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Setembro/2019
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SONHO – SONHAR
Uma arte!
Acho que escutei uma voz gritar: “Nunca mais
dormirás! Macbeth assassinou o sono!”.
Shakespeare
Quero lhes contar um sonho – um sonho – um sonho do qual surgiu uma obra
literária fantástica, conhecida em todo o mundo – e que nem sempre lembramos que
essa obra literária veio de um sonho! A Divina Comédia de Dante, seu autor que não é
cristão e sim poeta. Ele tem uma visão (naquele tempo visão = sonho).
Naquela época a Terra era para Dante redonda e Lúcifer o anjo mais velho
divide a Terra e ela se abre – faz-se um abismo. E o sonho vai nos levar para círculos, já
que a terra foi dividida e faz-se um abismo, aparecem aqui círculos que indicam
pecados, gula, luxúria, e aí Dante sonha com o Inferno – Purgatório e Paraíso, onde esse
ato de queda da Terra é de redenção.
Parece com a Odisseia de Ulisses, mais esse texto da Odisseia não é cristão, mas
Dante que também não é cristão mas sim poeta, traz uma leitura esotérica para os dias
de hoje.
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Tanto para Odisseia como para a Divina Comédia não há tempo – são todos
jovens.
Inferno = magnífico
Purgatório = purgação
Paraíso = chatíssimo
Vários autores escrevem sobre a Divina Comédia, mas Jorge Luiz Borges – diz
que Dante estava apaixonado por Beatriz, pelo rosto dela (que nunca ninguém sabe
como é). E que nos leva a crer que seria o rosto de Deus!
Como Dante representou Deus? A vida são tantos nãos (não posso, não sei) e o
homem (ser) é tomado pelos sonhos. Sim, Dante apresentou Deus, através do sonho.
Dante nos diz que é uma tentativa de voltar para casa materna. Dante dizia que o
amor é o ponto de partida e de chegada.
O AMOR é o grande motor da vida – a terra se move porque nos movemos pelo
amor.
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Entendendo que o sonho é algo singular e subjetivo de cada um – o sonho
contém uma das mais valiosas descobertas – sonhar como um dos espaços fundamentais
da condição humana. O sonho é um filme, onde surgem imagens oníricas, é o cinema
em nossa mente – é magia, e um espaço de produção de sentidos.
O sonhar é também um espaço intersubjetivo e intergeracional – o sonho tem
também a função de restaurar.
Winicott chama de terceira zona da experiência humana – o sonhar -
sujeito/objeto e SER psíquico/ambiente e o sonhar/brincar.
Há entretanto um autor Jung que trás contribuições importantes e que nos diz:
“O sonho como uma porta estreita, com o conteúdo do que a alma tem de mais obscuro
e íntimo; essa porta se abre para a noite cósmica original, que contém a alma muito
antes da consciência do eu e que a perpetuará muito além daquilo que o individual
poderá atingir”.
Os sonhos não são invenções, são fenômenos naturais que não diferem daquilo
que representam. Não utilizam subterfúgios ou artifícios de espécie alguma para
comunicar seu contexto. Sejam originais ou difíceis sempre exprimem algo.
E as coisas vinham docemente de repente, seguindo harmonia
prévia, benfazeja, em movimentos concordantes: as
satisfações antes da consciência das necessidades.
Guimarães Rosa, “As margens da alegria”.
Jung nos trouxe conceitos que com o decorrer do tempo fomos nos apropriando
e usando para entendimento dos sonhos – são conceitos utilizados não só para com os
sonhos, mas também nos ajudam em sua compreensão.
Arquétipos, Mandalas, Sincronicidade, Sombra, Persona, Numinoso, Anima
Animus.
Arquétipos - Para Jung esse conceito deriva de observação reiterada de que os
mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem definidos que reaparecem
sempre e por toda parte. Encontramos nas fantasias, nos sonhos, nas ideias delirantes e
ilusões dos indivíduos que vivem atualmente. Quanto mais nítidos, mas são
acompanhados de tonalidades afetivas nítidas.
