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MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS DE REESTRUTURAÇÃO URBANA E

A RESSIGNIFICAÇÃO DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO DE CIDADES INSERIDAS NO CIRCUITO MUNDIAL DE
VIAGENS: UM OLHAR SOBRE OS EDIFÍCIOS HOTELEIROS

Ana Paula Garcia Spolon


Universidade Federal Fluminense

Recibido: 25 de febrero de 2013. Devuelto para revisión: 4 de marzo de 2013.


Aceptado: 28 de mayo de 2013

Movimentos contemporâneos de reestruturação urbana e a ressignificação do ambiente


construído de cidades inseridas no circuito mundial de viagens: um olhar sobre os
edifícios hoteleiros (Resumo)

A compreensão da dinâmica dos movimentos contemporâneos de reestruturação de


espaços urbanos é fundamental para o entendimento dos processos de ressignificação do
ambiente construído, em especial em áreas urbanas nas quais a edificação se pode
transformar, reconhecidamente, em um objeto cultural, colaborando para o aumento do
valor do entorno. Nesse sentido, devem ser vistos os edifícios não a partir de uma visão
reducionista, mas desde um ponto de vista amplo e totalizante: como produtos
imobiliários e como artefatos arquitetônicos, dotados de valor material, social e
simbólico. Como artefatos, poderiam colaborar para a ressignificação dos espaços
urbanos por meio da reconfiguração dos espaços internos e do próprio redesenho da
edificação, bem como por sua relação com o entorno, a partir da dialética entre a
estrutura material edificada e a sociedade. Como produtos imobiliários, poderiam
inserir-se de uma maneira inovadora no circuito de valorização do capital, firmando-se
como mercadorias diferenciadas e orientando a própria sobrevida e expansão do
capitalismo em ambiente urbano. A dinâmica socioespacial e as características do
capitalismo contemporâneo levam a um movimento de reestruturação imobiliária,
processo complexo e amplo, que se dá em dois níveis: a reestruturação espacial (novas
formas e funções do imóvel e a revisão de seu papel estruturante junto à sociedade e ao
espaço) e a reestruturação produtiva (novas maneiras de construir e administrar o
produto imobiliário). Este texto está baseado na interpretação da produção imobiliária
voltada para fins específicos e usos determinados, neste caso, para os edifícios
hoteleiros instalados em importantes destinos do circuito mundial de viagens. Tem
como objetivo maior orientar a apreensão dos novos sentidos e significados do ambiente
construído e de sua adequação aos processos de valorização do capital e de
reestruturação dos espaços urbanos contemporâneos.

Palavras-chave: Capital, espaço urbano, reestruturação urbana, cidades, hotelaria.


Contemporary movements of urban restructuring and the redefinition of built
environment of cities included in the world travel circuit: a look at the hotel buildings
(Abstract)

The understanding of contemporary movements of urban spaces restructuring is vital to


the knowledge of re-signification processes of built environment, particularly in urban
areas in which building can admittedly become a cultural object, collaborating with
increase of surroundings value. In this sense, buildings must be seen not from a
reductionist view, but from a broad and all-absorbing point of view: as real state
products and architectural artifacts, endowed with material, social and symbolic value.

As artifacts, they could collaborate with re-signification of urban spaces through


reconfiguration of internal spaces and of building redesign itself, as well as by its
relation to the setting, from the dialectic between built material structure and society. As
real state products, they could insert themselves in an innovative manner into the circuit
of capital valuing, standing as differentiated commodities and orienting capitalism’s
own survival and expansion in a urban environment.

Social spatial dynamics and characteristics of contemporary capitalism lead to a


movement of real state restructuring, a complex and broad process, that happens in two
levels: spatial restructuring (new forms and functions of property and review of
structuring role within society and space) and productive restructuring (new ways of
building and managing real state product) this text is based upon interpretation of real
state production turned to specific purposes and determined uses, in this case, to hotel
buildings located in important destinations of world travel circuit. It aims at orienting
the apprehension of new senses and meanings of the built environment and its adequacy
to processes of capital valuing as well as restructuring of contemporary urban spaces.

Key words: Capital, urban space, urban restructuring, cities, hotels

Los movimientos contemporáneos de reestructuración urbana y la redefinición del


entorno construido de las ciudades incluidas en el circuito mundial de viajes: una
mirada a los edificios hoteleros (Resumen)

La comprensión de la dinámica de los movimientos de restructuración contemporánea


de los espacios urbanos es fundamental para entender los procesos de redefinición del
ambiente construido, especialmente en las zonas urbanas en las que el edificio puede
llegar a ser reconocido como un bien cultural, contribuyendo para el aumento en el
valor del entorno. En este sentido, los edificios deben ser vistos no desde una visión
reduccionista, pero desde un punto de vista amplio y totalizador: como productos
inmobiliarios y como artefactos arquitectónico dotados de valor material, social y
simbólico.

Como artefactos, podrían contribuir para la redefinición de los espacios urbanos a través
de la reconfiguración de los espacios interiores y el rediseño del propio edificio, así
como su relación con el entorno, a partir de la dialéctica entre la estructura material
construida y la sociedad. Como productos inmobiliarios, podrían ser parte innovadora
en el circuito de la revalorización del capital, estableciéndose como bienes
diferenciados, y dirigir la propia supervivencia y expansión del capitalismo en el
espacio urbano.

La dinámica socio-espacial y las características del capitalismo contemporáneo


conducen a un movimiento de restructuración inmobiliaria, complejo y extenso, que se
produce en dos niveles: una restructuración espacial (nuevas formas y funciones del
edificio y el examen de su papel estructural en la sociedad y en el espacio) y la
restructuración de la producción (nuevas formas de construir y administrar el producto
inmobiliario). Este texto se basa en la interpretación de la producción de inmóviles
orientados a fines específicos y usos determinados, en este caso, los edificios de hoteles
instalados en el circuito mundial de destinos de viaje. Tiene como objetivo orientar la
comprensión de los nuevos significados del ambiente construido y de su adecuación a
los procesos de revalorización del capital y la restructuración urbana contemporánea.

Palabras clave: Capital, espacio urbano, restructuración urbana, ciudades, hoteles

Não é tranquila a interpretação da relação entre a expansão do capital e a reestruturação


das cidades, embora ela pareça muito óbvia e viva querendo se expor. Fato é que as
cidades contemporâneas têm sido constante e continuamente modificadas, melhoradas,
como que atendendo a um desafio constante de adequação às novas referências
mundiais em termos de economias urbanas.

É sabido que, mundialmente, os “nossos espaços urbanos” começaram a ser


constituídos, na feição que têm atualmente, quando da “revolução urbana” referenciada
por Henri Lefebvre[1] na década de 1960. Mas, bem antes, no século XIX, a
implantação da moderna propriedade da terra através da instituição da Lei de Terras de
1850 – processo que Paulo César Xavier Pereira, sociólogo[2] chama de absolutização
da propriedade da terra –, já deu forma à condição de a terra transformar-se em produto
monopolizável e irreprodutível. Com o tempo, o espaço valorizou-se e a cidade tornou-
se palco muito adequado às sociedades contemporâneas, para quem a mercantilização
da experiência é força propulsora.

Atualmente, a urbanização é uma realidade global, embora em escalas e dimensões


diferentes e não sem o enfrentamento de enormes contrastes e dificuldades, pelos mais
diversos grupos sociais. Retrato de Rick Burdett e Deyan Sudjic[3] mostra que vivemos
em um mundo efetivamente urbanizado, onde há a riqueza e a pobreza, bem como a
qualidade dos espaços acompanhada de perto por sua total degradação.

