Você está na página 1de 140

Curso

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA

Disciplina
DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
2

Curso
EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA
Disciplina
DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM

Maria POPPE
Raquel PEREIRA
Soraya JORDÃO

www.avm.edu.br
3

Meu nome é MARIA DA CONCEIÇÃO MAGGIONI POPPE, sou


psicóloga formada pela UFRJ e atuo em dois segmentos da
Psicologia: a docência e a clínica. Na atividade docente iniciei
minhas atividades em 1997, aqui mesmo no IAVM, primeiramente
só nos cursos de pós-graduação Lato Sensu na modalidade
presencial. Foram muitos alunos/professores que tive e ainda
tenho ansiando por uma qualificação e movidos por algumas
incertezas quanto a sua atuação. No ano de 2001 passei a fazer
parte também do corpo de professores que atuam no IAVM na
modalidade a distância, primeiro nos cursos de pós-graduação e,
agora também, nos cursos de graduação.
A atuação nos cursos a distância me fez buscar uma certificação
de especialista em Gestão de Ensino a Distância na Universidade
Federal de Juiz de Fora, curso que, atualmente, estou em fase de
conclusão.
Face a essa trajetória pessoal é fácil, então, identificar que, ainda
que os campos de minha atuação sejam em duas áreas distintas,
estas conjugam desejos bem próximos na medida em que tenho
de lidar com as necessidades de educandos, professores e
familiares. Eis aqui nosso encontro e minha grata satisfação!
Sobre as autoras

Olá Queridos! Meu nome é RACHEL DE CARVALHO PEREIRA. Sou


fonoaudióloga e por acreditar que não podemos enfocar somente
os sintomas apresentados pelos clientes, fiz pós-graduação em
psicomotricidade. Desta maneira pude olhá-los de uma forma
holística, fazendo a interação entre o psiquismo e o movimento,
entre o próprio sentimento e a ação. Por atuar a 6 anos com
crianças portadoras de necessidades educativas especiais, senti a
necessidade de fazer pós-graduação em educação inclusiva,
seguida pela complementação pedagógica-didática do ensino
superior. A partir deste momento, percebi que era hora de publicar
meu primeiro livro – Surdez. Aquisição de Linguagem e Inclusão
Social pela Editora Revinter. Este foi o caminho encontrado para
continuar lutando por um mundo melhor e acessível para as
crianças com necessidades educativas especiais. Obrigada vocês,
caros alunos, por estarem aqui conosco nesta caminhada pela
inclusão. Grande abraço!

Olá, Meu nome é SORAYA JORDÃO MARTINS, sou psicóloga formada


desde 1991 com especialização em Psicologia Clínica (UERJ/1995).
Iniciei meu percurso profissional numa instituição filantrópica, em
Niterói, como psicóloga de um Núcleo de Atendimento a Crianças
Autistas e Psicóticas. Nesse trabalho, desenvolvido durante 6 anos,
pude perceber que além do atendimento clínico oferecido a essas
crianças era fundamental que oferecêssemos apoio sistemático a
escola, professor e equipe pedagógica, de forma a permitir a inserção
dessas crianças no ambiente escolar, dentro de uma perspectiva de
Educação Inclusiva. Paralelo a esse projeto, participo de um trabalho
em grupo, voltado para crianças com dificuldades de aprendizagem,
cujo objetivo é o resgate da curiosidade e a desmistificação do
processo de aprendizagem como um obstáculo intransponível.
Portanto, se ao longo dessa aula, eu conseguir trazer à reflexão a
importância da escola, do professor, da equipe pedagógica e da
prática da Educação Inclusiva na transformação do organismo
humano em Ser Humano, terei cumprido meu papel.
5

07 Apresentação

Aula 1
09 Introdução às dificuldades de
aprendizagem

Aula 2
39 Transtornos da leitura e da escrita e
do cálculo matemático
Sumário

Aula 3
69 Fracasso escolar e educação
inclusiva

Aula 4
103 Transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade

AV1
131 Estudo dirigido da disciplina

AV2
134 Trabalho acadêmico de
aprofundamento

137 Referências bibliográficas


CADERNO DE
ESTUDOS
Dificuldades de
Aprendizagem

Este caderno é dedicado a discussão aprofundada dos problemas


Apresentação

de aprendizagem, que se tornou um dos assuntos mais freqüentes


nas escolas e entre os educadores. As atuais estatísticas sobre o
fracasso escolar são alarmantes e preocupa todos os envolvidos
no processo ensino-aprendizagem. Os autores que elaboraram
estas aulas procuraram discutir de maneira reflexiva e intensa as
formas como estes problemas se apresentam e as possibilidades
de superação dos mesmos, pois acreditar na superação dos
impasses de aprendizagem é o primeiro passo para se assumir
uma atitude transformadora na atualidade. Dialogar com
diferentes saberes e visões permite a criação de oportunidades
para os alunos e para os professores que trabalham com Educação
Inclusiva.

Este caderno de estudos tem como objetivos:


Objetivos gerais

 Analisar profundamente o fracasso escolar questionando as


formas de aprender e ensinar, além de incluir o papel da
família no compromisso da aprendizagem;
 Conhecer o histórico do enfrentamento das dificuldades de
aprendizagem e a forma como os discursos acadêmicos foram
influenciados pelos diagnósticos médicos e compreensão
patológica destes problemas;
 Conhecer as principais deficiências, sintomas e maneiras
possíveis de atendimento às necessidades, potencialidades e
habilidades nos espaços de aprendizagem;
 Compreender o aluno portador de TDAH para eximir de rótulos
que comprometem as condições de aprendizagem e as
oportunidades afetivas e sociais nos ambientes de interação.
1
Introdução às

AULA
Dificuldades de
Aprendizagem
Maria Poppe
Apresentação

Nesta aula são introduzidas as idéias sobre as dificuldades de


aprendizagem e os principais fatores presentes, procurando
distinguir o fracasso escolar das dificuldades de aprendizagem.
Aprofunda-se o tema da perspectiva preventiva no trabalho com
os impasses do processo de aprendizagem.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Analisar o sujeito que está sendo formado e o valor cultural


Objetivos

dado à escolaridade que determinam formas de sucesso e


fracasso na aprendizagem;
 Conhecer os fatores mais importantes a serem considerados
nos problemas de aprendizagem (orgânicos, específicos,
psicogênicos e ambientais):
 Discutir o rótulo de fracasso dado somente ao aluno, pois deve
ser partilhado pelo professor, pela escola, pelo sistema de
ensino e pela família uma vez que sua aquisição de
conhecimento se constituiu por estas experiências de
aprendizado advindo de sua família, meio social e vida escolar;
 Pensar nas variáveis que implicam: as formas de aprender, à
perda do prazer de aprender, à impossibilidade do aluno se
apropriar da sua história e das experiências vividas, e, assim se
ocupar preventivamente da dificuldade de aprendizagem.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 10

Introdução

Apresentar o tema das dificuldades de


aprendizagem é no mínimo complexo, pois detectamos
inúmeros vetores que atuam no processo de ensino
aprendizagem.
Quer
saber mais?
Citando alguns desses para ilustrar, temos
Para saber mais, então: as diferentes formas de concepção sobre o que é
visite o site:
aprendizagem; os fatores constitutivos e hereditários
http://www.psicope
dagogia.construtivis que compõem o desenvolvimento de cada educando; as
mo.com.br
múltiplas maneiras de avaliar a aquisição de
O site da Associação
conhecimento na escola; a estrutura e a dinâmica
Brasileira de
Psicopedagogia é familiar a que o educando pertence; aspectos culturais
muito interessante:
e ambientais que favorecem ou dificultam o processo
http://www.abpp.co
m.br de aprendizagem; a adequação curricular e
metodológica do processo de ensino-aprendizagem;
bem, parece que essa lista não termina nunca.

Devemos, então, permitir um recorte de certos


pontos para que a análise das dificuldades não se torne
outra dificuldade ainda maior. Sendo assim,
elaboramos uma seqüência de aulas para destacar as
primeiras considerações do contexto de aprendizagem.

Existe a crença de que o processo formal de


aprendizagem inicia com o ingresso da criança na
escola, entretanto, observamos quantas conquistas
podem ocorrer antes mesmo da escolaridade, assim
como paralelamente. Exemplo disto: a aquisição da
fala, o reconhecimento de signos, a localização espaço-
temporal etc.

A característica essencial da escola é de


formação instrucional, mas também tem seu papel de
formação cidadã, depende muito da idéia que se
valoriza numa época Histórico- cultural sobre o que vem
a ser a formação escolar.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 11

Têm-se, desde já, duas questões:

 Qual o sujeito que estamos formando?

 Qual o valor cultural dado à escolaridade?

A escolha de um tipo de formação poderá criar


um marco a partir do qual alguns educandos terão
sucesso e outros terão fracassos, de acordo com a
referência estabelecida.

Certamente, a referência não será o próprio


sujeito com suas possibilidades e desejos, por isso
mesmo o mapa global que for adotado poderá dificultar
ou, até, impedir o acesso do educando ao aprender.

Nesta aula, introduziremos as principais idéias


sobre dificuldades de aprendizagem, de maneira que a
discussão permita pensar o que pode ser feito antes
mesmo de se instalar uma situação de dificuldade
propriamente dita.

Para iniciarmos um estudo a respeito do fracasso


escolar e os multifatores que estão envolvidos na
dificuldade de aprendizagem, é preciso pensar no
processo de aprendizagem. A questão que se coloca é:

QUANDO E COMO COMEÇA A APRENDIZAGEM?

Rubinstein, em seu livro “O Estilo de


Aprendizagem e a Queixa Escolar: entre o saber e o
conhecer”, assim escreve:

A aprendizagem escolar é
predeterminada por uma
aprendizagem informal que ocorre no
seio familiar desde que o bebê existe e
atravessa o universo escolar.
(Rubinstein, 2003: 74)
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 12

Se considerarmos a predeterminação de uma

Para refletir aprendizagem informal, consideramos também a


importância desse outro (família ou quaisquer
As mães são as cuidadores) que, sendo próximo do bebê, vai lhe
primeiras
educadoras de uma apresentando o mundo e suas leis.
criança.
Pode-se, então,
refletir que diversas
carências vividas Como afirma Lajonquière,
nos primeiros anos
de vida são marcas as aprendizagens têm lugar porque há
muito fortes no
processo de
um adulto que pede ao sujeito que
aprendizagem. conheça uma ou outra coisa.
Entretanto, não se (Lajonquière apud Rubinstein,
pode dizer que é um 2003:81).
destino de fracasso
de aprendizagem.
Sendo assim, podemos considerar que a
natureza das expectativas do outro significativo ao
bebê é um fator importante na constituição da
complexidade do processo de aprendizagem tanto no
seu sentido informal quanto no formal.
Dica de
leitura
Desde o início da vida, o bebê se depara com a

No livro Sucesso expectativa, por parte dos que o cercam, de que ele
Escolar nos Meios
Populares – As aprenda como todo mundo, de que ele absorva os
Razões do
valores culturais, as regras sociais, que responda
Improvável
(LAHIRE, Bernard. positivamente as expectativas depositadas nele.
Tradução de Ramon
Américo Vasques e
Sonia Goldefer, São
Paulo: Ática, 1997), Freud, em 1930, concluiu:
o autor disserta que
o bom ou o mau
desempenho escolar A transmissão cultural permitirá a
não está sobrevivência individual e coletiva do
necessariamente
ligado às condições
grupo humano, e essa transmissão se
socioeconômicas do dará pela educação.
aluno, e demonstra (Freud apud Rubinstein,
que existem razões 2003:27)
culturais mais
amplas para explicar
o sucesso e o Não é possível dissociar aprendizagem,
fracasso escolar.
educação e processo civilizatório. Só podemos pensar
na aprendizagem considerando, simultaneamente, a
cognição e o desejo. Nesse sentido, a constituição do
sujeito psíquico, dentro da visão freudiana, possibilita
um olhar para o sujeito da aprendizagem por levar em
conta a complexidade dos fatores envolvidos. O que se
destaca é que na relação ensino aprendizagem se torna
presente a intersubjetividade.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 13

Ainda que o educador dirija sua atenção para as


chamadas funções egóicas, mas ao considerar o sujeito
da aprendizagem, tem que se levar em conta a
existência do inconsciente.

É essa visão que permite ao educador


compreender o processo de aprendizagem e, mais
especificamente, as possíveis dificuldades de
aprendizagem, a partir da estrutura psíquica, que é
fruto do interjogo entre o social, a dinâmica do
inconsciente e a inteligência. Dica da
professora

As conseqüências dessa visão


interferem nas condições de Lembramos que no
espaço escolar é
intervenção, sejam elas de natureza
possível colocar a
individual ou coletiva, pois o sujeito da ênfase do trabalho
aprendizagem deve surgir em primeiro na prevenção das
plano dificuldades de
aprendizagem.
(Rubinstein, 2003:100).

A dinâmica do inconsciente deve ser levada em


conta, visto que em várias situações a dificuldade de
aprendizagem não decorre somente de fatores
orgânicos, não é ele o responsável pelo fato do sujeito
da aprendizagem não reter o conhecimento. Pois, ainda
que o sujeito tenha contato com o conhecimento
transmitido, não lhe é possível se apropriar deste,
então, não se apodera e por isso não consegue retê-lo.

Fatores presentes nas dificuldades de


aprendizagem

Várias são as razões que levam o


sujeito a posicionar-se de forma a não
querer saber, como salienta Rubinstein
“... é o sujeito que tem o poder de
fazer suas escolhas conscientes e
inconscientes sobre o que deseja
saber.
(2003:110)

Muitas vezes, para a criança,


apropriar-se de um conhecimento traz
a atualização de um conflito, coloca-a
em risco e por isso tal apropriação é
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 14

evitada. “A criança pode tornar-se um


conhecedor ou aprendiz inibido caso
seus pais desejem resguardá-lo de
conhecimentos que a ameacem”.
(Zelan apud Rubinstein,
2003:105)
Importante
Para que se possa fazer o diagnóstico de um
Quando se coloca problema de aprendizagem, devemos levar em
em evidência um
conjunto de fatores consideração alguns fatores. Sara Pain, em seu livro
envolvidos no
diagnóstico e “Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de
tratamento dos
problemas de Aprendizagem”, destaca como fundamental a
aprendizagem, deve
ser observado consideração dos seguintes fatores:
também que a
prevenção dos
mesmos nem
sempre é possível. Fatores orgânicos
Pois existem
situações em que o
aluno é transferido
durante o ano letivo,
Embora perturbações orgânicas (hipoacusia,
trazendo consigo miopia, desnutrição, lesões neurológicas) não se
uma história de
antecedentes constituam como causa suficiente para o aparecimento
sombrios em outras
instituições de do problema de aprendizagem, estes aparecem como
ensino.
causa necessária.

Perturbações orgânicas podem ter como


conseqüência problemas cognitivos, que variam em
gravidade, mas que não configuram, por si sós, um
problema de aprendizagem. Se o organismo apresenta-
se em equilíbrio, o sujeito pode viabilizar o exercício
cognitivo e encontrar outros caminhos que não afetem
seu desenvolvimento intelectual.

Para pensar
Fatores específicos
Completar o
diagnóstico ou a
avaliação com o Existem certos transtornos na área da
auxílio de
especialistas, por adequação perceptivo-motora que, embora se suspeite
vezes, é
fundamental. de uma origem orgânica, não é passível de verificação.
Desde que isso não
sirva para Esses transtornos aparecem no nível da aprendizagem
discriminar e excluir
o aluno, que poderá da linguagem, sua articulação, sua lecto-escrita e
ser identificado
como o portador de manifestam-se em algumas perturbações, tais como:
tal problema ou
estigma.
inaptidão gráfica, impossibilidade de construir imagens
claras de fonemas, sílabas, palavras etc.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 15

Podemos também encontrar dificuldade no nível


da análise e síntese dos símbolos, na aptidão sintática,
na atribuição significativa. Esses processos podem
apresentar-se sem que possam ser relacionados com
qualquer dano cerebral localizado que justifique as
perturbações decorrentes.

Fatores psicogênicos

Aqui convêm diferenciar duas possibilidades para


o fato de não aprender: na primeira, este constitui um
sintoma, onde se supõe a prévia repressão de um
acontecimento que a operação de aprender, de alguma
forma, significa, traz à tona; na segunda, trata-se de
uma retração intelectual do ego que pode se dar,
segundo Freud, em três oportunidades.

Essas três oportunidades de retração intelectual


do ego são destacadas por Sara Paín, em seu livro “A
Função da Ignorância”, da seguinte forma:

 Quando os órgãos intervenientes na ação de


aprender sexualizam-se; neste sentido, a
função do órgão fica desviada de seu destino
original;

 Quando o sujeito evita o sucesso,


apresentando, no momento preciso de obtê-
lo, um comportamento de fracasso de si
mesmo que pode ser interpretado como
autopunição da ambição. A paralisia das
operações mentais parece-nos constituir um
verdadeiro sintoma ligado ao sistema
fracasso/sucesso que caracteriza a simbólica Quer
saber mais?
das trocas intelectuais;

Para saber mais,


 Nas situações em que o “eu” exige e requer visite o site:

toda a energia psíquica disponível, por http://www.aomestr


ecomcarinho.com.br
exemplo, durante o período de luto. Nos /
acontecimentos que comportam uma perda
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 16

(tais como: morte, mudança de residência, de


escola ou de professor) põe-se o problema do
esquecimento e do valor das coisas
aprendidas que não são mais úteis.

Os fatores psicogênicos dos problemas de


aprendizagem se confundem então com sua
significação, entretanto, é importante destacar que não
é possível assumi-lo sem levar em consideração,
também, as disposições orgânicas e ambientais do
sujeito. Desta forma, o não aprender se constitui como
inibição ou como sintoma sempre que se dêem outras
condições que facilitem esse caminho. (Paín, 1985:32).

Fatores ambientais

Aqui se inclui o meio ambiente material do


sujeito, as possibilidades oferecidas por seu meio, a
quantidade e a qualidade dos estímulos que compõem
o campo de aprendizagem habitual do sujeito. O fator
ambiental é especialmente determinante no diagnóstico
do problema de aprendizagem, na medida em que nos
permite compreender sua coincidência com a ideologia
Dica de
leitura e os valores vigentes no grupo. Nesse sentido, não
basta situar o aluno numa classe social, é preciso
BAETA, Anna Maria
conhecer qual o seu grau de consciência e participação.
Bianchini.
Ajudando a
desmistificar o
fracasso escolar. Para pensarmos a produção do Fracasso Escolar,
São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2000. antes de tudo, precisamos saber que nunca há uma
RUBINSTEIN, Edith causa única para a produção desse fracasso, suas
Regina.
O estilo de causas são múltiplas e diversas. É essa conjunção de
aprendizagem e a
queixa escolar: causas intrincadas que têm o poder de agir uma sobre
entre o saber e o
conhecer.
as outras tornando o fracasso escolar uma questão
São Paulo: Casa do complexa, composta por todos os elementos acima
Psicólogo, 2003.
descritos e estudados.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 17

Fracasso escolar e dificuldade de


aprendizagem

Para podermos pensar a dificuldade de


aprendizagem, é preciso, antes de tudo, traçar uma
distinção entre Fracasso Escolar e Problema de
Aprendizagem.

É certo que o fracasso escolar pode desencadear


um problema de aprendizagem que, de outro modo,
não teria aparecido, mas como destaca Alicia
Fernández, em seu livro “Os Idiomas do Aprendente”
(2001), o fracasso escolar é um fracasso na
aprendizagem que está apoiado no sistema educativo.
Logo, deve ser pensado a partir deste.

No fracasso escolar, há um hiato entre a


modalidade de aprendizagem do aluno e a modalidade
de ensino da escola, embora nesse caso o sujeito não
tenha ainda sofrido uma alteração na sua modalidade
de aprendizagem. O problema de aprendizagem é
também um fracasso na aprendizagem, mas um
fracasso que se revela, principalmente, na criança e seu
meio familiar. Pois, como sabemos, decepciona a
expectativa dos pais e frustra a possibilidade e desejo
de aprender do aluno.

Sabemos que, tanto no fracasso escolar quanto


no problema de aprendizagem, o aluno mostra que não
aprende, mas no primeiro caso devemos intervir sobre
as modalidades de ensino da escola, visto que o
fracasso escolar se dá como um problema de
“aprendizagem reativo”, ou seja, como uma resposta à
situação escolar, que afeta o aprender do aluno em
todas as suas manifestações sem chegar a afetar sua
modalidade de aprendizagem.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 18

O importante seria que todos os educadores


percebessem que o dito fracasso escolar de um
educando está diretamente vinculado ao fracasso
institucional e ao reducionismo pedagógico de algumas
instituições de ensino que se negam a compreender os
erros escolares como oportunidade de novas
construções. O erro é a própria identificação de uma
dificuldade para análise do educador sobre o
conhecimento e o aprendizado de seu educando.
Dica de
leitura
O rótulo de fracasso dado a um aluno deve, no
PATTO, Maria Helena mínimo, ser partilhado pelo professor, pela escola, pelo
Souza. A Produção
do Fracasso Escolar: sistema de ensino e pela família, pois todos estes não
Histórias de
Submissão e estão desvinculados da história do educando. Afinal de
Rebeldia. São Paulo:
Casa do Psicólogo,
contas, a sua aquisição de conhecimento se constituiu
1999.
por estas experiências de aprendizado advindo de sua
família, seu meio social e sua vida escolar.

Pode-se dizer que o professor, por não ter todas


as competências necessárias para atendê-lo e acima de
tudo não ser capaz de lançar outros olhares sobre o
potencial do educando, deixa, então, de singularizar a
relação com o aluno que permitiria um vínculo mais
favorável ao processo de aprendizagem.

A escola por falhar em sua organização,


planejamento e orientação pedagógico-educacional
acerca do processo evolutivo do educando. Não
esquecendo, também, do processo de avaliação que
contribui para a discriminação e exclusão de alunos. O
sistema educacional que muitas vezes se apresenta
desarticulado, descontextualizado e com regras mal
definidas. Fazendo com que o aluno se sinta um
estranho na escola, originando um processo reativo em
relação à mesma. Não raro se ouve dos alunos que seu
desinteresse pelo aprendizado ocorre muito pelo fato de
não entender para que aprende tanto conteúdo na
escola que não será aproveitado no futuro. Principalmen-
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 19

te, no item inclusão, destacamos o fato de existirem


atividades inadequadas às condições reais dos alunos.

A família, como representante de uma herança


cultural que por vezes é anacrônica, desfavorece a
Dica da
integração do educando com a escola. A escolha da professora

escola para os filhos reveste os pais de um desejo que


Estas características
muitas vezes não leva em consideração o desejo e as apontadas ao lado
provocam muitos
possibilidades de seus filhos. Os pais acabam por impasses nos alunos
que não querem
contemplar facilidades como: proximidade da escola a frustrar as
casa, equiparação de ensino com vizinhos e parentes, a expectativas dos
pais e, ao mesmo
impossibilidade financeira e outros. Mas, nota-se uma tempo, não têm
condições de
ausência de critérios para garantia do bem-estar do corresponder às
mesmas. Outras
filho na relação com a escola, os colegas de estudo e o vezes geram
rebeldias e
aprendizado. insatisfações que os
afastam do processo
de aprendizagem.
OUTRAS VISÕES SOBRE O FRACASSO ESCOLAR

Anny Cordié (1996), em seu livro “Os Atrasados


Não Existem”, chama atenção para o seguinte:

O fracasso escolar é uma patologia


recente. Só pôde surgir com a
instauração da escolaridade obrigatória
no fim do século XIX e tomou um lugar
considerável nas preocupações de
nossos contemporâneos em
conseqüência de uma mudança radical
da sociedade. Também, nesse caso, não
é somente a exigência da sociedade
moderna que causa os distúrbios, como
se pensa muito freqüentemente, mas
um sujeito que expressa seu mal-estar
na linguagem de uma época em que o
poder do dinheiro e o sucesso social
são valores predominantes. A pressão
social serve de agente de cristalização
para um distúrbio que se inscreve de
forma singular na história de cada um.
(Cordié, 1996:17)

É importante destacar que, numa situação de


fracasso escolar, o sujeito é afetado em sua totalidade,
ele sofre por não corresponder as suas aspirações, o
que abala sua auto-estima, compromete sua confiança em
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 20

si mesmo e em suas potencialidades, restringe e


aprisiona sua ação na direção de novas aquisições.

Dica de
O fracasso escolar também atinge o ser social do
leitura sujeito, pois ele sofre por não conseguir corresponder
ao que se espera dele, sofre por não conseguir
BOSSA, Nádia.
Fracasso Escolar: acompanhar seu grupo, sofre por ter que se deparar,
Um Olhar
Psicopedagógico. muitas vezes, com o descrédito dos que lhe cerca.
Porto Alegre: Artes
Médicas, 2002.
Neste livro, a autora O discurso do entorno sempre busca localizar no
destaca o aspecto de
sintoma do fracasso sujeito todas as causas do seu fracasso, para isso
escolar que, ao
mesmo tempo, é alegam, muitas vezes, que a escola é boa, o ensino é
singular e plural,
tendo em vista as
de qualidade, o professor é qualificado, porém o aluno
condições individuais é que não consegue aprender, não quer prestar
e sócio-culturais.
atenção ou tem preguiça.

Sabemos também que a qualidade do ensino


ministrado não garante o sucesso nos estudos, pois
vários fatores entram em jogo para dificultar o alcance
do nível de instrução exigido hoje.

Anny Cordié (1996) ressalta:

Já podemos salientar o quanto a rapidez


da transformação social inverteu os
Importante velhos esquemas de transmissão da
herança cultural. Muitas vezes, há
discordância entre as tradições
Ainda que seja
importante destacar familiares e os novos modos de vida.
o papel da escola Essa ruptura brutal implica conflitos
quando proporciona entre gerações, conflitos que são eles
a circulação dos
próprios, fontes de fracasso escolar
saberes de uma
cultura, mas é (Cordié, 1996:19).
também importante
destacar as
exigências desta O sujeito, ao se deparar com uma situação de
juntamente com
todos aqueles fracasso escolar, vê-se diante de uma angústia que o
envolvidos na ação
educacional em
paralisa, que, muitas vezes, ele não consegue
colocar parâmetros
identificar e que tem sua fonte nas exigências dos pais,
ideais de
aprendizagem que na pressão social, nos conflitos inerentes à construção
não podem ser
igualmente do ego. Existem fortes evidências, hoje em dia, de
cumpridos por todos
os alunos. estatísticas sobre a depressão infantil, por exemplo,
que se relacionam com aspectos acima referidos.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 21

A criança percebe muito bem que ela tem que


responder a uma expectativa, ela aprende bem cedo
que lhe é dirigida uma demanda, que se espera que ela
aprenda e seja bem-sucedida em suas incursões pelo
mundo. A inquietação dos pais com as performances
intelectuais e as possibilidades de sucesso dos filhos
encontra eco na escola, onde o sujeito vai deparar-se
com educadores que sustentam o discurso do sucesso
como oposição ao fracasso, educadores que
demandaram dele bons resultados que possibilitem a
aprovação para a série subseqüente. Sem que tenham
sido respeitados o ritmo do aluno e sua própria
condição de desenvolvimento pessoal e escolar.

