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I RBNÉ GIIÉNON

A GRAI\TDE TRIADE

Tradução de
DlNrBr. Carvrmrrru o.l Srr-vl

EDITORA PENSAMENTO
SÃo Plur-o
do original:
.LATítulo
GRANDE TRIÂDE
@ Éditíons Gallimard, 1957

Índ,ice

Preâmbulo 7
Cap. I. Ternário e Trindade 13
Cap. II. Diferentes gêneros de Ternário 17
Cap. lil. Céu e Terra . 24
Cap.' IV. "YiIl" e "Yang" 29
Cap. V. A dupla Espiral 34
Cap, VI. "Solve" e "Coagula" .....:.... 40
Cap. Vil. Questões de orientação 48
Cap. VIil. Números celestes e números terrestres 55
Cap. IX. O Filho do Céu e da Tera 61
Cap. X. O Homem e os três mundos 66
Cap. XI. "Spiritus", "5ima", "Corpus" 70
Cap. XII. O Enxofre, o Mercúrio e o Sal 76
81
Cap.XIY. OMediador ........... 88
Cap. XV. Entre o Esquadro e o Compasso ...:......... 94
Cap. XVI. O "Ming-Tang" 99
Cap; XVil. O "Wang" o Rei-Pontífice ... 105
Cap. XVilI. O Homem verdadeiro e o Homem transcendente tt2
Cap. XIX. ttDeus", t'Ho,mo", "Natura" tt7
9o-9t.92.9'
Cap. XX. Deformações filosóficas modernas 122
2.t-{.5-6.7-8.9
Cap. XXI. Providência, Vontade, Destino 12Á
Direitos de tradução para a língua portuguesa no Brasil adquiridos pela
Cap. XXil. O tríplice Tempo . . .... 131
EDITORÂ PENSÁMENTO LTDA. Cap; XXilI. A Roda oósmica t37
Rua Dr. Mário Vicente, 374, 04270, São Paulo, §P, fone 272-1399 142
que se reserva a propriedade Iiterária dcsta tradução.
Cap. XXV. A Cidade dos Salgueiros . . . 147
Impresso em nossas oficitus grtficas.
Cap. XXVI. A Via do Meio 153

5
Preâ,mbulo

É provável que, só pelo título, muitos leitores comFreendam quo


este estudo se refere sobretudo ao simbolismo da tradição do extre
mo oriente, porque se conhece, de modo muito geral, o papel desem,
penhado nessa tradição pelo ternário formado pelos termos "Céu,
Terra, Homêm". É justamente esse ternário, que nos acostumamos
a designar mais particularmente com o nome de "Tfíaden', mesmo
sêm compreender exatamente seu sentido e alcance, que nos consa-
graremos a explicar aqui, assinalando ta,mbém, por outro lado, as
correspondências que a respeito se encontram uoutras formas tadi-
cionais. Ao assunto já dedicamos um capítulo de outro estudol, mas
o tema meÍece ser tratado com maior desenvolvimento. Sabe-se,
também, que existe na China uma "sociedade secreta',, ou o que se
concordou chamar assim, à qual se deuo no Ocidente, o mesmo nome
de "Tríade". Como não temos a intenção de tratar especialmonto
dela, é bom dizer de imediato algumas palavras a respeitõ, para não
ter de voltar ao assunto no curso de nóssa exposição2. \
O nome verdadeiro dessa organizaçáo é Tien+i-houei, que se
pode traduzir por "Sociedade do Céu e da Terra", desde que se
observem todas as restrições necessárias em relação ao emprego da
palavra "sociedade", pelas razões que explicamos noutra pàrteo,
poÍque ossa ordem, embora relativamente exterior, está longe, no
entanto, de apresentar todos os caracteres especiais que essa palavra

1. Í.e §ymbolisme de la Croix (O simboliemo da cruz), cap. )O(V[I.


2, Encontrar-sê-ão porm€nores sobte essa organização,
-no seu ritual e sím-
bolos (nqtadamente os símbolos numéricos que utiliza), livro do tenent+
coronel B. Fawe sobre Lec Socíétés secràtes en Chine (As sociedades secreta§
na China); trata-se de obra escrita do ponto de vista profanq mas o autpr
entreviu, .ao menos, certas coisas que habitualmoDte escapam aos sinólogos,
e, se está longe_de resolver todas as questões que levanta a respeito, tem,
no entanto, o mérito de as haver formulado com bastante cTareza, Ver tam-
bém, além disso, Matgioi, La Voie Rationnelle (A üa racional), cap. VII.
3. Áperçus sur I'Initidion (Idéias sobre a iniciação), cap. XII.
incvitavelmente evoca no mundo ocidental moderno. Cumpre notar que é de ordem esotérica ou iniciática, seja qual fot o grau, depende
que apenas os dois primeiros termos da Tríade tradicional figuram necessariamente do taoísmo. Mas o que, apesar de tudo, é muito
nesse título, e isso porque, de fato, a própria organização (houei), curioso é que mesmo aqueles que discerniram, nessas "sociedades
através cle seus membros, tomados tanto coletiva quanto individual- secretas", certa influência taoísta, não souberam ir mais longe e não
mente, ocupa aqui o lttgar do terceiro termo, como algumas consi- tiraram disso nenhuma conseqüência importante. Esses, constatando
derações que teremos que desenvolver farão compreender melhor a. ao mesmo tempo a presença de outros elementos, principalmente
Diz-se muitas vezes que essa mesma organização é conhecida ainda de elementos budistas, apressaram-se em pronunciar a esse respeito
sob um número bastante grande de outras denominações diferentes, a palavra "sincretismo", sem suspeitar que o que ela designa é algo
entre as quais algumas em que se menciona expressamente a idéia tofalmente contrário, por um lado, ao cspírito eminentemente "sin-
do ternário ó; mas, na verdade, há nisso uma inexatidão. Tais deno- tético" da raça chinesa e, também, por otttro, ao espírito iniciático
minações só se aplicam propriamente a ramificações particulares ou de que procede, de modo eviclente, aqttilo dc que se trata, mesmo
"emanações" temporárias dessa organização, que aparecem em tal que, nesse sentido, sejam apenas forntits bastante distanciadas do
ou qual momento da história e desaparecem ao terminarem de de- centro 3. Não queremos, certamctrtc, clizer quc toclos os membros
sempenhar o papel a que mais especialmente se destinavam 6. dessas organizações relativamentc extcriores clcvam ter consciência
da unidade fundamental cle todas as tradições; mas os que estão por
Já indicamos, aliás, qual a verdadeira natureza de todas as trás dessas organizações c as inspiram possuem forçosamente, na
organizações desse gênero7: em última análise, devem ser sempre qualidade de "homens vcrclaclciros" (tclwnn-ien ) . essa consciência,
consideradas procedentes da hierarquia taoísta, que deu origem a
e ó isso que lhes permitc introcluzir nelas, quando as circunstâncias
elas e as dirige invisivelmente, para as necessidades de uma ação o tornam oportuno ou vantajoso, elementos formais pertencentes de
mais ou menos exterior, na qual ela própria não poderia intervir de modo exclusivo a diferentes traclições e.
modo direto, em virtude do princípio do "não-agir" (wott-wel), se-
gundo o qual seu papel é essencialmente o de "motor imóvel", isto Dcvemos, nesse sentido, insistir um pouco sobre a utilização
é, centro que rege o tnovimento de todas as coisas, sem nelas parti- dos elementos de proveniência budista, não tanto porque sejam
cipar. A maioria dos sinólogos ignoi'a naturalmente tal coisa, pois provavelmente os mais numerosos, o que se explica facilmonte de-
seus estudos, devido ao ponto de vista especial em que os empreen- vido à grande extensão do budismo na China e em todo o Extremo
dem, não podem quase fazê-los saber que, no Extremo Oriente, tudo Oriente, senão porque há, para essa utilização, uma razá.o de ordem
mais profunda, qu,e a torna particularmente interessante e sem a
qual, rra verdade, essa mesma expansão do budismo talvez não ti-
4. Deve-se notar que iar significa, a um só tempo, "homem" e."hu- vcsse ocorrido. Poder-se-iam encontrar, sem dificuldades, muitos
manidade"l e, além disso, do ponto de vista das aplicações à-ordem social, é
a .,.solidarieclade,' da raça, cuji realização prática é um dos fins contingentes exemplos dessa utilização, mas, ao lado das que só têm por si mes-
a que
- essa organização se ProPõe' mas irnportância de algum modo secnndária e valem justamente,
5. Notaãamenie os "Trê.s Rios" (San-lro) e os "Três Pontos" (§art- sobrcttrclo, por seu grande número, para atrair e reter a atenção do
tien); o uso desse último vocábulo é, evidentemente, um dos motivos que observaclor clc fora e para clesviá-la, por isso mesmo, daquilo que
levaiam alguns a buscar relações entre a "Tríade" e as organizações iniciá-
ticas ocidentais, como a MaÇonaria e t Corttpagrtottnage. tem caráter mais essencial 10, há pelo meuos uma, extremamente
6. Nunca deverão perder de vista essa distinção essencial aqueles que clara, que tern algo mais do que simples detalhes: trata-se do em-
desejarem consultar o livro já citado do tenente-coronel B. Favre, onde la-
mentavelmente ela é negligenciada de tal modo, que o autol parece con-
siderar todas essas denomin;Lções pura e simplesmente equivalentes; de fato, 8. Cf . Á pcrçus .sttr I'l rtitiulion. cap. VI.
a maioria clos detalhes que apresenta a respeito da "Tríade" só se refere 9. Inclusive, irs vczcs, aló as que são urais completamente estranhas
realmente a uma de suai emãnações, a Hong'ltoueí; em particular, é esta ao Extremo Oriente, conro o ctisiianismo, como se pode ver no caso da
somente, e não a própria f ien'ti-houeí, que pode ter sido fundada apenas assc,ciação cla "Grancle [)az" ou '! tti-1;itt,L", quc foi uma das emanaçõ:s re-
cerca do fim do séãutô xvlr ou início dó xvIII, isto é, numa data, afinal centes da Pe-licr,-lrcttei, que vamos meucionrr mais adiante.
de contas, muito recente 10. A idéia do pretenso "sincrelisnto" clas "sociedades secretas" chi-
7. CÍ. Aperçus sur I'Iniciation (idéias sobre a Liiciação), cap. XII rrêsâsé um caso particular clo resultaclo obtido por esse meio, quando o
e XLVI. observador de fora é r.tm ocidental moclerno.

I 9

-i
prcgo do "lótus branco", no próprio título da outra organização daqueles elementos pelos quais se estabelecem similitudes às vezes
cxtremo-oriental que se situa l1o mesnto nível da Tien-ti-houei rr. Com surpreendentes entré essas organizações e as da mesma ordem,
efeito, Pe-lien-che ou Pe-lien-tsor?g, nome de uma escola budista. e pertencentes a outras formas tradicionais. Alguns foram ao ponto
Pe-lien-kiao ou Pe-lien-houei, nome da organização em questão, de- àe considerar, cm particular a esse respeito, a hipótese de uma
signam duas coisas de todo diferentes. Há, porém, na aáoção clesse origem comum cla "Tríade" e da Maçonaria, sem poder, aliás,
nome, por essa organização emanada do taoísrno, uma espécie de upúá-lu em razões muito sóliclas, o que não tem, de certo, nada de
equívoco intencional, do mesmo modo que em certos ritos de apa- surpreendente; não é, no entanto, que essa idéia seja para rejeitar
rência budista, ou ainda nas "lendas" em que monges buclistas re- absolutamentc, mas descle que a entendamos num sentido diferente
presentam quase constantemente pap,el mais ou menos importante. do que o que lhe deram, isto é, desde que a relacionemos não com
Por um exemplo como esse, vê-se, com bastante clareza, como o uma origcm histórica mais ou menos longínqua, mas apenas com a
budismo pode servir de "disfarce" ao taoísmo, e como o budismo identiclaclc clos princípios que presiclem tocla iniciação. seja oriental.
pôde, dessa forma, poupar, ao taoísmo, o inconveniente de exterio- seja ociclentall para ter sua verdadeira cxplicação, seria necessário
mais do que convinha a uma doutrina que, pela própria remonlar muito além da história, querelnos clizer alé a própria Tra-
{z3r-.se-
definição, deve reservar-se sempre a Lrma elite reitrita. po.'isso é dição primordial 13. Quanto a certas senrclhanÇas que parecem se
que o taoísmo pôde favorecer a difusão do budismo na chi,a, sem referir a pontos mais especiais, diremos apellas que coisas tais como
que haja necessidade cle invocar afinidades originais, que só existem o uso do simbolismo dos números. por exemplo. ou, então, o do
na imaginação de alguns orientalistas; e, além dissoj pôde fazê_lo simbolismo "construtivo", nâto são, de modo algum, particulares a
tanto mais quanto, desde que as duas partes, a esotéricà e a exoté_ essa ou àquela forma iniciática, mas, ao contrário, são daquelas que
rica, da tradição extremo-oriental se haviam constituído em duas se encontram em toda a parte, com simples diferenças cle adaptação,
ramificações de doutrina tão profundamente distintas, como o taoís- porque se referem a ciências ou a artes que existem igualmente, e
mo e o confucionismo, era fhcil encontrar lugar, entre uma e outra, com o mesmo caráter "sagrado", em todas as tradições; pertencem,
para alguma coisa que dependesse de uma ordem de algum modo portanto, realmente ao domínio da iniciação em geral, e. por con-
intermediária. Pode-se acrescentar que, por isso, o próprú budismo seguinte, quanto ao Extremo Oriente, pert'encem exclusivamente ao
chinês foi influenciado, numa medida bastante grande, pelo taoísmo, domínio do taoísrno; se os elementos adventícios, buclistas ou outros,
assim como o revela a adoção de certos métodos de inspiração ma- são antes uma "máscara", aqueles, muito ao contrário, fazem ver-
luifestamente taoísta por algumas de suas escolas. principalmente a dadeiramente parte do essencial.
'de Tchan12, e, também, a assimilação de certos símbolos
de pro- Quando falamos aqui do taoísmo e dizemos que tais ou quais
veniência não menos essencialmente taoísta, como o de Kouan-yin, coisas clependem deste, o que é o caso da maioria das consideraÇões
por exemplo; é necessário apenas fazer notar que ele se tornava clue teremos de expor n'este estudo, devemos ainda determinar que
assim muito mais apto ainda a desempenhar o papel que acabamos iiso sc cleve entender em relação ao estado atual da tradição extre-
de indicar. mo-orien1al, porque inteligências muito inclinadas a tudo encarar
.,historicamcnie" pocleriam ser tentadas a concluir daí que se trata
Há também outros elementos, cuja presença os partidários mais
decididos da teoria dos "empréstimos" não poderiam quase pensar de conccpçõrcs que não se encontram anteriormente à formação do
em explicar pelo "sincretismo", mas que, por falta de conhecimentos que se ci.,u,.,.,,, propriamente o taoísmo, quando, bem longe disso,
iniciáticos dos que quiseram estudar as "sociedades secretas" chi-
nesas, permaneceram um enigma insolúvel para eles. Queremos falar 13. Il verdacle rlrrc u iniciaçiro colllo tal só se toÍnou necessária a par-
tir- cle cleterminado pcríotle tlo ciclo cl1 hrtmltniclatlc tcrlestre e, em segttida,
11. Dizemos "outra", porque só há efetivamente duas, sendo, na ver- à degenerescência espiritrrtrl du gencraliclade tlestir; nras tttdo que ela com-
dade, todas as associações conhecidas exteriormente ramificações ou ema- porta- constituía antct iortttcnlc rt P:tttc supcl ior da Tradição primordial, do
nações de uma ou de outra. -..*o modo que, analogicantcnte e cnl r'claçiLo u um ciclo, muito mais_ res-
12. Transcrição chinesa da palavra sânscrita Dhyâna, "contemplação,,; trito no lempo .r no .r1,iç,,. lurlo o cluc estir implícito no taoísmo cortstituía,
essa escola é mais comumente conhecida pela designaçáo de Zen, que é a antes do mais, a parte sripet.iol cla tr-acliqão unitíu'ia que .existia no Extremo
forma japonesa da mesma palavra. Oriente, antes cla'reparnçi,o clc seus dois aspectos, esotérico e exotérico.

10 t1

r-j
elas se encontram constantemente em tudo que se conhece da tra-
dição chinesa, desde a tlpoca mais recuada a que seja possível re-
montar, isto é, em conclusão, desde a época de Fo-hi. É que, na
realidade, o taoísmo não "inovou" no domínio esotérico e iniciático,
como, aliás, também o confucior-rismo não inovou no domínio exo-
térico e social; um e outro são apenas, cada qual em sua ordem,
"readaptações" necessitadas por con«lições em conseqüência das
quais a tradição, em sua forma primeira, não era mais integralmente
compreendida 1a. Por conseguinte, uma parte da tradição anterior Capítulo I
penetrava no taoísmo e uma outra no confucionismo, e esse estado
de coisas é o que subsistiu até os nossos dias; relacionar tais con- Ternário e Trindade
cepções com o taoísmo e tais outras com o confucionismo não é, de
maneira nenhuma, atribuí-las a algo mais ou menos comparável ao
que os ocidentais chamariam "sistemas" e, no fundo, náo é mais do
que dizer que elas pertencem respectivamente à parte esotérica e à Antes de abordar o estudo da Tríade extrelno-oriental, convém
parte exotérica da tradição extremo-oriental. pôr-se cuidadosamente em guarda contra as confusões e as falsas
assimilações que circulam em geral no Ocidente e que provêm so-
Não falaremos de novo, de modo especial, daTien-ti-houei , salvo bretudo de se querer achar, em seia qual for o ternário tradicional,
quando for o caso de precisar alguns pontos particulares, porque um equivalente mais ou menos exato da Trindade cristã. Esse erro
não é a isso que nos propomos; mas o que dissermos em noiro .s- não é apenas de teólogos, que seriam ao menos perdoáveis por
tudo, além de seu alcance muito mais geral, mostrará implicitamente querer assim reduzir tudo a seu ponto de vista especial; o mais sin-
em qúe princípios repousa essa organização, em virtúde de seu gular é que cometem esse erro pessoas alheias ou hostis a qualquer
próprio título, e permitirá compreender por isso como, apesar de sua religião, inclusive o cristianismo, mas que, devido ao meio em que
exterioridade, ela tem carâter realmente iniciático, que assegura a vivem, conhecern, apcsar de tudo, essa religião muito mais do que as
seus membros participação ao menos virtual na tradição taoísta. D,e outras formas tradicionais (o que, por outro lado, não quer dizer
fato, o papel atribuído ao homem como terceiro termo da Tríade é que, no fundo, Çolnpreendam melhor) e, em conseqüência disso, fa-
precisamente, num certo nível, o do "homem verdadeiro" (tchenn- zem dela, mais ou menos inconscientemente, uma espécio de termo
jen) e, num outro, o do "homem transcendente" (cheun-jen), in- de comparação, ao qual procuram relacionar tudo mais. Um dos
dicando assim os objetivos respectivos dos "mistérios menores" e exemplos que se encontram com mais freqüência, entre todos os que
dos "mistérios maiores", isto é, os próprios objetivos de toda ini- se poderiam dar dessas assimilaÇões abusivas, é o que se relaciona
ciação. Provavelmente essa organização, por si mesma, não é daque- com a Trimurti hindu, a que se dá mesmo correntemente o nome
las que permitem chegar de fato 1á, mas pode, pelo menos, preparar de "Trindade", denominação que, ao contrário, é indispensável re-
para isso, por mais remotamente que seja aqueles que são "qualifi- servar exclusivamente, para evitar qualquer engano, à concepção
cados", e constitui assim um dos "vestíbulos" que podem, para cristã a cuja designação exata sempre foi destinada'
aqueles, dar acesso à hierarquia taoísta, cujos graus não são outros Trata-se, na verdade, nos dois casos, de modo muito evidente,
que-{s da própria realizaçáo iniciática. de um conjunto de três aspectos divinos; mas a semelhança limita-se
a isso. Como esses aspectos não são, de modo algum' os mesmos
em ambos os lados e como sua distinção não corresponde, de forma
nenhuma, ao mesmo ponto de vista, é totalmente impossível fazer
corresponder respectivamente os trôs termos de um desses dois ter-
14. Sabemos que a constituição dessas ramificações distintas da tra- nários aos do outro 1.
dição extremo-oriental data do século VI antes da era cristá, época na qual 1. Entre os diferentes ternários que a tradição hindu considera, aquele
viveram Lao-tse e Confúcio.
que talvez se possa comparar, de modo mais válido, com a Trindade cristã

12 13

:i
De fato, a primeira condição para que se possa pensar em alguns dos quais são verdadeiros prodígios de incoerência e de con-
assimilar, de maneira mais ou menos completa, dois ternários per- fusão 2.

tencentes a formas tradicionais distintas é a possibilidade de esta-


belecer entre eles, de maneira válida, uma correspondência termo a Como veremos, em seguida, de modo mais completo, -a Tríade
termo; noutras palavras, é preciso que seus termos estejam entre si, extremo-oriental pertence aã gênero de ternários que são formados
realmente, numa relação equivalente ou similar. Essa condição não á" áoi, termos cómplementarei e de um terceiro termo que é o pro-
é, aliás, suficiente para que seja possível considerar pura e simples- áuto da união dos dois primeiros, ou dizendo melhor, de sua ação e
mente idênticos esses dois ternários que, embora do mesmo tipo, i"uçao recíproca; se tomarmos como símbolos imagens tiradas do
situam-se, no entanto, poder-se-ia dizer, em níveis diferentes, quer domínio humano, os três termos cle tal ternário poderão, portanto,3'
na ordem principal, quer na ordem da manifestação, quer até respec- de modo geral, ser representados como o Pai, a Mãe e o Filho
tivamente numa ou noutra. É claro que pode igualmente acontecer Ora, é *inif"rtu*"nte impossível fazer corlesponder esse^s três ter-
assim em relação a ternários considerados por uma mesma tradição, mos' aos da Trindade crisfã, em que os dois primeiros não são, de
modo algum complementares e, de nenhuma forma, simétricos, mas
mas, nesse caso, é rnais fácil desconfiar de uma identificação errada,
q* "o ,"gu.táo é, ao contrário, clerivado apenas do primeiro;
porque é natural que esses ternários não devem fazer entre si uma "-
repetição inútil, enquanto que, quando as tradições são diferentes, quanio ao terõeiro, embora proceda, dos dois outros, essa procedên-
somos antes tentados, desde que as aparências se prestem a isso, a cia nao é, de nenhum moclo, concebida como uma geração ou filia-
estabelecer equivalências que, no fundo, podem uão se justificar. ção, mas constitui outra relação essencialmente diferente daquela,
Seja como for, o erro nunca é tão grave quanto no caso em que Ãeja qual for a maneira, aliás, como se queira tentar defini-lo, o que
ele consiste em tornar idênticos ternários que só têm em comum ,ao ê necessário que examinemos aqui mais precisamente. O que
o simples fato de serem exatamente ternários, isto é, conjuntos tle pode originar algum equívoco é que aqui dois dos termos são desig-
nados ainda como o Pài e o Filho; mas, em primeiro lugar, o Filho
três termos, I em que esses termos estão entre si em relações total-
mente diferentes; cumpre, portanto, para saber do que se trata, de- é o segundo termo e não mais o terceiro e, depois, o .terceiro termo
não põderia, de modo algum, corresponder à Mãe, ainda que mais
terminar, antes do mais, de que tipo de ternário se trata em cada
não iosse, mesmo na falta de outra razão, por ele vir depois do
caso, antes mesmo de procurar saber a que ordem de realidade ele
Filho e não antes. É verdade que certas seitas cristãs, mais ou me-
se refere; se dois ternários forem do mesmo tipo, haverá correspon- nos heterodoxas. pretenderam tornar feminino o Espírito Santo e,
dência entre eles, e se, além disso, se situarem na mesma ordem ou,
desse modo, quiseram muitas vezes atribuir-lhe um catâÍer compa-
mais precisamente, no mesmo nível, poderá então haver identidade, rável ao da Mãe; mas é muito provável que, nisso, tenham sido in-
se o ponto de vista a que correspondem é o mesmo ou, ao menos, fluenciadas por uma falsa assimilação da Trindade com algum terná-
haver equivalência, se esse ponto de vista for mais ou menos dife-
rio clo gêneio do qual acabamos de falar, o que mostraria que os
rente. É, antes de tudo, por não se fazerem as distinções essenciâis erros deisa espécie não são próprios exclusivamente dos modernos.
entre diferentes tipos de ternários que, em relação a eles, fazem-se
todos os tipos de aproximações fantasistas e sem a menor possibili- 2. O que cliz_emos aqui a propósito dos grupos de, três telmos aplica-se,
dade de compreensão real, como as em que se comprazem notada- do mesmo moclo, aos que contêm um outro número de termos e que mui-
mente os ocultistas, a quem basta encontrar em algum lugar um tas veze.r são lrssociacltis, clo mesmo moclo atbitrário, simplesmente porque
grupo de três termos quaisquer para que se apressem a pôJos em o número de setrs ler.lrros ó o mesmo, e sem que a natureza real desses ter-
mos seja levada cttt conla. Há mesmo aqueles que' para. descobrir corres-
correspondência com todos os outros grupos que se encontram ponaênóias inuginlir.ies. vÍo lro ponto de fabricar altificialmente agrupa-
noutra parte e que contêm o mesmo número de termos; as obras nl.nto, que não tônt tr.lrlicionalntente qualquer sentido. Exemplo típico desse
gàn..o é o de Malfatti clc Monteroggio que, .em sua Mothàse, tendo reunido
desses ocultistas estão cheias de quadros constituídos dessa forma,
ã, nán*, de dez. pr.incípios m,itõ- hetàrogêneos, apanhados aqui_e ,acolá
," tiÀálça" hindu, acreclitou onconlrar qeles úm equivalente dos dez Sephirotlt
da Cabala hebraica.
em certos aspectos, embora o ponto de vista seja naturalmente ainda muito 3. É a esse meslllo gênero cle ternírrios que pertencem também as an-
diferente, é o de Sat-Chít-Ãnanda (Yer L'Homme et son devenír selon Ie tigas tría<Iei egípcias, a irais conhecida das quris é a de Osíris, Ísis e
Vêdânta) (O hornem e seu devir segundo o Vedanta), cap. XIV. Hórus.

14 15

1
De resto, e para só permanecer nesta consideração, o caráter femi-
nino atribuído assim ao Espírito Santo não combina, de nenhum
modo, com o papel essencialmente masculino e "paternal", bem âo
contrário, que é incontestavelmente o seu na geração do Cristo; e
essa observação é importante para nós, porque é aí precisamente, e
não na concepção da Trindade, que se pode encontrar, no cristia-
nismo, algo que corresponda, em certo sentido, e com todas as re-
servas sempre exigidas pela diferença de pontos de vista, aos terná- Capítulo II
rios do tipo da Tríade extremo-oriental 4.
De fato, a "operação do Espírito Santo", na geração do Cristo, I)iferentes Gênet'os de Tet'n:irios
corresponde propriamente à atividade "não-eficaz" de Purusha, ot
do "Céu", segundo a linguagem da tradição extremo-oriental; a
Virgem, por outro lado, é uma perfeita imagem de Prakriti, que a
mesma tradição designa como a "TeÍra" õ; e, quanto ao próprio O que acabamos cle dizcr cletermina o sentido cla Tríade, ao
Cristo, é ainda mais evidentemente idêntico ao "Homem LIniversal" 6. mesmo teÍrpo quc mostra a necessidaclc de cstabeIecer uma clara
Assim, se se quiser achar uma concordância, dever-se-á dizer, empre- distinção entre os ternários cle diferentes gêneros; na verdade, esscs
gando os termos da teologia cristã, que a Tríade não se relaciona gêneros podenr ser multiplicados, pois é e vidcnte que três tcrmos
em absoluto com a geração do Verbo a:d intra, inclusa na concepção podenr agrupar-se segundo relações nru.ito diversas, mas insistiremos
da Trindade, mas com sua geração ad extra, isto é, de acordo com apenas nas duas principais, nào só porqrrc sio as cluc apresentam
a tradição hindu, com o nascimento do Avatâra no mundo mani- caráter nrais gcral, rnas tanrbúm porclue sc refererr nrais diretamente
festado 7. Isso é, de resto, fácil de compreender, pois a Tríade, par- ao próprio tema de nosso cstudol c, alént disso, as observações clue
tindo da consideração de Purushq e Prakriti, ou de seus equivalen- teremos de fazer a esse respcito pernritirilo excluir, clesde já, o erro
tes, só pode efetivamente situar-se do lado da manifestação, cujos gro:rseiro dos que pretenderanr encontrar um "dualismo" na tra-
dois primeiros termos são os dois pólos s; e poder-se-ia dizer que diçio extreuro-oricntal. Unr riesses clois tipos é acluele cm quc o
ela preenche por inteiro, pois, como veremos em seguida, o Homem ternlrrio sc cor']stitLri cls rrnr I.rirrerpit, prinrr:rro (pclo ntenos nunl sen-
nela aparece verdadeiramente como a síntese dos "dez mil seres", tido relativo ) , do clulrl clcrivulrr clors te rrnos opostos, ou mclhor,
isto é, de tudo que está contido na integralidade da Existência Uni- conrplementares, pois, ali nresnto olrde a oposição cstll nas aParêrl-
versal. cias e tcm sua raziro de scr nunr certo nível olt nunt certo domínio, o
conrplenrcntarisnro corresponcle senri)rc a um ponto cle vista ntais
4. Notemos incidentemente que é de modo errado que em geral pa- profundo e, por conseguinte. nrais verdadeirantcttte conformc com
recem crer que a tradição cristit não considera nenhum outro ternário a não a nalLlreza real claquilo dc rltre se trata; tal ternítrio podcrá ser re-
ser a Trindade; poder-se-ia, ao contrário, encontrar muitos outros nessa tra- prcsentado por unr triângulo, cujo vcirticc ú colocado em cirria (Fig.
dição, mas aqui temos um dos exemplos mais importantes disso.
5. Tal fato manifesta-se particularmente na figuração simbólica das I ). O outro gênero é aquele ctn (lue o ternario é fornraclo, como
"Virgens negras", sendo a cor negra aqui o símbolo da indistinção da ma'
teria prima.
6. A esse propósito. lembraremos, uma vez mais, que não entende-
mos, de modo nenhum, contestar a "historicidade" de certos fatos como
tais, mas que, muito ao contrário, consideramos os próprios fatos históricos
como símbolos de uma realidade de ordem mais eievada, e é só a esse
título que têm para nós algum interesse.
7. A mãe do Avatâra é Mityâ, que é a mesma coisa que hakrití; nâo
insistiremos sobre a aproximação que alguns quiseram fazer entle os nomes
Mâyâ e Maríet, e só o assinalamos a título de simpl,-s curiosidarle.
8. Yer L'Homme et son de'ç'enír selon le Vêdônta, cap. IV. Fie, I

t6 17

ra
como estes, conforme já indicamos, só se poderiam referir ao domí-
clissemos atltes, por dois ternlos complcnlctltares e por seu prodtlto nio da manifestação, ,ê-r" imediatamente por aí que todo "dualis-
ou tesultante. e é a essc gônero que pcrtctrce a Tríade cxtremo-oricn- mo" é necessaÍiamente, ao mesmo tempo, um "naturalismo"' Mas o
iot. no contrlhrio clo antãrior, es.sc iernário poderá ser.rcpresetrtado fato de Íeconhecer a existência de uma dualidade e de situá-la no
ôr ;; i;tâ,rgi;ú .i,ia buse está. ao contrírrio, colocacla em cimal
*compararlros
esses ciois triângulos' o segundo aparece' irgu. qr" lhe convém realmente não constitui, de modo algum, um
?Éig. 21. Se là"ualismo", a partir do momento em que os dois termos dessa
dualidade procedem de um princípio único, pertence-nte como tal a
uma ordeú superior de realidade; e é assim, antes de tudo,. no que
.àn".rr" à primeira de todas as dualidades, a da E'ssência e da
substância universal, oriundas de uma polarização do ser ou da
Unidade Principial, e entre as quais se produz toda manifestação.
São os dois termos dessa primeira dualidade que, na tradição hindu,
são designados como Purisha e Prskriti e como o Céu (Tien) e a
Terra (7i), nâ tradição extremo-orientall mas nem uma nem outra,
!, Fig' 2
como, de resto, nenhuma tradição ortodoxa, perde de vista, ao
considerá-los, o princípio superior de que derivam' Expusemo" 3111-
cle certa forma, como reflexo do primeiro. o que irrclica haver' entre plamente, noutras ocasiões, o que é isso em relação à tradição hindu;
os ternários .n.r".pnnci.ntes, analogia no vcrcladeiro sentido dessa quanto à traclição extremo-oriental, ela considera não menos expli-
inverso; c. dc fato. 3, o que ela
nolarr.. isto é, dcvcnclo ser aplicaclá em sctttido citamente, comt princípio comum clo Céu e da Terra
terntos complcmentares, entre
i" n.,ti,.n..,nr da corsicleração clos clois chama,,Grande Extremo" (Tai-ki), no qual eles estão
4,
indissoluvel-
n.'qr^1. f,,,i,,,....r^rior"nie sinlctria' vcr-se-á que o ternírrio é, com-
mente unidos, no estado "incliviso" e "indistinto" anteriormente
princípio clcles e' no segundo' ao a toda cliferenciação 5. e que é o Ser puro, identificado como tal à
;i.aà;;, no primeiro caso' pelo ial nt.cl. q.c os dois cor.plemen- iicrand" unidade;' (Tai-i):6. Além dissó, Tai-ki, o ser ou a unidade
iontrário, p.i" r,.," resultante. cle
tr..r.rtán. rcspcctivamcnte, dcpois e alltes clo termo quc' senclo de transcenclente pressupõe também outro princípio, Wou-ki, o.Não-Ser
face
outra orclenl. cncontra-se, por assinr ciizer, como que isolado-cm ou o Zero mciafísicô 7; rnas este não pode entrar, com seja o que
clclcs t é eviclcttte qtte, cm toclos os
2 casos, a consideração desse
for, numa relação tal que ele seia o primeiro termo de um ternário
ú,..iro tcrnto é que clh a. tern,.r ri. cotno tal sua significação.ir adian- ilrilq;;;,- r.ndó toda relaçao dcssa eipécie possível apenas a
partir
Isto post<l, o que ó preciso compreencler bem, antes de
te, é q.e'só porlcria haver "ci,alismo", numa doutrina qualcluer, se
clois tcrlt-tos ollostos ort cotnlllementares ( e, nesse caso' e les scrilm 3. E também, é claro, termos de todas as outras dualidades mais
antes cro,ccbiilos como opoitos) nclas cstive ssem postos, _ antes de particularÀ, que são, em suma, apenas especificações dlgt':]lt'^-O:,,-:odo
tuclo. c consiclerac.los colno Írltintos e irrcclutívcis. Scm nenhuma de- il;;-;;;i; l"àút"Á"nte sáo iodas clerivadas, em última análise' do
"="-
prlncrpro.
rivaçllo cle urn princípio corltrllil, o qr.rc exclui evidentemente a con- '*-"'
mesmo .. t- t:^.:
confundir com a indistinçáo
qê'ero. S(r. se poderia. 4.' Ér.á ;nalrtinção principal não se deveprittttt'
siclciação clc qrialquer ter.írrio clo 1'rrimeiro pctencial,'Éque é só a àa substâncta ott rttaleria
ltortanto. encoitrar em tal cloutrina tcrniirios do segundo gênero e. "- l. preciso ú..n q.," não se irata aqui, cle nenhum modo,
"nt.nã.i
de uma anteiioridade temporal, nem de uma sucessão num modo qualquer
I. \/ercntos dirqtri a llotlco por qtlc lr"l\sa scgttncla figtlra' intlrc:rntos da
-- duração.
-
(r\ lrô\ lcr ar(,. I'r'lo. ,,ii,,,.',," l-.1-4 c Ilio f'(rl l-2-l c.nlo rl:t ptintcira' e. o caráter kí é o que designa literalmente na a "cumeeira" de unr
7. t, o i1ut. nas cluus Iigrrrits. o senti(lo dlts ílechas ainda inrlic:r. edifíciá; pàr isso, Taí-i diz-se simbolúamente residir Estrela Polar, qtte
inrlo, nl prirrrci.". rlo vót tice supct ior para ir hatc e, na segtrnda' clesta á- et"tirame.,te a
,,cumeeira" do Céu visível e, como tal, representa natrt-
clizer tanlbénl qtt: o trúmero -l dos ter-
;;it,,' " r'óiticc infcr ior ' Pocler-sc-iaprimeiro ralmente a do Cosmo todo.
nros ciecontpõe-se ctlt I + 2' no caso. c em 2 I- I' no segttndo' 7. Wou-ki corresponde, na tradição hindu, ao Brahma ..r.etotro e stl-
ü parece claramcntc:rqrri quc, se ess3s rioir conjtrntos sito equivalentesI istrt tlo premo (paia-Brahtna),'e Tai_ki à Ishwara ott ao Brahma "não-suprenro"
p,rnii, .i. vista rl.antitiltiv.. ni'io o são. tlc ntotlo algtrnr. d. ponto dc (Apara-Brahma).
tlualitativo.
19
l8

ú--
da afirmação do Ser ou da Unidade B. Assim, em conclusão, tenr-se No fundo, é fácil compreender isso, porque, de um lado, os
primeiro um ternário da primeira ordem, formado de Tai-ki, Tien e dois complementares estão contidos principalmente no primeiro tcr-
7i, e, em seguida, apenas um ternário do segundo gênero, formado nlo, de nrodo que suas respectivas naturezas, mesmo quando
de Tien, Ti e len, que é aquele que nos habituamos a designar conro parecem contrárias, são, na realidade, apenas o resultado de uma
a "Grande Tríade"; nessas condiÇões, é perfeitamente compreensír,el diferenciação da natureza deste, e, por outro, o último termo, como
que alguns tenham podido pretender atribuir um car/rter "dualista" produto dos dois complementares, participa, ao mesmo tempo, de
à tradição extremo-oriental. um e de outro, o que equivale a dizer que reúne, de algum modo,
A consideração de dois ternilrios, como aqueles de clue acal"lanros em si suas duas naturezas, de modo que ele é ali, em seu nível, como
de falar, que têm em comunr os dois princípios complementares unl uma imagem do primeiro termo; e essa consideração leva-nos a
do outro, leva-nos ainda a algumas outras observações importantes. precisar ainda mais a relação dos diferentes termos entre si.
Os dois triângulos inversos que os representam respectivânrente po- Acabamos de ver que os dois termos extremos do quaternário,
dem ser considerados como tendo a mesma base, e, se os figurarntos que são ao.mesmo tempo, respectivamente, o primeiro termo do pri-
unidos por essa base comum, veremos, antes de tudo, que o cort- meiro ternário e o último do segundo, são, um e outro, por sua
junto dos dois ternários fornra um quaternítrio, uma vez que, sendo nalureza, intermediários, de certa forma, entre os dois outros, ainda
dois termos os mesmos num e noutro, l.rit apenas, ao todo, quatro que por razão inversa: nos dois casos, unem e conciliam em si os
elementos do complenrentarismo, mas um como princípio e outro
termos distintos e, em seguida, que o último termo desse cluaternário.
situando-se na vertical oriunda do primeiro e simétrica a este em como resultante. Para tornar sensível esse caráter intermediário, po-
demos figurar os termos de cada ternário, seguindo uma disposição
relação à base, aparece como o reflexo desse prinieiro termo, senclo
o plano de reflexão representado pela própria base, isto é, sendo linear r": no primeiro caso, o primeiro termo situa-se então no meio
apenas o plano mediano onde se situam os dois termos complemetr-
da linha que junta os dois outros, aos quais ela dá nascimento si-
tares oriundos do primeiro termo e que produzem o último " (Fig. 3). multaneamente, por um movimento centrífugo dirigido nos dois sen-
tidos e que constitui o que se pode chamar polarização (Fig.4); no
1 segundo, os dois termos complementares produzem, por um movimen-

@ <- o #
o Fig. 4

8. Acima de qualquer outro princípio,


Fig. .l

há ainda o frto, que,


seu sentido mais universal, é a urn só tempo Não-ser e Ser, mas que, por
enl
@ --+
@ <-
o Fis. 5

outro lado, não é realmente distinto do Não-Ser enquilnto este conténr o conhecida no simbolismo arquitetônico e sigilar da Idade Média. Na antiga
Ser, que é também o princípio primeiro de toda manifestação e se polarizit Itlaçonuria operativa inglesa, o número total <ie graus dessas duas circunfe-
em Eisência e Substância (ou Céu e Terra) para produzir efetivanrente essa rências, ou seja 360 X 2 - 720, fotnecia â resPost.l à questão relativa ao
manifestação. comprimento do cablc-tort,', não poclemos traduzir es§e termo especial, pri-
g. A figura assim formada tem certa§ propriedades geométricas bts- nreiro porque não tem equivalenie cxitto ?m porttlguês e, d:pois, porque
tante notáveis,- que assinalaremos cle pussagem: os dois triângulos eqi'iilrite' irpre.enta foneticanrente um duplo sentido, que evocit (pela assimilação ao
ros opostos pela base inscrevem-se em duas circunsferências iguais, cacla. ttnlit 'alrabe qabeltu), o engajamento ini:iático, de modo que ele exprime, poder-
das quais passa pelo centro da outral a corda que reÍtne seus pontos de in- se-ia tlizer'. um ''laço" em todos os sentidos dessn palavra.
terseição é natuialmente a base comunt dos clois triângulos e os .dois. arcos 10. Pode-se considerar essa figura resultante da projeção de cada um
subtendidos por essa corda e lirnitundo il parte conlunl aos dois circrtlos dos triângulos precedentes num plano perpen«licular ito ssu e passando pela
formanr a figura denominada tnurtilorlu (amêntloa ) ()u t'r,,ricrr pisc'i.r, bcrrr sua hlse.

zo 21
to centrípeto, quo ito nlcsmo tempo de um e de outro, uma
pírr.l.c
ó.
o
resultante, que úrtinr. lcrno c que se situa igualmente no
da linha quc os junra (rrig. 5)r o p.in.ipio meio
portanto, assim, urr c outr.., uma-posição "
a i.ruttunt" ãpu-,
central ;;-;;r;áo uo,
dois complclnonr,rcs' c iss«r ó particuiarmente
para ser lembrado, em
vista das consitlcraçõcs quc seguirão. I

i
É ncccssiiri, iri,.,rra acrescentar o seguinte: dois termos

+
rios ou conrplcnrcrrt.rcs (c que, no frrnão, contrá-
plementarcs rr. cluc co,tráriôs em
,a" ,",,pi"--ããir"
sua realidade-.rrir"irli'i"a"-
"o__
estar' corrf«l',lc () caso, cm oposição
horizontar (oposição da direita
e da esqucrcr.) .u c,r oposiçào verticar (oposição
ae atto ã1àiro), Fi_e.6
assim conr«r jír incricamos noutro lugalrr.'A
optsição to.irãniàt e u
de dois tcrrrr.s t1uc, situando-." ,uÁ mesmo
grau de rearidade, são,
podcr-sc-iir rlizcr, simótricos em todos
os aspectos; a oposição vertical
assinala, .. c:'rr'lirio, uma hierarquização
entre os dois termos, que,
mantencl.-sc .inda simótricos e ôomplementares,
são, no entanto, rências sensíveis
tais quc u,r tlcvc scr considerado supàrior qr.-,1!., servem de símbolos Lj.
e outro inferior. Importa lu.a-se, portanto, inteiram-e_nte, A uranifestaÇão si_
notar r1uc, ,cssc último caso, não sô pode situar entre.;i.,,:ol, pólos. E o..rn.,o
de um. tc',iiri. d«r primeiro gênero ent." à,
o ;;ir".i.;..r.rn,o da naruralmer)re com o Uor.rn, r.
dois comprementares ou fesraçào' mas que consrirui
qr;";;"" só faz parre dessa mani_
no meio cla linlra que junta, mas apenas o terceiro termo de si,uoricãeiir. o p.op.io cenrro dera
por essa razão, a sinreriza em
.os
ternário clo scgunclo gênero, -nÀnu.num e,
pois o princípio não pode, O" sua i"i.*rrri.roá.. ãrrirl.à,H_.,,,
colocado enrre o Ciu c
modo' sc cr.lc.nrrar num nívêr inferior ao de
um dos dois termos
,
te, o produro ou a resulranre ;.; ..i, .,onri,r.racto, prirneiramen_
T;;;r,
que se originam nele, mas é necessariamente l; ;;;"i.
superior a um e ao
outro, c,c;ua,to a resultante, ao contrário, é verdadeirua"ni"
enr scguida, pcra JupJa
rorra-se o rermo mecliano
;;;;;.;;;;'.i:,,,1."1.,i: l::toJ"!l',",Tii;
mediírria ,cssc scntido iguarmente; e esse útti,,o
irt"r_
assim dizer, scgundo um
ou .,n.,.iioio.ll quc os ulle e qtle
caso é o àu-rriuo" 'poi.;i;;;r'll:,lo]lu*r:1, é, por
extremo-oricntal, que pode, desse modo,
ser disposta ,"g*Ao ,rnu quc vai a" urã-nà"ou,.o simbolisn)o , o a "ponre"
Iinha.vcrric,l rr (Fig. O). Coro efeito, u-ÉrrOn"iu visra arravús cre uma ,i,,,pr..r"i,,,;;,:,.:lí:,r,, esses dois ponros de
versal são, rcspectivamerl:, o pólo
e a Substância uni_
manifestaÇão c pode-se dizer que
superior e o pOfo lnfJã, Ou
ilH : ?lH.ff r,il i.,',: ;';:, J?" ; :!_T; J.i#,,ldrl:
u*u'Lrra propriàm"rt.--u"i.u .
r...u;
:.;;i:,,i.,
'í".r,irli,,;"*"jl
,,

outra abaixr cle toda existência; àO"rouii :ê:ilH:Xr:r:,+:..::


qrunOo
o Céu e a Terra, isso traduz_se xé, áã'riãd" as designamos como
muito exato, nas apa_
'. como o MecJiador T.X'"',',.,
rece neta
;rr;;'" _rerra.
õ;; . a i:: ;i:
,j:-ll;,j: des temps (o reino da
aes remps
ll;0"..; os signos
quantidade,e |i"af::,::Í,et -!es i'*',[:
,rá.=ià*párl,';;: §i_s119s

