Copyright © 2022 thatiane carvalho

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Introdução

De acordo com o dicionário

Michaelis (2021),
Psicoterapia é a união de
vários procedimentos e
fazer técnico com o objetivo
de tratar problemas de
ordem psíquica. Mas o que
se sabe é que a Psicoterapia,
na prática, vai muito além de
um mero tratar de doenças e
que por trás desse cenário
hospitalizante existe um
encontro de almas, um estar
de frente com o outro que
acolhe, escuta e nos reflete
aquilo que existe em nós
(seja medo, tristeza, raiva,
angústia ou uma forte
necessidade de crescer e se
superar).

Espero que as palavras aqui que se seguem possam

desmitificar para você, caro leitor, a ciência que é a
Psicologia e entender o quanto pode ser libertador o
encontro consigo mesmo no processo terapêutico, que vai
muito além da prática clínica e do conforto de uma sala com
quatro paredes e poltronas confortáveis.

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Há o que se entende hoje como a ciência dos loucos. Ir à
terapia significa evidenciar o problema mental, a loucura
existente em nós que por sinal vai contra a premissa de
que nós somos seres humanos que devemos permanecer
íntegros e saudáveis todo tempo sem vulnerabilidades.

Mas, afinal, quem são os loucos? São aqueles que não

permanecem calados onde existe uma sociedade que
tenta os oprimir; são aqueles cuja visão de mundo é
diferenciada e, é claro, singular; são aqueles que são
congruentes e estão em harmonia com aquilo que é
pensado, sentido e falado.

O que se pode observar é que não dá para ser “louco” em

um mundo onde a loucura é vista como errada, como
algo a ser descartado e muito menos visto aos olhos dos
outros. O que não é saudável, é indesejável e invisível
para a sociedade.

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Diante da construção da Psicologia em torno da doença
mental, há muita relutância de diversas pessoas em sequer
passar por uma Avaliação Psicológica. Além disso, estar diante
de um outro ser que nos escuta, acolhe, aceita de modo
incondicional e nos reflete aquilo que existe em nós que é o
psicólogo, é sentir-se vulnerável. Mas como é estar vulnerável
na presença de uma outra pessoa quando o que nos foi
ensinado é que nós precisamos ser fortes a cada dia que
passa?

O mundo todo em pleno O mundo em meio ao caos e o

2020 e 2021 se viu choro engolido que sufoca e
substancialmente vulnerável. esquenta o peito se tornou
Estar longe de quem amamos, presente em pleno dia e nas
sair de casa com receio, ter prisões de nossas casas. A
violência doméstica,
que trabalhar e viver o mais
ansiedade e depressão, entre
próximo possível do “normal”,
outros, fizeram-se mais
pois como dizia Cazuza “o
presentes no nosso cotidiano
tempo não para”, gera-nos e nos pedem uma força
uma tensão e angústia muito inimaginável. Ser forte
grande. Mas precisamos ser quando o que mais importa é
fortes, enquanto o mundo sentir-se vulnerável. A
vive com medo. Precisamos vulnerabilidade nos mostra
ser fortes, pois a vida é um que somos humanos,
eterno “equilibrar de pratos”. singulares e que precisamos
Mas temos que ser forte para de uma rede de apoio.
quem?
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 a Psicoterapia tem como base o
acolhimento genuíno que permite
deixar à vontade quem procura ajuda
e dar suporte emocional diante de
sua necessidade; compreender aquilo
que se diz no seu real sentido que o
tem para aquela pessoa, é estar aberto
para aquilo que ela quer dizer e
deixar-se transformar por isso em uma
reciprocidade genuína.

Amatuzzi (2012, p. 64)

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"A Psicoterapia é uma
relação pessoal."

O QUE VOCÊ
SABE?
A Psicoterapia vai
muito além de uma
relação entre
profissional e cliente. É
uma relação pessoal,
um encontro entre duas
pessoas, no qual dois
corpos, duas mentes se
encontram e
compartilham entre si
reflexões inerentes ao
seu ser. Ela não é um O momento de encontro
modo de fazer e sim um nem sempre acontece de
modo de ser. O forma fácil. A Psicoterapia
psicoterapeuta não é é um processo e se inicia
um guia, um curador, muito antes do encontro,
mas é um facilitador do no momento em que há
processo de inquietação e angústia
autoconhecimento que com aquilo que sente e
só a própria pessoa é vive. Até o encontro de
capaz de buscar. fato há resistências,
medos e vulnerabilidades.

