também de ordem teórico-metodológica - em que sentido a com-preensão das condutas
econômicas exige a referência às crenças religiosas e aos sistemas sociais do mundo dos
atores? Para Weber, não há cisão entre o homem econômico e o homem religioso
porque é em função de uma ética determinada (no caso a religiosa) que o homem
econômico define a sua ação e, conseqüentemente, a sua forma de vida.
Portanto, Weber não pretendeu opor, à causalidade das forças econômicas (como em
Marx), a causalidade de forças religiosas. Weber não defendeu a religião como causa
determinante do desenvolvimento do capitalismo, não quis substituir a tese de Marx da
determinação de ordem econômica na condução do destino dos homens por uma "causa
15

religiosa". Weber pretendeu demonstrar que a representação religiosa da existência, a


visão de mundo que ela desenvolve e a forma de conduta humana por ela engendrada é
uma das causas do capitalismo, portanto tem chances probabilísticas de explicar a
gênese e a consolidação dessa forma de organização social. Sua conclusão foi, e nada
mais do que isso, que o surgimento do capitalismo, ou seja, de uma racionalidade da
produção (como organização humana) tendo por objetivo uma produção crescente e
racionalizada (organização dos elementos essenciais à produção e obtenção do lucro)
exigiu uma atitude humana à qual uma moral ascética, do protestantismo calvinista, deu
sentido.
A ética protestante impôs ao crente a desconfiança com relação aos bens deste mundo, o
que o levou a adotar um comportamento ascético. Trabalhar racionalmente tendo em
vista o lucro, e não gastá-lo, foi, por excelência, uma conduta necessária ao
desenvolvimento do capitalismo, sinônimo do reinvestimento contínuo do lucro não
consumido, portanto o excedente, o que poderia ser uma explicação para o processo de
acumulação de capital. Além disso, estudando as religiões, Weber "descobre" situações
particulares de conduta religiosa no calvinismo, condutas não presentes em outras
religiões, e indica que estas particularidades poderiam ser explicação da existência do
capitalismo tal como ele se manifestava. Seriam elas: abolição de ritualismos
tradicionais -o calvinismo desenvolveu uma pratica religiosa racionalizada diferente da
prática engendrada por outras religiões decorrentes de visões de mundo contemplativas
e espiritualistas que sugeriam ao crente esperar salvação na providência divina e na vida
junto de Deus; o calvinista assumiu ter que trabalhar para ser bom diante de Deus, com
o que estabeleceu o rompimento com a esperança de uma vida celeste e melhor após a
morte, resultando na ênfase da conquista da salvação "aqui e agora" pelas virtudes da
religião e do trabalho. Em consequência, o calvinista levava uma vida sem prazeres
mundanos, virtuosa e dedicada ao trabalho, situação que beneficiou a acumulação
capitalista.
De posse dessa argumentação, pode-se identificar a lógica da teoria weberiana na sua
Sociologia das religiões - para compreender uma sociedade ou um tipo de existência
humana é necessário identificar sua lógica implícita, a partir de suas concepções
metafísicas ou religiosas (capitalismo no Ocidente, outras sociedades com suas práticas
religiosas e suas organizações sociais e económicas - China, índia e judaísmo primitivo
- foram as escolhas de Weber).
16

