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Material Teórico
Max Weber
Revisão Textual:
Prof. Ms. Selma Aparecida Cesarin
Max Weber
·· Max Weber
·· Biografia
·· Weber e a questão da ação social
·· Os tipos de ideias
·· A ética protestante e o espírito do capitalismo
·· Economia e Sociedade
·· Algumas considerações
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Unidade: Max Weber
Contextualização
Diante da charge acima, qual é a sua opinião sobre os pensamentos de Max Weber acerca da
burocracia, cuja maior vantagem – a capacidade de estimar os resultados de uma ação – dificulta
o trato com os casos concretos e individuais, levando à despersonalização dessas relações.
Vamos discutir este importante tema considerando a relevante contribuição do pensador
alemão para o estudo da Sociologia.
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Max Weber
Biografia
Karl Emil Maximilian Weber nasceu em 21 de abril de 1864, na cidade Erfurt, o mais velho
dos sete filhos de Maximilian e Helene Weber.
Seu pai, Maximilian, fazia parte de uma família tradicional que se dedicava ao comércio
e produção de tecidos e sua mãe, Helene, vinha de uma família de funcionários públicos e
políticos. Portanto, pode-se afirmar que Weber foi criado em uma família prospera, envolvida
no cenário politico e intelectual da Alemanha.
Sua formação, nas Universidades de Heidelberg e Berlin, oscilou entre o Direito e a Economia,
com destaque para as questões agrárias.
Seu trabalho sobre o deslocamento de trabalhadores agrícolas
do Leste da Prússia pela chegada de imigrantes poloneses foi muito
bem recebido pelos acadêmicos e, em 1894, ele assumiu a posição
de professor na Universidade de Freiburg. Em seguida, assumiu a
cadeira de Economia política na Universidade Heidelberg.
Em 1893, Weber casou-se com Marianne Schnitger, uma
proeminente militante pelos direitos das mulheres. A residência do
casal se tornou o ponto de encontro de grupos de intelectuais, como
Marc Bolch e György Lukacs.
Foi durante este período que Weber se estabeleceu como um
economista brilhante e um dos grandes intelectuais da época. Fonte: Wikimedia Commons
Estes anos frutíferos da carreira de Weber sofreram um fim abrupto, quando o pai de Max
cometeu suicídio em 1897.
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Unidade: Max Weber
A morte teve um profundo efeito em Weber, que se afastou do mundo intelectual e deixou as
atividades de professor em 1903.
Seu retorno intelectual foi lento, tendo primeiro assumido o controle do jornal Archiv für
Sozialwissenschaften und Sozialpolitik, sendo um dos responsáveis por torná-lo o mais
importante jornal de Ciências Sociais do período.
No início da Guerra, como a maioria do povo alemão, ele apoiou o envolvimento do país,
mas com o tempo, ele se desiludiu com a política de guerra e tornou-se um dos mais ferozes
antagonistas do governo.
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Weber define quatro tipos de ações sociais:
A ação racional com relação aos fins é aquela em que se escolhe um objetivo e este é buscado
racionalmente pela definição dos melhores meios de como alcançar os resultados desejados.
No caso da ação racional com relação aos valores, é aquela em que um valor é que define a
ação, seja um valor ético, religioso, politico ou estético.
As duas últimas são chamadas de irracionais, por que motivadas pelos sentimentos. No caso
da ação social afetiva, em que a força por trás da ação é um sentimento, como loucura, amor,
paixão, inveja, medo...
Segundo Raymond Aron, trata-se de uma “ação ditada imediatamente pelo estado de
consciência ou humor do sujeito”.1
Por fim, a ação social tradicional que encontra sua força motriz nos costumes e tradições
construídas na sociedade, sendo portanto, uma ação reprodutiva.
Além das grandes estruturas e da constatação de permanências, Weber considera que o
indivíduo tem papel importante na característica das estruturas sociais e na sua mudança.
Weber é um dos pensadores que ajudou a diminuir a distância entre as grandes estruturas da
sociedade, a ação social dos indivíduos e a interação entre eles.