Essa exigência que surge dentro da sala de aula,


que se torna presente pelo professor na relação com seu
aluno, muitas vezes, tem sua raiz no fato de que o
reconhecimento do professor, a qualidade do seu ensino é
auferida a partir dos resultados apresentados por sua
turma. Além da expectativa dos pais, vai pesar sobre o
sujeito a expectativa dos seus educadores, que esperam
que ele seja “capaz” de acompanhar seu grupo e de não
lhe causar maiores transtornos. Afinal, aluno bom é
aquele que não incomoda, assim diz o dito comum.

Anny Cordié (1996) afirma:


Para refletir
(...) São, portanto, os bons resultados
dos alunos que fazem os bons mestres
serem reconhecidos pela hierarquia: Neste livro, a autora
descreve o mal-
direção, inspeção acadêmica etc. e pelos estar causado pelo
pais de alunos. A angústia que essa fato de, atualmente,
competitividade gera, se ela se o fracasso escolar
manifesta em todos os níveis, ser considerado
sinônimo de fracasso
parecemos mais particularmente nocivas de vida. Entendendo
durante os primeiros anos da que a criança
aprendizagem escolar. De fato, a precisa ser bem
inquietude ligada às performances sucedida na escola
para garantir um
suscita na criança um questionamento futuro promissor no
permanente: conseguirá passar de ano? sentido que lhe
Terá “maturidade” suficiente? Possuirá permita acesso ao
todas as capacidades intelectuais que se consumo de bens e
serviços.
supunha que tivesse? Os julgamentos
sobre ela terão sérias conseqüências e
serão, às vezes, determinantes para o
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 22

prosseguimento da escolaridade, pois


podem modificar e até mesmo
deteriorar grandemente as relações com
o ambiente
(Cordié, 1996:24).

Mais uma vez constatamos que são múltiplas as


causas que interferem na produção do fracasso escolar,
Importante
várias são as situações que cristalizam o sujeito na
posição de não querer saber.
A inibição surge na
medida em que cada
criança reage
diferente frente aos Anny Cordié, em “Os Atrasados Não Existem”,
conflitos internos, ou
melhor, conflitos chama atenção que na fonte de todos esses bloqueios
psíquicos.
Entretanto, qualquer encontra-se o mesmo fenômeno de paradas nas
que seja a forma
pela qual a criança operações do pensamento, fenômeno que é chamado
enfrenta estes
conflitos, sem de inibição.
dúvida alguma,
haverá efeitos sobre
sua inteligência A inibição pode manifestar-se em diferentes
lógica e seu
interesse na campos, mas nas situações de fracasso escolar
aprendizagem
escolar. falamos, especificamente, da inibição intelectual, da
inibição para aprender, inibição que denuncia a
interdição da pulsão de saber. Popularmente, à inibição
se refere certo recato e timidez que são valorizados
enquanto sinais de respeito à autoridade.
Dica de
leitura
Muito embora tenhamos que reconhecer a
KUPFER, Maria importância das descrições e estudos feitos a respeito da
Cristina Machado.
Freud e a Educação: inibição mental, sabemos que isso não basta para dar
O Mestre do
Impossível. São conta da complexidade do problema. Sabemos que não
Paulo: Scipione,
1989. A autora adianta interpretar todo e qualquer problema de
trabalha com
conceitos da aprendizagem como uma inibição intelectual que
psicanálise e
aprofunda a idéia do acompanha situações neuróticas.
desejo de saber.

A seguir, serão apresentadas e trabalhadas as


idéias de inibição e de sintoma, a partir dos conceitos
extraídos da obra de Sara Paín. A autora recorta de
certa forma a idéia antes discutida por Freud, mas
insere uma abordagem da dinâmica escolar envolvendo
todos os agentes presentes no processo de
aprendizagem, com relevo maior para o aluno.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 23

Inibição e sintoma: as duas faces da


ignorância

Sara Paín, em “A Função da Ignorância”,


descreve duas possibilidades para dar conta do
comportamento de não aprendizagem: a Ignorância
como inibição e a Ignorância como sintoma. A distinção
entre inibição e sintoma é pautada na diferenciação
feita por Freud, em seu texto de 1925, “Inibição,
Sintoma e Angústia”, onde a palavra inibição aplica-se
ao enfraquecimento de uma função e a palavra sintoma
à transformação dessa função.

EXERCÍCIO 1

Não estaria a educação seguindo tão somente um


modelo médico quando se preocupa principalmente
com a verificação exploratória de um organismo (no
caso do aluno) que não apresenta seu funcionamento
de acordo com o esperado?
Qual o espaço existente na escola para discussão dos
aspectos afetivos, presentes nos alunos, que afetam a
aprendizagem?
Responda a essas questões como se fosse um diálogo:

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

IGNORÂNCIA COMO INIBIÇÃO

Nesse caso, a não aprendizagem corresponde a


uma retração intelectual do eu. Segundo Freud, essa
retração pode aparecer em três ocasiões (na
sexualização dos órgãos intervenientes na ação de apren-
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 24

der, na evitação do sucesso como autopunição, nas


situações de luto). As perturbações por causa da
inibição ligam-se a situações mais pontuais, eventos
reais ou simbólicos da vida afetiva.

IGNORÂNCIA COMO SINTOMA

Nesse caso, as perturbações são permanentes, a


ignorância, aqui, apresenta-se como representante de
uma relação patológica entre o sujeito e o
conhecimento. Para Freud, também o déficit cognitivo
pode constituir um sintoma. Ele supõe, então, que
houve um recalcamento prévio de um acontecimento
cuja ação de aprender constitui a significação
substituída.

Sara Paín ressalta a necessidade de restituir ao


conhecimento e à atividade cognitiva a alegria que foi
pervertida sob a forma de ignorância para que se possa
ajudar a criança a sobrepujar sua perturbação, já que
não basta denunciar o papel da perturbação como
defesa. Destaca para isso a importância do papel do
professor nesse processo, a necessidade de que haja
investimento pessoal, por parte deste, no resgate do
interesse de aprender. Assim conduzindo, o professor
cria um espaço de aproximação e diálogo com o aluno
que favorece canais de expressão, conseqüentemente,
aproxima também o aluno da aquisição do
conhecimento novamente.

Paín (2003) posiciona-se sobre o papel do


educador, ressaltando:

A tarefa que damos à criança não é


para ensinar-lhe coisa alguma porque,
verdadeiramente, nada ensinamos.
Nem a fazer contas, nem a escrever. O
que buscamos é devolver-lhe (porque
em algum momento de sua vida deve
tê-lo experimentado) o interesse de
aprender, o interesse por si mesma, o
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 25

interesse de poder ser sujeito de uma


ação inteligente.
(Paín apud Rubinstein, 2003:122)

O papel do professor na produção, cristalização


ou superação do fracasso escolar também é discutido
Quer
por Maria Helena S. Patto (1999), em seu livro “A saber mais?

Produção do Fracasso Escolar”. A pesquisa realizada,


pela autora, numa escola de ensino público na periferia Para saber mais,
visite o site:
de São Paulo a faz constatar que:
http://www.abceduc
atio.com.br/
(...) portadoras do desprezo social
generalizado pelas classes “baixas”, as
educadoras que se encarregam das
primeiras e segundas séries na escola
do Jardim dedicam-se diariamente a
práticas pedagógicas autoritárias,
arbitrárias e mais comprometidas com
interesses particulares do que com os
interesses da clientela
(Patto, 1999:249).

Qualquer trabalho voltado para a prevenção e/


ou superação do fracasso escolar deve levar em conta a
importância do educador, da escola, da família, da
equipe pedagógica nesse processo. O educador deve
estar atento à necessidade de aproximação entre as
instituições escola e família, deve buscar promover
espaços de troca, discussão, reflexão entre os
professores, equipe, pais, alunos, para que se possa
falar das dificuldades e apostar nas potencialidades,
para que se possa resgatar o prazer de aprender, de
desvendar o mundo.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 26

EXERCÍCIO 2

O educador tem um papel de agente de inclusão social


também.
Exemplo disto seria a sua reflexão constante sobre qual
a função das dificuldades de aprendizagem na dinâmica
relacional de uma criança e de sua família?
O que você pensa sobre isto? Procure escrever suas
idéias.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

A criança que apresenta uma situação de


fracasso escolar pode despertar no professor
sentimentos hostis, na medida em que o desempenho
do professor, muitas vezes, é avaliado a partir dos
resultados apresentados por seu grupo de alunos na
turma. Com isso, o professor perde a oportunidade de
criar situações que resgatem no aluno o desejo, o
prazer de aprender.

No lugar de apostar na superação das


dificuldades de seus alunos, de trabalhar as
potencialidades, valorizar os ganhos e conquistas feitas
por cada um, o professor rechaça, despreza, desinveste
esse aluno de sua atenção. Acreditando que o fraco
desempenho é fruto da má vontade do aluno, acaba
por rotulá-lo de preguiçoso, agressivo, desatento,
agitado, problemático etc. Eximindo-se, assim, de
qualquer participação nesse fracasso.

Com relação ao problema de aprendizagem, seja


na constituição de um sintoma de dificuldade para a
criança/adolescente, ou então, seja na forma de uma inibi-
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 27

ção cognitiva, o sujeito tem sua dinâmica de articulação


entre os níveis de inteligência, desejo, organismo e
corpo afetada, o que leva a quase um impasse da sua
modalidade de aprendizagem e ao aprisionamento da
inteligência.

Mas para entender esta significação é preciso


descobrir a funcionalidade da dificuldade de
aprendizagem como sintoma dentro da estrutura
familiar, assim como é preciso que se aproxime da
história singular da criança/adolescente para se analisar
os fatores que influenciam nessa situação específica.

O fracasso escolar, entretanto, afeta a


criança/adolescente em sua totalidade e esta, diante do
fracasso, sente-se subestimada por não conseguir
responder às expectativas dos pais e dos professores.
O grupo escolar que a criança participa, bem como os
professores, tem um lugar privilegiado de
reconhecimento das aptidões que são medidas a partir
dos resultados avaliativos, além disso, o modo como os
outros a definem tem um papel importantíssimo nas
construções identificatórias que levam à formação da
identidade.

EXERCÍCIO 3

Pesquise um pouco mais sobre construção de


identidade, pois desta depende grande parte do
amadurecimento dos adolescentes e o futuro ingresso
na vida adulta.
Registre aqui suas idéias.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 28

A resposta do meio, ao sujeito que não aprende,


reforça uma imagem sumamente desvalorizada de si
mesmo. A sociedade e a própria instituição escolar,
muitas vezes, não se encarregam desse problema, e a
criança fica marginalizada. Embora, algumas vezes,
esse seja o efeito buscado, pois, inconscientemente, a
imagem que provoca acaba redundando, de maneira
dialética, na deteriorização da auto-imagem da criança.

Sara Paín (1982) assim escreve:

Na produção da problemática da
aprendizagem, intervêm fatores que
dizem respeito ao socioeconômico, ao
educacional, ao emocional, ao orgânico
e ao corporal, tendo relevância para
sua terapêutica e prevenção o encontro
entre diferentes áreas de
especialização (psicopedagogia,
psicanálise, pedagogia, pediatria,
sociologia etc.). Com relação à
Psicopedagogia, devemos buscar
oferecer espaços onde se possam
realizar experiências com professores
que favoreçam o processo de
identificação e potencialização de
possibilidades singulares de cada
pessoa, a aposta deve ser feita numa
modalidade de aprendizagem que
favoreça essa troca.

O educador deve levar em consideração todos os


aspectos que envolvem as condições de aprendizagem
atuais e pregressas, contemplando, assim, aspectos
familiares, metodológicos, ambientais, profissionais.
Sendo assim, é analisar os fatores que intervêm,
favorecendo ou prejudicando a aprendizagem numa
determinada instituição.

Desta forma, podendo atuar em


INTERDISCIPLINARIDADE com os diferentes saberes
que envolvem os problemas de aprendizagem.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 29

EXERCÍCIO 4

Qual seria a forma de se trabalhar com a


interdisciplinaridade?
Muito tem se falado sobre a utilização dos Temas
Transversais sugeridos pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais.
Escreva o que pensa sobre isso:

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Entendendo o fracasso escolar como uma


resposta reativa à situação escolar, é possível também
observar o enrijecimento da modalidade de
aprendizagem como conseqüência do impedimento
imposto ao sujeito de ser autor da sua própria história.

Como destaca a autora argentina Silvia


Iannantuoni (1996):

A escola como instituição tende à


submissão a determinadas pautas, em
vez de promover o fato artístico e a
autoria da produção; não surpreende o
fato de que não conte a possibilidade
de questionar a si mesma. As
respostas de que “as crianças não
lêem”, “não gostam de ler”, “escrevem
sempre as mesmas orações”,
“apresentam muitos erros de
ortografia” etc., sempre encontram
linearmente suas causas fora do
ambiente escolar. Não servem para
questionar-se dentro dele.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 30

PERGUNTA, ENTÃO:

COMO A ESCOLA PODE PROPICIAR O


SURGIMENTO DE SUJEITOS ESCRITORES,
REPRESENTANTES DE SUAS IDÉIAS, GESTORES DE
ATOS CRIATIVOS?

Talvez não apenas enunciando-os formalmente


em objetivos e/ou expectativas de sucesso. Mas
possibilitando que os educadores possam se mostrar
como modelos de autoria de pensamento e de palavra,
como sujeitos que possam desmontar seus “duendes e
princesas”, porque, como pretender que o aluno que
vai à escola seja um sujeito construtor de suas próprias
aprendizagens, se não se outorga ao professor que,
como ensinante, se encontre com sua própria autoria?

É importante que o fracasso escolar possa ser


falado e escutado, antes que a modalidade de aprendiza-
gem torne-se patológica, o que já se configuraria como
um problema de aprendizagem. Problema porque
instalado no aluno, esse se verá como único
responsável pelo seu fracasso e sem recursos internos
possíveis, na medida em que sua auto-estima estará
fortemente abalada.
Dica de
leitura
A condição de patologia desvia o educando do
MINGUET, Pilar principal objetivo educacional que é educar, pois o
Aznar (org.).
A construção do aluno estrutura uma auto-imagem de derrota e se
conhecimento na
educação. Porto distancia cada vez mais da possibilidade de ação
Alegre: Artmed,
1998 Educacional. Tomando, então, para si, toda a
responsabilidade do insucesso, a escola fica isenta de
qualquer responsabilidade no fracasso.

PERSPECTIVA PREVENTIVA

Pensar numa perspectiva preventiva trata-se,


antes, de trabalhar baseado em variáveis que a prática já
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 31

anuncia como fatores de importância na produção do


fracasso escolar.

Nesse sentido, o educador também convoca Importante

todos a uma reflexão sobre o seu fazer, sobre sua


Pensar a educação e
implicação no processo que produziu as dificuldades, e o aprendizado em
convoca a um reconhecimento da autoria de sua termos preventivos
é estar pensando o
história, do seu pensamento, fazendo com que cada um modo de avaliar, na
escola, a maneira de
possa tirar proveito do que tem para dar e do que pode distribuir o conteúdo
programático, a
receber. forma de criar
espaços de interação
entre a escola e a
Para que isso aconteça, é necessário que os família, por
exemplo.
professores sejam estimulados a escutar a si próprios, Cabe aos gestores, à
equipe pedagógica e
reconheçam-se como importantes e se tornem aos professores, na
medida do possível,
implicados nesse processo de aprendizagem. O se anteciparem
frente às
professor precisa reconhecer o quanto pode ajudar, a dificuldades que
possam ter que ser
partir do momento que olha de maneira diferente para enfrentadas.
esse aluno que apresenta uma reação à situação
escolar (fracasso escolar). Olhar esse aluno de maneira
diferente é poder se identificar como uma das partes
que contribui na produção desse fracasso.

O educador deve propiciar a abertura de espaços


onde seja interrogado sobre, por exemplo, “o que é a
inteligência?”. Para que nesses espaços possa,
também, constatar que as modalidades de
aprendizagem se tornam patológicas quando não são
dados os espaços de autoria do pensamento, espaços
onde se avalie a implicação da modalidade de
aprendizagem do professor na sua modalidade de
ensino.

Pensar nas variáveis que implicam a apresentação


desse tipo de resposta ao aprender já circunscreve um
campo de atuação voltado para a prevenção, ou seja, se
ocupar da dificuldade de aprendizagem antes que ela
possa se consolidar com conseqüências mais
devastadoras, que corresponde ao aprisionamento na
não-mudança, à perda do prazer de aprender, à impossi-
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 32

bilidade de se apropriar da sua história, de se apropriar


das experiências vividas para poder autorizar-se autor
do seu pensamento.

A produção de maior valor do sujeito autor não é


o conhecimento que ele vai incorporar no processo de
aprendizagem, mas o quanto é capaz de transformar a
Para pensar situação na qual está aprendendo, o que significa dizer
que o sujeito é também ativo quando transforma a
A idéia de prevenção situação educativa, o professor e/ou seus
faz parte das
situações de saúde e companheiros, apropriando-se assim de sua autoria.
doença, mas
também podemos
pensar em relação
às condições de Podemos pensar como prevenção à dificuldade
aprendizagem.
Pensando assim, de aprendizagem a prevenção ao fracasso escolar que
poderemos criar
meios e estruturas se respalda no movimento que possibilita espaços de
para evitar os
possíveis
discussão, reflexão, com os professores, equipe
sofrimentos que
pedagógica, para que estes possam despertar para um
serão vividos por
adolescentes e pais novo olhar sobre o aprender, ressignificando a sua
nos conflitos
provenientes das implicação nessa troca que se dá no processo de
conseqüências do
não aprender. aprendizagem, podendo com isso permitir-se à
surpresa de aprender, ensinando e, além disso, poder
ser o portador de um conhecimento a ser vivido,
experimentado e não o portador de um saber
inquestionável. É na medida em que o professor se
permite ser doador/receptor que se abre à possibilidade
de valoração desse encontro, dessa troca no espaço
educacional.

Conclusão

O principal destaque nesse processo do


aprender/ensinar é que se deve orientar, enfocar,
valorizar os aspectos saudáveis que se apresentam nas
trocas estabelecidas, sem perder de vista a importância
de que cada sujeito tenha a potencialização de suas
habilidades, interesses, a partir do reconhecimento de
sua história, de seu papel criativo e de sua autoria.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 33

Essa relação é recíproca e propicia meios,


recursos, ferramentas que possibilitam ao sujeito
encontrar as saídas para suas dificuldades. Assim,
escreve Alicia Fernández, no livro “Os Idiomas do
Aprendente”: Quer
saber mais?

Nossa concepção de aprendizagem


permite-nos e obriga-nos a estabelecer A autora Alicia
relações com aspectos saudáveis mais Fernández tem
vários livros
do que com a enfermidade. Ensinar
publicados em
está mais próximo de prevenir do que português,
de curar, e prevenir está mais próximo destacando
de estender a saúde do que de deter importantes
discussões sobre o
ou atacar a enfermidade.
processo de
(Fernández, 2001:44) aprendizagem tanto
no tocante ao
educando quanto ao
A partir da relevância do enfoque no educador.
Procure no site da
estabelecimento de relações com aspectos saudáveis Editora Artes
Médicas alguns
mais do que com a enfermidade, que se inclui nas desses livros.
ações de prevenção às dificuldades de aprendizagem, a
http://www.artesme
aproximação ESCOLA-FAMÍLIA. dicas.com.br/frame.
php3

O acolhimento, por parte da escola e do


educador, das dúvidas, das angústias, dos receios e das
exigências dos pais é o ponto mais favorável e que torna
possível implicá-los no processo de aprendizagem.
Assim, a participação de pais e familiares,
transformando a escola num espaço onde suas dúvidas,
anseios e temores possam se apresentar, serem
escutados e transformados em questionamento a
respeito do papel de cada um no processo de
aprendizagem e de produção do sucesso escolar.

Escutar os pais, entender suas expectativas com


relação à escola, à equipe pedagógica, aos filhos, e pó
der pensar com eles e não por eles, no papel atribuído
à escola, ao ensino e à educação. Desta forma, abre-se
caminho para que novas saídas sejam apontadas,
novas versões sejam alcançadas e muitos obstáculos
sejam vencidos.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 34

EXERCÍCIO 5

Contextualizar e compartilhar
Reflita sobre essas considerações na prática
educacional e escreva algumas propostas.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Conhecer o que os pais e os alunos esperam de


uma escola, do seu ensino, das trocas que nela se
processam é a melhor maneira de clarificar as
demandas e esclarecer expectativas que serão
impossíveis de serem satisfeitas, assim como viabilizar
objetivos, metas, execução de projetos, tendo sempre
a preocupação de enfocar o que as relações
construíram de mais saudável, criativo e
potencializador.

É preciso que os pais e os alunos façam parte da


escola, sintam-se pertencendo àquele espaço,
reconheçam-se como sujeitos-autores para que possam
se implicar, se envolver, pertencer, dialogar, criar,
despertar, ouvir e, acima de tudo, apostar e acreditar
no potencial de criação de cada um que lá estiver
implicado.

Enfim, o que buscamos ressaltar é que todo e


qualquer trabalho voltado para a prevenção e/ ou
superação do fracasso escolar deve levar em conta a
importância do educador, da escola, da família, da
equipe pedagógica nesse processo. Identificar as
demandas e, então, estabelecer e desenvolver a
parceria família-escola, no que se refere ao comprometi-
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 35

mento de ambas quanto ao processo de


desenvolvimento do educando. Só assim poderemos
falar, discutir, enfrentar as dificuldades, encontrar
alternativas, saídas, sustentar a aposta nas
potencialidades, para que se possa, então, resgatar o
prazer de ensinar, de aprender, de desvendar o mundo.

EXERCÍCIO 6

A equipe pedagógica deve orientar seu trabalho para


uma intervenção e não para uma interferência.
Entende-se por intervenção:

( A ) A anulação das possibilidades já existentes;


(B) A anulação das versões e condutas que a
instituição oferece;
( C ) A possibilidade de incluir um novo olhar, a busca
por saídas possíveis;
( D ) A mobilização dos alunos;
( E ) Uma reflexão dos professores.

EXERCÍCIO 7

A escola, ao criar espaços que permitam ao professor


encontrar-se com sua autoria e apropriar-se de sua
história, abre a possibilidade de que o professor:

( A ) Aprenda a ensinar;
( B ) Mude o seu método de ensino;
( C ) Resgate o prazer de ensinar;
( D ) Aproxime-se da equipe pedagógica;
( E ) Escolha mudar de enfoque, priorizando as
demandas familiares.
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 36

EXERCÍCIO 8

Explique a perspectiva preventiva que não está dirigida


diretamente ao aluno que apresenta fracasso escolar.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 9

Escreva sobre as duas faces da ignorância (inibição e


sintoma) segundo a autora Sara Paín.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO
Vimos até agora:

 Para se pensar a produção do fracasso


escolar, antes de tudo, é preciso saber que
nunca há uma causa única para a produção
desse fracasso, pois suas causas são
múltiplas, intrincadas e complexas, agindo
uma sobre as outras;

 É necessário que os professores sejam


estimulados a escutar a si próprios,
reconheçam-se como importantes e se tornem
implicados no processo de aprendizagem, pois
Aula 1 | Introdução às dificuldades de aprendizagem 37

este precisa reconhecer o quanto pode


ajudar, a partir do momento que olha de
maneira diferente para o aluno que apresenta
uma reação à situação escolar (fracasso
escolar);

 É possível pensar como prevenção à


dificuldade de aprendizagem a prevenção ao
fracasso escolar que se respalda no
movimento que possibilita espaços de
discussão, reflexão, com os professores,
equipe pedagógica, para que estes possam
despertar para um novo olhar sobre o
aprender, ressignificando a sua implicação no
processo de aprendizagem.
2
Transtorno da Leitura

AULA
e da Escrita e do
Cálculo Matemático
Maria Poppe
Apresentação

Esta aula é dedicada à apresentação e discussão dos tipos mais


freqüentes de dificuldades de aprendizagem, analisando
transtornos, deficiências e sintomas que afetam diretamente o
desenvolvimento e a aprendizagem dos educandos.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Analisar historicamente o enfrentamento das dificuldades de


aprendizagem nas escolas, desde o uso do discurso médico que
contaminou o mundo acadêmico para levantamento de
diagnósticos;
 Conhecer as áreas imprescindíveis da aprendizagem e
compreender sobre as principais deficiências e sintomas que
podem gerar transtornos específicos do aprendizado
(expressão escrita, leitura, matemática, comunicação/
linguagem);
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 40

Introdução

Para abordarmos os tipos básicos ou mais


freqüentes de dificuldade de aprendizagem de que trata
essa disciplina, devemos, inicialmente, expor aspectos
considerados fundamentais para esse campo.
Dica da
professora
As dificuldades de aprendizagem devem ser
A leitura desta 2º entendidas levando-se em conta suas raízes históricas,
aula, assim como os
demais, deve ser assim como devemos considerar todo o movimento que
bem cuidadosa e
sempre que se deu dentro desse campo, que teve como
necessário é
importante reler conseqüência o refinamento das definições e a
para acompanhar o
conteúdo das aulas
aproximação de um consenso.
subseqüentes.

Jesus N. García, no “Manual de Dificuldades de


Aprendizagem”, traça um histórico das definições
acerca das dificuldades de aprendizagem que resgata
toda a trajetória que possibilitou a formação e o
desenvolvimento desse campo. Jesus situa o início
desse movimento em 1800, com a apresentação do
trabalho de pesquisa de Gall, que se baseia nas
observações sobre adultos com lesões cerebrais. Gall
observou que determinadas pessoas adultas, devido a
uma lesão cerebral, perdiam a capacidade de expressão
de idéias e sentimentos mediante a fala, embora
permanecessem com suas habilidades intelectuais
intactas.

A seguir, apresentaremos, primeiramente, esta


visão histórica a fim de situarmos as principais formas
de conceituação das dificuldades de aprendizagem,
através das mudanças que ocorreram no processo de
aprendizagem.

UM POUCO DE HISTÓRIA

O período de 1800 a 1929, considerado os


primeiros anos da fase de fundação desse campo (das difi-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 41

culdades de aprendizagem), foi marcado pelo


desenvolvimento de posições teóricas baseadas na Para pensar

análise das conseqüências advindas das lesões


Ao longo das
cerebrais adquiridas.
mudanças
conceituais sobre
dificuldades de
Dejerine traz uma contribuição de peso ao aprendizagem,
podemos observar o
descrever o caso de um adulto que perdeu a quanto,
primeiramente,
capacidade de ler, mas não a de falar, sendo esse o foram valorizados os
aspectos
primeiro caso de alexia ocasionado por lesão cerebral, o maturacionais em
detrimento dos
que se denominou “transtorno adquirido de leitura”. aspectos ambientais
e metodológicos.
Assim sendo, o foco
estava no indivíduo
O período de 1930 a 1963, considerado o
que tinha problema,
período final da etapa de fundação, foi marcado pela isentando toda sorte
de dificuldades
preocupação com o desenvolvimento de intervenções advindas de modelos
de ensino
que possibilitassem aplicações terapêuticas dos inadequados ou
condições de
postulados teóricos. O interesse que, antes, baseava-se aprendizagem
inapropriadas.
nos adultos, cede lugar ao crescente interesse pelas
crianças com transtornos do desenvolvimento.