Teoria social

O homem e a conduta humana estão, como já foi dito, no eixo epistemológico de


Weber. Essa afirmativa é fundamental para entender a natureza da concepção social de
Weber e o que nela confirma o seu distanciamento das teses de Marx e a particularidade
da sua concepção teórica.
Weber rejeita o método marxiano, nega, ao método de Marx, o materialismo histórico, a
função de ser fonte de explicações monocausais de determinantes também monocausais
para os fenômenos sociais (as relações de produção do capitalismo determinando as
relações sociais). Deste modo, na teoria social de Weber está a tentativa de assinalar que
existem explicações pluricausais para o capitalismo, como organização social e para as
formas de relação dos homens sob essa forma de produção. Weber, como Marx, analisa
as relações entre base e superestrutura, mas o que ele analisa são as relações dos homens
com o modo capitalista de produção.
Sobre a gênese do capitalismo, Weber procura descobrir como se deu sua produção
histórica, demonstrando sua passagem por fases ou tipos diferenciados até precisar a
singularidade do capitalismo industrial moderno - aqui concorda com Marx ao localizar
a unidade fundamental básica desse tipo de sociedade no modo de produção e não nas
finanças (como ocorria com os economistas clássicos). Mas o foco de análise é como os
homens (individuais e culturais) aluaram especificamente na construção desta forma
econômica.
Distancia-se de Marx ao desinteressar-se do estudo dos problemas da dinâmica do
capitalismo (ciclo econômico, crises, perspectivas de superação da luta de classes pela
superação do modo de produção). Weber se orienta para o estudar e explicar a
racionalidade da sociedade capitalista industrializada (a sua Wirtschaft). Para Weber, o
capitalismo moderno seria a forma mais elevada de operações racionais a que os
homens foram capazes de chegar, embora reconhecesse que a situação de vida social no
continente europeu de seu tempo dava mostras de uma crescente e irresponsável
irracionalidade (HENRICH, 1988).
Diferencia-se de Marx no tratamento analítico das classes sociais: Para Marx, se
opunham basicamente duas classes básicas -os proprietários dos meios de produção (os
capitalistas) e os proprietários da força de trabalho (trabalhadores), o que constituía, na
sua sociologia, uma classificação objetiva da estratificação no capitalismo, sustentada
pela relação renda/lucro e salários, posse/ não posse de meios de produção. Assim,
17

donos de terra e empresários, e os trabalhadores conformavam o modelo de


estratificação soei ai.
Weber introduz uma classificação subjetiva de estratificação na sociedade capitalista,
dando atenção aos diferentes traços desses mesmos grupos indicados por Marx - assim
inclui os políticos, os intelectuais e os diferentes tipos de empresários e de
trabalhadores. Aplica uma outra interpretação dos agrupamentos sociais, extrapola o
determinante econômico (propriedade ou não de bens de produção no mercado) e
apresenta uma classificação também considerando outras propriedades existentes nos
conjuntos de agrupamentos humanos (de ordem cultural principalmente). Retoma a
classificação dos grupos sociais em tipos de sociedades anteriores ao capitalismo, e se
vale das características dos "estamentos" (Stand) para demonstrar que, na sociedade
capitalista do seu tempo, as classes sociais reais comportavam características também
dos estamentos".
Portanto, não era apenas o lugar social na ordem econômica que definia as chances de
ação social dos sujeitos.
Na definição de Weber, caracteriza ou define uma situação estamental:

um conjunto de situações que demarcam um modo de vida: maneiras formais de


educação e convivência social, uma conduta racional c posse de formas de vida
correspondentes, prestígio social hereditário ou de grupo (profissional, títulos
familiares, por exemplo). A situação estamental se expressa através dos modos de vida
típicos relacionados com convenções do grupo e com formas particulares e privilegiadas
de ser e de agir, inclusive de formas de apropriação de bens materiais e culturais
(WEBER, EWR, p. 439).

Mas a sociedade que analisava naquele momento não era organizada com base em
estamentos, embora marcas de conduta estamental fossem encontradas nas relações
sociais:

A sociedade atual é na sua forma predominante, uma sociedade de classe, e, mais


especificamente, definida pela propriedade ou não de bens de produção. Mas essa
mesma sociedade comporia igualmente tantas outras classes definidas por situações
específicas de posse como nas situações estamentais, que só aparentemente podem ser
explicadas pela detenção ou não de monopólio econômico, como é o caso da situação
18

social na Alemanha daqueles que são portadores de diploma e outras formas de


prestígio social (WEBER, EWR, P. 439).

