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Bases didáticas inclusivas: estratégias pedagógicas na/para diversidade

Gilka silva Pimentel, Especialista em


psicopedagogia pela UFRN e professora do NEI-UFRN.

A intenção deste texto é oferecer brevemente aos professores da rede de


ensino um conjunto de idéias sobre a inclusão de crianças com necessidades
educacionais especiais na rede regular de ensino, servindo como um instrumento
possível de reorientação das ações pedagógicas dos educadores em relação aos
alunos no percurso de suas aprendizagens na escola.
Como atividade desencadeadora de nossas reflexões, vamos iniciar o diálogo
acionando nossos pontos de vista a partir da seguinte afirmação: “A inclusão não
é um problema das crianças, porém, um problema do nosso pensamento político-
pedagógico, de nossa tomada de consciência, de nossas atitudes, de nosso
quadro de ser humano” (Eberwein).
Diante disso podemos nos perguntar. Quais são nossas experiências
pedagógicas, dificuldades, expectativas e angústias acerca da inclusão das
crianças especiais?
Uma dos elementos que ofereço para nos ajudar a pensar nossa pratica
pedagógica é o exame da didática e do currículo usado na escola. Zabalza (1990,
p.139), nos diz, “a didática é um campo de conhecimento, de pesquisa, de
propostas teóricas e práticas que se centram principalmente nos processos de
ensino-aprendizagem”. Esses processos ocupam a escola e a atividade do
professor. Segundo Coll (apud Carvalho, 2003, p.5),

“Currículo é o projeto que preside as atividades escolares, define suas intenções e


proporciona guias de ação adequadas e úteis para os professores que são
diretamente responsáveis pela sua execução. Para isso, o currículo proporciona
informações concretas sobre o que ensinar, quando ensinar,como ensinar e
que, como e quando avaliar”.
Resgatando a história da educação especial, a década de 90 representa no
mundo educacional uma ênfase sobre a diferença. A inclusão das crianças na
escola comum com dificuldades ou atraso na aprendizagem seja por deficiência
mental, física, surdez, visual ou transtornos invasivos de desenvolvimento, envolve
inúmeros desafios por parte dos atores que participam da vida desses sujeitos,
sejam pais ou professores. Entretanto, a proposição central atual se traduz em
tecê-la como um novo paradigma de uma educação na/para diversidade.
A Conferência Mundial de Educação realizadas em 1990, em Jomtien,
Tailândia e 1994, em Salamanca, Espanha, apresentam objetivos para a
reestruturação das escolas para responder ás necessidades de todas as crianças,
oferecendo orientações para uma escola inclusiva. Assim, podemos definir como
principio fundamental dessas diretrizes no dizer de Arnáiz, 1997, apud Gonzáles,
2004 “uma escola inclusiva é aquela onde todas as crianças devem aprender
juntas. As escolas regulares/comuns devem reconhecer e responder as diversas
necessidades de seus alunos”.
E ainda, sobre proposições do que vem a ser escolas inclusivas, Stella
Caniza Paez, professora de surdos e membro da equipe do centro Lídia Coriat,
Barcelona nos diz;
”Escola inclusiva significa escola disposta a receber plenamente todos os membros
da comunidade. Significa elaborar estratégias que permitam conservar em suas
classes a maior parte de seus membros, com os apoios e adequações necessárias
para proteger cada um dos riscos do fracasso”.

Mas, como na prática tornar possível uma escola inclusiva apoiada na


diversidade, que permita a todos os alunos aprenderem, quando aqueles cujos
valores a sociedade legitimou como incapacitados, problemáticos, e incapazes
estão na maioria das vezes como meros ocupantes de um espaço físico? Estarão
os alunos com deficiência e/ ou dificuldades nas escolas, aprendendo como seus
colegas? Que lugar ocupa no imaginário do professor? Como são olhados frente a
sua diferença?
Sobre estas questões, se olharmos o diferente/deficiente sob a matriz da
normalidade, estaremos valorizando o defeito e a causa que a provocaram,
subtraindo dessas pessoas a possibilidade e o direito de sua inserção no mundo
da cultura e, portanto, sua inscrição no mundo como sujeito social, que Vygostky
(1997), define como sendo aquilo que humaniza o homem. Isto é, o que o faz se
constituir como humano – sua inserção cultural (apud Beyer, 2003, p.165).
E quando se trata de olhar para a diferença/diversidade dos sujeitos,
(Carvalho, 2004.p, 55) nos premia com a seguinte afirmativa, “Permito-me
reconhecer na normalidade de ser diferente, a igualmente normalidade”. “A
diferença é a normalidade”
Sem dúvida este é um modo radical de desconstruir uma tradição secular do
pensamento humano, presente no imaginário coletivo e individual, concebendo as
pessoas a partir de uma concepção de normalidade e homogeneidade, como se
os fenômenos humanos pudessem ser enquadrados como isto ou aquilo.
A escola e a sala de aula, ao contrário dessa lógica, são lugares de
individualidades e de coletividade, por onde circulam as subjetividades do
professor, do aluno e dos outros sujeitos que integram a instituição como a
direção, a coordenação, o porteiro, a merendeira, as secretarias, e outros. É um
espaço de cognição, sentimentos, afetos, relações; um lugar privilegiado de
produção e construção do conhecimento, que suscita reflexão, revisão e
transformação de verdades preconizadas pela ciência e senso comum, de
experiências, vivências e saberes de todos os atores, que como autores,
participam da escola, e devem ter o direito e acesso garantido. Isto implica o
reconhecimento de que:
“Está fora de dúvida que os alunos com necessidades educativas especiais
diferencia-se de seus pares por apresentarem características físicas, sensoriais,
intelectuais e mentais. As dificuldades não nos autorizam, porém, a estabelecer
limites para sua capacidade de aprendizagem. O mesmo se aplica para todas as
crianças que apresentam dificuldades específicas de aprendizagem, mesmo sem
serem deficientes físicos, sensoriais ou mentais. Trata-se, portanto, de um
continuum de diferenças individuais que devem ser respeitadas nas ações da
escola. Que precisam estar ajustadas as necessidades dos alunos sem prejuízo do
direito de todos a aprendizagem dos conteúdos curriculares... O projeto curricular
das escolas deve levar em conta, não só as diferenças individuais, como as relativas
ao contexto no qual a escola se insere. A programação de cada professor deve
conter atividades que respeitem o continuum das diferenças individuais. Esta é a
essência das adaptações curriculares, entendidas como um conjunto de estratégias
que permitam adequar os conteúdos mínimos do currículo ás necessidades de cada
aluno”.(Carvalho. 2003).