Em 1962, Kirk utiliza pela primeira vez o nome


“dificuldade de aprendizagem” e, em sua definição, as
dificuldades de aprendizagem teriam como causa uma
disfunção cerebral, ou uma alteração emocional-
condutal, centrariam-se em dificuldades nos processos
implicados na linguagem e nos rendimentos
acadêmicos, independentes da idade. Em sua definição,
Kirk aponta:

Uma dificuldade de aprendizagem


refere-se a um retardamento,
transtorno ou desenvolvimento lento
em um ou mais processos da fala,
linguagem, leitura escrita, aritmética
ou outras áreas escolares, resultantes
de um handicap causado por uma
possível disfunção cerebral e/ou
alteração emocional ou condutal. Não
é o resultado de retardamento mental,
de privação sensorial ou fatores
culturais e instrucionais.
(Kirk apud Jésus N. García, 1998, p.8)
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 42

Em 1965, Bateman propõe uma definição que


introduz o conceito de discrepância aptidão -
rendimento e enfatiza o papel da criança, não situa a
causa da dificuldade de aprendizagem nem tampouco
busca especificar os tipos de dificuldades encontradas.
Bateman apresenta a seguinte definição:

As crianças que têm dificuldade de


aprendizagem são as que manifestam
uma discrepância educativa
significativa entre seu potencial
intelectual estimado e o nível atual de
execução relacionado com os
transtornos básicos nos processos de
aprendizagem, que podem ou não vir
acompanhados por disfunções
demonstráveis no sistema nervoso
central, e que não são secundárias ao
retardamento mental generalizado, de
privação cultural ou educativa,
alteração emocional severa ou perda
sensorial.
(Bateman apud Jesus N. García, 1998,
p.8)
Para refletir
Durante todo esse período (1800 a 1963),
Mas, afinal, o muitas pesquisas foram desenvolvidas, muitos
diagnóstico servia a
quem? trabalhos foram publicados e muitas contribuições
Observamos que se foram feitas, o que possibilitou o nascimento do
tornou uma prática
freqüente a movimento das dificuldades de aprendizagem, surgindo
rotulação de
crianças, com isso um campo específico, com o desenvolvimento
considerando muitas
delas incapazes para de métodos de avaliação, de diagnóstico, e programas
a aprendizagem.
Por isso é relevante
específicos de intervenção.
trabalharmos de
forma diferenciada o
diagnóstico e a Em 1988, um comitê (National Joint Committee
avaliação, pois
diagnóstico é uma on Learning Disabilities - NJCLD), composto por
terminologia
utilizada na clínica representantes de 8 (oito) das mais importantes
médica.
Diferentemente, na organizações dos E.U.A, que se dedicam ao tema das
pedagogia
trabalhamos com dificuldades de aprendizagem, propõe uma definição,
avaliação para se
buscar a melhor considerada a mais consensual para se pensar a
forma de
recuperação de
dificuldade de aprendizagem, o NJCLD elabora assim:
conteúdos e
aproveitamento da
aprendizagem. Dificuldade de Aprendizagem (DA) é
um termo geral que se refere a um
grupo heterogêneo de transtornos que
se manifestam por dificuldades significa
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 43

tivas na aquisição e uso da escuta,


fala, leitura, escrita, raciocínio ou
habilidades matemáticas. Esses
transtornos são intrínsecos ao
indivíduo, supondo-se devido à
disfunção do sistema nervoso central,
e podem ocorrer ao longo do ciclo
vital. Podem existir, junto com as
dificuldades de aprendizagem,
problemas nas condutas de auto-
regulação, percepção social e interação
social, mas não constituem , por si
próprias, uma dificuldade de
aprendizagem. Ainda que as
dificuldades de aprendizagem possam
ocorrer concomitantemente com
outras condições incapacitantes (por
exemplo, deficiência sensorial,
retardamento mental, transtornos
emocionais graves) ou com influências
extrínsecas (tais como as diferenças
culturais, instrução inapropriada ou
insuficiente) não são o resultado ou
condição dessas influências.
(NJCLD, 1988, apud Jesus
N.García, 1998, p.32) (o grifo é de
Jesus García)
Importante

A partir de 1990, o rigor científico desse campo


Observamos que
sofre uma mudança qualitativa, onde se destacam nesse período passa
a existir uma
colaborações importantes como, por exemplo, a de
preocupação mais
Torgesen, em 1991, que aponta uma série de clara pela
aprendizagem, tanto
problemas básicos que precisam ser superados, tais no sentido de definir
quais problemas
como: compreendem a
área do aprendizado
propriamente dito
quanto no sentido
 A disputa sobre a definição; de evitar a
estigmatização das
 A disputa sobre a etiologia; crianças que eram
classificadas
 A disputa sobre o diagnóstico diferencial das segundo um rótulo
que recebiam e as
dificuldades de aprendizagem em relação a
tornavam excluídas
outros rótulos diagnósticos; do processo de
aprendizagem.
 A disputa sobre aspectos específicos do
tratamento e do prognóstico;
 A disputa sobre a heterogeneidade e os
subtipos de dificuldade de aprendizagem etc.

A colaboração de Torgesen já sinaliza a


preocupação com o uso indevido da definição, marca sua
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 44

preocupação com o futuro desenvolvimento desse


campo e sua integridade ao longo do tempo.

Torgesen chama a atenção para a sobre-


utilização do rótulo de Dificuldade de Aprendizagem,

Quer
quando escreve:
saber mais?

O campo das dificuldades de


aprendizagem é, atualmente, uma
De acordo com o forma vital e potente dentro das
CID-10
(Classificação grandes comunidades de educação
Internacional de ordinária e de educação especial. Seus
Doenças em sua serviços, que foram mandatados por
Décima Edição), são lei, são oferecidos a grande número de
chamados
Transtornos crianças com uma variedade de
Específicos do problemas educativos difíceis e pouco
Desenvolvimento usuais. Os profissionais do campo
das Habilidades agruparam-se em potentes
Escolares (F81)
aqueles cujos organizações, que proporcionam meios
padrões normais de adequados de comunicações sobre
aquisição das questões de pesquisa e profissionais. A
habilidades estão pesquisa na área está crescendo e
perturbados desde
os estágios iniciais diversificando-se, e nela iniciam-se
do desenvolvimento novos pesquisadores, apoiados por
e sua manifestação órgãos governamentais.
ocorre de alguma Contudo, um número de progressos
forma nos primeiros
anos de recentes nos setores políticos e sociais
escolaridade. Estes e na sociedade científica torna difícil
se originam de fazer previsões firmes acerca do
anormalidades no contínuo desenvolvimento do campo. A
processo cognitivo,
que derivam em ciência está fazendo perguntas
grande parte de fundamentais sobre a natureza dos
algum tipo de problemas de aprendizagem, e a
disfunção biológica. política educativa está proporcionando
Versão eletrônica do métodos atuais estimulantes de
CID 10: provisão de serviços. Se as idéias
dentro do REI (programa de
http://www.datasus. desenvolvimento individual)
gov.br/cid10/webhel
p/cid10.htm legitimarem-se, podemos ver uma
redução enorme do número de
crianças identificadas como DA. Ainda
que esta redução possa ter um sério
impacto no poder político do
movimento das dificuldades de
aprendizagem, pode ajudar, no
presente, a apoiar a integridade do
campo a longo prazo. Um dos mais
sérios desafios a tal integridade
procede da demonstração de que
muitos escolares identificados como
DA não são demonstravelmente
diferentes de outras crianças com
dificuldade de aprendizagem que não
foram identificadas como DA. Essa situa
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 45

ção, reconhecida por muitos, surge da


sobreutilização do rótulo de DA para
prover serviços a uma ampla
variedade de crianças para as quais
não estão disponíveis outros serviços
de educação especial. A não ser que o
campo das DA escolha ampliar suas
bases para incluir todos os tipos de
problemas de aprendizagem na escola,
parece inevitável que devamos
encontrar formas de exercer uma
grande disciplina na identificação de
crianças como especificamente DA
(Torgesen apud Jesus N.
García, 1998, p.31).

Outra contribuição importante que marca a


década de 90 é dada por Hammill, que em 1990
elaborou um estudo a partir da comparação das 11
(onze) definições sobre dificuldade de aprendizagem,
consideradas históricas. Hammill, em sua pesquisa,
levou em conta 9 (nove) elementos para fazer
comparações entre as definições. Os elementos
considerados foram:

 Baixo rendimento; Para refletir

 Etiologia da disfunção do sistema nervoso


central (SNC); O que podemos,
então, pensar nos
 Processos envolvidos; casos de alunos
PNEE?
 Problemas presentes durante o ciclo vital;
Será que esse aluno
 Problemas de linguagem falada como possível já não está desde
sempre excluído da
dificuldade de aprendizagem; possibilidade de
participar de igual
 Problemas acadêmicos como possível modo dos processos
de aprendizagem?
dificuldade de aprendizagem; As suas dificuldades
não representariam
 Problemas conceituais como possível
impedimentos para
dificuldade de aprendizagem; o ensinamento de
alguns professores?
 Outras condições como possíveis dificuldades Detenha-se nessas
reflexões!
de aprendizagem;
 Coexistência, exclusão ou ausência de outros
handicaps superpostos.

Esse estudo concluiu que a definição proposta


pelo National Joint Committee on Learning Desabilities
(NJCLD) traz um conceito claro e preciso a respeito da difi-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 46

culdade de aprendizagem, devendo, por isso, ser mais


utilizada entre professores, pesquisadores e pais.
Quanto às demais definições que fizeram parte do
estudo, Hammill considera-as importantes somente
pelo seu valor histórico.

Porém, vale observar que durante muito tempo


esteve presente o discurso médico nos espaços de
aprendizagem, acentuando a idéia de diagnóstico,
tratamento dos problemas tal como é realizado em
doenças. Essa forma de pensar e de agir contaminou o
mundo acadêmico e escolar de tal forma que muitos
professores passaram a ficar mais preocupados em
diagnosticar os problemas dos alunos do que buscar
soluções para o enfrentamento das dificuldades
propriamente ditas.
Importante
Um espaço de aprendizagem, como a escola,
Em relação ao deve estar envolvido, principalmente, com os efeitos
diagnóstico das
doenças, é das doenças no desenvolvimento de seus alunos para
compreensível que
este somente deve que possa contribuir na redução de perdas e/ou
ser de uso da área
médica, pois no caso fracassos desse aluno afetado. Portanto, conhecer as
de professores e
outros profissionais dificuldades é importante para definir metas de
da área educacional
terem domínio do
trabalho na superação das mesmas.
diagnóstico poderia
desviar o objetivo de
suas funções. Além Mas, vale lembrar que a formação do professor
de provocar
distorções na vida não o prepara para diagnóstico de doenças, tampouco
escolar do aluno que
poderia ficar sujeito para conduzir terapêutica de atendimento. O professor
a mais rótulos e
discriminações. deve estar preparado para conhecer a forma como seu
aluno e a família deste lidam com os efeitos da doença
produzidos na vida intelectual, emocional e
psicomotora.

O professor e a escola devem interagir com a


família e, se possível, com os profissionais
especializados que tomam parte no tratamento de uma
criança, para que estas informações auxiliem no
planejamento das atividades realizadas para o melhor
desenvolvimento da criança.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 47

Os tipos mais freqüentes de dificuldades


de aprendizagem
Dica da
professora
A partir da exposição do desenvolvimento e da
evolução do campo das dificuldades de aprendizagem A partir deste
momento da aula,
ao longo do tempo, acreditamos ter enfocado a note que as
informações serão
essência do que podemos entender por dificuldade de preciosas para
aprendizagem, nos tempos atuais, ressaltando o fato observação e análise
das necessidades
de que as dificuldades de aprendizagem podem afetar dos alunos, bem
como as
toda a vida das pessoas, não podendo restringir à providências que os
professores devem
infância a manifestação desse fenômeno. Com isso, tomar a fim de
minimizar os
deixamos claro que não só as crianças podem ter seu problemas.

dia-a-dia afetado pelas dificuldades de aprendizagem,


adolescentes e adultos também podem passar por tal
situação. Feito isso, acreditamos poder, agora, abordar
os tipos mais freqüentes de dificuldade de
aprendizagem.

Smith e Strick, em “Dificuldades de


Aprendizagem de A a Z”, salientam o fato de que
crianças com dificuldade de aprendizagem comumente
estão lutando em uma ou mais de quatro áreas básicas
que evitam o processamento adequado de informação:
atenção, percepção visual, processamento da
linguagem e coordenação muscular. Sabemos que
essas áreas são imprescindíveis à aprendizagem, na
medida em que fornecem as condições necessárias ao
processamento adequado das informações. Smith e
Strick sinalizam que até mesmo leves fraquezas nessas
áreas podem criar obstáculos à aprendizagem e à
comunicação, principalmente, em salas de aula
tradicionais, e acrescentam:

As crianças com dificuldades de


aprendizagem, entretanto, sofrem de
uma combinação infeliz: não apenas
suas fraquezas são mais pronunciadas
que o normal, mas elas também estão
naquelas áreas que mais tendem a
interferir na aquisição de habilidades bá-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 48

sicas em leitura, matemática ou escrita


(Smith e Strick, 2001, p.36).

Buscaremos, agora, introduzir os quatro tipos de


deficiências de processamento de informações que
podem causar uma dificuldade de aprendizagem:
aquelas que afetam a atenção, a percepção visual, o
processamento de linguagem e as habilidades motoras
finas.

Descreveremos como cada um afeta o


desempenho e o desenvolvimento escolar,
circunscrevendo, a partir desses obstáculos, as
dificuldades de aprendizagem mais freqüentes.
Quer
saber mais?
TRANSTORNO DE DÉFICIT DE
De acordo com o ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE
CID-10, é
denominado
“Transtorno
Hipercinético – Trata-se de um padrão de conduta que as
subgrupo
Perturbação da crianças e adolescentes apresentam em relação a
Atividade e
dificuldades no desenvolvimento da manutenção da
Atenção”. Trata-se
de um quadro atenção, controle de impulsos, assim como a
relativamente
freqüente, mas que regulagem da conduta motriz em resposta às
ainda é motivo de
controvérsias quanto demandas da situação.
a sua etiologia, seu
diagnóstico e sua
terapêutica.
Segundo Lewis (...) Os sintomas primários seriam a
(1995), as crianças desatenção, a impulsividade e a
hiperativas têm hiperatividade além de outros
reduzida
permanência de sintomas (...)
atenção, dificuldade (Anastopoulos e Barkley apud Jesus
cognitiva, N. García, 2001, p.74)
inquietação
inapropriada e
dificuldade com o Os déficits da atenção ocorrem com ou sem
controle inibitório
manifestada por hiperatividade. Podemos falar de três tipos: o
impulsividade
comportamental predominantemente desatento, o predominantemente
(LEWIS, M. Tratado
de Psiquiatria da hiperativo e o combinado.
Infância e
Adolescência. Porto
Alegre: Artes
Médicas, 1995). O tipo predominantemente DESATENTO
apresenta sintomas como:
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 49

 Dificuldade de prestar atenção em detalhes,


de manter atenção nas tarefas ou lazer; de
seguir instruções e terminar tarefas,
dificuldade para se organizar, evita ou reluta
em fazer tarefas que exijam esforço mental
constante, parece não escutar quando lhe
dirigem a palavra, perde coisas necessárias,
distrai-se com coisas fora da tarefa e esquece
atividades diárias.

O tipo predominantemente HIPERATIVO


apresenta sintomas como:

 Agitação (mãos e pés), mexe-se na cadeira,


levanta-se quando deveria permanecer
sentado, corre e sobe demasiadamente nos
objetos em situações nas quais isso é
impróprio, sensações subjetivas de
inquietação, dificuldade de ficar em silêncio,
fala demasiadamente, dá respostas
precipitadas antes de terminarem as
perguntas, tem dificuldade para aguardar sua
vez, interrompe os outros, intromete-se.
Para refletir
Considera-se o TIPO COMBINADO quando a
pessoa apresenta 6 (seis) sintomas de cada um dos É importante
lembrar que a
tipos citados acima. atenção e a
concentração
poderão ser
definidas como
De acordo com o manual mais utilizado pelos sendo a capacidade
das crianças
profissionais para a identificação do TDAH, seis ou mais concentrarem
energia psíquica
sintomas de cada módulo (tipo) sugerem a presença do
sobre o mesmo
transtorno. objeto, situação ou
tarefa.
Condição
fundamental para o
É importante lembrar que, atualmente, considera- aprendizado.

se que o TDAH é um problema diferente do das


dificuldades de aprendizagem, ainda que, durante o curso
do transtorno, apareçam baixos aproveitamentos
acadêmicos. A falta de atenção, a impulsividade e a hipe-
ratividade motora facilitam um diagnóstico diferencial.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 50

Para se chegar a um diagnóstico de TDAH, é


necessária uma avaliação completa e cuidadosa. Não
podemos esquecer que muitas vezes os estudantes têm
dificuldade para manter a atenção, porque há uma
inadequação entre seu estilo de aprendizagem e o
modo de ensino a que está submetido, ou seja, uma
escolha educacional inapropriada também pode levar a
um comportamento desatento.

DEFICIÊNCIA DA PERCEPÇÃO VISUAL

Importante
Aqui o problema não é o de visão, mas sim do
Memória visual é a modo como o cérebro processa as informações visuais.
capacidade de reter
com exatidão, a As deficiências da percepção visual geralmente são
longo ou em curto
prazo, uma série de causadas por áreas com hipofuncionamento no lado
estímulos
apresentados direito do córtex cerebral. Estudantes com deficiência
visualmente.
Se existem falhas na
da percepção visual apresentam dificuldades para
discriminação figura-
reconhecer, organizar, interpretar e/ou recordar
fundo e a atenção é
dispersa, pouco ou imagens visuais; em conseqüência disso, têm
nada será possível
memorizar. problemas para entender todo tipo de símbolos (letras,
palavras, números, diagramas, mapas, gráficos,
tabelas). Os problemas com a percepção visual
começam a causar problemas nas séries iniciais do
Ensino Fundamental. As habilidades de percepção
visual incluem a capacidade para reconhecer imagens
já vistas e vincular-lhes significados, discriminar entre
imagens similares, separar figuras significativas de
detalhes de fundo, reconhecer o mesmo símbolo em
diferentes formas, reconhecer seqüências. Os
estudantes com problemas de percepção visual têm
dificuldade com a MEMÓRIA VISUAL e a visualização,
tornando o aprendizado da leitura dolorosamente lento,
têm dificuldade para imaginar soluções para os
problemas, têm dificuldade para visualizar o resultado
final, tendem a ser pensadores concretos, muitas vezes
têm dificuldades com as relações espaciais.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 51

A deficiência da percepção visual pode trazer


transtornos na escrita, na leitura, na matemática e
ainda trazer problemas relacionados.

Smith e Strick listam os problemas mais


freqüentes em função da deficiência apresentada em
cada área (atenção, percepção visual, processamento
da linguagem, coordenação muscular), enfatizando que
uma dificuldade de aprendizagem pode ser possível se
muitos desses comportamentos estiverem presentes e
se persistirem além da idade na qual esses erros são
típicos.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DA PERCEPÇÃO


VISUAL NA ESCRITA
Dica de
leitura
 Atrasos na aprendizagem da escrita
antipatizam com a escrita e evitam aprendê- MORAIS, António
Manuel Pamplona
la, os trabalhos escolares são incompletos, de. Distúrbios de
Aprendizagem. São
têm muitas rasuras e apagamentos, Paulo: Edicon, 1986.
O autor se dedica a
dificuldade para recordar as formas das letras esses temas numa
linguagem simples e
e dos números, espaçamento desigual entre com exemplos
bastante atuais.
letras e palavras, omissão de letras das
palavras e de palavras das sentenças, cópia
imprecisa, fraca ortografia (escreve
foneticamente), não localiza erros no próprio
trabalho, dificuldade em preparar esboços
gerais e organizar os trabalhos escritos.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DA PERCEPÇÃO


VISUAL NA LEITURA

 Confunde letras de aparência similar (b e d; p


e a), apresenta dificuldade para reconhecer e
recordar palavras que vê (mas pode pronunciá-
las foneticamente), freqüentemente perde-se
durante a leitura, confunde palavras de
aparência similar, inverte palavras (lê mala por
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 52

lama) tem dificuldades para encontrar letras


em palavras ou palavras em sentenças, fraca
memória para palavras impressas, seqüências
de números, diagramas, ilustrações etc.,
fraca compreensão das idéias principais e dos
temas.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DA PERCEPÇÃO


VISUAL NA MATEMÁTICA

 Fraco alinhamento de problemas resulta em


erros de cálculo, dificuldade para
memorização de fatos de matemática, tabelas
de multiplicação, fórmulas e equações,
problemas para interpretar gráficos,
diagramas e tabelas.

PROBLEMAS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA DA


PERCEPÇÃO VISUAL

 Confusão entre esquerda e direita, dificuldade


para estimar a hora, fraco senso de direção,
dificuldade para julgar velocidade e distância,
fraco planejamento e habilidades de
organização, dificuldade para perceber
estratégias.

Dica da DEFICIÊNCIAS DE PROCESSAMENTO DA


professora
LINGUAGEM

Sistema Funcional
da Linguagem O maior número de estudantes identificados com
engloba:
problemas de aprendizagem são os que apresentam
 linguagem
problemas com o processamento da linguagem. Eles
integrativa ou
interior podem ter problemas com qualquer aspecto da
 linguagem
receptiva linguagem: ouvir palavras corretamente, entender seu
 Ouvida
 Lida significado, recordar materiais verbais e comunicar-se
 linguagem
expressiva claramente. As dificuldades começam com a palavra
 Falada
 Escrita falada e interferem na leitura e/ou na escrita no momento
do ingresso na escola. As crianças com deficiências de pro-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 53

cessamento da linguagem podem ser lentas na


aprendizagem da fala, podem ter um vocabulário
menor, uma fraca consciência gramatical, tendem a
utilizar sentenças mais curtas, confundem palavras com
som similar, muitas vezes essas crianças dão sinais de
que não conseguiram entender o que foi dito. Muitos
jovens com deficiência no processamento da linguagem
também falam de um modo confuso, devido à
dificuldade de organizar seqüências nos sons que
ouvem, também apresentam problemas para dominar o
básico da gramática e usam palavras inapropriadas ao
escrever, a memória do que foi lido (mas não
realmente entendido) também tende a ser fraca.
Algumas crianças entendem e usam a palavra
corretamente, mas têm grande dificuldade na produção
das palavras que desejam usar em suas memórias.
Quando as deficiências de processamento da linguagem
são leves, a dificuldade para memorizar e a falta de
organização podem, na verdade, ser os aspectos mais
óbvios da deficiência. A dificuldade com o uso e a
compreensão da linguagem geralmente está ligada com
o hipofuncionamento no córtex cerebral esquerdo.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DO PROCESSAMENTO


DA LINGUAGEM NA COMPREENSÃO DA FALA E DA
LINGUAGEM
Importante

 Atraso para aprender a falar, fala em tom Quando uma criança


não se comunica,
monótono ou muito alto, tem dificuldade para quando ela não é
capaz de se
citar nome de objetos ou de pessoas, utiliza expressar
uma linguagem vaga e imprecisa, a fala é verbalmente ou
quando fala mal, é
lenta ou sofre interrupções, usa mecanismos necessário submetê-
la a uma série de
de adiamento verbal, a gramática é pobre, exames para que se
possa fazer um
freqüentemente pronuncia mal as palavras, diagnóstico preciso
sobre ela. Esse
confunde palavras com sons similares, diagnóstico deverá
ser pluridimensional
costuma usar gestos com as mãos ou a realizado por uma
equipe
linguagem corporal para ajudar a transmitir a interdisciplinar.
mensagem, é insensível a rimas, demonstra pou
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 54

co interesse por livros, histórias, não


responde apropriadamente as questões, com
freqüência não compreende ou não recorda
instruções e, geralmente, evita falar
(especialmente na frente de estranhos).

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DO PROCESSAMENTO


DA LINGUAGEM NA LEITURA

 Atrasos significativos para aprender a ler,

Importante dificuldade na citação de nomes e letras,


problemas para associar letras e sons,
Lembrando ao discriminar os sons das palavras, mesclar
professor:
sons para formar palavras, dificuldade para
Alunos com
problemas de atraso analisar freqüência de sons, erros freqüentes
de linguagem devem
sempre ser de seqüência, tenta adivinhar palavras
encorajados em
suas tentativas de estranhas, em vez de usar habilidades de
comunicação, deve
também procurar
análise da palavra, lê muito lentamente, a
utilizar uma
leitura oral deteriora-se após algumas
linguagem a nível de
sua compreensão, sentenças (devido ao declínio na capacidade
deixar o aluno
manipular objetos para recuperar rapidamente sons da
da escola, comentar
sobre gravuras, memória), a compreensão para o que está
contar histórias, ler
livros e revistas, e, sendo lido é consistentemente fraca ou
principalmente,
estimular o aluno a deteriora-se quando as sentenças se tornam
realizar atividades
criadoras. mais longas e complexas, fraca retenção de
novas palavras no vocabulário, evita a leitura.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DO PROCESSAMENTO


DA LINGUAGEM NA ESCRITA

 As tarefas escritas são curtas ou incompletas,


freqüentemente, caracterizadas por sentenças
breves, vocabulário limitado, persistem
problemas com a gramática, erros bizarros de
ortografia (não-fonéticos), o estudante pode
ser incapaz de decifrar a própria escrita, nas
tarefas escritas as idéias são mal–organizadas,
não-logicamente apresentadas e pouco desenvol
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 55

vimento do tema, estão mais propensos a


escrever listas rápidas, apresentam
dificuldades para oferecer detalhes,
desenvolver idéias. São mais bem-sucedidos
em testes de múltipla escolha.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA DO PROCESSAMENTO


DA LINGUAGEM NA MATEMÁTICA

 Apresentam resposta lenta durante os


exercícios devido a problemas com
recuperação de números da memória, devido
à dificuldade de compreensão da linguagem,
encontram dificuldade com problemas por
extenso, problemas com matemática de nível
superior devido a dificuldades com análise e Importante

raciocínio lógico.
De certa forma, a
deficiência do
PROBLEMAS RELACIONADOS À DEFICIÊNCIA DO processamento da
linguagem se
PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM aproxima das
dificuldades de
compreensão da
leitura.
 Dificuldade com o raciocínio verbal, pode Podemos dividir
essas dificuldades
entender um provérbio, mas não consegue
em três níveis
explicar o que significa, problemas para (Pamplona Morais,
1997):
entender trocadilhos, piadas, dificuldade para
- compreensão
fazer comparações, classificar objetos, idéias, literal, que engloba
a compreensão das
para recordar informações, produzir fatos, idéias propostas no
texto;
apresentar uma história ou instruções em
- compreensão
ordem lógica, dificuldade para iniciar ou inferencial, que
pressupõe a análise
manter uma conversa. das idéias que não
estão contidas no
texto e, baseia-se
É importante chamar a atenção para o fato de na experiência do
leitor;
que, na escola, muitas crianças e jovens com deficiência
- compreensão
do processamento da linguagem, por apresentarem crítica, que implica a
comparação de
dificuldade para entender e seguir instruções, são idéias apresentadas
pelo autor com
considerados desatentos, preguiçosos e/ou desobedientes. referenciais internos
(juízos, idéias) de
Com essas crianças, com esses jovens, é preciso oferecer cada leitor.
meios alternativos de obtenção de informações, além dos
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 56

meios convencionais, é importante que os professores


estimulem esses alunos e possam colaborar, falando
pausadamente, claramente, para facilitar o
entendimento do conteúdo transmitido. É necessário
que os professores possam ter acesso a materiais
especiais, recurso alternativo como, por exemplo, livros
gravados em fita. Com apoio adequado, essas pessoas
podem conseguir sucesso em sua vida escolar.