Portanto, para Weber, o entendimento de "situação de classe" é coerente com sua lógica
de explicação dos sujeitos agindo e interagindo na sociedade, não apenas em processo
de produção e reprodução de sua vida material. Classe é tomada por ele como um
"conjunto de probabilidades típicas: provisão de bens - posição externa e sentido
pessoal na organização social. A sua classificação das classes tem três categorias: classe
proprietária, classe lucrativa e classe social. Neste sentido, ao usar classe social, já não o
faz no mesmo teor da teoria marxiana. Situação de classe (no sentido econômico
aceitando a classificação marxiana) e classe social, indicam, para Weber, situações
típicas de condições de existência de sujeitos sociais, que se encontram juntamente com
muitos outros iguais ou semelhantes.
Weber não negou os conflitos de classe, mas os explica, com outros fatores e com base
no argumento de causalidades múltiplas: a luta de classe não é o único e sozinho, o
motor de mudanças sociais. Outros fatores, do mercado e do sujeito, surgem como
favoráveis às transformações - contribuem para o rompimento das ordenações
precedentes na sociedade
Na sua teoria social, não há lugar para a luta de classes na perspectiva marxiana como
explicação causal para a gênese do capitalismo, pois os determinantes econômicos estão
também marcados pela ação dos homens.

Teoria social, conduta científica e papel da ciência

Para Weber, as conclusões oferecidas pelas ciências são parciais e não globais;
comportam um caráter de probabilidade e não de determinação necessária. Sua teoria
social exclui a possibilidade de que um elemento da realidade seja considerado como
determinante dos outros aspectos da realidade, sem ser também influenciado por eles.
Neste aspecto, demonstra como se distancia do materialismo histórico.
Nessa rejeição da determinação do conjunto da sociedade por um só elemento, rejeita
também a possibilidade de que o conjunto da sociedade futura seja determinado a partir
de certas características da sociedade presente. Analítica e parcial (essa a grande
diferença com a teoria marxiana), a teoria social weberiana não permite prever como
seria a sociedade capitalista do futuro. Apesar de convencido de que o processo de
19

racionalização e de burocratização continuariam, esta evolução não seria suficiente para


definir ou predizer como seriam os regimes políticos e nem a maneira de viver, de
pensar e de agir dos homens. É essa concepção que alimenta também a sua conduta de
cientista.
As conclusões das ciências sociais têm validade como "relações causais" e não como
"determinações causais" - essa é a perspectiva da sociologia que a diferencia da história.
Como ciência da sociedade e da cultura, a sociologia é compreensiva e causal. A relação
de causalidade sozinha não define o caráter da sociologia porque, dependendo do caso,
a relação causal pode ser histórica ou sociológica. O historiador procura explicar as
relações causais numa única conjuntura, o sociólogo procura estabelecer relações
compreensivas de sucessão (em cadeia) e de probabilidades. A ciência da cultura e da
ação humana (a sociologia) é, em síntese, a reconstrução (histórica) c a compreensão
(sociológica) das escolhas humanas pe-las quais um universo de valores foi edificado.
Os estudos de Weber sobre o capitalismo e sobre religião constituem modelos perfeitos
da sua própria metodologia e da teoria que edificou.
Definindo a sociologia como a ciência que procura com-preender a ação social, que
deve entender o sentido que o ator dá à sua ação, a "ciência weberiana" pode ser
caracterizada pelo esforço que empreendeu para elucidar e explicar os valores aos quais
os homens aderiam, e as obras (instituições) que construíram (sociologia
compreensiva).

Deve-se entender por sociologia - no sentido aqui aceito desta palavra, empregada
usualmente com diversos significados - uma ciência que pretende entender,
interpretando-a, a ação social para, desta maneira, explicá-la em seu desenvolvimento e
efeitos. (WEBER, OSE, p. 192). -Os grifos são nossos.

Assim, o cientista social deve se preocupar com a análise das especificidades das
infinitas relações que se dão nos grupos sociais estabelecidos e hierarquizados; deve
entender e aceitar que a sociologia procura e demonstra causalidades, não
determinações, que ela constrói conceitos-tipo que podem lhe mostrar como o real
acontece e deve empenhar-se para "encontrar as regras gerais do acontecer" (WEBER,
SWV, p. 251).
Dessa perspectiva desdobram-se algumas regras que devem orientar a conduta
científica: considerar, primeiramente, que a ciência, no estágio atual na sociedade
20