Das relações entre a expansão do capital e a reestruturação das áreas urbanas: o


desenvolvimento imobiliário e o redesenho das paisagens

Ao mesmo tempo em que há pujança no distrito de Pudong, em Xangai (China), vê-se a


pobreza em Mumbai, na Índia. Pobreza estrutural, que não condiz exatamente com falta
de oportunidades para geração de renda – que o mostre a realidade da favela de Dharavi,
uma concentração de estimados um milhão de moradores que, juntos, movimentam
cerca de R$ 2 milhões por ano, mas não contam com políticas públicas eficazes de
educação ou de saúde pública, não dispondo sequer de saneamento básico.

Do outro lado do mundo, em Nova York, há uma cidade rica e próspera, com qualidade
de vida em níveis consideráveis – a ponto de ser possível, por exemplo, que 95% das
pessoas que entram e saem de Manhattan todos os dias façam uso (satisfeitas) do
eficiente sistema de transporte público[4].

Tal situação se contrapõe ao lastimável estado das coisas em Lagos, onde o fato de as
pessoas viverem com apenas algumas horas de eletricidade por dia não se explica por
estatísticas como a que mostra que a Nigéria foi, em 2008, o sétimo produtor de
petróleo do mundo e que goza de significativo potencial hidrelétrico. Mas talvez se
explique pelo fato de o país estar “entre os dez países mais corruptos do mundo”[5].

No Brasil, a primeira macrometrópole do hemisfério sul está em formação: uma mancha


urbana que reúne 65 municípios e 12% da população brasileira[6]. O epicentro é São
Paulo, mas nesta mancha está também Campinas, onde fica, por exemplo, o maior
terminal aéreo de cargas do país, o Aeroporto de Viracopos.

Bogotá, na Colômbia, por sua vez, tem aos poucos vencido problemas sociais
recorrentes a partir de ações como a implantação de 300 quilômetros de ciclovias na
cidade ou a instalação de uma rede municipal de bibliotecas que registrava, há pouco
mais de uma década, sete milhões de usuários por ano[7].

Em todos esses lugares, tem-se verificado nos últimos anos alguns movimentos que, a
despeito de todas as diferenças, lhes é comum: um deles é o desenvolvimento
imobiliário.

Constroem-se edifícios gigantescos em Shangai[8]. São Paulo, por seu lado, aparecia
em 2008 em quarto lugar em um ranking de desenvolvimento imobiliário comercial que
classificava 63 cidades[9].
Londres, em 2007, era um dos mercados imobiliários mais caros do mundo (só atrás de
Mônaco e Nova York), hiperinflacionado pelo fato de a cidade ser o principal centro
financeiro global e o destino preferido das chamadas indústrias criativas[10].

Lourival Sant´Anna[11] fala da situação em Moscou: “Em menos de duas décadas, o


mercado imobiliário moscovita saiu da propriedade privada para a proibitiva [...], com
enorme fôlego”. Em Mumbai, “morar em certas partes (da cidade) chega a ser mais caro
que em Nova York ou Londres, seja para comprar um apartamento de R$ 4,6 milhões
ou pagar aluguel de R$ 7,8 mil por um três-dormitórios”[12].

Em Nova York, aliás, fala-se em “construção de lajes sobre estradas e ferrovias, que
serão a base para novos espaços imobiliários”[13]. Reflexos de uma cidade de nunca
parou de crescer e desenvolver-se.

Aos movimentos locais, regionais e mundiais de reestruturação imobiliária por meio da


expansão de área construída e do espalhamento geográfico urbano das edificações,
acrescenta-se situações de aumento de vazios imobiliários, com edifícios disponíveis
para venda e aluguel e pessoas físicas sendo retiradas de seus imóveis por conta da
dificuldade de quitar hipotecas, em função da crise que experimentam vários países.

Mundialmente, a crise do mercado imobiliário acontece simultaneamente à sua


expansão, evidenciando um desequilíbrio na distribuição geográfica de imóveis nas
áreas urbanas e, ao mesmo tempo, uma enorme inadequação nas formas correntes de
ocupação dessas edificações, bem como a fragilidade de muitos dos sistemas de
financiamento imobiliário, em especial os voltados para pessoas físicas e para grupos
sociais de baixa renda.

O espaço urbano (e sua ocupação cada vez mais extensiva) de fato passou há muito ao
protagonismo da cena mundial. O significado dado às cidades e às suas mercadorias (ela
mesma, a cidade, uma mercadoria) no circuito de produção e reprodução capitalista é
tão grande que faz com que destinos de todo o mundo passem a ser altamente
valorizados – a despeito de suas fragilidades –, não somente em termos materiais, mas
também em termos sociais e simbólicos.

Desde sempre, a produção imobiliária foi atividade econômica promissora. Já nos idos
de 1880 se falava, em Manhattan (desde então o grande foco de espacialização material
de riquezas nos Estados Unidos), da construção de grandes edifícios comerciais e da
mudança do padrão construtivo da Quinta Avenida, a artéria mais importante de Nova
York[14].

Este momento também é descrito por Lewis Mumford[15], que comenta a importância
econômica do setor imobiliário ao falar sobre as construções destinadas a alojar
escritórios, nascidas do desenvolvimento tecnológico e industrial do final do século
XIX: “Esta época encontrou a sua forma num novo tipo de edifício de escritórios, nos
Estados Unidos, nos anos de 1880: simbolicamente, uma espécie de arquivo vertical de
seres humanos, com janelas uniformes, fachadas uniformes, acomodações uniformes,
subindo um andar após o outro, na concorrência com outros arranha-céus pela conquista
da luz, do ar, mas, acima de tudo, do prestígio financeiro”.

Se há tempos a prática de construir e vender imóveis é interessante desde o ponto de


vista econômico, desde há algumas décadas passou a ser um negócio estratégico – por
conta dos resultados da atividade e da sua proximidade cada vez maior com o sistema
de produção e reprodução capitalista, em sua expressão material, nas cidades. Um
processo contínuo e sempre evolucionista, cuja história é relevante.

A organização humana partiu de um modelo social primitivo e mais tarde feudal para
tornar-se industrial e, depois, realizar-se na sociedade urbana preconizada por
Lefebvre[16]. Em termos espaciais, Julio Vinuesa Angulo e M. Jesús Vidal
Domínguez[17] enxergam a evolução do modelo de apropriação e uso do “solo rústico
até o espaço construído” e organizado para o mercado, por meio do parcelamento, que
se transforma em “uma função essencial do crescimento urbano, tornando o solo
imprescindível para o crescimento da cidade e fazendo aumentar o valor da propriedade
privada do solo”.

A mercantilização do solo pela atividade imobiliária expõe fenômenos característicos da


urbanização capitalista – a fragmentação, a implosão/explosão das cidades para fora e
sobre si mesmas, a formação de novas centralidades, a hierarquização, a (i)mobilidade,
a exclusão, a segregação.

Isso exacerba a condição da raridade do espaço, que Lefebvre (escrevendo em 1972)


reconhecia, mas tomava em certa contradição. Segundo ele, o espaço não era raro.
Lefebvre[18] dizia: “Tomado em absoluto, pode-se falar em raridade? Não. Ele (o
espaço) se abre de todos os lados. As técnicas permitem “construir” o que se quiser,
tanto na superfície quanto no fundo dos mares, nos desertos e nas montanhas, até nos
espaços interplanetários. [...] A penúria do espaço só se observa em “lugares” definidos:
nos arredores dos centros que se mantêm nas centralidades historicamente realizadas ou
se estabelecem fora delas”.

Na verdade, Lefebvre[19] estava falando sobre o caráter político da raridade do espaço,


sobre a prática social que se baseia no instituto da propriedade privada da terra, que dá a
todo proprietário o direito de dispor como bem quiser do solo que lhe pertence,
colocando-o ou não à disposição da urbanização capitalista.