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 "OLHAR PARA SI É UM
ATO DE CORAGEM."

O olhar para dentro de si pede resistência e é

assustador, mas na verdade é um ato de coragem, pois
quando olhamos para nós mesmos confirmamos aquilo
que tememos: os nossos defeitos e também as nossas
qualidades, pois não enxergamos aquilo que nós somos
capazes de fazer e transformar.

Afinal, não é nada confortável rever seus temores ou

aquilo que é indesejado em si mesmo. Mas a urgência em
se compreender, em aliviar a angústia do ser se faz
presente e muitas vezes, é gritante (por mais que seja
assustador).

A Psicologia aceita, escuta, acolhe e transforma com

empatia a cada um de nós para que assim possamos
aceitar e transformar a nós mesmos. Se eu não me vejo
com minhas falhas, minhas qualidades que elas mesmas
me definem, como posso então permitir qualquer
mudança em mim e na minha vida se não enxergo a
pessoa que eu sou?

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SABER OLHAR COM CARINHO E COMPAIXÃO PARA A
BELEZA INERENTE A CADA UM É UM PROCESSO E
REQUER PACIÊNCIA E AUTOCONHECIMENTO. É
ABRIR MÃO DO “E SE EU FOSSE” OU “ACHO QUE SOU
ASSIM” PARA PERMITIR O “REALMENTE É”.

Existe uma frase

conhecida de Carl
Rogers (1997, p. 21), no
qual ele explana um
paradoxo existente em
relação à mudanças
em si mesmo: “Parece-
me válida pelo curioso
paradoxo que
encerra, pois, quando
me aceito como sou,
estou me
modificando”.

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 "Quando me aceito
como sou, estou me
modificando”.

Entende-se essa frase Quando este outro aceita

como a mudança a pessoa do cliente do
permitida no ser a partir jeito que ele é com todos
da compreensão e da os seus pensamentos,
aceitação de si mesmo de sentimentos,
forma incondicional. Eu comportamentos e
me aceito como sou, com vivências,
tais falhas e tais consequentemente o
qualidades, e se eu não cliente passa a se aceitar
enxergo aquilo que há em também. Se há alguém
mim, como posso totalmente desconhecido
modificar algo? para mim que me aceita
como sou, por que eu não
Não há como mudar o que me aceitaria também?
não existe. A psicoterapia Você se vê como você
vem como uma forma de realmente é ou como os
acolhimento desse ser, a outros te veem?
aceitação sem pré-
julgamentos e sem valores
pessoais por parte do
terapeuta.

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 "O TERAPEUTA É
FACILITADOR."

É importante destacar que o autoconhecimento se dá pelo

cliente que procura ajuda, mas o terapeuta também o facilita.
Falar em psicoterapia é falar em modo de ser do terapeuta.
Esse encontro e estar presente provoca vários eventos durante
o processo que consequentemente influenciam o crescimento
e a tendência em se atualizar da pessoa (AMATUZZI, 2012).

