Frases de Desconforto.
Thiago Scursoni
Sobre o Autor
Thiago Brazão Scursoni, formado em Marketing, pós-graduado em
Empreendedorismo e Gestão de Negócios, cursado em marketing digital,
psicologia, neurociência para o cotidiano, técnicas de negociação, vendas e
comunicação teatral. Os principais hobbies são: ler (livros sobre diversos
assuntos), estudar (principalmente psicologia, filosofia, neurociência,
astronomia e assuntos relacionados) e praticar esportes. Muito interessado em
entender o ser humano, sua evolução e seu comportamento.
Acredita no poder da mente para uma vida saudável.
Criador da página do Instagram @pensadorvirtual
Ficarei feliz em receber mensagens e nos conectar:
E-mail: thiago.scursoni@gmail.com
LinkedIn: Thiago Scursoni
Instagram @thiagoscursoni
"A alegria que se tem em pensar e aprender faz-nos pensar e
aprender ainda mais."
- Aristóteles
Dedico este livro especialmente a mulher que eu amo, Marina
Macruz, que me apoiou de maneira extraordinária durante todo o
processo, que me inspira todos os dias e estimula tudo que há de melhor
em mim.
Introdução
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Quantas pessoas você ajudou hoje? Essa semana? Esse mês? Esse ano? Na
sua vida? Não conte. Certifique-se apenas de que ajudar o próximo faça parte
de você naturalmente. E a boa notícia é que ajudar o outro não significa
apenas contribuir com alguém para que o seu objetivo seja alcançado, mas
significa, também, possibilitar um tremendo desenvolvimento próprio.
Ao longo da vida, fui capaz de perceber que os momentos em que tive
mais prazer ou me senti mais realizado, foram naqueles em que pude obter
uma conexão em nível pessoal com alguém e sentir que realmente houve
alguma contribuição com aquela pessoa, permitindo que ela subisse um
degrau a mais em direção ao seu objetivo. Durante esses momentos, também
pude perceber que essa é uma das maneiras mais profundas de
desenvolvimento próprio. E isso não significa que passamos a obter alguma
habilidade específica, mas realmente possibilita nos desenvolvermos como
seres humanos, é algo mais amplo. Não é sobre a experiência de gerar
benefício a alguém unicamente, mas sim a experiência de poder perceber
tudo que passa dentro de nós nesses momentos e ter esse sentimento de
realização própria. Além de ser uma questão natural e até moral como algo
obtido dentro de nós desde o início dos tempos, somos capazes de gerar um
ambiente muito mais favorável como um todo, em que esse sentido de ajuda
possa ser transmitido de um para o outro. Isso é muito bem retratado por uma
frase de Bob Marley: “A grandeza de um homem não está em quanta riqueza
ele adquire, mas sim em sua integridade e habilidade de afetar àqueles à sua
volta positivamente.”. De nada adianta criar uma vida cheia de sucesso e
riqueza apenas para você. O que lhe trará o senso de realização na vida, é
realmente o quanto você pôde contribuir com os outros.
Reflita sobre o modo que você contribui com o outros, perceba o que
ocorre dentro de si quando isso acontece. O que acontece no seu mundo
interior. Talvez essa seja uma das coisas que mais dê significado para as
nossas vidas: o quanto a gente pode contribuir com as pessoas à nossa volta.
Existe uma relação entre contribuição para a realização dos outros =
realização pessoal.
3
Nós lutamos pela liberdade, mas nos aprisionamos na primeira
oportunidade que temos.
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Não consigo nem contar quantas vezes eu desejei fazer algo benéfico para
mim e, por mais que eu tentasse, parecia haver alguma coisa mais forte
dentro de mim, que não me permitia realizar essa determinada ação – e havia
sempre uma desculpa ou uma justificativa para que eu não o fizesse. E eu
tenho certeza de que você já passou e, provavelmente, está passando por
algumas lutas como essa neste momento.
Isso acontece principalmente pelas questões do hábito e pela
configuração de nosso cérebro para preservação de energia. Todas as
conexões existentes em nossa rede neural correspondem a tudo que fazemos a
todo momento, sendo eles novos estímulos (e novas conexões) ou não.
Quanto mais repetimos determinada ação, mais o nosso cérebro reforça suas
conexões neurológicas para ela, fazendo com que menos energia seja gasta
durante o processo a cada repetição e, a longo prazo, mais essa atividade se
tornará automática – quanto mais automática, menos consciente. Vou dar um
exemplo pessoal muito simples, mas que ilustra muito bem (não me julgue!):
eu tenho o terrível hábito de mexer compulsivamente em meu bigode. (Sim, é
isso mesmo, desculpe, eu não resisto). Sabendo da lógica da formação de um
hábito e como a nossa cabeça funciona, já identifiquei muito bem o porquê eu
o faço: mexer no bigode é bom, o ato de mexer nos pelos para lá e para cá
causa uma sensação prazerosa nos dedos e na região do bigode. Além disso,
eu acabo entrando num estado de transe e me sinto um pouco relaxado,
desligado de tudo ao meu redor. Veja, eu já dei motivos suficientes para o
meu cérebro amar que eu mexa no bigode, eu criei e reforcei conexões
referentes à essas recompensas e que são difíceis de quebrar. Quando
consciente, eu faço um extremo esforço para não mexer no bigode, mas na
primeira distração, eu começo a fazer sem perceber (e como resolver? Cortar
frequentemente meu bigode ao máximo para poder evitar que isso continue
acontecendo, fazer o que...).
Embora este seja um exemplo muito banal (e um tanto quanto
constrangedor), o mesmo acontece com várias outras ocasiões na nossa vida.
Nós precisamos fazer um esforço enorme para perceber os gatilhos e as
recompensas que reforçam nossos hábitos, principalmente os ruins (é claro)
e, então, lutar para quebrá-los e transformá-los. Na mesma medida em que
essa lógica pode ser usada para criar um hábito desejado.
O nosso cérebro irá lutar contra novas atividades, porque elas requerem
novas conexões e um alto gasto de energia e, também, ele vai sempre buscar
manter um hábito já existente, porque as conexões fluem facilmente e já há
uma recompensa associada a este processo. Use este raciocínio para eliminar
os hábitos que você não quer ter e para aqueles que quer adquirir. Não é fácil,
mas a consciência dos gatilhos e das recompensas pode ser o primeiro passo.