DEFICIÊNCIAS MOTORAS FINAS

Essa deficiência não tem impacto sobre a


capacidade intelectual, mas interfere no desempenho
escolar, prejudicando a capacidade para comunicar-se
pela escrita. Pessoas com deficiências motoras finas
não conseguem controlar plenamente grupos de
pequenos músculos em suas mãos.

As pessoas com esse tipo de deficiência não


conseguem escrever bem, mesmo que tentem. Suas
letras são malformadas e suas frases escapam das
linhas. A caligrafia pode chegar a ser ilegível. Qualquer
atividade que envolva desenho ou escrita fica
comprometida. Em cálculos, os erros são cometidos
porque os números são ilegíveis ou não estão alinhados
Para pensar
apropriadamente.

A escrita exige
habilidade manual e SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA MOTORA FINA NA
domínio perfeito do
gesto. ESCOLA
A preensão do lápis
implica a capacidade
motora de colocar os
dedos em formato  Fraca caligrafia (desleixada, ilegível, pouco
de pinça, para que
seja desenhado o espaçamento, tamanho irregular das letras,
símbolo gráfico
(letras e palavras)
nenhum estilo consistente, escapamento das
com precisão e
linhas no papel), os papéis são descuidados,
rapidez, além de ter
que saber coordenar lentidão acentuada, esforço excepcional e
e frear os
movimentos quando frustração notados durante as tarefas escritas,
necessário.
evita escrever e/ou desenhar, o conteúdo/esti
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 57

lo das tarefas escritas é fraco (seu foco


primário está sobre a obtenção de
legibilidade), os erros de cálculos são
comuns, devido a numerais ilegíveis,
amontoados e pouco alinhados.

SINTOMAS DA DEFICIÊNCIA MOTORA FINA EM


CASA

 Parece desajeitado e atrapalhado, com


freqüência deixa cair objetos, não tem
sucesso em jogos e atividades que envolvam
habilidades manuais, apresenta fraca
capacidade para colorir, não consegue
manter-se dentro dos contornos do desenho,
dificuldade com o uso de tesouras, atrasos
para aprender a escrever, as letras e os
números são malformados. Conforme
escrevem Smith e Strick:

Dica da
É importante ter em mente que todos professora
os tipos de dificuldade de
aprendizagem podem variar
imensamente em termos de gravidade. Antes mesmo de
usar as ferramentas
Enquanto algumas têm um impacto comuns ao
razoavelmente global sobre a aprendizado, como
aquisição escolar, muitas deficiências lápis, borracha e
são tão sutis e específicas que outros, a criança
deve ser estimulada
interferem apenas em uma faixa muito para o uso de
estreita de atividades. Também é objetos que poderão
importante recordar que as contribuir na
dificuldades de aprendizagem coordenação motora
global.
freqüentemente se sobrepõem e Incentivar a criança
ocorrem em combinações quase a abotoar suas
intermináveis: um aluno com roupas, amarrar
deficiência do processamento da seus calçados,
pentear seus
linguagem (compreensão) complicada cabelos, organizar
por TDAH pode parecer ter pouco em seus brinquedos é
comum com um estudante que tem fundamental para o
deficiência de processamento da aprendizado do
controle motor e
linguagem (recuperação de palavras) elaboração de
complicada por déficits motores finos. movimentos mais
Na verdade, cada estudante com coordenados e
dificuldade de aprendizagem é harmônicos, além de
preparar a criança
praticamente único - uma realidade para o mundo
que pode tornar a identificação e a escolar.
intervenção um desafio.
(2001, p.57)
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 58

Depois de termos apresentado as áreas


consideradas imprescindíveis para a aprendizagem, de
termos exposto os sinais que se apresentam, no dia-a-
dia de cada um, de acordo com a deficiência de origem,
pretendemos definir os transtornos, os tipos de
dificuldade de aprendizagem que podem advir dessas
situações.

TRANSTORNOS ESPECÍFICOS DO APRENDIZADO

Os transtornos específicos do aprendizado


podem ser descritos como: Transtorno da Leitura,
Transtorno da Expressão Escrita, Transtorno da
Matemática e os Transtornos da Comunicação. Estes
são considerados Dificuldades Primárias no
Aprendizado: pretendemos, agora, apresentá-los, um a
um.

Transtornos da expressão escrita

Importante que o professor evite:

 Exigir que a criança faça muita cópia como medida


de correção de suas falhas, para treino e fixação;
 Exigir leituras orais extensas e interpretações das
mesmas, contribuindo, assim, para a diminuição de
seus fracassos e, conseqüentemente, de suas
frustrações;
 Valorizar nos ditados os erros característicos de
seu problema. Mas deve estar consciente de que a
criança pode não conseguir alfabetizar-se por um
método que se baseie no canal visual e, no
entanto, ser bem-sucedida em outro que se apóie
no canal auditivo e vice-versa.
Deve lembrar-se de que no plano afetivo esse aluno
tem muita necessidade de compreensão e de afeto.

DISGRAFIA – comprometimento dos aspectos


grafomotores, relacionados à motricidade fina, à
organização espacial.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 59

DISORTOGRAFIA – dificuldade no processo de


aquisição do sistema ortográfico, envolve o processo de
discriminação das letras, correspondência som/letra,
sistema ortográfico.

TRANSTORNO DA ESCRITA – dificuldade que


surge na produção textual, na estruturação e no
desenvolvimento do texto.

Transtorno da leitura

DISLEXIA – Está relacionada com a compreensão,


refere-se às dificuldades de processamento da
informação, o que, conseqüentemente, acarreta leitura
lenta e silabada, dificuldade em reconhecer palavras
familiares e freqüentes, trocas nas seqüências de
letras, sílabas ou palavras etc.

Transtorno da matemática

DISCALCULIA - relaciona-se à dificuldade com


tarefas que envolvam o raciocínio lógico e a análise,
realização de cálculos e recuperação de números da
memória.
Importante

Transtornos da comunicação (linguagem) Problemas de


comunicação:

Existe um problema
ALTERAÇÕES PRÉ-LINGÜÍSTICAS (PERCEPÇÃO na comunicação
quando esta se
DOS SONS): DISFUNÇÃO DO PROCESSAMENTO desvia das normas
AUDITIVO CENTRAL (DPAC), devido a essa disfunção a aceitas pelo meio
ambiente de tal
pessoa tem dificuldade em ouvir na presença de ruídos, modo que:

distrai-se com facilidade, pede muito para repetir,  Chama atenção


sobre ela;
entende mal o que ouve, tem dificuldade de seguir  Ocorre
interferência na
ordens, atenção auditiva rebaixada, memória auditiva mensagem, ou;
 Angustia o ouvinte
fraca, consciência fonológica pouco desenvolvida, e/ou o falante.

problemas de leitura e de escrita, aprendizagem


ineficiente pelo canal auditivo.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 60

DISTÚRBIOS DE COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA


(ESTRUTURA DA LÍNGUA), presentificam-se por alguns
sintomas, tais como falar tardiamente, dificuldade na
pronúncia de fonemas, dificuldade para rimas, para
brincar com os sons das palavras, não consegue
modular a voz apropriadamente, dificuldades com
estruturas silábicas mais complexas, além de ter
dificuldades para incorporar palavras novas em seu
vocabulário.

DISTÚRBIO DE COMPETÊNCIA COMUNICATIVA


(ESTRUTURA DO DISCURSO), relaciona-se com a
dificuldade de estruturação do discurso, pessoas que
apresentam esse distúrbio têm dificuldade em utilizar
as regras que governam o uso da linguagem em
contextos sociais.

A partir do exposto, podemos perceber que as


dificuldades de aprendizagem quando são problemas de
origem neurológica que afetam a capacidade do cérebro
para entender, recordar ou comunicar informações,
podem ser causados por lesão cerebral, alterações no
desenvolvimento cerebral (hipoatividade de um
hemisfério X hiperatividade de outro), atraso

Importante maturacional, desequilíbrios químicos e


hereditariedade. Embora as dificuldades de
O professor fala da aprendizagem possam ter uma base biológica,
família do aluno,
atribui a ela geralmente, o ambiente familiar e o escolar
responsabilidade por
seu desempenho determinam a gravidade do impacto da dificuldade, por
escolar, porque
algumas crianças isso abordaremos, agora, o papel da família e o da
realmente
enfrentam situações escola nesse processo.
difíceis no ambiente
familiar e social.
Entretanto, essa
Para podermos entender as dificuldades de
constatação de nada
adianta se o aprendizagem, de uma forma global, precisamos
professor não
estiver atento ao compreender como o ambiente familiar e o escolar da
seu papel na
construção do que criança podem afetá-la em seu desenvolvimento
essa criança é e do
que poderá vir a ser. intelectual e no seu potencial para aprendizagem,
sabermos que se as condições oferecidas no ambiente fa-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 61

miliar e no escolar forem acolhedoras, estimulantes,


confiantes, podem ajudar a fazer a diferença, podem
evitar que o sujeito se acomode numa posição
incapacitante. Estudos mostram que crianças que foram
privadas de um convívio estimulante nos primeiros
anos enfrentam muitos obstáculos desanimadores,
mesmo quando não apresentam deficiências. Segundo
Smith e Strick:

Não nos surpreende que as crianças


em desvantagem social e educacional
também considerem mais difícil juntar
recursos necessários para superarem
deficiências neurocognitivas. Os alunos
com dificuldade de aprendizagem
normalmente usam as áreas em que
são mais fortes para compensarem
áreas de fraqueza, mas aqueles que
não tiveram níveis adequados de
estímulo e apoios em casa têm bem
menos áreas de recursos às quais
recorrer
(Smith C. e Stick L.2001, p.31)

Mas, a instituição escolar também se integra na


rede relacional familiar, pois passa a estar presente na
família pelos ensinamentos transmitidos à criança e,
assim, gera interferências múltiplas no cotidiano das
famílias.

A criança, no contexto escolar, vivencia novas


experiências, estabelece novos contatos, amplia e
constrói grande parte de seu processo de
desenvolvimento. A escola não é somente um espaço
Dica de
de aprendizagem, mas também um espaço de leitura
socialização e de desenvolvimento, logo esta é uma
realidade que será transportada para dentro das Para aprofundar a
discussão sobre a
famílias com todas as contradições que possam relação entre a
escola e a família,
ocasionar, assim como com os benefícios também. sugerimos o livro de
POLITY, Elizabeth.
Dificuldade de
A criança, como parte integrante de um sistema Aprendizagem e
Família: Construindo
familiar, possui um contexto histórico e temporal Novas Narrativas.
São Paulo: Vetor,
marcado por valores socialmente determinados. Desta 2001.
forma, podemos dizer que a família está presente na esco-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 62

la, através de seus filhos, com seus valores e atitudes


representados.

As instituições escolares não podem ficar alheias


às mudanças e ao contexto que suas crianças estão
submetidas.

O pertencimento da criança a estes dois


sistemas (família e escola), bem como suas
características individuais, servem de material de apoio
e auxílio no processo de aquisição do conhecimento.
Então, é fundamental que se procure sempre subsídios
para uma leitura real da criança nos dois contextos:
escolar e familiar.

Conclusão
Importante
Com relação ao ambiente familiar, é de extrema
Um contexto familiar importância que a criança ou o jovem possa se sentir
que promove
autoconfiança e acolhido entre os seus familiares, que tenha espaço
interesse ativo em
aprender, mesmo para falar sobre suas dificuldades, que lhe seja dado o
que independente da
instrução formal, é
direito de responder no seu tempo, que a cada
fundamental para o
conquista lhe seja dado o reconhecimento, assim como
bom desempenho
escolar das crianças. seja renovada a aposta, a confiança na possibilidade de
Ter sensibilidade e
disponibilidade para saídas para as dificuldades encontradas. Cabe aos pais
a aproximação da
criança. possibilitarem um local tranqüilo para os estudos e a
realização das atividades, assim como é importante que
seja estipulado um horário para que essas atividades
sejam feitas, com acompanhamento, de forma que
possa solicitar ajuda, quando necessário. Sabemos que
as crianças que são pouco encorajadas ou que vivem
em ambiente com baixas expectativas têm suas
chances de superação das dificuldades reduzidas.

Com relação ao ambiente escolar, salientamos a


necessidade de que essas crianças e jovens tenham
oportunidades apropriadas de aprendizagem, a
metodologia deve proporcionar atividades mais
estruturadas em suas instruções, é importante que o am-
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 63

biente escolar ofereça recursos didáticos variados para


o desenvolvimento das tarefas (gravador, computador,
giz colorido, revistas, aparelho de som, vídeo etc.), que
o professor favoreça situações de trabalho em
pequenos grupos ou individualmente, que leve em
conta outras estratégias instrutivas, além da
tradicional. É importante que o professor focalize mais
o processo (compreensão de um conceito) do que o
produto (conclusão de vários exercícios), que utilize
estratégias de ensino ativo, enfatizando as informações
significativas para a execução das atividades.

Com relação à avaliação, é importante avaliar o


processo ensino-aprendizagem, as provas devem
possibilitar a verificação da evolução do aluno diante
dos objetivos determinados, em vez de basear-se em
critérios de comparação do aluno com os demais.

Todas essas orientações são importantes para


que cada criança ou jovem seja atendido em suas
necessidades, tenha acesso a recursos que facilitem a
superação dos obstáculos, porém queremos destacar a Importante

importância, a responsabilidade do professor e da


Algumas atitudes do
equipe pedagógica nesse processo. Quanto ao professor sempre se
confirmam como
professor, é indispensável que ele ofereça apoio, favoráveis no
processo de
incentivo, ajuda pessoal, não enfatize o fracasso, aprendizagem, por
exemplo:
discuta as situações difíceis individualmente, estimule o
- a atenção maior do
interesse e a motivação para aprender, busque professor ao aluno,
como trazê-lo para
informações com professores anteriores, quando mais perto de si de
modo a acompanhar
houver necessidade de chamar a atenção do aluno, que melhor seu trabalho;
- a apresentação de
ele seja claro, breve e que possa fazê-lo sem aumentar conteúdos de forma
gradativa, para que
o nível de estresse. o aluno possa ser
bem-sucedido nas
tentativas de
A relação professor-aluno pode ajudar a cumprimento das
tarefas;
devolver a essa criança/jovem, que sofre, a crença nas - a manifestação de
carinho, elogios e
suas possibilidades de superação dos obstáculos, o críticas nos
momentos em que
desenvolvimento de suas competências e são necessários.
potencialidades e, acima de tudo, o resgate da sua
auto-estima.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 64

Quanto à equipe pedagógica, é absolutamente


necessário que ela possa favorecer discussões a
respeito das situações vividas na escola, possa
promover o acesso a recursos didáticos variados, possa
estar sempre pesquisando a respeito de cursos, de
palestras que possam informar, orientar e enriquecer o
professor no seu dia-a-dia, principalmente com relação
aos obstáculos para a aprendizagem e recursos,
métodos e técnicas disponíveis.

Para finalizar, vale enfatizar que as respostas


podem ser bastante favoráveis, encorajadoras e
surpreendentes, quando aquele que sofre a angústia de
ser diferente, de ser situado abaixo dos parâmetros
esperados, estabelecidos e uniformes se depara com
pessoas capazes de percebê-lo para além de suas
dificuldades, pessoas capazes de apostar na superação
das dificuldades, dispostas a descobrir caminhos,
atalhos, saídas para os impasses, pessoas capazes de
lidar com a diferença, capazes de perceber
potencialidades, habilidades e competências, onde
outros só vêem fracasso.

Essas crianças, quando encontram apoio,


acolhimento, carinho e reconhecimento no ambiente
familiar e no escolar, conseguem resgatar o que têm de
Dica da
professora mais precioso, a segurança e a confiança em si mesmo,
tão necessárias para que elas possam travar a luta
A aproximação entre
diária contra suas dificuldades, sem desistir, sem ter
a escola e a família
torna também medo de tentar.
possível a
diminuição da carga
excessiva que pesa
sobre a criança com Quanto aos pais, é preciso que eles sempre
dificuldades de
aprendizagem. priorizem entender o que pode facilitar a aprendizagem
A co-
responsabilidade no para seus filhos, para que eles possam buscar recursos,
aprendizado de uma
criança facilita a brincadeiras, passeios, jogos que estimulem,
comunicação e
minimiza ou até
desenvolvam potencialidades, assim como, possam
dissolve o rótulo do
cautelosamente escolher uma escola que venha a
fracasso.
atender, a suprir as necessidades, uma escola que possa
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 65

respeitar, buscar se adequar ao estilo de aprendizagem


de cada um, a partir dos seus objetivos e formas
diferenciadas, diversas de transmissão do conteúdo. A
parceria entre pais, escola e aluno deve ser priorizada,
para que, juntos, se torne possível construir caminhos
para a superação dos impasses vividos por todo aquele
que se depara com uma dificuldade de aprendizagem.

EXERCÍCIO 1

Para o processamento adequado das informações,


quatro áreas são consideradas básicas, são elas:

( A ) Percepção visual, auditiva, memória e atenção;


( B ) Memória, atenção, audição e coordenação
muscular;
( C ) Percepção visual, atenção, linguagem e memória;
( D ) Percepção auditiva, linguagem, atenção e
concentração;
( E ) Atenção, percepção visual, processamento da
linguagem, coordenação motora fina.

EXERCÍCIO 2

O transtorno que está relacionado com a compreensão,


com a dificuldade de processamento da informação,
que é considerado transtorno específico da leitura,
denomina-se:

( A ) Dislexia;
( B ) Disgrafia;
( C ) Disortografia;
( D ) Discalculia;
( E ) Retardo mental.
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 66

EXERCÍCIO 3

Estudantes com deficiência da percepção visual


apresentam dificuldades em quais áreas tendo em vista
a leitura?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Explique as deficiências no processamento da


linguagem.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 Muitas pesquisas foram desenvolvidas, muitos


trabalhos publicados e muitas contribuições
foram feitas, o que possibilitou o nascimento
do movimento das dificuldades de
aprendizagem, surgindo com isso um campo
específico, com o desenvolvimento de
métodos de avaliação, de diagnóstico, e
programas específicos de intervenção;

 Os espaços de aprendizagem devem estar


envolvidos com os efeitos das doenças no desen
Aula 2 | Transtornos da leitura e da escrita e do cálculo matemático 67

volvimento de seus alunos para que possa


contribuir na redução de perdas e/ou
fracassos desse aluno afetado. Portanto,
conhecer as dificuldades é importante para
definir metas de trabalho na superação das
mesmas;

 O pertencimento da criança a dois sistemas


(família e escola), bem como suas
características individuais, serve de material
de apoio e auxílio no processo de aquisição do
conhecimento. Então, é fundamental que se
procure sempre subsídios para uma leitura
real da criança nos dois contextos: escolar e
familiar.
3

AULA
Fracasso Escolar e
Educação Inclusiva
Raquel Pereira
Apresentação

Esta aula inicia discutindo o fracasso escolar tendo em vista que


este está entre os problemas mais estudados e discutidos no
sistema educacional atual. Posteriormente apresenta as
deficiências em seus aspectos gerais, mas também identificando
características específicas de acordo com as categorias física,
visual, mental e múltipla. Aproveita, então, para trabalhar
detalhadamente os aspectos legais da educação inclusiva, e
finaliza com reflexão sobre a avaliação que deve ser feita de
diferentes formas, particularmente, na educação inclusiva.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Analisar a função da aprendizagem e de seus resultados que


Objetivos

podem gerar o sucesso ou insucesso escolar;


 Conhecer de maneira aprofundada as deficiências que podem
ser identificadas de acordo com as categorias: física, visual,
auditiva, mental ou múltipla. Para que o professor possa
entender melhor esses grupos e suas necessidades;
 Discutir o papel da educação inclusiva como proposta de
educação acessível e de qualidade, envolvendo a participação
democrática de todos e procurando garantir o aprender a
conviver, a dialogar e a perceber falhas no processo ensino-
aprendizagem.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 70

Introdução

Dica da Com o avanço tecnológico e o aumento da


professora
violência, as crianças começaram a ficar dentro de suas

As crianças casas, sendo assim, em vez de vivenciarem o mundo


necessitam de
amigos para serem
que as rodeia, ficam assistindo à televisão, jogando
felizes. Quando
videogame ou jogos no computador.
conhecemos uma
pessoa portadora de
necessidades
educativas especiais, Na maioria dos casos, os pais trabalham fora e
temos uma
oportunidade rara ao chegarem em casa cansados não dão a devida
de aprendermos o
valor da atenção/estímulo aos seus filhos, no entanto toda
solidariedade e da
fraternidade. criança precisa de estímulos para alcançar uma boa
aprendizagem.

A privação de estímulos ou até mesmo a


superproteção não permite que a criança vivencie o
mundo que a cerca. Porém, é através do movimento
corporal que a criança explora o mundo exterior
concretamente, experimentando, assim, sensações e
situações, se percebendo e percebendo as coisas ao
seu redor, construindo, assim, as noções básicas para
um bom desenvolvimento/aprendizagem.

Ao entrarem para a escola, inúmeras crianças


não atingem o objetivo esperado. Pelo fato dos
professores não estarem capacitados para trabalhar
com a diferença, essas crianças acabam sendo deixadas
de lado e, muitas vezes, são tidas como incapazes.

Ao rotularmos uma criança como sendo burra


e/ou incapaz, não a estimulamos da forma correta,
podendo gerar, também, danos psicológicos. Quando a
criança acredita nos rótulos dados, elas criam enormes
bloqueios, que dificilmente conseguimos tirar.

Somente, quando mostramos que elas são


capazes, conseguimos fazer com que elas aprendam.
No entanto, em alguns casos, levamos até mesmo anos
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 71

para reverter o processo, o que acarreta um enorme


atraso no processo ensino-aprendizagem e até mesmo Para pensar
a evasão escolar.
No imaginário
Dentro do nosso cenário atual, não é possível coletivo dos
educadores, o
falarmos em fracasso escolar dentro da política da fracasso escolar é
produzido,
educação inclusiva, sem antes abordarmos o que é a predominantemente,
por “culpa” do aluno
aprendizagem. que, segundo
muitos: é pouco
inteligente, com
Aprendizagem problemas de
comportamento,
defasado
intelectualmente, é
No seu processo global, o desenvolvimento inclui oriundo de famílias
muito pobres,
dois processos complementares: a maturação e a desajustadas, e sem
aprendizagem. exemplos
domésticos a serem
seguidos, com ideais
de vida (Carvalho,
Segundo Canongia (1986, p.92), 2004, p. 123).

maturação é a soma de características


da evolução neurológica que
apresentam a maioria dos indivíduos
nas diferentes idades da vida e que
permitem a aparição e o uso das
capacidades potenciais inatas,
expressas na área de seu
comportamento. Importante

Aprendizagem é o resultado da estimulação As dificuldades de


aprendizagem das
advinda do ambiente sobre o indivíduo já maduro que crianças podem ser
criadas ou
se expressa diante de uma situação problema, sob a complicadas pelo
currículo e pelo
forma de uma mudança de comportamento em função
modo como as
de experiência. escolas são
organizadas e
administradas, e não
são apenas os
Aprendizagem é um fenômeno que não depende
resultados de
somente do potencial psiconeurológico endógeno, deficiências da
criança ou da
depende também de fatores quantitativos, qualitativos, família.

temporais e dos estímulos que a criança recebe do


meio ambiente.

Gesell (sd) afirma que:

a aprendizagem nunca pode transcender


a maturação", sendo assim, para que a
aprendizagem se procede, é necessário
que o organismo esteja suficientemente
maduro para recebê-la.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 72

Brandão (apud Oliveira, 1999, pp. 20-21)


ressalta a importância da maturação para o
desenvolvimento da aprendizagem ao afirmar que:

a aprendizagem não poderá


proporcionar um desenvolvimento
superior à capacidade de organização
das estruturas do sistema nervoso do
indivíduo; uma criança não poderá
aprender das experiências vividas,
conhecimento para os quais não tenha
adquirido, ainda, uma suficiente
maturidade. A maturidade é, no
entanto, dependente, em parte, do
que foi herdado, e, em parte, do que
foi adquirido pelas experiências
vividas.
Importante

A aprendizagem se refere a aspectos funcionais


Quando um aluno e resulta de toda estimulação ambiental recebida pelo
apresenta
dificuldades e/ou indivíduo no decorrer da vida. A troca de experiências
fracasso escolar,
torna-se necessário com os demais membros da mesma espécie é
investigar o contexto
da sala, as indispensável.
interações que
ocorrem entre o
aluno, seus colegas
e seus professores. A aprendizagem envolve uma grande integração
É necessário
investigar, também,
sensorial ao nível do sistema nervoso central onde é
a história pessoal e
organizada, armazenada e depois elaborada para
suas
particularidades de originar as respostas e as reações motoras. A
vida.
aprendizagem envolve a integração polissensorial em
estruturas cada vez mais complexas.

Aprendemos por nós mesmos, não sendo


possível aprendermos pelos outros. As novas
aprendizagens dependem das experiências anteriores
do indivíduo, sendo assim, as primeiras aprendizagens
servem de pré-requisito para as subseqüentes.

Segundo Alves (2003, p.98),

o preparo para iniciar a leitura e a


escrita (alfabetização) depende de uma
complexa integração dos processos
neurológicos e de uma harmoniosa
evolução de habilidades básicas como
percepção, esquema corporal, lateralida-
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 73

de, orientação espacial e temporal,


coordenação visomotora, ritmo, análise
e síntese visual e auditiva, habilidades
visuais e auditivas, memória
sinestésica, linguagem oral.”

Johnson e Myklebust, citados por Stelling (1994,


p.13), registram que os transtornos de aprendizagem
podem estar relacionados com qualquer nível dos
diversos processos de aprendizagem e dividem esses
processos em cinco níveis e os denomina de "Hierarquia
das Experiências".

