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Universidade de Aveiro

Mestrado em Ciências da Educação


Especialização Formação Pessoal e Social
1.º Ano
2.º Semestre
Metodologia de Investigação em Educação

Método Compreensivo

Docente: Luís Pardal


Discentes: Cristina Melo
Índice
1-Introdução…………………………………………………………..1
2- Vida e obra de Max Weber……………………………………….2
3-Teoria da ciência…………………………………………………...3
4-Fundamentos do Método compreensivo………………………….4
4.1-A natureza e causalidade do facto social ……………… 5
4.2- Racionalização……………………………………………6
4.3 Tipos de compreensão……………. ……………………...6
4.4 O tipo ideal……………………………………………………….6
4.5- Neutralidade axiológica…………………………………………7
5 - A Ética Protestaste e o Espírito do Capitalismo ……………… 8
6-Problemática da metodologia compreensiva……………………. 9
7- Conclusão…………………………………………………………10
Bibliografia……………………………………………………….….10

1-Introdução

As teorias modernas de sociologia resultam de modificações das teorias


clássicas pelo que sem a sua compreensão torna-se impossível compreender as teorias
modernas na sua totalidade. É fundamental conhecer os contributos clássicos e em
particular os de Max Weber, para a metodologia das ciências sociais, que segundo Lucia
Demartris “constituem uma radical alternativa em relação a todas as abordagens
precedente” (1996:253). Para Weber a sociologia é uma ciência diferente das ciências
naturais, e seu método baseia-se na compreensão da realidade social, que será objecto
de estudo neste trabalho.
Embora o método compreensivo tenha sido elaborado pela primeira vez pelo
historiador Droysen, por volta de 1850 e existam também diversos contributos de outros
pensadores, iremos somente referenciar a contribuição de Weber, porque foi ele que lhe
atribuiu valor científico.
Actualmente as teorias de Weber são compreendidas e aceites na comunidade
científica, mas o processos de aceitação da sua teoria foi alvo de extensa polémica. Para
entendermos a metodologia compreensiva, de Weber, não basta fazer uma mera

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descrição do processo metodológico, é indiscutivelmente necessário também conhecer a
sua vida e contextualizar o seu pensamento sociológico.

2-Vida e obra de Max Weber


Max Weber nasceu em 1864 na Alemanha. Foi criado no seio de uma família
de classe média alta, crescendo num meio familiar bastante rico e estimulador a nível
intelectual. A sua mãe era uma mulher de grande cultura, muito preocupada com os
problemas sociais e religiosos, com quem manteve contacto durante toda a vida. Os seus
interesses atravessavam muitas áreas de conhecimento, realizou estudos em diversas
áreas de conhecimento: direito, história, filosofia, teologia e economia. Em 1890 adere
ao movimento “evangélico-social”, nessa altura faz um trabalho de pesquisa sobre “ A
situação dos trabalhadores agrícolas na Alemanha a Leste do Elba. Em 1983 casa-se
com Marianne Schnitger. Foi professor de economia mas um problema de saúde grave
do sistema nervoso afasta-o da vida de ensino durante quatro anos, após recuperação
recebe uma herança que lhe permite dedicar-se à vida científica.

Segundo Raymond Aron a obra de Max Weber é considerável e diversa e os


seus trabalhos podem considerar-se em quatro categorias: estudos de metodologia, de
crítica e filosofia, recolhidos na obra Ensaios sobre a teoria e a ciência; obras
históricas, trabalhos de sociologia e religião, onde se destaca a obra A Ética protestante
e o espírito do capitalismo e finalmente o tratado de sociologia geral, cujo título é
Economia e sociedade (1965: 477). Giddens refere que Weber tentou explicar a
natureza do facto social e as causas das mudanças sociais. Foi influenciado por Marx
em alguns aspectos mas noutros criticou-o bastante, Weber rejeitou a visão da
concepção materialista da história e não deu tanta importância à luta de classes. Para
Weber os factores económicos são importantes mas as ideias, os valores e as crenças do
indivíduo são a principal razão que explica as mudanças sociais. (2001:13)

Demartis, refere que para Weber o objecto de estudo da sociologia “ não são a
sociedade e a história entendidas como um todo, mas o agir social dotado de sentido, a
saber, os comportamentos individuais, influenciados pelos comportamentos de outrem,
aos quais é atribuído um específico significado subjectivo” (1999:253). Weber ficou
conhecido também pelo seu gosto de ideias claras e pela honestidade intelectual, não
parou de se interrogar sobra as condições em que a ciência histórica ou sociológica pode

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ser objectiva, revelando o seu pensamento sobre a ciência como profissão em algumas
conferências (Raymond 1965: 480).