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Cometemos suicídio ao perder a vontade de aprender.
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O que te faz feliz? Dinheiro? Joias? Carros? Um bom happy hour? É óbvio
que estas são coisas que nos fazem feliz, certo? Sim e não. Na verdade, elas
são todas um meio para uma sensação de felicidade. Sim, sensação de
felicidade. Não o que eu chamo de felicidade em si. Esses fatores causam a
sensação de felicidade, mas essa sensação de felicidade não é perpetuada
dentro de nós. Elas elevam nosso estado para um estado mais alegre, mas não
provocam a criação de um estado feliz do ser.
Não critico aqui quem se satisfaz com os primeiros itens citados, o de
natureza mais material, vamos por assim dizer. Eu me satisfaço com parte
delas também. É normal. Dinheiro, conforto, viagens, quaisquer que sejam os
elementos que trazem sensações de felicidade. É muito bom. Mas eles não
são a felicidade em si. Eles não florescem a felicidade dentro de nós. São, na
verdade, apenas veículos da sensação da felicidade imediata; porque todos
estes elementos estão fora de nós. E, enquanto acreditarmos que a felicidade
pode se dar por algo fora de nós, permaneceremos o resto de nossas vidas
procurando, procurando, procurando, e não encontrando. A felicidade é mais
que um momento específico de prazer, ela tem a capacidade de se perpetuar e
passar a fazer parte de nós, de acordo com o modo que a gente consegue
internalizar esses momentos, transportando a experiência da sensação de
felicidade para realmente nos tornarmos seres felizes. Estar infeliz é um
estado, mas não significa ser infeliz. Perceba a diferença. Ser uma pessoa
feliz é diferente de estar feliz. Aqueles fatores citados anteriormente, são
elementos que elevam o nosso estado de felicidade. Passamos a presenciar
um estado feliz, mas isso não nos faz feliz efetivamente e a longo prazo. Se
um happy hour nos faz feliz, imagine como seria estar em um happy hour por
vinte e quatro horas - seria insuportável e ficaríamos completamente
infelizes. Acreditamos ter encontrado a felicidade no primeiro momento, mas
isso logo passa, a sensação de felicidade não é enraizada dentro de nós pelo
happy hour em si. Ou então, por exemplo, receber um aumento de salário
com certeza provoca a felicidade por algumas semanas, meses, mas pode ter
certeza que você não será uma pessoa feliz por consequência deste aumento;
ainda que possa te proporcionar outras coisas na sua vida, ganhar mais hoje
fará com que você queira ganhar mais amanhã e a felicidade, portanto, não
está associada ao aumento.
É importante perceber que a felicidade convive comigo como parte do
meu ser e que permanece a longo prazo. A felicidade está em realizações que
eu continuo repetindo dentro de mim. Escrever, por exemplo, para mim, é
uma grande felicidade. Não é material e nem externo. É meu. Eu escrevo o
que eu sinto, o que eu penso, eu sou capaz de expressar o meu “eu”. Eu me
realizo. Escrever esse livro está comigo para sempre e é isso que me traz
felicidade. Isso só poderia ter sido encontrado dentro de mim. Mesmo quando
não estou escrevendo, me sinto feliz por ter a possibilidade de escrever
quando desejar. E sim, eu poderia (e vou) passar o resto da vida escrevendo.
Claro que o material ou o que há de externo está aqui para melhorar
nossos padrões, confortos etc., ele é muito importante também. Mas é
essencial perceber que eles são apenas meios da sensação da felicidade e que
a real felicidade mora dentro de você. Crie essa diferença em ser feliz e de
estar feliz. Comprar uma mansão o deixa feliz, mas talvez o que te faça mais
feliz está em tudo que você lutou para conquistá-la, não é a casa propriamente
dita.
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Dedicamos mais de quinze anos para formar seres ordinários. Pelos
meus cálculos, um ser extraordinário demora muito menos.
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Impulso. Quantas vezes você já não tomou uma decisão no calor da emoção
e, ao refletir após o estresse do momento, percebeu que aquela atitude ou
decisão poderia ter sido feita de maneira muito mais adequada?
Nós temos uma natureza impulsiva e isso será impossível de controlar.
As primeiras reações do ser humano ocorrem em níveis irracionais. Em
situações mais difíceis, nosso corpo tende a reagir para nos manter vivos (um
extinto de sobrevivência) e, portanto, essa reação é carregada por emoções:
medo, raiva, tristeza etc. A grande questão é que, na maioria das vezes em
que agimos por impulso, não há a necessidade de reagir imediatamente. A
reação imediata é uma defesa do nosso corpo. Somos resistentes, duros,
podemos magoar alguém ou tomar uma decisão equivocada. É a nossa
natureza. Entretanto, há uma maneira de não passar por isso. Uma técnica
muito simples que eu adotei e que eu me esforço para cumpri-la é aguardar a
minha noite de sono antes de determinar o que será feito. Talvez não precise
ser uma noite de sono especificamente, é importante conseguir encontrar um
espaço de tempo e uma forma de baixar o estresse e a carga emocional. A
noite de sono, para mim, é a certeza de que eu poderei pensar racionalmente
sobre o assunto quando acordar. O sono limpa todo aquele calor emocional
do momento e “zera” o meu estado, abrindo caminho para a racionalidade.
Nem sempre, é claro, você ficará isento de emoções, as lembranças podem
trazê-las de volta, mas eu garanto que, ainda assim, será muito mais fácil
decidir e reagir ao evento vivenciado.
Não tente evitar que o impulso emocional ocorra, isso não será
possível. Mas, ao senti-lo, não reaja externamente, se concentre em preservar
a saúde daquele momento. Respire. Tenha o seu tempo e, se possível, tire
uma noite de sono antes de decidir o que deve ser feito. Se preocupe em
clarear as ideias e garantir que as emoções já cessaram. Isso pode ser
fundamental para uma vida de equilíbrio.
20
O bom ouvinte é aquele que esquece de si por um instante.
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Você ouve para responder ou para entender? Você já foi capaz de se colocar
em uma posição de plena escuta, empatia, sem pensar o que faria ou em
situações similares que já tenha passado e que está louco para contar,
aguardando ansiosamente a sua vez de falar?
