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Frases de Desconforto.

Thiago Scursoni
Sobre o Autor
Thiago Brazão Scursoni, formado em Marketing, pós-graduado em
Empreendedorismo e Gestão de Negócios, cursado em marketing digital,
psicologia, neurociência para o cotidiano, técnicas de negociação, vendas e
comunicação teatral. Os principais hobbies são: ler (livros sobre diversos
assuntos), estudar (principalmente psicologia, filosofia, neurociência,
astronomia e assuntos relacionados) e praticar esportes. Muito interessado em
entender o ser humano, sua evolução e seu comportamento.
Acredita no poder da mente para uma vida saudável.
Criador da página do Instagram @pensadorvirtual
Ficarei feliz em receber mensagens e nos conectar:
E-mail: thiago.scursoni@gmail.com
LinkedIn: Thiago Scursoni
Instagram @thiagoscursoni
"A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e
aprender ainda mais."

- Aristóteles
Dedico este livro especialmente a mulher que eu amo, Marina
Macruz, que me apoiou de maneira extraordinária durante todo o
processo, que me inspira todos os dias e estimula tudo que há de melhor
em mim.
Introdução

Felizmente, hoje o conhecimento é facilmente acessível para todos nós. O


conhecimento se tornou democrático. Praticamente tudo que quisermos
aprender está disponível de forma gratuita mundo a fora. Grande parcela, que
não gratuita, ainda relativamente acessível financeiramente e de grande valor.
Meio a tanta informação, tendemos a avançar rapidamente em busca de
respostas desejadas em determinada área de conhecimento, mas sem antes
buscarmos conhecer o elemento mais determinante e central em todas as
questões em pauta hoje. Nós mesmos. O ser humano.
Esse livro promove cinquenta frases e reflexões de diversos elementos
que se direcionam principalmente a nós mesmos - seres humanos. Muitas
reflexões convergem naturalmente, mas diversas áreas serão abordadas e em
diferentes perspectivas. É um caminho que te levará a parar por um instante e
pensar com e sobre você mesmo, seguido de informações e conhecimentos
que poderão transformar você e como você vê o mundo. Esse caminho lhe
trará, de forma simples, muito conhecimento sobre áreas como a empatia,
autoestima, a força de ajudar o próximo e a conexão com pessoas, estimular a
consciência, trabalhar seu ego, entender por que fazemos algumas coisas;
abriremos caminhos para felicidade, aceitação, sabedoria, compaixão. Entre
muitas outras áreas que compõe a natureza do ser humano.
Você será uma pessoa diferente no final dessa caminhada. Permita que
este livro seja relido de tempos em tempos, sempre que precisar entrar em
contato consigo.
Eu espero que seja possível perceber como é importante, primeiro,
termos um entendimento sobre nós mesmos para que, de fato, a gente possa
absorver e debater os demais assuntos e conhecimentos que são importantes
na vida.
1
Se excitar com a conquista dos outros enriquece a nossa própria
alma.

✽✽✽

Ao passo em que se incomodar com a conquista do outro empobrece a nossa


própria alma, e muito. Arrisco a dizer que não há sentimento mais pobre do
que o sentimento de felicidade pelo insucesso do outro. Este sentimento só
revela o estado de: Sou incapaz de realizar determinada ação e, portanto, me
satisfaço com as pessoas que tentaram e não conseguiram. Isso me dá o
conforto que eu preciso para acreditar e provar a mim mesmo que tal esforço
não valeria a pena. E isso é apenas um dos pensamentos que podem lhe
ocorrer durante este processo (pobre).
Em contraponto, se excitar com a conquista do outro só nos revela uma
das maiores riquezas que podemos adquirir em nossas vidas. E a excitação
não se dá apenas em dizer, mas de fato sentir dentro de você. Ela está dentro
de nós e como parte de nós. Celebrar a conquista daqueles seres amados, de
pessoas próximas, de colegas de trabalho, de vizinhos ou, até, de pessoas
desconhecidas, só manifesta o grande ser que você é. Estar feliz com o
sucesso do outro é o estado de: Reconheço que determinada pessoa lutou e
adquiriu estes resultados através de seu próprio esforço e isso me faz sentir
bem por ela. Sua conquista representa uma lição para mim. Representa,
também, um aprendizado. Seu sucesso me anima porque eu só espero coisas
boas para os outros, na mesma medida que me encho de esperança para
seguir o meu caminho, tendo a certeza de que eu também irei obter o meu
sucesso desejado. Os resultados são obtidos pelo esforço e não por sorte.
Devo fazer a minha parte para que a “sorte” esteja a meu favor.
Claro que sentimentos possuem medidas e contextos distintos, mas luto
para encontrar um sentimento que se iguale a nobreza de estar feliz pelos
outros. Ele está diretamente conectado com um dos principais significados da
vida, que é justamente a conexão com outras pessoas. Enquanto esperar que
alguém falhe para justificar o seu próprio insucesso, pode, de vez, enterrar
quaisquer chances de êxito que um dia você poderia ter. Esteja atento aos
seus sentimentos e não caia na própria armadilha de projetar no outro a sua
própria frustração. Tudo está em nós. E, com certeza, vibrar pelos outros será
uma forma de alcançar qualquer que seja o seu sucesso desejado.
2
Acredito que ajudar as pessoas a alcançarem mais, em qualquer
aspecto de suas vidas, seja a melhor maneira de desenvolver a nós
mesmos como seres humanos.

✽✽✽

Quantas pessoas você ajudou hoje? Essa semana? Esse mês? Esse ano? Na
sua vida? Não conte. Certifique-se apenas de que ajudar o próximo faça parte
de você naturalmente. E a boa notícia é que ajudar o outro não significa
apenas contribuir com alguém para que o seu objetivo seja alcançado, mas
significa, também, possibilitar um tremendo desenvolvimento próprio.
Ao longo da vida, fui capaz de perceber que os momentos em que tive
mais prazer ou me senti mais realizado, foram naqueles em que pude obter
uma conexão em nível pessoal com alguém e sentir que realmente houve
alguma contribuição com aquela pessoa, permitindo que ela subisse um
degrau a mais em direção ao seu objetivo. Durante esses momentos, também
pude perceber que essa é uma das maneiras mais profundas de
desenvolvimento próprio. E isso não significa que passamos a obter alguma
habilidade específica, mas realmente possibilita nos desenvolvermos como
seres humanos, é algo mais amplo. Não é sobre a experiência de gerar
benefício a alguém unicamente, mas sim a experiência de poder perceber
tudo que passa dentro de nós nesses momentos e ter esse sentimento de
realização própria. Além de ser uma questão natural e até moral como algo
obtido dentro de nós desde o início dos tempos, somos capazes de gerar um
ambiente muito mais favorável como um todo, em que esse sentido de ajuda
possa ser transmitido de um para o outro. Isso é muito bem retratado por uma
frase de Bob Marley: “A grandeza de um homem não está em quanta riqueza
ele adquire, mas sim em sua integridade e habilidade de afetar àqueles à sua
volta positivamente.”. De nada adianta criar uma vida cheia de sucesso e
riqueza apenas para você. O que lhe trará o senso de realização na vida, é
realmente o quanto você pôde contribuir com os outros.
Reflita sobre o modo que você contribui com o outros, perceba o que
ocorre dentro de si quando isso acontece. O que acontece no seu mundo
interior. Talvez essa seja uma das coisas que mais dê significado para as
nossas vidas: o quanto a gente pode contribuir com as pessoas à nossa volta.
Existe uma relação entre contribuição para a realização dos outros =
realização pessoal.
3
Nós lutamos pela liberdade, mas nos aprisionamos na primeira
oportunidade que temos.

✽✽✽

Você se considera livre? Em qual medida? Livre fisicamente?


Emocionalmente? Socialmente? Pense por um instante. O que rege a sua
vida? O que o torna livre e o que o torna preso? Seria liberdade (ou prisão)
meramente uma percepção de nós mesmos em relação a realidade em que
estamos presentes?
Você, sem dúvida nenhuma, é um ser livre. Mas, ao mesmo tempo,
também posso dizer que você está, de alguma forma, preso. E quando digo
“preso”, me refiro à prisão mental, não física. A mente navega entre prisões e
êxtases de liberdade. Penso que talvez ela permaneça muito mais em prisões
do que em liberdades, porque a sua liberdade custa caro e requer muito
esforço. Estando presa, ao menos, ela sabe que está relativamente segura –
por estar dentro de um ambiente já conhecido, e acreditar correr sérios riscos
ao tentar se libertar, pois não sabe para onde está indo.
O ponto principal não é só o conforto em si - e que talvez essa seja uma
questão já muito mais conhecida -, há também a falta de consciência aos
fatores que nos prendem durante a vida. O conforto já é sabido, assim como
os nossos hábitos - e isso é realmente uma prisão. Mas a chave aqui é a nossa
incapacidade de perceber o que nos forma – o que nos faz agir como agimos,
opinar como opinamos, nos relacionar como o fazemos (social e
emocionalmente) e com quem nos relacionamos. Isso está muito ligado à
rede em que estamos conectados. É muito provável que os seus sonhos sejam
parecidos com os dos seus amigos e, talvez, você nunca tenha se questionado
se eles são realmente os seus sonhos ou, ao menos, ter se perguntado o
porquê estes são os seus sonhos em si. Há, também, uma grande chance de
que seus pais ou familiares estarem limitando os seus desejos e muitas das
suas ações - não por mal, mas talvez por estarem mais preocupados com a sua
segurança (dentro do que foi dito aqui anteriormente), ou até por estarem
presos às crenças que vieram dos pais deles (os seus avós) – e existem muitas
pessoas que não conseguem se desconectar das mentes limitadas de seus
familiares (principalmente os pais) e criar a sua própria perspectiva ou seus
níveis de ambição - esse julgamento pode ter muito peso. Ou, então, se veja
dentro de seu relacionamento afetivo, por exemplo: tudo aquilo que é dito
sobre relacionamentos ou os julgamentos que você tem feito sobre eles,
podem controlar e limitar o modo como você se relaciona. É comum as
pessoas falarem o quão ruim são os casamentos e que casar pode ser o maior
erro que alguém pode cometer – e essa é uma tremenda estupidez. O
casamento é formado por dois seres que acreditam que estar casado é algo
negativo (e podem ter sido influenciados por terem ouvido e repetido muitas
vezes essa história para seus amigos) e, assim, acabam optando por não criar
um casamento saudável e repleto de amor. O casal está preso a uma cultura
de “não se case” ou “se quiser ser feliz, não se case”. E ainda pode haver o
inverso, estar preso a uma relação que não é realmente saudável que, no
fundo, é indesejada, simplesmente pelo conforto, pelo medo do rompimento,
pelo julgamento externo, pelo medo de estar sozinho ou qualquer outro
motivo.
O grande segredo de nos libertarmos de nossas próprias prisões é a
consciência e a reflexão constante. Procure uma conexão verdadeira com o
seu mais profundo “eu” e os seus valores. Procure sentir o que é importante
para você e seja forte e disciplinado para pagar o preço da liberdade, da
mudança. E saiba que nunca haverá um fim. Sua natureza irá sempre buscar
por novas prisões e o seu processo de descoberta interior é o que o tornará
realmente livre. No fundo, o preço de permanecer aonde está, é muito maior
do que o preço da mudança.
4
Enquanto estivermos discutindo questões secundárias – política,
religião, sexualidade etc. -, permaneceremos errando. Só acertaremos
quando investirmos na questão primária – em nossa capacidade de
compreendê-las.

✽✽✽

Coloque qualquer assunto em pauta, aqueles classificados como


“polêmicos”: armamento, política, liberação da maconha, religião etc., e se
você pensar profundamente, haverá sempre uma questão por trás deles,
haverá sempre um fator fundamental esquecido durante todos esses debates.
O ser humano.
Não minimizo a importância desses debates ou da sua opinião sobre
eles. Se você é de esquerda ou direita. Se você é a favor ou contra a
legalização da maconha. Se você é a favor ou não do armamento ou da posse
de arma. Todos temos o direito de discutir os assuntos que nos convém, e eu
tenho certeza de que você tem fortes argumentos que embasam sua posição (e
é importante que você tenha refletido sobre isso). O que mais me preocupa,
entretanto, é que as discussões sempre acontecem como se nós, seres
humanos, não estivéssemos no centro dessas questões. Parece haver uma
dissociação entre o assunto e a nossa responsabilidade dentro delas, como se
não estivéssemos realmente envolvidos. Para exemplificar, gostaria de
abordar aqui o tema do armamento. Você é contra ou a favor da posse de
arma? Apenas pense a respeito - eu não tenho uma resposta certa para quais
das duas opções é a melhor ou a que poderá trazer mais benefícios para a
sociedade. O que realmente me preocupa em relação a ela é o ser humano. Se
você argumentar que é contra a posse de arma, porque talvez ter a arma por
perto possa ser perigoso e que isso pode acabar aumentando o número de
homicídios ou violência familiar; eu teria que adicionar a seguinte pergunta:
A responsabilidade está exclusivamente centrada na arma em si ou em quem
a carrega? Já ouvi muitos comentários como imagina no trânsito! Talvez eu
mesmo, se estivesse armado, poderia dar um tiro em alguém. Me perdoe, mas
o problema é realmente o revólver? Ou a nossa incapacidade de controlar um
impulso? Se você é a favor, pode alegar que carregar uma arma poderia
reduzir o número de assaltos ou até promover uma redução no tráfico. E isso
realmente pode ser verdade, mas insisto, quem assalta e quem trafica? Não é
uma entidade abstrata ou algo que se manifesta pelo acaso. É o ser humano.
Veja, posso até estar indo longe demais. Eu, como um grande
humanista, sempre centralizo o ser humano diante de quaisquer questões.
Não consigo conceber a ideia de que argumentos como esses possam estar
realmente em discussões como fonte primária para uma decisão. Para mim,
de mais vale discutir como formar melhor um indivíduo e, por consequência,
esses assuntos poderiam ser resolvidos, do que remediar com base em
decisões (precipitadas) entorno apenas da realidade atual. Claro que
poderemos partir do princípio que é nisso que podemos nos apegar no
momento (os fatores: impulso, segurança, tráfico) e tomar uma decisão. Pode
ser que se faça necessário. Mas não podemos aceitar que a discussão pare por
aí.
Vou mostrar alguns dados para que você reflita um pouco sobre
questões ainda maiores, para entender como o investimento no indivíduo e
sua saúde podem ser mais urgentes do que qualquer outro assunto. Você sabe
quantas pessoas se suicidam por ano? Cerca de um milhão de pessoas.
Enquanto discutimos essas questões secundárias (ainda que também sejam
importantes para salvar vidas), há gente se suicidando. E o suicídio parte de
um princípio de perda de propósito, extrema frustração com a sua realidade,
pela própria desconexão consigo etc. Quantas pessoas morrem devido à
obesidade anualmente? Cerca de dez milhões de pessoas. E pode apostar que
há uma questão individual que envolva algo sobre compulsão. Mortes
causadas pelo consumo de cigarros? Quase cinco milhões. Por bebidas
alcóolicas? Quase três milhões. E não diga que o vício não tem uma relação
com o indivíduo.
Repito, é claro que todas esses assuntos citados precisam ser
discutidos. Mas é importante lembrarmos das questões primárias do ser
humano. Nós precisamos enfrentar o fato de que desempenhamos o papel
central de todas essas polêmicas e problemas, porque nós as criamos.
Precisamos investir em nossa capacidade cognitiva de entender e lidar com o
problema num nível pessoal e expandir para um nível mais amplo como
sociedade. O problema está em nós.
5
Invista na riqueza de sua alma para que a pobreza da matéria não o
consuma.

✽✽✽

O que é importante para você? O que te faz rico precisamente? O que é


riqueza exatamente? A ausência “desse algo” que o torna rico, o tornaria
pobre? Por definição, a riqueza está diretamente ligada a quantidade de
dinheiro e bens acumulados. Tudo bem. Vamos deixar essa definição de lado
por um instante. Aqui falaremos da riqueza da alma.
Antes de mais nada, devo dizer que não sou contra o capitalismo – caso
tenha causado essa impressão -, mas vivemos em um mundo em que os bens
são altamente desejados por influência de um sistema que estimula a
produção e o consumo e uma cultura que valoriza ao extremo a posse de algo.
E isso está enraizado dentro de nós. Pensando no que é importante para você,
lhe pergunto o que o faz feliz? Se for o dinheiro, devo te dizer que talvez, ele
pode ser um elemento que, na verdade, consome sua chance de ser feliz.
Veja, o problema não é querer ter dinheiro ou não. O mérito aqui não é o
dinheiro em si. Todo mundo gosta de dinheiro e deve buscar se relacionar
bem com ele. E quanto mais tiver, melhor. O mérito é justamente a sua
crença de que a felicidade depende do dinheiro. Nós temos uma grande
necessidade natural em obter esses bens materiais e projetamos nosso sucesso
pessoal na quantidade de dinheiro que possuímos. Acabamos criando uma
relação binária entre consumo e felicidade, acreditando que para sermos
felizes, precisamos ser capazes de comprar algo. Ou acreditamos atingir o
nível máximo de felicidade quando adquirirmos todo aquele patrimônio
idealizado, que inclua, pelo menos, um bom carro, um bom apartamento, um
bom celular e uma casa na praia para viajar quando quisermos fugir um
pouco da realidade. Agora, eu te pergunto por que isso é importante para
você? Você realmente acredita que a medida da sua felicidade se baseia na
quantidade dinheiro que você tem? Insisto nessa reflexão porque é de
extrema importância que você perceba que o desejo de ter, de possuir, é algo
que a gente passou a acreditar, mas não necessariamente é o que a gente
precisa ser para ser feliz.
Force a sua reflexão, entre em contato com você mesmo. Perceba a
busca que você faz pelos bens materiais (se o fizer) na expectativa de obter
um retorno em felicidade quando, na verdade, ela promove uma frustração
ainda maior. E essa frustração acontece porque o prazer obtido de uma
compra, por exemplo, é pouco duradouro. Você teria que passar o resto da
vida repetindo este hábito para fazer a manutenção da sua felicidade, o que é,
logicamente, pouco provável que isso seja possível. A compra é um prazer
imediato. Vamos ter dinheiro sim e usar o dinheiro para construir uma vida
ainda melhor. Só esteja atento para que o nível de felicidade da sua vida não
dependa dele. E a matéria poderá consumir aquilo que, no fundo, poderia ser
a sua maior riqueza, ao desviar seu foco do que o faz feliz, apenas para algum
artifício de felicidade.
6
Sua motivação só será perdida ao afastar-se da realidade.

