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Curso

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA

Disciplina
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA
INCLUSÃO
2

Curso
EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA

Disciplina
FUNDAMENTOS
TEÓRICOS DA
INCLUSÃO

Edla TROCOLI
Marcelo SALDANHA

www.avm.edu.br
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Olá, estimados colegas! Meu nome é EDLA TROCOLI. E foi com


muito prazer que escrevi essa aula para vocês. Gosto muito do
meu trabalho: dar aulas, pesquisar, me relacionar com os alunos.
Sou pedagoga, especialista em Educação Especial e pós-
graduada em Docência do Ensino Superior. Comecei a atuar na
área de Educação Especial há alguns anos atrás e tive a
oportunidade de ser diretora-fundadora de um grande Centro
Integrado de Educação Especial, no Município de Valença-RJ,
entre outras atividades exercidas dentro da área. Atualmente luto
por uma Escola Inclusiva e acredito que um dia teremos
realmente uma Escola Para Todos. Neste ano, completo 5 anos
de vínculo com o Instituto A Vez do Mestre com muito respeito
pelo trabalho que presta à nossa educação. Um grande abraço!

Sou MARCELO SALDANHA, Psicólogo, formado pela Universidade


Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, em 1984 e Mestre em Psicologia
da Educação desde 1991. Minha carreira no Magistério teve início
Sobre os autores

em 1987 no SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem


Comercial) lecionando em cursos técnicos. Em 1988 iniciei minha
trajetória no Magistério de 3º grau onde estou até hoje e minha
história na Pós Graduação deu-se em 1992.
Cursei o Mestrado no extinto IESAE (Instituto de Estudos
Avançados em Educação) que funcionava na FGV (Fundação
Getúlio Vargas) como bolsista do CNPq e apresentei a
Dissertação “O Esporte Enquanto Ferramenta Para a Consecução
das Propostas Educacionais – O Esporte na Educação -”. Esta é,
aliás, uma de minhas lutas no campo educacional. A atividade
extra-sala é a alavanca para que melhoremos de fato o produto
final da escola.
Nas horas vagas, sou músico e trabalho com coral. Uma
atividade grupal que nos traduz a essência do relacionamento
humano: cooperação, construção, paciência, força e
determinação. Há alguns anos era comum nas nossas escolas
públicas ouvirmos os orfeões... hoje é quase um milagre.
Cantar estimula o controle fono-respiratório, treinamos ritmo,
percepção e aprendemos a ouvir. A voz é o nosso maior cartão
de visitas. Boa voz é igual à boa auto-estima.
No IAVM, lecionando Prática de Ensino, Didática, Políticas
Educacionais, Fundamentos Psicológicos da Educação, Teorias do
Conhecimento etc., tenho, além da preocupação em trazer um
conteúdo de valor para os alunos, o compromisso em trazer à
sala questões como estas que comentei rapidamente com vocês
e que, de uma forma ou de outra, estão entre as linhas de nossa
aula.
Estou sempre disponível caso queiram conversar.
Felicidades e sucesso em suas vidas.
5

07 Apresentação

Aula 1
09 O que é inclusão?

Aula 2
41 As perspectivas da inclusão

Aula 3
71
Sumário

Diagnóstico e prevenção

Aula 4
109 A construção do conhecimento e seu
significado na Educação Inclusiva

AV1
151 Estudo dirigido da disciplina

AV2
154 Trabalho acadêmico de
aprofundamento

155 Referências bibliográficas


CADERNO DE
ESTUDOS
Fundamentos
Teórico-Metodológicos
da Inclusão
Apresentação

Este caderno de estudos se compõe de diversas discussões


relevantes para o início da formação de um educador que busca
complementar seus conhecimentos, integrando a especificidade da
educação inclusiva e especial. Iremos apresentar dados históricos
que engendraram a nova compreensão sobre as necessidades
educacionais especiais. Destacamos: o que é inclusão; as
perspectivas da inclusão; diagnóstico e prevenção; a construção
do conhecimento e seu significado na Educação Inclusiva.

Este caderno de estudos tem como objetivos:


Objetivos gerais

 Apresentar dados históricos e analisar as principais


características da inclusão;
 Destacar os dilemas e perspectivas da educação inclusiva na
atualidade;
 Compreender o objetivo do diagnóstico e da classificação para
serviços de reparação, de educação e tratamentos existentes;
 Conhecer as formas de construção do conhecimento na
educação inclusiva, a partir de fundamentos piagetianos e
vygotskyanos;
 Destacar a relevância das adaptações curriculares para os
portadores de necessidades educacionais especiais.
1

AULA
O que é Inclusão?
Edla Trocoli
Apresentação

Esta aula se destina primeiramente a discussão sobre inclusão


social como um processo que envolve atitudes afirmativas,
públicas e privadas, no sentido de inserir todos num contexto
social mais amplo. Faz uma revisão histórica que revela a
segregação da pessoa com necessidades educativas especiais ao
longo dos anos. Analisa a forma como a Educação Especial
acelerou a demanda de novas maneiras de ensinar, adequando a
diversidade dos alunos, respeitando sua realidade. Será
trabalhado o conceito de inclusão e sua diferença com a
integração, principalmente após a Declaração de Salamanca.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Propiciar o aprofundamento do conceito de inclusão;


 Reconhecer a linha do tempo que foi marcada constantemente
pela segregação dos portadores de necessidades especiais
desde a Antiguidade até os dias atuais;
 Reconhecer a influência da religiosidade e da visão médico-
organicista como fator diferencial e preconceituoso do portador
de necessidades especiais, na sociedade em geral;
 Destacar o papel da Declaração de Salamanca no objetivo de
assegurar a permanência da criança na escola por um tempo
longo o suficiente que lhe possibilite obter um real benefício da
escolarização.
Aula 1 | O que é inclusão? 10

Introdução

Para falar de educação inclusiva, temos que


Para
navegar abordar, antes, a questão da inclusão social, ou seja, o
processo de tornar participantes do ambiente social
Bem-vindo a esta total (a sociedade humana vista como um todo,
disciplina. Antes de
iniciarmos o estudo incluindo todos os aspectos e dimensões da vida - o
da inclusão, que tal
se você pesquisasse econômico, o cultural, o político, o religioso e todos os
antes sobre que
significados este demais, além do ambiental) todos aqueles que se
termo assume na
realidade atual. encontram, por razões de qualquer ordem, excluídos.
Faça uma pesquisa
sobre o assunto.
Vale consultar a Exclusão social e inclusão social são conceitos
internet!
dialéticos, polarizados, simétricos e constituem uma
das grandes preocupações da sociedade atual. Como
excluídos, podemos considerar todos os grupos de
pessoas que não participam, em nossa sociedade
capitalista, do consumo de bens materiais. Ou seja,
aqueles que estão fora do processo produtivo
(desempregados e subempregados), do acesso a bens
culturais, saúde, educação, lazer e outros (direitos,
cidadania). O conceito de exclusão social veio
substituir, no Brasil, a partir dos anos oitenta, conceitos
menores e setoriais, como segregação, marginalização,
discriminação, miséria.

Organismos governamentais, organizações não-


governamentais, e organizações internacionais voltadas
para o desenvolvimento econômico e social (BID, Banco
Mundial, ONU e suas subsidiárias - UNESCO, UNICEF,
FAO e outras), tendo em vista o avanço da globalização
e do neoliberalismo, têm se preocupado com o
aumento significativo de populações marginalizadas.

Assim, a inclusão social se apresenta como um


processo de atitudes afirmativas, públicas e privadas,
no sentido de inserir, no contexto social mais amplo,
todos aqueles grupos ou populações marginalizados
historicamente ou em conseqüência das radicais mudan
Aula 1 | O que é inclusão? 11

ças políticas, econômicas ou tecnológicas. Uma das


dimensões do processo de inclusão social é a inclusão
Importante
escolar, conjunto de políticas públicas e particulares de
levar a escolarização a todos os segmentos humanos da A inclusão como
processo:
sociedade, com ênfase na infância e juventude. É importante a
inclusão social como
um amplo e
complexo processo
Nesse contexto, recebem atenção especial a onde estão
presentes atitudes
integração de portadores de deficiências (físicas ou
afirmativas voltadas
mentais) nas escolas regulares, o ensino voltado para a para a inserção de
grupos ou
formação profissionalizante e a constituição da populações
desfavorecidas no
consciência cidadã. contexto social mais
amplo.
Não se trata,
portanto, do
No Brasil, a Constituição de 1988, assim como a incentivo a ações
isoladas, mas a
LDB 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação consecução de um
projeto de
Nacional), destacam a importância e urgência de intervenção social
promover-se a inclusão educacional como elemento voltado para a
inclusão
formador da nacionalidade.

Os sistemas educacionais federais, estaduais e


municipais, assim como a rede privada de escolas, têm
envidado alguns esforços no sentido de operacionalizar
os dispositivos legais que exigem ou amparam
iniciativas no caminho da inclusão escolar.

A legislação a respeito, recente e ainda pouco


conhecida até pelo professorado, coloca a questão nos
termos os mais amplos possíveis: a inclusão escolar é
para todos aqueles que se encontram à margem do
sistema educacional.

Os questionamentos são de diferentes tipos -


técnicos, administrativos, institucionais - e a maior
parte revelando dois aspectos fundamentais: a
ignorância sobre as características das clientelas a
serem incluídas e o preconceito gerado a partir da
ignorância.

Clientela:
Aula 1 | O que é inclusão? 12

 Negros/pardos;
 Pobres;
 Crianças;
 Mulheres;
 Homossexuais;
 Idosos.
Para
navegar
Ou seja, a população desfavorecida
O educador de economicamente se encontra no lugar de alvo de
classe regular que
recebeu meu estigmas sociais.
filho/minha filha
para inclusão deverá
"cobrar" as tarefas e
comportamentos
Através de que instituição a educação inclusiva
dele/dela da mesma
terá exeqüibilidade? Sem dúvida, a escola pública,
forma que os demais
educandos? Para tradicionalmente reconhecida como a escola dos
estes e outros
questionamentos excluídos. Os professores estão preparados para esse
você poderá visitar o
site: empreendimento? Não, e é necessário proceder à sua
http://www.saci.org. formação, começando com a informação e a sua
br
conscientização O professor, como agente de mudança,
deve ter em mente, sempre, a responsabilidade social
que o cargo lhe confere e participar decisivamente do
esforço de inclusão - apesar dele mesmo, enquanto
categoria profissional, não receber reconhecimento, no
Brasil, de sua importância na formação educativa da
população.

A inclusão educacional é, certamente, o caminho


definitivo para que deixemos de ser o país de maior
riqueza (potencial) e, ao mesmo tempo, palco das
maiores injustiças sociais da história da humanidade.

Um pouco de história...

Regressando ao passado podemos entender que


a atenção à pessoa com necessidades educativas
especiais apresenta peculiaridades de segregação,
acompanhada de natural e gradativa exclusão em vários
momentos históricos e sob distintos contextos no Brasil
e no mundo.
Aula 1 | O que é inclusão? 13

Na Antigüidade, não há informações objetivas


registradas a respeito de como se caracterizava a
relação entre sociedade e deficiência nos meados da
Para pensar
vida cotidiana em Roma e na Grécia Antigas. Mas, na
literatura do período e na Bíblia, algumas passagens O que se pode
observar desse
permitem deduzir sobre a sua natureza e período histórico é
que a inclusão
procedimentos. A economia desses países, na estava diretamente
associada à
Antiguidade, se fundamentava nas atividades de
produção, as
produção e do comércio agrícola, pecuário e de sociedades se
organizavam pela
artesanato. atividade produtiva.
Nesse sentido, as
pessoas não
produtivas ficavam
O indivíduo, que trabalhava e que produzia, não isoladas da
sociedade e
usufruía os produtos, mas sim a nobreza. Às pessoas entregues à própria
sorte.
do povo eram destinadas somente as sobras, rejeitadas
pela nobreza. Nesse contexto, as pessoas diferentes,
com limitações funcionais e necessidades diferenciadas
(surdos, cegos, deficientes mentais, deficientes físicos,
órfãos, doentes, idosos etc.), eram praticamente
exterminadas por meio do desamparo, o que não
representava um problema de natureza ética ou moral.
A bíblia traz citações ao cego, ao manco e ao leproso –
a maioria dos quais sendo pedintes ou rejeitados pela
sociedade.

Na Idade Média, a economia (no mundo


ocidental) pouco mudou, continuando baseada em
atividades de pecuária, artesanato e agricultura. Por
outro lado, houve uma significativa mudança na
organização político-administrativa. A vinda do
cristianismo, como conseqüente constituição e
fortalecimento da Igreja Católica, desenvolveu
gradualmente um novo segmento: o clero. Ao povo
cabia somente o trabalho duro, sem jamais participar
dos processos decisórios e administrativos da
comunidade. Pessoas doentes, defeituosas e/ou
mentalmente afetadas em função da assunção das
idéias cristãs, não mais podiam ser mortas, pois eram
criaturas de Deus. Alguns eram “aproveitados” como
Aula 1 | O que é inclusão? 14

fonte de entretenimento, como bobos da corte, material


de exibição, ignorados à própria sorte.

No século XIII começaram a surgir instituições


para resguardar deficientes mentais. A educação nessa
época tinha duas vertentes de objetivos: uma, de
natureza religiosa, visando formar elementos para o
clero. Outra, caracterizada por objetivos exclusivos
diferenciados, dependendo do lugar e dos valores
assumidos pela comunidade, variando de formação
para o combate, até a formação para as artes.

Como conseqüência desse modelo de


funcionamento da sociedade, dois importantes e
decisivos processos instalaram-se e se sucederam, no
transcorrer de cinco séculos, a partir do século XII, com
momentos de maior ou menor tensão e gravidade: a
Inquisição Católica e a Reforma Protestante.

Com o poder nas mãos da igreja instalou-se


uma situação generalizada de abuso e manifestação de
inconsistência entre o discurso religioso e as ações de
grande parte do clero. Discordantes dentro e fora da
Igreja passaram a se manifestar cada vez mais e
amplamente. Documentos da Igreja que tinham a
função de orientar os membros do clero para identificar
e interrogar os suspeitos de heresia eram claramente
ameaçadores e perigosos para as pessoas com
Para refletir
deficiência, dentre estas, especialmente para as

Você conhece pessoas com deficiência mental. Não somente os


alguém:
- Que acha que a deficientes, mas todos que de alguma maneira
deficiência é uma
doença?
discordavam das ações do clero, bem como inimigos
- Que acha que as pessoais especialmente os que dispunham de posses
pessoas com
deficiência ficam foram sendo atingidos. A repulsa diante de tal situação
mais bem atendidas
em uma instituição culminou com o afastamento de Martinho Lutero,
especializada?
- E você, o que formalmente da igreja católica, formando uma nova
pensa?
igreja, com padrões opostos aos das práticas comuns.
Resultando na Reforma Protestante.
Aula 1 | O que é inclusão? 15

Na Antigüidade, a pessoa diferente não era


sequer considerada ser humano e no período medieval
a deficiência passou a ser de natureza religiosa, onde a
Leituras
pessoa deficiente por vezes estava possuída pelo
demônio, outras vezes sua deficiência era avaliada
O século XVII foi
como um castigo de Deus. palco de novos
avanços no
conhecimento
produzido na área
Do século XVI até os dias de hoje, percebemos da Medicina, o que
fortaleceu a tese da
as transformações ocorridas nesse período. No que se organicidade, e
ampliou a
refere à deficiência, começaram a surgir novas idéias, compreensão da
deficiência como
alusivas à sua natureza orgânica, fruto de causas processo natural.
Segundo Pessotti
naturais. Dessa forma, passou também a ser tratada (1984), John Locke
por meio da magia e da astrologia, métodos da então propôs, em sua obra
An Essay Concerning
iniciante medicina. Human
Understanding
(1690), que o
homem, ao nascer,
A questão da organicidade (defende que as é uma tabula rasa,
ou seja, um ser
deficiências são causadas por fatores naturais e não absolutamente vazio
de informações e de
fatores espirituais), como resultado dos avanços na experiências.
Segundo o autor,
área da medicina no séc. XVII, expandiu a sua mente vai se
preenchendo com a
compreensão da deficiência como processo natural. experiência,
fundamento de todo
Esse ponto favoreceu o aparecimento de ações de
o saber.
tratamento médico das pessoas com deficiência, Enquanto que a tese
da organicidade
enquanto que a questão do desenvolvimento por favoreceu o
surgimento de ações
estimulação encaminhou-se mesmo que lentamente de tratamento
médico das pessoas
para as ações do ensino, que se desenvolveu a partir com deficiência, a
tese do
do séc. XVIII. O primeiro paradigma formal a desenvolvimento por
meio da estimulação
caracterizar a relação da sociedade com a parcela da encaminhou-se,
embora muito
população constituída por pessoas com deficiência foi lentamente, para
denominado Paradigma da Institucionalização. ações de ensino, o
que vai se
desenvolver
definitivamente
As instituições eram na maioria das vezes somente a partir do
século XVIII.
presídios. Mosteiros, abrigos, hospitais psiquiátricos
Fonte: Cartilha do
constituíram-se em locais de confinamento e não em Projeto Escola Viva.

locais de terapia para deficiência. Apesar de todo http://portal.mec.go


v.br/seesp/arquivos/
progresso da medicina e de outras áreas de pdf/cartilha11.pdf
conhecimento acerca do funcionamento e tratamento
da deficiência, esse modelo permaneceu único por mais
de 500 anos.
Aula 1 | O que é inclusão? 16

No século XX, por volta dos anos 60, o


paradigma da institucionalização principiou a ser
estudado com mais critério. Após diversas apreciações
de distintos autores, revelou-se a discrepância e a
ineficiência da institucionalização, pois a mesma não
habilitava o deficiente a administrar o seu convívio na
sociedade, isso se chegasse a sair da instituição.

Os anos 60 marcaram-se forte e intensamente


por um processo geral de reflexão e de crítica sobre os
direitos humanos e, mais especificamente sobre os
direitos da minoria, liberdade sexual, sistemas e
organização político-econômica e seus efeitos na
construção da sociedade e da subjetividade humana, na
maioria dos países ocidentais. Nessa época o
capitalismo, no mundo ocidental, já tinha se
movimentado de mercantil para comercial,
encaminhando-se para o capitalismo financeiro. Era
atraente aumentar a produção e redução do ônus
populacional, tornando ativa toda e qualquer mão-de-
obra admissível.

A comunidade deveria se reorganizar para


proporcionar às pessoas com necessidades educativas
especiais, serviços e recursos de que precisavam,
viabilizando, assim, alterações que as tornassem mais
“normais” possíveis.

Suplantar o preconceito constitui trabalhar com


o potencial do indivíduo e não temas confinantes.
Confiar nas possibilidades da pessoa é basear o seu
trabalho no desenvolvimento verdadeiro e potencial
deste, eliminando a idéia de que, para a criança com
necessidades especiais, a aprendizagem consiste somente
em atividades de rotina como higiene, maneiras de
portar-se à mesa ou mesmo abotoar a camisa ou a
blusa.
Aula 1 | O que é inclusão? 17

A aprendizagem deveria, além disso, habilitar o


Para refletir
indivíduo à convivência, participação e auto-
sustentação na sociedade. Isto implica o não abandono
Sob quais condições
de objetivos curriculares relativos, também, ao fomos alunos? Para
pensar no aluno,
desenvolvimento intelectual do cidadão, ou seja, os de temos que pensar
na escola e, para
leitura, escrita e cálculo, conforme prevê a própria pensar na escola,
temos que pensar
Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990). na sociedade, da
qual a escola é parte
– assim como a
família, a Igreja, os
A atitude do educador perante a diferença de
poderes constituídos
seus alunos, oferecendo oportunidades de construção e os partidos
políticos. Então,
do conhecimento e respeitando o ritmo próprio de cada para pensar na
escola que certa vez
um, pode ser considerado um primeiro passo para a freqüentamos,
temos de pensar no
superação do preconceito. Esta maneira não advém todo. Concorda?

somente da prática habitual; deve estar integrada a um


conhecimento científico que mostra o desenvolvimento
da criança nos níveis afetivo, cognitivo e social, e suas
respectivas relações com os processos de
aprendizagem de cada indivíduo. A aprendizagem
ocorre para qualquer indivíduo.

No Brasil, o atendimento especial aos portadores


de deficiência começou oficialmente no dia 12 de
outubro de 1854, quando D. Pedro II fundou o Imperial
Instituto dos Meninos Cegos, no Rio de Janeiro.

Em 1942, quando já havia no país 40 escolas


públicas regulares que prestavam algum tipo de
atendimento a deficientes mentais e 14 que atendiam
alunos com outras deficiências, o Instituto Benjamin
Constant editou em braile a Revista Brasileira para
Cegos, primeira do gênero no Brasil.

A Educação Especial

Educação Especial deve ser congregada na


pesquisa e no desenvolvimento de novas formas de se
ensinar, apropriadas à heterogeneidade dos alunos e
compatíveis com os ideais democráticos, na função de
Aula 1 | O que é inclusão? 18

Para orientação, administração e acompanhamento das


navegar
condições educacionais adequadas num
questionamento entre o real e o indispensável.
Para ver e rever a
posição do Governo
Federal sobre a
Educação Especial, é Em escolas ativas para todos, o ambiente de
imprescindível
consultar o site da colaboração trabalha baseado na evolução das trocas
SEESP – Secretaria
de Educação intelectuais e culturais. Para que o mestre trabalhe
Especial, basta ir ao
site:
neste ambiente ideal, faz-se necessário apoio
emocional e estímulos profissionais através da
http://portal.mec.go
v.br/seesp valorização docente e da capacitação ininterrupta,
também, função da Educação Especial.

Até pouco tempo, a Educação Especial


trabalhava somente com o que dizia respeito aos
grupos excluídos em função de suas deficiências,
planejando atividades somente para os educadores que
possuíam crianças “especiais” e não toda a escola.
Bastava que apenas o professor desses educandos
conseguisse o conhecimento sobre eles.

O professor que possuía somente alunos


“normais” não adquiria o conhecimento respeitável e
necessário, comprovando, muitas vezes, seu
desinteresse e sua desvalorização acerca do alunado da
educação especial.

No processo de redefinição da educação


especial, a reformulação das aptidões dos profissionais
que se especializaram em ‘Educação Especial’ permite
discernirmos os profissionais que lidam com os
indivíduos com necessidades especiais da mesma forma
que seus alunos são sempre vistos: como meros
elementos a serem padronizados.

Educação especial é muito mais do que escola


especial. Como tal, sua prática não precisa (nem deve)
estar limitada a um sistema paralelo de educação, e
sim fazer parte da educação como um todo,
Aula 1 | O que é inclusão? 19

acontecendo nas escolas regulares e constituindo-se


em mais um sinal de qualidade em educação, quando Importante

oferecida a qualquer aluno que dela necessite, por


Podemos entender a
quaisquer que sejam os motivos (internos ou externos Educação Especial
de várias formas.
ao indivíduo). Portanto, nos casos em que uma tradição Contudo, de forma
geral, podemos
paralela do oferecimento da educação especial ainda
entendê-la como um
não esteja consolidada, concentrar esforços e processo
educacional definido
investimentos na inclusão em educação já seria, de por uma proposta
pedagógica que
início, uma vantagem, além de demonstrar consonância assegure recursos e
serviços
com as sugestões da Declaração de Salamanca. educacionais
especiais voltados
para a inclusão do
educando dentro e
O conceito de inclusão fora do contexto
educacional.

Aonde não exista afeto de fato não há


relação humana possível e, portanto
não haverá Inclusão.
(Almeida, Marina S. Rodrigues)

É a educação para todos, isto é, a educação que


visa reverter o trajeto da exclusão, ao criar condições,
estruturas e espaços para uma heterogeneidade de edu
candos. Assim, a escola será inclusiva quando
conseguir transformar não apenas a rede física, mas, a
postura, as atitudes e as mentalidades dos educadores
e da comunidade escolar em geral para aprender a lidar
com o heterogêneo e conviver espontaneamente com
as diferenças.
Para pensar

Podemos dizer que inclusão é: atender aos


A decisão pela
estudantes portadores de necessidades especiais na construção de um
sistema educacional
vizinhança da sua residência; propiciar o aumento do
inclusivo já foi
acesso destes alunos às classes comuns; propiciar aos tomada em nosso
país, e encontra-se
professores da classe comum um apoio técnico; que as apoiada em nossa
legislação. Sua
crianças podem aprender juntas, embora tendo efetivação,
entretanto, depende
objetivos e processos diferentes; propiciar um dos profissionais da
educação. Cabe ao
atendimento integrado ao professor de classe comum. professor ensinar na
diversidade, com
competência, tarefa
já habitual para ele.
Evidentemente, a importância da atenção de Já pensou nisso?
todos os seres humanos, profissionais ou não, para a
Aula 1 | O que é inclusão? 20

questão da inclusão deve dar-se de modo a situá-la,


não apenas no âmbito da escola ou da educação, mas,
no âmbito muito mais amplo da sociedade. Por outro
lado, nós temos ouvido, com certa apreensão e com
grande temor, referências a esta palavra como se fosse
mais um “modismo” do nosso sistema educacional.
Desde 1993 que estamos correndo sério risco de tratar
a integração de portadores de deficiência na escola
como um ingênuo modismo. Interessante notar que,
passados tão poucos anos, quase já não se fala mais
em integração.

Integração X inclusão

A integração e/ou inclusão na educação especial


tem sido, talvez, a questão mais discutida em nosso
país na última década (Mendes, 1994; Mantoan, 1997;
Glat, 1995 e 1998, entre outros).

Integração: Inclusão:

ALUNO
ESCOLA SOCIEDADE

PROCESSO DE ADEQUAÇÃO

ESCOLA SOCIEDADE PROCESSO DE ADAPTAÇÃO


ALUNO

Teoricamente, a integração pressupõe a


adequação do aluno à escola ou do sujeito à sociedade
na qual está inserido. A inclusão parte do princípio de
que a escola e a sociedade em geral é que devem ser
transformadas para adaptar-se às necessidades de
todos e de cada um. Por exemplo, uma criança com
deficiência, antes da inclusão, deveria apresentar
determinadas condições para ser integrada em uma
escola comum. No caso da inclusão, é a escola que
deve responder às necessidades específicas desta
criança. O mesmo acontece com a sociedade que deve
Aula 1 | O que é inclusão? 21

criar condições para responder às necessidades de


todos e de cada um dos cidadãos. Caso contrário, uma
pessoa que usa cadeira de rodas pode usá-la, mas, ela
não entra nos ônibus e nos prédios públicos; uma
pessoa cega domina bem o braille, a bengala e mesmo
o computador e não tem como se utilizar destes
recursos nos espaços freqüentados pelas demais
pessoas; uma pessoa surda sabe comunicar-se por
meio da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS e fica
dependente de comunicar-se somente com seus pares
surdos ou com os profissionais e familiares que
conhecem a LIBRAS. E o que dizer das pessoas com
paralisia cerebral, com diferentes síndromes entre
outras?

Por um lado, o tema da inclusão vem se


tornando um discurso fácil e pasteurizado. Por vezes, é
tratado de forma simplista e dissimulado como uma
solução para todos os males. Por outro lado, é uma pra-
tica difícil e adversa, o que justifica a obstinação por
parte de alguns. Geralmente, isto ocorre com todo
conhecimento ou teoria nova que, ao ser difundido,
costuma ser banalizado, desvirtuado. Existe um custoso
jogo de interesses e de relações de poder por trás do
preconceito e da resistência, sendo difícil romper com o
tradicionalismo e com o "status quo" das diversas
forças atuantes neste processo.

Para refletir
Podemos concluir que:

A inclusão não é um
 A prática da inclusão social se baseia em conceito novo. A
princípios diferentes do convencional: escola rural é
inclusiva. Na rural
aceitação das diferenças individuais, vão todos os
meninos e meninas
valorização de cada pessoa, convivência da comunidade,
inclusive os que têm
dentro da diversidade humana, aprendizagem deficiência.
Portanto, a inclusão
por meio da cooperação; não é algo novo, já
existe, e qual é,
então, o desafio? O
que é novo?
Aula 1 | O que é inclusão? 22

 A integração significa a inserção da pessoa


deficiente preparada para conviver na
sociedade. Já a inclusão significa a
modificação da sociedade como pré-requisito
para a pessoa com necessidades especiais
buscar seu desenvolvimento e exercer sua
cidadania. Então, é preciso preparar a escola
para incluir nela o aluno especial, e não o
contrário. Sem esquecer de construir rampas
Para pensar de acesso, banheiros especiais e salas mais
espaçosas.
Quando se fala na
inclusão de alunos
portadores de  Os preconceitos em relação à inclusão
necessidades
especiais em salas
poderão ser, pelo menos, reduzidos por meio
de aula regulares, das ações de sensibilização da sociedade e,
na escola pública,
duas constatações em seguida mediante a convivência na
se fazem sentir,
expressadas pela diversidade humana dentro das escolas
maioria do
professorado: inclusivas, das empresas inclusivas, dos
ignorância e
preconceito. programas de lazer inclusivo. Resultados já
IGNORÂNCIA por
não conhecerem existem que comprovam a eficácia da
adequadamente as
características desse educação inclusiva em melhorar os seguintes
tipo de clientela (os
antigamente
aspectos: comportamento da escola, no lar e
denominados na comunidade; resultados educacionais,
"deficientes"); e
PRECONCEITO por senso de cidadania, respeito mútuo,
reproduzirem a
percepção valorização das diferenças individuais e
estereotipada de
que se trata de aceitação das contribuições pequenas e
"gente diferente",
"doentes", grandes de todas as pessoas envolvidas no
"inadaptados",
"defeituosos" e processo de ensino-aprendizagem, dentro e
outras expressões
igualmente fora das escolas inclusivas.
equivocadas,
alimentada por
mitos ou O desenvolvimento da consciência de cidadania
representações
equivocadas sobre a não pode restringir-se à questão de direitos e deveres
natureza do
problema dos das pessoas em geral, mas deve abranger as questões
portadores de
necessidades referentes aos grupos excluídos ou rejeitados pela
especiais.
sociedade. A escola, enquanto agente que educa
Fonte:
crianças, jovens, adultos e idosos, precisa oferecer
http://www.conteud
oescola.com.br/site/ oportunidades para este tipo mais abrangente de
content/view/98/36/
formação de cidadãos. Mais do que isso, a escola
precisa oferecer oportunidades de desenvolvimento de
Aula 1 | O que é inclusão? 23

comportamento e atitudes baseados na diversidade


humana e nas diferenças individuais dos seus alunos.

