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Curso

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA

Disciplina
PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS
DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
2

Curso
EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA

Disciplina
PRINCÍPIOS
METODOLÓGICOS DA
EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Marcelo SALDANHA
Edla TROCOLI
Fátima ALVES

www.avm.edu.br
3

Sou MARCELO SALDANHA DA GAMA, psicólogo, Mestre em


Psicologia da Educação. Minha carreira docente teve início em
1987 no SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial)
lecionando em cursos técnicos. Em 1988 iniciei minha trajetória no
Magistério de 3º grau onde estou até hoje e minha história na Pós
Graduação deu-se em 1992.
Meu interesse no dinamismo da escola fez com que eu
desenvolvesse alguns trabalhos neste sentido. O esporte e a
música são dois elementos imprescindíveis para a formação do
aluno. Infelizmente, hoje, nossas escolas negligenciam estes
aspectos e parecem se contentar com o superficialismo rotineiro
que pouco acrescenta a quem faz uso dela.
Felicidades e sucesso em suas vidas.

Olá, estimados colegas! Meu nome é EDLA TROCOLI. E foi com


Sobre os autores

muito prazer que escrevi essa aula para vocês. Gosto muito do
meu trabalho: dar aulas, pesquisar, me relacionar com os alunos.
Sou pedagoga, especialista em Educação Especial e pós-graduada
em Docência do Ensino Superior. Comecei a atuar na área de
Educação Especial há alguns anos atrás e tive a oportunidade de
ser diretora-fundadora de um grande Centro Integrado de
Educação Especial, no Município de Valença-RJ, entre outras
atividades exercidas dentro da área. Atualmente luto por uma
Escola Inclusiva e acredito que um dia teremos realmente uma
Escola Para Todos. Neste ano, completo 5 anos de vínculo com o
Instituto A Vez do Mestre com muito respeito pelo trabalho que
presta à nossa educação. Um grande abraço!

Sou FÁTIMA ALVES, Fonoaudióloga; Psicomotricista; Sócio-


Psicomotricista Ramain-Thiers; Atuo como Docente de Pós-
Graduação no Instituto A Vez do Mestre. Também sou autora dos
livros “Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção”; “Inclusão:
Muitos Olhares, Vários Caminhos e Um Grande Desafio”; “Como
Aplicar a Psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com
Amor e União”.
Atualmente faço Mestrado Profissional em Ensino de Ciências da
Saúde e do Ambiente (UNIPLI). Sou colaboradora do Instituto
Brasileiro de Reeducação Motora – IBRM, Participação em
Congressos Nacionais e Internacionais de Educação,
Psicomotricidade, Capacitação de Professores e Psicomotricidade,
ministrando palestras, cursos e workshops, mas o que importa é
que agora sou sua professora nesse curso a distância.
5

07 Apresentação

Aula 1
09 Tipos e necessidades educacionais
especiais

Aula 2
53 Adaptações curriculares

Aula 3
81 O projeto pedagógico na diversidade
Sumário

Aula 4
111 Avaliação na educação inclusiva

Aula 5
139 Informática na educação inclusiva

Aula 6
169 Psicomotricidade na educação
inclusiva

AV1
201 Estudo dirigido da disciplina

AV2
207 Trabalho acadêmico de
aprofundamento

209 Referências bibliográficas


CADERNO DE
ESTUDOS
Princípios
Metodológicos da
Educação Inclusiva

Neste caderno são discutidos os programas educacionais que


Apresentação

devem estar sintonizados aos do ensino regular para garantir o


convívio social junto à família, à escola, o trabalho e aos amigos, a
fim de evitar a institucionalização que segrega e reforça a imagem
negativa do portador de necessidades especiais. A defesa da
análise e avaliação constante do Projeto Político Pedagógico e, em
conseqüência, tem os princípios norteadores de sua ação
reforçados ou alterados. Bem como, garantir uma intencionalidade
política no trabalho pedagógico. As funções do processo avaliativo.
As novas tecnologias que têm transformado todas as organizações
modernas, inclusive a escola. Por fim, a discussão sobre o corpo e
o movimento através da estruturação da imagem corporal.

Esperamos que, após o estudo deste caderno, você seja capaz de:
Objetivos gerais

 Analisar a importância da diversidade do aluno que deve ser


respeitada com conteúdos específicos e complementares,
ampliando a idéia de conteúdo básico no currículo;
 Refletir sobre as necessidades históricas que representam
transformações nos projetos educacionais;
 Compreender as funções do processo avaliativo para buscar
alternativas e adequações;
 Aprofundar o conhecimento das tecnologias assistivas que
podem colaborar na ação educativa;
 Conhecer os princípios da psicomotricidade as práticas
psicomotoras.
1
Tipos e Necessidades

AULA
Educacionais
Especiais
Marcelo Saldanha
Apresentação

Nesta aula são abordados conceitos e propostas educacionais,


com discussões sobre a formação de professores, políticas e
legislação, com foco nas necessidades educativas especiais.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Propiciar a dinamização do universo da Educação Inclusiva com


discussões abrangentes e atuais;
 Conhecer as características e os padrões de conduta específicos
de cada portador de necessidades especiais para
enfrentamento dos problemas que surgem naturalmente em
todo processo educacional;
 Identificar que o objetivo básico da educação consiste em
capacitar o indivíduo para que possa se beneficiar dos
estímulos de seu meio e de agir de forma eficaz, através de
métodos e recursos pedagógicos a serem empregados no
sistema educacional.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 10

Introdução

Ao abordarmos aspectos relacionados aos tipos


e necessidades educacionais especiais, abrimos uma
ótima oportunidade para que sejam discutidos
tendências, problemas, desafios e perspectivas nesta
área. É fundamental que se abram espaços para
contribuições efetivas relativas à Educação Inclusiva.
Um trabalho deste porte e natureza serve como
elemento de consulta para aqueles que detêm o poder
de decisão sobre a Educação e para os que começam a
se enveredar por seus caminhos

Questões ligadas à conceituação, propostas


educacionais, formação de professores, políticas,
legislação etc. serão postas em foco no sentido de se
dinamizar todo o universo da Educação Inclusiva.

Pesquisadores envolvidos com a problemática da


Leitura
Complementar Educação Especial como Maria Helena Novaes, Livre
Docente pela UFRJ, e Eunice de Alencar, Professora
Recomendamos a Titular da UnB, têm nos alertado sobre a dificuldade em
pesquisa nas várias
revistas Integração. se lidar com assunto de tamanha relevância. Não se
Publicação do
Ministério da trata de uma competição onde pontos de vista são
Educação e do
Desporto sempre defendidos quase que por uma paixão clubística. Não se
com assuntos
pertinentes sobre trata de uma guerra metodológica entre Educação
esta área.
Inclusiva e serviços especializados em Educação
Especial. Trata-se de uma questão com
desdobramentos sociopolíticos que interessa a toda
sociedade.

A evidência dos resultados de ações


desenvolvidas por instituições públicas e privadas, bem
como por órgãos diretamente envolvidos nessa área,
revela o interesse que esse assunto tem despertado
nos últimos anos. Entende-se por excepcionais aqueles
que apresentam deficiências mentais, físicas, visuais,
auditivas, portadores de múltiplas deficiências, de
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 11

problemas de conduta e os superdotados (ou


portadores de altas habilidades).

Desde a Lei 5692/71 (Art. 9º.), a legislação tem


manifestado uma grande preocupação com este
assunto sem, contudo, ter tido condições de fazer com
que essa preocupação se refletisse no atendimento Você sabia?
irrestrito a todos os que dele necessitam. É claro que,
devido às carências e dificuldades da Educação Regular, Já no ano de 2000,
o Professor João
as boas intenções cedam à triste realidade das Baptista Cintra
Ribas, especialista
iniciativas isoladas. em inclusão social
pela Universidade de
Salamanca,
comentava em
É bem verdade que a percepção social dos entrevista à Revista
Integração, ano 10,
deficientes costuma estar mais baseada na imagem de
nº 22 que é
suas incapacidades e limitações do que nas suas necessário capacitar
a pessoa com
potencialidades. Este fato faz com que muitos não deficiência para
exercer determinada
acreditem no retorno dos investimentos feitos nesta profissão. Sua
preocupação é
população em benefício da própria sociedade. preparar o indivíduo
no que se refere à
sua identidade
pessoal para o
De modo geral, as ações e os programas de exercício da
profissão em
Educação Inclusiva estão mais ligados aos princípios de questão. Este fato é
um ótimo indicativo
normatização, integração e individualização.
de oportunidades
sociais.

A normatização objetiva oferecer ao sujeito


portador de necessidades especiais uma série de
oportunidades sociais, educacionais e profissionais da
mesma maneira que oferece às demais pessoas.

A integração é entendida nos seus pontos


temporal, instrucional, social e cultural, pois a meta é
facultar ao indivíduo a chance de atuar no seu mundo a
partir de seus próprios esforços, sem paternalismos ou
ações afins.

A individualização pressupõe adequar o


atendimento às especificidades de cada categoria de
excepcionalidade, respeitadas as suas diferenças
individuais.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 12

Convém esclarecer que normatizar não supõe


impor normas de conformismo social, mas, sobretudo,
levar em conta as dimensões da pessoa, dos
segmentos sociais primários e do próprio sistema
social.
Quer saber
mais?
Propiciar experiências normais de
A Lei nº 7.853, de desenvolvimento no ciclo de vida significa oferecer um
24 de outubro de
1989, dispõe sobre a elenco de escolhas, desejos, expectativas de decisão,
Política Nacional
para a Integração da acesso a uma vida normal e participativa em todo o
Pessoa Portadora de
Deficiência, contexto sócio-histórico-cultural. Sabemos que de nada
consolida as normas
de proteção e dá adianta preconizar tais princípios se não se
outras providências.
concretizarem, de fato, oportunidades educacionais,
profissionais e sociais.

Com a finalidade de implementar tais princípios,


os programas educacionais devem estar sintonizados
com os do ensino comum para que seja favorecido o
convívio social junto à família, à escola, ao trabalho e
aos amigos para que se evite, sempre que possível, a
institucionalização que segrega e reforça a imagem
negativa do portador de necessidades especiais.

A Educação Inclusiva constitui-se em direito


individual e dever social, com o firme propósito de se
oferecer condições iguais de acesso à educação.
Pregamos que o educando é o centro do processo, a
chave do esforço educacional. Se é desta forma, cabe à
escola alargar seus espaços educativos e diversificar
seus procedimentos quanto ao atendimento dos
portadores de necessidades especiais.

Entre as modalidades de atendimento mais


usuais, encontram-se as CLASSES COMUNS que se
destinam àqueles que têm condições de acompanhar o
ensino regular, com ou sem professores especializados,
o APOIO PEDAGÓGICO complementar prestado em salas
de recursos, com material instrucional especializado e equi-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 13

pamentos de suporte, o ENSINO ITINERANTE, no caso


de não existirem serviços especializados no local, as
CLASSES ESPECIAIS, junto às escolas comuns,
oferecendo ensino diferenciado de acordo com as
características dos diversos tipos de necessidades
especiais, as INSTITUIÇÕES ESPECIALIZADAS e as
ESCOLAS-RESIDÊNCIA para aqueles que exigem
atendimento específico e as OFICINAS PEDAGÓGICAS
que constituem modalidades de preparação profissional
e aprendizagem de hábitos para o trabalho.

É sempre pertinente lembrarmos que toda


inovação educacional, nesta área, tem origem a partir
de quatro tipos de contribuições.

 Esforço e participação pessoal


 Difusão e informação programada
 Exercício do poder
Para pensar
 Contribuição espontânea de grupos e de
instituições Devemos pensar
que a própria
reserva de vagas
tem um fundo
Nesta área é muito importante que analisemos a segregador, embora
seja necessária, em
relação entre sistema educativo e sistema institucional.
face da dificuldade
Projetos educacionais deve ser conseqüência de conjuntural, que o
portador de
projetos sociais, pois as transformações do dia-a-dia necessidades
especiais tem para
são a base das transformações institucionais. ingressar no
mercado de
trabalho.

Não são iniciativas que contam com a “bondade”


de uns poucos, são ações que devem contar com infra-
estrutura administrativa forte e bem organizada com
uma ação de base acompanhada de um consenso social
externo bem delineado e que tenha amparo de uma
autoridade de poder decisório firme e determinada na
explicação de seus fins.

Estabelecer relações entre o possível e o


necessário em Educação é o ponto de partida para se
compreender as transformações do ‘real’ educativo.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 14

Analisando-se a evolução histórica do


movimento da Educação Especial no Brasil, comprova-
Importante
se que, desde o momento em que as necessidades de

Segundo a atendimento aos portadores de necessidades especiais


concepção
piagetiana, abertura
se configuraram, as possibilidades se estruturaram e a
para novos realidade de atendimento foi sendo construída aos
“possíveis” se efetua
num quadro de poucos, abrindo-se para novos “possíveis” e
“necessários”
anteriores que “necessários”.
conduzem à
constituição de
outros ulteriores.
Relações educativas, pedagógicas e de
produção

No ato educativo, conjunto coerente de


iniciativas com vistas a uma finalidade e a um sistema
ordenado de meios próprios, situam-se fatores sociais,
culturais, psicológicos e, também, pedagógicos.

Tal ato deve responder às exigências internas do


educando, levando-o a organizar sua conduta e a
conquistar o domínio de seu próprio desenvolvimento.
Esta regra, por sinal, vale para os portadores de
necessidades especiais. pois sabemos todos que, em
função de sua natureza diferenciada, variam
exigências, diferem potencialidades e os ritmos de
aprendizagem não são iguais.

Se assumirmos que o objetivo básico da


educação consiste em capacitar o indivíduo para que
possa se beneficiar dos estímulos de seu meio e de agir
de forma eficaz sobre ele, parece claro que, no ensino
comum assim como na abordagem das necessidades
especiais, os métodos e os recursos pedagógicos a
serem empregados estarão na dependência de
possibilidades e necessidades tanto das pessoas e seus
grupos quanto do sistema educacional.

O processo ensino-aprendizagem baseia-se na


interação social e, conseqüentemente, as relações estão
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 15

sempre presentes nas estruturas institucionais e no


decorrer temporal das atividades educacionais.

As relações dizem respeito às diversas situações


e tipos de envolvimento social ou pessoal. No caso
específico do sujeito portador de necessidades
especiais, é essencial que as consideremos, pois são a
base de hábitos e atitudes que os ajudam a integrá-los
na sociedade e, de forma mais restrita, ao mercado de
trabalho.

As relações pedagógicas, por seu turno,


estabelecem-se por intermédio das tarefas escolares,
das atividades curriculares, das modalidades
instrucionais e dos métodos que são eminentemente
didáticos.

Na escola, a integração social pode ser avaliada


pela participação dos próprios educandos nas atividades
mais corriqueiras, pela satisfação geral, pela
consistência do seu convívio social e pelo nível de
relacionamento com pessoas e grupos.
Importante

O diálogo educativo, assimétrico por natureza,


apresenta-se sobre uma configuração triangular, onde Não podemos mais
trabalhar a partir de
encontraremos o processo de aprendizagem, o uma premissa
idealizada do aluno.
desenvolvimento das potencialidades como fim A teoria serve à
prática e não o
intrínseco e o agente educacional como mediador. contrário.

O educador que atuar junto aos portadores de


necessidades especiais, sejam estes deficientes físicos,
mentais, sensoriais, portadores de múltiplas
deficiências, problemas de conduta ou de altas
habilidades, deve estar sensível e atento às suas
necessidades e igualmente consciente das próprias
motivações e dos seus limites pessoais de atuação
profissional. A partir destas necessidades, deverá
estruturar situações de realidade possível no campo de sua
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 16

atuação pedagógica.

Entre os tipos de vínculos que poderá


estabelecer destacamos, inicialmente, o da
dependência, seguindo o modelo intergeracional pai-
filho, que conduz a atitudes de superproteção. A seguir,
temos o modelo da cooperação ou mutualidade que
leva à independência progressiva e, finalmente, o da
competição que pode ocorrer quando se trata de
atender os portadores de altas habilidades uma vez
que, sentindo-se ameaçado no seu poder e saber, o
educador rivaliza com o educando chegando mesmo a
hostilizá-lo ou a rejeitá-lo.

Entretanto, se a percepção que o professor tem


do grupo de excepcionais for negativa, se ele não crê
nas suas capacidades, poderão aparecer alguns
problemas de difícil condução. Trabalhando com a
imagem do aluno ideal, aquele produtivo, rápido e bem
comportado, haverá a tendência às comparações
depreciativas ou outros comportamentos pouco
Para pensar recomendáveis, o que gerará, certamente, insatisfação
geral.
Aliás, qualquer
princípio educacional
tem a aprendizagem Outras dificuldades serão provenientes da não-
como foco principal.
O olhar sobre a aceitação das normas institucionais e funcionais que
aprendizagem do
portador de certamente acarretarão problemas na prática
necessidades
especiais é, pedagógica e na comunicação em sala de aula.
basicamente, o
mesmo olhar sobre
qualquer sujeito.
Não cabe Aprendizagem diz respeito à equação de
paternalismo,
apenas atenção.
condutas antecedentes e conseqüentes e deve ser
tomada como um produto contextual das estruturas de
ação, a partir do momento em que a experiência
modifica o estado anterior do comportamento.

Engloba, assim, tanto a incorporação de novos


padrões como a modificação de toda funcionalidade de
comportamentos, a aquisição de novas formas de com-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 17

preensão e certa organização de atitudes e valores.

Uma situação educativa deve, basicamente, criar


condições favoráveis que possibilitem transformar
comportamentos, estando relacionada à definição e
redefinição de metas e objetivos junto ao
favorecimento de conteúdos novos e à mobilização de
interesses dos educandos.

Quando falamos de Educação Especial ou seus


desdobramentos na Educação Inclusiva, é
imprescindível considerar os esquemas anteriores de
conduta (modelos, hábitos, motivação, atitudes e
valores), os esquemas atuais da conduta que se
inserem na experiência e tendem a modificar os
comportamentos (novos hábitos, táticas, estratégias de
conduta) e os produtos e performances resultantes da
aprendizagem.

Uma recomendação interessante seria a de que


fossem adotados procedimentos mais realistas e
apropriados a fim de se gerarem mecanismos de
mediação e de avaliação de cunho educacional. Desta
forma haveria uma estrutura que funcionaria em função
do nível de expectativas da competência real dos
alunos.

É claro que cada portador de necessidades


possui características individuais que determinam seus
ritmos e níveis de aprendizagem. Aliás, é muito
saudável lembrarmos que qualquer processo de ensino-
aprendizagem não se correlaciona necessariamente.

A Educação Inclusiva, diga-se de passagem, não


prega a inserção indiscriminada de qualquer tipo de
aluno em qualquer tipo de escola. Cumpre ressaltar que
as discussões acerca do Ensino Especial costumam
deslocar a problemática da falta de rendimento escolar pa-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 18

ra as limitações dos portadores de necessidades


especiais e não para aquelas provenientes da
ineficiência da prática educativa seja por ser
insatisfatória e desmotivadora, seja por não possuir os
Dica do
professor recursos mínimos necessários para atuar com uma
clientela diferente.
Devemos observar
os direitos da
criança e do
Por este motivo, é imperativo que se pense na
adolescente. Educar
é um ato de adaptação de programas curriculares e métodos
inserção social e
político. pedagógicos, uma vez que cada categoria de
excepcionalidade reclama uma variedade de técnicas e
recursos didáticos que facilitem o processo de
aprendizagem e o de socialização.

O conhecimento das características e dos


padrões de conduta específicos de cada portador de
necessidades especiais é o ponto de partida para que
lidemos melhor com os problemas que surgem
naturalmente em todo processo educacional.
Você sabia?

Que fique clara a Com esta noção permeando as ações educativas


proposta da inclusão
da Educação Inclusiva, estamos no caminho para
e do aproveitamento
das deficiências ajudar o portador de necessidades especiais a construir
dentro de um senso
de cooperação e suas relações com o meio de forma menos confusa e
participação longe
de atitudes mais agradável.
simplistas que
confundam respeito
e reconhecimento de
aptidões com a Discutiremos, no próximo capítulo, alguns
caridade e a
compaixão. pontos importantes referentes a este desafio complexo,
porém, para nós, bem possível.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 19

Em busca de um projeto inovador e eficaz

Sabemos que a maioria das experiências


inovadoras na área da Educação fica restrita a
experiências esporádicas e casuísticas. Isso não é
diferente no âmbito do tratamento educacional dado
aos portadores de necessidades especiais.

Não é intuito desta aula promover um embate


entre estratégias de atendimento aos alunos que
necessitam de cuidados especiais. Se serão atendidos
melhor em escolas regulares ou especiais, a validade
científica de nossa discussão recai sobre o problema em
si. A evidência comprova que a maioria das
experiências não tem tido continuidade satisfatória e os
maiores interessados no resultado final do trabalho são,
constantemente, desconsiderados em detrimento de
estatísticas, teorizações exageradas e pouca ação.

Devemos, sem paixões, lembrar de iniciativas


maravilhosas de instituições especializadas como o
Instituto Benjamin Constant para deficientes visuais
que apresenta resultados estupendos no tocante à
socialização e à integração daquela população. É
impressionante o compromisso de seus educadores
para com seus alunos e o envolvimento emocionante
das famílias no processo de transformação daqueles
que passam por lá.

Igualmente digno de citação é o INES (Instituto


Nacional de Educação de Surdos) e seu papel de
recolocação social de todos os que fazem uso de seus
serviços. Junto a estes podemos citar a Fundação
Pestalozzi, a APAE e muitas outras que desempenham
papel fundamental na Educação Especial.

Este rápido comentário tem a clara intenção de


definir a Educação Inclusiva como uma opção em meio
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 20

a tantos projetos que visam uma melhor qualidade de


vida para aquele que tem uma necessidade especial.

Devemos levar em conta as peculiaridades locais


e regionais, as possibilidades da própria comunidade e
dos diversos contextos socioculturais, as condições
reais de viabilização de programas e atividades para
que a boa vontade não caia num enorme vão
conceitual, num vácuo operacional onde floreios e
oratória se impõem aos fatos.

Isto já foi sinalizado pela UNESCO, no início dos


anos 80, quando foram severamente criticados os
fatores que são grandes obstáculos aos avanços
operacionais na Educação mundial.

Entre muitos, podemos destacar:

 Desvalorização do processo inovador advinda


da fraca coordenação e comunicação entre os
serviços existentes e da confusão e
insuficiência do planejamento;
 Conflitos entre pessoas, grupos e instituições,
devido a atitudes de resistência e oposição a
mudanças;
Para pensar
 Problemas típicos de subdesenvolvimento que
Observamos um acarretam dificuldades de transportes,
desgaste histórico,
pois a falta de atrasos na distribuição de verbas, dificuldades
profissionais
especializados de pessoal, administrativa e de recursos
dificulta o melhor
andamento da
insuficientes;
inclusão.  Oposição de ideologias educacionais, levando
à divergência de opiniões e de interesse;
 Relações insatisfatórias ocasionando fraca
coesão profissional entre os membros de
equipes nas instituições.

O número e a qualidade dos recursos humanos


envolvidos é, sem dúvida, ponto básico, assim como a
utilização de conhecimentos técnicos atualizados e
válidos.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 21

É preciso que consideremos alguns aspectos


que, acreditamos, são imperativos no encaminhamento
de um projeto sério neste assunto.

Saber congregar pessoas, grupos e instituições


para que trabalhem cooperativamente no planejamento
da organização educacional, nas equipes inter e
multidisciplinares a fim de favorecer a coesão entre os
serviços prestados é, talvez, o ponto crucial quando se
desenvolve um projeto de largo espectro.

Você sabia?
Outra ação a ser desenvolvida passa pela
concatenação de idéias, práticas metodológicas,
O avanço
recursos e atividades que operacionalizem as mudanças tecnológico é
fundamental para
e a busca de novas soluções para os problemas que a pessoa
portadora de
existentes. Para que tudo flua de forma bem natural, é necessidades
especiais tenha cada
necessário que haja uma avaliação ágil e efetiva das vez mais
independência.
competências exigidas no âmbito escolar e dos fatores
que interferem nas situações escolares.

Em suma, é preciso que se construa um ‘real’


educativo baseado nas necessidades dos alunos e,
também, nas do próprio sistema de ensino e contexto
sociocultural com possibilidades de ações concretas e
objetivas. Do contrário, pouco ou nada mudará.

Considerações acerca das necessidades


especiais

Embora não seja objetivo deste estudo esgotar


as possibilidades de discussão sobre o assunto, é
interessante que sejam disponibilizadas informações de
forma bem ampla para que o leitor se veja abastecido
de argumentos e possa, assim, conduzir sua linha de Para
navegar
raciocínio de forma responsável. Por essa razão, a
partir deste momento, serão postos em evidência Visite o site
http://www.portal.m
alguns quadros específicos que requerem atenção ec.gov.br e pesquise
no link Educação
especial. Este fato vai servir de apoio para os que Especial.
atuam na área assim como para os que começam a
militar no campo da Educação Inclusiva.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 22

É um começo. E, como tal, seu compromisso é o


de abrir portas e horizontes para os que necessitam,
para os que necessitarão e para aqueles que são ou
serão agentes para a transformação de um quadro que
precisa de muito auxílio.

AUTISMO

Ao abordar o aspecto educativo de indivíduos


portadores da Síndrome de Autismo Infantil, é
necessário fazer um apanhado histórico, passando pela
seleção natural, eliminação de crianças com
malformações ou deficientes em várias civilizações com
a marginalização e a segregação promovidas na Idade
Média até um período marcado por uma visão mais
humanista na Europa, após a Revolução Francesa. Daí,
chegamos ao século XIX quando começaram os
primeiros estudos sobre as deficiências.

No início do século XX, a questão educacional


passou a ser tratada, embora ainda muito
contaminada, pelo estigma de um julgamento social.
Na verdade, mesmo hoje, entre todas as situações da
vida de uma pessoa portadora de necessidades especiais,
uma das mais críticas é a sua entrada e permanência
na escola. Ainda hoje se questiona a falta de adaptação
de algumas dessas crianças. Infelizmente, o adulto
ainda fixa as normas e facilita ou não o acesso a elas.

Embora seja um pouco mais sutil, hoje ainda se


pratica a eliminação de “crianças deficientes” do
ambiente escolar.

São muitas as definições da Síndrome de


Autismo Infantil. Desde Kranner, apud Fonseca (1987),
vários autores se dedicaram à tarefa de estudar o
Autismo. Foram usadas muitas teorias e percorridos
caminhos bem variados.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 23

Antes, pensava-se que o Autismo estava


relacionado a questões afetivas e algumas dificuldades
na dinâmica familiar. Eram pontos de vista baseados
em teorias psicogênicas. A necessidade de uma
definição mais objetiva fez mudar a direção das
pesquisas e hoje existe uma crença melhor
fundamentada que sustenta que estas pessoas tenham
uma disfunção biológica estrutural ou funcional que
altera gravemente o desenvolvimento e a maturação do
Sistema Nervoso Central.

Uma boa definição de Autismo diz que ele é uma


síndrome presente desde o nascimento e se manifesta
antes dos 30 meses de idade. Caracteriza-se por
respostas anormais a estímulos auditivos ou visuais e
por problemas graves quanto à compreensão da
linguagem falada.

A fala custa a aparecer e, quando isto acontece,


notam-se ecolalia, uso inadequado dos pronomes,
estrutura gramatical imatura, inabilidade de usar termos
abstratos. Há uma incapacidade na utilização social
tanto da linguagem verbal como da corporal.

Neste quadro, o comportamento tende a ser


ritualístico, incluindo rotinas anormais, resistência a
mudanças, ligação a objetos estranhos e um padrão de
brincar com certa estereotipia. O pensamento abstrato-
simbólico ou a capacidade para jogos imaginativos é
bem reduzida. A performance é, com freqüência,
melhor em tarefas que requerem memória simples ou
habilidade viso-espacial, comparando-se com as que
requerem uma boa capacidade simbólica ou lingüística.

Deficiências primárias e secundárias estão


presentes na Síndrome de Autismo Infantil. As
primárias podem estar relacionadas aos problemas
subjacentes à compreensão e motricidade.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 24

As deficiências secundárias relacionam-se com


Quer saber os distúrbios de comportamento conseqüentes às
mais?
primárias

A título de
ilustração, segue As crianças autistas são perfeitamente testáveis
abaixo uma lista de
algumas deficiências e o diagnóstico não é tão difícil de ser realizado.
primárias:
 Alterações
neurológicas;
 Quociente de Na verdade, os problemas encontrados na
inteligência;
 Respostas definição de autismo refletiram-se também na
anormais a sons;
 Dificuldade de dificuldade de construção de instrumentos precisos
imitar movimentos
finos e elaborados;
para a avaliação e o diagnóstico desses casos.
 Compreensão
deficiente da
informação visual; Devem-se considerar as severas deficiências de
 Uso dos sentidos
proximais; interação, de comunicação e de linguagem e as
 Dificuldade na
compreensão e uso alterações da atenção e do comportamento que estas
dos gestos.
crianças podem apresentar. É ponto pacífico que a
atuação psicopedagógica a ser traçada esteja centrada
em suas necessidades. Antes de se elaborar uma
abordagem, o aluno deve ser observado para que se
tenha uma noção dos canais de comunicação que sejam
mais receptivos a uma estimulação mais apropriada.

É bom que se considere, também, o nível de


desenvolvimento do autista para que a programação
Você sabia?
não esteja acima de suas condições cognitivas.

As deficiências
secundárias se Como uma proposta do que seria um
refletem nos
seguintes pontos: encaminhamento de ações a serem desenvolvidas com
 Dificuldade nas
relações pessoais; as crianças vítimas da Síndrome do Autismo Infantil,
 Resistência à
mudança na sua vamos apresentar alguns procedimentos que são de
rotina;
 Auto agressão;
grande valia para se trabalhar com esta população.
 Ausência de
brincadeira
imaginativa. O fazer pedagógico deve observar os seguintes
passos:

1. Estabelecer rotina diária estruturada – Este


ponto oferece uma possibilidade de acontecimentos que
permite situar a criança no espaço e no tempo. Isso a aju-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 25

da na organização de contextos que servem de


referência para sua segurança interna diminuindo,
assim, suas angústias e distúrbios de comportamento.

2. Valorizar os elementos da natureza – Estimula


o aluno a perceber seu meio ambiente com
observações e contato com sol, chuva, vento, árvores e
animais, visando a facilitar sua percepção e
diferenciação do mundo.

3. Abordagem vivencial da aprendizagem –


Vivenciar as atividades programadas promove e facilita
a participação e o envolvimento com o objeto de
trabalho, por vezes o auxílio verbal é insuficiente o que
faz aparecer a necessidade de uma ajuda física. Este
tipo de abordagem vivencial permite que um mesmo
objetivo para uma dada criança seja trabalhado em
outros contextos, possibilitando, assim, maior
generalização e funcionalidade da aprendizagem.

4. Respeito à condição humana – Enfatiza a


colocação das crianças num ambiente que possua
programas adequados para seu dia a dia. Assim, as
possibilidades de sucesso serão maiores do que as de
fracasso. Neste ponto valoriza-se o esforço tanto
quanto o resultado.

5. Utilização da linguagem musical – A música


sempre é um recurso importante na sala de aula. O
bom resultado do seu uso depende, principalmente, do
tipo de música e do momento em que esta será
utilizada. É necessário que sejam músicas de fácil
assimilação e relacionadas a momentos de uma rotina
agradável como hora do recreio, hora da entrada, hora
do lanche, higiene etc. Há, ainda, a utilização de peças
orquestradas em boa harmonia que produzem uma
sensação de calma muito propícia para os eventos onde
a aprendizagem acontece.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 26

Cabe a todos nós, envolvidos no


desenvolvimento de programas que se preocupam com
a integração das necessidades especiais, a
Quer saber responsabilidade na gerência deste tipo de tratamento.
mais?
Entretanto, é preciso que saibamos que a relação
professor X aluno é o ponto central de toda ação
No Brasil, estamos
ainda engatinhando educativa a ser desenvolvida. É a partir daí que terá
no que tange aos
cursos de formação início a chance de se retirar o aluno do seu isolamento
específica para
professores de característico. Sem essa interação, não haverá
crianças com
Autismo. A programação que tenha fôlego para se sustentar.
preparação destes
costuma se dar em
rápidas pinceladas
nos cursos de É preciso que sejam criados mais cursos de pós-
especialização em
Educação Especial graduação voltados para este setor tão carente de
e/ou em estágios
avanços capazes de iniciar uma mudança efetiva na
supervisionados nas
instituições que sociedade.
oferecem este
atendimento.

Cada vez mais alargam-se os horizontes do


atendimento às pessoas portadoras de necessidades
educativas especiais e, em especial, aos que sofrem da
Síndrome do Autismo Infantil.

Cada vez mais valoriza-se a potencialidade e


não a incapacidade das pessoas. Com isso, ganha a
sociedade como um todo.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

A Educação Especial no Brasil, mais


notadamente, a Educação do Deficiente Auditivo tem
respondido, durante o seu transcurso histórico, à
legitimação da seletividade escolar.

É um assunto extremamente complexo que


encontra obstáculos mesmo em centros mais
avançados do que o nosso.

A Educação Especial surge nas sociedades


ocidentais industriais, no século XVIII, como parte pouco
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 27

significativa de um conjunto de reivindicações de


acesso à riqueza produzida tanto material quanto
cultural e que culminou na construção da democracia
republicana representativa, cujo modelo mais
expressivo foi aquele implantado na França pela Para
navegar
Revolução em 1789.

Visite o site do INES


No Brasil, a história da Educação Especial e veja a qualidade
do trabalho
confunde-se de certa maneira com o que foi produzido realizado com
deficientes
no mundo contemporaneamente. Temos, em 1857, a auditivos. Acesse:
http://www.ines.org
criação do INSTITUTO IMPERIAL DOS SURDOS-MUDOS, .br

ainda que insuficiente, para o atendimento


especializado àquelas crianças.

Em 1929, mais de setenta anos depois, foi


criado o INSTITUTO SANTA THEREZINHA, em São
Paulo. Era uma escola especial e, de então até a década
de 60 do século XX, o seu crescimento foi ínfimo. A partir
desta época, a Educação do deficiente auditivo cresceu
de forma jamais vista. Entretanto, a maior parte dos
deficientes auditivos ainda continua sem um atendimento
adequado. Este fato por si só serve para que possamos
ver que o princípio constitucional de acesso ao ensino
fundamental está longe de ser alcançado.

Existe uma questão grave que toca os aspectos


da deficiência auditiva quando se verifica que as
possíveis dificuldades cognitivas são, todas elas,
subordinadas ao desenvolvimento da linguagem e que,
portanto, esta deficiência em si não acarreta qualquer
déficit cognitivo, o que deveria resultar em bom
rendimento escolar, desde que superadas as
dificuldades de linguagem.

Ora, se a cognição e, conseqüentemente, o


rendimento escolar do deficiente auditivo estão
subordinados a processos de habilitação e reabilitação
de linguagem, deveria ser prioritário o desenvolvimento
de programas que atacassem este problema.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 28

O que se nota, em primeiro lugar, é que, exceto


uma pequena parcela da população que dispõe de
Dica do
professor
recursos financeiros para arcar com programas deste
tipo, são raros os serviços públicos que desenvolvem
Observem a Lei estratégias de diagnóstico, habilitação ou mesmo de
9.394, de 20 de
dezembro de 1996. reabilitação de linguagem para crianças com deficiência
Artigo 5º. Incisos I,
II, III, IV e V. auditiva.

É interessante notar que os atrasos eventuais


decorrentes de algumas necessidades especiais não
estão relacionados a déficits cognitivos. É
particularmente assustador ver que, aliás, esse não é
um fenômeno típico do tratamento das
excepcionalidades.

Sem dúvida é uma questão política que assola


também o ensino regular. Para uma solução definitiva,
é urgente o estabelecimento de um projeto nacional de
Educação que esteja permanentemente comprometido
com o acesso ao saber de todos.

Vemos, assim, que os aspectos metodológicos


têm sido a grande problemática no encaminhamento da
inclusão do deficiente auditivo. Devemos nos lembrar
do professor, pois é ele quem tem responsabilidade
direta pelo ensino.

No caso da Educação do deficiente auditivo,


onde a questão do conteúdo escolar está intimamente
ligada à principal seqüela de sua deficiência, a alteração
nos processos de aquisição e de desenvolvimento da
linguagem, a formação especializada ganha importância
vital.

É óbvio que o deficiente auditivo inserido em


processos especiais de ensino, como a escola especial,
depende da qualidade do trabalho do professor. Não
podemos nos esquecer que, inseridas nas classes
regulares, suas dificuldades exigem acompanhamento
pedagógico especializado para que se garanta a assimila-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 29

ção desejada do conteúdo escolar. Esta preparação tem


no professor uma peça chave.