Portanto, o professor numa escola inclusiva deve lançar mão de estratégias


de planejamento e atuação que possam responder às necessidades das crianças
em seu percurso de aprender, ancorados numa reflexão que lhe permita, decidir a
respeito do que e como o aluno deve aprender.
Então, para que as escolas mudem que ações devem implementar? Que
desafios estão postos para os profissionais que estão diretamente envolvidos no
processo de ensino e aprendizagem dos alunos?
Em primeiro lugar, as mudanças não se fazem apenas ao nível de lei, ou
decretos das instancias que detêm poder e autoridade, embora, estas se façam
irrefutavelmente necessárias, como uma das dimensões da luta social e política
pela democratização e acesso dos alunos à escola regular. É preciso que os
professores tenham coragem e ousadia para enfrentar discussões, assumindo
atitudes mais críticas, visto que a mudança interroga a função social da escola, o
papel de quem ensina e quem aprende, frente aos processos de ensino e
aprendizagem, desafia ainda, o professor pensar o aluno em suas particularidades
e modos singulares de aprender, pensar, sentir, agir, atuar, coordenando em
redes de relações e significações que é próprio de cada um, construídas e
produzidas em contextos, que não se restringem somente, na vivência escolar.
Em segundo lugar, fortalecer o vínculo e a pareceria da escola e da família,
promovendo diálogos sobre o trabalho pedagógico e os processos de
aprendizagem dos alunos, refletindo sobre as estratégias, ajustes utilizados e
encaminhados pela escola.
Em terceiro lugar, sistematizar espaços coletivos para discussão, trocas e
debate sobre o trabalho em sala de aula, e sempre que se fizer necessário
promover interlocuções e trocas com outros profissionais (psicólogos
psicopedagogos, psicomotricista, e outros que a comunidade sinta necessidade)
Para finalizar, a escola precisa estar aberta para a diversidade, e os
professores atentos para olhar, ver, ouvir, escutar e produzir novas narrativas a
fim de tornar a escola mais humana, de maior qualidade, com uma prática
geradora de transformações, rica em aprendizagens significativas. Afinal de
contas, o sujeito principal de nosso fazer, são os alunos.
Frente ao desafio que o tema nos propõe, podemos continuar nos
interrogando; Qual o efeito que o encontro com a diferença dos alunos nos
provoca? Quais são as estratégias e os mecanismos que usamos ao nos
defrontarmos com a diferença, presentes nas nossas narrativas e no imaginário?
No intuito de contribuir no debate, nas ações dos professores e da escola,
ofereço como sugestão para leituras, conversas e estudos, livros que tratam com
bastante sensibilidade dessas questões, e algumas indicações de literatura
infanto-juvenil e filmes que podem ajudar no trabalho, tanto para a equipe docente,
quanto para os alunos, tais como:
 AMARAL, L.igia. A. Pensar a diferença/deficiência.
Brasília.Coordenadoria Nacional para Integração das
Pessoas Portadoras de Deficiência, 1994.
 CARVALHO, E.R. Educação inclusiva: com os pingos nos
“IS”.Porto Alegre, Mediação. 2004.
E ainda, que sejam criados espaços de reflexões e encontros coletivos com a
equipe docente, a fim de garantir que todos possam ter a oportunidade de falar do
trabalho pedagógico com os alunos com necessidades educativas especiais, e/ou
dificuldades no processo de aprendizagem, podendo ser feito por turnos,
envolvendo a coordenação pedagógica e a direção.
As reflexões podem ser desencadeadas a partir de filmes que tratam sobre a
temática, tais como:
 Uma lição de vida,
 No oitavo dia,
 Mentes brilhantes,
 Uma mente brilhante,
 Mentes perigosas,
 Meu pé esquerdo,
 Sheine Brilhante,
 Rádio.
Podemos também, promover leituras de livros de literatura infanto-juvenil de
autores que escrevem sobre o tema, como:
 Claudia Werneck, coleção meu amigo Down, da WVA editora,
 A Felicidade das Borboletas, O Grande Dia, da coleção série
amigos especiais, da Melhoramentos.
 Rubens Alves, A Porquinha de Rabo Esticadinho, da editora
Loyola,
 Lúcia Pimentel Góis, A Flauta do Sótão, da Paulus editora.

Referências bibliográficas:

González, José Antonio. Educação e Diversidade. Bases didáticas e


organizativas.São Paulo.Artmed, 2002.
Carvalho, Rosita Edler. Educação inclusiva: Com os pingos nos “IS”. Porto
Alegre, Mediação. 2004.
________Adaptações Curriculares e as Propostas para Todos. Porto
Alegre.Mediação. 2003.
Coll, C. Psicologia e Currículo: Uma aproximação Psicopedagógica á
elaboração do currículo escolar.São Paulo. Àtica, 1996.

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