Sincronicidade – Termo criado por Jung, que exprime uma consciência
significativa ou uma coincidência significativa ou uma correspondência. Ambas
parecem ter relação com os poemas arquétipos do inconsciente. Jung além do processo
de causalidade – diz “escolhi o termo “sincronicidade” porque a aparição simultânea
dos dois acontecimentos ligados pela significação, mas sem relação causal”, me
autorizo a empregar esse conceito geral da sincronicidade no sentido especial de
coincidência, no tempo, de dois ou vários elementos, sem relação causal e que tem o
nosso conteúdo significativo ou um sentido similar. Sua “inexplicabilidade” não é
devido à ignorância de sua causa, mas do fato de que nosso intelecto é incapaz de
pensa-la.
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Anina – é o arquétipo da vida. Seria o encontro do feminino e masculino em
cada um de nós.
O Sonhar é:
1) Situação acabada
2) Situação inacabada
*Elementos da natureza
O sono e os sonhos
Até a ciência moderna, que aprendeu a importância dos estágios de sono profundo para
o organismo e dos estágios de sonhos (o “sono paradoxal” ou “sono REM”) para nossa
evolução psicológica, continua tendo dificuldade para explicar cientificamente o mundo
dos sonhos. Hoje em dia, a única coisa que se sabe com certeza é o tipo de ondas
cerebrais que acompanham os sonhos noturnos. Mas as ondas Beta do sono REM são
quase idênticas ás da vigília. Por outro lado, todos nós, por experiência própria,
acreditamos saber o que são os sonhos. Mas além dos sonhos da noite, existem também
os devaneios durante o dia ou as “viagens” de sonho em estado de transe dirigido.
Desejos intensos também são chamados “sonhos”.
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A outra realidade da alma
A falta de lógica dos sonhos é evidente à primeira vista. Nos sonhos, as leis normais da
lógica se revitalizam e, passo a passo, são completamente revogadas. A dimensão
temporal também costuma ter pouca importância. Num sonho, podemos entrar numa
igreja no século XIX, assistir a um casamento no século XVIII e sair da igreja no século
XX. No mundo onírico, o Tempo concebido como Cronos (nome grego) ou Saturno
(nome latino) não tem poder sobre nós. De certa forma, nós regredimos para o plano
paradisíaco de um tempo arcaico em que o mundo ainda era uma realidade.
Assim, toda excursão ao mundo dos sonhos é uma preparação para o futuro, pois
o futuro do corpo é limitado em comparação com o da alma. Nos sonhos de todas as
noites, nós nos preparamos para o império da alma. Portanto, é nos sonhos que podemos
aprender as leis da dimensão espiritual.
Mas os sonhos são também uma chave de nossos conflitos mais profundos e ocultos.
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Até surgirem os trabalhos de Sigmund Freud (1856-1939), os sonhos eram quase
totalmente ignorados pela ciência médica. Freud postulou claramente o que a ciência sói
descobriu meio século mais tarde: os sonhos e o estado normal de sono são duas coisas
distintas, e as leis de espaço e tempo não governam os sonhos, mas sim as leis do
inconsciente, que Freud considerava “atemporais”. Ele descreveu os sonhos como
“ferramentas para explorar o inconsciente”, mas atribuiu-lhes um papel limitado. Para
Freud, os sonhos são os “guardiães do sono”. Ele acreditava que a principal função dos
sonhos era inibir o despertar. Quando determinadas mensagens (que, com seu teor
explosivo, poderiam perturbar o sono) emergem do subconsciente ou do inconsciente,
os sonhos se encarregam de reelaborá-las e dissimulá-las, tornando-as menos
ameaçadoras. Freud era um homem de seu tempo e encarava as mensagens não-
censuradas da esfera atemporal do inconsciente, que ele havia descoberto em seus
trabalhos pioneiros, como uma ameaça para a sobrevivência do mundo burguês e
conservador. Assim, a função de censura dos sonhos lhe pareceu conveniente.
Mas os olhos são mais que do que isso. Eles podem nos levar do mundo
das oposições em direção à experiência da unidade, como mostram claramente os
sonhos lúcidos em estado de transe. Sem os sonhos, o inconsciente não tem “válvulas de
escape” para aliviar sobrecargas e elaborar temas urgentes. Como “guardiães do sono”,
os sonhos são tão importantes para a saúde mental quanto o sono profundo para a saúde
do organismo.