Importante
Infelizmente, salvo honrosas exceções de
escolas que, de fato, praticam a Educação Inclusiva, no
A recomendação do
Brasil ainda estamos muito aquém no que concerne à Bureau International
d’Audiophonologie/B
boa formação de professores para um trabalho desta IAP é que os
deficientes auditivos
qualidade. tenham acesso a
recursos didáticos e
equipamentos
especiais para sua
Tendo em vista a rápida noção crítica proposta melhor adaptação ao
mundo.
neste estudo, é bom tecer alguns comentários que,
certamente, oferecem alguns dados bem elucidativos
para ampliarmos o atendimento satisfatório do
deficiente auditivo no Brasil.

Se parte da constatação de que a criança


deficiente auditiva necessita de atendimento que
garanta a superação ou, pelo menos, a minimização
das alterações provocadas pela surdez, é preciso que se
ampliem os serviços que permitam a aquisição e o
desenvolvimento de sua linguagem.
Para
navegar
É inegável que toda discussão em torno da
Educação Especial, da Educação Inclusiva, ou de Visite o site
http://www.apaerio.
qualquer iniciativa semelhante tem potencial para org.br e procure o
link “objetivos”.
exercer influência positiva sobre o processo de Trace o paralelo
entre o conteúdo do
democratização do ensino. Assim sendo, a ampliação nosso texto e o
desta organização
de oportunidades educacionais através dos sistemas que presta serviços
de excelência aos
públicos de ensino contemplará os desassistidos e familiares e aos
próprios
abrirá um horizonte promissor no nosso quadro
excepcionais.
educacional.

DEFICIÊNCIA MENTAL

Vamos refletir acerca das tendências de


trabalhos destinados às pessoas portadoras de
deficiência mental. Na ênfase dos aspectos
educacionais sem considerar outras áreas tão importan-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 30

tes para a análise dos problemas associados à


deficiência, há o reconhecimento da educação como
direito e condição para o pleno desenvolvimento do
portador de deficiências.

No caso da deficiência mental, pode-se dizer que


se trata de um quadro manifestado por limitações
essenciais do desempenho intelectual da pessoa. Estas
limitações são caracterizadas pela combinação do
funcionamento intelectual significativamente abaixo da
média. Destacam-se, nesta conceituação, algumas
limitações adaptativas em duas ou mais das áreas a
seguir: COMUNICAÇÃO, HABILIDADES SOCIAIS,
DESEMPENHO NA COMUNIDADE, INDEPENDÊNCIA NA
LOCOMOÇÃO, SAÚDE E SEGURANÇA, DESEMPENHO
ESCOLAR, LAZER E TRABALHO.

As alterações e implicações na análise das


deficiências mentais são complexas e fundamentais e
sua análise requer um constante debate amplo e sem
preconceitos.

A classificação é um ato político e social. Para


que se aceite uma dada classificação, é preciso que
exista a presença da medida de poder sobre os outros,
Importante
seja ele intelectual (científico) ou político (coercitivo).

No modelo médico,
onde são Os critérios e os procedimentos usados no
enfatizadas as bases
orgânicas da processo de classificação determinam não apenas os
deficiência mental, a
busca de fatores aspectos do indivíduo que deverão ser trabalhados
etiológicos constitui-
se no cerne do
(inteligência, conduta adaptativa, sociabilidade etc.),
processo
mas, sobretudo, as atitudes e as práticas educativas
diagnóstico.
com relação a ele.

Das diferentes óticas pelas quais a deficiência é


percebida – modelo médico, psicopedagógico e social –,
decorrem modos diversos de conceber e efetuar o
diagnóstico.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 31

Desta forma, sua atuação é fundamental, pois


seus critérios são rígidos e objetivos. Cabe aos
profissionais envolvidos muito pouco de contribuição,
embora hoje já tenham mais poder de intervenções,
trocas e até mesmo críticas.

No modelo psicopedagógico, o alvo do


diagnóstico costuma observar o nível de maturidade
psicomotora, o estágio do desenvolvimento cognitivo, o
nível do pensamento conceitual, o repertório
comportamental etc. Os procedimentos por excelência
desta abordagem investigam processos psicológicos
subjacentes ao comportamento do sujeito como
inteligências, memória, atenção etc. ou, mesmo,
descrevem e analisam o comportamento observável.
Neste modelo destacam-se as atuações do Psicólogo,
do Fonoaudiólogo, do Psicopedagogo etc.

Sob a perspectiva social, os processos de


encaminhamento e diagnóstico são bastante
questionados. O diagnóstico dirigido para simples
identificação e conseqüente rotulação recebe muitas
críticas por seus efeitos deletérios no processo de
legitimação da condição do portador de necessidades
especiais.

A única forma justificável de diagnóstico é


aquela dirigida para o ensino no qual são levantados
dados educacionalmente significativos que venham
contribuir efetivamente para o planejamento e a
implementação de programas educativos eficazes.

Essa questão de encaminhamentos tem sido


recorrente nas discussões sobre o tema.

É preciso que se entenda que a população


carente é super-representada nas estatísticas de
portadores de necessidades especiais e que os instrumen-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 32

tos de diagnóstico utilizados não estão em consonância


com os seus valores. Outro ponto é que, muitas vezes,
pela ausência de testes fidedignos e padronizados, todo
Quer saber
mais? o problema do encaminhamento passa a ser arbitrário.

Na década de 70, A prevalência de indivíduos portadores de


consagrou-se no
Brasil o diagnóstico deficiência mental é estimada por alguns em torno de
“AE” (Aluno
Especial) que era 6% da população, enquanto outros sustentam que esse
eivado de
preconceito contra o percentual pode chegar até os 10%. Nossos
aluno supostamente
deficiente mental. instrumentos de investigação, neste caso, são incapazes
Infelizmente, ainda
temos um ranço
de oferecer uma resposta efetiva. Nossa preocupação,
deste modelo em na verdade, não é essa e, sim, o que poderia ser feito
pleno século XXI.
no sentido de evitar a incidência de tais casos.

A preocupação com a deficiência mental no


Brasil começou em meados da década de 60 do século
XX.

A concepção da prevenção e de suas ações –


bem como sua conceituação – varia de acordo com a
perspectiva teórica adotada. Por exemplo, dentro do
modelo médico há uma ênfase nos fatores biológicos
que variam desde anomalias cromossômicas (Síndrome
de Down) a erros de metabolismo (fenilcetonúria),
Para pensar
passando por infecções viróticas (rubéola), desnutrição
profunda da mãe, traumatismos no parto (lesões de
Lembrem-se de que
o diagnóstico tem ordem neurológica), exposição à radiação, álcool,
um peso enorme
sobre o sujeito. Um mercúrio, consangüinidade etc. Neste enfoque há todo
diagnóstico mal feito
gera, além de um cuidado na área de saúde pública com ações
estigmas profundos,
falhas primárias nas preventivas como campanhas maciças de vacinação, de
conduções acerca da
deficiência.
higiene pública, cuidados pré e perinatais,
aconselhamento etc.

Sob uma perspectiva sociocultural da deficiência,


há que se observar os fatores psicossociais associados
à excepcionalidade, principalmente, no que tange ao
atraso no desenvolvimento cognitivo e sócio-emocional,
onde existem variáveis demográficas e processuais.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 33

Nas variáveis demográficas, encontramos:

 Tipo de ocupação dos pais;


 Baixo nível de escolaridade da mãe;
 Doenças crônicas familiares;
 Prole muito numerosa;
 Ordem de nascimento da criança;
 Desorganização familiar.

Nas variáveis processuais, estão:

 Rigidez de atitudes dos pais para com as


crianças;
 Crenças e valores da mãe quanto ao
desenvolvimento da criança;
 Nível de ansiedade da mãe;
 Baixa complexidade da linguagem falada;
 Práticas educativas autoritárias;
 Negligência educativa;
 Carência de apoio familiar.

As ações preventivas, segundo o modelo


psicossocial, dirigem-se, basicamente, à mudança no
comportamento e nas expectativas da família em
relação ao desenvolvimento da criança.

As ações preventivas nas duas perspectivas


citadas anteriormente têm sido categorizadas em três
níveis de prevenção:

1. PRIMÁRIA  A intervenção tem o intuito de


reduzir a incidência de algumas condições de
excepcionalidade na população por meio de
identificação, remoção ou redução dos efeitos dos
fatores de risco que as produzem. Esta prevenção
assume forma mais genérica quando as instituições
sociais promovem condições dignas de saúde,
educação, trabalho e habitação para todos. De forma mais
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 34

restrita, a ação preventiva primária focaliza alguns


segmentos da população considerados mais vulneráveis
como as famílias que vivem em situação miserável ou
de extrema pobreza. Programas educativos sobre
saúde e desenvolvimento humano, de controle do meio
ambiente, centros de diagnóstico precoce, programas
educacionais, são exemplos de ações preventivas
primárias.

2. SECUNDÁRIA  Esta intervenção está


baseada na constatação de que já houve a
manifestação da deficiência. O objetivo é reduzir sua
duração ou sua severidade. Sob o ângulo da saúde
pública, o seu foco é diminuir a prevalência de
determinada condição de excepcionalidade na
população. Exemplos de ações neste nível são os
centros de diagnóstico, tratamento e educação de
crianças pequenas de alto risco e de risco comprovado,
os programas de educação da comunidade sobre a
excepcionalidade e os de formação de recursos
humanos para atuar com tal clientela.

3. TERCIÁRIA  Nesta, parte-se do pressuposto


de que a redução no número de indivíduos portadores
de deficiências não é nem possível nem provável.
Procura-se, então, reduzir as seqüelas ou efeitos
associados à excepcionalidade. Ações que visem
diminuir a necessidade de institucionalização, que
visem maximizar o potencial de vida independente,
reduzir a ocorrência de comportamentos
autodestrutivos e/ou estereotipados e de posturas
corporais inadequadas, ações que auxiliem a família a
elaborar situações de conflito e de stress são algumas
modalidades da ação preventiva terciária.

Nossa discussão, na verdade, busca mais um


ponto de apoio para que as discussões nos esclareçam.
Precisamos entender, parafraseando Omote (1994, p. 69),
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 35

que a “deficiência é destacada da normalidade pelo


recorte que é feito em função de algum critério”.

A questão da Educação Inclusiva deve ser


percebida tanto no nível dos modelos conceituais
subjacentes às práticas docentes quanto no nível de
formação de recursos humanos com propostas de
programas e currículos menos ligados à idéia exclusiva
da diferença.

DEFICIÊNCIA VISUAL

Num mundo tão visual como o nosso, é muito


importante que destaquemos que o trabalho junto aos
deficientes visuais implica, necessariamente,
conhecimento do referencial teórico próprio que os
norteia. Assim, esta seção vem convidar a todos os que
se interessam por esta questão a refletirem sobre os
fundamentos da ação.

Vamos começar com uma proposta de se pensar


sobre o ato de educar, voltando às origens do ato de
Para refletir
conhecer, isto é, o perceber, perguntando sobre as
bases do próprio conhecimento.
Estas são perguntas
feitas
freqüentemente e
Como, por meio dos órgãos dos sentidos, em que vão ao cerne da
concepção de
contato com as coisas ao redor, vão se organizando deficiência visual.
informações e como as concepções se formam?

Quais são os caminhos para a construção desse


mundo em que vivemos, agimos e nos inter-
relacionamos com pessoas e objetos culturais e físicos?

Se faltasse o auxílio de um dos órgãos dos


sentidos, os caminhos mudariam?

Como seria o ato de perceber na ausência do


sentido da visão? Neste caso, como seria nosso ato de
conhecer?
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 36

Numa retomada panorâmica, sem grandes


aprofundamentos, vamos apresentar aqui uma rápida
visão de como tem se desenvolvido a educação do
portador de deficiência visual, bem como a formação do
professor que milita nesta área. No decorrer desta
exposição vamos delinear a proposta de uma
perspectiva de ação junto a esta clientela.

É bom que se diga que, em termos


educacionais, os portadores de deficiência visual se
dividem em dois grupos: cegos e portadores de visão
subnormal. Essa definição nos permite atentar para as
possibilidades do aluno. No lugar de se estabelecer de
forma precoce uma delimitação numérica e rígida de
seu potencial, focaliza-se, inicialmente, naquilo que o
indivíduo é capaz de realizar e, posteriormente, naquilo
que está na área de suas limitações. Implicitamente
fica assinalada a importância de conhecer o sujeito na
sua totalidade.

Inicia-se, pois, com a busca e o reconhecimento


daquilo que eles têm em comum com as demais
crianças para depois focalizar as diferenças existentes
entre elas.

Nunca é demais lembrar que existem várias


pessoas portadoras de necessidades especiais que
gozam de uma vida sem grandes atropelos. São bem
ajustados e integrados com familiares e ambiente. Em
sua maioria esmagadora, todas elas tiveram apoio na
infância e orientação adequada para sua devida
integração. Isso ocorre também com os deficientes
visuais.

Os problemas decorrentes das necessidades


especiais poderiam ser evitados na base de sua
formação. O único ponto que difere o deficiente visual
daquele que enxerga é a visão comprometida. Este, por
sinal, é o ponto básico a ser considerado.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 37

Desta forma, serão apresentados a seguir alguns


itens que auxiliam os educadores a prevenir problemas
causados por esta deficiência.

1. Buscar as vias de comunicação que o sujeito


tem com o mundo a partir de dois ângulos:

Importante
a) transmitir conhecimentos através de dados
referentes aos sentidos que ela dispõe; e b) propiciar Não é uma regra
fechada. São pontos
condições para que ela explore e possa compreender o de orientação que
facilitam as relações
mundo ao seu redor, organizando o que aprendeu por entre portadores e
não-portadores de
meio dos sentidos de que dispõe. necessidades
especiais.

2. Respeitar o tempo que o sujeito deficiente


visual necessita para explorar o mundo. Ausência ou
carência muito severa de visão constitui perda de
percepção mais imediata e globalizante. Desta forma, é
necessário que se substitua a coordenação visual-
motoral pela audiomotora. É muito útil que se
desenvolvam a coordenação motora e a locomoção
para que se tenha noção das relações espaciais. A falta Para pensar

de estímulos visuais faz com que os significados


O deficiente visual
atribuídos pelos sons se dêem mais lentamente, necessita de
oportunidade para
necessitando de um acompanhamento pelo toque ou de
esforçar-se.
serem produzidos pela própria criança.

3. Evitar excesso de proteção, pois isso


prejudica o desenvolvimento da criança. Do ponto de
vista da locomoção, procurar organizar o ambiente de
forma que o indivíduo deficiente visual se movimente e
explore, sem se deparar com situações frustrantes e/ou
desagradáveis – cair, derrubar objetos, esbarrar em
locais que possam machucar. Contudo, há dificuldades
que fazem parte do aprendizado e que o educador
poderá evitar. É preciso que a criança passe pelos
riscos e os enfrente, pois isso aumenta a coragem, a
autoconfiança e a autonomia.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 38

Esta não é uma proposta de se apresentar


normas rígidas ou apontar soluções para a orientação
educacional do deficiente visual. A preocupação é
propormos uma linha de reflexão que nos ajude a
lembrar que um referencial inadequado para se
trabalhar com o deficiente visual ajuda na produção do
estigma e em nada contribui para o seu bom
desenvolvimento.

Ocorre constantemente nas escolas uma busca


infrene de procedimentos que, na maior parte das
vezes, interfere de forma negativa no tocante aos
aspectos de avaliação. É óbvio que um planejamento
Leitura
Complementar prévio auxilia a abordagem de um assunto crucial como
este, mas igualmente óbvia é a noção de que nem tudo
Na revista
Integração, ano 10, pode ser plenamente uniformizado em nome de um
nº 22 de 2000, em
sua página 55, há
produto final de resultados dúbios.
uma referência à
criação, em junho
de 1999, da Antes de se começar a trabalhar com o
Comissão Brasileira
de Braile que adapta deficiente visual, é prudente que se investigue o
o sistema Braile aos
constantes avanços processo de aprendizagem, localizando suas facilidades
tecnológicos. Essa
atitude permite o e dificuldades.
acompanhamento de
todo o processo
evolutivo do sistema
e sua natural A idéia básica é que se atinja um nível de
divulgação em nível
macro.
avaliação com um aprofundamento tal que o portador
da deficiência visual não se acostume numa rotina de
autocomiseração. O seu papel social está definido
dentro do projeto social democrático com acesso a
informações e possibilidade de ser agente ativo de seu
tempo ainda que portador de uma necessidade
especial.

Em toda ação da Educação Inclusiva, é preciso


que exista a consciência de que todos têm direito de
usufruir de seu mundo e com suas habilidades
potencializadas. Não é diferente, portanto, o
tratamento com o deficiente visual. Cabe a quem não
padece dos transtornos causados pelas deficiências o pa-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 39

pel de auxiliar ao máximo a integração de quem tanto


luta por seu lugar de direito na sociedade.

AS ALTAS HABILIDADES

Vamos abordar de forma sucinta algumas


questões relativas à Educação do indivíduo portador de
altas habilidades. Será dada ênfase não só a alguns
aspectos que são tratados constantemente no que toca
a conceituação e programas educacionais desta
natureza, mas a práticas mais eficazes com o firme
propósito de apontar programas recentes e
perspectivas para o futuro.

Este é um tema que há muito vem merecendo


mais atenção em vários países. Não é exagero afirmar
que nos últimos 20 anos as altas habilidades Para pensar

despertaram mais interesse do que em toda a história


Ainda que pensemos
da Educação Especial e da Educação Inclusiva. sob a ótica do
ganho, o portador
de altas habilidades
Devemos este fenômeno ao fato de que os sofre os mesmos
desgastes
governos têm reconhecido vantagens que podem educacionais que
sofrem os outros
render divisas econômicas, sociais e culturais a partir alunos portadores
de necessidades
do aproveitamento dos talentos de seus estudantes e especiais.

realização de suas potencialidades.

É notória a emergência de um novo conceito de


riqueza como resultado do progresso excepcional que
se observa nos dias atuais em diversas áreas,
sobretudo na científica e na tecnológica. No escopo
deste novo conceito, o potencial humano é tido como o
maior recurso natural a ser cultivado e aproveitado em
favor da humanidade.

Observa-se, entretanto, que o reconhecimento


da necessidade de um atendimento diferenciado
àqueles que se destacam por um potencial superior não
é algo recente. Tal fato ocorreu com maior intensidade em
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 40

distintos momentos da História, tendo diferentes


sociedades enaltecido talentos diversos de acordo com
suas própria necessidades e valores.

Na Grécia Antiga, por exemplo, Platão defendeu


a idéia de que aqueles indivíduos com inteligência
superior deveriam ser selecionados nos seus primeiros
anos de infância e suas habilidades cultivadas em
benefício do Estado.

Também na China – Dinastia Han,


aproximadamente 206 a.C. – as crianças e jovens com
talentos especiais eram altamente valorizados. Há
registros nesse país, inclusive, de um sistema de
exames competitivos elaborados por eles, há mais de
2000 anos antes de Cristo, para selecionar crianças que

Para pensar se destacavam por sua inteligência superior. Essas


passavam a receber um atendimento especial no
Lembremos que as sentido de se potencializar o talento. As crianças que
altas habilidades são
um conceito usualmente se destacavam por uma grande capacidade
inventado que vêm
em socorro às de memória e habilidades literárias eram denominadas
demandas do que
uma sociedade “divinas” e encaminhadas à corte. Eram sinais de
deseja que seja. O
que torna o conceito prosperidade nacional. Especialmente a imaginação
maleável em função
do aqui e agora.
criadora que se manifestava, através da poesia e
ensaios, era valorizada. Na literatura chinesa, não é
raro encontrar referências a crianças com altas
habilidades.

Interessante observar que, já naquela época, os


chineses anteciparam alguns princípios que vêm sendo
divulgados atualmente por especialistas na área. Entre
esses princípios, destacamos:

1- Aceitação de um conceito de superdotação,


englobando múltiplos talentos como habilidades
literárias, liderança, imaginação, capacidade de
memória e raciocínio;
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 41

2- Reconhecimento de que algumas crianças


aparentemente precoces tornam-se jovens e adultos
sem nenhum desempenho excepcional, ao passo que
outras só mais tardiamente demonstram as suas
habilidades superiores. Consideram, ainda, um terceiro
grupo de crianças efetivamente prodígios, que dão
amostra de seus dotes e talentos ao longo de toda a Quer saber
mais?
vida;

Superdotados
3- Consciência de que, mesmo no caso dos mais precisam de atenção
para não
capazes, as habilidades somente se desenvolvem apresentarem
problemas de
plenamente caso haja um treinamento especial e relacionamento com
o mundo. Devemos
provisão de condições favoráveis ao seu nos lembrar de que
Einstein teve uma
desenvolvimento e à sua expressão; infância difícil, não
gostava da escola e
entrou na lista dos
repetentes; Van
4- Reconhecimento de que a Educação formal é
Gogh padeceu de
algo indispensável a todos, devendo ser, porém, de desajustes
psicológicos, assim
acordo com as habilidades individuais. Dessa forma, a como o matemático
francês Pascal, que
escola, em vez de oferecer uma educação padronizada, aos sete anos já
fazia cálculos. Os
deveria possibilitar ao aluno receber uma educação que exemplos podem ser
um tanto fortes,
favorecesse, de fato, o seu potencial individual. mas servem de
alerta aos pais de
crianças com
talentos ou
Nos dias atuais, diversos aspectos relacionados aproveitamento
escolar excepcionais
à educação do portador de altas habilidades são
para sua idade e
discutidos e pesquisados por estudiosos de áreas dificuldades de
adaptação social.
diversas. Notamos nos EUA, na Alemanha, no Canadá, Essa combinação de
sinais pode esconder
na Holanda um volume muito grande de pesquisas e a face de um
superdotado.
publicações a esse respeito.

Apesar de tudo isso, estamos diante de uma


área polêmica, permeada por muitas controvérsias e
preconceitos. No Brasil, a exemplo de outros países, é
comum se questionar a necessidade de programas
especiais para essa clientela com o argumento de que
ela é composta por “privilegiados” e é melhor investir
no aluno médio e abaixo da média.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 42

Alguns consideram uma postura elitista todo o


trabalho que visa a beneficiar estes alunos. Muitos
restringem o portador de altas habilidades a um grupo
que se destaca apenas por alguns resultados
significativamente elevados em apenas uma avaliação
formal de superdotação.

Existe certa tendência de se restringir o portador


de altas habilidades a um grupo de indivíduos que
destacam apenas por resultados significativamente
elevados em apenas um teste de inteligência de geral.
Não é raro estabelecer expectativas irreais com relação
aos alunos com altas habilidades, os quais são muitas
vezes hostilizados na escola pelos seus professores,
que deixam, inclusive, de responder às suas perguntas,
com o argumento de que eles têm obrigação de saber
todas as respostas e mesmo de se sair bem em todas
as atividades a que se entregam, recebendo ou não
atenção diferenciada. Entretanto, vemos que a
educação e o ambiente fazem uma diferença
fundamental. Também comum é a presença de atitudes
ambivalentes com relação àqueles que se destacam por
um potencial superior, que ora são admirados,

Importante
rejeitados ou hostilizados.

Nunca é demais Essas idéias são, de fato, um entrave à provisão


ressaltar que o fato
de se possuir de condições mais favoráveis à educação do
talentos não é
suficiente para que superdotado e necessitam ser amplamente discutidas e
estes se
desenvolvam. revistas no sentido de se abrirem novos rumos e novas
possibilidades à realização do potencial e à expressão
de talentos diversos, necessitando a maior parte dos
indivíduos de uma promoção constante do meio para a
realização de seu potencial.

Entre tantas discussões na busca de uma


estratégia coerente para se lidar com as diferenças,
encontramos muitos termos para se referir ao indivíduo
que se destaca por suas realizações e potencialidades.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 43

Criança-prodígio, gênio, idiot-avant,


superdotado e talentoso são alguns deles. Não se trata
de, no momento, fazermos conclusões sobre termos
ultrapassados ou atuais e, sim, de esclarecermos mais so-
bre o assunto com os conceitos que já se consagraram
historicamente. Importante

Crianças-prodígio são aquelas que se A criatividade nas


crianças pode ser
caracterizam por um desempenho excepcional ou uma um sinal de altas
habilidades,
memória extraordinária em seus primeiros anos. São entretanto,
recomendamos um
em número muito reduzido e têm sido sempre motivo pouco de cuidado
neste sentido por
de curiosidade e encantamento. O exemplo mais tudo o que já foi
comentado neste
conhecido é o de Mozart, que aos 4 anos já compunha texto.
sonatas e aos 8 escreveu a sua primeira sinfonia.

O idiot-avant, objeto de interesse especial,


caracteriza-se por uma habilidade superior em uma
área específica ao mesmo tempo em que apresenta um
retardo pronunciado. No filme Rain Main, Dustin
Hoffmann interpreta um caso típico de idiot-avant. Para pensar

O termo gênio tem sido reservado para apenas Constantemente nos


referimos a alguns
aqueles indivíduos que já deram uma contribuição personagens da
história da
original e de grande valor a uma área específica. humanidade como
“gênios” no intuito
de conferir-lhes
atributos de
Os termos superdotado e talentoso têm sido superdotação. Desde
Einstein, passando
usados como sinônimos por vários especialistas e por pensadores,
artistas, até atletas
estudiosos, embora a noção de superdotação focalize como é o caso de
Pelé ou Michel
mais o domínio cognitivo como, por exemplo, um Jordan.
desempenho acadêmico elevado ou um marcante
raciocínio abstrato. Existem os que utilizam o termo
também para o desempenho elevado em música, artes
plásticas, xadrez, esportes e até liderança.

Observa-se que a visão de superdotação como


composta por muitas facetas tem sido ponto de vista
comum entre quem estuda sobre o assunto.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 44

Hoje o termo ALTAS HABILIDADES acorre aos


estudos sobre esse fenômeno e considera-se portador
de altas habilidades todo aquele que apresenta notável
desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer um
desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer
um dos aspectos abaixo isolados ou combinados:

 Capacidade intelectual superior;


 Aptidão acadêmica específica;
 Pensamento criador ou produtivo;
 Capacidade de liderança;
 Talento especial para artes (visuais,
dramáticas, musicais);
 Capacidade psicomotora.

Entretanto, apesar dessa definição englobar


diferentes dimensões, a ênfase tem sido especialmente
no aspecto intelectual/cognitivo, sendo comum a
prática de selecionar alunos para programas especiais,
baseando-se apenas na observação do desempenho
acadêmico. Não deveria ser assim.

As discussões a respeito da propriedade de


termos vêm acompanhadas de uma gama de definições
e de concepções bem variada.

Renzulli, apud Alencar (1992), sugere dois tipos


de altas habilidades ou superdotação:

1. Do contexto educacional (schoolhouse


giftedness) – apresentada por aqueles indivíduos que
se saem bem no âmbito escolar, aprendem rápido e
têm um nível de compreensão mais elevado.

2. Criativo-produtiva – diz respeito às atividades


onde são valorizados o desenvolvimento de produtos
originais. Para este tipo de educação, deve-se enfatizar
o uso e a aplicação da informação e os processos de pro-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 45

cessos de pensamento de uma forma integrada,


indutiva e orientada para problemas reais. Ainda
segundo Renzulli, a concepção de superdotação engloba
aspectos como habilidade bem acima da média,
envolvimento com a tarefa e criatividade.

O primeiro aspecto – habilidade bem acima da Importante


média – aborda tanto habilidade geral como específica.
A primeira consiste na capacidade de processar Em todo caso, nosso
alerta se dá em
informações, integrar experiências e se engajar em relação à grande
dificuldade de se
pensamento abstrato. As habilidades especiais trabalhar com uma
população que não
específicas consistiriam na capacidade de adquirir desperta grandes
movimentos
conhecimento, destreza ou habilidade para realizar humanitários.
atividades de tipo mais específico como balé, escultura,
poesia, música, matemática etc.

O envolvimento com a tarefa – o segundo


aspecto – constitui-se no componente motivacional e
representa a energia que o indivíduo canaliza para
resolver um dado problema ou tarefa. Incluem-se aqui
virtudes como perseverança, dedicação, esforço,
autoconfiança e, sobretudo, crença na própria
capacidade de ir a bom termo em seu trabalho.

Na criatividade, um dos aspectos também


presentes na concepção aqui proposta das altas
habilidades, chamamos a atenção para as limitações
dos testes de criatividade e sugerimos uma análise dos
produtos criativos da pessoa como preferível a uma
análise de seu desempenho em testes desta ordem.

Em 1929, a professora Helena Antipoff já


chamava a atenção para os “bem dotados” e para a
necessidade de se definir uma estratégia racional para
lidar com eles.

Seus trabalhos são uma referência


imprescindível para os que militam nesta área, mas,
ainda hoje, é comum encontrarmos fortes resistências por
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 46

parte de professores, diretores ou autoridades que não


se sensibilizam com os problemas vividos por este tipo
de aluno.
Importante

Todo trabalho em A ampliação dos objetivos propostos para o


prol da integração e
da inclusão tem o ensino de um modo geral e para os encaminhamentos
seu ponto central na
manutenção da da integração na Educação Inclusiva é o grande desafio
dignidade humana.
que devemos enfrentar na luta por uma sociedade mais
Sem igualdade não
há justiça. justa.

Considerações finais

Como palavras finais de nosso presente estudo,


vamos propor algumas reflexões acerca do seu escopo.
Não há avanços sociais sem que, paralelamente, haja
avanço científico.

Toda a história da humanidade é de conquistas,


algumas sangrentas, outras nem tanto. O importante,
entretanto, é que tenhamos em mente que é preciso ir

Importante
em frente sem temores em busca do ideal de harmonia,
de entendimento e da paz para que todos se sintam
A Educação Especial seguros, respeitados e capazes de atuar no mundo na
deve obedecer aos
mesmos princípios medida de suas forças e de seu potencial.
da Educação geral.
O termo
‘normalização’,
embora controverso, No âmbito da Educação, não há espaços para
é a base filosófica
que sustenta que ser
ações destrutivas e pouco edificantes, muito menos
diferente é direito de para atitudes preconceituosas e/ou deletérias. Sabemos
qualquer um.
que a utopia da igualdade ainda se apresenta
inalcançável, mas sabemos também que sem sonhos
toda realidade se transforma em prisão.

Mais do que conhecer cada filigrana dos tipos


educacionais especiais, é preciso que encaremos a
situação com a atitude da transformação. Temos em
nossas escolas todo material para que sejam
produzidas pesquisas, divulgados saberes e construídas
boas redes de relação entre todos.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 47

A produção do conhecimento é a marca do país


grande. Não há como pensarmos em avanços se não há
produção de saber compatível com a grandeza do país e
de seus problemas. Neste sentido, é preciso que a
sociedade reclame da universidade mais presença, mais
ação, mais coragem e mais compromisso para com a
realidade na qual ela se insere.

Produzir conhecimentos é, aliás, uma das suas


finalidades inquestionáveis. Podemos dizer que já
caminhamos bastante. Existem dissertações, artigos,
teses etc. de qualidade muito boa, mas podemos
afirmar, sem medo de errar, que ainda é muito pouco Para refletir
para o tamanho de nossas premências.
Que tipo de atitude
você toma ou pode
A figura da iniciação científica em nossas tomar a fim de ser
mais um agente na
universidades e o desenvolvimento de cursos de pós- busca da inclusão
dos portadores de
graduação é um sinal alvissareiro no que diz respeito necessidades
especiais? Lembre
ao estímulo da produção científica. Ocorre que nem que é a luta pela
igualdade e não pela
sempre há sintonia entre o que se produz e o que se complacência.
encontra, de fato, no cotidiano educacional do país.

A Educação Inclusiva tem um grande desafio


pela frente que é o de vencer o atraso enorme que
sofremos ao longo da história e que repercute, ainda
hoje, em várias frentes, principalmente na Educação.

A história da Educação no Brasil ficou à margem


das revoluções liberais do séc. XVIII. Foi quase um
século onde as iniciativas governamentais no âmbito da
Educação Especial foram isoladas e, praticamente,
restritas aos deficientes físicos e sensoriais e às
pessoas assistidas pela psiquiatria.

Sentindo cada vez mais a necessidade e a


obrigação de uma mobilização, profissionais, familiares
e comunidades ligadas a esses tipos de problema
começaram a se organizar para criar serviços de atendi-
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 48

mento a quem necessitava de cuidados especiais.

Iniciativas que têm início a partir de uma


necessidade grupal costumam dar ótimos frutos. Num
país como o Brasil, onde existem diferenças muito
grandes de bairro para bairro, imagine o descompasso
entre as regiões onde as distâncias geográficas refletem
as de atendimento e onde as ofertas nem sempre são
Quer saber
mais? as ideais.

Além da O aluno com deficiências ou dificuldades de


normalização,
devemos prezar a aprendizagem representa em torno de 20% da
integração, a
individualização, a população escolar. É um desafio para todos, sua melhor
interdependência e a
legitimidade... só adaptação. Dizem que a escola o aceita como é, mas de
para citar alguns
aspectos.
fato não lhe oferece espaço no sistema educacional
vigente, pois o importante é instruir no lugar de educar.

Citamos ao longo do trabalho alguns casos que


merecem ser tratados com mais atenção por meio de
uma atuação interdisciplinar e que, para tanto,
precisam de apoio de pesquisas mais próximas ao real
para que existam linhas de ação mais efetivas para
serem seguidas em direção ao que consideramos ideal.

O ideal muitas vezes mostra-se distante do real


ou do que pode ser realizado, mas é preciso acreditar
que há como interferir nesse processo. É necessário
levantar os entraves encontrados e buscar suas
soluções para que o sistema não se acostume à idéia
do imobilismo metodológico onde palavras se
interpõem aos fatos e onde fatos são distorcidos em
nome de um formalismo inócuo.

Esperamos que mais pesquisas sejam


desenvolvidas, mais escolas sejam observadas, mais
críticas sejam construídas a partir de um senso de
reflexão mais apurado. O Brasil padece há muito na
incômoda posição de passividade diante de seus
problemas.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 49

Somos muitos e nossos problemas devem ser


encarados de frente por nossos alunos, professores,
cientistas, familiares; enfim, toda a comunidade que
sabe e vive a dificuldade de seu tempo. Mais do que
qualquer coisa, é fundamental que peguemos o lápis e o
papel e comecemos a produzir saber em diversas
frentes na Educação, principalmente na busca pela Dica do
professor
qualidade que é reclamada desde os nossos primórdios.

Em suma, tomara
É tarefa dura, complicada, difícil, mas é prova de que este estudo
tenha trazido
uma maioridade científica que precisamos assumir, esclarecimentos que
norteiem suas
pois, do contrário, muito pouco ou nada terá valido o práticas
educacionais
esforço para que nos tornemos um país grande e inclusivas.
merecedor do seu futuro.

EXERCÍCIO 1

Propiciar experiências normais de desenvolvimento no


ciclo de vida significa:

( A ) Inserir todo portador de necessidades especiais


no ensino regular e deixar que os pais façam sua
parte na integração do indivíduo;
( B ) Reservar cotas para que todos ocupem lugares de
destaque na sociedade;
( C ) Oferecer um elenco de escolhas, desejos e
expectativas de decisão;
( D ) Permitir que a criança tenha colegas com a
mesma classe de necessidades especiais;
( E ) Dar à criança aparelhos que facilitem sua
integração.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 50

EXERCÍCIO 2

O diálogo educativo, assimétrico por natureza, firma-se


sobre três pontos:

( A ) Transferência, aprendizagem e desenvolvimento;


( B ) Aluno, escola e família;
( C ) Aprendizagem, desenvolvimento das
potencialidades e agente educacional;
( D ) Educador, educando e sociedade;
( E ) Princípio, desenvolvimento e conclusão.