A constituição da sociedade urbana traz à tona este e outros problemas, novos,


problemas que pedem novas soluções. Entre os desafios a serem enfrentados por esta
realidade contemporânea está exatamente o de vencer o obstáculo da propriedade
privada da terra, matéria prima necessária à ampliação da base material de circulação do
capital. Aluísio Wellichan Ramos[20] diz que “a terra, em princípio entendida como
montante de capital improdutivo imobilizado, adquire importância ao ser alçada à
condição de bem indispensável ao processo de produção de espaços urbanos (pela
construção), passando a ser vista como uma mercadoria, ou como uma forma de capital
capaz de gerar lucros e rendas extraordinários aos agentes envolvidos nos processos de
incorporação, construção e financiamento da edificação (ou da produção de espaços
urbanos). A terra aparece como elemento indispensável para a reprodução do capital,
entrando na composição final do valor dos imóveis, gerando rendas e sobrelucros ao
agente incorporador”.

A importância da terra urbana expõe as possibilidades de expansão do capital nos


espaços urbanos e abre espaço para o nascimento e amadurecimento de uma atividade
econômica que viria provocar profundas alterações nas cidades: a indústria imobiliária.
Diz Antonio Zárate Martín[21] que “os elementos da cidade (solo, edifícios, moradias,
etc.) convertem-se em mercadorias que são trocadas no mercado como qualquer outra”.
Mais relevante do que ocupar o espaço, passa a ser primordial construir, criar bens
imóveis, expandir, embelezar.

Com o passar do tempo, a produção imobiliária desenvolve-se, aprimora-se e desenha


maneiras cada vez mais eficientes de aliar-se ao capital, este se apresentando também
como mercadoria para o financiamento da construção, da aquisição do imóvel e dos
inúmeros e inventivos processos de reestruturação dos espaços urbanos.

A economia urbana, que antes tinha como preocupação tradicional a formação dos
preços da terra, passa a ter uma preocupação nova: o desenvolvimento imobiliário[22].
Neste processo atuam vários agentes, em meio a articulações e conflitos, tendo como
interesse maior a valorização do capital.

Os papéis desses agentes, muitas vezes, confundem-se. Mariana Fix[23] comenta: “No
setor imobiliário, encontramos um sistema especializado de agentes econômicos que se
dedicam a uma ou várias funções – incorporação, desenvolvimento imobiliário,
financiamento, gestão da obra, construção, consultoria, arquitetura, comercialização e
administração predial”. O papel dos agentes pode ser confuso, mas sua eficiência é
inquestionável. Se assim não fosse, o desenvolvimento imobiliário não seria tão notável.

Mas... Como o capital domina o espaço?

O grande boom imobiliário mundial foi registrado a partir da década de 1980[24]. Este
crescimento foi em parte uma resposta à expansão das atividades terciárias e à
consequente necessidade de alojá-las em espaços qualificados (dotados de requisitos
diferentes dos apresentados pelos imóveis tradicionais).

Por outro lado, foi somente uma oportunidade de criação de novas estratégias para a
produção coordenada de espaços urbanos, estratégias que trariam bons resultados e
investidores[25]. Era a produção da cidade como mercadoria e também como grande
parceira do capital em suas tentativas constantes de expansão e valorização.

Na contemporaneidade, a expansão do capital se dá pela conquista do espaço[26]. Mas


não basta produzir o espaço, é preciso que as relações sociais de produção aconteçam
em uma base ampliada.

Edward Soja[27] explica que as relações sociais de produção são “processos pelos quais
o sistema capitalista como um todo consegue ampliar sua existência, através da
manutenção de suas estruturas definitórias”. Significa que quanto mais amplas forem as
bases nas quais se reproduzirem as relações sociais, mais ampla será a extensão da
produção do espaço decorrente dessa reprodução. Segundo o autor, se o capital domina
o espaço por meio da reprodução das relações sociais de produção e “a crise final do
capitalismo só poderá surgir quando as relações de produção não mais puderem ser
reproduzidas, e não simplesmente quando a produção em si for paralisada”, há que se
cuidar, portanto, da reprodução das relações de produção.

Daí a importância da orientação de novos processos produtivos (reestruturação


produtiva) e da ressignificação do espaço (reestruturação espacial), base física de
reprodução do capital contemporâneo. Esses dois processos conjugam o que para
Pereira (2006) constitui um movimento de reestruturação imobiliária.

Dessa forma é que se multiplicaram, nas últimas décadas, as associações entre o


mercado imobiliário e o capital, inclusive o portador de juros (em diferentes momentos
também chamado de autonomizado, monetário, financeiro, fictício e rentista), a forma
por excelência de um capital que se expande em termos mundiais[28]. E iniciou-se um
ciclo continuado de ampliação da base das relações sociais de produção de espaços
urbanos. Esta integração do espaço com os circuitos de valorização do capital por meio
da atividade imobiliária resultou produtos imobiliários diferenciados e a transformação
da propriedade absoluta em outra, desabsolutizada e de caráter total ou parcialmente
rentista[29]. Este caminho se deu por conta da participação do capital portador de juros
em todas as etapas do processo, quais sejam, o financiamento da compra do terreno, a
construção e a aquisição do imóvel pelo proprietário.

Outra característica é que boa parte desses imóveis passou a ser comprada também com
objetivos rentistas: para obtenção de renda de aluguel, seja para moradia, seja para o
funcionamento de escritórios, sedes corporativas e outros formatos de negócios, este o
modelo mais interessante desde o ponto de vista da reprodução do capital, dada a
necessidade de locação de espaços adequados para as operações do setor de serviços,
em especial nas grandes áreas urbanas.

Fix[30] explica que, cada vez mais, isso acontece porque as empresas optam por alugar
espaços, a fim de deslocarem-se com mais facilidade. Além disso, por não mobilizarem
capital na sede própria, têm recursos livres para investir no próprio negócio ou para
optar por aplicações mais rentáveis. Acrescente-se o fato de inúmeras atividades do
setor de serviço necessitarem estar próximas da área de concentração de atividades
complementares e sinérgicas – hotéis perto de edifícios corporativos, restaurantes,
escritórios, etc.

Para a autora, “visto da perspectiva geral do sistema, isso significa que o capital total
ganha maior mobilidade ao custo de fixar uma fração do capital, que passa a circular no
meio ambiente construído”[31]. Para a indústria imobiliária, significa oportunidade de
inovação.

Trata-se de uma troca: o espaço serve à expansão e valorização do capital e o capital


orienta a ressignificação do ambiente construído. Desde o ponto de vista da gestão do
processo, há que se fazer um acompanhamento mais rigoroso. Com isso, o imóvel,
“produto desse sistema, passa a fazer parte da carteira de investidores [...], ao lado de
ações, títulos da dívida, etc., que [...] passam a exigir dele, acima de tudo, rentabilidade.
As características dos edifícios passam a ser definidas pela dinâmica da esfera
financeira, nas relações que estabelece com a circulação do capital no ambiente
construído. As singularidades dos edifícios são removidas em nome da padronização e
da homogeneização, de modo que se transformem em um bem de alta liquidez, mais
facilmente negociável no mercado”[32].

Há que se dizer que o setor imobiliário, mais profissionalizado, efetiva e continuamente


se desenvolve. Adere sobremaneira ao capital portador de juros, mas nem sempre cede à
“padronização e homogeneização”, nos termos indicados por Fix[33]. Pode, ao
contrário, mostrar ao mercado que se a repetida comercialização de módulos é favorável
à reprodução da mercadoria, sua diferenciação formal também o é.

De alguma forma, a indústria imobiliária segue também em busca da singularidade, não


somente no segmento de produção de moradias, mas, da mesma maneira, na concepção
de produtos destinados a funções específicas[34].

A atividade imobiliária é reconhecidamente uma das mais importantes da economia


contemporânea e sua capacidade de geração de produtos imobiliários renovados é
latente. Salgueiro[35] diz que “novos produtos imobiliários destacam-se na paisagem
urbana, pois implicam diversas rupturas com a forma tradicional de fazer a cidade”.