3-Teoria da ciência

Raymond Aron enuncia as diferentes acções apresentadas por Weber. A acção


racional relativamente a um fim – esta acção é aquela que corresponde à de um
engenheiro que constrói uma ponte, caracteriza-se pelo facto de o seu autor conceber
claramente o fim e combinar os meios em vista de o atingir. A acção racional
relativamente a um valor é aquela do indivíduo que se faz matar num duelo, ou a do
capitão que se deixa ir ao fundo como o navio. A acção é racional o actor que age
aceitando todos os riscos, “ não para obter um resultado extrínseco, mas para
permanecer fiel à sua própria ideia de honra.”A acção afectiva ou emocional é ditada
pelo estado de consciência ou humor do sujeito. “ È a bofetada que a mãe dá ao filho
porque este foi insuportável, é o murro vibrado por um jogo de Futebol durante o jogo,
ao perder o controlo dos nervos “. Este tipo de acção é definido pelas emoções do actor
perante certas circunstâncias. Por fim a acção tradicional é a ditada pelos costumes,
hábitos e crenças, o actor age sem muitas vezes questionar e obedece simplesmente aos
reflexos enraizados por meio de uma longa práticas (2007:478-479).

Estas classificações da acção estão ligadas ao cerne da reflexão filosófica de


Weber e suportam os seus conceitos de ciência em geral e também na sociologia. A
acção do cientista é uma acção racional, que tem o fim de encontrar relações de
causalidade ou encontrar interpretações compreensivas validas universalmente. Esta
acção é também racional em relação a um valor na medida em que procura a verdade.
Para alcançar a verdade o cientista tem que ser objectivo e recusar-se a formar juízos de
valor. A observação do charlatão, do médico ou do homem de Estado tem de ser
realizada com o mesmo desprendimento. Contrariando a representação de sociologia
Auguste Comte e de Durkheim, para Weber não existe a possibilidade de acabar a
formulação de leis fundamentais de sociologia, pois é uma ciência que se caracteriza por
não acabada. A ciência antiga poderia ser no seu tempo considerada como acabada, mas
na ciência moderna, a ciência está em devir. O conhecimento nunca terá termo,
podemos ir “sempre mais longe na análise, avançar mais na investigação. Weber
distingue as ciências da história e da sociologia das ciências naturais. A compreensão
sociológica significa que somos capazes de compreender, ”resulta que podemos dar

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conta dos fenómenos singulares sem passarmos pela mediação das proposições gerais”.
A compreensão do particular permite perceber o geral, quando o objecto de estudo é o
ser humano nos seus aspectos históricos e culturais. “Quando a humanidade é objecto
de saber, é legitimo interessarmo-nos pelos traços singulares de um indivíduo, de uma
época ou de um grupo, tanto como pelas leis que governam o funcionamento do devir
das sociedades” (2007:480-482). A sociologia para Weber define-se como uma ciência
que se esforça por compreender e explicar os valores que explicam as acções dos
homens. Para compreender a realidade social, não basta observar é necessário conhecer
o pensamento, a ideia, o valor subjacente à acção social.

Como o próprio Weber refere “A sociologia é uma ciência compreensiva da acção


social, a compreensão implica a captação do sentido que o actor dá ao seu
comportamento.” Por acção social deve entender-se um comportamento humano (quer
consista num fazer externo ou interno, quer omitir ou permitir), sempre que o agente ou
agentes lhe associem um factor subjectivo” (2009: 21). Os factos têm um sentido e só
descobrindo esse sentido se compreende a realidade social.

4-Fundamentos do Método compreensivo

A respeito da discussão de métodos Freud refere que Weber assume a posição de


que nenhum método possui privilégios e é melhor que outro, combate a ideia de que só
os métodos quantitativos apresentam valor científico. A quantificação é um método ao
uso da ciência, mas existem, outros métodos capazes de produzir resultados e
conhecimento: O método tem que se adaptar ao que se investiga. “ Estes pontos de vista
de Weber são de importância capital para se compreender em que sentida a sua
sociologia foi um verdadeiro marco na história desta disciplina: ela vai-se tornar uma
ciência positivista e empírica na prática.” (1980:13). Esta posição revela-se muito
polémica mas apesar das críticas de toda a comunidade científica, Weber prossegue os
seus estudos.

4.1-A natureza e causalidade do facto social

A Sociologia era considerada como a ciência que estudava os factos sociais,


levantando-se de imediato a questão: O que é um facto social? A esta pergunta Weber
respondeu de forma original, pois considerou que as estruturas, instituições sociais eram

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factos objectivamente observáveis, mas imbuídos de actividade humana, interessando
em saber como os homens vivem na sociedade.