"-""- ;[gyrl
.ír.uio...e :.y:::.:,,1:1:ii^lTl
círculo o ie.mo ;"f"ii
o termo
rr6sra' u tcrlno superlor
suFerior (o céu)
Céu) por um
veremos. em cônr^rmi.r"'".1 ..f_T:l*,),por .um quadrado, J-qti-7r,ai""orno
Li'XT "
esta,
i;,if i$r",lTlo',* :::
como expusemos n' --'t..vt.L"
l?,.i"."j,iyl,S:
:: S;t-"* l-i:"ã -
j::""J^:.-I'1.-tr,-,."e+ü#'à:,:"ü'."'H;f
H;."1, 3ir
r!PrçJçrrtdlllo-lo por uma
"1 ':il?:'
"ii'i iifll
;
cruz, sendo
parte, o símbolo oo " ,,rrômem--ünir"iiàr,i
Le Symbotismi d"
L,e Svmhoti.cm. t- Croix).
,.!- lo -".^:L.," r.r.
(cf.
. 13. por isso é our
intricanros'ã,,",-"nà,"'ii.J.r.lll'iJ"1,.u"..!íl',1í,Jj,-^,,
22
é tambén,, como
particular, ao que a Essência e a substância universais sáo para a
iotalidade dos estados da manifestação 5.
No Universal, e vistos do lado de seu princípio comum, o Céu
e a Terra assemelham-se, respectivamente, à "perfeição ativa"
(Khien) e à "perfeição passiva" (Khouen); nem uma nem outra é,
por sinal, a Pérfeição no sentido absoluto, pois aí já há uma dis
iinçao que implica forçosamente uma limitação; vistos do lado da
Capítulo III manifestãção, ião apenas a Essência e a Substância, que, como tais,
situam-se num grau menor de universalidade' pois só aparecem
assim precisamente em relação à manifestação'i. Em todo caso e
Céu e Terra seja qúa1 for o nível ern que os consideremos correlativamente, o
Céu é a Terra são sempre, respectivamente, um princípio ativo e
um princípio passivo, ou, segundo um dos simbolismos mais geral-
"O Céu cobre, a Terra suporta": tal é a fórmula tradicional menie empregados em relação a isso, um princípio masculino e um
que determina, com extrema concisão, os papéis desses dois prin- princípio feminino, o que é bem o tipo adequado do complementa-
_

cípios complementares, e define simbolicamente suas situações, res- iismo- por excelência. Daí é que derivam, de modo geral, todos os
pectivamente superior e inferior, em relação aos "dez mil seres", seus outros caracteres, que são, de algum modo, secundários em
quer dizer, a todo o conjunto da manifestação universal 1. Assim se relação àquele; entretanto, é preciso, nesse sentido, prestar bem aten-
indicam, de um lado, o caráter "não-agente" da atividade do Céu ção a certas mudanças de atributos que poderiam ocasionar enganos,
ou de Purusha2, e, de outro, a passividade da Terra ot de Prakriti,
é que são, aliás, bastante freqüentes no simbolismo tradicional,
quando se trata de relações entre princípios complementares. Vol-
que é propriamente um "terreno" 3 ou um "suporte" de manifesta-
a, e, também, por conseqüência, um plano de resistência e de- à.emos mais tarde a esse ponto, principalmente a propósito dos
ção símbolos numéricos relacionados, respectivamente, com o Céu e a
tenção das forças ou influências celestes que atuam em sentido Terra.
descendente. Pode-se, aliás, aplicar isso a qualquer nível de exis-
tência, pois se pode sempre considerar, num sentido relativo, a essên- Sabe-se que, num complementarismo em que os dois termos são
cia e a substância em relação a qualquer estado da manifestação considerados como ativo e passivo, um em relação ao outro, c termo
como os princípios que correspondem, para esse estado tomado em ativo é geralmente simbolizado por uma linha verlical e o termo
passivo por uma linha horizontal 7; o Céu e a Terra são represen-
iados também, às vezes, de acordo com esse simbolismo' Só que,
1. Indicamos, noutro lugar,por que se toma o número "dez mil" nesse caso, as duas linhas não se atravessam, como fazem habitual-
para representar simbolicamente o indefinido (Ie.s Principes du Calcul Infí- mente, de modo que formem uma cruz, pois é evidente que o sím-
nitésínwl, cap. IX). A propósito do Céu que "cobre", lembraremos que um bolo do Céu deíe situar-se inteiramente acima do da Terra: é,
simbolismo idêntico inclui-se na palavra grega Uranos, equivalente ao sâns-
criÍo Voruna, da raiz'var, "cobrir" e também do latino Caelum, derivado de
caelare, "esconder"ou "cobrir" (ver Le Roi du Monde, cap. VII). 5. Isso hos permitirá especialmente compreender, mais tarde, como
o papel de "mediaáor" pode rãalmente ser atribuído, a um só tempo, ao
2. A "operação do Espírito Santo", de que falávamos há pouco, é às "trómim verdadeiro" e ao "homem transcendente", enquanto que, sem essa
vezes designada, em linguagem teológica, pelo termo obumbratío, que, no oÉseivação, pareceria que ele só cleva ser atribuído exclusivamente â este
fundo, exprime a mesma idéia. último.
3. A palavra inglesa grorznd traduziria com maior exatidão ainda e - - 6. Cf. Le Symbolisnrc tlc Ia Croix, cap. XXIil' O primeiro dos dois
de modo mais completo do que a palavra francesa correspondente aquilo pontos de vista indicados aqui é propriirmente metafísico, enquanto o Se-
que queremos dizer aqui. iundo é de preferência de órdem cosmológica e, mais precisamente, cons-
4. Cf. a significação etimológica da palavra "substância", literalmen- t"itui o ponto de partida mesmo de toda cosmologia tradicional'
te "o que se encontra abaixo". 7.' Yer Lc Symbolisme de la Croix, cap. YÍ.
25
24
portanto, unta pel'pcndicular collt o pó sobre a hclrizontal \, e essas essa representação à precedente, encarando nesta a linha horizontal
dua-ç linhas porJem ser consicleradas a altura e a base clc urr-r triirn- como á marca de uma superfície plana (cuja parte "medida" será
gulo, cujas laterais, partindo cla "cunieeira do Céu", deterninam um quadrado"), e a linha vertical como o raio de uma supedície
efetivunrcnte a medida cla superfície da 'I'erra, isto é, clclintitam cr hemiiférica, que encontra o plano terrestre segundo a linha de ho-
"terreuo" cluc serve de su;lortc à nranifestaçao (Fig. 7 )1'.
rizonte. É, dó fato, em sua periferia ou em seus confins mais afas-
tados, isto é, no horizonte, que o Céu e a Terra se juntam segundo
as aparências sensíveis; mas deve-se notar aqui que a realidade sim-
boliiada por essas aparências deve ser tomada em sentido inverso,
pois, segundo essa realidade, eles se unem, ao contrário, pelo cen-
iro 1.3, ou, se os considerarmos no estado de separação relativa ne-
cessáÍia para que o Cosmos possa desenvolver-se entre eles, eles se
11, e que precisa-
comunicám pelo eixo que passa por esse centro
mente os separa e os une ao mesmo tempo, ou que, noutro§ termos,
Fi-e.7 mede a distãncia entre o Céu e a Terra, quer dizer, a própria ex-
tensão do Cosmos segundo o sentido vertical que assinala a hierar-
Entretanto, a representação geomÓtrica que se encorltra com quia dos estados da existência manifestada, enquanto os liga um ao
mais frcclüência na tradição extrenro-oriental ú a que rclaciona as outro através dessa multiplicidade de estados que aparecem, nesse
fornras circulares ao Cúu e as formas cluadraclas iillerra, con'ro já sentido, como tantos escalões pelos quais um ser em vias de retorno
explicamos routro lugar r"; l'elcntbrarenlos apenas, .a essc resl)cito, ao Princípio pode elevar-se da Terra ao Céu 15'
que a marcha descendente do ciclo cla nranifcstaçào (e is.so enr to,.los
Diz-se, ainda, que o Céu, que envolve ou abarca todas as coi-
os graus de maior ou n)enol cxturlsi-i() ent que se possa consiclcrar tul
ciclo), indo dc seu pólo superior, clue é o Cóu, a seu pólo inlelior, sas, apresenta ao Côsmos uma face "ventral", quer dizer, interior,
que é a Terra (ou o que os repl'escnta de urn ponto clc vistlr rcla- e a Têrra, que as suporta, apresenta uma face "dorsal", quer dizer,
exterior 16. É o que é fâcil ver pela simples inspeção da figura
tivo, se só se trata cle um ciclo particular ), podc ser consicle racla
como partindo da forma menos "especificada" de toclas, cluc é a adiante, onde o Céu e a Terra são naturalmente representados, ÍeS-
pectivamente, por um círculo e urn quadrado concêntricos (Fig' 8)'
esfera, para chegar à que é, ao contrário, a nrais "determinlda" e
que é o cuborr; e poder-se-ia dizer tambérn quc a prirleira dcssas i{otar-se-á qué essa figura reproduz a forma das moedas chinesas,
duas forrnas tem carírter eminenternerrte "ciinâmico" e a scguncla ca-
rliter eminentemente "estático", o (lue bem corrcsponclc ainda ao 12. Deve-se aproximar disso o fato de que, nos símbolos de certos graus
muçônicos, a abertúra do compasso, cujas pernas correspondem .às paries la-
ativo e ao passivo. Pode-se, por outro lado, ligar, clc certo 1nodo, i.iãi. a" iriângulo da figura 7, mede um quarto de círculo, cuja corda é o
lado do quadrado inscrito.
- - 1r. ij, po. ,roo aplicação similar do sentido inverso que o Paraíso ter-
ti. Veremos que essa pcrpendiculnr tem aincla outras significaçõcs quc que é também o ponto de comunicação entre o Céu e tr Terra' apa-
restre,'uó
correspontlent a pontos de vista diferentcs; ntlrs pot rtrir só levantos ent con- .".., mesmo tempo, como situado na extremidacle do rnunclo, segundo
tli a representação geontétrica clo contpler.ncntlr istno cit.r Céu e da Tcrrlr. p;rt" de vista "extãrior", e em seu centro, segundo o ponto de ,v-i{-1-"inte-
;"'o;;
9. A figLrra forrnuda pela verticul e a hol izontal assinr tlispostus c iver Le Ràgnc de la Quorttité et les Signc.r des Tcntps, cap' XXIII)'
tumbétn unr sínrbolo nruito corrhecitlo lÍó os nossos dius na Ivlaçonliria anglo-
saxônicu, entbota soja claqrreles clue a NÍlçonaria r.litu "lutina" não conservgu.
là. Esse eiio identifiia-se naturalmente com o raio vertical da figura
preceãente; mas, desse ponto de vista, esse raio, em lugar- de .corresponder
Ncl sintboljsnto constrLtlivo cnt ger':il, il verticitl é represcntatiir pelir pcr pen- ã" p.Opriã ôéo, r"p..r.nta apenas a direção segundo a qual a influência do
dir:ullir ou fio de plurno e a hLrri,ontir! nelo nível. Ao ntcsnto sinrbolisnto céu age t".?"".?"1Xljá;,
coltcspcrncle tantbént untir drrpo:içitr :inril,rl rlir: lstla: ulil e btt clo ulflbrto como veremos mais adiante, o eixo vertical é tam-
rir:r he.
0. La Ràyrta da la Qtr«rttitt: rt lt,.s 5'i q,rtr,.l r/r,.r 'l"crrrp.r', cap. XX.
..
bém a "Via do Céu" (Tien'tao).
f
L6. Essa assimilação apareceria como evidente de modo imediato numa
l. Na geortretliir de três dirnenstlcs, ir esfera correspondr- natLrr alntcntc
I língua-como a árabe, .r" qrà o ventre ê, el-batn e o interiot' el-bâten, o dorso
lro círculo e o ctrbo ao tluaclr-lrrlo. ez-zahr e o exterior ez-zâher.

26 27
Cspítulo IV
Fig. I
"Yin" e'Yang"
forma que é, aliás, originariamerlte a de tabuletas rituaisr?: entre o
contorno circular e o vazio mediano quadrado, a parte cheia onde
se inscrevem es caracteres corresponde, de modo evidente, ao Cos- tradição extremo-oriental, em sua parte propriamente cosmo-
mos, onde se situam os "dez mil seres" ,t, e o fato de ela estar lógica, atribui
compreendida entre dois vazios exprime simbolicamellte que acluikr .capital importância aos doií pÍinóípiôs, ou, se se pre-
ferir, às duas "categorias" 'que designa pelos nomes de yang e yin:
que não está entre o Céu e a Terra está, por isso mesmo, fora da tudo que é ativo, positivo oú masculino é yang, tudo quã é passivo,
manifestação ro. Há, entretanto, um ponto em que a figura pode negativo ou feminino é yrz. Essas duas categoiias estãó ügacias sim-
parecer inexata e que corresponde, além disso, a um defeito neces- bolicamente à luz e à sombra. Em todas aí coisas, o hão clarc é
sariamente inerente a qualquer representaçâo sensível: se só se pres- ya.ng e o escuro é yin, mas um não existindo nunca sem o outro,
tasse atenção às posições respectirras aparentes do Céu e da Terra, ou eles_ aparecem como co-mplementares muito mais do que como opos-
melhor, daquilo que os figura, poderia parecer que o Céu está no tos 1. Esse sentido de luz e sombra encontra-se espdcialmentq, com
exterior e a Terra no interior. Mas é que, ainda aí, não se deve sua acepção üteral, nas determinações dos lugares geográficos à, e o
esquecer de fazer a aplicação da analogia em sentido inverso; na sentido mais geral em que essas mesmas denominações-de yang e yin
realidade, de todos os pontos de vista, a "interioridacle" pertence ao se estendem aos termos de todo complementares tem inúmeràs apti
Céu e a "exterioridade'n à Terra e voltaremos a encontrar essa con- cações em todas as ciências tadicionais 8.
sideração um pouco mais adiante. De resto, mesmo se tonlarmos a \
figura simplesmente como é, vê-se que, em relação ao Cosmos, o Segun-fu que já dissemos, é lácil cgmpreender qte.yang é o
-o
Céu e a Terra, pelo próprio fato de serem os limites exlremos dele, que procede da natureza do Céu e yin o qúe procede da natureza
só têm na verdade uma única tace, e essa face ,á interior para o Céu 1. Não se deveria, portanto, interpretar aqui essa distingõo de luz e
e exterior parâ a Terra. Se quiiséssemos considerar sua outra face, sombra em termos de "bem" e "mal", como se fíz às vezês noirtroJ lugar"*,.
dever-se-ia dizer que esta só pode existir em relação ao princípio por exemplo no masdeísmo.
comum no qual eles se unificam e onde desaparece qualquer di-"- 2. Pode parecer estranho, .à primeira vista, que o lado yang seja a ver.
tenÍe sul- de uma montanha, mas o lado norte ãe um vale oü a-margem
tinção de interior e exterior, assim como toda oposição e até todo norte de um rio (ry1do yrz naturalmente sêmpre o lado oposto àquele); il,as
complementarismo, subsistindo apenas a "Grande Unidade". basta conside-rar a direção dos raios solares, úndos do sul, para oar-se ionta
de.que, {e fa!o, em todos os caso§, é justaurente o hdô-iluminado que é
assim designado como yang.
17, Sobre o valor simbólico das moedas nas civilizações tradicionais 3. A medicina tradicional chinesa, em particular, é, de certa forma,
em geral, ver Le Ràgne de la Quatttité ct /es .Sigrres des Tcnrps, cap. XVI. baseada por inteiro na distinção entre yang e yrz: qua{uer ooença à ãiriau
18. Só é neceSsário fazer notar que cs caracteres são os nomes clos a um estado de desequilíbrio, isto é, a um êxcessô dJ um dessãs dois ter-
serese, por conseguinte, representanr €stes de nraneira inteiramente naturill, mos-e!! rolação ao.outro. É aecessário, portanto, reforçar esse último-para
sobretudo quando se trata de uma escrita icleográfica como é o caso ila lín- restabelecer o 9qr1]íb1io e atinge-se deisê modo- a doença
gua chinesa. roJ f.oliã
19. A expressão Tien-lriu, literalmente "debaixo do Céu", emprega-se
"- exteriores
causa,, gm vez de limitar-se a tatar dos eintomas mais ou-menos e
superficiais, como a medicina profana dos ocidentais modernos faz,
corretamente em chinês para designur o ionjunto do Cosnros.

28 »
-['erra, desde Vimos antes que a Terra aparece por sua face "dorsal" c o
cla que é do complementarismo primeiro do Céu e da
'l'erra que derivam todos os outros complementarismos mais ou me- Cóu por sua face "ventral". Por essa razáo, o yin eslá "no exterior",
nos particularmente, e, por isso, pode-se ver de imediato a razào enquanto o yang está "no interior" 5. Noutras palavras, as influôn-
da assimilação desses dois termos com a luz e a sombra. Com efeito, cias terrestres, que sáo yin, são exclusivamente sensíveis, e as influên-
o aspecto yang dos seres corresponde ao que neles há de "essencial" cias celestes, que são yang, escapam aos sentidos e só podem ser
ou de "espiritual", e sabe-se que o Espírito é identificado com a luz percebidas pelas faculdades intelectuais. Há aí uma das razões pelas
pelo simbolismo de todas as tradições; por outro lado, seu aspecto quais, nos textos tradicionais, o yín é nomeado, em geral, antes clo
yin é aquele pelo qual se liga à "substância", e esta, devido à "inin- yang, o que pode parecer contrírrio à relação hierárquica que existe
teligibilidade" inerente à sua indistinção ou a seu estado de pura entre os princípios a que correspondem, isto é, o Cóu e a Terra, :na
potencialidade, pode ser definida propriamente como a raiz obscura medida em que são o pólo superior e o pólo inferior da manifes-
de toda existência. Desse ponto de vista, pode-se dizer ainda, utili- tação. Essa inversão da ordem dos dois termos complementares é
zatdo a linguagem aristotélica e escolástica, qlue yang é tudo aquilo característica de certo ponto de vista cosmológico, que é também o
que é "em ato" e yin tudo o que é "em potência", ou que todo ser do Sanquia hindu, em que Prakriti figura, do rnesmo modo, no co:
é yang do ponto de vista em que é "em ato" e yín do ponto de vista meço rla enumeração dos tattwas e Puruslto no fim. Esse ponto de
em que é "em potência", visto que esses dois aspectos encontram-se vista, com efeito, procede, de algum modo, "rernontando", da mes-
reunidos necessariamente em tudo o que é manifestado. ma forma como a construção clc um eclifício começa pela base e
terinina no ponto mais alto, parte do que é mais imediatamente per-
O Céu é inteiramente yang e a Terra inteiramente yin, o que ceptível e vai na direção clo cluc ó mais oculto, isto é, vai clo exterior
equivale a dizer que a Essência é ato puro e a Substância potência para o interior, ou do -),Irt para o ycnlg. Nisso, ele é o inverso do
pura; mas são assim no estado puro exclusivamente enquanto são ponto de vista metafísico, c1ue, partindo do princípio para chegar às
os dois pólos da manifestação universal; e, em todas as coisas ma- conseqiiências, vai, ao contrário, do interior para o exterior. E essa
nifestadas, o yqng jamais existe sem o yin. e este sem o yang, uÍna consideração do sentido inverso mostra bem que esses dois pontos
vez que a sua natureza participa ao mesmo tempo do Céu e da de vista correspondem prclpriamente a dois graus diferentes de rea-
Terra a. Se considerarmos especialmente o yang e o yin em seu as- lidade. De resto, vimos noutro lugar que, no desenvolvimento do
pecto de elementos masculino e feminino, poder-se-á dizer que, em processo cosmogônico, as ttevas, identificadas ao caos, estão "no
razão dessa participação, todo ser é "andrógino" num certo sentido colneço", e a luz, que ordena esse caos para tirar dele o Cosmos,
e numa certa medida e que o é, além disso, tanto mais completa- está "depois das trevas" 6; isso quer dizer ainda que, desse ponto cle
mente quanto mais equilibrados nele são esses dois elementos. O vista, o yin está, com efeito, antes do yangI.
caráter masculino ou feminino de um ser individual (dever-se-ia, Considerados separadamente um do outro, o yang e o yin têm
mais rigorosamente, dizer principalmente masculino ou feminino) por símbolos lineares o que chamamos as "duas determinações"
pode, portanto, ser considerado como resultante da predominância
de um ou de outro. Seria naturalmente fora de propósito aqui tratar 5. Expressa ciessa forma, a cois:r é imediatamente compreensível pela
de desenvolver todas as conseqüências que se podem tirar dessa mentaliclade extremo-oriental; mas devemos reconhecer quc, sem as expiicações
que clemos antes a esse respeito, a ligação assim estabelecicla cntre as duas
observação, mas basta um pouco de reflexão para entrever, sem di- proposições clesconcertaria, por sua própria natureza, de rnodo singular, a
ficuldade, a importância que são suscetíveis de apresentar, em parti- Iógica especial dos ocidentais.
cular, para todas as ciências que se relacionam com o estudo do 6. Aperçu,s .çur I'Iniíiatiotr, cap. XLVI.
homem individual dos diversos pontos de vista de que este pode ser 7. Podemos encontrar algo análogo a isso no íato de que, se_eundo
o simbolismo do encacleamellto dos ciclos, os csluclos inferiores da existên-
considerado. cia surgem como antececientes em relaçiro aos estaclos superiores; é por isso
que a tradição hindu representa trs Ásttrut conto anteriores às Dáuí.r e des-
creve, por outro lado, a sucessiro cosrlogônica clas três gr1ía.Í como se se
4. Por ehsa razão, de acordo com uma fórmula maçônica, o iniciado efetuasse na ordem to]ttus, rui«.s, ,ríllÍr'ír, indo. portanto, da escuridão para
deve saber "descobrir a luz nas trevas (o ydng no yin) e as trevas na luz a luz (ver Le Symboli,snrc de l« (i'oi-r, cap. V, e também L'Ésotérisnte de
(o yür no yang)". Dante, cap. Yl).

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(eul-i), quer dizer, o traço contínuo e o traço interrompido, que distintos (e nisso é que a figura é exatamente yin-yang), é o sím-
são os elementos dos trigramas e dos hexagramas do Yi-&írrg, de tal bolo do "Andrógino" primordial, üsto que seus elementos são os
modo que estes representam todas as combinações possíveis desses dois princípios masculino e feminino; é também, segundo outro sim-
dois termos, combinações que constituem a integralidade do munCo bolismo tradicional mais geral ainda, o "Ovo do Mundo", cuias dua§
manifestado. O primeiro e o últirno hexagrama, que são Khien e metadês, quando se separaÍem, serão respectivamente o Céu e a
Klnuen'§, são formados, respectivamente, de seis traços contínuos Terra 11. A mesma figura, por outro lado, considerada como for-
e de seis traços interrompidos; representam, portanto, a plenitude do mando um todo indivisível 1e, o que corresponde ao ponto de vista
),ang, que.se identiÍica com o Céu, e a do yirr, que se identifica :om principal, torna+e o símbolo de Tai-ki, que surge assim como a sín-
a Terra; e ó entre esses dois extremos que se colocam todos os ou- tese do yin e do yang, rm.as somente se se precisar que essa síntese,
tros hexagramas, em que o lrírng e o --virr se mesclam. em proporÇões sendo a Unidade primeira, é anterior à diferenciação de seus ele-
ciiversas, e que correspondem assim ao desenvolvimento de toda a mentos, portanto absolutamente independente destes; de fato, só se
manifestação. pode considetar yin e yang em relação ao mundo manifestado, que,
ôomo tal, procede de todo das "duas determinações". Esses dois
Por outro lado, esses mesmos dois termos, yang e yln, quando pontos de vista, segundo os quais o símbolo pode ser considerado,
se unem, são representados pelo símbolo que é chamado, por essa iesumem-se na fórmula seguinte: "Os dez mil seres são produzidos
razão, yín-yang (fig.9)n, e que já estuclamos noutra obra do ponto (tsao) por Tai-i (qae é idêntico a Tai-ki), modificados (hw) por
yin-yan§, pois todoi os seres provêm da Unidade principal ls, mas
suas modifica$es no "deúr" devem-se às agões e reações recíprocas
das "duas determinações".

Fig. 9

de vista em que representa mais particularmente o "círculo do des-


tino individual" ttt. p" conformidacle com o simbolismo da luz e da
'parte escura é .yirr; c os
sombra, a parte clara da figura é yang e a
pontos centrais, escuro na parte clara e clara na parte escura, lenr-
bram que, na realidade, o lafig e o yin não existem nltnca um sem 11, A figura considerada plana correspoudente à seção diametral d,o
"Ovo do Munão", no nível do istado de existêucia em relação ao qual é
o outro. Na medida em que I yang e o yin, embora unidos, jh são considerado o conjunto da manifestação.
12. As duas metades delimitam-se por uma linha sinuosa, que indica
8. Do mesmo modo também qrre o prinreiro e o írltimo dos oito tri- uma interpenetração dos dois elementos, enquanto qu€, se o fossem por um
grâmas (koua), que compreendem também três traços contínuos e três tra- diâmetro, poder-se-ia ver nisso de preferência uma simples justaposição. Deve-se
ços descontínuos; cada hexagrama forma-se pela superposição de dois trigra- notax que-essa linha sinuosa forma-se de duas semicircunferências cujo raio
mas semelhantes ou diferentes, o que dá ao todo sessenta s qualro combi- é a metade do raio da circunferência que forma o cotrtoroo da figura e
nações. cujo comprimento total én por conseguinte, igual à metade do comprimen-
9. Coloca-se habitualmente essa figura no centro dos oito trigramas to desea circunferência, de modo que cada uma das duas metades da figura
dispostos circu!armente. é envolvida por uma linha igual em comprimento à que envolve a figura
10. Le S:ttnbalísnre dc la Croix, cap. XXII. Nesse sentido, a parte 1,in total.
e â parte l'arrrg representam, respectivamente, a ntârca dos estat.los inferiores 13. Tai-í é o Tao "eom um nome", que é "a mãe dos dez mil seres"
e o reflexo dos estados superiores em relação a unr rlado estado cla existência, (Tao-te*ing, cap, 1,o). O Tao "sem nome" é o Não-Ser, ê o Tao "cofr
tal como o estado individual humano, o que se coaduna estrilamente com o um nome" é o Ser: '§e se deve dar um nome ao ?ao (embora ele não
que indicávamos há potrco sobre a relaÇão de encadeantenlo dos ciclos conr possa realmente §er oomêado), chamá-lo-êmos (como equivalente aproxima-
a consideração do vil como anterior ao .l'alg. tivo) a Grande Unidade."

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vista, podemos considerar as duas espirais como a indicação de uma
força ôósmica que atua em sentido inverso nos dois hemisférios, que.
em sua aplicação mais extensa, são naturalmente as duas- metades
do "Ovo do Mundo", os pontos em torno clos quais se enrolam essas
:r. Pode-se notar de imediato que isso
duas espirais como os dois pólos
está em estreita relação com os dois sentidos de rotação da sutística
(Fig. 11), representando estes, em suma' a mesma revolução do
Capítulo V muido em ioino de seu eixo, mas vista respectivamente de um e
outro dos dois pólos {. E esses dois sentidos de rotaçâo exprimem
A Dupla Espiral bem, com efeito, a dupla ação da força cósmica de que,se -trata,
dupla ação que é, no fundo, a mesma coisa que a dualidade do lin
e do yang em todos os seus aspectos.
Pensamos que não é sem interesse fazer aqui uma digressão,
pelo menos aparente, a propósito de um símbolo estreitamente co-
nexo ao do yin-yang: esse símbolo é a dupla espiral (Fig, 10), que #Fie,1
É fácit .orpr.rná.iqu., no símbolo do yin-yang, as duas se-
Fig. 10 micircunferências que formam a linha. que delimita interiormente as
duas partes clâra.i escura da figura correspondem exatamente às
duas ãspirais, e seus pontos centrais, escuro na parte clara e- claro
desempenha papel extremamente importante na arte tradicional dos na partã escura, corréspondem aos dois pólos' Isso nos conduz de
mais diversos países e, em especial, na da Grécia arcaica r. Como já novõ à idéia do "Andrógino", assim como indicamos anteriormente;
se disse, com muita justeza, essa dupla espiral, "que se pode con- e lembraremos ainda a esse respeito que os dois princípios yin e
siderar como a projeção plana dos dois'hemisférios do Andrógino, yang devem sempre ser considerados, na verdade, como complemen-
oferece a imagem do ritmo alternado da evolução e da involução, tares, mesmo que suas ações respectivas, nos diferentes domínios da
do nascimento e da morte, numa palavra, representa a manifestação manifestação, iurjam exteriormente como contrárias. Podq-se,. por-
"da
em seu duplo aspecto" r. Essa figuração pode, além disso, ser enca- tanto, falár, quer dupla ação de uma força única, :qmo fazíímos
rada, ao mesmo tempo, num sentido "macrocósmico" e num sentido há pouco, qúer de duas forças produzidas por polarização desta e
"microcósmico": em virtude da analogia entre eles, pode-se sempre cenfradas nós dois pólos e produzindo, por seu turno, pelas- açóes e
passar de um para o outro'desses dois pontos de vista por uma reações resultantes de sua própria diferenciação, o desenvolvimento
transposição conveniente; mas é sobretudo ao primeiro que nos re- das virtualidades envolvidas no "Ovo do Mundo'',' desenvolvimento
õ.
feriremos diretamente aqui, pois é em relaçâo ao simbolismo do que compreende todas as modificações dos "dez mil seres"
"Ovo do Mundo", a que já fizemos alusão a propósito do yin-yang,
que se apresentam as aproximações mais notáveis. Desse ponto de 3'Aduplaespiralóoprincipalelementodecertostalismásmuito
'países' islâmicos; numà das formas mais completas, os dois
difundidos nós .
ponto§ de que se trata são asiinalados por €strelas que são os dois- pólos:
.1. Âlguns querem naturalmente, conforme as tendências modernas,
ver nisso apenas um simples motivo "decorativo" ou ,.ornamental',, mas es- ío-úi.-rrnu vertical mediana, que corresponde ao plano-de separação dos
q.uecem ou ignoram que toda "ornamentação" tem originariamente caráter àois hemisférios e, respectivamente, acima e abaixo da linha que reúne uma
l-àrt.* ,i aras eipirais, estão o Sol e a Lua; finalmente, nos quatro, ângulos
simbólico, embora possa, por uma espécie de ,,sobrevivência,', continuar a
ser empregada em épocas em que essa característica tivesse deixado de scr ãuat.o figuràs quadrangulares que correspondem aos quatro'elementos,
compreendida. identifiiados asiim aoi quatro "ângulos" (ar&árr) ou fundamentos do mundo.
"rtáá
2. -,Elie lrbasquais, Tradition hellénique et Art grec, em Études 4. CÍ. Le Symbolisnrc de la Croíx, cap' X'
.
ditionnelles, número de.dezembro de 1935.-
rra- 5. Os que se comprazem em buscar pontos de comparação com as
ciências piofanas poderiam, para uma aplicação de ordem "microcósmica".

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--
É de notar que essas duas mesmas forças são também figuradas é claro, o símbolo druídico do "ovo de serpente" 11. Por outro lado,
de maneira diferente, embora no fundo equivalente, noutros símbolos
tradicionais, principalmente por duas linhas helicoidais enrolando-se
a serpente é muitas vezes datla como habitante das águas, assim
como se vê especialmente para as Nâgas na tradição hindu e é tam-
em sentido inverso uma da outra em torno de um eixo vertical, como
bém nessas mesmas águas que flutua o "Ovo do Mundo". Ora, as
se vê, por exemplo, em certas formas do Brahma-danda ot bastão
águas são o símbolo das possibilidades e o desenvolvimento destas
bramânico, que é uma imagem do "Eixo do Mundo" e em que esse
duplo enrolamento é posto em relação com as duas orientaÇões con-
é figurado pela espiral, de onde a estreita associação existente por
vezes entre essa última e o simbolismo das águas 12.
trárias da suástica; no ser humano, essas duas linhas são os dois
nâdis on correntes sutis de direita e de esquerda, ou positivo e Se o "Ovo do Mundo" é assim, em certos casos, um "ovo de
negativo (idô e pingalô)6. Outra figuração idêntica é a das duas serpente", em outros lugares ele é também um ooovo de cisne" 13.
serpentes do caduceu, que se liga, aliás, ao simbolismo geral da Queremos aqui fazeÍ alusão sobretudo ao simbolismo de Hamsa, o
serpente em seus dois aspectos opostos 7; e, nesse sentido, a dupla veículo de Brahm^â na tradição hindu la. Ora, acontece com freqüên-
espiral pode também ser considerada como figurando uma serpente cia, em particular nas figurações etruscas, que a dupla espiral é enci-
enroscada em si mesma em dois sentidos contrários: essa serpente mada por uma ave; esta é evidentemente o mesmo qve Hamsq, o
é então uma "anfisbena" 8, cujas duas cabeças correspondem aos dois cisne que choca o Brahmânda nas Águas primordiais e que, além
pólos e que, por si só, equivale ao conjunto das duas serpentes disso, identifica-se com o "espírito" ou "sopro divino" (pois Hamsa
opostas do caduceu e. é também o "sopro"), que, segundo o início da Gênese hebraica,
Isso em nada nos afasta da consideração do "Ovo do Mundo", "era levado sobre as Águas". O que não ó menos notável ainda, é
pois este, em diferentes tradições, é com freqüência aproximado do que, entre os gregos, do ovo de Leda, geÍado por Zeus sob a forma
simbolismo da serpente. Poder-se-á lembrar aqui o Kneph egípcio, de um cisne, saem os Dióscuros, Castor e Pólux, que estão em cor-
representado sob a forma de uma serpente pondo o ovo pela boca respondência simbólica com os dois hemisférios, portanto com as
(imagem da produção da manifestação pelo Verbolo), e também, duas espirais que consideramos no momento, e, por conseguinte, re-
presentam sua diferenciação nesse "ovo de cisne", isto é, em síntese,
aproximar essas figurações do fenômeno da "cariocinese", ponto de partida da a divisão do "Ovo do Mundo" em suas duas metades, superior e
divisão celular; mas é claro que> no que nos diz respeito, só atribuímos a inferior 15. Não podemos, por sinal, pensar em nos alongarmos aqui
todas as aproximações desse tipo importância muitíssimo relativa. mais sobre o simbolismo dos Dióscuros, que, na verdade, é muito
6. Yer L'Homme et son devenir selon Ie Vêdânta, cap. XX. O ,.Eixo complexo, como o de todos os pares semelhantes formados por um
do Mundo" e o eixo do ser humano (representado corporalmente pe.la co-
luna vertebral) são igualmente designados, um e outro, em virtude de sua mortal e um imortal, representados muitas vezes como branco e
correspondência analógica, pelo termo Mêru-danda,
7. Cf. Le Ràgne de la Quantité et les Sígttes des Tentps, cap. XXX.
8. Cf . Le Roi du Monde, cap. III.
9. Para explicar a formaÇão do caduceu, dizem que Mercúrio viu duas 11. Sabe-se que esse era representado, de fato, pelo ouriço-do-mar fóssil.
serpentes que se batiam (figura do caos). Ele as separolr (distinção dos con- 12. Ananda K. Coomaraswamy assinalou essa associação em seu estudo
trários) com uma vara (determinação de um eixo segundo o quál o caos se Angel and Titan (sobre as relações dos Dêvôs e dos Asuras). Na arte
ordenará para tornar-se o Cosmos), em torno da qual elas se eniolaram (equi-
-
chinesa, a forma da espiral surge especialmente na figuração do "duplo caos",
lílrio das duas forças contrárias, que agem simetricamente em relação ao das águas superiores e inferiores (quer dizer, das possibilidades informais e
"Eixo do Mundo"). Deve-se observar também que o caducet (kêrukeíon, in- formais), freqüentemente em relação com o simbolismo do Dragão (ver Zes
sígnia- dos arautos) é considerado o atributo característico de duas funções Êtots mulíiples de l'être, cap. XII).
complementares de Mercúrio ou Hermes: de um lado, a de intérprete ou men- 13. O cisne lembra, aliás, a serpente pela forma de seu pescoço; é,
sageiro dos Deuses e, por outro, a de "psicopompo", que conduz os seres portanto, a muitos respeitos, como uma combinação dos dois símbolos da ave
através de suas mudanças de estados ou nas passagens de um ciclo de exis- e da serpente, que surgem muitas vezes como opostos ou como complemen-
tência a outro; essas duas funções correspondem, cãm efeito, respectivamente tares.
aos dois sentidos, descendente e ascendente, das correntes represÀtadas pelas 14. Sabe-se, por outro lado, no que se refere às outras tradições, que o
duas serpentes. simbolismo do cisne está ligado principalmente ao do Apolo hiperbóreo.
10. Cf. Aperçus sur tlnitiation, cap. XLV[. 15. Para dar precisão a esse significado, os Dióscoros são figurados
com cabeleiras de forma hemisférica.
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preto 16, como os dois hemisférios, um dos quais é claro enquanto Ao falar aqui de aspecto "dinâmico", pensamos naturalmente
o outro está na escuridão. Diremos apenas que esse simbolismo, no ainda na ação da dupla força cósmica e, mais especialmente, em sua
fundo, se relaciona com bastante proximidade com o dos Dêvas e relação com as fases inversas e complementares de toda manifes-
dos Asuras 17, cuja oposição está igualmente em relação com a dupla
tação, fases que se devem, segundo a tradição extremo-oriental, à
predominância alternanÍe do yin e do yang: "evolução" ou desen-
significação da setpente, conforme esta se mova numa direção ascen-
dente ou descendente em torno de um eixo vertical, ou ainda enros- volvimento, desenrolametto22, e "involução" ou envolvimento, en-
cando-se ou desenroscando-se em si mesma, como na figura da dupla
rolamento, ou ainda "catábase" ou marcha descendente e "anábase"
espiral 18. ou rnarcha ascendente, saída no manifestado e entrada no não-mani-
festado s3. A dupla "espiração" (e deve-se notar o parentesco muito
Nos símbolos antigos, essa dupla espiral é às vezes substituída significativo que existe entre a própria designação da espiral e da de
por dois conjuntos de círculos concêntricos, traçados em redor de spiritus ou "sopro",.de que falamos acima em conexão com Hamsa),
dois pontos que representam ainda os pólos: são, pelo menos numa é o "expir" e o "aspir" universais, pelos quais se produzem, segundo
de suas significagões mais gerais, os círculos celestes e infernais, os a linguagem taoísta, as "condensações" e as "dissipações" que re-
segundos dos quais são como que um reflexo invertido dos primei- sultam da ação alternada dos dois princípios, yin e yang, ou, de
ros 1e, e aos quais correspondem precisamente os Dêvas e os Asuras. acordo com a terminologia hermética, as "coagulações" e as "so-
Noutras palavras, são os estados superiores e inferiores em relação luções": para os seres individuais, são os nascimentos e as mortes,
ao estado humano, ou ainda os ciclos conseqüentes e antecedentes que Aristóteles chama genesis e phthora, "geração" e "corrupção";
em relação ao ciclo atual (o que não é, em suma, senão outra ma- paÍa os mundos, ,é o que a tradição hindu designa como os dias e
neira de exprimir a mesma coisa, fazendo intervir aí um simbolismo as noites de Brahmâ, como o Kalpa e o Pralaya,. e, em todos os
"sucessivo"); e isso corrobora também a significação do yin-yang graus, na ordem "macrocósmica" como na "microcósmica", fases
considerado como projeção plana da hélice representativa dos estados correspondentes encontram-se em todo ciclo de existência, pois elas
múltiplos da Existência universal m. Os dois símbolos são equiva- são a própria expressão da lei que rege a totalidade da manifestação
lentes e um pode ser considerado uma simples modificação do outro. universal.
Mas a dupla espiral indica, além disso, a continuidade entre os ciclos;
poder-se-ia dizer tambóm que representa as coisas sob um aspecto
"dinâmico", enquanto que os círculos concêntricos as representam
sob um aspecto de preferência "estático" 21.

16. É principalmente a sigaificação dos nomes de Ariuna e de Krishna,


que representam respectivamente iivâtmô e Paramâtmâ, ou o "eu" e o "Si", duas metades desta representariam, respectivamente, em todos os casos, o
a individualidade e a personalidade, e que, como tais, podem ser postos em reflexo dos estados superiores e a marca dos estados inferiores nesse mundo,
relaÇão Terra e o outro com o Céu,
'17.um com arelacionar como antes já indicamos a propósito do yin-yang.
Pode-se isso com o que indicamos numa nota preceden- 22. Certamente só tomamos a palavra "evolução" em seu sentido es-
te a propósito do encadeamento dos ciclos. tritamente etimológico, que nada tem de comum com o emprego que dela
18. Cf. o estudo de Ananda K. Coomaraswamy já citado acima. - No se faz nas teorias "progressistas" modernas.
simbolismo bem conhecido da "agitação do mar", os Dêvas e os Ásuras plu-
23. É, pelo menos, curioso que Léon Daudet tenha tomado o símbolo
xam em sentidos contrários a serpente enrolada em volta da montanha que da dupla espiral para "esquema do ambiente" (Courriers des Pay*Bas: ver a
representa o "Eixo do Mundo". figura em Les Horreurs de la Guene, e as considerações sobre o ,'ambiente"
19. Já assinalamos essa relação em L'Ésotérisme de Danlte. em Melancholia): ele considera um dos dois pólos como "ponto de partida"
2A. Yer Le Slmbolisme de la Croíx, cap. XXII. e outro como "ponto de chegada", de modo que o percuso da espiral deve
21. É claro que isso não impede o círculo de representar por si mesmo ser encarada como centrífuga de um lado e centrípeta do outro, o que cor-
um aspecto "dinâmico" em relação ao quadrado, assim como dissemos antes; responde devidamente às duas fases, "evolutiva" e "involutiva"; e o que ele
a conslderação dos dois pontos de vista, "dinâmico" e estático", implica sem- chama "ambiente" não é, no fundo, outra coisa que a "luz astral" de Para-
pre, por sua própria correlação, uma questão de relações' Se, em vez de con-
celso, que comporta precisamente o çonjunto das duas correntes inversas da
siderar o conjunto da manifestação universal, nos limltássemos a um mundo, força cósmica que consideramos aquÍ.
isto é, ao estado correspondente ao plano da figura, suposto horizontal, as

38 39
são, ao mesmo tempo, alternantes e simultâneas, e a ordem na qual
se apresentam depende, de certo modo, do estado que le toma coÍno
ponto de partida. se se partir do estado de não-manifestação para
purtu, ao manifestado (que é o ponto de vista que se pode dizer
propriamente "cosmogônico")2, é a "condensação" ou "coagulação"
lr" r" apresentará nãturalmente em primeiro lugar; a "dissipação".
ou "solu[ão" virâ em seguida, como movimento de retorno ao não-
Capítulo VI manifestado, ou, pelo menos, ao que, num nível qualquer, lhe cor-
responde num sentido relativo s. Se, ao contrário, se partisse de um
"Solve" e "Coagula" daáo estado da manifestação, dever-se-ia considerar primeiro uma
tendência à "solução" do que se encontra nesse estado; e então uma
fase ulterior de "óo'agulaçãõ" seria o retorno a outro estado' de ma-
nifestação. É preciso, além disso, acres@ntar que-essa "solução" e
Visto que acabamos de aludir à "coagulação" e à "solução" essa
,.õoagulu{ão", relativamente ao estado antecedente e ao estado
herméticas e embora já tenhamos falado delas um pouco em diversas
conseqüen-te, iespectivamente, podem ser perfeitamente simultâneas
c,casiões, talvez não seja inútil exprimir com precisão ainda, a res-
em realidade a.
peito, certas noções que têm relação bastante 'direta com o que
êxpusemos até aqui. De fato, a fórmula solve e coagula considera-se por outro lado, e isso é ainda mais importante, as coisas apre-
quã contóm, de oerto modo, todo o segredo da "Grande Obra"; na sentam-se em sentido inverso conforme as consideramos do ponto
medida em que reproduz o processo da manifestação universal, com à" uista do Princípio, ou, ao contrário, como acabamos de Íazer, do
essas duas fases inversas que indicamos ainda há pouco' O termo ponto de vista da manifestação, de tal modo que, po'der-se'ia dizer'
solve é às vezes representado por um sinal que mostra o Céu à que é yin de um lado é yang do outro e inversamente, embora, por
e o termo coagula por um sinal que mostra a Terra 1; quer dizer ouiro lado, só por uma forma bastante, inadequada de falar se possa
que eles se assemelham às ações da corrente ascendente e da relacionar'ao próprio Princípio uma dualidade como a do yin e do
iorrente descendente da força cósmica, ou, noutras palavras, às yang. De fato, como já o indicamos noutra obra õ, é o "expir" ou
açóes reSpectivas do yqng e do yin. Toda força de expansão é yang múmento de expansáo principal que determina a "coagulação" do
;,aspir,' õu mõvimlnto de contração principial que
e toda força de contração é yin. As "condensaçóes" que dão origem manifestado e o
aos compostos individuais, procedem, portanto, das influências ter- determina sua "solução"; e seria exatamente a mesma colsa se, em
restres, e as "dissipações" que restituem os elementos desses com- vez de empregar o simbolismo das duas fases da respiração, se empre-
postos a seus princípios originais, procedem das influências celestes; gasse o do duplo movimento do coração.
âí estão, se se quiser, os efeitos das atrações respectivas do Céu e da Além disso, pode-se evitar a impropriedade de linguagem que
Terra. E é assim que "os dez mil seres são modificados por yin e
assinalávamos hâ pouco por meio de uma observaçáo bastante sim-
lafrg", desde o seu aparecimento no mundo manifestado até o seu
retorno ao não-manifestado. fl..' o Céu, comà pólo "positivo" da manifestação, representa de
Deve-se, ademais, atentar bem para o fato de que a ordem dos 2.Dessepontodevista,aordemdesucessãodasduasfasesmostra,
dois termos depende do ponto de vista em que nos colocamos, pois, - - disso, ainda por que o ylz está
além aqui antes do.yang'.
das ciências tradicio-
i. Isso encóntra-inúmeras aplicaç-ões no domínio
na realidade, ás duas faies complementares às quais correspondem nais. úma das mais inferiores dessàs aplicações é a que se refere ao "apelo"
;ün"u-lntrumento" das .'influências eirantes", no início e fim de uma ope-
l Aludimos aqui principalmente ao simbolismo dos sinais do 18'o grau "ração mágica
da Maçonaria escoceü ê tamtém ao rito do "calumet" entle os índios da a. -É a "morte" num estado e o "nascimento" noutro estado consi-
Américâ do Norte, que comporta três movimentos sucessivos, que se relacio- derados como as duas faces opo§tas e inseparáveis de uma mesma modifica-
nam, respectivamentg com o Céu, a Terra e o Homem, e podendo traduzir'se (ver Le Symbolisme de la Croix, cap' XXVI)'
" do5.serAperçus
ção
por "solução", "coagulação" e "assimilação". sur l'Initiation, cap. XLVII'

40 41
e, é dito ainda "tirar o vivo do morto c <r
maneira direta o Princípio em relação a esta 6, enquanto a Terra, t or llorificar o espírito"
como pólo "negativo", só pode representar uma imagem invertida nrolto clo vivo", o que é tarnbém, por outro lado, uma exprcssiro
dela. A "perspectiva" da manifestação relacionará, portanto, muito lrlcorânica 10. A "transmutação" implica, portanto, num ou noutro
naturalmente, ao Princípio rnesmo o que pertence realmente ao Céu, grau 11, uma espécie de reviravolta das relações costumeiras (quere-
e ó assim que o "movimento" do Céu (movimento no sentido pura- rrros clizer tais como são consideradas do ponto de vista 'do homem
mente simbólico, é claro, visto que não hâ aí nada de espacial) será comum), reviravolta que é, além disso, em realidade, antes um res-
atribuído de certo modo ao Princípio, apesar de este ser necessaria- trtbelecimento das relações normais. Limitar-nos-emos a assinalar
mente imutável. No fundo, o mais exato é falar, como fazíamos um aqui que a consideração de tal "reviravolta" é particularmente im-
pouco antes, das atraçóes respectivas do Céu e da Terra, exercendo- l,tlrtante do ponio de vista da rcalizaçáo iniciática, sem poder.insis-
se em sentido inverso um do outro: toda atração produz um movi- iir mais nissô, pois, para tal fim, seriam necessários desenvolvimen-
mento centrípeto, portanto uma "condensação", à qual corresponderá, los que não poderiam se enquadrar no presente estudo 12.
no pólo oposto, uma "dissipação" determinada por um movimento Além disso, essa dupla operação de "coagulação" e de "solução"
centrífugo, de modo que se restabeleça ou antes se mantenha o equi- correspcnde de modo muito exato ao que a tradição cristã designa
líbric total 7. Disso resulta que aquilo que é "condensação" do ponto como o "poder das chaves"; de fato, esse poder é duplo também,
de vista da substância é, ao contrário, uma "dissipação" ,Co ponto uma vez que comporta simultaneamente o poder de "ligar" e o de
de vista da essência e, inversamente, o que é "dissipação" quanto à "desligar". Ora, "ligar" é evidentemente a mesma coisa que "coagu-
substância é uma "conclensação" do ponto de vista da essência; em lar", e "desligar" a mesma coisa que "dissolver" 13. E a comparação
conseqüência, toda "transmutação", no sentido hermótico do termo, cle diferentes símbolos tradicionais confirma ainda essa coÍrespon-
consistirá propriamente em "dissolver" o que estava "coagulado" dência de modo tão nítido quanto possível. Sabe-se que a figuração
e, simultaneamente, "coagular" o que estava "dissolvido", sendo essas nrais habitual do poder de que se trata é a de duas chaves, uma de
duas operações, aparentemente inversas, na realidade, apenas os dois ouro e outra de piata, que se referem, respectivamente, à autoridade
aspectos complementares de uma única e mesma operação. espiritual e ao poder temporal, ou à função sacerdotal e à função
É por isso que os alquimistas dizem freqüentemente que "a real, e também, do ponto de vista iniciático, aos "mistérios maiores"
dissolução do corpo é a fixação do espírito" e, inversamente, não e aos "mistérios menores" (e é nesse último aspecto que constituíam,
sendo espírito e corpo, em síntese, outra coisa gue não o aspecto entre os antigos romanos, um dos atributos de Jano)ra. Alquimica-
"essencial" e o aspecto "substancial" do ser; iss,o pode entender-se
da alternância das "vidas" e das "mortes", no sentido mais geral 9. Diz-se também, no mesmo sentido, "tornar o manifesto oculto e
dessas palavras, visto que é isso o que corresponde precisamente às o oculto manifesto".
"condensações" e "dissipações" da tradição taoísta 8, de modo que, 10. Álcorão, VI, 95; sobre a alternância das vidas e das mortes e o
retorno final ao Princípio, cf. II, 28.
poder-se-ia dizer, o estado que é vida para o corpo é morte para o 11. Para compreender as razões dessa restrição, basta reportar-se ao
espírito e inversamente; e, por essa razáo, "volatilizar (ou dissolver) que explicamos nos Aperçus sur I'Initiation, cap. XLII.
o fixo e fixar (ou coagular) o volátil" ou "espiritualizar o corpo e lr. No grau mais elevado, essa "reviravolta" relaciona-se estreitamen-
te com o que o simbolismo cabalístico designa como o "deslocamento das
1uzes" e também com esse dito que a tradição islâmica põe na boca dos
6. Por isso Tai"ki, embora sendo superior ao Céu tanto quanto à Ter- awlíyâ: "Nossos corpos são nossos espíritosre nossos espíritos são nossos cor-
ra e anterior à distinção deles, surge, no entanto, para nós como a "cumeeira ç,os'; 1aj"sâmnâ arwâhnâ, v,a a.rwâhnâ aisâmnâ). Por outro lado, em virtude
do Céu". dessa mesma "reviravolta", pode-se dizer que, na ordem espiritual, é o "in'
7. Pod+se aproximar isso das considerações que expusemos em tres terior" que envolve o "exterior", o que acaba de justificar o que dissemos
Prirtçipss du Calcul Infínítésimal, cap. XVII. antes a respeito das relações do Céu e da Terra.
8. Segundo os comentadores do Tao-te"f,fug, essa alternância dos esta- 13. Diz-se, aliás, em latim potestas ligandi et solvendi; a "ligadura", no
dos de vida e de morte é "o vaivém da lançadeira da máquina cósmica de sentido literal, encontra-se no uso mágico dos nós, que tem como contrapar-
tecer"; cf. Le Symbolísme de la Croix, cap. XIV, onde nos reportamos igual- tida o dos pontos no que concerne à "dissolução".
mente às outras comparações dos mesmos comentadores com a respiração e 14. Yer Áutorité spiriíuelle et pot|oír temporel, cap. V e VIII, e tam-
a revolução lunar. bém, sobre a relação entre os "mistérios maiores" e os "mistérios menores"