Escutar é um exercício extremamente difícil. Ouvir em um estado de
plena escuta, de tentar entender completamente o outro, sem colocar as
nossas crenças e experiências na frente, é muito difícil. Mas é necessário. O
exercício da escuta deveria ser praticado desde cedo, talvez até ensinado
durante a formação de um indivíduo. Quando ouvimos, precisamos estar
conscientes de que precisamos estar ali exclusivamente para isso. É
necessário sairmos um pouco de cena e entrar no mundo de quem fala.
Enquanto estamos ouvindo, precisamos praticar o exercício da empatia e ser
um facilitador da comunicação de nosso locutor. O ouvinte tem a capacidade
de abrir portas e novas possibilidades para quem discursa. Praticar uma
investigação, não só para realmente entender o que o outro diz, mas para
ajudá-lo em sua própria descoberta. Geralmente, quem fala, tenta a todo
momento encontrar a melhor forma de se expressar e ser entendido e, talvez,
ele nem saiba ao certo qual é o seu objetivo final. Pode ser apenas pela
necessidade de se expressar – ainda que não querendo ouvir nada em troca –
ou então há uma necessidade de esclarecimento próprio. E nós, como bons
ouvintes, precisamos nos colocar nessa posição – de esclarecedor. Um bom
ouvinte esquece de si e permite que aquele que fala encontre por si só os
caminhos desejados. Não que não caibam opiniões ou sugestões para quem
ouve, mas, geralmente, a escuta ativa facilita a descoberta do próximo.
Apenas preste atenção enquanto alguém quiser falar. Queira ouvir. Se
coloque de fora um pouco, esqueça de você um pouco. Deixe o diálogo fluir
de maneira que cada um tenha a sua vez de falar e de ouvir
(verdadeiramente). Embora pareça óbvio, não é tão simples assim. Pratique a
empatia, busque o entendimento dentro da perspectiva do outro e não de fazer
presunções dentro de um contexto pessoal. Permita abrir novos caminhos
para quem fala, simplesmente através da escuta e de perguntas que
provoquem novas possibilidades. E não se preocupe, você terá a
oportunidade de falar e ser ouvido também.
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Sabedoria é dizer “não sei”. Estupidez é continuar não sabendo.
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Tão simples, tão obvio e, ainda assim, muitas pessoas reclamam da falta de
tempo, quando não percebem que a falta de tempo é apenas causada por elas
mesmas. O tempo é igual para todos. Por que, então, uns realizam mais do
que outros? Por que reclamar da escassez de um recurso imutável? A
quantidade de tempo não muda. O que muda, é apenas o que fazemos com
ele.
Parta do princípio que não adianta reclamar da falta de tempo.
Reclamar da falta de tempo é uma armadilha mental que rapidamente criamos
para justificar a não realização de alguma tarefa. E, na verdade, a única
justificativa para esta não realização, é nós mesmos. Sim, ainda que sejamos
as pessoas mais ocupada do mundo, insisto, a falta de tempo está dentro de
nós, não é por culpa da “entidade” tempo. Por que uns realizam mais do que
os outros, então? Qual é o segredo para que o tempo não se torne um
problema? A resposta se resume em uma única palavra: prioridade. É
essencial que sejamos capazes de definir o que é importante e como isso irá
se enquadrar em nossa rotina diária. Quando estamos desalinhados ou não
consciente daquilo que é prioritário para nós, é fácil nos engajarmos em ações
que não nos interessam e não provocam resultados positivos, fazendo com
que, no final do dia, tenhamos a sensação de escassez de tempo – justamente
por não termos feito aquilo que realmente era importante. Encontre as suas
prioridades e não permita que seu foco se desvie delas; e, se houver alguma
distração, que ela seja muito bem calculada para que não falte tempo para
aquilo que foi definido como sua prioridade.
Tente fazer o exercício de refletir e listar num papel quais são as suas
prioridades. Elas podem ser: se exercitar, ler livros, ler as notícias, estar com
seus amigos semanalmente, ter algumas horas garantidas para a sua família
todos os dias, qualquer coisa. Não há certo, nem errado. Essa é a sua lista e
ela precisa conter tudo que você não poderá abrir mão. Quando tiver essa
lista pronta, ficará fácil dizer não a todas aquelas outras distrações que
aparecem de repente, encerrar uma reunião no horário, reorganizar sua
agenda de trabalho para que você cumpra outras atividades pessoais etc.
Nunca se esqueça: você é o grande dono da sua vida. Não ter tempo é
puramente uma responsabilidade sua e não há nenhum outro fator que faça
com que seu tempo seja escasso. Ter muitas responsabilidades dificulta, sim,
a administração do tempo, isso é claro. Acidentes acontecem, sem dúvidas.
Mas em geral, uma vez que você esteja alinhado com os seus valores,
administrar o tempo se tornará muito mais fácil, assim como tirar da sua
frente tudo aquilo que não interessa de verdade.
23
Às vezes somos tão convincentes, que somos capazes de enganar a
nós mesmos.
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Todos nós em algum momento já pensamos em como seria uma vida sem
nenhum problema ou em como seria aquele momento específico, sem
determinada dificuldade que nos ocorreu durante ele. É claro que não
precisamos ir atrás dos problemas, mas, também, acreditar que não ter
nenhum deles ou se colocar numa posição de extrema frustração a cada um
que aparece, só irá tornar a situação pior e, talvez, terá criado por si só o pior
deles.
(Não me refiro aqui a problemáticas extremas ou específicas de cada
pessoa e sei que há situações de grande sofrimento e, em hipótese alguma, eu
desejaria viver com eles. Me refiro a um âmbito geral - questões do dia a dia
e como lidamos com elas.)
É comum encontrar pessoas que se abalam com qualquer situação de
desconforto em suas vidas. Pessoas que têm muita dificuldade em aceitar que
estejam passando por momentos difíceis e, também, que acreditam estar
sendo perseguidas. Por um lado, eu entendo; quem nunca se perguntou por
que isso está acontecendo comigo? Justo agora? Parece que acontece tudo
de uma vez... A aflição de lidar com a dificuldade é normal. A grande questão
é que o problema em si não determina uma escala de sofrimento e, sim, como
nós lidamos com ele é o que fará toda a diferença. Como muito bem
expressado pela Monja Coen: “O sofrimento é inevitável, a dor é inevitável,
mas o cultivo desse sofrimento é opcional”. O cultivo do sofrimento é
opcional.