Para “ Weber os factos sociais não têm uma existência meramente objectiva;
para além desta têm também um significado para aqueles que os vive” (Pardal, Eugénia-
1995:18). Os factos sociais não só as acções observáveis, pois elas eles estão imbuídas
de significado, que é necessário compreender. Segundo Parkin (1996), Weber insiste na
ideia de que a unidade fundamental de investigação deve ser sempre o indivíduo, isto
porque só o indivíduo é capaz de acção social, é ele que dá sentido à estrutura social.
Em certas situações será favorável estudar grupos ou agregados como se fossem seres
individuais, mas esta situação resulta sempre num estudo subjectivo.

A explicação de um facto faz-se pela análise das causas, os factos sociais não
resultam propriamente de um relacionamento de causas e efeitos (procedimento das
ciências naturais), é necessário compreender os factos que se observam pois eles estão
carregados de sentido. Em relação à causalidade Weber chama a atenção para aquilo
que normalmente consideramos uma causa de uma acto, tanto no domínio das ciências
naturais como das ciências sociais, não passa de uma visão parcial da realidade. Todos
os fenómenos são importantes e não se podem eliminar causas, dizer que um problema
teve uma causa “económica” é subtrair a importância das causas culturais.

“A ideia de causalidade é o cerne de ásperos debates epistemológicos. Para


Durkheim e positivistas a causa é o antecedente constante e exterior aos efeitos. A causa
é o antecedente constante e exterior ao efeito. A causa é um facto material
objectivamente detectável do exterior” (Quivy 1992:100). A título de exemplo,
podemos referir o modo como Durkheim interpretava o fenómeno do suicídio, para ele
tentar compreender este fenómenos é procurar as causas da sua existência.

4.2- Racionalização

Para Weber o traço característico do mundo em que vivemos é a racionalização.


A empresa económica é racional, a sociedade moderna no seu conjunto é racional. Os
indivíduos são actores sociais que têm ideias próprias e explicações acerca do seu
comportamento social. A compreensão dos fenómenos de comportamento social passa
pela análise das razões dos actos. A explicação da razão dos comportamentos é parte
indispensável da análise compreensiva. Os seres humanos agem de acordo com os seus

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conceitos de política e de religião, agem segundo as suas motivações, segundo as suas
crenças. Esta posição contrasta com a posição de Durkheim que considerava que a “
única unidade que realmente contava para fins explicativos era a colectividade (Parkin,
1996: 2). Toda a ciência aspira à evidência, que pode ser racional (lógico matemática)
unívoca, com um só significado. Mas muitos «fins» e «valores» que orientam o agir do
Homem, não são muito evidentes A consideração de tipos indaga e expõe as vivencias
irracionais que influenciam o agir do homem (Weber 2009: 22-24).

4.3 Tipos de compreensão

Weber distingue dois tipos de Verstehen, a compreensão actual do sentido


visado, dando o exemplo do caso de um homem com uma espingarda apontada a um
animal. A simples observação do acto é suficiente para percebermos o que se passa.
Mas para explicarmos a acção do caçador temos de saber a razão do seu acto, se esta a
caçar por desporto ou se caça para ter comida. De uma forma genérica podemos dizer
que só conseguimos a compreensão explicativa de um acto quando esse acto é colocado
num contexto mais amplo. Weber deixa bem clara que a abordagem da Verstehem” não
deve ser entendida como modo universal da explicação social” (Parkin, 1996: 4).

É importante referir que Weber aceita o uso da estatística como fonte de


verificação de validade geral, no entanto adverte para os cuidados a ter com este
método, não se devendo explicar somente os factos a partir dos números, é necessário
que exista uma relação de causalidade entre as variáveis. A compreensão não substitui o
estudo quantitativo, mas complementa-o.