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nrcnte, clas sc rclercnt a operações aniilogas efetuadts crn clois graus conhece, o primeiro desses dois eixos é um eixo solsticial e o segun-
diferentcs e que constitLtcnl. respL,ctivamcnle, a "obra do branco", do um eixo equinocial ls. Aqui, o eixo vertical ou solsticial se rela-
correspondente aos "mistérios ntenores", e a "obra do verrnelho", cor- ciona com a função sacerdotal, e o eixo horizontal ou equinocial
responclente aos "nristérios ntaiorcs". Essas cluas chaves, clue sào, cOm a função real 1e.
segurldo a linguagcnt clu Datrtc, a clo'PlLraíso cÊleste" e a do "Paraíso
terrestre", são cruzadas de ntodcl clue lenrbrcnr a lornta da.s'tttístic.tr. A relação desse símbolo com o da dupla espiral é estabelecida
Ncssc caso dcve-se consitlerar que caria unta das duas cllaves tcnt, pela existôncia de outra forma da suástica, que é uma forma de
na ordern a que ss refcre, o duplo podcr cle "abrir" e de "l.-char", ramos curvos, com a aparência de dois S cruzados. A dupla espiral
ou de "ligar" e "desligar"r;, ntas criste tantbinl outra figuração mais pode naturalmente se identificar, seja à parte vertical dessa suástica,
conrpleta, na qual, para cada uma das cluas ordcns, os dois podcles seja à sua parte horizontal. É verdade que a dupla espiral é, na
inversos são reprcsentados distintamentc por duas chaves opostas maioria das vezes, coloçada horizontalmente para pôr em evidência
unra a outra. Essa figuraçao é a cla srrlt.çtic'u dita "clavígera", prcci- o carárter complementar e, de certo modo, simétrico das duas cor-
sanlente porquc cada unt clc seus quatro larnos ó forntaclo cle unta rentes da força cósmica 20, mas, por outro lado, a curva que é o seu
chAvc l'i (Fig. 12).1'cm-sc, dcsse nroclo, dr.ras cliavcs opostas scgunclo equivalente to yin-yang é, ao contrário, colocada em geral vertical-
mente. Poder-se-á, portanto, segundo o caso, considerar de prefe-
rência uma ou outra dessas duas posições, que se encontram reuni-
<las na figura da suástica de ramos curvos, e que correspondem então,
lespectivamente, aos dois domínios em que o "poder das chaves" se
exerce :1.
Fig. l2 A esse mesmo "poder das chaves" correspondem também, nas
tradições hindu e tibetana, o <luplo poder do vajra )2; esse símbolo

18. Nas figurações mais habituais de Jano (lanu.; Bi"frons), os dois ros-
um eixo vertical e duas outras segunclo unl cixo horizontal 1i. Em tos, entre outras significações, correspondem aos dois solstícios; mas existem
também, ainda que mais raramente, Íigurações de Jano com quatro rostos
relação ao ciclo anual, cuja relação conr o iimbolismo dc Jano se (lanus Quodrifons), correspondentes aos dois solstícios e aos dois equinó-
cios e apresentando uma semelhança bastante curiosa com o Brahntâ Cha-
c a "iniciaçho sacerdotal" e u "iniciação real", r'espectivamentc, Á 1tt,rç:tr.s .sut turmuklta da tradição hindu.
I'lttiriutiort, cap. XXXIX c Xl-. 19. Notemos, de passagem, que se poderiam tirar daí certas conseqüên-
15. Pode-se dizer, cntletânto, cnl certo sentido, que o poder dc "ligar" cias, no que se refere à significação da predominância atribuída aos solstícios
prevalece na chave que corresponde ao tenrpot'al e o de "ileslignr" na chave em certas formas tradicionais e aos equinócios em outras, principalmente para
que colresponde ao espilittrirl, pois o tenrporal c o espiritual sáo 1,11, e ),drig a fixação clo comeÇo do ano; diremos apenâs que o ponto de vista solsticial
um enr reluçiro ao outroi isso pocleriir. alénr clisso, justificar-se, mesrro extc- tem, em todo caso, carâler mais "primordial" do que o ponto de vista equi-
riornrente, falando rle "contr/rrio" no prinreiro tlonrínio e rle "libcrtl.rtle". nr: nocial.
segu n do. 20. Tal simetria é particularmente manifesta também no caso das duas
16. Hir rliversas virriantcr dcsslr f igurir. A lolnuL cltre r cproclLrzinlos r(lrri serpentes do caduceu.
se encolrtra principalnrente, lio latlo ilir lrrri.rÍitrr coÍnunr, nunl vxso ctrrrsco rlo 21. A medicina, dependente entre os antigos da "arte sacerdotal", cor-
l!{useu tlo LoLtvre. Ver trnra figrrraçiro cristir sinrilal ir.lrrrí.stfuri cllrvíqcriL nli responde por isso a uma posição vertical da dupla espiral, enquanto põe em
introiluçiio de rnonsenhol L)evoucorrx tr Ili.stoirc tlt'l'atrtiqtra (iÍú d','ltttun, do ação, como indicamcs mais acima, as forças respectivas do yang e do yin.
cônego Ednrc 'lhor:ras, p. Xl.Vl. Essa dupla espiral vertical é representada pela serpente enrolada em S em
17. Seria preciso, conr todo rigor. tlizel Lrnr cixo relirtivunrcnt.: verticrrl volta do bastão de Esculápio e que, além disso, nesse caso, é figurado apenas
e url cixo rclativanrente hor izontrrl rrnr enr r ellçao lro orrtro. tlevcnrlo ir pró- para exprimir que a medicina só põe em ação o aspecto "benéfico" da for'-
priir suírstica ser consideradil conro desenhlrdu nLrrn plano horizontal (Ver lc ça cósmica. Deve-se observar que o termo "espagíria", que designa a mcdi-
St'trtholi:rtt1, dc lu C'roir, cap. X ). A chrLve ó urn sírnbolo e sse uciillnte ntc cina hermética, exprime Íormalmente, por sua composição, a clupla opcraçÍo
"lrxill", rrssinr como o bastrio ou o cetr(), (lr.lc, cl'n algunras figLrraçircs r,le Jano, de "solução" e "coagulaÇão". O exercício da medicina tradicional ú, portanto,
substitr.rr irquellt dlrs duas chav.'s (luc corre\l)ondc ao poclel te nrpor iil oLl iro\ especialmente, numa ordem particular, uma aplicação do "poder tlus chirves".
"rnistór-ios nrenores". 22. Vajra é a palavra sânscrita; a forma tibetana é lorjc.
++ 45
é, como se sabe, o do raio.z3, e suas duas extremidades, formadas r,(ijra que, no fundo' é idêntico a ele, im-
ol o "poder das chaves",
de pontas em forma de chama, correspondem aos dois aspectos opos- pficandà o manclo e operação das .forças cósmicas, em seu duplo
tos do poder representado pelo raio: geração e destruição, vida e àrp."to de yin e vqng, iao é, em última a-nálise, mais do que o pró-
morte 2a. Se se líga a vajra ão "Eixo do Mundo", eSSaS duas extre- prio poder de governar a vida e a morte?e"
25,
midades .o.r"rpond.m aos dois pólos, assim como aos solstícios
Deve, portanto, ser colocado verticalmente, o çluel se coaduna,- aliás,
,* caráter de símbolo masculino 26,zz.
assim como o fato de que
"o*
ó essencialmente um atributo sacerdotal Tido assim na posição
vertical, o vaira representa a "Via do Meio" (que é-também,.como
u.r"*oá mais adiante, a,'Via do Céu"). Mas ele pode ser inclinado
cle um lado ou do outro, e então essas duas posições correspondem
às duas ,,vias,, tântricas de direita e esquerda (dakshina-mârga e
vâma mârga), podendo essa direita e essa esquerda, aliás, serem
p*tu, tttuêao com os pontos equinociais, do mesmo modo
'que
o ",
alto e o bãixo o são co,m os pontos solsticiais 28. Evidentemente

À.,i,o fruu"tia que dizer sobre tudo isso, mas, para não nos afastar-
mosdemaisde.nossotema,contentar-nos.emosaquicomessaspou-
cas indicações e co'ncluiremos sobre isso dizendo que o
poder do

-r1lFjl"é,aomesmotempo,"raio"e"diamante"'porumaduplaacep-
çao ãá'r";,i,;'puruutu ;, ;,i;'" noutra dessas significações' é ainda um
**-ri. "axial".
símbolo
r á qo" figuram também certas armasduplo,
de duplo corte,^especialmen-
significação pode'
t.,ná .imúotlsmo oa"Cráciu uicaica, o machado
por -cuja
ai*à, ."i uproxlmada da do caduceu. outro lado, o raio era repre-
"ic."
r-"iãaã, pelo ma-rtelo de Thor, a9 eu91 se pode
.á trad(ão ...ãnai"oru,.nô
;;;;;.li,r; o malLete dã úestre comosimbolismo maçô_nico. .Este. é,. portanto,
r--.qrúaiente d; r;í;;;,
ãi.ár--ôii., ele, tem o duplo poder. de.dar a vida
ã--u assim como .órt.u' seu papel na consagração iniciática, de um
lado, e na lenda de Hirão, doutro- lado'
25.Estesseassemelhamdefato,nacorrespondência.espacial.do.ciclo
unrul, uo Norte (inverno) e ao Sul (verão), enquanto osdois tSY]l::lot'"
assemelham ao Leste tpÍ*ã*iui e ao Oáéte (outono)..Essas relações têm
õ;;i;;;l.una. im'porrância. do ponto de vista ritual. na tradição extre-
-^^- -16.
mo-oriental. (shan'kha),
§eu complementar feminino é, na tradição hindu, a con-cha
., @ttOu), sobre. a 09.11 .se. vê muitas
nu iroaiçào tibetana, u ii"itu rtnãt prâinâ-pâramítâ
;r;; ,l,|;'fiÀrrÀ r.miátnà que é a da ott "sabedoria trans- 29. Nos antigos manuscritos provenientes da Maçonaria operativa' tra-
;;;ã*J;, d;"quà "tu é o síàbolo, enquanto o t'aira é o do "Método" ou da
,o-r", s".-orira exlplicação, de certa of
laculty .abrac; essa palavra.enigmática
e que
"Via". ãri.àL,- ài"- .riÉinou diversas interpretações mais. ou menos fantasistas
2T.oslanrasseguramolajracomamãodireitaeasinetacomaes. é, em tôdo caú, ,-u palavra manifesiamente deformada, palece bem dever
querda. Esses dois objetos rituais nunca se devem separar' ;ig;ifi;., ro u"ídod", o raio ou relâmpago (emdo hebreu ha-baraq' em árabe
28. Encontramos às vezes, no simbolismo tibetano, uma figura da
forma.
ii-f orql , de modo que, tratar-se-ia exãtamente poder d.o vajra' Pode-sc
da pãr dois uoiro, cr"iios, que é evidentemente um equivalente suástica.
.t.pi.ir'"a.t tacitmerite, por tudo isso, devido a que ossimbolism-o o poder de
As quatro pontu, .or..rfonâem então exatamente às quatro chaves da suás- ;;;;;.;. tempestades foi muitas vezes encarado, entre mais diversos povos'
tica clavígera. .o-o urnu espécie de conseqüência da iniciação'

46 47
temente assim em todo o curso da história. Na época do historiador
II antes da era cristã, a direita parece
Sseu-ma-tsien, isto é, no século
ter, ao contrário, suplantado a esquerda, pelo menos no que con-
cerne à hierarquia das funções oficiais 3; parece que houve enião,
pelo menos desse ponto de vista, oomo uma especie de tentativa de
"retorno às origens", que deve ter correspondido, Íalvez, a uma
Capítulo VII mudança de dinastia, pois tais mudanças na ordem humana tradicio-
nalmente são sempre postas em correspondência com algumas modi-
ficações da própria ordem cósmica a. Mas, numa época mais antiga,
Questões de Orientação embora com certeza muito afastada dos tempos primordiais, era a
esquerda que predominava, como o indica especialmente essa passa-
gem de Lao-tse: 'iNos assuntos favoráveis (ou de bom augúrio),
Na época primordial, o homem eÍa em si mesmo perfeitamen- põe-se em cima a esquerda; nos assuntos funestos, põe-se em cima
te equilibrado quanto ao complementarismo do yin e do yang. Por a direita" õ. Era dito também, pela mesma época: ".A, humanidade,
outro lado, ele era yin ou passivo em relação só ao Princí- é a direita; a Via, é a esquerda"'6, o que implica manifestamente
pio e yang ou ativo em relação ao Cosmos ou ao conjunto uma inferioridade da direita em relação à esquerda; postas em rela-
das coisas manifestadas. Voltava-se, poÍtanto, naturalmente para o ção uma com a outra, a esquerda correspondia então ao yang e a
Norte, qlue é yin 1, como na direção de seu próprio c,omplementar. direita ao yin.
Ao contrário, o homem das épocas posteriores, em conseqüência da
Assim, que isso seja de fato uma conseqüência direta da orien-
degenerescência espiritual que corresponde à marcha descendente do
tação tomada ao se voltar para o Sul é o que prova um tratado
ciclo, tornou-se yin em relação ao Cosmos; deve, portanto, voltar-se
para o Sul, que é yang, para assim receber as influências do princí- atribuído a Kouan-tseu, que teria vivido no século VII antes da era
pio complementar daquele que se tornou predominante nele e resta- cristã, e no qual está dito: "A primaveÍa faz nascer (os seres) à
esquerda, o outono destrói à direita, o verão faz crescer antes, o
belooer, na medida do possível, o equilíbrio entre o yin e o yang.
inverno põe de parte depois." Ora, segundo a correspondência admi
A primeira dessas duas orientações pode ser dita "polar", enquanto tida em todas as partes entre as estações e os pontos cardeais, a
a segunda é propriamente "solar": no primeiro caso, o homem, primavera corresponde ao leste e o outono ao oeste, o verão ao sul
olhando a Estrela Polar ou a "cumeeira do Céu", tem o leste à sua
e o inverno ao norte 7. É, portanto, exatamente o sul aqui que está
direita e o oeste à esquerda; no segundo caso, olhando o So1 no
íneridiano, tem, ao contrário, o leste à esquerda e o oeste à direita;
e isso explica uma particularidade que, na tradição extremo-oriental,
3. O "conselheiro de direitaJ' (iou-siang) tinha então um papel mais im-
portante do que o "conselheiro de esquerda" (tso-siang).
pode parecer bastante estranha àqueles que não conhecem a sua 4. A sucessão das dinastias, por exemplo, corresponde a uma sucessão
razáo2. dos elementos numa certa ordem, estando os próprios elementos em relação
Na China, de fato, o lado a que em geral se atribui a preemi- com as estações e com os pontos cardeais.
nência é o esquerdo; dizemos geralmente, pois isso nãofoi constan- 5. Tao-te-kíng, cap. XXXI.
6. Li.ki.
7. Essa correspondência, estritamente conforme à natureza das coisas, é
1. Por essa razão, no simbolismo maçônico, a Í-pia é considerada como comum a todas as tradições. É, portanto, incompreensível que alguns moder-
não tendo janela aberta do lado Norte, de onde a luz solar nlrtrca vem, en- nos qu€ se ocuparam com simbolismo a tenham muitas vezes substituído por
quanto que ela as tem dos três outros lados, que correspondem às três "es- outlas correspondências fantasistas e totalmente injustificáveis. Assim, para
tações" do Sol. dar um exemplo disso, o quadro quaternário colocado no final do Livre de
2. Nos mapas e plantas chineses, o Sul é colocado em cima e o Norte I'Apprenti (Livro do Aprendiz), de Oswald Wirth, faz corretamente corres-
em baixo, o Leste à esquerda e o Oeste à direita, o que está de acordo com ponder o verão ao Sul e o inverno ao Norte, mas a primavera ao Ocidente
a segunda orientação. Esse uso, aliás, não é tão excepcional quanto se pode- eo outono ao Oriente; e nele encontram-se ainda outras correspondências,
ria crer, pois existia também entre os antigos romanos e subsistiu mesmo principalmente no que concerne às idades da vida humana, que são baralha-
durante uma parte da Idade Média ocidental. das de modo quase inextricável.

48 49
acabaram por se conformar com a "Via da Terra"' o que assinala
antes e o norte depois, o leste à escluerda e o oeste à direitas. Natu- bcm a difercnça entre a época primordial e as épocas .posteriores
ralmente, quando ie toma, ao contrário, a orientação que se volta à"- ãrg"n"."scência espirituáI. Poàe-se ver nisso, em seguida' a indi-
para o úori., a correspondência da esquerda e da direita se inverte, ;;d;-à; uma relação inversa entre o movimento do Céu e o movi-
ào -.r.t modo que à do antes e do depois' Mas, em última aná- mento da Terra
-cla
11, o que está rigorosamente de conformidade com
lise, o lado que teú a preeminência, seja a esquerda -num easo ou a analogiá; o.o.." ,sempre isso quando se .está. diante
direita .,o oút.o, é sempre invariavelmente o lado do leste. Essen- "'lãi"g"ãf
de dois termos qre ," opõem de tai modo, que um. deles é. como
cialmente isso é o qoe importa, pois vê-se por aí que., no fundo, a um reflexo clo outro, refleio invertido como a imagem de um
objeto no
tracliçiro extremo-o'riental êstá perÍeitamente de acordo com todas ;ilil ; á em relaÇão a esse mesmo objeto, de modo que
-1
direita
u, oúttut doutrinas tradicionais, nas quais o Oriente é sempre con- cia imagem corresponde à esquerda do objeto e vice-versa 12'

siderado efetivamente como o "lado luminoso" (yang) e o Ocidente pareça


como o "'lado escuro" (yin), um em relaçáo ao outro' A mudança Aditaremos a propósito uma observação que, embora^
bastante simples em-si mesma, está longe.de ser sem importância:
é
nas significações respectivas da direita e da esquerda, condicionada da esquerda' deve-
q.il principálmente.quangg :. trata da direita e
po,. u'-u mô.litiorçáo de orientação, é, em síntese, perfeitamente a que elas
iógi.u não impiita, em absoluto, nenhuma contradição
e' se sernpre ter o matol cuidado de determinar em relação
" são consideradas. Desse modo, ao falar da direita ou esquerda de
Essas questões cle oricntação são, além disso, muito complexas, u-u ilg.itu simbótica, queremos dizer. com isso as dessa própria
pois não apeilas ó pte.ciso ter sempre atenção pa11 nao c-ome+Ler a rigrio J" as de um espeôtador que a olha, colocando-se diante dela?
àrre ..rpeiio nenhuma confusão entre correspondências diferentes, u? toto, os dois caàs podem apresentar-se: quando se tra-ta de
mas pode aincla sucr:dcl. que, numa mesma corresponelência, a pre- uma figura humana ou di qualquêr outro ser vivo' quase não há
dominância da ilireita e da esquerda em relação uma com a outra dúvida sobre o que convém ôhu-ut sua direita e sua esquerda'-
Mas
se clê em pontos de vista diferentes. É o que indica muito claramente o mesmo não acontece em relação a outro objeto qualquer, uma figura
um texto como estc: "A Via do Cóu prefere a direita, o Sol e a Lua geométrica por exemplo, ou ainda um monumento' Então considera-
se cleslocam para o Ocidente; A Viá da Terra prefere a, esquerda, se mais comumente à aireita e a esquerda, situando-se
no ponto de
o curso cl'írgua corre para o Oriente; dispomo-los igualmente em ;tã à; espectador 1:r. Mas isso não é, todavia, sempre assim' Pode
cima (isto é, um ottro dos dois lados têm direito à.preeminôn- acontecer tâmbém que se atribua r\s vezes uma direita e uma esquerda
" é particularmente interessante; primeiro, por- um. ponto
cia),,rir. Essa passagem àu iigr.u consiclerada em si mesma, o que corresponde
1{. -a.
quó afir:ma, seiam quais florem, aliás, as razões que ela dê para isso' de viãta naturalmente inverso ao do espectador A falta de pre-
ás quais devern ser, cle preferência,. tomadas como simples."ilustra-
ções" tiradas clas attarôncias sensíveis, que a preeminência-da.direita
esth associacla i\ "Via clo Céu" e a da esquerda à "Via da Terra"' o *r,aremos a lembrar ainda que o "movimento" é aqui apenas uma
representação puramente simbólica'
O;;, ; primeira ó nccessariamente superior à segunda, e,^pode-se 12. o mesmo o.*t..", uiüt, to- duas pessoas colocadas diante uma
áiiu, erporque os homens perderant de vista a "Via do Céu" que da outra; por essa ,urão'ã'qu"-'S. àii ,,adoúrás rua direitL onde está a
(Phan-khoa-Irr, citado por
;ü*;ã;',lã-iJ ir.ào ó l"ão o" seu.coração),'
8'Podemostambómapt.oxinralclissootextoseguintedo.Yi-kíng..,,o cap' VJ])'
Mâtgioi, La Vctie Rationnelle,
Sábio ten-ro Íosto voltadá para o Sul e ouve o eco do que está debaixo clo 13, É assim qr", ;;-ii;;';'áu "áíuor" sefirótica" da Cabala' a "coluna
Céu (isto é, do Cosmos), ilumina-o e o governa"' de direita,, e a ,.coluna'd;-".rqr.;ar,' são as que temos, respectivamente, à
-"- q.'- íoJ". além ilisso,'haver aincia outros moclos de orientação' alóm <los àireita e à esquerda, quando se olha a figura'
oue acabamos tle inclicar'. 1; que áIcarreta naturaimente adaptações diferentes' 14. Plutarco, potl*à*pro, cánto quã "os egípcios consideram^o.Orien-
e o Sul à es-
;; ã .;*;,; iá.ii rnr., concordar
il; -ai'r.it,. entre si; dessarte, na Índia' se -o lado te como o rosto do mttntlo' o Norte como estanào à direita
é o é que a orientaÇáo é- tomada rnirando-se o risis cr ora;r,"ii,'tratlução de Mario Meunier, p. l[2); apesar das
ii" 1cl:ak:hittal Sul^ à,,.Ju,;
§àf àii""a.' nasce. iíto é, voltanclo-ie. na direção clo Oriente; mas, de resto, enrrências isso coinci{c exatâmente com a designação hindu - do, Meio-dia
ã* irnJo atual de orie,iação c1e nenhum modo impede de, rec-onhecer o ca- p;i; ú rácil imaginar o laão esquerdo do mundoe
:5;r;';"ii"à;ir"";'*i,;'.-",o'lfilç,i"
.ai..-'pii*.iiii"t àá "ri.ntação "po1ar". isto é, tomada voltando-se na dire- como se se esten.lesse cla rlirãita daquele que o contempla
çã. Oà Norte, que é <tesignâcio cômo o ponio mais alÍo (uttara) ' vice-versa.
1 0. Tcheou-li.
5l
50
cisão nesse sentido, em cada caso. pode nos levar a cometer erros com o centro à esquerda no primeiro caso, e, ao contrário, à direita
bastante graves a respeito 15. (o que é chamado em sânscrito pradakshinâ). Esse último modo é
Outra questão conexa à da orientação é a do sentido das o que se usa, em particular, nas tradições hindus e tibetanas, en-
quánto o outro encootra-se principalmente na tradigão islâmica
17'
"circum-ambulações" rituais nas diferentes formas tradicionais, É.
fácil perceber que tal sentido é determinado, de fato, seja pela orien- A essa diferença de sentido se liga igunlmente o fato de avançar o
tação "polar", seja pela orientaÇão "solar", na acepção que demos pe direito ou o esquerdo em primeiro lugar numa marúa ritual:
anteriormente a essas expressões. Se considerarmos as figuras adian- õonsiderando ainda as mesmas figuras, pode-se ver facilmente que
terii, o primeiro sentido será aquele no qual, olhando na direção do o p,é que deve estar avançado em primeiro lugar é forçosamente o
Norte, vêem-se as estrelas girarem em torno do pólo (fig. l3). Em Oo Uaã oposto ao lado que está voltado para o centro da circum-
ambulaçãó, isto é, o pé direito no primeiro caso (fig' 13) e o es-
querdo, no segundo (fig. 14); e essa ordem de marcha é, em geral,
observada, mesmo quando não se trata de circum-ambulações pro-
priamente ditas, como se assinalasse, de algum modo, a predominân-
ôia respectiva do ponto de vista 'opolar" ou do Í)onto de vista "solaÍ",
Fig. l3
qoer numa forma tradicional dada, quer mesmo às vezes para pe-
18.
r-íodos diÍerentes no curso da existência de uma mesma tradição
Dessa Íorma, todas essas coisas estão longe de se reduzirem a
contraposição, o segundo sentido será aquele no qual se efetua o simples detalhes mais ou menos insignificantes, como poderiam crer
os que não compreendem nada do simbolismo nem dos ritos. Elas

o
movimento aparente do Sol para um observador que olha na direção
do Sul (fig. l4). A circum-ambulação se realiza constantemente são, ao contráriã, ügadas a todo um conjunto de noções que têm
grande importância ãm todas as tradições e disso poder-se-ia dar
ãinda muitos outros exemplos. Caberia bem, a propósito da orienta-
ção, tratar também de questões como as de suas relações com o
i"rár*o do ciclo anual ú e com o simbolismo das "portas zodia-
àais". Encontraríamos aí, além do mais, a aplicação do seEtido in-
I.ig. 14

17. Talvez não seja sem interesse notar que o sentido (fig' _dessas_
circum-
l3)'-e
ambúaç0"s, indo respeciivu-"nt" da direita para a esquerda da
esquerdà rlaÍa a diréita (tig. 14), correspoade
-formas iguallnente.à {reção da es-
'm..mat
;;i," jn] íírc""; ruàiàau*' Oãgu, tradicionais. Na Maçonaria,
15. Daí vêm, por exemplo, no simbolismo maçônico, as divergências em sua forú atual, o sentido das circum-ambulações é "solar", mas parece
que se deram a respeito da situação respectiva das duas colunas colocadas na ter sidq ao contrário, inicialmente "polar" no antigo ritual operatlvo' §egun-
entrada do Templo de Jerusalénr. A questão, porém, é fácil de resolver, re- áã q"uf o .,trono de Salomáo,' erà, por outro lado, colo-cado no . Ocidente
portando-se diretamente aos textos bíblicos. desde que se saiba que, em " 'ro Oriente, para permitir a seu ocupante "contemplar o Sol em seu
hebreu, a "direita" significa sempre o Sul e a "esquerda", o Norte, o que "-"ào
nascimento",
implica que a orientação é tomada, como na Índia, voltando-se na direção
do Leste. Es.a mesma modalidade de orientação é. aliás, igualmente, a que, 18.Àinterversãoverificadaarespeitodessaordemdemarchaemcer-
no Ocidente, praticavam os construtores da Idade Média para determinar a to, Rito, maçônicos é tanto mais singular quanto está em manifesto desa-
orientação das igrejas. cordo com o sentido das circum-ambulações; as indicações que acabamos de
16. A cruz traçada no círculo, e da qual teremos que falar novamen- áár fornecem evidentemente a regra correta a observar em todos o§ casos'
te mais adiante, assinala aqui a direção dos quatro pontos cardeais. De acordo lg. Encontrar-se-á um exemplo da representaç§o desse percurso por uma
com o que explicamos, o Norte é colocado em cima, na primeira figura, e o circum-ambulação nas considerações relativas ao Ming-tang, que exporemos
Sul. na segunda. mais adiante.

53
52
verso, que assinalávamos anteriormente, nas relaçõeS entre. a Ordem
"celestei e a ordem "terrestre"' Essas considerações, porém, cons-
tituiriam aqui uma digressáo demasiado longa e encontrarão, Íalvez,
melhor lugar noutros estudos m.

Capítulo VIII

Números Celestes e Números Terre§tres

A dualidad e do yang e do yin encontra-se também ainda no


que concerne aos números: de- acondg com o Yi'king, os números
ímpares correspondem ao yang, isto é, são masculinos ou ativos, e
os números pâres correspondem
-aliás, ao yin, isto é, são femininos ou
passivos. Nãâ há nisso, nada que particular à tradição
.seja
àxtremo-oriental, pois essa coÍrespondência está de acordo com o
que ensinam todàs as doutrinas tradicionais. No ocidente, ela é
ônhecida sobretudo pelo pitagorismo, e talvez algrrns mesmoJ imagi'
nando que se trata aí de uúa concepção própria a este, ficassem
muito súrpresos de saber que ela se encontra, exatamente a mesma,
até no Exlremo-Oriente, sem que seja possível, ,evidentemente, supor
.,empréstimo" d! um laão ou de outro, e muito sim-
nisso o menor
plesmente de uma verdade que deve _ser igualmente reconhecida em
toda parte onde existe a ciência tradicional dos números'
Os números ímpares, sendo yang, podem dizer-se "celestes", e
os números pares, sendo yÍn, podem dizer-se "terrestres"' Mas, além
deisa considiração inteiramente geral, há certos números que são
atribuídos mais especialmente ao Céu e à Terra, e isso. pede.outras
explicações. Inicialmente, são principalmente os primeiros números
respectivamente, (ue são encarados como os números
impar à par,'Ce"
próprios ào e da Terra, ou como a express-ão da. própria.natu-
i"rà dul"t, o que se compreende sem diÍiculdade, pois, em virtude
do primado quL cada um iem em sua ordem, todos os outros núme-
.o, ião derivádos deles de algum modo e ocupam apenas uma ordem
secundária em relação a elei em suas respectivas séries. São, por-
20. Sobre o caráter qualitativo das direções do espaço, que é o prin- tanto, aqueles que, poderíamos dizer, representam o yang e o yin
cípio mesmo sobre o qual repousa a importância tradicional da orientação e
,o-b." ut relações existéntes entre as determinações espaciais e teqrPorais, Po- no mais'alto giau, ãu, o que dá no mesmo, exprimem do modo
der-se-á também se reportar às explicações que demos em Le Rêgne d'e la mais puro a iatweza celesie e a natureza terrestre. Desse modo,
Quantité et les Signes des Temps, cap. fV e V' aquilo a que se deve prestar atenção é que aqui a unidade, sendo

54 55
propriamente o princípio do número, não é contada, ela mesma, cliferentcs daquele, ejá o indicamos, por sinal, no que se refere ao
iomu u- nÍrmeró. Iria realidade? o que ela representa só pode ser tcmpo e ao espaço e aos símbolos quc com eles se relaclonam res-
anterior à clistinção entre o Céu e a Terra, e já vimos que ela, de pectivamente nas tradições dos povos nômades e dos povos seden-
Tai-ki, o Ser que é tários 3. É evidente que, nesse caso, em que um termo temporal e
-própriaao princípio comum destes,
fato, corresponde
enquanto 2 é o um termo espacial são considerados complementares, não se poCe
idêntico à unidade metafísica. Portanto,
primeiro,númerô par, é 3, e não 1, que se consi'dera o p-rimeiro nú- assemelhar a relação que existe entre esses dois termos à do mas-
rnero ímpar. Por conseguinte, 2 é o número da Terra e 3 o número culino e feminino. Não é menos verdade, entretanto, que esse com-
clo Céu. Mas, então, 2 estando antes de 3, na série dos números, a plementarismo, assim como qualquer outro, se liga de certo modo
Terra parece estar antes do Céu, do mesmo modo como o yin surge ao clo Céu e da Terra, pois o tempo é posto em correspondência
antes do yang. Encontramos assim, nessa correspondência numérica, com o Céu pela noção dos ciclos, cuja base é essencialmente astro-
outra expressão, ecluivalente, no fundo, ao mesmo ponto de vista nômica, e o espaço com a Terra, na medida que, na ordem das apa-
cosmológico <Je que falamos antes a propósito do vin e do ynrtg. rências sensíveis, a superfície terrestre representa com exatiCão a
erxtensão mensurável. É certo que não se deveria concluir a partir
O que pode parecer mais dificilmente explicável ó que outros dessa correspondência que todos os complemçntarismos poclem ser
nÍrmeros são também atribuídos ao Céu e à Terra e, para eles, se reduzidos a um tipo único. daí a Íazáo por que seria errôneo falar
verifica, pelo menos aparentemente, uma espécie de intervenção. De de "hierogamia" num caso como o que acabamos de lembrar. E ne-
fato, é então 5, número ímpar, que é atribuíclo à Terra, e 6, número cessário dizer apenas que todos os complemeutarismos. sejam de
par, que se atribui ao Céu. Aqui de novo temos, com efeito, dois que tipo forem, têm igualmente seu princípio na primeira de toCas
i"r-oi consecutivos da série dos nÍtmeros, correspondendo o pri- as dualidades, que é a da Essôncia e da Substância universais, ou,
meiro na ordem dessa série à Terra e o segundo ao Céu; mas, afora segundo a linguagem simbólica da tradição extremo-oriental, a do
esse caráter que -cle é comum aos dois
pares numéricos, 2 e 3 de um
Céu e da Terra.
lado, 5 e 6, outro, como é possível que um número ímpar ou
yang seja referido à Terra e um número par ou yin ao Céu? Falou- Assim sendo, para compreender exatamente a significação dife-
r" i respeito e, em síntese, com razáo, de uma troca "hierogâ- rente dos dois pares de nírmeros atribuídos ao Cóu e à Terra, é
"ri"
mica" entre os atributos dos rlois princípios complementares Não
r. preciso dar-se bem conta de que uma lroca, como a de que esta-
se trata, aliás, nesse caso, de algo isolado ou excepcional, e pode- mos tratando, só pode se verificar quando os dois termos comple-
mos destacar outros exemplos no simbolismo tradicional
!' Na ver- mentares são considerados em suas relaçõcs recíprocas. ou uniclos
dade, dever-se-ia até generalizar mais, pois só se pode falar exata- um ao outro, se se tratar de "hierogamia" propriamente dita, e não
mente de "hierogamia" quando os dois complementares são expres- tomados em si mesmos e cada qual separadamente do cutro. Resulta
samente consiclerados masculino e feminino um em relação ao outro. disso que, enquanto 2 e 3 sáo a Terra e o Céu em si mesmos e em
assim como é efetivamente aqui. Mas encontramos também algo sua natureza própria, 5 e 6 são a Terra e o Céu em sua ação e
semelhante em casos em que o complementarismo reveste aspectos reação recíproca, portanto do ponto de vista da manifestação, pro-
duto dessa ação e reação; ó o que, aliás, exprime com clareza um
1. Marcel Granet, La Pensée chinoise, págs, 154-155 e 198-199' Como texto tal como este: "5 e 6 é a união central (tchung-ho, quer dizer,
Signes des Temps,
já assinalamos noutra parte (Le Ràgne de la Qtrantité et les a união em seu centro)a do Cóu e da TerraÍ. É o que aparcce
cap. v). esse livro contém uma porção de inforrnações muito_ interessantes, e
^capítulo melhor ainda pela própria constituição dos números 5 e 6, toclos
o consagrado aos números é nele particularmente importante.. De-
ve-se-só ter o culdado de só consultálo do ponto de vista "documentário" e os dois formados igualmente de 2 e 3, mas estes unidos entre si de
não levar em conta interpretações "sociológicas" do autor, interpretações que duas maneiras diferentes, por adição para o primeiro (2 + 3:5)
invertem geralmente as reiaçõei reais das coisas, pois não foi a ordem cósmica
que foi cóncebida, como ele imagina, sobre o modelo das instituições sociais,
mas, muito ao contrário, foram éstas que se estabeleceram em correspondên- 3. Le Ràgne tlc Ia Quantité et lcs Signes tle,s Tentps, cap. XXI.
cia com a ordem cósmica mesma. 4. Lembrar-se-á aqui o que indicamos antes: o Céu e a Terra só podeln
2. Encontrâremos tal exemplo mais adiante, e ainda na tradição extremo- se unir efetivamente pelo centro.
oriental, a respeito do esquaclro e do compasso' 5. Tsien-Han-chou.

56
e por mutliplicação para o segundo (2 x 3:6). Essa é, por outro se pocle chamar influências celestes e influências tcrrcslt*i, (ltto sc
lado, a razão por que esses dois números, 5 e 6, que nascem assim traduzem pelas ações, respectivamente, do yong c clo yur. Pat'lt ctlltt
da união do par com o ímpar, são um e outro considerados muito preelder de modo mais preciso Como Se aplica essa ntrçilo dc l)lc(li
geralmente, no simbolismo das diferentes tradições, como tendo ca- da. cleve-se voltar aqui à consideração das formas gcomótricas (lrrc
ráter essencialmente "conjuntivo" 6. Levando a explicação mais lon- simbolizam os dois princípios, e que São, como vimos anteriortuctttc,
ge, é preciso ainda perguntar por que há adiçãro num caso, o da o círculo para o Céu e o quadrado paÍa a Terra 10: as formas rcti-
Terra considerada em sua união com o Céu, e multipl:cação no outro líneas. cujô protótipo é o quadrado, são meclidas por 5 e seus múl-
caso, o do Cóu considerado inversamente em sua união com a'ferra: tiplos, e, do mesmo modo, as formas circulares são medidas por (r
é que, embora cada um dos dois princípios receba nessa união a e seus múltiplos. Falando clos múltiplos desses dois números, visanttls
influência clo outro. que si conjuga, de algum modo, a sua natureza principalmente aos primeiros desses múltiplos, ito g, o dobro tlc:
própria, eles a recebem, no entanto" de maneira diferente. Por ação ütn .^de outro, sejá, respectivamente, lO e 12. De fato, a medida
do Céu sobre a Terra, o número cetreste 3 vem simplesmente se natural das linhas i.etas se efetua por uma divisão decimal, e a das
acrescentar ao número terrestre 2, polqtie essa ação, sendo propria- linhas circulares por uma divisão duodecimal. E pode-se ver nisso
rnente "não-agente", é o que se pode chamar "ação de presença". a razío peia quai esses dois números, l0 e 12, são tomados col11o
Pela reaÇão da Terra em relação ao Céu, o número terrestre 2 mul- bases doÀ principais sistemas de numeração, sistemas que são, além
tiplica o número celeste 3, porque a potencialidade.da substância é disso, às ,.res ê-pr.gados concorrentemente, como é justamente o
a própria raiz da multiplicidade ?. caso na China, poiquã eles têm, na realidade, aplicações. diferentes,
Pode-se ainda dizer que, enquanÍo 2 e 3 exprimem a natureza de modo que suã coixistência, numa mesma forma tradicional, nada
mesma da Terra e do Céu, 5 e 6 exprimem apenas sua "medida", tem absolútamente de arbitrário nem de supórfluo1l'
o que equivale a dizer que é precisamente do ponto de vista da para concluir essas observações, assinalaremos ainda a impor-
manifestação, e não mais em si mesmos, que eles são então cotlsi- tância clacla ao número 11, como soma de 5 e 6, o que o torna o
deraclos, pois, assim como explicamos noutra obra "t, a própria noção símbolo dessa
,,união central do céu e da Terra" de que se tratou
da medida está em relação direta com a manifestação. O Céu e a àntes, e, por conseqüência, "o número pelo qual ^se{onstitui em sua
pá.f"içao^ echeng) ri a Via do Céu e da Terra"
Terra em si mesmos não são, de nenhum modo. mensuráveis, uma 13. Essa importância
vez que não pertencem ao domínio da manifestação; aquilo sobre
que se pode falar de medida são apenas as determinações pelas quais '.no exterior,,, ou de influências celestes, que são "no interior", assim como
eles aparecem aos olhos dos seres manifestadosÍ), e que são o que jír explicamos antes.
iO. E aqui que surgem como instrumentos cle medida, do ponto de-vista
e do ponto cle vista "terrestre". respectivamente (isto é, em. relação
.,celeste"
6. Para os pitagóricos, 5 era o "número nupcial", como somâ do pri- ar-inlfuan.iut càrrespondentes) o compasso e o esquadro de que voltaremos
meiro número par ou feminino e do plinreiro número ímpar ou masculino. a falar mais tarde.
Quanto ao caráter "conjuntivo" do número 6, basta lembrar a respeito a sig- 11. por outro lado, ainda aqui uma nova troca, no fato de
Prorluz-se,
nificação da letra r:«w em hebreu e em árabe, assim como a figura do "selo que, em alguns casoi, o número L0 é.atribuído ao Céu e o número 12 à
de Salomão", que corresponde, geometricamente. a esse número. Sobre o
i.ifu, ."-õ para inclicar uma vez mais sua interdependência, em forma relação à
- la Croix,
sinibolismo clesses números, 5 e 6, ver também Le Synúolisme de manifestaÇão àu à ordem cósmica propriamente dita, sob a dupla de
cap. XXVIII. relações õspaciais e temporais; mas não insistiremos mais sobre esse ponto,
7. Desse mesmo modo cle formaÇão dos dois números resulta natural- qu."no, levaria muito lônge de nosso _assunto. Apenas assin-alaremos, como
nlente a troca do par e do ímpar, pois a soma de um número par e de um Jaso particular clessa troca, que, na tradição chinesa, os dias são contados por
número ímpar é necessariamente ímpar, enqtlanto que o produto de um núme- p.iio,io, áecimais o, m.rêr por períodos duodecimais. Ora, dez dias são
ro par poi um número ímpar ó necessariamente par. A soma de dois "
l,dez sóis,, e cioze meses são "cloze luas". Os números l0 e 12, portanto, re-
núnleros só pode ser par, se esses nÚtmeros são ambos -pares ou ambos ím- lacionarios assim, respectivamente. o primeiro com o Sol' que é yang ott
pal'es; quanto ao produto, par"a que seja ímpar, é preciso que seus dois fato- n]asculino, correspondànte ao Cért, ao fogo e ao Sul, e o segundo com a Lua,
res sejam ímpares. que é yür ou feminino, correspondente à Terra, à água e ao, Norte'
8. Le Ràgne dc la Quantité et les Sígnes des Tenps, cap. III. ' li. O lermo rcheng é, no Yi-king, o úútimo da fórmula tetragramática
9. Deve-se entender esses "olhares", ao mesmo tempo na ordem sensí- ,1e Wen-wang (ver Matgioi, La Voie métaphysique' cap' V)'
vel e na ordem ilrtelectual, conforme se trate de influências terrestres, que são 13. Tsíen-Han-chou.
58 59
do número I 1, assim como de seus múltiplos, é, além do mais,
ainda um ponto comum às doutrinas tradicionais mais diversas, assim
como já indicamos numa outra ocasião 1a, embora, por motivos que
náo aparecem muito claramente, ela passe geralmente despercebida
dos modernos que pretendem estudar o simbolismo dos números 16.
Essas considerações a respeito dos números poderiam ser desenvol-
vidas quase indefinidamente, mas, até aqui, consideramos apenas o
que se refere ao Céu e à Terra, que são os dois primeiros termos da Capítulo IX
Grande Tríade e é tempo de passar agora à consideraçáo do terceiro
termo desta, isto é, o Homem. O Filho do Céu e da Terra

"O Céu é seu pai, a Terra é sua mãe,,: tal é a fórmula iniciá_
tica, sempre idêntica a si mesma, nas mais diversas circunstâncias
de tempos e lugares 1, §[uê determ na as relações do Homem com
os dois outros termos da Grande Triade, definindo-o como o .,Filho
do céu e da Terra". Pelo próprio fato de tratar-se de uma fórmura
propiiamente iniciática, jâ estâ, por siíal, manifesto que o ser ao
qual se aplica, na plenitude de seu sentido, é muito menos o homem
,comum, tal como é nas condi@es atuais de nosso mundo,
do que o
"homem verdadeiro", do qual o iniciado é chamado a reàlizir em
si mesmo.todas as possibilidades.- convém, todavia, insistir um pou-
co mais nisso, pois se poderia objetar a isso que, desde que a mani-
festação integral é e só pode ser o produto àa'união dô céu e aa
Terra, todo homem, e mesmo todo Àer, qualquer que seja, é igual_
mente e por isso mesmo filho do Céu e da- Tenà, visio'que sua
natureza participa necessariamente de um e de outro. E isso é ver-
dadeiro num certo sentido, pois há, de fato, em todo ser uma essên.
cia e uma substância na ácepção relativa desses aois tàrmos, um
aspecto yqng e um aspecto yin, tm lado ,,em ato,' e um lado ,,em
po,tência", um "interior" e um oÍexterior',. No entanto, há giaus a
observar nessa participação, pois, nos seres manifestados, as ínflrên-
cias celestes e terrestres podem evidentemente combinar-sá em muitos
14. Yer o Ésotérisme de Dante, cap. VII. F9d9r.9 proporÇões diferentes e é, aliás, o que faz sua diversidade
15. Nas tradições hermética e cabalística, 1l ê a síntese do "microcos- indefinida. o que todo ser é, de certa manéira e num certo grau,
mos" e do "macrocosmos", representados, respectivamente, pelos números 5
e 6, que correspondem também, numa outra aplicação conexa daquela, ao 1. Encontramos mesmo o sinal disso até no ritual de uma organização
homem individual e ao "Homem Universal" (ou ao homem terrestre e ao tão completamente desviada para a ação exterior quanto o carbonarismo. sào,
Homem celeste, poder-se-ia dizer ainda para ligar isso aos dados da tradição além disso, tais vestígios, naturalmenie
extremo-oriental). Uma vez que falamos dos números lO e 12, notaremo§ incompreendidos em semelhuniãs-
que testemunham a origem realmente iniciáticà
- do ponto de vista cabalístico, de sua soma, 22, (dobro
ainda a importância, de organizações chegaaas "u.or,
a um grau extremo de degenorescência (ver Áperçus súr I'Iniiation,ãssiá
ou primeiro múltiplo de I1), que é, como se sabe, o número de letras do xrr). cap.
alfabeto hebraico.