✽✽✽

Você já refletiu sobre o que te motiva e o que te desmotiva? Já se percebeu


em um momento de alta e de baixa motivação? Devo afirmar que o seu nível
de motivação é principalmente afetado por você mesmo. Você é o fator que
mais determina o seu nível de motivação.
Claro que já ouvimos muitas vezes a história de motivação é pessoal, é
fácil encontrar informações sobre isso, mas talvez ainda muito superficiais. E
embora isso já seja de conhecimento da grande maioria das pessoas, talvez
boa parte delas ainda não acredita realmente nisso. Não estou dizendo que a
gente nunca poderá se desmotivar por algum evento externo, uma vez que a
motivação é totalmente pessoal, não é isso. A desmotivação e o desânimo
acontecem como parte da vida e o modo como reagimos a tais eventos. Isso é
normal. A grande questão é entender como podemos controlar o nosso nível
de motivação e justamente entender que ele está alinhado com seu estado
atual e, esse seu estado, pode ser controlado, apenas, por você. Motivação ser
pessoal está na capacidade de entender que a sua percepção e a forma que
você interpreta determinado acontecimento é o que definirá o modo em que
você é afetado (positiva ou negativamente diante de algo). Não é só esse
acontecimento por si só.
Há uma colocação famosa (não sei se alguém escreveu de fato ou é
apenas algo presente no dia a dia) que diz: existem três verdades: a sua
verdade, a verdade do outro e a verdade. O mundo é como é. A realidade
que você vive é como é, mas você a percebe de uma maneira particular de
acordo com sua visão de mundo, suas crenças, experiências etc. e as outras
pessoas fazem o mesmo. Quanto mais a nossa realidade percebida se afasta
da realidade pura, mais chances haverá de você se sentir desmotivado.
Imagine que sua percepção perante o seu ambiente de trabalho está
totalmente em desacordo com a realidade pura e a realidade percebida por
todas as outras pessoas. Fatalmente você se sentirá desmotivado ao ver as
coisas de uma forma que os outros não veem e/ou por acreditar em algo que
ninguém mais acredita. Você irá navegar em ideias que não são aplicáveis
neste ambiente e, ainda que você “não esteja errado” em uma situação como
essa, você pode acabar esperando muito mais de algo que, em tese, não
existe. E isso é uma grande fonte de desmotivação.
É importante que estejamos presentes e conscientes da realidade. Nem
tudo é como a gente gostaria que fosse, mas, mais importante ainda, você é
quem dá significado aos eventos que acontecem na sua vida - a todo
momento. Esteja atento para que a sua imaginação não distorça esses
momentos e não o afaste desta realidade. Se isso acontecer, é muito provável
que a sensação de desmotivação te domine e que comece a haver uma
desconexão do que está a sua volta e que você comece a acreditar que o
problema está lá fora, e não dentro de si.
7
Se eu pudesse adicionar uma matéria em nossa formação
acadêmica, essa matéria se chamaria “atitude”.

✽✽✽

Formação acadêmica é um tópico sempre de muita discussão, sem dúvida.


Melhorar o sistema não é simples, mas é necessário. Pessoalmente, esse é um
tema de muita reflexão em que sempre acabo me sentindo bastante
incomodado, principalmente em função da maneira em que formamos
indivíduos. E não é difícil perceber o impacto disso em nossas vidas e na
sociedade.
Por bem, você está lendo esse livro, buscando conhecimento. Você tem
a consciência de que o conhecimento é sempre necessário,
independentemente de qual seja sua formação ou área de atuação.
Dentre vários problemas que eu poderia citar aqui na formação de um
indivíduo, preferi, por hora, abordar o item “atitude”. Por que atitude? É
simples: as pessoas que saem da escola são geralmente preguiçosas. Sim,
preguiçosas. Elas não obtiveram o interesse por leitura, pela busca do
conhecimento. Elas têm dificuldade demais em testar hipóteses. Não sabem o
que é o pensamento crítico. Não são proativas ao cruzar com um problema.
(É claro que existem exceções). Tanto na área da vida pessoal quanto
profissional, percebo uma grande inércia quando o assunto é agir – ser capaz
de sair do estado atual para um outro “superior” (o que requer gasto de
energia). Se eu cruzo um problema? Eu vou pelo caminho mais fácil e logo
pergunto à pessoa mais próxima. Se erro? Procuro a quem culpar ou alguém
que saiba resolver, porque eu não quero “perder tempo” tentando. Se fico na
dúvida? Não pesquiso. Se uma habilidade é necessária? Eu torço para que
não percebam essa minha falta dela. E essa é a preguiça. Essa é a causa da
falta de uma "matéria" que provoque em indivíduos a necessidade de criar,
resolver problemas e pensar por si só. De agir.
É importante que habilidades mais “abstratas” sejam desenvolvidas e
não só a atitude, mas como também a capacidade de entender contextos,
pensar criticamente e saber ouvir; habilidades essenciais para uma vida
saudável e de sucesso. O nosso sistema de educação é falho e, por vezes,
penso que talvez não seja interessante (para quem tem o poder de formá-lo)
estimular tanto assim nossos indivíduos. Talvez seja melhor formar pessoas
médias com pouca capacidade de agir, porque lidar com pessoas cheias de
atitude poderia ser problemático. Mas felizmente somos capazes de perceber
o que nos falta e, assim como você fez agora, promover a nossa própria fonte
de conhecimento – através da atitude.
8
A vaidade nos persegue como o juiz persegue o réu.

✽✽✽

Na sua perspectiva, o que é ser vaidoso? Tente lembrar, por um instante,


algumas situações em que você permitiu que a vaidade o controlasse ou te
afetasse. O que você sentiu nesse momento? Aqui não estamos falando
apenas da aparência física. Aqui estamos falando da aparência num âmbito
geral. Da intelectualidade. Das realizações. Da necessidade que você tem de
provar algo para o mundo e daquela ansiedade pelo reconhecimento e
admiração.
A vaidade te persegue como se fosse um ser independente dentro de
você. Como se fosse separado e como “algo” que tem as suas próprias
vontades. Embora muito ligado ao ego e orgulho, que são elementos
profundos da natureza humana, gostaria de isolar a vaidade como esse “ser”
aqui mencionado e olhar só para ele.
A vaidade está muito ligada à imagem, à necessidade excessiva de
reconhecimento e admiração e diretamente ligada à insegurança. Ela pode
acabar causando uma certa desconexão com os seus próprios valores e a sua
essência. Se você permitir, ela irá se alimentar, pelo resto da vida, de seus
próprios medos e inseguranças. Deixar que a vaidade o persiga, significa se
colocar de maneira a parecer ser alguém para os outros, por acreditar que é
dessa forma que eu serei valorizado. Assim, eu deixo em segundo plano
aqueles valores que são importantes para mim. Como eu não me comporto
de acordo com quem eu realmente sou, passa a haver um conflito constante
dentro de mim; entre a minha essência e essa figura que os outros valorizam.
Além de tudo, isso me causa uma enorme insegurança, porque eu não estou
agindo de forma genuína e os outros podem acabar percebendo e me rejeitar
de vez.
Perceba que a vaidade pode causar um conflito interior muito grande.
Essa necessidade de mostrar ser alguém é muito mais dolorida do que, por
vezes, não ser aceito por algumas pessoas. Deixe de lado a necessidade
excessiva de mostrar algo que você não é. Uma vez conectado aos seus
valores e confiante de quem você é, a aceitação acontecerá de forma natural,
porque você será honesto. Pessoas gostam muito mais desses seres do que
outros que apenas buscam parecer ser alguém. E, aos que não gostarem, não
haverá dificuldade nenhuma de ignorá-los, uma vez que você está bem
consigo e com os seus valores.
9
Se quiser estabelecer o caos, permaneça três segundos em silêncio.

✽✽✽

Já percebeu o poder do silêncio? Quando você fala algo e alguém permanece


em constante silêncio, qual é a sensação? E quando você é a pessoa em
silêncio, como se sente? Há silêncios que falam por si, assim como há
silêncios que abrem caminho para que seu preenchimento seja feito com
extrema sabedoria.
Percebo que as pessoas não sabem lidar com silêncio. Quando eu digo
pessoas, estou falando de todos nós e me incluindo nisso. Nós geralmente não
sabemos permanecer em silêncio e nem mesmo valorizá-lo. Assim como, por
vezes, entramos em desespero quando o silêncio prevalece. Olhar alguém no
olho enquanto em silêncio se torna uma das tarefas mais difíceis de se
realizar. Aquela vontade de desviar o olhar e quebrar o silêncio é extrema. A
verdade é que isso está muito ligado à nossa insegurança. Temos muito medo
do que pode estar passando pela cabeça da outra pessoa e geralmente nós, de
certa forma, nos responsabilizamos por este vazio de maneira que nos
sentimos incapazes de preenchê-lo de forma adequada ou de realmente
estarmos causando este tamanho desconforto. Em contrapartida, na verdade,
é muito importante que a gente se sinta confortável com o silêncio, porque,
geralmente, ele não representa o que estamos pensando que seja e ele pode se
tornar um de nossos grandes aliados.
Já presenciei alguns conflitos em que o silêncio foi o grande
solucionador. E isso não é pouco frequente. Em reuniões de negócios, por
exemplo, por vezes clientes trazem supostos problemas em que a não
resposta imediata, o silêncio, provoca sua própria reflexão, permitindo que
ele reflita por um instante e perceba que a sua colocação não estava
totalmente correta, o fazendo procurar um novo caminho para a discussão e,
até mesmo, a solução. Outro exemplo também, é em discussões entre casais.
É muito comum perceber que permanecer em silêncio provoque uma reflexão
adicional no outro e faz com que ele perceba suas próprias colocações,
podendo mudar o rumo do conflito por consequência. Não estou dizendo que
você não deva responder (isso seria falta de respeito), nem que você não deva
se expressar. O ponto aqui é que muitas vezes nós falamos sobre algo, não
exatamente para ter uma resposta, mas simplesmente para preencher o
silêncio e acabamos reagindo de forma mais impulsiva. E, enquanto ouvintes,
é justo que a gente tenha um tempo em silêncio para processar alguma
informação, assim como é justo que a outra pessoa possa enter com clareza
aquilo que lhe foi dito. O caos se estabelece no silêncio, porque ele faz com
que a gente pense. Ao mesmo tempo que a gente teme esse silêncio, ele pode
vir a ter um grande valor.
É importante que você saiba usar o silêncio. Não se preocupe tanto em
interpretá-lo, preocupe-se em tê-lo a seu favor. Saiba que o silêncio serve
como um aliado à sua reflexão, abrindo novos caminhos para você mesmo.
Prefira valorizar o silêncio como o seu tempo de processamento a tentar
preenchê-lo. Não se sinta na obrigação de “responder” a todo momento. Não
tenha pressa. E isso pode ser um presente para os outros também.
10
Queria ser sempre tão sábio quanto sou ao fechar os olhos para
dormir.

✽✽✽

Já percebeu como as ideias conseguem circular de forma consistente dentro


de nós quando vamos dormir? Basta fechar os olhos e nos deitar para
conseguirmos pensar nas melhores ideias, se posicionar da melhor forma
diante de um cenário conflituoso – temos argumento para tudo. Parecemos
ser duas vezes mais inteligentes e sábios nesta hora, do que durante o dia.
Não posso dizer que somos e, sim, que estamos num nível mais
elevado dentro de nós mesmos. Mas isso não acontece por uma força do além
ou por biologicamente os seres atingirem um nível mais evoluído na hora de
dormir. Isso acontece simplesmente porque desligamos diversas distrações da
nossa mente, permitindo que as ideias fluam melhor. Imagine que momentos
antes de dormir, enquanto acordado, seus olhos estão abertos captando
diversas informações do ambiente ao seu redor, de quaisquer movimentações;
seu cérebro está determinando quais informações são relevantes, ele está se
concentrando nas tarefas que você precisa realizar naquele momento,
realizando cálculos a todo momento para que você execute os seus próprios
movimentos, sua rotina e armazenando memórias (entre tantas outras
atividades). Você está atento aos sons que estão circulando e fazendo uma
distinção entre eles, calculando distância. O seu cérebro não para nem por um
instante. São informações demais. Entretanto, quando vamos dormir, o
primeiro passo é se deitar. Deitar confortavelmente causa um grande
relaxamento e dispara um sinal para o corpo que está na hora de dormir e que
seu sistema será desligado em breve. Você não precisa mais estar atento a
tantas coisas. Em seguida, você fecha os olhos, o que imediatamente desliga a
conexão do seu cérebro com os diversos estímulos visuais. Não há mais
necessidade de estar atento em seu campo visual e interpretar informações,
está tudo escuro. E, por fim, num horário tarde da noite, um maior silêncio é
natural e ele te permite eliminar diversas distrações auditivas. Portanto, neste
momento, você está a sós com você mesmo. Não há nada mais para se
distrair (ou quase nada). Estão apenas você e sua mente. Você está
unicamente presente com os seus pensamentos e, com tamanha capacidade de
foco naquelas situações imaginada, esses pensamentos passam a ter um
caminho livro para circular dentro da sua rede neural, fazendo com que
soluções, argumentos e ideias apareçam repentinamente. Sua mente está
vazia.
É claro que esse é um raciocínio um tanto quanto lógico, mas é
importante lembrarmos da essência deste momento de dormir e o potencial de
“sabedoria” que podemos alcançar. Esse nível de inteligência pode, de
alguma forma, ser encontrado, também, em outros momentos. Somos capazes
de alterar nosso foco, reduzir os níveis de distração e permitir que as ideias
circulem mais facilmente. É necessário escutar sua mente, praticar a reflexão
e, principalmente, lembrar que é possível se concentrar em seu próprio
mundo interior, o tornando cada vez mais sábio. E qualquer um pode se
colocar neste estado, assim como o encontramos quando nos deitamos para
dormir.
11
Não somos educados para pensar. E talvez esse seja a intenção.

✽✽✽

Já refletiu sobre o impacto da educação na sua vida? Já identificou que


passar anos dentro de uma escola não te preparou, exatamente, para fazer o
que você está fazendo nesse momento? Já parou para pensar que doze anos
na escola pode ter sido um tempo excessivo se comparado ao conhecimento
adquirido e a sua evolução como indivíduo?
Quando penso em tudo que eu passei na escola e no sistema de
educação, me frustro ao imaginar que um sistema falho como esse possa ser a
referência de educação para nós. Me frustro ao imaginar que o sistema se
auto alimenta com a alienação e a formação de seres ordinários que, ao sair
da escola, irão apenas servir o país de maneira medíocre - com funções
medianas -, que se rotulam conforme a sua profissão e anseiam basicamente
pelo momento de sua aposentadoria e que, além disso, criarão seus filhos da
mesma forma, fazendo com que esse ciclo se mantenha de geração em
geração.
Não são todos que se encontram assim e felizmente você é um deles,
simplesmente por essa sua busca de conhecimento por conta própria e por ter
sido capaz de entender que aqueles doze anos (para mais) não te deram o que
é essencial para vida. E é neste ponto que provamos a nossa capacidade de
pensar.
O aprendizado transmitido pela escola não se preocupa se você, como
receptor, está conseguindo absorver a mensagem ou a entende
profundamente. Nos primeiros anos, ninguém se preocupou em formar
pessoas que possam realmente entender o conteúdo e o contexto daquele
ensinamento; as matérias são simplesmente “dadas”, sem nenhum estímulo
para o desenvolvimento próprio. Escutamos a história do Brasil, sem nem
sequer saber o que ela significa exatamente, o que isso pode ter nos afetado e
como isso impacta o nosso futuro. Aprendemos a fazer uma equação, sem
saber quando ela pode ser útil. Aprendemos a ler, mas não somos estimulados
a buscar a leitura ou a adquirir o hábito dela, e falhamos muito na hora de
interpretar um texto. Biologia? Não conseguimos entender como o ser
humano funciona realmente. Não aprendemos a pensar e criar essa relação
entre conceitos e a sua aplicabilidade na "vida real". Não aprendemos a
pensar sobre a lógica por trás das coisas e a pensar criticamente. E, no fim,
precisamos nos esforçar apenas para memorizar as matérias e passar no
exame final.
Infelizmente, nós não receberemos a formação que um ser humano
realmente precisa para uma vida de sucesso e de total independência. Não se
engane achando que a escola e a universidade são suficientes para que você
viva plenamente e prospere. Nós precisamos sempre de mais e,
principalmente, investir muito em nossa capacidade de compreensão em si e
entender que o aprendizado depende de nós mesmos. Precisamos praticar
habilidades essenciais para atingir esse alto nível de vida - estimular a
consciência, refletir frequentemente, processar e estar atento aos detalhes,
questionar muito e quaisquer verdades, buscar entender a lógica por trás de
tudo, entender as implicações de algum evento; sejamos investigativos e
curiosos. É isso que nos tornará um ser humano melhor.
12
Percebo que às vezes somos incapazes de evitar fazer aquilo que
não queremos.