Quando os educandos dos mais diferentes estilos


estudam juntos, podem se favorecer com os estímulos
e modelos comportamentais uns com os outros. O ser
humano necessita passar por esse tipo de experiência
para se desenvolver globalmente.

A convivência na diversidade humana pode


enriquecer nossa existência desenvolvendo, em
variados graus, os diversos tipos de inteligência que
cada um de nós possui. O fato de cada pessoa interagir
com tantas outras pessoas, todas diferentes entre si
em termos de características pessoais, necessidades,
potencialidades, habilidades etc., é a base do
desenvolvimento de todos para uma vida mais
benéfica, rica e próspera.

Infelizmente, as classes numerosas no sistema


educacional público é um fato. Sem dúvida, as classes
preferencialmente com menor número de alunos
contribuem para facilitar a inclusão. O que mais
interfere na ação pedagógica do docente é a sensação
de despreparo, não ter recursos suficientes para
receber o educando com necessidades educacionais
especiais, sendo que em muitos casos já vinha se
sentindo impotente para atender seus alunos regulares.

Há necessidade do professor de ensino regular


receber orientação e habilitação contínua, do contrário
não lograremos sucesso, pelo contrário, suscitaremos
angústia, humilhação, falta de compreensão, fraqueza,
rejeições, fortalecimento de preconceitos etc.

Segundo Cláudia Werneck, em seu livro


Ninguém Mais Vai Ser Bonzinho na Sociedade Inclusiva:
"Partindo da premissa de que quanto mais a criança
Aula 1 | O que é inclusão? 24

interage espontaneamente com situações diferenciadas,


Para refletir mais ela adquire o genuíno conhecimento, fica fácil
entender por que a segregação não é prejudicial apenas
Se há uma política
educativa que para o aluno com deficiência. A segregação prejudica
aposta na inclusão,
é preciso empenhar- todos, porque impede que as crianças das escolas
se para que os
professores tenham regulares tenham oportunidade de conhecer a vida
as condições
mínimas para se
humana com todas as suas dimensões e desafios. Sem
reunir, para pensar bons desafios, como evoluir?"
juntos etc. E o
trabalho em
colaboração implica
não somente os De acordo com o relatório da ONU, todo mundo
docentes, mas
implica também os se beneficia da educação inclusiva. Veja as vantagens:
pais. O trabalho
cooperativo implica,
além desses
elementos, um nível ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA
de igualdade na
relação, e uma
complementação
nos conhecimentos,
Aprendem a gostar da diversidade; adquirem
pontos de vista e experiência direta com a variedade das capacidades
perspectivas. No
trabalho humanas; demonstram crescente responsabilidade e
colaborativo,
ninguém é mais do melhor aprendizagem através do trabalho em grupo,
que ninguém; o
especialista não é com outros deficientes ou não; ficam melhor preparados
mais do que o
docente. São iguais. para a vida adulta em uma sociedade diversificada:
Têm conhecimentos
diferentes, que entendem que são diferentes, mas não inferiores.
juntos potencializam
a resolução dos
problemas. Você
concorda?
ESTUDANTES SEM DEFICIÊNCIA

Têm acesso a uma gama bem mais ampla de


papéis sociais; perdem o medo e o preconceito em
relação ao diferente; desenvolvem a cooperação e a
tolerância; adquirem grande senso de responsabilidade e
Dica da
professora melhoram o rendimento escolar; são mais bem
preparados para a vida adulta porque desde cedo
Levante, junto à sua
comunidade, assimilam que as pessoas, as famílias e os espaços
questões sobre a
deficiência e, em
sociais não são homogêneos e que as diferenças são
especial da inclusão, enriquecedoras para o ser humano.
na rede regular de
ensino. Depois, em
um segundo
momento, busque Educação especial é muito mais do que escola
analisar essas
questões com especial. Como tal, sua prática não precisa estar
professores e pais
da sua escola. limitada a um sistema análogo de educação, e sim
fazer parte da educação como um todo, acontecendo
Aula 1 | O que é inclusão? 25

nas escolas regulares e constituindo-se em mais um


sinal de atributo em educação, quando oferecida a
qualquer aluno que dela necessite, por quaisquer que
sejam os motivos (internos ou externos ao indivíduo).
Portanto, nos casos em que uma tradição paralela do
oferecimento da educação especial ainda não esteja
consolidada, aplicar esforços e investimentos na
inclusão em educação já seria, de início, um benefício,
além de demonstrar consenso com as sugestões da
Declaração de Salamanca.

Inclusão até a Declaração de Salamanca

Já se afirmou inúmeras vezes (ver, por exemplo:


Fish, 1985; Cole, 1990) que a educação especial na
maioria das nações tem, a tolo modo, seguido padrão
semelhante de evolução. Num primeiro período,
caracterizado pela segregação e exclusão, a "clientela" é
simplesmente ignorada, evitada, abandonada ou
aprisionada, quando não exterminada.

Num segundo, há uma modificação no olhar


sobre a referida "clientela", que passa a ser percebida
como detentora de certas capacidades, ainda que
limitadas, como por exemplo, a de aprendizagem. Em
função desta modificação, ocorre o que poderíamos
chamar de "velha integração", como propõem Rieser &
Mason (sem data). Ou seja, os excluídos começam a ser
integrados a certos setores sociais, mas ainda
predomina um olhar de tutela, e as práticas
correspondentes, no que lhes diz respeito, muito
embora já não seja mais a de rejeição e temor, ainda
seria excludente, na medida em que se propõe a
"protegê-los", utilizando-se, para tanto, de asilos, dos
quais estes indivíduos raramente sairiam, e nos quais
seriam submetidos a tratamentos e práticas, no
mínimo, alienantes.
Aula 1 | O que é inclusão? 26

E num terceiro momento, caracterizado pelo


reconhecimento do valor humano destes indivíduos, e
como tal, o reconhecimento de seus direitos. Aqui
poderíamos caracterizar o segundo momento do
movimento pela inclusão como denominado de "nova
integração" (Rieser & Mason, sem data), ou inclusão
propriamente dita. Na maioria dos países, este
Para pensar momento tem se acirrado em especial a partir da
década de 60 do presente século, e nele se verifica
O papel social da uma predominância dos seguintes aspectos:
universidade passa
principalmente por
esses três últimos
pontos  Os avanços científicos, cuja produção e
desenvolvendo
estudos e pesquisas disseminação de conhecimento vêm não
na área, assim como
colaborar para a apenas promovendo a desmistificação de
formação de
profissionais certos preconceitos fundados na ausência de
sensíveis à questão
da inclusão. conhecimento sobre as diferenças da espécie
humana, como também alertando para a
necessidade cada vez mais imprescindível da
união de povos em função da defesa do
mundo por motivos ecológicos que hoje nos
são óbvios;

 Um crescente pensar de cunho sociológico


apontando e discutindo consistentemente o
significado de práticas discriminatórias e
bradando por um mundo democrata;

 O progresso tecnológico, principalmente no


terreno das telecomunicações, que vem
aproximando ainda mais os povos e
difundindo ainda mais rapidamente os
conhecimentos, ao mesmo tempo em que
provocando a necessidade de uma força de
trabalho cada vez mais formada e
especializada, capacitada para atender à
concorrência que o progresso tecnológico,
entre outros aspectos, impõe às sociedades
modernas.
Aula 1 | O que é inclusão? 27

Por mais paradoxais e contraditórios que possam


parecer, todos esses aspectos vêm se refletindo Você sabia?

conjuntamente nos sistemas educacionais dos mais


Na Conferência
diversos países, ainda que em alguns estas imagens Mundial de Educação
para Todos de
venham sendo observadas mais tardiamente. O fato é Jomtiem, Tailândia,
realizada em 1990,
que tais reflexos geram implicações inevitáveis à
155 governos
educação especial. prometeram uma
educação para todos
até o ano de 2000.
A promessa não se
Por um lado, o mundo prima pela igualdade de cumpriu e em 1999
foi lançada por
importância entre seres humanos, e como tal, pela ONGs, sindicatos de
professores e
segurança da igualdade de direitos entre os mesmos. agências de
desenvolvimento de
Por outro lado, este mesmo mundo já não mais admite 180 países, a
campanha global
a existência da ignorância, seja porque ela provoca o pela educação. O
objetivo da
atrelamento que incapacita o deleite de direitos, ou
campanha foi
seja, porque ela exclui o ser humano de um ritmo de exercer pressão
pública sobre os
produção cada vez mais vital àquela crescente governos para que
cumprissem o
competitividade, por lhes dificultar o exercício pleno de compromisso de
garantir uma
um de seus deveres como cidadãos: o de trabalhador educação gratuita e
de qualidade para
produtivo e, conseqüentemente, o de contribuinte. todos, em particular
os grupos mais
excluídos (prioridade
para crianças e
Nasce, assim, a necessidade de indivíduos mulheres).
cidadãos, sabedores e conscientes de seus valores e de
seus direitos e deveres. Cresce, portanto, a importância
da educação, e, mais ainda, a importância da inserção
de todos num programa educacional que pelo menos
lhes tire da condição de ignorantes. Em conseqüência
cresce, também, a necessidade de se planejar
programas educacionais flexíveis que possam abranger
o mais variado tipo de alunado e que possam, ao
mesmo tempo, oferecer o mesmo conteúdo curricular,
sem perda da qualidade do ensino e da aprendizagem.

É neste espírito, acreditando que a indigência e


o infortúnio verificados no mundo atual são produtos,
em grande parte, da falta de conhecimento a respeito
de seus deveres e direitos, e acreditando ainda que a
própria falta de segurança deste direito fundamental
que é o da educação (e do acesso ao conhecimento)
Aula 1 | O que é inclusão? 28

constitui fonte de injustiça social, que a Conferência


Importante Mundial de Jomtiem sobre Educação para Todos
aconteceu, em 1990, e adotou como objetivo o
Observe que os dois
primeiros itens oferecimento de educação para todos até o ano 2000.
desses três objetivos
já são metas
alcançadas, Entre os assuntos principais de discussão na
entretanto, o
terceiro objetivo mencionada Conferência, destacou-se a necessidade de
carece de
significativas ações se prover maiores oportunidades de uma educação
públicas tanto no
aspecto duradoura, que por sua vez implica três objetivos
administrativo
quanto pedagógico diretamente relacionados, e que trarão conseqüências à
para garantir tais
mudanças. educação especial:

 Estabelecimento de metas claras que


aumentem o número de crianças
freqüentando a escola;

 Tomada de providências que assegurem a


permanência da criança na escola por um
tempo longo o suficiente que lhe possibilite
obter um real benefício da escolarização;

 Início de reformas educacionais significativas


que assegurem que a escola inclua em suas
atividades, seus currículos, e através de seus
professores, serviços que realmente
correspondam às necessidades de seus alunos,
de seus respectivos pais e das comunidades
locais, e que correspondam às necessidades
das nações de formarem cidadãos
responsáveis e instruídos.

Em abril de 2000, no Forum Mundial De Dacar, os


governos adiaram o compromisso assumido em
Jomtiem por mais 15 anos. Na ocasião foram
definidas seis metas e propostas, doze grandes
estratégias para o alcance de uma “educação para
todos” até o ano de 2015.

Metas de Dacar:
1. Expandir e melhorar o cuidado e a educação
dirigida à 1ª infância, especialmente as crianças
Aula 1 | O que é inclusão? 29

mais vulneráveis e em maior desvantagem


2. Assegurar que todas as crianças, com ênfase
especial nas meninas e crianças em circunstâncias
difíceis, tenham acesso à educação primária
obrigatória, gratuita e de boa qualidade, até o ano
2015.
3. Assegurar que as necessidades de aprendizagem
de todos os jovens e adultos sejam atendidas pelo
acesso eqüitativo à aprendizagem apropriada, às
habilidades para a vida e a programas de formação
para a cidadania.
4. Alcançar uma melhoria de 50% nos níveis de
alfabetização de adultos até 2015, especialmente
para mulheres, e acesso eqüitativo à educação
básica e continuada para todos os adultos.
5. Eliminar disparidades de gênero na educação
primária e secundária até 2005 e alcançar a
igualdade de gênero na educação até 2015, com
enfoque na garantia ao acesso e ao desempenho
pleno e eqüitativo de meninas na educação básica
de boa qualidade.
6. Melhorar todos os aspectos da qualidade da
educação e assegurar excelência para todos, de
forma a garantir a todos resultados reconhecidos e
mensuráveis, especialmente na alfabetização,
matemática e habilidades essenciais à vida.

Integração após a Declaração de


Salamanca

Uma consequência imediatamente visível à


educação especial reside na ampliação da clientela
potencialmente nomeada como possuindo necessidades
educacionais especiais. Uma outra se verifica na
necessidade de inclusão da própria educação especial
dentro desta estrutura de "educação para todos",
oficializada em Jomtiem. Entre outras coisas, o aspecto
inovador da Declaração de Salamanca consiste
justamente na retomada de discussões sobre estas
decorrências e no encaminhamento de diretrizes
básicas para a formulação e reforma de políticas e
sistemas educacionais.

Assim, segundo o seu próprio documento,


afirma (UNESCO/Ministry of Education and Science –
Spain, 1994), a Conferência de Salamanca:
Aula 1 | O que é inclusão? 30

...proporcionou uma oportunidade


única de colocação da educação
especial dentro da estrutura de
‘educação para todos’ firmada em
1990 (...) Ela promoveu uma
plataforma que afirma o princípio e a
discussão da prática de garantia da
inclusão das crianças com
necessidades educacionais especiais
nestas iniciativas e a tomada de seus
lugares de direito numa sociedade de
aprendizagem.
(p.15)

No que diz respeito ao conceito de necessidades


educacionais especiais, a Declaração assegura que:

...durante os últimos 15 ou 20 anos,


tem se tornado claro que o conceito de
necessidades educacionais especiais
teve que ser ampliado para incluir
todas as crianças que não estejam
conseguindo se beneficiar com a
escola, seja por que motivo for.
(p.15)

Deste modo, o conceito de "necessidades


educacionais especiais" passará a abranger, além das
crianças portadoras de deficiências, aquelas que
estejam experimentando dificuldades passageiras ou
permanentes na escola, as que estejam repetindo
consecutivamente os anos escolares, as que sejam
obrigadas a trabalhar, as que vivem nas ruas, as que
moram afastadas de quaisquer escolas, as que vivem
em condições de extremada miséria ou que sejam
desnutridas, as que sejam vítimas de guerra ou
conflitos armados, as que sofrem de abusos sucessivos
físicos, emocionais e sexuais, ou as que simplesmente
Para refletir estão fora da escola, por qualquer motivo que seja.

Como efetivar, na
prática, sistemas Podemos completar que:
escolares inclusivos
que atendam as
necessidades  Até duas ou três décadas atrás, o objeto-alvo
individuais de
aprendizagem de da educação especial eram as pessoas
cada educando?
portadoras de deficiências;
Aula 1 | O que é inclusão? 31

 Neste sentido, a educação especial poderia


ser considerada predominantemente em seu
sentido prático, enquanto provedora de
serviços a uma certa "clientela", e quase
invariavelmente, em um determinado
ambiente "especial" (segregado), mais
propício ao respectivo "tratamento" a ser
dado à sua "clientela";

 O que, por sua vez, implicava a existência de


dois sistemas paralelos de educação: o
regular e o especial;

 Dados os acontecimentos e progressão


históricos de lá para cá, ou seja, o
fortalecimento de ideais democráticos e seus
respectivos reflexos nas formulações de
políticas em diversas áreas (educacional,
social, de saúde etc.) de vários países, e no
planejamento e implementação das
respectivas práticas (sugeridas por tais
políticas ou resultantes do processo histórico
em direção a princípios igualitários), a
"especialidade" da educação especial
(parafraseando Carvalho, em Conferência no
Congresso Internacional de Educação Para refletir

Especial, em Curitiba, 1996) começa a ser


Como você vê esse
colocada em questão; sistema paralelo de
ensino a que a
autora se refere?
Já se deparou com
 Em outras palavras, se o objeto-alvo da este em sua prática
escolar?
educação especial passou a ser tão
Concorda que o
aumentado, a persistência em sua definição mesmo existe ou
entende que a
em termos predominantemente associados a autora foi radical em
sua afirmação?
apenas um tipo de "clientela" não lhe Reflita sobre essa
questão e suas
permitiria mais dar conta de suas próprias conseqüências.

tarefas;
Aula 1 | O que é inclusão? 32

 Isso sem levar em conta que, mesmo para


algumas de suas tarefas tradicionais, a
educação especial já não vinha alcançando
muito êxito em fornecer respostas eficazes. A
esse respeito, não são poucas as pesquisas que
verificam que a existência de um sistema
paralelo de ensino não representa,
necessariamente, uma providência
educacional de maior qualidade, muito menos
garante o afastamento das "dificuldades"
encaminhadas às escolas especiais;

 Tais conclusões são colocadas com


embasamento em dados que mostram que o
grau de fracasso escolar apurado na
"clientela" da educação especial é quase tão
espantoso quanto o do alunado da educação
regular. Estes estudos, em geral, apontam
para a relatividade do conceito de
"necessidades educacionais especiais", e para
a necessidade de haver um ensino
especializado que complemente a provisão
educacional regular, fazendo, portanto, parte
desta, e não se constituindo num sistema à
parte, com instituições próprias que
encarecem ainda mais os serviços sem
necessariamente melhorar a qualidade (ver,
por exemplo: Booth, 1987; Cole, 1990;

Para pensar Mittler, 1993);

Essa é uma das  Da mesma forma que a educação especial, a


grandes lições desse
educação regular também sofre suas
caderno de estudos.
Todos nós em maior conseqüências: o aumento do contingente de
ou menor grau
possuímos ‘fracassados’ e excluídos apenas formaliza a
necessidades
especiais, somos constatação de sua ineficácia e amplia a
humanos se não
seres perfeitos que obviedade da falácia dela ser um instrumento
nunca têm
problemas ou social de justiça e promoção social. Esta
necessidades a
serem surgidas. educação, portanto, também precisava ser
revista;
Aula 1 | O que é inclusão? 33

 Com isto, o que esta nova concepção,


extremamente abrangente, de "necessidades
educacionais especiais" provoca é uma
aproximação destes dois tipos de ensino, o
regular e o especial, na medida em que esta
nova definição implica que, potencialmente,
todos nós possuímos ou podemos
possuir, temporária ou
permanentemente, "necessidades
educacionais especiais". E, se assim o é,
então não há porque haver dois sistemas
equivalentes de ensino, mas sim um sistema
único, que seja capaz de prover educação
para todo o seu alunado (por oposição a
clientela), por mais distinto que este possa
ser ou estar;

 Educação inclusiva significa que os alunos com


deficiência estão sendo ensinados no mesmo
contexto curricular e instrucional com os
demais colegas de sala de aula. Materiais
curriculares comuns podem precisar ser
adaptados, mas somente até o nível necessário
para satisfazer as necessidades de Para pensar

aprendizagem de qualquer aluno;


As regras e normas
só têm condições de
 Não se trata, portanto, nem de abolir com se efetivarem caso
sejam reconhecidas
um, nem de acabar com o outro sistema de
e respeitadas por
ensino, mas sim de unificá-los num sistema todos aqueles que
constituem na
que parta do mesmo princípio (de que todos sociedade
deficientes ou não.
os seres humanos possuem o mesmo valor, e Por isso faz-se
necessária a
os mesmo direitos), otimizando seus conscientização de
todos sobre os
empenhos e se utilizando de práticas direitos e deveres
daqueles que
diferenciadas, sempre que necessário, para possuem
necessidades
que tais direitos sejam garantidos. E isto quer especiais para a
construção de uma
dizer, na prática, incluir a educação especial
sociedade inclusiva
na estrutura de "educação para todos", de fato e não apenas
de direito.
conforme citado na declaração de Salamanca.
Aula 1 | O que é inclusão? 34

Conclusão

O compromisso que conduz qualquer relação


humana deve ser de respeito às singularidades.
Qualquer regra, norma ou lei só tem efeito se as
pessoas reconhecem o valor que adquirem no convívio
social, pois se sabe que é possível que uma lei seja
integralmente cumprida sem que nenhum compromisso
seja assumido com os seres humanos ali envolvidos. O
que se espera num trabalho de inclusão é que este
compromisso seja verdadeiro, do contrário ela não é
possível e estamos, então, diante de um trabalho de
integração, de simples convivência.

Nenhuma escola está totalmente preparada para


receber uma criança com necessidades especiais
porque é impossível prever qual é a especificidade de
cada uma, mas à medida que cada aluno chega, é
possível avaliar os recursos materiais disponíveis na
instituição. Isto envolve desde o acesso físico aos
espaços e aos recursos pedagógicos (materiais e
instrumentos específicos), até a disponibilidade dos
profissionais. Adaptações na instituição de ensino serão
sempre necessárias quando se trata de receber uma
criança com necessidades especiais e, dentro das
possibilidades da escola, todo esforço para isto deve ser
empreendido.

Nenhum educandário tem acesso prévio às


exigências educacionais de uma criança. É só no
momento em que uma família procura uma
determinada instituição de ensino que a demanda
específica se coloca. Por isto não é possível assegurar-
se previamente de todas as exigências que a escola
sofrerá. Ao se perceber que a permanência adequada
de um aluno no colégio exige atitudes e preparações
específicas e permanentes, está-se diante de um caso
de inclusão e algumas providências são necessárias.
Aula 1 | O que é inclusão? 35

Através dos recursos da própria escola, a criança


deve ser avaliada em suas capacidades pedagógicas e
de relacionamentos sociais, e em sua adaptação física
com relação ao espaço escolar. Muitas vezes avaliações
complementares de outros profissionais (psicólogos,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas etc.) podem ser
solicitadas aos pais, mas estas não podem ser exigidas
como condição de ingresso e permanência na escola,
pois devem obedecer aos recursos de que as famílias
dispõem para fazer tais avaliações. Estes pareceres
devem servir como auxiliares na preparação do plano
educacional que será traçado para o aluno, desde a
escolha de sua sala de aula, até a eventual adaptação
curricular e de grade horária.

É preciso envolver os pais no processo de


inclusão para que este seja efetivo, a escola deve
solicitar a disponibilidade familiar para que possa haver
trocas rápidas de informações sobre o que está sendo
oferecido à criança e qual o seu aproveitamento, pois
as soluções para as dificuldades encontradas não
podem prescindir do envolvimento e da Dica da
professora
responsabilidade também dos pais.

Você concluiu a
A Inclusão, ainda que seja um procedimento leitura da primeira
aula de Educação
amparado pela legislação vigente, precisa de alguns Inclusiva e Especial.

cuidados para que se efetive com sucesso na prática. Parabéns!

Um deles é informar e sensibilizar toda a comunidade Continue seus


estudos procurando
em geral. O desconhecimento e o conseqüente medo melhorar ainda mais
seu
por parte das pessoas são obstáculos às situações em comprometimento
que as pessoas com deficiência possam conviver com com seu sucesso
profissional.
as demais. Esperamos que esta
aula lhe tenha sido
de grande valia.

Podemos concluir que o maior desafio, neste Sucesso!

momento, para as instituições educacionais é


compreender o verdadeiro sentido da educação
inclusiva, seus desafios e suas possibilidades; identificar
quem é o portador de necessidades especiais; conheceras
Aula 1 | O que é inclusão? 36

diferentes deficiências, os problemas de aprendizagem e


de comportamento, bem como suas respectivas formas
de trabalho; conhecer os diferentes processos de
diagnóstico e de encaminhamentos para os portadores
de necessidades especiais, e assim conduzi-los à
integração da sociedade.

EXERCÍCIO 1

Embora o conhecimento sobre os fatores que conduzem


a deficiências tenha se ampliado, ainda nos deparamos
com pessoas que acreditam que a deficiência é um
castigo de Deus ou a expiação de alguma culpa.
Fundamentado na leitura do caderno, elabore uma
justificativa que explique 3 (três) possíveis fatores
causais de deficiências.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 | O que é inclusão? 37

EXERCÍCIO 2

Assinale a única alternativa incorreta. De acordo com a


“declaração de Salamanca”, podemos afirmar que:

( A ) O conceito de necessidades educacionais especiais


teve que ser ampliado para incluir todas as
crianças que não estejam conseguindo se
beneficiar com a escola, seja por que motivo for;
(B) O conceito de “necessidades educacionais
especiais” passou a abranger, além das crianças
portadoras de deficiências, aquelas que estejam
experimentando dificuldades passageiras ou
permanentes na escola;
( C ) Até duas ou três décadas atrás, o objeto-alvo da
educação especial eram as pessoas portadoras de
deficiências;
( D ) O grau de fracasso escolar apurado na “clientela”
da educação especial é quase tão espantoso
quanto o do alunado da educação regular;
( E ) O termo “necessidades educacionais especiais”
provoca um afastamento de dois tipos de ensino:
o regular e o especial.
Aula 1 | O que é inclusão? 38

EXERCÍCIO 3

É errado afirmar sobre a “integração” que esta:

( A ) pressupõe a adequação do aluno à escola ou do


sujeito à sociedade na qual está inserido;
( B ) parte do princípio de que a escola e a sociedade
em geral é que devem ser transformadas para
adaptar-se às necessidades de todos e de cada
um;
( C ) significa a inserção da pessoa deficiente
preparada para conviver na sociedade;
( D ) defende que uma criança, com deficiência, deve
apresentar determinadas condições para ser
integrada em uma escola comum;
( E ) clientela da educação especial passa a ser
percebida como detentora de certas capacidades,
ainda que limitadas, como por exemplo, a de
aprendizagem.

EXERCÍCIO 4

Defina o que vem a ser uma Instituição de Educação


Especial.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 | O que é inclusão? 39

EXERCÍCIO 5

Destaque as vantagens da Educação Inclusiva para


estudantes com deficiência.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 A diferença da idéia de inclusão e de


integração, observando a relevância do
compromisso de que qualquer relação
humana deve ter de respeito às diferenças;

 A identificação de que atualmente as escolas


não estão suficientemente preparadas para
receber alunos com necessidades especiais,
embora avaliem as necessidades que podem
ser respondidas e as inovações possíveis;

 A necessidade de envolvimento dos pais no


processo de inclusão, principalmente, nas
soluções para as dificuldades encontradas,
com responsabilidade.
2

AULA
As Perspectivas da
Inclusão
Edla Trocoli

Nesta aula apresentaremos as diferentes formas que já foram


Apresentação

chamados os portadores de necessidades especiais, porém


sempre revelando formas preconceituosas e discriminatórias. É
analisada a adoção de uma proposta curricular mais flexível e que
também se prepare melhor o professor para a escola inclusiva,
dotado de características essenciais, como: competência,
criatividade e criticidade. Além disso, pondera-se a importância de
integração entre as áreas do conhecimento e a concepção
transversal das novas propostas de organização curricular que
considera as disciplinas acadêmicas como meios e não fins em si
mesmas, a partir do respeito à realidade do aluno, de suas
experiências de vida cotidiana, para chegar à sistematização do
saber. Constata-se que a avaliação deve ser revista e alterada a
forma tradicional.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Aprofundar a idéia de cooperação entre todos os participantes


do processo educacional (pais, professores, alunos,
coordenadores pedagógicos, diretores, comunidade etc.);
 Identificar os aspectos legais referentes a lei nº 9394/96, que
estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e
discute as finalidades do educação básica, que devem ser
implementados respeitando o direito de todos;
 Conhecer e discutir as formas de aplicação dos currículos mais
adequadas as necessidades educacionais especiais, assim como
também a avaliação.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 42

Introdução

Na última década do século XX, a expressão


“alunos portadores de necessidades especiais” passou a
constar nas publicações oficiais do Ministério da
Educação (MEC) e de diversos autores brasileiros,
chegando-se, muitas vezes, à sua vulgarização com o
uso da sigla PNE. Os alunos são, assim, identificados
meramente como PNEs e lhes é proposta a Educação
Especial (EE) ou agora a versão “politicamente correta”
Educação Inclusiva (EI). Tais expressões eufemísticas,
além de inapropriadas, acabam por reificar os alunos.
“A simples mudança de termos, na legislação, nos
planos educacionais e documentos oficiais, não tem
sido acompanhada de qualquer alteração de significado.
Exemplo disso são os termos “excepcional”, “aluno com
problemas de conduta”, “aluno superdotado”, que
foram substituídos, respectivamente, por “portador de
necessidades especiais”, “aluno com condutas típicas” e
“aluno com altas habilidades.” Em vez de representar
melhoria nas posições governamentais com relação à
educação, comum e especial, do portador de
deficiência, tais alterações contribuem, muitas vezes,
para o esquecimento do sentido de “deficiência” e suas
implicações individuais e sociais. Além disso, tendem a
confundir o entendimento das diretrizes e normas
traçadas, o que, por conseqüência, acarreta prejuízos à
qualidade dos serviços prestados (Mazzotta, 1996:
199).

