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A REVITALIZAÇÃO DA RUA SÃO FRANCISCO: uma reflexão sobre a

memória do tempo presente na (re)invenção da cidade.

RESUMO

Em dezembro de 2012 foi concluída a revitalização da Rua São Francisco. A


restauração faz parte de um projeto maior, que abrange a revitalização do centro
histórico de Curitiba. À primeira vista, o projeto se resume à reforma das calçadas e da
iluminação, além da pintura das fachadas dos edifícios comerciais. No entanto, os
discursos a seu respeito trazem pretensões muito mais complexas. O marketing
fundamenta-se, principalmente, no resgate da memória da cidade, na valorização de
seus centros históricos e no embelezamento do espaço. Nesse sentido, a revitalização
pressupõe três imperativos: a higienização, o embelezamento e a funcionalidade. Trata-
se de uma reforma estética – fachada nova e higienização do espaço. O discurso oficial
gira em torno da ideia de um projeto que valoriza o passado da cidade e preserva sua
memória. Entretanto, percebe-se que a revitalização tem relação direta com projetos
turísticos que lidam com a nova divina trindade do mercado de cidades: cultura,
entretenimento e gastronomia. Esses espaços históricos são apropriados para a
construção de uma imagem de cidade que atraia investidores e turistas. A cidade torna-
se mercadoria. Os espaços urbanos tornam-se, além de frequentados, consumíveis. A
fabricação dessa imagem-identidade preenche o local da memória e da história, na
forma de um pastiche. A historicidade é esvaziada e substituída por uma nova história,
aplicada para a produção de um novo espaço de interesse. Partindo-se dessas reflexões,
faz-se necessário problematizar a noção de imagem-síntese (Fernanda Sanchez), a partir
de uma reflexão entre memória e os sentidos com os quais as revitalizações trabalham o
espaço urbano.

Palavras-chave: cidade; revitalização; Rua São Francisco; memória fabricada.


1. O IMAGINÁRIO DA REVITALIZAÇÃO: O QUE SE VÊ

“É o meu sonho ter esse centro revitalizado. Tem muitas obras


antigas que merecem ser visitadas, muitos prédios, muitas
confeitarias também, principalmente a Blumenau”.
Seu Valmor1

Revitalização, em sua atribuição mais corrente, diz-nos o dicionário Aurélio,


significa o “conjunto de medidas que visam criar novo grau de eficiência (para um)
conjunto urbanístico, de uma região”. Partimos, assim, da aceitação de que tal
significado atribuído ao conceito está dissolvido e absorvido, em parte, pelos indivíduos
que se defrontam com a questão.
A revitalização, enquanto processo urbanístico e como conteúdo de discursos
institucionais, pode ser entendida como responsável por um movimento de olhos para
determinados pontos da cidade, que, em algum momento, deixaram de ser atrativos,
acabando por se afastarem da rota que até então os inseria num eixo urbano de
“interesse”. Trabalha-se aqui com concepções temporais que refletem a dinâmica de
uma cidade e seus múltiplos revezamentos de significação e configuração do espaço. Há
também que se apontar dois elementos a serem discutidos na conceitualização
apresentada: o “novo” e o “eficiente”.
Dentro do imaginário que circunda o tema, podemos aventar hipóteses que nos
trazem concepções positivas de revitalização: as perspectivas do “novo” e da
“reinvenção” podem ser entendidas como necessidades humanas que se estendem por
todos os espaços e atividades; cada local com um ciclo de produção da vida alterna
fases de desenvolvimento, estagnação, renascimento e luta contra a degradação.

É corriqueiro na histórica das aldeias, vilas e cidades brasileiras (desde os primórdios da


colônia), abandonar ou deixar atrás de si núcleos urbanos criados, para fundar outros, paralelos,
transferindo as funções do antigo para o novo. Deste modo, a cidade “abandonada” pode viver
um período de estagnação e até mesmo cair no “esquecimento2