✽✽✽

Não consigo nem contar quantas vezes eu desejei fazer algo benéfico para
mim e, por mais que eu tentasse, parecia haver alguma coisa mais forte
dentro de mim, que não me permitia realizar essa determinada ação – e havia
sempre uma desculpa ou uma justificativa para que eu não o fizesse. E eu
tenho certeza de que você já passou e, provavelmente, está passando por
algumas lutas como essa neste momento.
Isso acontece principalmente pelas questões do hábito e pela
configuração de nosso cérebro para preservação de energia. Todas as
conexões existentes em nossa rede neural correspondem a tudo que fazemos a
todo momento, sendo eles novos estímulos (e novas conexões) ou não.
Quanto mais repetimos determinada ação, mais o nosso cérebro reforça suas
conexões neurológicas para ela, fazendo com que menos energia seja gasta
durante o processo a cada repetição e, a longo prazo, mais essa atividade se
tornará automática – quanto mais automática, menos consciente. Vou dar um
exemplo pessoal muito simples, mas que ilustra muito bem (não me julgue!):
eu tenho o terrível hábito de mexer compulsivamente em meu bigode. (Sim, é
isso mesmo, desculpe, eu não resisto). Sabendo da lógica da formação de um
hábito e como a nossa cabeça funciona, já identifiquei muito bem o porquê eu
o faço: mexer no bigode é bom, o ato de mexer nos pelos para lá e para cá
causa uma sensação prazerosa nos dedos e na região do bigode. Além disso,
eu acabo entrando num estado de transe e me sinto um pouco relaxado,
desligado de tudo ao meu redor. Veja, eu já dei motivos suficientes para o
meu cérebro amar que eu mexa no bigode, eu criei e reforcei conexões
referentes à essas recompensas e que são difíceis de quebrar. Quando
consciente, eu faço um extremo esforço para não mexer no bigode, mas na
primeira distração, eu começo a fazer sem perceber (e como resolver? Cortar
frequentemente meu bigode ao máximo para poder evitar que isso continue
acontecendo, fazer o que...).
Embora este seja um exemplo muito banal (e um tanto quanto
constrangedor), o mesmo acontece com várias outras ocasiões na nossa vida.
Nós precisamos fazer um esforço enorme para perceber os gatilhos e as
recompensas que reforçam nossos hábitos, principalmente os ruins (é claro)
e, então, lutar para quebrá-los e transformá-los. Na mesma medida em que
essa lógica pode ser usada para criar um hábito desejado.
O nosso cérebro irá lutar contra novas atividades, porque elas requerem
novas conexões e um alto gasto de energia e, também, ele vai sempre buscar
manter um hábito já existente, porque as conexões fluem facilmente e já há
uma recompensa associada a este processo. Use este raciocínio para eliminar
os hábitos que você não quer ter e para aqueles que quer adquirir. Não é fácil,
mas a consciência dos gatilhos e das recompensas pode ser o primeiro passo.
13
Cometemos suicídio ao perder a vontade de aprender.

✽✽✽

O aprendizado é um processo que acontece dentro de nós desde o primeiro


segundo de vida. Enquanto crescemos, estamos aprendendo a todo momento,
em qualquer interação com o mundo. É um aprendizado natural, aprendemos
linguagem, a nos relacionar e passamos a conceber o mundo de uma maneira
particular conforme vamos experienciando a vida. Agora, jamais esteja
satisfeito com, apenas, essa absorção passiva do conhecimento. Se o fizer,
você optará por viver uma vida de miséria e terá cometido suicídio, ainda que
permanecendo vivo.
Num ponto futuro deste livro, você irá chegar em uma passagem que
diz que uma vida não fará sentido enquanto não houver progresso. E o
progresso está muito associado com o saber. Com o conhecimento. Não
haverá mudança no seu estado atual para um mais poderoso enquanto não
estiver aprendendo. Numa analogia mais óbvia, não há como eu me tornar
um gestor na empresa, se ainda não aprendi a lidar com pessoas. Não há
como escrever um livro, se não leio livros. Uma coisa leva a outra e, em
termos de progresso, o conhecimento é chave para que ele exista. Agora, o
termo do suicídio vem justamente quando chegamos num ponto de
estagnação. A partir do momento em que optamos por não procurar o
conhecimento, por não estudar, por não ler ou por não forçar o pensamento,
chegamos no final da vida. (E, para minha sorte, você está muito vivo). Isso
porque não há mais para onde ir. Não há mais mudanças. Não há novas
possibilidades de realizações ou contribuições que possamos oferecer.
Infelizmente não há mais motivos para que estejamos aqui. Estaremos de o
corpo presente, mas de mente totalmente vazia.
O saber é o nosso maior ativo. É uma grande fonte de sentido e, ao
abandoná-la, estaríamos optando por renunciar a um dos principais
significados da nossa vida. Que a gente nunca pare no tempo quando o
assunto é conhecimento. Sejamos sedentos pelo conhecimento. Vou encerrar
aqui com uma frase de Aristóteles em que diz que o processo de pensar e
adquirir conhecimento pode se tornar cada vez mais excitante: “A alegria que
se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e aprender ainda mais.”
14
Somos todos personagens daquilo que acreditamos ser.

✽✽✽

Quem você é exatamente? Ou quem gostaria de ser? Já percebeu que por


vezes parecemos novas pessoas em determinadas circunstâncias –
principalmente em um ambiente novo? E, além de parecer ser alguém de
forma proposital, podemos ser alguém que não somos de fato, mas
acreditamos ser.
Veja, nós desempenhamos vários papéis na vida. Cada um de nós
realiza uma performance diferente em cada ambiente ou em cada situação.
Temos várias “personas” (Freud explica) e somos uma nova versão de nós
mesmos em consequência do ambiente em que estamos. Perceba como isso é
poderoso. Nós temos a capacidade de mudar traços pessoais de
comportamento de acordo com a necessidade, ou de agir de formas diferentes
de acordo com o que se faz necessário naquele momento. Isso não é
falsidade. Nós somos adaptáveis. Podemos manter a nossa essência mesmo
quando estamos jogando com esses vários papéis (personagens) diferentes a
cada situação. Você é diferente em casa com o seu parceiro ou sua família, do
que você é no trabalho ou no bar com os amigos, mas você não está sendo
falso com nenhum deles (ainda que lógico, serve de ilustração).
Partindo do princípio de que somos seres adaptáveis ao ambiente,
podemos entender que a influência do convívio e desses ambientes é enorme.
Isso significa poder desempenhar papéis que acreditamos ser necessário e não
exatamente que queremos que seja. E isso, portanto, apesar de ser uma
belíssima habilidade, pode ser, também, perigoso. Podemos estar
inconscientemente indo para um caminho profissional, preservando
amizades, ou se relacionando de formas que não queremos, simplesmente por
estar aceitando a realidade imposta e não criando a nossa. Podemos passar a
acreditar que aquele nosso “eu” seja o que supostamente deveríamos ser.
Em contraponto, podemos usar todo esse cenário de maneira inversa.
Incorporar aquele personagem que queremos ser (sem delírios, por favor). Se
desejas ser um homem de sucesso, você pode começar a estudar pessoas de
sucesso, seus comportamentos, habilidades essenciais para administrar uma
empresa etc., ou também a adotar uma postura ereta de peito para frente,
ombros para trás, se isso significa transmitir um ar de executivo bem-
sucedido. Qualquer coisa. É possível criar uma atmosfera favorável que possa
te levar a crer a ser quem você gostaria de ser.
15
Permaneça procurando a felicidade fora de ti e serás eternamente
malsucedido.

✽✽✽

O que te faz feliz? Dinheiro? Joias? Carros? Um bom happy hour? É óbvio
que estas são coisas que nos fazem feliz, certo? Sim e não. Na verdade, elas
são todas um meio para uma sensação de felicidade. Sim, sensação de
felicidade. Não o que eu chamo de felicidade em si. Esses fatores causam a
sensação de felicidade, mas essa sensação de felicidade não é perpetuada
dentro de nós. Elas elevam nosso estado para um estado mais alegre, mas não
provocam a criação de um estado feliz do ser.
Não critico aqui quem se satisfaz com os primeiros itens citados, o de
natureza mais material, vamos por assim dizer. Eu me satisfaço com parte
delas também. É normal. Dinheiro, conforto, viagens, quaisquer que sejam os
elementos que trazem sensações de felicidade. É muito bom. Mas eles não
são a felicidade em si. Eles não florescem a felicidade dentro de nós. São, na
verdade, apenas veículos da sensação da felicidade imediata; porque todos
estes elementos estão fora de nós. E, enquanto acreditarmos que a felicidade
pode se dar por algo fora de nós, permaneceremos o resto de nossas vidas
procurando, procurando, procurando, e não encontrando. A felicidade é mais
que um momento específico de prazer, ela tem a capacidade de se perpetuar e
passar a fazer parte de nós, de acordo com o modo que a gente consegue
internalizar esses momentos, transportando a experiência da sensação de
felicidade para realmente nos tornarmos seres felizes. Estar infeliz é um
estado, mas não significa ser infeliz. Perceba a diferença. Ser uma pessoa
feliz é diferente de estar feliz. Aqueles fatores citados anteriormente, são
elementos que elevam o nosso estado de felicidade. Passamos a presenciar
um estado feliz, mas isso não nos faz feliz efetivamente e a longo prazo. Se
um happy hour nos faz feliz, imagine como seria estar em um happy hour por
vinte e quatro horas - seria insuportável e ficaríamos completamente
infelizes. Acreditamos ter encontrado a felicidade no primeiro momento, mas
isso logo passa, a sensação de felicidade não é enraizada dentro de nós pelo
happy hour em si. Ou então, por exemplo, receber um aumento de salário
com certeza provoca a felicidade por algumas semanas, meses, mas pode ter
certeza que você não será uma pessoa feliz por consequência deste aumento;
ainda que possa te proporcionar outras coisas na sua vida, ganhar mais hoje
fará com que você queira ganhar mais amanhã e a felicidade, portanto, não
está associada ao aumento.
É importante perceber que a felicidade convive comigo como parte do
meu ser e que permanece a longo prazo. A felicidade está em realizações que
eu continuo repetindo dentro de mim. Escrever, por exemplo, para mim, é
uma grande felicidade. Não é material e nem externo. É meu. Eu escrevo o
que eu sinto, o que eu penso, eu sou capaz de expressar o meu “eu”. Eu me
realizo. Escrever esse livro está comigo para sempre e é isso que me traz
felicidade. Isso só poderia ter sido encontrado dentro de mim. Mesmo quando
não estou escrevendo, me sinto feliz por ter a possibilidade de escrever
quando desejar. E sim, eu poderia (e vou) passar o resto da vida escrevendo.
Claro que o material ou o que há de externo está aqui para melhorar
nossos padrões, confortos etc., ele é muito importante também. Mas é
essencial perceber que eles são apenas meios da sensação da felicidade e que
a real felicidade mora dentro de você. Crie essa diferença em ser feliz e de
estar feliz. Comprar uma mansão o deixa feliz, mas talvez o que te faça mais
feliz está em tudo que você lutou para conquistá-la, não é a casa propriamente
dita.
16
Dedicamos mais de quinze anos para formar seres ordinários. Pelos
meus cálculos, um ser extraordinário demora muito menos.

✽✽✽

Aproximadamente quinze anos de formação acadêmica. Considerando a


escola iniciada na primeira série (esquecendo anos anteriores a este), serão
onze ou doze anos na escola, depois adicionamos alguns anos de
universidade, dois, quatro ou cinco anos, geralmente. Tente criar uma noção
de tempo. O que pode ser feito em quinze anos?
Respondendo à pergunta anterior, a Revolução Francesa, por exemplo,
durou dez anos. Exatamente isso, a Revolução Francesa durou dez anos. E,
para formar um grupo de indivíduos, nós gastamos doze anos na escola. Já
acompanhou a evolução da telefonia em quinze anos? Obviamente elas são
medidas totalmente diferentes, elas não competem, eu sei. Eu só quero te dar
uma noção de tempo - o que pode significar dez, quinze anos. O assunto
educação é colocado em diversos trechos deste livro e isso se dá pelo fato de
que acredito que a educação tenha um impacto enorme na formação de
indivíduos e no desenvolvimento de um país e da humanidade. Não quero me
alongar neste trecho sobre os impactos da educação em nossa vida como um
todo, mas talvez refletir o que poderia ser um modelo ideal. Estudando
algumas pessoas dadas como extraordinárias, é fácil notar que sua “veia de
genialidade” não foi construída na escola e, sim, pela forma que eles se
desenvolveram ao longo da vida. É claro que pode haver um elemento
genético durante a formação de uma pessoa, que simplesmente proporciona
capacidades diferentes. Não sabemos ainda exatamente o que faz cada um de
nós sermos cada um de nós. Mas é totalmente sabido que estímulos,
principalmente causados na infância, podem contribuir muito para a
manifestação de um gênio, de um ser extraordinário.
Pensar numa maneira exata sobre o que pode formar um indivíduo para
que ele desempenhe um papel mais relevante no mundo não é fácil. Não
espero que o mundo tenha 7 bilhões de Einsteins residindo nele. Isso seria
loucura. Mas acredito que seja possível elevar um pouco este nível baixo-
médio de formação. Sempre que reflito sobre o assunto e tento chegar a um
modelo ideal, penso em algo próximo ao construtivismo – que era o modelo
adotado na escola em que eu fiz a minha formação infantil (felizmente). O
construtivismo promove o aprendizado através da junção de algumas
capacidades distintas, principalmente por influência da arte (como um todo),
da arquitetura e do teatro. Ele basicamente coloca o aluno em um papel ativo
de criação, modificação e teste dentro das áreas de conhecimento. O aluno é
estimulado a perceber suas próprias formas de aprendizado e ter a sua própria
concepção sobre uma determinada área, enquanto os professores apenas
guiam, orientam e promovem tais estímulos. Um modelo construtivista preza
mais por construir a capacidade de pensar em si, de diversas formas, do que a
imposição de conceitos e fórmulas pré-estabelecidas. Claro que há um campo
a ser pensado, em termos de idade ou de escalabilidade para este modelo.
Talvez esse método de educação seja importante no período inicial da
formação e algumas adaptações possam ser feitas numa idade mais avançada.
Mas o modelo de educação precisa começar a convergir para um modo de
formação da capacidade de aprendizado e de processar informações, e não só
a transmissão da informação.
Essa reflexão serve não só para pensarmos no sistema de educação
como um todo e como podemos adaptá-los, mas também para que você reflita
profundamente sobre o impacto da educação em sua vida. Que você perceba
(e provavelmente já o fez) que o conhecimento precisa ser perseguido não só
pela sua busca à informação em si, mas que também devemos investir em
nossa capacidade de aprender e entender o mundo.
17
Eu ainda acredito que desistir seja mais doloroso.

✽✽✽

Existem boas desistências e más desistências. Boas são aquelas que


percebemos racionalmente que o que estamos fazendo não faz mais sentido
ou não deu certo e, talvez, o melhor caminho seja desistir para procurar um
recomeço (e isso não é bem uma desistência, é mais uma mudança). A grande
dor é quando nós desistimos daquilo que é importante para nós.
O primeiro passo (e não me alongarei nele) é sempre estar conectado
aos nossos valores e saber claramente quais são as nossas prioridades. O que
eu quero fazer e o que é realmente importante para mim. Assumindo que isso
já tenha sido encontrado dentro de você, ou pelo menos parte desses valores e
desejos (e se não tiver, converse um pouco com você, buscando entender,
também, quais são os motivos para que algo seja importante), o próximo
passo é entender o que precisa ser feito. E essa é a grande chave. Nós, por
muitas vezes, desistimos no meio do caminho. Desistimos por falta de
vontade, disciplina, por acreditar não valer a pena o esforço ou por todas
aquelas histórias que nosso cérebro conta para nós. E isso gera uma
frustração ainda maior. Essa é a dor da desistência - ao mesmo tempo que
desistimos, há um ser, internamente, que está gritando desesperadamente,
dizendo que isso que acabamos de abrir mãoe era importante.
Para exemplificar, quero falar um pouco sobre essa desistência, de
forma que todo mundo possa se conectar. Dieta. O primeiro passo:
Identifiquei que preciso fazer uma dieta. Tudo bem, mas por que você precisa
fazer uma dieta? Porque estou acima do peso ideal. Entendido. A dieta tem o
propósito de te ajudar a alcançar o peso ideal. É apenas uma questão de
saúde? Sim. (Vamos parar por aí e supor que não tem nada ligado a
imagem, julgamento etc.). Uma vez que você centralizou um valor importante
para você, que é a saúde, você começa a se dedicar a essa vida mais saudável
através da alimentação e de exercícios físicos. No começo isso funciona bem,
mas com o tempo, você vai perdendo o pique para seguir se alimentando de
forma regrada e participar de todas as aulas na academia. Isso cansa. A cada
ida na academia, sua cabeça te diz essa semana você ainda vai se exercitar
bastante, dê um descanso a você mesmo. Não vou me alongar porque
sabemos como essa história termina. O sobrepeso permanece, a culpa toma
conta de você e a frustração te domina, porque justamente perder alguns
quilos é realmente importante para a sua vida e, além de ter mantido o peso
indesejado, você agora fracassou na tentativa de perdê-lo.
Essa foi apenas uma ilustração do que causamos à nós mesmos. Uma
desconexão entre atitudes e valores, basicamente pela dificuldade de
superarmos o conforto e as histórias que nossa cabeça produz. É de extrema
importância que façamos o exercício de identificar os valores e as ações
necessárias para nos colocarmos num estado desejado e que a gente use a
consciência para forçar que façamos aquilo que realmente importa,
independente do que o nosso cérebro esteja nos pedindo. Realizar dói, mas
desistir vai doer duas vezes mais – pelo fator de desistência e pela
permanência no estado não desejado.
18
Estamos na era em que todos arrotam opiniões, enquanto se
alimentam de ignorância.