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consciente. Mas seu colega Carl Gustav Jung (1875-1961) e seu discípulo Erich Fromm
(1900-1980) ampliaram essa concepção, a ponto de incluir as experiências de culturas
xamânicas que dão grande importância aos sonhos. Segundo os xamãs, os sonhos
podem ser avisos de perigo, podem nos mostrar tarefas importantes ou nos levar de
volta ao nosso caminho. Nós, ocidentais, devemos, sobretudo, a Jung o papel que a
religião – no sentido de religio ou “religação” com nossa origem primitiva – passou a
ter na interpretação dos sonhos.
Interpretar as mensagens dos sonhos não é tão difícil como diz esse psicanalista – se nos
orientarmos pelos arquétipos ou imagens primitivas da psique.
A pessoa que entra no reino do sono e dos sonhos se depara com Cronos (em grego) ou
Saturno (em latim), guardião da fronteira entre os mundos e um dos arquétipos mais
importantes. Então, ela transpõe o limite de espaço e tempo. As leis do mundo material
são abolidas em grande parte e substituídas pelas leis do mundo psíquico. A pessoa que
dorme tem acesso a um mundo “metafísico”, isto é, que existe além do plano físico.
Toda experiência de sonho é uma expansão da consciência em direção a uma dimensão
mais profunda da realidade. Os conteúdos oníricos ganham forma de acordo com a
situação de vida e o estágio evolutivo e espiritual da pessoa que sonha.
A Yoga tibetana dos sonhos descreve, sobretudo, dois grandes tipos de sonhos.
Existem os sonhos de iluminação, que dão acesso a uma realidade para além das
necessidades da pessoa que sonha. Os índios falam aqui em “grandes sonhos”. Eles
podem nos dar noções das leis que regulam o cosmos e até da Verdade última. De outro
lado, existem sonhos baseados nas impressões do dia anterior. Isso inclui todos os
conteúdos relacionados com nossa estrutura de personalidade e nosso padrão
psicológico, aos quais estamos presos em maior ou menor grau.
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modo e a frequência com que esses arquétipos surgem em nossos sonhos dependem de
uma análise detalhada de suas qualidades principais. Eles são, portanto, uma referência
no caminho de nossa evolução interior e exterior e ajudam a integrar manifestações
inconscientes no plano da consciência.
O arquétipo de Saturno
Sonhos assustadores ou nos quais sentimos medo também têm relação com
Saturno, pois tematizam os dilemas da vida e nossa dependência do mundo material,
que nos amedronta.
O arquétipo do Sol
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O arquétipo da Lua
As deusas da Lua são uniformes como as várias faces da lua. Assim como o satélite da
terra comanda as marés, as deusas lunares representam os movimentos de fluxo e
refluxo no plano psicológico. Além disso, elas comandam os ciclos da vida natural.
Têm relação com todas as manifestações da fertilidade. A água que torna a terra fértil é
o elemento das deusas lunares.
Sonhos sobre fontes, rios, poços e sobre água em geral mostram que precisamos
esclarecer nossos sentimentos e emoções, encarar a vida como fluxo contínuo e lidar
com as profundezas de nossa alma, na qual podemos encontrar forças para seguir em
frente.
Sonhos sobre a infância ou sobre os pais também têm relação com a Lua e
representam o ventre materno psicológico no qual tivemos origem.
O arquétipo de Marte
O arquétipo de Vênus
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Sonhos sobre a harmonia ou situações harmoniosas também se relacionam com
o reino de Vênus, pois a deusa Harmonia é o quarto filho que Vênus concebeu com o
deus da Guerra. Mas Harmonia também representa o mundo das oposições, pois seu
colar é feito de pérolas brancas e pretas.
O arquétipo de Mercúrio
O arquétipo de Júpiter
Zeus, ou Júpiter para os romanos, é o pai dos deuses e principal deus do Olimpo. Com
seus raios, ele simboliza a luz do conhecimento e os lampejos da inteligência. É o deus
da visão e da compreensão – por exemplo, do sentido da vida. Mostra a existência como
uma estrutura que tem sentido nos mínimos detalhes e o mundo como um cosmos
governado por um princípio superior. Seu segundo símbolo é a águia, que ao voar pelos
céus tem uma visão do alto e paira acima das coisas mesquinhas da vida.
