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Curso

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA

Disciplina
PSICOPATOLOGIA
INFANTO-JUVENIL
2

Curso
EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA
Disciplina
PSICOPATOLOGIA
INFANTO-JUVENIL

Dina Lúcia ROCHA


Fabiane MUNIZ
Soraya JORDÃO
Juliana ALCOFORADO

www.avm.edu.br
Sou DINA LÚCIA CHAVES ROCHA, graduada em psicologia três áreas
e pós-graduada em psicomotricidade. Fiz formação em arteterapia e
orientação vocacional.
Busquei a psicomotricidade e a arteterapia para entender melhor o
ser humano, a sua comunicação e expressão sob outros aspectos,
não só pela fala.
Conclui o mestrado na área de Ciências pedagógicas, na área da
educação, e fiz um paralelo com a psicomotricidade. Pesquisei e
ampliei meus conhecimentos, investigando a importância
do "movimento" para um adequado desenvolvimento motor, afetivo e
cognitivo.
Trabalho nesta instituição desde 2001 e sou incentivada a pesquisar.
Formamos uma cadeia que se alimenta e se retro-alimenta de saber..
Você e eu fazemos parte dela! Um grande abraço

Oi Queridos! Meu nome é FABIANE MUNIZ. Sou psicóloga e sempre


me interessei muito pela área da sexologia. Desde 1990 já atendia
pessoas com problemas sexuais. Depois entrei na pós-graduação em
sexualidade e logo em seguida passei em quarto lugar no concurso
Sobre as autoras

do mestrado. Ufa... Era o único mestrado em sexologia da América


Latina, e detalhe só tinha 20 vagas. Assim consegui uma bolsa para
poder fazer o curso que era de um patamar muito acima das minhas
condições financeiras. Eu nem acreditei. Confesso! E hoje estou aqui
como professora de vocês. Grande abraço!

Sou SORAYA JORDÃO MARTINS, psicóloga com especialização em


psicologia clínica (UERJ/1995). Iniciei meu percurso profissional numa
instituição filantrópica, em um núcleo de atendimento a crianças
autistas e psicóticas. Durante 6 anos, pude perceber que além do
atendimento clínico oferecido a essas crianças era fundamental que
oferecêssemos apoio sistemático a escola, professor e equipe
pedagógica, de forma a permitir a inserção dessas crianças no
ambiente escolar, dentro de uma perspectiva de educação inclusiva.
Também participo de um trabalho em grupo, voltado para crianças
com dificuldades de aprendizagem, cujo objetivo é o resgate da
curiosidade e a desmistificação do processo de aprendizagem como
um obstáculo intransponível. Portanto, quero trazer à reflexão a
importância da escola, do professor, da equipe pedagógica e da
prática da educação inclusiva na transformação do ser humano.

Caros leitores, foi com muito prazer e dedicação que preparei essa
aula e espero oferecer a vocês a mesma possibilidade de pesquisa e
reflexão despertadas em mim.
Sou JULIANA DE CARVALHO ALCOFORADO, psicóloga sou com
especialização na área clínica (psicanálise). Na minha experiência
profissional atuei em diversas instituições tive a oportunidade de
atender alguns casos de transtorno alimentar no hospital. Nada, se
comparou com o espanto e alarme que me deparei com as pesquisas
atuais. Esses resultados só serviram para que eu tentasse com todo
empenho chamar a atenção de vocês da urgência, perigo e
necessidade da informação, e, porque não dizer da possibilidade de
transformação que ela possa efetuar em todos.
5

07 Apresentação

Aula 1
09 Síndrome de Down

Aula 2
43 Autismo
Sumário

Aula 3
71 Abuso sexual infantil

Aula 4
129 Transtornos alimentares na
adolescência

AV1
165 Estudo dirigido da disciplina

AV2
168 Trabalho acadêmico de
aprofundamento

170 Referências bibliográficas


CADERNO DE
ESTUDOS
Psicopatologia Infanto-
juvenil

Este caderno se dedica ao estudo de sintomas e patologias mais


Apresentação

comuns que os professores da Educação Inclusiva e Especial têm


contato, dentre estas se destacam a Síndrome de Down, o
Autismo Infantil e os Transtornos Alimentares. Este último se
revelando como um tema da atualidade carregado de preconceito
e impondo padrões estéticos que colaboram com a baixa-estima e
exclusão de muitas crianças e adolescentes. Mas também,
discutimos as repercussões referentes ao abuso sexual infantil e a
legislação aplicável neste caso, pois a proteção que deveria ter
como agente principal a família se mostra debilitada e, por vezes,
é este ambiente que promove ameaças e concretiza as ações
abusivas.

Esperamos que, após o estudo deste caderno, você seja capaz de:
Objetivos gerais

 Conhecer o histórico e os sintomas da Síndrome de Down, bem


como as práticas educativas mais favoráveis para inclusão
destes alunos;
 Estudar as características principais do autismo, para
compreensão de suas necessidades na escola que é o lugar
privilegiado de se trabalhar com esta doença;
 Analisar as causas e as conseqüências do abuso sexual infantil
sob as dimensões psicológica, educacional e jurídica,
destacando as leis de proteção à criança e ao adolescente;
 Compreender a etiologia das principais patologias de conduta
alimentar, e seus reflexos.
1

AULA
Síndrome de Down
Dina Lúcia

Permitir que você aluno conheça com maiores detalhes o que seja
Apresentação

a Síndrome de Down, suas características principais, seu histórico,


algumas pesquisas desenvolvidas na área, e algumas alternativas
de trabalho com alunos portadores dessa Síndrome na perspectiva
da Educação Inclusiva são os principais objetivos dessa aula que
temos certeza lhe proporcionará um aprendizado significativo na
área. A Síndrome destacada nessa aula foi aqui explorada sob a
ótica educacional no sentido de favorecer uma reflexão sobre
como a mesma pode ser trabalhada tanto em uma escola de
ensino regular quanto em uma unidade especial. Destaca-se ainda
em um último momento como deve ser o trabalho de educação
sexual com os portadores dessa síndrome e duas histórias
dirigidas aos pais de crianças com down.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Permitir o conhecimento geral da Síndrome de Down através


de sua sintomatologia e histórico;
 Refletir sobre como os portadores dessa Síndrome podem ser
estimulados no âmbito da Educação Formal;
 Analisar a Síndrome de Down sob diferentes perspectivas na
ótica da Educação Inclusiva;
 Estudar como é possível trabalhar a questão da sexualidade
junto aos portadores dessa síndrome.
Aula 1 |Síndrome de Down 10

Introdução

Esta aula tem como objetivo abordar de forma


ampla o tema Síndrome de Down. Acreditamos que
esta leitura interesse a todos nós, educadores, pais de
crianças ditas normais e não normais, profissionais de
todas as áreas, casais que querem ter filhos.

Faremos um breve passeio pelo histórico da


Síndrome de Down, que tem como sintoma a
deficiência mental associada a alterações
cromossomiais. Estamos nos referindo a cerca de 300
mil crianças brasileiras que enfrentam dificuldades
específicas dessa anomalia e as criadas pelo
preconceito e falta de informação. Muitos são os
questionamentos das pessoas que lidam com crianças
portadoras desta síndrome. Tentaremos aqui esclarecer
algumas dúvidas e tratar de temas importantes para a
formação de um profissional da educação inclusiva.

Como surgiu este termo? Que pesquisadores se


interessaram em pesquisar o tema? Quais as causas?
Como ocorre? Como diagnosticar? Quais as
características de um portador dessa síndrome? O que
um portador desta síndrome é capaz? Eles conseguem
ler e escrever? E a sexualidade? Podem ter um ofício?
Onde tratar? Como estimular?

Após ler esta aula, esperamos que o aluno seja


capaz de responder tais questionamentos e de cruzar
informações colhidas com a sua prática profissional
atual ou futura.
Aula 1 |Síndrome de Down 11

Breve histórico da Síndrome de Down

Apesar de tantas conjecturas históricas citadas,


não existe relatório ou documentação cientifica
publicada sobre o assunto até o século XIX. Naquela
época, poucos eram os pesquisadores que se
interessavam em crianças com problemas genéticos e
deficiência mental, outras doenças como as infecções e
a desnutrição predominavam, ofuscando muitos
problemas genéticos e de má-formação.

Tem-se o registro de que pinturas rupestres


produzidas na pré-história reproduziam pessoas que,
por gestos, fisionomia ou atitudes, se destacariam das
demais por manifestarem um padrão de inteligência
inferior à média do resto do grupo. Sugerindo, assim,
uma deficiência mental.

Segundo o médico americano, Siegfried M.


Pueschel in Werneck (1995), no caso específico da
Síndrome de Down, um crânio saxônico do século VII
foi o achado antropológico mais antigo. Alguns relatos
vão além, mas sem respaldo científico: pessoas com
traços faciais típicos da Síndrome de Down já teriam
sido retratadas.

O pesquisador Hans Zellweger identificou


pessoas com traços fisionômicos da Síndrome de Down
em pinturas antigas. Como a tela do artista italiano
Andréa Mantegna (1430-1506), artista do século XV,
que retrata a Virgem Maria aconchegando nos braços
um menino Jesus com feições sugestivas da Síndrome
de Down (Quadro 1). O quadro que tem como título
“Virgin and Child” faz parte do Museum of Fine Arts,
localizado em Boston e está reproduzido no livro “A
Parent’s Guide to Down Syndrome – de Siegfried M.
Pueschel”.
Aula 1 |Síndrome de Down 12

Zellweger também alega que há a representação


de uma criança com Síndrome de Down na pintura
“Adoração dos Pastores”, pintada pelo artista flamengo
Jacob Jordaens em 1618. A análise dessas pinturas
não garante um diagnóstico definitivo de Síndrome de
Down.

Na pintura realizada por Sir Joshua Reynolds em


1773, intitulada “Lady Cockburn e seus filhos (Quadro
2), também encontramos uma criança com as mesmas
características faciais dos portadores da Síndrome de
Down. Entretanto, essa criança mais tarde se tornou Sir
George Cockburn, o almirante da frota inglesa, sendo
assim, esta criança provavelmente não tinha Síndrome
de Down.

Jean Esquirol, em 1838, forneceu a primeira


descrição de uma criança que presumia ter a Síndrome
de Down. Em 1846, Edouard Seguin descreveu um
paciente com feições que também sugeriam Síndrome
de Down, denominando a condição de “idiota
furfurácea”. Em 1866 Duncan registrou uma menina
“com uma cabeça pequena e redonda, olhos parecidos
com os dos chineses, projetando uma grande língua e
que só conhecia algumas palavras”. Também em 1866,
John Langdon Down publicou um trabalho onde
descreveu características da síndrome que hoje leva o
seu nome. Tais descrições possibilitaram diferenciar as
crianças que tinham essa síndrome de outras com
deficiência mental. Assim, a grande contribuição de
Down foi a descrição das características físicas dos
portadores da Síndrome de Down e sua descrição da
condição, como sendo distinta e separada dos
deficientes mentais.

Down criou o termo “mongolismo” e chamou a


condição, inadequadamente, de “idiota mongolóide”.
Aula 1 |Síndrome de Down 13

Oficialmente, a história da Síndrome de Down no


mundo inicia no século XIX. Até então, os deficientes
mentais eram vistos como um grupo homogêneo. Eram
tratados e medicados identicamente, não eram levados
em consideração as causas da deficiência mental e o
grau de comprometimento.

Em 1866, o cientista John Langdon Down


contrariou as crenças da época fazendo uma
observação quanto a algumas crianças que eram
parecidas entre si e tinham traços que lembravam a
população da raça mongólica.

Importante
Ele descreveu de forma precisa a população
estudada: Gonzalez (1992)
comenta que a
síndrome de Down é
O cabelo não é preto, como acontece a mais comum e
com o povo mongol, mas sim de uma bem conhecida
síndrome
cor amarronzada, além de serem ralos cromossômica
e lisos. A face é achatada e larga. Os existente.
olhos são oblíquos e o nariz é Acontece na
pequeno. Estas crianças têm uma proporção de um
caso em 600
considerável capacidade de imitar. nascimentos.

A descrição física e clínica feita por esse cientista


foi tão completa que é válida até hoje.

John Langdon Down foi o primeiro a reconhecer


e a registrar o fato de que estava diante de um grupo
distinto de pessoas que, portadoras da Síndrome de
Down, faziam parte de um grupo distinto entre os
portadores de deficiência mental.

Durante as últimas décadas, muito se aprendeu


sobre as anormalidades cromossômicas e vários
problemas médicos relacionados à síndrome de Down.
Mas, ainda se tem muito que aprender, existem muitas
perguntas, muitos questionamentos sem respostas que
exigirão pesquisas e estudos sobre essa síndrome.
Aula 1 |Síndrome de Down 14

O que significa a denominação síndrome?

De acordo com Werneck (1995),


Síndrome quer dizer conjunto de sinais
e de sintomas que caracterizam um
determinado quadro clínico. No caso
da Síndrome de Down, um dos
sintomas é a deficiência mental.

O QUE É SÍNDROME DE DOWN?

Deficiência mental (associada a alterações


cromossomiais) mais freqüente do planeta entre bebês
nascidos vivos. Atingem todas as raças e continentes,
não importando a sua localização geográfica, renda per
capita, condições de higiene ou nutrição.

Cerca de 300 mil crianças brasileiras enfrentam


uma dupla dificuldade: os problemas específicos dessa
anomalia e aqueles criados por uma sociedade mal
informada e preconceituosa como a nossa.

QUAIS AS POSSÍVEIS CAUSAS DA SÍNDROME DE


DOWN?

A causa da síndrome de Down é a trissomia do


cromossomo 21.

Já no século XX, avanços no estudo dos


cromossomos humanos possibilitaram ao cientista
francês Jerome Lejeune descobrir, em 1958, a
verdadeira causa da Síndrome de Down.

Você sabia O nosso corpo é formado por pequenas unidades


No Brasil, de acordo chamadas células, são tão pequenas que só podem ser
com as estimativas
do IBGE realizadas vistas no microscópio. Cada célula tem em seu interior
no censo 2000, são
em média 300 mil. cromossomos que administram todo o funcionamento
do corpo. A cor dos olhos, cabelo, altura, sexo,
funcionamento e forma de cada órgão interno também
são determinados pelos cromossomos. Cada célula
possui 46 cromossomos que são iguais dois a dois, ou
seja, 23 pares ou duplas iguais entre si.
Aula 1 |Síndrome de Down 15

Jerome Lejeune, estudando os cromossomos de


um portador desta síndrome, percebeu que em vez de
terem 46 cromossomos por célula, agrupados em 23
pares, tinham 47, ou seja, um cromossomo a mais.
Anos depois, Lejeune identificou este cromossomo
extra, justamente no par 21 que, em vez de dois,
passou a ter três cromossomos. Por essa razão, a
Síndrome de Down é também denominada trissomia do
par 21. As causas ainda são desconhecidas, mas, sabe-
se que esse acidente genético pode acontecer com
qualquer casal em qualquer idade.

As causas de retardo mental na Síndrome de


Down estão relacionadas às anormalidades cerebrais.
Normalmente o cérebro é menor, tem menos células
nervosas e algumas funções quimioneurológicas
diferentes. Isso ocorre devido à presença do
cromossomo extra em todas as células, inclusive nas
cerebrais.

TIPOS DA SÍNDROME, SUAS PROVÁVEIS ORIGENS

Existem três tipos de cariótipo em pessoas com


síndrome de Down, os sintomas são os mesmos,
embora suas causas sejam diferentes. Essas são as
origens da síndrome: trissomia simples, trissomia por
translocação e mosaicismo.

Trissomia simples

Também chamada livre ou por não disjunção.

Os dois cromossomos (da mãe e do pai) formam


o par 21 e o terceiro, extra, causador da síndrome. Os
três ficam bem identificados e separados entre si, ao
contrário do que acontece na trissomia por
translocação.
Aula 1 |Síndrome de Down 16

A trissomia livre é responsável por 96% dos


registros da síndrome.

CÉLULA DE UM PORTADOR
DE SD – TRISSOMIA 21.

Esta célula tem 47


cromossomos, na divisão
formaram-se 22 pares e um trio
(de número 21).
Os dois últimos cromossomos
são os responsáveis pelo sexo
do bebê, não são identificados
por números e sim por letras: X
ou Y.

 IDADE MATERNA

Alguns estudos vêm provando que esta não é a


única variável capaz de influenciar no nascimento de
um filho com Síndrome de Down. Mas, há uma relação
comprovada entre a Síndrome de Down e a idade
materna. A célula reprodutora feminina, o óvulo, à
medida que a mulher envelhece, envelhece também.

Neste quadro capturado em sites que tratam


deste assunto, podemos ver a relação existente entre a
idade materna e a probabilidade do nascimento de uma
criança portadora da Síndrome de Down.

TABELA IDADE MATERNA

Risco aproximado de nascimento de crianças Risco aproximado de nascimentos de


com Síndrome de Down no caso de mães de crianças com Síndrome de Down no caso
diversas idades, que nunca tiveram uma de mães de diversas idades, que já
criança com esta síndrome. tiveram um filho com trissomia simples.
Idade da mãe ao Risco de nascer uma Idade da mãe ao Risco de nascer
nascer a criança criança com Síndrome nascer a criança uma criança com
de Down Síndrome de Down

Menos de 35 anos 0,1% Menos de 35 anos 1,0%

De 35 a 39 anos 0,5% De 35 a 39 anos 1,5%

De 40 a 44 anos 1,5% De 40 a 44 anos 2,5%

De 45 em diante 3,5% De 45 em diante 4,5%


Aula 1 |Síndrome de Down 17

 IDADE PATERNA
Você sabia

Os espermatozóides (células reprodutoras


Estima-se que, em
masculinas) se renovam a cada 72 horas, sendo assim 20% a 30% dos
não deveriam envelhecer. Mas pesquisadores já casos, o
cromossomo 21
observaram que a trissomia pode ter origem no extra resultou de
divisão celular falha
cromossomo do pai e não no da mãe. A idade paterna no espermatozóide
(ou seja, o
primeiramente foi demarcada em 55 anos, mas hoje cromossomo extra é
derivado do pai) e
em dia estudiosos afirmam que pode variar para bem que, em 70% a 80%
dos casos, o
menos ou para mais. cromossomo extra
vem da mãe.

 OUTROS

Pesquisa-se uma possível relação entre


alterações hormonais na mãe e a presença de
trissomia. Existem evidências de que mulheres com Você sabia
disfunções tireoidianas têm mais bebês com Síndrome
de Down do que outras mulheres. Os progressos nos
métodos de
visualização dos
cromossomos, em
Pesquisa-se, também, o uso indiscriminado de meados dos anos
1950, permitiu o
contraceptivos orais, fumo e álcool como sendo o estudo mais preciso
de cromossomos
motivo de não disjunção. humanos.

Trissomia por translocação

Neste caso, o cromossomo adicional está sobre


um cromossomo de outro par. Ocorre a translocação
quando um cromossomo do par 21 e o outro, ao qual Importante

depois fica agregado, sofrem uma quebra na sua região


Independente do
central. tipo, quer seja
trissomia simples,
translocação ou
mosaicismo, é
Trissomia por translocação é responsável por sempre o
2% dos casos. cromossomo 21 o
responsável pelos
traços físicos e
intelecto limitado.
Mosaicismo

Geralmente ocorre em torno de 1% das crianças


com esta desordem. O mosaicismo consiste na derivação
Aula 1 |Síndrome de Down 18

de um caso que poderia ser de trissomia simples ou de


translocação. É considerado como sendo resultado de
um erro em uma das primeiras divisões celulares.

Importante
EXISTE CURA PARA A SÍNDROME DE DOWN?
O grau de retardo
mental é medido por
testes de Até o momento, não há cura disponível para a
inteligência
padronizados. Síndrome de Down. Não existem tratamentos, vacinas,
O retardo mental
pode ser classificado drogas, remédios capazes de curar. Podemos ajudar
como leve,
moderado ou
essas pessoas com uma boa educação, estimulação
profundo.
precoce, treinamento vocacional, mas não curá-las.

A hora do diagnóstico - o diagnóstico pré-


natal e algumas de suas técnicas

Uma vez confirmada a gravidez, a mulher deve


buscar o pré-natal e fazer todos os exames de rotina e
outros mais específicos. Esta avaliação é
importantíssima para a saúde da mulher e do bebê. Os
pais devem levar todas as suas dúvidas e temores ao
médico, que deve esclarecê-las. Devem buscar
Dica da
professora tranqüilidade e segurança para viver plenamente um
dos momentos mais bonitos de suas vidas.
Amniocentese, o
vilo-corial e a
cordocentese são Estaremos, inicialmente, fazendo uma relação de
chamados de
exames invasivos. exames feitos durante a gravidez, que pode sugerir ou
O que são exames
invasivos? confirmar se o bebê é portador da Síndrome de Down.
São exames que,
através de agulhas A outra relação de exames pode ser feita após o
especiais, invadem,
de alguma forma, o nascimento do bebê. Grande parte das crianças com
interior do corpo da
mulher. Síndrome de Down tem malformações cardíacas, sendo
assim, cabe uma avaliação do coraçãozinho do bebê.

DIAGNÓSTICO DURANTE A GRAVIDEZ

 ULTRA-SONOGRAFIA TRANSABDOMINAL –
sugere diagnóstico.

 ULTRA-SONOGRAFIA TRANSVAGINAL –
sugere diagnóstico.
Aula 1 |Síndrome de Down 19

 DOSAGENS BIOQUÍMICAS NO SANGUE –


sugere diagnóstico.

 AMNIOCENTESE – confirma diagnóstico.

 BIÓPSIA DO VILO CORIAL – confirma


diagnóstico.

 CORDOCENTESE – confirma diagnóstico.

Importante
DIAGNÓSTICO DEPOIS DO NASCIMENTO
Nenhum problema
ocorrido na gestação
 TESTE DE WALKER – sugere diagnóstico. (como quedas,
sustos ou emoções
fortes) pode
provocar a síndrome
 CARIÓTIPO – confirma diagnóstico. de Down.

O coração do portador da Síndrome de


Down

Um dos primeiros órgãos a se formar no


embrião é o coração. Durante a gestação, o médico
avalia a saúde do bebê através do ritmo de seus
batimentos cardíacos.

Após o diagnóstico de Síndrome de Down, o


pediatra deve pedir uma avaliação cardiológica clínica.
Investigar possíveis comprometimentos cardiológicos
nas primeiras semanas de vida é fundamental para
assegurar uma melhor qualidade de vida para o
portador de SD. Você sabia?

A anomalia cardíaca
O tratamento poderá ser clínico ou cirúrgico,
mais comum na
dependendo do comprometimento diagnosticado. Síndrome de Down é
o chamado defeito
do septo
atrioventricular.
Quarenta por cento (40%) das crianças com
síndrome de Down têm má formação cardíaca. A
maioria só obtém a “cura” através de uma cirurgia.
Aula 1 |Síndrome de Down 20

Em geral, a criança com insuficiência cardíaca


ganha pouco peso, tem a respiração mais acelerada,
cansa durante as mamadas e apresenta sudorese
exagerada.

Exames feitos para investigar se o bebê tem


algum comprometimento cardíaco:

 CARDIOTOCOGRAFIA FETAL BASAL – sugere


diagnóstico;

 ECOCARDIOGRAMA FETAL – sugere


diagnóstico.

Importante O TESTE DO PEZINHO DÁ O DIAGNÓSTICO DE


SÍNDROME DE DOWN?
A gotinha de sangue
retirada do
calcanhar do recém- Não, mas pode livrar o bebê de doenças graves,
nascido pode livrá-lo
de doenças graves, que causam retardo mental.
que causam retardo
mental.
Este teste é uma das formas mais eficazes para
Revista
PAIS&FILHOS diminuir o índice de crianças excepcionais no mundo.
Agosto de 1993.

Muitas pessoas associam o teste do pezinho


como sendo o teste que confirma o diagnóstico de
Síndrome de Down, mas este teste somente confirma o
diagnóstico de retardo mental, que, inclusive, é um dos
sintomas da Síndrome de Down.

Com o teste do pezinho, é possível detectar a


fenilcetonúria e hipotireoidismo congênito, através de
processos bioquímicos.
Você sabia?

 FENILCETONÚRIA
O teste do pezinho é
a única maneira de
diagnosticar o Uma doença bioquímica do metabolismo,
hipotireoidismo
congênito ou a
descrita em 1934, tem origem genética (mas não
fenilcetonúria.
cromossômica), causada pela falta de enzima no
organismo. Sendo assim, o bebê não consegue
metabolizar um aminoácido conhecido como
fenilalanina.
Aula 1 |Síndrome de Down 21

À medida que este aminoácido vai sendo


ingerido através de alimentos como carne, leite e
derivados de produtos animais, o organismo do bebê
não consegue digeri-lo. Este aminoácido não sendo
digerido passa a circular no sangue, acumulando-se e
impregnando todas as células nervosas, provocando
lesões no sistema nervoso central de forma irreversível.

O acúmulo de fenilalanina interfere no Você sabia?


metabolismo de todas as células do corpo humano,
principalmente nas do sistema nervoso central. Você sabe o que
significa APAE?
Esta sigla quer
dizer:
Esta doença atinge cerca de 16 mil bebês Associação de pais e
amigos do
nascidos vivos. excepcional.

A maioria do material coletado (uma gotinha de


sangue) é encaminhada às APAEs, espalhadas por todo
o Brasil, e lá é dado o diagnóstico.

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS

 Traços de debilidade mental.

 Dificuldade de se relacionar com o ambiente


onde vivem, evitando até contato físico.

 Custam a falar e a andar.

 São irritadiças.

 Pele sensível, tendência a eczemas.

HIPOTIREOIDISMO CONGÊNITO
Importante

Trata-se da ausência ou do mau funcionamento


Estas doenças são
da glândula tireóide, que produz um hormônio hereditárias.
conhecido como tiroxina, que tem como principal Estima-se que uma
em cada 60 crianças
elemento a iodina. A tiroxina regula a taxa de nasce com um gene
para fenilcetonúria.
metabolismo, que tem influência no desenvolvimento
físico e mental.
Aula 1 |Síndrome de Down 22

Após detectar no exame do pezinho que o


recém-nascido tem hipotireoidismo congênito, inicia-se
o tratamento. O hipotireoidismo congênito é detectado
através da dosagem dos hormônios TSH e T4.

PROCEDIMENTOS NO EXAME

Para pensar
A gota de sangue poderá ser retirada do

Não existe princípio calcanhar do bebê 72 horas após a primeira


de fenilcetonúria ou
de hipotireoidismo amamentação ou ingestão de leite. Para detectar o
congênito. Ou se
têm ou não se têm
hipotireoidismo congênito, é necessário que o
as doenças. organismo do bebê tenha contato com a substância que
não consegue metabolizar, não metabolizando, tal
substância acumula no sangue favorecendo o
diagnóstico.

O teste do pezinho deve ser feito até o segundo


mês de vida do bebê, já que o retardo mental se instala
até o terceiro mês.

Na fenilcetonúria, o retardo mental e o


intelectual dependerão da quantidade de fenilalanina
ingerida, da reação diferenciada de cada organismo e
do grau de lesão cerebral causada pela ingestão desta
substância.

Sem o devido tratamento, o retardo mental é


progressivo com perda de 20 a 30 por cento da
inteligência.

Segundo Cabral e Barra, in Werneck (1995):

Logo após o diagnóstico de uma


dessas duas doenças, inicia-se o
tratamento. Bem acompanhada e
seguindo à risca a orientação médica,
a criança terá vida absolutamente
normal crescendo e se desenvolvendo
com saúde, freqüentando escolas e
aprendendo a profissão que desejar.
Mas lembre-se: tudo será diferente se
os primeiros sinais chegarem a se
manifestar.
Aula 1 |Síndrome de Down 23

É lei federal
:: Integrar o
excepcional é
De acordo com a Lei Federal nº 8.069 do praticar a
democracia:
Estatuto da Criança e do Adolescente, de 13/07/90, a
não realização do teste do pezinho, em território Lei 7853 de
24/10/89 (Diário
nacional, poderá punir com pena de detenção de seis Oficial da União),
que “dispõe sobre o
meses a dois anos o médico, enfermeiro ou dirigente de
apoio às pessoas
estabelecimento que não providenciar a coleta de portadoras de
deficiência, sua
sangue do recém-nascido, objetivando o teste do integração social e
as acões sociais
pezinho (ver art. 10, lll e art. 229). necessárias ao seu
cumprimento,
afastando
discriminação,
CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA CRIANÇA COM garantindo-lhes o
direito à educação, à
SÍNDROME DE DOWN SEGUNDO PUESCHEL saúde, ao trabalho,
ao lazer, à
previdência social...”
prevê a
Os parágrafos seguintes irão descrever as
criminalização da
características físicas da criança com Síndrome de discriminação,
inclusive
Down. Tais descrições foram feitas por Pueschel (2003) estabelecendo pena
de um a quatro anos
que tinha como objetivo facilitar a identificação por de reclusão. Esta lei
está em pleno vigor.
parte dos médicos na hora do diagnóstico. Iremos
apresentar as descrições feitas na íntegra, somente
enfatizamos os órgãos descritos colocando em letras
maiúsculas.
Importante
A CABEÇA da criança com Síndrome de
Down é um pouco menor quando Muitos recém-
comparada com a da criança normal. A nascidos têm
parte posterior da cabeça é levemente algumas dessas
achatada (braquicefalia) na maioria características não
tendo,
das crianças, o que dá uma aparência
necessariamente,
arredondada à cabeça. As moleiras Síndrome de Down.
(fontanelas) são, muitas vezes,
maiores e demoram mais para se
fechar. Na linha média, onde os ossos
do crânio se encontram (linha de
sutura), há, muitas vezes, uma
moleira adicional (fontanela falsa). Em
algumas crianças, pode haver áreas
com falhas de cabelo (alopecia
parcial), ou, em casos raros, todo o
cabelo pode ter caído (alopecia total).

O ROSTO de uma criança pequena


com síndrome de Down apresenta um
contorno achatado, devido,
principalmente, aos ossos faciais pouco
desenvolvidos e ao NARIZ pequeno. Geral
Aula 1 |Síndrome de Down 24

pequeno. Geralmente, o osso nasal é


afundado. Em muitas crianças, as
passagens nasais são estreitas.

Os OLHOS são, geralmente, normais,


quanto ao formato. As PÁLPEBRAS são
estreitas e levemente oblíquas. A
dobra de pele (dobra palpebral) pode
ser vista em muitos bebês nos cantos
internos dos olhos. A periferia da ÍRIS
muitas vezes apresenta pequenas
marcas brancas (manchas de
Brushfield).

As ORELHAS são pequenas, às vezes,


e a borda superior da orelha (hélix) é
muitas vezes dobrada. A estrutura da
orelha é, ocasionalmente, alterada. Os
canais do ouvido são estreitos.

A BOCA da criança com síndrome de


Down é pequena. Algumas crianças
mantêm a boca aberta e a LÍNGUA
pode projetar-se um pouco. À medida
que a criança com síndrome de Down
fica mais velha, a língua pode ficar
com estrias. No inverno, os LÁBIOS
tornam-se rachados. O CÉU DA BOCA
(palato) é mais estreito do que na
criança “normal”. A erupção dos
DENTES de leite é geralmente
atrasada. Às vezes, um ou mais dentes
estão ausentes e alguns dentes podem
ter um formato um pouco diferente. As
MANDÍBULAS são pequenas, o que
leva, muitas vezes, ao apinhamento
dos dentes permanentes. A cárie
dentária é observada com menor
freqüência na maioria das crianças
com Síndrome de Down do que em
crianças “normais”.

O PESCOÇO da pessoa com Síndrome


de Down pode ter uma aparência larga
e grossa. No bebê, dobras soltas de
pele são observadas, muitas vezes, em
ambos os lados da parte posterior do
pescoço, os quais se tornam menos
evidentes, podendo desaparecer à
medida que a criança cresce.

Em alguns casos, o TÓRAX tem um


formato estranho, sendo que a criança
pode apresentar um osso peitoral
afundado (tórax afunilado) ou o osso
peitoral pode estar projetado (peito de
Aula 1 |Síndrome de Down 25

pomba). Na criança cujo coração é


aumentado devido à doença cardíaca
congênita, o peito pode parecer mais
globoso do lado do coração.

Como foi dito anteriormente, 40% das


crianças com Síndrome de Down têm
defeitos no CORAÇÃO. Caso seu filho
apresente um defeito cardíaco
congênito, você pode ouvir seu médico
dizer que ele tem um sopro cardíaco
alto. Isso pode dever-se à passagem
do sangue impelido por um orifício
entre as câmaras, resultado de uma
válvula de funcionamento falho ou ser
provocado por um segmento muito
estreito de um dos grandes vasos.
Contrastando com os sopros altos
ouvidos em crianças com defeitos
cardíacos significativos, também é
possível ouvir, às vezes, sopros
cardíacos leves, curtos e de tom grave
durante o exame de crianças com
corações normais. Esses sopros
menores ou funcionais geralmente não
indicam problema cardíaco.
Você sabia?

Os PULMÕES da criança com Síndrome


de Down, no geral, não são anormais. Segundo Alves
Somente alguns poucos bebês têm (2007)
pulmões subdesenvolvidos “A apnéia do sono é
(hipoplásticos). Algumas crianças, em uma condição
especialmente
particular aquelas com doença comum na Síndrome
cardíaca congênita, podem apresentar de Down”.
pressão sanguínea aumentada nos
vasos dos pulmões, levando, às vezes,
à pneumonia. Com tratamento médico
adequado, essas infecções podem ser
controladas.
Importante

O ABDOME de crianças com Síndrome


de Down geralmente não demonstra Ainda em Alves
anormalidades. Os músculos (2007),
encontramos a
abdominais dos bebês são, por vezes,
seguinte afirmação:
fracos e o abdome pode ser um pouco
protuberante. A linha média do “São causas
abdome se projeta, às vezes, por importantes de
morte na Síndrome
causa do desenvolvimento muscular
de Down, também,
pobre dessa área. Mais de 90% dessas as malformações
crianças apresentam uma pequena congênitas e as
ruptura na região do umbigo (hérnia infecções
respiratórias,
umbilical), que geralmente não exige
combinadas com
cirurgia nem provoca problemas doenças e/ou
posteriores. Essas hérnias geralmente insuficiência
se fecham espontaneamente à medida cardíaca”.
que as crianças crescem. Os órgãos
internos (como o fígado, o baço e os rins)
Aula 1 |Síndrome de Down 26

são, no geral, normais.