(nunca foi assim antes -falando de sua época) é resultado do estágio de racionalização
da atividade social (a ciência é positiva e racional); nenhuma ciência poderá dizer aos
homens como devem viver ou ensinar à sociedade como deve se organizar (diverge de
Durkheim); nenhuma ciência poderá indicar à humanidade qual será o seu futuro, pois
este não pode ser predeterminado. O homem terá sempre a liberdade de recusar o
determinismo de condições específicas ou particulares, assim como a possibilidade de
se adaptar a ele de diferentes maneiras (distancia de Marx).
Do ponto de vista metodológico, o conhecimento sobre a realidade só pode ser obtido e
afirmado em termos de chances, de probabilidades. Todo conhecimento da realidade é
apenas probabilístico, toda explicação é relativa e provisória.

Relação entre o cientista e a pesquisa

A ação científica é uma ação racional por excelência. É racional com relação a um
objetivo - busca a verdade. O cientista se propõe a enunciar proposições factuais,
relações de causalidade e interpretações que sejam universalmente válidas. Mas é
também racional com relação a um valor, porque o cientista parte de um juízo de valor -
ele se mobiliza para a investigação a partir de um julgamento sobre o valor da verdade,
demonstrado pêlos fatos ou por argumentos. O respeito do cientista para com as regras
da lógica e da pesquisa assegura que os resultados encontrados sejam válidos.
Segundo Weber, as ciências humanas são animadas e orien-tadas por questões dirigidas
à realidade social, e, assim, o interesse das respostas depende do interesse das questões.
Weber não consi-dera "mau" ou "negativo" que cientistas que estudam determinado
fenômeno tenham interesse pessoal por ele - assim, o político pode investigar questões
de política e o religioso questões de religião. A orientação metodológica é que deve
preservar a imparcialidade. A racionalidade científica resulta do respeito do cientista
para com as regras da lógica e para as regras da pesquisa. A essência da Ciência é a
sujeição da consciência aos fatos e às provas. A orientação metodológica é que vai
preservar a imparcialidade do cientista, o seu distanciamento para ver e tratar o
problema cientificamente. Assim, a relação parcialidade x imparcialidade é uma questão
de conduta científica. Como superar os riscos do envolvimento cientí-fico com o
objeto? Para Weber, é preciso ter o senso de interesse daquilo que os homens viveram
para compreendê-los autenticamente; mas é preciso distanciar-se do próprio interesse
21

para encontrar uma resposta universalmente válida a uma questão inspirada pelas
paixões do homem histórico (WEBER, BW, p. 353).

Weber e educação: Educação, legitimação e poder

Weber não produziu uma teoria sociológica da Educação, não considerou, diretamente,
a organização social Escola ou a instituição Educação como objeto de análise. Em toda
a sua obra encontramos apenas dois textos em que o tema é diretamente abordado: "Der
Literatenstand in China" ("Os letrados chineses"), que é um capítulo de sua obra sobre o
estudo das religiões (Wirtschaftsethik der Weltreligionen - traduzida como Sociologia
das religiões) e o ensaio, originalmente uma conferência, Vom inneren Berufzur
Wissenschaft, traduzido como A ciência como vocação.
Entretanto há estudos significativos sobre educação que assinalam, em passagens
específicas da obra de Weber, uma aná-lise da função social da escola'1' e indicam que,
das análises de Weber sobre o poder e sua legitimação na ordem social, deriva uma
soci-ologia da educação. O eixo de uma sociologia da educação de Weber está na
demonstração de que através dos sistemas escolares (e das práticas sociais no interior
destes sistemas) se desenvolve um pro-cesso peculiar de imposição dos caracteres dos
grupos sociais e do poder estabelecido. Na obra de Weber é possível demonstrar como,
através de processos de inculcação e legitimação de determinados tipos de conduta e de
certos bens culturais, se estabelece o proces-so de manutenção e reprodução dos
modelos reinantes na estrutura social. Esta "sociologia weberiana da educação" está
sustentada particularmente nas análises de Weber sobre os mecanismos de
fun-cionamento da ordem capitalista e nos estudos sobre a sociologia das religiões.
São dois os focos enfatizados: primeiro, o entendimento de Weber de classe social e os
mecanismos (as relações sociais) de manutenção ou não deste modelo; segundo, os
processos de dominação como eixos estruturantes da vida social.
O fato de Weber diferenciar "condição de classe" e criar "uma classificação de classe
social" ampliada com relação ao modelo marxiano permite o enunciado da primeira
questão - que papel exerce a educação na sociedade? Como condição de classe,
encontramos em Weber o entendimento de que situações de pro-priedade ("ter" - ser
proprietário ou não de bens de trabalho em relação ao mercado) definem as condições
de existência, separando, portanto, os homens com relação a possibilidades de acessos a
bens culturais e materiais não disponíveis igualmente para todos. Na estratificação
22