A Lei no. 9394/96, que estabelece as Diretrizes


e Bases da Educação Nacional (LDB), dispõe que a
educação básica tem por finalidade desenvolver o
Para refletir educando, assegurando-lhe a formação comum
indispensável ao exercício da cidadania e meios
Seria possível
cumprir tal projeto
para progredir no trabalho e em estudos
ignorando a questão
posteriores. Para o grau do ensino fundamental,
da inclusão?
obrigatório e gratuito nas escolas públicas, define o obje
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 43

tivo de formação básica do cidadão, mediante: o


desenvolvimento da competência de aprendizagem,
tendo pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
a compreensão do ambiente natural e social, do
sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
em que se fundamenta a sociedade; o desenvolvimento
da capacidade de aprendizagem de conhecimentos,
habilidades e formação de atitudes e valores; bem
Quer
como o fortalecimento dos vínculos de família, de saber mais?

solidariedade humana e de tolerância recíproca. Essas


O Relatório
disposições legais e normativas refletem uma Jacques Delors
(RJD) resultou dos
percepção democrática da educação escolar que não trabalhos
desenvolvidos, de
comporta qualquer tipo de exclusão, de crianças, 1993 a 1996, pela
jovens ou adultos, sob nenhum pretexto. Comissão
Internacional sobre
a Educação para o
Século XXI, da
Acreditamos que, ainda por alguns anos, nosso Organização das
sistema escolar dependerá de auxílios e serviços Nações Unidas para
a Educação, Ciência
educacionais escolares especiais ou especializados e Cultura (UNESCO),
com a qual
para, de fato, atender com capacidade alunos que colaboraram
educadores do
apresentem necessidades educacionais especiais. mundo inteiro.
Publicado no Brasil
Dentro dos propósitos dessa exposição, convém reiterar sob o título de
Educação – um
que no amplo segmento de pessoas com deficiência são tesouro a descobrir
(2000), representa a
numerosas aquelas que numa situação escolar não síntese do
pensamento
requerem qualquer tipo de auxílio ou serviço de pedagógico oficial da
educação especial, podendo se beneficiar dos serviços humanidade, neste
final de milênio, já
escolares comuns. Esta é a opção preferencial, inclusive que foi formulado e
lançado sob a
prevista na Constituição Federal. É oportuno, ainda, chancela do órgão
máximo responsável
resgatar do “Relatório Jacques Delors”, elaborado pelo setor
educacional no
sob os auspícios da UNESCO pela Comissão planeta. Por isso,
não há como
Internacional sobre Educação para o Século XXI, que as considerar os “Re-
aprenderes
aprendizagens necessárias a todo ser humano se Necessários” aos
homens e mulheres
estendem por toda a vida, devendo, por isso, a do século XXI,
educação basear-se em quatro pilares: “aprender a desconhecendo esse
Relatório.
conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e De acordo com o
Delors, a educação
aprender a ser”. Em face disso, embora os sistemas necessária ao século
que se inicia poderia
escolares tendam a privilegiar o acesso ao ser sintetizada em
um de seus
conhecimento, é fundamental que a educação seja parágrafos:

concebida como um todo e que nenhuma das


potencialidades de cada indivíduo seja negligenciada.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 44

Numa sociedade onde a crescente falta de


Quer respeito a si e ao outro se exterioriza em discriminação
saber mais?
negativa, concorrência, corrupção, marginalização e
exclusão; onde a solidariedade, tolerância, aceitação e
CONTINUAÇÃO:
“Para poder dar colaboração têm sido atitudes raras, em suas variadas
respostas ao
conjunto de suas instâncias, e a ética tem sido algo cada vez mais
missões, a educação
deve organizar-se distante e desconhecido nas relações humanas, por
em torno de quatro
aprendizagens certo muito se espera da escola. O fundamental é que
fundamentais que,
ao longo de toda a ela se firme como espaço privilegiado das relações
vida, serão de algum
modo para cada sociais para todos, não desconhecendo, portanto,
indivíduo do
conhecimento: aqueles que apresentem necessidades educacionais
aprender a
especiais. Em outros termos, receber "crianças com
conhecer, isto é,
adquirir os deficiências e crianças bem dotadas, crianças que
instrumentos da
compreensão; vivem nas ruas e que trabalham, crianças de minorias
aprender a fazer,
para poder agir lingüísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros
sobre o meio
envolvente; grupos ou zonas, desfavorecidos ou marginalizados...",
aprender a viver
juntos, a fim de conforme aponta a Declaração de Salamanca (UNESCO,
participar e cooperar
com os outros em 1994, p.18).
todas as atividades
humanas;
finalmente, aprender
No entanto, a efetivação da educação escolar
a ser, via essencial
que integra as três para todos - mediante recursos tais como educação
precedentes”.
especial, preferencialmente na rede regular de ensino,
para os que a requeiram ou educação inclusiva onde a
Para
navegar diversidade de condições dos alunos possa ser
competentemente contemplada e atendida -
Visite o site da
UNESCO:
demandará uma ação governamental e não-
governamental marcada pela sinergia, que algumas
http://www.unesco.
org.br vezes parece ser até enunciada. Isto sem ignorar que a
É a Organização das verdadeira inclusão escolar e social implica,
Nações Unidas para
a Educação, a essencialmente, a vivência de sentimentos e atitudes
Ciência e a Cultura.
de respeito ao outro como cidadão.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 45

Dilemas e perspectivas da Educação


Inclusiva

A necessidade de se construir um sistema


educacional de qualidade para todos impõe uma forma Para pensar
de atuação diferenciada por parte daqueles que
trabalham no campo da educação. A quebra de Que sugestões você
daria para tornar o
estereótipos e preconceitos, ponto de partida para a ambiente
educacional mais
implantação de uma escola inclusiva, faz-se necessária flexível?

para que o modelo que aí está seja superado. A


cooperação entre todos os participantes do processo
educacional (pais, professores, alunos, coordenadores
pedagógicos, diretores, comunidade etc.) na tentativa
de mudar papéis e responsabilidades, tornando o
ambiente educacional mais flexível, é um dos objetivos
a serem alcançados neste processo.

Como toda construção, a educação inclusiva é


gradativa porque é preciso ponderar todas as crenças
que envolvem o sistema educacional brasileiro e que
têm como conseqüência os altos índices de repetência e
evasão. A vergonha e a culpa são internalizadas pelos
grupos dominados e aparecem como sentimentos
morais ideologizados com a função de manter a ordem
excludente, de forma que a vergonha das pessoas e a
exploração social constituem as duas faces de uma
mesma questão. Não podemos falar de educação
inclusiva partindo de grupos específicos. A inclusão
deve ser vista como um processo social que envolve
todos.

Por isso, Vygotsky afirma de forma tão reiterada


e enfática que o lugar mais legítimo para todas as
crianças, também as com necessidades especiais, é na
escola regular. A escola especial correria o risco de criar
e perpetuar a cultura do déficit, em que os significados
das identidades – individuais e sociais – encontrar-se-iam
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 46

ou em um estado de acentuada difusidade, ou velados


por atitudes de superproteção, comiseração, rejeição
Para pensar
etc. Também seria inadequada a imposição de modelos,

Em sua opinião, os valores ou referências culturais, que não viabilizassem


direitos das pessoas
portadoras de
ao sujeito sua própria síntese cultural, num espaço o
necessidade
mais amplo ou democrático possível de intercâmbio
educativas especiais
devem ou não estar social e cultural.
explicitados em leis
e recomendações?
Por quê?
Uma segunda razão para Vygotsky defender a
importância da convivência social da criança com
necessidades especiais em situações de
heterogeneidade e de riqueza de trocas sociais está no
próprio fundamento de sua teoria sócio-histórica, ou
seja, é precisamente na amplitude das relações
interpsicológicas que a criança encontrará solo fértil
para o desenvolvimento das estruturas intrapsíquicas
do pensamento e da linguagem. Imagine-se o que
significaria a convivência predominante da criança em
situações grupais de homogeneidade, em escolas ou
classes especiais, em termos da idéia acima.
Possivelmente, os horizontes de aprendizagem e de
terminalidade escolar seriam tão restritos para alunos
com necessidades especiais devido exatamente ao
estabelecimento de círculos homogêneos de
convivência escolar. A idéia da integração escolar,
defendida por Vygotsky, conforme seus textos
deixaram antever, viria a prevenir tal situação.

Não podemos deixar de apontar para o que


parece ser o óbvio, a saber, que estamos diante de
uma situação de muitas incompletudes e perplexidades
diante da demanda que resulta, a meu ver, da
priorização em lei (LDB 9394/96) de um projeto
político-pedagógico - o da educação inclusiva - que não
nos possibilita vislumbrar, ainda, formas exeqüíveis de
implementação bem sucedida. Podemos, como tantos ou-
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 47

tros, sonhar, defender uma utopia, estabelecer metas


que signifiquem a gradual metamorfose de educadores,
escolas, famílias e alunos em sujeitos ativos,
participantes, criativos no processo de inclusão de
alunos com necessidades especiais no sistema regular
de ensino.

A escola, para a maioria das crianças brasileiras,


é o único espaço de acesso aos conhecimentos
universais e sistematizados, ou seja, é o lugar que vai
lhes proporcionar condições de se desenvolver e de se
tornar um cidadão, alguém com identidade social e
cultural.

Melhorar as condições da escola é formar


gerações mais preparadas para viver a vida na sua
plenitude, livremente, sem preconceitos, sem barreiras.
Não podemos nos contradizer nem mesmo
contemporizar soluções, mesmo que o preço que
tenhamos de pagar seja bem alto, pois nunca será tão
alto quanto o de uma vida escolar marginalizada, uma
evasão, uma criança estigmatizada, sem motivos.

A escola prepara para o futuro e, certamente, se


as crianças conviverem e aprenderem a valorizar a
Para refletir
diversidade nas suas salas de aula serão adultos bem
diferentes de nós, que temos de nos empenhar tanto Sabemos que a
educação é um
para defender o indefensável.
direito social de todo
indivíduo, mas
existem outros
A inclusão escolar remete a escola a questões de direitos sociais como
saúde, transporte,
estrutura e de funcionamento que subvertem seus lazer. Pela sua
experiência, tem
paradigmas e que implicam um redimensionamento de sido possível
observar se, na sua
seu papel, para um mundo que evolui a “bytes”. cidade, vem sendo
possibilitado à
pessoa portadora de
necessidades
O movimento inclusivo, nas escolas, por mais educativas especiais
o pleno exercício da
que seja ainda muito contestado, pelo caráter
cidadania?
ameaçador de toda e qualquer mudança, especialmente
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 48

no meio educacional, é irreversível e convence a todos


pela sua lógica, pela ética de seu posicionamento
social.

De fato, a inclusão está denunciando o abismo


existente entre o velho e o novo na instituição escolar
brasileira. A inclusão é reveladora dessa distância que
precisa ser preenchida com as ações que relacionamos
anteriormente.

Assim sendo, o futuro da escola inclusiva está, a


Para pensar
nosso ver, dependendo de uma expansão rápida dos

O que a sua escola projetos verdadeiramente imbuídos do compromisso de


tem feito para
garantir o acesso e a
transformar a escola, para se adequar aos novos
permanência do tempos.
aluno portador de
necessidades
educativas
especiais? Se hoje, ainda, são experiências locais as que
estão demonstrando a viabilidade da inclusão, em
escolas e redes de ensino brasileiras, estas experiências
têm a força do óbvio e a clareza da simplicidade e só
essas virtudes são suficientes para se antever o
crescimento desse novo paradigma no sistema
educacional.

Não se muda a escola com um passe de mágica.


É preciso de muito trabalho, dedicação e seriedade. A
implementação da escola de qualidade, que é
igualitária, justa e acolhedora para todos, é um sonho
possível.

A aparente fragilidade das pequenas iniciativas,


ou seja, essas experiências locais que têm sido
suficientes para enfrentar o poder da máquina
educacional, velha e enferrujada, com segurança e
tranqüilidade. Essas iniciativas têm mostrado a
viabilidade da inclusão escolar nas escolas brasileiras.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 49

As perspectivas do ensino inclusivo são, pois,


animadoras e alentadoras para a nossa educação. A Para refletir
escola é do povo, de todas as crianças, de suas
famílias, das comunidades em que se inserem. De que forma as
associações de pais
de pessoas
portadoras de
É no sentido da adoção de uma proposta deficiências podem
interagir com as
curricular flexível que o preparo profissional torna-se escolas, no sentido
de garantir o
essencial. O professor da escola inclusiva é dotado de oferecimento de
características como: uma educação na
perspectiva da
inclusão? Já pensou
nisso?
 Criatividade – ele é capaz de planejar várias
atividades para escolha por diferentes alunos
de sua turma, caso uma mesma não seja do
feitio de todos. Afinal, ele reconhece que
nenhuma turma é homogênea.

 Competência – ele está sempre atualizado,


mantendo a postura de um eterno estudante,
e incentivando seus alunos a fazerem o
mesmo.

 Experiência – este profissional oferece várias


Importante
oportunidades de aplicação do material
aprendido por seus alunos, pois reconhece
Tais características
que a elaboração da aprendizagem não faz como parâmetros
para todos aqueles
uso apenas da memória, mas também da que pretendem
assimilar o desafio
experiência. da Docência, voltada
para a Educação
Especial ou não.
Talvez seja difícil
 Investigação – o professor está sempre
encontrar um
preocupado em instigar os seus alunos para a docente com todas
elas, entretanto, o
curiosidade e o prazer de descobrir. conjunto das
mesmas deveria
servir como
princípios de
 Crítica – o professor entende que é essencial orientação, um norte
para o trabalho com
que o conteúdo ensinado seja dotado de alunos portadores
de necessidades
significação para a vida do aluno; de outra especiais.
maneira, dificilmente a aprendizagem será
passível de transferência para situações futuras
e, conseqüentemente, dificilmente será conside
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 50

rada como efetivamente bem-sucedida.


Dica de
Leitura
 Humildade – o professor reconhece que o
Em reportagem de saber não tem dono. Neste sentido, ele se
capa da Revista
Nova Escola On-Line dispõe, com muito mais facilidade, a entrar
de 2001, edição nº
139 jan/fev. numa relação de troca, por oposição ao que
"Mais do que um
educador, Paulo Paulo Freire chamaria de uma educação
Freire foi um
pensador. Sua obra bancária, em que ao aluno caiba apenas
mais famosa,
Pedagogia do receber os conteúdos, e ao professor caiba
Oprimido, dá as
linhas da educação
apenas "depositá-los" em suas cabeças. O
popular que poder é revisto e a relação de poder passa a
desejava. Para ele,
não havia educação ser mútua, porque construída,
neutra. O processo
educativo seria um democratizada, sobre outra base: a da troca.
ato político, uma
ação que resultaria
em relação de
domínio ou de Não teremos condições de ensinar a turma toda,
liberdade entre as
pessoas. De um nem reconhecer as diferenças na escola, enquanto os
lado, estaria a
burguesia e, do professores do ensino escolar, especialmente os do
outro, os operários.
Uma pedagogia que
nível fundamental, persistirem nas seguintes práticas:
libertasse as
pessoas oprimidas
deveria passar por  Propor trabalhos coletivos, que nada mais
um intenso diálogo
entre professores e são do que atividades individuais feitas ao
alunos.”
mesmo tempo pela turma;
Paulo Freire se
opunha ao que
chamava de
educação  Ensinar com ênfase nos conteúdos
bancária. "Esse tipo
de ensino se programáticos da série;
caracteriza pela
presença de um
professor  Adotar o livro didático, como ferramenta
depositante e um
aluno depositário da exclusiva de orientação dos programas de
educação", afirma
José Eustáquio ensino;
Romão, diretor do
Instituto Paulo
Freire, de São Paulo,
e professor do  Servir-se da folha mimeografada ou xerocada
Centro de Ensino
Superior de Juiz de para que todos os alunos a preencham ao
Fora (MG). "Quem é
educado assim mesmo tempo, respondendo às mesmas
tende a tornar-se
alienado, incapaz de
perguntas, com as mesmas respostas;
ler o mundo
criticamente."
 Propor projetos de trabalho totalmente
desvinculados das experiências e do interesse
dos alunos, que só servem para demonstrar
a pseudo-adesão do professor às inovações;
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 51

 Organizar de modo fragmentado o emprego


do tempo do dia letivo para apresentar o
conteúdo estanque desta ou daquela
disciplina e outros expedientes de rotina das
salas de aula;

 Considerar a prova final como decisiva na


avaliação do rendimento escolar do aluno.

Estas práticas pedagógicas configuram um


ensino para alguns alunos. E para alguns, em alguns
momentos, algumas disciplinas, atividades e
circunstâncias de sala de aula. A exclusão então se
manifesta amplamente, atingindo a todos os alunos,
em um ou em outro momento do dia escolar, porque
sempre existem os que não aceitam deliberadamente
uma proposta de trabalho escolar descontextualizada,
sem sentido e atrativos intelectuais, porque não
desafia, não atende a motivações pessoais. Essas
atividades servem para provocar indisciplina,
competição, discriminação, preconceitos e para
categorizar os bons e os maus alunos, por critérios
injustos e irresponsáveis.

E a atuação do professor? Nunca será fora do


tempo lembrar o que nos ensinou Paulo Freire em idos
Para pensar
de 1978: A educação autêntica, repitamos, não se faz
de ‘A’ para B’, ou de ‘A sobre B’, mas de ‘A’ com ‘B’,
Como o sistema
mediatizados pelo mundo (Pedagogia do Oprimido). O educacional de seu
estado e de seu
professor palestrante, tradicionalmente identificado município tem
pensado na
com a lógica de distribuição do ensino, pratica a educação numa
perspectiva
pedagogia do ‘A’ para e sobre ‘B’. Essa inclusiva?
unidirecionalidade da prática de ensino supõe que os
alunos assistam a cada dia letivo a um discurso, nem
sempre dos mais atraentes, em um palco distante, que
separa o orador do público.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 52

O professor que ensina a turma toda


compartilha com seus alunos a autoria dos
conhecimentos produzidos em uma aula; trata-se de
um profissional que reúne humildade com empenho e
competência para ensinar, pois o falar e o ditar não são
mais os seus recursos didático-pedagógicos básicos.

O ensino expositivo não cabe nas salas de aula


em que todos interagem e compartilham ativamente da
construção de idéias, conceitos, sentimentos, valores.
Assim sendo, ele arquiteta uma região de exploração
de conhecimentos e a explora com os seus alunos,
experimentando, vivendo as etapas dessa aventura e
percebendo passo a passo o que cada aprendiz
consegue apreender e como procede ao avançar nessa
exploração.

Importante É evidente que o professor que produz e


participa da caminhada do saber com seus alunos e
Os planejamentos mediatizado pelo mundo pode entender melhor como
didáticos de hoje
são conduzidos de se tece o conhecimento na sala de aula. Os diferentes
modo a valorizar
não apenas os sentidos e representações que os alunos atribuem a um
interesses e
expectativas do dado objeto de estudo vão formando redes de
professor, mas
também os
conhecimento, cuja trama é imprevisível a priori, mas
interesses e
que vai se revelando pouco a pouco.
expectativas do
alunado. Seu
universo sócio-
cultural, sua A rede de conhecimentos é uma construção de
linguagem e suas
preferências hoje todos e nela não se distinguem os que sabem mais dos
são elementos
fundamentais no que sabem menos, pois todas as contribuições se
processo de
contextualização entrelaçam. Ensinar a turma toda é promover situações
educacional.
de aprendizagem que ensejam a formação desses
tecidos coloridos, de vários fios, cada qual expressando
uma possibilidade de interpretar, de entender, de
aprender em grupo e cooperativamente. Um ponto
crucial do ensinar a classe toda é reconhecer o outro
em sua inteligência e valorizá-lo, de acordo com seus
saberes e com a sua identidade sociocultural.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 53

Sem estabelecer uma referência, mas investindo


nas diferenças e na riqueza de um ambiente que
confronta significados, desejos, experiências, o
professor deve garantir a liberdade e a diversidade das
opiniões dos alunos e nesse sentido ele é obrigado a
abandonar crenças e comportamentos que negam ao
aluno a possibilidade de aprender a partir do que sabe
e chegar até onde é capaz de progredir.

Pelo modelo teórico multiculturalista, as Dica de


Leitura
diferenças entre grupos étnicos, religiosos, de gênero,
sexuais etc. não se fundem numa única identidade,
Para se aprofundar
ensejando um modo de interação entre eles, em que na temática do
multiculturalismo
não é válido que se desfaçam as peculiaridades de cada aplicado à Educação
é interessante
um. conhecer a obra de
CANDAU, V. e
SACAVINO, S.
(coords.) et al.
Da mesma forma, o professor não elimina as intitulada
Multiculturalismo e
diferenças em favor de uma unidade do alunado, que é Educação. Rio de
tão almejada pelos que apregoam a (falsa) Janeiro:
Novamerica, 2004.
homogeneidade das salas de aula. Antes, está atento à Além de trazer uma
abordagem razoável
pluralidade de vozes que compõem a turma, sobre o tema e
considerar suas
promovendo o diálogo, complementando-as. implicações no
contexto
educacional, o livro
ainda traz a
As discriminações tendem a se agravar quanto experiência na área
obtida através de
mais especializamos o ensino para alguns alunos. Essa oficinas realizadas
tendo como foco a
discriminação, inicialmente escolar, expande-se para complexidade
outros domínios e áreas e marca indelevelmente as multicultural.

pessoas, desde a escola.

O ensino para a turma toda ataca esse


mecanismo perverso que atinge as pessoas desde os seus
primeiros tempos de vida, especialmente as crianças
com deficiências. Não se pode imaginar um ensino para
todos quando caímos na tentação de constituir grupos
por séries, por níveis de desempenho escolar e
atribuímos a cada nível tarefas adaptadas.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 54

Essa maneira de agir, pedagogicamente, instala


cada criança em seu nível e aumenta ainda mais as
Para refletir
diferenças, acentuando as desigualdades e promovendo

Reflita sobre a o fracasso e distanciamento escolar. Tal organização


maneira como as
desigualdades escolar também pode impedir o funcionamento ativo
podem influenciar o
fracasso escolar e a
dos alunos frente a situações-problema, pois os grupos
exclusão social.
de alunos de nível mais elevado têm oportunidade de ir
Analisar estes
conceitos é propiciar mais longe e os de nível mais baixo de funcionar com
a mudança de
atitude nas práticas menos eficiência. É, sem dúvida, a heterogeneidade
educativas.
que dinamiza os grupos, que lhes dá vigor e
funcionalidade.

O nosso desafio, como educadores, é reunir


alunos de diferentes níveis, diante de uma situação de
ensino, em grupos desiguais, pois assim é que se passa
na vida e é assim que a escola deve ensinar a ter
sucesso na vida.

Temos, pois, de desconfiar das pedagogias que


implementam dispositivos e que se nutrem de bons
propósitos de ensinar, de preparar para a vida, mas
que perpetuam ativamente os desfavorecidos. Ser
competente na escola e na vida depende de tempo, e
esse tempo é contado desde cedo, quando, nas salas
de aula, construímos conhecimento e aprendemos a
mobilizá-lo em situações as mais diferentes, que
exigem transposições entre o que é aprendido e o que
precisa ser resolvido com sucesso e na desigualdade
dos níveis, nas diferenças de opiniões, de enfoques, de
humores, de sentimentos.

Essa transposição e a construção de


competências, entendida como nos define Perrenoud
(1999): uma capacidade de agir eficazmente em um
determinado tipo de situação, apoiada em
conhecimentos, mas sem limitar-se a eles, tem seu
cenário ideal na escola que repete a vida, tal como ela
é. Talvez seja este o nosso maior ponto: fazer da esco-
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 55

la um lugar em que cada um vai para aprender coisas


úteis, para enfrentar e viver a vida como um ser livre,
criativo e justo. Fazer da escola o local do encontro
Para refletir
com o outro, que é sempre.

Falar da igualdade
A nosso ver, é preciso mudar a escola e mais de oportunidades é
o mesmo que
precisamente o ensino nela ministrado. A escola aberta oferecer,
exatamente,
para todos é a grande meta e, ao mesmo tempo, o oportunidades iguais
aos seus alunos
grande problema da educação na virada do século. desiguais?

Que procedimentos
pedagógicos você
Mudar a escola é enfrentar uma tarefa que exige tem adotado na sala
trabalho em muitas frentes. Destacaremos as que de aula para tornar
a aprendizagem
consideramos primordiais, para que se possa inclusiva para todos
os seus alunos?
transformar a escola, na direção a um ensino de
qualidade e, em conseqüência, inclusivo.

Temos de agir urgentemente:

 Colocando a aprendizagem como o eixo das


escolas, porque a escola foi feita para fazer
com que todos os alunos aprendam;

 Garantindo tempo para que todos possam


aprender e reprovando a repetência;

 Abrindo espaço para que a cooperação, o


diálogo, a solidariedade, a criatividade e o
espírito crítico sejam exercitados nas escolas,
por professores, administradores, funcionários
e alunos, pois são habilidades mínimas para o
exercício da verdadeira cidadania;

 Estimulando, formando continuamente e


valorizando o professor que é o responsável
pela tarefa fundamental da escola - a
aprendizagem dos alunos;
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 56

 Elaborando planos de cargos e aumentando


salários, realizando concursos públicos de
ingresso, acesso e remoção de professores.

Que ações implementar para que a escola


mude?

Para melhorar as condições pelas quais o ensino


é ministrado nas escolas, visando, universalizar o
acesso, ou seja, a inclusão de todos,
incondicionalmente, nas turmas escolares e
democratizar a educação, sugerimos o que, felizmente,
já está ocorrendo em muitas redes de ensino,
verdadeiras vitrines que expõem o sucesso da inclusão.

A primeira sugestão para que se caminhe para


uma educação de qualidade é estimular as escolas para
Importante
que elaborem com autonomia e de forma participativa
o seu Projeto Político-Pedagógico, diagnosticando a
Só se ama e dá
valor àquilo que se demanda, ou seja, verificando quantos são os alunos,
conhece, por isso é
preciso ter um onde estão e porque alguns estão fora da escola.
diagnóstico claro
sobre até que ponto
o currículo escolar
reflete o meio social Sem que a escola conheça os seus alunos e os
e cultural tanto de
incluídos como dos que estão à margem dela, não será possível elaborar
excluídos.
um currículo escolar que reflita o meio social e cultural
em que se insere. A integração entre as áreas do
conhecimento e a concepção transversal das novas
propostas de organização curricular considera as
disciplinas acadêmicas como meios e não fins em si
mesmas e partem do respeito à realidade do aluno, de
suas experiências de vida cotidiana, para chegar à
sistematização do saber.

Como essa experiência varia entre os alunos,


mesmo sendo membros de uma mesma comunidade, a
implantação dos ciclos de formação é uma solução
justa, embora ainda muito incompreendida pelos
professores e pais, por ser uma novidade e por estar sen
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 57

do ainda pouco difundida e aplicada pelas redes de


ensino. De fato, se dermos mais tempo para que os
alunos aprendam, eliminando a seriação, a reprovação,
nas passagens de um ano para outro, estaremos
adequando o processo de aprendizagem ao ritmo e
condições de desenvolvimento dos aprendizes - um dos
princípios das escolas de qualidade para todos.

Por outro lado, a inclusão não implica que se


desenvolva um ensino individualizado para os alunos
que apresentam déficits intelectuais, problemas de
aprendizagem e outros, relacionados ao desempenho
escolar. Na visão inclusiva, não se segregam os
atendimentos, seja dentro ou fora das salas de aula e,
portanto, nenhum aluno é encaminhado a salas de
reforço ou aprende a partir de currículos adaptados.
Dica da
O professor não predetermina a extensão e a professora

profundidade dos conteúdos a serem construídos pelos


Você concorda que
alunos, nem facilita as atividades para alguns, porque, as propostas
inclusivas não se
de antemão, já prevê as dificuldades que poderiam limitam aos
portadores de
encontrar para realizá-las. Porque é o aluno que se deficiências? Discuta
adapta ao novo conhecimento e só ele é capaz de a sua opinião com
seus colegas.
regular o seu processo de construção intelectual.