Compreensão e significado são elementos fundamentais da abordagem de Weber e surgem de
uma pesquisa sistemática e rigorosa. Segundo o sociólogo americano George Ritzer2 trata-se de:
1 ARON, Raymond. Etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 448.
2 RITZER, George, Sociological Theory. New York, McGraw-Hill, 1992, p.116.
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Unidade: Max Weber
É importante observar que dificilmente as ações humanas se orientam somente por um dos
tipos descritos acima. Segundo Weber, estes são tipos ideais de ações que foram criadas para
orientar as pesquisas sobre esta questão.
Os tipos de ideias
A ação social3 é a questão central da Sociologia de Weber; contudo, estas ações, como já
discutimos, não podem ser analisadas isoladamente. É preciso estabelecer as conexões entre elas.
Durante o processo de pesquisa, segundo Weber, devemos deixar de lado nossos conceitos e
preferências, gostos e valores e permanecer o mais imparcial possível.
Deve-se observar que, para ele, isso nunca pode ser totalmente atingido, mas o pesquisador
deve cercar-se de formas imparciais de investigação, medidas e comparações e avaliação de seu
conjunto de fontes.
Weber destaca que os valores, crenças e ideologia do pesquisador, contudo, tem papel central
na escolha de seus temas de estudo. Por exemplo, alguém que acredita na igualdade entre homens
e mulheres no ambiente de trabalho, pode ser atraído a estudar as formas de discriminação sofridas
pelas mulheres em ambientes corporativos.
Esta questão nos leva a um dos conceitos mais conhecidos do pensamento de Weber: o
dos tipos ideais.
Segundo Weber, toda a ciência é marcada pela abstração e pela seleção de um aparato analítico
para compreender seu objeto de estudo. No caso do cientista social, o dilema é escolher entre um
conjunto conceitual muito amplo ou um que é marcado pela particularidade.
Para resolver este dilema, ele propôs a noção do tipo ideal. Trata-se de um aparato analítico
que serve como referência ao investigador, permitindo que observe as semelhanças e diferenças
em casos concretos.
3 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. (Edição para Kindle)
4 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 484. (Edição para Kindle)
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Um tipo ideal é formado por características encontradas em várias realidades concretas e que
são organizados em um aparato analítico. Este aparato é irreal, mas permite analisar hipóteses
explicativas e compreender os sentidos dos elementos da realidade empírica.
O tipo ideal teria dois grandes méritos:
1. fornecer um aparato analítico que permite que a realidade concreta seja comparada,
analisada e contrastada;
2. permite estabelecer algumas generalizações que servem ao objetivo final de criar uma
explicação causal a realidade.
Weber define três formas para os tipos ideais, que são diferenciados pelo nível de abstração.
O primeiro é o tipo que se enraíza em realidades históricas concretas, ou seja, em fenômenos
que aparecem em uma determinada realidade e temporalidade.
O segundo, como é o caso do tipo “burocracia”, que envolve elementos que podem ser
encontrados em diversas realidades históricas e culturais.
O terceiro tipo é o que constrói a racionalização de um determinado conjunto de
comportamentos, como a teoria econômica, pois todas descrevem como o indivíduo se portaria
se suas motivações fossem totalmente econômicas.
Portanto, podemos analisar a realidade por meio dos tipos ideais, pois, mesmo sendo um
conceito criado pelo pesquisador, permitem compreender a realidade da qual foram “extraídos”
com o objetivo de tornar evidente o seu sentido e suas conexões.
Segundo o próprio Weber, citado por Kalberg: “os conceitos são em essência instrumentos
analíticos para o domínio do empiricamente dado, e só isso.”5
A questão do acúmulo de riquezas não é novidade na história humana e se pode falar disso
entre diversas culturas; contudo, somente no mundo moderno ocidental, esta questão pode ser
associada à organização racional do trabalho livre.
5 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. P. 530. ( Edição para Kindle)
6 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005
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Unidade: Max Weber
Por organização racional do trabalho, Weber entende a criação de atividades rotineiras, com
administração planejada e continuidade. Neste sentido, a racionalidade capitalista implica a
disciplinarização do trabalho e o investimento de capital na atividade produtiva.