Os problemas vêm e vão na nossa vida e não existe a mínima chance de
eles não acontecerem. Acreditar que existe um ponto em que seremos isentos
deles ou que teremos soluções imediatas para tudo, é pura ilusão e uma
distração da realidade que podemos estar criando para nós mesmos. Não se
iluda, por exemplo, ao achar que tudo se dá pela falta de dinheiro, porque
quando houver abundância, haverá novas preocupações e sofrimentos. E a
grande “graça” dessas dificuldades está justamente no processo de solução.
Cada passagem é um aprendizado e uma oportunidade de evoluirmos como
seres humanos. Quando entendemos que não há como viver totalmente isento
de problemas e que podemos sempre extrair grandes aprendizados de todos
aqueles que passamos, somos capazes de encontrar uma vida cheia de
harmonia.
Haverá sempre os dois lados da moeda. O do “problema” e o da
solução. Isso te fortalece. Talvez não haveria sentido na vida se não fosse
neste processo de superação. Lembre-se que vivemos em fases, horas
melhores e horas não tão boas, mas que isso faz parte e, depois de passarmos
por elas, sairemos fortalecidos. Esperar uma vida sem problema pode criar o
pior dos problemas, porque isso te frustra mais ainda e te enfraquece. A
melhor forma de alcançar equilíbrio, é entender que o problema é um dos
principais elementos de amadurecimento, aprendizado e conquista.
26
O ódio que a gente exala é rapidamente aspirado pelas nossas
narinas.
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Você é do time que molha suavemente a ponta dos dedos e aperta aquela
faísca na ponta de uma vela ou do time que quer ver a vela acender de novo?
Essa metáfora serve bem para distinguir pessoas que gostam do conflito
daquelas que preferem controlá-lo desde seu primeiro momento.
Claro que entrar em situações de atrito com alguém é comum. Elas vão
sempre existir, mas nós temos o poder de controlar o nível deste atrito. Isso
requer um certo nível de inteligência emocional. Ao se ver numa situação
conflitante, em uma discussão, receber reclamações ou cobranças pouco
afetuosas, podemos escolher, ainda que difícil, como reagir. De início, haverá
a faísca originada deste atrito e, se entrarmos nesta batalha de força e
impulsividade, a chama crescerá rapidamente e a discussão será regida por
um fogaréu de emoções. Responder de forma resistente e buscar se defender
imediatamente não irá controlar o calor daquele conflito. Temos a condição
de praticar uma postura empática e de facilitador. Ser um facilitador é se
colocar num estado de entendimento do próximo, buscando entender que se o
outro fez uma queixa ou se irritou e, consequentemente, deu início a um
conflito, há um motivo (na perspectiva do outro) que provocou sua postura.
Portanto, como facilitadores, temos a capacidade de buscar a solução do
problema de maneira amigável, deixando de lado o ego, a resistência e o
orgulho. Quando o fogo começar a surgir, podemos controlá-lo. E, da mesma
forma, quando este motivador estiver em você e que cause essa necessidade
de iniciar um embate, lembre-se que não é preciso acender o fogo com força
total. O modo de iniciar a conversa (relacionado a este conflito) pode
determinar como o outro irá reagir. Não há como controlar a outra pessoa,
mas podemos reduzir drasticamente as chances daquela conversa se tornar
inflamável.
Lembre-se que somos e temos a capacidade de proporcionar uma vida
muito melhor para nós mesmos e, em situações de conflito, isso não é
diferente. Como exemplo à uma cobrança, ao recebê-la, entenda que há um
motivador e se coloque numa postura a facilitar. Quando precisar expor
algum sentimento, esteja atento ao tom, às palavras e leve a mensagem da
maneira mais sutil possível, para não acabar provocando uma guerra. Faça a
sua parte. Você pode e deve sempre exercitar sua capacidade de controlar o
fogo.
28
A busca incessante pelo prazer pode significar o encontro de um
poço profundo de infelicidade.
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Não posso afirmar que o sentido da vida seja o progresso em si. Mas, com
certeza, uma vida sem progresso nunca fará sentido.
Acredito que o sentido que damos à nossa vida seja muito pessoal. Há
quem acredita que o sentido está na forma em que conectamos com outros,
que contribuímos para os outros. Pode estar no legado que deixamos ao
partir. No acúmulo de riqueza. Na criação da família. No processo evolutivo
entre essa e a próxima vida. Não há como afirmar qual é o sentido da vida
precisamente e eu realmente acho que cada uma deva acreditar naquilo que
faz bem para si. Não há sentido maior para vida do que aquele que é o seu;
viver a vida para o seu propósito.
Agora, uma coisa que posso afirmar é que não há uma vida saudável e
cheia de significado se não houver progresso. Progresso pode ser definido
basicamente como ser melhor hoje, em qualquer coisa, do que você era
ontem. É triste imaginar que há pessoas que aceitam permanecer exatamente
no mesmo estágio por meses ou anos. Nós, enquanto seres conscientes,
precisamos perceber a todo momento que há aprendizado em todas as
situações da vida e que tudo aquilo que fazemos pode nos ensinar alguma
coisa; é necessário ter um senso de que se tornar um ser humano melhor a
cada dia é um pré-requisito para uma vida bem sucedida; precisamos buscar
evoluir como pessoa; buscar expandir cada área da nossa vida, seja ela
emocional, familiar, profissional, pessoal, espiritual etc. É importante
perceber que não haverá significado real num espaço de tempo em que você
começou e terminou exatamente da mesma forma. O modo como percebemos
as experiências e a sede pelo conhecimento podem ser o nosso melhor
combustível.
Tente perceber as áreas que são importantes para a sua vida e entender
como você pode se tornar melhor a todo momento. E haverá sempre espaço
para o progresso, por menor que seja. Se você admira alguma área de
conhecimento, faça com que você se admire por possui-lo. Se errou hoje,
acerte amanhã. Se não se relaciona bem com alguém que você gostaria,
entenda o que você pode fazer para mudar o cenário. O progresso não é só
profissional, o progresso é como indivíduo. E uma vez que você progride,
você naturalmente alcançará o sucesso e a realização pessoal que deseja.
