Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Método Compreensivo
1-Introdução
1
descrição do processo metodológico, é indiscutivelmente necessário também conhecer a
sua vida e contextualizar o seu pensamento sociológico.
Demartis, refere que para Weber o objecto de estudo da sociologia “ não são a
sociedade e a história entendidas como um todo, mas o agir social dotado de sentido, a
saber, os comportamentos individuais, influenciados pelos comportamentos de outrem,
aos quais é atribuído um específico significado subjectivo” (1999:253). Weber ficou
conhecido também pelo seu gosto de ideias claras e pela honestidade intelectual, não
parou de se interrogar sobra as condições em que a ciência histórica ou sociológica pode
2
ser objectiva, revelando o seu pensamento sobre a ciência como profissão em algumas
conferências (Raymond 1965: 480).
3-Teoria da ciência
3
conta dos fenómenos singulares sem passarmos pela mediação das proposições gerais”.
A compreensão do particular permite perceber o geral, quando o objecto de estudo é o
ser humano nos seus aspectos históricos e culturais. “Quando a humanidade é objecto
de saber, é legitimo interessarmo-nos pelos traços singulares de um indivíduo, de uma
época ou de um grupo, tanto como pelas leis que governam o funcionamento do devir
das sociedades” (2007:480-482). A sociologia para Weber define-se como uma ciência
que se esforça por compreender e explicar os valores que explicam as acções dos
homens. Para compreender a realidade social, não basta observar é necessário conhecer
o pensamento, a ideia, o valor subjacente à acção social.
4
factos objectivamente observáveis, mas imbuídos de actividade humana, interessando
em saber como os homens vivem na sociedade.
Para “ Weber os factos sociais não têm uma existência meramente objectiva;
para além desta têm também um significado para aqueles que os vive” (Pardal, Eugénia-
1995:18). Os factos sociais não só as acções observáveis, pois elas eles estão imbuídas
de significado, que é necessário compreender. Segundo Parkin (1996), Weber insiste na
ideia de que a unidade fundamental de investigação deve ser sempre o indivíduo, isto
porque só o indivíduo é capaz de acção social, é ele que dá sentido à estrutura social.
Em certas situações será favorável estudar grupos ou agregados como se fossem seres
individuais, mas esta situação resulta sempre num estudo subjectivo.
A explicação de um facto faz-se pela análise das causas, os factos sociais não
resultam propriamente de um relacionamento de causas e efeitos (procedimento das
ciências naturais), é necessário compreender os factos que se observam pois eles estão
carregados de sentido. Em relação à causalidade Weber chama a atenção para aquilo
que normalmente consideramos uma causa de uma acto, tanto no domínio das ciências
naturais como das ciências sociais, não passa de uma visão parcial da realidade. Todos
os fenómenos são importantes e não se podem eliminar causas, dizer que um problema
teve uma causa “económica” é subtrair a importância das causas culturais.
4.2- Racionalização
5
conceitos de política e de religião, agem segundo as suas motivações, segundo as suas
crenças. Esta posição contrasta com a posição de Durkheim que considerava que a “
única unidade que realmente contava para fins explicativos era a colectividade (Parkin,
1996: 2). Toda a ciência aspira à evidência, que pode ser racional (lógico matemática)
unívoca, com um só significado. Mas muitos «fins» e «valores» que orientam o agir do
Homem, não são muito evidentes A consideração de tipos indaga e expõe as vivencias
irracionais que influenciam o agir do homem (Weber 2009: 22-24).