A avaliação constitui um outro entrave à


implementação da inclusão. É urgente suprimir o caráter
classificatório da avaliação escolar, através de notas, de
provas, pela visão diagnóstica desse processo que deverá
ser contínuo e qualitativo, visando depurar o ensino e
torná-lo cada vez mais adequado e eficiente à
aprendizagem de todos os alunos. Essa medida já
diminuiria substancialmente o número de alunos que são
indevidamente avaliados e categorizados como
deficientes, nas escolas regulares.

A aprendizagem como o centro das atividades


escolares e o sucesso dos alunos, como a meta da
escola, independentemente do nível de desempenho a que
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 58

cada um seja capaz de chegar, são condições de base


para que se caminhe na direção de escolas
acolhedoras. O sentido desse acolhimento não é o da
aceitação passiva das possibilidades de cada um, mas o
de serem receptivas a todas as crianças, pois as
escolas existem para formar as novas gerações, e não
apenas alguns de seus futuros membros, os mais
privilegiados.

A inclusão não prevê a utilização de métodos e


técnicas de ensino específicas para esta ou aquela
Para refletir deficiência. Os alunos aprendem até o limite em que
conseguem chegar se o ensino for de qualidade, isto é,
Sugestão para
reflexão com os
se o professor considera o nível de possibilidades de
professores e desenvolvimento de cada um e explora essas
coordenadores de
sua escola: Como possibilidades, por meio de atividades abertas, nas
receber um aluno
especial se o quais cada aluno se enquadra por si mesmo, na medida
professor não é
habilitado em de seus interesses e necessidades, seja para construir
Educação Especial?
Será que uma saída uma idéia, ou resolver um problema, realizar uma
não seria abrir uma
Sala de Recursos em tarefa. Eis aí um grande desafio a ser enfrentado pelas
cada escola ou em
uma Escola Pólo? escolas regulares tradicionais, cujo paradigma é
condutista, e baseado na transmissão dos
conhecimentos.

O trabalho coletivo e diversificado nas turmas e


na escola como um todo é compatível com a vocação
da escola de formar as gerações. É nos bancos
escolares que aprendemos a viver entre os nossos
pares, a dividir as responsabilidades, a repartir as
tarefas. O exercício dessas ações desenvolve a
cooperação, o sentido de se trabalhar e produzir em
grupo, o reconhecimento da diversidade dos talentos
humanos e a valorização do trabalho de cada pessoa
para a consecução de metas comuns de um mesmo
grupo.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 59

O tutoramento nas salas de aula tem sido uma


solução natural, que pode ajudar muito os alunos,
desenvolvendo neles o hábito de compartilhar o saber.
O apoio ao colega com dificuldade é uma atitude
extremamente favorável e humana e que tem sido
muito pouco desenvolvida nas escolas, sempre tão
competitivas e despreocupadas com a construção de
valores e de atitudes morais.

Além dessas implicações, referentes ao ensino


Para pensar
nas escolas, a educação de qualidade para todos e a
inclusão sugerem mudanças de outras condições Que garantias temos
de que a Inclusão
relativas à administração e aos papéis desempenhados
terá sucesso? Ou
pelos membros da organização escolar. quando estas
mudanças ocorrerão
na prática? Essas
respostas só serão
Nesse sentido, é primordial que sejam revistos respondidas quando
passarmos dos
os papéis desempenhados pelos diretores e discursos e dos
debates para a
coordenadores, no sentido de que ultrapassem o prática em toda sua
plenitude. Você
princípio controlador, fiscalizador e burocrático de suas concorda? Discuta
com seus colegas a
funções pelo trabalho de apoio, orientação do professor respeito.
e de toda a comunidade escolar.

A descentralização da gestão administrativa, por


sua vez, promove uma maior autonomia pedagógica,
administrativa e financeira de recursos materiais e
humanos das escolas, por meio dos conselhos,
colegiados, assembléias de pais e de alunos. Mudam-se
os rumos da administração escolar e com isso o
aspecto pedagógico das funções do diretor e dos
coordenadores e supervisores emerge. Deixam de
existir os motivos pelos quais esses profissionais ficam
confinados aos gabinetes, às questões burocráticas,
sem tempo para conhecer e participar do que acontece
nas salas de aula.

A avaliação deve ser revista. Sua própria visão


deverá ser alterada. Em vez de permanecermos na
tradicional forma de vê-la como um produto a ser fornecido
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 60

pelo aluno, fruto de uma suposta aprendizagem, ao


longo de cujo processo ele é comparado aos seus
colegas e considerado acima ou abaixo do "normal", ou
"na média", ele passa a ser co-agente da construção de
seu próprio conhecimento e, portanto, co-participante
nos processos avaliativos – não só de si mesmo, como
também do professor e do próprio processo ensino-
aprendizagem.

Além disso, a avaliação inclusiva é diversificada:


são oferecidas várias oportunidades e formas diferentes
de o aluno mostrar como está se saindo ao longo do
processo educacional. Se o aluno apresenta dificuldade
em sua expressão escrita, por exemplo, a escola provê
formas alternativas através das quais ele possa
complementar sua expressão e mostrar o resultado de
seu processo educacional (por exemplo, oralizando).
Esta forma de avaliar possibilita que um processo de
negociação entre aluno e professor se instaure na
relação pedagógica, o que por sua vez apenas
enriquece a experiência educacional de ambas as
partes.

Ressignificar a escola através da proposta


inclusiva requer esforços de vários segmentos em
várias direções. Embora reconhecidamente difícil, dados
os contextos em que ainda vivemos e as visões
tradicionalistas nas quais ainda acreditamos a respeito
da educação, tal tarefa é possível. É possível porque
temos, ao longo de nossa história, avançado cada vez
mais em nossas reflexões e atitudes sobre justiça e
direitos humanos. Inclusão em educação é uma
questão de direito, e neste sentido ela se aplica a
qualquer indivíduo ou grupo de cidadãos que estejam
vivendo procedimentos excludentes, ou em risco de os
viverem.

Cabe, no entanto, reconhecermos que tais


progressos ainda não são suficientes, ou ainda, que na luta
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 61

pela melhoria das condições de vida e a garantia dos


direitos humanos, estes avanços jamais atingirão um
estado final, porque podemos sempre fazer melhor. Tal
é a eficácia que permeia a constituição das afinidades
humanas (pessoais, políticas e sociais).

Reconhecendo este dinamismo, não nos


renderemos a uma visão estática que descobre
processos como o da inclusão nas várias esferas sociais
como sendo um fim em si mesmo, mas sim como
partes de uma direção permanente, infindável, cujo
sentido primordial é o de manter a dialeticidade e a
originalidade de nossas formas de existir, garantindo,
com isso, a existência de nossa própria vida: a
individual e a social.

O discurso acerca da inclusão de pessoas com


deficiência na escola, no trabalho e nos espaços sociais,
em geral, vem sendo difundido rapidamente entre
educadores, familiares, líderes e dirigentes políticos,
nas entidades, nos meios de comunicação etc. Isto não
quer dizer que a inserção de todos nos diversos setores
da sociedade seja prática corrente ou uma realidade já
dada. As políticas públicas de atenção a este segmento,
geralmente, estão circunscritas ao tripé educação,
saúde e assistência social, sendo que os demais
aspectos costumam ser negligenciados.

A educação dessas pessoas tem sido objeto de


inquietações e constitui um sistema paralelo de
instituições e serviços especializados no qual a inclusão
escolar desponta como um ideal utópico e inviável. A
saúde limita-se à medicação e à patologia da
deficiência ou à reabilitação compreendida basicamente
como concessão de órteses e próteses.

A assistência social traduz-se na distribuição de


benefícios e de parcos recursos, em um contexto de misé-
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 62

ria e de privações, no qual impera a concorrência do


assistencialismo e da filantropia. Em cada um destes
setores, o foco do atendimento privilegia certa
Dica da
professora dimensão do contexto de vida familiar, comunitário e
social.
Discuta com a
equipe da sua
escola. Como Para a educação, o sujeito com deficiência é um
estamos entendendo
inclusão hoje, nesta "aluno especial", cujas necessidades específicas
fase de transição?
demandam recursos, equipamentos e níveis de
especialização definidos de acordo com a condição
física, sensorial ou mental.

No âmbito da saúde, o mesmo aluno é tratado


como "paciente", sujeito a intervenções tardias e de
cunho curativo, enquanto no campo da assistência
social ele é um "beneficiário" desprovido de recursos
essenciais à sua sobrevivência e sujeito a formas de
concessão de benefícios temporários ou permanentes
de caráter restritivo.

O que se observa, nestes setores, são ações


isoladas e simbólicas ao lado de um conjunto de leis,
projetos e iniciativas insuficientes e desarticuladas
entre as diversas instâncias do poder público. Em todos
os casos, percebemos uma concepção de sujeito
fragmentada, incompleta, sem a necessária
incorporação das múltiplas dimensões da vida humana.

Existe uma teia de contradições e um fosso


entre o discurso e a ação, pois o mundo continua
representado pelos "nós, os ditos normais" e "eles", as
pessoas com deficiência. Tais observações podem
parecer pouco otimistas e talvez o sejam por
representarem a perspectiva de quem tem a
experiência da exclusão atravessada nas cenas do
quotidiano e nos descaminhos da própria existência.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 63

Dificilmente, conseguimos abordar esta


realidade sem exaltações ou antipatia, pois o tema tem
suscitado debates calorosos que trazem em seu teor
concepções divergentes e acentuam o antagonismo
entre educação especial e inclusiva. Via de regra, nos
deparamos com argumentos que se explicam pela
análise do evidente, isto é, pela explicitação das
dificuldades e limitações vivenciadas na totalidade do
sistema escolar e no ambiente da sala de aula.
Para
pesquisar

Os professores do ensino regular ressaltam,


entre outros fatores, a dura realidade das condições de Faça um
levantamento, entre
trabalho e os limites da formação profissional, o as escolas de sua
comunidade,
número elevado de alunos por turma, a rede física questionando pais e
professores sobre
inadequada, o despreparo para ensinar "alunos como integrar o
aluno especial em
especiais" ou diferentes. Os professores da educação classes comuns,
sendo que estas
especial também não se sentem preparados para têm, no mínimo, 30
alunos.
trabalhar com a diversidade do alunado, com a
complexidade e a amplitude dos processos de ensino e
aprendizagem.

A formação desses profissionais caracteriza-se


pela qualificação ou habilitação específicas, obtidas por
meio de cursos de pedagogia ou de alternativas de
formação agenciadas por instituições especializadas.
Nestes cursos, estágios ou capacitação profissional,
esses especialistas aprenderam a lidar com métodos,
técnicas, diagnósticos e outras questões centradas na
especificidade de uma determinada deficiência, o que
delimita suas possibilidades de atuação.

Além disso, constatamos o receio, a insegurança


e a resistência dos pais que preferem manter os filhos
em instituições especializadas, temerosos de que sejam
discriminados e estigmatizados no ensino regular.
Muitos deles desistiram por terem ouvido tantas vezes
que não havia vaga para o seu filho naquela escola ou
que o melhor para ele é uma escola especial. Outros insis
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 64

tem por convicção ou simplesmente por se tratar da


única opção no local de moradia da família, pois
existem os que estão fora da escola.

Os representantes de instituições e serviços


especializados reagem ao risco iminente de
Dica da
professora esvaziamento ou desmantelamento destas estruturas.
Trata-se de um campo de tensões no qual se
Como lidar com a manifestam o espírito de corpo e a confusão entre as
dificuldade dos
demais alunos e pais estruturas e os sujeitos nelas inseridos, o que dificulta
em aceitar um
colega diferente? a reflexão e o aprofundamento do debate.
Você já pensou em
simular situações
sobre diversas O campo de tensões mencionado anteriormente
deficiências na sala
de aula ou em uma evidencia um confronto de tendências opostas entre os
reunião de pais?
Vendar os olhos de adeptos da educação inclusiva e os defensores da
algum participante,
por exemplo? educação especial. Por outro lado, constatamos uma
inegável mudança de postura, de concepções e atitudes
por parte de educadores, de pesquisadores, de agentes
sociais, de formadores de opinião e do público em
geral.

Estas mudanças se traduzem na incorporação


das diferenças como atributos naturais da humanidade,
no reconhecimento e na afirmação de direitos, na
abertura para inovações no campo teórico-prático e na
assimilação de valores, princípios e metas a serem
alcançadas.

Trata-se, portanto, de propor ações e medidas


que visem a assegurar os direitos conquistados, a
melhoria da qualidade da educação, o investimento em
uma ampla formação dos educadores, a remoção de
barreiras físicas e latitudinais, a previsão e provisão de
recursos materiais e humanos entre outras
possibilidades. Nesta perspectiva, se potencializa um
movimento de transformação da realidade para se
conseguir reverter o percurso de exclusão de crianças,
jovens e adultos com ou sem deficiência no sistema
educacional.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 65

De certo que a inclusão se concilia com uma


educação para todos e com um ensino especializado no
aluno, mas não se consegue implantar uma opção de
inserção tão revolucionária sem enfrentar um desafio
ainda maior: o que recai sobre o fator humano.

Os recursos físicos e os meios materiais para a


Para refletir
efetivação de um processo escolar de qualidade cedem
sua prioridade ao desenvolvimento de novas atitudes e De que verdade
estamos tratando?
formas de interação na escola, exigindo mudanças no Procuremos refletir e
relacionamento pessoal e social e na maneira de se discutir sobre
Escolas e Alunos
efetivarem os processos de ensino e de aprendizagem. com Necessidades
Especiais no Século
XXI, pelo caminho
da problematização
Nesse contexto, a formação do pessoal e não por aquele já
sabido ou
envolvido com a educação é de fundamental rigidamente traçado
pela experiência
importância, assim como a assistência às famílias, passada, embora
incorporando-o em
enfim, uma sustentação aos que estarão diretamente nossa crítica.
implicados com as mudanças é condição necessária para
que estas não sejam impostas, mas imponham-se
como resultado de uma consciência cada vez mais
evoluída de educação e de desenvolvimento humano.

Conclusão

Inclusão é isso: a adaptação que toda escola


está obrigada a fazer, isto é, não é mais conceptível
que o portador de necessidades especiais se integre
sozinho. É preciso que o ambiente, em particular, o
educacional, esteja preparado, adequado para acolher a
pessoa portadora de necessidades especiais.

As escolas devem dispor de profissionais para


lidar com pessoas portadoras de necessidades
especiais. Assim, se uma escola, ainda que particular,
possui um aluno deficiente auditivo, cabe a ela
contratar um intérprete, promovendo assim as
adaptações necessárias.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 66

Os custos devem ser creditados à instituição de


ensino, pois ela está obrigada a oferecer a estrutura
adequada a todos os seus alunos. Além disso, a escola
deve dispor ao aluno deficiente auditivo a Língua de
Sinais, assim como os professores devem ser
orientados no sentido de flexibilizar os currículos ao
modo de comunicação dos surdos.

Com relação ao acesso do deficiente físico, toda


escola deve eliminar as barreiras arquitetônicas, tendo
ou não alunos matriculados, esse ponto é importante
frisarmos, de acordo com a Constituição Federal, Leis
7.853/89, 10.048 e 10.098/200.

No que diz respeito ao deficiente visual, após


sua matrícula, deve pedir à escola material didático
bem como sala de recursos, para aprendizado de Braile
etc. Deve-se observar que a sala de recursos jamais
substitui o professor regular, tendo a tarefa de ser um
complemento ao ensino regular.

Quanto ao portador de deficiência mental,


parece ser este o aspecto mais delicado da inclusão,
mas as escolas deviam lembrar-se de que a construção
do conhecimento se faz a partir da realidade de cada
aluno, levando–se em conta as especificidades de cada
um. Se cada aluno tem seu próprio ritmo de
aprendizagem, por que, então, ministrar a elas o
mesmo padrão de aprendizagem.

O deficiente mental vai aprender dentro de suas


limitações e estimulado até ir, se possível, além delas.
A escola, os professores devem estar cientes do ritmo
de cada aluno e adequar a esses ritmos seus currículos
e programas pedagógicos.

Não devemos nos esquecer dos cursos


profissionalizantes, os destinados aos jovens e adultos
e voltados para a preparação de vestibulares.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 67

Educação é direito de todos, é preparação para


o direito à cidadania, é preparar os jovens de hoje para Importante
enfrentar, amanhã, o mercado de trabalho, e serem
cidadãos produtivos. O deficiente não pode ficar fora É bom lembrar que
nesse “todos” cabem
desse processo, se quiser ter uma sociedade realmente também os que
possuem alguma
inclusiva. deficiência visual,
motora, auditiva,
mental e outras.
Cidadão que
Essas estratégias para a ação pedagógica no também precisa se
educar para ter o
cotidiano escolar inclusivo são necessárias para que a mínimo de condições
de exercerem sua
escola responda não somente aos alunos que nela
cidadania.
buscam saberes, mas aos desafios que são atribuídos
no cumprimento da função formativa e de inclusão,
tudo num processo democrático, reconhecendo e
valorizando a diversidade, como um elemento
enriquecedor do processo de ensino e aprendizagem.
Portanto, incluir e garantir uma educação de qualidade
para todos os alunos é uma questão de justiça e
eqüidade social.
Dica da
professora
A inclusão implica a reformulação de políticas
educacionais e de implementação de projetos Nesta aula falamos
de muitos assuntos
educacionais inclusivos, sendo o maior desafio interessantes, além
de dicas úteis
estenderem a inclusão a um maior número de escolas, àqueles que
trabalham ou
facilitando incluir todos os indivíduos em uma sociedade pretendem atuar
com Educação
na qual a diversidade está se tornando mais norma do Inclusiva.
Esperamos que os
que exceção. assuntos tratados
sirvam para seu
aperfeiçoamento
Na qualidade de cidadãos, é fundamental que profissional.
Sempre que for
nos restauremos para a grande empreitada que se preciso, volte ao
estudo dessa aula.
inicia, no sentido de refletirmos, agirmos, caminharmos Parabéns por ter
chegado até aqui!
coletivamente, tanto quanto for possível, deixando para
trás os ranços viscosos que possam adiar nossa busca
de dias melhores.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 68

EXERCÍCIO 1

Sobre a mudança de termos, na legislação, de


Educação Especial (EE) para Educação Inclusiva (EI),
de “excepcional” para “portador de necessidades
especiais”, “aluno com problemas de conduta” para
“aluno com condutas típicas”, “aluno superdotado” para
“aluno com altas habilidades”, é falso afirmar que:

( A ) Contribuiu, muitas vezes, para o esquecimento do


sentido de “deficiência” e suas implicações
individuais e sociais;
( B ) Representa uma melhoria imediata e significativa
nas posições governamentais com relação à
educação, comum e especial, do portador de
deficiência;
( C ) Não tem sido acompanhada de qualquer alteração
de significado, ou seja, não tem promovido
nenhuma mudança significativa nas posturas e
ações diante dos problemas que a questão
levanta;
( D ) Tende a confundir o entendimento das diretrizes e
normas traçadas, o que, por conseqüência,
acarreta prejuízos à qualidade dos serviços
prestados;
( E ) Conferem sentido retificador aos alunos.
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 69

EXERCÍCIO 2

A necessidade de se construir um sistema educacional


de qualidade para todos impõe uma forma de educação
diferenciada por parte daqueles que trabalham no
campo da educação. O ponto de partida para a
implantação de uma escola inclusiva deve ser:

( A ) A afeição e o carinho pelos alunos;


( B ) O rigor nas atitudes dos professores;
( C ) A quebra de estereótipos e preconceitos;
( D ) O acolhimento das famílias;
( E ) Metodologias diferenciadas.

EXERCÍCIO 3

Na nossa sociedade, consideramos o sujeito com


deficiência como “pessoa especial”. Quais as
implicações advindas dessa consideração?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Escreva por que a avaliação constitui mais uma barreira


à implementação da inclusão.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 2 | As perspectivas da inclusão 70

RESUMO

Vimos até agora:

 A necessidade de adaptação da escola para


que ocorra a inclusão de fato, pois o aluno
não se integra sozinho;

 A necessidade de que a sociedade seja


realmente inclusiva, e o deficiente tenha
assegurado seus direitos, uma vez que a
“educação é direito de todos”.
3

AULA
Diagnóstico e
Prevenção
Marcelo Saldanha
Apresentação

Nesta aula é destacada a idéia de que o movimento pela Educação


Inclusiva está fortemente associado à busca da excelência no
ensino e na oferta de uma escola de qualidade para todos, mas
também, que toda a filosofia do trabalho de apoio pedagógico
firma-se no respeito às diferenças individuais com desdobramento
no princípio dos direitos e oportunidades iguais, mediante
atendimento diferenciado. Sendo assim, toda e qualquer proposta
de integração do sujeito portador de necessidades especiais tem
sido a tendência orientadora nas questões onde a Educação
Inclusiva se apresenta e representa a chance de as crianças serem
cada vez menos institucionalizadas, podendo freqüentar classes
em escolas regulares com respeito às suas necessidades, à sua
integridade e ao esforço global de permitir sua integração o mais
plenamente possível.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Compreender a importância do respeito as diferenças e


necessidades de cada aluno;
 Analisar as propostas para a integração dos alunos portadores
de necessidades educacionais especiais;
 Discutir os parâmetros necessários para que seja possível
melhorar o potencial e o desempenho dos alunos PNEE que
freqüentam o ensino regular;
 Considerar que a integração compreende um valor
constitucional que, em si, deve vir consubstanciar a aceitação
da diferença humana, tendo-se que respeitar a diversidade
cultural e a social e, em paralelo, a unidade do ser.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 72

Apresentação

A cada dia torna-se mais presente a discussão


acerca da Educação Inclusiva. O tema, em si, não é
novo, uma vez que está nas pautas de discussão dos
problemas relacionados à Educação desde, pelo menos
1975, por força da Lei Pública 94.142, nos EUA.
Podemos dizer que os princípios dessa lei servem como
referência para uma política de apoio a todas as escolas
inclusivas em funcionamento.
Dica do
professor
O movimento pela Educação Inclusiva está
Para uma melhor fortemente associado à busca da excelência no ensino e
compreensão do
tema, sugiro que o na oferta de uma escola de qualidade para todos.
leitor utilize a
definição de Dentro desse processo, vamos perceber movimentos
Educação Inclusiva
apresentada por para modificações de currículos e programas a fim de
MRECH, Leny
Magalhães, que sejam mais adaptados às necessidades específicas
professora da
Faculdade de
de portadores de deficiências bem como, também, um
Educação da suporte mais adequado ao professor das chamadas
Universidade de São
Paulo: classes comuns.
“Educação Inclusiva
é o processo de
inclusão dos As pesquisas relacionadas à operacionalidade da
portadores de
necessidades ou de Educação Inclusiva, o diagnóstico da necessidade
distúrbios de
aprendizagem na especial e, dentro das possibilidades, o enfoque dado à
rede comum de
ensino em todos os prevenção nos levam a um campo muito extenso, onde
seus graus”.
o entusiasmo e a angústia constantemente se vêem
frente a frente. O desafio de um assunto tão vasto e
rico é o combustível para a busca de um modelo que,
cada vez mais, se aproxime daquilo que poderíamos
chamar de ideal.

Para que as linhas de ação sigam um caminho


que permita uma prática inclusiva racional, sem
paixões ou formalismos exagerados, cumpre que exista
uma visão de que a Educação Inclusiva é um processo
social de educação onde todos os alunos (clientes)
portadores de necessidades especiais e de distúrbios de
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 73

aprendizagem ou não devem ter o mesmo direito à


formação escolar da melhor forma possível. O objetivo
central da inclusão é fazer da escola um pólo de
integração social e, assim, permitir que o sujeito
portador de necessidades especiais atinja e explore
todo o seu potencial.

Não podemos nos esquecer de que cada caso é


diferente e, por isso, a adequação deve servir um
critério de análise diferenciado.

Ao longo deste texto, vamos ratificar a máxima


de que a Educação Inclusiva traz para o campo da
prática o fato de que existe, definitivamente, uma
transformação dos papéis tradicionais dentro da escola
comum. As relações entre professores e alunos estão
mais sintonizadas na atenção das dificuldades surgidas
no cotidiano escolar, o grupo de alunos se dinamiza em
função da noção das dificuldades alheias e,
naturalmente, forma-se uma rede de base para que
todo conflito advindo da busca da inclusão seja cada
vez mais absorvido de forma o menos traumática
possível.

Importante
A parceria com os pais – ou responsáveis – tem
tal importância neste intrincado jogo de relações que, Lembro que a
abordagem
arrisco dizer, se prescindirmos dela, teremos muita construtivista
destaca a
dificuldade em superar até os mais simples obstáculos. importância da
participação familiar
em todo movimento
de educação formal.
Junto a tudo isso, cumpre ressaltar que as
formas de avaliação devem ser reconduzidas em face
da complexidade do assunto. Isso, claro, sem que se
institua uma prática paternalista e dissimuladora da
realidade das necessidades especiais.

Estamos passando por um momento histórico,


que tange à Educação Especial, caracterizado por
mudanças e crises bem como novas oportunidades.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 74

Podemos verificar que a necessidade de maior


abrangência de ações educacionais e a preocupação
com os portadores de necessidades especiais estão em
discussão em várias esferas sociais.

A esse processo social abrangente e complexo,


os estudiosos chamam de inclusão. Por um lado, a
sociedade começa a dar-se conta da existência da
pessoa especial e com isso começa a organizar-se para
acolhê-la; de outro, os próprios portadores de
necessidades especiais reivindicam espaço para
exercerem sua cidadania.

Devido a sua complexidade, o processo de


inclusão faz-se de forma gradual, afinal, é necessário
mudar séculos de história de segregação, preconceito,
exclusão e estigmatização da pessoa portadora de
necessidades especiais. Para começar, as mudanças
conceituais passam pela nova nomenclatura para a
Educação Especial que passa a se chamar Educação
Inclusiva.

Para
pesquisar
Esse movimento já começou e um dos primeiros
passos foi dado a partir da Declaração de Salamanca –
Faça uma pesquisa ver caixa de texto na página seguinte – em 1994. A
na Internet a fim de
investigar melhor a inclusão escolar de crianças com necessidades especiais
Declaração de
Salamanca. no ensino regular tem sido tema de várias pesquisas e
despertado o interesse em vários eventos científicos.

Um dos tópicos que mais chama a atenção é o


tema que envolve o professor, a comunidade escolar e a
inclusão. A inclusão escolar está fundamentada numa
concepção teórica de educação de qualidade para todos,
no respeito à diversidade do alunado. Para alcançar tais
objetivos, é necessário que haja uma preparação de
profissionais e educadores para o adequado atendimento
das necessidades educativas de todas as crianças,
apresentem elas ou não necessidades especiais.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 75

A escola é considerada inclusiva se reconhece a


diversidade que constitui sua clientela. Para tanto, é
necessário adequar seu currículo a fim de que possa
atender peculiaridades que sempre aparecem no
contexto escolar.

Estudos indicam algumas modificações


necessárias para que a educação inclusiva alcance seus
objetivos. São mudanç as amplas nas práticas
pedagógicas como, por exemplo:

 Adoção de novos conceitos e estratégias;


 Adaptação ou reestruturação curricular;
 Utilização de novas técnicas e recursos
específicos para tal clientela;
 Novas formas de avaliação;
 Estímulo à participação de pais e comunidade
na nova realidade social e educacional.

Além de estar intimamente ligado a atitudes


positivas frente à inclusão destas crianças no ensino
regular.

Essas propostas não são novidades, mas


ganham fôlego novo com as novas concepções
propostas pela educação inclusiva.

Sendo a educação inclusiva uma educação para


todos, adaptada às diferenças e individualidades de
cada educando, vale ressaltar a importância da
preparação dos profissionais que atuam ou atuarão com
esta nova demanda em todos os níveis.

Entretanto, a realidade mostra sua face mais


cruel. A implementação da educação inclusiva vai
encontrar dificuldades e muitos obstáculos em virtude
da falta de formação dos professores das classes
regulares para atender esta nova clientela, além da infra-
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 76

estrutura adequada e condições materiais para o bom


desempenho pedagógico do alunado.

A ausência de formação especializada dos


educadores para este trabalho é certamente um
problema para a implementação desta nova
abordagem.

Sant’ana (2007), em artigo publicado pela PUC-


Campinas, afirma que o sucesso da orientação inclusiva
implica um ensino adaptado às diferenças e às
necessidades individuais. Quer dizer com isso que os
educadores “precisam estar habilitados para atuar de
forma competente junto aos alunos inseridos nos vários
níveis de ensino”.