Por esta lógica, a produção imobiliária vem se alterando, no mundo todo, em dimensão,
uso e localização. Em termos de dimensão, Teresa Salgueiro[36] comenta a mudança de
escala dos empreendimentos, muitas vezes diferentes dos que, antigamente, seguiam a
lógica de produção em lotes. Atualmente, os projetos podem diferenciar-se deste
modelo, atingindo escalas maiores e inserindo-se em conjuntos, como os complexos de
múltiplo uso, por exemplo.
No que se refere ao uso, a cidade contemporânea vem encontrando novas alternativas
para a inserção dos edifícios em uma nova dinâmica de desenvolvimento imobiliário.
Salgueiro[37] cita que esses novos produtos imobiliários “representam a negação do
zoneamento rígido que caracterizava a cidade moderna, misturando atividades no
mesmo espaço, reunindo a habitação e o trabalho, o lazer e as compras, residentes e
forasteiros”.

Também em termos de localização mudou a dinâmica da implantação imobiliária. O


imóvel, agora, além de buscar uma posição privilegiada em termos de localização, que
lhe garanta boa visibilidade e acesso, precisa também estar perto de uma vizinhança que
lhe seja favorável em termos de sociabilidades e que esteja em um ambiente que seja
agradável desde o ponto de vista estético.

É nesse momento que começam a acontecer processos diferenciados de valorização do


capital junto ao mercado imobiliário, processos esses baseados na importância que se
passa a atribuir a elementos que, para a sociedade, funcionam como propulsores do
consumo. Para Salgueiro[38], “[...] o consumo impôs-se ao comércio desde o momento
em que os bens adquirem um valor secundário e simbólico que se sobrepõe ao seu valor
de uso [...]. A mudança das relações das pessoas com os objetos dá novo sentido às
práticas de compras, permite a valorização dos ambientes, das experiências de vida que
servem de contexto aos objetos ou que os objetos hipoteticamente propiciam”.

Neste movimento, a cidade e os produtos imobiliários nela instalados surgem como


objetos especiais, mercadorias desejadas, cujo sentido nem sempre é totalmente
apreendido.

Do novo significado do ambiente construído: interpretação de edifícios hoteleiros

Pierre Bourdieu[39] descreve que esta condição de “objetos especiais” é exatamente o


que define o caráter dos bens culturais, que muitas vezes são ininteligíveis e,
exatamente por isso, exercem verdadeiro fascínio sobre as pessoas. Este fascínio, ou a
“alquimia social” a que se referiu Bourdieu[40] é, na verdade, uma transliteração das
necessidades de consumo da sociedade.

Na cidade, essas necessidades são exploradas por meio da criação de marcos de


distinção que acabam por caracterizar, historicamente, a cultura urbana. Esses marcos,
inseridos no ambiente construído sob inúmeros formatos, entre os quais as construções,
são, em sua forma e em sua função, como que objetos simbólicos. Ao integrarem-se ao
ambiente construído, esses objetos simbólicos ganham novo significado.

No caso das construções, a arquitetura emblemática, a inserção marcante da edificação


nos espaços urbanos e a percepção do imóvel como um objeto simbólico dão novo
fôlego à atividade imobiliária, pois estendem o caráter técnico do bem (como produto
imobiliário) a uma dimensão simbólica (transformando-o em artefato arquitetônico).
Salgueiro[41] explica: “Um imóvel de prestígio (pela arquitetura arrojada, pela
qualidade dos acabamentos, pelo custo) situado em um local prestigiado contribui para a
visibilidade das empresas lá instaladas, que disso tiram mais-valias em termos
simbólicos de imagem e competitividade. Este capital simbólico é susceptível de
conversão em capital-dinheiro”.

Neste contexto, a atividade de construir encontra novo desafio. É preciso que os


profissionais envolvidos com a atividade imobiliária consigam produzir de uma maneira
diferente da comum e encontrar novas formas de fazer com que a circulação do capital
no ambiente construído seja rápida e dê bons resultados. Dito de outra forma, faz-se
necessário desenvolver produtos imobiliários que se tornem artefatos arquitetônicos, a
fim de serem economicamente reconhecidos e mercadologicamente valorizados.

Para isso, profissionaliza-se o setor imobiliário. E “a arquitetura, em particular a


arquitetura da cidade, torna-se referência obrigatória na interpretação da sociedade
contemporânea”[42]. Não basta construir objetos, é preciso que eles tenham sentido e
significado. E é preciso que esse significado se transubstancie em valor.

Martín[43] descreve que a produção de objetos culturais e o reconhecimento da cidade


como uma mercadoria dotada de valor simbólico são efetivamente uma expressão da
enorme capacidade de expansão e valorização do capitalismo contemporâneo. Para o
autor, “morfologia e estrutura urbanas refletem o impacto de um modo de produção cujo
principal objetivo é assegurar a circulação e acumulação de capitais em um marco de
estabilidade social que se constrói sobre relações de classe”.

De fato, “os novos produtos imobiliários distinguem-se pelas características que


apresentam, pelos processos que lhes dão origem e ainda pelo capital simbólico que
transportam”[44].

O capital busca bons negócios dos quais participar. Gentil Corazza[45] diz que “o
objetivo [...] da economia capitalista não é produzir valores de uso e nem mesmo
mercadorias, mas [...] a acumulação e valorização da riqueza/valor social e abstrata na
forma monetária, financeira e mesmo fictícia”.

Em outras palavras, os detentores de capital-dinheiro buscam alternativas de


investimento que lhes dêem bom retorno. No mercado imobiliário, hoje em dia não
importa que as mercadorias sejam reais (representadas pela propriedade física do bem
imóvel) ou não (caso do imóvel convertido em títulos mobiliários).

O mais importante é que a viabilidade da associação entre o mercado imobiliário e o


capital já se vem continuamente comprovando e que, em termos econômicos, essa
associação explica o processo contemporâneo de produção e reprodução de espaços.
Para Salgueiro[46], “Do ponto de vista da circulação do capital, os booms imobiliários
coincidem com a transformação do capital do circuito primário de acumulação (a esfera
produtiva) para o circuito secundário (produção do ambiente construído) ou terciário
(reprodução pelas atividades de investimento em ciência e tecnologia indispensáveis à
inovação no circuito produtivo) em épocas de excesso de liquidez e problemas de
acumulação registrada no setor produtivo. Esta posição ajuda também a compreender a
importância do investimento na dinâmica imobiliária. Nos anos (19)80, como resposta
às crises da década anterior, aumentou consideravelmente o volume de capitais em
busca de oportunidades de investimento”.

Neste movimento em busca de novas oportunidades de investimento, tem-se


continuamente buscado viabilizar, no mundo todo, a recomposição da forma urbana,
pelo aporte de valores na produção do ambiente construído.

Ocorre que, por trás dessa realidade, há uma pergunta inicial recorrente: qual a medida
da importância dos edifícios e qual a dimensão de sua influência sobre as realidades
urbanas, nos diferentes momentos e espaços de valorização do capital?

Dito de outra forma, os edifícios conseguem inserir-se nas sociedades contemporâneas


como mercadorias e ganhar um significado tal que lhes confira valor diferenciado, a
ponto de permitir que a atividade imobiliária colabore de maneira efetiva para a
valorização do capital em geral? Como e quando isso acontece?

A atividade imobiliária pode efetivamente orientar a maximização da dimensão utilitária


do espaço (em termos tanto quantitativos quanto qualitativos) e valorizar o espaço
urbano, garantindo a sobrevida e a contínua expansão do capital(ismo)?

A análise da produção imobiliária contemporânea mostra que sim. Ela, a atividade


imobiliária, a partir dos movimentos de reestruturação produtiva e espacial, é cada vez
mais uma atividade propulsora da valorização do capital.