60 6t
Dcssa maneira, importa recorclar que o "homem verdadeiro', é
é apenas o Homem, e por isso entendemos aqui 9 "homem verda-
lrrnrbúm o "homem primordial", isto é, que sua condição é a que
deiio" 2, euo, em nosso estado de existência, o é plenamente 3 "por t m tratural à humanidade em suas origens e da qual esta se afastou
excelência;', e é ele só que tem, entre seus privilógios, o de poder
reconhecer efetivamente o céu como seu "verdacleiro Ancestral
ír". l)()uco a pouco, durante seu ciclo terÍestre, para chegar ao estado
trrrde está atualmente o que chamamos homem comum e que é
Isso resulta. de maneira direta e imediata, da situação propria- irl)cnas propriamente o homem decaído. Essa queda espiritual que
mente
..central,, que o homem ocupa l1esse estado de existência que
;rcarreta ao mesmo tempo um desequilíbrio em relação ao yang e
é o seu t, ou pélo menos, poder-se-ia clizer para ser mais exato, ;tt't .y*in, pode-se descrever como um afastamento gradual do centro
que ele deve oôupar em princípio -e normalmente, pois - é aqui que onrle se situava o "homem primordial". Um ser é tanto menos yar?g
àbe assinalar a áif.rença entre o homem comum e o '"homem ver- c tanto menos yin quanto mais afastado do centro está, pois, pre-
dadeiro". Este, que, de fato, deve, de modo exclusivo, do ponto de cisamente na mesma medida, o "exterior" sobrepuja nele o "inte-
vista tradicional, ser considerado o homem realmente normal, é rior". Por isso, como dizíamos há pouco, quase só existe agora
chamado assim porque possui verdadeiramente a plenitude da natu-
rrm "filho da Terra", que se distingue cada vez menos "em ato",
reza humana, tendo-desànvolvido em si a integralidade das possibi-
scnão "em. potência", clos seres não humanos que pertencem ao
lidades que nela estão implícitas. os outros homens só têm, em
síntese, poder-se-ia dizer, nma potencialidade humana mais ou me- nlcsmo grau de existência. Esses seres, ao conlrário, o "homem pri-
ncs desenvolvicia em alguns de ieus aspectos (e sobretudo, de modo rirolclial", em vez de se situar simplesmente entre eles, os sintetizava
geral. no aspecto que corresponde à simples modalidade corporai It;doi; em sua humanidade plenamente realizada'r. E,m virtude mes-
ãa individuatiaaae), Íras, em todo caso, muito longe de estar.intei- rrro de sua "interioridade", que envolve todo seu estado de existên-
ramente,,alualizada". Esse carâter de potencialidade, predominante cia couro o Céu envolve toda a manifestação (pois é, na realidade,
neles, os faz, na realidade, filhos da Terra muito mais do que do o cerrtro que contém tudo), ele os compreendia, de algum ntodo,
Céu, e é ele também que os faz yin em relação ao Cosmos' Para crn si mesmo collro possibiliclades particulares inclusas em sua pró-
que o homem seja veráadeiramente "Filho do Cóu e da Terra"' é pria natureza ?. Por isso é que o Homem, como lerceiro tel'mo da
preciso que, nele, o "ato" seja igual à ."potência", o que implica a
iealizaçãà integrai de sua humanidade, isto é, a condição mesma do l-.rio do ,oilg e do -virr, segundo as próprias palavras clo Gênese (1, 27):
,,homem verdã.deiro,,. É por essa razão que este é petfeitamente
"Lloltim cliou o homem à Sua iuragem (literalmente "Sua sombra", isto é,
equilibrado do ponto de vista do .vang e do vin, e que também' SLru reflexo): à imagem de Elolirn E1e o criou; ntacho e fêmea Ele os criou",
ao mesmo tempo, tendo a natureza celeste necessaliamente preemi- o que se traduz, no esoterismo islâmico, pela equivalência numérica de Adant
nência sobre á uatureza terreste ali onde elas se realizam numa ra IIowâ com Állah (.cf. Le Syntbclísnte de la Croir. cap. IiI).
igual medida, ele ó yang em relação ao Cosmos' Só assim é que ele 6. O termo chinês ,Iel pocle-se tladuzir igualmente, como já indicamos,
de inodo efetivo, o papel "sentral" que the cabe por "Flomem" e por "Humanidade", senclo esta, antes de tuclo, entendida
p-àa"
"r.....,
como homem, mas desde que seja, de fato, hontem, na acepção dessa
como a natlrreza humana e não como zi simples coletividade clos hornens; no
caso do "homem verdadeiro", "Homem" e "Humanidade" são plenamente
palavra, e que, em relaçáo aos outros seres manifestados, "seja a .quivalentes, uma vez que reaiizou integral[rente a natureza humana em tOclas
5". as suas possibilidades.
image* do Verdadeiro Ancestral
7. li por isso que. segundo o sirnbolisrno do Gênese (II, 19-20), Aclão
J:oclia "nomear" verdadeiranlente tocios os seres desse munclo, isto ó, definir,
2.Nãofalaremosagorado..homemtt.anscendente,',quenos-reserva. rro mais completo seniiclo dessa palavra (que implica determinaçiro e realizil-
mos a considerar mais adiánte. Por isso é que só se pocie tratar aqri-de
nosso
c1ão a unr só tempo), a natureze própria de cada um cleles. que e1e conhecia
à.ituOo O. existência e não da Existência universal em sua integralidade' irrediata e interioi mente como uma clependência de sua natureza mesma.
3.Aexpressão..VerdadeiroAncestral,,éun-radasqueseencontramen. irli:so. como em lodas as coisas, o Soberano, na traclição extremo-orienlal, -
tre as rlesignirÇões da Tiertlí-houeí. ilcve de-sernpenhar um papel correspondente uo clo "homem primorclial": "Um
4. vé, L, S)'mbolisnte de la Croix, caps' II e XXVIII' de Deus"' ou' irríncipe sábio dá às coisas os nontes que lhes convêm e cada coisa deve ser
5. Tao-te-kiig, cap. lV. É o homem "feito à imagem ir-'atada conforme a significação do nome que ele the dá" (Liurt-yu, cap.
mais-exatamete, Éioliir, isto -é, das potências celestes, e que, além disso' só {tiT).
íàáá ..i ã^frn.nt. tul, ie é o."Andiógino" constituído pelo perfeito equili
53
lt /.
Grande Tríade, representa verdadeiramente o conjunto de todos os centro, do "exterior" u6 "interior", exerce realmente, em relação a
seres manifestados. csse mundo que é'o ssu 11, a função do "motor imóvel", cuja "ação
cle presença" imita, em seu domínio, a atividade ''não-agente" do
O "lugar" onde se situa esse "homem verdadeiro" é o ponto Céu 12.
central em que se unem efetivamente as potências do Céu e da Terra.
É, portanto, por isso mesmo, o produto direto e acabado da união
deles. E é ainda por isso que os outros seres, como produções
secundárias e parciais de algum modo, sÓ podem proceder dele se-
gundo uma gradação indefinida, determinada por seu maior ou me-
nor afastamento desse mesmo ponto central. É nisso çlue, como
indicávamos , inicialmente, é dele exclusivamente que se pode dizer
precisamente e com toda a verdade que ele é o "Filho do Céu e
da Terra". Ele o é "por excelência" e no grau mais eminente que
possa ser, enquanto os outros seres só o são por participação, sendo
ele próprio, além disso, necessariamente o meio dessa participação,
-b Céu e a Terra
uma vez que ó exclusivamente em sua natureza que
estão imediatamente unidos, senão em si mesmos, pelo menos por
suas Íespectivas influências no domínio de existência a que o estado
8.
humano pertence
Como explicamos noutra obra e, a iniciação, em §ua primeira
parte, a que concerne propriamente às possibilidades do estado hu-
mano e que constitui o que se chama os "mistérios menores", tem
por fim precisamente a restauração do "estado primordial". Noutras
palawas, por essa iniciação, se de fato se realiza, o homem é re-
conduzido, da condição "descentrada", QUe é agoru a sua, paÍa a
situação central, que deve normalmente pertencer-lhe, e restabele-
cido em todas as prerrogativas inerentes a essa situação central. O
"homem verdadeiro" é, portanto, aquele que chegou, de fato, ao
termo dos "mistérios menores", isto é. à perfeição mesma do estado
humano. Por isso, ele é desde então estabelecido no "Invariável
Meio" (Tchoung-young) e escapa a partir daí às vicissitudes da
"roda cósmica", visto que o centro não participa do movimento da
roda, mas é o ponto fixo e imóvel em torno do qual se efetua esse
movimento 10. Desse modo, sem ter ainda atingido o grau supremo
qu,e é o objetivo final da iniciação e o termo dos "mistérios maio'
res", o "homem verdadeiro", tendo passado da circunferência ao

8. Essa última restrição é necessária para a distinção que se deve fazer 11. Poder-se-ia dizer que ele já não pertence mais a esse mundo, mas
entre o "homem verdadeiro" e o "homem transcendente", ou entre o homem que, ao contrário, esse mundo lhe pertence.
individual perfeito como tal e o "Homem lJniversal". 12. É pelo menos curioso ver, no Ocidente e no século XVIII, Martines
9. Ver principalmente Aperçus sur flnitiation, cap. )OO(IX. de Pasqually reivindicar para si a qualidade de "homem verdadeiro". Seja
sem razão ou com razão, pode-se, em todo caso, perguntar como ele tivera
10. Cf. Le Symbolisme de la Croix, cap. XXVII, e Aperçus sur tlni' conhecimento desse termo especificamente taoísta, que, além disso, parece
tiation, cap, XLYL ser o único que empregou alguma vez.

64 65
t.irr c à própria Substância universais 2. Quanto à manifestação su-
til, tlue ôonstitui o "mundo intermediário" (antariksha,), é, de fato,
irrstarnclte um meio termo nesse sentido, e procede das
duas cate-
ji,rrias cle influências complementares em tais proporções, que não
pelo .menos quanto ao
l,otlcuros dizer que uma sobrepuja a outra,
i...j.nto, e aind'a que, em suá complexidade muito grande, conte-
rrlrlr clcmentos que podem estar ligados mais de perto ao lado es-
Capítttlo X sc,cial ou ao tádo iubstancial da manifestação. mas que, em todo
crrso, não são sempre, por isso, menos do lado da substância em
O Homem e os Três Mundos rtlação à manifestáção informal e, ao contrário, clo lado da essên-
t'iir cm relação à manifestação grosseira.
Esse termo médio do Tribhttvana Íráo poderia, pelo ntenos, ser,
Ao comparar entre si diferentes ternários tradicionais. se for tlc rnoclo algum, confundido com o da Grande Tríade, que é o Ho-
realmente possívei fazê-los corresponcler termo a termo. clevemos ilrcln, eÍnboia apresente, no entanto, com ele certa relação que, por
evitar com cuidado concluir que os termos que se corresponden.r rriio ser aparentb de modo imediato, nem por isso é menos reâI, e
sejam necessariamente idênticos, e isso ató nos casos em que al- ,lrro indicâremos daqui a pouco. De fato. ele não desempelha o
guns desses termos tenham designações similares, pois pode muiÍo ,,,.rrro papel que aquele em todos os pontos de vista. Na verdade, o
bem acontecer q,e cssas designações sejam aplicacias por transpo- reruro médio aà CránAe Tríade é justamente o produto ou a resul-
sição analó-qica em níveis diferentes. Essa observaçãro impõe-se piin- lantc dos dois extremos, o qlle se exprime por sua desigaação tra-
cipalmente Í1o que se refere z\ comparação da Grande .lríade ex- rlicional como o "Filho do Céu e da Terra". Aqui, em contrapar-
tremo-oricntal com o T'ribhuvana hindu: os "três mundos,, que cons_ ticla, a manifestação sutil procede apeflas da manifestação informal,
tituem ess,e último são, como se sabe, a Terra (Bhú), a Atmosfera
(' a manifestação grosseirá procede, por sua vez, da manifestação
(Blruvus) e o Céu (.Sl,ar). Mas o Céu e a Terra nele não sâo o strtil. isto é, câda 1ermo, ná ordem áescendente, tem scu princípio
lien e o Ti da tradição extremo-oriental, que correspondem sempre irncáiato naquele que o precede. Não é, portanto, em relação-à or-
i Purushcr e à Prctkriti da traclição hindu 1. De fato, enquanto estes tlcnt de proáução àos teimos que se pode estabelecer, de modo vá-
estão lora cia manifestação" da qual são os princípios imediatos, os liclo. a càncordância entre os dôis ternários. Ela só o pode ser "esta-
licamente", de certo modo, quando, estando os três termos já pro-
"trôs mundos" representam,
^ , ao contrário, o conjunto cla própria rfirzidos, o, doit extlemos aparecem c6mo Se correSpondeSSem rela-
manifestação, dividida em seus três graus fundarnentais, que cons-
tivamerúe a\ essência e à substância no domínio da manifestação
tituem respectivamente o domínio da manifestação informal, o rJa
manifestação sutil e o da manifestação grosseira ou corporal. universal, tomada em seu conjunto como tendo constituição aná-
loga à de um ser particular, isto é, justamente como o "macrocos-
Sendo assim, basta, para juslificar o emprego de termos que so- rnos".
mos obrigados, nos dois casos, a tracluzir pelas mesmas pàlavras
"Céu" e "Tert'a", observar que a manifestação informal é eviclen- próprios carac-
2. Assinalaremos incidentemente, a esse respeito. que osanterior,.são
temente aquela em que predominam as influências celestes e a ma- lcrcs "paternal" e "maternal". de que falamos no capítulo às

nifestação grosseira, aquela em que predominam as influências ter- ,"r., t.rn.postos de modo semelhánte: quando se trata, por exemplo, dos
..ir,,;lj ,'Mães de baixo", assim como isso -.eencontra princi-
r€stres, no sentido que demos anteriormente a essas expressões. po- ao Alto', e das
Irrrlntente em certos tratados árabes. os "Pais" são
os céus considerirdos dis-
demos clizer ainda, o que ó o mesmo, que a primeirà se liga ao lii.|tlram.nte, isto é, os estados informais ou espirituais tlos-quais um ser
.
lado da essência e a segunda ao lado dá substãncia, sem que, no trrl coÀo o indivíduo humano tira sua essência, e as "Mães" são os elementos
entanto, seja possível identificá-las, de algum modo, à própria Essên_ ,i,;t-;;;ir-se--constittti o "munclo sublunar", isto é, o mundo corporal' que
,,rcpr.esentatlo pela Telra na medida em que ele forneCe a eSSe mesmo Ser
SUa

,rrl,siânciir, esrei termo. "essência" e "substância" sendo nírturalmente toma-


l. Cf. L'Hornnte eÍ son devenir .telon le Vêdíinta, cap. XII e XIV. (l()s aqui num sentido relativo e particularizaclo'

66 67
Não precisamos lalar de novo longamente da analogia consti- torrjurtto ó clcsignacl<l como a alma, ou ainda como a "forma sutil"'
tutiva cntrà o "macrocosmos" e o "microcosmos", sobre a qual já nos rlue sc acha coirpreerlc1ido o elemento que é propriamente..caracte-
explicamos de modo suficiente em outros estudos. 6 {9e é preciso rístic. cla incliviciualiclade humana como tal, e que ó o "mental"
sobretudo reter aqui disso tudo é que um ser como o homem, en- (rttttrrrir), c1e moclo que, poder-se-ia clizer, esse elemento especifica-
quanto "microcosmos", deve necessariamente participar clos "três ,,rcnte liumano se situa.nã homem como o próprio homem se situa
àundos" e ter em si elementos que lhes correspondam respec.tiva- rro Cosntos.
mente. E, de fato. a mesma divisão geral ternária lhe ó igualmente
Descle então ó fácil compreender que a função em relação
à
aplicável: ele pertencc, pelo espírito" ao domínio da manifestaÇão
informal, pela alma, ao da manifestação sutil e, pelo corpo, ao da ,yr',"[ ie estabelece o .orr"rpordência clo homern como o termg, 1é;
manifestação grosseira. Voltaremos ao assunto rnais adiante com ai- ,ii,r clo Tribhuvan,, ou com a alma que o representa no Ser vlvo, e
foi m,i-
guns desenvolvimentos, pois trata-se de uma oportunidade de mos- i.stal,elltc uma função de "mecliação;: o princíp-io anímico o
l;t.;;r;t qualificadó cle "mecliaclor" entre o espírito e corpo.3; e'
irar, de maneira mais precisa, as relações entre cliÍerentes ternários o homem tem verciadeiramenle um papel de "me-
que estão entre os mais importantes que se possa ter que conside- rlo mcsmo moclo,
rar. É, além do mais, o homem, e com isso deve-se entender sobre- tliaclor" entre o céu e a Terra. assim como cxplicaremos mals am-
pli,n-rerte em seguida. E só uisso, e não enquanto o homem ó o "Fi-
tudo o "homem verdadeiro" ou plenamente realizado, que, mais que
qualquer outro ser, é verdadeiramente o "microcosmos", e isso ainda ilr,r clo Céu e dã Tcrra", que se pode estabeleccr uma correspondân-
e iir tcrrno a termo entre a Grandô
'Iríade e o Tribhuvana, sem, a7íás,
em virtuctre de sua situação "central", que o tol'na como que uma
(ruc essa cotrcsponclência implique, de algum modo, uma i<lentifi-
imagem, ou melhor, uma "soma" (no sentido latino dessa palavra)
cle iocio o conjunto cla rranifestação. sua natureza. como dizíamos .riun tto. ternros cle ttma com üs da outra' Esse ó o ponto de vista
.1,,0 .hn,rumos "estáiico", para iiistingui-lo «1o que se poderia
dizer
antes. sintetizando em si mesmo a cle toclos os outros seres, de mo- ':ircnético" f. isto é, daquelá que se refere à orclem de produção dos
clo que não se pode encontrar nada na mauifestação que não tenha
no úomem correspondência e representaçãto. Não se trata aí cle um rJ,ino, e para o qual não é possível tal co,cordância, como se verá
simples modo de falar, mais ou menos "metafóiico", como os moder- rnclhor ainda com as considerações que vão seguir'
nos são muito façilmente levados a crer, mas de fato a expressão
de uma verdade rigorosa, na quai se fundamenta uma parte consi-
derável clas ciências tradicionais.Aí reside principalmente a expli-
cação das correlações existentes, da maneira mais "positiva", entre
as modificações da ordem humana e as cla ordem cósmica, e nas
quais a tradição extremo-oriental insiste talvez mais aincla que c;ual-
quer outra para tirar delas praticamente todas as aplicações que
comportam.
Fizemos, por outro lado, alusão a uma relação mais particular
do homem com o "mundo intermediário", que ó o que se poderia
chamar uma relação de "função": colocado entre o Céu e a Terra,
não apenas no sentido principai que tem na Grande Tríade, mas tam-
bém no sentido mais especializado que tem no Tribhuvana, isto é,
entre o mundo espiritual e o mundo corporal, e participando, ao
mesmo tempo, de um e de outro, por sua constituição, tem o ho-
mem, por isso mesmo, em relação ao coniunto do Cosmos, um pa- 3. Pocler-se-á lembrar principalmente aqui do "mediaclor Plástico" de
pel intermediário comparável ao que tem, no ser vivo, a alma entre ('riclworth.
ô espírito e o corpo. Ora, o que se deve notar, de modo particular, 4. Embora "esthtico" se oponha habitualn-renle a. "dinâmico", preferimos
rrio empregar aqui a palavt'a "clinâmico", que, sem ser inteiramente inade-
nessê sentido, é que, precisamente, é no domínio intermediário, cujo tlrracla, não-exprimiria com bastante clareza aquilo de que se trata.

68 69
t;rvlr" cnsinamentos muito mais antigos. Platão inspirou-se nessa dou-
lrirra c a seguiu muito mais de perto do que se crê de ordinário, e
lnr crn parte por seu intermédio que algo dela se transmitiu a filó-
.,olirs posteriores, como, por exemplo, os estóicos, cujo ponto de
visttr muito mais exotérico, de resto, mutilou e deformou, com muita
lrerliiôncia, as concepções mencionadas. Os pitagóricos consideravam
urn quaternário ftrndamental, que compreendia, em primeiro lugar,
Capítulo Xl o Princípio, transcendente em relação ao Cosmos, d9go5 o Espírito
c rr Alma univeisais, e, finalmente, a Hylê priinordial 2. Importa no-
"Spiritus", "Anima" "Corpus" tiu que esta última, como pura potencialidade, não pode ser asse-
rrrelhada ao corpo, e corresponde antes à "TeÍra" da Grande Tríade
(l() que à do Tribhuvana, enquanto que o Espírito e a Alma univer-
',rris Icmbram, de modo manifesto, os dois outros termos desse últi-
A divisão ternária é a mais geral e, ao mesmo tempo, a mais sim-
rrrrl" Quanto ao Princípio transcendente, corresponde em certos as-
ples que se possa estabelecer para definir a constituição de uur ser
vivo, em particular a cio homem, pois ó claro que a clualidade car- pcctos ao "Cóu" da Grande TríacÍe, mas, por outro lado, identifi-
tesiana, "espírito" r: "corpo", que se impôs, de algum modo, a toclo
,;r sc lanrbém ao Ser ou à Unidade metafísica, isto é, a Tqi-ki. Pa-
o pensamento ocidental moderno, não poderia. de moclo alguri, cor- rtec faltar aqui uma clistinção clara, que, aliás, talvez não fosse exi-
responcler à realidade. Já insistimos r.risso com bastante freqüência lirlu pelo ponto cle vista, muito menos metafísico do que cosmoló-
noutros lugares. para que seja necessírrio retornar a isso agora. A :'ico. cío qual se eslabeleceu o quaternário em questão. Seia como
distinção entre o espírito, a alma e o corpo ó, por outro lado, a que l()r'.. os estóicos deformaram esse ensinantento num sentido "natura-
foi unanimemente admitida por todas as cloutrinas tradicionais do lislu". 1.:erdendo de vista o Princípio transcendente e considerando
Ocidente, quer na antiguidade, quer na Iclade Média. O fato de que irl)ciras un1 "f)eus" imanente quel para eles, se assemelhava pura e
,,irn1;lcsmente aa Spiritu,r Mundi; não dizemos à Anima Muncli, con'
se tenha chegado mais tarde a esquecê-la, a ponto de só se ver nos
termos "espírito" e "allna" tipos de sinônimos, por sinal vagos, e lrrrriarnente ao que parecem crer alguns de seus intérpretes afetados
de empregá-los indistintamente unt pelo outro, quando de fato eles pcla confusão moderna entre espírito c alma, pois, na realidade, para
designam rcalidacles de ordenr totalmente diferentes, talvez seja um ,'lcs como também para os que seguiam mais fielmente a doutrina
dos exernplos mais surpreendeutes que se possam dar da confusão trrrdicional, essa Anima Mundi sempre teve apenas papel simples-
clue caracteriza a meutalidacle moderna. Esse erro tem, além disso, rr,cnte "demiúrgico", no sentido mais estrito dessa palavra, na ela-
conseqüências que não são todas de ordem puramente teórica e, por lrrrração do Cosmos a partir da Hylê primordial'
isso mesmo. é mais perigoso 1. Mas não é disso que temos de nos Acabamos de dizer a elaboração do Cosmos, mas talvez fosse
ocupar aqui, e só queremos, no que concerne à divisão ternária tra- rrriris exato dizer aqui a formação do Corpns Mundi, primeiro por-
dicional, tornar precisos alguns pontos que têrn relação mais direta t;rrr: a função "demiúrgica" é, de fato, precisamente uma função "for-
com o objeto de nosso estudo. ruir(lora"lt, e depois porque, num certo sentido, o Espírito e a Alma
Essa distinção entre espírito, alma e corpo foi aplicada ao "ma- rrrriversais fazem tambóm parte do Cosmos; num certo sentido, pois,
crocosmos" tanto quanto ao "microcosmos", sendo a constituição de rrr verdade, podem ser considerados sob um duplo pouto de vista,
um análoga à do outro, de modo que se deve necessariamente reen-
contrar elementos que se correspondem rigorosamente dos dois lados 2. Cf. o início dos Rcsriil lkhtân Eç'Çaf,â, que contém uma exposição
opostos, Essa consideração, entre os gregos, parece se ligar sobretudo rrrrri(oclrrr dessa doutrina pitagórica.
à doutrina cosmológica dos pitagóricos, que, ademais, só "readap- .1. E importante notar que dizemos ,,formadora" e não "cliadora". Essa
,lr' tirrçãoadquirirá seu sentido mais preciso, se considerarmos que os quatro
1. Ver Le Ràgne de la Quantíté et les XXXV. rlr rrros do quaternário pitagór'ico podem ser postos respectivamente em cor-
Signes des Temps, cap.
r,,,1ronrlôncia com os "quatro mundos" da Cabala hebraica.

71
que coÍTesponde ainda, de certo modo, ao que chamamos anterior- evidente, da própria Substância, que concorre, como princípio "ma-
mente o ponto de vista "genético" e o ponto de vista "estático", queÍ ternal", para a produção da manifestação. Nesse sentido, o ternário
como "princípios" (num sentido relativo), quer como "elementos" do espírito, da alma e do corpo é, pode-se dizer, constituído de ou-
constitutivos do ser "macrocósmico". Isso provém de que, desde que tro modo que os ternários formados por dois termos complementa-
se trata do domínio da Existência manifestada, estamos aquém da res e, de certo modo, simétricos e por um produto que ocupa, entre
distinção entre Essência e Substância; do lado "essencial", o Espí- eles, situação intermediária. Nesse caso (e também, naturalmente,
rito e a Alma são, em níveis diferentes, como "reflexões" do pró- no do Tribhuvana ao qual ele corresponde com exatidão), os dois
prio Princípio da manifestação; do lado "substancial", surgem, ao primeiros termos situam-se do mesmo lado em relação ao terceiro
contrário, como "produções" tiradas da materia prima, embora de- e, se este pode, em suma, ser considerado ainda produto deles, eles
terminando eles mesmos suas produções posteriores no sentido des- não desempenham mais, nessa produção, um papel simétrico: o cor-
cendente a, e isso porque, para situar-se de fato no manifestado, é po tem na alma seu princípio imediato, mas só procede do espírito
necessário que eles próprios se tornem parte integrante da manifes- indiretamente e por intermédio da alma. Só quando se considera o
tação universal. A relação entre esses dois pontos de vista é repre- ser inteiramente constituído, portanto do ponto de vista que chama-
sentada simbolicamente pelo complementarismo do raio luminoso e mos "estático", é que, vendo no espírito seu aspecto "essencial" e
do plano de reflexão, que são ambos necessários para que uma ima- no corpo seu aspecto "substancial", pode-se encontrar, desse ponto
gem se produza, de modo que, por um lado, a imagem é verdadeira- de vista, uma simetria, não mais entre os dois primeiros termos do
mente um reflexo da própria fonte luminosa, e, por outro, ela se ternário, mas entre o primeiro e o último. A alma é então, desse
situa no grau de realidade que é indicado pelo plano de reflexão 5. mesmo ponto de vista, justamente o intermediário entre o espírito
Para empregar a linguagem da tradição extremo-oriental, o raio lu- e o corpo (é o que justifica sua designação como princípio "media-
minoso corresponde aqui às influências celestes e o plano de reflexão dor", que indicávamos anteriormente), mas nem por isso ela deixa
t' às influências terrestres, o que coincide justamente com a conside- de ser, na condição de segundo termo, necessariamente anterior ao
ração do aspecto "essencial" e do aspecto "substancial" da manifes- terceiro 7, e, por conseguinte, não poderia ser considerada, de ne-
o.
tação nhum modo, produto ou resultante dos dois termos extÍemos.
Naturalmente, essas observações que acabamos de formular, a Pode-se ainda formular a pergunta: como é possível que, ape-
propósito da constituição do "macrocosmos", aplicam-se igualmente sar da falta de simetria que apontamos entre eles, o espírito e a alma
no que se refere ao espírito e à alma no "microcosmos". Só o corpo sejam, no entanto, tomados às vezes, de certo modo, como com-
jamais pode ser considerado, propriamente falando, um "princípio", plementares, sendo então o espírito considerado em geral como prin-
porque, sendo o coroamento e o termo final da manifestação (isso, cípio masculino e a alma como princípio feminino? É que, sendo o
é claro, quanto ao nosso mundo ou nosso estado de existência), ele espírito o que, na manifestação, está mais próximo do pólo essen-
é apenas "produto" e não pode tornar-se "produtor", em nenhum cial, a alma se acha, em relação a ele, do lado substancial; assim,
sentido. Por esse caráter, o corpo exprime, tão completamente quan- um em relação ao outro, o espírito é yang e a alma yin, e é por
to possível, na otdem manifestada, a passividade substancial; mas, isso que eles são muitas vezes simbolizados, respectivamente, pelo
ao mesmo tempo, ele se diferencia também por isso, do modo mais Sol e a Lua. Isso pode, além disso, justificar-se ainda de modo mais
completo, dizendo-se que o espírito é a luz emanada diretamente do
4. Lembremos a esse respeito que, segundo a doutrina hindu, Buddhi, Princípio, enquanto a alma apresenta apenas um reflexo dessa luz.
que é o Intelecto puro e, como tal, corresponde ao Spiritus e à manifestação
informal, é também a primeira das produções de Prakrití, ao mesmo tempo Além disso, o "mundo intermediário", que podemos chamar tam-
que é também, por outro lado, o primeiro grau da manifestação de Atmô bém o domínio "anímico", é justamente o meio onde se elaboram
ou Princípio transcendente (ver L'Homme eÍ son devenir selon le Vêdônta, as formas, o que, em síntese, constitui precisamente um papel "subs-
cap. VII).
5. Yer Le Symbolisme de la Croix, cap. XXIV.
6. O raio luminoso e o plano de reflexão correspondem exatamente à 7, É ocioso dizer que se trata aqui essencialmente de uma anteriori-
linha vertical e à linha horizontal usadas para simbolizar, respectivamente, o dade lógica, sendo, além disso, os três termos considerados, de modo simul-
Céu e a Terra (ver a fig. 7). tâneo, elementos constitutivos do ser.

72 73

,
il,

tancial" or.r "maternal". E essa elaboração opera-se sob a ação, ou idéia de estabilidade e; e o que torna essa figura particularmente in-
melhor, sob a influência do espírito, que tem assim, desse ponto de teressante, do ponto de vista em que nos colocamos neste momento,
vista, um papel "essencial" ou "paternal". Além disso, é evidente â qu" u forma'circular e a quadraãa, que são os elementos dela, têm
que se trata, para o espírito, apenas de uma "ação de presença", sifilticaçOes respectivas exatamente concordantes com as que têm
[,. a exemplo da atividade "não-agente" do Céu 8. nã tradição extremo-oriental 10.
i Diremos algumas palavras mais a respeito dos principais sím-
il bolos da Aninta Mundi: um dos mais habituais é a serpente, devido
l,t ao fato de que o mundo "anímico" é o domínio específico das for-
ças cósmicas, que, embora agindo também no mundo corporal, per-
il tencem em si mesmas à ordem sutil; e isso se relaciona naturalmente
I com o que dissemos antes do simbolismo da dupla espiral e do sim-
bolismo do caduceu; além diiso, a dualidade cle aspectos que a força
cósmica reveste corresponde justamente ao caráter intermediário
desse mundo "anímico", que o torna o lugar de encontro das influên-
I cias celestes e das influências terrestres. De um lado, a serpente,
lrr como símbolo da Anima Mundi é, na maioria das vezes, represen-
tada sob a forma circular do Uroboros. Essa forma, de fato, convém
,i ao princípio anímico na medida em que ele está do lado da essên-
cia em rélação ao mundo corporal; mas, é claro, ao contrário, está
do lado da substância em relaçâo ao mundo espiritual, de modo que,
t,i conforme o ponto de vista do que o encaremos, ele pode assumir
os atributos da essência ou os da substância, o que lhe confere, por
assim dizer, a aparência de dupla natureza. Esses dois aspectos en-
,ii contram-se reunidos, de modo bastante notável, noutro símbolo da
Aninta Mundi, pertencente ao hermetismo medieval (Fig. l5). Nele
ii
I

o Fig. l5
e da Virgem, o que é uma aplicação de ordem.menos universal do que aque-
ü qr" ãíiú corresponder à-Purisha e à Prakriti, comoquedizíamos
É preciso, além disso, acresceÍltar que,. nes§e caso' o
-óauto dos dois
ãg;-;;
no começo.
sq etrc,ara como o
termos em questãó não é o corpo, mas alg-o de outra or-
é u p"a.u-fitorofal, freqüeutemente assimilada, de fato, ao Cristo;
;; á;.i ponto de vista, sua relação é. ainda m-ais estritamente conforme com
; õá;'d; ;omplementarismo iropriamente dito do que no que se tefere
à produção da manifestação corporal.
se vêum círculo no interior de um quadrado "animado", isto é, apoia- g, Cf.. Le Ràgne de la Quantité et les Signes des Temps, cap' XX'
do num de seus ângulos para sugerir a idéia do movimento, enquan-
to o quadrado que se apóia em sua base exprime, ao contrário, a 10. Comparando essa figura com a figura 8, constata-se que a imagem
esquemática dô "mundo intermediário" aparece, de certo modo, como uma
;ieviiavoftà. da imagem do conjunto do Cosmos; dessa obse_rvação seria pos-
8. Essas últimas observações podem permitir que se compreenda que, sível deduzir, no quã concerne às leis da manifestação sutil, algumas conse-
no simbolismo hermético do 28.o grau da Maçonaria escocesa, o ,Spirittis e a ôiãn.ir, úiante importantes, mas que não podemós pensar em desenvolver
Anima sejam representados, respectivamente, pelas figuras do Espírito Santo aeui.

74 15
em que se pode, por exemplo, falar da "vontade divina" 2, ou, se-
gundo a terminologia extremo-oriental, da "Vontade do Céu", uma
íll vez qüe sua origem é exatamente "central", ao passo que tudo que
a psicologia considera é simplesmente "periférico" e se refere, em
última análise, apenas a modificações superficiais do ser. Além disso,
é de propósito que mencionamos aqui a "Vontade do Céu", pois, sem
que possa ser assemelhada ao próprio Céu, o Enxofre, por sua "inte-
Capítulo XII rioridade", pertence, ao menos, de modo evidente, à categoria das
influências celestes; e, no que concerne à sua identificação com a
O Enxofre, o Mercúrio e o Sal vontade, pode-se dizer que, se ela não é verdadeiramente aplicável
ao caso do homem comum (que a psicologia toma exclusivamente
como objeto de seu estudo), é, em contraposição, plenamente justi-
O exame do ternário de espírito, alma e corpo, leva-nos muito ficada no do "homem verdadeiro", que se situa de fato no centro
I
naturalmente ao do ternário alquímico do Enxofre, Mercúrio e Sal 1,
de todas as coisas e cuja vontade, por conseqüência, está necessa-
pois ele the é comparável em muitos aspectos, embora proceda de riamente unida à "Vontade do Céu" 3.
um ponto de vista um pouco diferente, o que surge principalmente A passividade do Mercúrio, correlativamente à atividade do En-
no fato de que o complementarismo dos dois primeiros termos é nele xofre, faz com que o encaremos como um princípio úmido a e que
muito mais acentuado, do que resulta uma simetria que, como vimos, reage do exterior, de forma que ele representa, desse ponto de vista,
não existe verdadeiramente no caso do espírito e da alma. O que o papel de uma força centrípeta e compressiva, opondo-se à ação
constitui uma das grandes dificuldades de compreensão dos escritos centrífuga e expansiva do Enxofre e limitando-a de certo modo.
alquímicos ou herméticos, em geral, é que os mesmos termos são Por todas essas características respectivamente complementares, ati-
muitas vezes tomados neles com múltiplas acepções, que correspon- vidade e passividade, "interioridade" e "exterioridade", expansão e
dem a pontos de vista diferentes. Mas, se isso ocorre em particular compressão, vê-se que, para voltar à linguagem extremo-oriental, o
em relação ao Enxofre e ao Mercúrio, não é menos verdade que o Enxofre é yang e o Mercúrio yin, e que, se o primeiro está ligado
primeiro é constantemente considerado um princípio ativo ou mas- à ordem das influências celestes, o segundo deve estar ligado à das
culino e o segundo, um princípio passivo ou feminino. Quanto ao influências terrestres. Entretanto, é preciso atentar bem para o fato
Sal, é, de certo modo, neutro, assim como convém ao produto dos de que o Mercúrio não se situa no domínio corporal, mas, na ver-
dois complementares, no qual se equilibram as tendências inversas dade, no domínio sutil ou "anímico"; podemos, em virtude de seu
inerentes a suas respectivas naturezas. caúttet de "exterioridade", considerar que ele representa o "ambien-
te", devendo este ser concebido então como constituído pelo conjunto
Sem entrar em pormenores que estariam aqui fora de propó-
sito, pode-se dizer que o Enxofre, cujo caráter ativo torna-o seme-
lhante a um princípio ígneo, é essencialmente um princípio de ativi- 2. Assinalemos a propósito que a palavra gtega theion, que é a desig-
nação do Enxofre, significa também, ao mesmo tempo, "divino".
dade interior, julgado como se irradiasse a partir do próprio centro 3. Tornaremos a encontrar, mais adiante, essa consideraçáo da vontade
do ser. No homem, ou por analogia com este, essa força interna é, a respeito do ternário "Providência, Vontade, Destino". O "homem trans-
com freqüência, identificada ao poder da vontade. Isso só é, aliás,
-
cendúte", isto é, aquele que realizou em si o "Homem Universal" (el-insônul-
exato, se se entender a vontade num sentido muito mais profundo kâmíl), é, na linguagem do hermetismo islâmico, denominado também "En-
xofre vermelho" (el kebritul-ahmar), que é igualmente representado pela
do que seu sentido psicológico corrente e de modo análogo àquele Fênix; entre ele e o "homem verdadeiro" ou "homem primordial" (el-insânul'
qadim), a diferença é a existente entre a "obra do vermelho" e a "obra do
1. É necessário dizer que não se trata aqui, de modo algum, das subs- branco", correspondentes à perfeição respectiva dos "mistérios maiores" e dos
tâncias que têm os mesmos nomes na química corrente, nem, por outro lado, "mistérios menores".
de quaisquer substâncias, senão de princípios. 4. É por isso que encontramos também, entre suas diferentes, designa-
ções, a de "úmido radical".
76
das correntes da dupla força cósmica de que falamos antes 5. É, aliás, tação individual de um ser, a separação de interior e exterior, esse
I
devido à dupla nattreza ou duplo aspecto que essa força apresenta terceiro termo constitui para esse ser um "'envoltório" pelo qual
e que é uma característica inerente a tudo que pertence ao "mundo está, simultaneamente, em contato com o "ambiente" de certo ponto
t'
1lí

I
intermediário", que o Mercúrio, ainda que considerado principal- de vista e isolado deste de outro. Nisso, ele corresponde ao corpo,
mente um princípio úmido, como acabamos de dizer, é, não obstante, que desempenha, de fato, esse papel "terminal", num easo como o
descrito às vezes como uma "ágla ignea" (e até alternativamente da individualidade humana 10. Por outro lado, vimos, pelo que foi
como um "fogo líquido"6), ê isso sobretudo na medida em que sofre dito, a relação evidente do Enxofre com o espírito e a do Mercúrio
a ação do Enxofre, que "compele" essa dupla natureza e a faz com a alma; mas, aqui ainda, deve-se prestar a maior atenção, ao
passar da potência ao ato 7. comparar entre si diferentes ternários, ao fato de que a correspon-
t, Da ação interior do Enxofre e da reação exterior do Mercúrio, dência de seus termos pode variar segundo o ponto de vista de que
resulta uma espécie de "cristalização", 'que determina, por assim os consideramos. De fato, o Mercúrio, como princípio "anímico",
dizer, um limite comum ao interior e ao exterior, ou uma zona neu- corresponde ao 'omundo intermediário" ou ao termo mediano do
tra em que se encontram e se estabilizam as influências opostas Tribhuvana, e o Sal, na medida em que é, não diremos idêntico, mas
I
procedentes, respectivamente, de um e do outro. O produto dessa pelo menos comparável .ao corpo, ocupa a mesma posição extrema
"cristalização" é o Sal 8, representado pelo cubo, na medida em que que o domínio da manifestação grosseira; mas, de outro ponto de
este é, ao mesmo tempo, o tipo da forma cristalina e o símbolo da vista, a situação respectiva desses dois termos surge como inversa
1r
estabilidade e. Pelo próprio fato de ele assinalar, quanto à manifes- daquela, isto é, é o Sal que se torna então o termo mediano. Esse
último ponto de vista é o mais característico da concepção especifi-
t' camente hermética do ternário em questão, em ürtude do papel si-
5. Lembrar-se-á nesse ponto o que indicamos antes a respeito da dupla
espiral encarada como "esquema do ambiente"; o Mercúrio dos hermetistas é, métrico que ela confere ao Enxofre e ao Mercúrio: o Sal é então
li afinal de contas, a mesma coisa quê a "luz astral" de Paracelso, ou o que o intermediário entre eles, inicialmente porque é como que seu re-
I
alguns autores mais recentes, como Éliphas Levi, chamaram, mais ou menos sultado e, em seguida, porque se coloca no limite mesmo dos dois
justamente, o "grande agente mágico", ainda que, na verdade, o seu apro-
veitamento no domínio das ciências tradicionais esteja muito longe de limi-
domínios, 'ointerior" e "exterior", aos quais eles correspondem res-
I

tar-s€ a essa aplicação de ordem inferior que constitui a magia no sentido


correto dessa palavra, como o revelam, aliás, de modo suficiente, as consi- "pedra cúbica de ponta", que simboliza propriamente a Pedra filosofal, repre-
derações que expusemos a respeito da "solução" e da "coagulação" herméti- sentando a pirâmide que está em cima do cubo um princípio espiritual que
ll cas. Cf. também, sobre a diferença entre o hermetismo e a magia, Aperçus vem fixar-se na base constituída pelo Sal. Pode-se observar que o esquema
-
sur I'Initiatíon, cap. XLI. plano dessa "pedra cúbica de ponta", isto é, o quadrado encimado pelo triân-
6. As correntes de força sutil podem, além disso, dar efetivamento uma gu1o, só difere do sinal alquímico do Enxofre pela substituição do quadrado
impressão desse gênero àqueles que as percebem, e isso pode até ser uma pela cruz. Os dois símbolos têm a mesma correspondência numérica,
das causas da ilusão "fluídica" tão comum a respeito delas, sem prejuízo das 7 = 3 _F 4, em que o setenário surge como composto de um ternário su-
razões de outra ordem que contribuíram para âar origem a essà iiusão ou perior e um quaternário inferior, relativamente "celeste" e "terrestre" um com
para mantê-la (cf. Le Ràgne de la Quanrité et les Signes des Temps, cap. respeito ao outro; mas a mudança da cruz em quadrado exprime a "fixação"
xvm). ou a "estabilizaçáo", numa "entidade" permanente, do que o Enxofre comum
7. É então o que os hermetistas denominam Mercúrio "animado" ou só manifestava então no estado de virtualidade e qüe ele só pôde realizar
"duplo", para distingui-lo do Mercúrio comum, isto é, considerado pura e sim- efetivamente ao tomar um ponto de apoio na própria resistência que the opõe
plesmente tal como ele é em si mesmo. o Mercúrio como "material da obra".
8. Há analogia com a formação de um sal no sentido químico dessa 10. Pelo que indicamos na nota precedente, pode-se desde agora com-
palavra, no fato de que este é produzido pela combinação de um ácido, ele- preender a imporlância do corpo (ou de um elemento "terminal" correspon-
mento ativô, e um álcali, elemento passivo, que desempenham respectivamente, dente a e1e nas condições de outro estado de existência) como "suporte" da
nesse caso especial, papéis comparáveis aos do Enxofre e do Mercúrio, mas realizaçáo iniciática. Acrescentemos a esse respeito que, se é o Mercúrio
que certamente diferem em essência pelo fato de serem substâncias e nãb que é inicialmente a -"matéria da obra", como acabamos de dizer, o Sal vem
princípios; o sal é neutro e apresenta-se, em geral, sob a forma cristalina, o a sê{o também depois e de um outro ponto de vista, como o mostra a for-
que pode acabar de justificar a transformação hermética dessa designação. mação do símbolo da "pedra cúbica de ponta"; é a isso que se refere a
9. É a "pedra cúbica" do simbolismo maçônico. É necessário, além distinção que os hermetistas fazem entre sua "primeira matéria" e sua "ma-
disso, tornar claro que se trata nisso da "pedra cúbica" comum e não da téria imediata".

78 79
pectivamente. Ele ,é "terminal" nesse sentido, poder-se-ia dizer, mais
ainda do que quanto ao processo de manifestação, embora, na rea-
lidade, seja, ao mesmo tempo, de um e de outro modo.
Isso deve permitir compreender por que não podemos identi-
ficar, sem reservas, o Sal com o corpo. Pode-se apenas dízer, para
ser exato, que o corpo corresponde ao Sal sob certo aspecto ou
numa aplicação particular do ternário alquímico. Numa outra apli-
cação menos restrita, é a individualidade por inteiro que corresponde Capítulo XIII
ao Sal 11: o Enxofre, então, é sempre o princípio interno do ser e
o Mercúrio é o "ambiente" sutil de certo mundo ou estado de exis- OSereoMeio
tência. A individualidade (supondo naturalmente que se trata de um
estado de manifestação formal, tal como o estado humano) é a re-
sultante do encontro do princípio interno com o "ambiente"; e po,
de-se dizer que o Há, na natureza individual de todo ser, dois elementos de ordem
ser, enquanto manifestado nesse estado, está como
que "envolvido" na individualidade, de modo análogo ao que, num diferente que convém distinguir devidamente, assinalando suas Íela-
outro nível, a própria individualidade está "envolvida" no cor- ções de maneira tão precisa quanto possível: essa natureza individual,
po. Para retomar um simbolismo que já empregamos anterior- de fato, procede primeiro do que o ser é em si mesmo e que Íepre-
mente, o Enxofre é comparável ao raio luminoso e o Mercúrio senta seu lado interior e ativo, e, em seguida, secundariamente, do
ao seu plano de reflexão, e o Sal é o produto do encontro do conjunto das influências do meio no Qual ele se manifesta, que re-
presenta seu lado exterior e passivo. Para compreender como a cons-
primeiro com o segundo; mas isso, que implica toda a questão das re-
1' lações do ser com o meio em que ele so manifesta, merece ser tratado tituição da individualidade (e deve ser bem entendido que se trata
com mais amplo desenvolvimento. aqui da individualidade integral, da qual a modalidade corporal é
apenas a parte mais exterior) é determinada pela ação do primeiro
desses elementos sobre o segundo, ou, em termos alquímicos, como
o Sal resulta da ação do Enxofre sobre o Mercúrio, podemos ser-
vir-nos da representação geométrica a que acabamos de aludir ao
falar do raio luminoso e de seu plano de reflexão 1. Para isso, de-
vemos relacionar o primeiro elemento com o sentido vertical e o
segundo com o horizontal. De fato, a vertical representa então o
que liga entre si todos os estados de manifestação de um mesmo ser
e que é necessariamente a expressão desse próprio ser, ou, então, de
sua "personalidade", a projeção direta pela qual esta se reflete em
todos os estados, enquanto o plano horizontal representará o do-
mínio de certo estado de manifestação, visto aqui no sentido "ma-
11. Desse ponto de vista, a transformação da "pedra bruta" em "pedra crocósmico"; por conseguinte, a manifestação do ser nesse estado
cúbica" representa a elaboração que a individualidade corrente deve sofrer será determinada pela interseção da vertical considerada com esse
pâra tornar-se apta a servir de "suporte" ou "base" à realização iniciática;
a "pedra cúbica de ponta" representa a adjunção efetiva a essa individuali- plano horizontal.
dade de um princípio de ordem supra-individual, constituindo a própria reali- Sendo assim, é evidente que o ponto de interseção não é qual-
zação iniciática, que pode, além disso, ser considerada de modo análogo e, quer um, mas o que é determinado pela vertical em questão, na
por conseguinte, ser representada pelo mesmo símbolo em seus diferentes
graus, sendo estes obtidos sempre por operações correspondentes entre si, em-
bora em níveis diferentes, como a "obra do branco" e a "obra vermelha" 1. Para a exposição pormenorizada dessa representação geométrica, re.
dos alquimistas. metemos como sempre a posso estudo sobre Le Symbolisme de Ia Croíx.

80 81
medida em que ela se distingue de outra vertical qualquer, isto é, de todas essas concepções modernas do ser humano é sempre a idéia
em última análise, pelo fato de que esse ser é o que é e não o que da dualidade cartesiana "corpo-alma" ,, qr", na verdade, equivale
,11, é outro ser qualquer que se manifeste igualmente no mesmo estado. pura e simplesmente à dualidade do fisiológico e do psíquico, con-
I
Poder-se-ia dizer, noutras palavras, que é o próprio ser quem deter- siderada indevidamente irredutível, de certo modo final, e abarcando
mina, por sua própria natvÍeza, as condições de sua manifestação, o ser em seus dois termos, enquanto, na realidade, esses representam
com a ressalva, é claro, de que essas condições só poderão ser, em apenas os aspectos superficiais e exteriores do ser manifestado e são
todo caso, uma especificação das condições gerais do estado consi- somente simples modalidades pertencentes a um só e mesmo grau
derado, uma vez que sua manifestação deve ser necessariamente um de existência, aquele que o plano horizontal que consideramos figura,
desenvolvimento de possibilidades contidas nesse estado, com exclu- de modo que um não é menos contingente que o outro e o ser ver-
I são daquelas que pertencem a outros seres; e essa restrição é assi- dadeiro está além de um tanto quanto do outro.
nalada geometricamente pela determinação prévia do plano hori-
zonÍal. Voltando à hereditariedade, devemos dizer que ela não exprime
integralmente as influências do meio sobre o indivíduo, mas cons-
O ser se manifestará, portanto, revestindo-se, por assim dizer, titui apenas a parte mais imediatamente apreensível delas. Essas in-
de elementos tomados de empréstimo ao ambiente e cuja "cristali- fluências vão realmente muito mais longe. Poder-se-ia dizer mesmo,
zaçáo" será determinada pela ação, sobre o ambiente, de sua própria sem exagero e do modo mais literalmente exato, que se estendem
rl.at:uÍeza interna (que, em si mesma, deve ser considerada de ordem
il indefinidamente em todos os sentidos. Com efeito, o meio cósmico,
essencialmente supra-individual, como indica o sentido vertical se-
que é o campo do estado de manifestação considerado, só pode ser
gundo o qual sua ação se exerce). No caso do estado individual
imaginado como um conjunto, cujas partes estão todas ligadas entre
I humano, esses elementos pertencerão naturalmente às diferentes mo- si, sem nenhuma solução de continuidade, pois imaginá-lo de outro
dalidades desse estado de ser, isto ó, simultaneamente à ordem cor-
modo equivaleria a supor a existência nele de um "vazio", ao passo
li poral e à ordem sutil ou psíquica. Esse ponto é particularmente que, não sendo uma possibilidade de manifestação, não poderia ter
importante para afastar algumas dificuldades devidas somente a con-
I
qualquer lugar nele 3. Como conseqüência, deve necessariamente ha-
cepções errôneas ou incompletas; de fato, se, por exemplo, tradu-
ver relações, isto é, no fundo, ações e reações recíprocas, entre todos
I
zirmos isso mais especialmente em termos de "hereditariedade",
os seres individuais que são manifestados nesse campo, quer simultâ-
poder-se-á dizer que há não apenas uma hereditariedade fisiológica,
nea, quer sucessivamente a; do mais próximo ao mais distante (e isso
mas também uma hereditariedade psíquica, ambas explicáveis exa-
lr deve ser entendido no tempo tanto quanto no espaço) , náo é, em sín-
tamente da mesma forma, isto é, pela presença, na constituição do
tese, mais que uma questão de diferença de proporções ou de graus,
indivíduo, de elementos tomados emprestados do meio especial em
de modo que a hereditariedade, seja qual for sua importância relativa
que ocorreu seu nascimento. Ora, no Ocidente, alguns se recusam
com respeito a todo o resto, aparece nisso apenas como um simples
a admitir a hereditariedade psíquica, porque, não conhecendo nada
caso particular.
além do domínio ao qual ela se relaciona, crêem que esse domínio
deve ser o que pertence exclusivamente ao próprio ser, que repre- Em todo caso, quer se trate de influências hereditárias ou de
senta o que ele é independentemente de qualquer influência do meio. outras,o que dissemos de início permanece ainda igualmente ver-
Outros, que, contrariamente, admitem essa hereditariedade, crêem dadeiro: sendo a situação do ser no meio determinada, afinal de
poder concluir daí que o ser, em tudo que é, é inteiramente deter-
minado pelo meio, que ele não é nada mais nem nada menos que 2. Dizemos aqui "corpo-alma", de preferência a "corpo-espírito", por-
aquilo que este faz que seja, porque eles também não compreendem que, de fato, é sempre a alma que, em semelhante caso, é tomada abusiva-
nada fora do conjunto dos domínios corporal e psíquico. Trata-se, mente pelo espírito, ficando este, na realidade, completamente ignorado.
portanto, nesse caso, de dois erros opostos de certo modo, mas que 3. Cf. Les É,tats multiples de l'être, cap. III.
têm uma única e mesma origem: uns e outros reduzem o ser inteiro 4. Isso se relaciona com o ponto de vista que corresponde ao sentido
a sua exclusiva manifestação individual e ignoram igualmento qual- horizontal na representação geométrica; se consideramos as coisas no sentido
vertical, essa solidariedade de todos os seres surge como conseqüência da
quer princípio transcendente em relação a este. O que está na base unidade principal meslna, da qual toda existência procede necessariamente.