A Educação Inclusiva ainda não atingiu seu


ponto ideal por conta das dificuldades advindas da
formação precária dos professores que atuam nas
classes regulares e à falta de infra-estrutura para
oferecer as mínimas condições para o trabalho
pedagógico de inclusão.
Para pensar
Ainda, segundo Sant’ana (2007), a ausência de
Apenas a título de formação especializada dos professores que lidam com
ilustração, a questão
da formação nos os desafios da Educação Inclusiva é um grande
remete à discussão
da formação básica empecilho para que se implemente qualquer ação
do professor. É
preciso, político pedagógica satisfatória neste sentido.
urgentemente, que
seja feita uma
revisão das grades A Declaração de Salamanca é uma referência
curriculares de todos
os cursos de para que se reflita sobre esse assunto. Está clara no seu
formação de
professores. conteúdo a preocupação de que haja uma formação
adequada dos educadores. No rastro dessa tendência,
temos a Lei 9394/96 que sinaliza a preocupação com a
Educação Inclusiva, mas que, pelo menos por
enquanto, segundo Glat, Magalhães & Carneiro, apud
Sant’Ana (idem):
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 77

o que tem acontecido nos cursos de


formação docente (...) é a ênfase dada
aos aspectos teóricos, com currículos
distanciados da prática pedagógica
(...) A formação deficitária traz sérias
conseqüências à efetivação do
princípio inclusivo, pois este pressupõe
custos e rearranjos posteriores que
poderiam ser evitados.

Devemos nos lembrar de que a capacitação


docente não se esgota na participação de cursos
eventuais. Eles são importantes, mas devem vir
acompanhados de programas de aperfeiçoamento
profissional ligado às questões cotidianas da escola.
Isso deve ser feito de modo permanente e integrado,
pois é uma dinâmica contínua. Junto com os cursos,
deverá haver uma reavaliação perene do papel do
professor e seu desempenho.

É de suma importância que qualquer programa


de inclusão faça parte de todo o universo da instituição
escolar em si. Não basta que a atitude da busca pela
inclusão habite apenas as salas onde encontramos um
aluno portador de necessidades especiais.

A inclusão deve ser tratada como uma grande


aspiração social. Sendo assim, sua atitude começa na
direção, passa pelos professores, funcionários e
encontra sua força maior na parceria com os pais.

Essa é a base para a Educação para todos: um


sistema educacional que não se resume apenas a um
punhado de teorias ou formalismos dentro de uma sala
de aula. Como disse Aranha (2007), na Revista
Brasileira de Educação Especial:

No âmbito da Educação, a opção


política pela construção de um sistema
educacional inclusivo vem coroar um
movimento para assegurar a todos os
cidadãos, inclusive aos com
deficiência, a possibilidade de aprender
a administrar a convivência (...) numa
sociedade complexa e diversificada.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 78

Finalmente, como um fechamento para este que

Importante é o primeiro momento de nosso estudo vale reiterar


que a preocupação com o discurso inclusivo tem sido
A Educação Inclusiva uma constante nos debates acadêmicos e, ainda que
como uma
possibilidade de existam muitos desafios a serem vencidos, o caminho
construção de uma
sala de aula melhor, não tem se mostrado impossível.
onde alunos e
professores sintam-
se motivados a
pensar e a crescer Avançamos muito na temática da relação
juntos, com suas
peculiaridades institucional, nas discussões sobre a díade professor-
respeitadas, parece
ser o ponto de apoio
aluno e são sensíveis e bem significativas as mudanças
para a arrancada de atitudes que tangem ao processo inclusivo.
rumo a um avanço
na história da
Educação.
Atendimento e prevenção na Educação
Inclusiva

As linhas de ação programáticas para o


funcionamento do atendimento aos alunos que
apresentam necessidades de atendimento diferenciado
visam complementar as diretrizes que a Secretaria de
Educação Especial do Ministério da Educação e do
Desporto publicou, ainda em 1993, na publicação 01 sob
o título “Encaminhamento de Alunos do Ensino Regular
Para Atendimento Especializado”. O documento
representou um grande avanço no tratamento e
direcionamento de subsídios aos professores que
necessitam de um planejamento racional e
acompanhado para que sejam superadas as
dificuldades de aprendizagem de alguns alunos. Dessa
forma, é possível melhorar seu potencial e seus
desempenhos.

Sabe-se que as dificuldades de aprendizagem


são decorrentes de vários fatores culturais, sociais,
psicológicos e são responsáveis pelo baixo rendimento
de alguns alunos, mesmo os que não possuem nenhum
tipo de necessidades especiais.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 79

Toda a filosofia do trabalho de apoio pedagógico


Dica de
firma-se no respeito às diferenças individuais com Leitura
desdobramento no princípio dos direitos e
oportunidades iguais, mediante atendimento Para um maior
esclarecimento
diferenciado. Vale dizer que a decisão final cabe ao sobre o tema,
recomendamos a
professor em sala de aula. Não se trata de uma forma pesquisa em
Ministério da Justiça.
impositiva, pois, se assim o for, toda a proposta da Brasil (1994)
Declaração de
inclusão se descaracteriza. Salamanca e linha
de ação sobre
necessidades
educativas especiais.
A responsabilidade dos programas de apoio deve Brasília: CORDE,
ficar a cargo do professor, pois sua liberdade de ação é 1994.

uma das bases para todo o processo se dar de modo


bem democrático.

A natureza das dificuldades na aprendizagem


deve ser tratada como conseqüência e não causa
principal do fracasso escolar e essas dificuldades podem
ser superadas se houver a devida estimulação e natural
aceitação da natureza da dificuldade.
Importante

A programação das atividades educativas deve


Em várias ocasiões,
observar a psicomotricidade; a cognição; a expressão podemos reparar
crianças com
livre com ênfase nas artes e a afetividade. grandes dificuldades
para realizar tarefas
relativamente
simples. Esta
Psicomotricidade é a integração das funções dificuldade pode ser
um sinal de distúrbio
motrizes e mentais, sob o efeito do desenvolvimento do psicomotor. Mas não
sistema nervoso. Nela destacam-se as relações devemos confundir a
educação
existentes entre motricidade, afetividade e mente. psicomotora com
educação física.
Podemos entendê-la como ações a serviço da educação Tenham sempre em
mente que a
que se ocupam do movimento no mesmo tempo em psicomotricidade
trabalha no âmbito
que atuam as funções intelectivas e a afetividade. da integração entre
psiquismo e corpo
de modo a permitir
que o indivíduo
A menos que existam razões didáticas, é perceba este último
e domine seus
impossível separar as funções motoras, neuromotoras e movimentos para
perceptivo-motoras das funções puramente intelectuais melhorar toda a
expressão corporal,
e da afetividade. Em face disso, pode-se afirmar que o enquanto que a
educação física visa
os aspectos do desenvolvimento psicomotor se opõem o desenvolvimento
físico.
à dualidade entre psiquê e corpo. Nessa linha de raciocí
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 80

nio, os exercícios psicomotores conduzem de sorte


global e progressiva a uma concepção integral e
coerente do homem.

Ao estudarmos a psicomotricidade, estudamos


também aspectos bem claros da coordenação geral que
envolve o desenvolvimento da coordenação estática e
dinâmica. Em outras palavras, a coordenação que se
realiza em repouso e a que se realiza em movimento.

A coordenação estática é resultante do equilíbrio


nas ações de músculos que, voluntariamente, garantem
conservação de atitudes e do tônus muscular.

A coordenação dinâmica – que pode ser geral e


manual – resulta da ação simultânea de grupos
musculares diferentes e necessários à execução de
movimentos voluntários mais complexos.

São exemplos de coordenação dinâmica geral os


exercícios de correr, pular, saltar, andar ou, ainda, com
movimentos mais elaborados como dar uma
cambalhota ou subir em uma árvore.

A coordenação dinâmica manual envolve os


movimentos das mãos. Se esses são associados à
visão, tem-se a coordenação viso-manual de natureza
dinâmica. Geralmente, as crianças com algum
distúrbio psicomotor podem apresentar as seguintes
características:

Para pensar
a) Deficiências na formação de conceitos;
A psicomotricidade é b) Falhas de percepção e de discriminação em
uma grande aliada
para tratarmos dos geral;
aspectos ligados a
este tema. Note que c) Dificuldades de orientação espaço-temporal;
todo
desenvolvimento d) Problemas no esquema corporal e na
sofre interferências
físicas e cognitivas.
discriminação da gestalt, isto é, na
capacidade de formar um todo compreensível;
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 81

e) Atraso nos níveis de desenvolvimento;


f) Falta de coordenação;
g) dificuldades na leitura e na escrita;
h) Problemas de fala ou de linguagem (dislalia,
gagueira etc.)
i) Lentidão nas tarefas escolares;
j) Rápida fatigabilidade;
k) Dificuldades para copiar do plano vertical para
o horizontal (do quadro para o caderno);
l) Disgrafias, disortografias, escritas em
espelho;
m) Lateralidade indefinida.

A psicomotricidade como um saber a serviço da


Dica de
educação e, mais especialmente, a serviço da Educação Leitura
Inclusiva tem por objetivo educar o movimento
concomitante ao desenvolvimento da inteligência e da Para um melhor
esclarecimento do
afetividade. Ela responde a uma dupla finalidade, pois assunto, sugerimos
o livro:
assegura o crescimento cognitivo do indivíduo, levando NASCIMENTO, L. S.
& MACHADO, M. T.
em conta suas possibilidades bem como, ao trabalhar de C.
Psicomotricidade e
sua afetividade, o auxilia a se abrir mais ao mundo, a Aprendizagem. 5ª
ed., Rio de Janeiro:
se equilibrar, graças à riqueza de intercâmbio com o
Enelivros,1999.
ambiente, em especial com as pessoas que devem ser
encorajadoras, cordiais e estimulantes.

O desenvolvimento psicomotor pode ser


largamente facilitado pelos pais ou responsáveis nos
primeiros anos de vida do sujeito. Quando tal não
ocorre, é provável que apareçam alguns problemas de
aprendizagem. Por esse motivo é que a escola deve
surgir como alternativa para o desenvolvimento
psicomotor. Essa classe de atividades é recomendada
em TODOS os casos de alunos com dificuldades de
aprendizagem ou quando se nota que existem
perturbações que podem, secundariamente, acarretar
problemas de relacionamento.

Recomenda-se, o mais precocemente possível,


iniciar um trabalho de cunho psicomotor. É bem mais sim
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 82

ples promover estruturas motoras ou cognitivas


corretas em indivíduos mais novos. Quando acontece
de trabalharmos com pessoas que trazem esquemas
“errados” ou indesejáveis, o educador deve traçar uma
estratégia a fim de que esses sejam “esquecidos” ou
“abandonados” e isso, além de muito trabalhoso,
demanda um investimento de tempo por vezes muito
grande.

No tocante à cognição, devemos ter em mente


que ela se refere ao ato ou ação de adquirir
conhecimentos. A psicologia da aprendizagem é
particularmente oportuna nessa área. Há um ponto
comum em todas as correntes que buscam explicar o
fenômeno cognitivo do sujeito que é a noção de que
este é um evento complexo. Pressupõe a estimulação
de:

 Percepção e discriminação, através das quais


o indivíduo recebe e interpreta as sensações
que recebe;
 Memória, que permite estocar informações e
sentimentos experimentados que podem ser
evocados ou esquecidos;
 Atenção, por meio da qual é possível manter,
conscientemente, a vigilância;
 Raciocínio, graças ao qual o pensamento
assume formas distintas em seus processos
associativos com destaque à solução de
problemas;
 Conceituação, que permite inserir objetos em
categorias segundo suas características
invariantes;
 Linguagem, através da qual é possível se
exprimir.

Crianças com dificuldades nos processos


cognitivos apresentam distração e são vagarosas, com
a abstração prejudicada e o pensamento, além de lento,
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 83

excessivamente concreto. Demoram a compreender e a


assimilar regras e ordens e ainda esquecem
rapidamente o que aprenderam a muito custo.
Costumam, por isso, ser rotuladas de deficientes
mentais, mas esse nem sempre é um diagnóstico
correto.

Em toda a discussão acerca da Educação


Inclusiva, essas crianças têm sido objeto de estudos
estatísticos que nos assustam, pois elas costumam
representar um grande contingente de alunos que não
se alfabetizam ou se evadem da escola. O fato de não
receberem a atenção devida faz com que elas
engrossem as filas dos candidatos às Classes Especiais.
Embora sejam elementos importantes para o estudo
acerca da Educação Inclusiva, não é possível que seja
feita a confusão desses com aqueles que necessitam de
um atendimento mais voltado ao tratamento das
necessidades especiais.

Cognição envolve percepção e essa, por seu


turno, compreende o ato de conhecer os objetos ou
eventos em suas qualidades e relações. Todo fenômeno
perceptivo implica integração de estímulos e atribuição
de significados aos mesmos. Isso quer dizer que se
fundamenta em interpretações pessoais acerca dos
diferentes objetos.

É um evento dinâmico, onde estão em ação os


cinco sentidos. Seu desenvolvimento requer exercícios
constantes de discriminação visual, tátil, gustativa,
olfativa e auditiva.

No que se refere à discriminação visual,


devemos nos ater ao talento de reter e recordar com
certa precisão algumas experiências visuais anteriores.
Para tanto, é recomendável que seja estimulada a leitura
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 84

ou atividades que solicitem abstração de estímulos


óticos.

O mesmo deve ocorrer na discriminação tátil. A


capacidade de sentir e explorar o que é manipulável
estimulam a abstração, a interpretação e torna a
criança mais disposta a explorar com mais vigor o
mundo que a cerca.

Para navegar Em relação aos aspectos relacionados ao


paladar, é interessante que o indivíduo tenha a
Acesse o endereço
portal.mec.gov.br e oportunidade de praticar o senso analítico na
pesquise no link
Educação Especial. discriminação de gostos e isso, naturalmente, está
associado aos eventos que se relacionam ao olfato.

Finalmente, os estímulos auditivos são


importantes também quando estão em cena a atenção
e a concentração. O mundo possui um apelo auditivo
muito forte. A qualidade e a quantidade de sons
impõem ao indivíduo a necessidade de saber se
relacionar com eventos tão intensos.

Integração dos serviços diagnósticos e


reparadores

Toda e qualquer proposta de integração do


sujeito portador de necessidades especiais tem sido a
tendência orientadora nas questões onde a Educação
Inclusiva se apresenta. Isso, na verdade, representa a
chance de as crianças serem cada vez menos
institucionalizadas. Um maior número delas freqüentará
algumas classes em escolas regulares com respeito às
suas necessidades, à sua integridade e ao esforço
global de permitir sua integração o mais plenamente
possível.

É fundamental que o olhar sobre a Educação


Inclusiva não signifique a negação de alguns serviços espe
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 85

cializados, que, por sinal, precisam ser integrados com


os serviços convencionais. As ações não podem agir
como sendo umas concorrentes às outras. É imperativo
que existam trabalhos multidisciplinares que assegurem
um serviço completo aos portadores de necessidades
especiais.

Se o portador de necessidades especiais vive na


comunidade, parece óbvio que os programas devem ter
a comunidade como referência.

Historicamente, os vínculos da Educação


Especial com a Psicologia e a Medicina, durante um
bom tempo, nos remeteram a um esforço muito grande
para a identificação e o diagnóstico das necessidades
especiais e, em contrapartida, não se atuou tanto na
área relacionada aos aspectos interventivos e
reparadores. Fazer um diagnóstico é uma tarefa que
cabe ao neurologista, ao psiquiatra ou ao psicólogo,
mas essa questão não se encerra aí, pelo contrário, é
um ponto de partida.

As recompensas do diagnóstico correto são


imediatas, ao passo que a satisfação decorrente dos
procedimentos educacionais reabilitadores com quem
necessita de atendimento especializado é lenta e nem
sempre chega como se deseja. O progresso visível
registra-se em meses ou anos e não na velocidade de
uma sessão terapêutica.

Importante
Se o objeto do diagnóstico é a identificação das
necessidades especiais e a apropriada combinação Diagnosticar não é
uma tarefa simples.
entre necessidades e recursos para os serviços de Não devemos nos
precipitar em
inclusão que se apresentam, então essas duas diagnosticar sob
pena de, no lugar de
vertentes deveriam estar constantemente vinculadas. auxiliar, criar mais
Seria ideal se estivessem no mesmo local pelo fato de problemas.

que eles se realimentam reciprocamente.


Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 86

Quando o diagnóstico e a classificação estão


divorciados dos serviços de reparação, educação e
tratamento existentes, os primeiros tendem a se
converter num exercício inócuo. Quando os códigos
educacionais e os regulamentos administrativos
definem a necessidade para assistência especial, na
Dica de
Leitura base de critérios médicos ou psicológicos em vez de
necessidades educacionais, esses profissionais ficam
SAWREY &
TELFORD. O predominantemente envolvidos nas tarefas de
indivíduo
excepcional. Rio de diagnóstico e de certificação de elegibilidade. Dado que
Janeiro: Zahar,
1978. na prática, as classificações psicológicas e clínicas têm,
Encontramos o
freqüentemente, uma relação distante e escassa com
seguinte comentário
repleto de as deficiências de aprendizagem.
pertinência: Por
muitas vezes, é
desejável que
crianças cegas e Na prática, os bons profissionais não se guiam
mutiladas visitem a
escola antes do por meio de rótulos ou de limitações de código. O
primeiro dia de aula
a fim de travarem assunto não comporta caprichos.
conhecimento com a
disposição física e
planejarem como se
deslocar de um As definições e as fronteiras de classes especiais
lugar para outro.
e seus nomes devem ser apropriados a fim de que
contribuam para os fins de classificação. A Educação
Inclusiva não é uma prática cega onde se misturam
diferenças de forma simplória e irresponsável.
Diagnóstico e classificação rotineiros podem nos levar a
direções indesejáveis a menos que estejam vinculados
a serviços de tratamento com acompanhamento e
educação compatível.

O diagnóstico e a classificação precisam ser


pertinentes às necessidades da criança e a todo aparato
assistencial. Isso não significa que se deva procurar um
estabelecimento de Educação Especial – diga-se de
passagem que tais estabelecimentos são fundamentais
na prática da inclusão – significa, isso sim, que a
Educação Inclusiva não é um depósito de crianças
portadoras de necessidades especiais, mas uma atitude
de inserção social que não tem começo nem fim.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 87

Para que a aceitação seja uma regra que não


precise ser lembrada a todo tempo, é preciso que
tenhamos em mente que a aceitação e o respeito ao
indivíduo portador de necessidades especiais devem vir
acompanhados de uma atitude onde liberdade e
oportunidade de desenvolvimento se conquistam a
partir de esforço próprio e não do assistencialismo de
outrem.

É necessário que haja um preparo constante das


outras crianças para aceitarem e trabalharem com um
coleguinha diferente. Seguidas vezes podemos perceber
uma dificuldade para lidar com diferenças de ordem
subjetiva. As crianças poderão precisar de orientação
sobre se devem ajudar ou não aquele colega que
parece precisar de mais apoio que outro. Caso haja
necessidade premente de auxílio imediato, é
fundamental que o professor lhes diga até onde vai a
ajuda e onde começa a piedade ou a superproteção.

Junto a esses aspectos, soma-se um que é


nevrálgico. Pode ser uma séria ameaça ao professor a
matrícula de uma criança portadora de necessidades
especiais em sua sala. Vamos imaginar que ele tenha
tido uma boa formação, com textos sobre o assunto e
discussões acerca do tema. A base teórica sem o auxílio
de um estágio ou de experiências práticas devidamente
orientadas não pode servir de referência para um
encaminhamento racional de uma prática de Educação
Inclusiva.

É natural que ele hesite ao lidar com a situação.


Como manter uma aula com as expectativas de
universos tão distintos sem que um se sobreponha ao
outro ou sem que expectativas sejam menosprezadas
ou supervalorizadas?
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 88

Crianças portadoras de necessidades especiais


numa sala de aula vão nos reportar à necessidade
dramática de mantermos sempre contato com os pais,
profissionais especializados e muita troca de informações
com instituições que mantenham serviços semelhantes.
Vamos relembrar que não há fórmulas para que
tratemos de relações humanas, principalmente aquelas
que envolvem situações tão delicadas.

Nem todos os professores estão formados


adequadamente para trabalhar com os processos de
inclusão. Não podemos incorrer no erro conceitual de
entregar crianças portadoras de alguma necessidade
especial severa a um professor incapaz de aceitá-las ou
compreendê-las plenamente.

A filosofia da inclusão nos remete à discussão da


aceitação das diferenças. Podemos falar de um retardo
mental, uma deficiência visual ou auditiva, um
comprometimento físico ou qualquer situação que torne
o indivíduo merecedor de cuidados especiais sem que,
necessariamente, falemos da sua incapacidade ou
inabilidade social. Na verdade, incapacidade ou
inabilidade social não são produtos de necessidades
especiais e sim, problemas que podem nos afetar a
todos.
Importante

A tendência da Educação Inclusiva é diminuir


A essência da
educação inclusiva essa noção negativa da diferença e conferir-lhe nobreza
é: o diagnóstico, o
trabalho
e dignidade. Não vamos combater os serviços que são
socializador, a
prestados em classes especiais, mesmo porque toda
diminuição do
preconceito e a ajuda no sentido da socialização ou ressocialização
nossa capacidade de
usar as diferenças almeja, em tese, o mesmo fim. O importante é que o
para enriquecer o
potencial humano diagnóstico, o trabalho socializador, a diminuição do
passem a fazer cada
vez mais parte de preconceito e a nossa capacidade de usar as diferenças
nosso cotidiano
escolar. para enriquecer o potencial humano passem a fazer
cada vez mais parte de nosso cotidiano escolar.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 89

Parece, portanto, que, num futuro próximo, se


tornem menos comuns as classes especiais e
independentes para crianças com necessidades
educativas diferentes. Profissionais especializados na
educação das categorias especiais ainda serão
necessários, mas passarão a freqüentar as classes
regulares como professores de recursos a fim de
prestarem sua assistência ao trabalho regular das
escolas que lidam com as crianças portadoras de
necessidades especiais. Esse tipo de abordagem vai,
certamente, diminuir a segregação das classes
especiais.

Cumpre ressaltar que seja qual for o número de


classes especiais que proporcionemos e seja onde for
que tracemos nossas fronteiras diagnósticas para
remoção de indivíduos das classes regulares para
aquelas, sempre haverá um grande número de
deficientes limítrofes com necessidade de ajuda
especial. Os serviços desse tipo jamais deixarão de ser
requeridos para que se desenvolvam programas Você sabia?

adequados e específicos a uma gama vasta de


Esse foi, por sinal, o
problemas mais severos.
grande erro que se
alastrou nos idos
dos anos 70 pelas
A única questão gira em torno de termos escolas públicas do
Brasil quando se
controle do montante de heterogeneidade, dentro das consagrou o famoso
diagnóstico do “AE”
classes regulares, que é compatível com as (aluno especial). Por
conta da
providências em torno das diferenças individuais. incompetência de
sistema educacional,
planejadores e
professores, várias
Constantemente nos defrontamos, crianças com algum
tipo de inadaptação
principalmente nas discussões em salas de aula, com a
escolar foram
idéia – perigosa – de que a solução para todos os “condenadas” pelo
sistema e acabaram
problemas educacionais difíceis está na colocação de por se evadir da
escola. Este fato
crianças em classes especiais. ilustra bem a
necessidade de se
trabalhar de forma
pro ativa com as
A colocação em classes especiais não resolve por necessidades
especiais.
si só os problemas, apenas os transfere. Não serve
como argumento o fato de que a sala especial proporciona
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 90

um professor mais tolerante, uma menor proporção


professor-aluno, uma maior individualização do ensino.
Isso também pode ser garantido numa sala regular.

A existência de um bom manancial de serviços


especiais pode permitir ao professor de classe regular
que se exima da responsabilidade de lidar com a
necessidade especial de um aluno. Esse pode transferir
para outrem a difícil responsabilidade de prover
necessidades de todos os seus alunos.

A tendência humanista na educação, o aumento


nos movimentos dos direitos civis e as implicações de
numerosas decisões judiciais são sinais de que há um
declínio na tendência de colocação em classes especiais
de crianças portadoras de necessidades especiais. Os
defensores dos direitos civis sublinharam que, numa
população escolar, contendo grupos étnicos socialmente
desfavorecidos, o agrupamento homogêneo na base de
medidas convencionais de aptidão resulta em
segregação de fato.
Dica de
Leitura
Alguns tribunais, mais notadamente nos EUA,
PAIVA, Marcelo têm defendido o fim de qualquer tipo de segregação,
Rubens. Feliz Ano
Velho. São Paulo: não importando o argumento. Referem-se à Quinta
Objetiva, 1982.
Vamos lembrar que Emenda de sua Constituição que não tolera qualquer
o respeito às
deficiências permite preconceito.
que o livro acima
seja um sucesso de
leitura ou que outros Podem-se fazer objeções ao fato de que
portadores de
necessidades tribunais avancem na seara da educação, mas também
especiais sejam
grandes
podemos argumentar que negar a uma criança o
colaboradores para o
benefício de pertencer à escola que deseja é uma
desenvolvimento da
sociedade. agressão e tolhe sua liberdade de escolher seu caminho
com livre arbítrio.

Entretanto, na prática, há muitos fatores


seletivos que não conhecemos que operam na
colocação concreta das crianças em classes de
educação especial. As crianças apontadas como
possíveis portadoras de retardos mentais, deficientes edu
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 91

cacionais, comprometidas neurologicamente, são assim


encaminhadas por diversas razões. O desafio está aí e
é preciso enfrentá-lo com coragem.

A dialética da integração

Importante
VAYER, Pierre & RONCIN, C., em Integração da
Criança Deficiente na Sala, São Paulo: Manole, 1989, Enfatizemos,
portanto, que a
propõem uma discussão muito rica que tange ao termo interação professor-
aluno configura as
integração. Afirmam que a integração só é possível se relações entre
necessidades
houver comunicação. Ao citarem Watslawick, P (Une educacionais e
Logique de la Communication, 1972), apontam que “a respostas
pedagógicas
comunicação é uma necessidade fundamental do ser”. adequadas,
demonstrando a
importância das
relações
Nesta linha de pensamento, todos os interpessoais para a
construção do
comportamentos, mesmo os de recusa, oposição ou conhecimento.

retraimento, têm sentido e constituem mensagens uma


vez que são modos de ser e são entendidos pelo outro.
No entanto, para que a comunicação, ou seja, as trocas
com o meio proporcionem algo ao indivíduo, esse
precisa deixar de ser um mero espectador para se
relacionar com o mundo.

A comunicação implica a integração do indivíduo


num contexto relacional.

Essa integração num mundo repleto de


comunicação impõe a presença do outro posto que é o
outro que possibilita ao indivíduo reconhecer-se,
ajustar-se ao contexto que constitui a realidade em que
ele vive.

Em termos de existência, o outro se define como


não sendo eu. Ele é aquilo que o diferencia do outro.
Aquilo que o diferencia de mim. Mas à medida em que
eu me encontro nele, eu tomo consciência de mim.
Segundo Watslawick (idem), para obter uma verdade
sobre o que eu sou eu preciso passar pelo outro. O outro
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 92

é indispensável para a minha existência da mesma


forma como ao conhecimento que tenho de mim
mesmo.

O conhecimento de si mesmo é um jogo


dialético entre pólos que caracterizam a presença do
outro: a diferença e a semelhança. Como explicar que
existem diferenças aceitas e não aceitas? É aí que está
a importância dos meios de comunicação que fazem
com que a presença do outro seja percebida, uma
percepção que se situa no nível das pessoas e no nível
do discurso.

Para No nível das pessoas, o outro é apreendido por


pesquisar
meio de estruturas e atitudes corporais. São as
diferenças muito grandes que vão gerar uma sensação
Pesquise mais sobre
identidade – de estranheza.
alteridade e faça
uma reflexão sobre
este princípio
dialético. No nível do discurso, para se comunicarem,
frente a frente, os interlocutores devem usar as
mesmas linguagens. Se houver diferença significativa
de repertórios, o outro é percebido como um estranho.

Esse conhecimento da dialética identidade-


alteridade, no nível das pessoas e no nível dos grupos
sociais, condiciona todo o entendimento da situação das
crianças que necessitam de cuidados especiais no meio
das outras.

Esse entendimento nos permite entender o


sentido dos termos. Integrar, de fato, tem sentidos
diferentes.

Na forma ativa, significa “fazer seu”. Ou seja,


assimilar. Sendo assim, é o sujeito que integra os
dados de sua experiência diante do mundo e os
combina à informação ou ao conhecimento existentes.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 93

Na forma pronominal, ainda é a pessoa de sua


existência que se integra no grupo ou no contexto
relacional.

Na forma passiva, ”o sujeito é integrado”


exprime o resultado das interações anteriores, as que
conduziram a pessoa a participar das comunicações ou
a se envolver no relacionamento.

Portanto, não podemos confundir a integração


que traz a idéia de “fazer seu” ou “participar de” com
integrar, entendido no sentido de fazer um elemento
entrar num conjunto. No primeiro sentido, estamos no
nível da existência, enquanto que no segundo estamos
diante de uma operação formal.