EXERCÍCIO 3

Descreva algumas deficiências primárias que estão


presentes na síndrome de autismo infantil e analise
seus impactos no processo de ensino-aprendizagem.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Destaque alguns obstáculos que, segundo a UNESCO,


são ações que se interpõem ao avanço no tratamento
das questões relativas à educação.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 51

RESUMO

Vimos até agora:

 As ações educativas da educação inclusiva


devem ajudar o portador de necessidades
especiais a construir suas relações com o
meio de forma menos confusa e mais
agradável;

 O educador que atuar junto aos portadores de


necessidades especiais, sejam estes
deficientes físicos, mentais, sensoriais,
portadores de múltiplas deficiências,
problemas de conduta ou de altas
habilidades, deve estar sensível e atento às
suas necessidades e igualmente consciente
das próprias motivações e dos seus limites
pessoais de atuação profissional. A partir
destas necessidades, deverá estruturar
situações de realidade possível no campo de
sua atuação pedagógica;

 As diferentes necessidades educacionais


especiais são plenamente possíveis de
aprendizado e aquisição de conhecimento, por
isso o investimento das instituições públicas
deve ser intenso e diversificado.
Aula 1 | Tipos e necessidades educacionais especiais 52
2

AULA
Adaptações
Curriculares
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula discutem-se as adaptações curriculares destacando a


importância da ampliação da consciência de cidadania que não
pode restringir-se à questão de direitos e deveres das pessoas em
geral, mas deve abranger a demanda referente aos grupos
excluídos pela sociedade.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz:
Objetivos

 Compreender as Adaptações Curriculares e as modificações que


devem ser promovidas nas distintas instâncias curriculares
para beneficiar as condições que são necessárias para que se
efetive o máximo possível de aprendizagem;
 Analisar procedimentos didáticos e atividades de ensino-
aprendizagem referentes ao como ensinar os componentes
curriculares;
 Reconhecer a necessidade de um currículo flexível
suficientemente para responder às necessidades de todos os
alunos.
Aula 2 | Adaptações curriculares 54

Introdução

É necessário compreendermos que a


inclusão é para todos nós...
Construir um mundo inclusivo significa
disposição para mudanças: internas,
sofridas e necessárias.
Para sermos inclusivos precisamos
resgatar um lado nosso mais humano,
menos máquina, mais solidário, menos
competitivo, mais cooperativo...
Precisamos tomar consciência de que
todos somos diferentes, e que apenas
sendo diferentes somos singulares
e especiais...
(Maria Cecília Ballaben Stegun, 2003)

A educação inclusiva é uma modalidade de


educação escolar que deve ser oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino destinado
aos portadores de necessidades especiais. A garantia
dos processos didáticos diferenciados e disponíveis no
ensino regular advém do desenvolvimento curricular
adequado e da qualificação de docentes especialistas,
os quais darão atendimento aos educandos com
necessidades especiais.

A escola inclusiva modifica os papéis tradicionais


dos professores e da equipe técnica da escola. Os
professores tornam-se mais imediatos dos alunos, na
compreensão das suas maiores dificuldades. O apoio
aos professores da “classe comum” é fundamental para
o bom fluxo do processo de ensino-aprendizagem.
Deverão ser privilegiados os seguintes aspectos na
instalação de uma política educacional de implantação
da chamada escola inclusiva:

1. Desenvolvimento de políticas distritais de apoio


às escolas inclusivas;
2. Garantir que a equipe técnica que se dedica ao
projeto tenha condições adequadas de trabalho;
Aula 2 | Adaptações curriculares 55

3. Monitorar constantemente o projeto dando


suporte técnico aos participantes, ao pessoal da
escola e ao público em geral;
4. Assessorar as escolas para a aquisição das
soluções necessárias à implementação do
projeto;
5. Lembrar aos membros da equipe que é preciso
desenvolver novos papéis para si mesmos e para
os demais profissionais no sentido de ampliar a
intenção da educação inclusiva;
6. Auxiliar a criação de novas formas de estruturar
a metodologia de ensino-aprendizagem mais
direcionada às necessidades dos alunos;
7. Apresentar ocasião de desenvolvimento aos
componentes participantes do projeto através de
grupos de estudos, cursos;
8. Fornecer aos professores de classe comum
elementos apropriados a respeito das
dificuldades da criança, dos seus processos de
aprendizagem, do seu desenvolvimento social e
individual;
9. Fazer com que os professores alcancem a
necessidade de ir além dos limites que as
crianças se colocam, no sentido de levá-las a
alcançar o máximo da sua potencialidade;

10. Em escolas onde os profissionais têm atuado de


forma irresponsável, propiciar formas mais
adequadas de trabalho. Algumas delas podem
levar à penalidade dos procedimentos injustos;

11. Propiciar aos professores novas alternativas no


sentido de praticar formas mais adequadas de
trabalho.

A ampliação da consciência de cidadania não


pode restringir-se à questão de direitos e deveres das
pessoas em geral, mas deve abranger a demanda
referente aos grupos excluídos pela sociedade. A escola,
enquanto agente que educa crianças, jovens, adultos e i-
Aula 2 | Adaptações curriculares 56

dosos, precisa oferecer ocasiões para este tipo mais


abrangente de formação de cidadãos. Mais do que isso,
a escola necessita oferecer oportunidades de
desenvolvimento de comportamento e atitudes
fundamentados na diferença humana e nas diversidades
individuais dos seus alunos.

Quando os educandos, através de diferentes


maneiras, estudam juntos, podem favorecer uns aos
outros com estímulos e exemplos comportamentais. O
ser humano precisa passar por esse tipo de experiência
para se desenvolver globalmente.

Desenvolvimento

Onde não exista afeto de fato não há


relação humana possível e, portanto,
não haverá Inclusão.
(Autor desconhecido)
Para refletir

Determinadas necessidades individuais não


Como criar
contextos
podem ser definidas facilmente, sendo necessário pôr
educacionais em curso uma série de auxílios, de soluções e de
capazes de ensinar
todos os alunos? medidas pedagógicas especiais, ou de caráter
Outras interrogações
derivam desta admirável, diferentes das que requerem normalmente a
questão principal
tais como que maior parte dos alunos. “Neste caso, pode-se falar de
práticas de ensino
ajudam os necessidades educacionais especiais para mencionar
professores a
ensinar todos os aqueles alunos que apresentam dificuldades de
alunos de uma
mesma turma, aprendizagem, ou de defasagem, em relação ao
atingindo a todos,
apesar de suas
currículo que a eles corresponde pela idade, e que
diferenças? De que promovem, para serem atendidas: meios de acesso ao
qualidade e de que
escolas estamos currículo, adaptações no próprio currículo, e/ou uma
falando, quando nos
referimos a essas atenção especial à estrutura social e clima emocional
reformas? É desta
escola que vamos no qual se efetiva o fato educativo”. (Warnock, 1979,
tratar nesta aula.
Procure refletir em Blanco, no prelo, p. 1).
sobre estas
interrogações.

Até recentemente, somente alunos rotulados de


pessoas excepcionais, pessoas deficientes, pessoas
portadoras de deficiência ou pessoas com deficiência eram
Aula 2 | Adaptações curriculares 57

considerados alunos que precisavam de uma ajuda


especial, comumente proporcionada no conjunto de
uma modalidade educacional denominada Educação
Especial, a qual, por inúmeras razões históricas que não
cabe agora retomar, era percebida como um processo que
deveria oferecer um espaço segregado e diferenciado
do sistema educacional como um todo.

A importância da diversidade que constitui o


alunado, entretanto, aliado ao

conceito de necessidades educacionais


especiais, sugere que qualquer aluno
que tenha dificuldades em seu
processo de aprendizagem, seja qual
for a causa, receba as ajudas e
recursos especiais dos quais necessite,
seja de forma temporária ou
permanente, no contexto educacional
mais normalizado possível.
(Blanco, no prelo, p. 2)

Ainda segundo Blanco, as necessidades


educacionais especiais podem ser provenientes de
particularidades do aluno, tais como seu histórico de
educação familiar, seu histórico educacional, privação
cultural, o viver em ambientes marginais, o pertencer a
minorias étnicas e culturais, entre outras.

Esses mesmos alunos, entretanto, podem


apresentar uma experiência de aprendizagem
particular, dependendo do contexto educativo no qual
estejam inseridos, o que nos leva a considerar que,
também, a escola precisa ser avaliada quando
estudamos as dificuldades que ocorrem no processo de
ensino e de aprendizagem de cada aluno.

Não se pode mais aceitar que o professor ensine


a todos como se fossem um só, já que se menciona
claramente a necessidade da individualização do
ensino.
Aula 2 | Adaptações curriculares 58

Temos ainda verificado que, por razões


burocráticas, o plano de ensino do professor brasileiro é
elaborado num período anterior ao do início das aulas e ao
do contato do professor com seus alunos. Esta prática,
de certa forma, determina que se considere um “aluno
médio” imaginário, conceito que é enganoso e
inexistente, já que cada um é peculiar em suas
características de funcionamento e de necessidades.

Obviamente, há os que aprendem através deste


método, entretanto,

(...) aqueles alunos que não


conseguem atingir os objetivos
estabelecidos são segregados de
diversas formas: criando grupos na
sala de aula para os mais lentos, ou
atrasados, classes especiais para
atender aos alunos com dificuldades
de aprendizagem ou de
comportamento, ou encaminhando
alunos a escolas especiais. Neste tipo
de medida, subjaz a idéia de que os
problemas de aprendizagem têm sua
origem em variáveis ou fatores
individuais, motivo pelo qual se tomam
medidas centradas nos alunos, ao
invés de revisar e de modificar aqueles
aspectos da prática educativa que
podem gerar ou acentuar suas
necessidades.
Para pensar
(Blanco, p. 2)

“Onde não exista


afeto de fato não há Respostas pedagógicas austeras e
relação humana
possível e, portanto, homogeneizadas vão, na realidade, construindo a
não haverá
Inclusão”. Vamos exclusão dos alunos “mal atendidos” em suas
pensar e refletir na
nossa ação necessidades educacionais especiais, como se estes
educativa frente à
fossem os culpados pelos problemas de aprendizagem
inclusão?
que enfrentam.

Desta forma, o currículo e o projeto pedagógico


devem ser o mais amplo e equilibrado possível. Há que
se fazer uma extensa e intensa análise do currículo
oficial para se avaliar em que medida este contempla as
necessidades do alunado, para, a partir disso, tomar as
Aula 2 | Adaptações curriculares 59

decisões que se mostram indispensáveis para atender


às necessidades educacionais individuais (Blanco, no
prelo). Como já vimos, cada aluno apresenta
necessidades educacionais particulares, e alguns podem
apresentar necessidades educacionais especiais,
provisória ou permanentemente. Manter um padrão
rígido e homogeneizado de ensino não lhes beneficia o
acesso ao conhecimento, nem a aprendizagem de como
utilizar o conhecimento para garantir suas necessidades
e participar do processo de alteração da realidade. As
adaptações curriculares, então, são as adaptações e
modificações que devem ser promovidas nas distintas
instâncias curriculares, para responder às necessidades
de cada aluno e, assim, beneficiar as condições que lhe
são necessárias para que se efetive o máximo possível
de aprendizagem.

Conforme o documento Adaptações Curriculares


(1999), existem dois níveis de adaptação que podem
ser efetivadas: as adaptações de grande porte
(significativas) e as de pequeno porte (não
significativas). Abordar-se-á cada uma delas,
detalhadamente, nos dois próximos programas.
Leitura
Complementar
Para este programa, estaremos restritos à sua
apresentação, bem como à apresentação das instâncias Materiais
curriculares comuns
curriculares nas quais elas podem ser implementadas, podem precisar ser
adaptados, mas
bem como de quem é a responsabilidade por sua somente até o nível
necessário para
implementação. satisfazer as
necessidades de
aprendizagem de
As adaptações de grande Porte (significativas) qualquer aluno. Leia
mais sobre o
podem se dar nas seguintes modalidades: assunto no Projeto
Escola Viva –
organizativas, objetivos de ensino, conteúdo, avaliação, Garantindo o acesso
e permanência de
método de ensino, temporalidade, sendo de todos os alunos na
responsabilidade exclusiva dos órgãos gestores. escola – Alunos com
necessidades
educativas especiais.
Brasília: Ministério
Já as adaptações de pequeno porte (não da Educação,
significativas) também podem ser efetivadas nas Secretaria de
Educação Especial,
mesmas modalidades, mas são de responsabilidade direta 2000.

do professor responsável pela classe.


Aula 2 | Adaptações curriculares 60

As decisões sobre adaptações curriculares podem


incluir as modalidades de apoio, que favorecem ou
viabilizam a sua eficácia na educação dos alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais.

CURRÍCULO INCLUSIVO
Principais entraves Principais possibilidades
 A sociedade excludente que  Iniciativas que permitam, como a
envolve a escola e as famílias. deste fórum, a interlocução e o
 A precariedade das condições da debate entre as pessoas que
Educação, em geral, no nosso país. trabalham e se preocupam com a
 Falhas na formação inicial e inclusão em sentido amplo e com a
continuada dos docentes e demais Educação Inclusiva, em especial.
profissionais que lidam com os  O desenvolvimento de políticas que
alunos que apresentam contemplem de forma efetiva a
necessidades educativas especiais. inclusão, com a geração dos
 Dificuldades de concepção, correspondentes processos de
planejamento, implementação e gestão educacional.
avaliação dos currículos.  A interação com os alunos, na
 Excessivo número de alunos nas construção das propostas
turmas. pedagógicas.
 A implementação, pelas escolas, de  A aplicação da diversificação
adaptações curriculares menos metodológica nas escolas.
significativas (como as mudanças  A divulgação de experiências bem
apenas na estrutura física), sucedidas na área, incentivando a
deixando de lado as verdadeiras troca de experiências.
mudanças, mais profundas, e que  Amplas discussões sobre
requerem o envolvimento da paradigmas e procedimentos
instituição como um todo. avaliativos, confrontando-os com o
 Excesso de leituras e trabalhos quadro de “dificuldades de
acadêmicos sem organização de um aprendizagem” que encontramos
sistema de apoio, sobretudo no que nas escolas.
concerne ao 3º grau.  Fortalecimento de processo de
cooperação entre os alunos que, ao
auxiliarem seus colegas, estarão
aprendendo.

ADAPTAÇÕES CURRICULARES
Não significativas Significativas

 Organizativas  Nos objetivos


 Relativas aos objetivos e conteúdos  Nos conteúdos
 Nos procedimentos didáticos e nas  Nas metodologias e na organização
atividades didática
 Na temporalidade  Na temporalidade
 Avaliativas  Avaliativas
Aula 2 | Adaptações curriculares 61

Essas adaptações visam promover o


desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais, tendo
como referência a elaboração do projeto pedagógico e a
implementação de práticas inclusivas no sistema
escolar. Essas adaptações pressupõem constantes
readaptações às peculiaridades dos alunos com
necessidades especiais. Nessas circunstâncias, as
adaptações curriculares implicam a planificação
pedagógica e a ações docentes fundamentadas em
critérios que definem como e quando aprender:

 O que o aluno deve aprender;


 Que formas de organização do ensino são
mais eficientes para o processo de
aprendizagem;
 Como e quando avaliar o aluno.

As adaptações relativas aos objetivos e aos


conteúdos dizem respeito:

 À priorização de áreas ou unidades de


conteúdos que garantam funcionalidade e que
sejam essenciais e instrumentais para as
aprendizagens posteriores. Ex.: habilidades
de leitura e escrita, cálculos;
 À priorização de objetivos que enfatizam as
capacidades e habilidades básicas de atenção,
participação e adaptabilidade do aluno. Ex.:
desenvolvimento de habilidades sociais, de
trabalho em equipe, de persistência na
tarefa;
 À seqüenciação pormenorizada de conteúdos
que requeiram processos gradativos até a
maior complexidade das tarefas, atendendo à
seqüência de passos, à ordenação da
aprendizagem;
Aula 2 | Adaptações curriculares 62

 Ao reforço da aprendizagem e à retomada de


determinados conteúdos para garantir o seu
domínio e a sua consolidação;
 À eliminação de conteúdos menos relevantes
(secundários) para dar enfoque mais
intensivo e essencial no currículo.

As adaptações avaliativas dizem respeito:

 À seleção de técnicas e instrumentos


utilizados para avaliar o aluno, modificando-
os de modo a considerar, na consecução, a

Dica de capacidade do aluno em relação ao proposto


Filme
para os demais colegas;
 Não abandonar os objetivos definidos para o
Há um número cada
grupo, mas acrescentar aqueles objetivos
vez maior de filmes
que podem ser complementares curriculares específicos que
alugados e exibidos
na escola, com minimizam as dificuldades concernentes à
histórias de
portadores de deficiência do aluno.
deficiência. Fique
atento! Assista à
televisão! Você pode As adaptações nos procedimentos didáticos e
recomendar para os
seus colegas que nas atividades de ensino-aprendizagem referem-se ao
lhes assistam. E
podem ser objeto de como ensinar os componentes curriculares. Dizem
uma discussão de
grupo. respeito a:

 Situar os alunos nos grupos com os quais


possam trabalhar melhor;
 Propiciar os apoios físicos, visuais, verbais e
gestuais ao aluno impedido, temporária ou
permanentemente, de modo a facilitar as
atividades escolares e o processo avaliativo.
O apoio pode ser oferecido pelo professor
regente, pelo professor de sala de recursos,
pelo professor itinerante ou pelos próprios
colegas.

Algumas características curriculares facilitam o


atendimento às necessidades educacionais especiais
dos alunos, entre elas:
Aula 2 | Adaptações curriculares 63

 Atinjam o mesmo grau de abstração ou de


conhecimento, num tempo determinado;

 Desenvolvidas pelos demais colegas, embora


não o façam com a mesma intensidade,
necessariamente de igual modo ou com a
mesma ação e grau de abstração.

As adaptações curriculares não devem ser


entendidas como exclusivamente individuais ou como
uma decisão que envolve apenas o professor e o aluno,
pois realizam-se em três níveis:

 No âmbito do projeto pedagógico (currículo


escolar);
 No currículo desenvolvido na sala de aula;
 Individualmente.

Para que os alunos com necessidades


educacionais especiais possam participar integralmente
em um ambiente rico de oportunidades educacionais
Para refletir
com resultados favoráveis, alguns aspectos precisam
ser considerados, destacando-se entre eles: Você já refletiu que
a construção de um
sistema educacional
inclusivo já foi
 A preparação e a dedicação da equipe tomada em nosso
país, e encontra-se
educacional e dos professores;
apoiada em nossa
 O apoio adequado e recursos especializados legislação? E que
sua efetivação
quando forem necessários; depende dos
profissionais da
 As adaptações curriculares e de acesso ao educação?

currículo.

Como ensinar ao aluno com deficiência junto


com os demais é o grande nó e desafio da Educação
Inclusiva, pois é neste aspecto que a inclusão deixa de
ser uma filosofia, uma ideologia ou uma política, e se
torna ação concreta em situações reais envolvendo
indivíduos com dificuldades e necessidades específicas.
Pois, pelo menos em nosso país, a inclusão que se almeja
Aula 2 | Adaptações curriculares 64

ocorrerá em um contexto de uma escola deficitária e


em muitos casos “falida” (as estatísticas de repetência,
fracasso e evasão escolar mostram que o problema não
atinge apenas os chamados alunos com necessidades
especiais), muitas vezes se encontrará um professor
que não foi formado para lidar com a diversidade, e
alunos com grandes dificuldades de aprendizagem devido
a deficiências reais sensoriais, intelectuais, psicológicas
e/ou motoras, sem contar as socioeconômicas e
culturais.

Importante
Assim, há que se definir o conjunto de metas
Lembre-se de que que o município e/ou a unidade escolar pretendem
dificilmente as
adaptações que se alcançar, de forma a poder atender às necessidades
fazem necessárias
para a construção de educacionais de todos os seus alunos como, por
um sistema
educacional inclusivo exemplo:
sejam possíveis de
serem realizadas
todas, de imediato.
Tudo se torna
 Número de alunos por sala. A literatura tem
possível se metas recomendado um máximo de 25 alunos para
objetivas e realistas
forem estabelecidas uma sala inclusiva, sendo que destes, no
e ações consistentes
forem planejadas e máximo, 02 apresentem necessidades
realizadas.
educacionais especiais. Esta, entretanto, não
é uma regra fixa, pois configurações
diferentes desta também têm sido
experimentadas e sido bem-sucedidas;
 A criação de condições físicas, ambientais e
materiais para o aluno, em sua unidade
escolar:
 A adaptação do ambiente físico escolar;
 A aquisição de mobiliário específico
necessário;
 A aquisição de equipamentos e recursos
materiais específicos;
 A adaptação de materiais de uso comum em
sala de aula;
 A capacitação continuada dos professores e
demais profissionais da Educação.
Aula 2 | Adaptações curriculares 65

Como exemplo de adaptações deste tipo,


podemos citar:

 Para atender a necessidades educacionais


especiais, comuns em alunos cegos ou em
alunos com baixa visão:
 Organização espacial da escola, de forma a
facilitar a mobilidade e evitar acidentes:
colocação de extintores de incêndio em
posição mais alta, colocação de corrimão nas
escadas;
 Aquisição de instrumentos e de equipamentos
que favoreçam a comunicação escrita do
aluno e sua participação nas diversas
atividades da vida escolar: máquina Braille,
reglete, sorobã, bengala longa, livro falado,
softwares educativos em tipo ampliado, letras
de tamanho ampliado, letras em relevo, com
textura modificada, material didático e de
avaliação em tipo ampliado e em relevo,
pranchas ou presilhas para prender o papel
na carteira, lupas, computador com
sintetizador de vozes e periféricos adaptados,
recursos óticos, bolas de guizo.

Para atender as necessidades educacionais


especiais, comuns em alunos surdos:

 Provisão de salas-ambiente, adequadas para


o treinamento auditivo, o treino da fala,
rítmico;
 Aquisição de instrumentos e de equipamentos
que favoreçam a comunicação e a
participação do aluno nas atividades da vida
escolar: treinadores de fala, tablado,
softwares educativos específicos;
 Provisão de ensino da Língua Brasileira de
Sinais, tanto para o aluno surdo, como para o
Aula 2 | Adaptações curriculares 66

professor do ensino comum, como também


para as crianças, da sala, que o quiserem;
 Provisão de intérprete de sinais, recurso
humano importante nas unidades escolares
inclusivas.

Para atender as necessidades educacionais


especiais, comuns em alunos com deficiência física:

 Adaptação do edifício escolar: rampa simples


com inclinação adequada, rampa deslizante,
elevador, banheiro, pátio de recreio, barras de
apoio, alargamento de portas;
 Aquisição de instrumentos e de equipamentos
que favoreçam a comunicação e a

Para pensar
participação do aluno nas atividades da vida
escolar:
Atender às  Mobiliário: cadeiras, mesas e carteiras
diferenças, atender
às necessidades adaptadas em função das características do
especiais,
ressignificar, mudar aluno;
o olhar da escola,
pensando não na  Material de apoio para locomoção: andador,
adaptação do aluno,
mas na adaptação
colete, abdutor de pernas, faixas restritoras;
do contexto escolar
 Material de apoio pedagógico: pranchas ou
aos alunos. Não
seria esta a nossa presilhas para prender o papel na carteira,
luta?
suporte para lápis, presilha de braço,
tabuleiros de comunicação, sinalizadores
mecânicos, tecnologia microeletrônica,
sistemas aumentativos ou alternativos de
comunicação (baseados em elementos
representativos, em desenhos lineares,
sistemas que combinam símbolos
pictográficos, ideográficos e arbitrários,
sistemas baseados na ortografia tradicional,
de linguagem codificada), computadores que
funcionam por contato, cobertura de teclado.
Aula 2 | Adaptações curriculares 67

Para atender a necessidades educacionais


especiais, comuns em alunos com altas habilidades
(superdotação):

 Provisão de ambientes favoráveis para a


aprendizagem como ateliê, laboratórios,
bibliotecas;
 Aquisição de materiais e equipamentos que
facilitem o trabalho educativo: lâminas,
pôsteres, murais, computadores, softwares
específicos;

Há que se definir qual será o sistema de


capacitação continuada a ser adotado para os
professores. A reflexão interativa sobre sua prática
cotidiana de ensino, à luz de uma fundamentação
teórica, clara e objetiva, tem se mostrado eficaz para
ajudar o professor a administrar os problemas que
enfrenta na relação de ensino e aprendizagem.

O sistema deve ser claramente definido para os


professores. Todos devem conhecer como se constitui a
rede de suporte técnico a que podem recorrer, onde
isso funciona, e a quem recorrer nas diferentes
situações emergenciais que possam requerer apoio
e/ou orientação.

A utilização de recursos já existentes na


comunidade pode facilitar bastante o processo de oferta
de suporte (apoio) ao professor. Assim, pode-se
recorrer a convênios e parcerias, tanto com
organizações governamentais, como não
governamentais, nas diferentes áreas da atenção
pública: Saúde, Cultura e Lazer, Justiça, serviços
especializados.

Há também que se definir o sistema de


cooperação a ser adotado entre os professores do
ensino regular e os professores especialistas, já que
não há uma receita única que possa ser utilizada em todo
Aula 2 | Adaptações curriculares 68

o país. No contexto da descentralização do poder, no


caso, no processo de municipalização do ensino, cada
localidade deve desenvolver estudos para identificar
qual modelo de cooperação lhe serve melhor, dentro
das circunstâncias que a caracterizam, bem como a seu
professorado.

Tem-se identificado a necessidade da existência


de uma equipe de apoio pedagógico (ou equipe de
inclusão), constituída pelo educador especial, por
membros da equipe técnica, pelo professor da classe
regular e por um representante da família do aluno.

Esta equipe teria como função estudar, com


profundidade, os casos de alunos cujas necessidades
educacionais especiais exigem alterações profundas no
seu plano de ensino, diferenciando-se significativamente
do currículo escolar posto para a classe. Desse estudo,
devem sair às decisões quanto às adaptações
curriculares de grande porte a serem implementadas.

Esta equipe pode ser instalada sempre que se


identifique a necessidade de efetivar adaptações
curriculares de grande porte, já que estas têm
características que podem significar mudanças
importantes no direcionamento da vida futura do aluno.
As decisões tomadas devem constituir o plano
individualizado de ensino para aquele aluno, em
particular, e devem ser registradas em prontuário, o

Para pensar qual deverá acompanhar o aluno para qualquer outra


unidade escolar ou município para onde ele for.
Deverão existir
professores
especializados ou É claro que, para que este procedimento seja
todos os professores
deverão adquirir efetivo, deve-se normatizar seu funcionamento, o que
uma formação
básica para evita duplicação de serviços ou omissão de ações.
trabalharem com
alunos com
necessidades
especiais? Discuta
Já no que se refere especificamente ao processo
este assunto com
de ensino e de aprendizagem, há outras adaptações de
seus colegas.
grande porte.
Aula 2 | Adaptações curriculares 69

A primeira delas, adaptação de objetivos, refere-


se à possibilidade de eliminação dos objetivos básicos
ou de introdução dos objetivos específicos,
complementares e/ou alternativos, como forma de
favorecer, aos alunos com deficiência, a convivência
regular, com seus pares coetâneos, beneficiando-se o
máximo possível das possibilidades educacionais
disponíveis.

Uma criança com deficiência mental geralmente


apresenta dificuldades para operar no nível abstrato.
Isto, entretanto, não pode ser justificativa para que o
professor se limite a trabalhar com ela conteúdos básicos
como o ensino da discriminação de cores, por anos e
anos a fio, mantendo-os como objetivos praticamente
permanentes no plano de ensino para o aluno.

Sabemos que há, em cada linguagem científica


(Matemática, Ciências, Geografia, História.), conteúdos
que serão importantes para esse aluno no seu processo
de desenvolvimento do maior nível possível de
autonomia na administração de sua própria vida.

Assim, um aluno com deficiência mental, com 10


anos de idade, deveria estar freqüentando a 4 a série do Para
pesquisar
Ensino Fundamental, juntamente com as demais
crianças dessa faixa etária.
O Projeto Político-
pedagógico de cada
escola, que se faz
inclusiva, deverá
No plano de ensino para esse nível de atender ao princípio
da flexibilidade em
escolaridade, encontra-se, por exemplo, como um dos
seu currículo,
objetivos, que o aluno aprenda a fazer operações com respeitando seu
caminhar próprio e
frações. Para se trabalhar este conteúdo em uma sala favorecendo seu
progresso escolar.
do ensino regular, o aluno já deverá ter construído Trata-se de romper
a cultura (pré)
conhecimento sobre quantidade, representação gráfica determinada da
escola,
de quantidade, operações matemáticas básicas, noções ressignificando suas
práticas.
básicas da teoria de conjuntos (conhecimento do todo e Como o PPP de sua
escola trata o
das partes que o constituem, operações de adição, de assunto?
subtração, de divisão e de multiplicação de partes e de to
Aula 2 | Adaptações curriculares 70

dos). Ora, constata-se que o conteúdo correspondente


ao objetivo em questão encaminhará para a
necessidade de se operar, em algum momento, em
níveis mais altos de abstração.

Haverá, entre alunos com deficiência mental, os


que conseguirão dominar muito dos itens envolvidos
nessas operações. Outros encontrarão maior dificuldade
desde os itens iniciais. Cada um, enfim, apreenderá
maior ou menor nível de conhecimento, dentro do
pretendido, dependendo de suas características pessoais
de sua história de aprendizagem e dos procedimentos de
ensino adotados. Haverá casos, entretanto, em que
aprender a realizar operações com frações poderá exigir
tantos anos de desafio e de dificuldades, que anulará sua
própria função no desenvolvimento educacional.

Haveria, na área da Matemática, conceitos e


operações que lhe seriam mais úteis para o exercício da
cidadania e a aquisição de uma vida com maior
qualidade?

Ele poderia, por exemplo, se beneficiar da


aprendizagem de leitura das placas de ônibus, de forma
que se possa tornar menos dependente para sua
locomoção na cidade; da mesma forma, poderia se
beneficiar com a aprendizagem do reconhecimento e
utilização do dinheiro, do controle de troco ou mesmo
da identificação das situações em que precisa de ajuda
para o uso do dinheiro. Onde procurar ajuda? A quem
procurar, em tais situações na comunidade?

Todas essas aprendizagens poderiam constituir


objetivos de ensino mais significativos para a vida do
aluno, fazendo da escola um equipamento social mais
eficaz na missão de socializar o conhecimento já
produzido pelo homem e de favorecer a esse aluno o
exercício da cidadania.
Aula 2 | Adaptações curriculares 71

A decisão de eliminar o domínio das operações


com fração como objetivo de ensino para esse aluno
não pode, entretanto, ser decisão somente do
professor. Ela tem que ser fundamentada na análise
ampla do benefício que poderá representar para o
aluno, tendo como parâmetro a missão da Educação.
Implica, além disso, procedimentos detalhados e
cuidadosos de tomada de decisão, que exigem a
participação da equipe de apoio.

Não podemos esquecer que a decisão de ajustar


objetivos de ensino para um determinado aluno não
pode jamais ser provocada por já termos nos cansado
de tentar ensinar para alguém que apresenta
dificuldades.

Essa decisão deverá ser sempre determinada


pela análise crítica de como a escola poderá melhor
cumprir com os objetivos educacionais a que se propõe,
aliados ao que for de maior benefício para o aluno em
questão.

A adaptação de conteúdos específicos,


complementares e/ou alternativos, e a eliminação de
conteúdos básicos do currículo são outras formas de
adaptação curricular de grande porte, determinadas
pelas adaptações de objetivos já realizados
previamente.

Assim, se um determinado objetivo for eliminado


do plano de ensino, o conteúdo a ele correspondente
será também eliminado do processo de ensino e de
aprendizagem. Da mesma forma, se novos objetivos
forem introduzidos no plano de ensino para um
determinado aluno, os conteúdos a eles
correspondentes passarão também a fazer parte do
processo de ensino e de aprendizagem.
Aula 2 | Adaptações curriculares 72

Desta forma, o professor de uma classe poderá


ter que trabalhar com um plano de ensino básico, para
a classe, e versões um pouco modificadas desse plano
de ensino, destinadas a atender a necessidades
especiais de um ou outro aluno, conforme
determinação da equipe de apoio (da qual o professor
também faz parte).

O sucesso de alunos com deficiência pode ficar


comprometido pela falta de recursos e de soluções que
os auxiliem na superação de dificuldades funcionais no
ambiente da sala de aula e fora dele. É o que se
observa nas escolas, a partir das situações e
necessidades específicas destes alunos, cujo
aprendizado e a realização de atividades próprias da
rotina escolar, junto com toda a turma, são desafiadores
para eles, seus familiares, colegas e professores. Os
recursos e as alternativas disponíveis são considerados
algo caro e pouco acessível para todos. Por isso, torna-
se necessário disseminar esse conhecimento e
fomentar a produção de tecnologias de acesso.
Também é necessário apresentar alguns exemplos de
soluções simples e de diversas modalidades de recursos
tecnológicos.

A participação de profissionais e pessoas com


deficiência de outros países contribuiu para a
exploração de aspectos relativos ao papel do Estado
quanto à produção, à prescrição e à distribuição de
Para refletir
ajudas técnicas, tema que suscitou questionamentos

Uma proposta de
em diversos contextos. A produção de softwares e
Educação Inclusiva equipamentos informáticos, especialmente no campo
que possa contribuir
para a constituição dos leitores de tela, no Brasil, foi considerada uma
de uma sociedade
mais igualitária, iniciativa pioneira em relação a Portugal e a outros
mais solidária e,
portanto, países da América Latina. Os softwares brasileiros
comprometida com
o seu propósito mais (DOSVOX e Virtual Vision), projetados para usuários
significativo
expressa: cegos são comercializados ou distribuídos
humanizar. Você
concorda? gratuitamente por meio de convênios e parcerias com
instituições públicas e privadas.
Aula 2 | Adaptações curriculares 73

Embora a informática seja mais desenvolvida ou


difundida na área da deficiência visual, vislumbramos
outras possibilidades de aplicação no caso de
deficiências física, sensorial e /ou mental, incapacidade
motora, disfunções na área da linguagem: neste
sentido, identificamos a existência de projetos e
iniciativas que apresentam soluções de baixo custo e de
fácil construção, com a finalidade de responder às
necessidades concretas de cada aluno e possibilitar sua
interação com o computador. É o caso, por exemplo, de
adaptações de hardware ou softwares especiais de
acessibilidade com simuladores de teclado e de mouse,
com varredura que podem ser baixados gratuitamente
via Internet (www.lagares.org).

O custo relativo à produção e à aquisição de


ferramentas, equipamentos, aparelhos e materiais
auxiliares é sempre problemático no que se refere à
realidade brasileira, pois não existe atribuição
obrigatória de ajudas técnicas. O que se observa é a
concessão de órteses e próteses, em pequena escala,
de uma forma anárquica e insuficiente para atender à
demanda de uma população economicamente
desfavorecida.

Entretanto, não basta criar uma plataforma


acessível, sendo necessário que os profissionais
encarregados de alimentar seu conteúdo saibam
remover barreiras de acessibilidade em relação à
diversidade dos usuários. Neste sentido, o uso das
tecnologias de informação deve considerar as
necessidades de todos os possíveis usuários, inclusive
as pessoas com deficiência, os idosos, os usuários de
vinculação lenta ou com equipamentos informáticos
antiquados ou modernos. Além disso, estas plataformas
devem ser aproveitadas de forma apropriada e explorar
ao máximo suas possibilidades para não se limitar à
mera transposição de uma aula tradicional. Como assegu
Aula 2 | Adaptações curriculares 74

rar a formação/qualificação dos usuários destas


tecnologias e dos profissionais que com eles trabalham?
Para isso, torna-se necessário criar mecanismos de
difusão, apoio e valorização de estudos, pesquisas e
produções nesse setor.

Conclusão

Podemos concluir que o desenvolvimento de um


currículo que seja inclusivo para todos os alunos,
recomenda ampliar as definições atuais de
aprendizagem. Currículos inclusivos são fundamentados
em uma visão de aprendizagem como algo que
acontece quando os alunos estão ativamente
envolvidos em compreender suas experiências. Este
enfoque destaca o papel do professor como facilitador
em vez de mentor.

O currículo deve ser flexível suficientemente


para responder às necessidades de todos os alunos.
Não deve, portanto, ser prescrito rigidamente no
âmbito nacional ou no central. Currículos inclusivos são
estabelecidos de forma flexível para admitir não
somente adaptações e desenvolvimentos em relação à
escola, mas também adaptações e alterações para
atender às necessidades individuais dos alunos e as
maneiras de trabalhos próprios de cada professor. Um
assunto chave para formuladores de políticas
educacionais é como admitir às escolas que alterem
seus currículos para atender às necessidades
individuais de cada aluno e como encorajar esse
enfoque.

Currículos mais inclusivos trazem consideráveis


demandas sobre os professores. Eles têm que se
envolver, no âmbito local, na ampliação curricular e
estarem capacitados para novas adaptações curriculares
em suas próprias classes. Além disso, eles têm que dar con
Aula 2 | Adaptações curriculares 75

ta de uma elaborada linha de atividades na sala de


aula, ter habilidade para delinear a participação de
todos os alunos, e saber como dar apoio à
aprendizagem de seus alunos, sem lhes fornecer
respostas predeterminadas. Também têm que
compreender como trabalhar fora das fronteiras
tradicionais das disciplinas escolares, de forma
culturalmente humana e acentuada.

Currículos rígidos e carregados em conteúdos


são geralmente os maiores agentes de segregação e
exclusão. O desenvolvimento de um currículo inclusivo
é, sem dúvida, o fator mais respeitável para se alcançar
uma educação inclusiva.

As adaptações curriculares constituem as


possibilidades educacionais de atuar frente às
dificuldades de aprendizagem dos alunos e têm como
objetivo subsidiar a ação dos professores. Constitui um
conjunto de modificações que se realizam nos
objetivos, conteúdos, critérios, procedimentos de
avaliações, atividades, metodologias para atender às
diferenças individuais dos alunos.

