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Educação Inclusiva e
Especial
Pós-Graduação em Docência
Pós-Graduação em Docência
claudia.rossi@ifmg.edu.br
Agosto, 2018.
Educação Inclusiva e Especial
FICHA CATALOGRÁFICA
Palavra do professor-autor
Abraços,
Cláudia Maria Soares Rossi.
Apresentação da disciplina
Este curso está dividido em quatro semanas, cujos tópicos são apresentados
sucintamente a seguir.
Carga horária: 40 h.
Objetivos
Conhecer os processos históricos que deram origem ao paradigma da
educação inclusiva. Compreender os fundamentos filosóficos que
norteiam a educação inclusiva.
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Cláudia Maria Soares Rossi
O conceito de Educação Inclusiva está fundamentado nas práticas escolares que garantem a
qualidade de ensino educacional a todos os alunos, independente de suas condições, tendo em
vista o atendimento às potencialidades e necessidades de cada aluno, respeitando as
diversidades e subjetividades.
A meta deve ser o ensino “significativo” para cada aluno a fim de garantir o acesso dele ao
conjunto sistematizado de conhecimentos. Algumas categorias como iguais e diferentes,
normais e deficientes, inteligentes e com dificuldades devem ser extintas na proposta de
inclusão.
Existe uma distorção do conceito de inclusão voltada para o uso do vocábulo “integração”.
Essa integração tem o sentido de inserir os alunos com deficiências nas escolas regulares, mas
sem uma proposta pedagógica e estrutural diferenciada. E é justamente essa indiferenciação
entre o processo de integração e de inclusão escolar que, muitas vezes, reforça atitudes
baseadas no paradigma tradicional no interior da escola.
Há de se pensar numa escola que não olha as diferenças, sejam elas de raça, etnia, gênero,
classe social, condição física ou mental, mas promova a igualdade de oportunidades para
todos. Isso seria possível??? Há de se pensar... Comecemos pela luta da inclusão das pessoas
com deficiência.
A visão sobre a deficiência nem sempre foi a mesma e muda conforme a cultura, o tempo e o
espaço. A história da educação inclusiva associa-se à da Educação Especial. O processo
histórico é cheio avanços e retrocessos que vão além de questões educacionais, abrangendo
toda uma visão de mundo e de sociedade.
Para se ter uma ideia, no Egito Antigo a deficiência era um dom e quem a possuía tornava-se
divino. Já na Grécia e Roma, na mesma época, a deficiência era vista como uma provocadora
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de males futuros, por isso as crianças deficientes eram abandonadas ou atiradas da Rocha
Tarpeia.
Na Idade Média, quem comandava a sociedade era a religião. A deficiência era considerada
proveniente de forças demoníacas e, nesse sentido, como a referência era o Divino (símbolo
da perfeição), somente os “perfeitos” eram “imagem e semelhança de Deus” [2]. Àquele que
era “diferente” era associado à imagem do diabo e por isso era vítima de perseguição e até
execução.
Algumas atitudes de atenção para com a deficiência começaram a surgir nos tempos
medievais, quando alguns nobres e ordens religiosas construíram hospícios e albergues para o
acolhimento a deficientes e marginalizados, porém, persistia a ideia de que as pessoas com
deficiência eram ameaça à sociedade. [3]
O Renascimento, que marcou a era Moderna trazendo transformações nas artes, nas músicas
e, principalmente nas ciências, trouxe um olhar significativo e positivo para o tratamento
dispensado às pessoas com deficiência. Surgiram hospitais e abrigos mais humanizados e
começaram a surgir descobertas relevantes no tratamento de determinadas deficiências.
Alguns pesquisadores começaram a propor e elaborar códigos, métodos e tratamentos que
deram um novo norte ao tratamento das pessoas com deficiência, como por exemplo:
- O médico e matemático italiano Gerolamo Cardamo (1501-1576), que inventou um
código de sinais destinado a ensinar as pessoas surdas a ler e a escrever;
- O monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1520-1584), que elaborou um método de
ensino para pessoas com deficiência auditiva, baseado no código de sinais;
- O escritor espanhol Juan Pablo Bonet (1579-1633), que publicou a obra Reduction de
las letras y arte para ensenar a hablar los mudos, que além de apresentar o alfabeto na língua
de sinais, também condenava os métodos brutais que tinham por base “gritar” para ensinar
alunos surdos;
- O médico francês Philippe Pinel (1745-1826), que foi pioneiro no tratamento mais
científico e menos supersticioso contra a loucura, defendendo tratamentos mais humanos aos
doentes mentais. [4]
Mesmo com o avanço provocado por estas iniciativas, a deficiência ainda era vista como um
mal e a maioria era abandonada, o que os obrigava a viver de esmolas ou pequenos furtos.
No decorrer de século XIX e no início do século XX, o assistencialismo marcou o
atendimento às pessoas com deficiência. Essa assistência era dada em instituições construídas
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Cláudia Maria Soares Rossi
longe das cidades, o que tornava os assistidos distantes da sociedade, sem poderem se
comunicar e sem liberdade.
A partir da segunda metade do século XIX, surgiu a preocupação com a necessidade de
atenção especializada às pessoas com deficiência, não unicamente em abrigos e hospitais.
Com as concepções pós-renascentistas e as transformações sociais que aconteceram na
Europa com a colaboração dos estudos de Esquirol, a diferenciação entre deficiência mental e
doença mental começa a surgir. Na mesma época, alguns médicos educadores como Itard,
Seguin e Maria Montessori desenvolveram pesquisas relevantes para a educação de pessoas
com deficiência.