82 83
contas, por sua própria natr!Íeza, os elementos que ele toma em- sejam quais forem as aparências, a limitação como tal não tem ne-
prestado a seu ambiente imediato e também aqueles que atraia, de nhuma existência positiva. É apenas uma restrição que exclui deter-
algum modo, para si de todo o conjunto indefinido de seu domínio minadas possibilidades, ou uma "privação" em relação ao que ela
de manifestação (e certamente isso se aplica aos elementos de ordem exclui desse modo, isto é, qualquer que seja o modo como o quei-
sutil, assim como aos de ordem corporal), devem estar obrigatoria- ramos exprimir, algo puramente negativo.
mente em correspondência com essa nat:uÍeza. Não fosse assim, ele Por outro lado, deve estar claramente entendido que tais con-
não poderia assimilá-los verdadeiramente a si, para torná-los como dições limitativas são, em essência, inerentes a certo estádo de mani-
se fossem modificações secundárias de si mesmo. Nisso é que con- festação, aplicam-se de modo exclusivo àquilo que esteja compreen-
siste a "afinidade", devido à qual, poder-se-ia dizer, o ser só apreen- dido nesse estado e, por conseguinte, não poderiam, de nenhum
de do meio o que se coaduna com as possibilidades que ele traz modo, Iigar-se ao próprio ser e acompanhá-lo noutro estado. para
em si, que são especificamente suas e não as de qualquer outro ser, manifestar-se neste, o ser encontrará naturalmente certas condições
aquilo que, em virtude dessa mesma conformidade, deve propor- de caráter análogo, mas que serão diferentes daquelas a que estava
cionar as condiçóes contingentes que permitam que essas possibi submetido no estado que consideramos de início e nunca poderão
I lidades se desenvolvam ou se "atualizem" durante sua manifestação ser descritas em termos que convenham apenas a essas últimas, como
individual 5. É, por outro lado, evidente que toda relação entre dois os da linguagem humana, por exemplo, que só podem expressar con-
seres quaisquer, para ser real, deve ser forçosamente a expressão de dições de existência diferentes daquelas do estado correspondente,
algo que pertence, ao mesmo tempo, à natureza de um e de outro; visto que essa linguagem, em última análise, é determinada e como
dessa forma, a influência que um ser parece sofrer do exterior e que modelada por essas mesmas condições. Insistimos nisso, porque,
receber de outro ser é sempre, na verdade, quando o consideramos se admitimos, sem grande dificuldade, que os elementos retirádos do
de um ponto de vista mais profundo, apenas uma espécie de tra- ambiente para entrar na constituição da individualidade humana
dução, em relação ao meio, de uma possibilidade inerente à natu- o que é justamente uma "fixação" ou "coagulação" desses elementos -
reza específica desse próprio ser 6. a ele devem ser restituídos por "solução", ao terminar o ciclo
-de existência dessa individualidade e o ser passar a outro estado,
Há, entretanto, um sentido, no qual podemos dizer que o ser como todo mundo pode constatar, por sinal, diretamente, ao menos
sofre verdadeiramente, em sua manifestação, a influência do meio; no que se refere aos elementos de ordem corporal t, parece menos
mas é só enquanto essa influência é encarada por seu lado negativo, simples admitir embora as duas coisas sejam, não obstante, muito
isto é, enquanto ela constitui justamente uma limitação para esse ser. -
estreitamente ligadas na realidade que o ser saia então inteira-
Isso é umã conseqüência imediata do caráter condicionado de qual- mente das condições a que estava- submetido nesse estado indivi-
quer estado de manifestação: nele o ser acha-se submetido a certas dual 8; e isso se deve talvez sobretudo à impossibilidade, não se-
condições que têm um papel limitativo e que abrangem, de início, guramente de imaginar, mas de conceber condições de existência
as condições gerais definidoras do estado considerado e, em seguida, completamente distintas daquelas e para as quais não se saberia
as condições especiais que definem o modo particular de manifes- encontrar nesse estado qualquer termo de comparação.
tação desse ser nesse estado. É, de resto, fácil de compreender que,
Uma aplicação importante do que acabamos de indicar é a que
se refere ao fato de que um ser individual pertence a certa espécie,
5. Essas condições são o que às vezes se chama "causas ocasionais",
mas é ocioso dizer que elas não são em absoluto causas no verdadeiro sen- 7. É conveniente dizer que a morte corporal não coincide obrigatoria-
tido dessa palavra, embora possam apresentar a aparência delas, quando nos mente com uma mudança de estado no sentido estrito dessa palavra e que
limitamos ao ponto de vista mais exterior; as verdadeiras causas de tudo ela pode representar apenas uma simples mudança de modalidade no interior
que acontece a um ser são sempre, no fundo, as possibilidade inerentes à de um mesmo estado de existência individual; mas, guardadas as devidas pro-
própria natureza desse ser, isto é, algo de qldem puramente interior. porções, as mesmas reflexões aplicam-se igualmente aos dois casos.
6. Cf. o que dissemos noutra obra, a respeito das qualificações iniciá' 8. Ou de uma parte dessas condições, quando se trata apenas de uma
ticas, sobre as doenças de origem aparentemente acidentais (Aperçus sur mudança de modalidade, como a passagem a uma modalidade extracorporal
I'lniciation, cap. XIV). da individualidade humana.

84 85

-=-"]
rado, mas, ao contrário, devido a correspondências efetivas e fun-
tal como a espécie humana, por exemplo: há, evidentemente, na dadas na própria constituição do "macrocosmos", a síntese de todas
orópria nat:uÍeza desse ser algo que determinou seu nascimento nessa
as categorias diferentes de influências cósmicas que se exercem sobre
ã.pê"i. de preferência a'outia qualquere; mas, por outro lado, ele a individualidade e cuja maior parte pertence propriamente à ordem
sJen.,ontra'desde então submetido ás condições que, a própria de- sutil. Se considerarmos; como se faz do modo mais habitual, que tais
túiiào áa espécie define e que estarão entre as condições especiais influências dominam a individualidade, esse é apenas o ponto de
à; ;;; modó de existência'como indivíduo; são esses, poder-se-ia vista mais exterior; numa ordem mais profunda, a verdade é que, se
àir.r, o, dois aspectos, positivo e negativo, da natureza-.esp-ecífica' a individualidade está em relação com um conjunto definido de in-
p*itíuo como domínio dã manifestação de certas possibilidades, ne- fluência, é porque esse conjunto é aquele mesmo que está em con-
'sativo como condiÇão limitativa de existência' Só que e isso deve
ll

í"i t., .o*p.e"nàido é apenas como indivíduo -


manifestado no formidade com a nat.oÍeza do ser que se manifesta nessa individua-
esiado considerado que -o ser pertence de fato à espécie em
questão; lidade. Desse modo, se as "influências astrais" parecem determinar
em qualquer outro éshdo, ele escapa-lhe inteiramente e não perma-
o que o indivíduo é, isso, no entanto, não é mais que aparência;
no fundo, elas não o determinam, apenas o exprimem, em virtude
,""e-flÀuào a ela de modo nenhum-. Noutros termos, a consideração do acordo ou harmonia que deve necessariamente existir entre o in-
ãu erp?"i. aplica-se unicamente no sentido horizontal, isto é, no divíduo e seu meio. Sem isso esse indivíduo não poderia realizar, de
1

domínio de c'erto estado de existência; não pode intervir de modo


modo algum, as possibilidades cujo desenvolvimento constitui o pró-
algum no sentido vertical, quer dizer,.quando o ser passa a outros
prio curso de sua existência. A verdadeira determinação não vem
Ir .údor. É claro que o que é verdadeiro, nesse sentido, para a es- do exterior, mas do próprio ser (o que equivale a dizer que, na
pêcie é também, com maior razão, para a Íaça, a família, em .suma'
'páru toaus as porções mais ou menos restritas do domínio indivi- formação do Sal, é o Enxofre que é o princípio ativo, enquanto o
I
Mercúrio ó apenas o princípio passivo) e os sinais exteriores per-
ãrrat nas quais o ier, pelas condições de seu nascimento,10'se acha
inár* quânto à sua manifestação no estado considerado mitem apenas discerni-la, dando-lhe, de algum modo, uma expressão
sensível, pelo menos para os que souberem interpretá-los correta-
l,, Para concluir essas reflexões, diremos algumas palavras sobre mente 11. Na verdade, essa consideração não modifica em nada, de
I o modo oomo podemos, de acordo com o que precede, . encarar as certo, os resultados que podemos tirar do exame das "influências
,,inflúências astrais". Antes de tudo, convém deixar claro
chamadas astrais"; mas, do ponto de vista doutrinário, ela nos parece essencial
exclusivamente, nem mesmo prin-
assim
!". ,ao se deve entender próprias.dos astros cujos- nomes servem
para compreender o verdadeiro papel destas, isto é, em síntese, a
cipalmente, as influências ^influências, natureza real das relações do ser com o meio no qual se realiza sua
píá á*ida-las, embora esias como as de todas as coi- manifestação individual, uma vez que o que se exprime através des-
sas, talveã tenham também realidade em sua ordem, mas que esses sas influências, sob forma inteligivelmente coordenada, é a porção
astros representam sobretudo simbolicamente, o que em absoluto não indefinida de elementos diversos que constituem esse meio todo. Não
,,idealmente" ou, por um modo de falar mais ou menos figu-
[uer aizJr insistiremos mais nisso aqui, pois acreditamos ter dito a respeito o
suficiente para fazer compreender como todo ser individual participa,
S.O"r*seobservarque,emsânscrito,apalavra-játí--significa'simul- de certa forma, de uma dupla natureza, qlJe se pode, segundo a ter-
ou "natureza específica"'-
taneamente, "nascimento" e-"espécie" minologia alquímica, chamar "sulfurosa" quanto ao interior, e "mer-
10. úaturalmente, o caso da casta não constitui, de ,nenhum modo' ex-
ceção aqui. Isso resultá, aliás, de maneira mais perceptível do que em outlo cuÍial" quanto ao exterior; e é essa dupla natureza, plenamente rea-
ãáiã- qúáiqu.., da definição da casta como ,a expressão mesma da natureza lizada e perfeitamente equilibrada no "homem verdadeiro", que o
'(varna) e for-mando, por assim dizer, apenas uma unidade com
iràíialrrf torna de fato "Filho do Céu e da Terra" e, ao mesmo tempo, torna-o
;i;; ; q""'bem índica que ela sã existe na medida em que o ser é. consi- apto a preencher a função de "mediador" entre esses dois pólos da
á.iuao iro, limites da individualidade e que, se ela existe necessariamente
está contido nela, ela não poderia, em compens.ação' subsistir manifestação.
""à"".t.
;;;;-;i" "f"
além desses mesmos limites, porque tudo que constitui sua razão
il ;.i; encontra exclusivamente no interior destes e não pode. ser transpor- 11. É esse, aliás, de modo geral, o princípio mesmo de todas as apli-
em.qu_e_a_natureza individual em
á; il;-u- orrtro domínio de existência, possibilidade' cações "divinatórias" das ciências tradicionais.
guestáo não corresponde mais a nenhuma

87
86
A tradição extremo-oriental, como também muitas outras 3, diz
que, na origem, o Céu e a Terra não estavam separados; e, de fato,
estão necessariamente unidos e "indistintos" em Tai-ki, seu princípio
comum. Mas, para que se possa produzir a manifestação, é preciso
que o Ser se polarize realmente em Essência e Substância, o que se
pode descrever como uma "separação" desses dois termos comple-
mentares, representados como o Céu e a Terra, visto que é entre
Capítulo XIV eles, ou em seu "intervalo", se podemos nos exprimir assim, que se
deve situar a própria manifestação a. Por conseguinte, sua comuni-
I
O Mediador cação só se poderá estabelecer segundo o eixo que liga entre si os
centros de todos os estados de existência, em quantidade indefinida,
cujo conjunto hierarquizado constitui a manifestação universal e se
estende assim de um pólo ao outro, isto é, justamente do Céu à
"Ele sobe da Terra ao Céu e torna a descer do Céu à Terra; Terra, medindo, de certo modo, sua distância, como dissemos antes,
recebe, por isso, a virtude e a eficácia das coisas superiores e infe- segundo o sentido vertical que assinala a hierarquia desses estados 6.
riores": essas palavras da Tábua de Esmeralda hermética podem O centro de cada estado pode, portanto, ser considerado a marca
aplicar-se com muita exatidão ao Homem como termo mediano da
I

desse eixo vertical no plano horizontal que representa geometrica-


Grande Tríade, isto é, falando de modo mais preciso. na medida em mente esse estado; e o centro, que q propriamente o "Invariável
{ que ele é justamente o "mediador" através do qual se opera efeti- Meio" (Tchoung-young) é, por isso mesmo, o ponto único onde se
vamente a comunicação entre o Céu e a Terra 1. A "subida da Terra opera, nesse estado, a união das influências celestes e das influências
t' ao Céu" é, além disso, representada ritualmente, em tradições muito terrestres, ao mesmo tempo que é também o único de onde é pos-
diferentes, pela ascensão a uma árvore ou um mastro, símbolo do sível uma comunicação direta com os outros estados de existência,
"Eixo do Mundo". Por essa ascensão, que é obrigatoriamente seguida devendo esta se efetuar obrigatoriamente segundo o próprio eixo.
de uma descida (e esse duplo movimento corresponde ainda à "so-
I

Ora, no que se refere a nosso estado, o centro é o "lugar" normal


lução" e à "coagulação"), aquele que compreende verdadeiramente do homem, o que equivale a dizer que o "homem verdadeiro" iden-
o que está implícito no rito assimila as influências celestes e as traz tifica-se a esse mesmo centro; é, portanto, nele e exclusivamente por
de volta, de certa forma, a esse mundo para nele conjugá-las às
ele que se efetua, para esse estado, a união do Céu e da Terra, e é
influências terrestres, primeiro em si mesmo e, em seguida, por par- por isso que tudo que se manifesta nesse mesmo estado provém e
ticipação e como por "radiação", em todo o meio cósmico 2.
trata aqui pode ser considerado o "mediador" que "torna a descer do Céu
1. Podemos ver também, nessas mesmas palavras, do ponto de vista à Terra", ou o ser que, tendo de fato a plena posse de sua natureza ce-
propriamente iniciático, uma indicação muito nítida da dupla realização "as- o Avatâra.
leste, surge nesse mundo como
õenáente" e "descendente". Mas este é ainda um ponto que náo podemos 3. É claro que, quanto ao Íundo, a concordância estende-se a todas
pensar em desenvolver nesse momqnto. as tradições sem exceção; mas queremos dizer que mesmo o modo de ex-
2. A esse respeito, faremos notar, de passagem, que, sendo a descida pressão de que se trata aqui não é exclusivamente próprio somente à tra-
das influências celestes muitas vezes simbolizada pela chuva, é fácil com- dição extremo-oriental.
preender qual é, na realidade, o sentido profundo dos ritos que têm o obje- 4. Isso pode, além disso, aplicar-se analogicamente a níveis diferen-
iivo aparente de "fazer chover"; esse sentido é, evidentemente, independente tes, conforme se considere a manifestação universal inteira ou só um estado
de todo da aplicação "mágica" que o vulgo vê neles e que não se trata, particular de manifestação, isto é, um mundo, ou mesmo um ciclo mais ou
por sinal, de negar, mas só de reduzir ao justo valor de contingência de menos restrito na existência desse mundo: em todo caso, haverá sempre,
órdem inferior. É interessante notar que esse simbolismo da chuva se no ponto de partida, algo que corresponderá, num sentido mais ou meÍros
- da tradição hebraica, até na própria liturgia católica:
conservou, através relativo, à "separação do Céu e da Terra".
"Rorate Crelí desuper, et nubes pluant Justum" (Isaías, XLV, 8) (Destilai, 5, Sobre o significado desse eixo vertical, cf. Le Symbolisme de la Croíx,
ó céus, dessas alturas> e os nuvens chovam iustíça). O "Iusto" de que se cap. XXXIII.

88 89
depende inteiramente dele e só existe, de algum modo, como pro- Outro símbolo extremo-oriental em geral bastante conhecido é
jeção exterior e parcial de suas próprias possibilidades. A "ação de o da tartaruga, colocada entre as duas partes, superior e inferior, de
presença" dele também mantém e conserva a existência desse mun- seu casco, como o Homem entre o Céu e a Terra. Nessa representa-
do 6, uma vez que ele é seu centro e, sem centro, nada poderia ter ção, a própria forma dessas duas partes não é menos significativa do
que sua situação: a parte superio{ que "cobre" o animal, corresponde
existência real. No fundo, essa é a razáo de ser dos ritos que, em
todas as tradições, afirmam de forma sensível a intervenção do ho- também ao Céu por sua forma arredondada; do mesmo modo, a parte
mem na manutenção da ordem cósmica. Esses ritos são, em suma, inferior, que o "suporta", corresponde à Terra por sua forma chata e.
apenas expressões mais ou menos particuiares da função de "me- A concha inteira é, portanto, uma imagem do Universo 10, e, entre
suas partes, a própria tartaruga representa naturalmente o termo me-
diação" que lhe é essencialmente própria 7.
I diano da Grande Tríade, isto é, o Homem; alóm do mais, sua retração
Inúmeros são os símbolos tradicionais que representam o Ho- no interior da concha simboliza a concentração no "estado primor-
mem, como termo rnédio da Grande Tríade, colocado entre o Céu dial", que é o estado do "homem verdadeiro"; e essa concentração
e a Terra e cumprindo desse modo seu papel de "mediador". E, é, além disso, a realizaçáo da plenitude das possibilidades humanas,
antes do mais, faremos notar a esse respeito que tal é a significação pois, embora o centro seja em aparência apenas um ponto sem ex-
geral dos trigramas do Yi-king, cujos três traços correspondem, res- tensão, é esse ponto, entretanto, que, principalmente, contém todas
pectivamente, aos três tcrrnos da Grande Tríade: o traço superior as coisas na realidaderl, e daí a razáo por que o "homem verdadeiro"
representa o Céu, o traço mediano, o Homem, e o traço inferior, a contém em si mesmo tudo que é manifestado no estado de existência
Terra. Um pouco mais adiante teremos, aliás, que retornar a esse a cujo centro ele se identifica.
tema. Nos hexagramas, os dois trigramas supcrpostos correspondem
tambóm, respectivamente, de toclo ao Cóu e iilIelra. Aqui, o termo É por um simbolismo similar ao da tartaruga, que, como já
mediano não é mais figurado visivelmente, mas ó o conlunto mesmc indicamos incidentemente noutra obra 12, a vestimenta dos antigos
do hexagrama que, enquanto une as influências celestes e as influên- príncipes, na China, devia ter uma forma circular na parte superior
cias terrestres, exprime justamente a função do "mediador". Nesse (isto é, na gola) e quadrada em baixo, sendo essas formas que re-
sentido, impõe-se uma aproximação com uma das significações do pràsentam, respectivamente, o Céu e a Terra; e podemos observar
"selo de Salomão", que, aliás, é formado igualmente de seis traços, desde agora que esse símbolo apresenta uma relação muito particular
embora dispostos de modo diferente. Nesse caso, o triângulo reto é com aquele, sobre a qual voltaremos a falar mais adiante, que coloca
a natrtreza celeste e o triângulo invertido a naÍtreza terrestre e o o Homem entre o esquadro e o compasso, uma vez qve estes são os
conjunto simboliza o "Homem Universal" que, unindo em si as duas instrumentos que servem, respectivamente, para traçar o quadrado
naturezas, é, por isso mesmo, o "mediador" por excelência 8. e o círculo. Vemos, além disso, nessa disposição da vestimenta, que
o homem-típico, representado por esse príncipe, para unir efetivamen-
6. No esoterismo islâmico, diz-se de tal ser que ele "sustenta o mundo te o Céu e a Terra, era representado tocando o Céu com a cabeça,
exclusivamente com sua respiração". enquanto os pés repousavam na. Terra; essa é uma razão que voltare-
7. Dizemos "expressões" enquanto esses ritos representam simbolicamen- mos a encontrar daqui a pouco de forma ainda mais precisa. Acres-
te a função de que se trata; mas deve-se Íambém compreender qu€, ao
mesmo tempo, é pela execução desses mesmos ritos que o homem exerce
de fato e conscientemente essa função; essa é uma conseqüência imediata 9, A superfície plana, como tal, está naturalmente em relagão direta
cla eficácia inerente aos ritos e sobre a qual nos explicamos de modo sufi- com a linha reta, elemento do quadrado, podendo uma e outra igualmente
ciente noutra obra, pelo que não temos necessidade de insistir de novo se definir, de modo negativo, pela ausência de curvatura.
nisso (ver Aperçus sur l'Initíation). 10. É por isso que o diagrama chamado Lo-chou, foi, dizem, apresen-
tado a Yu, o Grande, por uma tartaruga; é também daí que deriva o uso
8. Em termos especificamente cristãos, é a união da natureza divina e que se faz da tartaruga em certas aplicações especiais das ciências tradicio-
da natureza humana no Cristo, que tem, na verdade, esse caráter de "me- nais, sobretudo na ordem "divinatória".
diador" por excelência (cf. Le Sttmbolísme de Ia Croíx, cap. XXVII).
A concepção do "Homem Universal" estende à manifestação inteira, por - 11. Sobre as relações entre o ponto e a extensão, cÍ. Le Syrnbolisme
de la Croix, caps. XVI e XXIX.
transposição analógica, esse papel que o "homem verdadeiro" exerce somente,
de fato, em relação a um estado particular de existência. 12. Le Ràgne de Ia Quantíté et les Signes des Temps, cap. XX.

9'.L
90
I

cenlemos que, se a vestimenta do príncipe ou do soberano tinha o da qubbaà isrâmica e muitos outros ainda,
assim uma significação simbólica, acóntecià o mesmo com todas as ocasião de mostrar d-e modo rnuir-.oÃpi.to. como talvez tenhamos
ações de sua vida, que eram reguladas de modo exato segundo os pois esse assunto u em algum outro estudo,
ritos, o que fazia dele, como diÀsemos, a representação do'homem- .t-n11.: :rgiri.iatião
refere ao sentido propriamentê t.npo?iâr.i;';;
l=.il;rg. ,. ;r.
típico em todas as circunstâncias; por outro lâdo, originarúãnt. do simborismo construtivo.
Ciraremos aindl símbolo equivalenre àquele, do ponro
devia ser de fato um "homem verdadeiro,,, e, se nãõ pôde mais ser"t" 31t1o
sempre assim mais tarde, em virtude das condições àe degeneres-
vista que levamos em conta ,o *o-.nio, e o ão-ii.r"'.à"r5J'"u..o,de
este, na verdade. era construído
cência ewiritual crescente da humanidade, nem por isso dJixou de de u.áiao .";;;;o"rL-.a.to
cósrnico" dos edifícios tradicionais
invariavelmente, no exercício de sua função e independentemente
ao
.oÃ" à Ming-tang, com um dossel
circular que representava o Céu e
que ele podia ser em si mesmo, ,,encarnai, de algum modo ,,homem um assoatno quadrado que repre_
o se'ltava a Terra' Deve-se acrescentar que o dossel
verdadeiro" e a manter ritualmente o seu lugar,"e o devia tanio mais e o assoarho eram
ligados por um masrro, srmuorÀ
necessariamente quanto, como veremos mehãr ainda em seguida, u*irrli"r*u.pequena
'prrr"assinalar parte do qual
sua ullrapassava mesmo o dossel,
função era em essência a do "mediador', 1a. a*"
do Céu" esrá, na realiclade,.pa;-;iãr1;próprio que a .,cumeeira
era considerado como medindo ri-üárÉurir.nte Céu; e esse masrro
Fxemplo característico dessas ações rituais é a circum-ambula- a artura do homem,
ção do Imperador no Ming-tang,' como vortaremos ao as.rrià--mais típico ao qual o
tarde com alguns detalhes, contentar-nos-emos, no momento, "n.r" .* àrr;*9h;â;1tura
numéricas que variavam dada por proporções
dizer que esse Ming-tang eÍa como uma imagem'dà uri*.ro-ii
em , Iéy ài;;;,;#"rme
da época. Dessarre. o. próprio ;;ã;;nrificava_se as condições cícticas
centrada, de certo modo, num lugar que representava 1õ o ,,rnvariável
"on- Mund-o", a fim de poo.. rigài ao ,.Eixo do
Meio" (e até o fato.-de o Impúado-r r.ridi, nesse lugar iãrràru-o mos drzer, além disso, q-ue essa
.i",irã-.r]. o céu e a Terra; deve_
identificaçao com o eixo, se a
a representação do "homem verdadeiro"); e ele o era-, simultanea- sideramos plenamente ,àriàu" con-
mente, do duplo ponto de vista do espaço e do tempo, pois ó simbo_ Érr*;;;;:, exatamente ao ,,homem
transcendental", enquanto o i,horn.rn
lismo espacial_ dos pontos cardeais eia posto nere ôm ielação ãireta Iato a um ponto do eixo, que u.rààO"iro,, só se identifica de
com o simbolismo temporal das estaçõei no percurso do ciàlo anual.
é o ;";;;'de seu estado, e virtual_
mente por isso ao nróprio-'eixo,
ora, o teto desse edifício tinha umá forma arredondada, -enqranto "homem transcendent.,,' . ao ;,Àà.., ,À-.riu questão de relações do
a base tinha uma forma quadrada ou retangular; entre o t"t'o u tros deralhes que enconrru.ão lú;;; ,.ráraeiro,, requer ainda ou_
base, que lembram as duas partes, superior e-inferior, a, .on.tu" .Jgur_.nt, deste estudo,
au
tartaruga, o Imperador representava, portanto, exatamente o Homem
entre o Céu e a Terra. Essa disposição consiitui, ademais, ,rn tipo
arquitetural_que reencontramos, áe modo muito geral, .orn'o---ar*o
valor simbólico, em grande número de formas tridicionais diferentes;
drsso podemos nos dar conta por exempros como o do stúpa
budista,

.13. Já insistimos, noutras ocasiões, na distinção que se deve fazer, de


modo geral, entre umâ função tradicíonal e o ser que a exerce,
prende precisamente ao fato. de_ a primeira ser independent"
que se
áo qu.-o sJzundo
'''ale em si mesmo e como indivíduo lver princifalil;;í;-);;çir;-rir'iTnuio-
tion, cap. XLY).
14' como a tartaruga a cujo simbolismo ele é relacionado, assim como
veremos, pela representação do Lo-chou que fornecia o ,áo piáno.----- '
15. Esse eixo não é .sempre representado de modo visível nos edifi_ 16. Esse detalhe. que se enconlra
c.ios tradicionais que mencionamos, qo.i ,á;ã ã"-nao,"'n-.---!ã.' ir.o tambóm cm outros casos,
deixa de representar um papel capiial.mur,
rner)re. no do srripa, teni muiro e notada-
*;1. i;;;;;;^.Ji. ao que se poderia
em sua conitrução, que se o.ã"ra, ae crer à
algum modo, inteiramente em relação a ele. lJiffiT: J,ilÊi,,i.? 'r",''.i"?;, t...:*í:::.-.i. ,. ,.i".iono '."oã'i.. i"p,"-
92
93
Tríade. AIém ,,um
.disso, diz-se que Mestre Maçon se acha sempre
entre o esquadro e o compasso,,, quer dizer, no próprio ..lugua;,
on_
de se inscreve a Estrera Flamejanà, e que é l-,tnvariá-
vel Meio" 6. luria.inte o
O Mestre é, portânto, assómelh;do ,rri_- uo ,f,o_"_
verdadeiro", colocado entre a Terra e o céu .*"i"ãnoã
de "mediador"; e isso é tanto mais exato quanto, " simbólicau'iinçao
e ,.vir-
tualmente" pelo menos, senão efetivamente, u uárt.iá-
i.pàrãrtu o
Capítulo XV acabamento dos "mistérios menores", dos quais o estado
aã ,,no-"m
y11,{ad,eir9" é o próprio rermo ?. Vê-se que temos aí um simbolismo
equlvalente ao que encontramos anteriormente, sob
Entre o Esquadro e o ComPasso
difeientes, na tradição extremo-oriental.
várias formas
A propósito do que dissemos do caráter da Mestria,
de passagem, uma observaÇão: esse caráter, que pertence faremos,
Um ponto que dá origem a uma aproximação particularmente ao último
qiui du Maçonaria propriamenre dira, U"m-"oã o- futo
notável a tra<lição eitremo-oriental e as tradições iniciáticas oe que, como rndlcamos noutra obra 8,"ouárno_rÉ
"rt.e
ocidentais, é o que se refere ao simbolismo do compasso e do es- as iniciações de ofício e as
que delas se derivaram se reracionam justanrente
quadro: estes, cômo já indicamos, corÍespondem, de modo mani- com os ,,mistérios
menores". Deve-.se, por outro lado, aciescentar que,
fbsto, ao círculo e ao quadrado 1, isto é, às figuras geométricas que no que sà cha_
mam "graus maioÍes", e que são iormados de elementos
2.
representam, respectivamente, o céu e a Terra No simbolismo ma-
de prove_
niências muito diversas, rLá certas referêr"iu, ,o* ; *ir",e.à-, "maio-
çônico, em.confbrmidade com essa correspondência,- o compasso 3'
é
res", as quais há, pelo menos, uma que se liga diretamente
,or*uÍ*.rte colocado na parte superior e o esquadro em baixo .entr_e-
à^ antiga Maçonaria operátiva, o que lnài.u
qu" esta abria, no mí_
Entre os dois geralmente é representada a Estrela Flamejante, que nimo. certas perspectivas sobre o que está arém dos t.r-ór-ãor^i.ir-
é um símbolo ão Homem 4, e mais precisamente o "homem rege- renos menores". eueremos nos referir à distinção
nerado" í, e que completa desse modo a representação da Grande
feita, na Maço_
naria anglo-saxônica, entre a square Masonry e a Arch
Masonry.
De Íato, na passagem ,,Jrom ,qio* to arch,', or, .o*o
l. Faremos notar que. em inglês, a mesma palavra sqtrarc clesigna. a ," àlriu O"
rnodo equivalente na Maçonariá francesa do sécuro xviir,-;oã?ian_
.- .ó t.*po. o esquadio e o quadrado; em chinês igualmente a palavra e,
gulo ao círculo" encontramos a oposição entre as
futlg iem as clttas significações. figuras quádru_
2 O moclo conlo o compllsso e o esquadro seasclispõem 9m eT relação luceí, et tenebrae ea.m ,on comprehenderunt." (A luz
mostra influências celestes rlo-
'pelastla ChtÍt Muson^,,
no out.o, ncrs três graus
influências terrestrcs, depois libertando-se delas e vas, e as lrevas não prevaleceram contra ela.) resplandesce nas tre-
;.;ã;i' piirn";.o
6.- \1o. é, portanto, sem razão que a Loja dos Mestres chama_se ..Câ_
acabando, por seu ttlrno, por domint't-las'
mara do Meio".
3. Quando essa posiçÍo Sc itlvcl.tc, o símbolo adquire Pma significação
particular-que se deve apioxima' 4u_inv...sito.do símbolo alquímico do En- . 7. Em relação com a,fórmula.maçônica que acabamos dc citar, pode_se
observar que a expressão chinesa "aàtài- ãr -é.éu', tTi",ui,,."i,
xofre para represenlar a realização da "cran«le obra", assim como do sim- crcnâmos e que designa o conjunto do cosmos, ;i;;'iã--.r-
bolismo da l2.a lâmina clo Tarô. ponto de vista propriamente iniciático,
. é suscetivel á" âãq,ii.ir, oo
4. A Estrela flamejante ó ttma estrela de cinco Pontas, e. 5 ,é o número ,n r"ntião"p""l.r-r".,'"...].lJroiro*_
do ao "Templo do Espírito santo, que .rtá .--iàon pârte,,,
do ,,microcosmos,,; essa semelhanÇa ó, aliás, expressamente indicada nos casos os Rosa-cruzes. que sào rambém os ,,homens e
'õi:"2;;r;;i
onde se reúnem
; ô; ; prápriá figura do homem é representada na estrela (a cabeça' l'lnitiaíían, cap. XXXVII e XXXVIII). ,L.àoã"iiãr;
_-i.-ü.or"-os ,",
também a esse res-
os brãços e as pernas identificando-se a suai cinco pontas), como se vê
so- peito que "o céu cobre", ._ qr. p.".iro-.nt.-;; t.aturÁo.
bretudo no Pentagrama de AgriPa. efetuar-se 'a Áulànüo]"i".u".
.coberto,,, sendo-a I_oja, .rfem diià, uma imagem do Cosmos
(cf . Le Roi du
5.Segundoumantigoritrral,..aEstrelaflanrejanteéosímbolodo Monde, cap. VII).
Uaçãn (púer-se-ia dizer, de modo mais- geral, do iniciado) resplendente 6e 8. Áperçus sur I'Initiatíon, cap. XXXIX.
luz-no meio das trevas ido mundo profano)". - Há nisso evidente alusão 9. -O..triângulo ocupa aqui
^. retilínea, e isso não altàra o lrgu, clo quadrado, sendo como ele uma
a estas palavras do Evangelho de sáo João (1, 5): "Et Lux ín tenebris figura nada-no-;;.i;iir*;;; c;;rtãr-" "-
94 95
das (ou, de modo mais geral, retilíneas) e as circulares' na medida restres", intercâmbio que podemos, em semelhante caso, qualificar
]fr q*;;spondem, reípectivamente, à Terra e ao Céu' Só se pode de modo muito adequado de "hierogâmico" 14. Não vemos como,
portanto, aí de uma-passagem do estado humano' represen- sem tal intercâmbio, poderia o compasso pertencer a Niu-koua, tan-
iiitir, to mais que as ações que lhe são atribuídas representam-na como
ã;o.il céu (ou os céus rd;, istã é, de uma passagem do domínio 11' exercendo a função de assegurar a estabilidade do mundo 15, função
dos 'imistérios menores" ao dos "mistérios maiores"
que se relaciona bem ao lado "substancial" da manifestação, e a
Voltandoàaproximaçãoqueassinalávamosdeinício,devemos estabilidade é expressa no simbolismo geométrico pela forma cúbi-
dizer ainda que, na tradição extremo-oriental, o compasso e o es- ca 16. Em contrapartida, num certo sentido, o esquadro pertence
para
quadro não são apenas supostos implicitamente como servindo de fato a Fo-hi como "Senhor da Terra", gue dele se serve para
iluçu, o círculo e o quadrádo, mas-nela aparecem também expressa-
medir 17; nesse aspecto, corresponde, no simbolismo maçônico, ao
mente em certos casos e principalmente como atributos de Fo-hi "Venerável Mestre que governa pelo esquadro" (the Worshipful Mas-
noutra ocasião 12' mas não
Niu-toua, assim comolá assinalamos ter who rules by the squarels). Mas, se assim é, é porque, em si
levamos então em conta uàa particularidade que, à.primeira
"-aé vista,
mesmo e também em sua relação com Niu-koua, ele é yin-yang co-
pode pareceÍ uma anomalia nesse sentido e qul precisamos explicar
mo se reintegrado no estado e na natureza do "homem primordial".
ãgoiu.'Com efeito, o compasso, símbolo "celeste"' poÍtafio sím-
yang
Desse novo ponto de vista, o próprio esquadro adquire outra signi-
ou masculino, pertence própriamente a Fo-hi' e o esquadro' ficação, pois, devido ao fato de ser formado de dois ramos retan-
bolo.'it"rr"rtre", portãnto y;n ou feminino, a Niu-koua; mas'
quando
gulares, pode-se então considerá-lo como a reunião da horizontal
iepiesentaaos juntos e unidos.por suas caudas de serpentes.(corres- e da vertical, que, num de seus sentidos, correspondem, respectiva-
;á;à;rd assimque exatamente ài duas serpentes do caduceu)'13'é' ao mente, como vimos antes, à Terra e ao Céu, do mesmo modo que
Isso
I
iontrário, Fo-hi tám o esquadro e Nfu-koua o compasso ao yin e ao yqng em todas as suas aplicações; 'e é, além disso, assim
comp.arável à.quele de
;;-;.pli;à,- ru ."áriauá", poi irnl
-intercâmbio e "ter-
que, no simbolismo maçônico ainda, o esquadro do Venerável é
li
I
que se tratou antes ;; ;ü" se refere aos números "celestes" considerado, de fato, a união ou síntese do nível e da perpendi-
cular 1e.
lrrt Rt-"rosamente não se trata aqui dos próprios que termos que são de-
ou õiu,a" Tríade, mas dã álgo the corresponde
signados desse modo 14. Granet reconhece expressamente esse intercâmbio para o compasso
num certo nível e qr"'irã^.ôãp.".nai,ío no interioi do
Universo manifes-
dilgl:i!" i:.^s:: iJlli3: e o esquadro (Le Pensée chinoise, pâg. 363), tanto quanto para os núme-
ãfi, surrru rru v(rru uv $niià"o, mas com .''ntegridadé'
Iaoo' :;;";à^"ã.o=-áo-7, . ros ímpares e pares; isso deveria terlhe evitado o desagradável erro de qua-
deve ser conside-
enquanto Íepresenta o estado humano :*. t:1^' ^ r^--^ ^ a - Atmosfera
Àtmncroro ou lificar o compasso de "emblema feminino", como o fez por outro lado (nota
ll
ildt;1;;;"ã;".ãõrã.ná"rse, ao mesmo tempo, a Terra e nrr
da pí$. 267).
"região
-" intermecliária" do Tribhuvana'
..abóbada de perfeição",_a que se 15. Yer Le Ràgne de la Quantité et Les Signes des Temps, cap. XXV.
il. A abóbada celeste é a verdadeira po«ler desen- 16. Da inversão dos atributos entre Fo-hi e Niu-koua, pode-se aproxi-
utude em certos graus da Maçonaria escocesa; esperamos, aliás' mar o fato de que, nas 3.4 e 4.a lâminas do Tarô, um simbolismo celeste
;;1;;r-;;. outrã estudo ai iazots do simbolismo arquitetônico que §e re' (estrelas) é atribuído à Imperatriz e um simbolisrno terrestre (pedra cúbica)
---
lacionam
- com essa questão' ao Imperador; além disso, numericamente e pela ordem. dessas duas lâmi-
-io*isão
12. Le Ràgne àe la Quantité et les Sígnes. des Temps' cap' X{' nas, a Imperatriz se acha em correspondência com 3, número ímpar, e o
13. Em compensaçãoit"f^o".oÀpurtà não existe na figuração
dos"atrjbutos Imperador com 4, número par, o que reproduz ainda a mesma inversão.
do Relrrs hermético, ..--qu" é tiao ogryo u-m-1111"^ T1t::"nu'
áeta-de reminina, associada à Lult :
17. Voltaremos um pouco mais adiante a essa medida da Terra, a pro-
;'"'":'t"""0'i ;;'$;ã;;;"i;;;;ã'a
',rt'".õiià.po"aê"ôius pósito da disposição do Ming+ang.
ô"ã"i" .do sol " .9" l-'". .f11:::"-,X, 1"p,Tt': ,i?li.,X" 18. O Império organizado e dirigido por Fo-hi e seus sucessores era
;::
'âi. Ji";:'. *',;"" ;;;;;1"i,- 1,
i.'r;1ig
;,f ;;li;","i".';,';,r,,;;.;, ài iàuii'i, *1 -'lll'l1 ll ? 11 : ^ l"Tor'T;
P'\:::'o:'.'.o^,3*,,u^*Pfl*;^l,*Jl
constituído de modo a ser, como a Loja na Maçonaria, uma imagem do Cos'
mos em seu conjunto.
i,.iã*""i" o RÍll,'-.-o]^-o
E"lrl",i.,ã"Í,";f"J;i;;n-"à- 'o'
ffi à rt"iü ;;;;;-;; qual s9 reuniram as "virtudes do céu e da
ilã; -iriri.",
,'1"*:.:t:",i 19. O nível e a perpendicular são os atributos respectivos dos dois Vi-
gilantes (Wardens), e, por essa razáo, sáo postos em reiação direta com os
i.iiã" de fato, ;; J" éssência, apesar de dupla' res bina' qtl'anto a
de Que falamos antes e que áois termos do complementarismo representado pelas duas colunas do Templo
;;;-rd;;t*'exteriorei, como a força cósmica
de Fo-hi de Salomão. Convém notar ainda que, enquanto o esquadro de Fo-hi
lembram simbolicamente à, .urdu. das serpentes na- representação parece ser de -ramos iguais, o do Venerável deve, ao contrário, ter regular-
e de Niu-koua).
97
96
Faremos uma última observação referente à figuração de Fo-hi
e de Niu-koua: o primeiro é colocado nela à esquerda e o segundo
à direita 20, o que corresponde na verdade à preeminência que a tra-
rir dição extlemo-oriental atribui, mais comumente, à esquerda sobre
t a direita, e de que demos a explicação anteriormente 21. Ao mesmo
tempo, Fo-hi sustenta o esquadro com a mão esquerda e Niu-koua
o compasso com a mão direita. Aqui, em virtude da significação
respectiva do compasso e do esquadro, é preciso lembrar-se dessas Capírulo XVI
palavras que já mencionamos: "A Via do Céu prefere a direita, a
Via da Terra prefere a esquerda"22. Vê-se, portanto, de maneira
muito nítida, num exemplo como aquele, que o simbolismo tradi- O "N(ing-Tang"
cional é sernpre perfeitamente coerente, mas também que ele não
poderia se prestar a nenhuma "sistematização" mais ou menos es-
treita, uma vez que deve corresponder à quantidade de pontos de No firr-r clo terceiro milênio antes da era cristã, a China dividia-
i vista dos quais as coisas podem ser encaradas e que é por isso que se em nove províncias 1, segundo a disposição geométrica da figura
ele abre possibilidades de concepção realmente ilimitadas. 16 abaixo: uma no centro, oito nos quatros pontos cardeais e nos
quatro pontos intermediários. Essa divisão é atribuída a Yu, o Gran-

4 I 2
3 5 7
Irir. l6

I 'l
6
de (Ta-Yu !), que, dizem, percorreu o mundo para "medir a Ter-
ra"; efetuando-se essa medida segundo a forma quadrada. vê-se aqui
"Senhor da Ter-
o uso do esquadro atribuído ao Imperador como(diagrama
ra 3". A diviião em nove foi-lhe inspirada pelo chamado
Lo-cltou. ou "Escrito do Lago", que, de acordc com a "lenda", lhe

mente ramos desiguais; essa diferença pode corresponder, de modo geral, à l. o território da china parece ter estado compreendido então entre o
das formas do quadrado e de um retângulo mais ou menos alongado; mas, Rio Amarelo e o Rio Azul.
alóm disso, a desigualdade dos ramos do esquadro refere-se mais precisa- 2. E, ao menos curioso constatar a singular semelhança existente entre
mente a um "segredo" de Maçonaria operativa concernente à formação do o nonre e o epíteto de Yu, o crande, e os do Hu Gadartt da tradicão céltica;
triângulo retângulo cujós lados são, respectivamente, proporcionais aos núme- que há nisso como "localizações" posteriores e particula-
cleve-se conclr.iir claí
ros 3, 4 e 5, triângulo de que encontraremos, além disso, o simbolismo no riz:rrlasdg unt mesmo "protótipo" que ren]ontaria muito mais distante. e
seguimento deste estudo.
- 20. Nesse talvez até à prtipria Traclição primorclial? Essa aproximaçiro não é. além
caso, trata-se naturalmente da direita e da esquerda dos pró- clisso. mais exiraordini'rria clo qtte a que nos referimos noutrer obra a respeito
prios personagens e não das do espectador.
- 21. Na figura do Rebís, a metade masculina está, ao contrário, à di- rla 'ilha dos quatro lvtestres" visitacia pelo Imperaclor Yao, de quem Yu. o
Cranrle, foi juitamente, cnr primeiro lugar. o ministro (Le Roi tlu Monde,
reita e a metade feminina à esquerda; essa figura só tem, aliás, duas mãos, cap. IX)
a direita das quais segura o compasso e a esquerda o esquadro. 3. Esse esquaclro tem os ramos iguais. como dissemos' porque a forma
22. Tcheou-li. do Império e n il. suos divisôes eram consideradas como quadrados perfeitos.