Este modo de ser implica em Diante disso, cria-se uma

ser empático, em ver o outro atmosfera de aceitação, de
como o único responsável permissão para o cliente ser
por suas decisões e a si quem ele é naquele momento.
mesmo; que aceita a pessoa Consequentemente, o cliente
do cliente sem julgar, saindo também será afetado. Ele
do seu mundo repleto de passa a ser mais autêntico na
valores para adentrar no
relação. Ele passa a se
mundo experiencial
perceber mais, pois adentra
inteiramente do cliente,
em seu mundo mais
acreditando que este possui
profundamente.
dentro de si uma força ou
O cliente será mais
como chamamos “tendência”
espontâneo, aceitar-se-á da
que impulsiona a crescer,
evoluir, produzir e se ajustar. forma como pensa, sente,
acredita e se comporta, e fará
decisões com
responsabilidade e maior
consciência (AMATUZZI,
Todos os direitos reservados. 2012).
Para Rogers (1997), Quando o terapeuta
compreender o outro é compreende o que se
estar sensível às questões passa com a pessoa e essa
existenciais desse outro e passa a se compreender e
aceitar aquilo que existe olhar para si também, a
nele. Essa compreensão e aceitação de si torna-se
aceitação permite que o possível. Diante da
outro compreenda seus
compreensão e aceitação
medos, angústias,
ocorrem modificações
pensamentos
nessa pessoa e na forma
perturbadores,
que ela pensa e sente. Daí
comportamentos,
se dá a transformação, o
sentimentos e desânimos,
crescimento e
assim como aquilo que há
desenvolvimento.
de melhor em si. Passa a
olhar com mais empatia A partir da escuta ativa, o
para o que assusta no olhar acolhedor, da
âmago do seu ser. compreensão sensível, que
também é comunicada
ocasiona mudanças no
cliente que podemos
chamar de terapêuticas.
Todos os direitos reservados.
Essas mudanças se dão
quando nos tornamos
quem somos na relação
terapêutica, quando
percebemos o que existe
em nós e quando tentamos
buscar o Eu real. Este Eu
real que nos mostra
exatamente quem somos,
mais do que aquilo que
idealizamos em nós
mesmos.
A busca de si nem sempre
é fácil. Eu diria que requer
passar por um caminho
árduo, cansativo e cheios
de obstáculos, no qual
receamos chegar ao
destino final. Aliás, é mais
fácil não olhar para aquilo
que fere e que precisa ser
transformado.
Todos os direitos reservados.
Mas você é muito mais do
que aquilo que receia. É
muito mais do que os
outros pensam ou dizem e
que por sinal você trouxe
como verdade para si e
segue vivendo com essa
ideia. Acredita, pensa,
sente e se comporta de tal
forma.
Ser congruente e
autêntico é viver pelas
suas próprias lentes e não
sob a condição que o outro
nos impõe e que há muito
tempo tendíamos a levar
como verdadeiro, como
sendo uma parte inerente
a nós mesmos.
Conhecer a si mesmo é
aceitar vulnerabilidades e
potencialidades existentes
Cada pessoa tem dentro de
em si. É aceitar a falta de
si uma força que impulsiona
controle sobre o mundo e às
a ser melhor, a se
vezes sobre si mesmo. É se
autorrealizar. Cada pessoa
permitir alçar voos altos e
desenvolve seu próprio
transformar-se para então
potencial e se dirige para o
buscar o autocuidado e
seu melhor. É preciso muita
compreender que aquilo
coragem para mudar, para
que é mais importante para
aceitar quem somos e nos
você, é onde você irá se
transformar.
doar.

O processo é lento, mas a

É aprender a dizer, escutar
caminhada é bela. Não se
e fazer valer suas vontades e
esqueça, caro (a) leitor (a),
decisões. É perceber que o
que você chegou até aqui
outro também é único,
com muito esforço,
singular, com todas as suas
dedicação e transformação
vulnerabilidades e
durante todo esse tempo.
qualidades, e que merece
Quando o desânimo bater,
também o respeito por ser
não esqueça daquilo que é
quem é.
mais importante para você e
se agarre nisso, em seus
O que queremos? Uma
objetivos, em tudo que você
sociedade composta de
passou para chegar até aqui
seres autênticos,
e no final será como uma
congruentes e empáticos
borboleta, pássaro ou como
com a forma individual de
queira ser e seguirá com
cada um viver, buscando o
autonomia e leveza nesse
que se preza em uma
caminhar.
sociedade: a solidariedade e
o viver em comunhão.
Todos os direitos reservados.
 REFERÊNCIAS

AMATUZZI, M. M. Rogers: ética humanista e psicoterapia. 2ª

edição. Campinas, SP: Alínea, 2012.

CAZUZA. O tempo não para. Rio de Janeiro: PolyGram, Universal

Music, 1989. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?
v=5lTetP186yQ&ab_channel=ClipesNacionais. Acesso em: 17 de
junho de 2021.

PSICOTERAPIA. In: DICIO, Dicionário Brasileiro da Língua

Portuguesa. Melhoramentos: 2021. Disponível em:
https://michaelis.uol.com.br/moderno-
portugues/busca/portugues-brasileiro/psicoterapia/. Acesso
em: 17 de junho de 2021.

ROGERS, C. R. Tornar-se pessoa. 5ª edição. São Paulo: Livraria

Martins Fontes, 1997.
 Sobre a autora:
Meu nome é Thatiane da Silva Carvalho, sou
psicóloga clínica e jurídica.
Eu trabalho sob a ênfase da Abordagem
Centrada na Pessoa e atendo o público
infanto/juvenil, adulto e idoso. Minha missão
é ajudar as pessoas a se tornarem mais
autênticas e autoconscientes.
 PERMITA-SE TER ESSE
ENCONTRO CONSIGO MESMO!

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