Para pensar
Daí fica possível definir as condições da
integração da criança portadora de qualquer cuidado Canevaro afirma que
uma criança
especial numa estrutura social. E essas estruturas são deficiente não será
respeitada se for
pertinentes aos diferentes interlocutores frente a abandonada à sua
deficiência, assim
frente. como não podemos
negar a realidade de
sua necessidade
A criança portadora de necessidades especiais especial.

precisa da presença dos outros, mas essa busca precisa


ser feita por meios que a tornem aceitável. Para tal, é
preciso certa autonomia pessoal e uma disposição a ser
aceita no lugar de se fechar em comportamentos de
oposição. Como, de um modo geral, as crianças
tendem a aceitar as diferenças – principalmente se bem
orientadas por um adulto comprometido com a idéia de
integração – é imperativo que o mundo esteja
preparado para desenvolver essa aceitação.

Não basta dar um lugar à criança numa


estrutura de atendimento para que ela participe da vida
ativa do grupo. A integração se dá na medida em que a
criança se integra na estrutura de comunicação que ela
pode envolver-se na ação e no relacionamento com os ou
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 94

tros. O envolvimento é a base de todo


desenvolvimento.

Analisando a história da Educação Especial em


diversos países, é possível que se identifique quatro
grandes momentos no desenvolvimento de provisões
para o atendimento ao indivíduo com necessidades
especiais, principalmente no tocante aos aspectos
educacionais.
Para
pesquisar
Num primeiro momento, havia uma grande
Pesquise na Internet negação ou mesmo uma negligência no tratamento
a história em defesa
de oportunidades especializado. Quando havia algum esforço nesse
iguais para todos e
veja como a sentido, esse era esparso e sem grande suporte
legislação brasileira
aborda o assunto científico. Depois passou-se para um quadro de
hoje.
institucionalização, onde os portadores de deficiências
eram segregados em grandes instituições residenciais,
num modelo de internato. A seguir, foram criadas
alternativas que visavam reduzir a segregação tais
como as escolas especiais. Num quarto momento, que
representa o quadro atual, nós temos uma atitude
marcada por tentativas de integração dos indivíduos em
ambiente o mais próximo possível do daquele oferecido
pela cultura ao sujeito considerado normal. Essas
experiências são melhor observadas no Canadá, nos
EUA e em alguns países europeus.

A filosofia atual da normalização predominante


no contexto da Educação Especial foi originalmente
introduzida na Dinamarca por Ninje (1968) e
sustentava a idéia de que todos que possuíam algum
tipo de necessidade especial, inclusive os que
apresentavam algum déficit mental, tinham direito de
experienciar um estilo ou um padrão de vida que seria
comum ou normal à sua cultura. Isto nos remeteria à
idéia de que não poderia haver distinções de ofertas de
oportunidades para que todos pudessem participar de ati-
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 95

vidades comuns àquelas partilhadas por grupos de


idades equivalentes.

A difusão do princípio de normalização


significava o reconhecimento dos mecanismos
desumanos de marginalização e discriminação social a
que eram submetidos principalmente os portadores de
algum retardo mental. A discussão desse princípio
parece ter surgido a partir do questionamento de
provisões do tipo de instituições residenciais para
portadores de deficiência mental e das limitações que
esse tipo de serviço sobrepunha à sua população em
termos de estilo de vida.

Assim, além de marginalizar indivíduos do


convívio social próprio de sua cultura, as grandes
instituições com seus problemas administrativos e
técnicos impunham um padrão de vida bem
diferenciado em termos de estimulação ambiental que
acarretariam limitações sociais e pessoais para os que
faziam uso de seus serviços. Limitações, cumpre
ressaltar, que iam além das originais que as tinham
levado à institucionalização.
Quer
saber mais?
Por conta disso, o atendimento poderia gerar a
internação permanente do sujeito, uma vez que estaria Fonseca (1995)
sustenta que a
se promovendo, de fato, a reafirmação da diferença e a integração como
filosofia educacional
incapacidade de o sujeito portador de cuidados não se defende
ideologicamente.
especiais aprender regras e condutas normais de sua Trata-se de um
realismo social e de
cultura de fato. Wolfensberger, em 1972, elaborou uma uma justiça social a
que o sistema de
proposta onde a normalização dos estilos de vida seria
ensino não pode
transformada ou resolvida em normalização de continuar alheio.

serviços. Ele partiu do pressuposto de que ambientes


adequados seriam aqueles que se aproximassem o
mais que pudessem daqueles vividos pelos ditos
normais. A sua convicção era a de que as pessoas
portadoras de necessidades especiais seriam melhor
atendidas se a sociedade lhes prestasse os mesmos servi
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 96

ços ou, ainda, serviços com o mínimo de restrição


possível em comparação àqueles propostos pela
população em geral.

Suas propostas produziram conseqüências na


prestação de serviços para todas as categorias de
educandos com necessidades especiais e trouxeram
uma nova luz no princípio de integração do sujeito
necessitado.

Uma das medidas políticas de maior impacto


nesta área foi a promulgação da lei pública 94.142, nos
EUA, que garantia uma educação pública apropriada
para todas as crianças com necessidades especiais.
Esta lei acabou por gerar um grande movimento pró-
integração, pois veio a incentivar a criação gradual de
serviços educacionais na comunidade e desestimulava a
institucionalização de todo aquele portador de
necessidades especiais.

Os estudos de que se têm notícia na área da


Educação Inclusiva vêm se somar a toda a demanda
social por uma normalização que integre e não
discrimine. Não existe um só caminho ou estratégia que
tenha como meta a integração ampla.

Devemos analisar essa meta levando em


consideração a integração em três frentes cruciais:
Família, Escola e Comunidade, pois nessas três esferas
ocorrem relações e interações sociais significativas em
termos de modo de vida e que, de certa forma,
representam um nível de complexidade crescente e
racional de toda estratégia de integração.

É bom que se frise que nenhum progresso tem


avanços com consentimento unânime. É saudável que
existam conflitos. Todos os projetos humanos tendem a
se chocar com a conformidade do meio em que eles se
instalam.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 97

A Filosofia da Integração Educacional

A integração e a natural aceitação de pessoas


deficientes sempre estiveram ligadas a medos,
superstições, receios, princípios de exclusão.
Infelizmente, os exemplos são numerosos desde
Esparta.
Para refletir
Costumava ser um ato até certo ponto aceito, e
por vezes desejado, excluir os diferentes do contato Podemos lembrar
aqui, a título de
social sob a máxima inaceitável de que “longe dos elucidação, a
comovente história
olhos, longe do pensamento”. de Quasímodo (o
Corcunda de Notre
Dame), mantido
O ideal platônico foi ao limite ao afirmar que “as escondido em
condições
mulheres dos nossos militares são pertença da subumanas e que
despertava
comunidade assim como seus filhos, e nenhum pai repugnância nos que
punham os olhos
conhecerá o seu filho e nenhuma criança, os seus pais. sobre sua figura
Funcionários preparados tomarão conta dos filhos dos assustadoramente
diferente.
bons pais, colocando-os em certas enfermarias de
educação, mas os filhos inferiores, ou dos melhores,
quando surjam deficientes ou deformados serão postos
fora num lugar misterioso e desconhecido onde deverão
permanecer”.

Esse ponto de vista simplesmente inaceitável,


antiético e desumano ainda surge hoje em algumas
situações, envolvendo pessoas submetidas a condições
de vida específicas. Vale lembrar aqui alguns distúrbios
sociais em países modernos e democráticos, onde a
intolerância promove atos de barbárie movidos pelo
racismo que vão desde suas expressões mais
animalescas até as manifestações mais torpes de
xenofobia.

A integração é um assunto que está na pauta da


dignidade humana que necessita de respostas
humanizadas contra a indignidade e a ignorância. Nós
merecemos as mesmas oportunidades, os mesmos
direitos de inserção, de inclusão e de realização no
âmbito psicológico e no social.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 98

A política da segregação, da separação, da


exclusão é anti-humana na medida em que ser
deficiente é, sem dúvida, uma probabilidade da
condição de qualquer um. De certa forma, todos os
seres humanos são potencialmente deficientes e essa
deve ser a base da mudança da atitude da sociedade
no que toca à integração. Não basta discutirmos a
integração apenas no nível da educação. O movimento
deve ser feito, inicialmente, integrando os portadores
de necessidades especiais e os ditos normais. É uma
postura política que se reflete no dia-a-dia e que,
graças a ela, se desdobra em vários outros campos.
Mas o primeiro passo está no campo da educação.

Nenhuma razão humana e científica pode


afirmar que a melhor postura para a integração passa
pela separação das diferenças.
Dica do
professor
A integração compreende um valor constitucional
Gostaria, aqui, de que, em si, deve vir consubstanciar a aceitação da
fazer uma
observação mais diferença humana. Esse valor tem que respeitar a
pessoal que põe em
dúvida o diversidade cultural e a social e, em paralelo, a unidade
assistencialismo em
quaisquer de suas do ser.
manifestações. Não
podemos aceitar
como prova de
altruísmo nenhuma
Nenhum sistema de ensino poderá impor uma
ação que subestime
homogeneidade ou até uma normalidade ideal. Essa é a
a iniciativa de
outrem, seja sob base do totalitarismo, da ditadura, dos regimes
que argumento for.
O grande desafio é alienantes e do fascismo. A busca da eficiência plena,
encontrar a melhor
forma de do rendimento perfeito, da precisão não se afina com a
transformar todos
em cidadãos política de integração plena.
participativos.

Para que seja possível uma política de


integração satisfatória, é preciso que sejam ampliadas
as oportunidades educacionais. Os programas e os
currículos terão de ser diferentes em função das
necessidades educacionais específicas. A filosofia e o
fundamento científico respeitarão os estilos e as caracte
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 99

rísticas de cada um para que possamos desenvolver


uma atitude centrada na semelhança diferenciada e não
na semelhança indiferenciada que, infelizmente, rege
alguns estabelecimentos escolares que, sob a capa de
um programa integrador, promovem atitudes de
caridade, comiseração e resignação que em nada
auxiliam a filosofia da integração. Integração
subentende ações em prol de direitos humanos e
cívicos com o intuito de modificar a estrutura da própria
escola.

Para isso, luta-se por uma escola que se adapte


a todas as crianças, ou seja, à variedade humana.
Como instituição social, não poderá continuar a agir no
sentido inverso da integração. Ainda que se promovam
programas de integração, é preciso que a escola reveja
sua inflexibilidade e se disponha a ver e a ouvir melhor
seus alunos. Não pode mais persistir e excluir
sistematicamente as crianças que necessitam de
cuidados extras, rotulando-as ou estigmatizando-as
como portadoras de uma doença horrível, incurável e
indesejável ou marcando-as com um sinal de
inferioridade permanente.
Dica de
Leitura
As estruturas educacionais não podem funcionar
como modelos de “reservas” ou “guetos”. As turmas ou A esse respeito,
recomendamos a
instituições especiais devem se orientar no sentido de leitura do livro de
ELLIOT, Alison J. A
gerar estruturas edificantes de envolvimentos Linguagem da
Criança. Rio de
educacionais sem muitas restrições. A escola deve Janeiro: Zahar,
1982.
buscar o modelo filosófico da compreensão da
heterogeneidade.

Utilizar as Classes Especiais como a reafirmação


das diferenças é manter os mecanismos seletivos,
incompetentes e reprodutivos do mito da uniformidade
cultural.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 100

O deficiente – ou portador de necessidades


especiais – deve ser visto como um ser humano
possuidor de um potencial de aprendizagem, de um
perfil intra-individual e de um repertório de
comportamentos que devem ser maximizados e
otimizados pelo próprio processo educacional.

Toda problemática da integração carrega em si a


necessidade de se ver o outro como entidade única que
merece respeito. As características de cada um devem
ser criteriosamente estudadas para que possamos
adequar ensino e capacidades potenciais.

Lembremos que todos os indivíduos podem


apresentar altas habilidades em algumas áreas da
atividade humana bem como subdotações em outras
que sejam propostas. Não é difícil encontrarmos
pessoal portador de necessidades especiais realizando
tarefas de forma superior aos que não possuem
nenhum tipo de limitação.

Para pensar
É papel de toda a sociedade, e a escola como
Lembrando, sua representante fiel tem a responsabilidade de
novamente, Vitor da
Fonseca: “Não há divulgar a idéia, através de práticas efetivas, de que
direito humano que
justifique a não há crianças ineducáveis (salvo alguns casos
segregação”.
severos de total incapacidade).

Em decorrência desta visão, fica claro que o


melhor local para se promover a integração é a escola.
É lá onde todos aprendem. Nas classes regulares com
propostas inclusivas, além de se aprender sem o
fantasma do estigma, o aluno tem chance de aprender
melhor justamente por estar dentro de um sistema
organizacional que se baseia não apenas em conceitos,
mas em atitudes com clara preocupação humanística.

A escola tem vários desafios no seu processo de


desenvolvimento. O mais premente de todos, que tem
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 101

vários desdobramentos cruciais, é pesquisar novos


programas, novos currículos, novas atribuições para os
mestres, novos conteúdos na formação docente, novo
diálogo entre os elementos que fazem parte de seu
universo, novas formas de colaboração entre serviços
técnicos a fim de se chegar a uma prática integradora
calma e eficaz.

A adaptação do ensino ao educando portador de


necessidades especiais, embora seja uma preocupação
clara nas discussões acerca da Educação Inclusiva,
ainda está longe de ser uma realidade alvissareira em
nossas escolas. Existem algumas instituições que têm
se esmerado em oferecer um ambiente apto para
receber e trabalhar de forma aceitável alunos que
requeiram cuidados específicos, mas ainda é pouco
num universo tão amplo como esse.

Fonseca recorre a Quintiliano (35-95 d.C.) que


já falava sobre isso e advertia que os aprendizes têm
características diferentes e por isso os professores
deveriam adequar os seus métodos de ensino.
Dica de
Leitura
A investigação pedagógica já demonstrou que a
resposta à instrução é diferente de indivíduo para Há um artigo
maravilhoso sobre
indivíduo e de professor para professor. Esses últimos, uma experiência de
integração escolar,
aliás, são tão diferentes como os seus educandos. O em Santa Catarina,
escrito pela
processo ensino aprendizagem é muito mais complexo Professora Enicéia
Mendes, publicado
do que pode parecer. Não sabemos ainda quais os na Revista
princípios psicopedagógicos que governam as condições Integração, ano 5,
nº. 12.
externas (ensino) e as internas (aprendizagem) de todo
o processo.

A investigação nesse campo é urgente, pois


pode facilitar a utilização de processos de
individualização, bem com os de integração.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 102

Métodos de recitação ou de dedução não se


mostram plenos em seus objetivos finais e geram
frustrações ora em um tipo de aluno, ora noutro. Isso
faz desenvolver um sentimento de inadaptação. Não se
pode, portanto, continuar a aguardar que sejam os
alunos que se adaptem aos métodos escolares. Esse é
um movimento recíproco. Os métodos não são garantia
de sucesso. A melhora de uma instrução para uns pode
significar a piora para outros.

A individualização como sinônimo de um


processo integrador reúne, ao mesmo tempo novas
atitudes, novos processos de instrução, prevenção,
reforço e interação. É uma questão de superação, pois
as expectativas devem ser positivas.

O segredo da aprendizagem é atender ao nível


das crianças. Pode-se dizer que é um movimento que
vai do mestre ao aluno, atendendo o anseio do
aprendiz e não esperando que este vá ao nível do
professor. O atendimento deve ter essa postura.

É importante que, nas discussões acerca da


escola de qualidade, exista o espaço de reflexão sobre
os novos programas e as estruturas que permitirão que
umas crianças evoluam mais lentamente do que outras
sem que isso signifique a imposição de estigmas ou
rótulos de inferioridade ou superioridade. Precisamos
exercitar, constantemente, a noção de que os
processos de integração exigem mais esforços do
sistema educacional. É necessário rigor no
planejamento das tarefas, mais flexibilização nos
programas e, sobretudo, mais simplicidade para
tratarmos da inclusão.

Os avanços nessa área serão maiores e melhores


se houver uma preocupação pelos níveis de compreensão
revelados pelos educandos. A individualização e, como tal,
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 103

a integração terão de caracterizar e controlar de modo


mais eficaz o processo ensino-aprendizagem.

A integração é uma filosofia educacional que


comporta um dinamismo e um processo pedagógico
muito peculiares. Devemos pensá-la como uma ótima
alternativa aos programas escolares tradicionais, posto
que esses costumam ser elaborados sem grandes
fundamentos científicos.
Dica de
Leitura
As discussões acerca de todo mecanismo
conceitual da integração nos remete a uma discussão O livro de
WINNICOTT, Donald
que está além das boas intenções. São múltiplas Woods. A criança e o
seu mundo. Rio de
atitudes que começam pelo respeito às características Janeiro: Guanabara
Koogan, 1982, é
de cada um. Esses são mais importantes do que o muito útil para o
esclarecimento da
desempenho nos testes.
compreensão acerca
desta discussão.

Como um apoio imprescindível da didática, a


integração age no sentido de compensar as áreas mais
comprometidas do educando. Dessa forma fica bem
claro que há a preocupação em otimizar as áreas
fortes. Por conseguinte, utiliza as capacidades
existentes. Ao aumentar o capital das “áreas fortes”
dos alunos, os seus horizontes se alargam. Assim, é
menos traumático abordarmos suas dificuldades.

Conclusão

O portador de necessidades especiais não deve


ser tratado como uma ameaça àqueles que não o são,
só porque se pensa que os professores teriam que lhes
dar mais atenção do que aos outros. O portador de
necessidades faz parte da população escolar e é desejo
de todos que ele seja tratado da mesma forma em
termos educacionais. A existência de classes regulares
pode vir a ser uma forma irreparável de
estabelecimento de diferenças.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 104

A classe especial sem o devido


encaminhamento, como uma solução de
encarceramento, constitui uma negligência e uma
rejeição inaceitáveis. Toda a intenção da inclusão é
buscar a melhor forma de integração.

Para pensar
A intenção é a busca constante de um processo
Esta discussão, de inclusão progressiva que exige a realização de
aliás, nos remete à
discussão anterior esforços maciços e intensivos com todos do universo
que critica o
assistencialismo.
escolar.
Esta é mais uma
atitude de palanque
do que uma ação, Começamos com o investimento crucial na
realmente,
integradora. formação dos professores e no fornecimento de apoios
materiais e logísticos. Os professores carecem de novas
atitudes para desenvolverem novas competências. Não
é possível fazer a integração sem que haja um trabalho
de base com os professores do ensino regular. Será
desastrosa toda e qualquer ação pretensamente
inclusiva sem um respaldo prático e teórico aos
sustentáculos do processo educativo.

Para isso, vale mencionar a brecha perigosíssima


que se abre ao haver um dispositivo legal que proíbe a
escola de recusar a matrícula de um aluno portador de
necessidades especiais. Tal fato, ao contrário do que a
lei possa sustentar, não deve ser entendido como uma
manifestação de preconceito, mas, sim, um sinal de
despreparo em se trabalhar com tal clientela. Aceitar
um aluno deficiente sem base ou recurso para atendê-
lo pode ser mais nocivo do que pensamos.
Para refletir

A integração só terá um bom êxito se todo o


Deixamos aqui um
espaço para que sistema de ensino adotar uma postura nova.
possamos pensar
melhor sobre nossas Precisamos criar serviços adequados, ultrapassar a
ações no sentido de
minimizar os efeitos pobreza dos equipamentos escolares, o anacronismo de
danosos da falta e
da dificuldade de certos processos arbitrários de diagnóstico e de
aceitação dos outros
em nosso cotidiano. classificação, intensificar a necessidade de inovar e de
melhorar a formação de profissionais gabaritados.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 105

A integração é imperativa, pois passa pelo


reconhecimento de que toda criança é especial. Perante
a lei, ela requer proteção e respeito pelas suas
necessidades.

Sabemos que não há base científica que sirva de


argumento para segregar seres humanos por idade,
sexo, religião, etnia ou qualquer outro motivo. Sendo
assim, não deve haver razão para segregar em função
de uma necessidade especial. Cuidado é uma coisa,
preconceito é outra.

As crianças portadoras de cuidados especiais


devem se transformar em adultos integrados ao seu
mundo, pertencentes e atuantes em um mundo de
igualdade onde as diferenças não signifiquem
argumento de segregação.

Devemos observar, no entanto, que classes


especiais não devem ser encaradas com desconfiança,
pois são importantes no encaminhamento de uma série
de atividades complementares, pois há que se entender
que existe uma necessidade especial a ser observada.
Isso não quer dizer que as classes especiais devam ser
entendidas como o refúgio da população que a solicita.

A educação especial não pode ser uma educação


desigual, encarada à parte da regular. Fiar-se na
proliferação de serviços e estruturas especiais só a
torna mais mecânica e onerosa. A Educação Inclusiva
não quer negar de forma peremptória as classes
especiais. Sua intenção é integrar todos os serviços no
bojo da escola, pois acredita que a educação alternativa
deve estar dentro dela e não em programas deslocados
do seu dia a dia.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 106

Se a integração for uma realidade, as classes


especiais perderão o seu caráter de manutenção do
Para pensar
diferente, o sentido do estigma será muito menor e a
Vamos relembrar escola terá dado um grande passo em direção à real
Vítor da Fonseca
quando diz que qualidade de ensino onde democracia e igualdade se
todos os seres
humanos contêm a completam.
gênese da
deficiência.
A integração exige um constante diálogo com
todos os serviços que fazem parte da estrutura escolar.
A contribuição de especialistas, estratégias de instrução
e abordagens apropriadas é simplesmente
imprescindível. Esses contatos devem ter locais bem
definidos e fim específico, ou seja, o de dar ao aluno
especial as condições para freqüentar a classe regular.

Finalmente, a Educação Inclusiva como filosofia


educacional deve:

 Mudar o sistema de encaminhamento, a


gestão de currículos, estratégias
instrucionais, as funções dos profissionais
envolvidos;
 Criar programas de prevenção, intervenção,
reeducação e formação de pesquisadores;
Dica do  Alterar processos de diagnóstico, identificação
professor
precoce, prescrição;

Finalizando nossa  Reavaliar constantemente os programas e


discussão, podemos
dizer que a
reforçar aqueles que foram bem-sucedidos a
integração como um
fim de que sirvam de modelo para outras
ideal filosófico num
mundo de guerras, experiências.
de injustiças, de
severo desrespeito
aos direitos
humanos, à Conseguindo caminhar na direção da igualdade
soberania dos
povos, à soberania de oportunidades na escola para todos os que dela
dos países mais
pobres pode fazem uso e que dela dependem para o usufruto de
representar o início
de uma era de uma vida mais digna, toda a segregação que já
menos intolerância e
estupidez.
presenciamos, certamente, será apenas mais uma
amarga lembrança histórica de nossa ignorância.
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 107

EXERCÍCIO 1

A frase “a inclusão escolar está fundamentada numa


concepção teórica de educação de qualidade para
todos, no respeito à diversidade do alunado” está em
um contexto que destaca a:

( A ) preparação constante dos profissionais envolvidos


na educação;
( B ) diversidade das necessidades especiais;
( C ) democracia escolar;
( D ) incompetência do sistema escolar em lidar com a
educação inclusiva;
( E ) desigualdade social.

EXERCÍCIO 2

Toda a filosofia do trabalho de apoio pedagógico firma-


se:

( A ) nas atividades extracurriculares;


( B ) no desenvolvimento de modernas técnicas de
ensino;
( C ) no respeito às diferenças individuais;
( D ) nas salas de estimulação precoce;
( E ) no amadurecimento de cada indivíduo.

EXERCÍCIO 3

Escreva de que forma Vayer e Roncin explicam ser


possível a integração.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | Diagnóstico e prevenção 108

EXERCÍCIO 4

No contexto da educação inclusiva, explique o que


significa a afirmação de Aranha de que é necessário
aprender a administrar a convivência numa sociedade
complexa e diversificada.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 A integração é imperativa, pois passa pelo


reconhecimento de que toda criança é
especial. Perante a lei, ela requer proteção e
respeito pelas suas necessidades;

 A integração exige um constante diálogo com


todos os serviços que fazem parte da
estrutura escolar, especialistas, estratégias
de instrução e abordagens apropriadas é
essencial;

 A educação especial não pode ser uma


educação desigual, encarada à parte da
regular. Assim também, a Educação Inclusiva
deve integrar todos os serviços no bojo da
escola, para que a educação alternativa
esteja dentro dela e não em programas
deslocados do seu dia a dia.
A Construção do

4
Conhecimento e seu

AULA
Significado na
Educação Inclusiva
Marcelo Saldanha
Apresentação

Nesta aula trataremos da construção do conhecimento e seu


significado na educação inclusiva. Destaca-se uma breve história
da Educação, definindo os pontos marcantes desta bem como
suas transformações de acordo com a evolução das sociedades.
Neste percurso chega-se aos fundamentos de Piaget que
influenciou as modernas abordagens educacionais, e a posição de
Vygotsky que em seu pensamento o cérebro possui uma
capacidade de adaptação que o permite ser modelado no decorrer
da história de cada um e da própria espécie.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Conhecer as diferentes abordagens educacionais ao longo da


história da humanidade;
 Destacar os estudiosos mais recentes que influenciaram a
forma de se compreender a construção do conhecimento e seu
significado para a educação inclusiva;
 Aprofundar o conhecimento das necessidades a serem
adaptadas nas escolas para o trabalho de inclusão;
 Verificar as adaptações curriculares necessárias na escola,
particularmente, as inclusivas.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 110
Educação Inclusiva

Introdução

A discussão em torno da construção do


conhecimento nos remete às idéias de Jean Piaget e,
por conseguinte, nos coloca diante da problemática da
aprendizagem e seus naturais desdobramentos.

Entretanto, a construção do conhecimento tem


origens mais remotas e merece a atenção de todos nós,
pois nos coloca diante da situação da escola como
agência educacional responsável pela visão do homem
inserido num contexto maior do que o seu tempo. O
conhecimento é um produto humano e estudá-lo é
imperativo para que a humanidade saiba lidar com suas
injunções.

Importante
Piaget afirmou que cada criança constrói, ao
A luta do homem é a longo do seu desenvolvimento, um modelo próprio de
luta pela igualdade,
dignidade, fim das mundo e as chaves principais desse desenvolvimento
doenças, das
guerras e das são, em primeiro lugar, a própria ação do sujeito e,
injustiças.
posteriormente, o modo pelo qual isto se converte num
processo de construção interna, ou seja, de formação
dentro de sua mente de uma estrutura em expansão
contínua que corresponde ao mundo interior.

Isso é particularmente interessante se levadas


em conta as intercorrências vividas pelo indivíduo ao
longo de sua jornada de formação. Esse é o foco deste
trabalho ao fazer a relação entre a construção do
conhecimento e suas aplicações no âmbito da Educação
Inclusiva.

Educação Inclusiva tem sido um tema


exaustivamente explorado no intuito de se estabelecer
uma estratégia que una eficiência, qualidade e
humanização no atendimento ao portador de
necessidades especiais sem que seja descaracterizada a
proposta da escola como instrumento de legitimação
social.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 111
Educação Inclusiva

A escola é, ou deveria ser, o local onde todos


tivessem as necessidades básicas para um
desenvolvimento saudável atendidas. O mundo ao
redor deve estar ao alcance de todos, como bem disse
Piaget ao lembrar que a própria criança exerce controle
sobre a obtenção e a organização de sua experiência do
mundo exterior. Pode não ser a essência, mas esta é
uma visão muito importante de todo processo de
construção do conhecimento humano.

A construção do conhecimento e seu


significado na Educação Inclusiva

Ao se falar de Educação Inclusiva, entretanto,


um ponto merece destaque para que possamos
entendê-la dentro de um processo cultural ou, mesmo,
a partir de um enfoque histórico. Falamos da
construção de um conhecimento que tem origens
remotas demais e que, por essa razão, merece ser
lembrado constantemente.

A Educação Especial começa a existir a partir de


uma preocupação do ser humano em se entender de
forma mais metódica e aprofundada dentro do
fenômeno transformador da educação. Nessa busca, há
um movimento para a identificação, a avaliação e a
criação de programas especiais para crianças cujas
dificuldades ou limitações para aprender requerem um
auxílio extra para alcançar seu pleno desenvolvimento
educativo. As dificuldades podem ir desde disfunções
físicas (problemas de visão, de audição, mental, de
Você sabia?
locomoção...) até questões relacionadas a
comportamentos inadequados. Acredita-se que em
torno de 20% das
crianças necessitam
de algum tipo de
As dificuldades podem aparecer de várias formas. auxílio específico ao
longo de sua
Não podemos nos esquecer das dificuldades mais gerais
trajetória escolar.
com a leitura, a escrita, a matemática que acabam por de-
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 112
Educação Inclusiva

mandar uma ajuda extra. A qualidade e a natureza


destes auxílios constituem o cerne das dúvidas e
desafios da Educação Inclusiva.

Podemos dizer que muitos alunos resolveram


ou resolvem seus problemas no âmbito da escola
ordinária e apenas uma pequena parcela, dada a
complexidade de suas dificuldades, necessita fazer uso
dos serviços especializados a fim de que possam ser
avaliados na medida justa de suas limitações e
necessidades.