Os ÓRGÃOS GENITAIS de meninos e


meninas não são afetados na maioria
das crianças. Às vezes, podem ser
pequenos. Em alguns casos, os
testículos não se encontram no saco
escrotal durante os primeiros anos de
vida, mas podem estar na região da
virilha ou dentro do abdome.

As extremidades geralmente têm o


formato normal. As MÃOS e os PÉS
tendem a ser pequenos e grossos e o
quinto dedo é muitas vezes levemente
curvado para dentro. Em cerca de 50%
das crianças com Síndrome de Down,
uma única dobra é observada
atravessando a palma em uma ou em
Importante ambas as mãos. Impressões digitais
(dermatóglifos) também são diferentes
das de outras crianças e eram
Crianças com utilizadas no passado para identificar
Síndrome de Down
crianças com Síndrome de Down.
são excelentes
imitadores,
absorvem Os DEDOS DOS PÉS da criança com
rapidamente bons síndrome de Down são geralmente
hábitos e atitudes.
curtos. Na maioria das crianças, há um
espaço grande entre o dedão e o
segundo dedo, com uma dobra entre
eles na sola do pé. Muitas crianças
com Síndrome de Down têm pés
chatos por causa da frouxidão dos
tendões. Em alguns casos, o
ortopedista pode aconselhar a criança
a usar botas corretivas. Em outras
crianças, não haverá necessidade de
usar sapatos especiais. Por causa de
uma frouxidão geral nos ligamentos, a
criança apresenta “articulações soltas”.
Geralmente, isso não causará maiores
problemas, a não ser quando uma
junta sai do lugar (subluxação ou
deslocamento), como ocorre, às vezes,
com o joelho (luxação da paleta) ou
quadril. Muitas vezes, o deslocamento
da junta exige correção cirúrgica.
Muitos bebês com Síndrome de Down
apresentam tônus muscular pobre,
força muscular reduzida e coordenação
muscular limitada. No entanto, à
medida que a criança fica mais velha,
o tônus muscular e a força muscular
melhoram marcadamente.
Aula 1 |Síndrome de Down 27

A PELE é geralmente clara e pode ter


uma aparência manchada durante a
primeira infância. Durante as estações
mais frias, a pele fica ressecada e as
mãos e o rosto podem ficar rachados
mais facilmente do que nas outras
crianças. Nas crianças mais velhas e
nos adultos com Síndrome de Down, a
pele pode ser áspera.

Pueschel (2003), após descrever as


características físicas da criança com Síndrome de
Down, enfatiza que nem toda criança com SD exibe
todas as características anteriormente citadas e que
algumas características são mais acentuadas em
algumas crianças do que em outras.

TABELA DE DESENVOLVIMENTO

Crianças com Síndrome de Down têm


desenvolvimento intelectual limitado, 95% das pessoas
com Síndrome de Down têm déficit intelectual. A
motricidade dessas crianças apresenta um déficit, este
déficit pode ser minimizado se a criança for bem
estimulada.

A Tabela 1 nos mostra a idade média para a


realização de algumas tarefas/movimentos e a variação
entre a maior idade e a menor idade em que a criança
realiza a ação.

A Tabela 2 mostra a idade média para a realização


dos mesmos movimentos pelo portador de Síndrome de
Down e a variação entre a maior idade e a menor idade
em que a criança realiza determinada ação.

A pesquisa realizada deixa bem claro que


algumas crianças com Síndrome de Down poderão
realizar ações descritas com idade igual a da média das
crianças ditas normais, ou até antes. Sendo assim, foi
concluído nesta pesquisa que a diferença está em uma
maior ou menor estimulação.
Aula 1 |Síndrome de Down 28

IDADE ESPERADA “NORMAL”

AÇÃO MÉDIA FAIXA

Sentar sozinho 6 meses 05-09 meses


Importante

Engatinhar 09 meses 06-12 meses


A criança com
síndrome de Down Ficar de pé 11 meses 08-17 meses
se bem estimulada
desde cedo,
Andar sozinho 14 meses 09-18 meses
apresentará uma
defasagem bem
menor do que Primeira palavra 12 meses 08-23 meses
aquela criança que
não foi estimulada
Frase com 2 palavras 02 anos 15-32 meses
desde a mais tenra
idade.
Sorriso em resposta 01 mês 01-03 meses

Comer com as mãos 10 meses 07-14 meses

Beber no copo 13 meses 09-17 meses

Uso da colher 14 meses 12-20 meses

Vestir-se 04 anos 03-05 anos

IDADE DOWN

AÇÃO MÉDIA FAIXA

Sentar sozinho 11 meses 06-30 meses

Engatinhar 15 meses 08-22 meses

Ficar de pé 20 meses 01-03 meses

Andar sozinho 26 meses 01-04 anos

Primeira palavra 23 meses 01-04 anos

Frase com 2 palavras 03 anos 01-07 anos

Sorriso em resposta 03 meses 01-05 meses

Comer com as mãos 18 meses 10-24 meses

Beber no copo 23 meses 12-32 meses

Uso da colher 29 meses 13-39 meses

Vestir-se 07 anos 03-08 anos


Aula 1 |Síndrome de Down 29

SÍNDROME DE DOWN E A ESTIMULAÇÃO PRECOCE

Importante
SÍNDROME DE DOWN: é essencialmente um
atraso no desenvolvimento, tanto das funções motoras ESTIMULAÇÃO
PRECOCE
do corpo como das funções mentais.
É capaz de acelerar
o desenvolvimento
ESTIMULAÇÃO PRECOCE: é uma série de
exercícios que tem como objetivo desenvolver as
capacidades da criança, estes exercícios/estímulos
devem estar de acordo com a fase do desenvolvimento
em que ela se encontra.

Estimular um bebê com Síndrome de Down é Importante


fundamental. Tão logo se tenha o diagnóstico, deve-se
começar o trabalho com a estimulação. A experiência
comprova que de
nada adianta uma
estimulação feita
Werneck (1995) diz que, sem afetividade e
sem aceitação.

Ser estimulada precocemente é


fundamental para o desempenho
futuro da criança, tenha ela ou não
Síndrome de Down (...).

Werneck em seus trabalhos enfatiza a


importância da estimulação para uma mielinização, e
ressalta:
Importante
Toda a sistematização do
conhecimento humano ocorre através
O excesso de
deste fenômeno. Ele consiste no estimulação é tão
aparecimento de uma substância, a prejudicial quanto a
mielina, ao redor de cada neurônio, falta.
permitindo que essas células nervosas O ideal é fazer
poucos exercícios
se comuniquem entre si. A mielina várias vezes ao dia.
funciona como um condutor elétrico da
informação e só se forma a partir da
soma de dois fatores: um interno e um
externo.

O fator interno seria uma constituição orgânica


saudável e eficiente. O externo fica por conta dos
estímulos percebidos através dos cinco sentidos e das
experiências sensório-motoras.
Aula 1 |Síndrome de Down 30

Muitas vezes, por falta de informação e de


orientação, os pais deixam de trabalhar a estimulação
nos primeiros meses de vida do bebê, acabam
perdendo a oportunidade de estimular adequadamente
o bebê no seu primeiro ano de vida.
Dica da
professora
Por outro lado, há pais que acreditam que basta
No Brasil, não a estimulação feita por um profissional, que o mesmo
encontramos esse
tipo de trabalho de passa a ser responsável pelo desenvolvimento daquela
estimulação precoce
no serviço público. criança. Acreditam que sua responsabilidade termina aí.
Mas, ele pode ser
feito em clínicas de
Engano. A estimulação do bebê com Síndrome de Down
reabilitação e em
é responsabilidade de todos que o cercam.
instituições.

Existem programas específicos de estimulação


precoce para portadores de SD, em diversas
instituições especializadas na educação de crianças
excepcionais como, por exemplo:

:: APAE:
 APAE – Associação de Pais e Amigos dos
Tem cerca de mil Excepcionais;
filiais espalhadas
pelas cidades de  AACD – Associação de Assistência à Criança
médio porte e
grande porte Defeituosa;
brasileiras.
 Amigo do Down;
 Abrapia – Associação Brasileira
Multiprofissional de Proteção à Infância e
Adolescência;
:: PESTALOZZI:
 Sociedade Pestalozzi do Brasil;
 Pró-Down;
Instituição criada em
homenagem ao  Asdown;
filósofo suíço João
Henrique Pestalozzi.  SOS – Down.

SÍNDROME DE DOWN E A EDUCAÇÃO

Muitos de nós nos perguntamos: o que um


portador da Síndrome de Down é capaz de fazer? E de
aprender? Como educá-los? Eles conseguem ler e
escrever?
Aula 1 |Síndrome de Down 31

O adequado para uma criança portadora da


Síndrome de Down é participar de um programa de
desenvolvimento sensório-motor-afetivo-cognitivo que
lhes favoreçam o desenvolvimento global e a integração
à sociedade.

Vem crescendo, consideravelmente, a


importância do que chamamos “educação especial”.
Isto se deve ao fato de estarmos percebendo as
diferenças. O SD tem necessidades, qualidades e
dificuldades diferentes e demandam um atendimento
específico.

O portador de Síndrome de Down é capaz de


aprender a ler e a escrever, somente em um outro
tempo, tem um ritmo de aprendizagem e
desenvolvimento cognitivo diferente.

Werneck (1995) explica que,

O objetivo da educação especial é


justamente acelerar esse processo que
foi lentificado pela síndrome.

Complementa afirmando que,

(...) vivenciamos que crianças


portadoras de Síndrome de Down são
capazes de atuar em níveis muito mais
elevados do que se acreditava
anteriormente. Dentro dos limites
impostos por sua condição genética
básica, há uma gama de variantes Importante
físicas e intelectuais. Uns têm
comprometimento intelectual maior do
que outros, mas mesmo os de QI mais O desenvolvimento
deficitário nos surpreende algumas afetivo-emocional da
criança também
vezes. adquire papel
importante na área
Como educadores, devemos ter como objetivo da aprendizagem.

desenvolver ao máximo o potencial cognitivo dos


portadores da SD. Um profissional especializado e
atento atuará precisamente com estímulos mais
intensos e precisos.
Aula 1 |Síndrome de Down 32

Muitas dúvidas surgem na hora da escolha da


escola. Os pais se perguntam se devem colocar seus
filhos em uma escola especial ou devem colocar seus
filhos em escolas normais. Muitos estudiosos acreditam
que o contato com crianças ditas normais serve de
estímulo para o desenvolvimento dos portadores de SD.
Mas, devemos entender que, muitas vezes, as
Para refletir necessidades educacionais desses portadores de SD
não são atendidas, provocando frustrações. O ideal é
Devido ao
processamento mais equilibrar e absorver o que cada escola tem de bom
lento de
informações, pode
para oferecer.
demorar mais para
se obter sinais de
curiosidade e EM UMA UNIDADE ESPECIAL – Terão meios
iniciativa dos
portadores de pedagógicos e programação adequada as suas
Síndrome de Down.
necessidades. Fica por conta dos pais promoverem o
Com a ajuda
adequada, a lado social, o contato e a relação com crianças normais
aprendizagem
ocorre, de fato, em atividades de lazer.
embora em ritmo
mais lento.
EM UMA ESCOLA DE ENSINO REGULAR –
Naturalmente se estimula a integração, os pais terão
que ficar atentos à aprendizagem escolar, suprindo com
Importante meios materiais e pessoais as deficiências da formação
específica, necessária à preparação do futuro pessoal e
Quando se fala em
integração do profissional do portador de SD.
deficiente (físico,
mental ou SD), fala-
se em normalização. Neste caso, a opção fica com a família. Não
Você sabe o que
significa? esquecendo que estimulação e integração devem
A normalização é caminhar juntas. Caso optem por uma escola normal,
descrita como a
oportunidade de os pais ficam responsáveis em fornecer, na outra
proporcionar aos
portadores de metade do dia, uma estimulação intensiva. Optando
deficiência uma
existência o mais
pela escola especializada, ficam com a função de
próximo possível do integrá-los, na outra metade do dia, em grupos de
normal.
crianças ditas normais, com atividades de lazer.

Qualquer método de alfabetização pode ser


eficiente, desde que respeite as diferenças individuais
dos alunos (quanto à capacidade, interesse e
experiência de vida) e as necessidades específicas de
cada criança.
Aula 1 |Síndrome de Down 33

SÍNDROME DE DOWN E A EDUCAÇÃO SEXUAL –


SEXUALIDADE

A educação sexual deve ser feita aos poucos, de


acordo com a curiosidade apresentada e a capacidade
de compreensão da criança. Os pais e os educadores
devem orientar sobre as diferenças entre meninos e
meninas (órgãos sexuais, vestimenta, comportamento), Para refletir

as formas de relacionamento (amizade, namoro,


“A sexualidade é um
casamento). fator importante
para o
desenvolvimento da
personalidade de
A educação sexual é feita durante o qualquer indivíduo,
desenvolvimento da criança, com o objetivo de algo que não pode
ser negado ou
prepará-la para situações onde ela terá a oportunidade sublimado”.

de vivenciar, naturalmente, a primeira menstruação, os Fabiane Muniz, in


Alves (2007).
pêlos pubianos e a ejaculação.

A orientação deve ser feita por pessoas que


lidem com a sua sexualidade de forma natural, na hora
da conversa a naturalidade e a espontaneidade irão
facilitar o entendimento do assunto abordado.

A esse respeito, Milane (2004) diz:

Compreender o desenvolvimento da
sexualidade da pessoa portadora de
Síndrome de Down exige defrontar-se
com a própria sexualidade, levando em
conta os aspectos intrínsecos como
sentir prazer, relacionar-se e
reproduzir.

É natural do ser humano desenvolver a sua


sexualidade, melhor se for bem orientada.

Fabiane Muniz in Alves (2007), diz:

O portador da Síndrome de Down,


como qualquer outro indivíduo, tem
necessidade de expressar seus
sentimentos. A repressão da
sexualidade pode vir a alterar o
equilíbrio psíquico do sujeito, pois acredi-
Aula 1 |Síndrome de Down 34

ta-se que a sexualidade, quando bem


desenvolvida, facilita também o
desenvolvimento afetivo e a
capacidade de se relacionar,
:: Análise
funcional:
melhorando a auto-estima e a
adequação à sociedade.

É a forma pela qual Figueiredo Netto (1997) comenta a importância


os profissionais
especializados vão de se respeitar a pessoa com Síndrome de Down, pois é
traçando o perfil do
aprendiz. um ser humano e tem direito à vida, ao prazer e ao
Nela, o que
prevalece são as amor. E ainda enfatiza que a família deve lidar de
habilidades
funcionais e não a
forma natural com essa questão.
deficiência.

Werneck (1995) SÍNDROME DE DOWN E A PROFISSIONALIZAÇÃO

A vida de um adulto com Síndrome de Down vai


depender de suas habilidades físicas e intelectuais. Há
grande diferença entre elas. Uns podem apresentar
mais dificuldades que outros e, portanto, necessitarão
de uma experiência profissional mais protegida. Se,
desde cedo, esses portadores da síndrome se utilizarem
de tratamentos baseados em técnicas de estimulação
poderão ter uma vida profissional de boa qualidade.

Werneck (1995) diz:

É bom ter sempre em mente que as


possibilidades de desenvolvimento
profissional dessa população dependem
das habilidades do portador de
deficiência e das estratégias utilizadas
no processo de aprendizagem.
Necessitamos de um programa nacional
que focalize as potencialidades do
indivíduo, oferecendo-lhe a
oportunidade de desempenhar funções
ao nível de suas capacidades. Isso é
obtido através da chamada análise
funcional, cujo objetivo é colocar a
pessoa certa no local certo.

Conclusão

Concluímos com a certeza de ter contribuído


para o esclarecimento e a formação de um profissional
capaz de compreender e lidar com os portadores da
Síndrome de Down e suas questões mais freqüentes.
Aula 1 |Síndrome de Down 35

Fez-se necessário conhecer sobre o assunto para


entender o que se passa com os portadores dessa
síndrome, quais as suas necessidades, como é o seu
desenvolvimento, suas limitações.

Devemos, acima de tudo, olhar para essa pessoa


e vê-la como indivíduo, como ser humano que, assim
como todos os outros, tem direito à vida, à educação,
ao amor, a se relacionar, a fazer parte da sociedade
com todos os direitos e deveres.

O conhecimento é uma arma implacável contra o


preconceito: o desconhecimento e a falta de informação
não favorecem a inclusão dessas pessoas, colocando-
as, muitas vezes, à margem de uma sociedade que não
é capaz de repensar seus conceitos e se livrar dos seus
preconceitos.

Vamos, enquanto seres humanos e profissionais,


oportunizar o crescimento, o desenvolvimento, o
conhecimento, o amor, a solidariedade, o respeito ao
próximo, independente de qualquer síndrome ou
deficiência. Assim, poderemos fazer a diferença!

Dedicado aos pais de crianças com


Síndrome de Down

Ter um bebê com Down é como planejar uma


fabulosa viagem de férias - para a ITÁLIA! Você compra
montes de guias e faz planos maravilhosos o “Coliseu”,
o “Davi” de Michelangelo, as gôndolas de Veneza. Você
pode até aprender algumas frases simples em italiano.
É tudo muito excitante.

Após meses de antecipação, finalmente chega o


grande dia! Você arruma as malas e embarca. Algumas
horas depois você aterrissa. O comissário de bordo
chega e diz: "BEM-VINDO À HOLANDA!". "Holanda!?", diz
Aula 1 |Síndrome de Down 36

você, "o que quer dizer com Holanda ? Eu escolhi a


Itália! Eu devia ter chegado à Itália. Toda minha vida
eu sonhei em conhecer a Itália".

Mas houve uma mudança do plano de vôo. Eles


aterrissaram na Holanda e é lá que você deve ficar.

Logo, você deve sair e comprar novos guias. Deve


aprender uma nova linguagem. E você irá encontrar todo
um novo grupo de pessoas que nunca encontrou antes.

É apenas um lugar diferente. É mais baixo e


menos ensolarado que a Itália, Mas, após alguns
minutos, você pode respirar fundo, olhar ao redor... e
começar a notar que a Holanda tem moinhos de vento,
tulipas e até Rembrants e Van Goghs.

A coisa mais importante é que eles não o


levaram a um lugar horrível, desagradável, cheio de
pestilência, fome e doença. É apenas um lugar
diferente.

Mas, todos que você conhece estão ocupados


indo e vindo à Itália... e estão sempre comentando
sobre o tempo maravilhoso que passaram lá. E, por
toda a vida, você dirá: "Sim, lá era onde eu deveria
estar. Era tudo o que eu havia planejado".

E a dor que isso causa, nunca, nunca irá


embora... porque a perda desse sonho é uma perda
extremamente significativa.

Porém,... se você passar a vida toda remoendo o


fato de não haver chegado à Itália, nunca estará livre
para apreciar as coisas belas e muito especiais... sobre
a Holanda.
Aula 1 |Síndrome de Down 37

O POTE QUEBRADO - CONTO POPULAR HINDU

Um carregador de água na Índia levava dois


potes grandes, ambos pendurados em cada ponta de
uma vara, a qual ele carregava atravessada em seu
pescoço.

Um dos potes tinha uma rachadura, enquanto o


outro era perfeito e sempre chegava cheio de água no
fim da longa jornada entre o poço e a casa do chefe; o
pote rachado chegava apenas pela metade. Foi assim
por dois anos. Diariamente, o carregador entregando
um pote e meio de água na casa de seu chefe.

Claro, o pote perfeito estava orgulhoso de suas


realizações. Porém, o pote rachado estava
envergonhado de sua imperfeição, e sentindo-se
miserável por ser capaz de realizar apenas a metade do
que ele havia sido designado a fazer. Após perceber
que por dois anos havia sido uma falha amarga, o pote
falou para o homem um dia à beira do poço.

"Estou envergonhado, e quero pedir-lhe


desculpas."

- “Por quê?” – perguntou o homem. – “De que


você está envergonhado?”

- “Nesses dois anos, eu fui capaz de entregar


apenas a metade da minha carga, porque essa
rachadura no meu lado faz com que a água vaze por
todo o caminho da casa de seu senhor. Por causa do
meu defeito, você tem que fazer todo esse trabalho, e
não ganha o salário completo dos seus esforços,” disse
o pote.

O homem ficou triste pela situação do velho pote


e com compaixão falou:
Aula 1 |Síndrome de Down 38

- “Quando retornarmos para a casa de meu


senhor, quero que percebas as flores ao longo do
caminho.”

De fato, à medida que eles subiam a montanha,


o velho pote rachado notou as flores selvagens ao lado
do caminho e isto lhe deu certo ânimo.

Mas ao fim da estrada, o pote ainda se sentia


mal porque tinha vazado a metade, e de novo pediu
desculpas ao homem por sua falha.

Disse o homem ao pote:

- "Você notou que pelo caminho só havia flores


no seu lado. Eu, ao conhecer o seu defeito, tirei
vantagem dele. E lancei sementes de flores no seu lado
do caminho, e cada dia, enquanto voltávamos do poço,
você as regava.

Por dois anos, eu pude colher estas lindas flores


para ornamentar a mesa de meu senhor. Se você não
fosse do jeito que você é ele não poderia ter esta
beleza para dar graça à sua casa."
(Fonte: hpt://paulino.down.vilabol.uol.com.br)

EXERCÍCIO 1

Qual a causa da síndrome de down?

( A ) Trissomia do cromossomo 21;


( B ) Trissomia do cromossomo 31;
( C ) Cromossomo 21 inexistente;
( D ) Alteração na divisão dos cromossomos xy;
( E ) Cromossomo 21 atrofiado.
Aula 1 |Síndrome de Down 39

EXERCÍCIO 2

São exames que confirmam o diagnóstico de síndrome


de DOWN durante a gestação:

( A ) Amniocentese, biópsia do vilo corial e


cordocentese;
( B ) Cordocentese, teste de Walker;
( C ) Dosagens bioquímicas do sangue, biópsia do vilo
corial;
( D ) Aminiocentese, cariótipo e teste de Walker;
( E ) Cariótipo e ultra.

EXERCÍCIO 3

Explique o que é a Síndrome de Down detalhando suas


principais características?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Como a Educação pode auxiliar aos portadores da


Síndrome de Down?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 |Síndrome de Down 40

RESUMO

Vimos até agora:

 Em 1838 Jean Esquirol forneceu a primeira


descrição de uma criança que presumia ter a
síndrome de DOWN, mas foi somente em
1866 que Jonh Down publicou um trabalho
onde descreveu as características da
síndrome que levaram seu nome;

 A Síndrome de Down é uma deficiência mental


causada pela trissomia do cromossomo 21 mais
freqüente do planeta não existindo até hoje
cura disponível para a mesma;

 Existem três tipos de cariótipos em pessoas


com síndrome de DOWN: a trissomia simples,
a trissomia por translocação e o mosaicismo;

 Existem uma série de testes que podem ser


realizados durante a gravidez - como a
cordocentese e a biópsia vilo-corial e outros -
que podem ser realizados após a gravidez –
como o teste de Walker - que podem
confirmar o dignóstico da doença;

 40 % das crianças com síndrome de Down


tem má formação cardíaca;

 Algumas das principais características físicas


do portador da síndrome de DOWN são: rosto
de contorno achatado, pálpebras estreitas e
levemente oblíquas, orelhas pequenas, língua
grande, protusa e sulcada e por fim mão e
pés tendem a ser pequenos e grossos;

 95% das crianças com síndrome de Down


têm desenvolvimento intelectual limitado;
Aula 1 |Síndrome de Down 41

 A estimulação precoce no caso da criança


com Down é fundamental para o desempenho
futuro da criança. A criança com Down é
capaz de aprender a ler e escrever, contudo
em um ritmo diferenciado de aprendizagem e
desenvolvimento;

 A educação sexual da criança com Down deve


acontecer uma vez que não há problema
algum em seus órgãos sexuais. Ela deve ser
orientada aos poucos com respeito e
naturalidade.
2

AULA
Autismo
Soraya Jordão

Assim como nos dedicamos ao estudo da Síndrome de Down na


Apresentação

aula anterior, nesta aula analisaremos como temática principal o


Autismo, procurando conhecer não apenas uma visão clínica e/ou
científica da doença, mas o universo solitário do portador dessa
doença, destacando a escola, na perspectiva da educação
inclusiva, como um lugar extremamente privilegiado para lidar
com este.
De um modo geral, esta aula quer sensibilizar os alunos para a
gravidade desse problema e simultaneamente capacitá-los para
trabalhar com autistas, analisando recursos e vivências utilizáveis
dentro e fora do contexto escolar voltadas para o desenvolvimento
e aprendizado dos portadores dessa doença.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Favorecer o conhecimento do autismo, suas características


principais, histórico e debates na área;
Objetivos

 Analisar a relação autismo e esquizofrenia;


 Refletir sobre as três áreas afetadas no autismo infantil e
algumas práticas que podem ser desenvolvidas em relação a
estes afetamentos;
 Estudar a escola como um lugar privilegiado para lidar com
autistas sob o viés da Educação Inclusiva.
Aula 2 | Autismo 44

Introdução

Antes de iniciarmos a nossa viagem pela busca


de informações e conhecimentos a respeito do autismo
infantil, desejamos situar vocês com relação aos
objetivos que pretendemos alcançar com esta aula.
Para
navegar
Sabemos que o tema é cercado de divergências
www.ama.org.br e discordâncias a respeito de aspectos como etiologia,
tratamento e prognóstico; sendo assim, buscaremos
apresentar as principais contribuições teóricas sobre o
autismo (ainda que possam ser divergentes), sua
fenomenologia, diagnóstico diferencial, prognóstico e
terapêuticas existentes, visando dotar-lhes de
informações que enriqueçam a prática educacional com
essas crianças que, muitas vezes, nos chegam em
sala de aula sem diagnóstico, sem tratamento e, ainda
por cima, rotuladas como incapazes, inacessíveis ou
“degeneradas”.

Nossa intenção é, então, apresentar não só a


visão científica, médico-psiquiátrica do autismo infantil,
mas introduzir vocês nesse universo sensível, caótico e,
muitas vezes , solitário (fruto da exclusão social) em
que a criança autista se encontra mergulhada.

Mas por que e para que? Por que interessaria ao


educador aprofundar-se nesse tema?

Primeiro, porque sabemos que no decurso de


nossa prática profissional nos depararemos com elas, e
sem o conhecimento prévio de suas necessidades, toda
e qualquer proposta educacional estará fadada ao
fracasso e terá como conseqüência a frustração e o
sentimento de impotência para o educador.

Segundo, porque o ambiente escolar e as


relações afetivas que ali se constroem (principalmente a do
Aula 2 | Autismo 45

aluno com o professor e com a turma) são de extrema


importância para a superação de muitos obstáculos
vividos por essas crianças e seus familiares no seu dia-
a-dia.

A escola é um espaço privilegiadíssimo para


essas crianças, não só pela sua vertente pedagógica,
mas principalmente pela sua vertente social. Muitas
vezes, é somente na escola que elas têm alguma
possibilidade de vínculo e contato com outras crianças e
com os símbolos culturais.
Dica de
leitura

Enfim, esta aula pretende sensibilizar o


educador para as necessidades educacionais das RODRIGUES, Davi.
Inclusão e educação
crianças autistas, de forma a capacitá-lo a trabalhar – doze olhares sobre
educação inclusiva.
com elas na exploração e estímulo do potencial de cada São Paulo: Summus,
2006.
uma, na elaboração de recursos que viabilizem
FELTRIN, Antonio
descobertas e vivências enriquecedoras, assim como Efro. Inclusão social
na escola - quando a
pretendemos, também, demonstrar a importância do pedagogia se
encontra com a
papel do educador na construção de um lugar social diferença. São
para cada criança no espaço escolar, a partir do Paulo: Paulinas,
2004.
incremento dos vínculos e trocas afetivas, do estímulo à
inserção, à integração e à participação nos grupos e da
aproximação dos valores, normas e símbolos culturais.
Esse percurso de inserção e integração social dentro do
ambiente escolar está baseado no acolhimento das
diferenças, na identificação das necessidades de cada
aluno para que o planejamento pedagógico e o próprio
plano de aula atenda as singularidades e promova a
exploração das habilidades e competências de forma a
viabilizar a superação das dificuldades identificadas no
processo de aprendizagem e socialização.

Nosso interesse, então, está voltado para a


transmissão de informações, conhecimento e
questionamentos que favoreçam a troca entre
professor/aluno e a elaboração de um caminho
facilitador e transformador da educação.
Aula 2 | Autismo 46

Acreditamos na escola como um espaço de


Dica de
filme conscientização, orientação e promoção da inclusão
social, sendo essa uma via indispensável de auxílio e
- Quando tudo estímulo para o desenvolvimento global do educando,
começa.
- Simples como objetivo primordial de uma educação inclusiva, justa e
amar.
promotora de autonomia e cidadania.

Autismo infantil

HISTÓRICO E DEFINIÇÃO
Importante
Para iniciarmos um estudo sobre a síndrome do
É importante autismo infantil, precisamos primeiro defini-la e, para
lembrar que, mesmo
antes de 1943, isso, não podemos deixar de apresentar as
crianças autistas
eram conhecidas e contribuições teóricas de Leo Kanner que, a partir do
descritas na
literatura, porém foi estudo minucioso de onze crianças, escreve seu ensaio
Kanner que, a partir
de suas
geral (em 1943) e estabelece o autismo infantil como
investigações, uma entidade diagnóstica. Ele conclui:
atribuiu um nome a
esse conjunto de
fenômenos.
Haslem, em 1809, Devemos, portanto, presumir que
descreveu o caso de essas crianças vieram ao mundo com
um menino autista.
Em 1906, Plouller uma incapacidade inata para
introduziu o adjetivo estabelecer o contato afetivo usual e
autista na literatura biologicamente determinado com
psiquiátrica. pessoas, precisamente como outras
Darr e Worden, em
1921, estudaram crianças vêm ao mundo com
uma criança autista anomalias físicas ou intelectuais
de 4 anos. inatas. Se essa posição estiver correta,
um estudo posterior sobre nossas
crianças poderá ajudar a fornecer
critérios concretos no tocante às
noções ainda difusas sobre os
componentes constitucionais da
reatividade emocional. Parece que
temos aqui exemplos puramente
culturais de um distúrbio autístico
inato do contato afetivo.
(Kanner apud Bettelheim, 1987, p.
416)

Kanner, então, apresenta nesse ensaio de 1943


o autismo como uma anomalia inata e diferenciada do
grupo das esquizofrenias, anteriormente descritas por
Bleuler. Ele utiliza o conceito de autismo proposto por
Bleuler em 1911, porém, diferentemente de Bleuler, sua
Aula 2 | Autismo 47

ênfase é colocada no contato afetivo, e não no distúrbio


com relação à realidade.
Dica de
leitura

Vejamos o autismo para Bleuler:


Muitos autores
discordam de
Os esquizofrênicos mais graves, que Kanner com relação
deixam de ter qualquer contato com o ao fato do autismo
mundo, vivem num mundo muito ser considerado um
pessoal. “Fecharam-se na sua concha” distúrbio inato.
Entre eles, podemos
com seus desejos e anseios (que citar: Bettlheim,
consideram preenchidos) ou ocupam- Mahler, Tustin e
se das provações e tribulações Leffort, dentre
decorrentes de sua mania de outros.
Esses autores são
perseguição: na medida do possível, psicanalistas e suas
cortaram qualquer contato com o obras trazem
mundo externo. Denominamos experiências e
autismo ao afastamento da realidade conhecimentos
importantes a
aliado ao predomínio relativo ou respeito do autismo
absoluto de uma vida anterior. infantil. Para
(Bleuler apud Bettelheim, 1987, p. consulta, podemos
417) citar:
A Fortaleza Vazia
(Bettlheim, B.)
Fica claro, então, que o autismo era visto por Autismo e Psicose
Infantil (Tustin, F.)
Bleuler não como uma doença, mas como um sintoma O Nascimento do
Outro (Leffort, R.)
secundário das esquizofrenias. Daí a importância da
distinção feita por Kanner entre o diagnóstico de
esquizofrenia e autismo. Com isso, o autismo deixa de
ser um sintoma do quadro esquizofrênico e passa a ser
descrito como uma doença que possui sua própria
fenomenologia.

Embora o esquizofrênico tente resolver


seu problema saindo de um mundo do
qual faz parte e com o qual esteve em
contato, nossas crianças
comprometem-se gradualmente,
através de cautelosas tentativas
experimentais, num mundo no qual
desde o início foram totalmente
estranhas.
(Kanner apud Bettelheim, 1987, p.
417 )

Ou seja, o esquizofrênico tende a se isolar do


mundo e a criança autista não consegue penetrar nele.

Na sua primeira publicação (1943), Kanner


postula o autismo como um distúrbio inato,
denominando-o como um distúrbio de contato afetivo. Em
Aula 2 | Autismo 48

1944, ano da sua segunda publicação, ele passa a


denominá-lo “autismo infantil precoce”.

Dica de
leitura
A partir da observação sistemática e do
acompanhamento de onze crianças, Kanner nomeia o
SACKS, Oliver. em autismo e circunscreve sua sintomatologia. Ele escreve:
seu livro “ um
antropólogo em
marte”, relata o Os traços característicos consistem
caso de uma autista
num profundo retraimento do contato
PHD em ciência
animal, que com pessoas, num desejo obsessivo de
alcançou preservar a uniformidade, numa
reconhecimento relação habilidosa com objetos, na
mundial em função
preservação de uma fisionomia
de suas descobertas
no seu campo de inteligente e absorta, e ou no mutismo
atuação. ou no tipo de linguagem que não
O texto é fantástico, parece pretender servir ao objetivo da
porque relata em
comunicação interpessoal. Esse
detalhes os dias em
que ele acompanhou comportamento difere do ritualismo
a rotina dessa obsessivo comum num aspecto
mulher autista e significativo: a criança autista obriga
interessante,
as pessoas do seu mundo a serem
apresenta uma
descrição detalhada ainda mais obsessivas do que ela
das dificuldades e própria. Embora possa fazer
impasses dela, e, concessões esporádicas, não garante
também, descreve
esses privilégios aos outros. É um juiz
os recursos usados
para superação implacável, duro e crítico. Quando
destes. observamos uma criança dessas por
Vale a pena um longo período, torna-se evidente
conhecer a história
que, a menos que esteja
de Temple Grandin,
para desmitificar a completamente só, a maior parte de
idéia de que o suas atividades é consagrada à tarefa
autismo impossibilita grave, solene e sacerdotal de
a aquisição do
manutenção da uniformidade, da
conhecimento.
identidade absoluta.
SACKS, Oliver. Um (Kanner apud Bettlheim, 1987, p.
antropólogo em 416)
marte – sete
histórias paradoxais.
São Paulo: Alguns estudos foram realizados depois de
Companhia das
Letras, 1995.
Kanner e contribuições foram se somando, no entanto,
até os dias de hoje, tem-se como referência sua
minuciosa descrição das características e
fenomenologia autística.