Jean Marc Gaspard Itard, citado supra, elaborou um dos primeiros programas sistemáticos de
Educação Especial. Ele ficou conhecido por sua experiência de recuperação e tentativa
educabilidade do menino Vitor de Aveyron, o “menino selvagem”.
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Este documento, de valor inestimável, motivou a melhor organização das pessoas com
deficiência, o que acabou resultando em um maior interesse na criação de novas instituições e
consolidação das já existentes, voltadas à busca de meios de concretização da inclusão social
desses indivíduos [6].
A Educação Inclusiva se caracteriza com uma política de justiça social que alcança alunos
com necessidades especiais, tomando-se aqui o seu conceito mais amplo. [7]
Tendo em vista essa política de justiça social, várias lutas, organizações e leis favoráveis aos
deficientes e a educação inclusiva começaram a surgir depois da Declaração Universal dos
Direitos Humanos (1948).
Nos Estados Unidos, em 1975, é publicada a lei pública 94.142, como resultado da luta de
pais que reclamavam o acesso de seus filhos com necessidades educacionais especiais às
escolas de qualidades.
A partir desse movimento americano, que incluiu outras leis, a luta pela inclusão ganha força
em todo o mundo. Tendo a UNICEF e a UNESCO como promotores, aconteceram várias
reuniões como a Conferência Mundial de Educação para Todos em Jomtiem, em 1990, na
Tailândia; a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais de Salamanca, na
Espanha, em 1994; o Fórum Consultivo para a Educação para Todos, em 2000, na cidade de
Dakar, em Senegal.
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Cláudia Maria Soares Rossi
A Declaração de Salamanca foi a mais marcante no quadro histórico das políticas que
envolvem as questões de Educação Especial e Inclusiva. Traz em seu bojo a ideia de que
"[...] as escolas integradoras devem reconhecer as diferentes necessidades de seus alunos e a
elas atender", como também deve adaptar-se aos diferentes estilos e ritmos de aprendizagem
das crianças, assegurando a elas "[...] um ensino de qualidade por meio de um adequado
programa de estudos, de boa organização escolar, criteriosa utilização dos recursos e
entrosamento de sua comunidades". [9]
A reunião mais recente, a nível mundial, aconteceu em 2015, o Fórum Mundial de Educação,
na cidade de Incheon, na Coreia do Sul. A Declaração de Incheon foi acolhida pela
comunidade mundial de educação, incluindo ministros de governo de mais de 100 países,
organizações não governamentais e grupos de jovens. Ela incentiva os países a fornecerem
educação inclusiva, igualitária e de qualidade, além de oportunidades de aprendizagem ao
longo de toda a vida para todos.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988, proclama o direito de todos à educação e a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação n. 9.394/96 afirma que, além de ser direito, é um dever do
Estado e da família zelar pela mesma.
Além dessas leis acima citadas, é preciso destacar o Estatuto da Criança e do Adolescente, de
13 de julho de 1990, onde traz no artigo 55 a obrigatoriedade dos pais ou responsáveis
matricularem seus filhos na rede regular de ensino.
Outro destaque é a Lei Federal Nº 7.855, de 24 de outubro de 1989, que cria a Coordenadoria
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), órgão responsável
pela política Nacional para a Integração de Pessoa Portadora de Deficiência e ainda atribui
competência ao Ministério Público para fiscalizar instituições e apurar possíveis
irregularidades na garantia do direito às pessoas com deficiência.
Várias são as leis que regem a educação inclusiva e especial no Brasil, sendo a mais recente a
Lei n. 13.146, de 06 de julho de 2015, que institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
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O termo inclusão na escola parece novidade, mas não é. Na verdade a discussão em torno da
integração e inclusão tem gerado muitas discussões e polêmicas há um bom tempo no campo
educacional.
Integração e inclusão se diferenciam por expressar situações de inserção diferentes e se
fundamentarem em posicionamentos teóricos-metodológicos divergentes. [1].
Observando o caminhar histórico-cronológico, percebe-se que a integração sempre precedeu à
educação inclusiva no que diz respeito às políticas e às práticas.
O termo integração diz respeito ao processo de inserção de alunos com deficiência nas escolas
comuns. Porém, nem todos os alunos com deficiência cabem nas turmas de ensino regular,
pois, há uma seleção prévia dos que estão aptos à inserção [1]. Na integração, a
movimentação é feita pelo aluno que vai se inserindo no espaço, ele se adapta ao meio. A
integração acontece porque está no meio do grupo, porém, o processo de ensino e de
aprendizagem é fragmentado.
A integração se baseia na busca pela “normalização”, tendo como referência padrões,
requisitos, condições, deixando em segundo plano a questão da diferença.
O processo de integração ocorre dentro de uma estrutura organizacional na qual o aluno tem a
oportunidade de transitar no sistema escolar, podendo escolher entre o ensino regular ou
especial, porém essa inserção acaba sendo parcial porque o sistema prevê serviços
educacionais segregados.
O processo de inclusão se contrapõe ao da integração, pois, prevê a inserção escolar de forma
radical, completa e sistemática, sempre questionando as políticas e a organização da educação
especial e regular.
A inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, pois, não atinge apenas alunos
com deficiência, mas também aqueles que ficam à margem do sistema, com o objetivo de
favorecer a todos no sucesso da vida escolar.
Para que aconteça a verdadeira inclusão é necessário que a escola se submeta à provocação de
melhorar a qualidade do ensino de forma a atingir todos os alunos que fracassam em suas
salas de aula [1].
De acordo com a resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, o que norteia as
Diretrizes Nacionais da Educação Especial para Educação Básica é o princípio da Inclusão.
Esse princípio fala da importância do entendimento das diferenças individuais e que a escola
deve se adaptar aos alunos com deficiência – e não o contrário.