6
que não é correcto dizer que o tipo ideal é perfeito ou imperfeito, os elementos que se
escolhem para o definir são influenciados pelo tipo de problemas que se quer investigar
e pelas questões que se colocam. A acção real só em casos raros transcorre tal como foi
construída no tipo ideal. Processos externos do agir semelhantes que se afiguram
«iguais» podem ter um agir muito diferente. Os motivos são diferentes pelo que é
necessário o controlo da interpretação compreensiva
Freund (1996) menciona que Weber apresenta o “tipo ideal” não como um
reprodutor fiel da realidade, mas como uma forma de nos distanciáramos dela para
melhor dominar a realidade intelectualmente e cientificamente. A título de exemplo
refere que podemos construir um tipo ideal de liberalismo, com base nos valores da
doutrina do liberalismo, mas podemos também construir um tipo ideal relacionando-o
com os nossos valores. A ciência só avança com a construção de tipos ideais novos. No
cristianismo por exemplo é possível criar uma serie de tipos ideais, o cristianismo
medieval, o anglicano, católico, o ortodoxo, consoante o tipo de pesquisa.
A respeito da neutralidade axiológica Freund (1996) refere que Weber diz que
o investigador tem de estar sintonizado “ normativamente e moralmente com o acto”, é
fundamental que não tenha divergências de valores ou ideológicas com o que vai
observar. Um ocidental a estudar uma tribo exótica apresenta certamente resultados, no
seu estudo, bem diferentes de um observador que tenha uma cultura mais idêntica. O
trabalho científico exige conhecimento do que se vai estudar, mas ao mesmo tempo é
necessário banir todas as concepções que temos do mundo. O sociólogo deve interpretar
os factos mas não pode de modo nenhum apresentar o seu parecer pessoal. Se durante
uma investigação se ocorrerem facto que o investigador não consegue explicar, não os
deve negar ou rejeitar, só porque não consegue explica-los. O sociólogo não deve dizer
7
qual a melhor sociedade, atribuir-lhe valores, o seu trabalho é somente analisar a
realidade social.
8
certo estilo de actividade económica” (Raymond, 2007: 510). A ideia é revolucionária,
mas amplamente criticada por muitos autores que contestam o tipo ideal do
protestantismo.
9
7- Conclusão
O método compreensivo é inovador pois considera o universo dos valores e
das intenções dos indivíduos que é ignorado pelo método experimental que só observa
factos, esta diferença metodológica revoluciona o tipo de estudo em sociologia. Este
método apresenta algumas fragilidades e veio provocar uma discussão e diversidade de
métodos sem precedentes na história da sociologia, de facto não existe uma teoria única
que domine o mundo da sociologia. Os debates teóricos na sociologia são constantes
pois são várias as perspectivas. Aparentemente pode considerar-se a rivalidade de
teorias como uma fraqueza, mas na realidade o confronto de ideias é expressão de
vitalidade e crescimento da sociologia. A diversidade de pensamento teórico
providencia riqueza de ideias essenciais ao progresso das ciências sociais.
Embora este método seja um marco de referência na sociologia, importa sublinhar
a ideia de que não existem métodos melhores nem piores, o método deve servir a
investigação, tem que se adequar ao objecto que se investiga. É durante o acto de
investigação social que o cientista deve seleccionar o método, ou métodos necessários a
desenvolver o trabalho com o máximo de rigor possível e que melhor lhe permite
interpretar a realidade social. O conhecimento em ciência social é um percurso de
escolhas metodológicas permanecentes que exige ser reinventado em cada trabalho.
Bibliografia
DEMARTIS, Lucia (1996) – Compêndio de sociologia. Lisboa: Edições 70
FREUND, J (1980) - Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Editora Forense
GIDDENS, A (2001) - Sociology. Cambridge, UK: Polity Press
PACHECO; José Augusto (1995) - O Pensamento e a Acção do Professor. Porto: Porto
Editora
PARDAL, L.A. e CORREIA, E. (1995) – Métodos e Técnicas de Investigação Social.
Porto: Areal
PARKIN, F. (1996) – Max Weber. Oeiras: Celta Editora
RAYMOND, A.(2007) - As Etapas do pensamento Sociológico. Lisboa: Publicações
D.Quixote
QUIVY, Raymound e CAMPENHOUDT, LucVan. (1992) – Manual de Investigação
em Ciências Sociais- Lisboa: Gradiva-Publicações, LDA.
WEBER, Max (1983) - A Ética Protestante e o espírito do capitalismo. Lisboa:
Editorial Presença
10
11