A Síndrome de Kanner (autismo infantil precoce)


é classificada no CID-10 (Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento da CID-10) como um
transtorno invasivo do desenvolvimento. Essa
classificação é definida a partir do seguinte critério:
Aula 2 | Autismo 49

Esse grupo de transtornos é


caracterizado por anormalidades :: Autismo atípico:
qualitativas em interações sociais
recíprocas e em padrões de Difere do autismo
em termos de idade
comunicação e por um repertório de
de início ou de falha
interesses e atividades restrito, em preencher todos
estereotipado e repetitivo. Essas os três conjuntos de
anormalidades qualitativas são um critérios
diagnósticos, ou
aspecto invasivo do funcionamento do
seja, a criança
indivíduo em todas as situações, começa a apresentar
embora possam variar em grau. Na os sintomas depois
maioria dos casos, o desenvolvimento da idade de 3 anos e
não apresenta
é anormal desde a infância e, com
comprometimento
apenas poucas exceções, as condições nas três áreas
se manifestam nos primeiros 5 anos de afetadas no autismo
vida. de Kanner, a saber:
das interações
(CID-10, 1993, pp. 246/247)
sociais recíprocas,
comunicação e do
Então, o autismo infantil é classificado como um comportamento
restrito,
transtorno invasivo do desenvolvimento e apresenta as estereotipado e
repetitivo). Além
seguintes especificidades: disso, é mais
freqüente em
sujeitos
profundamente
AUTISMO INFANTIL – Um transtorno invasivo do
retardados.
desenvolvimento definido pela presença de
desenvolvimento anormal e/ou comprometido que se
manifesta antes da idade de 3 anos e pelo tipo
característico de funcionamento anormal em todas as
três áreas de interação social, comunicação e
comportamento restrito e repetitivo. O transtorno
ocorre em garotos três ou quatro vezes mais
freqüentemente que em meninas (CID-10, 1993, p. 247)

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Na Classificação de Transtornos Mentais e de


Comportamento (CID-10), também são apontadas as
diretrizes diagnósticas, que servem de amparo para
que seja feito um diagnóstico diferencial com relação a
outras síndromes de sintomatologia parecida. Vejamos:

"Em geral, não há um período prévio de


desenvolvimento inequivocamente normal, mas,
anormalidades se tornam aparentes antes da idade de
3 anos. Há sempre comprometimentos qualitativos na inte
Aula 2 | Autismo 50

ração social recíproca. Estes tomam a forma de uma


apreciação inadequada de indicadores sócioemocionais,
como demonstrada por uma falta de respostas para as
emoções de outras pessoas e/ou falta de modulação do
comportamento, de acordo com o contexto social; uso
insatisfatório de sinais sociais e uma fraca integração
dos comportamentos sociais, emocionais e de
comunicação e, especialmente, uma falta de
reciprocidade socioemocional. Similarmente,
comprometimentos qualitativos na comunicação são
universais. Estes tomam a forma de uma falta de uso
social de quaisquer habilidades de linguagem que
estejam presentes; comprometimento em brincadeiras
de faz-de-conta e jogos sociais de imitação; pouca
sincronia e falta de reciprocidade no intercâmbio de
conversação; pouca flexibilidade na expressão da
linguagem e uma relativa ausência de criatividade e
fantasia nos processos de pensamento; falta de
resposta emocional às iniciativas verbais e não verbais
de outras pessoas; uso comprometido de variações na
cadência ou ênfase para refletir modulação comunicativa
e uma falta similar de gestos concomitantes para dar
ênfase ou ajuda na significação na comunicação falada.

Algumas síndromes têm, inicialmente, uma


sintomatologia parecida com o autismo infantil e,
muitas vezes, isso dificulta o diagnóstico diferencial.
Dentre elas, temos:
Síndrome de Rett – Causa desconhecida, até
então diagnosticada somente em meninas. É
primariamente diferenciada com base na falta de
movimentos propositais das mãos, desaceleração do
crescimento do crânio, ataxia e convulsões.
Síndrome de Asperger - Apresenta o mesmo tipo
de anormalidades qualitativas de interação social
recíproca, repertório de interesses e atividades
restrito, estereotipado e repetitivo. Porém, difere do
autismo primariamente por não haver nenhum
atraso ou retardo global no desenvolvimento
cognitivo ou de linguagem.
A condição é, também, caracterizada por
padrões de comportamento, interesses e atividades
restritos, repetitivos e estereotipados. Isto toma a
forma de uma tendência a impor rigidez e rotina a uma am
Aula 2 | Autismo 51

pla série de aspectos do funcionamento diário;


Dica de
usualmente, isto se aplica tanto a atividades novas como filme

a hábitos familiares e a padrões de brincadeiras.


Particularmente na primeira infância, pode haver Alguns filmes
abordam o tema do
vinculação específica a objetos incomuns, tipicamente autismo e sua
implicação nas
não-macios. A criança pode insistir na realização de relações familiares e
sociais. Entre eles,
rotinas particulares e em rituais de caráter não- sugerimos:

funcional; pode haver preocupações estereotipadas  Rain Man;


 Meu filho, meu
com interesses tais como datas, itinerários ou horários; mundo;
 Experimentando a
freqüentemente, há estereotipias motoras; um vida;
 O garoto que podia
interesse específico em elementos não funcionais de
voar;
objetos (tais como seu cheiro ou tato) é comum e pode  Prisioneiros do
silêncio;
haver resistência a mudanças na rotina ou em detalhes  Refrigerator
mothers;
do meio ambiente social (tais como as movimentações  A sombra do
piano.
de ornamentos ou móveis em casa).

Em adição a esses aspectos diagnósticos


específicos, é freqüente a criança com autismo mostrar
uma série de outros problemas não específicos tais
como medo/fobias, perturbações de sono e
alimentação, ataques de birra e agressão. Autolesão (p.
ex. morder o punho) é bastante comum, especialmente
quando há retardo mental grave associado. A maioria
dos indivíduos com autismo carece de espontaneidade,
iniciativa e criatividade na organização de seu tempo de
lazer e tem dificuldade em aplicar conceitualizações em
decisões no trabalho (mesmo quando as tarefas em si
estão à altura de sua capacidade). A manifestação
específica dos déficits característicos do autismo muda
à medida que as crianças crescem, mas os déficits
continuam através da vida adulta com um padrão
amplamente similar de problemas na socialização, na
comunicação e nos padrões de interesse. As
anormalidades do desenvolvimento devem estar
presentes nos primeiros 3 anos para que o diagnóstico
seja feito, mas a síndrome pode ser diagnosticada em
todos os grupos etários.
Aula 2 | Autismo 52

Todos os níveis de QI podem ocorrer em


associação com o autismo, mas há retardo mental
significativo em cerca de três quartos dos casos. (CID-
10, 1993, pp. 247/248)

Embora alguns autores compartilhem com


Kanner a idéia de que o autismo infantil é um distúrbio
inato do contato afetivo, existem outros autores que o
consideram uma falta de capacidade para o
pensamento abstrato. Nesse caso, o autismo não seria
uma incapacidade para estabelecer relações afetivas,
mas sim uma incapacidade de abstração.

Você sabia?
Esse é um aspecto importante a ser

O dia 18 de Junho considerado, principalmente, porque sabemos a


é considerado O DIA
DO ORGULHO implicação da capacidade de abstração no processo de
AUTISTA. Essa data
foi criada por um
aprendizagem, na capacidade de interpretação, análise
grupo de pais, e síntese, na expressão escrita e verbal, na aritmética.
amigos e parentes
de portadores da
síndrome. O objetivo
é trazer maior
Ao distinguir o autismo infantil de
conscientização dos outras formas de deficiência mental,
direitos do autista, deveremos afirmar que a criança
assim como lutar autista não é retardada mental no
contra os diversos
preconceitos
sentido comum da palavra, mas antes
enfrentados por uma criança com uma atividade
eles. mental inadequada, que se manifesta
na incapacidade para manipular
formas simbólicas e assumir uma
atitude abstrata. Temos, pois, nessas
crianças, um distúrbio específico de
abstração, que é uma parte importante
da inteligência humana, mas não
idêntica a outras formas de anomalias
ou de lesão cerebral focal...

Ao mesmo tempo, compreendemos


que a criança autista, embora
aparentemente alienada, não carece
de emoções, de afeto ou até da
intensidade de um contato pessoal. A
criança reage emocionalmente ao que
a cerca: admitindo que parece
confusa, está confusa porque é incapaz
de se orientar neste mundo e em seu
grupo de idade contemporâneo. É
incapaz de lidar com material abstrato,
com a linguagem e com a comunicação
ao nível requerido pela idade... Seus dese
Aula 2 | Autismo 53

nhos revelam que a ausência de


atitudes abstratas não é uma patologia Importante
particular de uma área circunscrita do
cérebro, mas uma lesão de integração
no desenvolvimento que abrange todo Os estudos atuais,
o contato da criança com o meio. no campo da
Neurologia e da
(Benda apud Bettelheim, 1967, p. Psiquiatria, são
421) voltados para o
papel da herança
Goldstein e Blender, também, não consideram o genética e de alguns
fatores ambientais.
autismo um defeito inato do sistema nervoso central, Pesquisas apontam
que os cérebros de
mas sim uma reação defensiva a uma anomalia autistas são
diferentes em três
orgânica. Para esses autores, o autismo é uma defesa áreas principais: a
amígdala, ligada à
contra a ansiedade insuportável que tem origem numa emoção e ao
comportamento
anomalia orgânica. Bettelheim concorda que o autismo social, o giro
fusiforme e o sulco
seja uma reação defensiva contra uma ansiedade temporal superior.
As duas últimas
insuportável, mas, para ele a origem dessa ansiedade
costumam ser
está nas condições de vida profundamente destrutivas ativadas quando se
olha para a face de
e não numa anomalia. alguém ou se escuta
uma voz humana.
Os autistas, ao
Nesse breve resumo, buscamos oferecer a vocês virem ou ouvirem
alguém, ativam
as principais contribuições teóricas a respeito do autismo outra área,
responsável pela
infantil, assim como, as divergências existentes com identificação de
objetos.
relação à organicidade versus a origem psicogenética.

Sabemos que para nós, educadores, o mais


importante não é definir se o autismo é um distúrbio
inato ou uma reação defensiva, mas compreender que
aspectos do desenvolvimento humano ficam
comprometidos e que conseqüências advêm desse
quadro. Sendo assim, abordaremos, agora, as áreas
que se mostram afetadas na criança autista e as
dificuldades vivenciadas no meio escolar e no processo
de aprendizagem em função dessas restrições.

As três áreas afetadas no autismo infantil

INTERAÇÕES SOCIAIS MÚTUAS

Basta observar uma criança autista para


percebermos o quanto é difícil para essa criança
estabelecer uma relação afetiva com o outro. Em geral, em
Aula 2 | Autismo 54

ambientes desconhecidos, diante de pessoas que não


Você sabia? fazem parte do seu dia-a-dia ou diante da menor
mudança de rotina, elas se comportam como se
Valeria Paradiz criou estivessem se sentindo profundamente amedrontadas,
nos EUA uma escola
voltada para inseguras, temerosas e ansiosas. Em algumas
crianças autistas. A
escola chama-se situações, isso basta para que haja aumento da
ASPIE e tem como
objetivo fazer com agitação, da irritabilidade e da agressividade. Vocês
que suas crianças
aprendam os podem pensar, diante desses fatos, que a escola é um
principais elementos
da experiência lugar contra-indicado para o autista, mas, na verdade,
autista, percebam
que a forma como o a possibilidade de participar de um grupo, de ser
autismo é retratado
varia muito e que a
apresentado aos valores e símbolos culturais, de ter
própria perspectiva experiências coletivas diárias, estimula a diferenciação
delas é tão válida
quanto a de e o reconhecimento eu/outro, cria recursos que
especialistas ou
qualquer outra. favorecem a manifestação dos afetos, o
Obs: "Aspies"
também é o apelido estabelecimento de vínculos e trocas afetivas,
pelo qual alguns
portadores da permitindo que a inclusão social seja vivida de forma
síndrome de
Asperger se menos devastadora.
identificam.

O depoimento da mãe de uma criança autista ( 8


anos), que ingressou há 1 ano na escola, exemplifica a
importância da escola. Ela diz na reunião de pais:

Nunca achei que ele fosse conseguir se


entrosar, mas aos poucos fui
percebendo as mudanças. Hoje, ele
mesmo, pega a mochila na hora de vir
para a escola e quando chega aqui dá
a mão à professora e vai sem choro,
sem gritos e sem medo. Parece igual
às outras crianças.
Importante

A recusa em atender e/ou responder as


Valeria Paradiz, solicitações externas, a dificuldade de abstração, de
fundadora da Aspie,
é defensora de uma compreensão, de aceitação e internalização das normas
visão "não
patológica" do e regras sociais, assim como o imediatismo e a
autismo, ela diz que
a luta pela intolerância aos limites, negativas e frustrações
neurodiversidade se
assemelha a promovem o isolamento social da criança autista. Ela
qualquer movimento
por direitos civis e fecha-se em “seu mundo” e isso dificulta a
que a sala de aula é
um dos melhores aproximação, mas não a impossibilita. Cabe ao
lugares para ensinar
essas crianças a
professor possibilitar que essa criança tenha seu tempo
exigir respeito às
respeitado, garantir que a aproximação seja paulatina e
suas diferenças.
acolhedora. Sabemos que, para que uma educação seja
Aula 2 | Autismo 55

realmente inclusiva, precisamos respeitar a


singularidade, estimular as competências e o
desenvolvimento global de cada educando, fortalecer
os laços afetivos dentro do grupo e garantir que todos
sejam respeitados nas suas necessidades pessoais e
educacionais.

Embora as interações sociais fiquem


prejudicadas, no caso dessas crianças, aos poucos,
consegue-se estabelecer uma via de acesso e
receptividade, ainda que, muitas vezes, não seja da
forma que estamos acostumados a interagir, mas
conviver com as diferenças é fundamental para
alcançarmos uma educação inclusiva.

O que se pretende não é avaliar a sociabilidade


dos alunos a partir da comparação entre eles, mas
acompanhar e avaliar os ganhos alcançados,
individualmente, no seu próprio percurso.

COMUNICAÇÃO
Para
navegar
Uma das características dessa síndrome é a
ausência ou o atraso do desenvolvimento da
Nise da Silveira
linguagem. O que se relata, com freqüência, é o (1905-1999)
psiquiatra alagoana,
desenvolvimento normal da linguagem até os 3 anos, e transformou as
atividades de terapia
a partir dessa fase, perda gradativa do uso do ocupacional dos
internos do Engenho
vocabulário, chegando, muitas vezes, ao mutismo. de Dentro (RJ), em
uma via libertária,
em uma forma de
Kanner aponta algumas características expressão. Seu
objetivo era resgatar
observadas na linguagem das crianças autistas como, a dimensão humana
dos denominados
por exemplo: “Loucos” .
Em 1952, com os
trabalhos artísticos
INVERSÃO PRONOMINAL (uso do pronome tu dos internos,
fundou o MUSEU DE
em vez do eu) e, também, recusa na utilização do IMAGENS DO
INCOSCIENTE , que
pronome eu.
até hoje funciona e
abriga belíssimas
obras.
Por que isso acontece? Uma das respostas www.museuimagens
doinconsciente.org.
possíveis baseia-se no fato de que referir-se a si próprio
br
como sendo o outro (tu) está diretamente relacionado com
Aula 2 | Autismo 56

a confusão subjacente entre “eu” e “não eu”.

Por exemplo: Em vez de dizer:

“Eu quero água”.

diz: “ Jorge quer água”.

ECOLALIA RETARDADA E AFIRMAÇÃO POR


REPETIÇÃO - É comum a criança responder repetindo a
pergunta e, em geral, de forma monótona e sem
entonação.

Ex: Falamos : Oi, Jorge, tudo bem?

Ele responde: Oi, Jorge, tudo bem.

OU

Você quer passear?

Ele responde: Você quer passear.

Ainda que a linguagem apresente inversão


pronominal, ecolalia, afirmação por repetição e, até
mesmo, uma fala monótona, sem modulação e carente

Para refletir de tom emocional, o conteúdo falado, na maioria dos


casos, é ouvido e compreendido.
O que os pais dizem
a respeito da escola?
Vejamos o O que percebemos é que há, por parte dessas
depoimento da mãe
de uma autista de crianças, uma relutância em comunicar seus
13 anos à Folha de
São Paulo: sentimentos, há uma ansiedade devastadora diante das
“ A inclusão escolar
é um dos principais situações de exposição, diante da própria existência.
desafios no Brasil.
Eles são muito Mas isso não significa que a criança não seja capaz de
visuais, e os
professores não se
compreender o que lhe é dito.
esforçam para
adaptar a aula a
essa necessidade. O educador precisa saber que mesmo nas
Além disso, ou
esperam demais situações em que seu aluno (autista) não responde aos
dela ( criança),
porque há o mito de chamados, solicitações, questionamentos e demandas,
que todo autista é
um gênio, ou isso não significa que não escutou ou que não
esperam menos do
que ela pode compreendeu. Muitas vezes, a criança dá sinais de
oferecer."
(K.Goulart) entendimento, ainda que não responda da forma
esperada ou convencional.
Aula 2 | Autismo 57

Kanner (1943) relata que quando pediu a


Donald para subtrair 4 de 10, ele respondeu:

“Vou desenhar um hexágono”.

Donald deu a resposta correta ou esperada?

Podemos até considerar que não, mas não


podemos desconsiderar que, de uma forma singular e
indireta, ele apresentou uma resposta que evidencia a
compreensão da pergunta e do conteúdo abordado.
Portanto, precisamos estar atentos às nuances da
comunicação e possibilidades de expressão.

Outra característica da linguagem dessas


crianças é o predomínio do “não”, isso acontece porque
o conceito de “não” é adquirido bem antes do conceito
de “sim”. Bettelheim relaciona esse fato ao negativismo
exacerbado e deliberado presente nelas.

Kanner (1944) já apontava a incapacidade dos


autistas para utilizarem o “sim” como símbolo geral de
concordância, sinalizando que poderia levar anos para
que elas pudessem adquiri-lo.

Vale destacar que mesmo as crianças que se


recusam a falar, que se apresentam como mudas,
podem desenvolver a linguagem ou iniciar a emissão de
palavras e frases em qualquer fase do seu
desenvolvimento.

A inserção no grupo escolar, nas rotinas


coletivas, as atividades lúdicas e o investimento afetivo
do professor são aspectos de grande contribuição para
diminuição da ansiedade e estímulo ao
desenvolvimento da linguagem. Afinal, tanto a resposta
seletiva aos estímulos sensoriais quanto o negativismo
e a linguagem são usados deliberadamente para fins
defensivos.
Aula 2 | Autismo 58

COMPORTAMENTO RESTRITO E REPETITIVO

Esse é um aspecto importante a ser


considerado, pois o professor se depara, em sala de
aula, com muitas dificuldades geradas pela acentuada
necessidade de controle, de organização e constância.
Eles exigem uma rotina rígida, sem alterações ou
novidades, ou seja, um ambiente estático e inalterado.
Então, muitas vezes, a mudança de sala, a introdução
de uma atividade ou até mesmo a colocação de
cartazes, utilização de novos recursos, mudança de
mobília ou entrada de um aluno novo podem gerar
medo, insegurança e profundo desconforto, chegando,
em alguns casos, a provocar agressividade,
comportamentos explosivos e auto-agressão.

Podemos entender melhor essa necessidade de


constância se utilizarmos o conceito de permanência
dos objetos utilizado por Piaget.

De acordo com ele, o conceito de


objeto começa com uma mera imagem
perceptual nos primeiros dias de vida e
aumenta de complexidade através dos
primeiros seis estágios do
desenvolvimento sensório-motor. O
sexto e último desses estádios tem
Para pensar início por volta dos dezoito meses e
prolonga-se quase até os três anos.
Para que a escola
possa ser para a Para a criança autista, os objetos
criança autista, um apenas existem quando ela os vê ou
espaço de quando se encontram facilmente ao
convivência, de
descoberta e de seu alcance, no seu lugar habitual;
valorização de deixam de existir para ela quando
competências, é saem de sua órbita familiar.
indispensável a (Bettelheim, 1987, p. 478)
adoção de um
modelo que
reconheça as
múltiplas
inteligências. Podemos supor que a criança autista, com
GARDNER, H. R. S. relação ao conceito de permanência dos objetos,
Inteligências
Múltiplas. Porto funcionaria no quarto estádio do desenvolvimento
Alegre: Artes
Médicas, 1995. sensório-motor, pois ainda não consegue conceder
permanência a um objeto em sua mente. Por outro lado, o
Aula 2 | Autismo 59

que a diferencia de um lactente que se encontre nesse


estádio, é que ela é capaz de reter um conceito de
objeto se não sentir sua existência ameaçada.

Em outras palavras, é só no último


estádio do desenvolvimento sensório-
motor que a permanência do objeto
deixa de depender do fato de ele
manter-se no lugar onde foi visto pela
última vez. Só então é que o objeto se
liberta dessa percepção e da ação
praticada com essa finalidade, porque
só então é que sua existência contínua
assume a forma de um conceito.

A criança autista, porém, não pode


suportar que o objeto não apareça
sempre no mesmo lugar ou que os
acontecimentos não ocorram na
mesma ordem. Não será razoável
presumir-se que isso acontece porque
não pode acreditar na persistência de
um objeto se este não se encontrar no
lugar habitual? Não poderia isso
refletir um esforço para estabelecer a
constância dos objetos, de que ela
Dica de
necessita para sua segurança. leitura
(Bettelheim, 1987, p. 480)

Muito tem se falado


Enfim, sabemos que, enquanto a criança não se da contribuição da
interdisciplinaridade
convencer da constância da sua existência, não terá para a educação.
Por ser uma
condições de acreditar em nenhuma permanência. categoria de ação,
pode auxiliar no
planejamento
Para a criança autista, a constância, o ambiente educacional, no
assessoramento
estático assegura-lhe a existência, visto que qualquer pedagógico, entre
outros.
alteração, qualquer mudança é uma ameaça a sua Para
aprofundamento do
integridade, a sua consistência interna. Sendo assim, o tema, sugerimos:

educador precisa assegurar um ambiente acolhedor, FAZENDA, Ivani C.


A. (org.). Práticas
seguro e protegido para que a criança possa, aos interdisciplinares na
escola. São Paulo:
poucos, lidar com as mudanças e surpresas do dia-a- Cortez, 1993.
dia.
FAZENDA, Ivani C.
A.
Interdisciplinaridade:
Ainda que o aluno insista com a repetição de um projeto em
parceria. 4ª ed.,
uma determinada conduta como, por exemplo, pegar Coleção Educar
nº13. São Paulo:
sempre o mesmo livro de histórias, é importante que o Loyola, 1999.

professor possa respeitar a escolha, mas nunca deixar de


Aula 2 | Autismo 60

oferecer e mostrar outras possibilidades. Na oferta de


outras possibilidades, de experiências seguras com o
desconhecido, com a novidade, o professor cria
recursos que viabilizam maior flexibilidade do
pensamento, aumentando com isso, a capacidade de
abstração.

Ressaltamos que todas as dificuldades


apontadas aqui podem e devem ser superadas, porém,
para isso é preciso construir uma educação que
respeite as diferenças, que viabilize espaços de
convivência e, sobretudo, estimule a autonomia e o
exercício da cidadania.

Para darmos continuidade ao nosso trabalho,


apresentaremos, agora, os tratamentos disponíveis e
auxiliares para incremento do desenvolvimento global
dessas crianças.
Para
navegar

Vocês podem estar se perguntando: Mas para


Alguns sites sobre que saber dos tratamentos disponíveis? Isso importa
educação:
para o educador? Nós diremos que sim. Porque, em
www.mec.gov.br
www.paulofreire.org muitas situações, recebemos crianças que apresentam
www.psicopedagogia
.com.br distúrbio do comportamento e os pais ainda não
www.planetaeducac
ao.com.br/new/inde perceberam; em outras situações, os pais notam
x.asp
www.cultura.com.br alterações no comportamento, mas não sabem a quem
recorrer. Portanto, o educador pode ser uma peça-
chave na orientação dos pais e da própria equipe.

Tratamentos disponíveis

É comum, ao nos depararmos com crianças que


apresentam mutismo ou atraso no desenvolvimento da
linguagem , pensarmos no encaminhamento para o
fonoaudiólogo. Porém, por se tratar de uma síndrome
com etiologia desconhecida, diferentes níveis de
comprometimento e necessidade de diagnóstico
diferencial para orientação do planejamento terapêutico,
Aula 2 | Autismo 61

é importante que ao recebermos , em sala de aula,


crianças com sintomatologia parecida ao que foi Dica de
leitura
descrito, verifiquemos junto ao responsável se a
criança já foi submetida a uma avaliação neurológica, Uma boa dica de
leitura para quem
se tem diagnóstico, se faz algum tipo de tratamento. quer conhecer um
pouco do trabalho
que é desenvolvido
nas instituições
O neurologista é o profissional que avalia e públicas de atenção à
saúde mental com
diagnostica (o psiquiatra também está habilitado). Ele crianças e
adolescentes autistas
pode solicitar exames que descartam outras hipóteses é o livro de
RIBEIRO, Jeanne
diagnósticas e orientam o trabalho a ser realizado. Marie de Leers Costa;
MONTEIRO, Kátia
Alvares de Carvalho.
A partir da avaliação neurológica, da realização (orgs.) Autismo e
psicose na criança –
de exames e diagnóstico, a criança pode se beneficiar trajetórias clínicas.
Rio de Janeiro: 7
do trabalho de outros profissionais, entre eles, Letras, 2004.
O livro apresenta um
podemos citar o psicólogo (aspectos emocionais, trabalho orientado
pela psicanálise e
comportamento, sociabilidade), o psicopedagogo desenvolvido pela
equipe do NAICAP
(relação com a aprendizagem, estímulo das funções (Núcleo de Atenção
Intensiva à Criança
cognitivas), o terapeuta ocupacional (autonomia, Autista e Psicótica do
Instituto Municipal
hábitos de higiene e alimentação, independência) e o
Philippe Pinel) com
fonoaudiólogo (linguagem receptiva, expressiva) crianças autistas e
psicóticas que estão
inseridas nesse
programa.
O trabalho interdisciplinar favorece uma visão Além disso, em sua
parte final, o livro
global das dificuldades e competências de cada um e lista a produção
bibliográfica brasileira
viabiliza um planejamento terapêutico que favoreça o sobre o autismo e
psicose na criança, no
prognóstico. período de 1978 a
2003.

Existem instituições públicas de assistência à


saúde mental que desenvolvem programas específicos
para crianças autistas, oferecendo atendimento nos
setores de neurologia, psicologia, psicopedagogia,
terapia ocupacional, além de oficinas de interesse
(artesanato, informática, música). Algumas crianças
fazem acompanhamento com profissionais dessas áreas
em consultório particular.

Além dos tratamentos citados, existem outros


tratamentos disponíveis, tais como: musicoterapia,
arteterapia, equoterapia, psicomotricidade, mas nem
sempre as instituições têm esse serviço para oferecer.
Aula 2 | Autismo 62

Ressaltamos que a efetiva troca de informações


entre o professor e os profissionais envolvidos com o
caso é de inestimável contribuição para adaptação e
Dica de
leitura desenvolvimento da criança no ambiente escolar.

Recém-publicado,
pela casa do Não podemos esquecer o papel da escola na
psicólogo, o livro de
MACHADO, Adriana vida dessas crianças e de seus familiares, por isso,
Marcondes; DIAS,
Angela Maria. provocaremos uma reflexão que nos faça pensar a
Fernandes; ROCHA
importância da educação e da inclusão no ambiente
Maria Lopes da.
Novos possíveis no escolar para constituição e formação da criança autista.
encontro da
psicologia com a
educação. São Paulo:
Casa do Psicólogo, Educação, escola e inclusão
2006. Trata da
articulação de
diferentes áreas de
atuação e A escola é, por excelência, um lugar privilegiado
conhecimento para
enriquecimento da para promover o acesso, o contato e a internalização
educação.
das atividades socialmente consolidadas e
desenvolvidas ao longo da história da humanidade. No
caso das crianças autistas, muitas vezes, a escola é o
único lugar onde elas podem ter contato com outras
crianças, podem construir uma idéia de infância e
existir enquanto sujeito em desenvolvimento. Sabemos
que, na maioria das vezes, elas são excluídas dos
lugares de socialização sob a alegação de que “vivem
em outro mundo” e, com isso, são destituídas da sua
condição de sujeito e acabam por serem coisificadas
dentro de um processo social que lhes rouba qualquer
possibilidade de inclusão nos grupos.

Sua inserção no ambiente escolar marca uma


mudança e, muitas vezes, promove uma aproximação
do seu núcleo familiar, que passa a incluí-la na rotina e
no discurso do grupo por partilhar com outros membros
a freqüência à escola.

Esses são dados relevantes que justificam e


respaldam a escola como espaço de valor inestimável
para a humanização da criança e a promoção da
inclusão social.
Aula 2 | Autismo 63

O fracasso de muitas crianças que se Para


mostram em desvantagem na escola é navegar
freqüentemente explicado por sua
pouca familiaridade com o etos da
A ESCOLA DA
escola de classe média. Mas muitas PONTE é uma
escolas operam de uma maneira instituição pública de
similar ao lar dessas crianças no que ensino, localizada
diz respeito ao uso da linguagem e ao em Vila das Aves,
Portugal.
desenvolvimento de habilidades do A escola funciona
pensamento. (...) Os professores com cerca de 160
precisam renovar seu entendimento do alunos e 29
papel que eles podem exercer na orientadores
educativos. Tem
educação de crianças. Eles precisam como filosofia a
se dar conta do papel que a linguagem educação inclusiva.
desempenha na aprendizagem e (...) Conhecer esse
na maneira como as crianças trabalho é
indispensável a
aprendem a usar a linguagem pela qualquer educador
interação com os adultos. (...) Os que acredite na
professores precisam reconhecer que inclusão e na
muitas crianças não terão experiências educação como
transformadora e
através das quais seu pensamento facilitadora do
poderia expandir, a não ser que elas desenvolvimento
sejam supridas pela escola (...) e (os humano.
professores) devem reconhecer a O SITE DA ESCOLA
É:
importância crítica das experiências http://www.eb1-
que eles oportunizam pela sua própria ponte-n1.rcts.pt
conversa com as crianças.
(Thoug apud Moll, 1996, p. 192) E O BLOG:
http://escoladapont
e.blogspot.com
Queremos uma educação transformadora. Mas o
que fazer? Como promovê-la?

Só será possível construir uma educação


transformadora quando a escola e seus agentes forem
conscientes do seu papel na construção de
subjetividades. Não basta apontar as falhas no
desempenho da atividade nem tampouco
desacreditarmos da função social da escola na
constituição do psiquismo, é preciso conscientizar e não
culpabilizar. É preciso que as concepções teóricas
depois de tanto fomentar questionamentos viabilizem
ações.

Essa aula pretende não só informar sobre o que


é o autismo, mas principalmente sensibilizá-los para a
necessidade e a urgência da elaboração de uma ação
que permita à escola e aos seus agentes, principalmente
o professor, reconhecer a importância da sua ação e me-
Aula 2 | Autismo 64

diação, assim como da intencionalidade do seu ato na


Você sabia? construção das subjetividades e na transformação da
realidade social.
Lev Semenovich
Vygotsky nasceu em
Orsha, pequena
Vygotsky situava a educação como uma
cidade da
Bielorrússia, em atividade humana fundamental para o
1896. Estudou na
Universidade de desenvolvimento. Sua obra, calcada num enfoque
Moscou até tornar-
se professor de sócio-histórico, atribui aos mecanismos de mediação
Literatura. Ao iniciar
suas pesquisas, simbólica a promoção da internalização da cultura e a
tinha como objetivo
a criação artística. conseqüente conversão do sujeito biológico em sujeito
Somente em 1924,
passou a se dedicar humano.
à psicologia
evolutiva, à
educação e à
Se por um lado a idéia de mediação
psicopatologia.
Definido como sócio- remete a processos de representação
interacionista, mental, por outro lado refere-se ao
destacava em suas fato de que os sistemas simbólicos que
teorias as
se interpõem entre sujeito e objeto de
contribuições da
cultura, a interação conhecimento tem origem social. Isto
social e a dimensão é, é a cultura que fornece ao indivíduo
histórica do os sistemas simbólicos de
desenvolvimento
representação da realidade e, por meio
mental.
deles, o universo de significações que
permite construir uma ordenação, uma
interpretação dos dados do mundo
real. Ao longo do seu desenvolvimento
o indivíduo internaliza formas
culturalmente dadas de
comportamento, num processo em que
atividades externas, funções
interpessoais, transformam-se em
atividades internas, intrapsicológicas.
As funções psicológicas superiores,
baseadas na operação com sistemas
simbólicos, são, pois, construídas de
fora para dentro do indivíduo. O
processo de internalização, é, assim,
fundamental no desenvolvimento do
Importante funcionamento psicológico humano.
(Oliveira apud Oliveira, 1992, p. 27)

É importante
definirmos o
conceito de
O professor, o grupo escolar e o próprio espaço
internalização para (escola) podem ajudar a intermediar a relação dessa
Vygotsky:
criança (autista) com esse mundo tão ameaçador. É
“Chamanos de
internalização a esse ambiente de segurança, respeito às diferenças e
reconstrução interna
de uma operação promoção de vivências enriquecedoras, que pode
externa” (Vygotsky,
2003, p. 74). favorecer a aquisição do conhecimento (fruto da
interação do sujeito com o meio), assim como o desenvol
Aula 2 | Autismo 65

vimento de atividades, que estimule conquistas, crie


possibilidades de expressão e permita a construção de
subjetividades. Dentro dessa perspectiva, a escola tem
uma dupla função: mediadora na apresentação
simbólica do mundo para essa criança, mas, também,
mediadora na apresentação dessa criança para os
grupos sociais (pais, outros alunos, comunidade).