4.4 O tipo ideal

O tipo ideal pode considerar-se como a “reunião dos traços dominantes e as


características consideradas mais significativas do fenómeno” (Pardal, Eugénia-1995:2).
Estes autores acrescentam ainda que o tipo ideal nunca foi definido por Weber, mas
pode dizer-se que o tipo ideal é “algo que reúne os traços dominantes e as características
consideradas mais significativas de um fenómeno” (1995:21). O tipo ideal é uma
abstracção conceptual, usada como forma de enfrentar a complexidade do mundo social,
uma vez que não podemos captar os fenómenos sociais na totalidade – “tipo ideal” do
capitalismo não é uma representação perfeita da realidade do objecto real. Weber
reconhece que a selecção dos elementos, que fazem o “tipo ideal” são arbitrários pelo

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que não é correcto dizer que o tipo ideal é perfeito ou imperfeito, os elementos que se
escolhem para o definir são influenciados pelo tipo de problemas que se quer investigar
e pelas questões que se colocam. A acção real só em casos raros transcorre tal como foi
construída no tipo ideal. Processos externos do agir semelhantes que se afiguram
«iguais» podem ter um agir muito diferente. Os motivos são diferentes pelo que é
necessário o controlo da interpretação compreensiva

Freund (1996) menciona que Weber apresenta o “tipo ideal” não como um
reprodutor fiel da realidade, mas como uma forma de nos distanciáramos dela para
melhor dominar a realidade intelectualmente e cientificamente. A título de exemplo
refere que podemos construir um tipo ideal de liberalismo, com base nos valores da
doutrina do liberalismo, mas podemos também construir um tipo ideal relacionando-o
com os nossos valores. A ciência só avança com a construção de tipos ideais novos. No
cristianismo por exemplo é possível criar uma serie de tipos ideais, o cristianismo
medieval, o anglicano, católico, o ortodoxo, consoante o tipo de pesquisa.

O instrumento principal do tipo da compreensão é o tipo ideal, cujo traço


comum é a tendência para a racionalização. Mas o tipo ideal é um meio e não um fim. A
vida humana é feita através de uma serie de escolhas através das quais os homens
edificam um sistema de valores., que devem ser compreendidos pelo cientista. A
filosofia dos valores está portanto em estreita relação com a teoria da acção.

4.5- Neutralidade axiológica

A respeito da neutralidade axiológica Freund (1996) refere que Weber diz que
o investigador tem de estar sintonizado “ normativamente e moralmente com o acto”, é
fundamental que não tenha divergências de valores ou ideológicas com o que vai
observar. Um ocidental a estudar uma tribo exótica apresenta certamente resultados, no
seu estudo, bem diferentes de um observador que tenha uma cultura mais idêntica. O
trabalho científico exige conhecimento do que se vai estudar, mas ao mesmo tempo é
necessário banir todas as concepções que temos do mundo. O sociólogo deve interpretar
os factos mas não pode de modo nenhum apresentar o seu parecer pessoal. Se durante
uma investigação se ocorrerem facto que o investigador não consegue explicar, não os
deve negar ou rejeitar, só porque não consegue explica-los. O sociólogo não deve dizer

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qual a melhor sociedade, atribuir-lhe valores, o seu trabalho é somente analisar a
realidade social.

5 - A ética protestaste e o espírito do capitalismo

Segundo Luís Pardal e Eugénia Correia a obra A ética protestaste e o espírito


do capitalismo, sobressai, dentro das obras de Weber, por ser um “estudo original sobre
as origens do capitalismo em correspondência com o protestantismo calvinista, seja
como método de análise de um fenómeno social complexo” (1995:21). Esta obra
campeia pela questão colocada, que animou intensos debates e enriqueceu a sociologia
das religiões.

Nesta obra é apresentado um problema resultante de um fenómeno estatístico:


“ Os dirigentes das empresas e os detentores de capitais, bem como as camadas
superiores da mão-de-obra qualificada, mais ainda, o pessoal técnico e comercial
altamente especializado das empresas modernas, serem predominantemente
protestantes”. Colocado o problema Weber investiga em várias fontes tentando perceber
que princípios religiosos estariam na base da conduta desses indivíduos. Weber define
como objectivo de investigação a concepção religiosa de trabalho.

Weber (1983) relaciona as crenças religiosas com a actividade económica,


explicando a pouca produtividade aos católicos, em função da do «alheamento do
mundo» do catolicismo, os traços ascéticos, a vida dos monges testemunhavam altos
ideais e a mentalidade pietista, pouco dada a negócios. Depois de definição da
concepção de capitalismo, investiga a concepção de vocação do Luteranismo, uma ideia
nova no seio do cristianismo. Na ética profissional do protestantismo ascético Weber
apresenta as ideias religiosas sob a forma de tipo ideal comparando luteranismo e
calvinismo. No calvinismo a salvação eterna não depende da salvação sacramental, a
relação do homem com Deus processa no interior do homem e o eleito põe-se ao serviço
do mundo, o «amor ao próximo» expressa-se com trabalho. Como é possível enriquecer
sem aumentar a vaidade e a paixão? Os cristãos devem ganhar e poupar o que puderem,
mas também devem dar o que puderem:

Sintetizando, nesta obra Weber defende a tese de que o espírito do


protestantismo adopta o respeito pela actividade económica concordante com o espírito
do capitalismo. “ Há uma afinidade espiritual entre uma certa visão do mundo e um

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certo estilo de actividade económica” (Raymond, 2007: 510). A ideia é revolucionária,
mas amplamente criticada por muitos autores que contestam o tipo ideal do
protestantismo.