98 99
fora trazido por uma tartaruga a e no qual os nove primeiros núme- que devemos encontrar ali, de certo modo e como "arquétipo", se
ros se dispõem de modo que formem o que se denomina "quadrado podemos nos exprimir assim, tudo que se encontra no conjunto do
mágico" u; por isso, essa divisão fazia do Império uma imagem do Universo; podia, portanto, haver desse modo, numa escala cada vez
Universo. Nesse "quadrado mágico" 6, o centro é ocupado pelo nú- mais reduzida, toda uma série de imagens semelhantes 10, dispostas
mero 5, que é o próprio "meio" dos nove primeiros números ?, e concentri,camente e levando finalmente ao próDrio ponto central on-
efetivamente, como vimos anteriormente, é o número "central" da de residia o Imperador 1!, que, como dissemos aiites, ocr-1p3v1 s !'d-
TerÍa, como o 6 é o número "central" do Céu 8; a província cen- gar do "homem verdadeiro" e exercia sua função como "mediador"
tral, correspondente a esse número, e onde residia o Imperador, entre o Céu e aTeffal:2.
chamava-se "Reino do Meio" (Tchoung-kouo e), e foi daí que essa
I denominação teria sido, em seguida, estendida a toda a China. Na Não devemos, aliás, nos surpreender com essa situação "centÍaln'
verdade, pode, aliás, haver alguma dúvida sobre esse último ponto, atribuída ao Império chinês em relação ao mundo inteiro; de fato,
pois, do mesmo modo que o "Reino do Meio" ocupava, no Império, sempre aconteceu o m€smo com toda região onde se estabelecera o
uma posição central, o próprio Império, em seu todo, podia ser centro espiritual de uma tradição. Esse centro, na verdade, era uma
concebido desde a origem como ocupando, no mundo, semelhante emanação ou reflexo do centro espiritual supremo, isto é, do centro
posição; e isso parece de fato resultar da circunstância de que ele da Tradição primordial de que todas as formas tradicionais regu-
era constituído de modo que formasse, como dissemos há pouco, iares derivam por adaptação a circunstâncias particulares de tempos
I uma imagem do Universo. Com efeito, a significação fundamental e lugares e, por conseguinte, era constituído à imagem desse centÍo
desse fato é que tudo está contido, na realidade, no centro, de modo supremo ao qual se identificava, de certo modo, virtualmente 13.
Por essa ruzáo é que a própria região que possuía tal centro espi
I

4. O outro diagrama tradicional, chamado Ho-tott ou "Quadlo do Rio", ritual, qualquer que fosse, era, por isso mesmo, uma "Terra Santa",
e no qual os números se dispõem em "cnrz", relaciona-se com Fo-hi e com e, como tal, designada simbolicamente por denominações tais como
I
o dragão, como o Lo-chou com Yu, o Grande, e a tartaruga. as de "Centro cÍo Mundo" ou "Coração do Mundo", o que ela era,
5. Somos obrigados a conservar essa denominação, porque não temos de fato, para aqueles que pertenciam à tradição da qual ela era
outra melhor à nossa disposição, mas ela apresenta o inconveniente de in- a sede e a quem a comunicação com o centro espiritual supremo
I
dicar apenas um uso muito especial (em conexão com a fabricação de ta-
lismãs) dos quadrados numéricos desse gênero, cuja propriedade essencial era possível através do centro secundário correspondente a essa
é que os números contidos em todas as linhas verticais e horizontais, assim tradição 1a. O lugar onde esse centro estava estabelecido era desti-
como as duas diagonais, dão sempre a mesma soma; no caso considerado aqui,
ll essa soma é igual a 15.
6. Se, em lugar dos números, colocamos o símbolo yírt-yang (fig. 9) 10.. Essa palavra deve ser tomada aqui nc sentido preciso que tem em
geometria o termo "figuras semelhantes".
no centro e os oito koua or trigramas nas outras regiões, temos, sob forma
quadrada ou "terrestre", o equivalente do quadro de forma circular ou "ce- 11. Esse ponto era, não precisamente o centrum ifi trigono centri, se-
leste", em que os koua sáo ordenados habitualmente, ou segundo a disposi- gundo uma fórmula conhecida nas iniciações ocidentais, mas, de uma forma
equivalente, centtum in quadrato centri.
ção do "Céu anterior" (Sien+ien), atribuída a Fo-hi, ou segundo a do "Céu
posterior" (Keou-tien), atribuída a Wen-Wang. 12. Podemos encontrar outros exemplos tradicionais de semelhante .,con-
7. O produto de 5 por 9 dâ 45, que é a soma do conjunto de nove centração" por graus sucessivos e demos noutra obra um que pertence à Ca-
números contidos no quadrado e do qual ele é o "meio". bala hebraica: "O Tabernáculo da Santidade de lehovah, a residência da
8. Lembraremos a esse respeito que 5 f 6 = 11 exprime a "união Shekinah, é o Santo dos Santos que é o coração do Templo, que é também
central do Céu e da Terra". No quadrado, os pares de números opostos o centro de Sião (Jerusalém), como a Santa Sião é o centro da Terra de
têm todos por soma 10 = 5 - X 2. Cabe observar ainda que os números Israel, como a Terra de Israel é o centro do mundo,, (cf. Le Roi du Monde,
ímpares ou yang estão colocados no meio dos lados (pontos cardeais), for- cap. VI).
mando uma cruz (aspecto dinâmico), e os números pares ou lín estão co- 13. Yer Le Roi du Monde, e também Aperçus sur I'Initiatíon, cap. X.
locados nos ângulos (pontos intermediários), delimitando o próprio quadrado 14. Demos há pouco um exemplo de tal identificação com o ,,Centro
(aspecto estático). do Mundo" no que concerne à Terra de Israel; podemos citar também, entre
9. Cf. o reino
de Mide ou do "Meio" na antiga lrlanda; mas est€ era outros, o do antigo Egito: segundo Plutarco, ,.os egípcios dão a seu país o
cercado apenas por quatro outros reinos, que correspondiam aos quatro pontos n9m9 .de Chêmia (Kêmi ot "terra negra", de onde veio a designação da
cardeais (Le Roi du Monde, cap. IX). alquimia), e o comparam a um coração" (Isis et Osiris, 33; tradução de Ma-
rio Meunier, pág. 116); essa comparação, sejam quais forem as iazões geo-
100
101
o lugar de sentam o Sol e a Lua; exprime assim a luz em sua manifestação
nado a ser, segundo a linguagem da Cabala hebraica,
manifestação dá Shekinan ou "presença divina" 15, isto é, em tetmos total, em suas duas modalidades, a direta e a refletida, ao mesmo
tempo, pois, embora a luz em si mesma seja essencialmente yang,
u*i..*o-oii.ntais, o ponto em que se reflete diretamente a "Atividade
deve, para manifestar-se, revestir, como todas as coisas, dois aspectos
tll do Céu", e que é.lustamente, como vimos, o "Invariável .Meio", complementares, que sã,o yang e yin, um em relação ao outro, e
determinado pàlo eÀóontro do "Eixo do Mundo" com o domínio das
que correspondem, respectivamente, ao Sol e à Lua 18, uma vez que,
possibilidadei hrrmunut 1o; e o gye- é -particularmente importante
notar a esse respeito, é que a Shekinqh era sempre representada no domínio da manifestação, o yqng ntJrrca existe sem o yin nem
-modo este sem aquele le.
como "Luz", do^ mesmo como o "Eixo do Mundo" eÍa)
como jâ indicamos, assemelhado simbolicamente a um "raio O plano do Minglang era conforme aquele que demos antes
I luminoso". para a divisão do Império (fig. 16), isto é, compreendia nove salas
Dissemos há pouco que, como o Império . chinês-.representava dispostas exatamente como as nove províncias; só que o Ming-tang e
em seu conjunto, pelo moão como era constituído e dividido, uma suas salas, em lugar de serem quadrados perfeitos, foram retângulos
imagem do Úniverio, uma imagem semelhante devia encontrar-se no mais ou menos alongados, variando a relação dos lados desses re-
I luga-r central que era a residência do Imperador' E, de fato, era
-Ming:Íang,
tângulos segundo as diferentes dinastias, como a medida da altura
,úmt eru o qtue alguns sinólogos, vendo apenas seu do mastro do carro de que falamos anteriormente, em virtude da di-
caráfier mais exterior, ãhumuru'n "Casa do Calendário", mas cuja ferença dos períodos cíclicos com os quais essas dinastias eram pos-
áãriÉnãçao, na realidade, significa literalmente "Templo da.Luz", o tas em correspondência; não entraremos aqui em detalhes a esse
qr""r, iiga imediatamente à observação que acabamos de fazer por respeito, pois só nos importa no . momento o princípio 20. O
I
úttimo 17.-o caráter ming é composto de dois caracteres que repre- Ming-tang tinha doze aberturas para o exterior, três em cada um
de seus quatro lados, de modo que, enquanto as salas do meio
gráficas ou outras que tenham podido ser .dadas exotericamente para isso' só
dos lados só tinham uma única abertura, as salas de ângulo tinham
ii-ir.lifi.à, na ieutiarOe, por umu assemelhação ao verdadeiro "Coração do duas cada uma; e essas doze aberturas correspondiam aos doze me-
---ii. yer
-Mundo". ses do ano: Írs da fachada oriental, aos três meses de primavera, as
e Le Syrnbolísme de. la croíx, cap.
Le Roi du Monde, cap. III,jerusalérn da fachada meridional, aos três meses de verão, as da fachada oci
-po.-- E isso o que erâ o Templo de
VII. para a trartição.hebraica e
ir* àu" ã t"U"rnáculo oú o Santo dos Santos era chamado mishkart dental, aos três meses de outono e as da fachada setentrional, aos
i para
á,,';tutita.l]to divino"; o Grão-sacerdote só podia entrar nele realizar,
óorno
---' -16. Imperador na China, a função de "mediador"'
o --I 18. São, na tradição hindu, os dois olhos de Vaishwânara, que estão
determinação de um lugar suscetível de corresponder cie fato a respectivamente em relação com as duas correntes sutis da direita e da
i,irr-iárel Meio'; dependia essãncialmente da ciência tradicional que já
"rr" o nome de "geografia sagrada"' esquerda, isto é, com os dois aspectos, yang e yin, da força cósmica de que
-----ir:-^ noutras ocasiõéso com
áesignamos falamos antes (cf. L'ÍIontne eí sot1. dev€nir selon le Yêdânta, caps. XIII e
ô;6. aproximar sentido dessa deslgnação do Ming-.tang danoutra signi-
XXI); a tradição extremo-oriental designa-os também como o "olho do dia"
ficaçáo iAentica inclusa na palavra 'i!gjgl', assim como indicamos
-itã"iipiiiii-tui e o "olho da noite", e só há necessidade apenas de fazer notar que o dia
t;tririt:io,i, ,up. xLvI); de onde a expresúo maçônica é yang e a noite yín.
;f,ogu. niuià iluminado muito ràgular". (cf. Le Roi du Monde,. cap. III).
" são aúbos imagens do cosmos (-Lo&a, no sen- 19. Já nos explicamos amplamente, noutro trabalho, sobre a signifi-
Aliãs, o Ming-tang e a Loja cação propriamente iniciática da "Luz" (Áperçus sur I'InítiaÍion, sobretudo os
iiaó etimológ"ico áesr" termo sânscrito), considerado como o domínio ou
;;;ú;-á;;anifeitaçao da Luz (cf. Le Ràgne de ta Quantité et les sisnes capítulos IV, XLVI e XLVII); a plopósito da Luz e de sua manifestação
aqui q$e o Ming-tatxs é "central", relembraremos também aqui o que foi indicado anteriormente so-
d;-t"i;*pt:;;;. m)."Devemos ainda acrescentar(cf. bre o simbolismo da Estrela flamejante, que representa o homem regenerado
íú.;à;;ó, lôcais áe iniciação da Tienii-lottei principais B. Favre, tres Sociétés
e divisas desta é: residindo . no "Meio" e colocado entre o esquadro e o compasso, que, como
;;;êt;; ,n chirr, págs. 138-i39 170); uma das
a base e o teto do Ming-tang, correspondem, respectivamente, à Terra e ao
;Úestruii a escuridào-(tsing), restaurar a luz (ming)"-, do mesmo modo que
o, úàrii.* Maçons O.r.m iiáUuttrar para "difundir a luz e reunir o que está
Céu.
u apiicação que foi feita disso nos tempos modernos às dinastias 20. Para esses poÍmenores, poder-se-á ver Granet, La Petlsée chínoise,
".pu.*;,;Tsin§, poi ,.hómofonia", representa a.penas um objetivo contirgente
uiis págs, 250-275. A delimitação ritual de uma área como a do Ming-tang
"' ,,êmanações'r
exteriores dessa organizaçáo,
-
constituía justamente a determinação de um templum no sentido primitivo e
;-;;Lp;ra;i;'âtiitriao a
algumas
etimológico dessa palavra (cf. Áperçus sur l'lnitiation, cap. XVII).
úuúÀiÍunOo no domínio das atividades sociais e mesmo políticas'

103
t02
três meses de inverno. Essas doze aberturas formavam, portanto,
um Zodíaco 21; correspondiam assim exatamente às doze portas da
ll "Jerusalém celeste", tal como é descrita no Apocalipse 22 e que é
também, simultaneamente, o "Centro do Mundo" e uma imagem do
Universo sob a dupla relação espacial e temporal 23.
O Imperador rcalizaYa, no Ming'tang, no curso do ciclo anual,
uma circum-ambulação no sentido "solar" (ver fig. 14), colo-
cando-se sucessivamente em doze pontos correspondentes às doze Capítulo XVII
aberturas e onde promulgava as ordens (yue-ling) convenientes aos
I doze meses; identificava-se assim sucessivamente aos "doze sóis", que O "Wang" e o Rei-pontifice
são as doze âdityas da tradição hindu e também os "doze frutos da
Árvore de Vida" no simbolismo apocalíptico 2a. Essa circum-
ambulação efetuava-se sempre com retorno ao centro, assinalando
I o meio do ano 2u, do mesmo modo que, ao visitar o Império, ele Resta-nos ainda clesenvolver outras consiclerações para fazer
percorria as províncias numa ordem correspondente e voltava, em comprecnder, dc urodo cabal, o cluc é, na traclição extremo-oriental,
ir ieguida, à sua residência central, e também, segundo o simbolismo a função real, ou, ao menos, o clue se costuma tracluzir assin:, mas
I
I extremo-oriental, o So1, depois do percurso de um período cíclico de maneira notoriamente insuficie'te, pois, se o Wang é efetivamente
(quer se trate de um dia, um mês ou um ano), volta a repousar o Rei, no sentido próprio dessa palavra, é também, ao mesmo tempo,
súre sua átvore, que, como a "Árvore de Vida" colocada no centro outra coisa. Isso resulta, alias, do próprio simbolismo do carhter
I
do "Paraíso terrestre" e da "Jerusalém celeste", é uma figuração do wang (Fig. l7), que ó composto de trôs traços horizontais, que
ll "eixo do Mundo". Deve-se ver com muita clareza que, nisso tudo, o
I Imperador aparece justamente como o "regulador" da própria ordem
cóJmica, o que pressupõe, além disso, a união nele ou por seu inter-
I médio das influências celestes e das influências terrestres, que, como
já indicamos antes, correspondem também, respectivamente, de certo
Fig. I7
modo, às determinações temporais e espaciais que a constituiÇão do
ll Ming-tang punha em relação direta umas corn as outras.
21. Essa disposição em quadrado representa, para falar em termos exa- |eprescutanl, respectivamente, col.no os dos tiigramas de clue fala-
tos,' uma projeção terrestre do Zodiaco celeste disposto circularmente.
22. CÍ. Le Roi du Monde, cap' XI, e Le Ràgns de la Quantité et les mos antes, o Céu, o Homem e a 'I-erra, e unidos, além ciisso, ent
Signes des Tentps, cap. XX. O plano da "Jerusalém celeste" é igualmen- seu meio, por um traço vertical, pois, dizem cls etintologistas,,.a
te quadrado. - função do Rei é de unir". Pelo que se deve entender, antei de tirclo,
23. O tempo é, além disso, "mudado em espaço" no fim do ciclo, de devido à própria posiçt1o do traço vcrrical, urrir o Céu e a Terra,
modo que todai as suas fases devem ser então encaradas simultaneamente
(ver
' 24.Le Ràgne de la. Quantité et les Sígnes des Temps, cap. XXII). O que esse caráter designa precisamente é, portanto, o Hontent
Ci, te Roi du Monde, caps;'IV e XI, e Le Symbolisme de la conro ternlo rnediano da crancle Tríade e consideraclo especialn:ente
Croíx, cap, IX. em seu papel de "nrecliaclor". Para mais precisiro aincla, acrescenta-
25. Esse meio do ano situava-se no equinócio de outono quando o ano Iemos que o Homcm ntio cleve ser consideraclo aqui apeuas conrL)
começava no equinócio de primavera, como aconteceu, de modo geral, na
tradiçâo extremo-oriental (embora tenha havido, nesse sentido, em certas épo-
-mudanças
o "homem primordial", rnas dc fato como o próprio ,.Homem Uni_
cas, que devem ter correspondido às mudanças de orientação de versal", pois o traço vertical nito ó outra coisa que o eixo que Llne
que falamoi antes), o que é, a1iás, normal em virtude da localização geo- efetivamente entre si todcls os estaclos clc exisiência, enqr.ianto o
§ráfica dessa tradição, uma vez que o Oriente corresponde à primavera; tor- centro em que se situa o "lromeur prinrorJial", e que é aisinalado
iu*os u lembrar a respeito que o eixo Leste-Oeste é um eixo equinocial,
enquanto o eixo Norte-Sul é um eixo solsticial' no carriter pelo ponto dc r'rlconl.r0 co traÇo vertical com o traço

104 105
mediano horizontal, no meio deste, só se refere a um único estado, traços horizontais do caráter wangs; e ele é ainda, em relação ao
que é o estado individual humano 1; de resto, a parte do caráter mundo humano em particular, o "Flomem Único", que sintetiza em
que se refere propriamente ao Homem, que compreende o traço si e exprime integralmente a Humanidade (considerada, a um só
vertical e o traço mediano horizontal (visto que os dois traços, su- tempo, como natur,eza específica, do ponto de vista ósmico, e como
perior e inferior, representam o Céu e a Terra), forma a cruz, isto coletividade dos homens, do ponto de vista social), do meemo modo
é, o próprio símbolo do "Homem Universal":. Por outro lado, essa que a Humanidade, por sua vez, sintetiza em si os "dez mil seres",
identificáção do Wang ao "Homem Universal" encontra-se ainda isto é, a totalidade dos seres desse mundo 6. É por isso que ele é,
confirmada por textos como essa passagem de Lao-tsé: "A Via é como vimos, o "regulador" da ordem cósmica tanto quanto da ordem
grande; o Céu é grande; a Terra é grande; o Rei também é grande. social 7; e, quando cumpre a função de ''mediador", são, na reali-
No m,eio há, portanto, quatro grandes coisas, mas o Rei apenas é dade, todos os homens que a cumprem em sua pessoa: por isso,
visível"iJ. I na China, somente o V/ang ou Imperador podia realizar os ritos
públicos correspondentes a essa função e, sobretudo, oferecer o sa-
Se, pois, o lYang é essencialmente o "Homem LJniversal", crifício ao Céu que é o tipo mesmo desses ritos, pois é nele que o
aquele que o representa e que executa a sua função deveria, pelo papel do "mediador" se afirma do modo mais manifesto 8.
menos em princípio, ser um "homem transcendente", isto é, ter
realizado o propósito final dos "mistérios maiores". E é como tal Na medida em que o Wang identifica-se ao eixo vertical, este é
que ele pode, como já indicamos antes, identificar-se verdadeiramente clesignado como a "Via Real" (Wang-Tao); mas, por outro lado,
á "Via Central" ou'Via do Meio" (Tchoung-Tao), quer dizer, ao esse mesmo eixo é também a "Via do Céu" (Tien-Tao), como
próprio eixo, seja esse eixo representaclo pelo mastro do carro, pelo vemos pela figura na qual a vertical' e a horizontal representam,
pilar central do Ming-Íang oü por outro símbolo qualquer equiva- respectivamente, o Céu e a Terra (Fig.7), de modo que, em última
lente. Tendo desenvolvido todas as suas possibilidades, tanto no análise, a "'Via Real" é idêntica à "Via do Céu" 0. Além disso, o
sentido vertical como no horizontal, ele é por isso mesmo o "Senhor
de três mundos" Í, que podem também ser representados pelos três 5. Basta para isso uma mudança de ponto de vista correspondente ao
que explicamos anteriormente â respeito. do Trihhuvana comparado à Tríade
ext remo-oriental.
l. Granet parece não ter compreendido nada das relações do eixo e do
centro, pois esci"re, "A noção cle centro está longe de ser primitiva; ela 6. Notar-se-á que a qualidade de "senhor dos três mundos" corres-
ponde aqui ao sentido vertical, e a de "Homem Único" ao sentido horizontal.
substituiu a noção de eixo" (Le Pensée chinoise, pág. 104). Na realidade, os
dois símbolos óempre coexistiram, pois não são, de modo nenhum, equiva- 7. A palavra rex, "rei", exprime etimologicamente a função "regulado-
lentes e não podem, por conseguinte, substituir um ao outro. Esse é um exem- ta", mas se aplica comurnente só ao ponto de vista social.
plo bastante claro dos mal-entendidos a que pode conduzir o preconceito 8. De fato, o sacrifício ao Céu é oferecido também no interior das
de querer considerar tudo "historicamente". organizações iniciáticas, mas, desde o momento em que náo se trata de
2. E por essa cruz que, por esse motivo, representamos o termo me- ritos públicos, não há nisso nenhuma "usurpação"; por isso, os imperadores,
diano da Tríade, na figura 6. que eram também iniciados, só podiam ter uma única atitude, que era ignorar
3. Tao-tc-kittg, cap. XXV. Observemos, de passagem, que esse texto oficialmente esses sacrifícios, e foi o que na verdade fizeram. Mas quando
bastaria por si só
-para-
refutar a- opinião daqueles orientalistas que, tomando só foram, na realidade, simples profanos, esforçaram-se às vezes pcr inter-
tudo num sentido ;'material" e coniundindo o símbolo com a coisa simboli- ditálos, mais ou menos inutilmente, aliás, porque não podiam compreender
que outros que não eles eram de fato e "pessoalmente" o que eles próprios
zada, imaginam que o céu e a Terra da tradição extremo-oriental não são
outra coisa que o céu e a terra visíveis.
só eram de modo simbólico e só no exercício da função tradicional de que
estavam investidos.
4. Cf . Le Roí du Monde, cap. IV. Se quisermos registrar nesse sen- 9. A propósito da "Via do Céu", citaremos este texto do Yi-kíng:
tido pontos de comparação entre diversas- tradições, poderemos observar que "Levantar a Via do Céu chama-se yin com yang; levantar a Via da Terra
é .r"..u qualidacle qr" É..*.t, representado, aliás, como "rei" -e-."pontífice" chama-se mole (jeu) com duro (jo); levantar a Via do Homem chama-se
uo -"t-b tempo, é chamado triitegístos ou "três vezes grande". Podemos humanidade com justiça (ou bondade com eqüidade)". Aplicada aos três
também aproximar dessa rlesignação a de "três vezes potente", empregada
termos da Grande Tríade, é a neutralização e a unificação dos complemen-
nos ,,graus de perfeição,, da Maçonaria escocesa e que implica precisamente
tares, pela qual se obtém o retorno à indistinção principal. Deve-se obser-
a delJgação de-um poder que deve se exercer nos três mundos' -
106
t07
Wang só é de fato tal se possui o "mandato do Céu" (Tien-Minglo), Ia; mais precisamente ainda, devido ao fato de sua
dessa palavra
em virtude do qual ele é reconhecido legitimamente como seu Filho o eixo, ele é, simultaneamente, ,,aquele que faz a
ideniificação com
{Tien-tseu)11, e esse mandato só pode ser recebido segundo o eixo ponte" e a própria "ponte". E, além disso, poderíámos áizer que
considerado em sentido descendente, isto ó, em sentido inverso e essa "ponte" pela qual se opera a comunicação com os estados supe-
recíproco ao daquele em que se exercerá a função "mediadora", riores e, através destes, com o próprio Princípio, só pode ser ver-
uma vez que essa é a direção única e invariável segundo a qual se dadeiramente estabelecida por aquele que a ela se identifica de
exerce a "Atividade do Céu". Ora, iss<l pressupõe, senão necessaria- maneira efetiva. Por essa razão, pensamos que a expressão ,,Rei-
mente a qualidade de "homem transcendente", pelo menos a de Pontífice" é a única que pode traduzir, de módo adeqúado, o termo
"homem verdadeiro", residente de fato no "Invariável Meio", pois
é nesse ponto central apenas que o eixo encontra o domínio do YoryF, porque é a única que exprime completamente a função que
implica. E vemos assim que essa função apresenta um duplo àspecto,
estado humano 12.
pois é, a um só tempo, na realidade, urrla função sacerdotal uma
Esse eixo é ainda, segundo um simbolismo comum à maioria função real 15. "
a "ponte" que liga, quer a Terra ao Céu como aqui,
das tradições, Isso, aliás, compreende-se facilmente, pois, se o Wang é, náo
quer o estado humano aos estados supra-individuais, ou ainda o mesmo um 'ohomem transcendente" como deve ser em princípio,
mundo sensível ao mundo supra-sensívcl. Nisso tudo, com efeito, mas apenas um "homem verdadeiro", chegado ao termo dos ,,mis-
trata-se sempre de fato do "Eixo do Munclo", mas considerado em térios menores", ele está, pela situação "central', que ocupa, a partir
sua totalidade ou apenas em alguma clc suas porqõcs, mais ou menos -espi-
desse momento de fato, além da distinção dos dois poderes,
extensa, segundo o maior ou menor grau de universalidade no qual ritual e temporal; poderíamos mesmo dizer, em termos de simbo-
I
esse simbolismo ó tomado nos clilerentes casos. Vê-se, além disso, lismo "cíclicox, que ele é "anterior" a essa distinção, de vez que
por isso, que cssa "ponte" deve ser compreendida como essencial- está reintegrado no "estado primordial", onde nenhuma função es-
I
mente vertical 1r|, e esse é um ponto importante ao qual talvez vol- pecial já está diferenciada, mas que contém em si as possibilidades
temos em algum outro estudo. Sob esse aspecto, o Wcutg surge correspondentes a todas as funções pelo próprio fato de ser a ple-
I precisamente como o Pontifex, no sentido rigorosamente etimológico nitude integral do estado humano 16. Em todo caso, e mesmo quando

var que os dois complementares que se referem ao Homem coincidem exata- 14. Cf. Atttorité spirituelle et pouvoir temporel, cap. IV.
I mentó com as duas colunas laterais da árvore sefirótica da Cabala (Misericór- lJ. . Poderíamos perguntar por que não dizemos de preferência ,.pon-
dia e Rigor). tífice-Rei", o--que. pareceria talvez mais lógico à primeira vista, visto que a
10. A palavra ming, "mandato", é homófona daquela que significa "luz", função "pontifical" ou sacerdotal é superior, por süa natureza, à função- real,
e também de outras palavras que significam "nome" e "destino". - «O e assim se assinalaria sua preeminência, designando-a em primeiro lugar. Se
poder do Soberauo deriva do poder do Princípio; sua pessoa é escolhida pelo preferimos, no entanto, dizer "Rei-pontífice,, é porque, enünciando a 1unção
Cén" (Tchoang-tseu, cap. XII). real antes da função sacerdotal (o que se faz taúbém, além disso, comu-
mente e sem mesmo pensar nisso quando se fala dos ,,Reis-Magos,,), segui_
11. Nos reportaremos aqui ao que expusemos anteriormente sobre o mos a ordem tradicional de que falamos, a propósito do termo yin-yang, e
Homem como "Filho do Céu e da Terra". que consiste em exprimir o "exterior', antes dô ,tnterior,', pois a iunção ieal
12. Admite-se, além disso, que o "mandato do Céu" pode ser recebido é evidentemente de ordem mais exterior do que a funçãõ sacerdotal; além
diretamente apenas pelo fundador de uma dinastia, que o transmite, em se- do mais, em, suas re-lações entre si, o sacerdócio é tang e a rcaleza ê yin,
guida, a seus sucessores. Mas, se se produz uma degenerescência tal que estes como Ananda K. Coomaraswamy o demonstrou muitó bem em sua obra
venham a perder, por falta de "qualificação", esse mandato, a dinastia deve Spiritual Áuthority and Temporol Power in the Indian Theory ol Govern-
ter fim e ser substituída por outra. Há, assim, na existência de cada dinastia, ntetxt, e como o indica, por outro lado, no simbolismo das chaves, a posição
uma marcha descendente que, em seu grau de localização no tempo e no respectivamente vertical e horizontal daquelas que representam essal duas
espaço, corresponde, de certo modo, à dos grandes ciclos da humanidade funções, assim como o fato de que a primeira é de oulo, correspondente ao
terrestre. Sol,e a segunda de prata, correspondente à Lua.
13. Cf. Eç-Çirâtul-mustaqim na tradição islâmica (ver Le Symbolisme 16. Cf . Autorité .rpírituelle et pouvoir tentporel, cap. I, e também, sobre
de la Croix, cap. XXV). Podemos citar ainda aqui, entre outros exemplos, a a "nova subida" do ciclo até o "estado primordial,, nos ,,mistérios menores,',
ponte Chinvar do Masdeísmo. Aperçus sur I'Inítiation, cap. XXXIX.

108 109
ele é apenas simbolicamente o "Homem Único", o que ele repre- mais afastado da ordem principal, a diferenciaçáo do yang e do yin
senta, devido ao "mandato do Cért" 77, é a própria fonte ou prin- determina a produção de duas correntes distintas, representadas
cípio comum desses dois poderes, princípio de que a autoridade espi- pelos diversos símbolos de que já falamos, e que podem ser des-
ritual e a função sacerdotal derivam diretamente, e o poder temporal critos como se ocupassem, respectivamente, a "direita" e a "esquerda"
e a função real indiretamente e p,or intermédio deles. Esse princípio em relaÇão à "Via do Meio" 20.
pode, na verdade, ser dito propriamente "celeste", e daí, pelo sacer-
dócio e a realeza, as influências espirituais descem gradualmente,
segundo o eixo, primeiro ao "úundo intermediário", depois ao
próprio mundo terrestre 18.
Dessarte, quando o Wang, tendo recebido o "mandato do Céu",
I
direta ou indiretamente, identifica-se ao eixo considerado no sentido
ascendente, quer, no primeiro caso, de fato e por si mesmo (e
voltamos a lembrar aqui os ritos que representam essa ascensão e
l, que mencionamos antes), quer, no segundo caso, virtualmente e pela
iealizaçáo apenas de sua função (e é evidente que, sobretudo, um
rito como o do sacrifício ao Céu age numa direção'"ascensional"),
ele se torna, por assim dizer, o "canal" pelo qual as influências
descem do Céu para a Terralr). Vemos aqui, na açáo dessas influên-
cias espirituais, um duplo movimento alternativo, ascendente e des-
cendente de cada vcz, ao qual correspon'de" na ordem inferior das
influências psíquicas ou sutis, a dupla coÍrente da força cósmica de
que se tratôu anteriormente; mas é preciso ter muito cuidado de
observai que, no que se refere às influências espirituais, esse movi-
mento efeiua-se segundo o próprio eixo ou "Via do Meio", pois,
oomo diz o Yi-king, a "Via do Céu é yin com ldfiq", estando então
os dois aspectos complementares indissoluvelmente unidos nessa
mesma direção "central", enquanto, no domínio psíquico, que está

17. Ele possuí então esse rn-andato por transmissáo, como o indicamos
antes, e é o que Ihe permite, no exercício de sua função, ocupar o lugar do
"homem vercládeiro" ê até do "homem transcendente", apesar de não ter rea' 20. A "Via do Meio" corresponde, na ordem "microcósmica", à artéria
lizado "pessoalmente" os estados correspondentes. Há nisso algo compl' sltil
- nas organizações ini-
rável à transmissão da influência espiritual o:t-. barakah
sushumná da tradição hindu, que leva ao Brahma-randhra (representado
pelo ponto em que o mastro do carro sai do dossel, ou o pilar central do
ciáticas islân-ricas: por essa transmissão, um KhalíÍah pode ocupar o lugar do stúpa do domo), e, na ordem "macrocósmica", ao "raio solar" chamado igual-
Sheikh e desempenhar, de modo válido, sua função, sem, no entanto, ter mente sttshttmna e com o qual essa artéria está em comunicaçáo constante;
chegado de fâto ao mesmo estado espiritual que este. as duas correntes contrárias da força cósmica têm por correspondência no
18. Cf . Autorité 'spirituelle et Pouvoh temporel, cap. IV. ser humano, como já dissemos, os dois nâdis rJe direita e de esquerda, rdá e
19. Falanclo aqui de "canal", fazemos alusão a um simbolismo que se pingalâ (cf. L'Homme eí son devenír selon le Vêdânta, cap. XX). Poder-se-á
encontra expressamente em diferentes tradições; nesse sentido relembraremos também fazer uma aproximação com â distinção das duas "vias" tântricas
não só os itâdis ou "canais", pelos quais, segundo a tradição hindu, as cor- de direita e de esquerda, de que falamos a propósito do vajra, e que, sendo
rentes da força sutil circulam no ser humano, mas também e sobretudo, na representadas pot uma simples inclinação do símbolo axial num sentido ou
Cabala hebraica, os "canais" da árvore sefirótica, pelos quais, precisamente, noutro, surgem assim como se fossem, na realidade, apenas especificações
as influências espirituais se difundern e se comunicam de um mundo a outro' secundárias da "Via do Meio".

110 111
distintivo,- visto que passou da circunferência ao círculo B, o estado
humano deverá necessariamente ser para e1e o estado do ser
total, embora não o seja ainda de modo efetivo a. ".oirul
_ correspondendo, respectivamente, ao termo dos
,,mistérios
maiores" e ao dos "mistérios menores,,, o ,,homem transcendente,, e
o "homem verdadeiro" são os dois mais elevados graus da nieiarquia
taoísta. g.u* iriuiio..,
Capítulo XVIU _Esta compreende, além disso, três outrãs
àqueles.õ, que representam naturalmente etapas contidãs no curso dos
"mistérios menores" 6, e que são, na ordem descendente, o ,,Homem
O Homem Verdadeiro e o Ifomem Transcendentr da Via", isto é, aquele que está na Via (Tao_jen), o ,,homem dotado,,
(tcheu-jen) e, finalmente, o .,homem sábio,,
icheng_jen),."á, a. u_u
"sabedoria" que, embora sendo algo mais do qrJ á ,,óíeniiu,l- e, ,o
Falamos constantemente, no que precede, do ,,homem verdadeiro,, e,ntgnto, apenas de ordem exterior. Com efeito, esse grau mais
baixo
e do "homem transcendente", mas precisamos ainda dar, nesse sen_ da hierarquia taoísta coincide co.m o grau mais elevaão oa t úaiqriu
tido, alguns esclarccimentos complementares e, em primeiro lugar, conÍucionista, estabelecendo assim a continuidade entre .úr,- o qo"
tl está de conformidade com as relações normais do Taoísmo' .à-
observaremos que o "homem verdadeiro,, (tchenn-jen) foi também o
chamado por alguns de "homem transcenclente',, mas essa designação confucionismo, na medida em que constituem, respectivamente, o
lado eso:érico e o lado exotérico àe uma mesma tradição: o primeiro
I é antes inadequada, uma vez que ele é apenas aquele que atúgiu a
tem assim seu ponto de partida justamente onde o segundo ,à d.té..
plenitude do estado humano e só pode ser dito veràadeiraÀente
"transcendcnte" o que está além desse estado. É por isso que convém
A hierarquia confucionista,_ por seu turno, .o-p.eúd" três graus,
I
que são, na ordem ascendente, o .,letrado,, (iheu) 7, o ,,hãmem
reservar essa denominação de ',homem transcendente,, paÍa aquele de ciência" (hien) e o "sábio,, (cheng). Diz-se: ,,O óheu olha (quer
I
que se chamou às vezes "homem divino,' ou .,homem espiriiual,, dizer, toma como modelo) o hien, o hien olha o cheng, o cheng olha
(cheun-ien), isto é, para aquele que, tendo chegado à realização o C9Y", pois, do ponto-limite entre os dois domí,iás, exotéiico e
total e à "Identidade Suprema" não é mais, falando com exatidão, esotérico, ondeo último se encontra colocado, tudo que está acima
ll um homem no sentido individual dessa palavra, uma vez que ultra- dele confunde-se, de algum modo, ern sua '.,perspectiva,, com o
passou a humanidade e está de todo liberto de suas condições próprio Céu.
específicas 1, tanto quanto de todas as outras condições limitativas
de qualquer estado de existência que seja 2. Aquele tornou-se, por- Esse último ponto é particularmente importante para nós, por_
que-nos permite compreender como parece pioduzir-se'às vezes certa
tanto, verdadeiramente o "Homem LJniversal,,, ao passo que não
confusão entre o papel do "homem transcen,lente', e o do ,,homem
ocorre o mesmo com o "homem verdadeiro',, que é apenas idêntico
de fato ao "homem primordial',. Pode-se, no entanto, dizer que este
jâ é, pelo menos virtualmente, o 'Homem Universal,, .ro ,"niido d" 3. É o que o Budismo exprime com o termo anâgami, isto é, .,aquele
que não retorna" a um outro estado de manifestaçãlo
que, desde que não tem mais de percorrer outros estados em modo I' Inítiation, cap. XXXfX).
óf. )iirç* ,r,
4. Cf. Le S\mbolisme da la Croix, cap. XXVII.
5. _ Esses
graus acham-se mencionado. nu- texto taoísta do século IV
L Retornaremos aqui ao que foi dito antes da espécie a propósito das
ou V da era cristã (I,Ven-tseu, VII, lg).
-
relações entre o ser e o meio. 6.. .Observaremos que,,_ em contrapartida, as etapas que podem existir
Z. "No corpo de um homem não há mais um homem. . . Infinitamen- nos "mistérios maiores" não são enuiciadas clistintamenti ú.-,ão íort"-
tefequena é a razão.por_que é ainda um homem (a.,marca', de que fala- mente "indescritíveis" nos termos da linguagem humana.
reqol .pqs adiante), infinitamente grande é a razáo por que ele é um com -. .7.. Nesse está compreendida toda a hierarquia dos funcionários
o Céu" (Tchoang-tseu, cap. V). oficiais, qu9:ó.grau
corresponde aisim ao que há de mais .rt..iãr-"ã-piáp.i"
ordem exotérica.
tt2
113
verdadeiro": não é apenas, de fato, porque, como dizíamos há pouco, nenhuma ação exterior: o "Homem Único", exercendo a função de
esse último é virtualmente o que o primeiro é de fato, nem porque "motor imóvel", comanda do centro todas as coisas, sem intervir em
há, entre os "inistérios menores" e os "mistérios maiores", certa nenhuma, como o Imperador, sem sair do Ming-tang, ordena todas
correspondência, que representa, no simbolismo hermético, a ana- as regiões do Império e regula o curso do ciclo anual, pois
logia das operações que levam, respectivamente, à "obra do branco" e "concentrar-se no não-agir é a Via do Céu e". "Os antigos sobe-
à "obra do vermelho". Há nisso ainda algo mais. É que o único ponto ranos, abster.rdo-se de toda ação pessoal, deixavam o Céu governar
do eixo que se situa no domínio do estaclo humano é o centro desse por eles. . . Na cumeeira do Universo, o Princípio influencia o Céu e
estado, de tal modo que, para quem não chegou a esse centro, o a Terra, que transmitem a todos os seres essa influência, que, tor-
próprio eixo não é perceptível diretamente, mas apenas por esse ponto nada bom governo no mundo dos homens, faz eclodir os talentos e
que é sua "marca" no plano representativo desse domínio. Isso equi- as capacidades. Em sentido inverso, toda prosperidade vem do bom
vale, noutras palavras, ao que já dissemos, que uma comunicação di- governo, cuja eficácia deriva do Princípio, por intermédio do Céu e
reta com os estados superiores do ser, efetuando-se segundo o eixo, da Terra. Por isso é que os antigos soberanos não desejando nada,
só é possível do centro mesmo. Para o rcstatttc do domínio humano, o mundo estava na abundância 1('; eles não agiam e todas as coisas
só pode haver comunicação indireta, por uma espécie de refração a se modificavam segundo a nolma 11; eles perrnaneciam mergulhados
partir desse centro. Assim, por um Iado, o sicr que está estabelecido em sua meditação e o povo se mantinha na mais perfeita ordem. É
no centro, sem se ter identificaclo ao cixo, pode desempenhar reai- o que o adágio antigo resume assim: para aquele que se junta à Uni
mente, em relação ao estado hutnano, o papel cle "mediador" que dade tudo prospera; para quem não tem nenhum interesse pessoal,
o "Homem Universal" desempenha para a totalidade dos estados; mesmo os gênios são submissos 12".
e, por outro laclo, aquclo cltte ultrapassou o estado humano, ele- Devemos, portanto, compreender que, do ponto de vista hu-
vando-se pelo cixo aos estados superiores, é, por isso mesmo, "perdido mano, não existe nenhuma distinção aparente entre o "homem
de vista", se poclcmos nos expressar assim, para todos os que estão transcendente" e o "homem verdadeiro" (embora, na realidade, não
nesse estaclo e nho chcgaram ainda a seu centro, inclusive os que haja entre eles nenhuma medida comum, como não existe entre o eixo
possuem graus iniciáticos efetivos, mas inferiores ao do "homem e um de seus pontos), uma vez que o que os diferencia é justamente
verdadeiro". Aqueles não têrn desde então nenhum meio de 'distinguir o que está além do estado humano, de modo que, se ele se manifesta
o "homern transcendente" do "homem verdadeiro", pois, do estado nesse estado (ou melhor, em relação a esse estado, pois é evidente
humano, o "homem transcendente" só pode ser percebido por sua que essa manifestação não implica, de nenhum modo, um "retorno"
"marca" s, e essa "marca" é idêntica à figura do "homeril verdadeiro". às condições limitativas da individualidade humana), o "homem
Desse ponto de vista, um é. portanto, indiscernível do outro. transcendente" só pode surgir nela como um "homem verdadeiro 13".
Assim, aos olhos dos homens comuns e mesmo dos iniciados que Não é certamente menos verdade que, entre o estado total e incon-
não terminaram o curso dos "mistórios menores", não só o "homem dicionado, que é o do "homem transcendente", idêntico ao "Homem
transcenclente", mas também o "homem verdadeiro" surge como o Universal" e um estado conclicionado qualquer, individual ou
"mandatário" ou representante do Céu, que se manifesta a eles através
dele de certo modo, pois sua ação, ou melhor, sua influência, pelo 9. Tchoang-tseu, cap. XI.
próprio fato de ser "central" (e aqui o eixo não se distingue do centro, 10. Há algo comparável a isso na noção ocidental do Imperador se-
que é a sua "marca"), imita a "Atividade do Céu", como iá expli- gundo a concepção de Dante, que vê na "cupidez" o vício inicial de todo
camos anteriormenle, e a "encarna", por assim dizer, em relação ao mau governo (cf. principalmenle Convíto, IV, 4).
mundo humano. Essa influência, sendo "não-agente", não implica 11. Do mesmo modo, na tradição hindu, o Chnkravarti ou "monarca
universal" é literalmente "aquele que faz girar a roda", sem participar de
seu movimento.
8.Essa "marca" é o que se chamaria, em linguagem tradicional do 12. Tchoang-tseu, caP. XII.
Ocidente, vestigittm pedís. Só o que fazemos é indicar, de passagem,, esse 13. Isso pode acabar de explicar o que dissemos noutra obra a respeito
ponto, pois há aí todo um simbolismo que requereria ainda um amplo desen- XXXVU)'
dos Çufís e dos Rosa-cruzes (Aperçtts sur I'Ittitiation, cap.
volvimento.

115
114
!

ril
,l:
supÍa-individual, por mais elevado que seja, não é possível nenhuma
coinparação, quando os consideramos tais quais são verdadeiramente
si -"smos. Mas aqui falamos apenas do que são as aparências do
"m
ponto de vista do estado humano. De resto, de um modo mais geral e
ãm todos os níveis das hierarquias espirituais, que não são outra
colsa que as hierarquias iniciáticas efetivas, é apenas_através do grau
que lhã é imediatamente superior que cada grau_ pode perceber tudo
qjue está acima dele indistintamenfe e receber-lhe as influ€ncias; e, Capítulo XIX
natr.lralmentê, os que atingiram certo grau podem sempre, se o qui-
,,situar" em não importa que grau inferior àquele, ttDeus", ttHomo", t'Natura"
§erem e couber, se
sem ser, de nenhum modo, aÍetados por essa "descida" aparente,
visto quã posglrem a Íortiori e como "por acréscimo" todos os estadss
corresponãentes, que, em última análise, representam para eles aponas Compararemos ainda à Grande Tríade extremo-oriental outro
1a. É assim que
tantas' outras 'fúções" acidentais e contingentes ternário, que pertencs originariamente às concepções tradicionais do
o "homÊm transcendente" pode exgrcer, no mundo humano, a função
por outro Ocidente, tais como existiam na Idade Média, e que á, além disso,
que é propriamente a do "homem verdadeiro", enquanto,
é, de modq para coúecido mesmo na ordem exotérica e simplesmente "filosófica".
lãdo e'inversamente, o "homem verdadeiro" certo
Esse ternário é o que costumeiramente se enuncia pela fórmula Deus,
ess€ mesmo mundo, como o represe[tante ou o "substituto" do
Homo, Natura, Vê-se, em geral, em sbus três termos, os objetos a
"homem transceode/rto". que se podem relacionar os diferentes coúecimentos que, na lin-
ggagem da tradição hindu, chamar-se-iam "não-supremo§", isto é,
em síntese, tudo que não é o conhec.imento metaffuico puÍo e
transcendente. Aqui, o termo módio, isto é, o Homem, é inegavel-
meate o Íresmo que na Grande Tríade. Mas devemos ver de que
modo e em gue medida os dois outros termos, designados como
"Deus" e a "Natureza", cor-:respondem, respectivamente, aq Céu e
à Terra.
Em primeiro lugar, ó preciso observar bem que Deus, nesse caso,
não pode ser considerado o Princípio tal qual é em si, pois este,
estando além de qualquer distinção, nãg pode entrar em correlação
com seja o que for, e o modo como o ternário se apresenta implica
certa correlação e até mesmo uma espécie de comlÍementarismo entre
Deus e a Natureza. Trata-se, polt4ntq necessariamente de um ponto
de üsta que podemos dizer mais "imanente" do que'otranscendente"
em relagáo ao Cosmos, de que esses dois termos são como os dois
pólos que, lnesmo estando fora da manifestagão, não podem, no
entanto, ser considerados distintamente senâo do ponto de vista deste.
Além do mais, nesse conjunto de coúecimentos que se designava com
14. Cf.. Les Ftats multtgles de fête, cap. X[I. "Em toda constituição o termo goral "filosofia", segundo a acepção antiga dessa palawa,
hierárquica, as ordens superiolos possueÍn a luz e as faculdades das ordeüs Deus era apenaÍi o objeto do que se chamava "teologia racional",
inferioies, iem que estas ienham ieciprocameute a perfeigão daguelas" (Saint para distinguiJa da "teologia revelada'', que, na verdade, é ainda
Denys L'Aréopagito, De la Hiárarchie céleste, cap. V).
r17
LL6
"não-suprema", mas que ao menos representa o conhecimento do sentido menos estrito e mais extenso do que aquele. e a ela se re-
princípib na ordem eiotérica e especificamente religiosa, isto é, na laciona o estudo de tuclo que se pode chama[ a natureza manifes-
medidà em que ela é possível, quando se leva em conta, ao mesmo tada, isto é, de tudo que constitui o próprio conjunto do meio
tempo, limitei inerentei ao domínio correspondente e formas especiais cósmico inteiro i. Poder-se-ia justificar essa extensão, até certo pon-
de óxpressão de que a verdade deve revestir-se para se adaptar a esse to, dizendo-.se que essa natureza é encarada então sob o aspecto
ponto cle visia párticular. Ora, o que é "racional", isto é, o que de- "substancial" em vez de seu aspecto "essencial", ou que, Çomo no
pende somentc clo exercício das faculdades individuais humanas, não Siinkhya hindu, as coisas são consideradas nela propriamente como
pocleria, eviclentcmente, atingir, de nenhum modo, o próprlo Princípio. produções de Prakriti, reservando-se, por assim dizer, a influência
ã só pocle, ,as condições mais favoráveis 1, apreender.. sua relação de Purush«, sem a qual, entretanto, nenhuma produção poderia ser
u Cosmos i. Daí, é fácil ver que, ressalvada a diferença dos efetivamente realizada, pois, a partir exclusivamente da potência pura,
"o-
pontos cle vista que sempre cabe levar em conta em tal caso, isso nada poderia evidentemente passar da potência ao ato; talvez haja,
ôoincicle plecisamente com o que a tradição extremo-oriental designa de fato, nessa maneira de encarar as Çoisas, um caráter inerente ao
como o Cé,,, ,,r, vez que, do Universo manifestado, o Princípio, próprio ponto de vista da "física" ou "filosofia natural 6". Entre-
segundo cstc, só pode sei alcançado de certo modo por e através do lanto, uma justificação mais completa pode ser tirada da observação
4".
Céu'r, pois "o Céu ó o instrtrmento clo Princípio de que o conjunto do meio cósmico é considerarlo como se formasse,
Por outro laclo, sc cnlendcrmos a Natureza cm seu senti'do pri- em relação ao homem, o "mundo exterior"; com efeito, trata-se então
meiro, isto ó, como a Naturcza prirnorclial s incliferenciada que é de uma simples mudança de nível, se podemos dizer assim, correspon-
a raiz de toclas as coisas (a Múta-Pr«kritl da traclição hindu), será dendo mais exatamente ao polto de vista huntano, pois, pelo menos
natural c;uc cla se iclentifiquc à 'l'erra da tradição extremo-oriental. de modo relativo, tudo que é "exterior" pode-se dizer "terrestre",
Mas o que acarreta aqui uma complicação, é que, quando se fala da assim como tudo que é "interior" pode-se dizer "celeste". Podemos
Naturcza como objeto de conhecimento, ela é tomada comumente num ainda nos recordar aqui do que expusemos a respeito do Enxofre,
do Mercúrio e do Sal: o que é "divino", sendo necessariamente
l. Essas condições se iealizam quando se trata de um exoterismo tra- "interior" em todas as coisas ', up:, em relação ao homem, à ma-
clicional autêntico, pbr oposição às concepções purâmente profanas, cgmo a§ neira de um princípio "sulfuroso s", enquanto o que é ''natural",
da filosofia moderna. constituindo a "ambiência", desem-penha, por isso, o papel Ce um
2. Relação de subordinação do Cosmos ao Princípio, é claro, e náo princípio "mercurial", como explicamos ao falar das relações do ser
relaçiro cle correlação. É imporlante observá-lo para evitar até a menor apa' ôom o meio; e o homem, produto do "divino" e da "natureza", si-
rência de contradição com o que dissemos um pouco antes'
3. Por essa iazão, segunào a "perspectiva" da manifestação, o Princi multaneamente, acha-se situado assim, como o Sal, no limite comum
pio surge como a ,'cumeeiú do Céu" (Tien ki), assim como dissemos ante- desse "interior" e desse "exterior", quer dizer, em outras palavras,
iinr-",ii.. E bastante curioso notar que os missionários cristãos, quando
-
quelem traduzir em chinês, fazem-no sempre, quer usando Tien, qlu]er
ôhcng-ti, o "soberano do alto" que é, com oÚrâ denominação, o ,.lesmo 5. O emprego da mesma palavra "natureza" nos dois sentidos, nas lín-
que Óéu. Isso pareceria indicar, provavelmente sem que eles tenham cons- guas ocidentais, sendo, além disso, inevitível' não deixa de provocar certas
ciência clisso, quc, para eles, o próprio ponto de vista "teológico", .no sentido óonfusões; em árabe, a Natureza primordial é El-Fitroh, enquanto a natureza
mais exato e complàto clessa palÀvrá, nãó vai realmente até o Princípio. Nisso, manif estada é cttabíy«lt.
aliás, talvez estejàm errados, Inas, em todo caso, mostram dessa forma as 6. Tomamos aqui a palavra "física" no sentido antigo e etimológico
limitações etetiviis de sua própria mentalidade e sua incapacidade de distin-
guir os diferentes sentidos que-a palavra "Deus" pode ter _nas línguas ociden- de "ciência da natureia" em geral; mas, em inglês, a expressão tlaíural phí'
losophy, que era originariamente sinônima dela, serviu durante muito tempo
iais, na falta clc telmos mais precisos como os que existem- nas -tradições ^tempoi
modernos-, e pelo menos até Newton, para designar- mesmo a "fí-
orientais. A respeito do Chang-ti citaremos este texto: "Céu e Soberano nos
sica" nó sentido restrito e "especializado" em que é entendida cornumente
ó tudo um: - <liz-se Ôéu quando se fala de seu ser; diz'se Soberano quando se
fala de seu governo. Senclo imenso, chamamos seu ser Esplêndido Céu; es- em nossa época.
tando a sede do governo no alto, chamamo-lo Sublime Soberano" (Comen- 7. Poder-se-á lembrar a esse respeito a palavra do Evangelho: "ILcgrtunt
tário do Tchcou-li). Dei íntra vos est."'
4. Tchourtg-tscrt, cap. XI. 8. Encontramos aqui de novo o duplo sentido da palavra grega thciotr'