A mediação viabiliza a internalização dos


sistemas simbólicos de representação da realidade e
isso apazigua a angústia despertada na criança autista
diante do novo, do desconhecido. Essa vivência
mediada é fundamental para que a criança consiga
ordenar e organizar seu mundo interno e suas relações
com o meio.

Conclusão
Para refletir
O nosso objetivo ao apresentar a vocês as
especificidades da síndrome do autismo infantil foi Para Paulo Freire,
uma educação
dotá-los de informações que permitam o autêntica “ não se
faz de ‘A’ para ‘B’
enriquecimento da prática a partir do conhecimento das ou de ‘A’ sobre ‘B’,
mas sim de ‘A’ com
diferenças, sem deixar de levar em conta as nuances ‘B’ mediatizados
pelo mundo”
que compõem a singularidade de cada sujeito.
(Psique, Ciência &
Vida Especial nº 2).
O que buscamos é mostrar que a escola é um
espaço de revelação, descobertas, vivências e
reconhecimento, principalmente, no caso específico de
crianças autistas, onde a escola torna-se referência de
mundo, lugar de possibilidade de trocas, de construção
de vínculos e ponte para o partilhar simbólico de
valores culturais.

Ao ingressar na escola, aquele que não tinha um


lugar social passa a ser um sujeito escolar e essa é a
ponte que constrói o lugar dos excluídos no discurso
social. Para essa criança, esse lugar que, inicialmente,
é de medo, terror e insegurança, vai aos poucos
ganhando cor, força e importância. Por isso, precisamos
Aula 2 | Autismo 66

de educadores que estejam prontos para se expor ao


inesperado, para criar e aprender nas diferenças, para
acolher e receber o “não apropriado”.

“Não apropriado” para um sistema de ensino


que fomenta em cada um de nós uma expectativa
normatizadora, que pressupõe um sujeito pronto, capaz
de desfrutar daquele espaço com atenção e disciplina,
acatando normas e compartilhando com todos os
interesses. O que se perde aqui é a possibilidade de
fazer da escola um espaço que constrói convivência na
diferença, que avalia o percurso individual de cada um,
o desenvolvimento, o crescer dos que ali estão, onde se
compara o sujeito com ele mesmo, onde se promove
uma avaliação pautada no caminho percorrido
individualmente a partir da superação dos próprios
obstáculos.
Importante
Não nos esqueceremos dos desafios
A construção de pedagógicos, mas precisamos exercitar a função
processos subjetivos
em Educação é uma constituinte da educação. A educação pode e deve
necessidade urgente
a ser vivenciada. oferecer-se como facilitadora no processo de
Como desenvolver
autoria, se não constituição de um sujeito autônomo, ativo no exercício
tivermos o direito de
sermos o que de sua cidadania e na luta pelos seus direitos. E nesse
somos?
aspecto, assim como em tantos outros, o professor é
peça chave, cabe a ele receber esse aluno, dando-lhe
um lugar na chamada, um lugar na sala, um lugar de
aluno, um lugar de alguém.

É primordial que o autista seja visto como


alguém que vive no nosso mundo de forma particular e
não como alguém que vive num mundo que não
compartilhamos.

Se pudermos pensar a escola, antes de tudo,


como um instrumento de valor na constituição do eu,
na promoção das trocas afetivas, na construção dos
laços sociais e também como colaboradora na escavação
Aula 2 | Autismo 67

de um lugar social para aqueles que, de antemão,


estão excluídos, teremos dado a todas as crianças e
não somente às crianças autistas um lugar onde é
possível aprender a explorar o mundo, suas riquezas e
diversidade.

EXERCÍCIO 1

Para alguns autores o autismo é uma incapacidade de


abstração, para outros uma reação defensiva a uma
anomalia orgânica. Podemos dizer que para Bettelheim
o autismo é definido como:

( A ) Um transtorno neurótico;
( B ) Uma reação defensiva contra uma ansiedade
insuportável que tem origem nas condições de
vida destrutivas;
( C ) Um distúrbio inato;
( D ) Um sintoma esquizofrênico;
( E ) Necessidade de introspecção.

EXERCÍCIO 2

O comprometimento qualitativo na comunicação toma a


forma de uma falta de uso social de quaisquer
habilidades de linguagem que estejam presentes,
comprometendo, inclusive, a participação da criança
autista nas seguintes atividades:

( A ) Natação e atividades de pular e rolar;


( B ) Todas as atividades psicomotoras;
( C ) Capoeira e pique-esconde;
( D ) Brincadeiras de faz- de- conta e jogos sociais de
imitação;
( E ) Nenhuma das opções anteriores.
Aula 2 | Autismo 68

EXERCÍCIO 3

Descreva as áreas afetadas na síndrome do autismo


infantil, citando pelo menos, três comportamentos
característicos para cada área afetada.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Defina o conceito de internalização e a função do


processo de mediação simbólica para Vygotsky.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 O autismo pode ser pensado, a partir das


contribuições de Kanner como uma anomalia
inata e diferenciada do grupo das
esquizofrenias anteriormente conhecidas.
Trata-se de uma incapacidade para
estabelecer contato afetivo usual e
biologicamente determinado com pessoas;
Aula 2 | Autismo 69

 Bleuer via o autismo como um sintoma


secundário das esquizofrenias. O
esquizofrênico tende a se isolar do mundo e a
criança autista não consegue penetrar nele;

 São características principais do autismo:


profundo retraimento do contato com pessoas
num desejo obsessivo de preservar a
uniformidade; fisiononia inteligente e absorta,
embora faça concessões esporádicas não
concede privilégios aos outros;

 O autismo infantil é um transtorno invasivo


do desenvolvimento definido pela presença de
desenvolvimento anormal e/ou
comprometimento que se manifesta antes da
idade de 3 anos e pelo tipo característico de
funcionamento anormal em todas as três
áreas de interação social, comportamento
restrito e repetitivo;

 As três principais áreas afetadas do autismo


são: interação, comunicação e permanência
dos objetos;

 A partir da avaliação neurológica o autista


pode ser beneficiado com o trabalho de uma
equipe interdisciplinar formada pelo
neurologista, o psicólogo, o psicopedagogo e
outros; existindo instituições públicas e
privadas especializadas no desenvolvimento
de programas para autistas;

 A escola é um lugar privilegiado para o


trabalho com a doença. A inserção no
ambiente escolar humaniza, aproxima a
criança das regras sociais e do próprio núcleo
familiar. Contudo, nem sempre os professores
Aula 2 | Autismo 70

estão preparados para lidar com esta


realidade;

 É fundamental que o autista seja visto como


alguém que vive em nosso mundo de forma
particular e não como alguém que vive num
mundo que não compartilhamos.
3

AULA
Abuso Sexual Infantil
Fabiane Muniz

Nesta aula, iremos tratar de um tema extremamente difícil que


Apresentação

muitos preferem ignorar. Contudo, tal ignorância tem contribuído


para que seus índices se elevem cada vez mais. Vamos falar sobre
o abuso sexual infantil, tomando como base as contribuições da
OMS sobre o tema. Exploraremos suas causas, o perfil da criança
abusada e do agressor, as conseqüências pessoais e familiares
deste tipo de agressão, bem como os abusos sexuais mais
freqüentes como o assédio, o estupro, a pedofilia e a exploração
sexual. Conheceremos a legislação a respeito desse problema, as
sanções normalmente aplicáveis e veremos no final desta aula
uma experiência que tenta ajudar pessoas a lidar com os efeitos
deste tipo de abuso: o Programa Sentinela, hoje integrado no
SUAS (Sistema Único de Assistência Social), desenvolvido pelo
governo federal.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Refletir sobre o que seja abuso sexual sob diferentes


dimensões educacionais, psicológicas, legais;
 Favorecer a compreensão do abuso sexual como uma
sexualidade vinculada ao desrespeito ao indivíduo e aos seus
Objetivos

limites;
 Refletir sobre as principais causas e conseqüências do abuso
sexual, de modo particular, para a criança e o adolescente;
 Analisar os principais tipos de abusos sexuais tais como
pedofilia, estupro, assédio sexual, exploração sexual comercial
e exploração sexual profissional;
 Conhecer a legislação aplicável à questão do abuso sexual
considerando a Constituição Federal, o ECA, a Declaração
Universal dos Direitos da Criança, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, a Convenção Internacional sobre os Direitos
da Criança e o Código Penal;
 Analisar como o Governo Federal tem enfrentado o Problema
através do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), de
modo particular, através do Programa SENTINELA voltado para
o combate à violência, ao abuso e à exploração sexual de
crianças e adolescentes menores de 14 anos.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 72

Introdução
Importante

Esta aula tem como objetivo abordar o tema


Há mais de 30 anos,
abuso sexual infantil.
mais precisamente
no ano de 1973 o
caso Aracelli Cabrera
dos Santos chocou o A Organização Mundial da Saúde considera o
país. A menina, de
oito anos, foi abuso sexual infantil como um fenômeno de maus-
estuprada e morta
em Vitória, no tratos na infância e na adolescência, definindo essa
Espírito Santo, no
dia 18 de maio. O violência da seguinte maneira:
caso até hoje não foi
solucionado. A
indignação que
causou chamou
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define
atenção para um
abuso sexual infantil como “toda situação em que a
problema que
durante muito criança ou o adolescente é usado para gratificação
tempo foi pouco
divulgado: o abuso sexual de pessoas mais velhas. O uso do poder, pela
sexual de crianças e
adolescentes. A data assimetria entre abusador e abusado, é o que mais
se tornou, em 1998,
dia nacional de caracteriza essa situação”. De acordo com o Centro de
combate a essa
prática (o Dia Referência, Estudos e Ações sobre Crianças e
Nacional de
Combate ao Abuso e Adolescentes (Cecria), essa é uma situação “de
à Exploração Sexual
Infanto-Juvenil),
ultrapassagem de limites de direitos humanos, legais,
verificada em todos
de poder, de papéis e do nível de desenvolvimento da
os segmentos
sociais, mas pouco vítima.
punida e denunciada
- apesar da
mobilização da
sociedade estar Na realidade, devemos sempre considerar que
aumentando nos
últimos anos. se trata de atividades sexuais inadequadas para a idade
www.planetaportoal
egre.net. e o desenvolvimento psicossexual da criança ou do
adolescente, sendo sempre impostas por coerção,
violência ou sedução, ou que transgridem os tabus
Importante
sociais.

Importante lembrar
que o abuso sexual Então, aqui nesta aula, conheceremos mais um
nem sempre só
ocorre com crianças pouco sobre o abuso sexual infantil, abordando o que é
e adolescentes.
Apesar do nosso abuso sexual, quem são os envolvidos (o agressor, a
foco aqui ser o
abuso sexual vítima, a família, e a sociedade), discutiremos sobre as
infantil, sabemos
que em alguns questões da saúde e da lei, apresentaremos o
pontos estaremos
vendo situações de programa Sentinela, demonstraremos a relação do
abuso sexual em sua
forma mais ampla.
abuso sexual e a tecnologia (globalização). Por fim,
mostrar alguns casos de abuso sexual.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 73

O que é o abuso sexual


Você sabia?

Etimologicamente, abuso indica afastamento do


uso (“us”) normal. O abuso é, ao mesmo tempo, mau O termo abuso
sexual é talvez o
uso e uso excessivo. Significa, então, ultrapassar os mais difundido e
popularizado para
limites e, portanto, transgredir. denominar as
situações de
violência sexual
Vejamos algumas definições de abuso sexual contra crianças e
adolescentes,
infantil. principalmente as
que se referem à
violência
Abuso sexual é o contato ou interação intrafamiliar,
entre uma criança ou adolescente e um designada também
como abuso sexual
adulto, quando a criança ou adolescente doméstico, violência
está sendo usado para estimulação sexual doméstica,
sexual do executor ou de outra pessoa. abuso sexual
O abuso sexual pode ser cometido por incestuoso, incesto.
uma pessoa de menos de 18 anos,
quando o executor está numa posição
de poder ou controle sobre a vítima.
(National Center for Child Abuse and
Neglect, USA)

Abuso é um termo usado para definir


uma forma de maus tratos de crianças e
adolescentes, com violência física e
psicológica associada, geralmente
repetitivo e intencional e, por isso,
praticado, mais freqüentemente, por
familiares ou responsáveis pelo(a)
jovem.
(Christoffell e cols., Council on Ethical
and Juridical Affairs – AMA, 1992)

Por sevícias sexuais às crianças


entendem-se sevícias exercidas sobre
uma criança por um adulto ou por uma
pessoa de mais idade que ela, para fins
de prazer sexual.
(Organização Mundial de Saúde)

O abuso sexual se define como a


participação de uma criança ou de um
adolescente menor em atividades
sexuais, as quais não é capaz de
compreender, que são inapropriadas à
suas idades e a seu desenvolvimento
psicossocial, que sofrem por sedução ou
força, e que transgridem os tabus
sociais. H. Kempe.
(fundador da ISPCAN – International
Society for Prevention of Child Abuse
and Neglect)
Aula 3 | Abuso sexual infantil 74

O abuso sexual de crianças seria


qualquer contato sexual entre uma
criança e um adulto maior, cujo
propósito tenha sido a gratificação
sexual do atacante.
(Relatório Oficial do UNICEF, 1986)

O abuso sexual consiste numa situação


de dominação na qual o dominador
impõe atividades sexuais ao dominado.
(Daniel Welzer-Lang, 1988)

Abuso sexual é a situação em que uma


criança ou adolescente é usado para
gratificação de um adulto ou mesmo
de um adolescente mais velho,
baseado em uma relação de poder,
incluindo desde manipulação da
genitália, mama ou ânus, exploração
sexual, voyeurismo, pornografia,
exibicionismo, até o ato sexual com ou
sem penetração, com ou sem
violência.
(Abrapia, 1992)

Violência sexual é todo ato ou jogo


sexual, relação hetero ou
homossexual, entre um ou mais
adultos e uma criança ou adolescente,
tendo por finalidade estimular
sexualmente esta criança ou
adolescente ou utilizá-los para obter
uma estimulação sexual sobre sua
pessoa ou de outra pessoa.
(Maria Amélia Azevedo)

Abuso sexual é todo o ato ou jogo


sexual, relação hetero ou
homossexual, cujo agressor esteja em
estágio de desenvolvimento
psicossocial mais adiantado que a
criança ou o adolescente. Tem por
intenção estimulá-la sexualmente ou
utilizá-la para obter satisfação sexual.

Estas práticas eróticas e sexuais são


impostas à criança ou adolescente pela
violência física, ameaças ou induções
de sua vontade.
(FIOCRUZ/ENS/CLAVES, 1994)
Aula 3 | Abuso sexual infantil 75

Podemos verificar que existem outras formas de


classificar o abuso sexual como:
1. Abuso sexual sem contato físico;
2. Abuso sexual com contato físico.
Veja as diferenças!
1. ABUSO SEXUAL SEM CONTATO FÍSICO
ASSÉDIO SEXUAL
Caracteriza-se por propostas de relações sexuais.
Baseia-se, na maioria das vezes, na posição de
poder do agente sobre a vítima, que é chantageada
ou ameaçada pelo agressor.
ABUSO SEXUAL VERBAL
Pode ser definido por conversas abertas sobre
atividades sexuais destinadas a despertar o
interesse da criança ou do adolescente ou chocá-los.
TELEFONEMAS OBSCENOS
A maioria deles é feita por adultos, especialmente
do sexo masculino. Eles podem gerar muita
ansiedade na criança, no adolescente e na família.
APRESENTAÇÃO FORÇADA DE IMAGENS
PORNOGRÁFICAS
A vítima é exposta às imagens de cunho
pornográfico. A tentativa do abusador é tentar obter
alguma vantagem sexual.
EXIBICIONISMO
É o ato de mostrar os órgãos genitais ou se
masturbar em frente a crianças e adolescentes ou
dentro do campo de visão deles. A intenção, neste
caso, é chocar a vítima. A experiência pode ser
assustadora para as crianças e os adolescentes.
VOYEURISMO
É a excitação sexual conseguida mediante a
visualização dos órgãos genitais da criança e do
adolescente. A experiência pode perturbar e
assustar a criança e o adolescente.
2. ABUSO SEXUAL COM CONTATO FÍSICO
ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR
Consiste em constranger alguém a praticar atos
libidinosos, utilizando violência grave ou ameaça.
Aqui, seria forçar a criança ou o adolescente a
praticar tais atos ou forçá-los a permitir a prática de
tais atos. Eles podem ser masturbações e/ou toque
em partes íntimas, sexo anal e oral. Dessa categoria
devem fazer parte todos os tipos e formas de
violência sexual praticadas contra crianças e
adolescentes do sexo masculino, que incluam
penetração. Quando praticados contra mulheres de
qualquer idade com penetração vaginal, é
denominado estupro.
ESTUPRO
É, do ponto de vista legal, a prática sexual em que
ocorre penetração vaginal com uso de violência ou
grave ameaça. É considerado crime hediondo,
inafiançável, devendo a pena ser cumprida em
regime fechado.
Falaremos mais sobre isso mais adiante.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 76

A OMS (Organização Mundial de Saúde) calcula


que 800 milhões de pessoas já tenham sofrido assédio
sexual quando criança ou adolescente em todo o
mundo. Segundo a agência das Nações Unidas, 20%
das mulheres e entre 5 e 10% dos homens foram
vítimas desse tipo de violência em algum momento da
vida pré-adulta. A estimativa é alta devido à dificuldade
de se verificar a agressão que, em grande parte, é feita
por pessoas próximas da criança. Os casos de assédio
intrafamiliar representam 30% do total, de acordo com
a OMS. Na maioria das vezes, os abusos são praticados
por pais, tios, padrastos ou vizinhos, todos possuidores
de confiança da criança. (Rits, 2005)

No Brasil, de acordo com o estudo “Abuso sexual


contra crianças e adolescentes - os (des)caminhos da
denúncia”, realizado em 2000 pela pesquisadora Eva
Faleiros, da Universidade de Brasília (UnB), 60% dos
abusadores são parentes e 95,7%, homens. Entre as
vítimas, 69% são menores de 12 anos, sendo que a
maior incidência de casos está na faixa de 7 a 9 anos. A
pesquisa analisou 40 casos em cinco cidades: Recife,
Vitória, Goiânia, Belém e Porto Alegre (Rits, 2005).

Já um levantamento da Associação Brasileira


Multiprofissional de Proteção à Infância eà
Você sabia?
Adolescência (Abrapia) aponta que no Brasil acontecem
Por causa dessas aproximadamente 165 abusos por dia ou 7 por hora. A
características, é
difícil alguém maioria das vítimas é de meninas com idade entre 7 e
denunciar. Na maior
parte das vezes, o 14 anos (Rits, 2005).
denunciante
também faz parte da
família e toma Outros dados são encontrados no Relatório de
atitude quando
percebe que o Saúde Mundial de 2004, da OMS. Segundo este estudo,
problema tende a
não ter fim. Apesar a vítima em geral é menina, adotada ou aparentada, já
da demora, a
quantidade de casos possui um histórico de abuso e tem problemas no lar,
que chegam à
polícia e ao como pais separados e em litígio ou ainda abuso de
Ministério Público é
cada vez maior. drogas ou álcool. O abuso sexual, em geral, não é feito
apenas uma vez, mas durante semanas ou mesmo anos.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 77

A violência física nem sempre é utilizada, pois os


abusadores convencem a vítima de que ela não está Para pensar

fazendo nada de errado, ao mesmo tempo em que as


Quando o abuso
violações aos direitos humanos da criança se tornam ocorre dentro do
seio familiar, o
cada vez mais graves (Rits, 2005). processo é bastante
complicado.
Por vezes, a criança
Não é o toque, nem a violência física e nem a é também
espancada e deve
falta do consentimento que vão definir o abuso sexual, ser tratada
mas sim a sexualidade vinculada ao desrespeito ao fisicamente.
A família se divide
indivíduo e aos seus limites, a troca de sua postura de entre os que acusam
o abusador e os que
sujeito a uma de objeto dos desejos do outro. Mas o acusam a vítima,
culpando esta última
que diferencia uma relação sexual "normal" de uma pela participação e
provocação do
relação abusiva? Marcas físicas não definem um abuso abuso.

sexual, pois existem relações onde a violência física é


utilizada e consentida, como é o caso das relações
sadomasoquistas. Por outro lado, um abuso sexual
pode ocorrer sem deixar seqüelas visíveis, mas as
seqüelas afetivas são mais difíceis de identificar e não
são, por este motivo, de menor gravidade. Assim, o
Importante
trauma sofrido pode não se resumir ou mesmo não se
ater ao ato sexual propriamente dito (Fonte Podemos dividir 4
faixas etárias de
:http://www.usp.br data de acesso 06/05/2007). abusadores:

 Jovens até 18 anos


O consentimento também não é o limite entre de idade, que
aprendem sexo
uma relação abusiva e uma não abusiva, pois em que com suas vítimas;
 Adultos de 35 a 45
situações podemos ter clareza de que o consentimento anos de idade que
molestam seus
foi dado de forma consciente, ou seja, quando filhos ou os de
seus amigos ou
acreditamos que uma pessoa tem capacidade para
vizinhos;
discriminar e decidir sobre uma relação sexual? Uma  Pessoas com mais
de 55 anos de
criança pode consentir que um adulto a toque de uma idade que
sofreram algum
forma sexual e esta relação não deixa de ser abusiva. estresse ou
alguma perda por
Mas será que apenas a idade cronológica, como a lei morte ou
separação, ou
determina, define esta possibilidade de escolha? (Fonte mesmo com
alguma doença
:http://www.usp.br data de acesso 06/05/2007). que afete o
sistema nervoso
central;
AS CAUSAS DO ABUSO SÃO VARIÁVEIS.  E aqueles que não
importa a idade,
ou seja, aqueles
O MOLESTADOR, geralmente, justifica seus atos, que sempre foram
abusadores por
racionalizando que está ofertando oportunidades à toda uma vida.

criança de desenvolver-se no sexo, ser especial e saudá-


Aula 3 | Abuso sexual infantil 78

vel, inclusive praticando sexo com a permissão desta.


Pode envolver-se afetivamente e não ter qualquer
noção de limites entre papéis ou de diferenças de idade
(Parisotto, 2005).
Para pensar
Sabe-se que a maior parte dos casos de abuso
Por isso, o sexual ocorre entre pessoas conhecidas e próximas,
atendimento a
situações de abuso muitas vezes dentro da própria família. Desta forma, o
deve articular o
trabalho da Saúde, abuso sexual pode estar presente em relações de
da Justiça e da
Educação para lidar trabalho, em relações familiares. Assim, o abuso sexual
com os diversos
fatores envolvidos na
de crianças, o incesto e o assédio sexual denunciam um
questão. jogo de poder onde a sexualidade é utilizada de forma
Veja a seguir mais
detalhes sobre o destrutiva, constituindo-se num desrespeito ao ser
trabalho da saúde,
da justiça e da humano. Nestes três casos, pode não existir a violência
educação!
física, mas são relações que implicam outros tipos de
violência, como a social e a psicológica. O abuso sexual
afeta, ao mesmo tempo, a saúde física e mental e o
direito individual de se dispor da própria sexualidade e
Importante
privacidade.
Exploração sexual
infanto-juvenil - A criança abusada
combate e solução
Este guia mostra a
situação de crianças
e adolescentes Devido ao fato de a criança muito nova não ser
sexualmente
exploradas, explica
preparada psicologicamente para o estímulo sexual, e
o que é, como é e mesmo que não possa saber da conotação ética e moral
quando ocorre a
exploração sexual, da atividade sexual, quase invariavelmente acaba
além de apresentar
soluções sobre como desenvolvendo problemas emocionais depois da
reagir e o que fazer
diante desta violência sexual.
situação. A ABRAPIA
registra denúncias
de abuso e A criança de cinco anos ou pouco mais, mesmo
exploração sexual
que chegam de todo conhecendo e apreciando a pessoa que abusa dela, se
o país, repassando-
as aos órgãos de sente profundamente conflitante entre a lealdade para
cada estado
encarregados de com essa pessoa e a percepção de que essas atividades
investigá-las. Para
adquiri-la, entre em sexuais estão sendo terrivelmente más.
contato com a
Abrapia pelo
telefone (21) 589- Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a
5656 ou pelo nosso
e-mail: criança pode ter muito medo da ira do parente
abrapia@openlink.co
m.br
abusador, medo das possibilidades de vingança ou da
vergonha dos outros membros da família ou, pior ainda,
Aula 3 | Abuso sexual infantil 79

pode temer que a família se desintegre ao descobrir


seu segredo (Ballone, 2003).

Para pensar
A criança que é vítima de abuso sexual
prolongado, usualmente desenvolve uma perda violenta Se a criança não
buscou
da auto-estima, tem a sensação de que não vale nada e imediatamente
ajuda e não foi
adquire uma representação anormal da sexualidade. A protegida, só lhe
resta aprender a
criança pode tornar-se muito retraída, perder a aceitar a situação e
encontrar um meio
confiança em todos os adultos e pode até chegar a de sobreviver a ela.
(Queiroz, 2002)
considerar o suicídio, principalmente quando existe a
possibilidade da pessoa que abusa ameaçar de violência
se a criança negar-se aos seus desejos.

Algumas crianças abusadas sexualmente podem


ter dificuldades para estabelecer relações harmônicas
com outras pessoas, podem se transformar em adultos
que também abusam de outras crianças, podem se
inclinar para a prostituição ou podem ter outros
problemas sérios quando adultos.
Importante
O comportamento das crianças abusadas
sexualmente pode incluir: Mudanças bruscas
no comportamento,
no apetite ou no
sono podem ser um
 Interesse excessivo ou evitação de natureza indício de que
alguma coisa está
sexual; acontecendo,
principalmente se a
 Problemas com o sono ou pesadelos; criança se mostrar
curiosamente
 Depressão ou isolamento de seus amigos e da
isolada, muito
família; perturbada quando
deixada só ou
 Achar que têm o corpo sujo ou contaminado; quando o abusador
estiver perto.
 Ter medo de que haja algo de mal com seus
genitais;
 Negar-se a ir à escola,
 Rebeldia e delinqüência;
 Agressividade excessiva;
 Comportamento suicida;
 Terror e medo de algumas pessoas ou alguns
lugares;
 Retirar-se ou não querer participar de
esportes;
Aula 3 | Abuso sexual infantil 80

 Respostas ilógicas (para-respostas) quando


Dica de
leitura perguntamos sobre alguma ferida em seus
genitais;
ALLENDER, Dan B.
Lágrimas secretas -  Temor irracional diante do exame físico;
cura para vítimas de
abuso sexual na  Mudanças súbitas de conduta.
infância.
São Paulo: Mundo
Cristão, 1999. Algumas vezes, entretanto, crianças ou
adolescentes portadores de transtorno de conduta
severo fantasiam e criam falsas informações em relação
ao abuso sexual (Ballone, 2003).

COMO SE ESCOLHE A CRIANÇA?

A criança pode ser um alvo fácil, pois na infância


a formação e a estruturação dos valores sociais e
culturais estão em processo de formação e de análise
crítica.

Alguns fatores são evidenciados de como a


escolha da criança é feita:

 Criança mais nova, pois assim fica mais difícil


que seja revelado o que aconteceu, uma vez
que ainda não possui o domínio adequado da
fala;
 Crianças das quais as pessoas zombam ou
criticam como sendo incapazes de falar a
verdade ou que sempre estão distorcendo a
realidade. Isto implica que os agressores
oferecem a essas crianças a possibilidade de
que os adultos continuem não acreditando
nelas;
 Criança muito amigável com os adultos, pois
devido a sua capacidade de ser extrovertida,
a aproximação é feita de forma mais rápida;
 Crianças pouco vigiadas, deixadas por sua
conta e/ou que têm carências emocionais e
afetivas, são as mais vulneráveis e constituem
Aula 3 | Abuso sexual infantil 81

provavelmente o alvo preferido dos autores de


abusos, por meio de um complexo jogo de
interação entre as necessidades afetivas (às
vezes sedutoras) da criança e as pulsões e
desejos do autor do abuso sexual (Queiroz,
2002).

E OS ADOLESCENTES ABUSADOS? COMO SÃO


ESCOLHIDOS?
A adolescência é, sem dúvida, uma fase de transição.
Transição de valores, de informações e caracteriza-se
por vários rituais de passagens. O corpo começa a
mudar devido à revolução hormonal que é instalada.
Os adolescentes começam a ter um corpo sexuado do
adulto: aparecimento de pêlos pubianos, mudança na
voz, aumento de massa corporal, e polução noturna
(ato de ejacular para os homens); aumento dos seios,
aparecimento da menarca (menstruação) nas
meninas. Muitos que cometem abusos sexuais
sentem-se fortemente excitados pelas transformações
ocorridas especialmente com as meninas. Na escolha
dos adolescentes, são observados também alguns
aspectos pelos agressores tais como:
 Carência afetiva da vítima, muitas vezes o mais
tímido, o mais calado que tende a não se expor ou
dizer o que sente.
 Adolescentes que gostam de fantasiar a realidade e
são sempre tidos como “mentirosos” ou pouco
confiáveis, uma vez que não se dará crédito ao que
diz ou ao que denuncia.
 Adolescentes que usam roupas de forma
provocadora, pois assim torna-se fácil ao agressor a
idéia de que foram induzidos ao ato (Queiroz, 2002).

AFINAL, QUAIS SÃO AS CONSEQÜÊNCIAS DO


ABUSO SEXUAL NAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES?

De acordo com Queiroz (2002), as


conseqüências são inúmeras, dependendo sempre do
tipo de abuso sofrido, da repetição que isto ocorreu no
decorrer da vida do indivíduo, da idade em que os
abusos foram acometidos e da possibilidade de
denunciar ou de se falar sobre o assunto.

Evidentemente, cada indivíduo reage de forma


diferenciada, mas as marcas desse registro podem
desdobrar-se de várias maneiras. Vejamos algumas
que podem acontecer:
Aula 3 | Abuso sexual infantil 82

 O corpo é sentido como profano; há perda da


integridade física, sensações novas foram
despertadas, mas não integradas, a vítima
expressa a angústia de que algo se quebrou
no interior de seu corpo; nos últimos anos, o
medo de contrair AIDS e D.S.T. (Doenças
Sexualmente Transmissíveis) é uma obsessão
angustiante que se reforça em exames feitos
constantemente; o medo de haver
engravidado, seja qual for a idade da vítima e
a natureza do ato cometido;
 As perturbações do sono são constantes e
traduzem a angústia de baixar a guarda e ser
agredido sem defesa;
 Dificuldade de lidar com seu próprio corpo,
considerando-o pouco atraente;
 Comportamento autodestrutivo, levando a
criança a parar de brincar, desinteressa-se dos
estudos, fecha-se em si mesma, torna-se lenta
ou inquieta. O adolescente pode manifestar
sinais de violência, mostrando-se muito irritado
e pouco tolerante quando o elogiam;
 Baixa auto-estima, uma vez que se
evidenciam sentimentos de menos valia por
se perceber diferenciada e escolhida para a
prática de abusos sexuais;
 Comportamentos autodestrutivos podendo
até, dependendo da organização psicológica e
da estruturação da personalidade, tentar e
cometer suicídio;
 Sexualidade vista como punitiva, com
culpabilidade, sem prazer, podendo interferir
de forma traumática no jogo da sedução,
erotização, oferecendo possível dificuldade de
relacionamentos sexuais na idade adulta;
 Em alguns casos, é comum que ocorra
depressão, angústia e sentimento de
inferioridade.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 83

É importante considerar que nem sempre a criança


ou o adolescente que sofre abuso sexual será
necessariamente um indivíduo vingativo ou violento
para a sociedade, não devemos estigmatizá-lo com
preconceitos.
Todos esses distúrbios e sintomas parecem
consideravelmente acentuados pelo fato de haver
um contexto familiar que nem sempre acolhe a
criança ou o adolescente. Às vezes, somam-se a isso
novos problemas causados pela dispersão da família
ao ocorrer uma revelação, pelas pressões para uma
retratação e, ainda por diversos eventos que
desorganizam as pessoas envolvidas no núcleo
familiar.
Resta, enfim, dizer que o tema das violências
sexuais é apenas parte integrante de outro, bem
mais vasto: as violências das quais as crianças e os
adolescentes podem ser vítimas a qualquer hora, em
qualquer momento, em qualquer lugar (Queiroz,
2002).
Importante
Quem é o agressor sexual
Sendo assim, o
agressor pode ser
Como já vimos antes, mais comumente quem qualquer pessoa:
tio, pai adotivo, pai,
abusa sexualmente de crianças são pessoas que a
primo, irmão, avô,
criança conhece e que, de alguma forma, podem vizinho, amigo da
família, não sendo
controlá-la. De cada 10 casos registrados, em 8 o realizado, portanto,
como se imagina,
ABUSADOR É CONHECIDO da vítima. por pessoa
totalmente
desconhecida da
Esta pessoa, em geral, é alguma figura de quem vítima. E mais uma
vez lembramos de
a criança gosta e em quem confia. Por isso, quase que acontece em
qualquer classe
sempre acaba convencendo a criança a participar social, envolvendo
pessoas com bom
desses tipos de atos por meio de persuasão, nível de instrução ou
não.
recompensas ou ameaças. Acredita-se que a
forma mais
traumática de abuso
Mas, quando o perigo não está dentro de casa, é aquela consumada
por um pai, seja
nem na casa do amiguinho, ele pode rondar a creche, o biológico ou adotivo,
também conhecida
transporte escolar, as aulas de natação do clube, o como relações
incestuosas
consultório do pediatra de confiança e, quase
(Queiroz, 2002).
impossível acreditar, pode estar nas aulas de
catecismos da paróquia. Portanto, o mais sensato será
acreditar que não há lugar absolutamente seguro
contra o abuso sexual infantil.

Segundo a Dra. Miriam Tetelbom, o incesto pode


ocorrer em até 10% das famílias. Os adultos conhecidos
Aula 3 | Abuso sexual infantil 84

e familiares próximos como, por exemplo, o pai, o


padrasto ou o irmão mais velho são os agressores
sexuais mais freqüentes e mais desafiadores.

Embora a maioria dos abusadores seja do sexo


masculino, as mulheres também abusam sexualmente
de crianças e adolescentes.

Esses casos começam lentamente através de


sedução sutil, passando à prática de "carinhos" que
raramente deixam lesões físicas. É nesse ponto que a
criança se pergunta como alguém em quem ela confia,
de quem ela gosta, que cuida e se preocupa com ela,
pode ter atitudes tão desagradáveis (Ballone, 2003).