6-Problemática da metodologia compreensiva

A metodologia compreensiva gerou grandes discussões entre os cientistas de


diversas áreas de conhecimento. Tantos economistas, psicólogos, historiadores como
filósofos entraram no debate. “ O litígio relacionava-se com o estatuto das ciências
humanas (…) seria preciso reduzi-las, segundo a intenção dos positivistas, às ciências
da natureza, ou, ao contrário, afirmar a sua autonomia” (Freund 1980:32).

Surgem argumentos diversificados, uns defendiam a ideia de que todas as


ciências têm que se submeter ao método experimental, pois a realidade é só uma, não
podem existir diferentes categorias de ciências. Outros defendem a especificidade do
objecto de estudo, a sociologia não pertence só ao reino da natureza, distingue-se das
outras ciências, por tratar de assuntos relacionados com o reino do espírito ou da
história. Concluindo assim, que as ciências sociais abordam o estudo da realidade por
diferentes caminhos, podendo ser usados métodos diversificados, consoante o objecto
de estudo. E o facto de alguns reconhecerem que as ciências sociais têm um objecto de
estudo e metodologia muito diferentes das ciências naturais, serve de argumentação
contra a possibilidade de existir uma teoria social científica. Por esta razão gerou-se a
querela entre os estudos “qualitativos” e “quantitativos. Aparentemente parecem
opositores e uns parecem querer indicar que um método é melhor que o outro. Mas a
“investigação qualitativa não pode substituir-se unilateralmente à investigação
quantitativa”.(Pacheco, 1995:20), nem são opositoras, são complementares uma da
outra.

Mas “ …a discussão sobre a maior ou menor qualidade do método em relação


ao outro, em abstracto, é frequentemente de pouca qualidade. Qualquer dos métodos
(…) tem valor, resultando o maior ou menos interesse do mesmo, da especificidade do
caso em estudo e do momento da investigação” (Pardal, Correia 1995: 17).

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7- Conclusão
O método compreensivo é inovador pois considera o universo dos valores e
das intenções dos indivíduos que é ignorado pelo método experimental que só observa
factos, esta diferença metodológica revoluciona o tipo de estudo em sociologia. Este
método apresenta algumas fragilidades e veio provocar uma discussão e diversidade de
métodos sem precedentes na história da sociologia, de facto não existe uma teoria única
que domine o mundo da sociologia. Os debates teóricos na sociologia são constantes
pois são várias as perspectivas. Aparentemente pode considerar-se a rivalidade de
teorias como uma fraqueza, mas na realidade o confronto de ideias é expressão de
vitalidade e crescimento da sociologia. A diversidade de pensamento teórico
providencia riqueza de ideias essenciais ao progresso das ciências sociais.
Embora este método seja um marco de referência na sociologia, importa sublinhar
a ideia de que não existem métodos melhores nem piores, o método deve servir a
investigação, tem que se adequar ao objecto que se investiga. É durante o acto de
investigação social que o cientista deve seleccionar o método, ou métodos necessários a
desenvolver o trabalho com o máximo de rigor possível e que melhor lhe permite
interpretar a realidade social. O conhecimento em ciência social é um percurso de
escolhas metodológicas permanecentes que exige ser reinventado em cada trabalho.

Bibliografia
DEMARTIS, Lucia (1996) – Compêndio de sociologia. Lisboa: Edições 70
FREUND, J (1980) - Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Editora Forense
GIDDENS, A (2001) - Sociology. Cambridge, UK: Polity Press
PACHECO; José Augusto (1995) - O Pensamento e a Acção do Professor. Porto: Porto
Editora
PARDAL, L.A. e CORREIA, E. (1995) – Métodos e Técnicas de Investigação Social.
Porto: Areal
PARKIN, F. (1996) – Max Weber. Oeiras: Celta Editora
RAYMOND, A.(2007) - As Etapas do pensamento Sociológico. Lisboa: Publicações
D.Quixote
QUIVY, Raymound e CAMPENHOUDT, LucVan. (1992) – Manual de Investigação
em Ciências Sociais- Lisboa: Gradiva-Publicações, LDA.
WEBER, Max (1983) - A Ética Protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa:
Editorial Presença

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