ABSTRATO

Conceitualização

Simbolização

Imagem

Percepção

Sensação
Para refletir

CONCRETO Os índices absurdos


de evasão e de
reprovação nas 1ª
Johnson e Myklebust (apud Stelling, op cit, p.13) séries, imutáveis há
mais de 40 anos,
dispõem as experiências em níveis hierárquicos são realidade, assim
partindo das mais concretas até chegar às de maior como é real a
precária condição de
abstração. Tal classificação põe em evidência que o saúde da população
brasileira. No
prejuízo das funções primárias prejudica as categorias entanto, a relação
causal entre estes
superiores, sem que seja obrigatório o prejuízo dos dois problemas é um
grande mito que
níveis inferiores quando os superiores forem afetados. tem se mantido, e
até mesmo sido
reforçado, desde o
Para Vigotsky (apud Stelling, op cit, pp.7-8), as século passado. Em
síntese, as causas
teorias mais importantes na relação entre médicas do fracasso
escolar não existem!
desenvolvimento e aprendizagem na criança apresenta-se (Moysés, sd)
em três abordagens diferentes.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 74

A primeira teoria propõe a independência dos


processos de aprendizagem e de desenvolvimento. A
adequada maturação e o desenvolvimento favorecem a
posterior aprendizagem, considerando-se as relações
temporais entre os dois processos.
Dica de
leitura
A segunda teoria é oposta à anterior, propõe
VIGOTSKY, L. S. A que os processos ocorram concomitantemente, isto é, a
Formação Social da
Mente. 4ª ed., São aprendizagem é desenvolvimento.
Paulo: Martins
Fontes, 1991.

Finalmente, a terceira teoria concilia as


conclusões das duas anteriores. Esta propõe que a
maturação depende do desenvolvimento do Sistema
Nervoso e a aprendizagem é por si só um processo de
desenvolvimento.

A aprendizagem é um processo pessoal,


constante, contínuo, que ocorre em todos os momentos
de nossa vida, onde cada pessoa tem o seu próprio
ritmo biológico para aprender, assim sendo, há pessoas
que aprendem rapidamente, enquanto outras são mais
lentas, necessitando, assim, de mais estímulos.

FRACASSO ESCOLAR

Importante
O drama do fracasso ou insucesso escolar é
O fracasso escolar, a relativamente recente e, atualmente, está entre os
evasão escolar e a
exclusão são problemas de nosso sistema educacional, um dos mais
problemas
universais, assim estudados e discutidos.
como a necessidade
de levar em conta as
diferenças
individuais e de uma Quando falamos em fracasso, supõe-se um
pedagogia mais
construtiva.
objetivo que não foi alcançado, sendo definido como
um mau êxito.

Segundo Meira (2002, p. 1 de 3),

“a sociedade busca cada vez mais o


êxito profissional, a competência a
qualquer custo e a escola também
segue essa concepção. Aqueles que não
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 75

conseguem responder às exigências da


instituição podem sofrer com um
problema de aprendizagem. A busca
incansável e imediata pela perfeição
leva à rotulação daqueles que não se
encaixam nos parâmetros impostos”.

Azevedo (2004, pp.19/20) relata que

na tentativa de definir e esclarecer a


ocorrência do problema, os autores
Patto (1997), Machado & Souza (1997
a), Weiss (1992), Falcion (2000)
utilizam o termo “fracasso escolar”
para explicar o fenômeno da
incapacidade crônica da escola de
garantir o direito à educação escolar, o
acesso aos benefícios da escolarização
e a permanência dos jovens brasileiros
na escola, pelo menos, até o final do
Ensino Fundamental. Fazem uma
análise do contexto social e de sua
hegemonia, por meio da escola
enquanto reprodutora da classe
dominante, excluindo o aluno de sua
própria realidade, transformando as
desigualdades sociais em dificuldades
escolares.

Sob o ponto de vista social, o que era atribuído


até então ao foro individual, tornou-se subitamente um
problema insuportável, pois essa dificuldade ou
fracasso representa futuramente uma impossibilidade
de inserção no mercado de trabalho.
Dica da
professora

A preguiça, a falta de capacidade ou interesse


Devemos distinguir
deixaram de ser aceitos como explicação para o aquilo que é próprio
da criança, em
abandono anual de milhares de crianças e jovens do
termos de
sistema educativo. O fracasso escolar passou a ser dificuldades, daquilo
que ela reflete em
assumido como um fracasso de toda a comunidade termos do sistema
em que se insere.
escolar, a partir do momento que não foram capazes de
os motivar, retê-los, fazer com que tivessem êxito.

Pelo fato de as pessoas estarem sempre


buscando a perfeição, está tornando-se comum o
surgimento de crianças problemas ou crianças
fracassadas. Essas dificuldades, na maioria das vezes, fa-
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 76

zem com que as crianças percam suas identidades,


passando a ser sua dificuldade. Ao rotularmos as
crianças, não observamos em quais circunstâncias ela
apresenta tais dificuldades (ele está assim e não é
assim), dificultando uma possibilidade de mudança.

Segundo Fernandez (apud Meira, 2002, p. 2 de 3),

a família, por sua vez, também é


responsável pela aprendizagem da
criança, já que os pais são os
primeiros ensinantes e as atitudes
destes frente às emergências de
autoria do aprendente, se repetidas
constantemente, irão determinar a
modalidade de aprendizagem dos
filhos.

Ao falarmos em “famílias possibilitadoras de


aprendizagem”, estamos incluindo também as famílias
de classes baixas já que é possível a existência de
facilitadores de autoria de pensamento mesmo
convivendo com carências econômicas.

Para Alicia Fernandez (apud Meira, 2002, p. 2 de


3),

o que caracteriza estas famílias é a


criação de um espaço favorável para
que cada membro possa escolher e
responsabilizar-se pelo escolhido,
propiciando um espaço para a autoria
de pensamento. O perguntar é
possível e favorecido, há facilidade de
aceitar as diferentes opiniões e idéias.
Condições estas que não são comuns
Para pensar
em famílias produtoras de problemas
de aprendizagem.
As baixas
expectativas podem
ser incapacitantes Não podemos considerar um sintoma de forma
para os alunos,
porque elas têm isolada, mas sim dentro de um contexto muito mais
como resultado o
cumprimento da
amplo e repleto de significados. Assim acontece com o
profecia do fracasso fracasso escolar, ele pode assumir, dentro da família,
escolar.
uma função. Daí a importância de buscarmos o
significado do “não aprender”, analisando a história de vida
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 77

do sujeito e buscando uma significação das fantasias


relacionadas ao ato de aprender.

A instituição de ensino, em muitos casos, pode


contribuir com o fracasso escolar, a partir do momento
que não leva em consideração a visão de mundo do
aluno, assim sendo, muitas vezes, os profissionais da
educação não conseguem transpor o conhecimento
ensinado para a realidade do aluno.

A partir do momento que a escola valoriza


apenas a inteligência, se esquece que a não
aprendizagem sofre interferência afetiva, sendo assim,
a criança pode estar em dificuldades por ter ligado este
fato a uma situação de desprazer. Esta situação pode
estar ligada a algum acontecimento escolar.

Canongia (2006, p. 50) concorda com a


afirmação acima ao relatar que a educação escolar
pode interferir no processo de aprendizagem se houver
falta de motivação ambiental, sem estimulação visual e
auditiva, material concreto e atividades variadas com
esses recursos audiovisuais. Além de um ambiente
agradável, iluminado e confortável, despertando a
motivação, propicia a aprendizagem escolar infantil.
Deve-se, também, observar as seguintes falhas
pedagógicas: descontinuidades educacionais, ausências
freqüentes na escola, mudanças variadas de
professores, em especial, durante a alfabetização etc.
Dica da
professora
Diante da criança que fracassa, muitas vezes a
escola e os profissionais da educação não levantam O educador /
professor necessita
problemas como a estrutura da escola, a estrutura de capacitação para
se tornar um
social e a inadequação dessa estrutura à situação real tradutor do
conhecimento e
de vida da criança. conseguir modificar
sempre sua maneira
de explicar até que
Daí podem surgir os motivos do fracasso escolar: todos os alunos
aprendam.
uma não-aproximação e conhecimento do aluno e de suas
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 78

necessidades. Principalmente se estes alunos


apresentarem uma realidade diferente da realidade do
ensinante.

Segundo Capovilla & Capovilla (2004),

do enorme número de crianças com


fracasso escolar, apenas a menor
parte é encaminhada para as clínicas
com o objetivo de obter algum
atendimento. Os motivos dos
encaminhamentos são sempre os
mesmos: problemas/distúrbios de
aprendizagem, baixa atenção e auto-
estima e conseqüentes distúrbios de
comportamento, como agressividade
ou retraimento.
Para pensar
Almeida & Polônia (apud Azevedo, 2004, p.20)

Nos últimos anos, as concordam com Capovilla & Capovilla ao relatarem que,
escolas se
esqueceram cada
vez mais de como é na grande maioria das escolas, o
que se alfabetiza, fracasso escolar, além de ser traduzido
assim sendo, o como “repetência e evasão (exclusão)”
conhecimento/apren
dizado foi da escola, costuma aparecer, explícita
regredindo de ou implicitamente, sob a denominação
maneira vertiginosa, de dificuldades ou problemas
com as crianças escolares.
passando a aprender
e a saber cada vez
menos.
Porém, Capovilla & Capovilla (2004) acreditam
que:
o fracasso escolar não pode ser
atribuído apenas aos problemas de
aprendizagem inerentes às crianças.
Na verdade, a maioria das crianças,
más leitoras brasileiras, não é
constituída de dislexias propriamente
ditas. Seu padrão de fracasso na
aquisição da leitura, que parece, à
primeira vista, semelhante ao da
dislexia, tem, de fato, etiologia
diversa. Certamente, algo está
seriamente errado no sistema de
ensino, mais do que no substrato
neuroanatomofisiológico dessas
crianças.

Ainda, segundo Capovilla & Capovilla (op. cit.), a


característica principal que distingue a maior parte das
crianças com fracasso no aprendizado da leitura é a baixa
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 79

habilidade metafonêmica, também chamada de


consciência fonêmica.

Trata-se da consciência de que a fala


pode ser concebida como um fluxo no
tempo de certo número limitado de
fonemas que se combinam e
recombinam em diferentes ordens
conforme regras convencionais,
compondo diferentes palavras faladas,
e que esses fonemas podem ser
convertidos em seus grafemas
correspondentes num mapeamento de
ordem conforme a seqüência tempo-
espaço (da esquerda para a direita na Importante
linha, e de cima para baixo entre
linhas), e com lacunas para separar as
palavras. O baixo rendimento
é aparente logo no
início da
Outro fator importante que leva ao fracasso escolarização.
Muitos alunos nunca
escolar é o ensino às crianças portadoras de se recuperam do
fracasso que
necessidades educativas especiais (PNEE’s). Neste experienciaram no
início de sua vida
grupo, encontramos as deficiências física, visual, escolar quanto à
aquisição de
auditiva, mental ou múltipla. habilidades básicas.

Para trabalharmos com essas crianças, é


necessário conhecermos as características de cada
uma, pois só assim, aprenderemos quais são as
diferenças/dificuldades de cada criança para podermos
estimular da melhor forma possível.

Vale ressaltar que, mesmo no grupo das


crianças “normais”, encontramos características e
dificuldades diferentes, pois temos que levar em conta
que as crianças não são iguais, assim sendo, a escola e
os professores sempre necessitam buscar meios e
muitas vezes adaptar materiais para que os alunos
sejam estimulados corretamente, o que favorece a
aprendizagem.

Se prestarmos muita atenção, vamos descobrir


que o trabalho com as crianças “normais” e as crianças
com “deficiência” é o mesmo, pois ambos os grupos
precisam de carinho, atenção, amor e muito estímulo.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 80

Aspectos gerais das deficiências

As deficiências podem ser identificadas de


acordo com as categorias a que pertencem, que são:
física, visual, auditiva, mental ou múltipla. Para
entender melhor esses grupos, é importante observar
as características específicas de cada uma.

DEFICIÊNCIAS FÍSICAS
Importante

É definida como uma desvantagem, resultante


Cabe à Educação de um comprometimento ou de uma incapacidade, que
Especial oferecer
oportunidades que limita ou impede o desempenho motor de determinada
garantam o acesso e
a permanência na pessoa.
escola do aluno
portador de
necessidades
educativas especiais, Caracteriza-se pela alteração completa ou
bem como a sua
terminalidade parcial de um ou mais segmentos do corpo humano,
acadêmica.
acarretando o comprometimento da função física.
Podem ser subdivididas de acordo com a origem dos
sistemas orgânicos que foram afetados: encefálica,
espinhal, muscular ou ósteo-articular.

Refere-se ao comprometimento do aparelho


locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o
sistema muscular e o sistema nervoso. As doenças ou
lesões que afetam quaisquer desses sistemas,
isoladamente ou em conjunto, podem produzir quadros
de limitações físicas de grau e de gravidade variáveis,
segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de
lesão ocorrida.

Apresenta-se sob a forma de paraplegia,


paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia,
tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia,
hemiparesia, amputação ou ausência de membro,
paralisia cerebral, membros com deformidade
congênita ou adquirida, exceto as deformidades
estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 81

Entre as diversas deficiências físicas existentes,


podemos citar Artrite Reumatóide, Doença de Parkinson,
Distrofia Muscular Progressiva, Mielomeningocele ou
Espinha Bífida, Nanismo, Osteogênese Imperfeita etc.

ARTRITE REUMATÓIDE
Dica da
professora
É uma doença crônica de causa desconhecida,
onde o próprio sistema imunológico ataca o tecido que Não adianta trazer
as crianças para a
reveste e protege as articulações. A característica escola e
simplesmente
principal é a inflamação articular persistente, mas há colocá-la sentadas
na sala.
casos em que outros órgãos são comprometidos. Necessitamos
desenvolver novas
estratégias para
atingirmos essas
DOENÇA DE PARKINSON crianças. Trabalhar
numa escola dizendo
que todos devem
É decorrente de uma degeneração de neurônios abrir o livro na
página tal pode
localizados na substância negra do mesencéfalo. Esta excluir ao invés de
incluir a criança com
degeneração tem como conseqüência a diminuição da fracasso escolar
e/ou portadora de
liberação do neurotransmissor dopamina na região do necessidades
educativas especiais,
corpo estriado (Núcleo Caudado e Putâmen). Do ponto porque elas vão
perder o interesse,
de vista clínico, caracteriza-se pela combinação dos vão se isolar cada
vez mais.
chamados quatro sinais cardinais: tremores de
repouso, rigidez muscular, acinesia e alteração dos
reflexos de manutenção da postura.

DISTROFIA MUSCULAR PROGRESSIVA

É uma doença de caráter hereditário, sendo sua


principal característica a degeneração da membrana
que envolve a célula muscular, causando sua morte.

MIELOMENINGOCELE OU ESPINHA BÍFIDA

Grave anormalidade congênita do Sistema


Nervoso. Desenvolve-se nos primeiros dois meses de
gestação e representa um defeito na formação do tubo
neural.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 82

NANISMO

É a condição de tamanho de um indivíduo


Importante quando a sua altura é muito menor que a média dos
indivíduos da mesma raça, da mesma idade e do
Desconsideram-se,
ou mesmo omitem- mesmo sexo.
se, os índices
alarmantes de
reprovação e o fato A condição de estar abaixo da altura esperada
destes serem
claramente como o resultado de uma parada prematura do
determinados pela
inserção social da crescimento esquelético. Ele pode ser causado pela
família. Índices tão
altos que por si só já secreção insuficiente do hormônio do crescimento:
indicam o caminho:
a análise da nanismo hipofisário.
instituição escolar,
enquanto integrante
do sistema sócio-
político. (Moysés, OSTEOGÊNESE IMPERFEITA
sd)

É uma doença genética relativamente rara, que


provoca principalmente a fragilidade dos ossos. Uma
deficiência do colágeno do organismo é a responsável
pelas características da doença. Os portadores
costumam ter dezenas de fraturas, ossos que se
curvam e duas características marcantes: a esclerótica
(branco do olho) azulada e o rosto triangular.

DEFICIÊNCIA VISUAL

Importante

Caracteriza-se pela incapacidade total ou parcial


O individuo que de seus portadores utilizarem o sentido da visão nas
nasce com o sentido
da visão, perdendo- atividades normais da vida e pela capacidade de
o mais tarde, e que
guarda memórias superarem sua deficiência, valendo-se dos sentidos
visuais, consegue se
lembrar das remanescentes; podendo ser adquirida ou congênita.
imagens, luzes e
cores que conhece e
isso é muito útil
para sua É considerado cego aquele que apresenta desde
readaptação.
a ausência total de visão até a perda da percepção
luminosa. Aqueles que têm visão subnormal ou baixa
visão apresentam desde a capacidade de perceber
luminosidade até o grau em que a deficiência visual
interfira ou limite seu desempenho.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 83

No que se refere às pessoas de visão subnormal,


tem-se que é uma perda severa da visão que não pode
ser corrigida por tratamento clínico ou cirúrgico nem
por óculos convencionais. Também pode ser descrita
como qualquer grau de enfraquecimento visual que
cause incapacidade e diminua o desempenho visual.

O portador da visão subnormal, dependendo da


patologia, apresenta comprometimentos relacionados à
diminuição da acuidade e/ou campo visual, adaptação à
luz e ao escuro e à percepção de cores.

DEFICIÊNCIA AUDITIVA (DA)

Segundo Alves (2003, p. 112),

qualquer problema que ocorra em


alguma das partes do ouvido pode
causar uma deficiência na audição.
Deficiência Auditiva é o nome usado Importante
para indicar uma perda de audição, ou
seja, uma diminuição na capacidade de
escutar os sons. Sendo assim, o As manifestações do
indivíduo só é considerado DA se a fracasso escolar são
múltiplas, porém
perda for diagnosticada nos dois três delas são
ouvidos. particularmente
referidas pela
possibilidade que
Surdez é a diminuição, em grau mais ou menos oferecem de se
poder medir a
intenso, da percepção normal do som. própria eficácia do
sistema educativo:
abandono da escola
antes do fim do
Redução na capacidade para ouvir sons, a qual ensino obrigatório;
as reprovações
varia em intensidade, de acordo com a classificação:
sucessivas que dão
lugar a grandes
desníveis entre
SURDEZ LEVE (25 a 40 dB) idade cronológica do
aluno e o nível
escolar; e a
passagem dos
Impede que a criança perceba igualmente todos alunos para tipos de
ensino menos
os fonemas da palavra, e a voz fraca ou distante não é exigentes, que
conduzem a
ouvida. O aluno é considerado desatento porque solicita aprendizagens
profissionais
freqüentemente a repetição daquilo que lhe falam. Essa imediatas, mas os
afasta do ingresso
perda não impede a aquisição normal da linguagem,
no ensino superior.
porém pode ser a causa de problemas articulatórios ou
de dificuldades na leitura e/ou na escrita.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 84

SURDEZ MODERADA (41 a 70 dB)

Acarreta dificuldades na percepção da palavra,


sendo necessária uma voz de certa intensidade para
que seja convenientemente percebida. São freqüentes
o atraso de linguagem e as alterações articulatórias,
havendo, em alguns casos, maiores problemas
lingüísticos. Em geral, identificam as palavras mais
significativas, tendo dificuldade de compreender certos
termos de relação e/ou frases gramaticais complexas.
Sua compreensão verbal está intimamente ligada à sua
aptidão para a percepção visual.

SURDEZ SEVERA (71 a 90 dB)

Permite apenas a identificação de alguns ruídos


familiares e a percepção da voz forte. A criança pode
chegar até os 4 ou 5 anos sem aprender a falar. Caso a
família esteja bem orientada, a criança poderá adquirir
alguma linguagem com seu auxílio. A compreensão
verbal vai depender, em grande parte, da aptidão do
aluno para utilizar a percepção visual e para observar o
contexto das situações.

SURDEZ PROFUNDA (acima de 91 dB)

Você sabia?
Priva a criança das informações auditivas

Síndrome é o necessárias para a percepção e a identificação da voz


conjunto de sinais e
humana, impedindo que adquira a linguagem oral. As
sintomas nos quais
estão envolvidas perturbações da função auditiva estão ligadas tanto à
influências
genéticas, estrutura acústica quanto à identificação simbólica da
biológicas, sociais,
afetivas e culturais. linguagem.

AUDIÇÃO RESIDUAL

Presença apenas de freqüências isoladas.

ANACUSIA

Ausência total de sensação sonora.


Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 85

DEFICIÊNCIA MENTAL

É definida pela Associação Americana de


Desenvolvimento Mental – 1990 como:

a condição na qual o cérebro (órgão


essencial para a aprendizagem) está
impedido de atingir um
desenvolvimento adequado,
dificultando a aprendizagem no
indivíduo, privando-o de ajustamento
social.

Funcionamento intelectual significativamente


inferior à média, com manifestações antes dos 18 anos
e limitações associadas a duas ou mais áreas de
habilidades adaptativas, tais como: comunicação;
cuidado pessoal; habilidades sociais; utilização da
comunidade; saúde e segurança; habilidades
acadêmicas; lazer e trabalho.

Entre as várias síndromes causadoras de


deficiência mental, podemos citar Síndrome de
Angelman, Síndrome de Down ou Trissomia do 21,
Síndrome de Martin Bell ou do X-frágil, Síndrome de
Prader-Willi, Síndrome de Rett etc.
Para refletir

SÍNDROME DE ANGELMAN
A origem social dos
alunos tem sido a
causa mais usada
É um distúrbio neurológico que também causa para justificar os
piores resultados,
retardo mental, alterações do comportamento como
sobretudo quando
sintomas semelhantes ao autismo, dificuldade ou são obtidos por
alunos originários de
ausência da fala, epilepsia e retardo psicomotor. Nas famílias de baixos
recursos
crianças que já andam, o que chama atenção são os econômicos, onde,
aliás, se encontra a
movimentos trêmulos e imprecisos. Nos recém- maior percentagem
de insucessos
nascidos, o diagnóstico é dificultado porque as pessoas escolares.

com essa síndrome não apresentam as características


faciais próprias.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 86

Segundo Moore & Persaud (2004, pp.185 e


186),

as características clínicas são


microcefalia, macrossomia, ataxia, riso
excessivo, convulsões, retardo mental
grave e braquicefalia (cabeça curta).

SÍNDROME DE DOWN OU TRISSOMIA DO 21

É a forma mais freqüente de retardo mental


causada por uma aberração cromossômica
microscopicamente demonstrável. É caracterizada por
história natural e aspectos fenotípicos bem definidos. É
causada pela ocorrência de três (trissomia)
cromossomos 21, na sua totalidade ou de uma porção
fundamental dele.

Segundo Moore & Persaud (op cit, p.181),

as manifestações clínicas usuais são


deficiência mental, braquicefalia, ponte
nasal achatada, inclinação superior das
fissuras palpebrais, língua projetada,
prega simiesca, clinodactilia do 5º
dedo da mão e defeitos congênitos do
coração.

SÍNDROME DE MARTIN BELL OU DO X-FRÁGIL


Dica da
professora

É uma condição genética herdada, produzida


O método de ensino,
pela presença de uma alteração molecular ou mesmo
recursos didáticos,
técnicas de de uma quebra na cadeia do cromossomo X, condição
comunicação
inadequadas às esta associada a problemas de conduta e
características da
turma ou de cada aprendizagem, bem como a diversos graus de
aluno fazem parte
igualmente de um deficiência mental. A doença é muito mais freqüente
vasto leque de
causas que podem em meninos.
conduzir a uma
deficiente relação
pedagógica e
influenciar, SÍNDROME DE PRADER-WILLI
negativamente, os
resultados.
Segundo Moore & Persaud (2004, pp. 185 e
186),
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 87

é um distúrbio de ocorrência
esporádica, associado a uma baixa
estatura, retardamento mental
discreto, obesidade, hiperfagia (comer
em excesso) e hipogonadismo (função
gonodal inadequada), hipotonia, mãos
e pés pequenos.

Já segundo Alves (2003, p. 123),

é uma síndrome de natureza genética


e que inclui baixa estatura, retardo
mental ou transtorno de
aprendizagem, desenvolvimento sexual
incompleto, problemas de
comportamento característicos, baixo
tono muscular e uma necessidade
involuntária de comer constantemente
(hiperfagia), a qual unida a uma
necessidade de calorias reduzidas, leva
invariavelmente à obesidade. É um
problema congênito associado a um
tipo de retardo mental. Comem sem
parar. Parece estar relacionado com
um mau funcionamento do
hipotálamo.

SÍNDROME DE RETT

Segundo Alves (op cit, p. 124),


Para
navegar
é uma desordem neurológica que
provoca estagnação no
Em
desenvolvimento físico e mental, Aos http://www.prsp.mp
poucos, a criança deixa de andar, f.gov.br, você faz
falar, brincar, manipular objetos, faz download da cartilha
movimentos estereotipados e O Acesso de Alunos
com Deficiência às
repetitivos com as mãos, surgindo em Escolas e Classes
seguida perda das habilidades Comuns da Rede
manuais. Essas meninas se Regular.
desenvolvem de forma aparentemente Em
http://www.mec.gov
normal entre oito e doze meses, .br/seesp, conheça
depois começa a mudar o padrão de as propostas do
desenvolvimento. Causa: Pesquisas Projeto Educar na
sugerem que a causa seja a mutação Diversidade.
no braço - do cromossomo “X”
paterno, transmitindo apenas aos
filhos do sexo feminino.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 88

DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA

É a associação, no mesmo indivíduo, de duas ou


mais deficiências primárias (mental, visual, auditiva,
física), com comprometimentos que acarretam
conseqüências no seu desenvolvimento global e na sua
capacidade adaptativa.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Escola inclusiva é aquela que acomoda todas as


crianças, independentemente de suas condições
intelectuais, sociais, emocionais, lingüisticas e outras
(Declaração de Salamanca - 1994).

Importante
Entendemos por inclusão o respeito e
Na escola inclusiva, reconhecimento das diferenças humanas em toda sua
professores e alunos
aprendem uma lição diversidade e heterogeneidade.
que a vida
dificilmente ensina:
respeitar as
diferenças. Esse é o Proposta de educação acessível e de qualidade
primeiro passo para
construir uma (contempla as pessoas nos mais diferentes níveis de
sociedade mais justa
(Mantoan, 2005, p.
ensino), envolvendo a participação democrática de
24). todos. É aprender a conviver, a dialogar e a perceber
falhas no processo ensino-aprendizagem.

É o processo de inclusão dos PNNE’s ou de


distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino
em todos os seus graus.

Segundo Mrech (2005, pp. 3/4),

inclusão é atender aos estudantes


portadores de necessidades especiais
nas vizinhanças da sua residência;
propiciar a ampliação do acesso desses
alunos às classes comuns; propiciar
aos professores da classe comum um
suporte técnico; perceber que as
crianças podem aprender juntas,
embora tendo objetivos e processos
diferentes; levar os professores a
estabelecer formas criativas de
atuação com as crianças portadoras de
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 89

deficiência; e propiciar um
atendimento integrado ao professor de
classe comum.