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Cláudia Maria Soares Rossi
A real inclusão implica num esforço de reestruturação das condições atuais das escolas
brasileiras. Para que as condições excludentes nas escolas sejam eliminadas, é preciso
enfrentar muitos desafios, dentre eles:
- a recriação do modelo educativo escolar, tendo como meta real o ensino para todos, o
reconhecimento e a valorização das diferenças;
- a reorganização das escolas em seus aspectos pedagógicos e administrativos. Essa
reorganização exige a clara definição de ações no Projeto Político Pedagógico da escola.
Mudanças nos currículos, na formação de turma, nas práticas de ensino e nas formas de
avaliação fazem parte dessa reorganização;
- a recriação dos espaços educativos de trabalho escolar tendo como foco as
experiências de trabalho coletivo, em grupos pequenos e diversificados que possibilitem que
os alunos se apoiem mutuamente nas atividades de sala de aula;
- a modificação nas formas de condução da gestão escolar, de forma que diretores,
coordenadores, supervisores e funcionários se incumbam também da tarefa de educar e
participar ativamente e diretamente do que acontece nas salas de aula;
- a formação da consciência de que os alunos sempre sabem alguma coisa, de que todo
educando pode aprender, mas no tempo e do jeito que lhe é próprio;
- a eliminação do caráter classificatório de notas e de provas, substituindo pela visão
da avaliação como diagnóstico e instrumento de formação, aperfeiçoamento e de depuração
do ensino;
- a inserção responsável do professor de apoio nas escolas que tenha competência para
implementar e definir respostas educativas às necessidades educativas especiais e que possa
realmente apoiar o professor comum em todos os sentidos;
- a formação de professores que tenha como foco o desenvolvimento da competência
para resolver problemas pedagógicos, para saber reconhecer e valorizar as diferenças como
elemento enriquecedor do ensino-aprendizagem, para valorizar o processo sobre o produto da
aprendizagem de cada alunos e para buscar enfoques curriculares, metodológicos e estratégias
pedagógicas que possibilitem a construção coletiva do conhecimento [10].
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SEMANA 2 – O papel do professor diante das questões de identidade
Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Arcos
Objetivos
Discutir as políticas de inclusão. Conhecer a Educação Especial e
suas especificidades. Ressaltar a importância da reorganização
escolar e o papel dos profissionais da educação em relação à inclusão
das pessoas com deficiências, transtornos ou altas habilidades.
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Cláudia Maria Soares Rossi
Todos esses documentos, com poucas diferenças, trazem a definição de educação especial
como uma modalidade de ensino que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, tendo
como objetivos a disponibilização de recursos de acessibilidade, a formação de professores e
o oferecimento do AEE (Atendimento Educacional Especializado). Em especial nas Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica é citado que todos esses recursos
visam atender às necessidades educacionais específicas dos alunos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
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O público-alvo da educação especial, tendo como base a legislação vigente, são os alunos
com deficiência que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, veem restringida sua participação plena
e efetiva na escola e na sociedade. As deficiências amparadas pela educação especial são as
seguintes:
a. Cegueira: Ausência total de visão até a perda da percepção luminosa;
b. Baixa Visão: Comprometimento do funcionamento visual de ambos os olhos, após a
melhor correção. Possui resíduos visuais que permitem a leitura de textos impressos
ampliados ou com o uso de recursos ópticos;
c. Surdocegueira: Trata-se de deficiência única, caracterizada pela deficiência auditiva
e visual concomitantemente;
d. Deficiência Auditiva: Consiste na perda bilateral, parcial ou total, de 41 dB até 70
dB, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz. O aluno
que apresenta uma perda leve ou moderada terá dificuldade de perceber igualmente todos os
fonemas das palavras. Poderá utilizar a língua oral, apresentando dificuldades na articulação
das palavras, na leitura e na escrita;
e. Surdez: Consiste na perda auditiva acima de 71 dB, aferida por audiograma nas
frequências de 500Hz, 1000Hz, 2000Hz e 3000Hz. O aluno que apresenta este nível de perda
auditiva não consegue entender a voz humana, bem como adquirir a língua oral. Em geral,
utiliza a Língua Brasileira de Sinais (Libras), como forma de comunicação. A língua
portuguesa será utilizada como segunda língua;
f. Deficiência Intelectual: Incapacidade caracterizada por limitações significativas no
funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo, e está expressa nas habilidades
práticas, sociais e conceituais, originando-se antes dos dezoito anos de idade;
g. Deficiência Física: Consiste na alteração completa ou parcial de um ou mais
segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-
se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,
triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro,
paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que não produzem dificuldades para o desempenho das funções;
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As diretrizes atuais da Educação Inclusiva, tendo como base a Constituição Federal de 1988,
no Artigo 205, determinam que a educação é um direito de todos, enfatizando o dever dos
sistemas de ensino de se adequarem para o atendimento com qualidade a todos os alunos sem
nenhum tipo de discriminação.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional os sistemas de ensino
deverão fazer chamadas públicas para a efetivação do cadastro escolar a todos os candidatos e
deverão assegurar a matrícula e a permanência de todos os alunos, independentemente de suas
deficiências ou necessidades educacionais especiais, organizando-se para oferecer, além da
escolarização, o atendimento educacional especializado aos alunos que dele necessitarem.