Sonhos em que estamos voando, alcançando assim uma visão de conjunto das
coisas, sugerem a necessidade de não perder de vista a floresta da vida, mesmo diante
de uma única arvore. Sonhos em que estamos caindo também têm característica
jupiteriana, pois mostram o perigo da “mania de grandeza” ou de colocar objetivos
muito altos na vida. Em sua condição de principal deus do Olimpo, Júpiter exige
respeito. Sonhar com uma queda mostra o perigo da arrogância e de confundir dois
pesos e duas medidas. Como diz o provérbio latino: “Quod licet jovi, non licet bovi” (“o
que é permitido a Júpiter não é permitido a um boi” - ou seja, nem todos têm os mesmos
direitos).
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O arquétipo de Urano
Urano é o deus do Céu. Por isso está acima de tudo e até acima do Olimpo. Ele sempre
existiu e já existia antes de nossa era. As leis de tempo e espaço não valem para ele.
Urano vai além de todos os limites. As regras e normas do mundo material não o
preocupam, e ele até as despreza. Provavelmente, é também por esse motivo que tentou
empurrar seus filhos (suas criações) de volta para o ventre de Gaia, a Mãe Terra. Tudo o
que pertence ao Céu se torna imperfeito em contato com o mundo das oposições
terrenas.
O arquétipo de Netuno
O oceano não é só uma entidade serena e receptiva, pois também tem seu lado
assustador. Nele vivem monstros estranhos e grotescos nunca vistos por um olho
humano. As profundezas do mar dão medo. A escuridão e pressão da água esmagam a
alma. É natural que as pessoas prefiram fugir deste aspecto de sua realidade interior.
Mas Netuno tenta impedir a fuga – pelo menos no mundo dos sonhos. Assim, sonhos
em que estamos fugindo estão subordinados a este arquétipo. Geralmente, trata-se da
fuga da realidade interior e dos “demônios” da alma. Mas sonhos de fuga também
podem exprimir um desejo de evasão para não ter de enfrentar as dificuldades e
trabalhos da vida.
Sonhos místicos também têm relação com Netuno e, no melhor dos casos,
podem ser expressão de uma experiência de unidade capaz de mudar a vida da pessoa
que sonha. Caso contrário, podem mostrar o desejo de alcançar um mundo perfeito no
“além”. Mas esse mundo não existe. Portanto, o desejo se torna uma armadilha. Nos
sonhos místicos, geralmente é difícil distinguir a verdade da ilusão.
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O arquétipo de Plutão
Na mitologia grega, o reino de Plutão fica abaixo das profundezas do mar. Ali
não vivem só os mortos, mas também os instintos “animalescos”, os animais da lama
humana, que com muito esforço e sofrimento aprendemos a dominar e domesticar para
nossos próprios fins. Não podemos descuidar nenhum minuto, pois nossos “animais”
interiores poderiam escapar num momento de distração. Assim, Hades/Plutão nos
confronta com o dragão interior e a luta permanente contra ele. Plutão nos envia, por
exemplo, sonhos sobre os mortos, atos de crueldade, fantasmas, demônios, situações de
pânico ou que envolvem risco de vida.
Mas, assim como existem heróis lendários que – depois de muitas experiências –
conseguem sair ilesos dos Infernos de Hades, pode-se encontrar neste arquétipo um lado
mais positivo. Sob o nome Plutão, Hades é ao mesmo tempo o deus da riqueza (interior
e exterior). Por isso, dá presentes muito generosos para os que têm a coragem de medir
o reino dos Infernos e enfrentar sua própria sombra. As experiências de evolução
pessoal que tiramos daí valem para toda a vida. “Desceu aos infernos, ressurgiu dos
mortos ao terceiro dia...” diz a profissão de fé cristã. Assim, sonhos sobre Infernos e
demônios também estão subordinados ao arquétipo de Plutão.
Sempre me pergunto que mensagem tem e traz um sonho. Cada sonho traz em si
vivências – interiores despontando o que há de mais pessoal, original de um ser. Cabe a
quem escuta – terapeuta ou não ouvir, e não esquecer que a resolução e o
desencadeamento psíquico é único e singular a cada um e seja qual for a sua mensagem
e (do sonho) é pessoal e intransferível.
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Drª Bertine Carlos Bezerra
CRM – 52.23685-8
Bibliografia:
-O sono como caminho: Dormir bem para viver bem. Rüdiger Dahlke
-A interpretação dos sonhos – Sigmund Freud
-Memória, Ficção e Sonhos – Carl Gustav Jung
-Divina Comédia – Dante Alighieri
-O sonhar restaurado – Tales A. M. Absáber
-Sonhos Criativos – Patricia Garfield
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