✽✽✽

Agradeço por você estar se alimentando de conhecimento e não de


ignorância. A ignorância tem sido um dos principais fatores para tanto ódio e
conflito entre opiniões dentro de nossa sociedade. E não são só de opiniões
diferentes (porque isso em si é positivo), mas justamente a ignorância
causada pela falta de interesse, do conhecimento e da não aceitação de pontos
de vistas opostos.
Isso me faz refletir sobre dois aspectos: o primeiro é o ego; do lado que
luta pela vitória; que o faz querer sair como um “vencedor”. É comum
vermos nas redes sociais ou em qualquer debate do dia a dia (até mesmo em
um bar), uma série de opiniões que são expressadas essencialmente
carregadas de ódio e principalmente motivadas pela não aceitação das
opiniões contrárias que são emitidas naquele momento. Pessoas que não
estudaram minimante o assunto ou que consultaram uma única fonte para que
então suas opiniões fossem formadas. Não é muito difícil fazer uma lavagem
cerebral hoje em dia, diante à tanta ignorância. Vejo muito uma extrema
necessidade de expressar opiniões, como se fosse um processo de provar
para os outros que sou uma pessoa estudada e tenho uma opinião embasada
– diferentemente de você. Quero me provar para a sociedade como um ser
superior. Mas também não quero pagar o preço do esforço para obter o
conhecimento que é realmente necessário. E, como eu não conheço o assunto
realmente, eu me torno agressivo, porque essa é uma forma de ganhar a
discussão. Pode parecer exagero, mas são pouquíssimas as pessoas que se
preocupam verdadeiramente em formar sua base de informação para opinar
de forma decentemente sobre algo. O segundo aspecto, está na incapacidade
de discutir assuntos – o que é um fator igualmente oriundo da ignorância.
Além do que discutimos até aqui, vejo, também, uma séria dificuldade que
muita gente tem em se expressar de maneira amigável e construtiva, e de
ouvir abertamente uma opinião que seja diferente das delas e, portanto,
quando alguém discorda, esse grupo de pessoas reage de maneira resistente e
agressiva; é uma sensação de ameaça. E o pior disso tudo é que, na verdade, a
pessoa que não concorda conosco é aquela que mais pode nos ensinar. Não
precisamos necessariamente concordar com ela, mas podemos ser provocados
a refletir e conceber novas perspectivas dentro daquilo que já acreditamos.
Se preocupe muito em obter real conhecimento sobre todos os assuntos
importantes para você e busque níveis profundos de entendimento, e lembre-
se que cada um percebe a vida de um jeito e possui as suas próprias opiniões,
esteja aberto a elas; talvez, essas sejam as pessoas mais agradáveis para
discutir um assunto. Esqueça sua vaidade e o seu ego querendo provar estar
certo ou impor a sua opinião. Qualquer assunto pode ser apenas debatido,
com várias opiniões diferentes, sem a necessidade de criar uma guerra por
causa disso.
19
Às vezes o que nos impede de tomar uma decisão importante é,
apenas, uma noite de sono.

✽✽✽

Impulso. Quantas vezes você já não tomou uma decisão no calor da emoção
e, ao refletir após o estresse do momento, percebeu que aquela atitude ou
decisão poderia ter sido feita de maneira muito mais adequada?
Nós temos uma natureza impulsiva e isso será impossível de controlar.
As primeiras reações do ser humano ocorrem em níveis irracionais. Em
situações mais difíceis, nosso corpo tende a reagir para nos manter vivos (um
extinto de sobrevivência) e, portanto, essa reação é carregada por emoções:
medo, raiva, tristeza etc. A grande questão é que, na maioria das vezes em
que agimos por impulso, não há a necessidade de reagir imediatamente. A
reação imediata é uma defesa do nosso corpo. Somos resistentes, duros,
podemos magoar alguém ou tomar uma decisão equivocada. É a nossa
natureza. Entretanto, há uma maneira de não passar por isso. Uma técnica
muito simples que eu adotei e que eu me esforço para cumpri-la é aguardar a
minha noite de sono antes de determinar o que será feito. Talvez não precise
ser uma noite de sono especificamente, é importante conseguir encontrar um
espaço de tempo e uma forma de baixar o estresse e a carga emocional. A
noite de sono, para mim, é a certeza de que eu poderei pensar racionalmente
sobre o assunto quando acordar. O sono limpa todo aquele calor emocional
do momento e “zera” o meu estado, abrindo caminho para a racionalidade.
Nem sempre, é claro, você ficará isento de emoções, as lembranças podem
trazê-las de volta, mas eu garanto que, ainda assim, será muito mais fácil
decidir e reagir ao evento vivenciado.
Não tente evitar que o impulso emocional ocorra, isso não será
possível. Mas, ao senti-lo, não reaja externamente, se concentre em preservar
a saúde daquele momento. Respire. Tenha o seu tempo e, se possível, tire
uma noite de sono antes de decidir o que deve ser feito. Se preocupe em
clarear as ideias e garantir que as emoções já cessaram. Isso pode ser
fundamental para uma vida de equilíbrio.
20
O bom ouvinte é aquele que esquece de si por um instante.

✽✽✽

Você ouve para responder ou para entender? Você já foi capaz de se colocar
em uma posição de plena escuta, empatia, sem pensar o que faria ou em
situações similares que já tenha passado e que está louco para contar,
aguardando ansiosamente a sua vez de falar?
Escutar é um exercício extremamente difícil. Ouvir em um estado de
plena escuta, de tentar entender completamente o outro, sem colocar as
nossas crenças e experiências na frente, é muito difícil. Mas é necessário. O
exercício da escuta deveria ser praticado desde cedo, talvez até ensinado
durante a formação de um indivíduo. Quando ouvimos, precisamos estar
conscientes de que precisamos estar ali exclusivamente para isso. É
necessário sairmos um pouco de cena e entrar no mundo de quem fala.
Enquanto estamos ouvindo, precisamos praticar o exercício da empatia e ser
um facilitador da comunicação de nosso locutor. O ouvinte tem a capacidade
de abrir portas e novas possibilidades para quem discursa. Praticar uma
investigação, não só para realmente entender o que o outro diz, mas para
ajudá-lo em sua própria descoberta. Geralmente, quem fala, tenta a todo
momento encontrar a melhor forma de se expressar e ser entendido e, talvez,
ele nem saiba ao certo qual é o seu objetivo final. Pode ser apenas pela
necessidade de se expressar – ainda que não querendo ouvir nada em troca –
ou então há uma necessidade de esclarecimento próprio. E nós, como bons
ouvintes, precisamos nos colocar nessa posição – de esclarecedor. Um bom
ouvinte esquece de si e permite que aquele que fala encontre por si só os
caminhos desejados. Não que não caibam opiniões ou sugestões para quem
ouve, mas, geralmente, a escuta ativa facilita a descoberta do próximo.
Apenas preste atenção enquanto alguém quiser falar. Queira ouvir. Se
coloque de fora um pouco, esqueça de você um pouco. Deixe o diálogo fluir
de maneira que cada um tenha a sua vez de falar e de ouvir
(verdadeiramente). Embora pareça óbvio, não é tão simples assim. Pratique a
empatia, busque o entendimento dentro da perspectiva do outro e não de fazer
presunções dentro de um contexto pessoal. Permita abrir novos caminhos
para quem fala, simplesmente através da escuta e de perguntas que
provoquem novas possibilidades. E não se preocupe, você terá a
oportunidade de falar e ser ouvido também.
21
Sabedoria é dizer “não sei”. Estupidez é continuar não sabendo.

✽✽✽

Você tem coragem de assumir quando não sabe de algo? E a coragem de


dizer um “não sei” direto e reto? Ou você faz parte daqueles que vivem dando
volta para tentar encontrar uma maneira de dizer não ou até para parecer que
sabe?
Ser capaz de dizer “não sei” pode ser uma das maiores demonstrações
de sabedoria. É impossível qualquer ser humano saber de tudo (e não tem
nem como saber o que é “tudo”, não há “tudo” para o conhecimento).
Portanto, não se sinta mal por não saber alguma coisa que esteja sendo
discutido. Quando alguém mencionar algo que você não possa partilhar,
simplesmente sinalize. Isso não demonstra fraqueza. Quando alguém lhe
perguntar algo, se permita dizer “não sei” e, se possível, mostre os caminhos
para que o outro encontre a resposta; essa pode ser a melhor forma de mostrar
o quão sábio você é.
Agora, é fundamental perceber aquilo que é importante para você e
para seu conhecimento. Por vezes, cruzamos informações relevantes para nós
e, ainda assim, não fazemos o menor esforço para compreendê-las. E é isso
que eu chamo de estupidez. Não há problema em dizer que não sabe, mas
permanecer em um estado de não saber algo que seja importante ou que
possa contribuir com a sua vida, é realmente uma estupidez. Ou como aquele
momento em que você não se interessa em conhecer sua audiência em uma
apresentação; quando você não se prepara para aquela reunião importante;
quando lê uma série de palavras desconhecidas em um livro e você
simplesmente as ignora; quando está numa roda discutindo algum assunto de
seu interesse e, depois, nem se quer se interessa em entender tudo que estava
sendo dito com algumas consultas adicionais. Há momentos que essa
“exigência” pelo conhecimento é requisitada repentinamente, não há como
prever. Simplesmente diga que não sabe e busque saber na primeira
oportunidade que tiver.
Perceber ou se sentir sem graça por não saber alguma coisa e
permanecer na inércia de não adquirir este conhecimento, buscar uma
compreensão real de algo, é uma grande violação de si mesmo. Agora, se isso
não é um problema, se você se considera uma pessoa interessada de uma
maneira geral, saiba que você sempre terá o direito de dizer um direto “não
sei”. Demonstre a todos e a si que é sábio o bastante para dizer um “não sei”
e esteja confortável com isso.
22
Tempo: nunca vi reclamarem tanto da falta de algo que tanto se
desperdiça.

✽✽✽

Tão simples, tão obvio e, ainda assim, muitas pessoas reclamam da falta de
tempo, quando não percebem que a falta de tempo é apenas causada por elas
mesmas. O tempo é igual para todos. Por que, então, uns realizam mais do
que outros? Por que reclamar da escassez de um recurso imutável? A
quantidade de tempo não muda. O que muda, é apenas o que fazemos com
ele.
Parta do princípio que não adianta reclamar da falta de tempo.
Reclamar da falta de tempo é uma armadilha mental que rapidamente criamos
para justificar a não realização de alguma tarefa. E, na verdade, a única
justificativa para esta não realização, é nós mesmos. Sim, ainda que sejamos
as pessoas mais ocupada do mundo, insisto, a falta de tempo está dentro de
nós, não é por culpa da “entidade” tempo. Por que uns realizam mais do que
os outros, então? Qual é o segredo para que o tempo não se torne um
problema? A resposta se resume em uma única palavra: prioridade. É
essencial que sejamos capazes de definir o que é importante e como isso irá
se enquadrar em nossa rotina diária. Quando estamos desalinhados ou não
consciente daquilo que é prioritário para nós, é fácil nos engajarmos em ações
que não nos interessam e não provocam resultados positivos, fazendo com
que, no final do dia, tenhamos a sensação de escassez de tempo – justamente
por não termos feito aquilo que realmente era importante. Encontre as suas
prioridades e não permita que seu foco se desvie delas; e, se houver alguma
distração, que ela seja muito bem calculada para que não falte tempo para
aquilo que foi definido como sua prioridade.
Tente fazer o exercício de refletir e listar num papel quais são as suas
prioridades. Elas podem ser: se exercitar, ler livros, ler as notícias, estar com
seus amigos semanalmente, ter algumas horas garantidas para a sua família
todos os dias, qualquer coisa. Não há certo, nem errado. Essa é a sua lista e
ela precisa conter tudo que você não poderá abrir mão. Quando tiver essa
lista pronta, ficará fácil dizer não a todas aquelas outras distrações que
aparecem de repente, encerrar uma reunião no horário, reorganizar sua
agenda de trabalho para que você cumpra outras atividades pessoais etc.
Nunca se esqueça: você é o grande dono da sua vida. Não ter tempo é
puramente uma responsabilidade sua e não há nenhum outro fator que faça
com que seu tempo seja escasso. Ter muitas responsabilidades dificulta, sim,
a administração do tempo, isso é claro. Acidentes acontecem, sem dúvidas.
Mas em geral, uma vez que você esteja alinhado com os seus valores,
administrar o tempo se tornará muito mais fácil, assim como tirar da sua
frente tudo aquilo que não interessa de verdade.
23
Às vezes somos tão convincentes, que somos capazes de enganar a
nós mesmos.

✽✽✽

Não consigo contar quantas conversas já tive comigo mesmo, em que


parecia haver outro ser tentando me convencer de algo que eu sabia que não
deveria fazer, mas, mesmo assim, após tanta argumentação dentro da minha
cabeça, acabei cedendo. E eu tenho certeza de que isso acontece com todo
mundo.
É impressionante a nossa capacidade de nos enganar quando a
discussão interna envolve alguns hábitos ou grandes tentações e que até
sabemos, em algum nível, o que deve ser feito ou não, mas, ainda assim,
criamos tantos argumentos para nos convencer do contrário, que fica
impossível nos controlar. Todo mundo passa pela mesma experiência com
frequência. Isso é a habilidade de controle que o seu cérebro pode exercer
sobre você. Os hábitos, por exemplo, são conexões neurológicas tão
reforçadas dentro do seu sistema nervoso que, em qualquer tentativa de
mudança, seu cérebro irá implorar para que você repita a ação daquelas
conexões que você já possui, causando um bombardeio de ótimos argumentos
do porquê você não deve fazer algo (ou ao contrário do que você realmente
gostaria de fazer) - simplesmente porque ele quer poupar energia. Há também
aquele desejo irresistível que você não deveria ceder, por exemplo aquele
chocolate no meio da tarde. E o desejo por doce vem tanto do desejo pelo
sabor em si, quanto da necessidade mais primitiva de ingestão de açúcar.
Então, se nos mostrarmos resistentes, nosso ser interno vai iniciar uma série
de justificativas para mostrar o porquê merecemos esse pedaço de doce. E,
neste caso, o mais perigoso é que ao ceder repetidas vezes ao desejo, isso
poderá se tornar um hábito (conforme explicado anteriormente) e, portanto,
será ainda mais difícil de recusar à próxima tentação.
Essa é uma breve explicação do porquê somos tão habilidosos em nos
enganar. Nosso cérebro age com vida própria, tendo influência direta em nós
e na produção desses dilemas internos que temos a todo momento. É
importante entender como funciona esse fluxo para que, quando o debate
iniciar, possamos nos manter firme na posição inicial daquilo que sabemos
ser a melhor escolha. Seja para uma boa alimentação, para atividades físicas,
para quebrar um hábito indesejado, ou qualquer coisa. Tente não dar muito
ouvidos a sua mente nesse momento, siga conforme o planejado.
24
Uma vida cheia de significado começa quando percebemos nossos
valores.

✽✽✽

Você já conseguiu conversar honestamente consigo mesmo, fazer uma


profunda reflexão e identificar tudo aquilo que é realmente importante?
Identificar os seus valores? Esse é o primeiro passo para encontrar seu
próprio significado e propósito na vida.
Por vezes nos colocamos em situações ou numa postura que não condiz
com os nossos valores. Isso pode se dar tanto por influência de fatores
externos que nos distanciam deles ou, então, porque ainda não conseguimos
determinar o que é verdadeiramente indispensável para nós mesmos.
Posso propor um exercício: use um papel e uma caneta para listar tudo
aquilo que é importante para você. Não há certo nem errado, afinal de contas
se trata daquilo que é seu e ninguém tem o direito de opinar. Tente refletir
sobre, por exemplo, características admiráveis de uma personalidade em que
você se identifica ou você acredita representar seus valores. Depois mergulhe
em aspectos morais. Por fim, entre nas áreas de sua vida que de fato
demandam um grande investimento do seu tempo. Faça uma passagem geral
em tudo aqui que é importante e que pode estar conectado aos seus valores.
Quando estiver com a lista pronta (e não precisa ser feito em um único dia),
escreva ao lado de cada item a sua proximidade com eles – como você se
coloca em relação a eles e como você pode estar os violando – no seu estágio
atual. Depois, pense no que poderia ser feito em relação a eles para melhorar
ou muda-los, de forma a trazer uma enorme satisfação para a sua vida.
Depois deste primeiro passo (de visualizar essas três colunas – o que é
importante, seu estado atual e ações para chegar num estado futuro desejado),
vai ser possível perceber que um caminho se abriu para a significação da sua
vida. Para o encontro de uma grande realização pessoal. E isso se dá pela
conexão com a sua essência. Agir de acordo com os seus valores. Decisões
tomadas e relacionadas ao que tem sentido para você realmente. Você será
capaz de renunciar à algumas coisas sem a culpa de negá-las, porque
responderá apenas à sua natureza e não agindo de acordo com o que o
ambiente externo esteja “pedindo”.
25
Continue procurando uma vida sem problemas e terás criado o pior
deles.