Para Mantoan (2005, p. 24),

inclusão é a nossa capacidade de


entender e reconhecer o outro e,
assim, ter o privilégio de conviver e
compartilhar com pessoas diferentes
de nós. A educação inclusiva acolhe to-
das as pessoas, sem exceção. É para o
estudante com deficiência física, para
os que têm comprometimento mental,
para os superdotados, para as
minorias e para a criança que é
discriminada por qualquer motivo.
Para pensar
Em uma escola inclusiva, devemos treinar e
sensibilizar todos os funcionários da instituição, sendo Estar junto é se
aglomerar com
importante também sensibilizar os pais, sobretudo os dos pessoas que não
conhecemos.
não deficientes. Todos devem desempenhar um papel Inclusão é estar
com, é interagir com
ativo no processo de inclusão. o outro (Mantoan,
2005, p. 25).

Partindo-se da premissa de que quanto mais a


criança interage espontaneamente com situações
diferenciadas, mais ela adquire o genuíno
conhecimento, fica fácil entender porque a segregação
não é prejudicial apenas para o aluno com necessidades
educativas especiais, ela prejudica a todos porque
impede que as crianças de escolas regulares tenham
oportunidade de conhecer a vida humana com todas as
suas dimensões e desafios. Sem bons desafios, como
evoluir?

Segundo Mantoan (2005, p. 25),

a equipe da escola inclusiva deve


discutir o motivo de tanta repetência e
indisciplina, de os professores não
darem conta do recado e de os pais
não participarem.

Ainda segundo Mantoan (op cit, p. 25),


Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 90

os alunos precisam de liberdade para


aprender do seu modo, de acordo com
as suas condições. E isso vale para os
estudantes com deficiência ou não.

Ao falarmos em educação inclusiva, não


podemos deixar de lado os vários documentos
orientadores existentes, tanto no âmbito internacional
como na legislação brasileira:

NO ÂMBITO INTERNACIONAL

A Assembléia Geral das Nações Unidas produziu


vários documentos norteadores para o desenvolvimento
de políticas públicas de seus países membros. O Brasil,
enquanto país membro da ONU e signatário desses
documentos, reconhece seus conteúdos e os tem
respeitado, na elaboração das políticas públicas
internas.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS

Dica da HUMANOS (1948)


professora

Assegura às pessoas com deficiência os mesmos


O termo inclusão já direitos à liberdade, a uma vida digna, à educação
traz implícito a idéia
de exclusão, pois só fundamental, ao desenvolvimento pessoal e à livre
incluímos alguém
que foi excluído. A participação na vida da comunidade.
inclusão está
respaldada na
dialética
inclusão/exclusão, DECLARAÇÃO DE JOMTIEN (1990)
com a luta das
minorias na defesa
dos seus direitos.
Nela os países relembram que:

a educação é um direito fundamental


de todos, mulheres e homens, de
todas as idades, no mundo inteiro.

Ao assinar a declaração, o Brasil assumiu o


compromisso de erradicar o analfabetismo e
universalizar o ensino fundamental no país. Para
cumprir com esse compromisso, o Brasil tem criado
instrumentos norteadores para a ação educacional e
documentos legais para apoiar a construção de sistemas
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 91

educacionais inclusivos, nas diferentes esferas públicas:


municipal, estadual e federal.

DECLARAÇÃO DE SALAMANCA (1994)

O objetivo específico das discussões desse


encontro foi a atenção educacional aos alunos com
necessidades educativas especiais, tendo como
princípio fundamental:

Importante
todos os alunos devem aprender
juntos, sempre que possível, Ao assinar a
independente das dificuldades e Declaração de
diferenças que apresentem. Salamanca, o Brasil
comprometeu-se
com o alcance dos
Klebis & Piacentini (2005, p. 1 de 4) acreditam objetivos propostos,
que visa a
que a política de educação inclusiva, no Brasil, está transformação dos
sistemas de
embasada na Declaração de Salamanca; e ressaltam educação em
sistemas
que a Declaração afirma que as escolas regulares com educacionais
inclusivos.
orientação inclusiva são os meios mais eficazes de
combater atitudes discriminatórias.

CONVENÇÃO DE GUATEMALA (2001)

A partir da Convenção Interamericana para a


Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
Contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, os Estados
partes reafirmaram que :

as pessoas portadoras de deficiência


têm os mesmos direitos humanos e Para refletir
liberdade fundamentais que outras
pessoas, e que estes direitos, inclusive A inclusão não se
o de não ser submetido à refere apenas a
discriminação com base na deficiência, crianças portadoras
emanam da dignidade e da igualdade de necessidades
educativas especiais,
que são inerentes a todo ser humano. com problemas de
comportamento ou
de aprendizagem, e
DECLARAÇÃO DE SAPPORO (2002) sim a todos os
alunos.

A participação plena começa desde a


infância nas salas de aula, nas áreas
de recreio e em programas e serviços.
Quando crianças com deficiência se sen-
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 92

tam lado a lado com outras crianças,


as nossas comunidades são
enriquecidas pela consciência e
aceitação de todas as crianças.
Devemos instar os governos em todo o
mundo a erradicarem a educação
segregada e a estabelecerem uma
política de educação inclusiva.

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

A sociedade brasileira tem elaborado dispositivos


legais que tanto explicitam sua opção política pela
construção de uma sociedade para todos, como
orientam as políticas públicas e sua prática social.

CONSTITUIÇÃO FEDERAL (1988)

A Constituição da República Federativa do Brasil


assumiu, formalmente, os mesmos princípios postos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Prevê o pleno desenvolvimento dos cidadãos,


sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação; garante o
direito à escola para todos; e coloca como princípio
para a Educação o “acesso aos níveis mais elevados do
ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um”.

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ECA


(1990)

Garante o direito à igualdade de condições para


o acesso e a permanência na escola, sendo o ensino
fundamental obrigatório e gratuito (também aos que
não tiveram acesso na idade própria); o respeito dos
educadores; e o atendimento educacional
especializado, preferencialmente na rede regular.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 93

LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO


NACIONAL (1996)

Art. 58. Entende-se por educação especial, para


os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar,
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,
para educandos portadores de necessidades especiais.

DECRETO 3298 (1999) - POLÍTICA NACIONAL


PARA A INTEGRAÇÃO DA PESSOA PORTADORA DE
DEFICIÊNCIA

No que se refere especificamente à educação, o


decreto estabelece a matrícula compulsória de pessoas Para pensar
com deficiência, em cursos regulares, a consideração
da educação especial como modalidade de ensino, a A inclusão começa
na aceitação da
oferta obrigatória e gratuita da educação especial em família. Se temos
uma família que não
estabelecimentos públicos de ensino, entre outras aceita a diferença do
próprio filho, como é
medidas. que ela vai
conseguir com que a
sociedade a aceite?
DECRETO 3956 (2001)

Através dele o Brasil promulgou a Convenção


Interamericana Para a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação Contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência.

LEI ORGÂNICA MUNICIPAL (1990)

No seu artigo 322, inciso VII, determina

o atendimento educacional
especializado aos portadores de
deficiência por equipe multidisciplinar
de educação especial, mediante
matrícula em escola da rede mais
próxima de sua residência, em turmas
comuns ou, quando especiais,
seguindo critérios determinados por
cada tipo de deficiência.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 94

RESOLUÇÃO Nº 2/2001 - INSTITUIU AS


DIRETRIZES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO
ESPECIAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Dica de
leitura
Houve um avanço na perspectiva da

FÁVERO, E. A. G. universalização e atenção à diversidade, na educação


Direitos das Pessoas
com Deficiência: brasileira, com a seguinte recomendação: Os sistemas
garantia de
igualdade na
de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo
diversidade. Rio de às escolas organizar-se para o atendimento aos
Janeiro: WVA, 2004.
educandos com necessidades educacionais especiais,
assegurando as condições necessárias para a educação
de qualidade para todos. No entanto, a realidade desse
processo inclusivo é bem diferente do que se propõe na
legislação e requer muitas discussões relativas ao
tema.

O ATO DE AVALIAR NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Importante
Para Azevedo (2004, p. 35), avaliar é julgar ou
Apesar da avaliação fazer a apreciação de alguém ou alguma coisa, tendo,
ser uma exigência
institucional, o modo como base, uma escala de valores.
de realizá-la e seu
conteúdo ficam
totalmente nas
mãos do professor. Haydt (apud Azevedo, op cit., p. 36) afirma que:

a avaliação é uma atividade


metodológica que consiste na coleta e
na combinação de dados relativos ao
desempenho, usando um conjunto
ponderado de escalas e critérios que
leve a classificações comparativas ou
numéricas, e na justificação delas.

Silva (1997, pp. 29 e 30) relata que:

a avaliação do conteúdo tem por


objetivo informar sobre o rendimento
escolar. O processo de avaliação é
mais amplo do que medir e/ou testar o
conhecimento adquirido. O processo
de avaliação deve ser bem elaborado
de acordo com suas próprias regras,
pois, através deste, o professor poderá
identificar o rendimento e/ou fracasso
do aluno, assim sendo, cria-se a possi-
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 95

bilidade do professor, através de novos


recursos, trabalhar as dificuldades de
seus alunos.

Azevedo (op. cit., p. 37) acredita que:

a avaliação é sempre um processo


contínuo e sistemático e deve ser
constantemente planejada; é
funcional, isto é, realiza-se em função
de objetivos, possibilitando verificar
em que medida os alunos estão
atingindo esses objetivos previstos; é Importante
orientadora, pois não visa eliminar
alunos, e sim permitir-lhes conhecer
seus acertos e erros, auxiliando-os a Só quem leva a
fixar respostas corretas; é integral, sério a
aprendizagem do
pois analisa e julga todas as aluno, conhece a
dimensões do comportamento, cara de cada um
considerando o aluno como um todo deles, observa o
(aspectos cognitivos, afetivos, desenvolvimento de
cada um deles,
motores, sociais). enxerga que a nota
não informa, mas
nivela.
Para Silva (1997, pp. 29 e 30)

a avaliação deve ser muito bem


elaborada. Existem sérios problemas
de aprendizagem e através de
avaliações inadequadas o professor,
sem condições necessárias de detectar
as falhas, promove o aluno sem as
mínimas condições. Isto significa que,
através da avaliação inadequada, o
professor poderá reforçar ou encobrir
as falhas na aprendizagem.

Mittler (2003, p. 159) relata que

outro obstáculo principal à inclusão


assenta-se na prática de exames, na
avaliação e na classificação de
crianças, prática esta que herdamos de
gerações anteriores e que tem sido
tradicionalmente usada para separar
umas crianças de outras. Não
podemos esperar atingir um currículo
mais inclusivo ou escolas mais
inclusivas a menos que também
empreendamos uma revisão
fundamental do sistema de avaliação e
seu impacto na vida das crianças e de
sua família.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 96

Já Mantoan (2005) relata que

uma boa avaliação é aquela planejada


para todos, em que o aluno aprende a
analisar a sua produção de forma
crítica e autônoma. Ele deve dizer o
que aprendeu, o que acha interessante
estudar e como o conhecimento
adquirido modifica a sua vida. Avaliar
estudantes emancipados é, por
exemplo, pedir para que eles próprios
inventem uma prova. Assim, mostram
o quanto assimilaram um conteúdo.
Aplicar testes com consulta também é
muito mais produtivo do que cobrar
decoreba. A função da avaliação não é
medir se a criança chegou a um
determinado ponto, mas se ela
cresceu. Esse mérito vem do esforço
pessoal para vencer as suas
limitações, e não da comparação com
os demais.

A aprendizagem ocorre de várias maneiras e em


tempos diferentes, já que cada pessoa tem uma
vivência e um ritmo próprio, que deve ser respeitado.
Dica da
professora
As avaliações servem mais para ver quem se
A avaliação é uma encaixa nos padrões de aluno ideal do que para medir o
cultura escolar
solidificada e progresso de cada um, dentro de suas possibilidades.
institucionalizada.
Devido à resistência Esse padrão gera sofrimento, pois o aluno tenta
dos professores, dos
pais, da escola e o atender as expectativas de uma escola que não valoriza
fato dos alunos já
estarem habituados, seu potencial.
torna-se quase
impossível mudar o
sistema avaliativo. Temos que levar em conta as dificuldades de
expressão, fruto talvez de um temperamento ou de um
histórico de repressão. Por outro lado, devemos
observar as facilidades de criação, não só em relação
aos conteúdos, mas também aos canais de expressão.

Devemos ter em mente que há alunos que


apreendem, ou se expressam melhor pelo canal
auditivo, no que podem ser auxiliados com músicas e
versos. Que há os que privilegiam o sentido do olhar,
no que podem ser estimulados por cartazes, vídeos, cores
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 97

e formas. Há os que são francamente estimulados pela


via cinestésica, isto é, do movimento, para estes,
ritmo, movimento, trabalhos práticos, dramatizações
costumam funcionar muito bem.

E só pela utilização de todos estes recursos,


quantas variantes sua avaliação pode ganhar?

Se levarmos em conta toda essa diversidade,


não podemos avaliar de uma única forma. Se isso
acorre, estamos avaliando de forma quantitativa e não
qualitativa, mascarando, assim, a real aprendizagem.

A avaliação deve ser feita de formas diferentes e


de preferência que não ocorram no mesmo dia, pois
nesse dia a pessoa pode não estar muito bem.

Importante
A inclusão através da avaliação só ocorre no
momento em que esgotamos todas as formas de Não é por decreto
que teremos uma
avaliar, o que possibilita que o indivíduo seja bem- mudança na
avaliação, a
sucedido, demonstrando sem medo o seu avaliação formativa
precisa entrar na
conhecimento. escola por outros
meios que passem
pela reflexão dos
professores, pelo
Conclusão aval dos
coordenadores e
diretores, pela
conscientização dos
A aprendizagem ocorre através do vínculo entre pais, nessa ordem.
aluno e professor. Para aprender, o ser humano coloca
em jogo seu organismo herdado, seu corpo e sua
inteligência construídos em interação e a dimensão
inconsciente. A aprendizagem tem um caráter Importante

subjetivo, pois o aprender implica desejo que deve ser


reconhecido pelo aprendente. As crianças com
fracasso escolar
necessitam receber
respeito e
Para oferecermos uma educação de qualidade cooperação para
suprir suas
aos PNEE’s, temos rigorosamente que nos desfazermos necessidades sem
paternalismo,
de quaisquer preconceitos e nos disponibilizarmos para piedade e
sentimentalismo.
a luta por direitos políticos, educativos, terapêuticos,
lingüísticos e culturais.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 98

Percebemos que as pesquisas nos ajudam a


crescer, portanto são meios de aprimoramento na
complexidade e expressividade do nosso dia a dia,
assim, a cada necessidade educativa especial aplicamos
técnicas adequadas de atendimento alternativo: sutis,
concretos e objetivos. Devemos deixar de lado o
abstrato, o irreal, pois temos pessoas para educar, para
ensinar e a incluir em uma sociedade que está
conturbada.

Nada está perdido se houver esperança, amor,


compromisso, seriedade, assim como, a infra-estrutura
necessária para que todos tenham oportunidades
iguais. É por meio das ações viabilizadas através da
Quer busca do diálogo constante entre família, escola e
saber mais?
sociedade que renovamos o nosso mundo interior,

Todas as crianças, nosso valor e buscamos assegurar na sociedade a


jovens e adultos, em
sua condição de garantia de plena cidadania.
seres humanos, têm
direito de beneficiar-
se de uma educação
Para falar sobre inclusão escolar, é necessário
que satisfaça as
suas necessidades repensar o sentido que se está atribuindo à educação,
básicas de
aprendizagem, na além de atualizar nossas concepções e ressignificar o
acepção mais nobre
e mais plena do processo de construção de todo o indivíduo,
termo, uma
educação que compreendendo a complexidade e amplitude que
signifique aprender
e assimilar envolve essa temática.
conhecimentos,
aprender a fazer, a
conviver e a ser.
Uma educação
Para haver uma efetiva educação inclusiva, é
orientada a explorar
necessário que haja a implantação, o desenvolvimento
os talentos e
capacidades de cada e o acompanhamento de diversos profissionais e
pessoa e a
desenvolver a equipes multidisciplinares inseridas no processo
personalidade do
educando, com o constante e ininterrupto de movimentos dialógicos
objetivo de que
melhore sua vida e envolvendo família, escola, comunidade, empresas,
transforme a
sociedade (Marco de instituições particulares e públicas com o objetivo de
Ação de Dakar, abril
de 2000). promover um eixo de transformação para a inclusão
dos PNNE’s.

As mudanças são necessárias e fundamentais


para que ocorra a real inclusão, porém para tal faz-se ne-
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 99

cessário o esforço de todos, o que possibilita que a


escola possa ser vista como um ambiente de
construção do saber, deixando de existir a
discriminação de idade e de capacidade.

A era da globalização não permite fracasso, já


que toda a tecnologia de ponta avança
assustadoramente com equipamentos e programas Importante
voltados para os PNEE’s. Tudo é bem-vindo para que
ocorra a inclusão, porém não podemos nos esquecer do O elevado número
de alunos, por
lado humano, afetivo e psicológico que está por trás do escola e turma,
tende igualmente
indivíduo. Ele sabe como ninguém as privações por que não apenas a
provocar o aumento
já passou e o que tem de enfrentar no decorrer da vida. dos conflitos, mas,
sobretudo, a
diminuir o
rendimento
No âmbito escolar e no contexto das ações individual.
socioeducativas, os PNEE’s vivenciam um processo
biopsicossocial e estabelecem suas relações
sujeito/objeto, sendo o professor o mediador em uma
relação intersubjetiva e que o ajude a construírem
juntos, através de estímulos, a partir de experiências
que desenvolvam a sua inteligência, buscando
privilegiar o pensamento interdisciplinar, na descoberta
dos limites do próprio corpo, da auto-identidade e das
suas características emocionais.

Para que a inclusão se torne realidade, é


necessário rever as barreiras, as políticas, as práticas
pedagógicas e os processos de avaliação. Faz-se
necessário o conhecimento do desenvolvimento
humano e suas relações com o processo ensino X
aprendizagem, levando em consideração que este
processo ocorre de diferentes formas, variando de
indivíduo para indivíduo.

Ao trabalharmos com a educação inclusiva,


temos de ter em mente que os currículos e as
metodologias sejam flexíveis, onde levamos em conta a
singularidade de cada aluno, respeitando seus interesses,
suas idéias e desafios para novas situações.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 100

Devemos investir na diversificação dos


conteúdos e práticas que possam melhorar as relações

Para refletir entre professor e alunos; avaliar de forma continuada e


permanente, enfatizando a qualidade e não a
A atual sociedade quantidade do conhecimento, dando oportunidade à
assenta num
conjunto de valores criatividade, à cooperação e à participação.
que desencorajam o
estudo e promovem
o fracasso escolar.
Diversão, Diante de tanta informação que dispomos hoje,
individualismo e
consumismo, três acreditamos que temos muitos desafios para enfrentar:
valores essenciais
na sociedade atual,
mudar a escola como um todo, respeitar as
são em tudo opostos peculiaridades e incorporar a diversidade sem distinção.
ao que a escola
significa: procura
incessante do saber.
O melhor que temos para os nossos PNEE’s é
acolhê-los com presentes: a família presente, a escola
presente, o trabalho e a sociedade sempre presentes.

Inclusão podemos fazer todos os dias, respeito e


compromisso são para todo o sempre.

EXERCÍCIO 1

O desenvolvimento, em seu processo global, inclui dois


processos complementares. Quais são eles?

( A ) Integração dos processos neurológicos e


aprendizagem;
( B ) Hierarquia das experiências e maturação;
( C ) Maturação e aprendizagem;
( D ) Integração dos processos neurológicos e
hierarquia das experiências;
( E ) Potenciais inatos e maturação.
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 101

EXERCÍCIO 2

Com relação aos portadores de necessidades


educativas especiais, quais são os grupos de deficiência
que podemos encontrar?

( A ) Síndrome de down, paraplegia, deficiência física e


deficiência mental;
( B ) Visual, auditiva, espinha bífida e anacusia;
( C ) Síndrome de rett, múltipla, nanismo e auditiva;
( D ) Múltipla, visual, física e espinha bífida;
( E ) Física, visual, auditiva, mental e múltipla.

EXERCÍCIO 3

Na legislação brasileira a Resolução nº 2/2001 -


Instituiu as Diretrizes Nacionais Para a Educação
Especial na Educação Básica. Descreva esta resolução.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Descreva dois dos problemas referentes a deficiência


auditiva.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 | Fracasso escolar e educação inclusiva 102

RESUMO

Vimos até agora:

 Ao se rotular uma criança como sendo


incapaz, além de ser um estímulo incorreto,
pode gerar, também, danos psicológicos em
sua formação e criar bloqueios, que se
tornam difíceis de serem superados;
lembrando que a aprendizagem é um
processo pessoal contínuo e constante;

 A instituição de ensino, em muitos casos,


pode contribuir com o fracasso escolar,
quando, por exemplo, não considera a visão
de mundo do aluno ou, então, se valoriza
apenas a inteligência, esquece que a não
aprendizagem sofre interferência afetiva, e a
criança pode estar em dificuldades;

 O conhecimento da caracterização das


deficiências física, auditiva, mental e múltipla
é essencial na formação do educador
comprometido com a inclusão escolar, assim
como também ter conhecimento dos vários
documentos orientadores existentes, tanto no
âmbito internacional como na legislação
brasileira;

 Ao trabalharmos com a educação inclusiva é


necessário ter em mente que os currículos, as
metodologias e as avaliações sejam flexíveis,
de acordo com a singularidade de cada aluno,
respeitando seus interesses, suas idéias e
desafios para novas situações.
4
Transtorno de Déficit

AULA
de Atenção e
Hiperatividade
Soraya Jordão
Apresentação

Esta aula aborda teoricamente o Transtorno de Déficit de Atenção


e Hiperatividade de maneira reflexiva e questionadora com relação
à aprendizagem. Apresenta-se um histórico do surgimento do
tema e sua evolução conceitual. Destacam-se os principais
sintomas e as implicações educacionais.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Esclarecer e auxiliar o educador a identificar as características,


Objetivos

necessidades, competências e habilidades de uma criança


portadora do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade;
 Apresentar uma evolução histórica sobre os diferentes
conceitos referentes ao TDA/H até o mais recente em que o
divide em subtipos (predominantemente desatento,
hiperativo/impulsivo, combinado) e caracterizam sintomas
específicos;
 Abordar os tratamentos disponíveis e as implicações
educacionais que têm relação direta no processo de
aprendizagem e no cotidiano escolar, tais como: organização
da sala de aula, estrutura de aula e atividades escolares,
rendimento escolar, o papel do professor e o da escola.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 104

Introdução
Você sabia?
Para darmos início a este trabalho,
“O TDA/H é um dos consideramos fundamental destacar a relevância do
transtornos mais
bem estudados na tema (Transtorno do Déficit de Atenção) para o campo
medicina e os dados
gerais sobre sua da Educação. Sabemos que, no dia-a-dia, o educador
validade são muito
mais convincentes
se defronta com diversos impasses e obstáculos na
que a maioria dos tentativa de levar seu educando a alcançar o ápice de
transtornos mentais
e até mesmo que suas potencialidades. Porém, o que se constata,
muitas condições
médicas.” atualmente, é que muitos desses obstáculos e impasses
(Associação Médica
Americana, 1998) surgem em conseqüência do comportamento dessas
crianças (desatenção, dispersão, agitação psicomotora,
desinteresse acentuado, irritabilidade, falta de limites,
de organização e de planejamento, dificuldade para
acatar normas e regras, impulsividade, agressividade,
entre outros). Então, como trabalhar?

O educador ao se deparar com alunos que


apresentam esse tipo de comportamento se questiona:
O que fazer? Como agir? Que recursos utilizar?

Trata-se de uma criança arteira? Mal-educada?


Espevitada? Ou estou lidando com uma criança
portadora do transtorno do déficit de
atenção/hiperatividade?

Visando auxiliar o educador a identificar os


sinais que diferenciam uma criança arteira, inquieta ou
desinteressada de uma criança desatenta e hiperativa,
desenvolvemos essa aula reunindo informações
relevantes para o conhecimento desse transtorno. Ao
longo desse trabalho, vocês terão acesso a informações
teóricas sobre o transtorno do déficit de atenção
(definição, sintomatologia, terapêuticas disponíveis)
assim como, orientações e dicas que facilitem a prática
educacional do professor no seu cotidiano com esses
alunos que não respondem positivamente às propostas
escolares e que, muitas vezes, pelo comportamento apre-
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 105

sentado no ambiente escolar, comprometem seu


processo de aprendizagem, o planejamento do
professor e o aproveitamento geral do grupo.
Dica da
professora
Ao conhecer melhor as características e as
necessidades de uma criança portadora do transtorno As crianças
portadoras do
de déficit de atenção/hiperatividade desvendamos, transtorno do déficit
de
também, o universo de suas habilidades e atenção/hiperativida
de quando são
competências, as possibilidades de trabalho, os pontos
ajudadas a canalizar
que necessitam ser mais estimulados. corretamente seu
potencial,
apresentam
características muito
Iniciaremos, então, apresentando o surgimento positivas, tais como:
criatividade,
dos estudos a respeito do TDA/H, a evolução do dinamismo, ousadia
e facilidade para
conceito, do conhecimento a respeito do sintomas, suas inovação.

implicações na realidade da sala de aula, suas


conseqüências no processo de aprendizagem e,
finalizaremos, oferecendo dicas para o professor que
visam ajudá-lo na criação de recursos e estratégias que
favoreçam a superação dos obstáculos vivenciados no
cotidiano escolar com crianças portadoras desse
transtorno.

Transtorno do Déficit de
Atenção/Hiperatividade (TDA/H)

O QUE É ISSO?
Você sabia?
Atribui-se ao pediatra inglês George Frederic
Still o pioneirismo de descrever como condição médica O grupo de vinte
crianças estudado
condutas infantis que , até então, eram rotuladas como por Still tinha uma
proporção de 3
“maus comportamentos” . A partir da observação de meninos para cada
menina e em todos
um grupo de vinte crianças que, embora recebessem eles o distúrbio de
comportamento
cuidados parentais satisfatórios, apresentavam atitude havia se
manifestado antes
desafiadora, pouca “inibição a sua própria vontade”, dos 8 anos.
indisciplina, agressividade, impulsividade, não
reconhecimento de regras e desatenção, Still propõe a
hipótese de que essas condutas eram “um defeito no
controle moral”. Ele acreditava que esse “defeito” crônico
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 106

poderia ser herdado geneticamente, pois nas famílias


estudadas foram encontradas patologias psiquiátricas
como alcoolismo e depressão, além de se observar
maior incidência desse tipo de comportamento entre os
adultos.

A idéia de que haveria uma causa biológica para


esses distúrbios da conduta infantil (atitude
desafiadora, indisciplina, agressividade, impulsividade,
não reconhecimento de regras e desatenção) foi
reforçada pela pandemia de encefalite ocorrida no
período de 1917 a 1918, na medida em que as crianças
vitimadas por essa doença apresentavam como
seqüelas: hiperatividade, impulsividade e um

Importante comportamento perturbador.