[11]
A Resolução do CNE/CEB n. 2/2001, a qual define as diretrizes nacionais para a educação
especial na educação básica, determina que as escolas do ensino regular devem matricular
todos os alunos em classes comuns, com o apoio necessário. Esse apoio pode constituir parte
do atendimento educacional especializado (previsto no Art. 208 da Constituição Federal) e
pode ser realizado em parceria com o sistema público de ensino. Qualquer escola, pública ou
particular, que negar matrícula a um aluno com deficiência comete crime punível com
reclusão de 1 a 4 anos conforme Art. 8º da Lei nº 7.853/89. [18]
Porém, a efetivação da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, na rede
regular de ensino, não acontece apenas pelo acesso à matrícula e pela entrada desses alunos
no mesmo espaço físico que os demais. É preciso muito mais investimentos para a adequação
à nova realidade educacional. Para o diagnóstico e análise correta dessa realidade é
importante que os sistemas de ensino criem mecanismos de informação que possibilitem o
conhecimento da demanda, a identificação, análise, divulgação e intercâmbio de experiências
educacionais inclusivas e o estabelecimento de interface com os órgãos governamentais
responsáveis pelo Censo Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas as variáveis
implícitas à qualidade do processo formativo desses alunos. [19]
Na busca da construção de práticas institucionais e pedagógicas que garantam qualidade de
ensino a todos os alunos, independente de sua condição, a elaboração do Projeto Político
Pedagógico de forma coletiva e participativa é essencial, tendo como meta a definição de qual
é a missão da escola e a quem ela deve servir.
É nesse importante documento, tendo como base a legislação vigente, que a escola deve
prever quais as adaptações físicas no prédio escolar e nas áreas livres, qual organização das
salas de aula e nos mobiliários, quais adequações curriculares e recursos pedagógicos são
necessárias para permitir a qualquer aluno desenvolver seu processo de aprendizagem e
acompanhar o currículo de forma satisfatória.
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Os serviços de apoio especializado são aqueles que têm como objetivo a eliminação das
barreiras que possam obstruir o processo de escolarização de estudantes com necessidades
educacionais especiais. Esses serviços compreendem o conjunto de atividades, recursos de
acessibilidade e pedagógicos, organizados institucional e continuamente, prestados de forma
a: (i) complementar à formação dos estudantes com deficiência e transtornos globais do
desenvolvimento e; (ii) suplementar à formação de estudantes com altas habilidades ou
superdotação.
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especializado, com o objetivo de atender aos alunos das escolas regulares, complementando o
atendimento educacional aos alunos com baixo rendimento e suplementando no caso dos
alunos superdotados;
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Cláudia Maria Soares Rossi
A frequência desses alunos deve ser certificada pelo professor que os atendem, por meio de
relatórios encaminhados à escola regular em que eles estão matriculados.
Os professores que atuam no atendimento educacional especializado, além da formação
básica em Pedagogia, devem ter uma formação específica para atuar com a deficiência a que
se propõem atender.
A educação escolar de alunos que apresentam necessidades educacionais graves, que
necessitam de apoio intenso/contínuo e precisam de adaptações curriculares que a escola
comum não consegue oferecer, pode ser feita em escolas especiais desde que o currículo das
mesmas observe as diretrizes curriculares nacionais e os alunos recebam realmente o apoio
que necessitam. [13]
Cabe à equipe pedagógica da escola especial e à família o acompanhamento do
desenvolvimento do aluno. Por meio de constantes avaliações diagnósticas, devem ainda
decidir pela permanência na escola especial ou encaminhamento para a escola regular comum
que ofereça o atendimento educacional especializado.
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SEMANA 3 – Questões de identidade e diferença
Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Arcos
Objetivos
Discutir as questões de identidade e diferença. Refletir sobre as
temáticas: sexualidade, gênero, raça e etnia no trabalho escolar.
Compreender a importância do Multiculturalismo.
A escola, durante toda sua história, tem apresentado uma educação que privilegia alguns
grupos que “se enquadram” nos padrões homogeneizados da mesma. Essa exclusão dos
grupos que “não se enquadram” foi sendo legitimada nas políticas e práticas educacionais
reprodutoras da ordem social. A Constituição Federal, a Lei de Diretrizes e Bases e vários
outros documentos falam de uma escola aberta, pluralista, para a qual todos devem ter a
garantia de acesso e permanência. Porém, o que se percebe é que só existe investimento na
permanência de alguns grupos. Os demais estão fadados ao fracasso escolar, isso visto de
forma naturalizada.
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de pessoas que não pertencem ao grupo dominante. Os sujeitos que não estão no quadro da
“homogeneidade”, são vistos pelas suas limitações e não como humanos que socialmente
foram construídos. O que tem prevalecido é a cultura do não às diferenças raciais, culturais,
de gênero, religiosas, familiares, de origem social, a certos talentos e habilidades, a aspectos
ligados ao físico e demais generalizações.
Bourdieu classifica essa imposição de cultura como “violência simbólica”. É justamente essa
violência simbólica que permite à escola reproduzir relações de dominação, ou seja, exercer o
domínio para que os sujeitos pensem e ajam de tal forma que não percebam que acabam por
legitimar a ordem vigente, colaborando assim para o aumento da desigualdade social e
subtração dos direitos. [24]
A “violência simbólica” pode ser percebida em discursos que rotulam alunos como inferiores,
sem um diagnóstico prévio, nos primeiros dias de aula, sendo classificados como os
“problemáticos”. Estigmatizados, muitos sujeitos sofrem por ideologias educacionais
normalistas que expõem que eles não aprendem, são mais lentos na aprendizagem ou que a
deficiência ou a classe atrapalham sua aprendizagem. Essas crianças são fadadas a carregar o
peso dos estigmas de “incapacitados”, “deficientes” e “especiais”. [25]
Para a quebra dessa naturalização de “bons e desajustados” e realmente construir uma escola
que garanta o ingresso, a permanência e o sucesso dos sujeitos que a frequentam, muitas
mudanças são necessárias no sistema educacional e na forma de pensar a educação por parte
daqueles que a lideram e estão nas salas de aulas.