Como isso acontece? David Harvey[47] explica que o “capital é um processo, e não
uma coisa. É um processo de reprodução da vida social por meio da produção de
mercadorias em que todas as pessoas do mundo capitalista avançado estão
profundamente implicadas. Suas regras internalizadas de operação são concebidas de
maneira a garantir que ele seja um modo dinâmico e revolucionário de organização
social que transforma incansável e incessantemente a sociedade em que está inserido. O
processo [...] alcança crescimento mediante destruição criativa, cria novos desejos e
necessidades, [...] transforma espaços e acelera o ritmo da vida. [...] Por intermédio
desses mecanismos, o capitalismo cria sua própria geografia histórica distintiva. Sua
trajetória de desenvolvimento não é previsível em nenhum sentido comum exatamente
porque sempre se baseou na especulação – em novos produtos, novas tecnologias,
novos espaços e localizações, novos processos de trabalho (trabalho familiar, sistemas
fabris, círculos de qualidade, participação do trabalhador), etc. Há muitas maneiras de
obter lucros. As racionalizações post hoc da atividade especulativa dependem de uma
resposta positiva à pergunta: ‘Foi lucrativo?’ Diferentes empreendedores, espaços
inteiros da economia mundial, geram diferentes soluções para essa questão, e as novas
respostas derrubam as antigas à medida que uma onda especulativa vai engolfando a
outra. Agem no capitalismo leis de processos capazes de gerar uma gama aparentemente
infinita de resultados a partir da mais diminuta variação das condições iniciais ou da
atividade e imaginação humanas. Da mesma maneira como as leis da dinâmica dos
fluidos são invariantes em todo rio do mundo, assim também as leis da circulação do
capital não variam de [...] um sistema de produção de mercadorias para outro, de país
para país [...]. No entanto, Nova Iorque e Londres são tão diferentes entre si quanto o
Hudson do Tâmisa”.

Não se trata, portanto, de um movimento particular. Ao contrário, é somente o


movimento geral da “incansável atividade transformativa da acumulação do
capital”[48]. Um ciclo ininterrupto de valorização, desvalorização e revalorização do
capital fixo, transformado em ambiente construído. Um continuum de movimentos de
desestruturação e reestruturação que garantem a sobrevida e expansão do sistema
capitalista.

Ao investigar se essa teoria se confirma, por meio da leitura de uma produção


imobiliária específica – a dos imóveis construídos para alojar a atividade hoteleira –, é
possível perceber que o edifício hoteleiro, artefato arquitetônico singular (tanto em sua
forma como em sua função) e produto imobiliário arrojado e tecnicamente flexível (com
claro potencial estruturante do espaço a seu redor), aparece como elemento cada vez
mais útil às estratégias de valorização do capital no ambiente construído. Trata-se de um
elemento cuja forma e função foram-se alterando com o tempo, de maneira a ajustar a
capacidade do edifício, como artefato arquitetônico e como produto imobiliário, de
colaborar para a contínua reestruturação e inovação do ambiente construído no qual está
inserido.

Por isso torna-se relevante buscar compreender, no decorrer do tempo e em todo o


mundo, o que mudou em relação às plantas internas dos hotéis e ao partido
arquitetônico dos edifícios, bem como na situação de implantação das edificações
hoteleiras no espaço urbano?

Segundo Nelson Andrade, Paulo Lúcio Brito e Wilson Jorge[49], embora o produto
hoteleiro, enquanto construção, contemple uma planta altamente previsível e uma
volumetria que na maioria dos casos se estrutura em uma “caixa”, alterou-se a tipologia
dos edifícios hoteleiros, que passaram a ser desenvolvidos sob orientação do mercado,
mas de maneiras diferenciadas.

O resultado disso, em termos do conjunto contemporâneo de edifícios hoteleiros em


operação, no mundo todo, é uma grande gama de produtos, desenvolvidos para atender
às necessidades de cada um dos segmentos de usuários. Assim, há atualmente um
variadíssimo rol de tipologias hoteleiras, traduzidas em edificações variadas e ajustadas
às exigências dos mais diferentes mercados, em diferentes momentos do tempo e em
todo lugar.

É importante ressaltar que esta grande diversidade envolve imprecisões quanto às


tipologias hoteleiras, o que é analisado por Mariana Aldrigui[50]. Penso que o excesso
de tipologias e classificações não é problema, mas apenas reflexo de especificidades
sociais, que se manifestam nas práticas espaciais. Mais do que as diferenças, lembremo-
nos de que “[...] há um problema básico de nomenclatura no que diz respeito a meios de
hospedagem, pois, genericamente, dá-se preferência ao uso do termo “hotel” para
designar os meios de hospedagem em geral. Entretanto, a palavra “hotel” refere-se a
apenas parte dos meios de hospedagem [...]. Há outras tipologias, como motéis, hotéis-
fazenda, etc. [...]. Por isso, julgamos importante referirmo-nos, tecnicamente, a meios de
hospedagem para designar os estabelecimentos encarregados de comercializar o direito
de hospedagem, por tempo determinado e valor predefinido e estabelecido no contrato.
Esse é o conceito básico da hospedagem comercial, cuja prática se materializa nos
edifícios dos meios de hospedagem”[51].

Para complementar o dito por Andrade, Brito e Jorge[52], penso que a partir da
definição do módulo base da unidade habitacional hoteleira (o que ocorreu na década de
1970, a partir da expansão das redes internacionais) e do reconhecimento do edifício-
hotel como uma construção importante na paisagem urbana, as principais mudanças na
forma e na função dos meios de hospedagem das cidades deram-se em sua dimensão
simbólica.

Após a Segunda Guerra, com os projetos de reconstrução das cidades e um novo


contexto de mobilidade e comunicação dado pela expansão do transporte aéreo e da
informática, a hotelaria (como outros setores das economias urbanas) efetivamente
internacionalizou-se, em função da própria expansão da indústria internacional das
viagens.

Na década de 1970, as redes hoteleiras espalharam-se mundialmente, notadamente


através da expansão pelo sistema de franquias, estabelecendo padrões operacionais e de
gestão, induzindo a profissionalização dos meios de hospedagem independentes e
definindo as rotinas e procedimentos de utilização dos espaços internos dos edifícios
hoteleiros.

Nesta época, a planta regular dos hotéis e a disposição do mobiliário na unidade


habitacional hoteleira (UH) seguia o padrão das mais importantes cadeias hoteleiras
internacionais. Até hoje, a UH é uma variação deste módulo, desenhado na primeira
metade do século XX pelos americanos, com poucas mudanças. O padrão traduzia-se
em interiores modulares e delimitados, pouco flexíveis e desenhados racionalmente,
para facilitar a operação. Com pequenas variações, a distribuição do mobiliário é
recorrente e previsível, como mostram a figura 1 e a figura 2, a seguir.
http://static.laterooms.com/hotelphotos/laterooms/7034/gallery/ibis-hotel-
manchester_021220091116412217.jpg http://www.ibishotel.com/photos/5471u00.jpg

Figura 1. UH do Ibis Charles Street Hotel, em Manchester (Inglaterra)


Figura 2. UH do Ibis São Paulo Interlagos, em São Paulo (Brasil)
Fontes: Accor Hotels (2011) e Ana Paula Spolon (2008)

Em termos volumétricos, as implantações chegavam a demonstrar pouca sensibilidade


em relação ao lugar, com volumes estáticos, cartesianos, muitas vezes de grande escala
e indiferentes ao contexto do entorno ou às práticas sociais ali engendradas. Eram
edifícios de formas regulares, traçado rígido e sem ornamentos, que se espalharam por
todo o mundo.

O Fontainebleau Hotel (figura 3) é um dos edifícios hoteleiros mais representativos da


arquitetura moderna, em todo o mundo. Construído por Morris Lapidus em 1954, ainda
está em operação. O antigo São Paulo Hilton Hotel (figura 4) inovou em termos de
implantação no terreno e em volumetria e forma da edificação, embora ainda guardasse
a rigidez do traçado moderno. Funcionou entre 01/10/1971 e 18/12/2004.
ck280209b
Figura 3. Fontainebleau Miami Beach Hotel, em Miami (Estados Unidos)
Figura 4. Hotel São Paulo Hilton, em São Paulo (Brasil)
Fonte: Wikipedia Commons, 2010

No decorrer da década de 1970 e início dos anos de 1980, os edifícios hoteleiros


começariam a despontar como artefatos arquitetônicos urbanos diferenciados, em meio
ao movimento a que se convencionou chamar de pós-modernidade. Na pós-
modernidade, a arquitetura é uma das expressões sociais responsáveis pela configuração
de uma nova forma de cidade, que vai sendo percebida “pelo que irradiam (as) obras
arquitetônicas e urbanas”[53].