✽✽✽

Todos nós em algum momento já pensamos em como seria uma vida sem
nenhum problema ou em como seria aquele momento específico, sem
determinada dificuldade que nos ocorreu durante ele. É claro que não
precisamos ir atrás dos problemas, mas, também, acreditar que não ter
nenhum deles ou se colocar numa posição de extrema frustração a cada um
que aparece, só irá tornar a situação pior e, talvez, terá criado por si só o pior
deles.
(Não me refiro aqui a problemáticas extremas ou específicas de cada
pessoa e sei que há situações de grande sofrimento e, em hipótese alguma, eu
desejaria viver com eles. Me refiro a um âmbito geral - questões do dia a dia
e como lidamos com elas.)
É comum encontrar pessoas que se abalam com qualquer situação de
desconforto em suas vidas. Pessoas que têm muita dificuldade em aceitar que
estejam passando por momentos difíceis e, também, que acreditam estar
sendo perseguidas. Por um lado, eu entendo; quem nunca se perguntou por
que isso está acontecendo comigo? Justo agora? Parece que acontece tudo
de uma vez... A aflição de lidar com a dificuldade é normal. A grande questão
é que o problema em si não determina uma escala de sofrimento e, sim, como
nós lidamos com ele é o que fará toda a diferença. Como muito bem
expressado pela Monja Coen: “O sofrimento é inevitável, a dor é inevitável,
mas o cultivo desse sofrimento é opcional”. O cultivo do sofrimento é
opcional.
Os problemas vêm e vão na nossa vida e não existe a mínima chance de
eles não acontecerem. Acreditar que existe um ponto em que seremos isentos
deles ou que teremos soluções imediatas para tudo, é pura ilusão e uma
distração da realidade que podemos estar criando para nós mesmos. Não se
iluda, por exemplo, ao achar que tudo se dá pela falta de dinheiro, porque
quando houver abundância, haverá novas preocupações e sofrimentos. E a
grande “graça” dessas dificuldades está justamente no processo de solução.
Cada passagem é um aprendizado e uma oportunidade de evoluirmos como
seres humanos. Quando entendemos que não há como viver totalmente isento
de problemas e que podemos sempre extrair grandes aprendizados de todos
aqueles que passamos, somos capazes de encontrar uma vida cheia de
harmonia.
Haverá sempre os dois lados da moeda. O do “problema” e o da
solução. Isso te fortalece. Talvez não haveria sentido na vida se não fosse
neste processo de superação. Lembre-se que vivemos em fases, horas
melhores e horas não tão boas, mas que isso faz parte e, depois de passarmos
por elas, sairemos fortalecidos. Esperar uma vida sem problema pode criar o
pior dos problemas, porque isso te frustra mais ainda e te enfraquece. A
melhor forma de alcançar equilíbrio, é entender que o problema é um dos
principais elementos de amadurecimento, aprendizado e conquista.
26
O ódio que a gente exala é rapidamente aspirado pelas nossas
narinas.

✽✽✽

Se você é daqueles descontrolados emocionalmente que propaga o ódio


através de palavras ofensivas e perde o controle por qualquer razão,
transmitindo-o em cima da primeira pessoa que estiver em sua frente, eu
tenho uma notícia: isso está acabando com a sua própria vida. Todas essas
pessoas continuarão vivendo a vida delas tranquilamente e de forma
saudável, enquanto você (caso seja um deles) permanece em um estado
doentio, fazendo mal apenas a si mesmo.
Só quero mostrar que tudo que sai de dentro de nós, tem o poder de
afetar, principalmente, nós mesmos. Todo o mal que exalamos, inalamos logo
em seguida. Uma coisa que poucas pessoas percebem, é que tudo aquilo que
a gente acredita estar fazendo contra o mundo, é um mal cultivado dentro de
nós. Neste caso, por exemplo, palavras de ódio referem-se apenas às nossas
próprias frustrações e à nossa própria dificuldade de lidar com determinadas
emoções. Referem-se à autoestima, inseguranças, não-realização pessoal, em
que eu preciso externar o ódio, preciso ser bruto, porque preciso sentir que
eu sou capaz de minimizar as outras pessoas para que, então, eu possa me
sentir superior. Às vezes acreditamos que alimentar esses sentimentos
negativos servem como uma forma de proteção do que outras pessoas podem
causar, quando, na verdade, essa batalha é apenas nossa. Isso faz com que o
ódio seja espalhado para dar vazão à nossa própria dor em relação a algo. E a
parte mais difícil disso, é que há uma questão neurológica que pode fazer
com que essa postura seja reforçada – os hábitos “negativos” (reclamações,
raiva, ódio) tendem a ser formados e reforçados mais rapidamente dentro do
nosso cérebro, então, quanto mais repetirmos esse comportamento, mais
difícil será de acabar com ele.
É importante estar atento não só ao que estamos causando para os
outros, mas, também aquilo que estamos enraizando dentro de nós.
Precisamos, também, estar atentos aos motivadores que nos levam a agir de
tal maneira e trabalhar em suas mudanças. Lembre-se sempre: está tudo
dentro de nós; tudo que fazemos é aquilo que estamos optando por fazer (as
vezes, inconscientemente). Descontar as dificuldades que temos em cima dos
outros, só fará com que elas aumentem, afastará as pessoas e nos tornará cada
vez mais infeliz, consumidos pelo próprio ódio.
27
A faísca que sai de um atrito pode ser inofensiva se você souber
controlar o fogo.

✽✽✽

Você é do time que molha suavemente a ponta dos dedos e aperta aquela
faísca na ponta de uma vela ou do time que quer ver a vela acender de novo?
Essa metáfora serve bem para distinguir pessoas que gostam do conflito
daquelas que preferem controlá-lo desde seu primeiro momento.
Claro que entrar em situações de atrito com alguém é comum. Elas vão
sempre existir, mas nós temos o poder de controlar o nível deste atrito. Isso
requer um certo nível de inteligência emocional. Ao se ver numa situação
conflitante, em uma discussão, receber reclamações ou cobranças pouco
afetuosas, podemos escolher, ainda que difícil, como reagir. De início, haverá
a faísca originada deste atrito e, se entrarmos nesta batalha de força e
impulsividade, a chama crescerá rapidamente e a discussão será regida por
um fogaréu de emoções. Responder de forma resistente e buscar se defender
imediatamente não irá controlar o calor daquele conflito. Temos a condição
de praticar uma postura empática e de facilitador. Ser um facilitador é se
colocar num estado de entendimento do próximo, buscando entender que se o
outro fez uma queixa ou se irritou e, consequentemente, deu início a um
conflito, há um motivo (na perspectiva do outro) que provocou sua postura.
Portanto, como facilitadores, temos a capacidade de buscar a solução do
problema de maneira amigável, deixando de lado o ego, a resistência e o
orgulho. Quando o fogo começar a surgir, podemos controlá-lo. E, da mesma
forma, quando este motivador estiver em você e que cause essa necessidade
de iniciar um embate, lembre-se que não é preciso acender o fogo com força
total. O modo de iniciar a conversa (relacionado a este conflito) pode
determinar como o outro irá reagir. Não há como controlar a outra pessoa,
mas podemos reduzir drasticamente as chances daquela conversa se tornar
inflamável.
Lembre-se que somos e temos a capacidade de proporcionar uma vida
muito melhor para nós mesmos e, em situações de conflito, isso não é
diferente. Como exemplo à uma cobrança, ao recebê-la, entenda que há um
motivador e se coloque numa postura a facilitar. Quando precisar expor
algum sentimento, esteja atento ao tom, às palavras e leve a mensagem da
maneira mais sutil possível, para não acabar provocando uma guerra. Faça a
sua parte. Você pode e deve sempre exercitar sua capacidade de controlar o
fogo.
28
A busca incessante pelo prazer pode significar o encontro de um
poço profundo de infelicidade.

✽✽✽

A felicidade é um tema de difícil reflexão. A felicidade pode se dar por


vários fatores e cada um pode sentir de uma forma. Buscar o prazer de forma
incessante ou, então, buscar a felicidade como se fosse algo atingível e
mensurável, pode significar um eterno descontentamento. Uma eterna
frustração. A felicidade está muito mais em como nos sentimos em relação a
algo que nos faz feliz (por consequência) do que a algo que buscamos atingir
especificamente. A felicidade é um estado encontrado dentro de nós e que se
perpetua (já falamos um pouco sobre isso anteriormente). Por mais que a
gente se alegre em obter coisas materiais, a felicidade precisa se manifestar
em nós e através de nós. A felicidade é um estado ou um momento de
plenitude em que tudo faz sentido e que sentimos isso em níveis profundos,
num desejo imenso que aquele momento perdure. Permanecer buscando o
prazer se torna uma fonte de, na verdade, infelicidade, porque encontramos a
sensação de nunca ser bom o bastante. Significa projetar um estágio de
felicidade que nunca chega - se eu tiver isso, serei feliz – criando um falso
significado para a felicidade.
Eu, como um escritor, posso dizer que sou profundamente realizado e
feliz por ser um escritor em si e por escrever. A escrita está associada a uma
grande satisfação pessoal que é a contribuição. Me sinto valioso quando
posso contribuir com o mundo. Isso é ser feliz para mim, é a minha felicidade
exclusivamente e comigo mesmo. Tudo que eu recebo por consequência da
minha paixão, me tornará ainda mais feliz. O que não pode acontecer é
justamente o inverso, buscar primeiro esse “recebimento” que não seja
consequência daquilo que realmente o faz feliz.
É importante estar em contato com a sua essência e buscar as
definições de felicidade para você. Cuidado com o que os outros pensam
sobre felicidade e não baseie a sua felicidade nisso. Seja feliz por você e para
você. Busque perceber aqueles momentos de plenitude, que pudessem durar
para sempre. O prazer em si é apenas imediato. Não o busque excessivamente
como a fonte da sua felicidade. Busque em você o que te faz ser feliz.
29
É triste pensar que apesar de todo mundo ser diferente um do outro,
a grande maioria opta por agir exatamente da mesma forma.

✽✽✽

Já falamos muito sobre educação e eu não quero entrar novamente neste


mérito. Mas lembre-se que ele tem muita influência sobre este item. Eu quero
que você pense por um instante como é o seu comportamento perante os
eventos da vida. Na tomada de decisão, por exemplo, você acredita que a
decisão é tomada totalmente de acordo com as suas crenças ou está sob
influência do meio onde se encontra? Você age de uma maneira totalmente
particular ou tende a copiar aqueles à sua volta? Não há nenhuma
preocupação real em se comportar da sua maneira que os outros não aceitam?
Se suas respostas foram “sim”, você faz tudo por você e da maneira
que entende que deva ser. Ótimo! Eu acredito. Se ficou na dúvida ou acha
que não reage exatamente da maneira como gostaria. Ótimo! Isso já
aconteceu com todos nós e você teve a humildade e a consciência de assumir
isso a si mesmo. Este é o primeiro passo para a sua liberdade.
O ser humano tem uma tendência natural de reagir conforme o
ambiente que está inserido. Inúmeros testes já foram realizados para provar a
nossa tendência de agir conforme o grupo. Como aquele famoso experimento
em que as pessoas se viram de costas para a porta do elevador (todos atores) e
a pessoa que está sendo avaliada, na grande maioria das vezes, também se
vira. Sem haver nenhum motivo para isso. Ela simplesmente prefere reagir
igual aos demais membros do grupo a passar o estresse da dúvida de estar
fazendo algo errado ou quebrar algum padrão. Nós, seres sociais, temos esse
impulso natural de agir conforme o nosso ambiente. Pense neste experimento
como o mesmo princípio que pode movê-lo em situações diárias entre
família, amigos ou no trabalho. Nos comportamos de maneira que todos
aceitam, falamos coisas que condizem com o que as pessoas estão
acostumadas a ouvir e até mesmo fazer o que todos os nossos amigos fazem.
A gente reflete muito as pessoas com quem convivemos. E, em níveis
inconscientes, todos nós fazemos isso. Sempre haverá pessoas mais
excêntricas, mas até elas podem ter sido influenciadas pelo convívio com
outras pessoas parecidas e que se julgam "mais excêntricas" (vamos dizer
assim).
É fundamental que a gente traga essa relação de grupo para o nosso
consciente. Que a gente perceba o que verbalizamos, como nos relacionamos,
agimos e em qual nível isso está sendo influenciado pelo meio em que
estamos. Provoque em você a sua autenticidade e contribua com o mundo de
uma forma particular, dentro dos seus próprios princípios, propósitos e
crenças. Não seja como o avaliado dentro do elevador, não vire de costas se
não houver um motivo para isso, só porque todos estão fazendo.
30
O mundo se apresenta da forma que o percebemos.

✽✽✽

Como você percebe o mundo? Já percebeu que o mundo se apresenta de


formas diferentes conforme o nosso humor? Que ele muda de acordo com o
nosso estado emocional? Se ainda não, quero que reflita por um instante
como você está percebendo as coisas a seu redor neste momento e tente
entender qual é a influência que você mesmo pode estar causando em sua
realidade.
Essa frase serve para refletir sobre a forma como você está concebendo
a sua realidade. Vale reforçar que a realidade percebida está totalmente sob
influências de vários fatores pessoais, como estado emocional, experiências,
crenças etc., mas que também somos capazes de dar uma nova perspectiva ao
mundo. Mesmo que a nossa tendência seja de procurar enxergar as coisas de
maneira negativa, também temos a habilidade de colocar nossa realidade em
uma perspectiva positiva. O exemplo mais simples de quando isso acontece, e
eu tenho certeza que já aconteceu com você, é quando uma pessoa “chora em
seu ombro”, dizendo tudo parece estar não funcionando para ela, que alguma
coisa de ruim aconteceu e, seu primeiro comentário é algo como: Ah, pelo
menos você já resolveu essa questão. Pelo menos isso te libertou para
determinada decisão. Ou: Eu entendo, mas, na verdade, esse é nada verdade
um problema bom. São exemplos muito simples de que em determinados
momentos nós conseguimos olhar o outro lado do evento, enquanto uma
pessoa emocionalmente abalada não. Buscar olhar o mundo numa perspectiva
diferente do que ele se apresenta no primeiro momento, é um exercício que
precisa ser praticado sempre que for possível. Um exercício de perceber que,
talvez, estejamos dando um significado pesado demais para alguma coisa que
poderia ser, na verdade, uma oportunidade ou um aprendizado valioso.
Em alguns momentos, tudo parece estar realmente difícil. Mas ainda
assim, o exercício do positivismo (vamos chamar assim) pode estar sempre
com você, para te ajudar a olhar para a vida de uma forma positiva e focar
nas partes boas. Todas as dificuldades te fortalecem. Não deixe que sua
cabeça vá longe demais quando se trata de significado ao mundo ou às
experiências. Se deixar, ela criará cenários que não são reais e você acabará
acreditando neles. Perceba e traga a sua cabeça de volta. Esteja presente na
sua realidade e numa perspectiva positiva. Você pode mudar o seu próprio
panorama.
31
Lutar contra própria natureza poderá nos trazer frustração. Aceitá-
la e dominá-la poderá nos trazer equilíbrio.

✽✽✽

Buscar o nosso equilíbrio é óbvio. Às vezes, portanto, buscamos da forma


mais difícil. Pense por um instante. Há algo em você que gostaria de mudar?
Pense na sua personalidade, no seu comportamento. É provável que sim,
todos nós queremos mudar algo. Ou, ao menos, nos tornar melhor em algum
aspecto. Ao buscar essa mudança, o que você faz exatamente?
Muitas vezes, conseguimos identificar aspectos que podem ser
melhorados em nós, com base no que sabemos do mundo, lemos, vemos em
amigos ou qualquer fonte que nos traga uma breve reflexão sobre nós
mesmos. E isso é ótimo, faz parte do processo. Identificar estes aspectos de
possível melhoria ou mudança, faz com que abramos portas para uma vida
melhor, sem dúvida. A grande questão é que ao tentar mudar, acabamos
enfrentando e conhecendo uma natureza que a gente pouco tinha consciência
sobre, fazendo com que nos frustremos nas várias tentativas malsucedidas de
melhoria de determinada conduta. A gente acaba se cobrando e se
entristecendo mais ainda, acreditando haver algo de errado. Está realmente
dentro de nós, mas talvez esse não seja exatamente o “fim do mundo”. A
verdade é que a nossa natureza precisa ser percebida e é importante entender
que ela não vai mudar drasticamente, porque ela está em um nível mais
profundo do nosso ser, num lugar em que muitos fatores podem influenciar -
nossa genética, experiências etc. Ao perceber as manifestações ou impulsos
de um comportamento indesejado, o maior esforço deve ser para aceitá-lo e
controlá-lo. Aceitar que existe um outro “eu” dentro de nós que não se
preocupa muito com a lógica ou com o ser humano que gostaríamos de ser. O
esforço deve se dar ao tentar controlar para que “ele” não seja predominante.
O primeiro passo, então, é perceber. O segundo, entender. O terceiro,
frear. O quarto, reagir. Perceber esse outro “eu” se manifestando dentro de
nós, provocando aqueles impulsos indesejados. Depois buscar um
entendimento dos motivadores desses impulsos através da reflexão e
consciência para que possamos controlar e frear. Ao frear o impulso, teremos
um tempo adicional para pensar logicamente como reagir e, a reação, pode
não ser exatamente da forma que gostaríamos num primeiro momento, mas a
cada reação controlada, um ajuste acontecerá dentro de nós. É um processo.
Ele deverá se repetir várias vezes.
Não busque alterar esse seu “ser” interior. Deixe-o lá e conviva com
ele. A cada dia que passa, você terá mais domínio sobre ele e, quem sabe, ele
se canse e até pare de se manifestar. E, então, você terá sido bem-sucedido no
seu processo de mudança.
32
Talvez o cego seja aquele que melhor vê o mundo.