O convívio na diversidade humana pode


enriquecer nossa vivência, desenvolvendo, em variados
graus, os vários tipos de inteligência que cada um de
nós possui. O fato de cada pessoa interagir com tantas
outras - todas diferentes entre si em termos de
características pessoais, necessidades, potencialidades,
habilidades. - é suporte para o desenvolvimento de
todos em direção a uma vida mais proveitosa, rica e
feliz.
Aula 2 | Adaptações curriculares 76

EXERCÍCIO 1

Sobre a tarefa ética da educação inclusiva, é correto


afirmar que:

(A) A escola terá que desempenhar um papel


homogeneizador das diferenças e das
singularidades;
(B) A escola necessita refletir apenas sobre as
potencialidades intelectuais e cognitivas dos
alunos e não sobre seu desenvolvimento global;
( C ) A escola necessita oferecer oportunidades de
desenvolvimento de comportamento e atitudes
fundamentados na diferença humana e nas
diversidades individuais dos seus alunos;
( D ) Quando os educandos, através de diferentes
maneiras, estudam juntos, podem favorecer uns
aos outros com estímulos e exemplos
comportamentais;
( E ) O fato de cada pessoa interagir com tantas outras
– todas diferentes entre si em termos de
características pessoais, necessidades,
potencialidades, habilidades. – é suporte para o
desenvolvimento de todos em direção a uma vida
mais proveitosa, rica e feliz.
Aula 2 | Adaptações curriculares 77

EXERCÍCIO 2

Sobre o principal desafio da “educação inclusiva”, é


correto afirmar que:

( A ) A ação concreta em situações reais envolvendo


indivíduos com dificuldades e necessidades
específicas é o principal desafio da “educação
inclusiva”;
( B ) Se a filosofia e a política referentes à “educação
inclusiva” estiverem corretas, a ação concreta
será o desafio menor;
( C ) A formação do professor e a estrutura social
vigente terão sempre uma importância menor
diante das necessidades especiais dos alunos;
( D ) Não abandonar os objetivos definidos para o
grupo, mas acrescentar aqueles objetivos
complementares curriculares específicos que
minimizam as dificuldades concernentes à
deficiência do aluno;
(E) É importante eliminar conteúdos menos
relevantes, secundários, para dar enfoque mais
intensivo e essencial no currículo.
Aula 2 | Adaptações curriculares 78

EXERCÍCIO 3

Considerar a diversidade que se constata entre os


educandos nas instituições escolares requer medidas de
flexibilização e dinamização do currículo para acolher,
efetivamente, às necessidades educacionais especiais
dos que apresentam deficiência(s), altas habilidades
(superdotação), condutas típicas de síndromes ou
condições outras que venham a caracterizar a demanda
de determinados alunos com relação aos demais
colegas. Comentar.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

O direito da pessoa à educação é protegido pela política


nacional de educação independentemente de gênero,
etnia, idade ou classe social. O acesso à escola excede
o ato da matrícula e sugere apropriação do saber e das
oportunidades educacionais proporcionadas à totalidade
dos alunos com vistas a atingir as finalidades da
educação, a despeito da diversidade na população
escolar. Esta é a Escola para todos. Você acha esta
escola possível? Justifique.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 2 | Adaptações curriculares 79

RESUMO

Vimos até agora:

 A escola, enquanto agente que educa


crianças, jovens, adultos e idosos, precisa
oferecer ocasiões para um tipo mais
abrangente de formação de cidadãos;

 O currículo e o projeto pedagógico devem ser


o mais amplo e equilibrado possível.
Analisando extensa e intensamente o
currículo oficial, para se avaliar em que
medida este contempla as necessidades do
alunado, para, a partir disso, tomar as
decisões que se mostram indispensáveis para
atender às necessidades educacionais
individuais;

 Não se pode esquecer que a decisão de


ajustar objetivos de ensino para um
determinado aluno não pode jamais ser
provocada pelo cansaço de muitas tentativas
de ensinar para alguém que apresenta
dificuldades.
3

AULA
O Projeto Pedagógico
na Diversidade
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula se analisa a necessidade de um projeto político


pedagógico, na educação inclusiva, com fundamentos de
democratização de acesso ao ensino a todos educandos, tanto no
processo de formação de sujeitos quanto no de construção de um
projeto de sociedade. Destaca-se também, a necessidade de
preparação da escola para incluir o aluno com necessidades
especiais que exige, por exemplo, a atualização dos professores,
enfocando a importância da escola não só para os alunos, mas
também os pais, funcionários, comunidade vizinha.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Ressaltar a importância de um processo ensino-aprendizagem


Objetivos

voltado para a construção do coletivo e da diversidade, pois


estes são fontes fundamentais para o desenvolvimento da
pessoa portadora de deficiência;
 Reconhecer que o objetivo dos programas delimitados em um
projeto político pedagógico é guiar os alunos pelos campos do
conhecimento, a partir de um planejamento racional, que se
adapte ao ritmo e à velocidade de assimilação, bem como
obedeça aos níveis, ciclos e ao tipo de estudantes;
 Analisar o papel do professor de dirigir e orientar a atividade
mental do aluno, de modo que cada um deles seja um sujeito
consciente, ativo e autônomo.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 82

Introdução

Pensar numa política de inclusão no espaço


escolar implica compreender a exclusão que a escola
produz e como esta se insere num projeto de
sociedade. Isto porque os excluídos da e na escola são
sempre os mesmos excluídos historicamente no Brasil.

Afinal, quem são as crianças, os jovens e os


adultos excluídos da e na escola? Quem são os
excluídos de sempre?

Os excluídos não foram sempre os negros, os


indígenas, as mulheres, os homossexuais, os
trabalhadores pobres, os analfabetos? Os diferentes
que fogem à norma, que tanto incomodam, que
denunciam com sua presença o totalitário processo de
homogeneização, que vai precipitando o processo de
discriminação e exclusão do mundo do trabalho e que
acontece em todos os espaços da sociedade inclusive
no espaço escolar.

A realidade social e a educacional nos colocam


um grande desafio, que passa por identificar as
diferentes formas de exclusão, explícitas, ou implícitas
praticadas na sociedade e principalmente na escola,
que é o nosso objeto de reflexão.

Algumas formas de exclusão acontecem


explicitamente no contexto escolar como, por exemplo,
através de atitudes, comentários desrespeitosos,
preconceituosos e de valor negativo, emitidos aos
estudantes em sala de aula, pelo educador, por colegas
ou qualquer outro membro da comunidade escolar, no
que se refere à questão de gênero, raça ou classe social
ou, ainda, situações em que explicitamente agrupam-se
alunos por habilidades: “os mais ardilosos” e “os mais
lentos”.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 83

Existe, também, a exclusão velada ou implícita


na organização do trabalho pedagógico escolar, onde
mesmo que, às vezes, o discurso oficial da escola e até
a proposta do projeto político-pedagógico sejam de
promoção de cidadania e democracia na escola,
encontramos práticas administrativo-pedagógicas que
estabelecem hierarquias em que os educandos são
valorizados diferentemente, por exemplo, através de
práticas avaliativas que estabelecem médias
comparativas e classificatórias que inevitavelmente os
colocam em escalas diferenciadas de valores, através
da valorização de determinados conhecimentos,
culturas, histórias em detrimento de outras. É,
portanto, o cotidiano da escola um dos espaços em que
se produzem e reproduzem as práticas de exclusão e,
contraditoriamente, a luta pela inclusão.

É, portanto, nas formas de exclusão, veladas ou


explícitas, que a escola pratica que podemos encontrar
os germes para a construção de uma proposta de
inclusão. É desmascarando estas formas,
problematizando-as, buscando entendê-las nas relações
mais amplas da sociedade e assumindo na
intencionalidade do projeto político-pedagógico a
construção de uma prática educativa inclusiva.

A educação inclusiva é, acima de tudo, um


projeto político-pedagógico de democratização de
acesso a todos, independente de credo, cor, origem,
sexualidade, comprometido com a transformação
político-social, com a qualidade de ensino e de vida dos
educandos, compreendidos como seres históricos
concretos.

O projeto político-pedagógico da escola numa


visão libertadora deve assumir o compromisso político da
inclusão, e buscar problematizar e transformar os
mecanismos de seletividade interna e externa promovida
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 84

pela própria escola e pelas políticas governamentais, o


que implica um processo de ação-reflexão sobre a
prática pedagógica cotidiana da escola, na
interatividade do seu entorno, da comunidade na qual
está inserida, onde todos tenham direito à voz e à
efetiva participação social.

Para o processo de inclusão e democratização da


gestão do projeto político pedagógico, qual a
importância da presença de diferentes vozes e práticas
culturais de pais, alunos, professores, pedagogos,
diretores, zeladores, merendeiras - no cotidiano
escolar? Como viabilizar esta participação?

Infelizmente, não tem sido esta a concepção


hegemônica de inclusão que temos visto ocorrer no
Brasil. As políticas educacionais para a inclusão visam,
via de regra, o processo de inserção dos alunos com
necessidades educativas especiais nas salas de aula
ditas regulares, sem garantir, muitas vezes, as
condições físicas e pedagógicas adequadas para tanto.

Refletir sobre a democratização das práticas e


dos saberes escolares na organização do trabalho
pedagógico, através de um projeto político-pedagógico
libertador, implica, em primeiro lugar, penetrar o
cotidiano da escola, para analisar o significado de suas
práticas pedagógicas no processo de formação de
sujeitos e de construção de um projeto de sociedade.
Implica analisar o trabalho pedagógico escolar, com
olhar atento no currículo, em especial na definição dos
saberes trabalhados na prática escolar.

Segundo GARCIA (2003), é preciso


introduzirmos a escola, e aprendermos a olhar a sua
prática pedagógica cotidiana, onde ela recebe ou rejeita
sujeitos, crianças, jovens e adultos que pertencem a
determinada classe, a determinado grupo sociocultural,
que têm determinada origem étnica e racial.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 85

Neste sentido, é fundamental ter a clareza de


que a escola, como uma instituição histórica e cultural,
pela forma como se organiza, como distribui seus
tempos e espaços, pelos saberes e práticas culturais
que legitima ou silencia, marca os sujeitos que nela Para pensar

interagem e reforça ou contesta um projeto histórico


Analise como a
social. escola (re)produz os
sujeitos nas suas
diversidades e
desigualdades, a
Desse modo, na lógica dos saberes ensinados e partir de exemplos
concretos da prática
aprendidos e nas relações sociais do trabalho
pedagógica.
pedagógico escolar, a escola afirma a sua identidade e
produz os sujeitos. Neste sentido, ela ganha
importância pela experiência social, cultural, intelectual
e política que oportuniza aos educandos e pelos
conhecimentos sistematizados que socializa.

Desenvolvimento

A possibilidade de ser cidadão depende


de como se dá a nossa inserção no
espaço habitado, no território da
cidade; depende da forma de
apropriação deste território, das
relações de poder estabelecidas entre
as pessoas e esse lugar.
(Milton Santos)

A essência do homem pode ser definida pelo seu


ambiente social. Neste contexto insere-se a prática da
atividade de trabalho como uma importante via
representativa na formação da essência humana e a
conseqüente formação integral do sujeito. A educação
também é considerada uma das principais formas de
participação social dos homens.

Para se analisar os vários conceitos que


envolvem o processo ensino-aprendizagem é
necessário ter-se em mente as diferentes épocas nas
quais estes se desenvolveram, como também
compreender sua mudança no decorrer da história de
produção do saber do homem. O conceito de aprendiza-
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 86

gem emergiu das investigações empiristas em


Psicologia, ou seja, de investigações levadas a termo
com base no pressuposto de que todo conhecimento
provém da experiência. Ora, se o conhecimento provém
de outrem, externo ao indivíduo, isto significa afirmar o
primado absoluto do objeto e considerar o sujeito como
um ser vazio, sem saberes e com a função única de
depósito de conhecimento.

Este conceito inicial é baseado no positivismo


que influenciou diferentes conhecimentos, entre eles o
behaviorismo. Neste, a aprendizagem se dá pela
mudança de comportamento resultante do treino ou da
experiência. E se sustenta sobre os trabalhos dos
condicionamentos respondentes e, posteriormente,
operantes.

Para refutar estes conceitos que determinam o


ser humano como passivo e não produtor, surge a
Gestalt, racionalista. Neste momento histórico, não se
fala em aprendizagem, mas em percepção, posto que
tal corrente não acredita no conhecimento adquirido,
mas defende o conhecimento como resultado de
estruturas pré-formadas do biológico do indivíduo.

Por fim, há de se chegar à psicologia genética


tendo como representantes os nomes de Piaget,
Vygotsk e Wallon que levam a uma concepção de
aprendizagem a partir do confronto e da colaboração do
conhecimento destes três: empirismo, behaviorismo e
gestaltismo

Para Vygotsky, a educação dos alunos com


necessidades especiais não se diferencia da dos outros
alunos. Os alunos com deficiência alcançam o mesmo
grau de desenvolvimento que os outros, porém por
outras vias. É necessário que o professor ou o
responsável pela educação conheça estes caminhos e atue
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 87

em sua prática pedagógica de maneira a estimular o


processo de conhecimentos desses alunos.

O processo de ensino-aprendizagem tem sido


historicamente caracterizado de formas diferentes que
vão desde a ênfase no papel do professor como
transmissor de conhecimento, até as concepções atuais
que concebem o processo de ensino-aprendizagem com
um todo integrado que destaca o papel do educando.

Considerando o processo educacional enquanto


condição fundamental para a construção das relações
sociais, entende-se que o cotidiano escolar, além de ser
um espaço caracterizado pelo processo ensino-
aprendizagem, é um ponto de partida importantíssimo
para a preparação e o acesso ao mundo do trabalho.

Um dos principais aspectos da atenção à


diversidade humana se encontra nos ambientes
escolares e, referindo-se a esse contexto, é freqüente o
uso da expressão “alunos com necessidades especiais”
quando se faz referência aos alunos com deficiência
que afeta ou o seu processo de aprendizagem ou a sua
forma de acesso às informações (TORRES, 2002, p.11).

Em razão de um processo histórico voltado para


o desenvolvimento da exclusão social, desde a
educação e o trabalho, o portador de necessidades
especiais esbarra em obstáculos atitudinais e físicos, o
que dificulta seu processo de ensino-aprendizagem e
sua conseqüente qualificação e preparação para o
mundo do trabalho.

Na educação das pessoas com necessidades


especiais, Vygotsky (1995) ressalta a importância de
um processo ensino-aprendizagem voltado para a
construção do coletivo e da diversidade. Salienta que o
pensamento e o convívio coletivo com a diversidade são
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 88

fontes fundamentais para o desenvolvimento da pessoa


portadora de deficiência. A forma de colaboração social
com outras pessoas se transforma na atividade
psicológica da própria personalidade. Os que só
convivem com seus pares, com seus iguais são
privados da fonte rica de desenvolvimento.

Na educação dos sujeitos portadores de


necessidades especiais, o rumo tomado pelo processo
educacional pode levar a dois caminhos: um primeiro,
que reforça a deficiência como condição limitadora, ou
seja, atribui os limites da deficiência como causa para o
fracasso no processo ensino-aprendizagem. E um
segundo caminho que permite as trocas, as interações
sociais e culturais, favorecendo novas alternativas no
desenvolvimento das capacidades e do processo
educacional desses sujeitos. Uma educação
verdadeiramente social e coletiva.

O cotidiano do processo educacional deve levar


em consideração que a diferença precisa ser
considerada, e não apenas analisada enquanto
dualismo indiferença/diferença. É fundamental
Para refletir considerar as conseqüências sociais resultantes da
limitação imposta pela deficiência.
Ouvir música, ler
livros, ir a museus,
assistir a filmes e a
peças teatrais, ver
É muito importante, também, que as escolas
festivais de dança e tenham a disponibilidade de materiais pedagógicos para
outras atividades
culturais são facilitar o aprendizado desse alunado. A partir daí,
elementos essenciais
para a plena conforme os dados desta questão, é necessário
formação dos
educadores. Não promover debates e discussões no ambiente escolar,
devemos nos ater
somente aos envolvendo não só professores e alunos, mas também
conhecimentos
específicos da os funcionários, pais, comunidades vizinhas sobre a
profissão ou das
disciplinas, temos importância da educação inclusiva e das possibilidades
que ir muito além
deles.
de conviver e ensinar-aprender junto com alunos
portadores de deficiência.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 89

A preparação da escola, para incluir o aluno com


necessidades especiais exige uma mudança no
processo ensino-aprendizagem. Esta preparação deve
ocorrer com a atualização dos professores que, em sua
prática pedagógica cotidiana, deverão promover o
ensino inclusivo, enfocando sua importância não só
para os alunos, mas também entre os pais, funcionários
da escola, comunidades vizinhas e na avaliação do
projeto político pedagógico.

De acordo com Morastoni e Malenoski, o objetivo


dos programas delimitados em um projeto político e
pedagógico é guiar os alunos pelos campos do
conhecimento, a partir de um planejamento racional,
que se adapte ao ritmo e à velocidade de assimilação, bem
como obedeça aos níveis, ciclos e ao tipo de
estudantes, evitando, assim, um círculo de
sobrecargas.

O projeto político pedagógico deve estar em


constante processo de análise e de avaliação e, em
conseqüência, tem os princípios norteadores de sua
ação reforçados ou alterados, levando-se em
consideração as necessidades históricas. Para
navegar

Olhando de modo mais específico, no que “O compromisso de


todos, no sentido de
concerne ao projeto político-pedagógico, o processo construir uma escola
de qualidade
inovador orienta-se pela padronização, pela
referenciada pelo
uniformidade e pelo controle burocrático. O projeto social, constitui, sem
dúvida, uma
político-pedagógico visa à eficácia que deve decorrer da condição
indispensável à
aplicação técnica do conhecimento. Ele tem o cunho formação do
estudante e ao
empírico-racional ou político-administrativo. Neste exercício da
cidadania”.
sentido, o projeto político-pedagógico é visto como um Quer saber mais?
Acesse o site da
documento programático que reúne as principais idéias, CONSED:
fundamentos, orientações curriculares e organizacionais www.consed.org.br
de uma instituição educativa ou de um curso.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 90

Em particular, o projeto expressa os seguintes


princípios, que intencionalmente devem ser trabalhados
por toda a equipe da escola:

a) Integração social - deve promover a formação de


indivíduos que contribuam com os demais de forma
reciprocamente enriquecedora, privilegiando a
construção do conhecimento pela relação com os
outros;

b) Atenção à realidade histórica - deve promover a


formação de indivíduos atentos ao sentido histórico da
realidade que os cerca, valorizando o passado e as
exigências do futuro;

c) Formação integral - deve trabalhar os vários


aspectos constitutivos do educando, (o cognitivo, o
conceitual, o físico, o emocional, o afetivo e
o sociocultural);

Para pensar
d) Autonomia responsável - deve trabalhar com todas
as situações do dia-a-dia para que, participando
Para a construção do
projeto pedagógico efetivamente da sociedade em que vivem, os alunos
não existem
modelos ou regras, possam ser capazes de analisá-la, de avaliá-la
ele deve ser feito
por e para cada criticamente e de agir em conseqüência, para mantê-la,
escola. Enfim, é
preciso realizar uma enriquecê-la e/ou modificá-la, de acordo com as
revisão efetiva da
escola para que, se necessidades e os recursos existentes;
transformando, ela
possa, de fato,
assumir sua função e) Formação do pensamento crítico - deve promover a
neste mundo
também formação do pensamento crítico dos alunos, tendo por
transformado.
Nossa escola tem
base um universo de conhecimentos, tanto os
agido desta forma
cotidianos quanto os representativos dos saberes
ao avaliar seu
projeto político- acumulados pela sociedade, levando em conta critérios
pedagógico?
Questione com seus éticos, estéticos e políticos;
colegas.

f) Preparação para a formação contínua - deve


preparar os alunos para prosseguirem seus estudos
(exames de seleção, cursos de graduação, cursos
técnicos, cursos seqüenciais, pós-graduação, cursos de
atualização), de maneira que se sintam compromissados
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 91

com sua formação, buscando enriquecer e aprofundar


continuamente seus conhecimentos;

g) Desafio à diversidade - deve garantir uma educação


de qualidade para todos os alunos, não somente
aceitando, mas desejando a diversidade. Tem por meta
desenvolver, através de permanentes desafios, todas
as capacidades de cada aluno.

Para cumprir essa missão, o projeto político


pedagógico da escola deve sempre ter os seguintes
objetivos:

a) Criar um ambiente onde todos, alunos e educadores,


se sintam responsáveis pelo trabalho desenvolvido,
utilizem todos os meios ao seu alcance, para atingir sua
melhor formação possível, valorizando as diferenças,
partindo do pressuposto de que todos podem aprender
se lhes forem dadas oportunidades adequadas;

b) Trabalhar para que toda a sua equipe compartilhe a


mesma visão institucional, motivando-a e envolvendo-
a, visando eliminar a coerência e a consistência de suas
ações;

c) Considerar as mudanças na sociedade, as teorias de


ensino-aprendizagem, as pesquisas educacionais, as
experiências nacionais e internacionais;

d) Estar aberto a compartilhar experiências, oferecendo


contribuição para a educação brasileira.

Os princípios deste projeto pedagógico devem


considerar os preceitos da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, explicitados no Título II.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 92

Art.2º A educação, dever da família e


do Estado, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu
preparo para o exercício da cidadania
e sua qualificação para o trabalho.
Quer
saber mais?
Na educação dos sujeitos portadores de
necessidades especiais, o rumo tomado pelo processo
O homem chegou à
lua, criou meios de educacional pode levar a dois caminhos: primeiro, que
transporte
rapidíssimos e reforça a deficiência como condição limitadora, ou seja,
eficientes, logrou
transformações atribui os limites da deficiência como causa para o
importantes nos
setores produtivos e fracasso no processo ensino-aprendizagem. Segundo
elevou
consideravelmente caminho, que permite as trocas, as interações sociais e
sua capacidade de
criar objetos. Essa
culturais, favorecendo novas alternativas no
mesma humanidade desenvolvimento das capacidades e do processo
condenou milhares
de pessoas à fome, educacional desses sujeitos. Uma educação
ao abandono e aos
absurdos da miséria. verdadeiramente social e coletiva.
Guerras têm sido
travadas em
diferentes partes do
mundo, doenças Não podemos deixar de pensar que a educação
epidêmicas afligem
os países está inserida em um amplo contexto social, político,
desprovidos e a
distribuição de econômico e cultural. Que ao abordarmos tal situação,
riquezas é
totalmente desigual
temos que perceber inferências provenientes não
e injusta entre as apenas das decisões governamentais locais ou
nações ricas e as
pobres. E como tudo nacionais, mas também as influências sofridas das
isso se relaciona à
escola? transformações que acontecem em outras regiões do
Vivemos num país
em planeta e que aos poucos promovem mudanças em
desenvolvimento,
pelo menos é o que nosso cotidiano, em nossos hábitos e nas relações que
nos dizem há algum
tempo (desde que estabelecemos com o mundo.
entrei nos bancos
escolares escuto
essa afirmação).
Isso significa que há
Seguindo por esta visão tomada pela consciência
problemas sociais e social, destaca-se no grupo estudado a dificuldade
desigualdade
econômica. Vivemos encontrada em estabelecer um processo educacional
tensões internas que
algumas vezes rico e positivo entre os caminhos da socialização.
extrapolam os
limites da
racionalidade e se
transformam em Os saberes trabalhados no currículo escolar
confrontos
sangrentos. Já deu estão vinculados historicamente e são referências de
para perceber que
tudo isso influencia uma cultura. O currículo é compreendido por SAVIANI
a escola?
(1992) como uma seleção do conhecimento no seio da
cultura. Cultura esta que não é somente um processo na
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 93

tural de produção dos homens e das mulheres, mas um


processo, onde diferentes grupos tentam estabelecer
sua hegemonia sobre os outros. Neste sentido, numa
sociedade de classes, precisamos perceber quais
grupos sociais foram incluídos historicamente no
trabalho escolar e quais foram excluídos. Além disso,
precisamos perceber como são trabalhados os saberes
e as práticas culturais dos grupos sociais
marginalizados historicamente. Neste contexto, é
necessário compreender como as relações de poder
definem o conhecimento que deve ser ensinado e
aprendido no trabalho escolar.

Os conteúdos selecionados dificilmente têm o


mesmo significado para cada um dos indivíduos. A falta
de atenção a essa ausência de “representatividade”
cultural do currículo escolar reflete, imediatamente, na
desigualdade de oportunidades e na incapacidade da Para refletir
cultura da escola para dotar os alunos de instrumentos
que lhes permitam compreender melhor o mundo e a Santomé (1995)
afirma que uma
sociedade que os rodeia. A cultura dominante nas salas política educacional
que queira recuperar
de aula é a que corresponde à visão de determinados as culturas negadas
e silenciadas no
grupos sociais: nos conteúdos escolares e nos textos currículo escolar não
pode cair em
aparecem poucas vezes a cultura popular, as propostas de
trabalho similares a
subculturas dos jovens, as contribuições das mulheres currículos turísticos,
à sociedade, as formas de vidas rurais, o problema da onde a diversidade
cultural e os
fome, do desemprego, dos maus-tratos, o racismo e as problemas sociais
são abordados
conseqüências dos consumismos e muitos outros esporadicamente e,
a partir de uma
temas-problema que parecem “moléstias”. Consciente e perspectiva de
distanciamento,
inconscientemente, produz um primeiro velamento que como algo que não
tem nada a ver
afeta os conflitos sociais que nos rodeiam conosco.
cotidianamente.

Nesta direção, o projeto político-pedagógico tem


um papel fundamental no sentido de garantir uma
intencionalidade política no trabalho pedagógico.
Através dele, pode se construir um espaço de reflexão
para compreender a ideologia presente nos diferentes dis-
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 94

cursos e práticas pedagógicas, bem como para


Dica de compreender o papel do educador na produção e na
filme
luta pela voz.

Reflita com seus


colegas a que tipo de
O discurso da vida cotidiana também aponta
filmes você costuma
assistir e quais tipos para a necessidade de os educadores radicais
de filmes, artigos de
jornais, de revistas, perceberem as escolas como esferas culturais e
você indica para os
seus alunos. Que políticas ativamente engajadas na produção da voz e
imagens sobre as
identidades estes na luta pela voz. Em muitos casos, as escolas não
materiais
apresentam? permitem que os estudantes de grupos subordinados
Para inspirar esta
conversa, assista ao atribuam autenticidade a seus problemas e
filme Caminho para
Kandahar, do experiências vividas por meio de suas próprias vozes
iraniano Moshen
individual e coletiva.
Makhmalbaf. O
Caminho para
Kandahar, a história
que serve de guia, é Na organização do trabalho escolar, nas suas
a de uma jornalista
afegã, Nafas relações pedagógicas, no seu conteúdo, a escola, na
(Niloufart Pazira), que
mora no Canadá e maioria das vezes, tem valorizado a história dos heróis,
volta para sua terra
em busca da irmã, o conhecimento e a cultura dos grupos hegemônicos,
que vive em
Kandahar, a cidade afirmando a sua superioridade. Além disso, tem
hoje bombardeada
pelos americanos. A naturalizado os papéis atribuídos socialmente a
irmã de Nafas
prometeu suicidar-se
mulheres e homens, negros e brancos, pobres e ricos,
no próximo eclipse o que contribui para uma dominação cultural. Neste
solar, pois não
suporta mais a vida contexto, tem silenciado, deformado e reproduzido
no Afeganistão. Nafas
tem três dias para estereótipos machistas, preconceituosos, arrogantes e
cruzar o país,
encontrar a irmã e antidemocráticos. Essa postura diante da realidade
fazê-la mudar de
idéia. Caminho para histórica tem contribuído para a não compreensão da
Kandahar é a história
dessa viagem. E é razão de ser dos fatos sociais, para a passividade frente
também a história da
condição feminina e à realidade, enfraquecendo as possibilidades de
da população em
resistência, indignação, luta e construção de uma
geral naquele país.
Nafas logo se recorda contra-hegemonia cultural, pois como pode ser mudada
de que tem de vestir
a burka, a túnica que uma história, vista como natural, por gente de cultura
cobre a mulher da
cabeça aos pés, se inferior?
quiser ser respeitada.
Aprende também o
que é viver em um Ainda no processo da história da produção do
país devastado pela
guerra, no qual saber, permanece na atualidade o desafio de tornar as
ninguém é confiável
porque cada um só práticas educativas mais condizentes com a realidade,
tem uma única
preocupação: mais humanas e, com teorias capazes de abranger o
sobreviver a qualquer
preço. indivíduo como um todo, promovendo o conhecimento
e a educação.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 95

No procedimento de construção, execução e


avaliação do projeto político-pedagógico, é preciso
interrogar as relações sociais do trabalho escolar e os
conhecimentos presentes na prática educativa. Desse
modo, é importante analisarmos quais saberes são
considerados válidos e estão presentes historicamente
no trabalho pedagógico da escola para serem
sistematizados, reelaborados e adaptados pelos
estudantes e quais estão ausentes.

Questionar a representação contida no currículo


constitui-se numa estratégia de torná-lo um território
contestado, tendo em vista que os significados
Para pensar
expressos na representação não são fixos, estáveis,
estabelecidos, mas mutáveis, indetermináveis, em
Você ainda dá aulas
construção, de modo que podem ser redefinidos, como a professora
de sua professora?
questionados, contestados, transformando o currículo Seus principais
recursos continuam
numa luta de representação. Assim, as representações de sendo sua voz, o giz
e o quadro negro?
gênero, de raça, de classe, de nação contidas no Já notou como seus
alunos andam
currículo podem ser contrariadas, subvertidas,
indisciplinados?
concorridas. Alguma vez você
parou para pensar
que isso pode ter
relação
Pela diversidade individual e pela potencialidade com sua falta de
criatividade? Não
que esta pode oferecer à produção de conhecimento, tenha medo, invista
em novas aulas, use
conseqüentemente ao processo de ensino e outros recursos, faça
seus alunos
aprendizagem, pode-se entender que há necessidade participarem da
aula, valorize os
de estabelecer vínculos significativos entre as conhecimentos dos
estudantes.
experiências de vida dos alunos, os conteúdos
oferecidos pela escola e as exigências da sociedade,
estabelecendo também relações necessárias para a
compreensão da realidade social em que vive e para a
mobilização em direção a novas aprendizagens com
sentido concreto.

Apesar de tantas reflexões, a situação atual da


prática educativa das escolas ainda demonstra a
massificação dos alunos com pouca ou nenhuma
capacidade de resolução de problemas e poder crítico-
reflexivo, a padronização dos mesmos em decorar os con-
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 96

teúdos, além da dicotomia ensino-aprendizagem e do


estabelecimento de uma hierarquia entre educador e
educando.

A solução para tais problemas está no


aprofundamento de como os educandos aprendem e
como o processo de ensinar pode conduzir à
aprendizagem.

Pensar nesse processo ensino-aprendizagem de


forma dialética associando-se à pesquisa, à descoberta,
promove a formação de novos conhecimentos e traz a
idéia de seres humanos como indivíduos inacabados e
passíveis de uma curiosidade crescente – aqui
considerada como uma curiosidade epistemológica,
uma capacidade de refletir criticamente o aprendido –
capaz de levar a uma continuidade no processo
ensinar-aprender.

No processo de elaboração do PPP, ao


sistematizar conceitos e princípios legais e pedagógicos
de forma participativa, os educadores alcançam uma
melhor compreensão acerca de suas prioridades e
Para refletir
estratégias de ação, afastam-se do senso comum e
aproximam-se da consciência crítica, da autonomia e
Pensar no educador
como um ser da interação com as demais áreas do conhecimento.
humano é levar à
sua formação o
desafio de resgatar
as dimensões É neste ambiente de produções e produto que se
culturais, política,
social e pedagógica, insere o professor, o educador, não como um indivíduo
isto é, resgatar os
superior, em hierarquia com o educando, como
elementos cruciais
para que se possam detentor do saber-fazer, mas como igual, onde o
redimensionar suas
ações no/para o relacionamento entre ambos concretiza o processo de
mundo?
ensinar-aprender.

O papel do professor é o de dirigir e orientar a


atividade mental do aluno, de modo que cada um deles
seja um sujeito consciente, ativo e autônomo. É seu
dever conhecer como funciona o processo ensino-apren-
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 97

dizagem para descobrir o seu papel no todo e


isoladamente. Pois, além de professor, ele será sempre
ser humano, com direitos e obrigações diversas.

No processo pedagógico, alunos e professores


são sujeitos e devem atuar de forma consciente. Não se
trata apenas de sujeitos do processo de conhecimento
e aprendizagem, mas de seres humanos imersos numa
cultura e com histórias particulares de vida. O aluno
que o professor tem à sua frente traz seus
componentes biológicos, sociais, culturais, afetivos,
lingüísticos, entre outros. Os conteúdos de ensino e as
atividades propostas enredam-se nessa trama de
constituição complexa do indivíduo.

Todo ato educativo depende, em grande parte,


das características, interesses e possibilidades dos
sujeitos participantes, alunos, professores, comunidades
escolares e demais fatores do processo. Assim, a
educação se dá na coletividade, mas não perde de vista
o indivíduo que é singular (contextual, histórico,
particular, complexo). Portanto, é preciso compreender
que o processo ensino-aprendizagem se dá na relação
entre indivíduos que possuem sua história de vida e
estão inseridos em contextos de vida próprios.

É função da escola realizar a mediação entre o


conhecimento prévio dos alunos e o sistematizado,
propiciando formas de acesso ao conhecimento
científico. Nesse sentido, os alunos caminham, ao
mesmo tempo, na apropriação do conhecimento
sistematizado, na capacidade de buscar e organizar
informações, no desenvolvimento de seu pensamento e
na formação de conceitos. O processo de ensino deve,
pois, possibilitar a apropriação dos conteúdos e da
própria atividade de conhecer.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 98

Se o nosso projeto político-pedagógico for


construído numa perspectiva libertadora, a educação
desenvolvida pela escola tem que contribuir para reaver
a voz perdida, negada, silenciada da mulher, do negro,
do índio, da classe excluída, recuperar sua história,
interrogar o porquê de seu silêncio, da submissão e
opressão vivenciada. Se quisermos uma educação que
vise à transformação, é necessário questionar estas
relações, não aceitá-las como naturais, como
insuperáveis, como se nada tivessem a ver conosco. Se
os educandos e a própria comunidade não tiverem a
sua história contada, valorizada e suas práticas
culturais compreendidas, eles terão mais dificuldade
para se compreenderem no mundo, valorizarem seu
saber, sua cultura e terem referências de identificação
social. Desse modo, a escola pode contribuir para a
compreensão dos porquês da discriminação e da
exclusão social, de como elas foram construídas na
história e se manifestam nas diferentes práticas
culturais e espaços sociais.

A escola, a partir de seu currículo assumido no


projeto político pedagógico, poderá se constituir num
espaço para a discussão e a destruição das relações
estabelecidas historicamente entre as diferentes
classes, raças, entre mulheres e homens.

Para pensar Assumir, portanto, uma proposta libertadora do


projeto político pedagógico, que passa por construir
Lembrando que o
processo ensino- uma prática pedagógica de inclusão, onde os diferentes
aprendizagem
ocorre a todo o
saberes construídos socialmente e as distintas formas
momento e em
culturais sejam valorizados e problematizados, requer,
qualquer lugar,
questiona-se, então, entre outros elementos, que os educadores e a equipe
neste processo, qual
o papel da escola? pedagógica conheçam a realidade social em que atuam,
Como esta deve ser
considerada? E qual compreendam seus determinantes, conheçam a história
o papel do
professor? Você já das culturas silenciadas historicamente, os seus
tem respostas para
estes espaços de organização, suas práticas culturais e de
questionamentos?
resistência, bem como o processo educativo que
constroem nas suas lutas.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 99

A educação progressista, para FREIRE, passa


necessariamente pela intervenção democrática do
educador, pela construção de uma relação dialógica e
de respeito ao educando, aos seus saberes, que
demanda o conhecimento das condições concretas em
que vive, as quais condicionam seu pensar, sua cultura
e sua história. Conhecer a realidade em que os
educandos vivem é fundamental para ter acesso à
maneira como pensam e perceber o que sabem e como
sabem. Uma das virtudes do educador democrático é
saber ouvir as diferentes vozes com suas linguagens
específicas, construídas a partir de um contexto
sociocultural, o que implica saber silenciar, estar imerso
na experiência histórica e concreta dos educandos, mas
nunca imerso de forma paternalista, de modo a falar
por eles mais do que verdadeiramente ouvi-los.