34
Não busque superar o medo para agir. Busque agir enquanto estiver
sentindo medo.
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Enquanto você tentar superar o medo por completo para tomar alguma ação,
você jamais o fará. O medo existe para nos preservarmos. Nosso cérebro nos
resguarda do perigo. Não há como entrar num estágio pleno da ausência do
medo em situações de dificuldade, risco, ou qualquer coisa que nos deixe
vulnerável. E é nesse momento, em que esperamos que o medo suma, que
fará com que permaneçamos exatamente onde estamos na vida.
Ficar estacionado na vida, em algum aspecto, é normal e todos nós já
passamos ou estamos passando por isso neste momento. Infelizmente não é
uma ciência simples de superar. Essa insegurança nos impede de agir para
que não fiquemos expostos aos riscos daquele movimento. Essa é a nossa
natureza primitiva. Quando cito busque agir enquanto estiver sentindo medo
é justamente porque precisamos ser capazes de perceber quando o medo se
manifesta pelo nosso extinto e não exatamente pelo risco real que estamos
correndo. É necessário haver um entendimento lógico da situação para a
tomada de decisão, mesmo que isso cause medo. É justamente a capacidade
de entender que o desconforto irá existir, mas que, neste caso, essa
determinada ação é necessária e, por isso, você deve seguir em frente. É saber
que esse desconforto só será sentido no momento inicial e que, lá na frente,
você irá perceber que o evento não foi tão “traumático” como você estava
imaginando que seria.
É importante que a gente se exponha àquelas experiências que sabemos
ser necessárias, mesmo quando a nossa mente está nos “prendendo”. É
necessário se dar um empurrãozinho, ciente de que aquilo precisa acontecer e
o medo e o desconforto fazem parte – mas que o retorno de ter realizado algo
(mesmo que um pouco sofrido) é muito maior do que ter permanecido
estacionado.
35
A genialidade se manifesta ao não aceitar uma ideia que todos
aceitam. O gênio questiona até as maiores verdades.
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Nós temos várias lutas diárias e, por vezes, acreditamos que essa luta se dá
por elementos externos a nós. Acreditamos que, se não fosse por um desses
elementos, não estaríamos lutando ou sofrendo naquele momento. E, ainda
pior, essa crença acaba provocando tentativas frustradas de mudança, e ela
frustra porque somos incapazes de mudar aquilo que não está dentro de nós.
Vou citar aqui um exemplo muito simples sobre uma situação que
todos nós já passamos e que acaba causando um conflito dentro de nós:
Quando alguém lança alguma ofensa e você se enfurece e sofre por conta
disso. De quem é a responsabilidade em relação ao modo como se sentiu? A
responsabilidade é sua. É claro que ninguém quer ser ofendido e
naturalmente podemos passar por um período de estresse em função do
tempo que levamos para digerir a situação, mas o ofensor ofende por
problemas que ele tem em lidar com você e, você, em contrapartida, sofre por
ter alguma dificuldade para lidar com isso. Se este alguém o ofendeu se
referindo a sua capacidade intelectual, por exemplo, você pode pensar eu
realmente sou assim? Não, logo, não me ofendo. E se a ofensa fosse
verdadeira, se você fosse realmente desprovido de uma inteligência aceitável
para viver em sociedade, também não haveria motivos para transtornos, sua
principal missão seria aprender a lidar com esta realidade. Veja, se abalar por
uma ofensa significa que aquilo mexeu com algum sentimento dentro de
você, por alguma insegurança, vaidade, ego ou qualquer outro fator,
totalmente pessoal. Este exemplo pode ser um tanto quanto simplório, mas
ilustra a forma com que lidamos com nossas lutas diárias. Ele serve como
base para projetar a ideia em quaisquer outras áreas ou circunstâncias da vida.
Tente captar a mensagem de que as grandes lutas são travadas por nós
mesmos. No cenário de uma ofensa, você aceitou se ofender. A discussão de
baixo nível só acontece numa via de duas mãos. Uma chantagem emocional
só existe se há o chantageador e o chantageado, esse “papel” isoladamente
não consegue existir. As frustrações, por exemplo, com os nossos chefes,
familiares, esposos/esposas, existem por fatores em que nos apegamos, que
sabemos lidar ou pela falta da inteligência emocional.
Não estou dizendo que precisamos nos colocar numa posição de
“monge espiritual”, agindo num nível extremo da sabedoria e do controle
emocional. Não é isso. As dificuldades e os sofrimentos vão sempre existir e
são necessários. O importante é que a gente perceba que os esforços da
mudança ou do processo de lidar com essas lutas diárias, devem apontar para
dentro de nós em busca da solução. Seja o dono da sua vida e busque a
transformação em você.
39
Nós criamos vários “recomeços”. Isso nos livra da culpa e nos leva
a acreditar que antes não valeria a pena o esforço de algo e que, agora,
vale.
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Você é daqueles que monta vários planos e quase nenhum deles começa?
Grandes ideias, uma alta excitação quando as ideias e os planos aparecem e
se desenvolvem, mas, aos poucos, eles vão sumindo, aquele prazer parece
evaporar em meio ao medo e você acaba se desanimando e deixando tudo de
lado. Eu já passei muito por isso.
Nós temos uma tendência natural a permanecer no mundo das ideias e
ter dificuldade de trazê-las para a realidade. Temos dificuldade de agir. É
natural que o número de ideias seja muito superior ao número de ações
efetivamente, isso faz parte de um "processo criativo". É um processo natural
de captura - alguns planos e ideias são simplesmente descartados e servem
apenas para dar origem àquelas que realmente fazem sentido. Mas a grande
problemática é quando temos uma boa ideia, que temos um plano consistente
e que isso pode até significar a realização de um grande sonho, porém,
permanecemos no estágio “zero” e não avançamos. Alimentamos nossos
prazeres com a imaginação da realização ou da perspectiva criada, mas, de
fato, não agimos para que aquilo seja realmente alcançado. Isso se dá pelo
medo do desconhecido, do julgamento. Está ligado à nossa insegurança.