social apresentada por Weber, "as outras proprieda-des" permitidas aos homens (os bens
culturais) existem distribuí-das de formas muito diferentes a partir das formas
"permitidas" de vida social nos grupos de status (ou estamentos): "ser" de acordo com
características particulares de seu lugar social define modos de conduzir a existência.
Weber, portanto, já anuncia uma questão central na análise da função social: os bens
educacionais existem para uns e são negados a outros; os bens educacionais existem em
formas diferentes para grupos sociais de status diferentes. Com que mecanismos sociais
este processo seria sustentado? Quais as relações sociais e de que modo se desenvolvem
para produzir estas relações e para garantir a sua manutenção? Chega-se, portanto, às
estruturas e aos mecanismos de dominação estudados por Weber. Nesta perspectiva, os
estudos de religião oferecem uma contribuição essencial: sua sociologia da religião é
uma sociologia do poder:

Weber estuda as religiões analisando seus aparatos de poder e demonstra como a


religião exerce um papel social significativo para legitimar os afortunados, os homens
dominantes, os proprietários, os sadios, os vitoriosos, os que têm mando temporal
estabelecido e legitimado. A religião é um aparato de poder. Como aparato de poder c
entendido um estado de coisas pelo qual uma vontade manifesta daquele que está no
lugar do dominador influi sobre a ação dos outros, de tal sorte que estes atos têm a
propriedade de serem assimilados pêlos dominados de tal forma que se apresentam
como sendo deles próprios (BAUMGARTEN. In. WINCKELMANN, p.XXXVIII).

Portanto, pode-se encontrar em Weber também uma tipologia dos sistemas de educação,
que LERENA (1985) consegue enunciar de forma muito feliz, retratando os tipos de
educação associadas às construções tipo-ideais da metodologia weberiana para os
sistemas de dominação. Assim, Weber demonstra, em sua obra, a existência de três
tipos de educação que correspondem aos três tipos de dominação - a dominação
carismática, a dominação legal e a dominação tradicional.
Nosso teórico admite, em "Os letrados chineses", que, historicamente, podem ser
identificadas duas metas nas finalidades atribuídas pelas instituições educacionais:
fomentar o carisma (estimular as qualidades heróicas ou dotes mágicos) ou possibilitar a
formação especializada. O objetivo educacional é cultivar o aluno para uma conduta de
vida de caráter mundano ou religioso ou criar condições de existência dentro de um
grupo de status. A partir dos demais trabalhos onde se explicitam os modos de vida dos
23

homens e dos mecanismos de funcionamento da organização das instituições sociais,