Em cada escola e em cada classe, existe um


ciclo de avaliação, de planejamento, de aprendizagem e
de consideração das necessidades dos alunos. Esses
estudos levam em conta o amplo horizonte de
habilidades, atitudes e interesses que cada um traz
para o universo escolar. Pode-se dizer que a maioria
das crianças aprende e progride dentro de um contexto
de condicionamentos locais. Entretanto, alguns
encontram dificuldades e, por esse motivo, são
merecedores de receber atendimento às suas
necessidades especiais.

Considera-se portador de uma necessidade


especial aquele que mostra uma dificuldade mais
severa para aprender do que os demais de sua mesma
faixa etária, se apresenta alguma disfunção que o
impeça de realizar o que seus colegas realizam.

A amplitude destas dificuldades afeta a


capacidade de aprender e progredir sem grandes
traumas. Podemos depreender uma série de fatores
que vão desde o que a escola oferece como cotidiano
de seus serviços até a qualidade de serviços adicionais
e a etapa em que a dificuldade foi inicialmente
identificada.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 113
Educação Inclusiva

Não podemos, ainda, dizer que existem


convicções fechadas no que toca à Educação Especial
Importante
pelo simples fato de que ainda faltam subsídios para a
sustentação de todos os seus desdobramentos. Uma discussão
muito importante
Vivemos hoje um certo dilema que surge quando em torno da
problemática da
alguns quadros de inadaptação são tão intensos que Educação Especial
tem sido a
reclamam uma abordagem realmente diferenciada.
propriedade com
que se abordam as
dificuldades e os
A partir da década de 80, houve uma desafios que
decorrem deste
intensificação no que se referia à Educação Especial nos fenômeno.

países desenvolvidos. Isso gerou uma grande mudança


nas atitudes profissionais e públicas que marcou o início
de um movimento realmente firme para a integração
das pessoas portadoras de necessidades educativas
especiais dentro das escolas normais. Os pais e
responsáveis passaram a se envolver com mais
intensidade no movimento de revisão das necessidades
de seus filhos e, cada vez mais, manifestam suas
preferências (limitadas a certas condições) para que
estes sejam atendidos pelas escolas normais.

A ampliação e a melhoria dos serviços sociais e


de saúde contribuíram para aperfeiçoar o diagnóstico e
tratamento das necessidades especiais. A identificação
dos pontos fortes e fracos de cada aluno, a fim de que
lhes seja garantida uma educação de qualidade e
apropriada, fez abrir um horizonte promissor no
contexto da Educação Inclusiva.

É bom que se frise que as boas intenções


não são garantia de sucesso. Não devemos perder de
vista que, mesmo nos países mais desenvolvidos, esta
mudança só será acompanhada de bons resultados se,
além das famílias afetadas e das escolas, a sociedade
exercer seu papel e exigir dos governantes leis e
estruturas que permitam a plena participação de todos
os cidadãos na participação e na construção de seu
mundo.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 114
Educação Inclusiva

Sociologicamente, todo portador de


necessidades especiais era marginalizado, fosse nos
aspectos econômico, social ou político.

Para pensar
Ao longo da história da humanidade, é fácil
A Educação Inclusiva identificar vários tipos de percepção no que dizia
tem origens na
própria necessidade respeito a essa população. Durante muito tempo, a
do ser humano em
se entender como atitude para com o sujeito portador de necessidades
alguém que não é
perfeito. especiais trafegava entre o desprezo e a caridade.

É muito animador percebermos mudanças


positivas em relação a essa questão, pois o
desenvolvimento social passa, seguramente, pela noção
do potencial que cada um tem a oferecer ao mundo.

Nosso trabalho vem corroborar esse movimento


e destacar, no processo de construção do conhecimento
humano, a importância inadiável de lutar pela
valorização da vida e todas as suas expressões de
engrandecimento do homem e da ciência.

Uma pequena história da Educação

O conceito de Educação destaca os métodos que


uma sociedade mantém (seus conhecimentos, culturas
e valores) e afeta os aspectos físicos, mentais,
emocionais, morais e sociais do indivíduo.

Teremos, nesta seção, uma rápida noção


histórica para que exista um nexo na busca por
modelos atuais. É bom que tenhamos em mente que o
modelo atual remonta a uma história que, apesar de
longínqua, ainda repercute nos dias de hoje.

Os sistemas de Educação mais antigos tinham


duas características comuns: ensinavam religião e
mantinham as tradições do povo. No antigo Egito, as esco
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 115
Educação Inclusiva

las dos templos não ensinavam apenas religião, mas,


também, as bases da escrita, das ciências, da
matemática e da arquitetura. De forma semelhante, na
Índia, a maior parte da Educação estava nas mãos de
sacerdotes. A Educação na China Antiga se centrava na
filosofia, na poesia e na religião de acordo com os
pressupostos de Confúcio, Lao-Tsé e outros filósofos.

Os sistemas de Educação nos países ocidentais


tiveram forte base na tradição judaica e cristã. Uma
segunda tradição derivava da Educação da antiga
Grécia com a marcante contribuição de Sócrates, Platão
e Aristóteles.

A Educação grega é estudada em dois grandes


Você sabia?
momentos: em Esparta e em Atenas. Em Esparta,
destacamos sua preocupação de Educação rigorosa com
Em seu próprio
repressão a todo luxo e responsabilidade do Estado no significado, a
palavra que os
que tangia à formação dos jovens. A compreensão com espartanos
aplicavam para a
as dificuldades não era uma tônica em suas educação já dizia
tudo: agogê, isto é,
instituições. Tanto que havia um conselho de anciãos “adestramento”,
“treinamento”.
em Esparta que examinava as crianças que nasciam e,
ao ser percebido qualquer problema em sua
constituição que as tornassem, para seus moldes,
inaptas socialmente, eram sacrificadas ou adotadas
pelos ilotas – servos da gleba que gozavam de poucos
direitos e eram tratados com desumanidade.

A Educação espartana tinha pouca preocupação


com os aspectos intelectuais e essa característica a
levou rapidamente a perder seu auge e acabou no
obscurantismo como uma simples província romana.

Em Atenas, vamos perceber uma elevação no


que toca aos princípios ligados à Educação. Na verdade,
podemos dividir sua história em antes e depois de
Péricles, citado historicamente como um grande
legislador e orientador da cultura helênica.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 116
Educação Inclusiva

Antes de Péricles, Esparta tinha uma natureza

Você sabia? também militarista com ideais cívicos, mas com certo
respeito à individualidade. Depois de Péricles aparece a
Data desta época a noção do expoente mais claro e perfeito dos ideais
famosa “Enkiklios
Paidéia” que helênicos.
englobava o ensino
da retórica, da
dialética, da
aritmética, da teoria A figura do homem belo – no sentido das
da música, da
geometria e da formas, força corporal e harmonia dos movimentos – e
astronomia.
bom – no tocante ao comportamento social - valoriza
os objetivos pessoais e a educação caminha em direção
à democratização.

O fim da tirania do Estado sobre o cidadão abriu


a possibilidade para o direito à discussão, ao
desenvolvimento da dialética e ao ensino da retórica. A
sistematização do currículo escolar é a conseqüência
mais positiva desse movimento. A euforia educacional
gerada por Atenas culminou na criação da universidade.

Infelizmente, o crescimento acelerado demais


faz com que o ideal grego perca sua essência e sua
queda diante do domínio de Roma torna-se inevitável.

Roma era apenas uma comunidade camponesa


formada pelos latinos, gauleses, etruscos e japígios.

Esses povos viviam em guerra entre si. Ao cabo


de uma história de guerras, os latinos saíram
vencedores. De um pequeno reino, transformaram-se
numa república e, finalmente, num grande império com
uma sanha dominadora incontrolável.

Inicialmente, Roma era nacionalista e não


mantinha escola. A Educação tinha lugar no seio da
família e era para o Estado e não pelo Estado. O Patri
Potestas (pátrio poder) era tão grande que os pais
podiam matar seus filhos sem sofrer qualquer tipo de
punição ou reprovação social.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 117
Educação Inclusiva

Após a conquista da Grécia, Roma passa por


uma fase cosmopolita e começa a se helenizar. Isso se
deveu à fragilidade de sua cultura. Ao contrário da
cultura grega, em Roma, a Educação nunca foi vista
como uma obra nacional. A pobreza romana é a
pobreza de sua pedagogia.

É claro que existem escritores e educadores


romanos que contribuíram para o desenvolvimento da
Educação romana. Plínio, o moço, disse non multa sed
multum (não muitas, mas muito) aludindo ao fato de
que é melhor aprender bem uma coisa do que aprender
mal várias. Juvenal proferiu a célebre frase mens sana
in corpore sano (mente sã em corpo são) como crítica
aos vícios que assolavam o Império Romano.

Quintiliano, grande educador romano,


sustentava que o treinamento do orador deveria se
desenvolver com base no estudo da língua, da
literatura, da filosofia e das ciências com particular
atenção para a formação do caráter.

Destacamos, em Quintiliano, a preocupação em


defender o ensino público, o ensino voltado para o
interesse do educando e a necessidade do mestre para
conhecer o nível de desenvolvimento dos seus alunos.

A conquista da Grécia pelo Império Romano


consumou-se no ano de 146 a.C. (antes de Cristo). Isso Você sabia?
quer dizer que o próximo grande passo na construção
do conhecimento humano vai se processar, justamente, Cristo disse: Ide e
ensinai. Esse é o
no advento do cristianismo. ponto de partida que
tornou a Igreja
Católica a mais
benemérita de todas
O cristianismo, mais do que uma doutrina as instituições
educativas do
religiosa, moral e filosófica, é uma doutrina pedagógica. mundo.
Vamos aos pontos que sustentam essa afirmação:
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 118
Educação Inclusiva

 A Educação pagã tem sentido estatal e o


cristianismo tem a Educação como
aperfeiçoamento da pessoa;
 A Educação pagã é privilégio de certas classes
sociais e o cristianismo prega a igualdade;
 Antes do cristianismo a Educação era
unilateral (soldados em Esparta, filósofos em
Atenas e juristas em Roma), o cristianismo
contempla o homem em todos os seus
aspectos;
 O cristianismo trouxe estabilidade à família;
 O cristianismo busca resgatar a dignidade dos
trabalhos manuais considerados menos
nobres.

Pela visão ocidental, Cristo ocupa um papel


muito importante na História. À época de seu
nascimento, havia uma grande imoralidade aliada à
ignorância ou, mesmo, um desrespeito aos preceitos
religiosos.

Questões religiosas à parte, o cristianismo


restaura a dignidade humana ao sustentar que o
homem deve dominar o animal que existe dentro de si.
É uma forma de estabelecer a harmonia entre os
membros sociais.

A obediência perde a idéia de submissão,


subserviência e vergonha para ser entendida como uma
virtude (não se obedece ao homem, mas a Deus).

As idéias da caridade e da solidariedade são


trazidas como uma forma de se promover o respeito ao
outro no lugar da dominação e da humilhação. Da
mesma forma, a castidade vem trazer a idéia de se
salvar o corpo que é a morada da alma.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 119
Educação Inclusiva

Todos têm a mesma prerrogativa. Deus, a


exemplo da Educação, deve estar ao alcance de todos.
Não há como nos referirmos ao conhecimento humano
sem fazermos alusão à Educação cristã como marco
referencial de um grande avanço no pensamento
educacional ocidental.

Ainda que apareçam controvérsias entre o


Para refletir
excesso de dogmatismo e a noção da isenção trazida
pela ciência, todo o pensamento humano sentiu a força
Vamos lembrar que
da reforma moral trazida pelo cristianismo. O a Educação Inclusiva
valoriza a
argumento mais forte nessa análise da contribuição do capacidade de o
sujeito se conhecer
cristianismo para a formação da imagem do novo para melhor
explorar suas
homem (que sente a necessidade de renovação), é a capacidades.

reforma moral que opera no mundo.

A Educação moral para o mundo e, mais


especialmente, para os jovens é, na verdade, a gênese
de todo esse movimento.

A Idade Média apresenta a Educação como


disciplina e é na Escolástica (pensamento que
prevaleceu entre os séculos XI e XV) que encontra a
sua expressão maior. A Escolástica sustenta que o
conhecimento é um processo de aperfeiçoamento
interior.

Embora alguns insistam em considerar a


Escolástica uma doutrina, ela era bem mais do que
isso. Sua preocupação centrava-se no estudo da
dialética e da lógica. A doutrina é produto da fé e, não
raro, esta é desprovida da razão. A Escolástica propõe
a razão a serviço da fé. Não é por acaso que São
Tomás de Aquino defende a busca da ciência a partir de
dois postulados:
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 120
Educação Inclusiva

 Invenção - Movida pela reflexão do


interessado;
 Disciplina - Crescimento com o auxílio do
Mestre.

O espírito medieval começa a decair no século


XIV em função de um movimento que visava libertar as
atividades humanas do jugo dos dogmas. Esse
movimento chama-se Renascença e traz à tona a
preocupação com a Educação Humanista. Pode parecer
um exagero, mas a Renascença pode ser considerada
como o ponto de partida para a corrida frenética que o
homem empreendeu rumo ao conhecimento e à
tecnologia.

A avidez com que foram estudados a arte, a


literatura, a vida, o interesse dos fenômenos do “EU”
como satisfação da autocultura e do progresso, o
interesse do estudo do mundo físico, seus fenômenos e
suas explicações são características que determinam a
importância do Renascimento na cultura humana, pois
relaciona-se à recuperação de alguns princípios gregos
e latinos. É o que podemos chamar de início do
Humanismo.

Ainda que a Escolástica tivesse representado


uma nova abordagem para o engrandecimento do
homem, no século XIV, Petrarca traz a idéia do culto ao
homem no lugar do culto a Deus. Ao sustentar que o
fim da Educação é produzir o homem perfeito ele busca
sua capacidade de compartilhar plenamente as
atividades sociais.

É curioso notar que essa já era uma tônica do


pensamento pedagógico na Antiguidade Grega e na
Romana. O termo humanidades vem da busca da
essência da Educação liberal que prega o homem livre e
digno.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 121
Educação Inclusiva

Infelizmente, o formalismo se impôs ao


conteúdo e muito do que se buscou neste movimento
perdeu-se para o ritualismo vazio.

A História nos brinda com exemplos muito claros


da luta do homem pelo avanço da sociedade. É
pertinente entendermos os movimentos sociais, as
mudanças e as bases de grandes pensadores para que
possamos nos localizar contextualmente nessa rede
Quer
intrincada de produção de saber. saber mais?

O homem
As reformas religiosas, iniciadas como renascentista é
resistência aos abusos da Igreja Católica Apostólica menos parvo e
ignorante e faz
Romana, são fruto do Renascimento. A Igreja Católica, oposição a um
sistema anacrônico.
por seu turno, mobiliza-se para manter sua hegemonia. O seu
desenvolvimento
Excomunga Lutero e, impulsionada pela sanha nas artes é a marca
maior dessa época.
dominadora que se alastrava pela Europa, promove a
catequização dos povos das novas terras. Com isso,
suas instituições de ensino ganham em qualidade e são
procuradas inclusive pelos próprios protestantes que
reconhecem nela méritos educativos inquestionáveis.

Santo Ignácio de Loyola surge como um grande


marco na Educação ao resgatar a preocupação com o
Humanismo. Segundo suas idéias, a salvação do
homem é um mundo interessado em Humanismo e
Literatura.

Os colégios começam a aceitar jovens dedicados


às carreiras seculares e o ensino passa a ser ministrado
em língua vernácula, não em latim como antes
acontecia.
Importante
Começa a ter fim o capricho individualista e
nasce uma Educação mais prática e mais democrática A prática da
preleção visa o
que dura até hoje. contato mais
estreito entre
mestre e aluno e
visa formar a alma e
As conseqüências desse movimento todo são
a inteligência.
muitas, mas o que fica, de fato, é a certeza de que somos
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 122
Educação Inclusiva

hoje o produto vivo – não acabado – da busca por uma


escola que está em sintonia com o mundo à sua volta.
A preleção, que nasce nesse momento, faz uma
renovação pedagógica no espírito da aula. Não é por
acaso que São João Batista de La Salle lança suas
idéias pedagógicas. A euforia educacional decorrente da
Contra-Reforma traz qualidade aos colégios e às
universidades e vamos ver um movimento de
valorização do aluno traduzido nas proposta de La Salle
quando quer mais exercícios escolares, mais ordem,
avaliações regulares, salas de aula limpas, móveis
apropriados para professores e alunos e,
principalmente, preocupação com os meios para se
cativar o aluno.

Isso ocorre no ocaso do século XVIII. É de São


João Batista de La Salle a idéia de que o mestre deve
ter energia, brandura e tato, pois, do contrário, os
alunos perdem a motivação para freqüentar as aulas. A
releitura do papel do professor separa autoridade e
inflexibilidade e destaca a Educação como a arte do
relacionamento. Podemos considerar esse como sendo
um dos pilares fundamentais da escola moderna.

O século XVIII trouxe grande desenvolvimento


nas escolas pela Europa e pelas Américas. O
movimento de reformas educativas amplas foi derivo da
Revolução Francesa. A título de elucidação, lembremos
que este movimento abalou a sociedade européia com
movimentos bem significativos que condenavam a
estratificação exagerada da sociedade francesa.

O clero e a nobreza gozavam de um status


inaceitável enquanto que a base social formada por
trabalhadores e camponeses vivia na miséria sem
direitos. Havia uma injustiça social muito grande. Os
impostos eram altíssimos e serviam apenas para
sustentar toda a sorte de luxos da nobreza.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 123
Educação Inclusiva

A Bastilha, símbolo do absolutismo francês, é


tomada pelo povo que guilhotina o rei Luís XVI e a
rainha Maria Antonieta.

Institui-se o lema IGUALDADE, FRATERNIDADE


e LIBERDADE que, junto com a cassação dos direitos
feudais e a criação de uma Assembléia Constituinte, faz
nascer a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão garantindo, assim, direitos iguais e a
participação política para o povo.

Jean-Jacques Rousseau foi um dos nomes mais


importantes deste século. Sua influência foi além da
Europa. Dizia ele que os alunos mereciam ser tratados
como tais e não como adultos em miniatura e que suas
personalidades deveriam ser consideradas. Suas
contribuições se deram em grande parte no campo da
teoria e coube a muitos de seus seguidores colocar
suas idéias em prática.

Um dos maiores seguidores de Rousseau foi o


educador suíço Johann Pestalozzi, cujas idéias
exerceram grande influência nas escolas de toda a
Europa. Sua idéia principal era adaptar o método de
aprendizagem ao desenvolvimento natural da criança. Importante

Para tanto, levava em consideração o desenvolvimento


harmonioso de todas as faculdades do educando. Na verdade,
Pestalozzi codificou
o diálogo entre
esses saberes, pois
É pertinente destacar que Pestalozzi exerceu ainda não havia a
estruturação de uma
grande influência no pensamento educacional, além de ciência psicológica e
embora seus
ter sido um grande entusiasta do modelo da Educação conhecimentos da
natureza da mente
pública. Democratizou a Educação, proclamando ser o humana fossem
vagos, viu
direito absoluto de toda criança ter plenamente claramente que suas
teorias e a práticas
desenvolvidos os poderes dados por Deus. Esse
deveriam andar,
entusiasmo fez com que governantes se interessassem necessariamente,
juntas.
pela educação das crianças das classes desfavorecidas.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 124
Educação Inclusiva

Não seria absurdo se afirmássemos que foi ele


quem abriu as portas da Educação para a Psicologia.

Em 1782, em seu primeiro livro, Leonardo e


Gertrudes, expressa suas idéias educacionais, mas a
obra não foi considerada como um tratado educativo
pelas figuras importantes da época.

Pestalozzi decide ser mestre-escola, e vai,


então, em sua escola, procurar aplicar suas idéias
educacionais. Para ele, a escola deveria aproximar-se
de uma casa bem organizada, pois o lar era a melhor
instituição de Educação, nele se desenvolve a base para
a formação moral, política e religiosa.

Em sua escola, mestres e alunos (meninos e


adolescentes) permaneciam juntos o dia todo,
dormindo em quartos comuns.

A organização da Escola, segundo Pestalozzi, era


bem peculiar:

 As turmas eram formadas com os menores de


oito anos, com os alunos entre oito e onze
anos e outra turma com idades de onze a
dezoito anos;

 As atividades escolares duravam das 8 às 17


horas e eram desenvolvidas de modo flexível;
os alunos rezavam, tomavam banho, faziam o
desjejum, as primeiras lições, havendo um
curto intervalo entre elas;

 Duas tardes por semana eram livres e os


alunos realizavam excursões;

 Os problemas disciplinares eram discutidos à


noite; ele condenava a coerção, as
recompensas e as punições.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 125
Educação Inclusiva

Para Pestalozzi, o desenvolvimento é orgânico,


sendo que a criança se desenvolve por leis definidas, a Para refletir

gradação deve ser respeitada, o método deve seguir a


Pestalozzi compara o
natureza, a impressão sensorial é fundamental e os professor ao
jardineiro que
sentidos devem estar em contato direto com os providencia as
condições propícias
objetos, a mente é ativa e o desenvolvimento é uma para o crescimento
das plantas.
aquisição que se dá gradativamente e a disciplina é
uma constante, posto que a relação se faz na boa
vontade recíproca e na cooperação entre professor e
aluno. É de Pestalozzi a idéia de que a Educação se
constrói numa tensão permanente entre os desejos do
homem natural individual e o desenvolvimento da
natureza humana universal. A Educação produzirá a
universalidade a partir das particularidades e, da
mesma forma, a particularidade a partir da
universalidade. Graças a ele, houve impulso para a
formação de professores e para o estudo da pedagogia
como uma ciência que merece mais atenção e crítica.

É isso que notamos ao longo da História. Apesar


de tendências diversas ou conflitantes, a preocupação
da comunidade costumava ser no sentido de se atingir
meios e estratégias que fossem disponibilizados de
forma ampla e democrática a todos os que fizessem
uso da escola. Neste caminho, uma contribuição
fundamental ocorreu no âmbito da Psicologia. Seja
como ciência do estudo da alma, seja como ciência que
analisa o comportamento, seu objeto de estudo é o
homem e, junto com ele, suas possibilidades de se
relacionar com tudo que o cerca.

Por este motivo, é tão urgente que figure nas


pautas das discussões dos novos tempos a necessidade
de produzirmos uma realidade compatível com o que a
sociedade produz. A Educação Inclusiva figura nas
intenções desta agenda nem tanto pela busca da
igualdade – que é um anseio perene da humanidade –
mas, principalmente pela meta que o homem tem de pro
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 126
Educação Inclusiva

var que é possível sermos úteis a toda e qualquer


sociedade em qualquer tempo.

A construção do conhecimento

FUNDAMENTOS PIAGETIANOS

Existe uma questão que tem afligido mestres,


pensadores e profissionais da Educação por todos os
tempos: Como nasce e evolui o pensamento?

Inatistas, empiristas e construtivistas lançam-se


ao debate e, embora não seja a intenção deste estudo
apontar uma resposta, entre as discussões e bases
apresentadas, o construtivismo nos oferece uma ótima
Você sabia?
referência para início de pesquisa.
Piaget, Wallon e
Vygotsky são alguns
dos representantes Por uma questão de qualidade e alcance de seu
que defendem a
idéia de que o trabalho, vamos nos valer, neste capítulo, das idéias de
conhecimento
resulta da interação
Jean Piaget para que se ilustre bem o objeto de nosso
do sujeito com o
estudo.
ambiente. Essa é,
aliás, a base do
construtivismo.
Por mais de 50 anos, Piaget analisou o mundo
infantil (social e psíquico) e percebeu que cada criança
constrói, ao longo de seu desenvolvimento, um modelo
próprio de mundo. Nesta construção, ele destaca:

 A própria ação do sujeito.

 O modo como esta ação se converte num


processo de construção interna.

Piaget conseguiu mostrar que, desde que a


criação seja capaz, ela exerce um bom controle sobre a
obtenção e a organização de sua experiência do mundo
exterior. Ela acompanha com os olhos, olha em volta,
move e gira a cabeça para ver de outros ângulos,
agarra, solta, empurra, leva à boca.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 127
Educação Inclusiva

Estas ações, inicialmente, são apenas


explorações do mundo, mas, aos poucos, se integram
em esquemas psíquicos ou modelos elaborados.

De acordo com Piaget, um esquema é um


padrão de comportamento ou uma ação que se
desenvolve com certa organização e que consiste num
modo pessoal de abordar e conhecer a realidade.
Existem esquemas simples como o reflexo de sucção
que está presente logo após o nascimento e esquemas
complexos, como as operações lógicas, que surgem ou
estão aptas a serem solicitadas por volta dos 7 anos de
idade. Os esquemas simples organizam-se, integram-se
com outros e formam os complexos. As estruturas
psicológicas desenvolvem-se gradualmente num
processo de interação com o ambiente e são feitas por
vários esquemas integrados.

A construção do conhecimento vem oferecer


subsídios fundamentais para que sejam explicados, de
forma mais clara, os processos de desenvolvimento e
aprendizagem como resultados da atividade humana na
sua interação com o meio.

Neste momento, surgem os termos


ASSIMILAÇÃO, ACOMODAÇÃO e ADAPTAÇÃO.

A assimilação é a incorporação de um novo


objeto ou idéia ao que já faz parte do conhecimento do
sujeito.

A acomodação implica a transformação que o


organismo sofre para aprender a lidar com o ambiente.
Desta forma, diante de um objeto novo ou de uma
idéia, a criança é levada a modificar seus esquemas
adquiridos anteriormente na busca de uma adaptação.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 128
Educação Inclusiva

Vemos que a criança é o próprio agente de seu


desenvolvimento, os processos de assimilação aos
poucos estendem seus domínios e se convertem em
acomodações que são os processos de modificação de
atividades. No equilíbrio desses dois processos, vem a
adaptação ao mundo e uma melhor organização
mental.

O desenvolvimento cognitivo processa-se ao


longo de todas as atividades infantis. Em torno dos dois
primeiros anos de vida, as atividades são físicas e se
dirigem a objetos e situações externas. À medida que
ela domina locomoção, linguagem e outras formas mais
intensas de se relacionar com o mundo, as atividades
externas atuam internamente, afinal, o que ela explora,
enquanto aumenta o seu raio de ação, vai sendo
representado mentalmente.

Desde o início, portanto, construímos em nossa


mente uma espécie de modelo interior de mundo que
nos rodeia. Uma vez que o modelo básico está em
nossa mente, só nos resta construí-lo, completá-lo e
organizá-lo e isso se dá à medida que tomamos contato
com os estímulos do meio.

Importante
A obra de Piaget é particularmente rica e nos
Quando falamos de ajuda a compreender a seqüência de desenvolvimento
Educação Inclusiva,
falamos exatamente do modelo de mundo que uma criança constrói em cada
da possibilidade de
que cada aluno período de sua vida. É com base nesse princípio que
desenvolve ao se
defrontar com seus passamos a entender os erros, pois eles não são nada
problemas.
além do que a forma particular de cada um de perceber
o mundo.

É bom lembrarmos sempre que o modelo em


questão é o que tem de ser levado em consideração,
nada além. Não podemos deixar de frisar que a
construção de modelos mais evoluídos só é possível
graças ao esforço do próprio sujeito pois ele é o agente
de seu desenvolvimento.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 129
Educação Inclusiva

Vale a pena comentar que Piaget não começou


sua obra visando construir uma teoria pedagógica.
Suas idéias foram utilizadas por especialistas que
enxergaram nos seus escritos uma contribuição valiosa
para a área da Educação.

O método clínico usado por Piaget sugere uma


extensão à prática pedagógica. Segundo ele, essa
atitude é de observação. É tão comum vermos
professores tão apressados em ensinar que esquecem
de permitir que as crianças tenham tempo para
aprender. Esse fato os leva a não aproveitarem as
oportunidades de acompanhar, a partir das respostas
espontâneas, a estrutura de raciocínio dos alunos.

A Psicologia Genética atribui um papel primordial


à atividade do sujeito quando constrói seu próprio
conhecimento. Uma Educação fundamentada na teoria
piagetiana repudia a idéia do modelo que promove
apenas atividades subordinadas às do adulto. É
imperativo que seja dada atenção e valor devido às
estratégias de ensino que se baseiam naquilo que o
aprendiz produz.

Na busca de uma relação com a Educação


Inclusiva, fica aqui o alerta para que se pense
constantemente o material adaptado em função do
caminho intelectual do aluno. É por isso que falávamos
em compreender a criança, sua atividade, seu nível
mental, seu desenvolvimento em várias atividades. Ou
seja, observá-la e anotá-la.