Quando apenas nos alimentamos da possibilidade da realização, estamos
numa zona segura. Quando contamos a alguém sobre o grande plano, a sua
realização parece se materializar um pouco diante de nós e isso acaba nos
satisfazendo parcialmente, provocando ainda mais a inércia, deixando
verdadeira realização bem distante. Não vamos em direção a ela porque nosso
cérebro imediatamente nos diz essa ideia é ridícula. O que meus amigos vão
falar? Acho que estou delirando. Preciso pensar novamente sobre isso. Acho
que não é o momento. E assim permanecemos no ciclo da criação de vários
outros planos e nos satisfazendo através da imaginação.
A grande mensagem é: comece. Não há plano perfeito, e não será
possível mapear todos os elementos necessários para o sucesso até que ele
comece. O começo o levará à perfeição desejada. Assim que uma boa ideia
ou um sonho for concebido, ponha-o em prática da melhor forma que
conseguir naquele momento e os ajustes vão naturalmente acontecendo. É
muito melhor o “ruim” em ação a ter o “perfeito” apenas dentro da sua
cabeça. E a falha é muito melhor do que a dúvida se sua ideia seria bem-
sucedida ou não.
42
Vivemos a era em que temos que escrever aquilo que acabamos de
dizer, para que a nossa palavra realmente tenha valor.
✽✽✽
✽✽✽
Temos uma grande tendência em falar muito mais do que ouvir. Somos um
pouco individualistas neste aspecto. Assim como é comum a falta de
habilidade na arte de saber ouvir. Não gostamos de ouvir e, quando ouvimos,
o fazemos apenas para aguardar a hora de falar sobre nós mesmos.
Percebo em várias situações que a única preocupação que as pessoas
têm em um diálogo é em como rebater, é o hábito de ficar ouvindo e
processando apenas o que será respondido, com pouca preocupação de
entender sobre o que está sendo dito. Nós, enquanto ouvimos, temos o
costume de interpretar as palavras ouvidas conforme a nossa percepção do
assunto, assumindo as premissas que são convenientes para nós e, então, nos
mantemos preocupados com a nossa resposta. Muitos diálogos se tornam
desconectados, principalmente porque o mesmo acontece dos dois lados. O
grande problema é que as vezes estamos tão preocupados em falar ou,
enquanto falamos, estamos tão empolgados em nossa fala e focados em
“convencer o outro”, que acabamos não escutando a nós mesmos. Por vezes,
a vontade impulsiva de dizer alguma coisa faz com que a gente fale coisas
que, ao refletir, mostram incoerências. Além disso, saber ouvir promove
dentro de nós a compreensão do assunto e, principalmente, estimula o
autoconhecimento. Falar muito acontece pela nossa necessidade de expressão
e posicionamento, mas quando o fazemos sem um exercício de reflexão e
consciência, podemos gerar uma desconexão entre o que falamos e o que
realmente está dentro de nós
Vou citar aqui um exemplo de um modo de agir que eu gosto de
praticar. Quando alguém divide um problema comigo ou diz estar chateado
por algum motivo que me envolva - o processo natural que algumas pessoas
percorreriam numa situação como esta seria de se justificar imediatamente;
antes disso, tenho o costume de perguntar coisas como “porque isso te deixou
chateado?” ou “mas o que você sentiu quando isso aconteceu?”. Queira
realmente entender. São perguntas poderosas que, além de fazer um grande
bem para o outro ao criar um sentimento de acolhimento e mostrar
sensibilidade, servem para que eu mesmo possa aprender sobre mim e para
que eu me force a me ver um pouco de fora, sob outra perspectiva.
Se expressar é uma necessidade do ser humano, não espero que você
passe a falar pouco e só escute e reflita. Aqui a sugestão é que você respire
um pouco. Prestar atenção no que está sendo dito como uma forma de se
conhecer. Além disso, sugiro usar essa oportunidade para praticar o exercício
de autoconhecimento através da reflexão. Ouvir a si mesmo e ao que há
dentro de você, para falar, de fato, a sua verdade.
44
Uma mentira se torna verdade se todos acreditam nela.
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Não se concentre no fato de que uma mentira, por si só, sempre será uma
mentira. Isso é lógico. Quero que você expanda seu pensamento, refletindo
sobre todas as mentiras que aceitamos como verdades. E elas são muitas.
Vale citar que o nosso convívio sempre foi baseado em um sistema de
crenças coletivas. Todos nós concordamos inconscientemente com algo e à
medida que acreditamos naquilo como verdade, passamos a corroborar com
esse sistema. Um exemplo disso é o dinheiro. O dinheiro tem valor porque
acreditamos que ele tenha valor. O dinheiro não passa de um papel impresso,
mas já concordamos em seu valor e na sua representatividade. Se você tiver
uma nota de cem reais na mão e tentar usá-la em um lugar que ninguém mais
acredita em seu valor, ela passará a não significar nada para você. Pode
parecer lógico e é fácil entender o porquê a gente precisa concordar com isso.
No passado, por exemplo, se trocavam conchas por cavalos. E isso
funcionava porque todas as pessoas deram seu próprio valor a elas (o
“dinheiro” da época”). Se fizermos um paralelo com o mundo moderno,
podemos pensar nas criptomoedas, um dinheiro virtual que já serve para
determinadas trocas, mas que está fundamentalmente baseada em uma crença
de seu valor. Assim como já existem casos de lugares em que um dinheiro foi
criado paralelamente ao dinheiro válido emitido pelo governo.
Quando cito que a mentira pode se tornar verdade enquanto
acreditarmos nela, há justamente uma relação com esse conceito de crenças.
Tendemos a acreditar em algo que todos acreditam ou afirmações
frequentemente repetidas, sem questionar sua veracidade. E isso pode
acontecer em qualquer nível. Podemos citar aqui, por exemplo, o fim do
mundo em 2012 por consequência do calendário Maia. Ou um caso talvez
não muito famoso, em que um astrônomo anunciou no rádio que Plutão iria
passar por trás de Júpiter e isso reduziria a gravidade terrestre; o astrônomo
pediu aos ouvintes que pulassem no momento exato do alinhamento (em uma
data específica, às nove e quarenta e sete da manhã) para que pudessem
experimentar a sensação de flutuar. Centenas de pessoas relataram ter sentido
essa flutuação. Mas é claro, a notícia era falsa. E por que acreditaram ter
flutuado? É exatamente esse fator psicológico que nos afeta quando
acreditamos em algo.