QUAIS SÃO AS FORMAS DE AGRESSÃO?

Existem várias formas de realizar esta


aproximação envolvendo vários recursos como a
sedução, por exemplo. A criança e o adolescente são
seduzidos em função de sua carência e de suas
necessidades. O agressor realiza aproximações
sucessivas, procurando sempre ganhar a confiança da
vítima, envolvida em uma relação muito próxima e
erotizada que termina e culmina em contatos genitais.

Às primeiras tentativas de sedução do adulto,


somam-se ameaças, para forçar a vitima a submeter-
se. O que ela pode aceitar aos quatro ou cinco anos
como uma brincadeira secreta, conforme lhe dizia o
adulto, torna-se uma relação imposta da qual, pouco a
pouco, toma consciência. Produzem-se, então, rupturas
traumáticas sucessivas, manifestadas em sintomas que
são, ao mesmo tempo, sinais de alerta (Queiroz, 2002).
Aula 3 | Abuso sexual infantil 85

ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS


SANDERSON, Christiane.
São Paulo: Makron Books do Brasil Editora Ltda.

Resumo:
Este livro, altamente informativo e com uma
linguagem bastante acessível, oferece estratégias
práticas para a proteção das crianças que todos os
pais, professores e qualquer pessoa envolvida na
vida de uma criança considerarão indispensáveis.
Trazendo ao leitor um entendimento do
desenvolvimento sexual normativo/típico das
crianças, Christiane Sanderson capacita pais e
professores a distinguir esse desenvolvimento
normal do desenvolvimento sexual atípico e a
reconhecer os sinais de advertência do abuso sexual
em crianças.
Quanto mais inteirados sobre o assunto e à vontade
estiverem os professores e os pais, mais fácil será
para eles entenderem e conversarem abertamente
com as crianças sobre desenvolvimento sexual. Este
livro oferece orientação sobre como discutir sobre
toques, comportamentos apropriados e não
apropriados e sobre os perigos do abuso sexual,
considerando a idade das crianças. A autora
apresenta informações sobre abusadores e meios de
proteção contra suas tentativas de ganhar acesso a
uma criança por aliciamento, aliciamento de seus
pais e também outros adultos. Inclui, ainda,
informações atuais sobre o uso da Internet e de
telefones celulares pelos abusadores.

A violência ocorre na maioria das vezes nos


episódios de estupros, podendo ocorrer em alguns
casos lesões genitais, agravadas por outros danos
físicos tais como tentativa de estrangulamento e
ferimento nos casos mais traumáticos. Algumas
situações dramáticas exigem hospitalização, podendo a
vítima se encontrar em estado de choque. Proximidade
corporal excessiva e erotizada são os mais freqüentes
tipos de abuso sexual caracterizado por cenas de
exibicionismo ou voyeurismo.

POR QUE EXISTE O SILÊNCIO?

De acordo com Queiroz (2002), os abusos


sexuais acontecem quase sempre em segredo.
Impostos por violência, ameaça ou mesmo uma relação
Aula 3 | Abuso sexual infantil 86

sem palavra, o segredo tem por função manter uma


coesão familiar e proteger a família do julgamento de
seu meio social. Muitas vezes, a possibilidade de o
agressor ser preso ou a perda da sustentação financeira
fazem com que a revelação seja mais grave que o
próprio abuso.

MAIS UMA INDICAÇÃO, NÃO PERCA!

Foi com este propósito de discutir esse assunto que


as psicopedagogas Laura Barbero e María Laura
Kroupensky lançaram, em Buenos Aires, um
conjunto com três publicações intitulado "Diário de
Minhas Férias" dirigido para alunos, pais e
professores.
"Diário de Minhas Férias - Livro" é a primeira parte.
Nela, o garoto Julián narra, em seu diário, os
momentos de suas férias num lugarejo distante, na
casa de seus avós. Durante a viagem, o menino
conhece outros amigos e se vê diante de um típico
episódio de abuso sexual quando é apresentado a
um tio mais velho de um dos amiguinhos. Sem
pensar duas vezes, Julián comenta o caso com seus
pais que, imediatamente, o apóiam.
No segundo livro, "Diário de Minhas Férias - Meu
guia pessoal", as profissionais elaboraram uma série
de exercícios relacionados ao livro anterior, onde
Julián conta o ocorrido. Através das atividades, é
orientado aos alunos quais são os procedimentos
mais corretos a serem tomados diante de uma
situação em que se corra risco de abuso sexual
infantil.
Já em "Diário de Minhas Férias - Guia para
professores e pais", estão os objetivos que se
pretende alcançar com cada atividade, a forma de
implementação e sugestões para outras atividades
que podem ser trabalhadas em grupo tanto de
forma oral como escrita.

O momento da descoberta do abuso sexual é um


trauma para a vítima. Os adultos em geral não
compreendem o comportamento da criança ou do
adolescente.

Diante da incompreensão dos adultos, após


terem feito a queixa, passam a se retratar e muitas
vezes os fatos passam a ser negados quando eram
verdadeiros.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 87

A criança e o adolescente aparecem duplamente


como vítima dos abusos sexuais e da incredulidade dos
adultos. Até que ponto tudo isso é verdadeiro ou não?

Existem várias atitudes frente aos abusos


sexuais por parte da vítima: o segredo; adaptar-se aos
novos abusos sexuais; a revelação é tardia e não
convence; a vítima vai se retratar junto ao agressor.

O segredo é a forma de preservar a ameaça, por


exemplo, “não diga nada a sua mãe, senão ela vai me
odiar”; “se ela souber, vai matar você, vai mandá-la
para o colégio interno ou ela pode até morrer”. As
ameaças tornam os efeitos da revelação ainda mais
perigosos que o próprio ato. No entanto, o silêncio é
muitas vezes a forma de proteção, a forma de defesa, a
maneira de mascarar a dor, a defesa necessária para
ocultar o sofrimento.

A realidade é aterrorizante para a vítima devido


ao fato de que o ato só acontece quando está sozinha
com o adulto, que abusa dela, e isso não deve ser
partilhado com ninguém.

A vítima fica sem defesa pelo fato de tratar-se


de alguém da família. De um lado, aprendeu que
precisa desconfiar de “estranhos”, por outro lado,
disseram-lhe que “na família tudo é permitido”. O
domínio perverso sobre a criança e o adolescente pode,
a partir daí, ser exercido mais facilmente.

Importante

Podemos perceber, nessas condições, o quanto é


difícil escapar à lei familiar rompendo o segredo De modo geral,
mesmo que o
(Queiroz, 2002). suposto abusador
seja alguém em
quem se vinha
A FAMÍLIA DA CRIANÇA ABUSADA confiando, em tese a
denúncia da criança
deve ser
considerada.
Segundo Ballone (2003), a primeira reação da
família diante da notícia de abuso sexual pode ser de incre
Aula 3 | Abuso sexual infantil 88

dulidade. Como pode ser comum crianças inventarem


histórias, de fato, elas podem informar relações sexuais
Você sabia?
imaginárias com adultos, mas isso não é a regra.
Alguns trabalhos
afirmam que pelo
menos uma a cada Em geral, aqueles que abusam sexualmente de
cinco mulheres
adultas e um a cada crianças podem fazer com que suas vítimas fiquem
10 homens adultos
se lembra de abusos
extremamente amedrontadas de revelar suas ações,
sexuais durante a incutindo nelas uma série de pensamentos torturantes,
infância.
tais como a culpa, o medo de ser recriminada, de ser
punida.

O tratamento adequado pode reduzir o risco de


a criança desenvolver sérios problemas no futuro, mas
a prevenção ainda continua sendo a melhor atitude.
Algumas medidas preventivas que os pais podem
tomar, fazendo com que essas regras de conduta soem
tão naturais quanto as orientações para atravessar uma
rua, afastar-se de animais ferozes, evitar acidentes. Se
considerar que a criança ainda não tem idade para
compreender com adequação a questão sexual,
simplesmente explique que algumas pessoas podem
tentar tocar as partes íntimas (apelidadas
carinhosamente de acordo com cada família), de forma
que se sintam incomodadas. Algumas dicas importantes
Ballone (2003) nos dá:

 Dizer às crianças que, "se alguém tentar


tocar-lhes o corpo e fazer coisas que a façam
sentir desconfortável, afaste-se da pessoa e
conte em seguida o que aconteceu."
 Ensinar às crianças que o respeito aos
maiores não quer dizer que têm que obedecer
cegamente aos adultos e às figuras de
autoridade. Por exemplo, dizer que não têm
que fazer tudo o que os professores, médicos
ou outros cuidadores mandarem fazer,
enfatizando a rejeição daquilo que não as
façam sentir-se bem.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 89

 Ensinar a criança a não aceitar dinheiro ou


favores de estranhos.
 Advertir as crianças para nunca aceitarem
convites de quem não conhecem.
 A atenta supervisão da criança é a melhor
proteção contra o abuso sexual pois, muito
possivelmente, ela não separa as situações de
perigo à sua segurança sexual.
 Na grande maioria dos casos, os agressores
são pessoas que conhecem bem a criança e a
família, podem ser pessoas às quais as
crianças foram confiadas.
 Embora seja difícil proteger as crianças do
abuso sexual de membros da família ou
amigos íntimos, a vigilância das muitas
situações potencialmente perigosas é uma
atitude fundamental.
 Estar sempre ciente de onde está a criança e
o que está fazendo.
 Pedir a outros adultos responsáveis que
ajudem a vigiar as crianças quando os pais
não puderem cuidar disso intensivamente.
 Se não for possível uma supervisão intensiva
de adultos, pedir às crianças que fiquem o
maior tempo possível junto de outras
crianças, explicando as vantagens do
companheirismo (Ballone, 2003).

VEJA MAIS ALGUMAS DICAS:

 Conhecer os amigos das crianças, especialmente


aqueles que são mais velhos que a criança;
 Ensinar a criança a zelar pela sua própria
segurança;
 Orientar sempre as crianças sobre opções do que
fazer caso percebam más intenções de pessoas
pouco conhecidas ou mesmo íntimas;
 Orientar sempre as crianças para buscarem ajuda
com outro adulto quando se sentirem
incomodadas;
 Explicar as opções de chamar atenção sem se
envergonhar, gritar e correr em situações de
perigo;
Aula 3 | Abuso sexual infantil 90

 Orientar as crianças que elas não devem estar


sempre de acordo com iniciativas para manter
contacto físico estreito e desconfortável, mesmo
Para pensar que sejam por parte de parentes próximos e
amigos;
 Valorizar positivamente as partes íntimas do corpo
Na verdade, o abuso
da criança, de forma que o contacto nessas partes
sexual infantil pode
ser considerado chame sua atenção para o fato de algo incomum e
como uma das estranho estar acontecendo (Ballone, 2003).
manifestações da
pedofilia, que é a
atração sexual de
adultos por crianças.
Tipos de abusos sexuais

Já estudamos várias coisas sobre o abuso


sexual, mas, na verdade, existem várias categorias
Importante distintas de abuso sexual, veja:

As Parafilias são
caracterizadas por  Pedofilia;
anseios, fantasias ou
comportamentos  Estupro;
sexuais recorrentes
e intensos que  Assédio Sexual;
envolvem objetos,
 Exploração Sexual Comercial;
atividades ou
situações incomuns  Exploração Sexual Profissional.
e causam sofrimento
clinicamente
significativo ou
prejuízo no Vamos falar um pouco de cada uma dessas
funcionamento
social ou categorias, separadamente, a fim de demonstrar suas
ocupacional ou em
outras áreas diferenças.
importantes da vida
do indivíduo.
Segundo o DSM – IV
R (Diagnostic and Iremos tratar de todos os tipos de abusos
Statistical Manual of
sexuais, porém dando mais ênfase aos casos de abusos
Mental Disorders,
4ª. edição revisada), sexuais infantis.
as parafilias são
classificadas em:
 Exibicionismo;
 Fetichismo;
PEDOFILIA
 Frotteurismo;
 Pedofilia;
 Masoquismo;
 Sadismo; A Pedofilia é um transtorno parafílico, onde a
 Fetichismo
Transvéstico; pessoa apresenta fantasia e excitação sexual intensa
 Voyeurismo;
 Parafilia sem outra com crianças pré-púberes.
especificação:
escatologia
telefônica,
necrofilia, Vamos aos detalhes:
parcialismo,
zoofilia, coprofilia,
clismafilia e
O foco parafílico da Pedofilia envolve atividade
urofilia.
sexual com uma criança pré-púbere (geralmente com 13
Aula 3 | Abuso sexual infantil 91

anos ou menos). O indivíduo com Pedofilia deve ter 16


anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a Importante
criança. Para indivíduos com Pedofilia no final da
Critérios
adolescência, não se especifica uma diferença etária diagnósticos para
f65.4 - 302.2
precisa, cabendo exercer o julgamento clínico, pois é pedofilia
A. Ao longo de um
preciso levar em conta tanto a maturidade sexual da período mínimo de 6
meses, fantasias
criança quanto a diferença de idade. Os indivíduos com sexualmente
excitantes
Pedofilia geralmente relatam uma atração por crianças recorrentes e
intensas, impulsos
de uma determinada faixa etária. Alguns preferem
sexuais ou
meninos, outros sentem maior atração por meninas, e comportamentos
envolvendo
outros são excitados tanto por meninos quanto por atividade sexual com
uma (ou mais de
meninas. Os indivíduos que sentem atração pelo sexo uma) criança pré-
púbere (geralmente
feminino geralmente preferem crianças de 10 anos, com 13 anos ou
menos).
enquanto aqueles atraídos por meninos preferem, B. As fantasias,
impulsos sexuais ou
habitualmente, crianças um pouco mais velhas. A comportamentos
causam sofrimento
Pedofilia envolvendo vítimas femininas é relatada com clinicamente
significativo ou
maior freqüência do que a Pedofilia envolvendo
prejuízo no
meninos. Alguns indivíduos com Pedofilia sentem funcionamento
social ou
atração sexual exclusivamente por crianças (Tipo ocupacional ou em
outras áreas
Exclusivo), enquanto outros, às vezes, sentem atração importantes da vida
do indivíduo.
por adultos (Tipo Não-Exclusivo). Os indivíduos com C. O indivíduo tem
no mínimo 16 anos
Pedofilia que atuam segundo seus anseios podem e é pelo menos 5
anos mais velho que
limitar sua atividade a despir e observar a criança, a criança ou crianças
no Critério A.
exibir-se, masturbar-se na presença dela, ou tocá-la e Nota para a
codificação: Não
afagá-la. Outros, entretanto, realizam felação ou
incluir um indivíduo
cunilíngua ou penetram a vagina, boca ou ânus da no final da
adolescência
criança com seus dedos, objetos estranhos ou pênis, envolvido em um
relacionamento
utilizando variados graus de força para tal. Essas sexual contínuo com
uma criança com 12
atividades são geralmente explicadas com desculpas ou ou 13 anos de idade.
Especificar se:
racionalizações de que possuem "valor educativo" para a Atração Sexual por
Homens
criança, de que esta obtém "prazer sexual" com os atos Atração Sexual por
Mulheres
praticados ou de que a criança foi "sexualmente Atração Sexual por
Ambos os Sexos
provocante" — temas comuns também na pornografia
Especificar se:
pedófila. Limitada ao Incesto
Especificar tipo:
Tipo Exclusivo
(atração apenas por
Os indivíduos podem limitar suas atividades a
crianças)
seus próprios filhos, filhos adotivos ou parentes, ou Tipo Não-Exclusivo.

vitimar crianças de fora de suas famílias. Alguns indivíduos


Aula 3 | Abuso sexual infantil 92

com Pedofilia ameaçam a criança para evitar a


revelação de seus atos. Outros, particularmente
aqueles que vitimam crianças com freqüência,
desenvolvem técnicas complicadas para obterem acesso
às crianças, que podem incluir a obtenção da confiança da
mãe, casar-se com uma mulher que tenha uma criança
atraente, traficar crianças com outros indivíduos com
Pedofilia ou, em casos raros, adotar crianças de países
não-industrializados ou raptar crianças. Exceto em casos
nos quais o transtorno está associado com Sadismo
Sexual, o indivíduo pode atender às necessidades da
criança para obter seu afeto, interesse e lealdade e evitar
que esta denuncie a atividade sexual. O transtorno
geralmente começa na adolescência, embora alguns
indivíduos com Pedofilia relatem não terem sentido
atração por crianças até a meia-idade. A freqüência do
comportamento pedófilo costuma flutuar de acordo com o
estresse psicossocial. O curso em geral é crônico,
especialmente nos indivíduos atraídos por meninos. A
taxa de recidiva para indivíduos com Pedofilia envolvendo
uma preferência pelo sexo masculino é aproximadamente
o dobro daquela para a preferência pelo sexo feminino.

CONSEQÜÊNCIAS
As consequências de uma violência sexual praticada
contra crianças e adolescentes podem ser físicas,
psicológicas ou de comportamento, todas
igualmente prejudiciais para quem sofre a violência.
FÍSICAS
 Dor constante na vagina ou no ânus.
 Corrimento vaginal.
 Inflamações e hemorragias.
 Doenças sexualmente transmissíveis como AIDS,
hepatite B.
PSICOLÓGICAS
 Sentimento de culpa.
 Sentimento de isolamento de ser diferente.
 Sentimento de estar "marcado" para o resto da
vida.
 Depressão.
 Falta de amor próprio (baixa auto-estima).
 Medo indefinido permanente.
 Tentativa de suicído.
COMPORTAMENTAIS
 Demonstrações assíduas de comportamentos
sexuais.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 93

ESTUPRO

Importante
O Estupro é definido como o ato físico de atacar
outra pessoa e forçá-la a praticar sexo sem seu Um exemplo típico
de abuso sexual é o
consentimento. Pode ser um ataque homossexual ou estupro que é o ato
sexual forçado e
heterossexual, estando a pessoa consciente ou não
com penetração
(sob efeito de drogas ou em coma). peniana.

O estuprador (de acordo com a lei


vigente) é sempre homem e tem
sentimentos odiosos em relação às
mulheres, sentimentos de inadequação
e insegurança em relação a sua
performance sexual. Pode apresentar
desvios sexuais como o sadismo ou
anormalidades genéticas com
tendências à agressividade.
(Parisotto, 2005)

A vítima normalmente é
estigmatizada, havendo uma tendência
social de acusá-la direta ou
indiretamente por ter provocado o
estupro. Sente-se impotente até
mesmo em delatar o estuprador, que
muitas vezes é alguém já conhecido,
sentindo-se muito culpada e temerosa
de represálias. Muitas vezes, pode
sentir que o estupro não foi um
estupro, que foi uma atitude permitida
por ela e de sua responsabilidade. Tal
atitude dificulta o delato do crime. Os
sentimentos de baixo auto-estima,
culpa, vergonha, temor (fobias),
tristeza e desmotivação são comuns. A Para refletir
ideação suicida também pode piorar o
quadro. São comuns sintomas
Por isso que, pela
similares ao estresse pós-traumático lei, só o homem
(transtorno de ansiedade comum em estupra.
soldados pós-guerra). Que coisa, não?
(Parisotto, 2005)

O estupro é, então, mais um tipo de crime


sexual, que pode ser praticado contra crianças e
adolescentes ou mulheres adultas. É definido pelo
Código Penal, em seu artigo 213, como “constranger à
conjunção carnal, mediante violência ou grave
ameaça”. Por conjunção carnal, entende-se a
PENETRAÇÃO DO PÊNIS NA VAGINA, completa ou não,
com ou sem ejaculação. Assim, estupro é um crime que só
Aula 3 | Abuso sexual infantil 94

pode ser praticado por um homem contra uma mulher.

A pena prevista pelo Código é a reclusão de seis


a dez anos.

SENADO FEDERAL
SUBSECRETARIA DE INFORMAÇÕES

LEI Nº 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990

Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do


art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e
determina outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o


Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte lei:

Art. 1º São considerados hediondos os crimes de


latrocínio (art. 157, § 3º, in fine), extorsão
qualificada pela morte, (art. 158, § 2º), extorsão
mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159,
caput e seus §§ 1º, 2º e 3º), estupro (art. 213,
caput e sua combinação com o art. 223, caput e
parágrafo único), atentado violento ao pudor (art.
214 e sua combinação com o art. 223, caput e
parágrafo único), epidemia com resultado morte
(art. 267, § 1º), envenenamento de água potável ou
de substância alimentícia ou medicinal, qualificado
pela morte (art. 270, combinado com o art. 285),
todos do Código Penal (Decreto-Lei nº 2.848, de 7
de dezembro de 1940), e de genocídio (arts. 1º, 2º
e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956),
tentados ou consumados.

E muito mais... Pesquise para saber mais.

Com a lei 8.072, de 1990, o estupro passou a


ser considerado um crime hediondo. Os autores de
crimes hediondos não têm direito a fiança, indulto ou
diminuição de pena por bom comportamento. Os crimes
são classificados de hediondos sempre que têm
excepcional gravidade, evidenciam insensibilidade ao
sofrimento físico ou moral da vítima ou a condições
especiais das mesmas, como crianças, deficientes e
idosos.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 95

Em julho de 2004, o relatório final da Comissão


Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Exploração
Sexual trouxe como uma de suas recomendações a
mudança no artigo 213 do Código. A sugestão é que o
estupro pudesse ser considerado também um delito
cometido contra meninos, a fim de punir seus
agressores de forma mais severa.

(Fonte: sites do Fundo das Nações Unidas para


Infância – Unicef e da senadora Patrícia Saboya)

ASSÉDIO SEXUAL (MOLESTAMENTO, COAÇÃO


SEXUAL)

No Brasil, o assédio está assim definido na lei


número 10224, de 15 de maio de 2001:

"Constranger alguém com intuito de obter vantagem


ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente
de sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função."

No âmbito laboral, não é necessário que haja uma


diferença hierárquica entre assediado e assediante,
embora normalmente haja. A Organização
Internacional do Trabalho define assédio sexual
como “atos, insinuações, contatos físicos forçados,
convites impertinentes, desde que apresentem uma
das características a seguir:

a) Ser uma condição clara para manter o emprego;


b) Influir nas promoções da carreira do assediado;
c) Prejudicar o rendimento profissional, humilhar,
insultar ou intimidar a vítima.

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ass%C3%A9dio_sexual

ASSÉDIO SEXUAL é um tipo de coerção de


caráter sexual praticada por uma pessoa em posição
hierárquica superior em relação a um subordinado,
normalmente em local de trabalho ou ambiente
acadêmico. O assédio sexual caracteriza-se por alguma
ameaça, insinuação de ameaça ou hostilidade contra o
subordinado, com fundamento em sexismo.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 96

Exemplos clássicos são as condições impostas


para uma promoção que envolvam favores sexuais, ou
a ameaça de demissão, caso o empregado recuse o
flerte do superior.

Geralmente. a vítima do assédio sexual é a


mulher, embora nada garanta que ele também não
possa ser praticado contra homens, homossexuais ou
não. Do mesmo modo, o agressor pode ser homem
(mais comum) ou mulher (Fonte wikipedia).

O assédio sexual inclui uma aproximação sexual


não-benvinda, uma solicitação de favores sexuais ou
qualquer conduta física ou verbal de natureza sexual.

Existem leis que protegem as pessoas de


preconceitos sexuais, tomando-se por base tais
situações.

Existem dois tipos de molestamento:

 Quando existe uma pressão sobre a vítima


para esta prestar algum favor sexual ou se
submeter de alguma forma por estar
Você sabia? hierarquicamente abaixo ao molestador;

O abuso sexual  Quando há uma pressão para a vítima sentir-


interessa ao
DIREITO, pois se em um ambiente desagradável por ser de
configura crime, e
ainda à PSICOLOGIA seu sexo específico. Por exemplo, uma
e à PSIQUIATRIA,
como potencial mulher ser hostilizada ou não-benvinda por
causador de
traumas.
ser uma mulher em um determinado
ambiente de trabalho, fazendo com que se
sinta tão mal a ponto de ter de abandonar o
emprego ou permanecer nele com sofrimento.

O tratamento para essas vítimas consiste em


ajudá-las a tomar medidas legais contra o molestador,
treinando-as para identificar quando estão sendo
submetidas a esse tipo de abuso (Parisotto, 2005).
Aula 3 | Abuso sexual infantil 97

EXPLORAÇÃO SEXUAL COMERCIAL

É a comercialização da prática sexual


com crianças e adolescentes com fins
comerciais. São considerados
exploradores o cliente, que paga pelos
serviços sexuais, e os intermediários
em qualquer nível, ou seja, aqueles
que induzem, facilitam ou obrigam
crianças e adolescentes a essa prática.
O termo “prostituição infantil” não é
utilizado, devido à compreensão de
que crianças e adolescentes não se
prostituem, e sim são explorados por
adultos. A pornografia e o turismo
sexual são também formas de
exploração sexual comercial.
(Gabriel, 2006)

ATENÇÃO

O abuso e a exploração sexual contra crianças e


adolescentes são enquadrados penalmente como
corrupção de menores, atentado violento ao pudor
e/ou estupro.

A corrupção de menores é definida pelo artigo 218


do Código Penal como “corromper ou facilitar a
corrupção de pessoa maior de 14 e menor de 18
anos, com ela praticando ato de libidinagem, ou
induzindo-a a praticá-lo ou presenciá-lo”. O autor
desse tipo de crime tem como pena a reclusão por
um período de um a quatro anos.

Já o atentado violento ao pudor, de acordo com o


artigo 214 do Código, é o ato de “constranger
alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
praticar ou permitir que com ele se pratique ato
libidinoso diverso da conjunção carnal”. Nesse caso,
a pena prevista é a reclusão de seis a dez anos.
Com a lei 8.072, de 1990, o atentado violento ao
pudor, assim como o estupro, passou a ser
considerado crime hediondo. Atualmente, o atentado
violento ao pudor é o crime correspondente ao
estupro quando praticado contra meninos.
A recomendação do relatório final da CPMI da
Exploração Sexual, de 2004, é unificar os dois tipos
de crime e ampliar a pena quando praticado contra
pessoas vulneráveis, onde se incluem crianças e
adolescentes.

(Fonte: Fundo das Nações Unidas para a Infância –


Unicef e Centro de Defesa da Criança e do
Adolescente – Cedeca - CE).
Aula 3 | Abuso sexual infantil 98

No caso do turismo sexual, trata-se de


exploração para servir a turistas nacionais e
estrangeiros. As vítimas fazem, muitas vezes, parte de
pacotes turísticos ou são traficadas como mercadoria
para outros países.

Já a pornografia infantil é a exposição e a


reprodução do corpo ou de atos sexuais praticados com
meninos e meninas. A prática é definida nos artigos
240 e 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente
como a produção de representação teatral, televisiva
ou película cinematográfica, fotografias e publicações,
utilizando-se de criança ou de adolescentes em cenas
pornográficas ou de sexo explícito (Fonte:
http://www.funci.fortaleza.ce.gov.br).

Vamos ver uns conceitos de exploração sexual


comercial:

Exploração sexual de criança e


adolescente, refere-se ao processo de
tirar proveito do trabalho sexual de
outros. Ou seja, ocorre no mercado
do sexo. Um comércio que tem
atividades onde é vendida a própria
relação sexual.
(Levantamento da situação de
exploração sexual infanto-juvenil no
estado do Pará)

A exploração sexual de crianças e


adolescentes é um tipo de abuso,
vitimização sexual. Considera-se
exploração sexual de criança toda
atividade de prostituição e/ou
pornografia que envolve a participação
ou presença de menores de 18 anos.
(Relatório da CPI Prostituição Infantil
no DF)

Exploração sexual para fins comerciais


trata-se de uma prática que envolve
troca de dinheiro com/ou favores entre
um usuário, um intermediário/
aliciador/agente e outros que obtêm
lucro com a compra e venda do uso do
corpo das crianças e dos adolescentes,
como se fosse uma mercadoria.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 99

(Congresso Mundial contra a


Exploração Sexual Comercial de
Crianças, UNICEF, 1996)
Você sabia?

Por fim:
Existe diferença
entre exploração
Exploração sexual comercial definiu-se sexual comercial e
como uma violência contra crianças e exploração sexual
adolescentes, que se contextualiza em profissional. A
função da cultura (do uso do corpo), exploração sexual
comercial afeta mais
do padrão ético e legal, do trabalho e as crianças e
do mercado. A exploração sexual adolescentes, nosso
comercial de crianças e adolescentes é objeto de estudo.
uma relação de poder e de Porém não poderia
deixar de citar esse
sexualidade, mercantilizada, que visa a outro tipo de abuso
obtenção de proveitos por adultos, que sexual que é a e
causa danos bio-psico-sociais aos exploração sexual
explorados, que são pessoas em profissional.
processo de desenvolvimento. Implica
o envolvimento de crianças e
adolescentes em práticas sexuais,
coercitivos ou persuasivos, o que
configura uma transgressão legal e a
violação de direitos a liberdade
individual da população infanto-juvenil.
(Maria Lúcia Leal - "A Exploração
Sexual de Meninos e Meninas na
América Latina e no Caribe", Relatório
Final - Brasil, Dezembro, 1998)

EXPLORAÇÃO SEXUAL PROFISSIONAL


Importante

A Exploração Sexual Profissional é diferente da


Exploração Sexual Comercial e ocorre quando há algum Não é raro ocorrer
que a vítima torne-
tipo de envolvimento sexual (ou intimidade) entre uma se um abusador no
futuro.
pessoa que está prestando algum serviço (de confiança
e com algum poder delegado) e um indivíduo que
procurou a sua ajuda profissional.

Pode ocorrer em todos os relacionamentos


profissionais nos quais haja algum tipo de poder de um
indivíduo sobre o outro (assimetria). Exemplos são
relações como a do médico-paciente, psicólogo-
paciente, advogado-cliente, professor-aluno e clérigo-
paroquiano.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 100

Restrições à intimidade sexual entre


profissionais da área médica e pacientes são já citadas
no juramento de Hipócrates, datado de quatrocentos
anos antes de Cristo, proibindo esse tipo de atividade
sexual. Atualmente, tanto o código de ética médica
como o código dos psicólogos postulam os mesmos
princípios, considerando seríssimos os danos causados
ao paciente.

A seguir, dados retirados de uma cartilha da USP


– Universidade de São Paulo, na página
http://www.usp.br/servicos/cearas/cartilha/cramio91.htm

O abuso sexual é uma questão de saúde


ou de justiça?
Aula 3 | Abuso sexual infantil 101

O atendimento prestado pela Justiça e o


prestado pela Saúde devem ocorrer de forma
articulada, pois os dois são absolutamente necessários
e nenhum deles, isoladamente, é suficiente para
abarcar a complexidade da questão.

ABUSO SEXUAL - INSTITUIÇÕES DE


REFERÊNCIA

São Paulo - Capital


CEARAS - Centro de Estudos e Atendimento
Relativos ao Abuso Sexual.
Instituto Oscar Freire - Faculdade de Medicina da
USP.
Rua Teodoro Sampaio, 115 - Pinheiros
São Paulo - SP - CEP 05405-000 Tel.: (0xx11) 853-
9677 Ramal 124 - Fax: ramal 105 e-mail:
ceiof@uol.com.br.
PAVAS - Programa de Atenção às Vítimas de Abuso
Sexual.
Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza
Faculdade de Saúde Pública da USP.
Av. Dr. Arnaldo, 925 - Cerqueira César
São Paulo - SP - CEP: 01246-904 Tel.: (0xx11) 853-
8591.
Casa Eliane de Grammont - Prefeitura de São Paulo.
Rua Dr. Bacelar, 20 - Vila Clementino
São Paulo - SP - CEP: 04026-000 Tel.: (0xx11) 549-
0335 / 549-9339.
N.R.V.V. - Núcleo de Referência às Vítimas da
Violência do Instituto Sedes Sapientiae.
Rua Ministro de Godoi, 1.484 - Perdizes
São Paulo - SP - CEP: 05015-900 Tel.: (0xx11) 263-
8074 - Telefax: (0xx11) 3873-2314 - ramal 20 e-
mail.: nrvv@ sedes.org.br.
CERCA - Centro de Referência da Criança e do
Adolescente.
Av. Brigadeiro Luís Antônio, 554 - Centro
São Paulo - SP - CEP: 01318-000 Tel.: (0xx11) 239-
0411/3104-4850/3115-6119 Fax: (0xx11) 3107-
8327.
Programa de Atendimento à Violência Sexual e
Aborto Legal.
Centro de Referência da Mulher e de Nutrição,
Alimentação e Desenvolvimento Infantil - CRMNADI
Hospital Pérola Byington Av. Brigadeiro Luís Antônio,
683 – Centro São Paulo - SP - CEP: 01317-000 Tel.:
(0xx11) 232-3433 - Serviço Social.
Região do ABCD (São Paulo).
CRAMI - Centro Regional de Atenção aos Maus
Tratos na Infância do ABCD.
Av. Lino Jardim, 114 - Vila Bastos Santo André - SP
- CEP: 09041-030 Telefax: (0xx11) 4992-1234 /
4990-8521.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 102

Pç. Dos Cristais, 28 - 1º andar - Jd. Donini Diadema


- SP - CEP: 09920-560 Tel.: (0xx11) 4051-1234.
Rua Marechal Deodoro, 1058 - 2º andar - Centro
São Bernardo do Campo - SP - CEP: 09710-001
Tel.: (0xx11) 458-1751
www.c2imagens.com.br/crami
e-mail: crami@terra.com.br
Interior de São Paulo.
CRAMI-CAMPINAS
R. Suzeley Norma Bove, 274 - Vila Brandina
Campinas - SP - CEP: 13094-720 TeleFax: (0xx19)
251-1234 / 252-4242 / 255-8880.
e-mail: crami@correionet.com.br.
CRAMI- São José do Rio Preto.
Av. Brigadeiro Faria Lima, 5.511 - Vila Universitária
São José do Rio Preto - SP - CEP: 15090-000 Tel.:
(0xx17) 227-3484.
Salvador-BA.
CEDECA - Centro de Defesa da Criança e
Adolescente
Rua Conceição da Praia, 32 - 1º andar - Comércio
Salvador - BA - CEP: 40015-250 Tel.: (0xx71) 243-
8794 - Telefax: (0xx71) 243-8499.
www.cedeca.org.br.
e-mail: cedeca@ssa.terra.com.br.
Brasília – DF.
CECRIA - Centro de Referência, Estudos e Ações
sobre Crianças e Adolescentes.
Av. W/3 Norte Quadra 506 Bloco "C" Mezanino,
Lojas 21 e 25 Brasília - DF - CEP: 70740-530
Telefax: (0xx61) 274-6632 / 340-8708.
www.cecria.org.br.
e-mail: cecria@brnet.com.br.
Prevenção e Combate ao Abuso e a Exploração
Sexual de Crianças e Adolescentes.
Ministério da Justiça - Departamento da Criança e
Adolescente Edifício Anexo II - Sala 300 Brasília - DF
- CEP 70064-900 Tel.: (0xx61) 218-3225 / 226-
4069 - Fax: (0xx61) 223-4889.
www.mj.gov.br / e-mail: dca@mj.gov.br.
UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância.
SEPN 510 - Bloco A - Edifício Inan - 1º andar Brasília
- DF - CEP: 70312-970 Tel.: (0xx61) 348-1900 /
348-1964 - Fax: (0xx61) 349-0606.
www.unicef.org.br.
e-mail: brasilia@unicef.org.br.
Rio de Janeiro – RJ.
ABRAPIA - Associação Brasileira Multiprofissional de
Proteção à Infância e Adolescência.
Rua Fonseca Teles,121 - 2º andar - São Cristovão
Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20940-200 Tel.:(0xx21)
589-5656 - Fax: (0xx21) 580-8057.
www.abrapia.org.br.
e-mail: abrapia@openlink.com.br.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 103

A VISÃO DA SAÚDE

O atendimento no âmbito da saúde para


pessoas envolvidas em abuso sexual deve levar em
conta a saúde em termos físicos, do corpo e, em
termos psicológicos, a saúde mental. É muito
importante que se recorra a um serviço médico nas 48
horas que se seguem a um estupro, pois neste prazo
pode-se evitar o desenvolvimento de várias doenças
sexualmente transmissíveis ou de uma eventual
gravidez. Deve-se verificar e tratar a presença de
lesões de qualquer tipo e de doenças sexualmente
transmissíveis.