✽✽✽

Essa colocação não faz referência às pessoas cegas exatamente nem a um


julgamento sobre quem consegue ver melhor o mundo e, também, não é uma
definição do que é melhor. Mas eu gostaria que você estivesse aberto a
perceber como a realidade vista pode influenciar a sua percepção de mundo.
Após estudar e entender um pouco sobre como o nosso cérebro
funciona, entendi que o que vemos “fisicamente” é extremamente
determinante para a forma como percebemos o mundo. Ainda que pareça
lógico, a visão pode influenciar “negativamente” a nossa percepção, porque
nosso cérebro se concentra muito neste sentido (visão). O cérebro adora (e
realmente precisa) usar a visão para tomar decisões, entender contexto,
avaliar emoções, agir etc. e, por isso, os demais sentidos acabam ficando, por
vezes, em segundo plano. Adicionalmente, a visão periférica é basicamente
uma suposição que o cérebro cria do ambiente ao redor (também por questões
primitivas), complementando a figura em foco à nossa visão, mas a verdade é
que ela é falha, podendo, portanto, distorcer um pouco a realidade ou fazendo
com que a gente perca detalhes importantes de algum evento. Isso é como um
teste de atenção realizado (realmente aconteceu), em que há alguns bailarinos
dançando e você precisa contar quantas vezes eles entram e saem de um
quadrado marcado no palco. Ao final do exercício, você acha que se saiu bem
e eis que a pergunta final é feita: Você notou o macaco caminhando em meio
a cena? E, sim, quando você assiste novamente a cena, realmente uma pessoa
fantasiada de gorila circula entre os bailarinos. E convenhamos, se fosse uma
situação real, a realidade teria sido muito diferente daquela que
acreditávamos inicialmente e podemos ter perdido um fator determinante,
simplesmente porque nossa atenção estava voltada para outro lugar.
Então, não pense apenas no cego em si. Não pense especificamente em
qual sentido promove uma percepção mais precisa da realidade. Não é isso.
Aqui chamo atenção para entendermos como a nossa visão e a nossa atenção
(ou a distração) pode afetar a nossa percepção, porque estamos, a todo
momento, perdendo informações relevantes do contexto do mundo ao nosso
redor e a sensibilidade de enxergar o mundo em seu sentido mais amplo, não
pode depender apenas da nossa visão.
33
Uma vida sem progresso é uma vida sem sentido.

✽✽✽

Não posso afirmar que o sentido da vida seja o progresso em si. Mas, com
certeza, uma vida sem progresso nunca fará sentido.
Acredito que o sentido que damos à nossa vida seja muito pessoal. Há
quem acredita que o sentido está na forma em que conectamos com outros,
que contribuímos para os outros. Pode estar no legado que deixamos ao
partir. No acúmulo de riqueza. Na criação da família. No processo evolutivo
entre essa e a próxima vida. Não há como afirmar qual é o sentido da vida
precisamente e eu realmente acho que cada uma deva acreditar naquilo que
faz bem para si. Não há sentido maior para vida do que aquele que é o seu;
viver a vida para o seu propósito.
Agora, uma coisa que posso afirmar é que não há uma vida saudável e
cheia de significado se não houver progresso. Progresso pode ser definido
basicamente como ser melhor hoje, em qualquer coisa, do que você era
ontem. É triste imaginar que há pessoas que aceitam permanecer exatamente
no mesmo estágio por meses ou anos. Nós, enquanto seres conscientes,
precisamos perceber a todo momento que há aprendizado em todas as
situações da vida e que tudo aquilo que fazemos pode nos ensinar alguma
coisa; é necessário ter um senso de que se tornar um ser humano melhor a
cada dia é um pré-requisito para uma vida bem sucedida; precisamos buscar
evoluir como pessoa; buscar expandir cada área da nossa vida, seja ela
emocional, familiar, profissional, pessoal, espiritual etc. É importante
perceber que não haverá significado real num espaço de tempo em que você
começou e terminou exatamente da mesma forma. O modo como percebemos
as experiências e a sede pelo conhecimento podem ser o nosso melhor
combustível.
Tente perceber as áreas que são importantes para a sua vida e entender
como você pode se tornar melhor a todo momento. E haverá sempre espaço
para o progresso, por menor que seja. Se você admira alguma área de
conhecimento, faça com que você se admire por possui-lo. Se errou hoje,
acerte amanhã. Se não se relaciona bem com alguém que você gostaria,
entenda o que você pode fazer para mudar o cenário. O progresso não é só
profissional, o progresso é como indivíduo. E uma vez que você progride,
você naturalmente alcançará o sucesso e a realização pessoal que deseja.
34
Não busque superar o medo para agir. Busque agir enquanto estiver
sentindo medo.

✽✽✽

Enquanto você tentar superar o medo por completo para tomar alguma ação,
você jamais o fará. O medo existe para nos preservarmos. Nosso cérebro nos
resguarda do perigo. Não há como entrar num estágio pleno da ausência do
medo em situações de dificuldade, risco, ou qualquer coisa que nos deixe
vulnerável. E é nesse momento, em que esperamos que o medo suma, que
fará com que permaneçamos exatamente onde estamos na vida.
Ficar estacionado na vida, em algum aspecto, é normal e todos nós já
passamos ou estamos passando por isso neste momento. Infelizmente não é
uma ciência simples de superar. Essa insegurança nos impede de agir para
que não fiquemos expostos aos riscos daquele movimento. Essa é a nossa
natureza primitiva. Quando cito busque agir enquanto estiver sentindo medo
é justamente porque precisamos ser capazes de perceber quando o medo se
manifesta pelo nosso extinto e não exatamente pelo risco real que estamos
correndo. É necessário haver um entendimento lógico da situação para a
tomada de decisão, mesmo que isso cause medo. É justamente a capacidade
de entender que o desconforto irá existir, mas que, neste caso, essa
determinada ação é necessária e, por isso, você deve seguir em frente. É saber
que esse desconforto só será sentido no momento inicial e que, lá na frente,
você irá perceber que o evento não foi tão “traumático” como você estava
imaginando que seria.
É importante que a gente se exponha àquelas experiências que sabemos
ser necessárias, mesmo quando a nossa mente está nos “prendendo”. É
necessário se dar um empurrãozinho, ciente de que aquilo precisa acontecer e
o medo e o desconforto fazem parte – mas que o retorno de ter realizado algo
(mesmo que um pouco sofrido) é muito maior do que ter permanecido
estacionado.
35
A genialidade se manifesta ao não aceitar uma ideia que todos
aceitam. O gênio questiona até as maiores verdades.

✽✽✽

O que é ser gênio? De acordo com definições no dicionário, encontramos


significados como: ¹aptidão natural para algo; dom, ²extraordinária
capacidade intelectual, notadamente a que se manifesta em atividades
criativas, entre outras. O gênio é aquele que demonstra aptidão e uma
extraordinária capacidade intelectual para diversas atividades. Agora, como
alguém pode se tornar um gênio?
Embora eu acredite que muitas pessoas realmente já nasçam de
maneira diferenciada, nasçam já com traços extraordinários – e não há muita
explicação para isso; acredito muito, também, que há como se tornar “genial”
e isso depende de como percebemos os eventos da vida. Ao citar a
genialidade se manifesta ao não aceitar uma ideia que todos aceitam me
refiro precisamente ao fato de que não podemos cair na própria armadilha de
acreditar que tudo é como se apresenta à primeira vista. Significa que tudo
poderá (e deverá) ser explorado através de questionamentos constantes para
que novas conexões se abram em nossa cabeça. Acredito muito num processo
de aprendizado do próprio indivíduo, em que ele se expõe às experiências
num modelo de pensamento crítico, provocando, a todo momento, um
entendimento lógico e profundo dessas experiências. Que ele seja capaz de
conectar esses aprendizados a demais áreas e testar cenários (ainda que
absurdos), podendo encontrar, assim, um traço de genialidade. Ser
extraordinário é ser capaz de pensar além do que a grande maioria das
pessoas pensam. Ao citar o gênio questiona até as maiores verdades é
justamente pelo exercício de conceber essas conexões com o todo, seus testes
de hipóteses e pensar em alternativas, mesmo que para cenários óbvios ou já
“comprovados” como verdade. Não necessariamente para procurar mudar
alguma verdade, mas como uma forma de entendimento mais profundo sobre
determinada questão. É entender o "porquê" das coisas e não o “o que”. É
testar linhas de raciocínio diferentes em qualquer evento, conhecimento ou
verdade, fazendo com que as informações sejam processadas e conectadas
profundamente dentro de nós. Acredito que cada conhecimento facilita o
aprendizado para o próximo ou a percepção da próxima experiência. A
experiência que será determinante para sua formação pessoal.
Sugiro aqui o exercício de sempre questionar dentro de você tudo
aquilo que cruzar a sua vida, para que você possa obter real entendimento
sobre determinado assunto ou que possa extrair o máximo de determinada
experiência. Sugiro o pensamento crítico. Crie hipóteses. Entenda o porquê
das coisas e não só aceite o que elas simplesmente são (ou o que você acha
que são). Entenda a lógica e a formação dessas coisas. Esse entendimento
mais amplo é um dos grandes caminhos para aflorar a genialidade que todo
mundo pode ter dentro de si.
36
Controle o seu ego para que ele não te controle.

✽✽✽

O que é o ego? A psicologia o define como: 1. Núcleo da personalidade de


uma pessoa e 2. Princípio de organização dinâmica, diretor e avaliador que
determina as vivências e atos do indivíduo. Ou, de acordo com Freud,
instância do aparelho psíquico que se constitui através das experiências do
indivíduo e exerce, como princípio de realidade, função de controle sobre o
seu comportamento, sendo grande parte de seu funcionamento inconsciente.
Essas definições são encontradas no Google.
Núcleo da personalidade. Princípio que determina vivências e atos do
indivíduo. Instância do aparelho psíquico que exerce como realidade a
função de controle sobre o seu comportamento. E esse trecho final é muito
forte. Controlar o seu comportamento. Aqui que mora a chave desta reflexão.
De acordo com a psicanálise (e me agrada muito sua definição), o ego é um
elemento da sua psique, grande parte em nível inconsciente, que controla o
seu comportamento e está diretamente ligada ao nível de realidade percebida.
A intenção não é se alongar muito tecnicamente. Mas quero que você
reflita por um momento: como o seu ego, de acordo com as definições
anteriores, tem controle sobre você e como você pode controlá-lo?
O ego é algo profundo dentro de nós. É um elemento psicológico do
ser humano que se manifesta fundamentalmente dentro de emoções e impacta
diretamente o modo com que reagimos a qualquer situação e, por isso, é um
elemento dentro de nossa personalidade. É basicamente um dos maiores
influenciadores do nosso comportamento.
A grande importância de controlar o ego está justamente ligada às
características primitivas e inconscientes. Controlar o ego significa perceber
que seus primeiros instintos de reação prezam pela sua defesa, pela fuga ou
por um comportamento além do necessário em relação a realidade presente, e
reagir de forma primitiva num ambiente comum, significa, provavelmente,
danos às pessoas a sua volta (geralmente danos emocionais) e, também,
danos à sua própria personalidade, no sentido de alimentar um padrão
indesejado ou inadequado de comportamento. O seu ego está na sua
preservação, mesmo quando não é realmente necessário. E, por isso, ele
precisa estar sob controle.
Este é um exercício de consciência. Perceber nossas primeiras reações
e usar o lado racional para tomar a decisão em relação a maneira de agir. E
buscar agir de formas que realmente nos representam, dentro dos nossos
próprios valores e dentro de tudo aquilo que acreditamos; e um ego
descontrolado pode nos desviar rapidamente daquilo que conscientemente
acreditamos ser o certo.
37
Seja o produtor das circunstâncias, para que você não se torne seu
produto.

✽✽✽

Você consegue se lembrar de algum momento de grande desconforto na sua


vida? De estar em lugares que não gostaria de estar? De fazer algo que não
gostaria de ter feito? De ter medo de falar um “não”? De estar com pessoas
indesejadas? E depois que esses momentos passaram, você provavelmente
prometeu a si mesmo que jamais repetiria este erro e, de repente, isso tudo se
repetiu.
Quando me refiro a produzir as circunstâncias é simplesmente nos
colocarmos em situações que quisermos e da maneira que desejarmos. Vou
me usar para exemplificar: eu me sinto muito desconfortável quando alguém
depende de mim ou quando eu dependo de alguém. Prezo muito pela
independência. Uma ocasião simples: quando tenho algum compromisso e as
pessoas querem ir ou chegar juntas comigo. Isso me consome. Chegar num
horário que eu não quero ou fazer a pessoa chegar num horário que eu não sei
se ela quer, é extremamente desconfortável para mim. O que eu faço?
Geralmente eu digo “não” a todas as caronas oferecidas e “não sei” a todos os
horários de chegada. Na hora que eu quero ir embora eu simplesmente digo
que preciso ir embora. E fim. É um exemplo muito básico, eu sei. É muito
mais fácil produzir as circunstâncias nesse caso, mas só quero que você
transborde essa prática para outras situações da sua vida e de maior
relevância. No sentido em que você pode acabar se permitindo fazer coisas
que te incomodam.
Você tem o poder de estar presente em situações que lhe confortam,
não que te sobrecarregam. É claro que não é sempre que poderemos estar
confortáveis, existem momentos em que este desconforto se faz necessário.
Estas reflexões servem para que você se sinta bem nas circunstâncias da sua
vida. Saiba dizer não sem medo de ser julgado pelo outro. Esteja bem consigo
mesmo e se coloque em lugares que te fazem bem; olhando exclusivamente
para si. Não se torne um refém das circunstâncias. Assuma o controle para se
sentir melhor e produzir resultados melhores naquilo que é importante para
você.
38
A luta mais difícil é aquela contra você mesmo.

✽✽✽

Nós temos várias lutas diárias e, por vezes, acreditamos que essa luta se dá
por elementos externos a nós. Acreditamos que, se não fosse por um desses
elementos, não estaríamos lutando ou sofrendo naquele momento. E, ainda
pior, essa crença acaba provocando tentativas frustradas de mudança, e ela
frustra porque somos incapazes de mudar aquilo que não está dentro de nós.
Vou citar aqui um exemplo muito simples sobre uma situação que
todos nós já passamos e que acaba causando um conflito dentro de nós:
Quando alguém lança alguma ofensa e você se enfurece e sofre por conta
disso. De quem é a responsabilidade em relação ao modo como se sentiu? A
responsabilidade é sua. É claro que ninguém quer ser ofendido e
naturalmente podemos passar por um período de estresse em função do
tempo que levamos para digerir a situação, mas o ofensor ofende por
problemas que ele tem em lidar com você e, você, em contrapartida, sofre por
ter alguma dificuldade para lidar com isso. Se este alguém o ofendeu se
referindo a sua capacidade intelectual, por exemplo, você pode pensar eu
realmente sou assim? Não, logo, não me ofendo. E se a ofensa fosse
verdadeira, se você fosse realmente desprovido de uma inteligência aceitável
para viver em sociedade, também não haveria motivos para transtornos, sua
principal missão seria aprender a lidar com esta realidade. Veja, se abalar por
uma ofensa significa que aquilo mexeu com algum sentimento dentro de
você, por alguma insegurança, vaidade, ego ou qualquer outro fator,
totalmente pessoal. Este exemplo pode ser um tanto quanto simplório, mas
ilustra a forma com que lidamos com nossas lutas diárias. Ele serve como
base para projetar a ideia em quaisquer outras áreas ou circunstâncias da vida.
Tente captar a mensagem de que as grandes lutas são travadas por nós
mesmos. No cenário de uma ofensa, você aceitou se ofender. A discussão de
baixo nível só acontece numa via de duas mãos. Uma chantagem emocional
só existe se há o chantageador e o chantageado, esse “papel” isoladamente
não consegue existir. As frustrações, por exemplo, com os nossos chefes,
familiares, esposos/esposas, existem por fatores em que nos apegamos, que
sabemos lidar ou pela falta da inteligência emocional.
Não estou dizendo que precisamos nos colocar numa posição de
“monge espiritual”, agindo num nível extremo da sabedoria e do controle
emocional. Não é isso. As dificuldades e os sofrimentos vão sempre existir e
são necessários. O importante é que a gente perceba que os esforços da
mudança ou do processo de lidar com essas lutas diárias, devem apontar para
dentro de nós em busca da solução. Seja o dono da sua vida e busque a
transformação em você.
39
Nós criamos vários “recomeços”. Isso nos livra da culpa e nos leva
a acreditar que antes não valeria a pena o esforço de algo e que, agora,
vale.