As teses piagetianas sustentam que o


desenvolvimento cognitivo é um processo seqüencial
marcado por etapas caracterizadas por estruturas
mentais diferenciadas. A forma de compreender os
problemas e resolvê-los depende da estrutura mental
de cada um naquele momento específico. É por essa ra-
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 130
Educação Inclusiva

zão que é necessário identificar, com uma observação

Importante bem criteriosa, o momento de desenvolvimento de cada


um. O diagnóstico da estrutura cognitiva de quem
É importante que aprende serve como um parâmetro para que sejam
tenhamos em mente
que o sondadas as condições que o sujeito tem de enfrentar
desenvolvimento
pode ser um satisfatoriamente uma tarefa. Talvez esse seja o maior
processo seqüencial
e seguir os mesmos desafio no tratamento dos assuntos ligados à Educação.
passos em cada um,
mas a cronologia
varia.
Para que ocorra a aprendizagem, é necessário
que o sujeito tenha compreensão do que ocorre à sua
volta. Isso é prerrogativa de qualquer aprendizagem.
Ao fazermos a ponte entre Teoria do Conhecimento e
Educação Inclusiva falamos de linguagem e esta
constitui-se como o recurso mais eficiente para a
compreensão do mundo por parte do sujeito.

Para evitarmos enganos que nos levam, por


exemplo, a crer que são mais amadurecidas as crianças
que lidam muito com adultos em função de uma
linguagem mais elaborada que ocorre por imitação, é
recomendável que as atividades direcionadas às
crianças sejam relacionadas ao que elas costumam
fazer rotineiramente. Assim, é possível abrir-se uma
porta que nos dê uma visão mais clara quanto ao seu
desenvolvimento. Note-se que a evolução da linguagem
e do raciocínio se dá de forma complementar, ou seja,
uma influencia a outra.

No âmbito da Educação Especial, constantemente,


nos defrontamos com atitudes de excessivo zelo que
impedem o sujeito de se manifestar de forma genuína.
Tal atitude não colabora com a proposta de uma
Educação orientada para a autonomia.

Ao analisar o desenvolvimento do julgamento


moral, Piaget se reporta aos estágios pré-morais de
heteronomia e de autonomia. Este último ele considera
o nível mais evoluído do desenvolvimento moral. A inte
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 131
Educação Inclusiva

ração com o adulto é muito importante para que ele


seja atingido satisfatoriamente.
Dica do
professor
A título de elucidação, lembremos que no
processo de construção do conhecimento cada homem É recomendável que
quem vai trabalhar
é agente de seu processo de desenvolvimento. É por na área da Educação
Inclusiva estude um
isso que devemos propiciar boas condições para sermos pouco mais a análise
do desenvolvimento
ativos na interação com o mundo. Lembremos, afetivo-social feita
por Piaget.
também, que é preciso conhecer o processo de
desenvolvimento para trabalhar no campo de alcance
do aluno e, também, proceder à análise dos processos
mentais de cada um.

O desenvolvimento psíquico tem um caráter


global, mas Piaget distinguiu nesta área alguns
aspectos que podem ser diferenciados:

 Funções do conhecimento - Estas são


responsáveis pelo conhecimento que se tem
do mundo. Aqui se encontram o pensamento
lógico e a sua natural evolução para o
pensamento operatório e a organização da
realidade que parte do estado de
indiferenciação entre o eu e o mundo até a
noção complexa a respeito de si mesmo e a
construção de conceitos;

 Funções de representação - Aqui se incluem


todas as funções pelas quais representamos
um significado qualquer. Este significado pode
ser uma pessoa, um acontecimento ou um
objeto. A representação é feita usando-se um
significante determinado que pode ser uma
palavra, um gesto, um desenho;

 Funções afetivas - Para Piaget, o motor do


desenvolvimento cognitivo.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 132
Educação Inclusiva

Depreendemos daí uma idéia bem clara das


relações estabelecidas no contexto da aprendizagem. A
preocupação com o rendimento é uma constante na
agenda de toda construção de saber e é preciso que
exista de forma incansável uma atitude de investigação
nos processos mentais a que são submetidos todos
aqueles que se encontram em situação de
aprendizagem.

Para pensar
Na Educação Inclusiva ou na seara da Educação

A contribuição de Especial, é fundamental que os educadores se esmerem


modelos como o
próprio na busca da melhor abordagem para que sejam
construtivismo
piagetiano nos ajuda
entendidas não as limitações dos desafios e, sim, as
a entender mais oportunidades para que o portador de necessidades
detalhadamente os
meandros das educacionais especiais tenha mais qualidade na
relações
pedagógicas. construção de seu conhecimento.

A construção do conhecimento

FUNDAMENTOS VYGOTSKIANOS

Lev Vygotsky desenvolveu seus estudos baseado


nas concepções materialistas que marcaram a União
Soviética no período da pós-revolução nos idos de
1917. Entendia ele que o ser humano forma-se na sua
relação com os outros. A cultura é quem modela o
funcionamento psicológico do homem. A cultura torna-
se parte da natureza humana num processo histórico no
correr do desenvolvimento da espécie e do indivíduo.
Vygotsky considera a dupla natureza do ser humano
tanto como membro de uma espécie biológica quanto
como ser que se desenvolve em um grupo cultural.

O estudo do funcionamento psicológico de


Vygotsky baseia-se em Luria que estruturou uma teoria
de base neuropsicológica realizando estudos empíricos
sobre os mecanismos cerebrais subjacentes aos
processos mentais.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 133
Educação Inclusiva

A posição de Vygotsky rejeita a noção de


funções mentais fixas. Para ele, o cérebro possui uma
capacidade de adaptação que o permite ser modelado Quer
saber mais?
no decorrer da história de cada um e da própria
espécie. A compreensão das
concepções de
Vygotsky sobre
Assim, o desenvolvimento da abstração e da como se dá o
desenvolvimento
generalização nos permite o aparecimento dos humano como
processo sócio
processos psicológicos superiores que são histórico envolve a
noção de mediação
eminentemente humanos. que se faz pela
representação
mental com o uso de
Sendo assim, os processos simbólicos que se símbolos.
interpõem entre sujeito e objeto do conhecimento têm
origem social. Esses processos são fornecidos pela
cultura e é nesse movimento que o indivíduo internaliza
as formas de comportamento socialmente dadas.

A linguagem humana tem função de intercâmbio


social e age no sentido de formar conceitos
compartilhados pelos seus usuários. Os atributos
relevantes de um objeto são abstraídos e a presença de
um mesmo conjunto de atributos relevantes permite
que se aplique o mesmo nome a objetos diversos.

Podemos entender, por esse ponto de vista, que


o pensamento verbal não é natural nem inato, mas
fruto de um movimento histórico-cultural uma vez que
os conceitos são formados em relações culturais.

Existem, na ótica de Vygotsky, dois tipos de


conceitos. Um conceito é chamado de cotidiano ou
prático e se desenvolve no decorrer da atividade prática
da criança no correr de suas interações sociais
imediatas. O outro conceito é chamado de científico e é
adquirido pelo ensino, pelos processos formais da
escola.

A aprendizagem desperta movimentos internos


de desenvolvimento que ocorrem mediante interações
com outros. O processo de ensino-aprendizagem ocorri-
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 134
Educação Inclusiva

do na escola propicia o acesso dos membros imaturos


da cultura letrada ao conhecimento construído e
acumulado pela ciência.

Com base neste modelo, podemos propor uma


visão igualmente social no que toca o tratamento da
Educação Inclusiva.

Grupos que não dispõem da ciência como forma


de construção do conhecimento não atingem os
conceitos científicos. Tendem a permanecer no outro
nível dos conceitos gerados nas situações concretas e
experiências pessoais e ficam isolados da produção do
conhecimento.

Vygotsky nos diz que todas as funções psíquicas


superiores são processos mediados e o signo mediador
na formação do conceito é a palavra. Assim, a
linguagem do grupo cultural a que o sujeito pertence é
a principal articuladora do desenvolvimento.
Importante

É por meio da linguagem que o homem, além de


A internalização das
atividades sociais codificar e decodificar as informações, regula seu
que são
desenvolvidas ao comportamento e corrige seus erros. A consciência
longo da História
humana se dá numa inter-relação dinâmica e em
garante a base da
qualidade da transformação do desenvolvimento de cada um entre
psicologia humana.
intelecto e afeto, atividade no mundo e representação
simbólica, bem como no controle dos próprios
processos psicológicos, no sujeito e na interação social.

Como fechamento desta seção, é prudente


destacarmos o que costuma ser discutido no campo da
Educação Especial e da Educação Inclusiva. As questões
nos levam a um campo muito rico que escapa das
discussões apaixonadas e que nos abre um leque
acerca do conhecimento humano muito importante. Não
são poucas as ações no sentido de buscarmos
estratégicas para que as próprias necessidades especiais
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 135
Educação Inclusiva

sejam a alavanca para a valorização das pessoas


perante suas famílias e a sociedade. Um grande marco
nesta busca é a teoria construtivista-interacionista, pois
desenvolve uma concepção crítica e emancipatória da
escola.

Fica o alerta para que esse assunto seja


constantemente submetido ao crivo de todos nós ao
longo do caminho na busca pela dignidade da vida.

Necessidades educacionais especiais e


adaptações escolares

Podemos começar esta seção do estudo com


uma pergunta aparentemente simples, mas que
carrega desdobramentos bastante complexos: O que
significa dizer que um aluno possui necessidades
educacionais especiais?

Para pensar
Em linhas gerais, poderíamos responder que
temos nas mãos alguém que apresenta algum tipo de Vamos lembrar que
sem conhecimento
problema na aprendizagem e que solicita uma atenção da clientela não há
base suficiente para
mais específica e recursos educacionais mais o planejamento.
elaborados do que os colegas de sua idade.

Com base no que foi dito acima, podemos


perceber a importância e a necessidade de se ter a
noção clara de quem é o nosso aluno, pois é a partir daí
que serão traçados objetivos mais específicos para a
aprendizagem. Se essa for uma prática constante, será
mais fácil traçarmos linhas de trabalho para que se
determinem adaptações curriculares que são
imprescindíveis para a integração do portador de
necessidades especiais.

É fundamental que entendamos que as


necessidades especiais não são definitivas, pois ao longo
do processo elas se modificam. A qualidade das experiên-
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 136
Educação Inclusiva

cias transforma o sujeito na essência e a relação dele


com sua necessidade faz com que esta mude também
na essência.

Para entendermos melhor essa discussão,


propomos, neste momento, uma análise que nos
remete ao ponto das adaptações curriculares. Estas são
modificações ou ajustes operados na prática cotidiana
dos elementos materiais ou espaciais que permitem
que os alunos possam usufruir do currículo comum no
que toca os objetivos, conteúdos, métodos, critérios e
procedimentos avaliativos que se estabelecem para
todos. Essa idéia é bem desenvolvida na Espanha,
principalmente, ao se falar sobre as necessidades
especiais na escola normal.

São procedimentos de adaptação curricular:

 Criar condições físicas, ambientais e


materiais para o aluno;
 Propiciar os melhores níveis de comunicação
e interação com a comunidade escolar à sua
volta;
 Favorecer a participação nas atividades
escolares;
 Disponibilizar móveis específicos necessários:
mesas, cadeiras adaptadas;
 Fornecer ou atuar para aquisição de recursos
pertinentes ao atendimento;
 Adaptar os materiais de uso comum em sala
de aula;
 Adotar sistemas de comunicação alternativos
compatíveis com o aluno portador de
necessidades especiais.

As adaptações propriamente ditas no âmbito do


currículo podem ser analisadas como o conjunto das
modificações em um ou vários elementos curriculares.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 137
Educação Inclusiva

Seus resultados podem ser mais ou menos


significativos em função do grau de ajuste que é Quer
saber mais?
efetuado nos elementos solicitados.

Os procedimentos
As mudanças menos significativas são de adaptação visam,
num determinado
entendidas como aquelas que não chegam a afetar o momento, atingir
um objetivo ou
currículo básico. As mudanças mais significativas auxiliar o estudante
em situações que
afetam o currículo e trazem em si a necessidade de exigem uma postura
mais imediata em
situar o aluno nos grupos com os quais ele trabalha. A certos conteúdos
curriculares.
intenção óbvia de tal mudança é proporcionar um
trabalho cada vez mais eficaz.

Destacamos como adaptações significativas:

 Adotar métodos e técnicas de


ensino/aprendizagem específicos para alunos
na operacionalização dos conteúdos
curriculares sem que haja prejuízo para as
atividades docentes;

 Utilizar técnicas, procedimentos e


instrumentos de avaliação distintos da classe,
quando necessário, sem alterar os objetivos
da avaliação;

 Introduzir atividades individuais


complementares para que o aluno possa
chegar aos objetivos comuns a toda a turma;

 Buscar a adequação de objetivos, conteúdos e


critérios de avaliação. É bom destacar que
isso implica modificar os objetivos,
considerando as condições do aluno em
relação aos colegas;

 Dar prioridade a determinados objetivos,


conteúdos e critérios de avaliação. É preciso
enfatizar objetivos que possam ser perseguidos
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 138
Educação Inclusiva

pelo aluno portador de necessidades


especiais. Não significa abandonar os
objetivos grupais, mas, sim, acrescentar
outros tocantes às necessidades especiais;

 Mudar a temporalidade dos objetivos,


conteúdos e critérios de avaliação por
considerar que o portador de necessidades
especiais pode alcançar objetivos grupais
ainda que necessite de um tempo maior para
tal;

 Considerar a possibilidade de introduzir


conteúdos, objetivos e critérios de avaliação.
Isso ocorre quando se ampliam os
componentes curriculares destinados aos
portadores de necessidades especiais, sejam
elas as deficiências múltiplas, de condutas
típicas e dos programas de aprofundamento ou
enriquecimento curricular propostos para os
alunos portadores de altas habilidades.
Lembrando que isso não pressupõe a
eliminação ou redução dos elementos
regulares do currículo;

 Considerar a possibilidade de excluir


conteúdos e objetivos definidos para o grupo
de referência do aluno em razão de suas
necessidades especiais. Frise-se que a
supressão de conteúdos não pode causar
danos a qualquer momento de escolarização.
Lidamos, aqui, com o significado dos
conteúdos, ou seja, se são básicos ou
fundamentais para aprendizagens posteriores.

Vemos que a adaptação curricular não é um


problema insolúvel ou uma atividade inviável. É
importante termos em mente que a própria rotina do pro-
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 139
Educação Inclusiva

fessor em seu cotidiano escolar impõe a ele uma


atitude de adaptação constante. Além disso, é um
direito de qualquer aluno ser bem conduzido no
Para pensar
universo escolar.

A necessidade de
Suas capacidades não se encerram naquilo que adaptarmos os
alunos em função de
a escola preza em seus regimentos. É preciso suas características
é um exercício
entendermos que as habilidades são pessoais e que perene de
compreensão das
uma das tarefas – talvez a mais importante – do diferenças
individuais.
professor é justamente permitir que o aluno tenha
espaço para desenvolvê-las.

Considerações e justificativas sobre as


adaptações curriculares para os
portadores de necessidades educacionais
especiais
Para pensar

A Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e bases para a


O currículo adaptado
Educação Nacional) em seu Capítulo V, artigo 59, tem como prioridade
promover reflexões
incisos I e II, deixa clara a necessidade de se adaptar o
sobre as alternativas
currículo de forma a garantir a todos os que fazem uso a serem seguidas
com os portadores
da escola o curso das disciplinas do chamado núcleo de necessidades
especiais.
comum, de forma a atender as necessidades educativas
sem, contudo, privar o aluno portador de necessidades
especiais do processo natural da escola.

De acordo com o Núcleo Curricular Básico


Multieducação, os princípios fundamentais e os núcleos
conceituais devem ser os mesmos para todos os
alunos. Por este motivo, é imperativo que sejam
promovidas adaptações curriculares para atender a
todos em suas especificidades.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 140
Educação Inclusiva

Esse fato possibilita à escola:

 Estabelecer interação com as linguagens de


seu tempo, analisando criticamente o poder
da comunicação e das tecnologias a seu
serviço. Desta forma, a escola deixa de
apenas receber e passa a produzir
significados;

 Assegurar a todos o curso das disciplinas do


núcleo comum;

 Dar aos alunos livre acesso às atividades


desenvolvidas por ela;

 Promover a participação de todos, com base


em suas possibilidades, dos eventos e
projetos realizados na rotina do período
letivo;

 Avaliar com base em critérios bem definidos e


regidos pelas possibilidades de cada um na
construção de seu conhecimento;

 Promover relações de solidariedade, respeito


e acolhimento no grupo;

 Integrar alunos com a escola, pois eles são


parte integrante deste universo;

 Explorar ao máximo o potencial de todo


aluno;

 Oferecer atendimento em salas especiais de


recursos com vistas a viabilizar melhores
condições de aprendizagem.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 141
Educação Inclusiva

Para que a proposta de adaptação curricular


possa ser entendida na dimensão de sua viabilidade
dentro do atendimento das disciplinas do núcleo
Para pensar
comum, é interessante que pensemos um modelo que
contemple uma proposta de trabalho onde os direitos Lembrem-se da base
teórica do
do aluno sejam levados em conta no sentido de lhe construtivismo que
defende exatamente
permitir uma inserção social boa o suficiente para que esse ponto.
saberes se produzam e conhecimentos se construam.

É tônica da proposta da Educação Inclusiva a


preocupação de se colocar em foco a sintonia entre os
alunos no sentido de promover um crescimento
cooperado em todos os que fazem uso do mesmo
serviço. Desta forma, podemos unir objetivos
específicos de uma disciplina e seus conteúdos gerais e
traçar estratégias que atendam à demanda de cada um
no processo de aprender.

Veremos, a seguir, alguns objetivos específicos


de algumas disciplinas e suas associações com os
Importante
conteúdos gerais. Notaremos que a noção de critérios é
ótimo auxiliar para o professor na condução das Os objetivos das
disciplinas são o
atividades. nosso melhor guia
para a definição de
critérios de
adaptação.
LÍNGUA PORTUGUESA

Os objetivos específicos da Língua Portuguesa


podem ser assim descritos:

 Compreender o sentido das mensagens orais


e escritas das quais o aluno é destinatário
direto ou indireto com o desenvolvimento da
sensibilidade para reconhecer a
intencionalidade implícita e conteúdos
discriminatórios ou persuasivos mais
notadamente nas mensagens veiculadas pelos
meios de comunicação de massa;
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 142
Educação Inclusiva

 Ler autonomamente diversos textos


apropriados para sua série;
 Utilizar a linguagem para expressar
sentimentos, experiências e idéias sabendo
interpretar e acolhendo idéias de outros;
 Produzir mensagens coerentes com a
observância de regras da língua culta.

Na forma do resultado destes objetivos,


podemos esperar como produto final do aluno as
seguintes habilidades ou características:

 Interesse por ouvir ou manifestar seus


sentimentos e ações;
 Preocupação com o bom intercâmbio
(entender e se fazer entender);
 Valorização da leitura como fonte de
fruição, estética e entretenimento;
 Utilização da linguagem como elemento de
interpretação do mundo;
 Produção de mensagens considerando sua
finalidade e características.

MATEMÁTICA

Os objetivos específicos da Matemática podem


ser assim definidos:

 Resolver problemas a partir da consolidação


das operações fundamentais;
 Desenvolver raciocínio lógico e abstrato;
 Ampliar procedimentos de cálculo mental,
escrito, exato e aproximado;
 Construir o significado das medidas a partir
de situações-problema que expressem seu
uso no contexto social e em outras áreas do
conhecimento;
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 143
Educação Inclusiva

 Vivenciar processos de resolução de


problemas compreendendo, propondo e
executando seu plano de execução;
 Verificar e comunicar o resultado.

Na forma do resultado destes objetivos,


podemos esperar como produto final do aluno as
seguintes habilidades ou características:

 Resolução das operações com estratégias


convencionais ou por meio de ações pessoais;
 Desenvolvimento de estratégias de
verificação e controle de resultados;
 Capacidade de interpretar enunciados e
definir soluções.

HISTÓRIA

Os objetivos específicos em História seguem a


seguinte linha:

 Reconhecer relações sociais, econômicas,


políticas e culturais no presente ou no
passado entre comunidades e suas
repercussões;

 Identificar ascendências e descendências,


nacionalidades, etnias, línguas, religiões e
costumes em seus respectivos contextos;

 Identificar relações de poder estabelecidas


entre sua localidade e os demais centros
mundiais agora e em outros tempos;

 Utilizar diferentes fontes de informação e


pesquisa.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 144
Educação Inclusiva

Na forma do resultado destes objetivos, podemos


esperar como produto final do aluno as seguintes
habilidades ou características:

 Noção de sua procedência e do processo


histórico em que está inserido;
 Conhecimento de contextos históricos e seus
desdobramentos na atualidade;
 Noção das diferentes organizações urbanas
de outros lugares e de outras épocas;
 Interesse pelo estudo dos fenômenos
históricos ao longo da história.

GEOGRAFIA

No processo de construção do conhecimento de


Geografia, destacamos os seguintes objetivos
específicos:

 Reconhecer e comparar o papel da


sociedade e o da natureza na construção
de diferentes paisagens e realidades;

 Destacar as diferenças e as semelhanças


entre os modos de vida das cidades, dos
mais diversos locais relacionados ao
trabalho, à moradia, aos hábitos
cotidianos, ao lazer e à cultura;

 Identificar as relações existentes no âmbito


urbano, rural, nacional e internacional
tendo o passado como base e o presente
como meta;

 Relacionar as conseqüências das


transformações da natureza causadas
pelas mãos humanas.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 145
Educação Inclusiva

Na forma do resultado destes objetivos,


podemos esperar como produto final do aluno as
seguintes habilidades ou características:

 Identificação de processos de organização e


construção da realidade construída pelo
homem;

 Capacidade de entender a interdependência


entre as várias realidades, levando em conta
os elementos biofísicos da natureza, as
possibilidades dos recursos naturais e a ação
do homem;

 Reconhecimento do papel das tecnologias na


transformação do mundo.

CIÊNCIAS

A construção do conhecimento, na área da


disciplina de Ciências, destaca os seguintes objetivos
específicos:

 Identificação e compreensão das relações entre


solo, água e seres vivos nos fenômenos de
erosão, fertilidade e tratamento da água;

 Noção das conseqüências e causas da poluição


da água, do ar, do solo e outras;

 Relacionar bem-estar físico e social e suas


implicações no mundo;

 Identificar fenômenos científicos.

Na forma do resultado destes objetivos,


podemos esperar como produto final do aluno as
seguintes habilidades ou características:
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 146
Educação Inclusiva

 Noção científica para ser capaz de lidar com


fenômenos físicos;
 Capacidade para desenvolver e explicar as
Para refletir
relações entre causas e efeitos;
 Estabelecimento de relações entre aspectos
Não há lutas nem
ideologias, apenas o biológicos, culturais, sócio-econômicos e
desejo de se gerar
um ambiente de educacionais na luta pela preservação da
mútuo
reconhecimento. saúde tanto do homem como do mundo que o
cerca.

Fica claro nesta breve exposição que o currículo


carrega por si só uma enorme gama de possibilidades e
que a mediação do professor é um ponto inadiável para
que a adaptação curricular flua sem grandes traumas. A
interação do aluno com o objeto de conhecimento é um
caminho natural. Basta que se promova ao longo do
processo ensino/aprendizagem uma atitude constante
com vistas à socialização. A busca da Educação
Inclusiva é a busca pelo encontro entre as pessoas.

Conclusão

Todas as orientações didáticas tocantes ao


ensinar e ao aprender associadas à construção dos
conteúdos reclamam a adoção de uma prática
pedagógica flexível. De fato é preciso mais que isso. É
perigoso falar-se de flexibilidade sem critérios de
aplicação, pois, pode-se cair num vazio conceitual que
confunde compreensão com paternalismo, afetividade
com superproteção, tolerância com permissividade.

O contexto de uma sala de aula envolve


questões de ordem emocional, afetiva, cognitiva, física
e de relações muito amplas. O portador de
necessidades especiais tem grau maior ou menor de
aceitação, dependendo da qualidade destas questões.

Sendo assim, recomenda-se que, consideradas as


circunstâncias especiais de aprendizagem dos alunos, seja
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 147
Educação Inclusiva

feita constantemente a observação deles para que haja,


da melhor forma possível, um acompanhamento do
desenvolvimento do processo de construção de seus
conhecimentos.

As discussões acerca das adaptações


curriculares, bem como tudo o que é falado no âmbito
da construção do conhecimento envolvendo questões
da Educação Inclusiva ou, mesmo, da Educação de um
modo geral, nos abrem um caminho muito bom para
que caminhemos em direção de grandes avanços na
esfera educacional. Não existem verdades absolutas e
as defesas de pontos de vista diferentes só reafirmam a
necessidade de estarmos todos atentos e vigilantes na
defesa da melhoria na qualidade dos serviços que a
escola oferece e que a sociedade depende tanto.

Não é demais lembrarmos que a participação


social do indivíduo portador de necessidades especiais é
cada vez maior e que sua competência é cada vez mais
reconhecida onde quer que esteja. E ele está nas
Dica do
empresas, nos esportes, nas artes. professor

Os cursos nesta área


É nosso papel como educadores entendermos de saber e a grande
procura por eles são
que o mundo se faz pelas suas diferenças. É nosso a base de nossa
constatação da
papel, portanto, atuarmos no sentido de lutar contra preocupação social
todo tipo de discriminação e de noção distorcida. É responsável que se
alastra cada vez
nosso papel como construtores do conhecimento mais. Vocês, alunos,
são a mostra de que
lembrar que o saber tem vários caminhos e que só há os desafios existem
para serem
vitórias se todos souberem que isso é um fator de vencidos.

engrandecimento para todos.


Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 148
Educação Inclusiva

EXERCÍCIO 1

Qual a importância de se estudar modelos antigos de


Educação para se estudar Educação Inclusiva?

(A) Entender as diferenças entre modelos arcaicos e


modernos;
(B) Relacionar pontos em comum entre culturas
diversas;
(C) Identificar as falhas para não repeti-las;
(D) Identificar processos de exclusão social;
(E) Destacar o processo histórico como elemento
fundamental para a busca de um modelo mais
racional para o tratamento das questões da
inclusão.

EXERCÍCIO 2

O currículo adaptado tem como prioridade promover


reflexões sobre as alternativas a serem seguidas com
os portadores de necessidades especiais. Esse fato
possibilita à escola:

(A) Diagnosticar o aluno portador de necessidades


especiais;
(B) Nivelar os talentos para não gerar nenhum
trauma nos alunos;
(C) Desenvolver nos alunos a noção de piedade pelo
problema alheio;
(D) Assegurar a todos o curso das disciplinas do
núcleo comum e dar aos alunos livre acesso às
atividades desenvolvidas pela escola;
(E) Fazer encaminhamentos ou, mesmo, tratar os
problemas que surgem no decorrer do ano
letivo.
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 149
Educação Inclusiva

EXERCÍCIO 3

Comente com suas palavras a contribuição de Piaget


como argumento para a adaptação curricular do aluno
portador de necessidades educacionais especiais.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Qual a importância da adaptação curricular no processo


de construção do conhecimento humano e, mais
especificamente, no desenvolvimento das próprias
habilidades?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | A construção do conhecimento e seu significado na 150
Educação Inclusiva

RESUMO

Vimos até agora:

 Deve-se conhecer e refletir sobre o papel


essencial da educação nos diferentes
momentos históricos;

 Piaget e Vygotsky trouxeram contribuições


significativas sobre a construção do
conhecimento e promoção da visão inclusiva;

 É preciso destacar os principais


procedimentos para uma adaptação curricular
que atenda a inclusão dos portadores de
necessidades educacionais especiais;

 É necessário definir alguns objetivos


específicos de algumas disciplinas e suas
associações com os conteúdos gerais a fim de
garantir uma educação inclusiva de
qualidade.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS:


AULA 1 – 2E; 3A. AULA 2 – 1B; 2C. AULA 3 – 1B; 2C. AULA 4 – 1E; 2D.
151

AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina


CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Fundamentos Teóricos da Inclusão
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


QUESTÃO 1: Defina o que vem a ser uma Instituição de Educação Especial.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Pesquise sobre a Declaração de Salamanca, apresentando seus


princípios e sua implicação para a Educação Inclusiva.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


152

QUESTÃO 3: Escreva por que a avaliação constitui mais uma barreira à


implementação da inclusão.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Qual a importância da adaptação curricular no processo de construção


do conhecimento humano e, mais especificamente, no desenvolvimento das próprias
habilidades?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


153

ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma


argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
154

AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento


CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Fundamentos Teóricos da Inclusão
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


Atividade Sugerida: Análise de Projeto Político Pedagógico
Instruções:
O uso dos dados e das informações institucionais pode reduzir tempo e custo de
pesquisas, sendo considerada uma informação estável. Sendo assim, analise o
Projeto Político Pedagógico de uma Instituição, e responda:
 Como esta Escola tem pensado na educação numa perspectiva inclusiva?
 Quais são as ações e/ou projetos em andamento?
 O que pode ser feito para melhorar o processo de inclusão?
Caso o PPP da instituição escolhida para a pesquisa não apresente uma
perspectiva inclusiva, proponha ações e/ou projetos voltados para a inclusão, que
poderiam contribuir para melhorar a aprendizagem dos alunos com necessidades
educacionais especial na referida instituição.
Instituição pesquisada:

Como esta Escola tem pensado na educação numa perspectiva inclusiva?

Quais são as ações e/ou projetos em andamento?

O que pode ser feito para melhorar o processo de inclusão?


155

ALVES, Rubem. A escola com que sempre sonhei sem pensar que
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