O respeito e a tolerância devem ser a palavra de ordem nessa sociedade moderna composta de
tantas diversidades e diferenças.
Os movimentos sociais na atualidade têm dado uma enorme ênfase aos direitos humanos, à
dignidade, à formação de valores, ao respeito às diferenças, exigindo da escola que ela passe
de adestradora àquela que favorece uma formação pluridimensional e de vivências mais
plenas. [26]
Nesse sentindo, como podemos examinar identidades e diferenças?
Usando os conceitos de Woordward, a identidade é relacional, é marcada pela diferença, ou
seja, ser um “normal” é ser um “não deficiente”. A diferença é sustentada pela exclusão: se
você é “deficiente”, você não pode ser normal e vice-versa.
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Há de se pensar que cada sujeito carrega consigo elementos históricos que trazem opiniões e
vivências coletivas que repercutem na construção cultural, social e política da sua identidade.
A concepção de diferença é essencial ao processo de construção cultural das identidades,
porém, ela pode ser construída negativamente, por meio da exclusão ou marginalização
daqueles que são “diferentes”, ou pode ser vista como enriquecedora - como fonte de
diversidade, heterogeneidade e hibridismo. [28]
Questionar a identidade e a diferença é essencial para a crítica aos sistemas de representação
que dão suporte e sustentação ao poder. As implicações pedagógicas e curriculares dessas
conexões entre identidade e representação são explicitamente perceptíveis. A função da escola
é ajudar para que crianças e jovens desenvolvam capacidades de crítica e questionamento dos
sistemas e das formas dominantes de representação da identidade e da diferença. [29]
Depois da discussão sobre como as identidades e diferenças são construídas, tendo a visão de
como os sistemas classificatórios existem para a manutenção de “certa ordem social”,
importante se faz pensar nas questões de gênero e sexualidade em âmbito escolar.
Sabe-se que a escola, na perspectiva inclusiva, possui um papel relevante na socialização dos
saberes e das práticas relacionadas à diversidade. Porém, o que se tem percebido é que temas
como sexualidade, diversidade e relações de gênero ainda são regulados por preceitos morais,
onde o que tem prevalecido é o caráter biológico aos aspectos sociais e culturais, e
discriminação daquilo que não é “normal”.
Tendo em vista a proposta da educação inclusiva, importante ressaltar que a Conferência
Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, promovida pela Unesco em 1994, de
onde originou-se a Declaração de Salamanca, afirma que crianças com necessidades
educativas especiais não são apenas as que têm deficiências, mas também as dotadas de altas
habilidades, as que trabalham, as de minorias linguísticas, étnicas e culturais, enfim, as
desfavorecidas ou marginalizadas socialmente, e que sofrem algum tipo de exclusão
educacional mesmo estando dentro da escola. Torna-se, portanto, relevante também
problematizar a diversidade sexual e as relações de gênero no contexto escolar.
Durante séculos as desigualdades e diferenças entre homens e mulheres só eram explicadas
pelas características biológicas. Com o passar do tempo surgiu o conceito de gênero, que
procurou romper com esse entendimento, argumentando sobre como essas diferenças eram
construídas culturalmente. O conceito de gênero não se restringe apenas aos papéis assumidos
por homens e mulheres na sociedade, mas diz respeito às relações de poder que estão
implicadas entre masculino e feminino. Tudo isso faz parte de um processo de hierarquização
através de práticas e crenças das distintas sociedades, que ao longo do tempo vem
classificando e separando homens e mulheres desigualmente. [30]
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A sexualidade é concebida como a forma das pessoas expressarem seus desejos e prazeres
através do corpo e da relação com as imaginações, desejos, fantasias, símbolos e padrões
culturais. Não é estática, ela é provisória e se desenvolve ao longo da vida de acordo com as
vivências com as outras pessoas e com o próprio corpo.
Grossi apresenta interessantes conceitos que ajudam na compreensão dessas questões. A
autora afirma que sexo é uma categoria que ilustra a diferença biológica entre homens e
mulheres; que gênero é um conceito que remete à construção cultural coletiva dos atributos de
masculinidade e feminilidade (que recebe o nome de papéis sexuais). Sobre a identidade de
gênero, Grossi afirma é uma categoria pertinente para pensar o lugar do indivíduo no interior
de uma cultura determinada e que sexualidade é um conceito contemporâneo para se referir ao
campo das práticas e sentimentos ligados à atividade sexual dos indivíduos. [31]
Ao se pensar em gênero, sexualidade, identidades e representações, tem-se o conceito de
gênero como uma categoria usada para pensar as relações sociais que envolvem homens e
mulheres, relações historicamente determinadas e expressas pelos diferentes discursos sociais
sobre a diferença sexual. Portanto, o gênero está em constante mudança e são os atos dos
indivíduos que ajudam a reconfigurar localmente as representações sociais de feminino e de
masculino. [31]
Todo indivíduo tem um núcleo de identidade de gênero, que se constrói na socialização de
determinadas convicções a partir do momento da rotulação do bebê como menina ou menino,
assim que se descobre o sexo do bebê, quando se atribui um nome à criança e esta passa a ser
tratada imediatamente como menino ou menina. A criança passa pela primeira classificação
devendo a partir dali apresentar comportamentos condizentes a ela.
Durante toda sua vida vai passar por cobranças e representações de poder, que passam por
inúmeras mudanças, mas algumas insistem em permanecer. Como exemplo, na Grécia e
Roma antigas, aos homens eram permitidas experiências hedonistas, cujo prazer era buscado
fora de seus lares entre prostitutas ou em práticas homossexuais, enquanto as
mulheres/esposas ficavam em casa, quase que como prisioneiras dos afazeres domésticos e
cuidados com os filhos.