✽✽✽

Essa é a famosa dieta de segunda-feira. O que te impede de começar uma


dieta no sábado? Na quarta-feira que seja? Simplesmente não há diferença
para quem realmente deseja fazer uma dieta.
Nós temos o costume de sempre acreditar que um recomeço possa ser
mais assertivo do que no momento da decisão ou no momento de sua
vivência. Vou explorar o exemplo da dieta, mas eu gostaria que você
pensasse em como isso pode se aplicar em qualquer objetivo que você não
esteja conseguindo atingir. No caso de uma dieta, é comum (e eu já passei
por isso) que a pessoa a inicie na segunda-feira. Geralmente, este dia é um
sucesso. Na terça-feira, pode acontecer alguma derrapada sutil, por exemplo,
aquele doce depois do almoço. Mas tudo bem, não é isso que fará sua dieta ir
por água abaixo (pelo menos é o que acreditamos). Na quarta-feira, existe o
convite irrecusável de seus amigos para comer em algum lugar especial. Você
até tenta se manter firme no seu compromisso, mas você já ficou um pouco
fora da dieta. Na quinta-feira, então, você já está cansado e acaba lembrando
das deslizadas cometidas e logo percebe que o próximo dia será sexta-feira e,
então, o final de semana. E aí surge um grande dilema. Quinta-feira pode ser
um dia determinante. Alguns conseguem se manter firme, mas a grande
maioria já não tem muita paciência para isso. É a dúvida entre devo
recomeçar na próxima segunda e aproveitar ou voltar para "linha"? Sua
cabeça então grita aproveita! Agora já é tarde! Então, os próximos dias se
passam e eu nem preciso concluir o resultado desta dieta. Durante o sábado e
o domingo, o que passa por nossas cabeças várias vezes é que essa semana
houve alguns eventos inesperados que fizeram com que eu me distraísse e
agora também já é tarde, segunda-feira eu recomeço minha dieta. Está tudo
bem. Acontece. De qualquer forma, essa semana será melhor ainda. E aí
caímos na mesma armadilha novamente.
Esse é um exemplo claro de como estamos regularmente cedendo a
tentações e à lei do mínimo esforço. É um exemplo de como vivemos
contando “historinhas” para nós mesmos com o intuito de justificar aquilo
que não conseguimos realizar. Acreditamos em histórias para nos livrar da
culpa. E para justificar porque permanecemos aonde estamos.
É importante estar atento às “historinhas” que você conta para si
mesmo. Perceber o que é realmente importante para você e se manter firme
na execução de seu plano. As tentações te cruzarão, você vai querer criar
vários recomeços para se sentir melhor diante ao fracasso, sentir que a partir
daquele novo ponto definido, o seu esforço realmente valerá a pena. Comece
e apenas recomece quando realmente fizer sentido. E, no fundo, você sempre
sabe quando faz sentido.
40
Não se sinta mal pelos impulsos que lhe ocorrem. Se sinta mal por
não perceber ou, tampouco, controlá-los.

✽✽✽

Não é um problema se sentir triste ou irritado. Não é um problema estar num


estado de indignação. De estresse. Ou aquela vontade repreendida de dizer
algo. Digo que não é um problema, porque, infelizmente, a nossa natureza
nunca vai mudar por completo. Continuaremos sempre sentindo estes
impulsos de acordo com as circunstâncias da vida.
Assim como impulsos positivos, os negativos também ocorrem. Eles
fazem parte de como nós fomos projetados para sobreviver e sentir o mundo
em que estamos. E tudo bem. Eles estarão sempre conosco. O importante é
entender que os impulsos ocorrem de maneira inconsciente, mas que nós
temos a opção da escolha de como reagir a eles de maneira consciente. Por
exemplo, quando recebo imediatamente o que seria uma perfeita resposta de
contra argumentação fundada no ódio e, por um instante, consigo segurar o
ímpeto de despejá-lo no outro, realizei, com sucesso, a função consciente do
meu ser. Consegui rapidamente calcular os danos daquela resposta e medir
que realmente não teria valido a pena agir de tal forma. Isso não significa,
também, que nunca devemos reagir conforme o impulso, às vezes o impulso
da reação é realmente importante e necessário para aquele momento, ainda
que em ocasiões específicas. O importante é que você consiga avaliar se
aquele impulso é realmente a melhor escolha. Isso é tão real, que há muitas
pessoas que sofrem pelo oposto. Retraem tanto sua natureza, que aquilo
acaba se voltando negativamente contra elas, num acúmulo de emoções
amargadas dentro de si. Assim como aquelas que sofrem as consequências –
principalmente sociais – de agir inteiramente por impulso. Por isso o
equilíbrio é essencial.
É fundamental saber que há um ser primitivo dentro de nós, reagindo e
enviando sinais inconscientes a todo momento, mas que, mesmo assim, temos
a capacidade de avaliar estes impulsos antes de reagirmos. E é igualmente
importante refletir sobre eles para poder entendê-los e perceber quando e
como se manifestam. Não podemos simplesmente enterrar a nossa natureza,
mas podemos aprender a dominá-la e a viver em equilíbrio com as nossas
emoções e a nossa razão.
41
Um ótimo plano é aquele que começa.

✽✽✽

Você é daqueles que monta vários planos e quase nenhum deles começa?
Grandes ideias, uma alta excitação quando as ideias e os planos aparecem e
se desenvolvem, mas, aos poucos, eles vão sumindo, aquele prazer parece
evaporar em meio ao medo e você acaba se desanimando e deixando tudo de
lado. Eu já passei muito por isso.
Nós temos uma tendência natural a permanecer no mundo das ideias e
ter dificuldade de trazê-las para a realidade. Temos dificuldade de agir. É
natural que o número de ideias seja muito superior ao número de ações
efetivamente, isso faz parte de um "processo criativo". É um processo natural
de captura - alguns planos e ideias são simplesmente descartados e servem
apenas para dar origem àquelas que realmente fazem sentido. Mas a grande
problemática é quando temos uma boa ideia, que temos um plano consistente
e que isso pode até significar a realização de um grande sonho, porém,
permanecemos no estágio “zero” e não avançamos. Alimentamos nossos
prazeres com a imaginação da realização ou da perspectiva criada, mas, de
fato, não agimos para que aquilo seja realmente alcançado. Isso se dá pelo
medo do desconhecido, do julgamento. Está ligado à nossa insegurança.
Quando apenas nos alimentamos da possibilidade da realização, estamos
numa zona segura. Quando contamos a alguém sobre o grande plano, a sua
realização parece se materializar um pouco diante de nós e isso acaba nos
satisfazendo parcialmente, provocando ainda mais a inércia, deixando
verdadeira realização bem distante. Não vamos em direção a ela porque nosso
cérebro imediatamente nos diz essa ideia é ridícula. O que meus amigos vão
falar? Acho que estou delirando. Preciso pensar novamente sobre isso. Acho
que não é o momento. E assim permanecemos no ciclo da criação de vários
outros planos e nos satisfazendo através da imaginação.
A grande mensagem é: comece. Não há plano perfeito, e não será
possível mapear todos os elementos necessários para o sucesso até que ele
comece. O começo o levará à perfeição desejada. Assim que uma boa ideia
ou um sonho for concebido, ponha-o em prática da melhor forma que
conseguir naquele momento e os ajustes vão naturalmente acontecendo. É
muito melhor o “ruim” em ação a ter o “perfeito” apenas dentro da sua
cabeça. E a falha é muito melhor do que a dúvida se sua ideia seria bem-
sucedida ou não.
42
Vivemos a era em que temos que escrever aquilo que acabamos de
dizer, para que a nossa palavra realmente tenha valor.

✽✽✽

Quem nunca conversou com alguém sobre um assunto importante,


geralmente em ambientes corporativos e, ao final da conversa, aquela outra
pessoa pede para que você escreva o que acabou de ser dito apenas para
formalizar?
Nem sempre essa outra pessoa pede por ela, mas porque alguém poderá
cobrá-la por isso no futuro. E é claro que há necessidade de termos palavras
documentadas para determinadas situações, até porque, por vezes, é
humanamente impossível se lembrar de tudo que foi dito e haverá a
necessidade de resgatarmos esses documentos em algum momento. Esse não
é o problema. O problema é que isso tem se tornado uma conduta comum
para as menores promessas. As palavras têm perdido seu valor. O homem
tem perdido seu valor em relação às suas verbalizações. Já presenciei várias
situações em que apenas uma simples promessa é feita, uma simples ação é
solicitada e, ainda assim, pedem para que isso seja enviado por escrito, para
que, dali em diante, haja realmente um compromisso com o que foi dito. Isso
é um reflexo do modo em que estamos nos posicionando como indivíduo. A
cultura da desconfiança. Tudo precisa ser formalizado para que possamos
acreditar em alguém ou talvez não só acreditar em si, mas apenas pelo fato
de nos isentarmos totalmente da responsabilidade sobre algo, transferindo-a
para aquela pessoa que acabou de formalizar o que foi falado por escrito.
Quando, na verdade, a palavra dita em voz alta deveria ser, como padrão, a
maior das responsabilidades do homem. E isso não acontece apenas pelo
receptor, acontece também por conta daqueles que verbalizam suas
promessas e não as cumprem. É o ciclo completo que gera a desconfiança. Às
vezes, algumas pessoas entendem que a comunicação verbal pode se tornar
uma oportunidade de convencimento – pois caso a promessa não seja
cumprida, não há evidências formais do que foi dito e, portanto, seria
possível distorcer a verdade dos fatos do passado. Não poderia haver
cobrança sobre isso. Como consequência, o sistema todo fica corrompido
com base nesta desconfiança e abrindo espaço para o esquecimento de um
dos mais belos valores de um ser – sua palavra.
Gostaria que você pensasse nas promessas feitas e naquelas que foram
honradas. É de grande valor cumprir nossas promessas feitas verbalmente. E
esse tipo de comportamento, trará um grande valor para você mesmo. Isso te
enriquece. Não pedir formalizações escritas, acreditando no que foi dito e
cumprir as promessas, pode fazer com que o ciclo da desconfiança seja
quebrado. Busque ser este homem de valor. Honroso. Sempre que der sua
palavra, seja fiel aos outros ao cumprir com ela. Isso será sempre digno de
admiração.
43
Fale muito e você não escutará ninguém; nem a si mesmo.

✽✽✽

Temos uma grande tendência em falar muito mais do que ouvir. Somos um
pouco individualistas neste aspecto. Assim como é comum a falta de
habilidade na arte de saber ouvir. Não gostamos de ouvir e, quando ouvimos,
o fazemos apenas para aguardar a hora de falar sobre nós mesmos.
Percebo em várias situações que a única preocupação que as pessoas
têm em um diálogo é em como rebater, é o hábito de ficar ouvindo e
processando apenas o que será respondido, com pouca preocupação de
entender sobre o que está sendo dito. Nós, enquanto ouvimos, temos o
costume de interpretar as palavras ouvidas conforme a nossa percepção do
assunto, assumindo as premissas que são convenientes para nós e, então, nos
mantemos preocupados com a nossa resposta. Muitos diálogos se tornam
desconectados, principalmente porque o mesmo acontece dos dois lados. O
grande problema é que as vezes estamos tão preocupados em falar ou,
enquanto falamos, estamos tão empolgados em nossa fala e focados em
“convencer o outro”, que acabamos não escutando a nós mesmos. Por vezes,
a vontade impulsiva de dizer alguma coisa faz com que a gente fale coisas
que, ao refletir, mostram incoerências. Além disso, saber ouvir promove
dentro de nós a compreensão do assunto e, principalmente, estimula o
autoconhecimento. Falar muito acontece pela nossa necessidade de expressão
e posicionamento, mas quando o fazemos sem um exercício de reflexão e
consciência, podemos gerar uma desconexão entre o que falamos e o que
realmente está dentro de nós
Vou citar aqui um exemplo de um modo de agir que eu gosto de
praticar. Quando alguém divide um problema comigo ou diz estar chateado
por algum motivo que me envolva - o processo natural que algumas pessoas
percorreriam numa situação como esta seria de se justificar imediatamente;
antes disso, tenho o costume de perguntar coisas como “porque isso te deixou
chateado?” ou “mas o que você sentiu quando isso aconteceu?”. Queira
realmente entender. São perguntas poderosas que, além de fazer um grande
bem para o outro ao criar um sentimento de acolhimento e mostrar
sensibilidade, servem para que eu mesmo possa aprender sobre mim e para
que eu me force a me ver um pouco de fora, sob outra perspectiva.
Se expressar é uma necessidade do ser humano, não espero que você
passe a falar pouco e só escute e reflita. Aqui a sugestão é que você respire
um pouco. Prestar atenção no que está sendo dito como uma forma de se
conhecer. Além disso, sugiro usar essa oportunidade para praticar o exercício
de autoconhecimento através da reflexão. Ouvir a si mesmo e ao que há
dentro de você, para falar, de fato, a sua verdade.
44
Uma mentira se torna verdade se todos acreditam nela.

✽✽✽

Não se concentre no fato de que uma mentira, por si só, sempre será uma
mentira. Isso é lógico. Quero que você expanda seu pensamento, refletindo
sobre todas as mentiras que aceitamos como verdades. E elas são muitas.
Vale citar que o nosso convívio sempre foi baseado em um sistema de
crenças coletivas. Todos nós concordamos inconscientemente com algo e à
medida que acreditamos naquilo como verdade, passamos a corroborar com
esse sistema. Um exemplo disso é o dinheiro. O dinheiro tem valor porque
acreditamos que ele tenha valor. O dinheiro não passa de um papel impresso,
mas já concordamos em seu valor e na sua representatividade. Se você tiver
uma nota de cem reais na mão e tentar usá-la em um lugar que ninguém mais
acredita em seu valor, ela passará a não significar nada para você. Pode
parecer lógico e é fácil entender o porquê a gente precisa concordar com isso.
No passado, por exemplo, se trocavam conchas por cavalos. E isso
funcionava porque todas as pessoas deram seu próprio valor a elas (o
“dinheiro” da época”). Se fizermos um paralelo com o mundo moderno,
podemos pensar nas criptomoedas, um dinheiro virtual que já serve para
determinadas trocas, mas que está fundamentalmente baseada em uma crença
de seu valor. Assim como já existem casos de lugares em que um dinheiro foi
criado paralelamente ao dinheiro válido emitido pelo governo.
Quando cito que a mentira pode se tornar verdade enquanto
acreditarmos nela, há justamente uma relação com esse conceito de crenças.
Tendemos a acreditar em algo que todos acreditam ou afirmações
frequentemente repetidas, sem questionar sua veracidade. E isso pode
acontecer em qualquer nível. Podemos citar aqui, por exemplo, o fim do
mundo em 2012 por consequência do calendário Maia. Ou um caso talvez
não muito famoso, em que um astrônomo anunciou no rádio que Plutão iria
passar por trás de Júpiter e isso reduziria a gravidade terrestre; o astrônomo
pediu aos ouvintes que pulassem no momento exato do alinhamento (em uma
data específica, às nove e quarenta e sete da manhã) para que pudessem
experimentar a sensação de flutuar. Centenas de pessoas relataram ter sentido
essa flutuação. Mas é claro, a notícia era falsa. E por que acreditaram ter
flutuado? É exatamente esse fator psicológico que nos afeta quando
acreditamos em algo.
Vale notar que temos os fatores coletivos e mais ancestrais de um
sistema de crença, eles fazem parte de uma natureza e, também, temos o
costume de aceitar a opinião da maioria como verdade. É necessário sair um
pouco de dentro desse sistema e pensar criticamente sobre as “verdades” ou
sobre as ideias que são aceitas sem nenhum questionamento. Mesmo que um
anúncio no rádio diga que você deva pular, você pode questionar a
consequência que isso teria na Terra. E pode ter certeza de que a ausência da
gravidade não causaria apenas a sensação de flutuar.
45
Se coloque como vítima e os “acidentes” continuarão eternamente
cruzando o seu caminho.

✽✽✽

Pare por alguns segundos neste exato momento. Pense como você se
comporta ao cometer um erro, diante das falhas. Seja verdadeiro, esse
exercício é importante. Provoque algumas lembranças aí dentro. Nessas
lembranças, você colocou a responsabilidade nas circunstâncias externas ou
foi um daqueles que apenas disse desculpe, foi uma falha minha, vou
melhorar, vou resolver?
Eu acredito que essa seja uma das mais poderosas formas de
enxergarmos os acontecimentos da vida - através da auto responsabilidade. A
auto responsabilidade é umas formas mais eficazes de se viver em paz, se
fortalecer e progredir. Quando responsabilizamos aos outros e nos colocamos
como vítimas, perdemos uma grande oportunidade de aprendizado e ainda
não buscamos entender sobre como agir na próxima vez em que algo similar
acontecer. Passamos a acreditar, cada vez mais, que a nossa vida está na mão
de algum outro fator, que não nós mesmos. E, dentre duas opções: acreditar
que a nossa vida está sujeita a circunstâncias do destino e sob controle dos
fatores externos ou que a vida está em nossas mãos e que devemos nos
esforçar ao máximo para que estejamos no controle de qualquer situação –
qual você acha que pode produzir melhores resultados? Melhores
aprendizados? Mais amadurecimento? Experiência? Progresso? Com certeza
é a segunda opção. Se colocar como vítima não produz nenhum efeito
positivo, pelo contrário, só alimenta uma frustração ao acreditar que não
temos “sorte” e que somos grandes sofredores que a vida escolheu para
judiar.
Eu gostaria que a partir desse momento, você mudasse o modo de
pensar. Nem todas as situações estão sob seu controle, mas sempre valerá a
pena pensar sobre o que você pode fazer para influenciá-las e não as
vivenciar da mesma forma na próxima vez. Não acredite haver uma
conspiração contra você, isso é, apenas, você mesmo se limitando. Mude sua
perspectiva. Seja o dono do seu destino. Pode não dar certo agora, mas focar
em si mesmo como produtor dos resultados desejados, fará com que dê certo
em breve e, se colocar como vítima, acabará com todas as chances que
poderiam haver de sucesso.
46
Ao haver medo, faça por aqueles que acreditam em você, sem
hesitar. Os outros, você poderá visitar mais tarde.