O atendimento em saúde mental se faz


necessário pela violência psicológica que o abuso sexual
representa, mesmo quando não há violência física
envolvida. A violência deixa marcas profundas, difíceis
de serem elaboradas, que acompanham e interferem de
diversas formas na vida de quem as têm. As
lembranças, mesmo distantes, podem fazer-se
presentes através de dificuldades variadas como, por
exemplo, dificuldade de estabelecer relacionamentos
afetivos, fobias, insônia, perturbações alimentares,
entre outras. É importante lembrar que estas
dificuldades também podem ocorrer ligadas a outras
situações que não sejam a de abuso sexual.

Observa-se, também, que esse tipo de violência


tende a ser reproduzida se não houver tratamento
adequado que vise à elaboração psicológica da
experiência traumática. A criança que sofre abuso tem
uma tendência maior a reproduzir este comportamento.
Isto se observa pelo fato de que a grande maioria das
pessoas que cometem abusos têm em seu passado a
experiência de terem sido submetidas a situações
abusivas.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 104

Quando o abuso ocorre dentro da família, ele


denuncia a falta de uma estruturação familiar que
possa ser referencial para o desenvolvimento
psicológico e social de seus membros. Agrava a
situação o fato de o abuso romper o vínculo de
confiança básico para o desenvolvimento da vida na
família. Por isso, nessas situações, o atendimento em
saúde mental deve direcionar-se à família como um
todo, para poder lidar com as questões referentes à
estruturação familiar.

A VISÃO DA JUSTIÇA

Em casos de abuso sexual, a autoridade


judiciária a que se recorre (fóruns, delegacias,
conselhos tutelares) dará o devido encaminhamento de
acordo com as particularidades da situação.

Havendo uma denúncia de abuso sexual, é


função da Justiça buscar a realidade dos fatos para
balizar suas ações. Cabe aos profissionais vinculados ao
Fórum realizar as perícias, isto é, as investigações
necessárias para verificar se ocorreu ou não um abuso,
qual a sua natureza e que condições determinaram a
sua ocorrência.

No caso de o abuso resultar em gravidez, existe


a possibilidade, dentro da lei, de se realizar o aborto,
mediante comprovação da ocorrência do abuso. À
Justiça cabe estabelecer medidas concretas que
impeçam que o abuso se repita, bem como encaminhar
as pessoas envolvidas para tratamento e
responsabilizar legalmente quem o cometeu.

No tocante ao abuso praticado por alguém que


não pertence à família, ou seja, abuso sexual extra-
familiar, a família denuncia e submete-se a um
percurso doloroso e desgastante não só para quem
sofreu o abuso, mas para todos que se incluem no
núcleo familiar.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 105

O que ocorre com certa freqüência é que, na


iminência de se vivenciar toda sorte de conflitos, culpa,
estigmatização, rejeição e abandono, a pessoa que
sofreu o abuso, seja dentro da família ou extrafamiliar,
acaba por retratar-se socialmente, negando o fato.
Pensa na perspectiva de retomar sua vida, ainda que
seja preciso submeter-se internamente, mas que esta
condição não se reverta em marcas e conseqüências
sociais que acusam, segregam, punem e condenam.

A segregação, a rejeição e a estigmatização destas


pessoas, muitas vezes, as colocam no isolamento, há o
afastamento do meio social, dificuldades nas relações e
no convívio com outros indivíduos. Por outro lado, as
condições acentuadamente precárias, a ausência de
recursos para sobreviver, a falta de respaldo e/ou
retaguarda familiar e social, em muitos casos, as induzem
à prostituição, à prosmicuidade.

Se a revelação desencadeia tantas


conseqüências que se tornam penosas para a pessoa
que sofreu o abuso e sua família, também abre a
possibilidade do tratamento terapêutico, visando
mudanças importantes na dinâmica e na história afetiva
e social destas pessoas e suas respectivas famílias. O
que é inviável quando a revelação não acontece, nada
se altera, quem é submetido ao abuso permanece como
depositário das disfunções internas da família e/ou da
sociedade, sofre, retrai-se do convívio social e,
indubitavelmente, carrega em sua vida danos tanto
psíquicos quanto sociais.

Vamos ver agora a visão da educação!

A VISÃO DA EDUCAÇÃO

Entre as várias atribuições, ações, trabalhos,


programas e projetos do Ministério da Educação existe
o SECAD - Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 106

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização


e Diversidade (Secad), criada em julho de 2004, é a
mais nova secretaria do Ministério da Educação.
Nela estão reunidos, pela primeira vez na história do
MEC, temas como alfabetização e educação de
jovens e adultos, educação do campo, educação
ambiental, educação escolar indígena, e diversidade
étnico-racial, temas antes distribuídos em outras
secretarias.

A criação da Secad marca uma nova fase no


enfrentamento das injustiças existentes nos
sistemas de educação do país, valorizando a
diversidade da população brasileira, trabalhando
para garantir a formulação de políticas públicas e
sociais como instrumento de cidadania.

A secretaria tem por objetivo contribuir para a


redução das desigualdades educacionais por meio da
participação de todos os cidadãos, em especial de
jovens e adultos, em políticas públicas que
assegurem a ampliação do acesso à educação
continuada. Além disso, a secretaria responde pela
orientação de projetos político-pedagógicos voltados
para os segmentos da população vítima de
discriminação e de violência.

Fonte : http://portal.mec.gov.br

A Secad é composta por quatro departamentos:

 Departamento de Educação de Jovens e Adultos;


 Departamento de Educação para Diversidade e
Cidadania;
 Departamento de Desenvolvimento e Articulação
Institucional;
 Departamento de Avaliação e Informações
Educacionais.

Vamos nos referir mais especificamente ao 2º


departamento, o Departamento de Educação para
Diversidade e Cidadania. Nesse departamento, existem
5 coordenações, que são:
Aula 3 | Abuso sexual infantil 107

 Coordenação-Geral de Ações Educacionais


Complementares;
 Coordenação-Geral de Diversidade e Inclusão
Educacional;
 Coordenação-Geral de Educação Ambiental;
 Coordenação-Geral de Educação do Campo;
 Coordenação-Geral de Educação Indígena.

Visitamos o site do MEC, mais precisamente


dentro da 1ª Coordenação acima referida (a
Coordenação-Geral de Ações Educacionais
Complementares) e encontramos o texto a seguir que
diz: “A preocupante realidade de crianças e jovens em
situação de vulnerabilidade social levou o Ministério da
Educação, através da Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade, a atuar como
articulador de políticas públicas para garantir educação
de qualidade a essas crianças e adolescentes. O desafio
é aplicar processos educativos e acompanhamento a
crianças vítimas de discriminação, violência e abuso
sexual, assegurando cuidados médicos e psicológicos,
inclusive para as famílias.

A coordenação tem a função de planejar,


orientar, coordenar e acompanhar a formulação e a
implementação de ações educativas complementares,
objetivando a igualdade de condições para o acesso e a
permanência na escola e o alcance de melhores
padrões de qualidade do ensino para as crianças e
adolescentes em situação de vulnerabilidade
socioambiental. Um dos seus objetivos prioritários é a
atenção a crianças vítimas de discriminação, violência e
abuso sexual. Em 2004, a Secad contou com recursos
de R$ 16,8 milhões para assistência financeira a
prefeituras municipais, previamente selecionadas, que
apresentaram planos para trabalhos voltados ao
desenvolvimento das potencialidades de crianças,
adolescentes, jovens e suas famílias. Para o ano de
2005, os recursos foram estimados em R$ 23 milhões.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 108

A SECAD contou ainda em 2004, com recursos no


valor de R$ 2,4 milhões para o desenvolvimento de
ações de apoio educativo para as crianças,
adolescentes e jovens em situação de risco,
especialmente às que foram vítima de abuso sexual.

Os recursos foram repassados a instituições não-


governamentais de reconhecido trabalho nessa área,
garantindo uma ação proativa que inclua e
mantenha esses alunos na escola, de maneira
articulada com as secretarias de educação. Em
2005, os recursos foram de R$ 4 milhões. A
coordenação avaliou
A atuação da e aprovou 193é projetos,
coordenação realizada de um
através
total de 450 recebidos de municípios e 60 de ONG’s,
das
emseguintes ações: brasileiros, exercendo papel
23 estados
fundamental na articulação dos níveis de governo.

AÇÕES DE APOIO EDUCACIONAL: Buscam


identificar o problema enfrentado por crianças, jovens e
suas respectivas famílias. A atuação acontece em
conjunto com organizações não-governamentais e
municípios. Visam enfrentar situações que levam à
evasão escolar e repetência como o trabalho infantil,
exploração comercial (tráfico, turismo sexual, pornografia
e prostituição), abuso sexual familiar e extrafamiliar e o
uso de drogas. São feitas atividades psicopedagógicas e
acompanhamento psicossocial para facilitar o processo de
reinserção social, onde toda família é envolvida. Há
integração de adolescentes e jovens a partir de 14 anos
em atividades vocacionais e no processo de
profissionalização, levando em consideração as
potencialidades econômicas das áreas onde residem. O
trabalho oferece apoio às crianças vítimas de
discriminações de gênero e étnico-racial, e atenção às
condições físicas e psicológicas de crianças e jovens
envolvidas na prostituição infantil, fornecendo ou
orientando para acompanhamento.

AÇÕES EDUCATIVAS COMPLEMENTARES: Apoio


a projetos dos municípios que trabalham a diversidade
regional, gênero e racial. Os projetos são analisados e
podem ser aprovados na íntegra ou parcialmente. A
proposta é reinserir crianças e jovens que estão fora da es-
Aula 3 | Abuso sexual infantil 109

cola, e aos que estão, seja assegurada sua


permanência e sucesso.

Além disso, existe um programa dentro dessa


coordenação chamado “ESCOLA QUE PROTEGE” que diz Para
navegar
que, neste contexto, é imperioso reconhecer o papel
fundamental da escola na construção da cidadania de
Você, enquanto
crianças e adolescentes, promovendo ações educativas educador (a),
precisa estar sempre
e preventivas que revertam o atual quadro de violência visitando o site do
MEC para estar
a que estão sendo submetidas, seja no ambiente sempre atualizado,
não é?
familiar ou no comunitário. O endereço
completo é:
http://portal.mec.go
Com este propósito, o Ministério da Educação, v.br/secad/index.ph
p?option=content&t
por meio da Secretaria de Educação, Alfabetização e ask=view&id=41&It
emid=168
Diversidade – SECAD, implementou o Projeto Escola
que Protege.

Este projeto tem em sua estrutura o curso


"Formação de educadores (as) - subsídios para atuar
no enfrentamento à violência contra crianças e
adolescentes", abordando a temática da violência física,
psicológica, abandono, negligência, exploração sexual
comercial e exploração do trabalho infantil.

Veja maiores informações sobre o PROJETO ESCOLA


QUE PROTEGE.

PROJETO-PILOTO
Lançado em outubro de 2004 e término em outubro
de 2005, o projeto-piloto do Escola que Protege,
programa do Ministério da Educação, atuou em três
capitais brasileiras - Recife (PE), Fortaleza (CE) e
Belém (PA), em parceria com a organização não-
governamental Hathor - Ações de Amor à Vida.

OBJETIVO
Trabalhar com a temática da violência nas escolas,
na formação de profissionais de educação da rede
pública e da rede de proteção integral, para prevenir
e romper o ciclo de violência contra crianças e
adolescentes no Brasil.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 110

No desenvolvimento e na implementação do
projeto, a SECAD tem contado com a cooperação
técnica da Partners of the Americas por meio de sua
equipe técnica e de seu braço operacional no Brasil, o
Instituto Companheiro das Américas.

A SECAD tem ainda se valido da instância


consultiva do governo federal no campo do
enfrentamento à violência sexual contra crianças e
adolescentes - a Comissão Intersetorial de
Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual Comercial
de Crianças e Adolescentes, coordenada pela Secretaria
Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República.“
Importante
COMO ENCAMINHAR UMA SITUAÇÃO DE ABUSO
Para denúncia em SEXUAL
todo território
nacional de
situações de abuso e O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê,
exploração sexual
comercial infanto- em seu artigo 13, que casos de suspeita ou
juvenil.
TEL.: 0800 - 990- confirmação de maus-tratos (inclui qualquer tipo de
500
No Brasil faz parte abuso ou violência) serão obrigatoriamente
do Programa
Nacional de Direitos comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva
Humanos o combate
ao abuso sexual e localidade, sem prejuízo de outras providências legais.
exploração sexual de
crianças e
Caso seu município não tenha Conselho Tutelar, a
adolescentes. A comunicação deverá ser feita ao Fórum, para a Vara da
ABRAPIA
(Associação Infância e Juventude.
Brasileira
Multiprofissional de
Proteção à Infância
e Adolescência), Quando o abuso sexual é com lesão corporal,
com sede no Rio de
encaminhar a vítima para a delegacia próxima do local
Janeiro,
operacionaliza o dos fatos para a abertura de Boletim de Ocorrência
telefone de
denúncias de (BO), onde será expedida requisição de exame de corpo
exploração sexual de
crianças e de delito.
adolescentes,
nacional, gratuito e
sigiloso, 0800 Sugerimos que os casos de abuso sexual sejam
990500.
encaminhados às Delegacias da Mulher ou às
Delegacias Especiais, se existir em seu município, como
D.P.C.A. - Delegacia de Polícia da Criança e do
Adolescente ou D.P.C.S.- Delegacia de Polícia de Crimes
Sexuais.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 111

A vítima será examinada por um médico legista


no I. M. L. (Instituto Médico Legal) da região. Quando Você sabia?

só existe a suspeita, você também poderá,


anonimamente, acionar os diversos serviços de S. O. S. Todos os estados
brasileiros estão
– Criança (1407), Disque-denúncia, ou programas de comprometidos na
operacionalização do
apoio às vítimas. Sistema Nacional de
Combate à
Exploração Sexual
Infanto-Juvenil. A
Após a denúncia legal, é muito importante que a
ativa organização
vítima seja encaminhada ao serviço médico e que internacional ECPAT
está representada
procure logo serviços de apoio psicológico/psiquiátrico oficialmente no
Brasil pela ONG
como CEARAS, CRAMI'S, ABRAPIA, NRVV-Sedes, Casa CEDECA da Bahia.
A população
Eliane de Grammont, UBS ou programas similares (ver demonstra
indignação com o
instituições que trabalham com o abuso sexual nas turismo sexual, o
abuso sexual, a
caixinhas de texto ao lado). exploração sexual de
crianças e
adolescentes como
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL bem o demonstra o
número de
denúncias.
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um A mídia em todo o
país tem se
instrumento legislativo que objetiva dar maior proteção mostrado
preocupada e
à infância e à adolescência. cooperativa na
tarefa de combater
essas situações.
Fundado em princípios da:

 Declaração Universal dos Direitos Humanos


(1948):

Ninguém será submetido à tortura,


nem tratamento ou castigo cruel,
desumano ou degradante
Para
(Art. 5º). navegar

 Declaração Universal dos Direitos da Criança


http://portal.cremep
(1959): e.org.br/publicacoes
_noticias_ler.php?cd
_noticia=697
A criança gozará de proteção especial
e ser-lhe-ão proporcionadas Vá até lá e veja os
oportunidades e facilidades, por lei e comentários.
por outros meios, a fim de lhe facultar
o desenvolvimento físico, mental,
moral, espiritual e social, de forma
sadia e normal e em condições de
liberdade e dignidade. Na instituição
de leis visando este objetivo levar-se-
ão em conta, sobretudo, os melhores
interesses da criança.
(Princípio 2º)
Aula 3 | Abuso sexual infantil 112

A criança gozará proteção contra


quaisquer formas de negligência,
crueldade e exploração. Não será
jamais objeto de tráfico, sob qualquer
forma.
(Princípio 9º)

 Convenção Internacional sobre Direitos da


Criança (1989):

Os Estados Partes adotarão todas as


medidas legislativas, administrativas,
sociais e educacionais apropriadas
para proteger a criança contra todas
as formas de violência física ou
mental, abuso ou tratamento
negligente, maus tratos ou exploração,
inclusive abuso sexual, enquanto a
criança estiver sob a custódia dos pais,
do representante legal ou de qualquer
outra pessoa responsável por ela.

Essas medidas de proteção deveriam


incluir, conforme apropriado,
procedimentos eficazes para
elaboração de programas sociais
capazes de proporcionar uma
assistência adequada à criança e às
pessoas encarregadas de seu cuidado,
bem como para outras formas de
prevenção, para a identificação,
notificação, transferência a uma
instituição, investigação, tratamento e
acompanhamento posterior dos casos
acima mencionados a maus tratos e,
conforme o caso, para a intervenção
judiciária.
(Art.19)

 Constituição Federal 1988:

É dever de todos salvaguardar a


criança e o adolescente contra todas
as formas de negligência,
discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
(Art. 227)

§ 4º A lei punirá severamente o abuso, a


violência e a exploração sexual da criança e do
adolescente.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 113

Baseado nesses princípios, o ESTATUTO DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) institui:

Nenhuma criança ou adolescente será


objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração
violência, crueldade e opressão,
punindo na forma da lei qualquer
atentado, por ação ou omissão, aos
seus direitos fundamentais.
(Art. 5º)

ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA

VOLNOVICH, Jorge R. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,


2005.

"Este livro procura relatar uma trajetória no campo da


pesquisa do abuso sexual na infância. Tem seu início
na psicanálise, percorre as diferentes instâncias e
saberes numa complexidade crescente e, no seu final,
nos leva a refletir sobre novos desafios. Tornar visível
o invisível do abuso sexual se assemelha à tarefa que
Freud outorgou aos psicanalistas de tornar consciente
o inconsciente, com a particularidade de que tudo o
que consideramos invisível ou inconsciente estará
sempre ali no real, de forma ativa e eficaz, embora
parecendo carecer de significação no campo político-
social." VOLNOVICH, Jorge R..

ABUSO SEXUAL - TRAUMA INFANTIL E


FANTASIAS FEMININAS

MEES, Lúcia Alves. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2001.

O abuso sexual intrafamiliar é controvertido e mais do


que nunca atual. Mergulhando nas águas profundas da
psicanálise, a autora enfrenta o assunto com rigor
teórico e consistente material clínico. Um olhar
psicanalítico na escura região do incesto.

CRIANÇAS VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL

GABEL, Marceline (org.). São Paulo: Summus, 1997.

Assunto que começa a vir à tona, à medida que a


sociedade mais se preocupa com os problemas
infantis. Este livro traz os conhecimentos
necessários para a compreensão do abuso sexual,
evidenciando fatos para o seu estudo aprofundado.
O leitor encontrará a variedade de atitudes das
crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais,
discussão sobre o tabu do incesto e sobre a
psicopatologia dos praticantes de tais abusos.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 114

E determina medidas punitivas para os


responsáveis por crimes sexuais através de:

 Notificação obrigatória ao Conselho Tutelar


dos abusos sexuais;
 Afastamento do agressor da moradia comum;
 Proibição de crianças e adolescentes nos
produtos pornográficos;
 Criminalização de pessoas e serviços que
utilizam crianças e adolescentes em
prostituição e exploração sexual;
 Agravamento das penas para crimes de maus
tratos, estupro e atentado violento ao pudor,
quando cometidos contra menores de 14
anos.

Em uma análise da legislação penal, observa-se


uma discrepância muito grande com o princípio
constitucional. Com efeito, o Código Penal trata dos
crimes de abuso, violência e exploração sexual no
Título DOS CRIMES CONTRA OS COSTUMES, capítulos I
a VI.

Dentre os crimes de abuso e violência sexual, são


considerados crimes contra a liberdade sexual o estupro
(art. 213), atentado violento ao pudor (art. 214), posse
sexual mediante fraude (art. 215), atentado ao pudor
mediante fraude (216), assédio sexual (art. 216-A), todos
elencados no capítulo I do Título VI.

O capítulo II trata da sedução e corrupção de


menores (artigos 217 e 218); o Capítulo III, do rapto
(artigos 220 a 222) e o Capitulo IV das disposições
gerais.

O capítulo V trata do lenocínio e tráfico de


mulheres e, nesse contexto, se incluem a exploração
sexual de crianças e adolescentes e a questão do
turismo sexual, estando as condutas vedadas tipificadas
nos artigos 227 a 231.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 115

O capítulo VI relaciona os crimes de ultraje ao


pudor público. Note-se que os crimes de sedução e
corrupção de menores e o rapto, seja consensual ou
violento, são crimes contra os costumes, mas não são
classificados como crimes contra a liberdade sexual.

Nas disposições gerais, o artigo 223 prevê a


agravação da pena, quando da violência resultar lesão
corporal grave ou morte, qualificadora esta que só se
aplica aos crimes de estupro e atentado violento ao
pudor (crimes contra a liberdade sexual).

O artigo 224 trata da violência presumida,


quando a vítima for menor de catorze anos, ou for
alienada ou débil mental, ou ainda não puder oferecer
resistência. Aqui, a questão é polêmica e já foi objeto
de estudo de vários juristas.

O artigo 225, que trata da ação penal, assim


dispõe:

Art. 225. Nos crimes definidos nos


capítulos anteriores, somente se
procede mediante queixa.
§ 1º. Procede-se, entretanto, mediante
ação pública:

I- se a vítima ou seus pais não podem


prover as despesas do processo, sem
privar-se de recursos indispensáveis à
manutenção própria ou da família;
II- se o crime é cometido com abuso
do pátrio poder, ou da qualidade de
padrasto, tutor ou curador.

§ 2º. Nos casos do nº I a ação do


Ministério Público depende de
representação.

Programa Sentinela

O governo federal possui o Programa Sentinela


desenvolvido atualmente através dos Centros de
Referência Especializados em Assistência Social (CREAS).
Aula 3 | Abuso sexual infantil 116

O programa visa atender crianças e


adolescentes vítimas de exploração ou abuso sexual em
Centros de Referência de Tratamento oferecendo
Para atendimento de diferentes profissionais, apoio
navegar
psicológico e jurídico, além de acompanhamento
O Programa permanente e abrigamento por um dia. Infelizmente,
Sentinela agora é
parte do SUAS eles só são instalados em municípios com Conselhos
(Sistema Único de
Assistência Social). Tutelares, o que ainda não existe em boa parte das
Para saber mais,
cidades.
confira o site:
www.redeviva.org.br
Essas ações são dificultadas ainda mais pela
falta de recursos para os programas de combate à
exploração sexual de crianças e adolescentes.
Levantamento feito pelo Instituto de Estudos
Socioeconômicos (Inesc) mostra redução de 9% no
orçamento do Plano Plurianual (PPA) para o Programa
de Combate ao Abuso Sexual de Crianças e
Adolescentes do Ministério do Desenvolvimento Social.
Agora, serão destinados R$ 133,9 milhões em vez de
R$ 147,1 milhões. A diminuição também aconteceu na
Secretaria de Direitos Humanos, onde o programa de
combate à exploração sexual teve seu orçamento anual
reduzido de R$ 3,49 milhões para R$ 2,97 milhões. O
órgão afirma que a diminuição se deve à queda do
número de emendas parlamentares ao orçamento,
indicando mais verbas para o programa (Rits, 2005).

CONHEÇA MAIS SOBRE O SENTINELA

Objetivo

Prevenir e combater a violência, o abuso e a


exploração sexual de crianças e adolescentes menores
de 14 anos de idade.

Principais resultados

Atendimento de aproximadamente 17.870


crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração
sexual atendidos nos 336 Centros e Serviços de Referência
Especializados.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 117

Mobilização dos municípios para enfrentamento


à violência sexual, especialmente através da
constituição de comissões, de comitês e de fóruns
municipais.

Avaliação dos resultados e da


implementação

Em abril de 2003, foi iniciada a renovação dos


Termos de Responsabilidade em continuidade ao apoio
aos 336 Centros e Serviços de Referência
Especializados para atendimento das vítimas de abuso
e exploração sexual comercial nos 315 municípios e 26
estados da federação. Entretanto, houve uma demora
significativa na liberação dos recursos orçamentários, o
que provocou um atraso de três meses, com
conseqüências para o atendimento das crianças, dos
adolescentes e famílias já envolvidas e de novas
demandas. Alguns municípios reduziram o
atendimento, outros fecharam os centros e serviços. De
modo geral, o atraso e o repasse incompleto causaram
uma queda no ânimo e motivação dos profissionais,
bem como na qualidade do atendimento realizado.

Este guia se propõe a abordar as principais questões


que envolvem o abuso sexual de crianças e
adolescentes, visando estimular a população a falar
abertamente sobre este assunto e pôr fim ao
silêncio que protege aqueles que cometem este
crime; criar um clima propício em que crianças e
adolescentes, vítimas de abuso sexual, se sintam
mais seguros, a fim de que possam buscar ajuda
sem serem considerados culpados ou sentirem que
não são acreditados e fornecer informações a
adultos que lidam com a situação de abuso sexual
intrafamiliar...

Textos de Lauro Monteiro Filho, Vania I. de Abreu e


Luciana B. Phebo, ilustrações de Gian Calvi, formato
20 x 21cm, capas + 40 páginas a cores - Código:
26.0 - ISBN: 85-7210-028-8
Aula 3 | Abuso sexual infantil 118

Mesmo com as dificuldades apontadas, os


municípios, na sua maioria, atenderam acima da
capacidade instalada de 17.870 crianças e
adolescentes. Isto ocorreu em função da demanda
encaminhada aos municípios por Conselhos Tutelares,
Delegacias Especializadas, Ministério Público, unidades
de saúde, rede escolar e comunidade em geral.

Você sabia?
Foram de grande relevância para o

O dia 18 de maio é enfrentamento da violência sexual contra crianças e


conhecido como o
adolescentes no Brasil as ações e atividades realizadas
Dia Nacional ao
Abuso e Exploração em torno do dia 18 de maio: Dia Nacional de Luta Pelo
Sexual
Fim da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes que
teve a plena participação do Ministério e do conjunto de
Sentinelas nos diversos municípios e estados
brasileiros. A organização do dia 18 de maio, e de
outras atividades de Enfrentamento à Violência Sexual,
foi coordenada pelo Comitê Nacional de Enfrentamento
à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes que
articula as organizações governamentais, não
governamentais e agências internacionais no
monitoramento do Plano Nacional de Enfrentamento à
Exploração Sexual Infanto-Juvenil, (aprovado em Natal
em 2000), cuja vice-coordenação é desempenhada pelo
Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, através da Gerência de Projetos Especiais.

Outro evento relevante foi a constituição, da


Comissão Intersetorial de Enfrentamento à Violência
Sexual contra Crianças e Adolescentes (confirmar), com
o objetivo de envolver todos os ministérios e
secretarias, além do Comitê Nacional e as Agências
Internacionais, visando, com a sua articulação, a
promoção de ações integradas, assim como mapear os
diversos serviços e buscar a superação das maiores
dificuldades e carências enfrentadas.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 119

Em fevereiro de 2003, foi iniciado, em conjunto


com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, os
Ministérios da Justiça e da Saúde e a Agência Norte-
Americana para o Desenvolvimento Internacional –
USAID, o Programa de Ações Integradas e Referências
para Enfrentamento do Tráfico para fins de Exploração
Sexual Comercial em 6 municípios, e visa a construir
planos operativos, metodologias que dessem conta de
combater o tráfico de crianças e adolescentes para fins
de exploração sexual e, assim, pudessem ser replicados
para outros municípios que enfrentam problemas
semelhantes.

O financiamento da USAID - investimento


aproximado de 1 milhão de dólares - destina- se à
capacitação de equipes multidisciplinares do
Programa Sentinela, adequação de espaços físicos
de atendimento e compra de equipamentos.

O trabalho do Programa Sentinela é coibir a


violência, proteger crianças e adolescentes do
assédio e prestar atendimento médico e jurídico às
vítimas.

O programa desenvolvido pela Secretaria de Estado


de Assistência Social - SEAS - faz parte do Avança
Brasil, coordenado pelo Ministério do Planejamento.

O Sentinela tem hoje 309 Centros de Atendimento


atuantes no país e está em 288 municípios de todos
os estados da Federação. Os Centros adotam uma
política nacional de referência para atendimento
emergencial e acompanhamento de médio e longo
prazo para crianças vítimas de violência.

Fonte:
http://www.planejamento.gov.br/planejamento_inv
estimento/conteudo/noticias/luta_contra_abuso.htm
Data de acesso:09/05/2007

Iniciou-se, em março de 2003, o processo de


avaliação visando o redesenho para implementação dos
Centros e Serviços de Referência Sentinelas. Este
trabalho foi desenvolvido através de uma série de
Seminários, Encontros e Fóruns Estaduais e Regionais
de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e
Adolescentes, realizados em 15 estados da federação, com
Aula 3 | Abuso sexual infantil 120

a participação de 90 municípios, para discutir “O


Programa Sentinela: Avaliação e Perspectivas no Novo
Governo Federal”. Este processo culminou com a
Dica de realização do Colóquio Nacional sobre o Programa
leitura
Sentinela, que apontou “As Diretrizes Gerais para

Guia de Orientação Redesenho dos Centros e Serviços no Contexto da


direcionado a
profissionais da área Implementação das Redes de Atenção para Crianças,
de saúde, visando a
identificação de
Adolescentes e Famílias em Situação de Violência
casos de violência Sexual”, como orientação aos Municípios para
intrafamiliar contra
crianças e renovação dos Termos de Responsabilidade em 2004.
adolescentes. Neste
guia, o leitor
encontrará Contudo, em que pese este avanço, alguns
resultados de
pesquisas sobre problemas se mantêm. A abrangência do programa
violência doméstica
e sua conceituação, ainda é bastante reduzida, há dificuldades de monitorar
artigos do Estatuto
da Criança e do e acompanhar as ações em curso, as equipes, seja
Adolescente,
indicadores para o gerencial seja local, são reduzidas e devem ser melhor
reconhecimento
deste tipo de qualificadas, há escassez de recursos e não há
violência, bem como
orientações gerais definições claras dos papéis da União, estados e
para a atuação após
a sua constatação,
municípios
enfatizando a
importância da
prevenção. Texto de Quanto a este último ponto, cabe ressaltar que
Lauro Monteiro Filho
e Luciana B. Phebo,
teve início, de forma bastante positiva, o processo de
ilustrações de Gian discussão com os estados e municípios com a finalidade
Calvi, formato 20 x
21cm, capas + 40 de repactuação das atribuições quanto ao
páginas a cores -
Código: 29.0 - financiamento, monitoramento, processo de avaliação e
ISBN: 85-7210-019-
9 formação e qualificação continuada dos profissionais
envolvidos nas Redes de Atenção, com a evidência da
necessidade de ampliação do programa em todo o país
a partir da demanda.

Para MAIS NOTÍCIAS SOBRE O PROGRAMA SENTINELA


navegar

Brasil é exemplo no combate ao abuso


Essa notícia foi
retirada do site do sexual de crianças
Avança Brasil.
http://www.abrasil.g
ov.br/noticia.asp?id Primeiro país da América Latina a traçar um
=141
plano de ação contra todas as formas de abuso sexual
à infância, o Brasil tornou-se referência para a região
por suas estratégias adotadas no combate à exploração
sexual infanto-juvenil e mostrou sua experiência, principal
Aula 3 | Abuso sexual infantil 121

mente a do Programa Sentinela, do Avança Brasil no


Congresso Governamental Regional sobre Exploração
Sexual Infantil, que aconteceu em Montevidéo,
Uruguai.

O encontro reuniu delegações governamentais


de todos os países americanos e foi uma das prévias
regionais do II Congresso Mundial de Exploração Sexual
Comercial de Meninos e Meninas que foi realizado em
Yokohama, Japão. O Brasil participou do primeiro
congresso ocorrido em Estocolmo, Suécia e de lá trouxe
o compromisso de implementar ações contra o abuso e
a exploração sexual de crianças e adolescentes.

O plano brasileiro está estruturado nos seguintes


pilares: análise da situação, mobilização e articulação,
defesa e responsabilização, prevenção, atendimento e
protagonismo juvenil. Nesse mecanismo de estratégias
desenvolvidas pelo Plano Avança Brasil, figuram com
destaque o atendimento especializado a crianças e suas
famílias, um banco de dados e rede de informações,
campanhas de mobilização da sociedade e contra o
turismo sexual. Cada uma dessas ações estão sob a
coordenação da SEAS - Secretaria de Estado de
Assistência Social, em parceria com o Ministério da
Justiça e Embratur - Empresa Brasileira de Turismo.