Mas foi no início do século XIX que surgiram algumas teorias médicas que categorizaram as
condutas sexuais como normais ou patológicas, dessa forma, a sexualidade foi se constituindo
como dispositivo de separação entre práticas sexuais normatizadas e corretas (heterossexuais,
monogâmicas, reprodutivas) e aquelas que não se enquadravam às regras, as anormais,
recebiam nomenclaturas médicas e terapêuticas (histeria, homossexualismo, onanista, etc.) e o
que as colocavam à margem da sociedade.
No final do século XIX, o pensamento ainda era o mesmo, o desejo sexual era uma
característica masculina e as mulheres copulavam apenas para as necessidades de reprodução
da espécie e da família. O que era normal no comportamento feminino era a passividade e a
frigidez.
Atualmente, gays, lésbicas, transexuais, bissexuais, enfim, indivíduos que historicamente
foram colocados à margem da sociedade ainda sofrem esse tipo de discriminação, sendo
tratados, muitas vezes, como doentes, anormais, “forasteiros”.
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A “diferença” é um elemento central nos sistemas classificatórios por meios dos quais os
significados são produzidos. Os significados fornecem novas formas de se dar sentido à
experiência das divisões e desigualdades sociais e aos meios pelos quais alguns grupos são
excluídos e estigmatizados. [33].
Os significados e as classificações servem de ferramentas para operacionalizar o pensamento.
Assim sendo, surgiu a classificação da diversidade humana em raças, que por causa das
relações de poder, criou uma operação de hierarquização que embasou o caminho do
racismo.
No caminhar da humanidade, a escola, ao trabalhar somente com as classificações advindas
do campo científico, ajudou para que as identidades étnicas e raciais fossem vistas como mais
ou menos importantes, o que levou muitos indivíduos ou grupos serem marcados pela
diferença.
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Percebe-se que na sociedade atual, ainda regida por um paradigma branco, onde a maioria dos
excluídos é constituída pelos grupos considerados como os não-brancos, as narrativas
rementem “aos outros” em um processo de construção de identidade (ou de sua negação). [30]
Muitas vezes usando de um currículo engessado na linguagem e nas formas de manter o poder
sobre os sujeitos, a escola foi perpetuando as diferenças e legitimando as desigualdades de
forma que se estabelecesse um sistema classificatório entre os sujeitos. No que se refere à raça
e à etnia, a exclusão foi marcante durante tempos.
Relações raciais, étnicas, multiculturalismo e currículo são temas que estão conectados. Na
educação, não é possível abordar multiculturalismo e currículo sem problematizar as relações
raciais na escola, assim como não se pode falar de desigualdade racial deixando de fora a
educação. O que deve estar em debate são as formas de exclusão no interior do espaço
escolar, nas propostas curriculares ou dos discursos e textos políticos. A segregação interna
acontece por meio das relações interescolares, que envolvem a invisibilidade das questões
inter-raciais próprias de uma sociedade multicultural e pode ser vista ainda nos materiais
didáticos que reforçam estereótipos atribuídos aos afro-descendentes. [34]
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Cláudia Maria Soares Rossi
Urgente se faz a atenção para uma ressignificação da escola e do currículo como um espaço
de que luta contra a exclusão dos que não se “enquadram” nas identidades homogêneas.
Novas formas de participação de sujeitos sociais com representação minoritária devem ser
planejadas de forma a fazer com que os currículos sejam mais inclusivos.
Neste sentido, numa perspectiva inclusiva, aponta-se a proposta do multiculturalismo na
educação. Um multiculturalismo crítico, que ao discutir a diferença, não a separa da discussão
da desigualdade social, da cultura e da relação de poder. Um multiculturalismo que politiza a
cultura, a situa nos conflitos sociais e históricos, não a vendo somente como uma essência de
identidades.
Faz-se urgente que as escolas comprometidas com a educação de qualidade se mobilizem
contra a exclusão dos sujeitos silenciados pelo pertencimento racial e/ou étnico, que busquem
estratégias que deem visibilidade aos não-brancos. A busca pela redução das desigualdades
sociais se dá não apenas com o discurso de universalização da educação, mas a partir da
mudança do olhar sobre os currículos, que devem deixar de serem hegemônicos, para serem
multiculturais incluindo metodologias explícitas para trabalharmos aspectos da diversidade de
nossa sociedade. [35]
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SEMANA 4 – Diferentes modalidades de educação na perspectiva da
inclusão Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Arcos
Objetivos
Descrever as diversas modalidades de ensino na perspectiva da
inclusão, contemplando suas diferenças e necessidades.
A Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem por fundamento a busca por estratégias de
enfrentamento ao analfabetismo e a não inclusão social de pessoas de baixa escolaridade, que
vivem em zonas de vulnerabilidade. Estudos apontam que a maior parte dos que procuram a
EJA são advindos das classes populares, pertencentes a famílias que ocupam as margens da
sociedade. Portanto, como não pensar na EJA sobre a perspectiva de uma educação inclusiva?
É importante lembrar que o surgimento dessa modalidade de ensino se dá devido ao fato da
intensa exclusão precoce da escola, um dos maiores problemas do sistema educacional
brasileiro. Muitas vezes tal exclusão tem origem na falta do olhar sobre as realidades dos
alunos de forma a atender suas necessidades, sejam elas causadas pelas deficiências físicas,
mentais ou pelo simples pertencimento a uma classe, raça, etnia, gênero etc. A questão é que a
falta da visão sobre como se faz uma verdadeira inclusão causa problemas em todos os níveis
e modalidades de ensino, comprometendo a construção de uma educação mais justa e
igualitária.