Segundo o próprio Weber: “O homem é dominado por ‘fazer dinheiro’, pela aquisição como
o propósito final de sua vida7 e, este seria o sentido e a ética do mundo capitalista.
Neste novo contexto, o acúmulo de bens era acompanhado por uma moral que demandava
autocontrole e a manutenção de um estilo de vida simples, sem extravagâncias.
Para Weber, o que explica este comportamento é a ideia de que a obrigação moral de todos
os indivíduos seria cumprir suas obrigações cotidianas ligadas ao mundo material. Um ponto de
destaque para esta análise é a questão da predestinação.
No texto, Weber aponta que esta questão, apesar de aparecer nos escritos de Lutero, ganhou
maior evidência em grupos como os calvinistas, batistas etc. O conceito da predestinação
pregava que alguns indivíduos eram eleitos para a salvação e que o sucesso na vida material
seria um dos sinais deste destino.
A acumulação de bens passa a ser considerada aceitável, até mesmo positiva, se for
acompanhada por uma vida de trabalho e discrição. Neste sentido, a riqueza só era condenada
se fosse acompanhada por extravagâncias e uma vida ociosa.
O calvinismo, para Weber, agregaria o elemento da “força moral” e da determinação à ação
do capitalista, além de propagar as vantagens de uma vida voltada ao trabalho e da disciplina.
A riqueza deixou de ser vista com desdém e passou a ser considerada recompensa pelos
esforços do indivíduo e o trabalho tornou-se o principal valor deste novo grupo social, gerando
ditos como “tempo é dinheiro” e “o trabalho edifica o homem”.
Anthony Giddens8 destaca que para Weber a ética protestante era somente um dos elementos
que explica o capitalismo, ele ainda destaca:
7 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005, p. 18
8 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005,
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A presença destes elementos e o desenvolvimento do protestantismo, segundo Weber,
levaram ao desenvolvimento do mundo capitalista.
Apesar da abrangência do proposto pelo autor, sua análise não foi aceita com unanimidade e,
segundo Anthony Giddens, várias críticas ao trabalho foram apresentadas desde a sua publicação.
Contudo, as propostas de Weber nunca foram completamente contestadas. Nas palavras
de Giddens:9
Economia e Sociedade
Este trabalho é uma obra póstuma e incompleta que foi lançada por Marianne Weber. Foi
escrito durante 11 anos e abrange diversos temas como o estado, a família, a organização
política, entre outros e, sem dúvida, uma das obras mais significativas já produzidas na área.
Entre os capítulos mais conhecidos, estão os que tratam sobre Direito, estamentos, Religião,
dominação em geral, burocracia e sobre as cidades.
As discussões que Weber realiza sobre a questão da autoridade, ilustra o uso do tipo ideal
como ferramenta analítica e demonstra sua classificação dos tipos de ações sociais.
Ele procura estabelecer o que leva os homens a determinar quem tem autoridade e como
esta autoridade foi legitimada na sociedade.
9 WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege Classics, 2005, p.XIV.
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Unidade: Max Weber
A autoridade pode ser legitimada de forma racional e ser fundamentada por uma série de
regras impessoais, que foram estabelecidas legalmente ou por contrato. Este tipo de autoridade
é a que tem marcado a sociedade moderna, marcada pela submissão as leis.
A autoridade tradicional é marcada pela noção da tradição, que santifica o passado e permite
que a autoridade seja delegada entre membros da mesma família ou grupo.
Não tem suas regras definidas de forma impessoal e racional e isto favorece as pessoas que
herdariam este poder delegado por um poder maior.
A autoridade carismática é baseada na capacidade do líder de agregar seguidores devido à
sua capacidade em qualquer área: religiosa, militar, política...
É importante notar que estes são tipos puros e Weber aponta que na realidade concreta estes
tipos se misturam para legitimar a autoridade existente.