Guia de Orientação direcionado a profissionais da


área de Educação, visando a identificação de casos
de violência intrafamiliar contra crianças e
adolescentes. Neste guia, o leitor encontrará
resultados de pesquisas sobre violência doméstica e
sua conceituação, artigos do Estatuto da Criança e
do Adolescente, indicadores para o reconhecimento
deste tipo de violência, bem como orientações
gerais para a atuação profissional após a sua
constatação, enfatizando a importância da
prevenção. Texto de Lauro Monteiro Filho e Luciana
B. Phebo, ilustrações de Gian Calvi, formato 20 x
21cm, capas + 40 páginas a cores - Código: 28.0 -
ISBN: 85-7210-020-2.
Aula 3 | Abuso sexual infantil 122

A experiência-modelo representada pelo


Dica de Programa Sentinela tem o aval do Unicef e é apontada
leitura
como digna de cópia pelo escritório do Fundo das

BRASIL. Ministério Nações Unidas pela Infância no Panamá.


da justiça. Estatuto
da criança e do
adolescente: lei nº
8.069, de 13 de
O Programa Sentinela tem seu eixo no
junho de 1990.
atendimento social especializado, prestado por Centros
Brasilia, 1991.
Consejería de Referência com profissionais que atuam nas áreas
presidencial para los
derechos humanos. de saúde, educação, justiça, segurança, esporte, lazer
Promoción de los
derechos humanos e cultura, acompanhando, caso a caso, os menores em
sexuales y
reproductivos. situação de risco. As equipes não se limitam às crianças
Bogotá:
FNUAP/UNFPA, que já assistem; vão às ruas para identificar novos
1999.
casos, abordando aqueles que estão sendo aliciados
FALEIROS, Eva T.
Silveira. Repensando
para a exploração sexual, motivando-os a aceitar o
os conceitos de apoio do programa.
violência, abuso
exploração sexual de
crianças e
adolescentes.
O trabalho de acompanhamento dos envolvidos
Brasília: Mj-Sedh- inclui o monitoramento das famílias. Aliás, esta é a
DCA/Unicef, 2000.
base de atuação técnica do Programa Sentinela, que
FALEIROS, Vicente
de Paula. Redes de entende como único caminho possível para solucionar
exploração e abuso
sexual e redes de as situações vividas por essas crianças e adolescentes,
proteção. In:
Congresso Nacional a integração familiar e comunitária.
de Assistentes
Sociais, 9, 1998,
Brasília. ANAIS... Aqui terminam, então, os dados sobre o
Brasília, 1998.
programa sentinela.
GOMES, L. F. Código
Penal, Código de
Processo Penal e Espero que tenha gostado!
Constituição Federal.
São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1999.
CONCLUSÃO
Secretaria Municipal
de Saúde e
Desenvolvimento Depois de lermos tanto sobre esta realidade do
Social. Protocolo de
Atenção às Vítimas abuso sexual infantil, não tenho muito mais o que
de Violência Sexual.
Florianópolis, 2000. dizer, somente concluir que, precisamos fazer alguma
coisa pra ajudar nossas crianças e nossos adolescentes!
Pois o problema está em nossas mãos e nos olhos
deles. Conto com vocês todos!
Aula 3 | Abuso sexual infantil 123

EXERCÍCIO 1

Que nome se dá ao tipo de coerção de caráter sexual


praticada por uma pessoa em posição hierárquica
superior em relação a um subordinado?

( A ) Pedofilia;
( B ) Estupro;
( C ) Assédio sexual;
( D ) Exploração sexual comercial;
( E ) Exploração sexual profissional.

EXERCÍCIO 2

O que é a comercialização da prática sexual com


crianças e adolescentes com fins comerciais?

( A ) Pedofilia;
( B ) Estupro;
( C ) Assédio sexual;
( D ) Exploração sexual comercial;
( E ) Exploração sexual profissional.

EXERCÍCIO 3

O que é abuso sexual? Quais os tipos de abusos que


existem? Escolha um tipo de abuso sexual para
escrevê-lo mais profundamente.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | Abuso sexual infantil 124

EXERCÍCIO 4

Qual o compromisso que a educação tem sobre os


casos de abusos sexuais infantis?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO
Vimos até agora:

 O abuso sexual infantil pode ser entendido


segundo a OMS como “toda situação em que
a criança ou o adolescente é usado para
gratificação sexual de pessoas mais velhas. O
uso de poder, pela assimetria entre abusador
e abusado, é o que mais caracteriza essa
situação”;

 Segundo a OMS, 800 milhões de pessoas já


sofreram algum tipo de assédio sexual
quando criança ou adolescente em todo o
mundo;

 Não é o toque, nem a violência física, nem a


falta de conhecimento que vão definir o abuso
sexual e sim a sexualidade vinculada ao
desrespeito ao indivíduo e aos seus limites, a
troca de sua postura de sujeito a uma de
objeto dos desejos do outro;

 O molestador geralmente justifica seus atos


racionalizando que está ofertando oportunidades
à criança para desenvolver-se no sexo;
Aula 3 | Abuso sexual infantil 125

 A maior parte dos casos de abuso sexual


ocorre entre pessoas conhecidas e próximas,
muitas vezes, dentro da própria família;

 É comum que a criança muito nova, por não


estar preparada psicologicamente para o
estímulo sexual, não compreendendo as
conotações de tal atividade, acabe
desenvolvendo problemas emocionais depois
de uma violência sexual;

 O comportamento de crianças abusadas pode


incluir, entre outros comportamentos:
interesse excessivo de natureza sexual,
depressão ou isolamento dos amigos,
comportamento suicida, agressividade
excessiva, negar-se a ir à escola, terror
irracional diante de exame físico e mudanças
súbitas de conduta;

 Como conseqüências possíveis, dependendo


do tipo de abuso sofrido, decorrentes de
abuso sexual em crianças e adolescentes,
pode-se destacar, entre outros: baixa auto-
estima, sexualidade vista como punitiva,
comportamentos autodestrutivos, dificuldade
de lidar com o próprio corpo, perturbações de
sono, depressão, sentimento de inferioridade;

 De 10 casos registrados, em 8 o abusador é


conhecido da vítima;

 De acordo com Queiroz (2002), os abusos


sexuais acontecem quase sempre em
segredos impostos por violência, ameaça, ou
ainda uma espécie de lei familiar que dificulta
sua revelação;
Aula 3 | Abuso sexual infantil 126

 A Pedofilia é um transtorno parafílico onde a


pessoa apresenta fantasia e excitação sexual
intensa com crianças pré-puberes (13 anos
ou menos);

 Estupro é definido como o ato físico de atacar


outra pessoa e forçá-la a praticar sexo sem o
seu consentimento. Segundo a lei, o
estuprador é sempre homem;

 Assédio sexual é um tipo de coerção de


caráter sexual praticada por uma pessoa em
posição hierárquica superior em relação a um
subordinado, normalmente em local de
trabalho ou ambiente acadêmico;

 Exploração sexual comercial é a


comercialização da prática sexual com
crianças e adolescentes com fins comerciais.
São considerados exploradores tanto o cliente
quanto os que induzem, facilitam ou obrigam
crianças e adolescentes a essa prática;

 Diferente da exploração sexual comercial, a


exploração sexual profissional ocorre quando
existe algum tipo de envolvimento sexual
entre uma pessoa que está prestando algum
serviço e um indivíduo que procurou ajuda
profissional. Ex: médico e paciente.

 A legislação aplicável à questão do abuso


sexual envolve, principalmente, a
Constituição Federal, o ECA, a Declaração
Universal dos Direitos da Criança, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a
Convenção Internacional sobre os Direitos da
Criança e o Código Penal;
Aula 3 | Abuso sexual infantil 127

 O Programa SENTINELA que integra o SUAS


(Sistema Único de Assistência Social) é uma
das reações do governo federal ao problema
destinado ao atendimento de crianças vítimas
de exploração ou abuso sexual. O Brasil foi o
primeiro país da América Latina a traçar um
plano de ação contra todas as formas de
abuso sexual à infância, tornando-se
referência nessa área.
4
Transtornos

AULA
Alimentares na
Adolescência
Juliana Alcoforado
Apresentação

As patologias de conduta alimentar constituem o foco de estudo


desta aula. Trata-se de um tema contemporâneo e de crescimento
significativo na sociedade mundial. De modo particular, veremos
como este transtorno se dá na adolescência, analisando com
maiores detalhes esse período de desenvolvimento e suas crises
mais comuns. Para atender a tais finalidades, analisaremos nesta
aula diferentes tipos de transtornos alimentares como a anorexia,
alguns tipos de bulimia (simples, operatória, sintomática e
conflitiva) e, por fim, a obesidade.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Conhecer o histórico básico dos transtornos alimentares;


Objetivos

 Analisar a etiologia das principais patologias de conduta


alimentar como a anorexia, alguns dos principais tipos de
bulimia e a obesidade, refletindo sobre suas causas e
conseqüências;
 Refletir sobre a adolescência no que diz respeito as suas
principais características e as crises vivenciadas nesse período;
 Relacionar os transtornos alimentares ao período da
adolescência, buscando entender sua origem e reflexos no
cotidiano, considerando a atual ditadura estética que aniquila a
autenticidade e a autonomia.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 130

Introdução

Dica da
professora
Nesta aula, trataremos de um assunto que
chama a atenção, na atualidade, tamanha a sua
Espero que, no final prevalência e fácil observação leiga, trata-se do enorme
desta aula, vocês,
professores, possam crescimento dos casos das chamadas “patologias da
oferecer um olhar
diferenciado frente conduta alimentar” nas sociedades capitalistas, que nos
aos transtornos
alimentares. coloca frente a novos desafios e indagações.
Acredito, também,
que lhes seja
possível pensar a Historiar os caminhos das descobertas clínicas é
adolescência e as
formas de viver da imperioso para desmontar o discurso que entende
atualidade de modo
reflexivo. essas patologias apenas como sintomas da moda.
Dizemos sintomas da moda tendo em vista que, nos
dias de hoje, a ditadura estética aniquila a
autenticidade e a autonomia do sujeito que se vê
submetido ao modelo estético único e imperioso da
cultura do corpo magro.

As estatísticas do DSM IV, contudo, falam que


mais de 90% dos casos de anorexia e bulimia, na
atualidade, ocorrem em mulheres que vivem nos países
desenvolvidos e as acometem na adolescência – a
anorexia entre os 14 e 17 anos e a bulimia até o início
da idade adulta. Já na obesidade estamos presenciando
uma mudança, no panorama etário, pois a incidência
tem aumentado enormemente entre crianças.

Conforme informa o manual, a “anorexia


nervosa parece ter uma prevalência bem maior em
sociedades industrializadas, nas quais existe
abundância de alimentos e onde, especialmente no
tocante a mulheres, ser atraente está ligado à
magreza”. A obesidade, apesar do ideal de magreza, é
articulada ao excesso de objetos oferecidos a serem
consumidos, tão comum na atualidade em que vivemos
sob o imperativo do consumo.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 131

Propomos uma reflexão a partir de algumas


considerações históricas, contemporâneas e pubertárias,
a questão dos “distúrbios alimentares” e suas
manifestações violentas de expressão corporal que são
visíveis nos espaços escolares, assim como em quaisquer
espaços públicos.
Dica de
leitura

Um passeio histórico
Viver: Mente e
Cérebro, uma
revista de
Nos séculos XV e XVI, o jejum carregava um psicologia,
psicanálise,
cunho de perseverança, autocontrole e santidade. A fé neurociências e
conhecimento, traz
religiosa marcava a cultura e a constituição do homem sempre boas
reportagens em
estava inscrita num culto divino de adoração, culpa e linguagem fácil e
ideal de pureza. acessível até para os
que não trabalham
na área.

R. Bell (1994), em seu livro “A anorexia santa,


jejum e misticismo da Idade Média aos nossos dias”,
apresenta uma riqueza documental confiável que
comprova a existência de um conjunto de
comportamentos de tipo anoréxico, em face das
estruturas sociais do mundo medieval.

A anorexia santa declina a partir da Reforma,


passando a ser considerada como heresia ou coisa do
diabo. Os religiosos ficavam estarrecidos com seus
jejuns prolongados e suas descrições de prazer com os
maus-tratos que infringiam a si mesmos.

Você sabia?
No século XVII, Richard Morton (1637 – 1698)
publica um livro com o nome de “Tisiologia sobre a HIPERFAGIA
– fag (o) – do grego
doença da consunção”, descrevendo três sintomas phago = que ou o
que come, “ato de
essenciais: perda de apetite, amenorréia e comer”
Hiperfagia – ato de
emagrecimento importante. comer em demasia.

Só em 1789, Naudeau nos fala da anorexia


como uma doença nervosa acompanhada de uma
repulsa extraordinária aos alimentos.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 132

No século XIX, Pinel nos oferece seus estudos


sobre conduta alimentar e suas particularidades onde nos
convida a pensar as práticas alimentares num conjunto
de regras, rituais e interdições pertinentes a um
contexto de cada época.

O jejum é visto por ele de duas formas:

 Como forma de purificação, na relação


religiosa que distancia do mundo profano;

 No que é concernente às relações humanas.

William Gull é quem surge com os termos


“anorexia histérica” e “anorexia nervosa”.

A anorexia se define como a privação – em


caráter privado – do apetite: do grego orexis, do desejo
em geral.

Já a bulimia figurava como o avesso da


anorexia, em que esta deixava de ser puramente
restritiva ou como forma de se alcançar a obesidade.

Foram também confundidas as outras patologias


que provocavam hiperfagia.

Em 1979, com os estudos de Russel, a bulimia


ganha identidade própria para, em 1980, passar a
figurar nos manuais classificatórios de doenças mentais
em resposta a um enorme aumento dos casos.

Russel descreve a bulimia a partir de uma


conjunção de três importantes fatores:

 Episódios de comer compulsivo acompanhado


de uma intensíssima e penosa vivência de
perda de controle;
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 133

 A utilização de procedimentos purgativos


destinados a neutralizar seus efeitos, tais
como vômitos, laxantes, diuréticos e dietas;

 Preocupação excessiva, mórbida com a


imagem corporal e o peso.

Através desses estudiosos, descrições e


observações importantes puderam ser feitas a fim de
melhor localizar-nos na construção do percurso dessas
patologias. Grandes conquistas foram realizadas,
mesmo que tenhamos nos detido a elas brevemente,
para que possamos pensar e articular os transtornos
alimentares sob novas bases como a adolescência e a
sociedade contemporânea.

Dica de
O transtorno alimentar como paradigma leitura

do adoecer na contemporaneidade
O livro, de
GIDDENS, Anthony.
A Transformação da
Se, originalmente, as razões para o Intimidade:
Sexualidade, Amor e
emagrecimento se localizavam na religiosidade, nos Erotismo nas
Sociedades
ideais de santidade e de pureza; hoje, a magreza Modernas. São
Paulo: UNESP, 1992,
estaria relacionada a um ideal de beleza a ser convida-nos a
pensar sobre a
conquistado. problemática
contemporânea.

As formas estéticas do corpo surgem, no mundo


moderno, como um padrão rígido a ser obedecido, uma
exigência ao igual.

No plano da alimentação, têm-se, hoje, relativo


a essa homogeneização, os “fast-food”, os produtos
diet e light que surgem nas prateleiras dos
supermercados e, rapidamente, se impõem na vida de
cada um, ou como necessidade ou como sinônimo de
saúde. O ritmo de vida desejado na atualidade fica
assim introduzido no imperativo do “coma rápido”.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 134

O declínio do convívio advindo do comer sozinho


e rápido marca as relações atuais. Fica, portanto,
perdido o ritual simbólico das refeições compartilhadas,
dedicado à convivência com o outro. A dimensão
coletiva do ritual das refeições é substituída pelo
consumo solitário, rápido, de um alimento pré-
fabricado, onde muitas vezes nem se observa, nem se
aprecia o que se come, um ritual mecanicista.

”A metafísica do corpo se entremostra / nas


imagens. A alma do corpo / modula em cada
fragmento sua música / de esferas e essências.
Além de simples carne e simples unhas.
Em cada silêncio do corpo identifica-se / a linha do
sentido universal / que à forma breve e transitiva
imprime / a solene marca dos deuses / e do sonho.
Eis que se revela o ser, na transparência / do
invólucro perfeito.”
A Metafísica do Corpo, 1984, ANDRADE, Carlos
Drummond de. No livro Drummond Frente e Verso,
fotobiografia de Carlos Drummond de Andrade,
Edições Alumbramento, RJ, 1989.

Outro aspecto típico da atualidade é o culto à


economia narcísica e à individualidade. As relações com
o outro ficam perpassadas pela inflação egóica, pelo
distanciamento das noções de alteridade e diferença.

Suporta-se, a cada dia, menos a diferença e o


diferente, numa sociedade que não busca a
dialetização, o questionamento, a reflexão nem a
multiplicidade.

Observa-se a cultura da construção de imagens,


em que se buscam ideais de um corpo magro,
delineado por músculos, que corresponda ao imaginário
social.

Desta forma, naturaliza-se um ideário perverso


em que o sujeito atual precisa se inserir na cena do
espetáculo.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 135

A imposição de padrões rígidos e a dificuldade


de lidar com o diferente nos remetem a formas de
relações que desembocam na discriminação e na
segregação. Os desvarios da sociedade na xenofobia
nos exemplificam a tamanha crueldade dos tratamentos
dados àqueles que apresentam alguma diferença.

Podemos falar, então, de alguns sintomas


pertinentes à atualidade como o ignorar as
particularidades, as diferenças, e que permitem o
frenético apetite de consumo, que propiciam o
aniquilamento do sujeito. Dica de
filme

A subjetividade de nossa época encontra-se


afetada pelas exigências do mercado, nutrindo ele O filme “Elefante”,
de Gus Van Sant,
próprio, pela fabricação ininterrupta dos objetos nos traz um
panorama, mesmo
ofertados pela ciência, que acaba por terem perdidas as que “grotesco”, da
adolescência, no
suas referências; ela acaba, enfim, por ser consumida terrível atentado à
Escola Columbine,
em seu próprio consumo. Hoje, as inquietações nos Estados Unidos.

humanas só pedem um objeto para apaziguá-las.

Cabe ressaltar, ainda, outro ponto instigante,


uma vez que essas soluções ao mal-estar
contemporâneo não deixam de manifestar a submissão
a uma lei mortífera e caprichosa que leva ao pior.
Produzido pela resolução efêmera, enganosa e
fracassada de obturar, por meio de objetos, uma falta
estrutural, elas acabam, assim, por revelar um circuito
de um mais ainda, de um jamais o bastante, tão
presente na obesidade patológica, na anorexia e na
bulimia.

Não é sem razão o aumento desmedido de casos


de transtornos alimentares. Na atualidade, em
contraposição às culturas praticantes dos rituais
iniciáticos em que se verifica a quase inexistência dos
casos.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 136

A ADOLESCÊNCIA

Do sentido e da história

Alguns traços da palavra adolescens foram


encontrados na comédia de Plauto, por volta de 193 a.C.
A palavra adolescência passou a fazer parte de forma
definitiva no dicionário por volta de 1870. Sofreu durante
essa época uma série de modificações, em que é difícil de
estabelecer uma compreensão. Um ponto, contudo, se faz
constante que é o caráter de transitoriedade. A
tentativa de estabelecer idades que a demarquem não
foi alcançada e, até mesmo, a terminologia é
diferenciada para homens e mulheres. Apesar das
diferenças, um ponto, contudo, se faz comum que é a
idéia de uma passagem entre a infância e a idade
adulta. Um período que encontra sua razão de ser em
sua resolução. É através de pontos como as mudanças
físicas, a aptidão à procriação e a representatividade de
algumas figuras definidas, em função da época e do
contexto social, em que se alicerça esse tempo.

Importante
Um momento de crise

O espetáculo A
Flauta Mágica, No senso comum, psicologizado, tomamos como
escrito em 1731 por
Wolfgang Amadeus adolescente alguém que apresenta características como
Mozart, é possível
ser entendido como
a rebeldia, a transgressão ou se apresenta como
uma metáfora das
nostálgico e apaixonado.
transformações
vividas na
adolescência.
É recorrente vermos pais atônitos, não
conseguindo compreender o porquê de seus filhos,
antes doces e meigos, se tornarem rebeldes e
agressivos. Sentem-se excluídos à medida que ou se
isolam ou optam por lidar com outros adolescentes.

Dessa forma, podemos ver a adolescência não


só como um momento de transição entre o infantil e o
adulto, mas como um período de crise da puberdade,
de identidade, entre outras.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 137

Na psicanálise
Dica de
leitura

Na psicanálise, sabemos que crise é,


geralmente, a palavra ligada para os momentos da vida O livro Adolescência:
o despertar (1996),
do sujeito em que suas respostas e arranjos são da Editora
Kalimeros, é uma
insuficientes ou faltosos. publicação de
diversos autores
psicanalistas da
Escola Brasileira de
Na adolescência, verificamos uma crise radical, Psicanálise, Rio de
Janeiro. Vale
onde as respostas antigas se mostrarão furadas, conferir visões bem
diferenciadas.
necessitando a obtenção de novos arranjos para dar
conta do novo que irrompe. A primeira perda que
podemos facilmente perceber é a do corpo infantil. Na
adolescência, o corpo se impõe como outro, fazendo
com que o sujeito perca o que anteriormente se
encontrava sobre seu domínio. O sentimento de
estranheza e até o saber como lidar com ele são
freqüentes.

Um traço fundamental desse período é o


encontro com o sexo.

Sonia Albertini (1996), em seu livro “Esse


sujeito adolescente”, escreve:

É o encontro com o sexo, na


puberdade, que desperta o sujeito,
pois é neste momento também que ele
é chamado a tomar posição diante da
partilha dos sexos, fazendo equivaler a
palavra ao ato. Se até então ele podia
dizer-se menino ou menina, nas
brincadeiras e nos jogos infantis,
somente depois da puberdade ele sela
esse dizer com a irreversibilidade do
ato. Todo ato do sujeito que implica o
desejo é também um despertar.
(p. 184)

Neste despertar, conflitos e angústias surgem


frente a uma ruptura que, ao mesmo tempo em que o
impulsiona à elaboração de lutas, o defronta com os
restos mortais da infância perdida, exigindo-lhe uma
reorganização.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 138

Freud em momento algum de sua trajetória fala


da palavra adolescência, mas de puberdade. É dela que
ele se serve para falar do despertar da sexualidade
enquanto possibilidade.
Para pensar
A adolescência e os transtornos
“O que irrompe na
adolescência e tem
alimentares: uma aproximação
como resposta, em
muitos sujeitos, em
estado depressivo? Como já vimos, é justo no momento em que o
A que vem
responder certa adolescente se vê confrontado com o sexo, que surja o
tristeza, choros
constantes,
maior número de casos de anorexia e bulimia. É
isolamento, ou falta também o período em que ele se vê diante da tarefa de
de vontade de fazer
qualquer coisa, construção de um laço amoroso. O corpo magro
queixas que
ouvimos na clínica? descarnado da anorexia ou o corpo monstro da
De que o sujeito
pode estar tentando obesidade produz a retirada das formas eróticas e a
se isolar?”
Texto do livro ausência de qualquer valor estético, trazendo assim
Adolescência: o
despertar, de Monica esse encontro para ordem da impossibilidade.
Damasceno, página
151, com o título
“Adolescentes e A presença constante de inúmeras rupturas leva
Tristeza”, 1996,
editora Kalimeros. o adolescente à sensação contínua da falta de controle
e domínio. Na anorexia, na bulimia, e até mesmo na
obesidade, é percebida a idéia fantasiosa de controle de
sua própria vida e até de seus familiares, que se vêem
mobilizados. Não se trata, no entanto, de um controle
qualquer, mas de um triunfo onipotente além da vida e
da morte.

Podemos traçar inúmeras aproximações


possíveis entre os transtornos alimentares e essa época
Para refletir
tão fértil à emergência de tantos conflitos, a medida
Cada dia mais os mesmo que o sujeito terá de se haver frente a tão
profissionais são
confrontados com a amplos e diferentes impasses.
necessidade de
trabalharem em
equipe, para assim OS TRANSTORNOS ALIMENTARES
buscar maior
eficácia e rapidez na
melhora dos Etiologia
pacientes.
Acredita-se que se
existe uma palavra
que possa entender Sua etiologia é constituída por um conjunto de
o trabalho, hoje, é
fatores em interação, que envolvem componentes
“parceria”.
biológicos, psíquicos, familiares e socioculturais.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 139

Uma clínica feita por muitos

Se partirmos de uma etiologia multifatorial e,


acrescermos a presença constante de sintomas de uma
radicalização sem limites, não há como pensar num
trabalho de abordagem que não tenha um caráter
interdisciplinar.

Não se trata, no entanto, de um funcionamento


em que um buscaria obturar a “falha epistêmica” da
outra disciplina. A proposta não está numa fusão ou
numa salada de conceitos, mas de mantendo suas
singularidades possam interagir a partir da falha de
cada uma.

Cabe salientar que, num trabalho


interdisciplinar, são necessárias algumas características
como paciência, douta ignorância, prudência,
criatividade, e como condição imprescindível a aposta
no sujeito do paciente.

Minha sugestão a vocês é que a psicanálise


possa oferecer sua colaboração como uma das
disciplinas a se debruçar nesse trabalho.

Por que a psicanálise? Dica de


leitura

O que ela teria a oferecer como diferencial? No vol. XIV, 1969,


das obras
psicológicas
completas de
Para a psicanálise, a biologia não é o destino. E FREUD,Sigmund. da
Editora Imago,
o corpo não equivale a organismo (soma), mas implica
somos presenteados
o sujeito à linguagem. com um texto
(página 89 a 119)
que, apesar de
escrito em 1914,
O sujeito privilegiado pela psicanálise é o sujeito continua a ser
bastante útil quando
do inconsciente, como Freud nos ensinou. Sim, este é pensamos na
construção do
um sujeito social, pois os elementos da constituição sujeito. “Sobre o
narcisismo: uma
vêm do outro, do registro simbólico, que é o desejo, a introdução.”
linguagem, o inconsciente e a cultura. Portanto esse sujei
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 140

to é efeito da articulação significante, não é o “ser


humano”, o indivíduo, a pessoa e nem mesmo o eu (ou
o self). É um sujeito inteiramente singular e único que
pode ser visto como uma entidade.

Sujeito, então, como efeito da linguagem, não


concebido, aprioristicamente, ele é produto incessante
do trabalho de individualização. O sujeito só advém e
só pode ser deduzido a partir daquilo que é expresso
por sua fala, ou melhor, por sua palavra, daquilo que
apresenta sua história: tudo, enfim, que possa
singularizá-lo.

Diante de dados da Organização Mundial da


Saúde (OMS), 20% das anoréxicas morrem. As
bulímicas carregam complicações digestivas sérias,
devido aos contínuos episódios de vômitos a que se
submetem. Na obesidade em seus diversos graus,
encontramos a chamada obesidade mórbida, que o
próprio nome elucida.

As internações efetuadas por inanição na


anorexia, o eterno emagrecer e o voltar a engordar dos
obesos, de alguma forma, denunciam a ineficácia da
solução medicamentosa como a única responsável para
a solução desses transtornos.

Estamos, agora, próximos à compreensão do


significado real desses atendimentos clínicos e de como
representam áreas de risco.

A psicanálise, dessa forma, apresenta uma


abordagem diferenciada à medida que não propõe
tratar os distúrbios alimentares através de dietas ou
medicamentos que servem para todos, mas de vê-los
como algo que fala sobre a participação desse sujeito.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 141

Embora sofrível para o sujeito, esses distúrbios


apresentam uma estrutura que se articula,
intrinsecamente, com os demais aspectos de seu
funcionamento mental. Dica da
professora

A pretensão psicanalítica é um tratamento que Na comunidade do


Orkut: Diário da Ana
tem alcance, um além do organismo, ele busca o / Mia, uma
participante faz
detalhe do particular de cada um. menção à música
Ana´s Song do
grupo Silverchair
A ANOREXIA como sendo o hino
das anoréxicas.
Nestas comunidades
deste site de
Podemos apontar como ponto central da relacionamentos, há
grande número de
anorexia uma conduta de restrição alimentar, como participantes, em
sua maioria com um
emagrecimento importante, em que se observa, perfil falso para não
serem identificadas;
também, um distúrbio na percepção do corpo. Não porém, em geral, os
participantes se
deve haver nenhum outro sintoma que desperte conhecem pelo
tamanha perplexidade nos clínicos devido ao nome.

desconhecimento do sujeito de seu real estado de


definhamento. De forma geral, as anoréxicas buscam
atingir a forma mais descarnada, mirrada, do próprio
corpo e não se inquietam, em absoluto, pelas
conseqüências que isso lhes pode acarretar no plano de
Dica da
saúde geral. professora

Tomamos
H. Ey (1999, p. 23), em seu Manual de conhecimento,
também, através do
Psiquiatria, nos fala sobre anorexia como: site de
relacionamentos,
que é tido
mulher esquálida que apresenta como atualmente como
queixa uma obesidade imaginária. Há um dos mais
uma estreita dependência em relação visitados do país, o
“Orkut”, de
a mãe, que por sua vez, coexistem
comunidades que
com uma negação da fadiga. indicam a presença
de pulseiras de duas
A exposição do corpo esquelético, que a cores diferentes,
determinando,
anoréxica nos apresenta e que tanto alarme nos causa, assim, anoréxicas e
bulímicas pela cor
só serve para causar sua satisfação. de suas pulseiras.
Mais uma vez,
estamos diante da
tentativa de
Celso Rennó Lima, em seu texto “Anorexia, um nomeação do sou...
já mencionada
para além da histeria”, nos fala das cenas descritas e anteriormente.
repetidas no olhar assombrado que assinala o terror que
experimentam os familiares e da satisfação a ela associa-
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 142

da. O olhar sustenta uma parceria, tornando-o um


componente indissociável.

Podemos pensar a anorexia como uma busca


pela morte, busca pela destruição do corpo, que se
mostra cadaverizado e, ao mesmo tempo,
imperturbável, impenetrável, na dimensão do não
dialetizável.

O prazer na dor diária da inanição, buscada na


morte, e na destruição do corpo, trazida pela anoréxica,
remonta à questão do tudo, do sem limite, tão
pertinente aos dias atuais e da adolescência.

Essa postura, contudo, acrescida à falta de


mediação da palavra, precisa ser contida, por vezes,
por meio de um ato, que faça parar, que ofereça um
ponto de basta, até para que a vida seja preservada.

Esse investimento desmedido nesse corpo, que


precisa ser constantemente medido, submetido a
exaustivos exercícios físicos, e até mesmo
excessivamente com laxantes e diuréticos, torna-se
Dica da
professora todo investimento do sujeito que se torna assim a ele
aprisionado.
Na comunidade
“Ana/ Mia por
região”, onde Preso a seu próprio corpo, ao olhar do outro,
participam
aproximadamente enquanto alvo a que procura se manter faz com que
673 membros, num
tópico criado por um
haja um desligamento dos laços sociais, e das
dos participantes, possibilidades de reflexão e dialetização, expulsando a
encontramos 40
dicas de como mediação da palavra.
emagrecer “ainda
mais”, além de
discutirem tais O que se verifica na anorexia é uma ausência de
dicas, acrescentando
outras e omitindo sinais de uma subjetivação que permita ao sujeito a
opiniões sobre elas.
São dicas que nos promoção de um pedido ao chegar à clínica, seja a
dizem de um
conhecimento partir de si mesmo ou de seus familiares. A
elaborado no rígido
percurso de tornar- impossibilidade dessa formulação, do saber de si,
se cada vez mais
magra. apresenta-se como uma verdadeira dificuldade no
tratamento.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 143

O que se verifica como constante é uma


tentativa de nomeação de si mesmo como “sou
anoréxica”, tão comum, atualmente, na supremacia da
indiferenciação, da anulação e da fugacidade.

Podemos pensar o olhar em sua dupla face na


anorexia, uma delas já mencionada está no fazer-se
ver, na captura deste olhar, que na anorexia se faz pela
mostração da excessiva magreza; a outro se encontra
nesse olhar que apresenta um corpo “gordo” que
precisa continuamente ser emagrecido para alcançar
um ideal de beleza sempre inalcançável. Desta forma,
ela sempre insatisfeita necessita de “um pouco mais”.

Assim, se olha no espelho e se vê gorda,


denunciando a presença não só do ideal, mas, da
distorção de sua própria imagem.

Pode-se pensar, então, numa recusa da


realidade do próprio corpo não só como um corpo
extremamente emagrecido, mas também como mortal
e erótico. É como se nele estivesse contido a fantasia
da imortalidade, da indestrutibilidade e da negação do
erotismo na sua exposição sem carne e formas.

Voltemos à problemática adolescente quando o


sujeito se vê defrontado a sua sexualidade, a que
estamos diante de um afastamento àquilo a que nos
defronta mas que é da ordem do sexual.

Neste sentido, o sentimento de onipotência e de


recusa da realidade do próprio corpo parece estabelecer
uma relação estreita.

A dificuldade de percepção não se restringe à


imagem e às sensações corporais, como também de
seu mundo interior e necessidades afetivas. Apresentam-
se, em seus relatos, como que privados de interioridade.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 144

Uma despossessão que, segundo Bidaud (1998), diz


respeito ao corpo, ao afeto e ao pensamento.

Parece que estamos diante de um não-corpo, de

Importante um corpo recusado em suas necessidades,


materialidade, corpo-imagem. Um corpo em negativo,
“Não me gosto, sou que não consegue se constituir enquanto realidade
feia, detesto tudo
que faço...” psíquica.
Fala de uma jovem
adolescente com
anorexia, o que
exemplifica a O corpo da anoréxica voltado para o ideal, para
dificuldade de
percepção da a busca do padrão, toma toda a cena retirando o foco
anoréxica.
do mundo ideativo e da sexualidade. Isola-se do desejo
dos homens e inscreve em seu corpo a marca da
estranheza. Apaga, assim, todo sinal exterior de
feminilidade e saliências do seu sexo, restando somente
a aparência trágica.

Para a teoria psicanalítica, o corpo não se


origina de uma constatação em seus dados brutos, mas
de um corpo construído, elaborado psiquicamente. O eu
é definido por Freud como uma superfície de projeção
do organismo, derivado de sensações corporais,
principalmente daquelas que têm sua fonte na
superfície do corpo. Essa operação se sustenta a partir
da linguagem, que permite que o corpo seja
simbolizado, significantizado e do reconhecimento da
própria imagem no espelho, e que lhe é dado a partir
do outro que lhe fala esse é o...

O corpo, desligado da representatividade


simbólica, fala, de certa maneira, sob o dilaceramento,
a destruição: ele é falha do sujeito.