Vale notar que temos os fatores coletivos e mais ancestrais de um
sistema de crença, eles fazem parte de uma natureza e, também, temos o
costume de aceitar a opinião da maioria como verdade. É necessário sair um
pouco de dentro desse sistema e pensar criticamente sobre as “verdades” ou
sobre as ideias que são aceitas sem nenhum questionamento. Mesmo que um
anúncio no rádio diga que você deva pular, você pode questionar a
consequência que isso teria na Terra. E pode ter certeza de que a ausência da
gravidade não causaria apenas a sensação de flutuar.
45
Se coloque como vítima e os “acidentes” continuarão eternamente
cruzando o seu caminho.
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Pare por alguns segundos neste exato momento. Pense como você se
comporta ao cometer um erro, diante das falhas. Seja verdadeiro, esse
exercício é importante. Provoque algumas lembranças aí dentro. Nessas
lembranças, você colocou a responsabilidade nas circunstâncias externas ou
foi um daqueles que apenas disse desculpe, foi uma falha minha, vou
melhorar, vou resolver?
Eu acredito que essa seja uma das mais poderosas formas de
enxergarmos os acontecimentos da vida - através da auto responsabilidade. A
auto responsabilidade é umas formas mais eficazes de se viver em paz, se
fortalecer e progredir. Quando responsabilizamos aos outros e nos colocamos
como vítimas, perdemos uma grande oportunidade de aprendizado e ainda
não buscamos entender sobre como agir na próxima vez em que algo similar
acontecer. Passamos a acreditar, cada vez mais, que a nossa vida está na mão
de algum outro fator, que não nós mesmos. E, dentre duas opções: acreditar
que a nossa vida está sujeita a circunstâncias do destino e sob controle dos
fatores externos ou que a vida está em nossas mãos e que devemos nos
esforçar ao máximo para que estejamos no controle de qualquer situação –
qual você acha que pode produzir melhores resultados? Melhores
aprendizados? Mais amadurecimento? Experiência? Progresso? Com certeza
é a segunda opção. Se colocar como vítima não produz nenhum efeito
positivo, pelo contrário, só alimenta uma frustração ao acreditar que não
temos “sorte” e que somos grandes sofredores que a vida escolheu para
judiar.
Eu gostaria que a partir desse momento, você mudasse o modo de
pensar. Nem todas as situações estão sob seu controle, mas sempre valerá a
pena pensar sobre o que você pode fazer para influenciá-las e não as
vivenciar da mesma forma na próxima vez. Não acredite haver uma
conspiração contra você, isso é, apenas, você mesmo se limitando. Mude sua
perspectiva. Seja o dono do seu destino. Pode não dar certo agora, mas focar
em si mesmo como produtor dos resultados desejados, fará com que dê certo
em breve e, se colocar como vítima, acabará com todas as chances que
poderiam haver de sucesso.
46
Ao haver medo, faça por aqueles que acreditam em você, sem
hesitar. Os outros, você poderá visitar mais tarde.
✽✽✽
Nós geralmente temos muito medo de agir da forma que realmente queremos
e da forma que nos leva a alcançar os nossos sonhos. Por vários motivos:
alguma dificuldade mais “tangível”, medo do desconhecido, falta de dinheiro
ou pelo medo do julgamento. E eu confesso: já passei muito por isso.
Essa frase é oriunda essencialmente da minha própria experiência. Eu
sempre guardei dentro de mim muitas vontades (e claro, ainda guardo).
Sempre me senti capaz de contribuir com o mundo de uma forma diferente da
que eu estava fazendo e na obrigação de encontrar aquilo que eu realmente
amava fazer – sem saber como me encontrar. Para encurtar a história, toda
vez que eu tinha uma ideia, ficava com medo do que as pessoas poderiam
achar dela (de maneira negativa), o que minha família e amigos poderiam
dizer, e isso me desencorajava. Eu desistia naquele momento, porém as
vontades não saíam de mim totalmente. E então eu continuava pensando o
que fazer e como fazer. Depois de um certo tempo tentando dar o primeiro
passo de alguma forma, comecei essa “vida de escritor” através da minha
página no Instagram e o fiz de forma completamente anônima, para que
ninguém me descobrisse (eu sabia que isso poderia me preservar daquele
medo de julgamento). Isso, aos poucos, me permitiu ver a reação do público
e, assim, pude me soltar para começar a me tornar essa pessoa que desejava.
Eu não queria que ninguém soubesse. Essa prisão ao que os outros pensam é
extremamente limitadora e agoniante. Após algum tempo, quando eu já me
sentia um pouco mais seguro (e já não estava totalmente dentro do
anonimato) eu recebi um enorme empurrão para ser... eu mesmo. Eu fui
descoberto pela Marina (a quem eu dedico este livro). Ela me descobriu,
disse ter amado tudo que eu estava fazendo e me incentivou incansavelmente.
Ela parecia acreditar mais em mim do que eu mesmo; e isso me abriu um
caminho enorme. Adquiri a confiança que precisava muito mais rápido do
que seria, se não fosse por ela. Aos poucos, comecei a contar aos amigos e
familiares e, para ser sincero, apesar de haver alguma resistência, ela foi
muito menor do que eu esperava lá no início. Eu havia criado um cenário
extremo de rejeição, quando, na verdade, nada daquilo aconteceu. Ao longo
dessa jornada, quando tive medo ou estive inseguro, comecei a me concentrar
em todas aquelas pessoas que me incentivavam, as que me seguiam e
gostavam de mim do jeito que eu era, sem me preocupar muito com aqueles
mais “descrentes” (se é que eles realmente existiam). Ao escrever um texto
ou uma frase que eu temia a rejeição, eu procurava me apegar naqueles que
me estimulavam e às minhas vontades. E eu descobri que nós realmente
temos essa capacidade de nos concentrar em fatores que podem nos
incentivar (assim como deixar de pensar em fatores limitantes). Nós
conseguimos manipular a nossa própria cabeça para que ela não produza as
sensações que nos limitam.