A produção arquitetônica orientada a partir das premissas deste momento seria, para
Josep Maria Montaner[54], a expressão da busca, pelos arquitetos, de “soluções
alternativas para os critérios culturais vigentes, [...] soluções [...] mais atrevidas,
versáteis e adequadas a cada contexto social”.

Com isso, surge no cenário internacional outra forma de edificação e, por consequência,
outra forma de edificação hoteleira, que busca estabelecer uma “nova aliança entre o
desenho e a cultura material e simbólica”[55].

Trata-se, na verdade, de uma produção arquitetônica eclética que, da mesma forma que
a arquitetura modernista, pode ser percebida como bastante contraditória.

A renovação da forma pela heterogeneidade, a fim de contrapor-se com a


homogeneidade do passado, muitas vezes faz da arquitetura dita “pós-moderna”, ou
contemporânea, uma abstração formal, que se propõe a alcançar a condição de obra de
arte. Esta nova forma aplica-se tanto a edificações quanto ao mobiliário, bem como a
objetos cotidianos, com o fim de traduzir a beleza estética.

Susana Gastal[56] comenta que “a pós-modernidade [...] recoloca o belo como questão.
[...] no cotidiano, exige-se um design magnífico nos objetos de uso comum como
canetas, talheres, louças, livros, para não falar das roupas, de acessórios e de carros (e)
[...] as imagens abrem espaço para que a beleza e a forma avancem para além do
estético e se constituam em aura na sociedade de consumo”.

Montaner[57] explica que a produção com essas características está agora voltada para a
revalorização do contexto e do usuário, na direção de uma arquitetura vernacular,
reafirmando que “a sensibilidade em relação ao lugar por parte da arquitetura
contemporânea é um fenômeno recente”. Na prática, estamos falando de uma
arquitetura mais plástica, diferenciada, mais expressiva, que busca afirmar-se como
linguagem.

Esta forma arquitetônica faz parte do novo circuito de desenvolvimento hoteleiro


internacional, inaugurado no final do século XX e ainda em curso, que apresenta a
decoração de interiores diferenciada, o mobiliário inovador e a edificação hoteleira com
volumetria e fachada mais flexíveis e mais integradas às áreas urbanas.

Embora com novo mobiliário e efeitos decorativos interessantes, a planta interior


continua sendo relativamente hermética, dadas as exigências operacionais, como mostra
a figura 5.
hotel basico mexico

Figura 5. UH do Básico Hotel, em Quintana Roo (México)


Fonte: Trendland (2011)

Por fora, entretanto, começam a surgir intervenções estéticas que criam “narrativas
visuais, de acordo com um padrão que, por estar generalizado pela publicidade e pelo
cinema, tenderá a repetir-se em diferentes pontos do planeta”[58] (figura 6 e figura 7).
Divulgação

Figura 6. Hotel Marques de Riscal, de Frank Gehry, em Elciego (Espanha)


Figura 7. Hotel Unique, de Ruy Ohtake, em São Paulo (Brasil)
Fontes: Hotel Traveler (2012) e Sara Mattei (2011)

Neste contexto, Donald McNeill[59] assinala que a relação do hotel com a cidade, que
foi importante desde sempre, agora é muito mais. Na opinião do autor, cada vez mais os
hotéis têm aparecido como um elemento fundamental do espaço urbano, tanto como
marcos referenciais, quanto como componentes das estratégias de reestruturação urbana.

Hoje em dia, segundo ele, tem-se estabelecido uma maneira de inserção dos edifícios
hoteleiros nos espaços urbanos que está baseada no fato de o capital fixo das cidades ser
fundamental para o seu desenvolvimento econômico e para lhes garantir uma posição
diferenciada no cenário regional, nacional e mundial.

Dessa forma, os projetos hoteleiros, sejam eles baseados na padronização e na


funcionalidade da hotelaria internacional dos anos de 1970 ou na unicidade e na
diferenciação dos projetos contemporâneos, surgem como elementos que refletem
tendências de consumo, mercados, distinção e marcas. Fazem parte da complexa
geografia da vida citadina e reproduzem, à sua maneira, como que um microcosmo
urbano. Buscam adequação ao padrão global (em termos tanto econômicos quanto
culturais) e guardam, por outro lado, associação a padrões locais.

O projeto arquitetônico hoteleiro contemporâneo dá valor à estética, que vem reintegrar


o edifício à vida social de uma maneira mais contextualizada, tornando a edificação em
um objeto simbólico, para além de simplesmente um objeto técnico.

Ao olharmos para a estrutura material de hospedagem implantada nas áreas urbanas a


partir da última década do século XX, vemos que, de fato, como esclarece McNeill[60],
“a relação entre os hotéis e o seu entorno começa a ser redefinida”, o que, ao que tudo
indica, está sendo feito basicamente por meio do projeto, com uma importante
participação dos arquitetos neste processo. Muitas vezes, esta redefinição envolve
somente uma maneira de redesenhar a antiga caixa, para torná-la menos sem graça ou
dar-lhe mais movimento, como mostram os projetos do Axis Viana Hotel (figura 8) e 25
Hours Hotel (figura 9).
http://api.ning.com/files/iCc0oqKWvcgFI7KQ0e9whGGLVnthr9iFFpZ6Pn1GwZ3VK1
naF40cZB26ZovmCAACD98yMeFUzXNTPZsckGMpFFiMEn1Ma*QB/AxisVianaHo
tel1.jpg
http://3.bp.blogspot.com/_rp7bC7VtgTE/TPbWkviIyQI/AAAAAAAAArI/MNA
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Figura 8. Axis Viana Hotel, em Viana do Castelo (Portugal)


Figura 9. 25 Hours Hotel by Levi´s (PI), em Frankfurt (Alemanha)
Fontes: ArchDaily (2011) e Denimology (2011)

Na opinião do autor, os hotéis contemporâneos têm uma função urbana importantíssima,


não somente por conta de disporem de espaços intermediários em que a sociabilidade é
constantemente induzida e promovida (os lobbies, bares, restaurantes, áreas de eventos e
equipamentos de lazer), mas também por conta do papel que a edificação passou a
ocupar na própria economia urbana, quando vista como mercadoria.
Outra característica dos projetos hoteleiros atuais, em termos de estrutura física e de
inserção no tecido urbano, é a arquitetura grandiosa, assinada por profissionais famosos,
traduzida em megaprojetos, ou em projetos diferenciados em relação ao que
tradicionalmente se poderia esperar de uma planta tão funcionalmente hermética e
inflexível como a hoteleira (veja o caso do hotel Burj al Arab, na figura 10).

http://www.eikongraphia.com/images/Copyright%20Burj%20Al%20Arab%20(0)%20S.
jpg

Figura 10. Burj Al Arab, em Dubai (Emirados Árabes Unidos)


Fonte: Destination 360 (2011)

McNeill[61] aponta o design como o principal elemento desses novos projetos e cita
que esta nova “geração de hotéis design” é criada a partir de uma série de estratégias.
Para Klumbis[62], “a clientela típica dos hotéis contemporâneos interessa-se por arte e
design, por moda, pela mídia e por tecnologia, tanto quanto por qualidade e luxo”.

Em outras palavras, as tendências de design têm sido incorporadas aos projetos de


arquitetura hoteleira (bem como a outros produtos imobiliários específicos) de diversas
formas, seja na decoração de interiores, em mobiliário ou no desenho da própria
edificação.