✽✽✽

Nós geralmente temos muito medo de agir da forma que realmente queremos
e da forma que nos leva a alcançar os nossos sonhos. Por vários motivos:
alguma dificuldade mais “tangível”, medo do desconhecido, falta de dinheiro
ou pelo medo do julgamento. E eu confesso: já passei muito por isso.
Essa frase é oriunda essencialmente da minha própria experiência. Eu
sempre guardei dentro de mim muitas vontades (e claro, ainda guardo).
Sempre me senti capaz de contribuir com o mundo de uma forma diferente da
que eu estava fazendo e na obrigação de encontrar aquilo que eu realmente
amava fazer – sem saber como me encontrar. Para encurtar a história, toda
vez que eu tinha uma ideia, ficava com medo do que as pessoas poderiam
achar dela (de maneira negativa), o que minha família e amigos poderiam
dizer, e isso me desencorajava. Eu desistia naquele momento, porém as
vontades não saíam de mim totalmente. E então eu continuava pensando o
que fazer e como fazer. Depois de um certo tempo tentando dar o primeiro
passo de alguma forma, comecei essa “vida de escritor” através da minha
página no Instagram e o fiz de forma completamente anônima, para que
ninguém me descobrisse (eu sabia que isso poderia me preservar daquele
medo de julgamento). Isso, aos poucos, me permitiu ver a reação do público
e, assim, pude me soltar para começar a me tornar essa pessoa que desejava.
Eu não queria que ninguém soubesse. Essa prisão ao que os outros pensam é
extremamente limitadora e agoniante. Após algum tempo, quando eu já me
sentia um pouco mais seguro (e já não estava totalmente dentro do
anonimato) eu recebi um enorme empurrão para ser... eu mesmo. Eu fui
descoberto pela Marina (a quem eu dedico este livro). Ela me descobriu,
disse ter amado tudo que eu estava fazendo e me incentivou incansavelmente.
Ela parecia acreditar mais em mim do que eu mesmo; e isso me abriu um
caminho enorme. Adquiri a confiança que precisava muito mais rápido do
que seria, se não fosse por ela. Aos poucos, comecei a contar aos amigos e
familiares e, para ser sincero, apesar de haver alguma resistência, ela foi
muito menor do que eu esperava lá no início. Eu havia criado um cenário
extremo de rejeição, quando, na verdade, nada daquilo aconteceu. Ao longo
dessa jornada, quando tive medo ou estive inseguro, comecei a me concentrar
em todas aquelas pessoas que me incentivavam, as que me seguiam e
gostavam de mim do jeito que eu era, sem me preocupar muito com aqueles
mais “descrentes” (se é que eles realmente existiam). Ao escrever um texto
ou uma frase que eu temia a rejeição, eu procurava me apegar naqueles que
me estimulavam e às minhas vontades. E eu descobri que nós realmente
temos essa capacidade de nos concentrar em fatores que podem nos
incentivar (assim como deixar de pensar em fatores limitantes). Nós
conseguimos manipular a nossa própria cabeça para que ela não produza as
sensações que nos limitam.
Para concluir, gostaria de colocar alguns pontos aqui que espero que
você guarde para sempre. Primeiro, as pessoas vão te julgar muito menos do
que você imagina, não se limite a isso. Dois, se concentre naquilo que te faz
bem e não naquilo que você acredita que possa te fazer mal. Três, as pessoas,
muitas vezes, julgam por temerem o seu sucesso (às vezes até
inconscientemente). Elas temem que você alcance resultados que elas
gostariam de atingir, mas não têm coragem de fazer. Tendem a resistir a sua
ideia, diminuí-la, porque, intrinsicamente, sentem que já poderiam ter
realizado antes, algo muito melhor que você, se fosse realmente uma boa
ideia. E, por fim, à medida que você adquire sucesso (vamos chamar assim),
será possível perceber o quanto as pessoas passam a reagir melhor a sua
ideia; de repente, todo mundo passa a admirá-lo e agir como se nunca
houvessem duvidado (para aquelas poucas pessoas que duvidaram); essa é
uma reação natural do ser humano, então não se apegue às resistências de
primeiro momento.
Faça um compromisso comigo e com você mesmo neste momento.
Seja fiel ao que você acredita e centralize seu foco em realizá-lo,
independentemente do mundo externo. Esteja preparado para descartar
comentários que não o servem e se apegue em quem te apoia e em sua
própria verdade. Não é fácil, mas você tem a chance de conseguir, igualmente
a todas as outras pessoas. Dê caminho para você mesmo. Faça por quem
acredita em você e os outros vão, naturalmente, acreditar quando você tiver
feito - até porque não haverá outra opção além desta.
47
Mantenha-se no presente para que este momento não seja perdido
no futuro.

✽✽✽

Quantas vezes em sua vida você já vivenciou um momento e, depois que ele
passou, houve a sensação de que deveria ter aproveitado melhor? Ou então,
durante estes momentos, se pegou pensando em centenas de outras coisas que
não relacionadas ao presente? Eu já passei por isso algumas vezes e, se eu
permitir, isso continuará acontecendo.
Manter-se no presente é a grande chave para uma vida equilibrada. Não
significa ignorar totalmente o passado e nem ser despreocupado em relação
ao futuro. É importante entender que o ser humano vive exclusivamente em
um único tempo, o presente e, mesmo vivendo continuamente no presente,
nosso cérebro projeta a nossa realidade num ponto futuro de forma
persistente. Enquanto escrevo este livro, minha cabeça por vezes navega até o
dia de seu lançamento. E tudo bem. É importante se entusiasmar com o que
está por vir ou pelos possíveis resultados gerados, mas este livro não estará
bem feito se eu não estiver presente durante a escrita e concentrado no que
cada mensagem deve transmitir ao leitor. Se eu escrever me concentrando no
amanhã, certamente o contexto ficará sem sentido. Neste exemplo, entretanto,
é mais fácil medir o nível de atenção, basta revisar o texto para identificar em
quais momentos eu não estive presente e eu posso simplesmente corrigi-los.
Mas na vida, em situações “normais”, o presente passará e não poderemos
revisar e consertá-lo. E, por isso, é tão importante estarmos conectados e
viver intensamente cada momento, porque então há volta. O momento
presente é o que permite termos as melhores experiências - enquanto
estivermos de corpo e alma nele. Seja numa conversa com um amigo,
namorada, seja em uma festa, em uma reunião de trabalho, o que for. Essa
presença completa impacta diretamente àqueles a nossa volta e enraíza em
nós todas as emoções sentidas e experiências vividas.
Busque praticar essa consciência de estar conectado no agora. Se
permita sentir e desfrutar de tudo que está acontecendo. Evite as distrações,
evite que sua cabeça “voe” para outro lugar que não seja o que você está.
Permaneça ali, criando um ótimo aprendizado e plantando uma linda
memória para a sua recordação no futuro.
48
Não importa a sua capacidade de pensar (...) O que todos querem é
apenas um diploma (...) acreditando haver uma medida igual para
todos.

✽✽✽

Frase completa para dar início a reflexão: Não importa a sua capacidade de
pensar. Os problemas que você já resolveu. Sua criatividade. Seu senso. Sua
curiosidade. O que todos querem é apenas um diploma que certifique o seu
ordinarismo, para que permaneçam em conforto, acreditando haver uma
medida igual para todos.
Em algum ponto deste livro, já refletimos muito sobre educação, que é
totalmente aplicável aqui como um fator de grande influência. Mas dentro
deste âmbito educação, vamos nos concentrar no que muitas pessoas têm
passado a acreditar como medida de avaliação. Principalmente no mundo
corporativo (mas não só nele), as pessoas criaram uma referência de
avaliação fundamentalmente baseada na formação e, também, na imagem
com a qual aquela pessoa está associada. O sistema de educação tem se
provado extremamente vazio e incapaz de produzir seres humanos realmente
capazes intelectualmente (pelo menos em sua grande maioria). Por
consequência, uma pessoa que se formou dentro dos padrões de educação
mencionados, sempre procura a mesma referência para dar valor a alguém.
Ela já faz parte de um sistema que se sustenta dessa forma e, portanto,
perguntar qual é a capacidade que alguém tem de pensar no outro, está
totalmente fora deste contexto – e talvez ela nem saiba o que isso significa
precisamente. E, assim, poucas pessoas irão valorizar capacidades como a
leitura de contextos, percepção, fluxo criativo ao solucionar problemas etc.
Temos que tomar cuidado com o mundo alienado em que vivemos. Um
mundo onde a percepção que temos de alguém pode ser mais forte do que a
sua capacidade real de contribuição. Precisamos sempre saber nos comunicar
e mostrar o que temos a oferecer - isso será sempre assim -, mas não
podemos cair na armadilha de valorizar qualidades que não fazem sentido
num contexto mais amplo da convivência. De nada adiantaria ter me formado
em Harvard se eu não fosse capaz de internalizar o conteúdo que me foi
oferecido e conectar com as demais áreas da vida. Talvez uma pessoa que
entenda o mundo, o ser humano, demonstre consciência em tarefas
cotidianas, que seja altruísta, devesse ser mais valorizada que a média. E
essas qualidades não podem ser comprovadas apenas por um diploma.
49
A prática da compaixão abre portas para a nossa própria harmonia.

✽✽✽

Antes de mais nada, é preciso definir o que é a compaixão. Compaixão é


uma palavra originada do latim que significa “sentimento comum” ou
“comunidade de sentimentos”. Diferentemente da empatia, compaixão está
mais próxima a se colocar em uma posição de sentir pelo outro e prezar pelo
seu alívio - não está conectado a sentimentos de dó ou pena, apenas em
compartilhar do sentimento. Enquanto a empatia está mais para compreender
o sentimento do próximo, dentro da perspectiva de mundo daquela pessoa.
A compaixão pode estar ligada à nossa personalidade, podendo haver
pessoas que já nasçam com uma “pré-disposição” a praticar naturalmente a
compaixão, mas, principalmente, é um elemento que pode ser exercitado
dentro de nós. E a grande beleza disso é que ela permite que a gente se abra a
um novo estado pessoal. Estudos já sugeriram que há uma relação entre o
nível de compaixão com o nível de felicidade das pessoas. Ao praticarmos a
compaixão, somos capazes de exercitar características cognitivas
relacionadas a capacidade de perceber o sofrimento do outro e, portanto, ter
uma compreensão adicional em sentimentos como um todo e sobre nós
mesmos. A prática alimenta em nós uma das necessidades básicas do ser
humano, a de conexão em níveis sociais. Também existe um elemento
psicológico, simplesmente promovendo uma sensação de bem-estar. E, por
fim, um elemento emocional, num sentido de realização pessoal ao cuidar do
outro, muito conectado aos outros fatores relacionados anteriormente. E é
essa a abertura de portas para a nossa própria harmonia.
Tenha com você que exercer a compaixão abre portas para o seu
próprio bem. A compaixão não só ajuda o outro, conforta o outro, mas
também cria uma enorme satisfação pessoal e alimenta uma das principais
necessidades do ser humano - a conexão profunda e em níveis emocionais
com o próximo. Você pode e deve começar agora a ouvir, sentir e aliviar a
dor do outro, assim como, cultivar a sua própria compaixão. Isso não só fará
bem para com os outros, como, também, trará um benefício próprio.
50
A crítica apenas pela crítica diz mais sobre o avaliador do que
sobre o avaliado.

✽✽✽

Pense primeiramente sobre a crítica. Não necessariamente em um aspecto


negativo. Vamos apenas nos concentrar na avaliação em si, no feedback. Nós
temos grandes dificuldades em recebê-lo. E a dificuldade se dá em dois
cenários: em nossa resistência natural em receber um feedback (nos colocar
em uma posição defensiva) e, também, em nossa dificuldade de promovê-lo
de maneira adequada, construtiva. E, ao darmos um feedback a alguém sem a
intenção real de contribuição, acabamos falando muito sobre nós mesmos.
Como ponto de partida, vamos nos concentrar em como recebemos e
promovemos a crítica e, em seguida, como isso pode estar ligado a nós
mesmos. Primeiro, receber uma crítica é muito difícil. Nós nos recusamos a
aceitar aquilo que alguém está dizendo e só aguardamos a oportunidade para
justificar para provar que ela está totalmente enganada. Isso é normal. Esse é
um extinto natural que temos de preservação. Quando alguém está inferindo
algo contra nós, o cérebro imediatamente manda um sinal de defesa, tentando
evitar que aquilo nos atinja de alguma forma. Uma forma de controlarmos
essa natureza pode se dar de uma forma muito simples: não responder. Sim, é
isso mesmo: o feedback não precisa ser respondido. Devemos ouvi-lo
atentamente, refletir, extrair as coisas boas e “jogar fora” aquele restante que
entendemos não ser aplicável. Quando o seu chefe, por exemplo, te der um
feedback sobre algum erro cometido, mesmo que não seja da melhor forma
(falaremos disso na sequência), apenas agradeça e se mostre interessado em
absorver a mensagem e procurar melhorar. É apenas isso, ele não precisa ser
comentado ou respondido. Você vai se sentir muito melhor depois por não ter
retrucado de maneira impulsiva. Agora, em relação ao modo que fornecemos
o feedback: temos a tendência imediata de apontar os erros cometidos. Mas
há um problema nisso: focar rapidamente nos pontos negativos, ainda que
eles realmente precisem ser corrigidos, provoca exatamente a reação que
mencionamos anteriormente. O outro se sentirá atacado e, como resposta,
tentará se defender. Portanto, ao realizar uma crítica, preste muita atenção em
exaltar os pontos positivos primeiro. Não de maneira forçada ou apenas como
um protocolo. Realmente explore o que você gostou e, então, introduza os
possíveis pontos de melhoria. Não é apenas um “gostei, mas”. Não. É uma
tratativa como um todo. Gostei muito da maneira como você colocou isso ou
aquilo. Percebi que você praticou isso e aquilo. Imagino que a gente deva
trabalhar mais nisso, investir neste ponto. Eu entendi a ideia em relação a
isso, talvez a gente deva acrescentar algo neste ponto. Muito bom, parabéns!
Um exemplo. Você pode explorar os pontos de falha de uma maneira
agradável. É um exercício que irá estimular até a você mesmo e melhorará
muito a sua posição como um líder, colega de trabalho, namorado ou
qualquer que seja o seu papel.
Por fim, preciso apenas concluir que tudo que a gente fala dos outros,
pode apresentar muito de quem a gente é. Vou citar um exemplo para
explicar e eu tenho certeza de que você vai captar a mensagem: pense num
colega de trabalho que adora reclamar dos outros. Mas um daqueles colegas
que mal te conhece. Ele tem todas as críticas possíveis em relação ao seu
chefe ou em relação a empresa, adora que você o escute reclamando e
mostrar todo o seu conhecimento sobre o que está errado. O que você pensa
sobre ele imediatamente? É fácil prever que o problema não está na empresa
ou no chefe dessa pessoa; possivelmente aquela pessoa falará mal de você se
houver a oportunidade; é uma pessoa negativa e que não há porque se
relacionar com ela; ela reclama muito de sua vida enquanto não faz nenhum
esforço para mudá-la e que adora terceirizar a culpa pela posição que se
encontra. Ou seja, uma pessoa com baixíssimas possibilidades de prosperar,
de contribuir com os outros e com grandes chances de contaminar o ambiente
em que está.
Para finalizar esta reflexão, quero lembrá-lo algumas coisas. Primeiro,
apenas escute um feedback, agradeça, não se permita reagir conforme o seu
primeiro impulso, respire. Segundo, saiba apreciar o que há de bom em
alguém antes de falar de melhorias. Explore as ideias e busque soluções
conjuntas para que essas melhorias ocorram. E, por fim, a comunicação feita
sobre os outros pode estar transmitindo muito sobre você e, principalmente,
causando uma percepção negativa. Esteja atento a sua forma de se comunicar
- como o exemplo citado anteriormente de quem muito reclama.
Bônus
Você é capaz de entender o mundo através de você.

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Talvez a gente não precise ir longe demais em busca do conhecimento sobre


as profundezas do ser humano. O entendimento sobre o mundo pode estar
mais próximo do que parece. O mundo pode ser entendido através e com nós
mesmos.
Essa reflexão é importante porque, talvez, ela envolva todas as outras
que tivemos até aqui e transmita uma das mensagens centrais do livro. A
mensagem de que nós, como indivíduos, estamos no centro de todas as
questões e devemos nos colocar como tal na forma de aprendizado, evolução,
vivência e convivência com o mundo.
Nós, como seres dotados de consciência e racionalidade, somos
capazes de interpretar todas as informações e experiências que nos ocorrem
de uma maneira única. Somos capazes de colocar nosso consciente em um
nível de entendimento profundo sobre os mais diversos assuntos. Ao
olharmos para dentro, exercitando essa capacidade única que temos, somos
capazes de ler e projetar o nosso entendimento sobre grandes questões a
partir do nosso próprio “ser” - como a fonte principal. Podemos entrar num
fluxo autossustentável de entendimento do mundo em que, quando vivemos
alguma experiência, podemos aprender, registrar informações novas, criar
perspectivas, aprimorar nossa capacidade de percepção, aguçamos sentidos,
vemos os mesmos contextos de maneira diferente e isso reflete na forma que
viveremos as próximas experiências. E esse fluxo de aprendizado e
conhecimento se torna eterno.
Durante toda essa leitura, você esteve no centro de todas as reflexões.
Você chegou ao final e espero que as cinquenta frases tenham feito você
pensar bastante sobre várias questões do nosso ser e a maneira que vivemos.
Não tenho dúvida que você se tornará uma pessoa melhor depois daqui. Não
entenda isso como “prepotência”, eu sozinho não conseguiria o tornar melhor
neste ponto. Eu tenho certeza da sua melhora pelo fato de ter procurado a
leitura, pela sua capacidade de se abrir à novas reflexões e por ter se exposto
a este DESCONFORTO.
50 Frases de Desconforto - Direitos Autorais © 2019 por Thiago Brazão Scursoni. Todos os
direitos reservados.
Capa desenvolvida por Thiago Brazão Scursoni. Todas as informações contidas no livro são de
propriedade intelectual.

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