A Educação de Jovens e Adultos no Brasil tem sido um tema polêmico e controvertido, pois,
encontra descontinuidades que dificultam a constituição de sua identidade, reconhecimento de
suas especificidades e a construção de um estatuto próprio, que subsidie a formulação de pro-
postas teórico-metodológicas compatíveis com as vivências e os saberes daqueles aos quais se
destina. [36]
Alfabetizar pessoas jovens e adultas não é um ato apenas de ensino – aprendizagem é a
construção de uma perspectiva de mudança, com a crença certeira de que todos podem
aprender, independente da condição em que se encontram.
Para a promoção dessa educação que atende um público especial, já vítima de tantos
processos de exclusão durante sua trajetória de escola e de vida, é importante a tomada de
novos posicionamentos. É preciso remover barreiras atitudinais tendo consciência de que não
é o aluno que deve se adaptar à escola, mas é a escola consciente de seu papel que deverá
colocar-se à disposição do aluno.
É sabido que a heterogeneidade da população atendida pela Educação de Jovens e Adultos,
devido à diversidade de idades, de níveis de escolarização, de barreiras enfrentadas durante as
trajetórias escolares e, sobretudo, de condições humanas, apresenta-se como um desafio para a
prática docente. Vale lembrar que os docentes dessa modalidade de ensino devem ter
sensibilidade para perceber que o ser humano está inserido no mundo complexo onde a
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Cláudia Maria Soares Rossi
Para o entendimento dessa modalidade de ensino, que tem como meta o respeito às diferenças
e que mobiliza ações para o reconhecimento dos direitos subjetivos dos seus alunos, são
necessárias ações de políticas afirmativas que favoreçam a construção de contextos sociais
mais inclusivos.
Para a compreensão sobre como se constitui a Educação Rural e/ou do Campo é preciso
entender que essa modalidade de ensino foi criada pensando na população composta de
agricultores e seus familiares, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos, assentados e
acampados da reforma agrária, trabalhadores rurais assalariados, quilombolas, caiçaras, povos
da floresta, caboclos. A proposta do MEC, de acordo com as diretrizes para esse tipo de
educação, é de que a escola possa atender a esses cidadãos respeitando uma série de
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princípios, entre os quais se destaca o respeito à diversidade, nos aspectos sociais, culturais,
ambientais, políticos, econômicos, de gênero, raça e etnia.
Na década de 20, no Brasil, houve um crescente aumento da migração rural-urbana, a
população que trabalhava nas fábricas cresceu significativamente e esse processo passou a
constituir-se em desequilíbrios, por causa do esvaziamento do campo e do consequente
“inchaço” urbano, agravados pela desqualificação profissional da população rural nas cidades.
Mediante essa realidade, com a intenção de manter o homem no campo, a educação rural
passou a ser vista como possibilidade de valorização de vida nesse espaço, minimizando o
processo de migração. Porém, essa mesma educação não considerou as questões estruturais
determinantes da condição de vida da população migratória. A educação rural baseou-se nos
pressupostos do ruralismo pedagógico, tendência educacional que credita à ampliação dos
conhecimentos do homem do campo o aumento das possibilidades de fixá-lo à terra. [39].
A educação rural passa a ser compreendida como meio de conter as migrações sendo
planejada sobremaneira no espaço urbano e aplicada na área rural.
No campo pedagógico a educação rural tinha como objetivo diminuir as faltas e a evasão,
usando modelos pedagógicos que se adequassem a realidade rural. Uma das propostas, por
exemplo, foi usar de um calendário escolar baseado nas épocas de plantio e de colheita, com o
intuito de respeitar as necessidades das famílias. Porém, pela falta de escolas, a educação rural
ofertada não estava dando conta de atender as necessidades da população rural, o que fez com
que muitos se deslocassem por grandes distâncias para concluírem seus estudos.
Ao fim, os objetivos educacionais e de desenvolvimento econômico evidenciavam o meio
rural como um espaço atrasado e não considerava a diversidade dos povos. [39]
Foi a partir dos anos 80 que a educação rural passou a se chamar educação do/no campo. Os
motivos da mudança foram as lutas dos movimentos sociais, as discussões relativas a
perspectiva e concepção de homem, escola, saberes, mundo, trabalho e, sobretudo, o modo de
pensar a educação rural.
Porém, mesmo mudando a nomenclatura, muitos dos problemas na condução da educação do
campo persistiram, problemas esses advindos de todo um contexto político e histórico do
passado que foi marcado pela: implementação de uma rede de ensino precária, tendo na
maioria das vezes um só professor e uma infraestrutura insuficiente; falta de respeito aos
repertórios culturais e identitários dos sujeitos trabalhadores do campo, seguindo os
parâmetros da escola urbana na concepção de escola e de currículo; inadequada formação de
professores para o enfrentamento da realidade, além da falta de materiais didáticos
contextualizados; noção de necessidade da escola para a formação de mão de obra, tendo em
vista a necessidade da reprodução capitalista. [40]
Na educação do campo, de acordo com indicadores sociais e educacionais, a verdadeira
inclusão não tem acontecido. Essa população ainda lida com desvantagens, sejam elas
relativas à matrícula, ao desempenho educacional dos alunos, à formação dos profissionais em
educação ou a infraestrutura das escolas.