Para concluir, gostaria de colocar alguns pontos aqui que espero que
você guarde para sempre. Primeiro, as pessoas vão te julgar muito menos do
que você imagina, não se limite a isso. Dois, se concentre naquilo que te faz
bem e não naquilo que você acredita que possa te fazer mal. Três, as pessoas,
muitas vezes, julgam por temerem o seu sucesso (às vezes até
inconscientemente). Elas temem que você alcance resultados que elas
gostariam de atingir, mas não têm coragem de fazer. Tendem a resistir a sua
ideia, diminuí-la, porque, intrinsicamente, sentem que já poderiam ter
realizado antes, algo muito melhor que você, se fosse realmente uma boa
ideia. E, por fim, à medida que você adquire sucesso (vamos chamar assim),
será possível perceber o quanto as pessoas passam a reagir melhor a sua
ideia; de repente, todo mundo passa a admirá-lo e agir como se nunca
houvessem duvidado (para aquelas poucas pessoas que duvidaram); essa é
uma reação natural do ser humano, então não se apegue às resistências de
primeiro momento.
Faça um compromisso comigo e com você mesmo neste momento.
Seja fiel ao que você acredita e centralize seu foco em realizá-lo,
independentemente do mundo externo. Esteja preparado para descartar
comentários que não o servem e se apegue em quem te apoia e em sua
própria verdade. Não é fácil, mas você tem a chance de conseguir, igualmente
a todas as outras pessoas. Dê caminho para você mesmo. Faça por quem
acredita em você e os outros vão, naturalmente, acreditar quando você tiver
feito - até porque não haverá outra opção além desta.
47
Mantenha-se no presente para que este momento não seja perdido
no futuro.
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Quantas vezes em sua vida você já vivenciou um momento e, depois que ele
passou, houve a sensação de que deveria ter aproveitado melhor? Ou então,
durante estes momentos, se pegou pensando em centenas de outras coisas que
não relacionadas ao presente? Eu já passei por isso algumas vezes e, se eu
permitir, isso continuará acontecendo.
Manter-se no presente é a grande chave para uma vida equilibrada. Não
significa ignorar totalmente o passado e nem ser despreocupado em relação
ao futuro. É importante entender que o ser humano vive exclusivamente em
um único tempo, o presente e, mesmo vivendo continuamente no presente,
nosso cérebro projeta a nossa realidade num ponto futuro de forma
persistente. Enquanto escrevo este livro, minha cabeça por vezes navega até o
dia de seu lançamento. E tudo bem. É importante se entusiasmar com o que
está por vir ou pelos possíveis resultados gerados, mas este livro não estará
bem feito se eu não estiver presente durante a escrita e concentrado no que
cada mensagem deve transmitir ao leitor. Se eu escrever me concentrando no
amanhã, certamente o contexto ficará sem sentido. Neste exemplo, entretanto,
é mais fácil medir o nível de atenção, basta revisar o texto para identificar em
quais momentos eu não estive presente e eu posso simplesmente corrigi-los.
Mas na vida, em situações “normais”, o presente passará e não poderemos
revisar e consertá-lo. E, por isso, é tão importante estarmos conectados e
viver intensamente cada momento, porque então há volta. O momento
presente é o que permite termos as melhores experiências - enquanto
estivermos de corpo e alma nele. Seja numa conversa com um amigo,
namorada, seja em uma festa, em uma reunião de trabalho, o que for. Essa
presença completa impacta diretamente àqueles a nossa volta e enraíza em
nós todas as emoções sentidas e experiências vividas.
Busque praticar essa consciência de estar conectado no agora. Se
permita sentir e desfrutar de tudo que está acontecendo. Evite as distrações,
evite que sua cabeça “voe” para outro lugar que não seja o que você está.
Permaneça ali, criando um ótimo aprendizado e plantando uma linda
memória para a sua recordação no futuro.
48
Não importa a sua capacidade de pensar (...) O que todos querem é
apenas um diploma (...) acreditando haver uma medida igual para
todos.
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Frase completa para dar início a reflexão: Não importa a sua capacidade de
pensar. Os problemas que você já resolveu. Sua criatividade. Seu senso. Sua
curiosidade. O que todos querem é apenas um diploma que certifique o seu
ordinarismo, para que permaneçam em conforto, acreditando haver uma
medida igual para todos.
Em algum ponto deste livro, já refletimos muito sobre educação, que é
totalmente aplicável aqui como um fator de grande influência. Mas dentro
deste âmbito educação, vamos nos concentrar no que muitas pessoas têm
passado a acreditar como medida de avaliação. Principalmente no mundo
corporativo (mas não só nele), as pessoas criaram uma referência de
avaliação fundamentalmente baseada na formação e, também, na imagem
com a qual aquela pessoa está associada. O sistema de educação tem se
provado extremamente vazio e incapaz de produzir seres humanos realmente
capazes intelectualmente (pelo menos em sua grande maioria). Por
consequência, uma pessoa que se formou dentro dos padrões de educação
mencionados, sempre procura a mesma referência para dar valor a alguém.
Ela já faz parte de um sistema que se sustenta dessa forma e, portanto,
perguntar qual é a capacidade que alguém tem de pensar no outro, está
totalmente fora deste contexto – e talvez ela nem saiba o que isso significa
precisamente. E, assim, poucas pessoas irão valorizar capacidades como a
leitura de contextos, percepção, fluxo criativo ao solucionar problemas etc.
Temos que tomar cuidado com o mundo alienado em que vivemos. Um
mundo onde a percepção que temos de alguém pode ser mais forte do que a
sua capacidade real de contribuição. Precisamos sempre saber nos comunicar
e mostrar o que temos a oferecer - isso será sempre assim -, mas não
podemos cair na armadilha de valorizar qualidades que não fazem sentido
num contexto mais amplo da convivência. De nada adiantaria ter me formado
em Harvard se eu não fosse capaz de internalizar o conteúdo que me foi
oferecido e conectar com as demais áreas da vida. Talvez uma pessoa que
entenda o mundo, o ser humano, demonstre consciência em tarefas
cotidianas, que seja altruísta, devesse ser mais valorizada que a média. E
essas qualidades não podem ser comprovadas apenas por um diploma.
49
A prática da compaixão abre portas para a nossa própria harmonia.
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