118 119
extremo-oriental, segundo a qual é pelo yong e o yin, portanto pelo
no ponto onde se encontram e se equilibram as influências celestes e Céu e a Terra, que todos os seres são modificados, e, no mundo ma-
e.
as influências terrestres nifestado, "a revolução dos dois princípios, yin e yang (correspon-
Deus e a Natureza, considerados assim como correlatos ou dentes às ações e reações recíprocas das influências celestes e
(e, é claro, não se deve perder de vista ..1 qu' terrestres) governa todas as coisas 14". "As duas modalidades do
"o-pl"*"ntares
áirr.;", de início sobre o modo limitado como o termo "Deus" ser (yin-yang), tendo-se diferenciado no Ser primordial (Taí-ki), a
á"r.:i.i entendido aqui, a fim de evitar, poÍ um lado'..todo revolução delas começou, e a modificação cósmica veio em seguida.
;panteísmo", e, por ouiro, qualquer "associação" com o sentllg, O apogeu do yitt (condensado na Terra) é a passividade tranqüila;
!1
pãlur.u árabe shirklo), surgem, respe-ctivamente, como o prlnclplo o apogeu do yang (condensado no Céu) é a atividade fecunda. Com
;i;; ; o princípio passivo da manifestação, outermos: como o "ato" e a passividade da Terra oferecendo-se ao Céu, a ativida'de do Céu
a "potência" no-sentido aristotélico desses dois ato puro e exercendo-se sobre a Terra, dos dois nasceram todos os seres. Força
11,
potân.iu pura em relação à totalidade da manifestação univers-al invisível, a ação e a reação do binômio Céu-Terra produziram toda
ãto-r.fotii,o e potência relativa a qualquer outro nível mais deter- modificação. Começo e cessação, plenitude e vazio 1Í, revoluções
minado e mais restrito do que aqúele, isto ó, sempre, em síntese' astronômicas (ciclos temporais), fases do Sol (estações) e da Lua,
li"rrÀn"iu" c 'substância" nàs difêrentes acepções que explicamos tudo isso é produzido por essa causa única que ninguém vê, mas
eÀ mrritas oportu,iclades. Para assinalar esse caráter respectivamente que funciona sempre. A vida clesenvolve-se na direção de uma meta,
I uiiuo e passivo, emprega-se também, de modo equiv.alente' as
12, nas quais o termo
a morte é um retorno na direção de um termo. As gêneses e
expressõei Naturct naturans e Nat,ra naturotq as dissoluções (condensações e dissipações) sucedem-se sem fim, sem
Nàtura, em vez cle só se aplicar ao princípio passivo como-anterior'- que se saiba a origem delas, sem que se'lhes veja o termo'(origem e
I
-.nt..'A.tigna, simultaneamente e clê modo simétrico, os dois prin- fim estando ocultos no Princípio). A ação e a reação do Céu e
,.devir" 1í,. Aqui, ainda, reencontramos a tradição da Terra são o único motor desse movimento'n", QUe, através da
im.Aluto.s do
li "çiàs série infinita de modificações, conduz os seres à "transformação"
g. Naturalmente, essas considerações, que são do domínio propriamente
final r?, que os reconduz ao Princípio uno de que saíram.
do herrnerismo, ,ao muito- mais loneà dó ôue a simples filosoJia exotérica;
Ínu" u iurao ó que esta tem, de fato, necessidade' pelo fato de ser apenas
.*à1e.i"u, de ser^justificada por alguma coisa-que a ultrapasse'
10. É nesse'sentido q," ..o.,.,, e a ..Natureza', encontram-se inscritos
a" ãóào--.imetri.â."nt. nos símbolos do I4'o grau da Maçonaria
----".ito
escocesa.
li. Vê-se por aí que a definição bem conhecida de Deus como "ato
puro';'uplicà-sÉ, nã t.utiâãáe. não ao próprio Ser' como^alg11:^:^'êtT: I?:
iO uo pOto aiivo da manifestação; em termos extremo-otlentals, Olr-se-ra
que e1a se refere a Tien e náo a Tai"ki'
12. Os historiadores da filosofia têm, de modo muito geral'erro' o hábito
de atribuir ..ru. .*pr"rrães a Spinoza' Tiata-se' porém' de um além
pois'
que u.-.ap."gà" efetivamente, acomodando-as, disso,
se é verclade este "nao é ele
; ;* ;;pioes particuiàiãt, .seguramente
o autor delas' pois'
."-oniuÁ a muito mais longe' se fala de
na realidade,
^iírr*à'- "lus
,i^'rspecificar de outro modo, é quase sempre - Quando
da Natura- tnturatd
il;;; t*t;,-;;ú";;'ã, naturattsu"r.. esse termo possa também compreender simul-
taneamente a NattÍa e a Naturà naturata\ nesse último caso' ele 14. Líe-tseu.
,?. i.ã- ."i.elato, pois só há fora dele o Princípio de um _lado e a ma-
justamente a Natura do ter- 15. Trata-se justamente aqui do "vazio de forma", isto é, do estado
nifestação de outro, enquanto,, no primeiro, é informal.
nário ãue acabamos de considerar' 16. Tchoartg-tseu, cap. XXI.
13. A palavra natura em latim, como a equivalente grega éphusis, "o
corv
que se 17. É a "sàída do Cosmos" a que aludimos a propósito da extremi-
te- a icléia de "devir": a natureza manifestada
dade do mastro que ultrapassa o dossel do carro.
;t princípios de que se trata aqui são "o que faz tornar-se"'
"rr.n.iuimente
i;;;"",
t2t
120
naturais. Partindo desse ponto de vista estreito, foi levado, de modo
inevitável, a supor que todo conhecimento, seja de que ordem for,
representa simplesmente uma tentativa mais ou menos imperfeita de
explicação desses fenômenos. Juntando então a essa idéia precon-
cebida uma visão totalmente fantasista da história, ele crê descob,rir,
em conhecimentos diferentes que, na realidade, sempre coexistiram,
três tipos de explicação que ele considera sucessivos, porque, re-
Capítulo XX lacionando-os erradamente a um mesmo objeto, acha-os naturalmente
incompatíveis entre si. Fá-los, portanto, corresponder a três fases que
Deformações Filosóficas Modernas o espírito humano teria atravessado no curso dos séculos e que ele
chama, respectivamente, "estado teológico", "estado metafísico" e
"estado positivo". Na primeira Íase, os fenômenos seriam atribuídos
à intervenção de agentes sobrenaturais; na segunda, relacionar-se-iam
No comeÇo da filosofia moderna, Bacon considera ainda os a forças naturais, inerentes às coisas e não mais transcendentes em
três termos l)ci:us. Ilomo, Natura como se constituíssem três objetos relação a elas; finalmente, a terceira seria caraÇterizada pela renúncia
cle conhecimento clislintos, aos quais faz corresponder, respectiva- à busca das "causas", a qual seria então substituída pela das o'leis",
mente, as trôs granclcs «livisões cla "filosofia". Só que atribui impor- isto é, relações constantes entre os fenômenos. Esse último "estado",
tância prcpouderantc a\ "'filosofia natural" ou ciência da Natureza, que Comte considera, além disso, o único definitivamente válido, re-
I de acoiclo- com a tendência "experitnentalista" da mentalidade mo- presenta de maneira bastante exata a concepção relativa e limitada
clerna, que ele representa nessa ópoca, como Descaries, por seu turno, que é, de fato, a das ciências modernas. Mas tudo que se refere aos
I
.ep..r"ntu sobretüdo a tencl^ôncia "racionalista" 1 desta. Trata-se ainda. dois outros "estados" é apenas um verdadeiro amontoado de confusões.
2.
de algum modo, apenas de uma simples questão de "proporções" Não os examinaremos em detalhes, o que seria de muito pouco inte-
Estavã reservado aô século XIX ver surgir, no que se refere a esse
resse, e nos contentaremos em destacar-lhes os pontos que têm re-
ternário. uma cleformação bastante extraordinária e imprevista: que-
I

lação direta com a questão que estamos examinando no momento.


remos rios referir à pretensa "lei dos três estados", de Auguslo Comte.
Mas, como a relaçío desta com aquilo de que se trata pode não pa- Comte pretende que, em cada fase, os elementos de explicação a
recei evidente à primeira vista, algumas explicações a esse respeito que se apela seriam coordenados gradualmente, de moCo que se che-
talvez não sejam inúteis, pois há nisso um exemplo muito curioso do gasse, em último lugar, à concepção de um princípio único que abar-
modo como o espírito moderno pode desnaturar um dado original casse a todos: assim, no "estado teológico", os diversos agentes
,da traclição, qrrurdo se atreve a apoderar-se dele, em lugar de rejeitá-lo sobrenaturais, concebidos de início como se fossem independentes
pura e simplesmente. uns dos outros, teriam sido, em seguida, hierarquizados, para sin-
o erro fundamental de Comte, nesse sentido, consiste em pensar tetizarem-se finalmente na idéia de Deuslr. Do mesmo modo, no
que, seja qual for o gênero de especulação a que o homem se entre- pretenso "estado metafísico", as noções das diferentes forças naturais
gou, nunca se propos outra coisa que a expiicação dos fenômenos teriam tendido, çada vez mais, a fundirem-se na de uma "entidade"

-l;;rtes .,física,,, mas pretende


aliás, se fixa sobretudo na
também,'aàdutívo,
.on.tiriú-pãi: ir"ió.inio com base_ no modelo das matemáticas, 3. Essas três fases secundárias são designadas por Comte com os no-
ao passo que Bacon qr.i, uo corrtiário, estabelecê-la sobre uma base inteira- mes de "fetichismo", "politeísmo" e "monoteísmo". É necessário dizer aqui
mente experimental. que, muito ao contrário, é o "monoteísmo", isto é, a afirmação dc Princípio
2. Éondo de parte, é claro' as reservas que caberia fazer sobre o modo uno, que está necessariamente na origem;'e mesmo, na realidade, somente
totalmente profano como as ciências já são concebidas então; mas .falamos esse "monoteísmo" existiu sempre e em toda parte, exceto nos casos da in-
;"n|Ã;;ri oo qu. ó reconhecidoqual como objeto de conhecimento' indepen- compreensão dc vulgo e num estado de extrema degenerescência de certas
áãnt.-.ni" do ponto de vista do eie é considerado' formas tradicionais.

122 t23
l

única, designada como "Natureza" a. Vemos, além disso, por essa ''estados", respectivamente
Deus, a Natureza e a Humanidade.
razão, que Comte ignorava de^ todo o que é a metafísica, pois, desde lnslstlremos mais nesse ponlo, pois Não
isso turir,
o momento que se trata de "Natureza" e de forças naturais, é evi- que a demasiada famosa ,,t.i.ào, síntese, para mostrar
dentemente de "física" que se trata e não de ,'metafísica,,. Ter-lhe-ia uma deformação e de uma
oê; ;;"r,, "mprovém realmente
apticaçao iãü;;; do rernário de
bastado se reportar à etimologia das palavras para evitar equívoco tão Deas, Homo.
parece !.Í!':I!
grosseiro. Seja como for, vemos aqui Deus e a Naturezã, conside- !!yi:,e.o.que. é mais ,ri.p*à"á"r;;?"#:
que HT:: ,
que ninguém
rados não mais como dois objetos de conhecimento, mas apenas como
iamais se tenhã dado conta disso.
duas noções a que conduzem os. dois primeiros dos três gêneros de
explicação considerados nessa hipótese õ. Resta o Homeú, e é um
pouco mais difícil ver como ele representa o mesmo papel em re-
lação ao terceiro, mas, apesar disso, é bem assim na realiàade.
Isso resulta, na verdade, do modo como Comte encara as di-
ferentes ciências. Para ele, elas chegaram sucessivamente ao "estado
positivo" numa certa ordem, cada uma delas sendo preparada por
aquelas.que 1 precederam_e s"-m as quais ela não teria podido
tl constituir-se. ora, a última de todas as ciências segundo essa ordem,

t: aquela, por.conseguinte, à qual todas as outras chegam e que re_


pÍesenta assim o termo e o cume do conhecimento dito .,poiitivo,,,
ciência que Comte deu a si mesmo, de certo modo, a .,nfssão,, de
,| constituir, é aquela a que se atribuiu o nome bastante bárbaro de
"sociologia", que entrou, desde então, no uso corrente. E ossa
"sociologia"_é.precisamente a ciência do Homem, ou, se se prefere,
I
da Humanidade, encarada naturalmente do ponto de vista àxclusi-
I vamente "soc!aI". Aliás, para Comte, não pode haver outra ciência
do Homem a não ser aquela, pois ele crê que tudo que caracteriza
li especialmente o ser humano e the pertence especificamõnte, excluindo
os outros seres vivos, procede unicamente da vida social. Desde então
lr
era perfeitamente lógico, aind-a que outros o tenham podido dizer,
que chegasse onde chegou de fato: compelido pela neceisidade, mais
Lil'il ou_ menos consciente, de realizar uma espécie de paralelismo entre
o "estado positivo" e os dois outros "estados,, tàl como os ima_
ginava, viu o ,coroarnento disso no que chamou a .,religião da
-
Humanidade{}". Vemos, portanto, aqui, como termo ,,ideal,' ãos três

..!.- Comte supõe, além disso, que, em toda


. "Natureza", parte onde se fala assim
da esta deve estar mais ou menos ,,personificada,,, o toi,
na verdade, em certas declamações filosófico-literárias do sécuto "orno
xvrrr.
, 5. É muito evidente que é apenas, de fato, uma simples hipãtes", e
até uma. hipótese mal fundámentada, o que comÍe afirma ássim-;ããÀ-uti
camente", dando-lhe abusivamente o nome de ,'lei,'.
t" 6. Concebida como a coletividade de todos os homens passados, pre_
sentes e futuros, a Humanidade é para ele uma verdadeira .,pàrsoniticáçáo-,
pois, na parte pseudo-religi.osa de sua obra, ele a chama o' ;óiunã"-i..,,;
poderíamos ver aí uma espécie de caricatura profana ao ,,Homem
úniversat',.

124
t25
sagrados das nações, é o que foi sentido por todos os sábios, é o
r;uc foi mesmo confessado pelos verdadeiros homens de ciência...
As duas outras potências, no meio das quais ele se acha situado,
sib o Destino e a Providência. Abaixo dele está o Destino, natureza
rrccessitada e naturada; acima dele está a Providência, natureza livre
e naturante. Ele próprio é, como reino hominal, a Vontade media-
clora, eficiente, colocada entre essas duas naturezas paÍa servir-lhes
cle ligação, de meio de comunicação, e reunir duas ações, dois mo-
Capítulo XXI vimentos que seriam incompatíveis sem ele." É interessante notar que
os dois termos extremos do ternário são designados expressamente
Providência, Vontade, Destino como Naturs natürqns e Natura nqturqta, de conformidade com o
que clissemos antes; e as duas ações ou os dois movimentos de que
se trata não são outra coisa, no fundo, do que a ação e a reação
do Céu e da Terra, o movimento alternado do yang e do yln. "Essas
Para completar o que dissemos do ternário Deus' Homo'
Natura'
que lhe corresponde' de modo três potências, a Providência, o Homem considerado como reino ho-
tufu..-Àt un, por"o de outro ternário
pela rninal, e o Destino, constituem o ternário universal. Nada escapa à
evidente, termo a termo: é o que é foimaclo pela Providência'
três potências que sua ação, tudo lhe está submetido no Universo, tudo, exceto o pró-
V;;;;à; " pelo Destino, considerados .como as relativas a esse ter- prio Deus que, envolvendo-os com sua insondável unidade, forma
*À;; o universo manifestado. As considerações
nos tempos modernos' por Fa- com elas essa tétrade dos antigos, esse imenso quaternário, que é
na?io to.u111 desenvolvidas sobretudo,
Ele-se rejele' tudo em todos, e fora do qual não existe nada." Essa é uma aiusão
tià à'otlr.t 1, com base em dados de origem-pitagórica' vezes' â traolÇao ao quaternário fundamental dos pitagóricos, simbolizado pela Tetra-
além <lisso, também, de modo secundário, diversas
reconheceu a sua equi- ktys' e o que dissemos anteriormente a respeito do ternário spiritus,
^"O que ele
áe uma forÀa que implica Anirna, Corpus, permite compreender suficientemente o que ele é, de
"trin"ru',
uãiOn.iu com a Grande úiuA". hómem, diz ele, 1ã,o. é ne.m um
colocado modo que não seja necessário retornar ao assunto. por outro lado.
animal nem uma lnteiigência pura; é um ser intermediário' devemos ainda observar, pois isso é particularmente importante do
o Céu e a Terra' para ser a ligação
entre a matéria o
" "rpíito, ",t,'"
e podemc:s reconhecer claramente aqui o lugar e o papel ponto de vista das concordâncias, que ',Deus" é considerado aqui
ãrirã como o Princípio em si mesmo, diferentemente do primeiro termo
"r.t"t
àà t..rlo mócilo da iríade extremo-oriental' "Que o Homem Uni-
por todos os códigos do ternário Deus, Honto, Natura, de modo que, nesses dois casos,
uma potôncia é o que foi constatado
"ár"í;'*i" a mesina palavra não é usada na mesma acepção; e, aqui, a pro-
phílosophique -du Genre httmaine' É vidência é apenas o instrumento de Deus no governo do Universo"
- l-PÃipalmente em sua Histoire(publicaàa exatamente como o Céu é o instrumento do Princípio segundo a
ãã*" ãti" inicialmente com o título
au airr.,t"íeã'i"tioortorii indicação contrária, as
De t,ÍatQr .totíut le fttàriri\""ã". iáo'iiroaur, salvo tradição extremo-oriental.
No;'niàii"no des Vers dorés de Pythdgore' surgidos
citações qne segrreÍrl'
-
anteriormente. encontramlsá- também idéias sobre o assunto, mas expostas Agora, para compreender por que o termo médio identifica-se.
vezes considerar, nessa obra' não apenas ao Homem, mas com mais precisão à Vontade humana,
cle modo menos claro. ü;b;. ãõliv€t parece às simultanea-
o DestinO e a Vonlade iomo correlatós, um e outro dominados, devemos saber que, para Fabre d'Olivet, a vontade é, no ser humano,
ííii'pãr" irorlcrên"ia,'ã^'ãr;-;;; se'coadunade com a correspondência
que
que
.foi.a partir o elemento interior e central que unifica e envolve a as três esferas,
-àtitut
temos em mit'a n«r nlu,r1.itol*---Àtsinalemo=, .passagem'.
cle uma aplicaçiro an .,ntãpçao .
três potências universais à ordem
tà"iri'^ãr.'s^ini-Y,cs d'Alvefilre constlttiu stta teoÍia da "sinarquia"' humano. É, com efeito, evidente que, quando transposta à totalidade dos
2. Parece, cle resto, que ele conheceu apenas o lado confucionista desta' cstados do ser, não se poderia mais falar de "reino hominal,', o que só
embora, nos Eranr,r,s',1.,;'lr.;;.; dorés dc iythagore, aconteça-lhe de citar tem realmente sentido em nosso mundo.
uma vez Lao-tsé.
num sentido restrito, pois 4. Aqui ainda, devemos nos lembrar de que é o centro que, na reali-
3. Essa exPressão deve ser entendida aqui
-além ciade, contém tudo.
parece que a concePção clela nào ." estende do estado propriamente

t27
t26
intelectual, anímica e instintiva, a que colrespondem, respectivamen- a neutralizá-lo 10. Fabre d'Olivet diz que ',o acordo da Vontade e da
te, o espírito, a alma e o corpo. Como devemos, além disso, en- Providência constitui o Bem; o Mal nasce de sua oposição 11 . . . O
contrar no "microcosmos" a correspondência com o "macrocosmos", homem aperfeiçoa-se ou se deprava conforme tende a confundir-se
essas três esferas representam nele o análogo das três potências uni- com a Unidade Universal ou a distinguir-se dela 12", isto é, conforme,
versais que são a Providência, a Vontade e o Destino 5. E a vontade tendendo para um ou outro dos dois pólos da manifestação ,u, qrre
desempenha, em relação a elas, um papel que a torna como a imagem correspondem, de fato, à unidade e à multiplicidade, alia sua vontáde
do próprio Princípio. Essa maneira de encarar a vontade (que, além à Providência ou ao Destino e dirige-se, desse modo, QU€r para o
do rirais, devemos dizer, é insuficientemente justificada por conside- lado da "liberdade", quer para o da "necessidade,,. Ele ãiz tãmbém
rações de ordem mais psicológica do que verdadeiramente metafísica) que a lei providencial é a lei do homem divino, que vive principal-
deve ser aproximada do que dissemos antes a respeito do Enxofre mente da vida intelectual, da qual ela é a reguladóra; ele não deixa
alquímico, pois é exatamente disso que se trata na realidade. Além claro, aliás, o modo como compreende esse ,,homem divino,,, que
disso, há aí uma espócie de paralelismo entre as três potências, pois, pode talvez, segundo os casos, ser assemelhado ao .,homem trans-
de um lado, a Providência pode, evidentemente, ser concebida como cendente" ou apenas ao "homem verdadeiro',. De acordo com a
a expressão da Vontade divina, e, doutro, o próprio Destino surge doutrina pitagórica, seguida, por sinal, nesse como em tantos outros
como uma espécie de vontade obscura da Natureza. "C Destino é pontos por Platão, "a Vontade esmerada pela fé (portanto associada
a parte inferior e instintiva da Natureza universal 6, Que chamei na- por isso mesmo à Providência) podia subjugar a própria Necessidade,
ÍuÍeza natnrada; sua ação adequada denomina-se fatalidade; a forma dirigir a Natureza e operar milagres". o equilíbiio tntre a vontade
pela qual ela se manifesta a nós chama-se necessidade. . . A Providên- e a Providência, de um lado, e o Destino, de outro, era simbolizado
cia é a partc superior c inteligente da Natureza universal, que chamei geometricamente pelo. triângulo retângulo cujos lados são, respecti-
natureza naturante; é urna lei viva quc snrana da Divindade, por meio vamente, proporcionais aos números 3, 4 e 5, triângulo ao qüal o
da qual todas as coisas se detcrminam como potôncia de ser 7. . . É Pitagorismo dava grande importância 1{, e que, por coincidênciá mui-
a Vontade do homem que, como potôncia mcdiana (correspondente to notável também, não tem menor importância-na tradição extremo-
à parte anímica da Natureza universal) reúne o Destino à Providên- oriental. Se a Providência for representada 1õ por 3, a vontade huma-
cia; sem ela, essas duas potências extremas jamais se reuniriam, mas
nem se conheceriam até 8".
Outro ponto que é ainda muito digno de observação ó este: a _ 10. É o que os rosa,cruzes exprimiam com o adágio Sapíens domina-
hitur astris, representando as "influências astrais",
Vontade hurnana, unindo-se à Providência e colaborando cons- .*piicumos antes,
o conjunto de todas as ,influências que emanam do"o-ã meio côsmico e agem
cientemente com ela e, pode realizar o equilíbrio do Destino e chegar sobre oindivíduo para determiná-lo exteriormente.
. 1 '
I Isso identifica, no fundo, o bem e o mal às duas tendênciâs contrá-
-5. Lembrar-se-á o que dissemos, ao falar dos "três mundos", da corres- rias que vamos indicar, coh .todas as suas respectivas conseqüênciás.
pondência mais particular do Homem com o domínio anímico ou psíquico. 12. Exarnens des Vers ilorés de pvtlrugore, l2.o Exame-.
6 Esta é entendida aqui no senticlo mais geral e compreende então, 13. são as duas tendências contrárias, uma ascendente e outra descen-
como "três nâturezas numa só Natureza", o conjunto dos três termos do dente, designadas como sattwd e tamos na tradição hindu.
"ternírrio universal'', isto é, em sínrese. tudo que não é o próprio Princípio. _ Esse triângulo é encontrado no simbolismo maçônico e fizemos alu-
7. Esse termo é inadequado, uma vez que a potencialidacle pertence, - a14.ele
são ao tratâr do esquadro do venerável; o própriro triângulo completo
ao contrário, ilo outro pólo da manifestação; dever-se-ia dizer "principalmen- aparece nas insígnias do. PasÍ Master. Digamos, nesse momento, que uma
te" ou "em essência". parte notável do simbolismo maçônico deriva diretamente do pitagorismo,
8. Além disso, Fabre d"Olivet designa, colno os agentes respectivos das por uma "cadeia" ininterrupta, através dos Collegia fabronrm romanoi e das
tr'ês potências univelsais, os seres que os pitagóricos chamavam "Deuses imor- corporações de construtores da Idade Média; o triângulo de que tratamos
tais''^ "Heróis slorificados" e "Dimônios terrestres", "relirtivamente a sua res- aqui é Im exemplo disso e temos outro na Estrela Éamejante, idêntica ao
pectiva elevação e à posigão harmônica dos três mtindos que habitavam" Pentalpha que servia de "meio de reconhecimento,, aos pitagóiicos.' (cf. Aperçus
(Excttnen.r des Vers dorús tlc P),thagorc, 3.o Exame). sttr l'Initiation, cap. XVI).
9. Colaborar desse modo com a Proviclência é o que se chama justa- 15. Tornamos aencontrar aquio 3 como número.,celeste', e o 5 como
mente. nâ terminologia maçônica, trabalhar na re'alização do "plano do Gran- número "terrestre", como na tradição extremo-oriental, embora esta não os
de Arquiteto do Universo" (cf. Apoçus sur I'Initiation, cap. XXXI). encare assim como correlatos, visto que o 3 associa-se ao 2 e o 5 ao 6,

128 129
na por 4 e o Destino por 5, ter-se-á, nesse triângulo: 32 * 4% : 52;
a elevação dos números à segunda potência indica que isso se
relaciona com o domínio das forças universais, isto é, justamente ao
domínio anímico 16, aquele que corresponde ao homem no "macro-
cosmos" e no centro do qual, como termo médio, se situa a vontade
no "microcosmos" 17.

Capítulo XXII
O Tríplice Tempo

I
Depois de tudo que foi dito, podemos ainda formular essa per-
gunta: liá, nu ordem das determinações espaciais e temporais, alguma
õoisa que corresponda aos trôs termos da Grande Tríade e dos ter-
^equivalenies?
nários No que concerne ao espaço, náo !tâ- qualquer
dificuldade em encontrar lal correspondência, pois ela é dada, ime-
diatamente, pela consideração do "alto" e do "baixo" considerado§,
segundo a representação geométrica habitual, em relação a um plano
ho-rizontal tomado como "nível de referência", e que' para nós, é
naturalmente o que corresponde ao domínio do estado humano. Esse
plano pode ser considerado como médio, primeiro porque nos apa-
i.o" .ó*o tal em virtude de nossa "perspectiva" própria, na medida
em que é o plano do estado no qual no§ encontramos atualmente,
como explicamos antes; quanto ao 4, ele corresponde à cruz como símbolo e também poique podemos nele situar, pelo menos virtualmente, o
do "Homem Universal". centro do õonjunto dos estados de manifestação; por essas razóes,
16. Esse domínio é, de fato, o segundo dos "três mundos", quer os ele corresponde evidentemente. ao Homem como termo médio da
consideremos, além disso, no sentido ascendente ou no sentido descendente.
A elevação às potências sucessivas, representando graus de universalização
Tríade, do mesmo modo que ao homem entendido no sentido comum
crescente, corresponde ao sentido ascendente (cf. Le Symbolísme de la Croix, e individual. Relativamente a esse plano, o que está em cima repre-
cap.XII, e Les Principes du Calcul ínfinítésimal, cap. XX). senta os aspectos "celestes" do Cosmos e o que está em baixo re-
I7.
Segundo o esquema dado por Fabre d'Olivet, esse centro da esfera presenta os ãspectos "terrestres", Sendo oS extremgs limites respectivos
anímica é, ao mesmo tempo, o ponto de tangência das duas outras esferas,
'centros àas duas regiôes nas quais o espaço é assim partilhado (limites que
intelectual e instintiva, cujos se situam em dois pontos diametral-
mente opostos da circunfer&rcia dessa mesma esfera medianar "Esse cen- se situam indefinidamónte nos dois sentidos) os dois pólos da ma-
tro, ao desenvolver sua circunferência, atinge os outros centros, e reúne sobre nifestação, isto é, o Céu e a Terra, que, do plano considerado', são
si mesmo os pontos opostos das duas circunferências que eles desenvolvem vistos âtravéS deSSeS aspectos relativamente "celestes" e "terrestres".
(isto é, o ponto mais baixo de uma eo ponto mais alto da outra), de As influências corresp-ondentes exprimem-se por duas tendências
modo que as três esferas vitais, movimentando-se uma na outra, comunicam con-trárias, que podem ser relacionadas às duas metades do eixo
entre si suas naturezas diversas e levam de uma a outra sua influência re
cíproca." As circunferências de duas esferas consecutivas vertical, senao a metade superior tomada na direção ascendente e
- e anímica, anímica erepresentativas
(intelectual instintiva) apresentam, portanto, a dispo- a metaáe inferior na direção descendente a partir do plano mediano;
sição cujas propriedades assinalamos a propósito da figura 3, cada uma delas como este corresponde naturalmente à expansão no sentido horizon-
passando pelo centro da outra.
tal, intermediário dessas duas tendências opostas' vemos que se tem
130 131
aqui, além disso, a correspondência das três gunas da tradição como situadas "no alto" e "em baixo", isto é, acima e abaixo do
hindu 1, com os três termos da Tríade: sqttwa corresponde assim ao
Céu, rajas ao Homem, e tamqs 2 à Terra. Se o plano mediano for ;rlano que se toma como "nível de referência". Para completar, nesse
sentido, o paralelismo entre as determinações espaciais e temporais,
considerado como um plano diametral de uma esfera (que deve, ade-
mais, ser considerada como de raio indefinido, visto que compreende
o ponto representativo do presente pode sempre ser tomado, num
certo sentido, como o "meio do tempo", visto que, a partir desse
a totalidade do espaço), os dois hemisférios, superior e inferior, serào,
ponto, o tempo só pode surgir como igualmente indefinido nas duas
segundo outro simbolismo de que já falamos, as duas metades do
direções opostas, que correspondem ao passado e ao futuro. Há,
"Ovo do Mundo", que, depois de sua separação, rcalizada pela de- por outro lado, algo mais: o "homem verdadeiro" ocupa o centro
terminação efetiva do plano mediano, tornam-se, respectivamente, o
do estado humano, isto é, um ponto que deve ser verdadeiramente
Céu e a Terra, entendidos aqui em sua acepção mais geralil. No "central" em relação a todas as oondições desse estado, inclusive a
centro do próprio plano rnediano situa-se Hiranyagarbfta, que surge
condição temporal 6. Pode-se, portanto, dizer que ele se situa, de
assim no Cosmos como o "Avatâra eterno" e que é, por isso mesmo,
fato, no "meio do tempo", que ele próprio, aliás, determina pelo fato
idêntico ao "Hornem L]niversal a".
de dominar, de alguma forma, as condições individuais 7, do mesmo
Quanlo ao tempo, a questão pode parecer mais difícil de resol- modo que, na tradição chinesa, o Imperador, colocando-se no ponto
ver, e, no entanto, há aí também um ternário, uma vez que se fala central do Ming-tang, determina o meio do ciclo anual. Assim, o
do "tríplice tempo" (em sânscrito trikâla), isto é, que o tempo é "meio do tempo" é justamente, se podemos exprimir-nos desse mo-
encarado sob trê,s modalidades, que são o passado, o presente e o do, o "lugar" temporal do "homem verdadeiro", e, para ele, esse
futuro. Mas essas trôs moclalidadcs podcm ser postas em relação com ponto é, na verdade, sempre o presente.
os três termos de ternírrios como os que examinamos aqui? Deve-se Se, portanto, o presente pode ser posto em correspondência
observar, inicialmente, que o prcrscntc pocle ser representado como com o Homem (e, de resto, mesmo no que se refere simplesmente
um ponto que divide em cluas partes a linha scgunclo a qual o tempo ao ser humano comum, é evidente que é só no presente que, ele pode
se desenrola e que determina, desse modo, a cada instante, a separa- exercer 'sua ação, pelo menos de modo direto e imediáto 8), iesta
ção (mas igualmente a junção) entre o passaclo e o futuro, dos quais a ver se não haveria também certa correspondência do passado e do
é o limite comum, como o plano mediano de que falávamos há futuro com os dois outros termos da Tríade, e é também uma com-
pouco é o limite de duas metades, superior e inferior, do espaço. paração entre as determinaÇões espaciais e temporais que vai forne-
Como explicamos noutra obra 5, a representação "retilínea" do tem- cer-nos a indicação dela. Com efeito, os estados de manifestação
po é insuficiente e inexata, visto que o tempo, na realidade, é "ci- inferiores e superiores em relação ao estado humano, que são re-
clico" e essa característica se encontra também até mesmo em suas presentados, segundo o simbolismo espacial, como situados, respecti-
menores subdivisões. Mas aqui não temos de especificar a forma vamente, abaixo e acima dele, são descritos, por outro lado, segundo
da linha representativa, pois, seja qual for, para o ser situado nurn o simbolismo temporal, como se constituíssem ciclos, respectivamen-
ponto dessa linha, as duas partes nas quais ele se divide surgem te, anteriores e posteriores ao ciclo atual. O conjunto desses estados
sempre como situadas, respectivamente,. "antes" e "depois" desse forma assim dois domínios cuja ação, enquanto se faz sentir no estado
ponto, do mesmo modo como as duas metades do espaço aparecem humano, aí se exprime por influências que se pode dizer "terrestres",

1. Cf. Le Symbolisme de la Croix, cap. V. 6. Não cabe falar aqui do "homem transcendente", visto que este está
2. I-embrar-se-á do que indicamos anteriormente a respeito do caráter inteiramente além da condição temporal tanto quanto de todas as outras.
Mas, se ocorrer de e'le se situar no estado humano, conforme o que expli-
"sattwico" ou "tamasico" que adquire a Vontade humana, neutra ou "rajasica"
camos anteriormente, ocupará nele a Íortíori a posição central em todos os
em si mesma, segundo se alie à Providência ou ao Destino. sentidos.
3. Isso deve ser relacionado com o que dissemos dos dois hemisférios 7. Cf. Aperçus sur I'Initíation, cap. XLII. e também L'É,sotérisme de
ao tratar da dupla espiral, e também com a divisão do símbolo do yin-yang
em suas duas metades.
Dante, cap. YIll.
4. Cf. Aperçus .sur I'lrtitiation, cap. XLVIII. 8. Se o "homem verdadeiro" pode exercer uma influência num momento
qualquer do tempo é porque, do ponto central em que se situa, e1e pode à
5. Le Rêgne de la Quantité eÍ les Signes des Temps, cap. V. vontade tornar presente para si esse momento.

132
133
de um lado, e "celestes", de outro, no sentido que temos dado cons-
homem, desdobrando sua atividade, modifica as coisas existentes
(portanto, presentes), cria novas, que se tornam, de imediato, pro-
tantemente aqui a esses dois termos, e surge- nele como a manifestação
priedade do Destino, e prepara para o futuro mutações no que estava
respectiva do Destino e da Providência. É o qle a tradição hindu
indica, de modo muito claro, ao atribuir um desses domínios aos feito e oonseqüências necessárias no que acaba de ser feito 11. . . O
Asuras e o outro aos Dêvas. Com efeito, considerando os dois ter- objetivo da Providência é a perfeição de todos os seres, e essa per-
feição, ela recebe do próprio Deus o tipo irrefragável. O meio que
mos extremos da Tríade sob ,o aspecto de Destino e Providência, é
que a correspondência talvez seja mais claramente visível. E é justa- ela tem para chegar a esse objetivo é o que chamamos o tempo.
Mas o tempo não existe para ela segundo a idéia que temos dele 12.
mente por essa razão que o passado surge como "necessidade" e o
futuro como "livre", o que é de fatO exatamente a característica Ela o concebe como um movimento de eternidade 1'3." Tudo isso
não é perfeitamente claro, mas podemos facilmente suprir essa la-
específica dessas duas pôtências. É verdade .que isso é ainda' na
reàlidude, apcnas uma questão de "perspectiva", e que, para um ser cuna. Já o fizemos, aliás, há pouco, no que toca ao Hornem, e,
que está fora da condição temporal, não há mais passado, nem por conseguinte, à Vontade. Quanto à Providência, é, do ponto de
alguma entre eles, aparecen- vista tradicional, uma noção corrente que, de acordo com a expres-
futuro, nem, por conseguinte, diferença g. Mas, é claro, falamos, aqui são corânica, "Deus tem as chaves das coisas ocultas 14", portanto,
do tudo em perfeita simultaneidade principahnente daquelas que, em nosso mundo, não estão ainda
do ponto cle vista clc um ser que, estando dentro do tempo, aúa-se
manifestadas 15. O futuro está, de fato, oculto para os homens, pelo
necàssariamente colocaclo, por isso mesmo, entre o passado e o futuro.
menos nas condições habituais. Ora, é evidente que um ser, seja
"O Destino, diz a csie respeito Fabre d'Olivet, não dá o prin- qual for, não pode ter posse alguma sobre o que não conhece e,
cípio cle nacla, mas sc apotlera ilele -logo que é dado, para dominar- por conseguinte, o homem não podeiia agir diretamente sobre o
iú! u, .orr.qúências. [-: pcla rrcccssida«]e só dessas conseqüências que futuro, que, além disso, em sua "perspectiva" temporal, é para ele
ele intlui no futuro . t.'fü scutir no presente, pois tudo que ele
somente o que ainda não existe. De resto, essa idéia permaneceu
posstti de seu está no passaclo' Po.de-sc, portanto, entender como
até na mentalidade comum, que, talvez sem ter muito claramente
b.riino essa potência segunclo a qual concebcmos que as coisas feitas consciência disso, o Íraduz por afirmagões proverbiais como, por
,ão f.itur, quà elas são ássim e não de outro mod«r, e gle, colocadas
exemplo, "o homem propõe e Deus dispõe". isto é, embora o ho-
,*, ,",'sógundo sua natureza, elas têm resultados forçados dizer que
clue
ele mem se esforce, na medida de seus recursos, por preparar o futuro,
se desenvolvém sucessiva e necessariamente." Devemos
que à correspon- este será, em última análise, apenas o que Deus quiser que seja
se exprime com muito menos clarcza no se refere
ou o que ele faça ser pela ação de sua Providência (de onde resulta,
dêncià temporal das duas outras potências e que ,aconteceu-lhe mes-
Ào, ,u,,, trabalho anterior ao que citamos, de intervertê-la de
10. "A Vontade do
maneira que parece muito dificilmênte explicável 11. Pode-se, efetivamente, dizer que a Vontade trabalha em vista do
.--; futuro, na medida em que este é uma continuação do presente, mas, é claro.
é o que ocorre em relação.ao princípio. não é, de nenhum modo, a mesma coisa que dizer que e1a opera direta-
c.; - razão mais forte mente sobre o próprio futuro como taI.
Otreiu.-o. upropósito que o TetraÉrama hebraico é considerado como 12. Isso é evidente, já que ela corresponde ao que é superior ao estado
.".,rtitria""SÃniutiôalmente pela contração dos três tempos,do verbo "se1"; humano, de que o t€mpo é apenas uma das condições especiais. Mas con-
õ ser-puro, que envolve-em si-mesmo
;;;-ir;;ã"'àerign, o Princífio, isto é, segundô a expressão de..F.atr1e d'Olivet, viria acrescentar, para maior clareza, que ela se serve do tempo enquanto
às três termos dô.,ternáriá universal", este é, para nós, dirigido "para a frente", isto é, no sentido do futuro, o
.o*o o Eternidade que the é inerente envólve em si mesma o "tríplice t9mpo".
que implica, de resto, o fato de que o passado pertence ao Destino.
10. Nos Erarrzcns d.es Vers dorés de Pythagore (12'o F,xame),-ele diz' 13. Parece que isso é uma alusão ao que os escolásticos chamavam
Ae faro, qtte "a potência da vontade se exerce sobre as coisas a fazer ou aeyuttl ot aevíternitas, termos que designam modos de duração diferentes do
sobre o futuro; a necessidade do clestino. sobre as coisas feitas ousobre o
tempo e que condicionam os estados "angélicos", isto é, supra-individuais,
p"iiÀao. . .A iiberdade reina no futuro. a necessidade no passado, e a pro' que surgem, de fato, como "celestes" em relação ao estado humano.
iiãõ..i^ no presenre". isso equivale a fazer. da Providência o termo mediano, 14. Corão, YI, 59.
e. atribuin{o'a "libertlacle" como característica própria da Vontade, apresentar 15. Dizemos principalmente, pois é natural que se trata aí, na reali-
.ità á oposto do Destino, o que não poderia, de modo. algum' se coa- dade, apenas de uma parte infinitesimal das "coisas ocultas" (el-ghaybu), qlue
.o* as relações reais dos trêi termos, como ele próprio as expôs um
árnn."áÀo compreendem todo o não-manifestado.
nouco mais tarde.
135
134
além disso, que a Vontade agirá tanto mais eficazmente em vista
do _futuro, qyqto mais estreitamente unida à providência estiver).
E diz-se também, mais explicitamente ainda, que .,o presente perten-
ce aos homens, mas o {uturo a Deus pertence". Não poderià, por-
tanto, haver qualquer dúvida nesse sentido, e é de fáto o futuro
que, entre as modalidades do "tríplice tempo',, constitui o domínio
específico da Providência, como, aliás, exigê a simetria desta com o
Destino,- que tem c,omo domínio específico o passado, pois essa si-
metria deve resultar necessariamentê dp-tate de que óssas duas po- Capítulo XXIU
tências representam, respectivamente; os dois te'rmos extremos do
"ternário universal". A Roda Cósmica

Em certas obras ligadas à tradição hermética 1, encontramos


mencionado o ternário Deus, Ho7not, Rota, isto é, em q.ra, oô tar_
ná1io qlre consideramos anteriormente, o terceiro termó ílamra e
substitúdo por \ota ou a "Roda". Trata{e aqui da ,,roda cósmica',,
que é, como já dissemos em diversas ocasiões, um símbolo do mun_
do manifestado e que os rosa-cruzes chamavam Rota Mundis. pode-
se, portanto,.lizet- que, ,,Natu_-
9m geral, esse símbolo representa a
reza" ent-endida, de acordo com o que dissemos, nô seu sentido mais
ampfo. Mas ele é, além disso, susceúvel de diversas significações mais
-que
glecjsas, entre- as quais considerar-emos apenas aqui as têà relação
dlreta com o tema de nosso estudo.
A figura geométrica de que ã roda deriva é a do círcuro com
seu centro. No sentido mais universal, o centro repre§enta o princí-
pio, simaolizado geometricamente pelo ponto, coúo aritmética o é
pela unidade, e a circunferência represànta a manifestação, que é
"medida" efetivamente pelo raio emanado do princípio á. úur'-oru
fig-*u, apesar de múto simples na aparência, tem, nà eniantq mrtt_
tiplas aplicações a pontos de üsta diferentes mâis oo p*-
ticularizados a. Principalmente, e isso é o que "nos importa-.ro,
sobretudo

- 1. Principalmente no Absconditorum cravís de Guilherme poster.


-Poder-se-á observar que o título desse livro é
pressao corânrca_ que citamos um pouco antes.
o equivaleai;-iiter"l-õ -
"*-
. 2.- C\ a figura da Rota Munli dada por tribniz em seu tatado De
(u.er I*.s principes du Catcul infinitésimol,
Í::: -C?r:brlatoria
Notar-se-á que es.sa figura é a de uma roda de oito raios, como'o nr"dÃtufo1.
Dharma-
chaKra de que falaremos mais adiante.
3. Cf. Le Ràgne de la euontité et les Signes des Temps, cap. III,
,- 4.- I*
oo
astrologia é o
signo do, So! que-é, de fato, faá ,ãr, ã-."ot o
_munqo sen§ivel, e, por_essa razáo, é tomado tradicionalmente como um
símbolo do 'coração do Mundo" (cf.' aperçus su, tiiitiiuii,.ãp.-i<ivnl.
136
137
visto que o Princípio age no Cosmos por meio do Céu, se fazem delas segundo os casos 6. A forma mais simples é aqui a
nesse momento,
(lue apresenta somente quatro raios que dividem a circunferência em
este poderá ser representado igualmente pelo centro, e então a circun-
partes iguais, isto é, dois diâmetros retangulares formando uma cruz
ferência, na qual se detêm, de fato, os raios emanados deste, represen-
no interior da circunferência 7. Essa figura corresponde, naturalmen-
tará o outro pólo da manifestação, quer dizet, a Terra, a própria su- tc, ao ponto de vista espacial, à determinação dos pontos cardeais s.
perfície do círculo correspondendo, nesse caso, ao domínio cósmico Por outro lado, do ponto de vista temporal, a circunferência, se a
inteiro. Além clisso, o centro é unidade e a circunferência multiplicida- representarmos como se percorrida num certo sentido, é a imagem
de, o que exprime bem os caracteres respectivos da Essência e da de um ciclo de manifestação, e as divisões determinadas nessa cir-
Substâniia universais. Poder-se-á também limitar-se à consideração de cunferência pelas extremidades dos ramos da cruz corresponderão
um mundo ou de um estado de existência determinado. Então o centro então aos diferentes períodos ou fases nas quais se divide esse ciclo.
será naturalmente o ponto onde a "Atividade do Céu" se manifesta Tal divisão pode, naturalmente, ser encarada, por assim dizer, em
nesse estado, e a circunferência representará a materid secunda desse diversas escalas, conforme se trate de ciclos mais ou menos extensos 0.

mundo, que desempenha, relativamente a ele, um papel correspon- A idéia da roda evoca, além disso, de imediato, por si mesma a de
dente ao da materiu prima em relação à totalidade da maniÍestação "rotação". Essa rotação é a figura da mudança contínua à qual estão
universal 5. submetidas todas as coisas manifestadas e é por isso que se fala
também da "roda do devir 1o". Num tal movimento, há apenas um
A figura da roda difere daquela sobre a qual acabamos de falar único ponto que permanece fixo e imutável, e esse ponto é o centro 11.
apenas pélo traçado de certo número de raios, que indicam mais Não é necessário insistir mais , aqui em todas essas noções.
eiplicitamente a relação da circunferência à qual eles chegam com Acrescentaremos apenas que, se o centro é, de início, um ponto de
o tentro de onde saíram. E ó claro que a circunferência não poderia partida, é também um ponto de chegada: tudo se origina nele e tudo
existir sem seu centro, enquanto este é absolutamente independente deve, finalmente, retornar a ele. Uma vez que todas as coisas só
daquela e contém principalmente todas as circunferências concêntri- existem pelo Princípio (ou pelo que o representa relativamente à
cas possíveis, que são determinadas pela maior ou menor extensão manifestação ou a certo estado desta),, deve haver entre elas e ele
dos iaios. Essei raios podem evidentemente ser figurados em número uma ligação permanente, figurada pelos raios que reúnem no centro
variável, já que são realmente em quantidade indefinida como os todos os pontos da circunferência. Mas esses raios podem ser per-
pontos dá ciicunferência que são as extremidades deles' Mas, na
verdade, as figurações tradicionais comportam semple números que 6. As formas que mais comumente se encontram são as rodas de seis
têm, por si mesmos, valor simbólico particuiar, o qual se acrescenta e oito raios, e também de doze e dezesseis, números duplos daqueles.
à significação geral da roda para definir as diferentes aplicações que 7. Falamos, noutra obra, das relações dessa figura com a da suastica
(Le Symbolisme de la Croix, cap. X).
8. Ver figuras 13 e 14.
que 9. Ter-se-á assim, por exemplo, só na ordem de existência terrestre, os
Já falamos suficientemente do simbolismo dos "raios solares", de modo quatro momentos principais do dia, as quatro fases da lua, as quatro estações
qrur" nao é necessário recordá-lo a esse respeito. Em alquimia, é sigao do do ano, e também, por outro lado, as quatro idades tradicionais da humani-
óu.á, qr", como "luz mineral", corresponde, entre os metais, ao Sol entre os dade, bem como as da vida humana, isto é, em síntese, de modo geral,
piunétur. Na ciência dos números, é o símbolo do denário, na medida em todas as correspondências quaternárias do gênero daquelas a que já aludimos
que este constitui um ciclo numeral completo. Desse ponto de vista, o. cen- no que precede.
tio é t e a circunferência é 9, formando juntos o total 10, pois a unidade' 10. Cf. a "roda da Fortuna" na antiguidade ocidental e o simbolismo
,".0" pràprio princípio dos números, deve ser colocada no centro e não da lO.a lâmina do Tarô.
na " cuja medida natural, aliás, não se efetua pela divisão de- 11. Deve-se, além disso, conceber o centro como s€ contivesse princi-
,imui, u.ri* como explicamos anteriormente, mas por uma divisão segundo
"ircrni"rência, palmente a roda inteira, e por essa razão Guillaume Postel descreve o centro
múltiplos de 3, 9 e 12. do Eden (que é também, simultaneamente o "centro do mundo" e sua ima-
5. Para tudo isso, pode-se reportâr às reflexões que desenvolvemos em gem) como "a Roda no meio da Roda", o que corresponde ao que expli-
camos ao tratar do Míng-tang.
Le Ràgne de la Quantité et les Signes des Temps'
139
138
coÍridos em dois sentidos opostos: primeiro, do centro para a cir- a um ponto de vista igualmente diferente numa certa medida; mas.
cunferência e, em seguida, da circunferência em retorno para o no fundo, não deixam de se coadunar menos exatamente quanto i\
çentro u. H.'à, portanto, aí duas fases complementares, a primeira das :sua significação essencial, e deve-se apenas ter o cuidado d-e, como
quais é representada por um movimento centrífugo e a segunda por sempre em semelhante caso, não confundir os diversos sentidos clc
um movimento centrípeto 13. São essas duas fases que são compara- que são suscetíveis seus elementos f i. Cabe notar., nesse sentido, que,
dás tradicionalmente, como dissemos rrruitas vezes, às da respiraçâo, em qualquer. ponto da circunferência e para esse ponto. a direção.Ja
assim como ao duplo movimento do coração. Vê-se que temos aí tangente pode ser considerada como a horizontal e, por conseguinte,
um ternário constituído pelo centro, o raio e a circunferência, e no a do raio que the é perpendicular como a vertical, de moclo qué todo
qual o raio desempenha exatamente o papel do termo médio tal raio é, de algum modo, um eixo virtual. O alto e o baixo podem,
como o definimos anteriormente. Por essa razão, na Grande Tríade portanto, ser considerados como se correspondessem sempre a essa
extremo-oriental, o Homem é às vezes assemelhado ao raio da "roda direção do raio, encarada nos dois sentidos opostos: mas, enquanto,
cósmica", cujo centro e circunferência correspondem então, respec- na ordem das aparências sensíveis, o baixo á na direção do centro
tivamente, ao Céu e ri Terra. Como o raio emanado do centro "mede" (que é então o centro da terra) 1?, deve-se aqui fazer a aplicação
o Cosmos ou o clomínio da manifestação, vê-se ainda por isso que do "sentido inverso" e considerar o celtro comó sendo, na ráalidade,
o "homem verdadeilo" ó justamente a "medida de todas as coisas" o ponto mais alto 18; e assim, de qualquer ponto da circunferência
nesse mun<Io, do mesmo modo que o "Homem Universal" o é para de que se parta, esse ponto mais alto permanece sempre o mesmo.
a integralicladc «la manifestaçãto 11. E poder-se-á clbservar também a Devemos, portanto, representar o Homem, assemelhado ao raio da
esse respeito que, na figura dc que falírvamos há pouco, a cruz Êor- roda, como se tivesse os pés na circunferência e a cabeça como se
mada pelos clois diâmetros rctangulares, c que equivale, de certo tocasse o centro. E, de fato, no "microcosmos", podemos dizer que,
modo, ao conjunÍo cle todos os raios da circunferência (estando de todos os pontos de vista, os pés estão em correspondência com a
todos os momentos cle um ciclo como quc rcsumiclos, em suas fases Terra e a cabeça com o Céu 1e.
principais), dá precisamente. ent sua fortna contpleta, o símbolo mes-
mo do "Homem L]niversal" 15.
Naturalmente, esse último símbolo é diferente, pelo menos em
aparência, do que mostra o homem como se estivesse situado no
próprio centro de um estado de existência, e o "Homem Universal"
como se fosse idêntico ao "Eixo do Mundo", porque corresponde 16. Para dar disso outro exemplo que se relaciona com o mesmo âssun-
to, na tradição hindu e por vezes também na tradição extremo-oriental, o
Céu e a Terra são representados como as <Iuas rodás do ,,carro cósmico',.
12. Poder-se-ia. portanto, conceber a reação do princípio passivo como O "Eixo do Mundo" é então fig,rado pelo eixo que une essas duas rodas
se fosse uma "resistência" que detém as influências emanadas do princípio ctn seus ce_ntros, e que, por essa razão, deve-se supor vertical, como a.,ponte,,
ativo e limita seu campo de ação. É, aliás, o que indica também o simbo- cle que falamos antes. Nesse caso, a correspondência das diferentes partes
lisrno do "plano de reflexão". rlo carro não é, evidentemente, a mesnla que quando, como dissemos ante-
l icrmente. são o dossel e o soalho que l.epresentam, respectivamente, o Céu
L3. É necessário ter aqui o cuidado de observar que esses dois movi- e ir 'l'erra, sendo o mastro então a figura do ,'Eixo do Munclo'. (o que cor_
mentos são tais em relação ao Princípio e não em relação à manifestação, .csponde à posição normal de um carro comum). Aqui, por outr.o iaclo, as
isso para evitar os erros a que se poderia ser levado se se negligenciasse
loclas do carro não são levadas especialmente em conta.
fazer a aplicação do "sentido inverso".
17. Cf. L'Ésotérísnte de Dartte, cap. VIII.
14. Cf . Le Symbolísme de Ia Croíx, cap. XVI' 18. Esse "reviramento" resulta, além disso, do fato de que, no primei-
15. Sobre essa mesma figura, explicada pelas equivalências numéricas ro crrso, o homem está colocado no exterior da circunferência (representando
cle seus elementos, ver tambóm L.-Cl. de Saint-Martin, Tableau naturel de,s r'Itão a superfície terrestre), enqLlanto, no segundo, está em seu interior.
rapports qui cxistent entre Díeu, I'Homme et |Unívers, cap. XVIII. Comu- 19. E, para afirmar ainda mais essa correspondência, iá assinalada pela
mente essa obra ó designada pelo título abreviado de Tableau naturel, mas D'tipria forma das partes do corpo, assim como por sua-siiuação r.rp.ciivu,
damos aqui o título conrpleto para destacar que, uma vez que a palavra (luc os antigos confucionistas usavam um barrete redondo e- sapatos qua-
"Universo" foi nela usada no s:ntido cle "Naturez:r" em geral, ela contém rl'lrclos, o que se deve ligar tan-rbém ao que dissemos antes em relaçãô à
rnenção explícita ao ternário Deu.s, Honto, Nolura. lolna das vestimentas rituais dos príncipes.