A ligação mãe-filha na anorexia carrega toda


uma tipicidade, chamando a atenção pelo enodamento
existente nessa relação.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 145

Trata-se de uma fusão, uma dependência vital


de quem cuida e nutre, da qual não se pode escapar
sem cair em uma vivencia de aniquilamento e ao
mesmo horror a essa dependência.
Dica de
leitura
Piera Aulagnier (1985, p. 150) fala de uma
relação “na qual um objeto tornou-se para um Eu de No livro de
BRANDÃO, Junito de
outro, fonte exclusiva de todo prazer, tendo sido por Souza. Mitologia
Grega. Vol. I,
ele deslocado para o registro das necessidades”. Inclui Petrópolis: Vozes,
1999, págs. 289 a
nessas relações a droga e o gozo. 294, vimos o relato
do mito de Deméter
e Perséfone. Mãe e
São essas as relações mencionadas pelas filha que em
determinado
anoréxicas com suas mães, algo da ordem do perder- momento são
afastadas, estando
se, mas antes destruir ou destruir-se. apaixonadamente
ligadas.
Deméter é o modelo
de mãe inconsolável
O sentimento relatado nessa relação tem o e Hades, o Deus que
rapta Perséfone, e o
cunho de uma invasão, de um arrombamento, da Deus da fecundidade
que oferece a ela
ordem do transbordamento, de um além. uma nova
perspectiva.

A dinâmica que se estabelece é a de uma


polaridade entre o amor-ódio. Por vezes, se ama, por
outras, é necessário todo o esforço de separação sob a
ameaça de ser por ela devorada.

O laço se reduz a um circuito fechado, onde se


busca a apreensão do outro.

Bidaud nos fala de (1998, p. 87) “três


dimensões essenciais dessa relação:

 A apropriação por despossessão do outro;


 A dominação;
 A impressão de uma marca.”

Essas dimensões, por ele apresentadas, vêm


mais uma vez corroborar a idéia de uma relação baseada
na redução de desejo do outro, que é subtraído de toda
alteridade, da diferença, como um objeto assimilável.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 146

O par mãe-filha colado se movimenta

Para pensar circularmente, numa reversão de despossessão-


possessão de uma pela outra.
Fala de uma jovem
de 20 anos,
anoréxica em O que poderia dar cabo dessa relação
trabalho clínico:
“Minha mãe não me aniquiladora? O pai.
larga, me chama o
tempo todo; estou
enjoada dela. Ela
pensa que sou eu. Esse pai é comumente descrito como ausente ou
Ela não sou eu... eu
não sou ela.” inexistente na sua função paterna.

Para tentar responder a essa pergunta, é


importante que, inicialmente, retornemos a uma
característica própria da condição humana que é o
desamparo. O sujeito humano, desde o nascimento,
depende de um outro-mãe que lhe forneça além do
leite, o calor, o ninho, o suporte. A impossibilidade de
o bebê suprir sozinho suas necessidades de
sobrevivência liga-o definitivamente a um outro-mãe,
numa relação de dualidade.

Para que essa estrutura primordial possa ser


rompida, é necessária a intervenção paterna. A função
paterna, enquanto lei que encarna, possibilita, assim,
que o binarismo mãe-criança se rompa. Pode-se
deduzir que é a partir dessa operação, em que o objeto
de satisfação, a mãe, enquanto perdido, permite a
instauração da falta. Poderíamos pensar nisso que
chamamos de falta, também de uma possibilidade, pois
é a partir dela que instaura em cada um a condição de
desejante e de busca de outros objetos que venham a
substituí-lo.

Esse retorno teve o objetivo de esclarecer como


a própria condição humana propicia a existência da
ligação binária mãe-criança e, da necessidade da
entrada do terceiro, em sua função paterna, que ofereça
uma ruptura a esse jogo de dois, como vimos na anorexia.
O pai em sua função propicia à criança a busca do novo,
em vista da falta que a partir dele se impõe.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 147

É preciso que seja feita uma digressão e


voltemos a algumas mudanças importantes nas
questões do gênero.
Dica de
leitura
Desde os anos 40, nota-se uma evolução nas
posições tanto masculinas quanto femininas. As Aqui voltamos a
articular a
mulheres submissas e alienadas de outrora se modernidade com a
anorexia.
emanciparam e ocuparam lugares no mercado de Vale conferir mais
um livro de
trabalho, na sociedade civil e apropriaram-se de seus GIDDENS, Anthony.
As conseqüências da
desejos. Abandonaram o confinamento, a maternidade modernidade. São
Paulo: UNESP, 1990.
como única forma de satisfação e passaram a explorar
as infinitas formas de feminilidade. Pelo lado masculino,
o pai austero distante, inacessível, o pai terrível, uma
mistura de autoritarismo e tirania, presente de tempos
idos, tornou-se um pai moderno, amigo, gentil e
camarada como ensinou a psicologia moderna.

Os novos tempos da família incentivaram o


papel do bom marido, aquele que divide igualmente as
tarefas do lar, da educação dos filhos e do orçamento
familiar. Por sua vez, a economia de consumo
transformou o pai num trabalhador compulsivo e
escravo de sua família. Ambos tornaram-se fruto do
ideário liberal de todos iguais da democracia.

A disponibilidade feminina para assumir a


gerência da própria vida teve como contrapartida um
efeito díspar nos homens. Constatou-se que, de um
modo geral, houve uma desvalorização do poder dos
homens e, em conseqüência, estes assumiram uma
posição mais passiva e inibida, na qual deixam a
iniciativa às mulheres que não se rogam em fazê-lo.

O discurso da ciência é outro complicador que


progressivamente vem induzindo a desvalorização do
poder do homem. Os avanços científicos no campo da
biogenética, ao tornarem possível a geração da vida
através de inseminação artificial e provável criação de clo-
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 148

nes humanos, alteram diretamente a participação do


homem na função de pai. Tais recursos estão
substituindo o modo natural da geração de filhos por
um modo artificial. Ora, isso percorre o imaginário da
cultura como uma autorização para dispensar o homem
no lugar de pai.

Se, pelo lado feminino, condições foram


conquistadas; pelo lado masculino, as condições reais
de acesso ao reconhecimento da identidade do homem,
calcadas na função do pai, foram seriamente
danificadas.

A psicanálise explicitou que a função paterna é o


operador que torna possível ao sujeito se inserir na
lógica dos vínculos sociais legais.

Vimos, por um lado, a imprescindibilidade da


intervenção paterna na constituição do sujeito e, por
outro, os efeitos da degeneração que a figura do pai
acumula na modernidade. Os efeitos colaterais e
inesperados desses avanços mostram-se cada vez mais
presentes nas falas das pacientes anoréxicas, quando
exprimem um pai que se revela sob a face da
passividade, da submissão e da ausência, tão
antagônico ao que precisaria se mostrar para romper
todo mal-estar oriundo da relação materna
aniquiladora.

Os múltiplos mistérios da anorexia, sobre os


quais tentamos nos debruçar, de forma alguma,
encerram a complexidade de seus enigmas que nos
remetem a tantos debates, pesquisas, reflexões,
inquietações...

Deparamo-nos cada dia mais com esses seres


magros de carne, de idéias, com suas bocas fechadas para
as comidas e as mentes fechadas para as reflexões.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 149

Articulações foram feitas com a adolescência,


com os novos comportamentos do mundo moderno, no
sentido de esclarecer não só o aumento tão significativo Para pensar

dessa patologia como, também, de entender sua


O atendimento
prevalência na adolescência. clínico a pacientes
anoréxicas, por
vezes, é como se
galgássemos em
Contudo, ainda nos encontramos diante de um terrenos perigosos.
Transitamos em
enorme desafio; que é o de estarmos na frente do
algumas áreas de
sujeito que não se vê doente, nem precisando de vida e de morte,
trilhando caminhos
ajuda, pois tudo que ele nos pede é que retifique seu que beiram
precipícios ou
sobrepeso, ajudando-o a emagrecer com mais uma abismos.
Assim também, o
nova fórmula. professor se sente
muitas vezes
confuso e inseguro
de agir diante dos
Os sintomas a que nos referimos, durante o conflitos que
enfrenta em sala de
percurso realizado, não entregam a decifração, estão aula nesta mesma
ordem de
de relações cortadas com o amor, não amam as
sofrimentos.
palavras e por não possibilitar o laço discursivo deixam
o sujeito imerso no um-sozinho.

A proposta para a utilização dos conhecimentos


sobre anorexia, nas salas de aula, encontra-se, a meu
ver, no fazer pensar sobre os ideais da cultura, no
questionamento a respeito da posição que ocupamos na
proposta de automatização de que participamos sem
nos dar conta. O alerta à família que mostra
dificuldades na percepção dos sintomas e dos riscos a
ele ligados, torna-se imprescindível.

Enfim, a abertura de espaço para a palavra,


para o questionamento para a construção de um saber,
em que o agente é o aluno, que interrogue a magreza
de carne e de idéias, a boca fechada para a comida e a
mente fechada para a reflexão.

BULIMIA

Enquanto na anorexia vimos o alimento como


uma ”ausência saboreada”, na bulimia ele é consumido
vorazmente, para depois colocar tudo para fora (vomitar).
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 150

Trata-se de episódios de ingestão compulsiva,


desenfreada, de uma enorme quantidade de alimentos.
:: Repleção:
O ataque conclui porque esta se esgota ou porque se

Estado de repleto, inicia um processo de dor gástrica pela repleção, ou


empanzinado,
abarrotado, seja, não são as sensações de fome ou de saciedade as
empanturrado.
balizas para o sujeito do acontecimento bulímico. Não
existe fome nem saciedade, só existe esse comer
vorazmente. No final, pode produzir-se um desmaio,
vômitos ou uma queda no sono, da qual se acordará
deprimido, envergonhado, culpado ou desesperado pela
previsível repetição de um novo ciclo doentio. A
repetição do ciclo ataque-purgação acaba se tornando o
centro dos investimentos e tendo como conseqüência o
esvaziamento e o empobrecimento de suas relações.

Cabe aqui efetuar uma aproximação entre a


anorexia e a bulimia, no que se refere ao retraimento
Para pensar
social, como a ambas, devido à priorização das

Jovem adolescente questões do corpo que se constitui como foco.


relatou o pânico que
sente diante do ato
compulsivo: A preocupação da anoréxica em relação à
“Não posso comer.
Prefiro não comer. estética é somente aparente, na verdade, elas
Se me permito
almoçar, por desdenham dos padrões, expondo seu horror, enquanto
exemplo, entro em
as bulímicas mostram-se mais preocupadas com a
compulsão: não
paro enquanto não estética dominante. Na anorexia, tem-se a impressão
me empanturro.
Minha mãe tem que de um corpo anestesiado, em sua recusa da fome, das
tirar correndo a
comida da mesa, necessidades, do brutal emagrecimento: já na bulimia,
senão acabo com
tudo. E aí...dá no o corpo encontra-se travestido de dor, pelo próprio agir
óbvio: enfio o dedo
na garganta e bulímico e do desprazer com freqüência experimentado.
vomito tudo, porque
não posso engordar, É um corpo descrito como disforme, vigiado para não
nem ficar com aquilo
dentro de mim.” sucumbir à tentação bulímica, corpo estranho que
incomoda.

R. Zukerfild (1996), psicanalista argentino que


desenvolveu pesquisas em transtornos alimentares por
mais de 20 anos, dividiu a bulimia em três tipos:

 A bulimia operatória;
 A bulimia sintomática;
 A bulimia conflitiva.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 151

BULIMIA OPERATÓRIA

Corresponde à bulimia nervosa, clássica. Sua


predominância é no sexo feminino, só que os
problemas com alimentação iniciam na infância, onde
apresentam uma anorexia infantil ou obesidade. Essas
pacientes mostram grandes dificuldades associativas,
pouca capacidade imaginativa, nenhuma referência de
prazer, concentrando-se no desprazer ligado ao
descontrole compulsivo e nas conseqüências dele
advindo. Apresentam uma busca insaciável pela
magreza. Mostra-se certo distanciamento das situações
emocionalmente significativas, numa fala pouco
implicada subjetivamente. Predomina a apatia, o
Dica da
cansaço, o vazio, a indiferença e o sem sentido, professora
centrados num discurso sobre o atual e o fático.
Vamos aproveitar
aqui essa
BULIMIA SINTOMÁTICA oportunidade para a
transcrição de
algumas frases
muito significativas
Mencionada por Zukerfild (1996) em primeiro e que ilustram essa
aula:
lugar e que combina os aspectos das outras duas. “Sou alérgica a
comida”;
“A comida é minha
Preponderante também em mulheres, com inimiga”;
“Seu estômago não
histórico anterior de problemas alimentares como a está roncando”;
“Tenho nojo de
obesidade. Apresentam problemas de adaptação diante comida”.
Estas falas foram
de situações novas. transcritas de
comunidades do site
de relacionamentos
“Orkut” que podem
Sempre encontramos um episódio ser consultadas pela
desencadeante de características Internet
traumáticas: uma perda ou (www.orkut.com).
transformação importante na vida,
como a entrada na adolescência,
casamento, mudanças etc.
(1996, p. 117)

Apresentam um funcionamento psíquico mal


organizado em que o corpo entra em jogo com
facilidade. Joyce Mc. Dougall descreve que

a fragilidade das barreiras mentais


expõe o paciente a um transbordamento
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 152

dramático das necessidades


corporais, desencadeando
características compulsivas que
correspondem ao ataque bulímico.
(1987, p. 118)

Deriva de uma dificuldade na elaboração


psíquica e uma falha na simbolização, as quais são
compensadas por um agir. Compulsivo que procura
reduzir a intensidade de uma dor psíquica associada à

Dica da conjuntura subjetiva que se está atravessando muito


professora
comum também na obesidade.

“Dieta de hoje:
Gatorade, trident e Tenta-se evitar o pensamento, a reflexão e a
pirulito. Aiiii!
Está difícil controlar angústia em momentos em que estes começam a se
a fome.... a
ansiedade... eu fazer presentes, através dos atos de devoração. Faz-se,
tinha tudo para
estar fazendo uma dessa forma, a constituição de um objeto externo
dieta. Tinha
planejado que eu ia
substitutivo apaziguador que tem como função de
perder 0,5 kg por obturação de algo que não foi simbolizado, que está
dia. Estou com
medo da balança e ausente ou danificado no mundo psíquico. Deste modo,
daqui a pouco vou
vomitar e estou o agir compulsivo, seja ele alimento, álcool, esconde de
jurando de novo que
vai ser a última vez. seu autor algo que ficou petrificado gerando um ato
Minha garganta está
toda ‘ ferrada’. Estou alienante.
com uma gripe que
não ‘sara’. A
imunidade está
totalmente baixa...” Gerard Pommier descreve a análise de pacientes
Depoimento
encontrado na
bulímicos, em que a produção, o relato e o trabalho de
comunidade “Diário um sonho precederam o final de um ciclo compulsivo,
da Ana/ Mia” onde
os participantes permitindo em sua análise identificar alguns dos fatores
desabafam e apóiam
uns aos outros, em que tinham incidido no início. A interpretação do autor
suas dietas de “Low
Food” (LF como nos faz retornar a algo que já mencionamos em relação
costumam chamar,
que significa “pouca à anorexia, que é um transtorno na transmissão
comida”) ou nas de
“No Food” (NF como simbólica por parte do pai e de um adernar no campo
costumam chamar,
que significa da onipotência materna. A ingestão voraz do alimento
“nenhuma comida”).
seria, portanto, uma forma compensatória real de
introjeção de uma função paterna falida.

A crise bulímica é no fundo uma crise do sujeito,


que pode ter diferentes origens, em que a voracidade
que se encontra em jogo nada mais é do que uma
urgência introjetiva, uma necessidade ávida que o sujeito
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 153

tem de recompor suas coordenadas e que acaba sendo


suplantada por uma atividade incorporativa.

O comportamento alimentar adquirido na


bulimia ocupa o lugar de uma elaboração psíquica,
driblando-a e subjetivando-a, através de um
mecanismo de desvio e descarga em curto-circuito,
transformando-se no modo predominantemente de
resolver as tensões e as crises que desestabilizam o
sujeito. O agir bulímico surge em vez de, no lugar do
que seria o trabalho psíquico de representação. O
comer compulsivo e a expulsão da comida são
alterações que teriam como efeito evitar o pensamento,
a reflexão, a angústia. A repetição cada vez mais
Para pensar
mecânica e pobre pode vir a transformar-se numa via
comum e indiferenciada para o escoamento das
Quando pensamos
tensões. em uma proposta,
retorno a um
comentário de Luiz
Meyer sobre o
BULIMIA CONFLITIVA seminário “O sonhar
do analista” de
Antonio Ferro.
“Se o analista
É freqüente em mulheres jovens, sendo o cozinhar com suas
próprias panelas
começo na adolescência. Constata-se a presença sujas, o paciente
freqüentemente terá
freqüente de um componente depressivo em que se uma dor de barriga”.
acredita que esteja ligado a fantasias de Lembra-nos, mais
uma vez, o desafio
comprometimento corporal advindo da voracidade e da que estes casos
representam e da
expulsão, que se imaginam irreversível e irreparável. É necessidade de nos
reinventar como
uma depressão repleta de auto-recriminações, profissionais para
com eles lidarmos.
vivências de impotência e sentimentos de culpabilidade. Assim, de igual
modo, o professor
reinventa suas
práticas cotidianas
Sentem-se muito pressionadas a responder a que são
atravessadas por
um ideal de beleza magra marcado pela cultura essas mesmas
contemporânea, vendo-se, ou sentindo-se vistas, como pessoas, problemas
e situações.
portadoras de um corpo que está distante deste ideal.

A dificuldade na elaboração desses aspectos se


manifesta através da insatisfação desmedida referida a
sua imagem corporal, quando na vivência de
estranhamento que acompanham as crises.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 154

Jogam suas esperanças em dietas que


funcionam como alavanca propiciatória de realizações
amorosas que, freqüentemente, falham e cujo fracasso
as empurra para uma nova série de episódios de
ingestão compulsiva. O círculo vicioso bulímico as
conduz a certo empobrecimento psíquico, a uma
preocupação monotemática e à auto-recriminação.

UMA PROPOSTA

Construir um sentido, introduzir possibilidades


de representação, significação e sentido é o que
consideramos como uma verdadeira chance de
transformação.
Dica da
professora

É através de outro, implicado na situação, o que


Tratamos inúmeras
vezes sobre a vem a possibilitar a alteração desse agir mecanicista
importância da
reflexão da incontrolável que transforma o bulímico em um solitário
significação que
ofereça um sentido. sem testemunha tomado por uma loucura privada.
Fernando Pessoa
ilustra essa
problemática Implicar o sujeito em sua fala desafetada,
brilhantemente com
o poema: “A automatizada, anulada em sua potência de significação,
CRIANÇA QUE FUI
CHORA NA não revestida de afetividade é imprescindível num
ESTRADA”.
“A criança que fui trabalho de articulação com o antes impensável, com o
chora na estrada
Deixei-a ali, quando incompatível.
vim ver quem sou;
mas hoje, vendo que
o que sou é nada.
Quero ir buscar Obesidade
quem fui onde
ficou”.
Há duas tendências sociais cruciantes para
pessoas acima do peso ideal: uma é a grosseira e
desumana descriminação estética e a outra é encarar o
obeso como uma pessoa que não tem força de vontade e
que ele é assim porque é preguiçoso. Isto gera
preconceito em relação à pessoa obesa, dificuldades
para relacionamentos sociais e afetivos, problemas em
encontrar empregos.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 155

A obesidade é considerada hoje uma doença,


que provoca ou acelera o desenvolvimento de muitas
Dica de
doenças e que causa a morte precoce. Tudo isso é leitura

verdade, enquanto falamos da doença perdemos uma


pergunta crucial, quem é o obeso? No dia 20 de maio
de 2007, no jornal O
Globo, pág. 37, foi
publicada uma
Diferentemente do que ocorre na medicina ou se
reportagem do
está ou não se está com uma determinada doença, na correspondente, na
Inglaterra, DUARTE,
obesidade, existem graus variados, indo desde o Fernando sob o
título “Obesidade
sobrepeso discreto até a obesidade mórbida. Embora infantil, uma crise
no Reino Unido”.
seja importante mencionar os variados graus de Vale a pena ler
como as políticas
obesidade, o que de alguma forma estabelece uma públicas, mesmo de
um país de primeiro
diferença crucial, nos ateremos à obesidade de forma mundo, influenciam
em questões de
geral, mesmo porque acabaríamos transformando saúde!
nossa aula num compêndio médico.

É comum, na literatura sobre a obesidade,


observarmos autores, recorrentemente, lançarem mão
de estatísticas e percentuais como “a obesidade
acomete uma grande proporção de pessoas no Brasil,
40% da população têm excesso de peso”. Outros
falam: ”calcula-se que 21% dos homens e 23% das
mulheres britânicas são obesas. Pelo menos, dois
terços da população estão acima do peso”. O crescente
Importante
número de casos, na atualidade mundial, permite-nos
uma correlação da obesidade com uma resposta ao A obesidade mórbida
não é parte dos
mal-estar contemporâneo, uma forma de adoecimento
transtornos da
do mundo globalizado. alimentação nas
classificações
psiquiátricas, como
a anorexia e a
Às vezes, temos a impressão de que esses
bulimia nervosas, e
dados têm um objetivo além da informação, eles não se encontram
no DSM IV critérios
podem pretender causar pânico. A indústria da para identificação e
avaliação da
obesidade, das dietas, das academias de ginástica, da obesidade como
transtorno
tirania da estética é gigantesca e, nada melhor que psiquiátrico.

estatísticas que façam temer, em fazer parte delas.

Nossa cultura, altamente consumista, tem por


hábito a ingestão excessiva de alimentos supérfluos,
como balas, biscoitos, salgadinhos. Inclusive no relaciona-
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 156

mento social, agraciamos nossas visitas, amigos,


clientes, parentes ou grupos culturais com jantares,
lanches, happy hour, cafezinho, bolo.

Dessa forma, pode-se alcançar a dimensão da


alimentação na cultura, em seu convite contínuo e
incessante de consumo, em contraposição à imposição
severa do seja magro.

Outra característica que nos chama a atenção na


obesidade é a presença de certa satisfação à qual não
podem renunciar – “é mais forte do que eu” – dizem.
Não se trata, contudo, de uma satisfação qualquer, mas
de algo desmedido, auto-suficiente, ligado ao próprio
sujeito, que não percorre o campo do outro nem tem
circularidade social.

Claro que podemos facilmente efetuar numa


conexão a modalidade de “solidão acompanhada”, que
prescinde do outro enquanto alteridade nos dias atuais.

Na anorexia, trabalhamos a busca de um olhar


pelo horror; na obesidade, evidenciamos também esse
corpo que se mostra inscrito no registro de evidência: o
que nos coloca, novamente, diante da clínica do olhar.
O mostrar-se, o exibir-se nem sempre é para dar
prazer, mas para roubar o olhar do outro, pois
escancara algo da ordem de uma deformação.

O corpo na obesidade não produz fala, é um


corpo que sufoca. Fica reduzido a um mero receptáculo
de objetos, onde o que vemos é uma passividade do
sujeito que não está em condições de promover
nenhuma forma de desmame dessa oferta ilimitada e
asfixiante, o mais consumir.

Na obesidade, não temos, como na anorexia,


uma imagem distorcida do corpo que diante do espelho
se vê gorda, mas de uma estranheza para seu portador.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 157

Não é à toa que o sujeito sequer olha o corpo no


espelho, aquele corpo não é tido como seu, como se o
seu estivesse escondido de si próprio. Aqui, também,
Importante
estamos diante do corpo idealizado, fantasiado e
investido, só que mais uma vez, como todo ideal, fica A maioria dos
obesos diz não
sempre inalcançável. comer nada, comem
para ter toda
gordura do mundo.
Novamente, identificamos mais um ponto de Escolhem o que
comer,
aproximação com a anorexia, quando verificamos a preferencialmente
doces e massas e
dificuldade do sujeito obeso em produzir uma questão,
adoram compartilhar
uma pergunta, um enigma diante de sua existência. a comida,
diferentemente dos
Colocam-se mais do lado das respostas, que impedem ataques bulimícos
em que comem o
a reflexão. que encontram pela
frente.

Promovemos diversas avizinhações entre a


anorexia e a obesidade, seja através da captura do
olhar que fazem através do mostrar-se, quer pelos
sintomas que não se entregam à reflexão e, por
conseguinte, à decifração, ou até mesmo nas questões
com o corpo.

Cabe agora uma tentativa com a bulimia,


quando pensamos na devoração que ocorre em ambas.
Recalcati (2001) nos fala dessa devoração como uma
compensação em que o sujeito consome freneticamente
o alimento, num processo de substituição. Na
obesidade e na bulimia, onde falta o signo de amor, há
consumo e compensação; enquanto que na anorexia há
recusa.

Conclusão

Vivemos hoje em um mundo onde o homem


contemporâneo, como nos fala Julia Kristeva (2002),
está umbilicado no seu “quanto a mim”, imerso em si e
ao mesmo tempo afastado de sua subjetividade e de
seu poder reflexivo.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 158

Os pacientes da clínica dos transtornos alimentares


retratam com fidedignidade áreas nebulosas de emoções
irrepresentadas, desse modo marcando uma identidade
própria dos dias atuais.

Em recente publicação, Kristeva relata:

Não se dispõe nem do tempo nem do


espaço necessários para construir uma
alma (...). Umbilicado sobre seu
quanto-a-mim, o homem moderno é
um narcisista talvez cruel, mas sem
remorso. O sofrimento o prende ao
corpo – ele somatiza (...). O homem
moderno está perdendo a sua alma.
Mas não sabe disso, pois é
precisamente o aparelho psíquico que
registra as representações e seus
valores significantes para o sujeito.
Ora, a câmara escura está avariada.

Dificuldades de simbolização, momentos sem


representatividade e, portanto, impedidos de
desdobramentos, mentes que burlam a possibilidade de
pensar a dor e os impasses do existir. Sinais de nossos
tempos, esses vazios geram sintomas impermeáveis,
incapazes de serem transformados em uma demanda.

Daí anorexia, bulimia e obesidade serem


consideradas hoje como perturbações inerentes à
contemporaneidade, pelo vazio das significações e pela
impulsividade das ações violentas em detrimento das
elaborações ponderadas dos pensamentos.

Assim, os transtornos alimentares se inserem


num mundo sem palavras, sem sustento e sem sentido
e quando acrescemos a isso o período da adolescência,
repleto de tantas indefinições, perdas e buscas,
verificamos a parceria que tão facilmente se estabelece
com essa fase do desenvolvimento.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 159

Portanto, cremos ser possível pensar na tríade


contemporaneidade, transtornos alimentares e
adolescência como uma função não definidora mais
propícia ao surgimento dos distúrbios alimentares.

O papel do professor junto aos seus alunos toma


fundamental importância, na medida em que é possível
“construir caminhos”, “pensar alto“, “dar voz”, abrindo
espaço para a passagem dos pensamentos, dos afetos.
Criar o hábito de pedir a esses alunos que nos
expliquem o que querem dizer é também uma forma de
permiti-los a se escutar. Expressar-se, falar de si
possibilita resgatar fragmentos, juntar pedaços, criar
sentidos, inventar formas que dêem ao sujeito um
lugar em sua singularidade em vez do encarceramento
do corpo em invólucros somáticos.

EXERCÍCIO 1

De acordo com o DSM IV, a maioria dos casos de


anorexia ocorre na:

( A ) Infância;
( B ) Adolescência;
( C ) Adultos;
( D ) Idoso;
( E ) Lactantes.
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 160

EXERCÍCIO 2

Em que tipo de bulimia a paciente se encontra mais


pressionada a corresponder a um ideal de beleza:

( A ) Bulimia operatória;
( B ) Bulimia compulsiva;
( C ) Bulimia depressiva;
( D ) Bulimia conflitiva;
( E ) Bulimia sintomática.

EXERCÍCIO 3

De que forma a adolescência e a forma de se viver na


atualidade podem contribuir para o surgimento dos
transtornos alimentares?

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____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Como esses conhecimentos, que chegam através desta


aula, podem fornecer a sua prática pedagógica?

____________________________________________
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____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 161

RESUMO
Vimos até agora:

 As chamadas patologias da conduta alimentar


têm crescido no mundo todo colocando-nos
diante de novos desafios;

 No século XIX, Pinel desenvolveu estudos


sobre a conduta alimentar e suas
particularidades, mas os termos “anorexia
nervosa” e “anorexia histérica” são de autoria
de William Gull;

 Inicialmente as razões para o emagrecimento


se concentravam na religiosidade, hoje elas
se voltam para um ideal de beleza a ser
conquistado;

 Com a prática do comer sozinho que tem


marcado as relações atuais, o ritual simbólico
das refeições compartilhadas se perdeu;

 Percebe-se, atualmente, a imposição de


padrões rígidos de beleza que o sujeito atual
necessita se inserir para ser aceito na
sociedade;

 A adolescência é caracterizada de modo geral


como um período entre a infância e a idade
adulta marcado pela crise e pela rebeldia,
conflitos e angústias e elaboração de lutas
internas, onde o sujeito é confrontado com o
desejo sexual e os restos mortais de uma
infância perdida;
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 162

 É justamente no momento que o adolescente


se vê confrontado com o sexo que surge o
maior número de casos sobre anorexia e
bulimia;

 A anorexia é uma conduta de restrição


alimentar, como emagrecimento, em que se
observa também um distúrbio na percepção
do corpo;

 De um modo geral, as anoréxicas buscam


atingir a forma mais descarnada do próprio
corpo e não se inquietam com as
conseqüências que isso lhes acarreta em
termos de saúde em geral, podendo levar até
a morte;

 Para a Psicanálise, o corpo não se origina de


uma constatação de seus dados brutos, mas
de um corpo construído psiquicamente;

 É fundamental criar espaços de diálogo sobre


o tema na escola, na família e em outras
instituições de modo a levar o adolescente a
questionar seu comportamento;

 Na Bulimia, o alimento é consumido


vorazmente e depois vomitado. Não existe
fome, nem saciedade, só o desejo de comer
vorazmente para depois provocar o vômito;

 A crise bulímica é, no fundo, uma crise do


sujeito que pode ter diferentes origens em
que a voracidade que se encontra em jogo
nada mais é do que uma urgência introjetiva;
Aula 4 |Transtornos alimentares na adolescência 163

 Obesidade é considerada hoje uma doença


que provoca ou acelera o desenvolvimento de
outras que podem provocar a morte precoce;

 Nossa cultura, altamente consumista tem por


hábito a ingestão de alimentos supérfluos
como balas, biscoitos, salgadinhos e outros.

 Na obesidade o corpo não fala é um mero


receptáculo de objetos, onde o que vemos é
uma passividade do sujeito que não consegue
reagir a oferta ilimitada e asfixiante de
consumir.

 Os portadores desses transtornos precisam


de um acompanhamento profissional e um
espaço onde possam ter quem os escute,
ajudando-os a lidar com os problemas e sua
forma de lidar com o corpo.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS:


AULA 1 – 1A; 2A. AULA 2 – 1B; 2D. AULA 3 – 1A; 2D. AULA 4 – 1B; 2D.
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Psicopatologia Infanto-juvenil
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


QUESTÃO 1: Analise a importância da estimulação precoce em crianças portadoras
da Síndrome de Down. E como a Educação pode auxiliá-los.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Descreva as áreas afetadas na síndrome do autismo infantil, citando


pelo menos, três comportamentos característicos para cada área afetada.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


QUESTÃO 3: Qual o compromisso que a educação tem sobre os casos de abusos
sexuais infantis?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Como os conhecimentos sobre os transtornos alimentares podem


fornecer elementos de aprimoramento para a sua prática pedagógica?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma


argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Psicopatologia Infanto-juvenil
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


Atividade Sugerida: Entrevista com profissional
Instruções:
Tendo como objetivo conhecer as consequências das psicopatologias infanto-
juvenis sob as dimensões psicológica, educacional e social:
a) Elabore um roteiro, selecione e entreviste um médico, psicólogo ou
psicopedagogo que atue com umas das psicopatologias estudadas (Síndrome
de Down, o Autismo Infantil e os Transtornos Alimentares), ou com crianças
acometidas pelas repercussões referentes ao abuso sexual infantil
Para facilitar sua aplicação, divida o roteiro em quatro tópicos e blocos de
assuntos que nortearão os assuntos presentes na entrevista. As questões
deverão ser abertas e serão criadas por você, tendo como base o objetivo
indicado.
b) Elabore um relatório contendo os principais aspectos identificados,
relacionando-os com o conteúdo abordado no caderno.

Objetivo primário da pesquisa: conhecer as consequências das psicopatologias


infanto-juvenis sob as dimensões psicológica, educacional e social.

Roteiro: Psicólogo / Psicopedagogo

TÓPICOS BLOCOS DE ASSUNTO


I - informações Nome / Idade:
Iniciais Nível de Instrução/Formação:
Especialidade:
Tempo de Atuação com crianças especiais:

II – Dimensões 1 – Questão: (elabore a sua pergunta)


Psicológicas Resposta:

2 – Questão: (elabore a sua pergunta)


Resposta:

III – Dimensões 1 – Questão: (elabore a sua pergunta)


Educacionais Resposta:

2 – Questão: (elabore a sua pergunta)


Resposta:

IV – Dimensões 1 – Questão: (elabore a sua pergunta)


Sociais Resposta:

2 – Questão: (elabore a sua pergunta)


Resposta:
Relatório (Análise das Respostas):
170

BERLINCK, Manoel Tosta & SCAZUFCA, Ana Cecília Magtaz. Sobre


o tratamento psicoterapêutico da Anorexia e da Bulimia, Psicologia
Clínica. Rio de Janeiro: Companhia de Freud/PUC – Rio, 2002.

BETTELHEIM, Bruno. A Fortaleza Vazia. São Paulo: Martins Fontes,


1987.

BIDAUD, E. Anorexia mental, ascese, mística: uma abordagem


psicanalítica. [Tradução: Dulce Duque Estrada]. Rio de Janeiro:
Companhia de Freud, 1998.

BIRMAN, J. Mal-estar na atualidade. Rio de Janeiro: Civilização


Brasileira, 2001.

CAETANO, Dorgival. (Trad.). Classificação de Transtornos Mentais


e de Comportamento da CID-10 – descrições clínicas e diretrizes
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evolução e manejo da dependência. São Paulo: Casa do Psicólogo,
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ZUKERFELD, R. Acto bulímico, cuerpo X tercera tópica. Buenos


Aires: Paido´s, 1996.
171

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