O termo Alguns estudos foram realizados descrevendo


hiperatividade
infantil foi usado por crianças que apresentavam prejuízo na atenção,
Laufer em 1957 e
por Stella Chess em regulação da atividade física e controle dos impulsos e,
1960. Nesse
período, ocorre um em 1922, Holman denominou esse quadro de
movimento de
estreitamento do “desordem pós-encefalítica do comportamento”.
foco sintomático em
torno da
hiperatividade. A lógica desenvolvida nessa época era a
Para Laufer, a seguinte: Se algumas crianças apresentam
síndrome atingiria
exclusivamente comportamento similar ao das crianças vitimadas pela
meninos e teria sua
remissão ao longo encefalite, sem terem sido expostas a essa doença,
do desenvolvimento.
Chess isola a então, essas crianças devem ter sofrido um dano
hiperatividade da
noção de lesão cerebral de alguma forma. A partir desse pressuposto,
cerebral.
surge a categoria “LESÃO CEREBRAL MÍNIMA”
“Chess encarava os
consagrada por Strauss e Lehtinen em 1947.
sintomas como parte
de uma “
hiperatividade
fisiológica” , cujas Esse termo pretendia explicar não
causas estariam apenas transtornos de
enraizadas mais na comportamento, mas também os de
biologia (genética linguagem e aprendizado. Porém, com
individual) do que
no meio ambiente a dificuldade de generalização de
(como causador de hipóteses localizacionistas cerebrais e
lesão)”. Daí o termo a persistência da impossibilidade, na
“ Síndrome da grande maioria dos casos, de
Criança Hiperativa” (
Silva, 2003, p. 172) identificar uma lesão no cérebro a
justificar os distúrbios no
comportamento, propõe-se, a partir de
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 107

um simpósio promovido pela Spastic


Society em 1962, em Londres, a
denominação Disfunção Cerebral
Mínima – DCM.
( Hallowell e Ratey apud Lima, 2005,
p. 62)

Essa denominação (disfunção cerebral mínima)


foi difundida e muito bem aceita tanto no meio médico
quanto entre os leigos.

Werner Jr. (1997,2001) observa que o


surgimento e a aceitação rápida desse
diagnóstico podem ser explicados pelo
contexto histórico e social dos EUA na
década de 1960. Nesse período, a
prosperidade econômica
experimentada nos anos do Pós-
Importante
Segunda Guerra começa a se
enfraquecer e a estabilidade da família
americana começa a dar evidentes O diagnóstico de
sinais de nova crise. Aumenta o “Síndrome da
número de divórcios, de suicídios e de Criança Hiperativa”
designava crianças
uso de tranqüilizantes, enquanto a
que apresentavam
contracultura e o movimento hippie se atividade motora
disseminam. A classe média clama por muito acima do que
uma explicação para os distúrbios de seria esperado para
sua faixa etária.
comportamento e para as dificuldades
escolares de seus filhos, e é atendida
pelo discurso dos médicos e
autoridades sanitárias. Com o aval
científico, o fracasso acadêmico e a
“indisciplina” se deslocam de possíveis
matizes econômicos, sociais ou
familiares e passam a ser atribuídos a
mínimas disfunções cerebrais.
(Lima, 2005, p. 63/64)

É importante atentarmos para o fato de que


essa pronta aceitação trouxe a reboque a explosão
dessa entidade diagnóstica em clínicas de orientação
infantil.

Em 1966, a DCM (disfunção cerebral mínima) foi


descrita pelo U.S. Department of Health, Education and
Welfare da seguinte forma:

O termo disfunção cerebral mínima


refere-se a crianças com inteligência
geral próxima da média, média ou supe-
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 108

rior à média, com distúrbios de


aprendizagem e/ou de
comportamento, que variam de grau
leve a severo, associados a desvios de
funcionamento do sistema nervoso
central. Esses desvios manifestam-se
por variadas combinações de déficits
na percepção, conceituação,
linguagem, memória e controle da
atenção, dos impulsos ou da função
motora. Essas anomalias podem ser
decorrentes de variações genéticas,
irregularidades bioquímicas,
sofrimento perinatal, moléstias ou
traumas sofridos durante os anos
críticos para o desenvolvimento e
maturação do sistema nervoso central
ou de causas desconhecidas. A
definição admite a possibilidade de que
privações severas precoces possam
resultar em alterações permanentes do
sistema nervoso central. Durante os
anos escolares, uma variedade de
incapacidades de aprendizagem
constitui a mais importante
manifestação do que é definido por
disfunção” cerebral” mínima.
(Werner Jr. apud Lima, 2005, p. 63)

Em 1968, a Associação de Psiquiatria Americana


(APA) na publicação do Manual Diagnóstico e Estatístico

Para refletir
de Desordens Mentais (DSM-II) utiliza o termo “Reação
Hipercinética da Infância”.
Na categoria
“Reação
hipercinética da Durante a década de 70, o foco das pesquisas
infância” proposta
pela APA, a começou a mudar da hiperatividade para as
expressão reação é
fruto da influência dificuldades de atenção e do controle dos impulsos.
da psicanálise na
compreensão do
Nesse período, as questões atentivas ganharam
transtorno e na espaço, principalmente, em função dos trabalhos de
psiquiatria
americana, o que Virginia Douglas. Para ela, o déficit de atenção poderia
possibilitou
reconhecer a ocorrer mesmo em situações em que não houvesse
existência da
síndrome e hiperatividade. Com isso, o déficit de atenção que era
associá-la, também,
a fatores ambientais subvalorizado anteriormente, ganhou destaque
e psicológicos. Ou
seja, a inquietude especial.
poderia ser
provocada por
eventos da vida
familiar e social.
As contribuições de Virginia Douglas e os
estudos de Gabriel Weiss (1976), que apontavam a
persistência dos problemas de atenção e impulsividade na
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 109

adolescência e vida adulta, mesmo que ocorresse a


diminuição da hiperatividade, foram decisivos para que,
na terceira edição do DSM, em 1980, a entidade
fosse renomeada de “distúrbio de déficit de atenção
(DDA)”, incluindo um subtipo com e outro sem
hiperatividade.

Com essa mudança, as crianças sem


hiperatividade e os adultos, também, passaram a
figurar entre os portadores desse transtorno. Além Dica da
professora
disso, a ênfase nas questões atentivas permitiu a
distinção deste transtorno de outros nos quais também
Vocês devem estar
faz parte a hiperatividade (como, por exemplo, os se perguntando:
Por que a
transtornos de ansiedade). Classificação
Internacional de
Doenças (CID) não
usa a mesma
DEFINIÇÃO ATUAL nomenclatura
utilizada pela
Associação
Em 1987, na revisão da terceira edição (DSM- Psiquiátrica
Americana no DSM-
III-R), após o surgimento de críticas que apontavam IV?
A explicação é a
destaque exagerado às questões atentivas, volta-se o seguinte:

enfoque para a hiperatividade e o distúrbio ganha sua No texto da CID-10,


não é utilizado o
atual denominação: “TRANSTORNO DO DÉFICIT DE termo diagnóstico
“transtorno de
ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE”. déficit de atenção”
por se entender que
“ implica um
conhecimento de
Em 1994, na publicação do DSM-IV, a APA processos
apresenta o transtorno dividido em três subtipos: psicológicos que
ainda não está
disponível e sugere
a inclusão de
 PREDOMINANTEMENTE DESATENTO; crianças ansiosas,
preocupadas ou
“sonhadoras”
 HIPERATIVO/IMPULSIVO; apáticas, cujos
problemas são
provavelmente
 COMBINADO (sintomas desatentivos e de diferentes.” (OMS,
1993, p. 256)
hiperatividade/impulsividade estão presentes no
Por isso, no DSM-IV,
mesmo grau de intensidade). é definido como
Transtorno do Déficit
de
Atenção/Hiperativida
A Classificação Internacional de Doenças (CID), de e no CID –10:
Transtorno
da Organização Mundial da Saúde, preserva a ênfase na Hipercinético.
hiperatividade. A atual edição (CID-10), publicada em
1992, nomeia o transtorno da seguinte forma:
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 110

TRANSTORNO HIPERCINÉTICO – Esse grupo de


transtornos é caracterizado por início precoce, uma
combinação de um comportamento hiperativo e
pobremente modulado com desatenção marcante e
falta de envolvimento persistente nas tarefas e conduta
invasiva nas situações e persistência no tempo dessas
características de comportamento.

Para finalizarmos, apresentamos a descrição


atual do transtorno, segundo o psiquiatra Rossano
Cabral Lima:

Importante
O TDA/H corresponde a uma síndrome
caracterizada por comportamento
É importante hiperativo e inquietude motora,
ressaltar que o desatenção marcante, falta de
transtorno de déficit envolvimento persistente nas tarefas e
de
atenção/hiperativida
impulsividade. Esses problemas devem
de por si só não ser evidentes em mais de uma
causa problemas de situação social e se mostrar em
aprendizado. É mais excessivos no contexto que ocorrem,
comum que tenham
problemas de
em comparação com o que seria
comportamento do esperado de outras pessoas com a
que de notas, em mesma idade e nível de inteligência.
geral, essas crianças São mais comuns em meninos e
não têm dificuldade
de compreensão,
costumam iniciar-se entre os três e
embora acabem sete anos de idade. Em geral, os
cometendo erros por sintomas persistem nos anos escolares
desatenção. e em metade dos casos parecem
continuar na idade adulta.
(Lima, 2005, p. 73/74)

PRINCIPAIS SINTOMAS

Os principais sintomas encontrados no


transtorno do déficit de atenção estão relacionados a
alterações da atenção, impulsividade e velocidade da
atividade física e mental.

Descreveremos, agora, alguns dos sintomas


listados pela Associação Psiquiátrica Americana no
DSM-IV:

MÓDULO A:

SINTOMAS DE DESATENÇÃO (eles devem


ocorrer FREQÜENTEMENTE)
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 111

Para que o diagnóstico seja realizado, é preciso que


a criança seja avaliada por um neurologista ou
psiquiatra. Não basta que ela apresente os sintomas
listados.
“É obrigatório ainda para concluir o diagnóstico”:
 Que eles estejam presentes desde cedo (antes dos
7 aos 12 anos);
 Que causem problemas em pelo menos dois
contextos diferentes (ex: casa e escola);
 Que esses sintomas atrapalhem claramente a vida
do indivíduo, seja na escola, em casa, na profissão
ou no relacionamento com os demais;
 Que eles não sejam explicados por um outro
problema (ex: ansiedade ou depressão, cujos
sintomas são muito parecidos).
(Mattos, 2003, p. 22/23)

 Prestar pouca atenção a detalhes e cometer


erros por falta de atenção;

 Dificuldade de se concentrar (tanto nas


tarefas escolares quanto em jogos e
brincadeiras);

 Parecer estar prestando atenção em outras


coisas numa conversa;

 Dificuldade em seguir as instruções até o fim


ou deixar tarefas e deveres sem terminar;

 Dificuldade de se organizar para fazer algo ou


planejar com antecedência;

 Relutância ou antipatia em relação a tarefas


que exijam esforço mental por muito tempo
(tais como estudo ou leitura);

 Perder objetos necessários para realizar as


tarefas ou atividades do dia-a-dia;

 Distrair-se com muita facilidade com coisas à


sua volta ou mesmo com seus próprios
pensamentos. É comum que pais e
professores se queixem de que estas crianças
parecem “sonharem acordadas”;
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 112

 Esquecer de coisas que deveria fazer no dia-


a-dia.

MÓDULO B:

Importante

SINTOMAS DE HIPERATIVIDADE E
É imprescindível IMPULSIVIDADE (eles devem ocorrer freqüentemente)
considerar a
freqüência e a
intensidade com que
esses sintomas  Ficar mexendo as mãos e pés quando sentado
ocorrem antes de
sairmos rotulando ou se mexer muito na cadeira;
todas as crianças
como “ hiperativas”.
Cabe ao professor,  Dificuldade de permanecer sentado em
ao observar a
presença desses situações em que isso é esperado (sala de
sintomas de forma
freqüente, conversar aula, mesa de jantar);
com os pais e
orientá-los a buscar
uma avaliação  Correr ou escalar coisas, em situações nas
médica. Mesmo que
os pais relutem em
quais isto é inapropriado;
procurar uma
avaliação
neurológica, devem
 Dificuldade para se manter em atividades de
ser orientados a
lazer (jogos ou brincadeiras) em silêncio;
conversar com o
pediatra ou clínico,
pois esse
 Parecer ser “elétrico” e a “mil por hora”;
profissional pode
orientar os pais e
encaminhar a
 Falar demais;
criança para
avaliação.
 Responder perguntas antes de elas serem
concluídas. É comum responder a pergunta
sem ler até o final;

 Não conseguir aguardar a sua vez (nos jogos,


nas salas de aula, em filas);

 Interromper os outros ou se meter nas


conversas dos outros.

Existem alguns sintomas que não estão incluídos


nos critérios tradicionais para a realização do
diagnóstico, porém, são muito comuns nessas crianças.

Entre eles, podemos citar:

 Baixa auto-estima;
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 113

 Sonolência diurna;

 Adiamento crônico das coisas;

 Baixíssima tolerância à frustração;

 Necessidade de ler mais uma vez para “fixar”


o que leu;

 Mudança freqüente de interesse e incessante


busca por coisas estimulantes e diferentes;

 Intolerância às situações monótonas ou


repetitivas;

 Variações freqüentes de humor.


Dica da
professora
Depois de definir e descrever os sintomas que
fazem parte do diagnóstico do transtorno do déficit de
O professor deve
atenção/hiperatividade, iremos apresentar os lembrar que os
estímulos podem
tratamentos disponíveis para auxílio na superação dos competir entre si
para a obtenção de
obstáculos vivenciados pelas crianças portadoras do respostas de
atenção, gerando
transtorno do déficit de atenção/hiperatividade. conflito entre estas
respostas e
Entendemos que o professor é uma peça de distração em relação
à tarefa, por isso, é
fundamental importância no auxílio e orientação dessas preciso especial
cuidado com o
crianças e de seus pais. Se o professor conhece o
aspecto do
transtorno, ou seja, se conhece os sintomas e suas ambiente.
Planejar e organizar
implicações no cotidiano escolar, ele pode conversar e o ambiente em sala
de aula, reduzindo a
orientar os pais na busca de auxílio. Ao conhecer os presença de
estímulos que
tratamentos disponíveis, o professor tem como competem com a
atenção do aluno,
acompanhar a evolução do seu aluno, trocar pode diminuir a
incidência de erros e
informações com os profissionais que acompanham a facilitar o processo
de aprendizagem.
criança e, acima de tudo, ter consciência do uso e
limitação da terapia medicamentosa.

Sabemos o quanto, hoje em dia, por


desconhecimento, as escolas depositam toda a sua
crença no uso da Ritalina, promovendo, com isso, a
medicalização da educação.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 114

Tratamentos disponíveis

Antes de especificarmos as intervenções


Importante necessárias para o controle do TDA/H, ressaltamos que,
para se alcançar um bom resultado, é indispensável a
A utilização de jogos
com regras é um
participação da criança e dos seus familiares em todas
recurso lúdico que as medidas e tarefas propostas.
favorece o
desenvolvimento da
atenção e trabalha
conceitos A Psiquiatra Ana Beatriz B. Silva, em seu livro
importantes, tais
como: organização e “Mentes Inquietas”, propõe que o tratamento do
planejamento,
limites, normas e transtorno do déficit de atenção se divida em quatro
regras e tolerância à
frustração (tolerar grandes etapas:
perder, empatar).

INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO, APOIO TÉCNICO,


MEDICAMENTOSO E PSICOTERAPÊUTICO.

Informação e conhecimento

ORIENTAÇÃO AOS PAIS - O objetivo desta


intervenção é conscientizar os pais quanto ao impacto
que o TDA/H pode causar na vida da criança, além de
dar-lhes dicas que facilitam o dia-a-dia, minimizam as
dificuldades e possibilitam a criação de recursos
facilitadores para a superação dos obstáculos. Como
dicas importantes, podemos citar:

 Importância do reforço positivo;

 Usar instruções diretas e claras;

 Advertir construtivamente os comportamentos


inadequados, informando o mais apropriado
para aquela situação;

 Estabelecer rotina diária, organizar o ambiente,


dar limites claros e consistentes;

 Reservar espaço arejado e bem iluminado


para a realização das tarefas escolares;
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 115

 Preparar a criança para qualquer mudança


que altere sua rotina;

 Aprender a controlar a impaciência e priorizar e


focalizar o mais importante em cada situação.

 Escolher cuidadosamente a escola (priorizar


escolas que ofereçam turmas reduzidas,
avaliação qualitativa).
Dica da
professora
Se os pais, familiares e professores tiverem
informação e conhecimento a respeito das implicações A abordagem do
transtorno exige
do TDA/H no dia-a-dia de suas crianças (limitações e intervenções
múltiplas, porém
habilidades), poderão estimular os desenvolvimentos vale ressaltar que,
se essas
pessoais, emocionais e cognitivos dessas crianças de intervenções se
derem de forma
maneira positiva, compreensiva e produtiva. precoce, maior será
a chance de
minimizar o impacto
negativo que o
APOIO TÉCNICO - É o conjunto de pequenas medidas e TDA/H traz à vida
dessas crianças.
atitudes que acabam por criar uma estrutura externa
capaz de facilitar em muito o cotidiano do portador do
transtorno do déficit de atenção/hiperatividade. Dessa
maneira, o apoio técnico consiste em criar-se uma
rotina pessoal que facilite a vida prática e que seja
capaz de compensar em parte a desorganização interna
típica dessas crianças.

O profissional que acompanha a criança pode


ajudar os pais e o próprio paciente a desenvolver as
medidas de apoio técnico. Entre essas medidas,
podemos citar:

 Estabelecer horários regulares de maior


produtividade e de repouso;

 Praticar atividade física regularmente;

 Criar hábito de agenda (anotar de véspera as


atividades do dia seguinte);
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 116

 Organizar cronogramas em relação às


obrigações, projetos, lazer.

Essas medidas têm por objetivo impedir que o


paciente se perca em devaneios, perca tempo com
ações sem objetivo, compromissos ou tenha
dificuldades em sua rotina escolar.

APOIO MEDICAMENTOSO - A terapia

Importante medicamentosa deve ser considerada como uma


ferramenta a mais na busca de uma melhor qualidade
Consideram-se
de vida para o portador do TDA/H, mas não como a
basicamente três
categorias de única saída. As escolas, atualmente, tendem a
medicamentos que
podem ser usados depositar todas as esperanças na medicação, e
no tratamento do
TDA/H: sabemos que a prescrição, o uso e o acompanhamento
Os estimulantes (ex.
Ritalina); devem ser da responsabilidade do médico que
Os antidepressivos
(ex. Tofranil, acompanha a criança.
Fluoxetina);
Os acessórios (para
amenizar efeitos
colaterais da
Para exemplificarmos essa tendência à
medicação principal
medicalização do ensino, apresentaremos o relato de
ou para tratar
aspectos isolados uma mãe na primeira reunião de pais na nova escola.
que não tiveram
melhora. Ex:
carbamazepina,
propanolol). Na outra escola é que me falaram que
meu filho tinha problemas de
hiperatividade. Me pediram para levar
ao médico. Levei e o médico achou
melhor não usar medicação porque
meu filho tinha outros problemas de
saúde.
Quando a escola perguntou pelo
remédio, falei que o médico não tinha
passado nenhum remédio. A diretora
me disse que era melhor ir a outro
médico, porque sem remédio não
dava. Mesmo eu explicando tudo, ela
me pressionava, acabei tirando da
escola.

Esse exemplo mostra o total desconhecimento


da escola a respeito do problema, assim como o
despreparo da equipe pedagógica para lidar com essa
situação.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 117

Portanto, salientamos que a medicação, por si


só, não constitui todo o tratamento do TDA/H. É apenas
mais uma etapa no processo global de tornar a vida das
Dica da
pessoas mais confortável e produtiva. A etapa professora

medicamentosa é um complemento que, e, em alguns


Os estimulantes (por
casos, mostra-se bastante útil, e em outros, não se
ex. a Ritalina)
mostra necessária ou indicada, sem que isso impeça o aumentam o nível
de atividade do
alcance de bons resultados. cérebro, porém a
área cerebral que
eles ativam é
responsável pela
APOIO PSICOTERAPÊUTICO - É claro que os objetivos e inibição
comportamental e
o desenrolar do processo psicoterapêutico variam de manutenção da
atenção. Por isso,
paciente para paciente, mas, de uma forma geral, eles são usados no
tratamento do
ajudam a trabalhar a ansiedade, a impulsividade, a TDA/H sem tornar
as pessoas mais
baixa auto-estima, a baixa tolerância à frustração, a hiperativas.

dificuldade para acatar limites, regras e normas, o


sentimento de incapacidade, entre outros.

Em geral, o profissional atento às necessidades


de seu paciente faz visitas à escola, mantém contato
com a equipe pedagógica e com o professor, visando,
dessa forma, acompanhar a evolução da criança,
identificar obstáculos atuais e orientar condutas que
favoreçam a adaptação da criança ao ambiente escolar.

O professor deve ter autonomia para buscar


contato com os profissionais que acompanham a
criança, sempre que julgar necessário (ex: quando tiver
dúvidas, informações relevantes a oferecer, necessitar
de orientação para lidar com situações específicas,
trocar informações).

De acordo com a particularidade de cada caso,


outros profissionais podem ser incluídos no
planejamento terapêutico; entre eles, podemos citar o
fonoaudiólogo e o psicopedagogo.

O acompanhamento psicopedagógico é
importante já que auxilia no trabalho,
atuando diretamente sobre a dificuldade
escolar apresentada pela criança, suprin-
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 118

do a defasagem, reforçando o conteúdo,


possibilitando condições para que novas
aprendizagens ocorram.
(Benczik, 2000, p. 95)

O objetivo geral do tratamento é viabilizar a


Para pensar criação de estratégias que organizem e facilitem o dia-
a-dia e minimizem os impactos negativos no campo
A criança com pessoal, afetivo e educacional decorrentes da
TDA/H é
constantemente dificuldade de atenção, concentração e/ou
inundada com
estímulos que não hiperatividade.
consegue filtrar
corretamente. Ela
não consegue
priorizar e por isso, Implicações educacionais do TDA/H e
em geral, tem
dificuldade para medidas de auxílio
aprender e
memorizar, não
porque não possa ou Nesse tópico, pretendemos passar em revista os
não seja capaz,
mas, porque não aspectos relacionados ao TDA/H que têm implicação
consegue sustentar
a atenção ou direta no processo de aprendizagem e no cotidiano
manter-se
concentrada por escolar. Para isso, abordaremos questões como
tempo suficiente.
Além disso, organização da sala de aula, estrutura de aula e
freqüentemente, não
consegue concluir as atividades escolares, rendimento escolar, o papel do
tarefas que inicia
porque algum professor e o da escola. Buscaremos, com isso,
estímulo a atrai
oferecer a vocês alternativas que facilitem a construção
irresistivelmente.
de recursos e estratégias criativas para superação dos
impasses que surgem em sala de aula, no contato e no
convívio com as crianças portadoras desse transtorno.

O conceito de aprender determina o de


ensinar, porque ambos constituem
Dica de uma relação inseparável. Uma
leitura concepção construtiva da
aprendizagem deve refletir-se em uma
metodologia ativa que crie condições
Uma boa dica de
necessárias para que o aluno seja o
leitura para
complementar e verdadeiro protagonista de seu
enriquecer o estudo processo de aprendizagem.
do tema proposto é ( Blanco apud Rohde, Mattos & Cols.,
o livro:
2003, p. 198)
- Hiperatividade:
como desenvolver a Isso nos aponta a necessidade de que o professor
capacidade de
atenção da criança . busque encontrar o recurso pedagógico, a didática que
GOLDSTEIN, Sam e
GOLDSTEIN, melhor atenda as necessidades educacionais de cada
Michael, 9ª edição,
Ed. Papirus, 2003. aluno, a partir do conhecimento do seu estilo de
aprendizagem.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 119

As intervenções no ambiente escolar


são extremamente importantes. O
professor, apesar de encontrar
Dica da
dificuldade por não ter em sua sala de
professora
aula apenas uma criança com
problemas de atenção e
hiperatividade, tem a responsabilidade Nas tarefas
educacional no processo de monótonas,
repetitivas e
aprendizagem desta. Para tanto, todas
rotineiras aumenta a
as tentativas de recursos disponíveis dificuldade para
devem ser utilizadas, até que o manutenção da
professor descubra o estilo de atenção, sendo os
reforços constantes
aprendizagem da criança.
um importante
(Benczik, 2002, p. 84) aliado para que o
professor consiga
manter seu aluno
Mas a resolução do problema encontra-se somente atento por um
período maior.
na mão do professor? Claro que não. Sabemos que o
sistema educacional brasileiro contribui e muito para o
baixo rendimento escolar, principalmente, no caso das
crianças portadoras do TDA/H, na medida em que nos
deparamos com a rigidez da metodologia e do
planejamento educacional, superlotação das salas de
aula, despreparo dos professores, baixa remuneração e
conseqüente insatisfação e intolerância com todo e
qualquer caso que fuja ao esperado, ao normativo. Os
objetivos de ensino-aprendizagem concentram-se no
âmbito cognitivo, estabelecem uma padronização do
aluno, enrijecem o potencial criativo e ignoram as
diferenças.

...o ponto de referência é o aluno


padrão. Tal posicionamento levou a uma
situação caracterizada pela
homogeneização e inflexibilidade do
ensino, a uma avaliação do tipo
normativo – em função dos objetivos
iguais para todos – e, finalmente, a uma
organização das atividades de ensino-
aprendizagem nas quais todos têm que
fazer o mesmo, ao mesmo tempo
(Blanco apud Rhode, Mattos & Cols,
2003, p. 200)

A escola precisa estar aberta para as diferenças


individuais, preparada para trabalhar com as
diversidades, sobretudo, deve estar atenta aos recursos
e metodologias que melhor atendam as necessidades
educacionais de seus alunos.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 120

A escola precisa lutar para romper com os


modelos rígidos e inflexíveis, pois somente desta forma
poderá responder de forma mais objetiva e apropriada
às questões e necessidades concretas de seus
educandos.

Apresentaremos, agora, algumas ações que, se


praticadas pelo professor, equipe pedagógica e/ ou
familiares, favorecem o desenvolvimento e a evolução
do portador de TDA/H no seu processo de
aprendizagem.

Dica da ORGANIZAÇÃO DA SALA DE AULA - Sabemos que


professora
fatores existentes no meio externo podem levar à
Estratégias de variação no desempenho escolar de qualquer criança e
ensino ativo que
incorporem a não somente nas crianças desatentas ou hiperativas,
atividade física com
o processo de portanto, as dicas comentadas aqui favorecerão a todo
aprendizagem são
fundamentais.
e qualquer aluno, embora sejam indispensáveis para os
Observa-se maior
alunos que apresentem TDA/H.
fixação do conteúdo
e aumento do tempo
de atenção em
atividades como: Em função da dificuldade de organização e
leitura em voz alta,
interpretação e/ou planejamento, alunos com TDA/H necessitam de uma
encenação do
conteúdo estudado, estrutura externa bem definida, sendo relevante que a
manuseio de
material, pesquisa sala de aula seja bem estruturada, iluminada, com
em grupo com
apresentação do recursos visuais estimulantes, embora tenha que se ter
trabalho.
muito cuidado para não oferecer um excesso de
informações que acabam por favorecer a distração e a
desatenção.