A democratização das práticas e dos saberes


escolares, que provoca um compromisso
político/pedagógico, passa tanto pela inclusão dos
diferentes conhecimentos e formas culturais,
construídas socialmente como pela construção de um
processo pedagógico participativo, construído com os
educandos e não para os educandos, a partir de uma
relação dialógica, de permuta, de um recíproco ensinar
e aprender, de modo que educadores e educandos
sejam sujeitos do processo educativo.
Para refletir

Construir um projeto-político pedagógico, numa


Atualmente, não só
perspectiva de escola inclusiva, exige reorientar na área da
educação, mas
radicalmente o currículo, em todos os seus aspectos, também em outras
áreas, como a da
desde a organização das turmas à escolha de cada saúde, pensa-se no
indivíduo como um
professor ou professora para cada grupo de alunos, à todo – paradigma
holístico. Parte-se de
horários de aula, à seleção dos conteúdos pedagógicos, uma visão sistêmica
e, portanto, amplia-
à escolha dos recursos didáticos, das metodologias e se o conceito de
educação, o conceito
didáticas, ao tipo de relações que se dão na sala de aula do processo de
e no espaço fora da sala de aula, à relação da escola com ensino-
aprendizagem.
as famílias dos alunos e com a comunidade circundante e,
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 100

até a repensar a avaliação em suas conseqüências na


vida dos educandos.

Outro item que consideramos importante, a ser


incluído no PPP da escola, refere-se à proposta
pedagógica ou projeto pedagógico (PP), que é a alma
do PPP. A PP, que se refere mais propriamente à ação
didático-pedagógica docente operacionaliza os objetivos
do PPP.

A escola pode ter uma única PP ou, se preferir,


cada período (diurno ou noturno ou, até mesmo,
matutino, vespertino e noturno) pode realizar uma PP
diferenciada. Se assim for, todas nascerão do processo
de (re)construção do PPP da própria escola. Tal decisão
depende exclusivamente da escola, da sua organização
didático-pedagógica e da dinâmica que a unidade escolar
desenvolve em relação a cada um dos cursos que,
eventualmente, oferece. Sugerimos, dessa forma, que
a proposta pedagógica contemple e responda às
seguintes questões:

 Como chegaremos ao tema gerador? Para


tanto, considerar a definição dos princípios de
convivência (quais serão e como serão
trabalhados nas salas de aula, em cada
disciplina, nas atividades interdisciplinares,
nos demais espaços escolares).
 Quais serão as opções metodológicas no que
se refere ao trabalho disciplinar,
interdisciplinar, transdisciplinar?
 Como os professores estarão organizando os
espaços de ensino e de aprendizagem?
 Como associar a gestão democrática às
aprendizagens cotidianas dos alunos?
 Como os professores incluirão e
contemplarão, nos estudos a serem realizados
em sala de aula, as prioridades definidas no PPP
da escola, o resultado da “leitura do mundo”, o
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 101

“marco referencial”, as “situações


significativas”, o “tema gerador” e, ao mesmo
tempo, os conhecimentos historicamente
acumulados? Se possível, elaborar um
cronograma mostrando o que será feito, e
quando, dentro das reais possibilidades do
corpo docente.
 Em que espaços e tempos pedagógicos, os
professores estarão realizando as suas reuniões
pedagógicas?
 Qual será a concepção de planejamento e de
avaliação que orientará o trabalho do corpo
docente? Como será definida a avaliação do
processo de ensino e de aprendizagem
(critérios, padrões, instrumentos)?
 Qual a nossa visão ou concepção de currículo?
O que é conhecimento significativo na nossa
escola, o que é fundamental aprender e que
conhecimentos são mais ou menos importantes
para os nossos alunos?
 Quais os demais projetos que serão
desenvolvidos pela escola para enriquecer o
processo de ensino e de aprendizagem dos
alunos? Quantos projetos terão? Por quê? Para
quê? Que professores estarão envolvidos em
cada um deles? Como serão avaliados? Com
que freqüência?
 Quais as condições básicas necessárias e
requeridas para o bom trabalho pedagógico, o
que já temos, o que nos falta, como avaliar
dialogicamente o nosso próprio trabalho, no seu
sentido mais ampliado? Nesse sentido: de quais
recursos humanos, materiais e financeiros
necessitaremos?
 Qual será o cronograma da nossa proposta
pedagógica (deve ser coerente e compatível
com o cronograma do PPP)?
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 102

Conclusão

Os investimentos em pesquisas na educação


têm buscado respostas e meios para mudanças eficazes
do processo educacional. Os indicadores de avaliação
constatam que a escola tornou-se incapaz de realizar
sua tarefa como instituição social, que é a de contribuir
com a formação do indivíduo e oferecer condições de
inseri-lo no mercado de trabalho. A informação tornou-
se de fácil acesso. O desafio da escola é tornar possível
trabalhar a informação de forma que o educando,
através do desenvolvimento e exercício de suas
competências, possa utilizá-la como meio de produção
do conhecimento de si, dos outros e do meio em que
vive.

O projeto político-pedagógico é o diagnóstico da


Aprofundamento
realidade existente: num primeiro momento, o real

Escolha uma das (realidade histórico-cultural-político-social), e em outro


áreas de conteúdos
de ensino da sua momento o ideal (o que desejamos, quais as ações). O
escola e procure
estabelecer um
olhar que temos sobre a escola na qual trabalhamos a
paralelo entre as pesquisa de campo e, a partir dos dados levantados,
abordagens que aqui
estamos discutindo lutar pela construção - que implica a coletividade - a
e a proposta da
escola (concepções, "força", desde serventes, merendeiras, pais,
conteúdos adotados,
avaliação). professores, alunos, enfim, todas as relações que
implicam o cotidiano escolar, levando em conta a
especificidade (meios, receios, desejos). Assim sendo,
o PPP é o retrato da realidade da escola construída por
todos, sendo uma intencionalidade.

Falar em inovação e projeto político-pedagógico


tem sentido se não esquecermos qual é a preocupação
fundamental que enfrenta o sistema educativo:
melhorar a qualidade da educação para que todos
aprendam mais e melhor. Essa preocupação se
expressa muito bem na tríplice finalidade da educação
em função da pessoa, da cidadania e do trabalho.
Desenvolver o educando, prepará-lo para o exercício da ci-
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 103

dadania e do trabalho significam a construção de um


sujeito que domine conhecimentos, dotado de atitudes
necessárias para fazer parte de um sistema político,
para participar dos processos de produção da
sobrevivência e para desenvolver-se pessoal e
socialmente.

O projeto político-pedagógico é o plano global da


instituição. Pode ser entendido como a sistematização,
nunca definitiva, de um processo de planejamento
participativo, que se aperfeiçoa e se objetiva na
caminhada. Define claramente o tipo de ação educativa
que se quer realizar, a partir de um posicionamento
quanto à sua intencionalidade e de uma leitura da
realidade.

O Projeto Político-Pedagógico da escola pode ser


inicialmente entendido como um processo de mudança
e de antecipação do futuro, que estabelece princípios,
diretrizes e propostas de ação para melhor organizar,
sistematizar e significar as atividades desenvolvidas
pela escola como um todo. Sua dimensão
político/pedagógica caracteriza uma construção ativa e
participativa dos diversos segmentos escolares —
alunos e alunas, pais e mães, professores e
professoras, funcionários, direção e toda a comunidade
escolar. Ao desenvolvê-lo, as pessoas reforçam as suas
experiências, refletem as suas práticas, exercem,
reafirmam e atualizam os seus valores na troca com os
valores de outras pessoas, especificam os seus sonhos
e utopias, demonstram os seus conhecimentos, dão
sentido aos seus projetos individuais e coletivos,
reafirmam as suas identidades, formam novas relações
de convivência e indicam um horizonte de novos
caminhos, possibilidades e propostas de ação. Definem
o seu futuro. Esse movimento visa o acesso da
transformação necessária e desejada pelo coletivo
escolar e comunitário. Nesse sentido, o projeto político-
pedagógico é ação humana transformadora, resultado de
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 104

um planejamento dialógico, resistência e alternativa ao


projeto de escola e de sociedade burocrática, centrada
e descendente. Ele é movimento de ação-reflexão-ação
que destaca o grau de influência que as decisões
adotadas na escola exercem nos demais níveis
educacionais.

O processo de construção de um PPP pode ser


desenvolvido através da tentativa de responder a várias
questões, por exemplo:

 Qual é a concepção de homem e de mundo


que o PP trabalha?
 Qual a concepção de sociedade?
 Qual a concepção de educação?
 Qual a concepção de universidade?
 Qual a concepção de cidadão?
 Qual a concepção de profissional?
 Qual a concepção de conhecimento?
 Qual a concepção de currículo?
 Qual é a relação teoria e prática?

O processo é desenvolvido em espiral, num


crescente dinâmico de integração entre todas as
tentativas de respostas. Como processo, ele está em
contínua construção, avaliação, reelaboração.

O projeto político-pedagógico é mais do que a


necessidade de responder a uma solicitação formal. É a
reflexão e a contínua expressão de nossas idéias sobre
Importante
a educação e sua função social, sobre o ensino, sobre a

Antes de fazer seu pesquisa e sua relação com o ensino, sobre a extensão
projeto político-
e sua relação com o currículo, sobre a relação teoria e
pedagógico e seu
plano curricular, prática.
consulte a lei nº
93.94/96 e as
normatizações do
conselho estadual de Assim, o PPP é construído no contexto de uma
educação de seu
estado. realidade complexa e sua estruturação revela as
características das inter-relações existentes na instituição,
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 105

nos cursos e entre cursos e no contexto social do qual


faz parte. As possibilidades e os limites do PPP passam
por questões do contexto externo e da natureza interna
da instituição.

Essa elaboração exige uma reflexão acerca da


concepção e das finalidades da educação e sua relação
com a sociedade, bem como uma reflexão aprofundada
sobre o tipo de indivíduo que queremos formar e de
mundo que queremos construir com nossa
contribuição.

A avaliação do projeto político-pedagógico deve


ser contínua, pautada na prática pedagógica cotidiana e
nos pareceres do público interno e externo da escola. A
atualização do projeto político-pedagógico deve ser
realizada no início de cada ano letivo.

Reforçamos que, por meio da participação


efetiva da comunidade escolar, da organização do
trabalho pedagógico com ênfase na PPP e nos princípios
da gestão democrática, que a escola poderá contribuir
para a superação das contradições da sociedade em
que se vive e auxiliar no processo contínuo de
construção de uma sociedade mais humana e
democrática.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 106

EXERCÍCIO 1

Marque a única resposta errada.


O projeto político-pedagógico, quando construído numa
perspectiva libertadora, a educação desenvolvida pela
escola tem:

( A ) Que contribuir para reaver a voz perdida, negada,


silenciada da mulher, do negro, do índio, da
classe excluída;
( B ) Que recuperar a história dos excluídos;
( C ) Que contribuir para a compreensão dos porquês
da discriminação e da exclusão social, de como
elas foram construídas na história e se
manifestam nas diferentes práticas culturais e
espaços sociais.;
( D ) Que constituir um espaço para a discussão e
destruição das relações estabelecidas
historicamente entre as diferentes classes, raças,
entre mulheres e homens;
( E ) Que não possibilitar a apropriação dos conteúdos
e da própria atividade de conhecer.
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 107

EXERCÍCIO 2

Marque a opção errada.


Um trabalho pedagógico com ênfase no PPP e nos
princípios da gestão democrática:

( A ) A escola poderá contribuir para a superação das


contradições da sociedade em que se vive;
( B ) Auxilia no processo contínuo de construção de
uma sociedade mais humana e democrática;
( C ) Inclui a necessidade de se tornar cada vez mais
urgente o envolvimento de toda comunidade
escolar na organização do trabalho pedagógico
para se atingir uma gestão democrática na
escola;
( D ) Escola está efetivamente investindo na antiga
organização pedagógica;
( E ) Pressupõe um cuidado especial nos discursos e
nas práticas cotidianas da escola, permitindo que
crianças e jovens se formem como cidadãos para
uma sociedade educadora e democrática.

EXERCÍCIO 3

Será que planejar, projetar e planificar realmente nos


ajuda a resolver os problemas da escola? Justifique sua
resposta.

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____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 108

EXERCÍCIO 4

Mudar, avançar, aperfeiçoar, recriar, aí reside o


imperativo maior de nosso tempo e a esse desafio
estão voltados e agregados os esforços dos homens
compromissados em contribuir na construção de seu
mundo.

Nesse contexto de mudanças e de transformações,


como se colocam os papéis da escola e do educador?
De que modo nos colocarmos diante do nosso fazer
diário, quer individual, quer coletivamente como
escola? Qual o caminho para operacionalizar a
mudança, seja no solidário momento em que nossa
consciência individual nos cobra crescimentos, seja no
momento grupal de trabalho, quando, pelo exercício da
humildade, somos capazes de perceber que nossas
práticas e procedimentos profissionais estão
inadequados ou mesmo superados, já que os
resultados, igualmente, não mais nos satisfazem?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | O Projeto Pedagógico na diversidade 109

RESUMO
Vimos até agora:

 Na educação dos sujeitos portadores de


necessidades especiais, o rumo tomado pelo
processo educacional, pode levar a dois
caminhos: um primeiro, que reforça a
deficiência como condição limitadora, ou seja,
atribui os limites da deficiência como causa
para o fracasso no processo ensino-
aprendizagem. E um segundo caminho que
permite as trocas, as interações sociais e
culturais, favorecendo novas alternativas no
desenvolvimento das capacidades e do
processo educacional destes sujeitos;

 Os conteúdos selecionados dificilmente têm o


mesmo significado para cada um dos
indivíduos. A falta de atenção a essa falta de
“representatividade” cultural do currículo
escolar reflete, imediatamente, na
desigualdade de oportunidades e na
incapacidade da cultura da escola para dotar
os alunos de instrumentos que os permitam
compreender melhor o mundo e a sociedade
que os rodeia;

 A democratização das práticas e dos saberes


escolares que provoca num compromisso
político/pedagógico, passa tanto pela inclusão
dos diferentes conhecimentos e formas
culturais, construídas socialmente como pela
construção de um processo pedagógico
participativo, construído com os educandos e
não para os educandos, a partir de uma
relação dialógica, de permuta, de um
recíproco ensinar e aprender, de modo que
educadores e educandos sejam sujeitos do
processo educativo.
4

AULA
Avaliação na
Educação Inclusiva
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula será discutida a avaliação como forma de oportunizar a


aprendizagem do aluno sustentada pelos quatro pilares da
educação nomeados pela UNESCO - aprender a ser, a conviver, a
fazer e a conhecer. Partindo da necessidade de que esses pilares
devem ser vivenciados, identificados e incorporados pelos
educandos. Assim, destaca-se também a definição do conceito das
quatro competências básicas para a vida - pessoais, relacionais,
produtivas e cognitivas.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Conhecer a evolução história do processo de avaliação na


educação e compreender também as funções da avaliação: de
diagnóstico, de verificação e de apreciação;
 Apresentar e discutir as competências relevantes para o
processo de aprendizagem do aluno: pessoais, relacionais,
produtivas e cognitivas;
 Aprender a analisar e refletir sobre o sucesso alcançado pelos
alunos em função dos objetivos previstos e revê-los de acordo
com os resultados apresentados.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 112

Introdução

Avaliar vem do latim a + valere, que significa


atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Portanto,
avaliar é atribuir um juízo de valor sobre o predicado de
um processo para a aferição da qualidade do seu
resultado, porém, a compreensão da avaliação do
processo ensino/aprendizagem tem sido regulada pela
lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato de
avaliar ao de “medir” os conhecimentos assimilados
pelos alunos.

A avaliação tem sido pesquisada desde o início


do século XX, porém, alguns estudiosos afirmam que
desde 1897 existem registros dos relatos de J. M. Rice
sobre uma pesquisa avaliativa utilizada para
estabelecer a relação entre o tempo de exercício e o
rendimento em ortografia, revelando que uma grande
evidência em exercícios não levava necessariamente a
Você sabia? um melhor proveito.

Nessa época, as
pesquisas avaliativas
As duas primeiras décadas deste século foram
voltavam-se
marcadas pelo desenvolvimento de testes padronizados
particularmente para
a mensuração de para medir as habilidades e aptidões dos alunos e
mudanças do
comportamento influenciados, principalmente nos Estados Unidos, pelos
humano. Goldberg &
Souza (1982) estudos de Robert Thorndike.
apontam várias
destas pesquisas
realizadas nos anos
20 para medir A avaliação da aprendizagem tem seus princípios
efeitos de
programas de e características no campo da Psicologia, sendo que as
diversas áreas sobre
o comportamento
duas primeiras décadas do século XX foram marcadas
das pessoas. Eram
pelo desenvolvimento de testes padronizados para
realizados
experimentos aferir as habilidades e aptidões dos alunos.
relativos à
produtividade e à
moral dos operários,
à eficácia de Havendo sempre, no processo de
programas de saúde
pública, à influência ensino/aprendizagem, um trajeto a seguir entre um
de programas
experimentais ponto de partida e um ponto de chegada, naturalmente
universitários sobre
a personalidade e que é necessário verificar se o caminho está a decorrer
atitudes dos
alunos.
em direção à meta, se alguns pararam por não saber o
caminho ou por terem enveredado por um desvio errado.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 113

É essa noção, sobre o progresso de grupos e de


cada um dos seus elementos, que a avaliação tenta
recolher e que é indispensável a professores e alunos.

A avaliação descreve que conhecimentos,


atitudes ou aptidões os alunos adquiriram, ou seja, que
objetivos do ensino já atingiram num determinado
ponto de percurso e que dificuldades estão a revelar
relativamente a outros.

Esta informação é necessária ao professor para


procurar meios e estratégias que possam ajudar os
alunos a resolverem essas dificuldades e é necessária
aos alunos para se aperceberem delas (os alunos não
podem identificar claramente as suas próprias Importante

dificuldades num campo que desconhecem) e tentarem


O educador, ao lidar
ultrapassá-las com a ajuda do professor e com o com a avaliação da
aprendizagem
próprio esforço. Por isso, a avaliação tem uma intenção escolar, deve ter em
mente a necessidade
formativa. de colocar em sua
prática diária novas
propostas que visem
A avaliação proporciona, também, o apoio a um a melhoria do
ensino, pois a
processo a decorrer, contribuindo para a obtenção de avaliação é parte de
um processo e não
produtos ou resultados de aprendizagem. um fim em si e deve
ser utilizada como
um instrumento,
também, para a
As avaliações a que o professor procede melhoria da
aprendizagem dos
enquadram-se em três grandes tipos: avaliação educandos.
diagnóstica, formativa e somativa.

QUAL O FOCO DA AVALIAÇÃO?

No modelo da educação voltada para o


desenvolvimento humano, o foco está na aprendizagem
do aluno, sustentada pelos quatro pilares da educação
nomeados pela UNESCO - aprender a ser, a conviver, a
fazer e a conhecer. Partindo da necessidade de
melhorar na compreensão de que essas quatro
aprendizagens precisam ser vivenciadas, identificadas e
incorporadas pelos educandos, podemos definir o concei-
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 114

to das quatro competências básicas para a vida -


pessoais, relacionais, produtivas e cognitivas.

Os currículos de nossas escolas têm sido


propostos para atender à massificação do ensino. Não
se planeja para cada aluno, mas para muitas turmas de
alunos numa hierarquia de séries, por idades, mas
esperamos de uma classe com 30 ou mais de 40 alunos
uma única resposta certa.

Sendo assim, é possível dizer que a melhor


maneira de operacionalizar este modelo de educação é
através da metodologia de projetos de aprendizagem.
Tendo "o que o aluno quer aprender" como ponto de
partida, esta metodologia tira o foco do "conteúdo que
o professor quer ensinar", permitindo que o aluno
estabeleça uma conexão de caráter prático com a
aprendizagem, minimizando os entraves que possam
aparecer no processo de desenvolvimento das quatro
competências.

É impraticável pensar numa avaliação


tradicional, onde se analisa a quantidade de conteúdos
que o aluno "aprendeu", seja por um teste, uma prova
ou um trabalho feito em casa e apresentado na escola.

Segundo Perrenoud (2000), normalmente,


define-se o fracasso escolar como a conseqüência de
dificuldades de aprendizagem e como a expressão de
uma “falta objetiva” de conhecimentos e de
competências. Esta visão, que “naturaliza” o fracasso,
impede a compreensão de que ele resulta de formas e
de normas de excelência que foram instituídas pela
escola, cuja execução revela algumas arbitrariedades,
entre as quais a definição do nível de exigência do qual
depende o limiar que separa aqueles que têm êxito
daqueles que não o têm. As formas de excelência, que
a escola valoriza, se tornam critérios e categorias que
incidem sobre a aprovação ou a reprovação do aluno.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 115

A explicação sobre as causas do fracasso


passará obviamente pela reflexão de como a escola
explica e lida com as desigualdades reais.

O universo da avaliação escolar é simbólico e


instituído pela cultura da mensuração, legitimado pela
linguagem jurídica dos regimentos escolares que,
legalmente instituídos, funcionam como uma vasta rede
e envolvem totalmente a escola (Lüdke; André, M.
1986).

Compreender as manifestações da prática


avaliativa é ao mesmo tempo compreender aquilo que
nela está oculto.

Temos ciência de que a exclusão no interior da


escola não se dá apenas pela avaliação e sim pelo
currículo como um todo (objetivos, conteúdos,
metodologias, formas de relacionamento). No entanto,
Para refletir
além do seu papel específico na exclusão, a avaliação
classificatória acaba por influenciar todas as outras “O importante não ‘é
fazer como se’ cada
práticas escolares. um houvesse
aprendido, mas
permitir a cada um
aprender”
No Brasil, o projeto de integração escolar surgiu (Perrenoud).
como um impacto mais significativo na década de 90 do
século passado, em grande parte como resultado de
pressões paradigmáticas decorrentes das experiências
desenvolvidas em outros países. Tal situação culminou
com várias medidas dos órgãos responsáveis pela
educação especial:

 Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional de nº 9.394/96, que, ainda com
determinadas imprecisões e indefinições,
sinaliza como espaço preferencial do
atendimento educacional dos alunos portadores
de deficiência as escolas do ensino regular;
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 116

 A Resolução 2/2001, do Conselho


Nacional/Câmara de Educação Básica,
publicada no Diário Oficial da União, em
14/09/01, instituiu as diretrizes para a
educação especial na educação básica e
apresenta, de forma mais precisa e
detalhada, orientações para atendimento de
alunos com deficiência na educação básica,
nas classes comuns do ensino regular.

Seria muita ingenuidade pensar na


transformação das escolas em decorrência do
estabelecimento de diretrizes político-pedagógicas. O
caminho é muito extenso, muito precisa ser feito em
termos de processos de conscientização na comunidade
escolar e da sociedade em geral.

Desenvolvimento

EVOLUÇÃO DA AVALIAÇÃO

A partir do início do século XX, a avaliação vem


atravessando pelo menos quatro gerações, conforme
Guba e Lincoln, apud Firme (1994). São elas:

 Mensuração – não distinguia avaliação e


medida. Nessa fase, era preocupação dos
estudiosos a elaboração de instrumentos ou
testes para verificação do rendimento escolar.
O papel do avaliador era, então,
eminentemente técnico e, neste sentido,
testes e exames eram indispensáveis na
classificação de alunos para se determinar
seu progresso.

 Descritiva – essa geração surgiu em busca de


melhor entendimento do objetivo da
avaliação. Conforme os estudiosos, a geração
anterior só oferecia informações sobre o aluno.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 117

Precisavam ser obtidos dados em função dos


objetivos por parte dos alunos envolvidos nos
programas escolares, sendo necessário
descrever o que seria sucesso ou dificuldade
com relação aos objetivos estabelecidos.
Neste sentido, o avaliador estava muito mais
concentrado em descrever padrões e critérios.
Foi nessa fase que surgiu o termo “avaliação
educacional”.

 Julgamento – a terceira geração questionava


os testes padronizados e o reducionismo da
noção simplista de avaliação como sinônimo
de medida, tinha como preocupação maior o
julgamento. Neste sentido, o avaliador
assumiria o papel de juiz, incorporando,
contudo, o que se havia preservado de
fundamental das gerações anteriores, em
termos de mensuração e descrição. Assim, o
julgamento passou a ser elemento crucial do
Para pensar
processo avaliativo, pois não só importava
medir e descrever, era preciso julgar sobre o
As questões
conjunto de todas as dimensões do objeto, relativas à avaliação
se inscrevem em
inclusive sobre os próprios objetivos. uma rede complexa.
A mesma é produto
das “leis” que regem
o projeto político
 Negociação – nesta geração, a avaliação é um pedagógico da
escola (PPP), da
processo interativo, negociado, que se prática educativa do
professor (que nem
fundamenta num paradigma construtivista.
sempre condiz com
Para Guba e Lincoln, apud Firme (1994), é o PPP) e da
sociedade. (porque o
uma forma responsiva de enfocar e um modo horizonte cultural do
país exerce
construtivista de fazer. A avaliação é influência na
imagem e na
responsiva porque, diferentemente das compreensão a
respeito da
alternativas anteriores que partem avaliação).
Concorda?
inicialmente de variáveis, objetivos, tipos de
decisão e outros, ela se situa e desenvolve a
partir de preocupações, proposições ou
controvérsias em relação ao objetivo da
avaliação, seja ele um programa, projeto, cur
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 118

so ou outro foco de atenção. Ela é construtivista em


substituição ao modelo científico, que tem

Para refletir caracterizado, de um modo geral, as avaliações mais


prestigiadas neste século.
Ao refletirmos sobre
a condução do
processo de Neste sentido, a finalidade da avaliação é
avaliação, surgem
alguns fornecer informações que permitam aos administradores
questionamentos:
por que o aluno não escolares decidir sobre as intervenções e os
aprende? A
avaliação promove redirecionamentos que se fizerem necessários em face
ou exclui o aluno?
Os professores
do projeto educativo, definido coletivamente, e
sabem avaliar? Qual comprometido com a garantia da aprendizagem do
o objetivo do
processo de aluno. Converte-se, então, em um instrumento
avaliação? Você já
pensou nestas referencial e de apoio às definições de natureza
questões?
pedagógica, administrativa e estrutural, que se
concretiza por meio de relações partilhadas e
cooperativas.

FUNÇÕES DO PROCESSO AVALIATIVO

As funções da avaliação são: diagnóstica,


formativa, somativa.

 Função diagnóstica - é a que proporciona


informações acerca das capacidades do aluno
antes de iniciar um processo de
ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo
Bloom, Hastings e Madaus (1975), busca a
determinação da presença ou ausência de
habilidades e pré-requisitos, bem como a
identificação das causas de repetidas
dificuldades na aprendizagem. A avaliação
diagnóstica pretende averiguar a posição do
aluno face a novas aprendizagens que lhe vão
ser propostas e a aprendizagens anteriores
que servem de base àquelas, no sentido de
obviar as dificuldades futuras e, em certos
casos, de resolver situações presentes.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 119

 Função formativa - a segunda função é a


avaliação formativa que permite constatar se
os alunos estão, de fato, atingindo os
Importante
objetivos pretendidos, verificando a
compatibilidade entre tais objetivos e os A avaliação
formativa pretende
resultados efetivamente alcançados durante o determinar a
posição do aluno ao
desenvolvimento das atividades propostas. longo de uma
unidade de ensino,
Representa o principal meio através do qual
no sentido de
o estudante passa a conhecer seus erros e identificar
dificuldades e de
acertos, assim, maior estímulo para um lhes dar solução.

estudo sistemático dos conteúdos. Estes


mecanismos permitem que o professor detecte
e identifique deficiências na forma de ensinar,
possibilitando reformulações no seu trabalho
didático, visando aperfeiçoá-lo. A avaliação
formativa visa informar o professor e o aluno
sobre o rendimento da aprendizagem no
decorrer das atividades escolares e a
localização das deficiências na organização do
ensino para possibilitar correção e
recuperação. A avaliação formativa não tem
como objetivo classificar ou selecionar.
Fundamenta-se nos processos de
aprendizagem, em seus aspectos cognitivos,
afetivos e relacionais; fundamenta-se em
aprendizagens significativas e funcionais que
se aplicam em diversos contextos e se
atualizam o quanto for preciso para que se
continue a aprender. Este enfoque tem um
princípio fundamental: deve-se avaliar o que
se ensina, encadeando a avaliação no mesmo
processo de ensino-aprendizagem. Somente
neste contexto é possível falar em avaliação
inicial (avaliar para conhecer melhor o aluno e
ensinar melhor) e avaliação final (avaliar ao
finalizar um determinado processo didático).
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 120

 Função somativa – tem como objetivo,


segundo Miras e Solé (1996, p. 378),
determinar o grau de domínio do aluno em
uma área de aprendizagem, o que permite
outorgar uma qualificação que, por sua vez,
pode ser utilizada como um sinal de
credibilidade da aprendizagem realizada. Pode
ser chamada também de função creditativa.
Também tem o propósito de classificar os
alunos ao final de um período de
aprendizagem, de acordo com os níveis de
aproveitamento.

A avaliação somativa pretende ajuizar do


progresso realizado pelo aluno no final de uma unidade
de aprendizagem, no sentido de aferir resultados já
colhidos por avaliações do tipo formativa e obter
indicadores que permitem aperfeiçoar o processo de
ensino. Corresponde a um balanço final, a uma visão de
conjunto relativamente a um todo sobre o qual, até aí,
só tinham sido feitos juízos parcelares.

Quer
saber mais? A AVALIAÇÃO CLASSIFICATÓRIA

Os "instrumentos de avaliação" não levam em


Para Hadji (2001), a
passagem de uma consideração o procedimento que o aluno percorreu,
avaliação normativa
para a formativa mas "fotografam" (e mal) um determinado momento.
implica
necessariamente
uma modificação Nesta avaliação, o enfoque não está na
das práticas do
professor em aprendizagem do educando, mas na suposta
compreender que o
aluno é não só o assimilação ("decoreba") daquilo que o professor quis
ponto de partida,
mas também o de ensinar. Isso significa que o enfoque está no conteúdo
chegada. Seu
progresso só pode e não na ampliação de competências dos alunos.
ser percebido
quando comparado
com ele mesmo: Por esses e outros motivos, temos que pensar
Como estava? Como
está? As ações numa nova forma de avaliar. Temos que pensar na
desenvolvidas entre
as duas questões avaliação como mais uma oportunidade de
compõem a
avaliação formativa. aprendizagem para o aluno. Mas como isso pode ser
feito?
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 121

O QUE AVALIAR?

Primeiramente, precisamos saber qual o nosso


objeto de avaliação. Sendo assim, se pretendemos Para pensar

avaliar o "desenvolvimento" de competências, é certo


A afetividade do
que pretendemos avaliar um "processo" – o de aluno está clara no
entusiasmo ao
aprendizagem do aluno. apresentar uma
pesquisa e ao
descobrir a solução
de um problema.
Para ficar mais claro, citamos abaixo uma lista
de competências relevantes para o processo de
aprendizagem do aluno:

Competências pessoais: autoconhecimento,


auto-estima, autoconfiança, querer-ser, auto-
proposição, visão do futuro, autodeterminação e auto-
realização.

Competências relacionais: reconhecimento do


outro, convívio com a diferença, interação,
comunicação, afetividade, convívio em grupo,
planejamento/trabalho/decisão em grupo, compromisso
com o coletivo, com o ambiente e a cultura.
Para refletir
Competências cognitivas: leitura e escrita,
cálculo e resolução de problemas, análise e "Diferenciar o ensino
é fazer com que
interpretação de dados/fatos/situações, acesso à cada aprendiz
vivencie, tão
informação acumulada, interação crítica com a mídia, freqüentemente
quanto possível,
autodidatismo, didatismo e construtivismo. situações
fecundadas de
aprendizagem".
Competências produtivas: criatividade, (Perrenoud)

gestão e produção do conhecimento, polivalência e


versatilidade, profissionalização, auto-gestão, co-
gestão, heterogestão.

POR QUE AVALIAR?

O valor da avaliação encontra-se no fato de o


aluno poder tomar conhecimento de seus avanços e
dificuldades. Cabe ao professor desafiá-lo a superar as di-
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 122

ficuldades e continuar progredindo na construção dos


conhecimentos (Luckesi, 1999).

Sabendo o que devemos avaliar, podemos


perguntar: mas para que avaliar o desenvolvimento de
competências?

É a partir desta resposta que vamos começar a


tratar a avaliação como uma oportunidade de
aprendizagem.

No meio corporativo, a avaliação utilizada o


tempo todo, em diversos âmbitos, não é encarada
como um fim em si mesmo. Pelo contrário, ela serve
para rever metas, estratégias, analisar resultados (para
rever as metas e estratégias) e, mesmo quando o
objeto da avaliação é um profissional, ela é feita com o
objetivo de que tenha uma melhor produção e, não
apenas, uma pontuação.

Por que na escola tradicional, ou na educação


em geral, parece ter de ser diferente?
Para pensar
Modificar a forma de avaliar implica a
A avaliação deve ser reformulação do processo didático-pedagógico,
encarada como uma
reorientação para deslocando também a idéia da avaliação do ensino para
uma aprendizagem
melhor e para a a avaliação da aprendizagem.
melhoria do sistema
de ensino. Além
disso, todo professor É importante que comecemos a pensar
deve ficar atento aos
aspectos afetivos e diferente... E, para isso, temos que rever os fins da
culturais do
estudante, não só avaliação.
aos cognitivos.
Concorda?
Temos conhecimento de que a exclusão no
interior da escola não se dá apenas pela avaliação e
sim pelo currículo como um todo (objetivos, conteúdos,
metodologias, formas de relacionamento). No entanto,
além do seu papel específico na exclusão, a avaliação
classificatória acaba por influenciar todas as outras
práticas escolares.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 123

Segundo Perrenoud (2000), normalmente,


define-se o fracasso escolar como a conseqüência de
dificuldades de aprendizagem e como a expressão de
uma “falta objetiva” de conhecimentos e de
competências. Esta visão, que “naturaliza” o fracasso,
impede a compreensão de que ele resulta de formas e
de normas de excelência que foram instituídas pela
escola, cuja execução revela algumas arbitrariedades,
entre as quais a definição do nível de exigência do qual
depende o limiar que separa aqueles que têm êxito
daqueles que não o têm. As formas de excelência, que
a escola valoriza, se tornam critérios e categorias que
incidem sobre a aprovação ou a reprovação do aluno.

A avaliação da aprendizagem deve ter, como


principal objetivo, mais aprendizagem qualitativamente
falando. Isso significa que o processo de avaliação deve
trazer novas oportunidades de aprendizagem,
permitindo que o aluno reflita sobre o seu
desenvolvimento (auto-avaliação) e, partindo de
intervenções externas - do professor - possa ter uma
atitude pró-ativa, avançando no seu ciclo de
desenvolvimento. Ou seja, a avaliação deve deixar de
ter um fim em si mesmo ou ser apenas um instrumento
de medição e rotulação, para ser um instrumento de
aprendizagem.

Ao avaliar a produção escrita dos alunos


surdos em Língua Portuguesa, os professores
deverão ser orientados para que:

 O aluno tenha acesso ao dicionário e, se


possível, ao intérprete no momento do exame;
 A avaliação do conhecimento utilize
critérios compatíveis com as características
inerentes a esses educandos;
 A maior relevância seja dada ao conteúdo
(nível semântico), ao aspecto cognitivo de sua
linguagem, coerência e seqüência lógica das
idéias;
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 124

 A forma da linguagem (nível


morfossintático) seja avaliada com mais
flexibilidade, dando maior valor ao uso de termos
da oração, como os termos essenciais, os termos
complementares e, por último, os termos
acessórios, não sendo por demais exigente no
que diz respeito ao elemento coesivo.

Assim, ao avaliar o conhecimento do aluno


surdo, o professor não deve supervalorizar os erros
da estrutura formal da Língua Portuguesa em
detrimento do conteúdo. Não se trata de aceitar os
erros, permitindo que o aluno neles permaneça, mas
sim anotá-los para que sejam objeto de análise e
estudo junto ao educando, a fim de que possa
superá-los.

COMO AVALIAR?

Avaliar exige, antes que se defina aonde se quer


chegar, que se estabeleçam os critérios, para, em
seguida, escolherem-se os procedimentos, inclusive
aqueles referentes à coleta de dados, comparados e
postos em cheque com o contexto e a forma em que
foram produzidos.

Como operacionalizar o que foi dito acima? Com


certeza, há várias maneiras de se fazer. Apresentamos
algumas idéias que devem ser adaptadas a cada
situação.

Primeiro, é certo que temos de avaliar o


processo. Para isso, algumas ações devem acontecer:

Observar - a observação é fundamental para


que o professor possa acompanhar o desenvolvimento
de cada aluno. Mas observar o quê? É importante
observar atitudes que indiquem que os alunos estão
desenvolvendo suas competências. Ou seja, observar
se há indicadores de que essas competências estão
sendo desenvolvidas. Falarei desses indicadores mais
adiante.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 125

Drummond para nos ajudar a refletir sobre


avaliação:

Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,


Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista
da janela,
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
Não fugirei para as ilhas e nem serei raptado por
serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os
homens presentes, a vida presente.