Já a autoridade racional-legal apoia-se em um sistema de regras racionalmente criadas, no
qual está fundamentada a crença na legitimidade daqueles que, em razão de tais regras, estão
nomeados para exercer a autoridade. Aliás, quando a autoridade envolve um corpo administrativo
organizado, temos uma estrutura burocrática que será mais bem explicitada adiante.
A maior contribuição destas análises foi perceber que a autoridade deveria ser caracterizada
pela relação entre os líderes e seus seguidores e que, muitas vezes, a ideia de que o líder deriva
seu papel das crenças de seus seguidores na sua missão.
No que tange à análise do poder na sociedade, Weber introduziu o conceito de que o poder
pode ser plural. No mundo moderno, o poder econômico seria a força dominante, mas não
a única. Por exemplo, um indivíduo que trabalha para uma grande organização pode exercer
grande poder, mesmo sendo um dos assalariados e não o dono dos meios de produção.
Neste sentido, o poder seria a capacidade que um indivíduo ou um grupo tem de fazer
valer seus interesses em uma ação conjunta, mesmo considerando a existência de oposição;
portanto, a base para que o poder seja exercido depende do contexto social e histórico de cada
organização social.
O interesse de Weber nas questões do poder, da autoridade e da racionalização levou aos
estudos sobre a burocracia, que era entendida como uma marca da modernidade.
A burocracia seria organizada de acordo com princípios racionais. Os funcionários são
organizados de forma hierárquica e seu trabalho é regulado por uma série de regras determinadas
de forma impessoal e que valorizam a capacidade e especialização.
A burocracia organizada era, para Weber, o elemento que define a política moderna, a economia
moderna e a tecnologia. Nesta perspectiva, ele considera que as organizações burocráticas são
superiores aos outros tipos de administração, da mesma maneira que a produção mecanizada
seria mais eficiente.
Contudo, Weber aponta problemas na burocracia. Sua maior vantagem, a capacidade de
estimar os resultados de uma ação, dificulta o trato com os casos concretos e individuais e ele
considera que o processo de burocratização do mundo moderno levou a despersonalização
destas relações.
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Algumas considerações
A obra de Weber é marcada pela tentativa de analisar questões de grande envergadura,
como: qual o destino do mundo moderno?
Estas preocupações, e sua tentativa sistemática de respondê-las, coloca-o entre os grandes
pensadores da área e como destaca Kalberg:10
No cerne de sua análise está a necessidade de analisar, mapear, interpretar as ações que os
grupos humanos entendem como definidoras e significativas de sua experiência.
Exatamente por sua proposta de grande envergadura, sua abordagem não está imune a
críticas, que apontam elementos com falta de clareza nos argumentos e incoerências entre o
proposto em diversas partes da obra.
Ainda segundo Kalberg:11
Outros críticos apontam dúvidas sobre conceitos centrais da Sociologia weberiana, como o
tipo ideal e a ênfase no sentido subjetivo da ação.
No que tange ao tipos ideias, muitos consideram que Weber não esclarece adequadamente
os métodos utilizados para a sua construção e nem indica limites claros sobre a validade de
sua utilização.
No caso do sentido subjetivo da ação, destaca-se que a análise da ação baseada em valores
não é claramente interpretada, gerando conclusões frágeis.
É exatamente a polêmica que seu trabalho causou e continua causando que permite afirmar
que Max Weber figura entre os maiores pensadores da Humanidade.
10 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 1691. (Edição para Kindle)
11 KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 1696. (Edição para Kindle)
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Material Complementar
Trecho do filme de animação frânces “Les Douze Travaux d’Astérix” (Os Doze Trabalhos
de Asterix), de René Goscinny e Albert Uderzo, estreado em 1976:
• Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=FQPe0aQSitM;
• Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=QP9foKGy6kQ.
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Referências
ARON, Raymond. Etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
COSER, Lewis. Masters of Sociological Thought: ideas in historical and social context.
Londres: Waveland Pr Inc. 2003.
KALBERG Stephen. Max Weber: uma introdução. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. (Edição
para Kindle)
WEBER, Max. Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism. London. Routlege
Classics, 2005.
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Anotações
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