Há ainda outro aspecto a ser analisado na configuração dos hotéis atuais – o fato de o
seu desenvolvimento estar cada vez mais atrelado à expansão das marcas (de rede ou
independentes) ao cenário do capitalismo contemporâneo.

Para McNeill[63], “os mercados globais são dominados por seis das maiores operadoras
– Marriott, Accor, Hilton, Intercontinental, Starwood e Carlson-Rezidor SAS, enquanto
que há uma série de hotéis vinculados a grupos de pequeno porte que operam em nível
global, tais como Radisson, Hyatt, Meridien, Kempinski”.

Da mesma maneira, o autor chama a atenção para a existência de pequenas sub-redes,


implantadas pelas próprias empresas hoteleiras ou por proprietários individuais, que
vêm trabalhando a diferenciação dos empreendimentos, conseguindo criar propriedades
cujo nível de distinção é reconhecido pelo mercado.

Entre essas pequenas “redes” estão a W Hotels, da Starwood (que conta com cerca de
30 empreendimentos em todo o mundo, um deles em Barcelona, figura 11) e a rede
brasileira Fasano, com uma unidade no Rio de Janeiro e uma em São Paulo (figura 12),
com os hotéis vinculados a uma cadeia de restaurantes.
http://www.thegrandselection.com/upload/accommodation.who3183ex.88752377.jpg
Figura 11. Vista aérea do Hotel W, em Barcelona (Espanha)
Fonte: The Grand Selection (2012)

http://totalspguide.com/wp-content/uploads/Web_Jardins_FasanoHotel1.jpg

Figura 12. UH do Hotel Fasano, em São Paulo (Brasil)


Fonte: Total São Paulo Travel Guide (2010)

A mesma lógica da marca e da distinção é seguida por hotéis vinculados a empresas


famosas de outro setor que não o hoteleiro, como os vinculados à moda, entre os quais
estão a Armani, a Bulgari e a Camper, todas com pequenas redes hoteleiras constituídas.

Mais uma característica a ser considerada na nova estrutura material de hospedagem das
cidades são os projetos hoteleiros que não estão exatamente instalados em um edifício,
este considerado como uma estrutura construtiva ou como capital fixo.

Nesses casos, o que se vê é uma relação de apropriação em que se constitui uma renda
cuja destinação é questionável, desde o ponto de vista da propriedade imobiliária, uma
vez que esta passa a basear-se em um modelo diferente de tudo o que já se viu.

Os vários exemplos existentes no mundo expõem a criatividade de arquitetos e


empreendedores e desafiam lógica de apropriação do espaço em áreas urbanas.

Alguns são o o Capsule Hotel (VLNR, Figura 13), Sleep Box (Arch Group, Figura 14),
o Everland Hotel (LB, Figura 15) e o TravelPod (Travelodge, Figura 16) - instalações
temporárias e móveis, que não se podem configurar exatamente como construções.

Além do fracionamento do espaço, esses “hotéis” operam o fracionamento do tempo,


uma vez que limitam a estadia a um dia, do qual não se pode usar as 24 horas, uma vez
que o espaço pode ser “visitado” por turistas, como no caso do Everland.

Por extensão, vendem-se períodos inferiores a 24 horas, como faz o Sleep Box, em geral
instalado em lugares de passagem, como aeroportos, nos quais os usuários precisam,
eventualmente, de somente algumas horas de descanso.
DSC03953 http://www.ppow.com.br/portal/wp-content/uploads/2010/07/a1.jpg
Figura 13. Capsule (PI), instalado em Haia (Holanda), em 2009
Figura 14. Sleepbox (PD), instalado em Paris (França), em 2010
Fontes: Nileguide (2010) e PPow (2011)

http://ursispaltenstein.ch/blog/images/uploads_img/everland_2.jpg
http://img.dailymail.co.uk/i/pix/2007/08_02/2TravelPodPA_468x351.jpg
Figura 15. Everland Hotel (PD) instalado em Paris (França), em 2008
Figura 16. (PD), instalação da Travelodge perto de Dublin (Irlanda), em 2010
Fontes: TrendHunter (2011) e LB (2010)

A mesma prática de parcelamento do tempo é seguida pelos hotéis cápsulas japoneses –


modelo que já foi adequado em outros lugares, como Estados Unidos, França e
Inglaterra - que, além de reduzirem o espaço ao mínimo necessário, formatam “diárias”
equivalentes ao tempo estritamente necessário para as atividades de dormir, tomar
banho e fazer o desjejum. Assim trabalha o Nainawasu/9 Hours Hotel (figura 17).
http://www.designboom.com/cms/images/andrea03/capsule01.jpg
http://www.designboom.com/cms/images/andrea03/capsule03.jpg
Figura 17. UHs e indicação de formato de uso por tempo parcelado, no Nainawasu/9
Hours Hotel (PI), em Kioto (Japão)
Fonte: Design Launches (2011)

O que fica claro na análise dos projetos hoteleiros contemporâneos é que existe
efetivamente uma rede material de meios de hospedagem cuja estrutura desafia a lógica
funcional, operacional e de gestão tradicionalmente encontrada em estabelecimentos
hoteleiros mais antigos. Trata-se de uma estrutura que renova o projeto arquitetônico e
inaugura novas formas de relacionamento do “edifício” com o urbano.

Algumas vezes, o projeto subverte esta lógica inclusive em termos de desafio aos
modelos conhecidos de produção, apropriação e reprodução de espaços urbanos e de
valorização do capital, como no exemplo do One Single Room Hotel (figura 18), que
“funcionou” por um ano na Alemanha (Berlim), instalado na estrutura de um outdoor.

O esquema mostra o desenvolvimento do projeto e de montagem do hotel. Um


usuário[64] conta que se surpreendeu ao verificar que havia um “banheiro de verdade”,
água quente e energia elétrica – além de uma TV no quarto. A diária foi comercializada
por 20 euros, com serviço de quarto incluído.
Berlin Pod Hotel schema

http://www.etienneboulanger.com/singleroomhotel/project01.jpg
Figura 18. Plano de desenvolvimento e estrutura do One Single Room Hotel (PI), em
Berlim (Alemanha), idealizado por Etienne Boulanger e instalado entre 2007 e 2008
Fonte: Association Etienne Boulanger (2011)

Esta rede de edifícios e “pseudo edifícios” dedicados à hospedagem expõe uma evidente
característica de instrumentalidade, uma vez que reafirma as edificações hoteleiras
como “agentes indutores de expansão urbana e de desenvolvimento imobiliário”[65], no
contexto de ressignificação dos espaços das cidades contemporâneas.

Da conclusão sobre o processo contemporâneo de ressignificação dos espaços urbanos

A análise de contextos contemporâneos de inserção de edifícios hoteleiros no tecido


urbano e de seu redesenho em termos arquitetônicos, tanto em espaços internos quanto
em fachada e volumetria, conduz à percepção de que a estrutura material de
hospedagem vem se mostrando um elemento relevante para a construção da nova
cultura urbana e, consequentemente, da constante reestruturação socioespacial. A
influência dos edifícios hoteleiros vai muito além do aspecto econômico, vendo-a como
objeto técnico inserido no ambiente construído. O edifício hoteleiro é parte do ambiente
e o modifica, atribuindo-lhe outros sentidos e significados e orientando novas interações
entre ele e a sociedade.

Embora a lógica da cidade contemporânea seja complexa e talvez ainda não seja
possível compreendê-la integralmente, é possível, entretanto, depreender algumas das
características que a diferenciam. Na contemporaneidade, uma das características
formais das cidades é que a arquitetura firma-se como um elemento extremamente
representativo dentro do tecido urbano, tanto em termos de sociabilidade quanto em
termos da inserção da cidade no cenário competitivo internacional. Além disso, destaca-
se a criatividade dos arquitetos.