Intervir e questionar - durante este processo


de observação, o professor deverá intervir para que os
alunos, de fato, desenvolvam suas competências. Isso
quer dizer que, na avaliação proposta aqui, não
devemos esperar o final do processo para intervir ou
"rotular" o aluno com um "aprovado" ou "reprovado". A
avaliação somente será um instrumento de
aprendizagem se as intervenções forem acontecendo
durante o processo. Essas intervenções não devem
acontecer de maneira taxativa - "faça assim", "não faça
desse jeito", "assim não está bom"... - mas, sim,
através de questões desafiadoras que façam o aluno
refletir e ir adiante. As questões devem ser
"esclarecedoras" para que você compreenda de verdade
o que o aluno está fazendo, querendo dizer ou
querendo saber, por exemplo; e de "sondagem", onde
as idéias dos alunos deverão ser contra-argumentadas,
com a intenção de que ele reflita e avance no processo.

Registrar - todo o processo deve ser


devidamente registrado, para que seja possível fazer
uma análise comparativa do início com o "final" do
processo. Coloco o "final" entre aspas para lembrar que
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 126

não deve haver uma meta única, preestabelecida para


que todos os alunos a alcancem ao mesmo tempo. O
processo é individual, o que faz com que as metas
também a sejam. Um relatório descritivo sobre as
competências desenvolvidas pelo aluno deve ser
elaborado.

Dar feedback - é importante que, em


determinados momentos, o aluno receba feedbacks
sobre a sua aprendizagem. Nada melhor do que uma
entrevista ou uma simples conversa com ele para que
essa devolução seja feita. Este momento é uma
excelente oportunidade para que o aluno faça uma
auto-avaliação, que deverá ser levada em consideração
pelo professor, sempre. Assim como é fundamental
explicitar os objetivos da avaliação para a classe, é
preciso também dar o feedback. O estudante não pode
ficar sem saber como se saiu.

BOM, MAS ALGUNS PARÂMETROS TEMOS QUE TER


PARA PODERMOS NORTEAR TODO O PROCESSO
DE AVALIAÇÃO, CERTO?

Esses parâmetros são os indicadores de que


falamos anteriormente - atitudes que indiquem que os
alunos estão desenvolvendo suas competências
pessoais, relacionais, cognitivas e produtivas.
Conjunto de indicadores que poderão auxiliar o
educador no processo de avaliação da aprendizagem do
aluno no desenvolvimento dos projetos de ensino de
informática:

COMPETÊNCIAS PESSOAIS

 O aluno demonstrou curiosidade?


 O aluno teve autoconfiança?
 O aluno definiu sua curiosidade e escolheu
facilmente sua pergunta inicial para o
projeto?
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 127

 O aluno demonstrou sentir-se capaz de


chegar "à resposta" da sua pergunta?
 O aluno persistiu na sua pergunta mesmo
encontrando crítica e alternativas também
atraentes por parte dos colegas?
 O aluno persistiu na sua pergunta, mesmo
encontrando dificuldades para respondê-la?
 O aluno deu um passo à frente no
desenvolvimento de sua autonomia durante o
projeto?
 O aluno expôs confiantemente suas
descobertas para o grupo? Para refletir
 O aluno reagiu de maneira positiva e
receptiva ao receber críticas ao seu trabalho? Tendo os processos
de aprendizagem
como ponto de
COMPETÊNCIAS RELACIONAIS partida e
pressuposto básico,
como poderia
acontecer a
 O aluno julgou as questões levantadas pelos
avaliação da
colegas, contribuindo para o aprimoramento aprendizagem do
aluno?
delas?
 O aluno interagiu e evidenciou ter boas
habilidades de comunicação durante as
atividades?
 O aluno aceitou facilmente o apoio dos
colegas?
 Os alunos interagiram com os pares para usar
a tecnologia digital?
 A interação do aluno, com o uso das
ferramentas, foi apropriada e simples?
 Os alunos trabalharam bem em grupo?
 O aluno demonstrou estar compromissado
com o trabalho coletivo, mesmo que estivesse
desenvolvendo um projeto individualmente?
 O aluno interagiu com outras pessoas para
recolher dados? Usou a Internet para isso?
 O aluno recebeu idéias dos colegas para a
busca de dados?
 Ele ofereceu sugestões para contribuir com os
projetos dos amigos?
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 128

 O aluno mostrou para o grupo, com nitidez,


suas descobertas?
 O aluno soube lidar com julgamentos
diferentes dos seus?
 Admirou o trabalho dos colegas?
 Interagiu e se comunicou com facilidade?
 Solicitou colaboração dos amigos para o seu
projeto?
 Evidenciou ter compromisso com a
conservação do espaço escolar?

COMPETÊNCIAS COGNITIVAS

 O educando demonstrou boa habilidade de


argumentação na justificativa de seus
interesses?
 O aluno demonstrou capacidade de avaliar
criticamente as perguntas dos colegas?
 O aprendiz demonstrou ter habilidades de
leitura e escrita na coleta, eleição e registro
de dados?
 Dependendo da pergunta do aluno, pode ter
sido necessário que ele realizasse cálculo
e/ou solucionasse problemas. Como ele se
manifestou nesta situação?
 O aluno avançou em seu caminho de
aprendizagem em relação às competências de
análise e de interpretação de dados, fatos e
situações; acesso ao conhecimento
acumulado; interação de julgamento com a
mídia?
 Ao coletar, considerar, escolher e anotar os
dados, o aluno foi capaz de estabelecer
relações entre conceitos e construir novos
conceitos?
 Durante a construção dos quadros conceituais, o
aluno demonstrou facilidade em constituir
relações e fazer diferentes tipos de associações
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 129

entre os conceitos apresentados pelos


múltiplos projetos de aprendizagem?

COMPETÊNCIAS PRODUTIVAS

 O aluno demonstrou criatividade na eleição da


pergunta?
 Demonstrou ter habilidades para a construção
da anotação ideal?
 O aluno administrou bem o seu tempo
durante todas as fases do projeto?
 Na elaboração do registro, demonstrou boa
organização?
 O aluno foi capaz de gerenciar a etapa de
coleta de dados - buscando, analisando,
selecionando - conseguindo produzir e
construir conhecimento?
Importante
 O aluno conduziu seu projeto sozinho
(autogestão), com a ajuda e orientação do Modificar a forma de
avaliar sugere a
educador (co-gestão), ou precisou do seu reformulação do
processo didático-
direcionamento (heterogestão)? pedagógico,
desarticulando
também a idéia da
Acreditamos que uma avaliação, que se avaliação do ensino
para a avaliação da
proponha a ser uma ocasião de aprendizagem, deve ter aprendizagem.
como foco o desenvolvimento de competências, deve
servir para ajudar esse desenvolvimento, partindo de
ações do professor como observação, questionamento,
registro e feedback, tendo alguns indicadores como
parâmetro para todo o processo.

Qual deveria ser, então, o sentido e a


finalidade da avaliação?

Conhecer melhor o aluno: suas competências


curriculares, seu estilo de aprendizagem, seus
interesses, suas técnicas de trabalho. A isso
poderíamos chamar de avaliação inicial.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 130

Constatar o que está sendo aprendido: o


professor vai recolhendo informações, de forma
contínua e com diversos procedimentos metodológicos
e julgando o grau de aprendizagem, ora em relação à
todo grupo-classe, ora em relação a um determinado
aluno em particular.

Adequar o processo de ensino aos alunos como


grupo e àqueles que apresentam dificuldades, tendo em
vista os objetivos propostos.

Julgar globalmente um processo de ensino-


aprendizagem: ao término de uma determinada
unidade, por exemplo, se faz uma análise e reflexão
sobre o sucesso alcançado em função dos objetivos
previstos e revê-los de acordo com os resultados
apresentados.

O valor da avaliação encontra-se no fato de o


aluno poder tomar conhecimento de seus avanços e
dificuldades. Cabe ao professor desafiá-lo a ultrapassar

Para pensar
as dificuldades e continuar prosseguindo na construção
das informações.
Se avaliar é
sinônimo de
aprimorar, este Se a avaliação contribuir para o
progresso se refere
ao aluno, ao desenvolvimento das capacidades dos alunos, pode-se
currículo, ao
professor e, em dizer que ela se converte em uma ferramenta
definitivo... à escola.
pedagógica, em um elemento que melhora a
Concorda?
aprendizagem do aluno e a qualidade do ensino.

A partir destas finalidades, a avaliação teria as


seguintes características:

 A avaliação deve ser contínua e associada ao


praticar diário do professor: o que nos coloca
que ela deve ser realizada sempre que
possível em situações normais, evitando a
exclusividade da rotina artificial das situações de
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 131

provas, na qual o aluno é medido somente


naquela situação específica, abandonando-se
tudo aquilo que foi realizado em sala de aula
antes da prova. A observação, registrada, é
de grande ajuda para o professor na
realização de um processo de avaliação
contínua;
 A avaliação será global: quando se realiza
tendo em vista as diversas áreas de
capacidades do aluno (cognitiva, motora, de
relações interpessoais, de atuação, a condição
do aluno nos variados elementos do currículo
escolar);
 A avaliação será formativa se concebida como
um meio pedagógico para ajudar o aluno em
seu processo educativo.

Inclusão e avaliação na escola

A abordagem vygotskiana, através do bem


conhecido conceito de zona de desenvolvimento
proximal (ZDP), estabelece uma demarcação modelar
Para refletir
de avaliação em que se busquem as condições
cognitivas emergentes. Não raramente, os educadores
A avaliação (...) tem
e psicólogos detêm-se em indicadores de desempenho de adequar-se à
natureza da
escolar e intelectual superficiais. Assim, é comum a aprendizagem,
levando em conta
afirmação de que determinada criança é portadora de não só os resultados
das tarefas
uma deficiência e que, portanto, apresenta limitação realizadas, o
produto, mas
funcional e uma fraca condição de aprendizagem. A também o que
ocorreu no caminho,
avaliação que se detém no déficit operacional do aluno
o processo. Para
provocará evidentemente um prognóstico negativo. A isso, é preciso
observar: Que
partir da concepção vygotskiana, a avaliação deve-se tentativas o aluno
fez para realizar a
pautar pela possibilidade de superação. atividade? Que
dúvidas manifestou?
Como interagiu com
os outros alunos?
A avaliação superficial através do enfoque Demonstrou alguma
independência?
unilateral, no fracasso escolar do aluno, provoca o Revelou progressos
em relação ao ponto
aviltamento das expectativas sociais. Para o aluno que em que estava?
fracassa na escola e que se desconfie de ter alguma defi-
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 132

ciência, espera-se o encaminhamento para a escola ou


classe especial ou, ainda, uma progressão escolar
muito lenta, o que não “aconselharia” um maior
investimento pedagógico.

A avaliação pode, também, constituir-se, como


prática educativa importante que é, em uma
oportunidade para a cristalização de processos de
preconceito e rejeição social, caso não seja bem
conduzida. Os preconceitos sociais derivados de
processos de avaliação mal elaborados são
particularmente nocivos, porque atingem o educando na
formação de sua auto-imagem, o que pode vir a se
constituir num prejuízo ainda maior para a superação
das dificuldades no âmbito escolar.

A avaliação é nociva quando acontece como


prática elitizante, ou seja, quando classifica o aluno
num cenário de juízos qualitativos como “ fraca”, com
“distúrbio”, com “ alguma síndrome”, com “deficiência”.
O problema reside quando a avaliação é perigosamente
normativa em relação a critérios, em relação à

Para pensar
normatividade curricular e em relação aos
desempenhos dos alunos.
A avaliação deve
servir para auxiliar a
tomada de decisões Há críticas fortes à avaliação fundamentada no
em relação à
continuidade do conceito de diferenças comparativas (entre os alunos)
trabalho pedagógico,
não para definir ou normativas (em relação à normatividade curricular).
quem será excluído
do processo. Você
Isto porque a ilustre dimensão da potencialidade
concorda?
individual fica combalida, ou melhor, as condições
individuais (da criança) do desenvolvimento e
potencialização das habilidades dissimuladas são
desconsideradas em favor da prática pedagógica
discriminadora. Discriminadora porque tende a
desconsiderar ou subestimar potencialidades diversas
de cada educando, tendo em vista que estas não são
solicitadas pela normatividade curricular ou falta ao
professor à vontade e o tempo para sondá-las, conhecê-
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 133

las e criar espaços em sala de aula para o seu


desenvolvimento.

Esta forma de avaliar impede uma avaliação


mais analítica das condições cognitivas e sócio-afetivas
da criança, o que traz limitações para a função
descritiva, prognóstica e prescritiva da avaliação.

O projeto político-pedagógico da escola deve ser


elaborado coletivamente e expor a visão acerca da
missão da unidade escolar, direcionando os critérios
através dos quais as práticas docentes, que estão sendo
desenvolvidas, sejam avaliadas. A avaliação da
aprendizagem não é um julgamento de valor apenas
acerca do aluno, mas também acerca da prática
docente, que tem como resultado o desempenho do
aluno. Segundo Paulo Freire, a avaliação não é um ato
pelo qual A avalia B, mas sim um processo pelo qual A
e B avaliam uma prática educativa. Quando um
professor dá uma explicação sobre um conteúdo e, no
entanto, nos instrumentos de avaliação que ele elabora,
propõe exercícios que abordam aspectos e habilidades
referentes à matéria que não foram trabalhados, o
aluno sente-se “perdido”, sem ter um caminho a seguir,
uma reflexão que possa fazer acerca daquele conteúdo.

Buscando superar uma avaliação parcial das


necessidades educativas especiais dos educandos, a Para refletir

Secretaria de Educação Especial do MEC elaborou, em


Você já se
2002, um documento intitulado “Avaliação para perguntou em que
mundo as pessoas
identificação das necessidades educacionais especiais: com deficiências
vivem? Ou viverão?
subsídios para os sistemas de ensino, na reflexão de Em um mundo
protegido? Em um
seus atuais modelos de avaliação”. O documento
mundo especial?
defende que os rumos da avaliação devem estar a
serviço da:

 Implementação dos apoios necessários ao


progresso e ao sucesso dos alunos;
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 134

 Melhoria das respostas educativas oferecidas


no contexto educacional escolar e, se
possível, no familiar.

O documento situa-se na perspectiva da


educação inclusiva e, em decorrência, tem como
princípios básicos:

 A avaliação é um processo compartilhado a


ser desenvolvido, preferencialmente, na
escola, envolvendo os agentes educacionais.
Tem como finalidade conhecer para intervir,
de modo preventivo e/ou remediativo, sobre as
variáveis identificadas como barreiras para a
aprendizagem e para a participação,
contribuindo para o desenvolvimento global
do aluno e para o aprimoramento das
instituições de ensino;
 A avaliação se constitui em processo contínuo
e permanente de análise das variáveis que
interferem no processo ensino-aprendizagem,
objetivando identificar potencialidades e
necessidades educacionais dos alunos e das
condições da escola e da família.
Você sabia?
O documento faz a observação que é
Feuerstein é praticamente impossível avaliar tudo ao mesmo tempo.
conhecido
mundialmente, pelos Por essa razão, apontam-se indicadores específicos de
métodos elaborados
na área da avaliação aspectos a serem considerados, mas que devem ser
e do apoio
cognitivo? Ele
analisados na reciprocidade de suas influências bem
fundamenta seu
como na sua prioridade para análise, segundo os
trabalho sobre dois
conceitos básicos: o objetivos da avaliação.
primeiro, a premissa
de que as
experiências de
Enquanto educadores, não devemos esquecer de
mediação na
primeira infância são que a avaliação é circular, englobando todos os sujeitos
fator primordial na
qualidade do envolvidos no processo de ensinar da escola. Assim,
desenvolvimento
infantil; e o como avaliamos, também, somos avaliados em nossas
segundo, o conceito
de avaliação do práticas docentes, pelos alunos, pela equipe
potencial da
aprendizagem. pedagógica/administrativa, pela família de nossos
alunos.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 135

Conclusão

Em função de ser inclusivo, o ato de avaliar,


conseqüentemente, é democrático, pois que seu modo
de ser implica a compreensão de que todos podem
aprender tudo, contanto que haja conteúdo, método de
ensino e tempo necessário para ensinar e aprender. A
aprendizagem é para todos e não para alguns. Isso
exige investimento no sistema de ensino por parte dos
gestores da educação, públicos e privados, mas
também na prática pedagógica por parte dos
educadores e educadoras.

Afinal, decorrente do fato da avaliação ser


democrática, ela necessita de ser dialógica. Sem
diálogo não há avaliação. A avaliação da aprendizagem
não é irrestrita; aliás, nenhuma prática avaliativa pode
ser absoluta. Muitas vezes, ela exigirá do avaliador a
negociação: olhar a realidade da aprendizagem tanto
do ponto de vista do que é ensinado e do ponto de
vista do educador, como também do ponto de vista do
educando, de sua situação e de sua conjuntura.
Existirão situações, nas quais nós, educadores,
olharemos o desempenho de nosso educando a partir
de um determinado foco e, por outro lado, nosso
educando olhará essa atuação a partir de um outro
foco. Esse “outro olhar” do aluno, em princípio, não
Para pensar
necessariamente significará erro; poderá significar
simplesmente outro conhecimento, também correto, na
Como você avalia as
medida em que está sendo visto sob outra ótica de experiências de
inclusão que já
entendimento. ocorreram nas
escolas que você
conhece?
Em resumo, o ato de avaliar a aprendizagem do
educando é um ato de cuidar da qualidade de sua
aprendizagem, o que quer dizer averiguação com
intervenção, tendo sempre em vista a melhoria do
desempenho do educando como ser humano e como
aprendiz.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 136

EXERCÍCIO 1

A função formativa da aprendizagem:

(A) Permite constatar se os alunos estão, de fato,


atingindo os objetivos pretendidos;
(B) Verifica a compatibilidade entre os objetivos e os
resultados efetivamente alcançados durante o
desenvolvimento das atividades propostas;
(C) Representa o principal meio através do qual o
estudante passa a conhecer seus erros e
acertos, assim como maior estímulo para um
estudo sistemático dos conteúdos;
(D) Permite que o professor detecte e afaste
deficiências na forma de ensinar, possibilitando
reformulações no seu trabalho didático, visando
aperfeiçoá-lo;
(E) Visa informar o professor e o aluno sobre o
rendimento da aprendizagem no decorrer das
atividades escolares e a localização das
deficiências na organização do ensino para
possibilitar correção e recuperação.
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 137

EXERCÍCIO 2

Ao avaliar a produção escrita dos alunos surdos em


Língua Portuguesa, os professores deverão ser
orientados para que:

(A) O aluno tenha acesso ao dicionário e, se


possível, ao intérprete no momento do exame;
(B) A avaliação do conhecimento utilize critérios
compatíveis com as características inerentes a
esses educandos;
(C) A maior irrelevância seja dada ao conteúdo
(nível semântico), ao aspecto cognitivo de sua
linguagem, coerência e seqüência lógica das
idéias;
(D) A forma da linguagem (nível morfossintático)
seja avaliada com mais flexibilidade, dando
maior valor ao uso de termos da oração, como
os termos essenciais,os termos complementares
e, por último, os termos acessórios, não sendo
por demais exigente no que diz respeito ao
elemento coesivo;
(E) Ao avaliar o conhecimento do aluno surdo, o
professor não deve supervalorizar os erros da
estrutura formal da Língua Portuguesa em
detrimento do conteúdo.

EXERCÍCIO 3

Como deve ser efetivada, na prática, a avaliação


diagnóstica?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Avaliação na Educação Inclusiva 138

EXERCÍCIO 4

Comentar: Avaliar deve servir para cada vez mais


permitir a cada um aprender!
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO
Vimos até agora:

 O valor da avaliação encontra-se no fato do


aluno poder tomar conhecimento de seus
avanços e dificuldades, portanto, cabe ao
professor desafiá-lo a ultrapassar as
dificuldades e continuar prosseguindo na
construção das informações;

 A avaliação pode também constituir-se, como


prática educativa importante que é, em uma
oportunidade para a cristalização de
processos de preconceito e rejeição social,
caso não seja bem conduzida. Os
preconceitos sociais derivados de processos
de avaliação mal elaborados são
particularmente nocivos, porque atingem o
educando na formação de sua auto-imagem,
o que pode vir a se constituir num prejuízo
ainda maior para a superação das dificuldades
no âmbito escolar;

 Um dos princípios básicos da avaliação é que


esta deve se constituir em processo contínuo
e permanente de análise das variáveis que
interferem no processo ensino-aprendizagem,
objetivando identificar potencialidades e
necessidades educacionais dos alunos e das
condições da escola e da família.
5

AULA
Informática na
Educação Inclusiva
Edla Trocoli
Apresentação

Nesta aula será abordado o uso das tecnologias na educação


inclusiva, tendo como análise as grandes dificuldades enfrentadas
pelas pessoas com deficiência em nossa sociedade, os
preconceitos vivenciados e as exclusões toleradas, que tornam
urgente a construção de novas possibilidades e aberturas para a
redução dessas desigualdades sociais. Neste sentido, discute-se
também a necessidade de desenvolver recursos de acessibilidade,
as chamadas Tecnologias Assistivas que representa uma maneira
concreta de paralisar as barreiras causadas pela deficiência e
implantar esse indivíduo nos ambientes ricos para a aprendizagem
e desenvolvimento, adaptados pela cultura.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Discutir amplamente à acessibilidade que significa não apenas


permitir que pessoas com deficiências participem de atividades
Objetivos

que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a


inclusão e extensão do uso destes por todas as parcelas
presentes em uma determinada população, com restrições
mínimas possíveis;
 Identificar a importância da tecnologia assistiva que se refere
ao conjunto de recursos e aparelhos que contribuem para
proporcionar ou aumentar habilidades funcionais de pessoas
com deficiência e, conseqüentemente, promover uma vida mais
independente;
 Analisar formas e exemplos de acessibilidade nas deficiências:
visual, auditiva, física e mental
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 140

Introdução

Segundo a Organização Mundial da Saúde


(OMS), 10% da população mundial é composta de
pessoas com algum tipo de deficiência. No Brasil, esse
número salta para 14,5% da população, segundo o
IBGE (Censo 2000), sendo que um grande componente
dessa população vive realidades de graves carências
sociais como baixa renda e baixo nível de escolaridade,
o que só reforça as dificuldades dessas pessoas, em
função das barreiras, preconceitos, desigualdades e
desinformação, conforme vem sendo detectado e
alertado por diferentes organizações de defesa dos
direitos da pessoa com deficiência.

As grandes dificuldades enfrentadas pelas


pessoas com deficiência em nossa sociedade, os
preconceitos vivenciados e as exclusões toleradas
tornam urgente a construção de novas possibilidades e
aberturas para a redução dessas desigualdades sociais.
Os progressos da ciência, os novos estudos e as
descobertas, por outro lado, oferecem rastros e brilho
para a busca de soluções.

É sabido que as Tecnologias de Informação e


Comunicação (TICs) vêm se tornando, em forma
crescente, respeitáveis instrumentos de nossa cultura
e, sua utilização, um meio real de inclusão e interação
no mundo. E, como destacou Vygotsky, é sumamente
relevante, para o desenvolvimento humano, o processo
de apropriação, por parte do indivíduo, das
experiências presentes em sua cultura. O autor enfatiza
a importância da ação, da linguagem e dos processos
interativos, na construção das estruturas mentais
superiores. O acesso aos recursos oferecidos pela
sociedade, pela cultura, pela escola, pelas tecnologias
influencia determinantemente nos processos de
aprendizagem e desenvolvimento da pessoa.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 141

Contudo, as limitações da pessoa com


deficiência tendem a tornar-se uma barreira a estes
processos. Desenvolver recursos de acessibilidade, as
chamadas Tecnologias Assistivas, seria uma maneira
concreta de paralisar as barreiras causadas pela
deficiência e implantar esse indivíduo nos ambientes
ricos para a aprendizagem e desenvolvimento,
adaptados para a cultura.

Outra dificuldade que as limitações de interação


trazem consigo são os preconceitos aos quais as
pessoas com deficiências estão sujeitas. Desenvolver
recursos de acessibilidade também pode significar
condenar esses preconceitos, pois, no momento em
que lhe são dadas as condições para interagir e
aprender, especificando o seu pensamento, o indivíduo
com deficiência mais facilmente será tratado como um
"diferente-igual"... Ou seja, "diferente" por sua
condição de pessoa com deficiência, mas ao mesmo
tempo "igual" por interagir, relacionar-se e competir
em seu meio com recursos mais intensos,
proporcionados pelas adequações de acessibilidade de
que dispõe. É visto como "igual", portanto, na medida
em que suas "diferenças", cada vez mais, são
estabelecidas e se assemelham com as diferenças
inerentes existentes entre todos os seres humanos.
Esse indivíduo poderá, então, dar caminhadas maiores
em direção ao cancelamento das discriminações, como
conseqüência da consideração conquistada com a
convivência, aumentando sua auto-estima, porque
passa a poder explicitar melhor seu potencial e
pensamentos.

A estrutura das sociedades, desde o seu início,


sempre incapacitou as pessoas com deficiência,
marginalizando-as e tirando-lhes o livre-arbítrio. Essas
pessoas, sem respeito, sem atendimento, sem direitos,
sempre foram mira de atitudes preconceituosas e ações
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 142

sempre foram mira de atitudes preconceituosas e ações


indiferentes.

Para pensar
Nos últimos anos, ações isoladas de educadores
Atualmente, a e de pais têm promovido e praticado a inclusão, nas
tecnologia assistiva
é pouco utilizada no escolas, de pessoas com algum tipo de deficiência,
país por conta do
desconhecimento visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no
técnico dos
profissionais de sentido de permitir o pleno desenvolvimento e o
saúde e também em
razão de ingresso a todos os recursos da sociedade por parte
insuficiência de
recursos financeiros
desse segmento.
para aquisição dos
dispositivos e
custeio do serviço A educação como instituição de gestão de
dos órgãos públicos
de saúde e também conhecimento abrange quatro processos fundamentais:
pelas empresas
privadas do setor. planejamento, administração de recursos (físicos,
Você não acredita
que a mídia ajudaria financeiros, de informação), avaliação e atualização
divulgando este tipo
de ferramenta? periódica (de conteúdos, metodologias, formas
organizativas) em função de modificações sociais,
tecnológicas e econômicas, articulação de processos
educativos desenvolvidos durante a vida das pessoas.

Concluindo, educação inclusiva equivale à


educação de qualidade para todos.

Hoje, a qualidade da educação extrapola os


critérios ligados com a assimilação de conhecimento, a
utilização de códigos elaborados na comunicação, o
desenvolvimento da capacidade fértil em termos
econômicos ou a transmissão de informação.

Uma educação de qualidade nos termos


descritos é a base da formação de uma personalidade
harmoniosa de um ser humano e das coletividades
humanas como conjunto. O que neste momento é o
”sonho”’ de todos nós que moramos em grandes
centros urbanos.

Fundamentados nessas idéias, não são os


indivíduos que deveriam ser exigidos de se adaptarem às
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 143

condições materiais, pedagógicas, administrativas de


uma educação delineada em função das necessidades
de uma boa parte da sociedade, mas é a organização
social e material da educação que deve se adequar às
necessidades características próprias de todas as
ordens que existem nos indivíduos. Esta adequabilidade
da educação é justamente uma das características de
qualidade, do mesmo jeito que uma sociedade bem
organizada deve ser capaz de atender as necessidades
e as aspirações de todos seus elementos. Este seria o
fator, por excelência, de uma sociedade inclusiva. Para pensar

Essa situação se
Mas a inclusão social em geral e na educação em intensifica junto aos
mais carentes, pois
particular não se refere só ao acesso aos serviços a falta de recursos
educativos. Ela é muito mais do que isso. Inclusão tem econômicos diminui
as chances de um
implicações nos processos comunicativos, pedagógicos, atendimento de
qualidade. Tem-se aí
administrativos dentro das instituições e programas um agravante: o
potencial e as
educativos, mas também entre eles e os contextos habilidades dessas
pessoas são pouco
sociais, culturais e naturais onde tais processos são valorizados nas suas
comunidades de
desenvolvidos. Ainda mais, a educação como processo origem que,
obviamente,
social será ou inclusiva ou excludente, dependendo possuem pouco
esclarecimento a
também de fatores extra-escolares, tais como serviços respeito das
deficiências. Onde
básicos de saúde, nutrição, informação, comunicação, e
estão as causas da
da acessibilidade que tais serviços apresentam para os exclusão dessas
pessoas no Brasil?
sujeitos atuais e potenciais da educação.

Acessibilidade significa não apenas permitir que


pessoas com deficiências participem de atividades que
incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas
a inclusão e a extensão do uso destes por todas as
parcelas presentes em uma determinada população,
com restrições mínimas possíveis.

Em informática, programas que provêm


acessibilidade são ferramentas ou conjuntos de
ferramentas que permitem que pessoas com deficiências
(as mais variadas) se utilizem dos recursos que o
computador oferece. Essas ferramentas podem constituir
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 144

leitores de écran para deficientes visuais, teclados


virtuais para portadores de deficiência motora ou com
dificuldades de coordenação motora, e sintetizadores
de voz para pessoas com problemas de fala.

Para a estimulação da pessoa com deficiência, a


tecnologia da informação é fundamental, pois a
presteza da renovação do saber e as formas interativas
da informática educativa trazem uma nova perspectiva
de educação para essa população. É necessário,
portanto, criar serviços e propostas educativas abertas
e flexíveis que atendam às necessidades de mudanças.

A informática educativa não só demonstra que a


maior parte dos conhecimentos adquiridos por uma
pessoa no início de sua vida educacional estará
ultrapassada ao final de um certo tempo, como

Importante
também aponta novas formas de habilitação e
reabilitação de pessoas com deficiência. Esse fenômeno
E o que fazer para de apreensão de transformações constantes deve ser
que tenhamos um
conhecimento posto ao alcance das pessoas com deficiência.
nascente de cada
ação educativa da
difusão de
informações ? Ao refletirmos na utilização de computadores na
Primeiramente,
temos de nos guiar
educação, devemos considerar a colaboração que a
pelos princípios dos educação dá às melhoras sociais e que a tecnologia é
direitos humanos,
apostando, mesmo importante como meio para alcançar esses fins, não
sendo chamados de
sonhadores, em um indicando finalidades e valores norteadores para seus
futuro sem
exclusões, onde a usuários. São estes usuários que se utilizarão dela para
busca da
convivência ou, conduzir finalidades e valores adequados à sua
melhor ainda, o
respeito com as realidade. Desta forma, as crianças com deficiência não
diferenças, sejam
elas quais forem. podem mais continuar aliviadas do uso da informática
no processo ensino-aprendizagem.

Hoje, o homem está cercado pelos


computadores, portanto, cabe à educação especial
congregar esse instrumento ao seu cotidiano, para que,
desta forma, possa contribuir para facilitar a vida do
indivíduo em seu meio social. Neste sentido, o processo de
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 145

desenvolvimento da criança com deficiência, não mais


que as outras, necessita de acionar as novas
tecnologias, sobretudo a informática. A introdução de
um trabalho pedagógico apoiado no computador pode
despertar na criança, seja ela com deficiência ou não, o
Para refletir
interesse e a motivação pela descoberta do
conhecimento, a partir do mecanismo do aprender -
Hoje, o mestre
fazendo. convive com alunos
que acessam pela
televisão, pelo
computador, pelo
A utilização do computador com uma clientela
telefone, por livros
portadora de deficiência cria um ambiente de bases de informação
abertas, o que torna
aprendizagem no qual não há riscos de bloqueios impossível dominar
todas elas. Os
cognitivos em função de problemas emotivos ou de alunos trazem
também as vivências
faltas na capacidade de relacionamento. O computador do cotidiano. É
impraticável uma só
se apresenta como uma máquina que repete pessoa acessar o
conjunto de saberes
obedientemente o trabalho, responde perguntas, cala- transmitidos pela
tradição e pelos
se ao simples apertar de teclas e não provoca meios de
comunicação da
constrangimentos afetivos durante as situações de
atualidade.
aprendizagem propostas.

Desenvolvimento

A palavra "tecnologia" encontra-se hoje com a


mesma propagação de outrora das palavras
"democracia e liberdade". O homem chamado moderno
não pode se desprender destes significados e
significantes tão próximos, embora ainda com uma
certa dose de fantasia na sua realização. As novas
tecnologias já ultrapassam o campo do visível e das
ferramentas, são também meios e métodos de
intervenção na vida de todos nós.

Embora a informática seja mais desenvolvida ou


disseminada na área da deficiência visual, entrevemos
outras possibilidades de aplicação no caso de
deficiências física, sensorial e/ou mental, incapacidade
motora, disfunções na área da linguagem. Neste
sentido, identificamos a experiência de projetos e
iniciativas que apresentam recursos, de baixo custo e de
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 146

simples construção, com a finalidade de responder às


necessidades sólidas de cada aluno e possibilitar sua
interação com o computador.

O custo referente à produção e à obtenção de


ferramentas, equipamentos, aparelhos e materiais
auxiliares é sempre difícil no que se refere à realidade
brasileira, pois não existe atribuição obrigatória de
ajudas técnicas. O que se observa é a concessão de
órteses e próteses, em pequena escala, de uma forma
ocasional e insuficiente para atender à questão de uma
Para refletir
população economicamente desamparada.

Os avanços
tecnológicos estão
A expressão “acessibilidade”, presente em
teoricamente
colocando, sob o diferentes áreas de atividade, tem também na
controle humano, a
manipulação dos informática um extraordinário significado.
componentes
genéticos da vida.
Isto apresenta novas
dimensões éticas ao Representa para o nosso usuário não só o direito
diálogo internacional
sobre a prevenção de acessar a rede de informações, mas também o
de deficiências. No
terceiro milênio, nós direito de eliminação de barreiras arquitetônicas, de
precisamos criar
políticas sensíveis disponibilidade de comunicação, de acesso físico, de
que respeitem tanto
a dignidade de todas
equipamentos e programas adaptados, de conteúdo e
as pessoas como os apresentação da informação em formatos alternados.
inerentes benefícios
e harmonia
derivados da ampla
diversidade As tecnologias são, no campo da Educação, de
existente entre elas.
uso muito remoto, muito embora não estejamos
reconhecendo um "quadro-negro" como uma
ferramenta tecnológica, ou mesmo um pedaço de giz,
mas podemos dizer que os homens vêm idealizando e
recriando aparelhos, ferramentas, técnicas e
tecnologias instrumentais, mas também vêm
aperfeiçoando as chamadas tecnologias simbólicas,
como a linguagem, a escrita, as representações
simbólicas. Assim, fazendo uso dessas tecnologias nos
processos de organização do trabalho, das relações
humanas e, mais modernamente, das técnicas de
mercado.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 147

Tecnologia Assistiva é um termo ainda novo,


utilizado para identificar todo o conjunto de recursos e
aparelhos que contribuem para proporcionar ou
aumentar habilidades funcionais de pessoas com
deficiência e, conseqüentemente, promover uma vida
mais independente e a inclusão.

Num sentido mais extenso, entendemos que a


evolução tecnológica caminha na direção de tornar a
vida mais fácil. Sem nos apercebermos, utilizamos
constantemente ferramentas que foram especialmente
desenvolvidas para favorecer e simplificar as atividades
do cotidiano como os talheres, as canetas, os
computadores, o controle remoto, aos automóveis, aos
telefones celulares, o relógio, enfim, uma interminável
lista de recursos, que já está assimilada a nossa rotina
e, num senso geral, “são instrumentos que facilitam
nosso desempenho em funções pretendidas”.

Resumindo, podemos dizer que o objetivo maior


da Tecnologia Assistiva é proporcionar à pessoa com
deficiência maior independência, qualidade de vida e
inclusão social, através da ampliação de sua
comunicação, mobilidade, desenvoltura de seu
Você sabia?
aprendizado e trabalho.

A tecnologia é
considerada
Categorias de Tecnologia Assistiva assistiva quando é
usada para auxiliar
no desempenho
funcional de
 AUXÍLIOS PARA A VIDA DIÁRIA E A VIDA PRÁTICA
atividades,
reduzindo
incapacidades para a
Materiais e produtos que favorecem o realização de ações
da vida diária e da
desempenho autônomo e independente em tarefas vida prática, nos
diversos domínios
rotineiras ou facilitam o cuidado de pessoas em do cotidiano. É
diferente da
situação de dependência de auxílio, nas atividades tecnologia
reabilitadora, usada,
como se alimentar, cozinhar, vestir-se, tomar banho e por exemplo, para
auxiliar na
executar necessidades pessoais. São exemplos os recuperação de
movimentos
talheres modificados, suportes para utensílios
diminuídos.
domésticos, roupas desenhadas para facilitar o vestir e
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 148

despir, abotoadores, velcro, recursos para


transferência, barras de apoio.

 COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA E ALTERNATIVA

Destinada a atender pessoas sem fala ou escrita


funcional ou em defasagem entre sua necessidade
comunicativa e sua habilidade em falar e/ou escrever.
Recursos como as pranchas de comunicação,
construídas com simbologia gráfica, letras ou palavras
escritas, são utilizados pelos usuários para expressarem
suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. A
alta tecnologia dos vocalizadores (pranchas com
produção de voz) ou o computador com softwares
específicos garante grande eficiência à função
comunicativa.

 RECURSOS DE ACESSIBILIDADE AO
COMPUTADOR

Conjunto de hardware e software especialmente


idealizado para tornar o computador acessível, no
sentido de que possa ser utilizado por pessoas com
privações sensoriais e motoras.