pode-se depreender que, aos três tipos de dominação correspondem, necessariamente,
três modelos particulares de sistemas de educação, o que supõe sua orientação para a
formação de três tipos de sujeitos sociais, em cada um dos quais sendo particular a
formação educacional com relação à cultura e ao destino nas diferentes posições sociais:
- Uma educação carismática: orientada para despertar a capacidade considerada como
um dom puramente pessoal. O carisma não se pode ensinar, nem adquirir, não se trata
de uma tarefa de formação mas sim de conversão: o aluno tem que negar-se em seu
estado atual e tratar de alcançar ou recuperar sua autên-tica personalidade. Como
exemplos, a educação típica dos guerreiros e dos sacerdotes, na modernidade analisada
por Weber a versão mais pura do pensamento essencialista clássico.
- Uma educação formativa: orientada, sobretudo, para cultivar um determinado modo de
vida que admita atitudes e comportamentos particulares. Este modo de vida pode ser
muito diverso, pois constitui sempre um conjunto articulado de atitudes fundadas em
um ethos que é, em cada caso característico, ascético, literário, musical ou científico.
Assume a finalidade de educar para determinadas atitudes frente à vida (pode até vir
acompanhado por um carisma e por um saber ou conhecimento, mas não o exige). Se a
educação carismática era a educação dos eleitos do destino, este segundo tipo é próprio
de um grupo particular. Esse segundo tipo de sistema educativo constitui a instância
reprodutora de uma categoria estamental, isto é, de uma categoria social que define sua
posição em termos de conduta de vida, o que se traduz em prestígio. Este tipo de
educação exige e favorece a adoção de técnicas parti-culares de inculcação. Ser culto
não é algo que está relacionado com o saber, com o conhecimento, embora este
necessariamente não precise estar excluído, mas significa, sobretudo, estar
familiariza-do com a cultura, com as maneiras de ser e agir do grupo.
- Uma educação especializada: está orientada para instruir o aluno em conhecimentos,
de saberes concretos, necessários, principalmente para o exercício de papéis sociais
específicos das sociedades racionalizadas, como profissionais ou políticos. E, portanto,
correspondente à estrutura de dominação legal e está associada ao processo de
racionalização e burocratização da sociedade contemporânea (de Weber). Ser o homem
culto, das gebildeí Mensch (da categoria anterior) se caracteriza por ter posse de um
sistema particular de hábitos, marcas de formação que estão dentro dele, que foram
incorporadas na convivência; nesta outra categoria, o especialista (das Fachmann)
necessariamente é um produto da ação escolar, da instrução, não da educação no seu
24

sentido de formação. A educação especializada existe para instruir o aluno para que
adquira uma utilidade prática com fins profissionais e utilitários na vida social, o seu
resultado é o homem instruído (das augebildet Mensch).
O grande mérito das lições de Weber para o entendimento da educação na atualidade, e
que tem sido devidamente apropriada na sociologia da educação, pode ser sintetizada
em duas amplas dimensões.
De um lado, a abordagem do sistema escolar dentro do processo de racionalidade
burocrática, de seus mecanismos de organização e de suas funções práticas, objetivas,
do papel que desempenham, para os sujeitos escolarizados e para grupos profissionais,
permite, não só o entendimento de seus mecanismos de funcionamento e sua função
social na ordem estabelecida, mas permite também o desvelamento da sua ideologia.
Mas a grande contribuição encontra-se nas possibilidades abertas para entendimento dos
processos de relação do sistema escolar com a macroestrutura, para o estudo dos seus
mecanismos particulares de dominação. Em especial podemos apontar, como
possibilidades abertas pela sociologia compreensiva de Weber, para as análises da
escola, os seguintes, temas, atualmente caros à sociologia da educação e que se
encontram nas diferentes vertentes de tratamento da escola na estrutura social como
aparato de dominação cultural e simbólica: estudos dos processos e mecanismos de
reprodução social através da reprodução de estruturas escolares (arbitrariedade de
formas curriculares e práticas sociais de seus agentes), estudo dos sistemas de educação
com sistemas de dominação; valor social dos diferentes tipos de diplomas e de culturas
escolares; processos sociais particulares de grupos sociais (ou de camadas sociais) em
relação às suas possibilidades e qualidades de educação; reflexões sobre o
conhecimento e o saber especializado na ordem social racional da sociedade pós-
industrializada e os estudos de desvelamento e crítica da ideologia da escola.
Como anotação final, é importante assinalar que, embora a presença de Weber seja forte
em várias correntes sociais da atualidade (Estrutural-funcionalismo, Interacionismo
Simbólico, Escola de Frankfurt, Teorias da Reprodução Cultural), caras às pesquisas da
sociologia da educação, registra-se, entre nós, uma carência de literatura que discuta as
nuances de como sua teoria é apropriada e redimensionada nestas contribuições.

VILELA, Rita Amélia Teixeira. “Max Weber – 1864 – 1920. Entender o homem e
desvelar o sentido da ação social”. In: TURA (org.). opus cit, pp. 63-96.

Você também pode gostar