Trata-se de uma nova lógica de urbanização, em nova fase na urbanização capitalista. A


estrutura material de hospedagem das áreas urbanas participa desse novo contexto,
ajudando a criar a nova morfologia das cidades. Insere-se neste processo por meio de
uma profunda alteração das características formais do edifício e da inovação das formas
pelas quais ele se insere no espaço urbano. É a dimensão espacial da reestruturação
imobiliária experimentada pelas cidades.

Se a hotelaria se insere no processo contemporâneo de ressignificação dos espaços


urbanos por meio de uma profunda reestruturação espacial de seus próprios
equipamentos (edifícios hoteleiros), insere-se também como produto imobiliário
diferenciado.

A compreensão da instrumentalidade dos edifícios como parte do movimento de


reestruturação imobiliária, ou seja, desde o ponto de vista produtivo, mostra como se dá
essa inserção. O edifício hoteleiro, recriado com nova forma e função, atua como
mercadoria e se insere nos circuitos contemporâneos de valorização do capital, um
investimento fixo que se mobiliza como uma mercadoria extremamente versátil.

A hotelaria inova em muitos aspectos. Adere de maneira extensiva ao mercado cultural,


permitindo que os edifícios (tanto no que diz respeito ao volume quanto a interiores)
sejam identificados e reconhecidos como mercadorias culturais. Com isso, colabora para
a reestruturação espacial das áreas urbanas e para a melhoria das qualidades do espaço.

Como produto imobiliário, adapta-se às condições do mercado, configurando-se em


vários e distintos modelos de negócios, de acordo com as necessidades e expectativas
dos agentes envolvidos em sua produção e reprodução. O edifício hoteleiro participa,
portanto, dos movimentos gerais de reestruturação econômica e produtiva. Mas também
participa de movimentos específicos e cria as condições específicas de seu próprio
movimento.

Mark Gallaguer e Asieh Mansour[66] destacam ainda o fato de a hotelaria permitir o


ajuste contínuo de sua principal fonte de receitas – as diárias, que por nenhum
mecanismo precisam seguir em um tempo determinado e fechado um valor previamente
acordado, bastando que o preço seja divulgado ao hóspede antes do consumo da
hospedagem.

Cada experiência é um novo negócio, fechado a um novo preço. O gestor tem


autonomia para alterá-lo como quiser, orientado, é claro, por parâmetros de mercado e
concorrenciais, mas também circunstanciais. De toda forma, em outros formatos de
locação, como o de aluguel regular de apartamentos para moradia ou de espaços para
escritórios, o preço é estabelecido e fixado para períodos específicos de médio e longo
prazos. Só a hotelaria tem essa flexibilidade de fixação de preços em curto prazo.

Disso tudo, erra quem pensa que a atividade hoteleira (em todo o mundo) é amadora, ou
que está reduzida aos seus aspectos operacionais e de gestão. Erra quem avalia que os
edifícios hoteleiros são “iguais”. Erra quem interpreta a hotelaria com olhos ingênuos.

Lembremo-nos da fala de David Botterill[67]: não é possível ignorar as dimensões do


poder econômico e cultural que estruturam a atividade hoteleira. Mais do que isso, é
preciso considerar atentamente as relações entre essas dimensões culturais e
econômicas.

A interpretação da hotelaria desde o ponto de vista de sua associação com o setor


imobiliário e o capitalismo contemporâneo mostra que a cultura e o capital não são
dissidentes. Ao contrário, Harvey[68] diz que “precisamente porque o capitalismo é
expansionista e imperialista, a vida cultural, num número cada vez maior de áreas, vai
ficando ao alcance do nexo do dinheiro e da lógica da circulação do capital”. E o
capitalismo, enquanto sistema, cresce graças a essas interações bem sucedidas.

Notas

[1] Lefebvre, 2004, 2006.


[2] Pereira, 2006.

[3] Burdett e Sudjic, 2008.

[4] Escobar e Viegas-Lee, 2008.

[5] Sant´Anna, 2008a, p. 48.

[6] Zanchetta, 2008.

[7] Lores, 2006.

[8] Nunomura, 2008b.

[9] Dantas e Marchi, 2008, p. 21.

[10] Dantas, 2008.

[11] Sant´Anna, 2008b, p. 30.

[12] Nunomura, 2008a, p. 42.

[13] Escobar e Viegas-Lee, 2008, p. 52.

[14] Hirsh, 1997, p. 11.

[15] Mumford, Lewis. A cidade na história. São Paulo: Martins Fontes, 1998(1961), p.
577-578, citado por Gastal, 2006, p. 173.

[16] Lefebvre, 2004, 2006.

[17] Angulo e Domínguez , 1991, p. 124.

[18] Lefebvre, 2008, p. 123-124.

[19] Lefebvre, 2008.

[20] Ramos, 2006, p. 143.

[21] Martín, 1999, p. 56.

[22] Salgueiro, 1994.

[23] Fix, 2007, p. 15.


[24] Chesnais, 2005.

[25] Salgueiro, 1994.

[26] Lefebvre, 1974, 1999, 2001, 2004, 2006, 2008.

[27] Edward Soja, 1993, p. 115.

[28] Chesnais, 2005.

[29] Tone, 2010.

[30] Fix, 2007.

[31] Fix, 2007, p. 14.

[32] Fix, 2007, p. 15.

[33] Fix, 2007.

[34] Cada vez mais especializada, a área imobiliária associa-se a setores particulares,
modelo que tem gerado resultados subsetoriais interessantes, como mostram, por
exemplo, os movimentos de construção de edifícios hoteleiros, ou de shopping centers.
No caso dos edifícios hoteleiros, em meados da década de 1990 testemunhei inúmeras
situações em que redes administradoras hoteleiras no Brasil ficaram à mercê de
arquitetos estrangeiros, dada a falta de familiaridade dos profissionais brasileiros com
particularidades da hotelaria que influenciavam direta e profundamente o projeto de
edifícios hoteleiros. Com o tempo, no mundo todo, passaram a existir arquitetos
especializados em projetar hotéis e foi mudando a configuração interna dos espaços das
edificações destinadas a este fim e tornando o edifício hoteleiro, cada vez mais, um
produto arquitetônico adequado à função a que se destina e, ao mesmo tempo, um ícone
na paisagem das cidades.

[35] Salgueiro, 1994, p. 87.

[36] Salgueiro, 1994.

[37] Salgueiro, 1994, p. 87.

[38] Salgueiro, 2003, p. 103.

[39] Bourdieu, 2005.


[40] Bourdieu, 2005, 2007.

[41] Salgueiro, 1994, p. 89.

[42] Arantes, 1998, p. 147.

[43] Martín, 1999, p. 56.

[44] Salgueiro, 1994, p. 89.

[45] Corazza, 2001, p. 45.

[46] Salgueiro, 1994, p. 91.

[47] Harvey, 2007, p. 307.

[48] Harvey, 2007, p. 308.

[49] Andrade, Brito e Jorge, 2007, p. 44.

[50] Aldrigui, 2007.

`51] Spolon, 2011, p. 09.

[52] Andrade, Brito e Jorge, 2007.

[53] Pereira, 2006, p. 225.

[54] Montaner, 1993, p. 127.

[55] Montaner, 1993, p. 138.

[56] Gastal, 2006, p. 187-188.

[57] Montaner, 1997, p. 27.

[58] Gastal, 2006, p. 189.

[59] Mcneill, 2008.

[60] Mcneill, 2008, p. 384.

[61] Mcneill, 2008, p. 387.


[62] Klumbis, 2009, p. 04.

[63] Mcneill, 2008, p. 388.

[64] O relato pode ser lido na íntegra em


http://www.happyhotelier.com/2008/05/30/street-art-4-the-berlin-billboard-single-
room-pod-hotel-visited. Há também um vídeo (em inglês) do projeto no You Tube,
disponível em http://www.youtube.com/ watch?v=A4_3cuv
T8igefeature=player_embedded#at=12).

[65] Jacob, 2006, p. 03.

[66] Gallaguer e Mansour, 2000, p. 137.

[67] Boterill, 2007.

[68+ Harvey, 2007, p. 308.

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