São exemplos de equipamentos de entrada os


teclados modificados, os teclados virtuais com
varredura, mouses especiais e acionadores diversos,
softwares de reconhecimento de voz, escaner,
ponteiras de cabeça por luz, entre outros.

Como equipamentos de saída, podemos citar a


síntese de voz, os monitores especiais, os softwares
leitores de texto, as impressoras braile.

 SISTEMAS DE CONTROLE DE AMBIENTE

Através de um controle remoto, as pessoas com


limitações motoras podem ligar, desligar e ajustar apare-
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 149

lhos eletro-eletrônicos como a luz, o som, os


televisores, os ventiladores, executar a abertura e o
fechamento de portas e janelas, receber e fazer
chamadas telefônicas, acionar sistemas de segurança,
entre outros, localizados em seu quarto, sala,
escritório, casa e arredores. O controle remoto pode ser
ativado de forma direta ou indireta e, neste caso, um
sistema de varredura é disparado e a seleção do
aparelho, bem como a determinação de que seja
ativado, se dará por acionadores (localizados em
qualquer parte do corpo) que podem ser de pressão, de
Você sabia?
sopro, de piscar de olhos, por comando de voz.
Apesar de
desenvolver
 PROJETOS ARQUITETÔNICOS PARA tecnologia de ponta
com possibilidades
ACESSIBILIDADE de competição no
mercado externo, a
acessibilidade no
Brasil enfrenta
Adaptações estruturais e reformas na casa e/ou
dificuldades para
ambiente de trabalho, através de rampas, elevadores, manter a equipe
técnica e precisa
adaptações em banheiros entre outras, que retiram ou consolidar parcerias
que garantam a
reduzem as barreiras físicas, facilitando a locomoção da sobrevivência e a
continuidade dos
pessoa com deficiência. projetos.

Pode-se, então, concluir que a acessibilidade é


respectivamente:

 Uma necessidade cada vez maior das pessoas


com deficiências;
 Uma estratégia de negócio, pois amplia
consideravelmente o público alvo;
 Uma questão de justiça social;
 Uma adequação às nossas leis;
 Uma adequação às diretrizes internacionais.

 ÓRTESES E PRÓTESES

Próteses são peças artificiais que substituem


partes ausentes do corpo.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 150

Órteses são colocadas junto a um segmento do


corpo, garantindo-lhe um melhor posicionamento,
estabilização e/ou função. São normalmente
confeccionadas sob medida e servem no auxílio de
mobilidade, de funções manuais (escrita, digitação,
utilização de talheres, manejo de objetos para higiene
Você sabia? pessoal), correção postural, entre outros.

Incluem as
modificações em  AUXÍLIOS DE MOBILIDADE
veículos para a
direção segura,
sistemas para A mobilidade pode ser auxiliada por bengalas,
acesso e saída do
veículo, como muletas, andadores, carrinhos, cadeiras de rodas
elevadores de
plataforma ou manuais ou elétricas e qualquer outro veículo ou
dobráveis,
plataformas equipamento ou estratégia utilizada na melhoria da
rotativas,
plataformas sob o mobilidade pessoal. Um exemplo de tática seria a
veículo, guindastes,
tábuas de colocação de pistas sensoriais facilitando a identificação
transferência,
correias e barras. do lugar, dentro de um espaço controlado como a casa,
a escola ou o trabalho.

 AUXÍLIOS PARA CEGOS OU PARA PESSOAS


COM VISÃO SUBNORMAL

Equipamentos que visam a independência das


pessoas com deficiência visual na realização de tarefas
como consultar o relógio, usar calculadora, verificar a
temperatura do corpo, identificar se as luzes estão
acesas ou apagadas, cozinhar, identificar cores e peças
do vestuário, verificar pressão arterial, identificar
chamadas telefônicas, escrever, ter mobilidade
independente. Incluem-se também auxílios ópticos,
lentes, lupas; os softwares leitores de tela, leitores de
texto, ampliadores de tela; os hardwares como as
impressoras braile, lupas eletrônicas, linha braile –
dispositivo de saída de computador com agulhas táteis,
agendas eletrônicas.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 151

 ADAPTAÇÕES EM VEÍCULOS

Acessórios e adaptações que possibilitam uma


pessoa com deficiência física dirigir um automóvel,
facilitadores de embarque e desembarque como
elevadores para cadeiras de rodas (utilizados nos carros
particulares ou de transporte coletivo), rampas para
cadeiras de rodas, serviços de auto-escola para pessoas
com deficiência.

 DISTINÇÃO ENTRE TECNOLOGIAS: ASSISTIVA,


MÉDICA E DE REABILITAÇÃO

O entendimento do conceito da Tecnologia


Assistiva elucida a sua distinção daquilo que chamamos
de tecnologia médica ou tecnologia da reabilitação.
Estas são destinadas a favorecer averiguação
diagnóstica e tratamento de saúde e de reabilitação
física, propriamente dita, sendo instrumentos de
trabalho dos profissionais desta área de atuação.

A Tecnologia Assistiva, no entanto, é entendida


como o recurso do usuário, da pessoa com deficiência e
atende sua necessidade pessoal de exercer funções do
cotidiano de forma mais independente. Todo projeto
para determinação e utilização de um recurso
Tecnologia Assistiva implica o envolvimento direto de
seu usuário, do conhecimento de seu contexto e deve
estimar suas intenções funcionais, bem como suas
capacidades atuais, que serão “dilatadas” pela
utilização do recurso proposto. Também o contexto,
meio onde a pessoa com deficiência está ou deseja
estar inserida, pode necessitar de adaptações no
sentido de promover acessibilidade e possibilidades de
seu desempenho independente em tarefas por ele
estabelecidas.

Devemos recomendar que:


Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 152

 Toda criança tem direito fundamental à


educação e deve ser dada a oportunidade de
Dica da
professora atingir e manter o nível adequado de
aprendizagem;
Deve-se lembrar,
sempre, que o
princípio  Toda criança possui características,
fundamental da
sociedade inclusiva é interesses, habilidades e necessidades de
o de que todas as
pessoas portadoras aprendizagem que são únicas;
de deficiência devem
ter suas
necessidades  Sistemas educacionais deveriam ser indicados
especiais atendidas.
É no atendimento e programas educacionais deveriam ser
das diversidades que
se encontra a implementados no sentido de se levar em
democracia. O que
podemos fazer conta a ampla diversidade de tais
diante deste
quadro? características e necessidades;

 Aqueles com necessidades educacionais


especiais devem ter acesso à escola regular,
que deveria acomodá-los dentro de uma
pedagogia centrada na criança, capaz de
satisfazer tais necessidades;

 Escolas regulares, que possuam tal direção


inclusiva, constituem os meios mais
dinâmicos de condenar atitudes
discriminatórias, criando-se grupos
acolhedores, construindo uma sociedade
inclusiva e alcançando educação para todos;
além disso, tais escolas fornecem uma
educação efetiva à maioria das crianças e
aperfeiçoam a eficiência e, em última
instância, o custo da eficácia de todo o
sistema educacional.

Ao pensarmos na utilização de computadores na


educação, devemos avaliar a colaboração que a
educação dá às reformas sociais e que a tecnologia é
importante como meio para alcançar estes fins, não
indicando finalidades e valores norteadores para seus
usuários. São estes usuários que se utilizarão dela para
conduzir finalidades e valores adaptados à sua realidade.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 153

Desta forma, as crianças com deficiência não podem


mais continuar privadas do uso da informática no
processo ensino-aprendizagem.

Os professores devem organizar suas metas


partindo da realidade, das necessidades e dos
interesses de sua clientela, tentando despertar o prazer Você sabia?

pela descoberta, provocando a mudança de


O termo tecnologia
comportamento tão desejada por aqueles que assistiva é novo, no
pretendem a reestruturação da educação. Aqueles que entanto, sua origem,
de fato, pode estar
acreditam que esses novos tempos exigem novas na pré-história,
quando o homem
condutas de ajuda recíproca, de muita flexibilidade e de fez, pela primeira
vez, o uso de um
criatividade para responder questões que a sofisticação galho de árvore,
promovendo com ele
da sociedade da era da informação exige dos cidadãos, apoio para seguir
caminhando, ao
e, entre eles, dos portadores de necessidades fraturar uma de
suas pernas, após
educativas especiais. Principalmente, se entendermos uma queda,
servindo de
Vygotsky ao afirmar que a deficiência não é só bengala?
impossibilidade, mas também é força.

O professor, como mediador pedagógico, deve


apresentar as seguintes características:

1) Tem de estar voltado para a aprendizagem do


aluno, assumindo que o aprendiz é o centro
do universo do ensino;
2) Professor e aluno constituem a célula básica
do desenvolvimento da aprendizagem, por
meio de ações e relações conjuntas;
3) Deve haver co-responsabilidade e parcerias
nesse processo;
4) Criação de um clima de mútuo respeito entre
professor e aluno;
5) Domínio profundo de sua área de
conhecimento, demonstrando competência ;
6) Criatividade, como elemento de busca e
motivação para o surgimento de situações
inesperadas;
7) Disponibilidade para o diálogo;
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 154

8) Subjetividade e individualidade: professor e


alunos são seres humanos, com
subjetividades e com identidades individuais;
comunicação e expressão em função da
aprendizagem.

A utilização do computador, para pessoas com

Para refletir deficiência, cria um ambiente de aprendizagem na qual


não há riscos de bloqueios cognitivos em função de
A educação especial problemas emotivos ou de faltas na capacidade de
ainda segue um
modelo de ensino relacionamento. O computador, diferentemente dos
“em separado” para
a grande maioria seres humanos, não se lamenta, não grita e não pune
dos alunos com
deficiência em nosso em caso de erro. O computador se apresenta como
país, e algumas
vezes copia práticas uma máquina que repete docilmente o trabalho,
da reabilitação,
pontuando o responde perguntas, cala-se ao simples apertar de
“déficit” e pautando-
teclas e não provoca constrangimentos afetivos durante
se nas deficiências e
não nas as situações de aprendizagem propostas.
possibilidades reais
de aprendizagem e
desenvolvimento de
seus alunos. Vivemos em um mundo dominado pela
informação e por processos que ocorrem de maneira
muito rápida e, às vezes, imperceptível. Os fatos e
alguns processos específicos que a escola ensina,
rapidamente, se tornam antiquados e inúteis. Neste
cenário, a memorização de informações dá lugar ao
desenvolvimento da capacidade de procurar, selecionar
e utilizar a informação.

Desta maneira, a realidade da informática


educativa é o uso do computador não como "máquina
de ensinar", mas como uma mídia educacional. Isto é,
o computador deve ser utilizado como um instrumento
educacional, um instrumento de complementação, de
aprimoramento e de possível mudança na qualidade da
educação. Estas mudanças podem ser introduzidas com
a presença do computador e da internet que devem
cooperar para a criação das condições de proporcionar
aos estudantes o exercício da capacidade de procurar e
selecionar informação, resolver problemas e instruir-se in-
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 155

dependentemente.

A escola ajuda a irradiar conhecimentos que


influenciam a formação de novos hábitos e atitudes em
casa, ela amplia o espaço de geração de informação.
Irradia informações que ajudam as pessoas a aprenderem.
É reconhecida como responsável por uma função social
importante: a geração do conhecimento para todos.

A realização da proposta curricular situa-se


nesse contexto de mudança, em que mais do que
abandonar a concepção seqüencial dos conteúdos dos
currículos tradicionais busca inserir a escola no mundo
de oportunidades que fluem pelos novos meios de
comunicação. A utilização didática das novas
tecnologias da informação e da comunicação favorece o
processo pedagógico da proposta curricular no mundo
novo. É, pois, obrigação ética de uma política pública
de educação desenvolver as possibilidades de utilização
desse importante meio didático.

Daí o esforço pela inclusão digital nas escolas e


pelo enriquecimento e ampliação dos centros das novas Para pensar

tecnologias educacionais. Ou seja, não é o currículo que


As novas tecnologias
muda, entendido apenas como uma seqüência de ajudam a formar
competências como
disciplinas. O que é possível modificar e enriquecer é o
o julgamento, o
conteúdo da aprendizagem em um processo interativo senso crítico, o
pensamento
de comunicação que tenha infra-estrutura atualizada de hipotético e
dedutivo, a
tecnologias educacionais. Também é possível estender imaginação, a
capacidade de
os espaços para que o processo de ensino- observar, memorizar
e classificar, a
aprendizagem se dê de um estilo aberto, em que leitura e a análise de
textos e de
professor e alunos interajam com contentamento na imagens...
geração contínua do novo conhecimento.

As novas tecnologias têm transformado todas as


organizações modernas, inclusive a escola. Tornam
necessário construir uma escola diferente, administrada
de uma forma diferente e com um processo diferente de
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 156

ensino-aprendizagem. O diferencial é sair do padrão


autocrático, pautado pela relação autoritária de direção
e obediência, pela qual um manda e o outro obedece,
um ensina e o outro aprende, para um processo público
de gestão e de educação em que as pessoas interagem
e se comprometem de forma coletiva com os objetivos e
se comprometem de forma coletiva com os objetivos
educacionais e com a direção de futuro desejada.

É esta a escola aberta e integrada. Aberta,


porque desfaz os limites da sala de aula e dos muros da
escola e se abre para enriquecer o processo de
interação dos professores e alunos com as famílias,
com a comunidade e com os demais agentes sociais,
em atividades de aprendizagem que incluem, por
exemplo, o lazer, a cultura, a arte nas suas diversas
expressões, o esporte, a refeição em comum, as
atividades cívicas. Os conteúdos curriculares são
enriquecidos nesse processo em que todos contribuem
para afluir informações e compartilhá-las. Daí a escola
integrada: mais do que o tempo global de convívio com
as práticas tradicionais, integra-se na direção de novos

Para refletir conteúdos, de novas vivências e de novas relações com


a comunidade.
Não sei se uma
cultura informática
deveria ser mais um A idéia do aprendizado através de projetos, a
objetivo da
escolaridade básica, chamada "pedagogia de projetos", é um exemplo de
já que a escola tem
dificuldades para uma forma de criar ambientes de aprendizagem
atingir seus
objetivos mais informatizados abertos, com a finalidade de ir
fundamentais como
o domínio da leitura
aprofundando conceitos e construindo os
e do raciocínio. conhecimentos.
Porém o mundo da
informática, com
seus editores de
textos, cd-rom, Manejando preferencialmente softwares e
softwares
maravilhosos, sistemas abertos, ou seja, aqueles que permitam ao
correio eletrônico.
Está aí, e um dia é aluno o desenvolvimento de projetos em diferentes
necessário começar
a aprender para áreas do conhecimento, recorrendo, para isto, a sua
entrar nele. Você
acredita nesta idéia? criatividade e mecanismos internos de construção desse
conhecimento e resolução de problemas, estaremos, com
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 157

mais facilidade, trabalhando segundo esse modelo


proposto.

Para explicar, se pensarmos em atividades que


objetivem o desenvolvimento da leitura e da escrita, ou
mesmo de outros conteúdos e conceitos, os alunos podem
trabalhar, por exemplo, com projetos de criação,
redação e leitura de histórias, utilizando, entre várias
opções:

 Editores de texto;
 Software específico de edição de histórias;
 Programação livre com a Linguagem Logo,
combinando projetos gráficos com frases e
textos, descritivos ou narrativos;
 A interação, através de correio eletrônico, de
suas produções, projetos e idéias, entre os
próprios alunos participantes das atividades
ou também com outros alunos de diferentes
localidades;
 A construção coletiva de histórias via rede
(Internet e/ou Intranet);
 Pesquisa de histórias na Web.

As formas de acesso ao computador podem ser


divididas em quatro grupos:

1. Pessoas que não precisam de recursos


especiais são os usuários que apresentam alguma
dificuldade de acesso, mas não o suficiente para
necessitar de adaptações;

2. Pessoas que necessitam de adaptações em


seu próprio corpo: são os usuários que se beneficiam
de órteses colocadas nas mãos ou dedos que facilitam o
teclar. Alguns necessitam de pulseira de peso para
diminuir a carência de coordenação e outros de faixas
para restringir o movimento dos braços. A indicação desses
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 158

recursos deve ser feita por um terapeuta ocupacional.


Essas pessoas vão utilizar o computador sem
modificações.

3. Pessoas que necessitam de adaptações do


próprio computador: são os usuários para os quais a
introdução de recursos no próprio corpo não são
suficientes ou não são eficazes.

4. Pessoas que necessitam de programas


especiais: são os usuários que necessitam de
programas especiais que vão interagir com o
computador com o auxílio de acionadores externos, por
não serem capazes de utilizar o teclado e o mouse,
mesmo adaptados.

Exemplos de acessibilidade em algumas


deficiências

DEFICIÊNCIA VISUAL

Importante
 Cegueira

Para acessar a web, muitas pessoas cegas


Uma grande parte
dos serviços de utilizam o leitor de tela. Alguns usuários usam
reabilitação em
nosso país, quando navegadores textuais como o Lynx ou navegadores com
oferecidos, estão
distantes de voz em vez de utilizar um navegador usual (navegador
abordagens
operacionais e de com interface gráfica). É muito comum as pessoas
expectativa de
inclusão, pois estão cegas se utilizarem da tecla "tab" para navegar
voltados a objetivos
restritos de somente em links em vez de ler todas as palavras que
promover e
melhorar a condição
estão na página. Deste modo, eles têm uma rápida
física de seus
noção do conteúdo da página ou podem acessar o link
“pacientes”.
desejado mais rapidamente.

 Leitor de tela: é um software que lê o texto


que está na tela do microcomputador e a saída desta
informação é através de um sintetizador de voz ou um
display braile - o leitor de tela "fala" o texto para o
usuário ou dispõe o texto em braille através de um dispo-
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 159

sitivo onde os pontos são salientados ou rebaixados


para permitir a leitura.

 Navegador textual: é um navegador


baseado em texto, diferente dos navegadores com
interface gráfica onde as imagens são carregadas. O
navegador textual pode ser usado com o leitor de tela
por pessoas cegas e também por pessoas que acessam
a internet com conexão lenta.

 Navegador com voz: é um sistema que


permite a navegação orientada pela voz. Alguns
possibilitam o reconhecimento da voz e a apresentação
do conteúdo com sons, outros permitem acesso
baseado em telefone (através de comando de voz pelo Para pensar

telefone e/ou por teclas do telefone).


As pessoas com
deficiência é que
 Baixa visão sabem o que
precisam para ter
melhor qualidade de
Para acessar a web, algumas pessoas com vida; suas
necessidades
deficiência visual parcial usam monitores grandes e variam, como as de
qualquer ser
aumentam o tamanho das fontes e imagens. Outros humano e, por isso,
só podem ser
usuários utilizam os ampliadores de tela. Alguns usam atendidas por uma
variedade de
combinações específicas de cores para texto e fundo serviços e
(background) da página, por exemplo, amarelo para a equipamentos. Você
acha assim ao lidar
fonte e preto para o fundo ou escolhem certos tipos de com pessoa
portadora de
fontes. deficiência?

 Ampliador de tela: é um software que


amplia o conteúdo da página para facilitar a leitura.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Algumas pessoas surdas têm como primeira


língua a de sinais e podem ou não ler fluentemente
uma língua, ou falar claramente.

Para acessar a web, muitas pessoas dependem


de legendas para entender o conteúdo do áudio. Pode ser
necessário ativar a legenda de um arquivo de áudio concen
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 160

trar muito para ler o que está na página, ou depender


de imagens suplementares para entender o contexto do
conteúdo. Os usuários também podem necessitar de
ajuste no volume do áudio.

DEFICIÊNCIA FÍSICA

A deficiência física ou motora pode envolver


fraqueza, limitação no controle muscular (como
movimentos involuntários, ausência de coordenação ou
paralisia), limitações de sensação, problemas nas
juntas ou perda de membros. Algumas pessoas podem
sentir dor, impossibilitando o movimento.

Para acessar a web, as pessoas com problemas


nas mãos ou braços podem utilizar um mouse especial,
um teclado alternativo com disposição das teclas que
estejam de acordo com o movimento da mão, um
dispositivo tipo ponteiro fixado na cabeça ou na boca;
software de reconhecimento de voz ou outras
tecnologias assistivas para acesso e interação.

 Teclado alternativo: é um dispositivo de


hardware ou software que pode ser usado por pessoas
com deficiência física, que fornece um modo alternativo
de dispor as teclas como, por exemplo, teclado com
espaçamentos maiores ou menores entre as teclas.
Podem também possuir travas que permitem a pressão
de uma tecla por vez, teclado na tela ou outras
modalidades.

DEFICIÊNCIA MENTAL

As pessoas com deficiência mental podem


apresentar dificuldades em processar a linguagem
escrita ou oral, focar uma informação ou entender
informações complexas.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 161

Para acessar a web, as pessoas com deficiência


na aprendizagem, podem necessitar de diferentes
modalidades ao mesmo tempo, para acessar a
informação.

Pessoas que precisam desativar animações ou


sons, a fim de focar o conteúdo da página, necessitam
de mais tempo ou dependem de imagens para entender
o que lhe está sendo informado.

 Adaptações

 Colméia de acrílico - colméia é uma placa


confeccionada de acrílico transparente onde são feitos
furos do tamanho das teclas. A função dos furos é
facilitar o acesso da criança ao teclado sem que ela
aperte todas as teclas ao mesmo tempo. Esse recurso é
também utilizado para o teclado da máquina elétrica.
Para
pesquisar
 Teclados alternativos - Os teclados
alternativos podem ser reduzidos ou ampliados. O Os serviços de
tecnologia assistiva
teclado expandido possui letras maiores, em alto poderão ou não ser
necessários e
contraste e com menor número de informações na comumente
envolvem
prancha. O teclado reduzido é utilizado quando a profissionais de
áreas como terapia
pessoa tem boa coordenação, mas pequena amplitude ocupacional,
fisioterapia,
de movimento. fonoaudiologia,
educação,
psicologia,
 Teclado sensível - O teclado sensível é uma enfermagem,
medicina,
prancha que pode ser programada em zonas de engenharia,
arquitetura, design e
tamanhos variáveis. Funciona associado a um programa
técnicos de muitas
que realiza a programação do número de informações, outras
especialidades. Você
local de pressão e que pode estar ou não associado a conhece equipe
semelhante
um sintetizador de voz. trabalhando no
nosso sistema
educacional?

 Mouses adaptados - existem vários modelos:


mouse com 5 botões, cada um deles faz o cursor andar
para uma direção e o último é o do clique ou double
clique; mouse cujo movimento do cursor acontece
através de rolos; mouse em formato de caneta, entre
outros.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 162

 Tela sensível ao toque - onde o usuário com o


dedo na tela comanda o cursor do mouse.

Conclusão

O conceito de inclusão é recente em nossa


cultura. Estamos começando a usar esta palavra. Como
qualquer situação nova, a inclusão incomoda, desperta
curiosidade, insensibilidade ou negação, encontra
simpatizantes e também críticos; envolve praticamente
todo campo do social, apontando para a necessidade de
repensar, de alterar hábitos, posturas, atitudes,
começando pelo plano individual, tirando-nos de nosso
clássico conforto: temos que abrir espaço em nosso
planeta interno para que mais pessoas pertençam a
ele.

Além de recente, este conceito é abrangente:


envolve entrada aos bens sociais, culturais e
econômicos, à educação, à saúde, ao trabalho, à
tecnologia... e assim por diante. Ora, para que as
pessoas com deficiência sejam incluídas nas escolas,
igrejas, cinemas, empresas, é preciso que eles sejam
acessíveis. Senão, elas nem conseguem entrar... e
como vão estar incluídas se ficarem do lado de fora?
Importante
Olhando para o passado e o futuro?
Olhando para trás,
vemos quantas
conquistas temos A sociedade aberta garante qualidade de vida
para comemorar,
inclusive no que se para todos; portanto, é um pacto que deve ser
refere à
acessibilidade. Ao assumido por todos nós, em nossas respectivas esferas
mesmo tempo,
constatamos quanto
de ação e influência.
ainda temos a
conquistar nesse
processo rumo à O sucesso do processo de inclusão está
construção de uma
sociedade inclusiva. diretamente ligado à possibilidade de reconhecer as
diferenças e aceitá-las. Isso não significa ignorá-las, isso
não significa colocar crianças com deficiência na sala de
aula regular e esperar que elas aprendam pela
proximidade com seus colegas da mesma idade.Respeitar
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 163

as diferenças é oportunizar os recursos necessários


para que a criança aprenda. Muitas vezes esses
recursos serão simples como letras soltas ou textos
escritos em letras maiúsculas e outras vezes poderá ser
o uso de um computador adaptado.

O Brasil tem hoje, segundo o Censo Escolar de


2005 (MEC, 2006), 640.317 alunos com deficiência
matriculados nas escolas do país, portanto esse não é
um problema que possa ser ignorado.

No processo de inclusão de crianças com


dificuldades motoras, a equipe multidisciplinar poderá
coordenar:

 Adaptações ambientais como rampas, barras


nos corredores, banheiros e sala de aula, tipo
de piso, sinalização dos ambientes,
iluminação e posicionamento da criança
dentro da sala de aula, considerando sua
possibilidade visual;

 Adaptação postural da criança na classe com


a adequação da sua cadeira de rodas ou
carteira escolar e adequações posturais nas
atividades das aulas complementares ou de
lazer;

 O processo de ensino-aprendizagem com a


confecção ou indicação de recursos como
planos inclinados, antiderrapantes, lápis
adaptados, órteses, pautas ampliadas,
cadernos quadriculados, letras
emborrachadas, textos ampliados,
computador;
 O recurso alternativo para a comunicação oral
com a utilização de pranchas de comunicação
ou comunicadores;
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 164

 A independência nas atividades de vida diária


e de vida prática com adaptações simples
como argolas para auxiliar a abertura da
merendeira ou mochila ou copos e talheres
adaptados para o lanche.

Ao longo da história, a tecnologia vem sendo


utilizada para facilitar a vida dos homens. Para as
pessoas com deficiência, a tecnologia é a diferença
entre o “poder” e o “não poder” realizar ações.

EXERCÍCIO 1

Está incorreto dizer que a acessibilidade:

(A) Dificulta a utilização de equipamentos e


programas adaptados;
(B) Tem também na informática um extraordinário
significado;
(C) Representa para o nosso usuário o direito de
acessar a rede de informações;
(D) Representa o direito de eliminação de barreiras
arquitetônicas;
(E) Dá o direito à disponibilidade de comunicação e
de acesso físico.
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 165

EXERCÍCIO 2

Marque a alternativa incorreta.


A Tecnologia Assistiva implica:

(A) O envolvimento direto de seu usuário;


(B) O conhecimento do usuário de seu contexto;
(C) O contexto, meio onde a pessoa com deficiência
está ou deseja estar inserida;
(D) A necessidade de adaptações no sentido de
promover acessibilidade e possibilidades do
desempenho do usuário independente em
tarefas por ele estabelecidas;
(E) Que nem todos poderão se tornar usuários desta
tecnologia.

EXERCÍCIO 3

A democratização da sociedade do futuro passa pela


possibilidade de os vários setores da população terem
acesso às tecnologias da informação e pela capacidade
de utilizarem tais tecnologias. Você concorda com a
afirmação? Justifique sua resposta.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 166

EXERCÍCIO 4

A acessibilidade entendida como a possibilidade de


utilização, com segurança e independência de
edificações, espaços urbanos e mobiliários por pessoas
com deficiência, ilustra bem o efeito da inclusão sobre
as concepções arquitetônicas. Esse novo conceito visa
atender às necessidades de homens, mulheres,
crianças, velhos, moços. Aplica-se, também, aos
sistemas em que os produtos possam ter peças
opcionais, intercambiáveis, de modo que permitam o
uso de acessórios para atenderem a necessidades
emergentes de pessoas com deficiência. Comente.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 O fator de excelência de uma sociedade


inclusiva está fundamentado nas idéias de
que não são os indivíduos que devem ser
exigidos de se adaptarem às condições
materiais, pedagógicas, administrativas de
uma educação delineada em função das
necessidades da sociedade, mas sim é a
organização social e material da educação
que deve se adequar às necessidades
características próprias de todas as ordens
que existem nos indivíduos;
Aula 5 | Informática na Educação Inclusiva 167

 Ao refletir sobre a utilização de computadores


na educação, devemos considerar a
colaboração que a educação dá às melhorias
sociais e que a tecnologia é importante como
meio para alcançar estes fins, desde que seus
usuários se utilizem dela para conduzir
finalidades e valores adequados à sua
realidade. Desta forma as crianças com
deficiência não podem mais continuar
aliviadas do uso da informática no processo
ensino-aprendizagem;

 O sucesso do processo de inclusão está


diretamente ligado à possibilidade de
reconhecer as diferenças e aceitá-las,
respeitando estas diferenças e oportunizando
os recursos necessários para que a criança
aprenda.
6

AULA
Psicomotricidade na
Educação Inclusiva
Fátima Alves
Apresentação

Nesta aula são abordados os principais aspectos referentes ao


movimento, desenvolvimento corporal, práticas psicomotoras e
educação inclusiva. Destacam-se atividades possíveis de serem
implementadas na escola inclusiva, como meio de trabalhar a
consciência corporal e as habilidades motoras.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Discutir a função do corpo e seu amadurecimento, que é o


facilitador do indivíduo para descobrir o mundo através das
Objetivos

sensações e dos estímulos externos que aumentam as


experiências motoras;
 Apresentar as áreas psicomotoras do ponto de vista funcional e
relacional (comunicação, afetividade, corporeidade,
coordenação motora, esquema corporal, organização e
estruturação espaço-temporal...);
 Compreender que a estimulação sensorial tem que ser
vivenciada para que o corpo consiga discriminar e exercer um
controle sobre o equilíbrio, a independência dos membros, o
controle muscular e a respiração.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 170

Introdução

A Educação Inclusiva permite reflexões e


críticas. Inclusão vai além da inserção de alunos em
salas de aula. Toda a ação humana envolve várias
atividades que se completam, é de fundamental
importância para os estudos psicomotores o enfoque
emocional e a psicomotricidade tem por objetivo
trabalhar a criança nas diversas áreas onde apresenta
dificuldades. Esse trabalho será feito através de
atividades com o corpo.

Fazer a criança assumir a importância e a


conscientização que ela deverá ter de si própria e do
mundo exterior e colocar o movimento como essência
na estruturação psicomotora, emocional e social são
fatores primordiais para um bom desenvolvimento e
qualquer indivíduo tem a chance de realizar.

Educar o movimento ao mesmo tempo em que


desenvolve a inteligência com o suporte motor faz com
que o pensamento tenha acesso à abstração e é
indispensável às aprendizagens em todos os momentos
de sua vida. Toda criança nasce com uma inteligência,
por mais comprometida que ela seja, e isso acontece
com qualquer pessoa por mais dificuldades que ela
apresente. Essa inteligência precisa ser aprimorada
através de experiências e vivências, portanto é
necessário que todos tenham o direito de viver e de
aprender.

O desenvolvimento corporal amplia o


envolvimento e o conhecimento do real, enriquecendo
ainda mais a criança ou qualquer outro indivíduo. O
ajustamento desse indivíduo ao seu meio se fará a
partir da conscientização do outro. Sua socialização e
seu comportamento proporcionam ao outro, ao mundo
exterior uma imagem dele mesmo. À medida que isto acon
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 171

tece e os objetivos começam a ser alcançados, o


indivíduo torna-se capaz de atuar, de agir sozinho.

Incluir é deixar a criança, ou o indivíduo


experimentar sensações e situações, expressar-se,
perceber-se e poder ver as coisas e as pessoas que o
cercam. Quanto mais o meio permitir, vai ampliando as
percepções e controlando o corpo através da
interiorização das sensações, que irão tornar possível o
entendimento de que qualquer pessoa pode, deve e faz
o outro compreender que tudo é possível.

Para incluir e não excluir, devemos oferecer um


ambiente saudável e mostrar a todos como contribuir
para que não seja formada uma geração
preconceituosa e entender o que significa a educação
inclusiva para compreender a intencionalidade da
psicomotricidade.

A psicomotricidade acontece em qualquer


âmbito e tem o surgimento na formação do sujeito,
quando a mãe ou seu substituto manuseia o bebê,
amamentando-o, alimentando-o, dando banho,
acalentando-o, brincando; enfim, interagindo com ele e
fazendo-o interagir também. Todo o seu aprendizado
dependerá muito do desenvolvimento que está sendo
gerado.

Inclusão
Você sabia?

Em primeiro lugar, é necessário se ter a noção


do que é INCLUSÃO: Segundo o Dicionário Escolar da Inclusão é escutar, é
trocar informações,
Língua Portuguesa, do Ministério da Educação e é diluir dúvidas e
fantasias, é dar
Cultura, organizado por Francisco da Silveira Bueno, 6ª apoio, agradecer e
elogiar também,
edição, 1969, inclusão quer dizer abrangimento; saber se desculpar e
perdoar e brincar
encerramento; envolvimento e tem como antônimo muito. Fátima Alves.

exclusão.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 172

Portanto, inclusão nada mais é que ação ou


efeito de abranger e envolver, compreender, perceber
aquele que precisa ser incluído e saber finalizar e
concluir este entendimento. É saber fazer a coisa.

Quando pensamos em Inclusão ou Educação


Inclusiva, pensamos em pessoas deficientes, elas
deverão ser incluídas, mas não somente elas e sim
todos aqueles que, de certa forma, precisam ser
incluídos, percebidos e educados.

Atualmente pelas diferenças, pelas variedades


de pessoas, a inclusão se tornou aceita
internacionalmente e a política de certa forma tem
facilitado, até porque as pessoas estão começando a
lutar mais pelos seus direitos e se fazem mais
presentes.

Os valores têm que ser de igualdade e de


aceitação, isso é justiça social. A discussão tem que ser
em termos de justiça social, reforma escolar, pedagogia
e melhoria nos programas. Vários são os aspectos a
serem recomendados para uma educação inclusiva bem
sucedida como coordenação de serviços, colaboração
do pessoal, trabalho em equipe, envolvimento das
famílias, papéis dos profissionais e pessoas para
promover em as relações sociais, planos educativos
desenvolvidos, avaliações eficientes para uma boa
educação, entre outros.

Uma abordagem específica para uma escola


inclusiva é primordial, entre outros aspectos, que a
escola seja ajustada a todas as crianças que nela são
matriculadas, como também ressaltar o domínio geral
do educador e de todo efetivo do pessoal de apoio. Não
se deve esperar que a criança se ajuste à escola.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 173

A Declaração de Salamanca sobre


necessidades educacionais especiais
diz: “aquelas que possuem
necessidades educacionais devem ter
acesso à escola normal, a qual deve
acomodá-las dentro de uma pedagogia
centrada na criança capaz de atender
às suas necessidades.
(Unesco, 1995)

É importante dizer que todos são capazes, que


conseguem aprender dentro de suas limitações, mas
conseguem aprender e isso acontece com a
colaboração e a cooperação da comunidade, de seus
lares e da própria escola. Que os lugares e as pessoas
que lidam com a inclusão se façam seguros,
acolhedores e agradáveis. Desta forma, a
aprendizagem se torna mais acessível.

Estratégias e novas diretrizes têm que ser


criadas, não é suficiente se dizer que concorda fazer
inclusão, que pensa nela até mesmo antes de fazê-la, é
aquela que resulta em freqüentar os locais que jamais
freqüentaria na ausência, por exemplo, de uma
necessidade especial significativa.

Inclusão é respeitar e ter o desejo de


desenvolver e dar continuidade à
aprendizagem.
(Fátima Alves)

Psicomotricidade

O indivíduo age, atua suas


necessidades através de seu corpo em
movimento.
(Fátima Alves)

O corpo é o facilitador do indivíduo para


descobrir o mundo através das sensações, a maturação
dos órgãos dos sentidos se acelera sob a influência de
numerosos estímulos externos, o que aumenta ainda
mais as experiências motoras.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 174

O indivíduo atento, consegue perceber, sentir e


automatizar aquilo que está vendo ou ouvindo, assim,
ele memoriza e aprende através da ação, mas não sem
antes pensar. Fazer essa relação é conseguir dar
seqüência, é organizar o pensamento, é aprender a
raciocinar. Todo esse progresso é realizado em etapas,
mas não ao mesmo tempo.

A psicomotricidade tem por objetivo fazer o


indivíduo explorar e ter consciência de si mesmo e do
mundo exterior, mas isso só ocorre se ele vivenciar e
experienciar todas as performances das suas atividades
de vida diária (AVD).

O meio ambiente deverá ser propício para o


indivíduo ter um amadurecimento de suas habilidades
mais satisfatoriamente. Essas habilidades irão capacitar
mais dinamicamente seu equilíbrio, seu ritmo, sua
linguagem na comunicação e na expressão, nas
coordenações, na dominância e no reconhecimento
lateral, na imagem, no conceito e no controle corporal,
como também na organização e na estruturação
espaço-temporal, na rapidez de execução dos
movimentos e das atividades, trabalhando, ao mesmo
tempo, a agressividade, os limites, a afetividade e a
corporeidade, que é a qualidade desse corpo. Essas
denominações são chamadas de áreas psicomotoras.