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Cláudia Maria Soares Rossi
Além desses problemas estruturais, esse tipo de educação também é marcado pelo preconceito
daqueles que não acreditam na capacidade que cada aluno tem de aprender; depreciam a
escola do campo por ser do meio rural e ter poucos alunos matriculados; subestimam a
inteligência dos alunos por julgarem-lhes pela aparência, forma de falar e seus costumes. [40]
Para a efetivação das políticas públicas na educação do campo, faz-se necessário pensar o
campo brasileiro com sua diversidade, retomar historicamente os fatos para compreender
como ao longo dos anos a relação com o campo foi se instituindo. Com isso é necessário
perceber qual educação está sendo oferecida no meio rural e qual a concepção de educação
está presente nessa oferta.
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Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Arcos
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Cláudia Maria Soares Rossi
As lutas travadas pelos movimentos sociais, durante as últimas décadas, exigem reparações e
o reconhecimento social e jurídico de garantia à inserção social dos grupos e indivíduos
privados de direitos. Dentre esses grupos estão os quilombolas.
Os quilombos surgiram no período colonial como símbolo de resistência à escravidão e
discriminação. Durante muito tempo houve a crença de que os quilombos tinham acabado
com a abolição da escravatura. Porém, nos anos 70 e 80, pesquisas universitárias pautadas na
questão da etnicidade, discutiram identificações culturais de origens étnicas e raciais de
comunidades negras e comunidades rurais que apresentavam a particularidade de serem
negras e camponesas. As ciências sociais ajudaram na organização de significativos debates
voltados ao respeito às minorias, o que promoveu a ampliação das garantias e direitos
étnicos culturais.
Durante os trabalhos que chegariam à elaboração e aprovação da Constituição de 1988, as
pesquisas acadêmicas, as ações e pressões dos movimentos sociais, pastorais da terra,
movimentos negros e parlamentares foram essenciais para o reconhecimento jurídico das
terras de quilombos. O artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição de 1988 estabeleceu o reconhecimento do domínio das terras tradicionalmente
ocupadas pelas comunidades quilombolas.
A partir desse reconhecimento iniciaram-se discussões sobre quem seriam os representantes
legítimos desses quilombos. Começaram a surgir diferentes representações de agrupamentos
negros no campo, “remanescentes de quilombo”, “quilombolas”, “mocambeiros”, etc.,
vinculadas à memória, ao parentesco, ao lugar que construíram e outros. Então, por meio do
Decreto n. 4.887, promulgado em 20 de novembro de 2003, a Fundação Cultural Palmares
continuou a ter responsabilidade por certificar tais grupos. E ao INCRA delegou a
responsabilidade por emitir relatórios e laudos periciais para identificação dos grupos, a fim
de depositar a titulação. [48]
Praticamente todos os estados brasileiros têm terras de quilombos em seu território. De acordo
com a Fundação Cultural Palmares, em 2017 o país contava com 2.471 certificados emitidos
para 2.890 comunidades quilombolas. Apesar dessa soma, segundo o INCRA, em 2016
apenas 165 títulos foram emitidos em favor dessas comunidades, representando apenas 5,7 %
das comunidades certificadas.
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Todo esse moroso processo de reconhecimento e garantia de direitos, sendo ainda presente a
luta por justiça, com certeza repercute na forma de pensar a educação nessas comunidades.
Algumas medidas foram tomadas para a elaboração e orientação às políticas educacionais
voltadas para o ensino de questões étnico-raciais, como por exemplo, a criação do
Departamento de Educação para a Diversidade e Cidadania (DEDC) em 2004 e a aprovação
da Resolução n. 8, de 20 de novembro de 2012, que definiu as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. [50]
Mas os desafios postos para a educação escolar destinada aos estudantes quilombolas são
amplos e antagônicos, vão desde a definição da proposta político pedagógica, o uso de
recursos didáticos apropriados e a formação docente, até a falta de estrutura física mínima
adequada.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Quilombola trazem algumas referências
que ajudam na formulação de uma proposta pedagógica adequada, mas certamente ainda
faltam pesquisas que envolvam aqueles saberes comunitários e um intercâmbio de
conhecimentos entre diversas áreas. Essencial se faz o trabalho interdisciplinar entre
sociologia, história, geografia, antropologia e outras ciências, na busca da construção de um
currículo que seja pertinente à realidade quilombola, que tenha como base os contextos de uso
do território, da etnicidade e da memória presentes nas narrativas dos sujeitos, no intuito de
construir metodologias que proporcionem aprendizagens tendo como ponto de partida
elementos referentes às realidades locais das comunidades. Só a educação é capaz de romper
com uma história longa de alienação e exclusão étnica e racial que originou a formação da
sociedade brasileira. [50]
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Para concluir nossos estudos, nesta unidade, provocaremos apenas uma reflexão sobre os
conceitos de Educação Popular, Educação Social e Comunitária que têm como base as
concepções de Paulo Freire e de Moacir Gadotti.
Encerrando essa disciplina, que trata da educação como aquela que emancipa, transforma,
liberta, cria e conduz à justiça e à promoção de condições de igualdade, recorre-se a Paulo
Freire quando afirma que “educação sozinha não transforma uma sociedade, mas sem ela não
se consegue fazer as mudanças necessárias, principalmente no que tange à inclusão social”.
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REFERÊNCIAS
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Referências
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Cláudia Maria Soares Rossi
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http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13146.htm. Acesso: 10
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[22] BRASIL. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Nota Brasileira ABNT NBR
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[28] HALL, Stuart. Quem precisa de Identidade? In: SILVA, Tomaz T.(Org). Identidade e
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[29] SILVA, Tomaz T. A produção Social da identidade e da diferença. In: SILVA, Tomaz
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[33] WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In:
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CURRÍCULO DO PROFESSOR-AUTOR
Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Arcos
Currículo do professor-autor
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