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Declaração do artista por Denis Forkas:

A significação oculta das visões dos sonhos raramente levanta dúvidas. Até os filósofos
estóicos da antiguidade recorreram a compilar evidência de casos de sonhos que se
realizaram – notavelmente a coleção de Posidonius usada por Cícero no seu tratado Sobre
Divinação – como meio de estabelecer uma fundação empírica para sua doutrina sobre o
destino.

A influência dos gregos antigos

Sócrates, Platão e Aristóteles acreditavam que sonhos garantiam conhecimento de coisas


escondidas a uma mente desperta. Aristóteles defendia que a interpretação de "visões do
sangue" deveria ser performada com grande cautela, pois ele acreditava que o processo do
sonhar iria distorcer projeções recebidas de um daemon [antigos espíritos e deidades
gregas], e era trabalho do intérprete reconhecer os símbolos verdadeiros dentre as sombras
grotescas. Aristóteles também negava a ideia da origem divina dos sonhos, pois falhava em
ver porque os deuses não falariam com os homens enquanto estes estivessem acordados.

Para os gregos antigos, os daemons eram "almas imortais" – entidades desimpedidas por
amarras do mundo material e, como tal, capazes de transcender o tempo. Eles acreditavam
que sempre quando um homem perdia consciência da realidade desperta, sua mente estava
alinhada com a de um daemon e partes da memória daemonica eram comunicadas ao
adormecido: passado, presente e futuro – ramos completos da árvore universal eram
reveladas como sonho.

Essa ekstasis – ou saída de si próprio – constitui a primeira metade do meu talento de duas
faces. Minhas experiências pessoais me forçam a concordar com o poeta grego antigo
Hesíodo quando ele escolhe associar sonhos a ameaças ("E a Noite despia Ruína odiosa e
Destino negro e Morte, e ela despia Sono e a Tribo dos Sonhos") e descartava sonhos
agradáveis como algo inválido de menção em toda Teogonia. O ar sombrio das minhas visões
é persistente, e eu honestamente não me lembro de um único sonho genuinamente contente.
Essa observação puramente subjetiva nos traz à segunda parte do talento: aquela de um
mante, o intérprete de visões.

Usando simbolismo para interpretar sonhos

Oneiromancia (do grego oneiros, "sonho", e manteia, "poder profético ou dom") é uma forma
de divinação que usa o simbolismo como um método de interpretação. Um oráculo
habilidoso é essencialmente um psicólogo que interpretaria símbolos através do prisma da
personalidade, profissão, saúdes física e mental, gostos, relatos de sonhos prévios e
recorrentes, etc. de um sonhador. Eu imagino que em nosso caso – meu e de Hesíodo – os
sobretons sinistros são postos por várias experiências traumáticas, pois relatos de outras
pessoas produzem ampla prova de que há prospectos muito mais alegres por aí.

É importante capturar memórias de sonhos logo após despertar, já que elas são rapidamente
substituídas por memórias de segunda mão e daí tornam as interpretações dramaticamente
menos precisas. Ademais, aqui e ali eu testemunho cenas tão alheias que não posso senão
concordar com os sacerdotes egípcios que acreditavam que a alma ganhava acesso a um
universo diferente enquanto o corpo estava adormecido. Então eu mantenho um caderno de
cabeceira sempre ao meu alcance para notas rápidas e esboços, como deve fazer qualquer
explorador diligente. O caderno e a caneta podem lhe ajudar a capturar seus próprios
sonhos ao despertar.

Naturalmente, esta pequena introdução não é intencionada como uma dissertação


compreensiva das práticas oneiromânticas que abrangem desde a poesia mesopotâmica até
os estudos de Carl Jung sobre o inconsciente. Em nome da brevidade, mencionei aqui apenas
umas poucas facetas da tradição grega, que parecem ressonar com minha própria
abordagem do fenômeno.

Os estudos abaixo e as notas de acompanhamento não incluem interpretações, é claro. Eu


ofereço essa seleção como evidência do vasto reino escondido por trás do véu. Eu espero que
ela lhe entretenha e lhe inspire em sua própria jornada.

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