Tanto o meio quanto aqueles que fornecem as


possibilidades de experienciação desses indivíduos têm
uma importância fundamental na relação deles com
esse meio.

Ajudam a chegar ao simbolismo e ao


pensamento conceitual.

A abstração aparece e se une à imagem


cinestésica.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 175

Cinestesia é a modalidade proprioceptiva que informa


o cérebro sobre os movimentos dos segmentos
corporais. Em relação aos segmentos do corpo pode
ser parcial ou global. Os estímulos podem ser
sensoriais.

Nunca se deveria perder o interesse


pela psicomotricidade, não devemos
deixar de utilizá-la, assim, nossos
desenvolvimentos físico, mental, moral
e intelectual não deixarão de ser
trabalhados.
(Fátima Alves, 2007)

Toda a intervenção psicomotora se situa no nível


global, modificando as atitudes relacionadas ao corpo.

A criação também está vinculada ao potencial


humano, o que facilita refazer as etapas perdidas, as
que não foram trabalhadas através de exercícios e
atividades educativas e terapêuticas, propiciando a
conscientização e a integração por parte do indivíduo.

A psicomotricidade torna fácil para o indivíduo


atuar, falar, confirmar, modificar e descobrir, partindo
do concreto para o abstrato e, através da afetividade
que caminha sempre junto faz criar um ambiente
tranqüilo e favorável. A psicomotricidade está presente
nos e favorável. A psicomotricidade está presente nos
movimentos mais simples.

Áreas psicomotoras

As áreas psicomotoras podem ser funcionais e


relacionais.

 Expressão

É um conceito relacional, onde as expressões


facial e corporal são trabalhadas através de atividades que
tornam fácil a livre expressão. Atividades livres de
mímicas, danças, dramatizações e outras que possam a-
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 176

tuar no verbal, no gestual, no equilíbrio corporal.


Usando bastante a criatividade e a espontaneidade.

Grandes estudiosos como Berge e Guedes


interpretam que o movimento espontâneo faz o corpo
tomar consciência de si e do mundo e possibilita a
construção do conhecimento através da expressão.

 Comunicação

Também é um conceito relacional e está


intimamente ligada à expressão, já que cada pessoa
aprende a expressar-se corporalmente e, assim, se
comunica com o outro e com o mundo.

É fazer escutar o outro através de um simples


gesto ou olhar, e a aprendizagem depende dos
processos de comunicação, seja de forma gestual, oral,
corporal, pela escrita ou outra.

Aucouturier, Lapierre, Vayer, Toulouse, Santin e


Rogers são estudiosos que fazem da comunicação um
meio de se restabelecer o diálogo com os sentimentos.

Os exercícios deverão ter como finalidade


trabalhar a capacitação do ver, ouvir, perceber, sentir e
falar. A intenção é fazer o corpo se comunicar para,
pouco a pouco, descobrir as ações que esse corpo
consegue comandar.

 Afetividade

Caminha o tempo todo junto ao


desenvolvimento do indivíduo. É um fator estimulante.
A afetividade faz estabelecer relações significantes com
o próprio corpo e a troca é favorecedora à afetividade na
relação entre dois ou mais participantes e, para que haja
troca, é necessário que os dois corpos ajam e se
cooperem corporalmente. Portanto, a afetividade também
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 177

é um conceito relacional da psicomotricidade.

Para Lapierre e Aucouturier (1986), o principal


material de expressão é o seu corpo.

Piaget faz uma correlação da afetividade e das


funções intelectuais. Wallon dá funcionalidade ao corpo
através da afetividade, pois a própria conduta postural
e a expressividade são modificadas através das
sensações agradáveis e desagradáveis.

 Agressividade

É o conflito para ultrapassar os obstáculos.


Desejo de afirmação pela ação. Esses obstáculos
surgem sempre, mas o indivíduo tem que aprender a
superá-los, contorná-los e suportá-los.

Toda a agressividade que é um conceito


relacional da psicomotricidade deve ser vista como
estruturante e o excesso deve ser limitado. Reprimi-la
leva à introversão ou mesmo à compulsão.

Tudo estoura quando se é reprimido.

A melhor maneira de se trabalhar a


agressividade é através dos objetos simbólicos. O
próprio Lapierre diz que é preciso transpor a
agressividade para o plano simbólico por meio de
materiais lúdicos e sem perigo, com o objetivo de fazer
o indivíduo vivenciar no simbólico a demanda agressiva
para dominá-la e, assim, estabelecer o início de
adaptação ao outro.

 Limites

O limite é estabelecido quando existe o equilíbrio


entre o permitir e o proibir. Isto se dá quando a criança
tem liberdade de ação de acordo com sua idade, condição
de vida, e as possibilidades e o mundo de valores dos pais
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 178

e da sociedade.

Existem dois tipos de limite: o que nos pertence


e o que está ligado diretamente à ação e à
comunicação.

O objetivo do limite que é um conceito


relacional, é fazer com que a pessoa comece a perceber
que pode se auto-controlar; é desenvolver a
organização, o respeito e o trabalho em grupo, com
responsabilidade; é manter harmonia entre atitudes; é
repreender quando for necessário e fazê-lo
verbalmente e com diálogo entre os envolvidos. É
primordial que a pessoa que está lidando com o
suposto agressivo saiba perceber, também, a sua parte
nas atitudes e determinados comportamentos
manifestados pelo agressor.

A psicomotricidade tem que dar


condições para que a pessoa agressiva
exerça livremente seu poder de agir
sobre o meio, respeitando o outro e,
assim, respeitando sua autonomia,
mas se faz necessário trabalhar o
limite e isso cabe a cada um de nós,
seja educador ou família, até porque
tudo começa na família.
(Fátima Alves, 2007)

 Corporeidade

Toda a ação é corporal e a corporeidade é


relacional.

Seu princípio fundamental baseia-se no corpo


como presença do ser no mundo.

O desenvolvimento na construção da noção de


corporeidade é por meio dos movimentos e se dá pela
estruturação da imagem corporal, como também está
ligada à noção de identidade. Em busca dessa
identidade, o indivíduo percebe a noção de sua totalidade e
as experiências sensório-motoras favorecerão essa noção.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 179

Devemos brincar, distender os músculos, gastar


as energias e liberar as tensões, isto é corporeidade.

COORDENAÇÃO MOTORA

A coordenação motora é considerada como a


possibilidade de controle dos movimentos e pode ser
dividida em alguns tipos:

Coordenação dinâmica global ou geral, onde


trabalhamos os movimentos amplos e ela se apresenta
sob dois aspectos:

A coordenação estática, onde se realiza em


repouso e a dinâmica, onde colocamos os grupos
musculares diferentes em ação.

Correr, marchar, saltar, arremessar, lançar,


andar, dizem respeito a movimentos com membros
superiores e inferiores em simultaneidade;

Coordenação motora fina é a capacidade de


controlar os pequenos músculos para exercícios
refinados como recorte, colagem, encaixe e outros e
envolve as coordenações visomotora e oculomotora,
visomanual ou oculomanual e musculofacial.

A coordenação visomotora ou oculomotora diz


respeito à capacidade de coordenar os movimentos em
relação ao alvo visual.

A coordenação visomanual ou oculomanual diz


respeito à coordenação entre a visão e o tato.

A coordenação musculofacial diz respeito aos


movimentos refinados da face, sendo fundamental à
fala, à deglutição e à mastigação.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 180

POSTURA

Relação direta com o tônus. Atua tanto na


motricidade fina como na geral, facilitando o equilíbrio
postural.

A criança só aprenderá novas habilidades em


determinada postura, como sentada, em pé, deitada,
se mantiver uma postura adequada e dominada.

TÔNUS

Diz respeito à firmeza, à palpação e está


presente tanto nos músculos em repouso como em
movimento.

Ao desenvolver o tônus, dá-se condições básicas


para obter movimentos manuais coordenados,
portanto, uma coordenação visomanual boa.

Existem três tipos de tônus:

1. O tônus muscular é atribuído ao movimento


executado;
2. O tônus afetivo diz respeito ao estado de
espírito apresentado;
3. O tônus mental é quando, no momento da
ação, o indivíduo tem a capacidade de
atenção àquela ação.

EQUILÍBRIO

É a base de toda a coordenação dinâmica global


e depende dos sistemas labiríntico e plantar.

Ele pode ser estático, que exige muita


concentração, e é mais abstrato e importante para uma
adequada aprendizagem.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 181

Dominando-o, implicará o controle da postura e


suas formas de ação, que se referem-se à capacidade
de sustentar em diferentes situações, até mesmo com
os olhos fechados. Pode ser dinâmico, tem estreita
relação com as funções tônico-motoras, com os
membros e os órgãos, tanto os sensoriais como os
motores.

Para que haja uma boa progressão do equilíbrio,


se faz necessário a pessoa tomar consciência do seu
contato com o chão e com a mobilidade da articulação
do pé e do tornozelo.

RESPIRAÇÃO
Importante
A razão respiratória compreende duas fases: A
inspiração que é a fase ativa e diz respeito à entrada de A respiração
deficiente faz com
ar para a oxigenação do sangue e para a geração da que o nível de
energia seja menor
energia na realização dos movimentos e a expiração e as tensões e os
movimentos se
que é a fase passiva, a mais importante já que é desorganizam.

através dela que o corpo elimina o dióxido de carbono,


veneno e excitante do sistema respiratório.

ESQUEMA CORPORAL

Para a formação da personalidade, o esquema


corporal é um elemento básico já que reflete o
equilíbrio entre as funções psicomotoras e a sua
maturidade.

Perceber o mundo exterior é facilitado pela


conscientização corporal e as estruturar e utilizar esse
corpo contribui diretamente à adaptação das pessoas
no espaço e no tempo.

A conscientização acontece a partir do momento


que a criança se percebe e percebe o outro ou o objeto em
função de si mesma. A contemplação desse corpo é
feita quando o indivíduo consegue agir através dele.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 182

Algumas condutas psicomotoras dependem do


esquema corporal como o equilíbrio, a coordenação
visomotora, a percepção de movimentos e de posição
no espaço, a linguagem e a própria socialização.

O esquema corporal integra a percepção e o


controle do próprio corpo o equilíbrio postural, a
definição da lateralidade, a nomeação de partes do
corpo em si e no outro, entre outros.

Inicialmente, a criança não diferencia a


si mesma dos objetos que a rodeiam
e, percebe-se, é tudo como um bloco
compacto. Depois, começa a
estabelecer diferenciações, partindo de
seus próprios movimentos e, então,
começa a formar sua própria imagem
corporal. Simultaneamente, a criança
começa a delinear as primeiras noções
espaciais de distância, de
profundidade, de domínio material,
direito e esquerdo, de noções de
volume, sempre partindo de seu corpo
e, desta tomada de consciência
emanam as progressões nas relações
com as pessoas, nas relações motoras
e mentais.
(Canongia, 1986)

LATERALIDADE

A lateralidade liga-se ao esquema corporal. É a


integração dos dois lados do corpo, o direito e o
esquerdo.

A predominância de um dos lados do corpo se


faz em função do hemisfério cerebral e a preferência de
um desses lados determina se o indivíduo será destro,
relativo ao lado direito, ou canhoto (sinistro), relativo
ao lado esquerdo.

A dominância é relativa à organização


neurológica e cerebral, podendo ocorrer numerosas
substituições e compensações.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 183

A definição de um dos lados faz o indivíduo obter


a dominância de um desses lados, ele se sentirá mais
forte, será mais ágil com o lado dominante e isso será
observado a partir de movimentos do ponto de vista da
força e da precisão, em relação dos membros inferiores
e superiores, dos olhos e dos ouvidos.

A lateralidade pode ser observada em algumas


formas, tais como:

a) Lateralidade homogênea que é a dominância


destra ou canhota no nível de todas as
observações;
b) Lateralidade cruzada, quando é destra de
mão, canhota do pé, do olho e do ouvido ou
vice-versa;
c) Lateralidade contrariada, quando o indivíduo
tem dominância em um dos lados e é forçado
a utilizar o outro que não seja a sua
dominância, isto geralmente ocorre no
canhoto, algumas famílias forçam seus filhos
para usar o lado direito;
d) Ambidestria, quando apresenta habilidade Quer
saber mais?
tanto do lado direito quanto do lado
esquerdo.
Vitor da Fonseca
(1987) emprega
que, se uma criança
A criança, a partir de mais ou menos 7 meses de é imatura no plano
psicomotor, hesitará
vida, passa a segurar os objetos com uma das mãos em definir sua
lateralidade e que,
até mesmo em função da maturação neurológica e faz só depois de
definida a
a passagem desses objetos de uma das mãos para a lateralidade, a
criança poderá
outra e, a partir do primeiro ano de vida, a preferência aprender a
orientação, a
da mão está mais evidenciada e a constituição da
seriação, a precisão
lateralidade acontece em torno de 2 anos e é e o ajustamento
espaço-temporal.
determinada por volta dos 6 a 7 anos.

É bom sinalizar que essas idades são pontos


referenciais, o que quer dizer que toda criança é
diferente.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 184

A definição do lado dominante está relacionada a


alguns fatores como o cultural, o ambiental e o
neurológico, sendo de fundamental importância o fato
da criança vivenciar experiências para que chegue a
uma maturação e se defina.

RELAXAMENTO

É uma forma de atividade psicomotora que tem


por objetivo a redução das tensões psíquicas, levando à
descontração muscular e proporciona melhor
conhecimento do esquema corporal, da estruturação
espaço-temporal e do equilíbrio.

Organização e estruturação espaço-


temporal

Tomada de consciência da situação das coisas


entre si. Organização perante o mundo. Noção de
direção (acima, abaixo, à frente, atrás, ao lado) e de
distância (longe, perto, curto e comprido).

Segundo Lapierre (1986), a estruturação espacial não


se ensina e nem se aprende, descobre-se.

Essa organização vem por meio do esquema


corporal e da experiência pessoal.

Para a construção espacial, o eixo do corpo é um


fator importante já que por meio deste surgem as
noções de em cima, embaixo, alto, baixo, direita,
esquerda, direções oblíquas, à frente, atrás.

A privação da organização espacial pode


comprometer a aprendizagem da leitura (percepção
oculomotora, lateralidade, motricidade ocular e
sucessão e progressão de letras orientadas).
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 185

Temporal está ligado à noção de espaço, envolve


o ritmo e aprendemos a situar o presente, o passado e
o futuro em relação ao antes e ao depois e avaliamos o
movimento no tempo, distinguindo o rápido do lento, o
sucessivo do simultâneo.

Para compreender esse tempo, é fundamental a


ação da memória e assim organizar atividades que
retém lembranças, utilizando o antes, o depois, o
agora, o amanhã, a manhã, o rápido, a tarde, a noite, o
ontem, o hoje, o lento, o forte, o fraco, o alto, o baixo.
A estruturação espaço-temporal tem um papel
essencial em todos os problemas da aprendizagem
escolar.

RITMO

Encontramos em todas as atividades humanas.


As rítmicas são úteis para facilitar a exploração de
outras formas de consciência corporal.

Através do ritmo, podemos conseguir equilibrar


os processos de assimilação e de acomodação que
permitem sua adaptação para poder apreciar os valores
e ideais humanos.

O indivíduo que consegue desenvolver um ritmo


próprio aumenta seu poder de concentração e facilita
sua capacidade de aprendizagem.

A atenção é um fator primordial para o exercício


rítmico.

PERCEPÇÕES

Existem as percepções auditiva, visual, tátil,


olfativa e gustativa. A percepção é a capacidade de
reconhecer e compreender os estímulos. É por meio dela
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 186

que podemos organizar e dar seqüência àquilo que


aprendemos.

Os estímulos sensoriais tais como os da audição,


do tato, do paladar, do olfato, da visão e das sensações
cinestésicas interceptivas são importantes e
fundamentais para a percepção.

Estimular a percepção permite ao indivíduo


registrar suas impressões, classificá-las e associá-las
com outras.

A percepção auditiva tem por objetivo


interpretar estímulos auditivos e associá-los a estímulos
anteriormente percebidos e assim discriminá-los.

A percepção visual está presente em quase


todas as nossas atividades e a discriminação visual
prepara para a posterior fase da discriminação de
símbolos abstratos como a diferença entre letras e
palavras.

Segundo Frostig (1964) a qualidade de percepção


visual afeta todos os comportamentos da criança.

A percepção tátil tem tudo a ver com a sensação


tátil que é um dos sentidos mais velhos, já que desde o
ventre materno a criança recebe as sensações de
contato.

A percepção olfativa envolve a capacidade de


distinguir odores, associando-os à origem. Contribui
para a discriminação e a memória.

A percepção gustativa tem a mesma função da


percepção olfativa, sendo que distingue os sabores. Sua
importância reside no fato de permitir ao indivíduo
selecionar os alimentos segundo seu desejo e necessida-
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 187

de nutricional.

As áreas de coordenação motora, postura,


tônus, equilíbrio, respiração, esquema corporal,
lateralidade, relaxamento, organização e estruturação
espaço-temporal, ritmo e percepção são áreas que se
referem a condutas funcionais, pois formam a
integralização motora do indivíduo num espaço e num
tempo.

Coordenação motora, postura, tônus, equilíbrio,


respiração, esquema corporal, lateralidade,
relaxamento, organização e estruturação espaço-
temporal, ritmo e percepção são conceitos funcionais
da psicomotricidade.

Todo movimento tem uma finalidade,


buscamos aprimorá-lo e assim
procuramos harmonizá-lo, desta forma
aprendemos e entendemos como
coordená-lo.
(Fátima Alves, 2007)

Psicomotricidade na Educação Inclusiva

Não podemos entender nossas atitudes e


comportamentos apenas pelos estudos teóricos, é
preciso se deixar vivenciar e experenciar para entender Importante
e compreender a inclusão e assim saberemos educar
inclusivamente. O corpo não precisa
necessariamente de
ajuda, mas precisa
ser descoberto
A criança consegue ter um progresso na através de suas
potencialidades que
condição psíquica ou física, por mais comprometimento já existem.
que ela tenha.

Essa aquisição será de forma, provavelmente,


lenta.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 188

Toda atividade realizada com o indivíduo


portador de necessidades especiais deverá ser feita de
maneira paciente e paulatina, em etapas sucessivas e
crescentes.

O grande objetivo da psicomotricidade na


educação inclusiva é proporcionar, no interior do
indivíduo, o descobrimento das coisas, do tempo, do
espaço e do mundo externo. A psicomotricidade
também tem como finalidade educar o indivíduo por
meio da ação e da expressão e integrá-lo ao meio em
que vive e da mesma forma fazer esse meio integrar-se
a ele. A psicomotricidade busca conquistar o corpo e a
mente do indivíduo e permite trabalhar no mundo da
pessoa especial, dando-lhe grandes possibilidades e
oportunidades para crescer e progredir.

É preciso, em primeiro lugar, acreditar. Acreditar


na pessoa, acreditar no trabalho, acreditar no
profissional que lida com este ser tão especial.

É fundamental, através de um trabalho


psicomotor, trabalhar a imaginação, ouvir e fazer ouvir
histórias, fazer pensar, agir com consciência.

O movimento permite ao indivíduo


explorar o mundo exterior através de
experiências concretas sobre as quais
são construídas as noções básicas para
o desenvolvimento intelectual.
(Fátima Alves, 2003)

A estimulação sensorial tem que ser vivenciada


para que o corpo consiga discriminar e exercer um
controle sobre o equilíbrio, a independência dos
membros, o controle muscular e a respiração. Esse
corpo se torna ponto de referência para conhecer e
interagir com o mundo, servindo de base para o
desenvolvimento cognitivo, para a aquisição dos
conceitos sobre o espaço e o tempo, para a dominância
dos gestos e a harmonização dos movimentos.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 189

Nos movimentos mais simples e nos


movimentos naturais, durante as atividades diárias, a
psicomotricidade se encontra presente. O indivíduo
aprende com o corpo todo.

Todas as atividades realizadas com um indivíduo


especial deverão ter como proposta a conscientização e
a reflexão dos movimentos no momento da atividade,
permitindo a essa pessoa explorar o ambiente, criar
novas situações de relacionamento com seu corpo e
com o do outro, conhecendo-o, aprendendo e
empregando-o de forma benéfica, funcional e prazerosa.

Para isto se faz necessário o profissional


equilibrar e direcionar as atividades, mesmo que livres,
em qualidade e também saber o momento exato das
interferências, sabendo identificar quando devem ser
diminuídas, efetivadas e quando o indivíduo já sabe fazer
sozinho.

O profissional deve ter domínio e autocontrole


sobre suas emoções, sobre o poder que exerce diante
do comando das atividades e também saber controlar Dica do
professor
sua ansiedade em relação ao tempo de aprendizagem e
domínio que a pessoa especial tem diante das Todo trabalho
psicomotor deve ser
propostas. feito de forma
harmônica e
integrada para que o
Na psicomotricidade, as especificidades indivíduo assuma
sua corporeidade e o
psicomotoras são: psicomotricista,
durante a terapia
psicomotora, deve
 Para quem apresenta alterações musculares, centrar-se nas
dimensões
posturais e cardiorrespiratórias, são indicadas intelectual,
estrutural e tônico-
atividades de coordenação global e equilíbrio emocional. O meio
ambiente é o fator
e atividades na água;
propulsor do
movimento dos
impulsos.
 Para o deficiente físico, quanto maiores as
experiências vividas, o aproveitamento dessas
experiências e a capacidade de escolha de
modo voluntário, será melhor para ele
resolver os problemas;
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 190

 Para o deficiente visual, é primordial que se


trabalhem propostas de organização e
orientação espacial, insegurança, passividade,
movimentos amplos, de deslocamento e
equilíbrio dinâmico;
 Para os deficientes auditivos, as atividades
devem ser direcionadas ao equilíbrio, à
coordenação motora associadas, à marcha, às
mudanças de direção, à comunicação e à
linguagem, à atenção, à socialização, à
postura e à esquema corporal;
 Para deficiência mental, deve-se fazer um
trabalho psicomotor de coordenação motora,
atenção, compreensão, socialização, fala,
memória, esquema corporal, equilíbrio e
tônus;
 Para à Síndrome de Down, as atividades
aquáticas são interessantes, entre as outras
citadas acima para outros transtornos;
 Para transtornos psíquicos, atividades que
abrangem o desenvolvimento emocional, o
social e o intelectual, a linguagem enquanto
compreensão, a linguagem corpórea, a
socialização, o toque e as atividades
sensoriais;
 Para idosos, todas as atividades são
necessárias, mas é importante que se criem
ou transformem atividades adequando-as às
limitações de cada um.

Eu sou uma coisa que pensa, uma


coisa da qual toda a essência decorre
de pensar, entretanto, eu possuo um
corpo ao qual estou estreitamente
vinculado, mas que é somente uma
coisa externa e que não pensa. Por
conseguinte, parece certo que a minha
alma é inteiramente distinta do meu
corpo, mas não pode existir sem ele.
(Descartes, 1641)
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 191

As dificuldades acontecem e a psicomotricidade


favorece uma educação ou reeducação psicomotora
para facilitar, corrigir e redirecionar os atrasos motores,
os déficits motores, o equilíbrio, a perturbação motora,
a sensibilidade do esquema corporal, a disfunção lateral
a desorganização espaço-temporal e a ausência da
afetividade. Se você o julga pela incapacidade e não o
ajuda, estará reforçando essas dificuldades.

Na reeducação psicomotora, muitas vezes, se


faz necessário trabalhar com a pessoa individualmente,
isso depende muito do comprometimento dessa pessoa,
mas também é interessante fazer perceber e trabalhar,
pois essa pessoa poderá pertencer a um grupo. Este
momento deverá ser trabalhado muito bem com a
pessoa que está sendo atendida individualmente, até
porque ela deverá opinar se apresenta algum interesse
de se fazer pertencer a um grupo.

É importante salientar que devemos nos


preocupar com diversos critérios para a fluidez do Importante
atendimento, tais como o local, que deverá ser amplo,
claro, aconchegante, sedutor, prazeroso, alegre; a Nós, educadores,
devemos sempre ter
duração de cada atividade bem como a duração dos como objetivo a
promoção da
atendimentos; a aproximação da família, o terapeuta educação, a
transmissão de
ou o professor deverá contar com ela para uma melhor conhecimentos e
saber como fazer,
trajetória, a assiduidade de todos envolvidos neste como proceder.
processo. A utilização da música proporciona muito
prazer, harmonia, alegria e paz.

Temos, ainda, uma longa caminhada com a


educação inclusiva, mas podemos chegar lá com a
psicomotricidade, já que ela nos fornece recursos
primordiais para muitas vezes quebrarmos
paradigmas que alguém não consegue realizar. As
diversas modalidades da psicomotricidade incluem a
possibilidade do indivíduo ter uma boa orientação e
mobilidade, bem como uma adequação postural,
adaptações diversas em atividades proporcionadas a
todos aqueles que desejam se realizar através de
modalidades.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 192

Práticas Psicomotoras

COORDENAÇÃO MOTORA AMPLA

Para pensar
 Atirar bolas, petecas, sacos de areia,
Todo indivíduo livremente em alvo determinado;
apresenta uma
motricidade  Lançar uma bola contra a parede e apanhá-la
como andar, correr,
pular, comer, quando retorna, lançar uma bola ao ar e
escovar,
pentear e outras. apanhá-la;
Mas o indivíduo
precisa saber  Andar sobre plano elevado, parar de correr ao
lidar com cada
mobilidade e para toque do apito, jogo de estátuas;
isso se faz
necessário a pessoa
 Engatinhar para frente, para os lados e para
vivenciar e trás, erguendo uma perna e depois a outra,
experenciar cada
momento. O para apanhar o objeto determinado, rápido e
importante é
aprender sabendo e devagar; desviando de obstáculos, em padrão
não fazer por fazer.
Pensar sempre antes cruzado.
de agir. Todos têm
essa
condição.
Cada atividade COORDENAÇÃO MOTORA FINA
deverá ser adaptada
para
a pessoa conforme
seu
 Pentear-se, catar objetos, colocar água do
comprometimento. balde na garrafa;
 Pintura com os dedos das mãos e dos pés;
 Recortar, rasgar, colagem de pedaços de
papel, picar papel, perfurar papéis de
texturas diferentes, traçado sobre
pontilhados, colorir em espaços limitados;
 Seguir com os olhos um facho de luz, o
movimento de um brinquedo, de um objeto.

EQUILÍBRIO

 Equilíbrio Estático

 Inclinação para frente e para trás;


 Equilíbrio sobre um pé só.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 193

 Equilíbrio Dinâmico

 Andar na ponta dos pés;


 Correr com um copo cheio de água na mão;
 Andar sobre um plano inclinado.

ESQUEMA CORPORAL

 Apontar partes do corpo e dizer seu nome,


levantar partes do corpo do chão quando
deitada, rolamentos em diversas direções.

LATERALIDADE

 Pular com ambos os pés dentro de um círculo,


depois com um pé só, depois com o outro;
pular com o pé direito ou o esquerdo, pular
para frente, para trás, de um lado, de outro;
 De costas, observar o que está a sua volta; o
mesmo de pé, de bruços, definindo o que está
à direita e à esquerda;
 Controlar uma bola com os pés;
 Jogo de amarelinha.

RELAXAMENTO

 Pedir que fique deitada e dura como um


boneco de gelo; em seguida, pedir que fique
mole;
 Relaxamento dos membros inferiores, dos
superiores, da cabeça e do pescoço, das mãos
e dos pés; fechar as mãos, abrir e soltar os
braços, retesar as pernas, relaxar, estender
todo o corpo (decúbito dorsal);
 Elevar os braços, inspirando, e mantê-los
nesta posição por alguns instantes (em pé,
sentada, deitada); elevar os braços e as
pernas. Apoiar fortemente a cabeça no chão, sol
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 194

tar; apertar as mãos e braços, apertar os pés


e as pernas, soltar todos os membros e
lentamente fazê-los retornar à posição inicial,
em decúbito dorsal, mãos e pés, pernas e
cabeça apoiados no chão (olhos fechados).

Organização e estruturação espaço-


temporal

 Sala com obstáculos, percorrer determinado


trajeto depois do professor ou terapeuta; a
seguir, pedir para colocar este trajeto no
papel;
 Organizar um calendário, contar o que fez
ontem, hoje e o que pretende fazer amanhã;
 Andar livremente, parando a um sinal
determinado;
 Andar em determinada direção e ao sinal
combinado mudá-la.

RITMO

 Dança da cadeira;
 Dançar com bolas de gás; dançar no ritmo do
outro; dançar para chegar a um ritmo único
(trabalho em grupo).

PERCEPÇÕES

 Auditiva
 Descobrir entre dois sons qual o mais forte.
 Visual
 Comparar os objetos entre si pela forma, cor,
tamanho.
 Tátil
 Separar pelo tato coleções de objetos
diferentes.
 Olfativa
 Identificar odores, de olhos abertos e depois
fechados.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 195

 Gustativa
 Reconhecer sabores diferentes com olhos
abertos e depois fechados.

Esses são exemplos e sugestões de atividades


psicomotoras para áreas determinadas. Mesmo que
uma atividade seja direcionada a determinada área,
muitas vezes, se trabalha nas outras áreas, o que facilita
numa avaliação, já que não precisa necessariamente
utilizar vários instrumentos ou materiais.

A bola, por exemplo, é um instrumento que atua


de várias formas, o que facilita trabalhar com diversas
áreas psicomotoras.

Cabe a cada um criar atividades em função da


necessidade do indivíduo.

Educar psicomotoramente acontece


em casa, no âmbito familiar, na
escola, em sala de aula ou em
qualquer outra atividade.
(Fátima Alves, 2005)

Conclusão

Na educação inclusiva como em qualquer outro


momento do desenvolvimento da criança, não se pode
esquecer o agrupamento do intelectual, do físico, do
social e do emocional, que são trabalhados com a
intenção de fazer o indivíduo reconhecer, conhecer,
socializar e se emocionar; portanto, aprender.

Toda a atividade humana apóia-se em uma


atividade consciente e sempre com a intenção de
chegar a uma finalidade e com isto a criança põe em
prática seus objetivos e idéias. A criança diferencia-se
do objeto, consegue manipulá-lo e tenta transformá-lo
e, assim, edifica sua experiência social e essa
experiência é crescente e progressiva.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 196

Inclusão é fazer a criança assimilar o mundo,


mas para isso se faz necessário outras pessoas
apresentá-la para marcar bem a importância da sua
interação e por meio dela a sua conduta profere as
relações sensoriais e os gestos mais significativos.

A adaptação do indivíduo não depende somente


dele, mas de um sistema que os adéqüe às suas
necessidades específicas. As referências adaptativas
referem-se ao ajustamento e ao envolvimento desse
indivíduo através do movimento. Esses movimentos
quando trazem satisfação são repetidos, e se tornam
movimentos próprios, assimilados.

Qualquer evolução da aprendizagem é um


dispositivo psicomotor muito importante e acontece em
casa, no âmbito familiar, na escola ou em qualquer
outra disponibilidade. Para uma boa educação
psicomotora do indivíduo especial, se faz necessária
uma compreensão geral dos processos de crescimento
normativos e normais. Devemos promover a educação
psicomotora na inclusão para transmitir conhecimentos
e instruir como fazê-los. Podemos processar essas
instruções e esses conhecimentos através de medidas
específicas por intermédio de atividades.

Uma coisa muito importante e que não podemos


deixar de lado é sinalizar que cada criança é uma
criança e que não devemos fazer comparações em
função do seu desenvolvimento. A criança deverá se
sentir apoiada e perceber que poderá pedir ajuda
quando achar necessário e não ser julgada pelos que a
cercam, que muitas vezes ou na maioria delas reforça
suas dificuldades.

Definir a inclusão é ter muitos olhares, é


procurar vários caminhos e, quando achar ser um
grande desafio, perceber que poderá ultrapassar
obstáculos e dar continuidade.
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 197

EXERCÍCIO 1

Como se chama a modalidade proprioceptiva que


informa o cérebro sobre os movimentos dos segmentos
corporais?

( A ) Cinestesia;
( B ) Disartria;
( C ) Ataxia;
( D ) Cenestesia;
( E ) Apraxia.

EXERCÍCIO 2

Qual das áreas abaixo citadas está inserida no


conceito relacional?

( A ) Coordenação motora;
( B ) Esquema corporal;
( C ) Respiração;
( D ) Corporeidade;
( E ) Tônus.

EXERCÍCIO 3

A aquisição de habilidades motoras acontece através da


função de processos biológicos inatos. Na pessoa
especial, mesmo que essas habilidades apresentem
algum comprometimento, ela terá condições de adquiri-
las através da psicomotricidade. Você saberia dizer qual
é o grande objetivo e a finalidade da psicomotricidade?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 198

EXERCÍCIO 4

A criança para formar sua própria imagem corporal


inicia não diferenciando a si mesma dos objetos que a
rodeiam, mas para isto ela precisa estabelecer alguns
critérios simultâneos. Quais são?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO
Vimos até agora:

 A intervenção psicomotora se situa no nível


global fazendo modificar as atitudes
relacionadas ao corpo. A criação também está
vinculada ao potencial humano o que facilita
refazer as etapas perdidas, as que não foram
trabalhadas através de exercícios e atividades
educativas e terapêuticas propiciando a
conscientização e integração, por parte do
indivíduo;

 A atividade realizada com o portador de


necessidades especiais deverá ser feita em
etapas sucessivas e crescentes, garantindo a
descoberta do tempo, do espaço e do mundo
externo, por meio da ação e da expressão,
procurando integrá-lo ao meio em que vive, da
mesma forma fazer esse meio integrar-se a
ele;
Aula 6 | Psicomotricidade na Educação Inclusiva 199

 A psicomotricidade favorece uma educação ou


reeducação psicomotora para facilitar, corrigir e
redirecionar os atrasos motores, os déficits
motores, o equilíbrio, a perturbação motora, a
sensibilidade do esquema corporal, a disfunção
lateral, a desorganização espaço-temporal e a
ausência da afetividade.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS:


AULA 1 – 1C; 2C. AULA 2 – 1C; 2A. AULA 3 – 1E; 2D. AULA 4 – 1D; 2B. AULA 5 – 1A; 2E.
AULA 6 – 1A; 2D.
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Princípios Metodológicos da Educação Inclusiva
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


QUESTÃO 1: Considerar a diversidade que se constata entre os educandos nas
instituições escolares requer medidas de flexibilização e dinamização do currículo
para acolher, efetivamente, às necessidades educacionais especiais dos que
apresentam deficiência(s), altas habilidades (superdotação), condutas típicas de
síndromes ou condições outras que venham a caracterizar a demanda de
determinados alunos com relação aos demais colegas. Comente esta afirmativa.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Será que planejar, projetar e planificar realmente nos ajuda a resolver
os problemas da escola? Justifique sua resposta.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


QUESTÃO 3: Como deve ser efetivada, na prática, a avaliação diagnóstica?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: A democratização da sociedade do futuro passa pela possibilidade de


os vários setores da população terem acesso às tecnologias da informação e pela
capacidade de utilizarem tais tecnologias. Você concorda com a afirmação? Discorra
sobre o papel da Tecnologia Assistiva para a Educação Inclusiva.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma


argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Princípios Metodológicos da Educação Inclusiva
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


Atividade Sugerida: Fichamento do artigo “Ensinando a turma toda - as
diferenças na escola”.
Instruções:
Analise o artigo apresentado a seguir e elabore um fichamento no formulário
abaixo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ensinando a turma toda - as diferenças na
escola. Disponível em: http://www.bancodeescola.com/educa.htm
RESUMO:
Apresentar, em no máximo 20 linhas, uma síntese clara e concisa das idéias
principais do autor. Deve ser elaborado com suas palavras, utilizando os conceitos
do autor do texto, de forma interpretativa, contendo:
a) o assunto do texto;
b) o objetivo proposto;
c) os principais resultados apresentados;
d) a articulação das idéias;
e) as conclusões do autor do texto
Deve ser redigido em linguagem objetiva, evitando repetição de frases inteiras do
original, respeitando a ordem em que as idéias ou fatos foram apresentados. Deve
ser compreensível por si mesmo, dispensando a consulta do original.

Palavras-chave: (máximo quatro)


_____________________________;_____________________________;
_____________________________;_____________________________.
COMENTÁRIO CRÍTICO DO CONTEÚDO:
Consiste na explicitação ou interpretação crítica e pessoal das idéias expressas pelo
autor. Deve ser redigido com linguagem formal de maneira a salientar os pontos
positivos e/ou negativos identificados na obra. Pode considerar:
a) comentário sobre a forma pela qual o autor desenvolveu seu trabalho sob o
aspecto metodológico;
b) redação e organização do texto;
c) consistência e atualização do levantamento bibliográfico feito pelo autor;
d) organização e apresentação dos resultados (gráficos e tabelas)
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