É indispensável que a organização da sala seja


dinâmica e flexível. A arrumação deve possibilitar bom
acesso e boa visibilidade para todos os alunos, de
forma a favorecer a participação ativa de todos os
envolvidos no processo ensino-aprendizagem.

O ideal é que alunos com TDA/H estejam


inseridos em turmas pequenas, sentem-se próximos ou
ao alcance dos olhos do professor, longe das janelas e por-
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 121

tas e no meio de colegas mais tranqüilos que possam


estimulá-los e ajudá-los.

Nos trabalhos de grupo, o professor deve optar


por grupos menores para evitar a dispersão; nas aulas
deve proporcionar intervalos entre as atividades e, em
alguns momentos, oportunidades de movimentação;
além disso, deve circular pela sala com freqüência,
usando a proximidade física e o contato do olhar para
atrair o foco da atenção e controlar a agitação motora.

ESTRUTURA DA AULA E ATIVIDADES ESCOLARES -


Algumas dicas podem favorecer o interesse e a
participação dos alunos com TDA/H na dinâmica das Importante

aulas e na realização das atividades escolares. São


É de grande valia
elas: para o bom
aproveitamento do
aluno com TDA/H a
 Estabelecer rotina diária clara, com períodos utilização de
recursos materiais
de descanso definido; diversificados (ex:
giz colorido,
computador,
 Regras e expectativas do professor e da retroprojetor,
projetor de slides,
escola para o grupo devem estar claramente gravuras. Esses
recursos favorecem
definidas; a manutenção do
foco de atenção.
A utilização de
 Estabelecer conseqüências razoáveis e cartazes que
esclareçam as
realistas para o não-cumprimento das tarefas, regras e normas de
comportamento
regras e deveres; desejáveis naquele
ambiente, assim
como o cronograma
 Focalizar mais o processo do que o produto, das provas e
trabalhos favorecem
explicar de forma clara a relevância do a orientação,
organização e o
conteúdo a ser transmitido, oferecendo
planejamento do
exemplos práticos e relacionados ao dia-a- aluno.

dia;

 Reforçar positivamente os comportamentos


adequados e as conquistas diárias, em vez de
sempre chamar a atenção dos
comportamentos inadequados;
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 122

 Nos dias em que o aluno estiver mais agitado,


inquieto, é importante redirecioná-lo para
outra atividade ou situação: apagar o quadro,
levar um recado, transmitir uma instrução para
a turma ir beber uma água;

 Evitar o excesso de informação, transmitindo


as instruções de forma clara e precisa,
fornecendo os pontos relevantes e
indispensáveis para a execução da tarefa;

 Alternar tarefas interessantes com as menos


interessantes ou monótonas, graduar o nível
de dificuldade das atividades, dando retorno
constante e imediato. O conteúdo deve ser
dado paso-a-passo;

 Destacar os tópicos do assunto a ser


transmitido para facilitar a organização e a
articulação das idéias. Não é necessária a
redução da atividade, mas é importante que o
professor possa intermediar de forma a tornar
possível a execução da tarefa, ou seja, fazer
em pequenas partes para que possa ser
completada em diferentes tempos;

 Valorizar e estimular o uso de organizadores


de tarefas (por ex: agenda, pastas).
Você sabia?
RENDIMENTO ESCOLAR - O transtorno do déficit de
“Estudos indicam atenção/hiperatividade tem grande impacto no percurso
que as crianças com
TDA/H em ensino escolar e no desenvolvimento educacional de seus
regular correm risco
de fracasso duas a portadores. Os sintomas mais facilmente observáveis
três vezes maior do
que crianças sem no ambiente escolar, que têm impacto direto no
dificuldades
escolares e com rendimento escolar desses alunos, são: dificuldade de
inteligência
equivalente”(Gordon terminar uma tarefa, cópia incompleta do conteúdo
apud Rohde, Mattos
& Cols. 2003, p. dado em sala de aula, resistência à formalização,
201).
esquecimento de material, perda de prazo para entrega
de trabalho, provas com diversos erros devido à
oscilação da atenção, respostas inadequadas em função da
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 123

dificuldade de ouvir ou ler a pergunta ou instrução até


o final, entre outros. Essas dificuldades específicas
podem interferir na capacidade de aprender, porém é
importante destacar que o portador do TDA/H não tem,
necessariamente, transtornos de aprendizagem,
embora esses transtornos ocorram em comorbidade
com significativa freqüência.

Geralmente, essa criança se envolve


em atividades mais improdutivas,
durante a aula e no recreio, se
comparada a seus pares. O
desempenho acadêmico insatisfatório
com freqüência acompanha o TODA/H
e pode ser uma característica estável
do transtorno.
(Greenhill apud Rohde, Mattos &
Cols., 2003, p. 201)

O professor, geralmente, observa uma


discrepância entre o potencial intelectual e a produção
escolar dos alunos com TDA/H, mesmo nos que
apresentam inteligência superior à média. Com isso,
vão se somando situações de fracasso e frustrações, a
auto-estima é abalada e como conseqüência, tem-se o
aumento do desinteresse e da desvinculação do
processo de aprendizagem.
Importante

O papel do professor
É importante
orientar os pais para
cobrar empenho ao
Para Barkley ao escolher um professor invés de cobrar
para a criança, com TDA/H, resultados.
necessitamos avaliar dois fatores: o De preferência, os
conhecimento e a atitude deste. pais devem separar
um ambiente para
(Barkley apud Rohde, Mattos & Cols., estudo que seja
2003, p. 49) iluminado, arejado,
confortável e com
poucos objetos.
Com base nessa premissa, buscamos apresentar Devem, também,
estipular horário
informações relevantes a respeito do transtorno para para realização das
atividades, garantir
ampliar o conhecimento e orientar a prática de vocês, intervalos entre as
tarefas e estabelecer
pois o professor é peça chave no desenvolvimento de acordos claros
quanto à realização
um trabalho que objetive promover a superação dos
dos deveres.
obstáculos vividos no processo de aprendizagem, além
de ser, muitas vezes, o primeiro a perceber quando um alu
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 124

no apresenta problemas de atenção, aprendizagem,


comportamento ou afetivos e sociais.

Precisamos salientar a necessidade de que HAJA


ESTREITA COLABORAÇÃO ENTRE OS PAIS E OS
PROFESSORES, principalmente, porque uma das
maiores dificuldades enfrentadas pelo aluno com TDA/H
e a sua família é a realização do dever de casa, a
aceitação por parte dos pais do fraco rendimento
escolar, dos freqüentes esquecimentos e da falta de
implicação do filho no processo de aprendizagem.

Ao passar uma lição de casa, os


professores devem lembrar que o tempo
que um estudante com TDAH (e/ou com
transtornos de aprendizagem) leva para
fazer essa tarefa pode ser de três a
quatro vezes maior que seus colegas. É
necessário fazer adequações para que a
quantidade de trabalho não exceda o
limite da possibilidade. Ter sempre
presente que a lição de casa tem o
objetivo de revisar e praticar o que foi
aprendido em sala de aula. Pais não
devem fazer o papel de professores.
Acima de tudo, o dever de casa não
deve ser jamais um castigo ou
conseqüência de mau comportamento
na escola.
(Rief apud Rohde, Mattos & Cols.,
Para pensar 2003, p. 206)

A escola ideal é O professor precisa conscientizar-se da sua


aquela que valoriza
o desenvolvimento importância e poder de transformação; primeiro, porque,
global da criança,
levando mais em muitas vezes, é ele quem vai perceber os primeiros
conta seus
progressos ao longo sintomas; segundo, porque é ele quem vai
do tempo do que a
comparação rígida
operacionalizar os recursos para favorecer o estilo de
com a média dos aprendizagem de cada aluno; terceiro, porque todo e
colegas. As escolas
que se voltam qualquer sucesso nesse processo de adaptação, evolução
exclusivamente para
o resultado em e superação dependerá do auxílio, da dedicação e do
termos de conteúdo
não são adequadas conhecimento do professor.
para crianças e
adolescentes
portadores do O PAPEL DA ESCOLA - A escola que favorece o pleno
TDA/H.
desenvolvimento de uma criança ou adolescente
portador do TDA/H é aquela que leva em conta as diferen-
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 125

ças individuais de aprendizagem, apresenta alguma


possibilidade de adaptar o método de ensino às
necessidades da criança, utiliza critérios diversificados
para avaliar o aluno (leva em conta os progressos
individuais), capacita seus professores para a realização
de avaliações qualitativas e oferece aos pais apoio e
parceria para superação das dificuldades vividas no
decorrer do percurso escolar. Cabe à escola, também,
manter uma equipe pedagógica que possa auxiliar os
professores no seu planejamento, no acesso e na
utilização de recursos diversificados, na orientação, na
supervisão e na adequação do método de ensino ao
estilo de aprendizagem de cada aluno e,
principalmente, na capacitação freqüente dos seus
professores e demais membros da equipe. Somente
assim, teremos uma escola que não só transmite
informações, mas dá condições de que seus alunos
construam conhecimento.

Conclusão
Dica de
leitura

Todo o desenvolvimento desta aula foi pensado


partindo do princípio de que o professor precisa ter Para entender o
TDA/H na vida
auxílio e acesso a diferentes tipos de informação e adulta, sugerimos a
seguinte leitura:
conhecimento para enriquecer sua prática,
“ Um Dia na Vida de
conscientizar sua ação e, sobretudo, responder à altura um Adulto com
TDA/H” .
as exigências e responsabilidades implicadas no ato de JOFFE, Vera. 2005.
São Paulo Lemos
EDUCAR. Sabemos que, dentro do ambiente escolar, o Editorial.
educador se depara diariamente com uma série de
situações complexas, delicadas e, às vezes, até
inusitadas para as quais ele tem que estar preparado
para orientar, transformar e resolver de forma dinâmica
e criativa. Mas como auxiliar e preparar o professor, de
forma a dotá-lo de estratégias e autonomia que
ampliem o alcance de suas ações e projetos?

A resposta é simples, é preciso oferecer


informações, conhecimento, troca de experiências, refle-
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 126

xões e discussões sobre a prática, para que a ação de


educar seja cada vez mais abrangente, criativa e
produtiva. Além disso, quando trazemos para discussão
situações, fatos e dificuldades vividas no dia-a-dia em
sala de aula, ampliamos a consciência do nosso papel e
poder na construção dessas subjetividades, no
desenvolvimento educacional dessas crianças que, de
outra forma, seriam rotuladas e teriam suas
Quer
saber mais? possibilidades ceifadas em função da rigidez dos
métodos, engessamento de idéias e falta de
A Chadd ( Children comprometimento com o ato de educar.
and Adults with
Attention Déficit
Desorders) é uma
organização norte- O que o professor precisa e deseja é ser ouvido
americana de pais e
crianças com TDAH em suas críticas, dúvidas e questionamentos, ser
e de adultos com o
transtorno que se estimulado a buscar, a crescer e a capacitar-se e,
dedicam a manter
as pessoas
também, a ser acolhido dentro de uma equipe que
informadas. Visite a
reconheça o seu lugar e o privilegiado conhecimento de
homepage:
http//www.chadd.or que ele dispõe sobre os alunos que ele acompanha
g/
diariamente. Portanto, se neste momento de finalização
desse trabalho, tivermos conseguido despertar ou
manter viva a aposta de vocês num aluno que de outra
forma seria desacreditado, e numa escola que
reconheça as singularidades, trabalhe e eduque em
parceria com pais e alunos, almejando o
desenvolvimento global de cada um, teremos alcançado
nosso objetivo.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 127

EXERCÍCIO 1

A categoria de “lesão cerebral mínima” surgiu em 1947


para designar o quadro de crianças que apresentavam
comportamento similar ao das crianças vitimadas pela
encefalite sem, no entanto, terem sido vítimas dessa
doença. Essa categoria pretendia explicar os seguintes
transtornos:

( A ) Do comportamento e da linguagem;
( B ) Da linguagem e do aprendizado;
( C ) Somente do comportamento;
( D ) Do comportamento e do aprendizado;
( E ) Do comportamento, da linguagem e do
aprendizado.

EXERCÍCIO 2

O transtorno do déficit de atenção/hiperatividade


apresenta-se dividido em três subtipos. Com relação ao
combinado, pode-se afirmar:

( A ) Os sintomas desatentivos são mais intensos;


( B ) Os sintomas de hiperatividade e impulsividade
têm intensidades distintas;
( C ) Os sintomas desatentivos e de
hiperatividade/impulsividade têm o mesmo grau
de intensidade;
( D ) Os sintomas desatentivos são menos intensos;
( E ) N.R.A.
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 128

EXERCÍCIO 3

Cite pelo menos dois sintomas de desatenção e dois de


hiperatividade e depois aponte três medidas de auxílio
que, se adotadas pelo professor e/ou equipe
pedagógica, podem ajudar na superação dos obstáculos
causados por esses sintomas no processo de
aprendizagem.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

O profissional da área de saúde não conclui seu


diagnóstico com base na simples apresentação, por
parte da criança, dos sintomas listados na definição do
transtorno. Descreva os aspectos que são, segundo
Paulo Mattos, obrigatórios para que o diagnóstico de
TDA/H possa ser dado.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 | Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade 129

RESUMO

Vimos até agora:

 A aceitação científica do fracasso acadêmico e


da “indisciplina” passou a ser atribuído a
mínimas disfunções cerebrais e ocasionou
uma explosão dessa entidade diagnóstica em
clínicas de orientação infantil;

 Na atual edição do CID-10 (1992), nomeia o


transtorno como transtorno hipercinético que
é caracterizado por: início precoce, uma
combinação de um comportamento hiperativo
e pobremente modulado com desatenção
marcante e falta de envolvimento persistente
nas tarefas e conduta invasiva nas situações
e persistência no tempo dessas características
de comportamento;

 É indispensável, a participação da criança e


dos seus familiares em todas as medidas e
tarefas propostas, particularmente, se tiver
apoio medicamentoso e terapêutico, mas o
objetivo deve ser viabilizar a criação de
estratégias que organizem e facilitem o dia-a-
dia e minimizem os impactos negativos no
campo pessoal, afetivo e educacional
decorrentes da dificuldade de atenção,
concentração e/ou hiperatividade.

GABARITO DAS QUESTÕES OBJETIVAS:


AULA 1 – 6C; 7C. AULA 2 – 1E; 2A. AULA 3 – 1C; 2E. AULA 4 – 1E; 2C.
AV1 – Estudo Dirigido da Disciplina
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Dificuldades de Aprendizagem
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


QUESTÃO 1: O educador tem um papel de agente de inclusão social também.
Exemplo disto seria a sua reflexão constante sobre qual a função das dificuldades
de aprendizagem na dinâmica relacional de uma criança e de sua família? O que
você pensa sobre isto? Procure escrever suas idéias.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e sites:


endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 2: Estudantes com deficiência da percepção visual apresentam


dificuldades em quais áreas, tendo em vista a leitura?
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e


sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


QUESTÃO 3: Explique as deficiências no processamento da linguagem.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e


sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):

QUESTÃO 4: Cite pelo menos dois sintomas de desatenção e dois de


hiperatividade e depois aponte três medidas de auxílio que, se adotadas pelo
professor e/ou equipe pedagógica, podem ajudar na superação dos obstáculos
causados por esses sintomas no processo de aprendizagem.
Indicação da página do módulo onde este assunto é apresentado:

Indicar referências de pesquisa complementar (livros: bibliografia e


sites: endereço eletrônico) – OPCIONAL:

Resposta (com as suas palavras):


ATENÇÃO:

Na realização das avaliações (AV1 e AV2), procure desenvolver uma


argumentação com suas próprias palavras.
Observe que é importante você realizar uma pesquisa aprofundada para atender
aos objetivos propostos consultando diferentes autores. No entanto, é
fundamental diferenciar o que é texto próprio de textos que possuem
outras autorias, inserindo corretamente as referências bibliográficas
(citações), quando este for o caso.
Vale lembrar que essa regra serve inclusive para os nossos módulos, utilizados
com freqüência para as respostas das avaliações.
Em caso de dúvidas, consulte o material sobre como realizar as citações diretas
e indiretas ou entre em contato com o tutor de sua disciplina.
AS AVALIAÇÕES QUE DESCONSIDERAREM ESTE PROCEDIMENTO ESTARÃO
SEVERAMENTE COMPROMETIDAS.
AV2 – Trabalho Acadêmico de Aprofundamento
CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Dificuldades de Aprendizagem
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________


Atividade Sugerida: Plano de Aula
Instruções:
Escola inclusiva é aquela que acomoda todas as crianças, independentemente de
suas condições intelectuais, sociais, emocionais, lingüisticas e outras (Declaração
de Salamanca - 1994).

1) Selecione um dos os quatro tipos de deficiências de processamento de


informações que podem causar uma dificuldade de aprendizagem (atenção,
percepção visual, processamento de linguagem e habilidades motoras finas);
2) Elabore um plano de aula que proporcione uma educação acessível e de
qualidade, envolvendo a participação democrática de todos.

Dicas:
 A metodologia deve proporcionar atividades estruturadas e bem instruídas.
 O ambiente escolar deve oferecer recursos didáticos variados para o
desenvolvimento das tarefas (gravador, computador, giz colorido, revistas,
aparelho de som, vídeo etc.).
 Verifique se a proposta favorece situações de trabalho em pequenos grupos
ou individualmente, que leve em conta outras estratégias instrutivas, além
da tradicional.
 Certifique-se que a avaliação proposta seja capa de verificar a evolução do
aluno diante dos objetivos determinados.

DADOS DE Série/Ciclo – Segmento:


IDENTIFICAÇÃO: Carga Horária:
DEFICIÊNCIA DE
PROCESSAMENTO
DE INFORMAÇÃO
ENVOLVIDA:

TEMA:
Nome do assunto ou
da matéria/conteúdo a
ser desenvolvida.

OBJETIVO GERAL
DA AULA:
Deve começa com
verbo no infinitivo.
Normalmente os
objetivos completam a
seguinte idéia: “Ao
final da aula o aluno
será capaz de...”
CONTEÚDO:
Este item contém um
breve resumo, sob a
forma de tópicos, dos
assuntos que serão
tratados em aula.

MATERIAL
DIDÁTICO OU
INSTRUMENTOS:
Este item contempla
as diferentes
ferramentas
pedagógicas que
serão utilizadas para
viabilizar o conteúdo
em aula.
Ex: retroprojetor,
televisão, vídeo,
quadro-negro,
flipchart, fichas
coloridas, cartazes,
flanelógrafo etc.

METODOLOGIA
(ou procedimentos
metodológicos):
Item referente à
forma didática
utilizada pelo
professor para
disponibilizar os
conteúdos em aula a
partir dos
instrumentos
pedagógicos
anteriormente citados.

Ex.: Preleção verbal;


apresentação de
esquemas com o uso
do retroprojetor;
discussão de figuras
com o uso do
datashow; estudo
dirigido; dinâmica com
utilização de flip-
chart; discussão do
vídeo apresentado em
aula etc.
ATIVIDADES
DESENVOLVIDAS:
Este item se refere
particularmente aos
alunos e serve para
indicar quais serão as
atividades que estes
irão desenvolver.
Ex.: Exploração de
figuras geométricas
em fotografias
diferentes de fachadas
de residências.

AVALIAÇÃO:
No fim da aula, o
professor poderá
elaborar um tipo de
avaliação a fim de
verificar o resultado
de seu trabalho, ou
seja, verificar se os
objetivos da aula
foram alcançados.

Ex: Exercícios;
Feedback da turma;
Trabalhos em grupo;
Sínteses da aula; etc.

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
(livros, periódicos,
sites, artigos,
filmes, etc)
O último item do
plano de aula diz
respeito à base teórica
do conteúdo
desenvolvido em aula.
137

ALVES, F. Inclusão: muitos olhares, vários caminhos e um grande


desafio. Rio de Janeiro: WAK, 2003.

________. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de


Janeiro: WAK, 2003.

Anais da IV Jornada Carioca de Reabilitação Infanto-Juvenil, Rio de


Janeiro: 2005.

AZEVEDO, A. C. P. Brinquedoteca no diagnóstico e intervenção em


dificuldades escolares. Campinas: Alínea, 2004.

BENCZIK, Edyleine Bellini Peroni, Transtorno de Déficit de


Atenção/Hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica, 2ª
ed., São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
Referências bibliográficas

BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da


prática. Porto Alegre: Artmed, 1992.

BRASIL. Subsídios para organização e funcionamento de serviços


de educação especial: área de deficiência auditiva. Série Diretrizes
6, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação
Especial, Brasília: MEC/SEESP, 1995.

CANONGIA, M. B. Fonoaudiologia e a Educação Escolar. São Paulo:


Phoenix, 2006.

______________. Psicomotricidade em Fonoaudiologia. 2ª ed., Rio


de Janeiro: Edição do Autor, 1986.

CAPOVILLA, A. G. S. & CAPOVILLA, F. Alfabetização: Método


Fônico. 3ª ed., São Paulo: Memnon, 2004.

CARVALHO, R. E. Educação Inclusiva com os pingos nos “is”. Porto


Alegre: Mediação, 2004.

COLL, Cezar; PALACIOS, Jesús e MARCHESI, Álvaro.


Desenvolvimento Psicológico e Educação - Necessidades
Educativas Especiais e Aprendizagem Escolar. v. 3, Porto Alegre:
Artes Médicas, 1995.

CORDIÈ, Anny. Os atrasados não existem. Porto Alegre: Artmed,


1996.

SALAMANCA, Declaração de, www.cedipod.org.br/salamanc.htm,


28/09/04.

SAPPORO, Declaração de, www.inclusao.com.br, 23/02/05.

FERNÁNDEZ, Alicia. Os Idiomas do Aprendente. Porto Alegre:


Artmed, 2001.

________________. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre:


Artmed, 1990.
138

FERRAZ, H. B. & MOURÃO, L. F. Doença de Parkinson. In:


CHIAPPETA, A. L. M. L. (org.). Conhecimentos essenciais para
atender bem o paciente com Doenças Neuromusculares, Parkinson
e Alzheimer. São José dos Campos: Pulso, 2003.

GARCÍA, Jesus Nicasio. Manual de Dificuldades de Aprendizagem –


Linguagem, leitura, escrita e matemática. Porto Alegre: Artes
médicas, 1998.

HOUT, A. V. Dislexias: descrição, avaliação, explicação e


tratamento. Porto Alegre: Artmed, 2001.

KLEBIS, D. & PIACENTINI, P. Crianças com necessidades especiais


– a escola lidando com a diversidade,
www.comciencia.br/reportagens/2005/12/06_impr.shtml, 22/02/07.
Referências bibliográficas

Lei 9394/1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação


Nacional. In: Conhecendo Nossos Direitos e Deveres. Vol. III, Rio
de Janeiro: INES, 2002.

Lei Federal 8609/1990. Estatuto da Criança e do Adolescente, CMD


CARJ, Prefeitura Rio, Desenvolvimento Social.

LIMA, Rossano Cabral, Somos Todos Desatentos? O TDA/H e a


construção de bioidentidades, 1ª ed., Rio de Janeiro: Relume
Dumará, 2005.

MANTOAN, M. T. E. Fala Mestre! In: Revista Nova Escola. São


Paulo: Abril/Maio de 2005.

MATTOS, Paulo. No Mundo da Lua: perguntas e respostas sobre


transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças,
adolescentes e adultos, 4ª ed., São Paulo: Lemos Editorial, 2003.

MEIRA, M. C. Fracasso Escolar: de quem é a culpa?


www.divinopolis.uemg.br/revista/revista-eletronica3/artigo12-3.htm,
12/02/07.

MITTLER, P. Educação Inclusiva Contextos Sociais. Porto Alegre:


Artmed, 2003.

MOORE & PERSAUD. Embriologia Clínica. 7ª ed., Rio de Janeiro:


Elsevier, 2004.

MORAIS, António Manuel Pamplona. Distúrbios de Aprendizagem:


Uma Abordagem Psicopedagógica. São Paulo: EDICON, 1997.

MRECH, L. M. O que é Educação Inclusiva? www.inclusao.com.br,


23/02/05.

NOFFS, N. A.; SOUZA, V. de C. B. A psicopedagogia em direção ao


espaço transdisciplinar. São Paulo: Frontis Editorial, 2000.

OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade. Educação e Reeducação num


Enfoque Psicopedagógico. 3ª ed., Petrópolis: Vozes, 1999.
139

PAIN, Sara. A função da ignorância. Porto Alegre: Artmed, 1999.

_________. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de


Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 1985.

PATTO, Maria Helena Souza. A produção do Fracasso Escolar –


Histórias de Submissão e Rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1999.

Revista Educação & Família. Deficiências. A diversidade faz parte


da vida! São Paulo: Escala. Edição 05. Ano I.

Revista Nova Escola. São Paulo: Abril. Edição Especial nº 11.

________________. São Paulo: Abril. Junho/Julho de 2003.

RODHE, L. A. e MATTOS, P. Princípios e práticas em TDAH. Porto


Referências bibliográficas

Alegre: Artmed, 2003.

ROHDE, Luís Augusto P, MATTOS, Paulo E COLS., Princípios e


Práticas em TDA/H, 1ª ed., Porto Alegre: Artmed, 2003.

ROHDE, Luís Augusto P., BENCZIK, Edyleine Bellini P, Transtorno


de Déficit de Atenção/Hiperatividade: o que é? Como ajudar? 1ª
ed., Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.

RUBINSTEIN, Edith Regina. (org.). Psicopedagogia: uma prática,


diferentes estilos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

_______________________. O Estilo de Aprendizagem e a Queixa


Escolar: entre o saber e o conhecimento. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2003.

SÁ, E. D. Educação Especial: Construindo Espaços de Formação,


www.defnet.org.br/elizabet.htm, 12/02/07.

SCOZ, B. J. L. Psicopedagogia e Realidade Escolar. Petrópolis:


Vozes, 2001.

SILVA, ANA BEATRIZ B., Mentes Inquietas: entendendo melhor o


mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas, 23ª ed.,
São Paulo: Gente, 2003.

SILVA, M. C. Aprendizagem e Problemas. São Paulo: Ícone, 1997.

Síndrome de Down (Trissomia do cromossomo 21),


www.abcdasaude.com.br/artigo.php?393, 15/10/04.

SMITH, Corine e STRICK, Lisa. Dificuldades de Aprendizagem de A


a Z. Tradução: Dayse Baptista, Porto Alegre: Artmed, 2001.

STELLING, S. Dislexia. Rio de Janeiro: Revinter, 1994.

ZORZI, J. Aprender a Escrever – A apropriação do sistema


ortográfico. Porto Alegre: Artmed, 1998.
140

Você também pode gostar