140 141
cquivalente em qualquer outra tradição) pela presença em scu scio
dos Arltats, que atingiram o grau de "homem verdadeiro" a c, por
conseguinte, estão de fato situados no próprio centro do estado
humano.
Quanto ao Buddha, pode-se dizer que representa o elemento
transcendente, através do qual se manifesta a irrfluência do Céu c
que, em. seguida, l'encarna", por assim dizer, essa influência em re-
Capitulo XXIV lação a seus discípulos diretos ou indiretos, que transmitem uns aos
Gutros uma participação neia, por uma "cadeia" contínua, por inter-
A "Triratna" médio dos ritcs de admissão no Sangha. Dizendo isso do Brr:ddha,
pensamos, aliás, menos no personagem histórico considerado em si
mesmo, seja o que for que tenha sido, de fato (o que, Co ponto de
Para terminar o exame das concordâncias entre os diferentes vista em que nos colocamos aqui, tem apenas importância de todo
ternários tradicionais, diremos algumas palavras sobre o ternário secundária), do que no que ele representas, em virtude dos ca-
Buddha, I)hartttu, Srutgh«, que constitui a Triratna ou "tríplice jôia", e racteres simbólicos que lhe são atribuídos 6 e que o fazem surgir,
que algurrs ociclcntais chamam, muilo sem razã.o, uma "Trindade antes de tudo, sob os traços do Avatâra7. Em suma, sua manifes-
búdica". Devemos dizer logo cle saída que não é possível fazet cor- tação é justamente a "descida do Céu à Terra" de que fala a Tábuct
I respondcr exata c complctamento seus termos com os da Grande de Esnreralda, e o ser que traz assim as influências celestes a esse
Tríade. Entretanto, tal corrcsponclôrrcia pode ser considerada pelo mundo, depois de as ter "incorporado" à sua própria natureza, pode-se
I menos sob certos aspectos. Com efeito, para comeÇar com o que dizer que representa verdadeiramente o Céu em relação ao domínio
surge inicialmente de modo mais claro, ncssc senticlo, o Sangha ou humano. Certamente essa concepção está muito distante do budismo
a "Assembléia 1", isto é, a comunidade búdica, represcnta aqui, de "racionalizado" com que os ocidentais estão familiarizados pelos tra-
modo evidente, o elemento propriamente humano. Do ponto de vista balhos dos orientalistas; pode ser que corresponda a um ponto de
especial do budismo, ele ocupa, em última anáIise, o lugar da própria
Humanidade 2, porque e7a é para ele a porção "central", aquela em 4. Os Bodhisattlr:a"r, que poderíamos fazer corresponder ao grau de
relação à qual todo o resto é considerado 3, e também porque, de "homem transcendente", escapam, por essa razáo, ao dominio da comuni-
modo geral, toda forma tr,adicional particular só pode ocupar-se di- dade terrestre e residem justamente nos "Céus", de onde "regressam", por
via de reaiização "descendente", apenas para se manifestarem como Buddhas.
retamente de seus aderentes efetivos e não dos que estão, se podemos 5. É apenas, aliás, em relação a isso que o nome de Buddha lhe é dado
nos exprimir assim, fora de sua "jurisdição". A1ém disso, a posição e lhe convém realmente, urna vez que não é um nome próprio individual,
"central" dada ao Sangha, na ordem humana, justifica-se realmente o qual, além de tudo, não poderia mais aplicar-se em tal caso (cf. Aperçus
(como, aliás, poderia sê-lo igualrnente e pela mesma razáo a de seu sur I'Initiatíotr, cap. XXV[).
6. Dizer que esses caracteres são simbólicos, é claro, náo quer dizer,
de modo algum, que não tenham sido possuídos de fato por um personagem
1. Evitamos o emprego do termo "lgreja", que, embora tendo etimo- real (e diríamos mesmo, sem dificuldade, tanto mais real quanto mais sua
logicamente quase a mesma significação. foi usado, no Cristianismo, corn individualidade se anula diante desses caracteres). Já falamos muitas vezes
um sentido especial que não se pode aplicar a outra coisa, do mesmo modo do valor simbólico que têm necessariamente os próprios fatos históricos, de
que o termo "Sinagoga", que tem ainda mais exatamente a mesma signifi- modo que não cabe mais insistir nisso (cf. sobretudo Le Symbolisme de la
cação original, adquiriu, por sua vez, um sentido especificamente judaico. Croix, preàmbulo), e relembraremos apenas mais uma vez, nessa ocasião, que
"a própria verdade histórica só é sólida quando deriva do Princípio,, (Tchoang-
2. Poder-se-á; recorclar aqui o que dissemos no início a respeito do tseu, cap. XXV).
papel similar do termo ltouei, ou do que ele representa, no caso da Trien-ti-
houei.
7. Para maiores esclarecimentos a propósito do assunto, o melhor que
fazemos é remeter o leitor aos diversos trabalhos nos quais Ananda K. Cooma-
3. Já explicamos esse ponto de vista, num outro caso! a propósito da râswamy tratou dessa questão, principalmente sets elements oJ Buddhist lco-
situação "centra1" atribuída ao Império chinês. nograplry e The Nature of Buddhist Art.

142 143
vista ''mahâianista", mas essa não poderia ser uma objeção válida laciona oom o lado "substancial" da manifestação. É verdade que,
para nós, pois parece de fato que o ponto de vista "hinaianista" que por outro lado, a idéia de estabilidade se refere a algo que, no próprio
nos acostumamos a apresentar como "origina7", talvez porque se domínio da mudança, escapa a essa mudança, portanto, deve situar-se
coadune bem por demais com certas idéias preconcebidas, seja, bem no "Invariável Meio". Mas é algo que vem do pólo "substancial",
ao contrário, na realidade, mais do que o produto de uma simples isto é, do lado das influências terrestres, pela parte inferior do eixo
degenerescência. percorrido no sentido ascendente 10. A noção de dharma, assim com-
preendida, náo é, além disso, limitada ao homem, mas estende-se a
Não se poderia, além disso, considerar a correspondência que
todos os seres e a todos os seus estados de manifestação. Pode-se,
acabamos de indicar uma identificação pura e simples, pois se o
portanto, dizer que, em si mesma, ela é de ordem propriamente
Buddha representa, de certo modo, o princípio "celeste", é só, no
cósmica. Mas, na concepção búdica da "Lei", a sua aplicação é feita
entanto, num sentido relativo e na medida em que é, na verdade, o
especialmente à ordem humana, de modo que, se ela apresenta certa
"mediador", isto é, em que desempenha o papel que é precisamente o
correspondência relativa com o termo inferior da Grande Tríade, é
do "Homern Universal" 8. Por isso, no que se refere ao Sangha, de-
ainda em relação à Humanidade, entendida sempre no sentido indi-
vemos, para assemelhá-lo à Humanidade, restringir-nos à consideração
vidual, que esse termo dcve aqui ser considerado.
desta no sentido individual (inclusive o estado do "homem verdadeiro",
que é ainda apenas a perfeição da individualidade). E deve-se ainda Pode-se ainda observar que hír sempre, na idéia de "lei", em
acrescentar que a Humanidade aparece aqui como se fosse concebida todos os sentidos e em todas as aplicaçõcs de que é suscetível, certa
"coletivamente" (uma vez que se trata de uma "Assembléia") em vez característica de "necessidade" ll ou de "constrangimento" que a
de "especificamentc". Poder-se-ia, portanto, dizer que, se encontramos situa do lado do "Destino", e tambóm qte o tlharrza exprime, em
aqui uma relação compar/tvel à do Cóu e do Homem, os dois termos síntese, para todo ser manifestado, a conformidade com as condições
dessa relação são, toclavia, compreendidos no que a tradição que lhe são impostas exteriormente pelo meio ambiente, isto é, pela
extremo-oriental designa como o "Homem" no sentido mais com- "Natureza" no sentido mais amplo dessa palavra. Pode-se desde então
pleto e "compreensivo" dessa palavra, c que <Ieve, de fato, conter em compreender por que o Dharmq bÍrdico tem como símbolo principal
si mesmo uma imagem da Grande Tríade por inteiro. a roda, de acordo com o que expusemos anteriormente a respeito
da significação desta 12. E, ao mesmo tempo, por essa repres€ntação,
Quanto ao Dharma ou à "Lei", é mais difícil encor trar uma
correspondência precisa, mesmo com reservas como as que acabamos 10. A raiz dhri é aparentada, como forma e senticlo, a outra raiz dhru,
de formular para os dois outros termos do ternário; a palavra dharmo da qual deriva a palavra dltruva, que designa o pólo. Por isso, pode-se dizer
tem, aliás, em sânscrito, sentidos múltiplos, que é preciso saber dis- que a idéia de "pólo" ou de "eixo" do mundo manifestado desempenha im-
portante papel na concepção mesma do dharnta. Sobre a estabilidade ou
tinguir nos diferentes casos em que é empregada e que tornam uma - principal no ponto mais
imobilidade como reflexo invertido da imutabilidade
definição geral quase impossível. Pode-se, entretanto, observar que baixo da manifestação, cf. Le Rêgtte de la Quantité et les Sígnes des Temps,
a raiz dessa palavra tem precisamente o sentido de "sustentar" 0 e cap. XX.
fazer, nesse sentido, uma aproximação com a Terra que "sustenta", 11. Nisso pode-se tratar, segundo os casos, quer de necessidade lógica
ou matemática. quer de necessidade "física", quer aincla de necessidade dita
conforme o que foi explicado antes. Trata-se, em síntese, de um "moral", de modo bastante inadequado, aliás. O Dharnta búdico entra na-
p,rincípio de conservação dos seres, portanto de estabilidade, na me- turalmente nesse último caso.
dida, pelo menos, em que esta é compatível com as condições da 12. O Dharnru-cltokra ot "roda da Lei" é, em geral, uma roda de
manifestação, pois todas as aplicações do dharma se referem sempre oito raios. Estes, que podem naturalmente se.r postos em relação, no sim-
bolismo espacial, com os quatro pontos cardeais, e os quatro pontos interme-
ao mundo manifestado. E, como dissemos ao tratar do papel atribuído diários, correspondem, no próprio Budismo, às oito sendas da "Via Exce-
a Niu-koua, a funÇão de assegurar a estabilidade do mundo se re- lente", assim como às oito pétalas do "Lótus da Boa Lei" (que se pode tam-
bém comparai, por outro lado, às oito "bem-aventuranças" do Evangelho).
8. Poder-se-á, a esse respeito, reportar-se ao que dissemos anteriormen- Uma disposição similar é encontrada, além disso, r-ros oito koua on trigramas
te sobre o "homem transcendente" e o "homem vercladeiro", e sobre as rela- de Fo-hi. Pode-se notar a propósito que o título do Yi-king é interpretado
'Ções dos diferentes graus das hierarquias taoísta e confucionista. como se significasse "Livro das mutações" ou "das mudanças na revolução
9. A raiz- dhri significa carregar, suportar, sustentar, manter. circular", sentido que apresenta evidente lelaÇão com o simbolismo da roda.

144 145
vê-se que se trata de um-princípio passivo em relação ao Buddha,
rlma vez.gue é este que 'ofaz girat a roda da lei,, 18. Deve, aliás, de
modo evidente, ser assim, desde qae o Buddha se situa aó rãoô aas
influências celestes, como o Dharma do lado das influências terrestres.
E podemos acrescentar que o Bud"dha, pelo fato mesmo oe estar atem
das condições do mundo manifestado, nada teria em comum
o Dharma 1a, se não tivesse de faznr a apricação dere à Humani- "om
dade, do mesmo modo que, segundo o q.re uimor antes, a prov-iàãncia
nada teria em comum com o Destino sem o Homem que liga entie
Capítulo XXV
si
esses dois termos extremos do ,,ternário universal,,.
A Cidade dos Salgueiros

Embora, como dissemos desde o início, não tivéssemos a


intenção de estudar especialmente aqui o simbolismo ritualístico da
Tien-ti-hauei, há, no entanto, um ponto para o qual temos de chamar
a atenção, .pois se refere claramente a um simbolismo ,,polar,,,
que não deixa de ter relação
99q algumas das consideraçõês que
expusemos. O caráter "primordial,, desse simbolismo, sejám qúis
forem as formas particulares de que possa se revestii, ,ügu urp"_
cialmente pelo que dissemos a propósitõ da orientação. Ê isõ é fâcil
.le compreender, visto que o centró é o ,.lugar,, que corresponde pre_
cisamente ao "estado primordial,', e, além diiso, o centro e õ pólo ião,
na realidade, uma única e mesma c,oisa, pois se trata sempre nisso
do ponto único que permanece fixo e invàriável em todas'as revo-
luções da "roda do devir 1',. O centro do estado humano pode, por_
tanto, ser representado como o pólo terrestre, e o do universo total
como o pólo celeste; e pode-se dizer que o primeiro é, desse modo,
o "lugar" do "homem verdadeiro", é o sêgundo o do ,,homem
transcendente". Além do mais, o pólo terrestró é como o reflexo do
pólo celeste, uma vez que, na mãdida em que se identifica com o
centro, ele é o ponto onde se manifesta diietamente a .,Atiüdade
do Céu"; e esses dois pólos são reunidos um ao outro pelo ,,Eixo
{9 Yyr{o", segundo a direção do qual se €xerce essa ,,Atividade do
Céu",. Por essa razão, símbolos eitelares que pertencem verdadei_
ramente ao pólo celeste, podem ser relacionaãos iambém com o pólo
terrestre, onde se refletem, se podemos nos exprimir assim, por
13. .Ele d_esempenha nisso um paper similar ao do chakravarrâ ou..mo-
narca universal", numa oulla apÍicação do simbolismo da rúu. óú-ü uriar, ao que se refere_mais_ particularmente ao simtrolismo do pólo,
que sakiamúni teve de escolher éntre a função do n"aani f. Quarrto.
remetemos o leitor a nosso estudo sobie Le Roi du Monde.
14. Essa ausência de relaçáo com o-Dharm, córresponde-uo
"-á-áo-cnoiior,*i.
ao
Pratvê'ka-Buddha, que, chegado ào termo da realização ioiár, oào a.i""iroru-
"riuá" - 2. _São - as duas extremidades do eixo do ,,carro cãsmico,,, quando às
duas rodas deste representam
mente" na manifestação.
o céu e a Terra, com u signiiiõãçâ"'ãi.-.rr",
dois termos têm no Tríbhuvana.

146
147
portanto, à alternância das vidas e das mortes que é a conseqüência
"projeção" no domínio correspondente. Desde então, exceto nos casos
dela, de modo que pode ser dito verdadeiramente "imortal"Í); e, se-
em que esses clois pólos são expressamente assinalados por símbolos
gundo a outra significação, há ali uma alusão bastante explícita à
distiÀtos, não cabc difelenciá-los, tendo assim o rlesmo simbolismo
situação "extra-cósmica" da "cumeeira do Céu".
aplicação em dois graus diferentes de universalidade. E, isso, que
eiprime a idcntidade virtual do centro do estado humano com o do Agora, o que ó ainda muito notável, é que a "Cidade dos Sal-
sei total :', corresponde também, ao mesmo tempo, ao que clizíamos gueiros" é representada ritualisticamente por uma vasilha cheia de
antes, que, clo ponto de vista humano, o "homem verdadeiro" não atÍoz, a na qual são plantados diversos estanclartes simbólicos 1').
pocle ser clistinguido da "marca" do "hontem transcendente". Essa figuração pode parecer bastante estranha, mas explica-se sem
dificuldades desde que se saiba que a "Vasilha" (Teu) é, na China,
Na iniciação à Tien-ti-hctuei. o neófito, depois de ter passado
por cliferentes etapas preliminares, a ílltima das quais é 'Cesignada o nome da Ursa Maiorrr. Ora, sabe-se qual a importância da'da tra-
dicionalmente a essa constelaçãol e, na tradição hindu sobretudo, a
õomo o "Círculo do Céu e cla Terra" (Tien-ti-kíuen), chega final-
Ursa Maior (sapta-rik,sluL) é considerada simbolicamente Çomo a mo-
mente z\ "Cidade dos Salgueiros" (N'lou-yattg-ícheng), que é tambóm
1. O primeiro rada dos sete Rr.rlti.r', o que I'az dela de fato um equivalente da
çhamacla a "Casa da Grande Paz" (T'ai-ping-chouartg)
"morada dos Imortais". Além clisso. conro os sete Rlslris representam
desses rJois nomes explica-se pelo fato dc que o salgr'reiro ó, na
China, r-rrn símbolo cle imortalidade" Ecluivalc" portanto, i\ acácia na
a sabedoria 'supra-humana" clos ciclos anteriores ao nosso, é tam-
Maçonaria, ou ao "ramo de ouro" nos tlistérios antigos ;. E, em bóm como uma espócie de "arca" na qual está etlcerrado o depósito
virtude dessa significação, a "Cidade clos Salgueiros" é, na verdade,
do conhecimento tradicional, a fim de assegurar sna conservação e
transmissão através das idadest2. Por isso ainda é urna imagem dos
a "morada dos Imortait" c. Quanto à segunda denominação, indica
tão claramente quanto possível que se trata de um lugar considerado
corr.ro "cerrtral" ?, pois a "Grandc Paz" (em árabe Es-Sakinah)
sé 9. É, para o "homem veldadeiro", apenas a imortalidade virtual, rnas
que ss tornará plenamente real pela pa-ssagem direta, a partir do estado hu-
a mesma coisa que a Shekinah da Cabala hebraica, isto é, a "presença mzrno, para o estado supremo e incondicionado (cf. L'Homnte et son rlevenir
clivina" que é a própria manifestação da "Atividade clo Céu", e que, selon le Vêdânta, cap. XVIII).
como jir dissemos, só pode residir de fato num tal lugar, ou num 10. Pocler-se-ia fazer aclui uma aproximaÇão com os estandartes do "Cam-
"santuirrio" tradicional que the é assemelhado. Esse centro pode, além po dos Príncipes" no "quadro" do 32.'r grau da MaÇonaria escocesa, onde, pot'
clisso, rcpresentar, conforme o que acabamos de dizer, quer o dt-l uma coincidência mais extraorclinária aintla, acha-se. alóm clisso, entre várias
palavras estranhas e clifíceis de intcrpretar, a palavra Sa/ir, que significa pre-
munclo humano, quer o do Universo total. O fato de que ele está cisamente "salgueiro" em latim. Não queremos, aliás, tirar nenhuma conse-
além clo "Círculo do Céu e da Terra" exprime, segundo a primeira qüência desse último fato, que indicamos apenas a títu1o de curiosidade.
significaçiro, que aquele que chegou lá escapa, por isso mesmo, ao Quanto à presença do arroz na vasilha, ela evoca os "vasos de abundância"
-
mãvirnenlo dá "roda cósmica" e às vicissitudes do yin e do yang, das diversas tradições, cujo exemplo mais conhecido no Ocidente é o Gruol,
e que têm uma significação "central" (ver I'e Roi du Monde, cap. V)' O arroz
representa aqui o "alimento d€ imortalidade", que tem, além disso, por equi-
3. Vol as considerações que expusemos a esse respeito em Le Symbo- valente a "bebida de imortalidade".
lisnw dc Iu Croit. 11. Não há aí nenhum "trocadilho", contrariamente âo que diz B. Favre.
4. Vcr Il. Favre . Les
'Sociétás secràtes cn Chine, cap. VIII. O autor A vasilha é, na verdade, aqui realmente o próprio símbolo da Ursa Maior,
- daqui
viu corrctamcnlc o que é o símbolo da vasilha, de que trataremos a como a ba'lança o foi, numa época anterior, pois, segundo a tradição extremo-
pouco, mas não sottbe tirar clele as conseqüências mais importantes' orienÍal, a lJrsa Maior chama-se "Balança de jade", isto é, segundo a signi-
5. Cf . L'ti.çotlrisnte de Dattte, cap. V. Íicação simbólica do jade, Balança perfeita (como noutras pattes a Ursa Maior
6. Soblc ir "ntorada de imortalidade", cf . Le Roi du Monde, cap. VII e e a Ursa Menor foram assemelhadas aos dois pratos de uma balança), ante's
Le Ràgne dt' lu ()tronrité at les Sigttes des Temps, cep. XXIII. que esse nome da Balanca tivesse sido transferido para uma constelação zodia-
7. No simbólisrno nraçônico. a acácia se iicha também na "Câmara do cal (cf. Le Roi dtt Monde, cap. X).
Meio". 12. O arroz (que equivale naturalmente ao trigo noutras tradições) tem
8. CÍ. Lc ltoi du Montlc, cap. III' e Le Symbolísme de la C'toix, caps' tambóm uma significação que se relaciona com esse ponto de vista, pois o ali-
vll e vIII. É tambóm tr Pax Proltutrla dos rosa-cruzes; e devemos lembrar. mento simboliza o conhecimento, sendo o primeiro assimilado corporalmente
- quc o nomc tle "Grande Paz" (Tai-ping) foi adotado. no sé'
por outro laclo, pelo ser. como o segundo o é intelectualmente (cf. L'Homme et son devenir
culo XIX, por uma organização emanada da Pe-liert-houei.
149
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centros espirituais que têm, de fato, essa função, e, antes de tudo, milação fonética de iatl com Gcd, o que, aliás, no fundo, não lhe
do centro iupremo que guarda o depósito da Tradição primordial. altera o senti«lo f ,i. As interpretações diversas que se dão comunent:
Nesse ientido mencionaremos outro simbolismo "polar" não rlisso (e das quais a mais importante é a que se refere à "Geome-
menos interessanle, que se encontra nos antigos rituais da Maçonaria tria"), scndo possíveis apenas, erfl sua maioria, nas línguas ocidentais
r7,
operativa: de acordo com alguns desses rituais, a letra G é figurada mcdernas, só iepresentam, apesar do que dizem alguns sobre elas
nô centro de uma abóbada, exatamente no ponto que corresponde acepções secundárias que vieram acessoriamente se agrupar em
à Estrela polar Um fio de prumo, suspenso nessa letra G, cai
13. torno dessa significaçãc essencial 18. A letra ir;d, primeira do T'etra-
diretamente no centro de uma sudstica traçada no assoalho, e que gÍaÍfla, representa o Princípio, de modo que é considerada como se
representa assim o pólo terrestrel'r: é o "fio de prumo do Grande õonstituísse por si mesma urn nome divino. E,la é, além disso, em
Aiquiteto do Universo", Que, suspenso do ponto geométrico da si mesma, pêla totma, o elemento principal de que derivaram todas
"Grancle Unidade" ií, desce clo pólo celeste ao pólo terrestre, e é as outras letras do alfabeto' hebraico re. Deve-se acrescentar que a
assim a tigura do "Eixo do Mundo". Uma vez que fomos levados a letra correspondente I clo alfabeto latino é'também, tanto por sua
falar da lctra G, diremcs que esta devcria ser, na realidade, um iod forma retilínea colno por scu valor nos algarismos romanos, um
hebraico, que ela substituiu, na Inglaterra, em conseqüência da assi- símbolo da Unidacle x('. E o que ó, pelo menos, curioso é que o som
dessa letra é o mesmo que o da palavra chinesa l, que, como vimos,
significa igualmente a unidade, quer em seu sentido aritmótico, quer
selon le Vêdlinto, cap. IX). Essa significação se liga, além disso, de imediato,
à quc já inrlicamos: de fato, é o conhecimento tradicional (entendido -no sen- tuu tiansposição meta{ísica21. O que talvez seja mais curioso
tidô cle conhecimento real e não simplesmente teórico) que ó o verdadeiro "ali- "Ã
ainda é que Dante. na Divina Comédia, faz Adão dizer que o pri-
nrentc tle imortalidacle", ou, segundo a expressão evangélica, o "pão descido meiro nome cle Deus foi I2i, (o' que corresponde ainda, de acordo
<lo Córr" (Suo toao, VI), pois "não só de pão (terrestre) vive o homem, mas
dc tcrclrr Dalirvra que sai da boca de Deus" (São Maleus, IY, 4; São Lucas, lY'
:1 ) istg é, de rnodo geral, que emana de uma origem "supra-humana". 16. A substituição do iod pelo G é indicada sobretudo, mas sem que
Assinalcrnos a propósito que a expressáo ton arton ton epíusíon, no texto gre- - a .ua razããseja expiicada, na R'ócnpitulation de toute la Maçonneríe ou des-
go clo I'ater, não significa, de nenhum modo, "o pão quotidiano", como se cripÍion et expiicatiàn de i'Hiéroglyphe universel du Maítre des Mai,tres, obra
icm o hírbito de traduzir, mas literalmente "o pão supra-essencial" (e não anônima atribuída a DelaulnaYe.
"supra substancial", como dizem alguns, devido à confusão em torno do termo 17. Existem até alguns que parecem acreditar que só mais tarde é que
rrsra c1trc intiicamos em Le Rà,grte de la Quatttité et les Signes des Temps, cap. a letra G teria siclo coniiderada a inicial de God. Ignoram, evidentemente, o
l.o). oLr "supracelesie", se entendermos o Céu no sentido extrerno-oriental, isto iuto á" ela ter substituído o íod, que ó o que lhe dá toda sua verdadeira sig-
é, proccdcnle do próprio Príncipe e dando, por conseguinte, ao homem o nificaÇão do ponto de vista esotérjco e iniciático.
rneio cle pôr-se em comunicação com este. 18. Os rituais recentes do grau «le Companheiro, para achar cinco inter-
13. A Ursa Maior é também, por outro lado, figurada atualmente tam- pretações 6a letra G, rtão-lhe múitar vezes sentidos que são, na_ verdade, for-
bém no tolo de muitas Lojas maçônicas, mesmo "especulativas". ãuaó. ". insignificantás. Esse grau tem sido, além disso, particularmente mal-
14. I{ccomendamos muito particularmente isso à atenção dos que pre- ii"táá", se f,odemos dizer asiim, em conseqüência dos esforços feitos para
tendem qrtc "fazemos da sut'tstíctt o signo do póIo", quando dizemos apenas que "modernizá-lõ". No centro da Estrela flamejante, a letra G representa o
tal ó, na rcalidacle, seu sentido tradicional. Talvez não possam, lo entanto, ir - reside no "coração" do homem "nascido duas vezes" (cf.
p"ir.rpr. divino que
até <i ponto dc supor que fomos nós que "fizemos" também os rituais da Ma- Áperçus sur I'lnítiatíon, cap. XLVIII).
çonrrIiil ()Pcl ulivlll é 10, e remetemos o-leitor
lg. Sabe-se qrr" o rul,ot numórico clessa letra ponto
15. Essc mcsmo ponto é também, na Cabala hebraica, de onde está sus- ao que dissemo, unt.s a respeito do simbolismo do no centro do .círculo.
pensa ir balança de qie se trata no Sípltra'di-Tsetlitttha, pois é no -pólo que 20. Talvez tenhamo, ãlgu- <lia a oportunidade de estudar o simbolisntu
iepousa o equiiíbrio tlo mundo; e esse ponto é designado como "um lu.gar que g"o-ei.i.o de certas letras dã alfabeto làtino e o uso que se fez de'las nas
não é", isto é, conro o "não manifestado", o que corresponde, na tradição ex' iniciações ocidentais.
tremo-oriental, àr ussinrilação da Estrela Polar, como "cumeeira do Céu", ao da letra latina I
it. O caráter i é também um traço retilíneo, só difere verticalmcnte'
"lugar" do próprio Príncipe. Isso tem igualmente relação com o -que dissemos nelo fàto de ser colocado horizontalmente em vez de sê-lo --
antés cla balan(a ao llatar c1a Ursa Maior. Os dois pratos da balança, com frá-uiiuú.t" árabe, é a primeira letra alif, valendo numericamente a lnidacle,
seu movimento alternativo cle subida e descida, referem-se naturalmente às que tem a forma de um traço retilíneo -vertical'
=-- i;. Paraíso, xxVI, li3-134'
vicissitudes do yür e clo .rattg. A correspondência com o yín, de um lado, e o Num epigrama atribuítlo a- Dante, a
yang, de outro, vale aliíLs. tle moclo geral, para todos os símbolos duplos que -
letra I é chamada a "nona figura", segundo sua ordem no alfabeto latino, em-
apresentam simetria axial. b;;; ; iod a q,e ela correfuonclô seja a «iócima letrtr do alfabeto hebraico.

150 151
com o que acabamos de explicar, à "primordialidade" do simbolis-
mo "polar"), o nome que vem em seguida sendo EI, e que Francesco
da Barberino, em seu Tradatus Amoris, faz-se representar a si mes-
mo numa atitude de adoração diante da letra I23. É fácil agora
compreender o que isso significa: quer se trate do iod hebraico ou
do I chinês, esse "primeiro nome de Deus", que era também, segrndo
toda verossimilhança, seu nome secreto entre os Fedeli d'Amore,
nada mais é, afinal de contas, que a própria expressão da Unidade Capítulo XXVI
principal 2a.

A Via do Meio

Terminaremos este estudo por uma última observação a respeito


da "Via do Meio". Dissemos.que esta, identificada à.,üa do iéu,,,
é representada pelo eixo vertiiar considerado no r.rtido-ã.""rà.nt..
Mas cabe acrescentar que_ isso corresponde precisamente ao ponto
de vista d" yq ser que, colocado no centro do estado humano, iende
a elevar-se daí aos estados superiores, sem ter ainda che!ãáã'e.ru-
lização total. Quando esse ser, ao contrário, identificoõ_se com o
eixo por sua "ascensão", segundo a direção desta, até u ,,.u*"airá
do. C9u", ele levou, por assim dizer, por essa razão, o centro do
es_
tado humano, que foi seu ponto de partida, a coincidir para ele com
o
centro do ser total. Noutras palawas, pam tal ser, o pólo terrestre
constitui apenas um com o pólo celesté. E, de fato, aisim deve ser
necessariamente, visto que ele cheêou finalmente ao estado principal,
que é anterior (se podemos aindá empÍegar em tal ,.u pu_
lavra que evoca o simbolismo temporal) ã separação"u.o do Céu e da
,l
Terra. Desde então, não há mais, -falando
,l em termos exatos, eixo,
como se esse ser, à medida que se identificasse com o eixo, o iir"rr",
de certo modo, "reabsorvido,, até redaa-lo a um ponto único. Mas,
é claro, esse ponto é o centro que contém em .i mesmo todas as
possibilidades, não mais apenas de um estado particular, mas
da
Sabemos, Dor outro lado, oue o número 9 tinha para Dante importância sim- totalidade dos estados manifestados e não-manifestados. somente
bólica muito particular, como se vê principalmentê na Vita Nuoia (cf. L:É,so- para os outros seres é que o eixo subsiste tal como era, visto que
térisme de. Dante, cap. II e VI).
23. Ver Luigi Valli, 1/ Linguaggio segreto di Dante e dei "Fedeli dAmo- nada mudou no estado deles e eles permaneceram no domínio das
rd', vot. II, págs, 120-121, onde se encontra a reprodução dessa figura. possibilidades humanas. só em relaçãó a eles é que se pode
falar de
24, Essas observações poderiam ter sido utilizadas por aqueles que pro- "descida", como o fizemos, e é deide então fáóil qu"
c_uraram-estabelecer aproximações entre a Tien-ti-houei e as iniciações bci- essa "descida" aparente (que, no entanto, é também "o.pr."nãri
úna realidade
dentais. Mas é provável que as tenham ignorado, pois não tinham talvez quase em sua ordem) não poderia, de nenhum modo, afetar o próprio
dados precisos sobre a Maçonaria operativa, e ainda menos sobre os Fedeli
dAmore. "homem transcendentet'.

1,52 153
O centro do ser total é o "Palácio Santo" da Cabala hebraica, aconteceria naturalmente o mesmo com qualquer outro modo de su-
de que falamos noutra obra 1. É, p_oderíamos dizer, continuando a cessão, se se tratasse das condições de outro estado de existência),
o simbolismo espacial, a "s'étima direção", que não é ne- e, desse modo, pode-se dizer, de acordo com o que declaramos a
".pi.gut
;hfu; direção particular, mas que contém todas principalmente. É respeito do "túplice tempo", que não há mais "antes nem depois,'.
táÁUem, segunOã outro simbolismo que talvez tenhãmos .oportuni- Mas há sempre "alto e baixo" em relação a esse ponto e mesmo
dade de exflor de moclo mais completo algum dia, o "sétimo raio" em todo o percurso do eixo vertical, e, por isso, esse último só é
do Sol, uqrrà1. que passa pelo seu próprio centro e que, constituindo, ainda a "Via do Meio" num sentido relativo.
na verdade, apénus^um côm esse centro, só pode ser_realmente re- Para que não haja "alto nem baixo", é preciso que o ponto
presentado pui u- único ponto. É ainda a verdadeira "Via do Meio", onde o ser se situa se identifique realmente com o centro de todos
àr, ruu acepCão absoluta, pois ó esse centro que ó exclusivamente os estados. Desse ponto parte, estendendo-se indefinidamente e de
o "Meio" em' todos os sentidos. E, quando dizemos aqui "sentido"' modo igual 'em todos os sentidos, o "vórtice esférico universal', de
não o entenclemos apenas como diferentes significações de que. uma que falamos noutra obra +, e que é a "Via" segundo a qual se escoam
palavra é suscetível, mas fazemos também alusão, uma vez mais, ao
as modificações de todas as.coisas. Ma.s esse próprio "vórtice", sendo
ii*bolirro «las direções do espaço. Os centros dos diversos estados na verdade apenas o desdobramento das possibilidades do ponto
de existência só têm, cle fato, ô caráter de "Meio" por participação central, deve ser concebido como inteiramente contido nele princi-
e como por reflexo e, por conscqüência, só o tôm incompletamente' pialmentes, pois, do ponto de vista principial (que não é nenhum
Se retomarmos aqui a representação geométrica dos três eixos de ponto de vista particular e "distintivo"), ó o centro que ó o todo.
coordenadas a quê o espiço estír relacionado, pocler-se-á clizer que
Por isso, segundo a palavra de Lao-tsé, "a via que ó uma via (po-
I
tal ponto é o ',N4eio" em relação a dois desses eixos, que são os clendo ser percorrida) não é a Via (absoluta)1t", pois, para o ser que.
eixos horizontais que cleterminam o plano do qual ele-é o centro, se estabeleceu realmente no centro total e universal, é esse próprio
mas não em relaçâo ao terceiro, isto é, ao eixo vertical segundo o
ponto único, e ele apenas, que é verdadeiramente a "Via", fora da
I

qual ele recebe essa participação do centro total.


clual não existe nada.
I
Na "Via do Meio", ial como acabamos de entendê-la, não há
"direita nem esquerda, antes nem depois, alto nem baixo"' E po-
cle-se ver facilmente que, enquanto o ser não chegar ao celtto total,
só os dois primeiros áesses três conjuntos de termos complementares
poderão tornar-se inexistentes para ele.^De fato, desde que o ser
.h.go.r ao centro de seu estado de manifestação, está além de todas
,, ãposiçOes contingentes que resultam -das vicissitudes do yin e do
yoni', e, descle eritão, nãô há mais "direita nem esquerd.a"'-Além
âirú, o sucessão temporal desapareceu, .transmudada
em simuitanei-
dade com o ponto ientral e
iprimordial" do estado humano 3 (e

l-r- *"i dtt Monde, cap. VII, e Le Symbolisme de la Croíx' cap' IV'
- ,. ôr. u sl,rrbolisnte ie Ia Croix, cap' VII'doSe"mal"'
se quiser' pod-er-se-á
mas desde que
tomar como tipo'dessa.s oposições a do "bem" e
àrrá. t.tn-. ,"jn* sua acepção mais ampla e -não exclusiva- 4. Le Syrnbolísnte de l« Croix, cap. XX.
"nt.rJidos'em"moral" que se thes dá mais comumente.
ii.nt" ná r"rticlo simplesmente 5. Ainda aqui é um caso de "reviramento" simbólico resultante da
na rea-
ÃinJo u.rin-r, isso nadâ mais seria do que um caso particular, pois, nenhum pilssagem do "exterior" ao "interior", pois esse ponto central é, eviclenternen-
iià"a", ta muitos outros tipos de oposições que não se podem' de tc. "interior" em relação a todas as coisas, embora, por outro lado, para
n i.à"ri. àquele, comà, pot .*.-plo, aJ. dos elementos (fogo e água' rttluele que chegou a ele, não haja mais realmente "e,xterior" nem "interior".
"ao,
;;;i.r*)-;-aà.'qruilaoa.s'sàsíveis (sêco e úmido, quente e frio)' nlas apenas uma "totalidade" absoluta e indivisa.
3. CÍ. Le Ràs1ne de la Quantíté et les Signes des Temps' cap' XXIII' 6. Iao-te-king, cap. 1.o.

t54 155
Leia também A FRANCO-MAÇONARIA SIMBÔLICA E
INICIÁTICA
O LIVRO DO CAMINHO PERFEITO
Ieon Polou
Tao té ching
Lao TsÉ

Há versos do Tao té ching que lembram o clarão rápido e


ofuscante do raio. Numa fração de segundo, apanhamos a sua
mensagem, que de tão cristalina que é, dispensa o comentário
prolongado: "Quando não valorizamos os artigos difíceis de
óbter, ertamos impedindo que sejam roubados," ( . . . ) Quando
o ouro e o jade enchem um salão, seus donos não poderão Este é um ratado maçônico bastante atualizado e que po-
manter a segutança." (...) "Quando ariqueza e as honrarias
conduzem à arrogância, decerto o mal virá logo a seguir." derá servir de guia tanto para o maçom militante quanto para
E, como o raio, estes versos ffarão consigo o ruído do tro- o estudioso dos mistérios e da evolução histórica cla ordem. seu
vão, conduzindo-nos à reÍlexão demorada. No entanto, alguns autor, um francês dotado de fino espírito crítico, oferece uma
dos seus versos, inapreensíveis de imediato, não poderão pres-
documentação muiro rica das práticas e dos ritos iniciáticos,
cindir da explicação do Dr. Murillo Nunes de Âzevedo, monge entre
budísta e tradutor vigoroso. Assim, em versos como "Suavizai os quais merecem uma menção especial os ritos das mulheres.
o corte/Desfazei os nós/Diminuí o brilho", encaixa-se, com per- Analisa também a fase difícir atravessada pela Franco-maçonaria
feição, a lição breve e sagaz de MNA'("Os nós e o'corte'refe- na época da Revolução Francesa e do Império napoleônico, em
rem-se às dificuldades que criamos, às situações insolúveis, por-
que estão cheias de nós. O 'corte' é a supressão constante do especialo desempenho do famoso imperador. o leitor estudioso
intelecto, do raciocínio lógico, que decepa o que é uno. O 'bti- terá nas mãos um manual honesto e de assunto sério, que
e
lho' decome do polimento produzido pelo conhecimento livresco, não raro tem aparecido, noutros lugares, marcado por
adquirido quando o homem passa a brilhar com o fulgot das um parti-
darismo ou por um sensacionalismo capazes de lhe prejudicar
citações, da repetição mecânica do que foi dito por ou*os, mas o
por trás disso não pã§sni profundidade."), cujo nome, de ora em conteúdo profundamente espiritual e universal.
diante, estará ligado . aO:, Liuro do Carninho Perleito, que Lao Tsé,
segundo se sabe, terie êscrito durante um pernoite, por solicita-
ção de um guarda de fronteira. A tradição se esqueceu do nome
daquele funcionário, espantado com a figura ímpar dum velhote
de barbicha montado num boi, e que se mudava de cidade por-
que as misérias do Mundo e, particularmente, as coisas da admi-
nistração local, eram de arrepiar caminho. Foi uma grande sorte
para nós todos que aquele guarda se lembrasse de pedir ao filó-
sofo um resumo da sua sabedoria, porque o Tao té cbing, como
o leitor estudioso logo irá dar-se conta, inclui, numas poucas
páginas, uma Metafísica, uma lvÍoral e uma Política.

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FUNDAMENTOS DE TEOSOFTA
CARTAS DE UM MESTRB SUFI
C. Jinaraiadasa
Chaikh Sharfuddi,n Manerô, ou
Makhdú,m-ul-Mulk
.Escrito em linguagem acessível e num estilo agradável, é este
yp do.r mais completos e bem elaborados compêndiás d. téoroiiu.
-rin-
Não obstante a complexidade do assunto, o Àuto. .onr.grri,
tetizá'lo em 16 capítulos Íartamente ilustrados. S.rcessiüs reim-
presões, desde 1921, comprovam-lhe a ampla aceitação púb[cá,
na Inglaterra, nospaíses. dé língua_espanholi na Frania, nànafià',
na Noruega,. na Alemanha, na Holanãa, na érécia. nós. õ
A palavra sulidenvou de çuf, a lá áe camelo usada como livro trata de temas fundamentais como a evolução da "rir"
vida e da
forma, a evolução da- matéria e da força (ass.rnto J" q;iÃi.ã
abrigo pelos szzfls. A mesma idéia de abrigo presidiu a elaboração oculta), ascensão e decadência das civilizações, as reis dà reen-
do presente volume das Cartas de um ffiestre sufi, as quais aga- carnaSo, a lei da ação e da teação, os mundos invisíveis, o fro.n.-
na vida e na
salham a maior parte dos ensinamentos sufistas' -morte, a evolução dos animais, u ,uruírri .--i*
mensagem_de beleza, a evolução da consciênciá, a senda a" áir.i_
Ao apresentar os princípios do SuÍismo, as Cartas têm por pulado, o Plano de Deus, que é evolução.Fazendo rrá ãoãerãàã
objetivo relacionar e integrar tais princípiqs à vida de cada um expositivo da Ciência, explica o Autor: ,,Nada prepara ,,,"tt oiu
con- compreensão da Teosofia do que um esboço g.râl du Ciência mo_
de nós. É por isso que a prática desses ensinâmentos deverá
espiritual, mostrando-1he derna. Quando elas diferem (Ciência . Tàorãfia), ,a" ?-Éãrqã
duzir o leiior ao pleno desenvolvimento a. Teosofia ponha em discussão os fatos ur..u"ráâÀ, p.ioi
que as diferenças entre a vida espiritual e a cotidiana derivaram
.É*
tistas, mas tão-somente porque, antes de se pronunciár, .la t.m
da ilusão. Assim, o que importa é poder vislumbrar o espiritual em vista os Íatos adicionais que a moderna ciência a.i"á
aã uão
ou que ainda não descobriu. Não há senão uma Ciên.ir,'a.rãã
corno um dos meios mais eficazes de harmonizaçáo áa vida inte-
que se estudem os mesmos Íatos; o que é rigororu*.n,"'.i.rtí-
rior com a viáa exterior, de modo que tal vislumbre indique ao fico é teosófico, e vice-versa,,.
lmundanas
discípulo o caminho paru a conciliação das obrigações
e das relações sociais com o desenvolvimento interiot' A união . . l.inarajadasa nasceu em Colombo, no Ceilão, em 1g75. Trans-
Íerindo--se, aos L4 anos,-para a Inglaíena, cursou a
Universidade
de.Cambrid.ge, graduandõ-se, em 1-900, em Filosofía ; il,r*,
corn o Dioino, escopo final desses ensinamentos, deverá resultar R;:
velou-se poliglota notável. Na quaridade de conferencista, percor-
da melhor prática das lições aqui enfeixadas'
Ieu as grandes cidades do mundo. Esteve no Brasil
"i*'tiía,
1934 e 1.938.Para os estudiosos de Teosofiu, o" d.-Uúã"i;;;
enfim, pafa os que se interessam pelo Homem como um
ser em
lv,olrpão, Jliaryigla.tlescreveu inúmeras obras de rif"ráii, Oiãr-
tal, leosotia, Misticismo e Educação, entre as quais, por sua
y1,oÍunt'ifade, se realçam os FuNnerurnivrói ,u i"óiãrioljirrr*
;adasa taleceu nos E.E,U .U. em 195 j,

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A GRANDE TRÍADE

René Guénon

suer das escolas


A idéia de unidade, quer das religióes'
acêita" Á praticabilidade
iniciáticas, tornou-se u'iu"l"'"t*"nte
dessa idéia, no entantõl-"áõ tryq
tem resultado em paralelos
to, falsas comparações' Alegremo-
#ãq;;&,-qr*oo-íao agora- oferecida 'aos leito-
nos, portanto, com u àpotiúiaade
GRANDE TRIADE'
res de língua por,ogo;íãt-"àot'"""t"e grande René Guénon'
'""i,"rai*i".ri* pítiiããoã-t'n
-fiancês uiou pelo
Neste estudo, o o,",t'" mosúa-nos como entender um
com isso descortinando
símbolo básico o" üãoi^çat ãliental' quais se estabelere-m
nos
Dzra os estudiosos amptoi horizontes
:ffiü,#ffiilrúããas entre as diferentes formas de expres-
são do sagrado. taoísta lque o
Como nos enslna o Autor, "no. ternfuio
Terra' Homer-n
r"itoõfira-"upu ao volumel qualidade.de
- 9:", terceiro -.o
elemento
ffiIt ;ttüd;; nãmú,'ná
t'ti, á-aÉ-iutã ,o de homem verdadeiro'
da Tríade, ,u*
J ,f" it, o""*o"
a"" ioài'* t'o*'"'dente' inücando assim as
"""it"
;#iti;;^;;Ã;d;;- p:;q"enos..e dos srandes mistério-s' ou
*'o'fr;J#i;
."ià. u, metas de toda iniciação"'
ã;r;;tláã","cuénon desenvolve o estudo de

símtót,os'similares encontrados até mesmo


no Ocidente' nota-
ài*;" ãuire cristaos, hermetistas e maçons' Indica-nos'
"97
incorretas assimilações en-
e
ãilt." clateza, os equívocos oriental' as.
tre os europeus do simbolismo
Atém de pod"'";;;;;i;;'' tiq"t "' qlt"i:P TÍ^"*l:
tocar tamDem pela Prç-
sica da obra, ôs leitores se dekarãomistério' o qual' segun«ro
?;;""ã"";;' ilà"iiri;;i""itttnioosátdados da verdadeira ciên-
Guénon, ao entrecriz;;;;; -aãornit'o"
de ciência sagrada'
cia, conflui para o ;rü ;i"

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