1
Seu Valmor é comerciante e proprietário da Confeitaria Blumenau, localizada na Rua São Francisco. O
intuito do grupo PET-Direito, ao entrevistar comerciantes da rua, foi captar qual a percepção que estes
têm acerca dos processos de revitalização que ocorrem no centro da cidade de Curitiba. A entrevista foi
realizada no dia 26/04/2013
2
FREITAG, Bárbara. A revitalização dos centros históricos das cidades brasileiras. In: Caderno CRH,
Salvador, n. 38, p. 115-126, jan./jun. 2003.
O próprio processo de revitalização urbana carrega em si estudos, pesquisa,
resgate ou ampliação da qualidade de vida de certas regiões, modificando e interferindo
na própria infraestrutura do local. Além disso, é preciso admitir que tal processo foi
responsável, em muitos centros históricos, a exemplo do Pelourinho3 baiano, por
impedir que bairros inteiros, ainda que tornados mercadorias para o turismo, deixassem
de existir - em nome de uma renovação que poria muita coisa abaixo e substituiria a
paisagem por uma coleção de enormes prédios, conformando o espaço e ditando por
quais frinchas poderia a luz passar.
Ademais, se há algo, sem sombra de dúvidas, benéfico proporcionado pela
noção de revitalização é a ressignificação da função do antigo e do novo, função do
diálogo com o passado4 presente e futuro, que ganha consciência de si. Promove, ainda,
a percepção da transformação, dos pontos negativos do que se prolonga e do que se vai,
prospectos e reflexão sobre a interação com o espaço.
Representa, assim, para muitos, tanto uma esperança saudosista5 quanto uma
esperança voltada para o futuro. Primeiro porque há uma insatisfação com o momento
do agora; insatisfação que se repete diante das mudanças contingentes e também das
artificiais. Segundo porque demonstra que há uma importância sendo dedicada a alguma
coisa. Esperança no futuro essa a de seu Valmor, agarrada à possibilidade de que algo
venha a ser o que um dia já foi, mesmo não sendo.
Afora isso, há que se mencionar os aspetos objetivos: melhorias na iluminação,
nas calçadas, na segurança, o embelezamento, a restauração e, em certa medida, uma
preservação física do patrimônio histórico - casarões, prédios antigos, estruturas
arquitetônicas que, não fosse esse olhar enquanto intervenção, estariam, como tantas
outras construções, a figurar entre o pó.

2. DO FOGO AO TERÇO: UMA GEOGRAFIA DA MEMÓRIA

Falar em cidade e município é resgatar parte de nossa estrutura colonial. Já em


Sérgio Buarque de Holanda percebe-se a centralidade do município para a colonização,

3
FREITAG, Bárbara. Obra citada, p. 9.
4
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. 10 ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1996, p.
224.
5
“O impulso nostálgico é um importante agente do ajuste à crise, é o seu emoliente social, reforçando a
identidade (...) quando a confiança se enfraquece ou é ameaçada”. In: ROSSI, A. Architecture and the
city. Cambridge, Massachesetts apud HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as
origens da mudança cultural. 15. ed. São Paulo: Loyola, 2006. p. 85
embora o mesmo destaque a fragilidade de sua organização, fato hoje contestado pela
recente historiografia que demonstra toda a complexa rede de vilas e cidades e, mais
que isso, uma intensa atividade urbanizadora (planejada).
Todas as organizações e instituições tinham sede na cidade que, apesar do
patriarcalismo da sociedade corporativa, encontrava, fundamentalmente no judiciário
um setor mais profissional e mais próximo de uma hierarquia burocrática moderna em
um mundo em que o favoritismo, nepotismo e venda de cargos era comum. Assim,

A cidade ibérica, com seus direitos e privilégios tradicionais, suas funções político-simbólicas e
seu amplo domínio sobre os recursos sociais e econômicos dos habitantes da região, era um
teatro de ações de toda a sociedade, e não apenas metade de uma dicotomia urbano-rural como
pode ter acontecido com mais freqüência no norte da Europa 6

Ou, como destaca Edmundo Zenha ao tratar do primeiro município a ser criado
no Brasil, a Vila de São Vicente em 1532,

[...] o município surgiu unicamente por disposição do Estado que, nos primeiros casos, no bojo
das naus, mandava tudo para o deserto americano: a população da vila, os animais domésticos, as
mudas de espécies cultiváveis e a organização municipal encadernada no livro I das Ordenações 7

Se no Oriente, as cidades portuguesas seriam construídas congregando a


fortaleza de defesa militar e a necessidade mercantil (localização geográfica), na
América portuguesa teriam, em sua maioria, outra configuração. Seriam importantes
centros politico-jurídicos, articuladas aos mecanismos em formação do sistema colonial,
mesmo após perderem parte de seu poder.
Mas sua marca no período foi a irregularidade, a falta de linearidade, ou, nas
palavras de Murilo Marx:

Foi assim desde a sua origem, combatendo e derrotando as tentativas para ordená-la de outra
forma, algumas significativas. (…) Os vícios e as virtudes dessa cidade apontam a paternidade
ibérica e, particularmente, a portuguesa. O típico aglomerado medieval lusitano foi transplantado
para a banda oriental americana da linha de Tordesilhas.8

6
SCHWARTZ, Stuart B. & LOCHART, James. A América Latina na época colonial, p. 22.
7
ZENHA, Edmundo. O município no Brasil, 1532-1700. p. 23.
8
MARX, Murilo. Cidade brasileira. São Paulo: Edusp, 1980. p. 23-24.
A marca da cidade para o autor é a irregularidade. Ao longo do serpenteado das
construções se destacavam os edifícios públicos: Igrejas e prédio da Câmara e da
Cadeia, com importantes papéis na construção de uma cultura político-jurídica e mesmo
de uma vida urbana. No caso especificamente curitibano, o núcleo central era somente
religioso, pois faltava à vila um edifício para a Câmara.
Nessa cidade irregular a questão da divisão das terras era central e reforça a
existência de variadas soluções para a questão fundiária, destacada por Raquel Glezer:

[...] o compulsar da documentação histórica do Período colonial explicitou claramente a


existência de diversidades. A própria forma de obtenção de terra para a propriedade rural, a
„sesmaria‟ e para a propriedade urbana, a „data de terra‟, ou „chão de terra‟, apresentava
diferenças.9

Curitiba surge nesse contexto colonial, fundada por bandeirantes paulistas


vindos à região atraídos pela notícia de ouro. As primeiras sesmarias datam da primeira
metade do século XVII, mas o vilarejo ao redor da praça Tiradentes só apareceria na
segunda metade, sob o comando do Capitão Mor Gabriel de Lara que em 1668 levantou
pelourinho em nome do conde de Cascais (a região ainda não pertencia oficialmente à
coroa portuguesa, estando ligada ao espólio de um herdeiro de capitão donatário).10
Os primeiros anos da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais de Curitiba
foram difíceis. Ela estava no sertão de Curitiba (primeiro planalto), logo, fora do
modelo marítimo colonial de Portugal, seguindo Charles Boxer.11 Para agravar, um
isolamento que era frequente preocupação da elite camarária.12 que controlava
politicamente a vila, bem como das autoridades às quais foi submetida a partir de 1715,
quando foi comprada pela Coroa e vinculada à Capitania de São Paulo.
Havia um projeto de cidade barroca, construída em dois níveis, um baixo, ao
mar, com o porto e a Fortaleza e um alto, da cidade, com destaque para a Igreja Matriz e
para o edifício da Câmara e Cadeia (que representava a autoridade local e régia). Em
Curitiba, temos apenas um pequeno aglomerado de casas ao redor de uma precária

9
GLEZER, Raquel. Chão de terra; e outros ensaios sobre São Paulo. p. 58.
10
Ver: NEGRÃO, Francisco. Boletim do Arquivo da Câmara de Curitiba. Curitiba: Imprensa Paranaense,
1927.
11
BOXER, Charles. Império marítimo colonial português. Lisboa: Edições 70, 1983.
12
Sobre o conceito ver: HESPANHA, António Manuel. Caleidoscópio do Antigo Regime. São Paulo:
Almedina, 2013.
Matriz que seria demolida ainda no século XVIII. O edifício da Câmara e da Cadeia é
do mesmo século.
Nesse período a então Rua do Fogo era uma das vias de acesso à pequena vila,
limitada geograficamente por banhados, em particular os dois que delimitavam o centro
da nova povoação (hoje Praça Santos Andrade e Praça Osório). O modelo de cidade
colonial, precário e numa região extremamente pobre, só foi alterado no século XIX e
em sua segunda metade.
Após o enriquecimento proporcionado pela erva mate, a cidade cresceu e se
modernizou, em um modelo conservador que mudou o eixo urbano do religioso
(composto pela Matriz e pelas Igrejas do Rosário e de São Francisco – estas duas no
alto da Rua São Francisco) para o mercantil (que englobava a Rua XV, Marechal, Praça
Tiradentes e Riachuelo).13
A modernização conservadora da virada do século XIX para o XX remodelou o
centro e pôs abaixo as edificações coloniais, substituídas pelos casarões ecléticos da
burguesia ervateira e dos comerciantes. A Rua São Francisco ganhou um intenso
comércio, que, apesar de sua centralidade, curiosamente ficou à margem das renovações
que aconteceram no século XX - seja a realizada por Cândido de Abreu, prefeito ainda
nos anos 20 do século passado, o plano Agache (1942) ou mesmo as alterações neo-
paranistas de Rafael Greca, a partir da década de 1970.
Por conta dessa negligência, a rua se transformou em um local de moradias
populares, no início da segunda metade do século XX, tornando-se famosa, sobretudo,
pela aglomeração de prostitutas e pela balbúrdia que se estendia para as ruas adjacentes:
Rua do Fogo - assim ficou conhecida a Rua São Francisco durante quase três décadas.
Justificada em seu apelido, em 1853 a pequena rua curiosamente figurava entre as
principais vias curitibanas. Apartada dos projetos urbanísticos e sem receber qualquer
atenção da municipalidade, no início do século XX a rua carecia de calçamento, o que
impossibilitava o tráfego nos dias de chuva devido à lamaceira e aos buracos que se
formavam. Nesta mesma época, contudo, outras áreas eram alvos de constantes
melhorias, como a rua XV de Novembro, que foi pavimentada e recebeu iluminação
elétrica, e a Praça Tiradentes, que ganhou calçamento.
Foram várias as denominações da rua. Deixou de ser do Fogo, tendo sido
também Rua do Hospício e Rua do Terço. Em 1868 recebeu o nome de Rua Riachuelo,

13
Ver: PEREIRA, Luís Fernando Lopes. O espetáculo dos maquinismos modernos. São Paulo: Blucher,
2009.
e em 1871, por deliberação da Câmara, tornou-se Rua São Francisco. Em 1918, em
virtude da lei 505, recebeu o nome de Claudino dos Santos, uma homenagem ao
prefeito de Curitiba de 1916. A reportagem “A Rua do Fogo”, publicada no jornal
Gazeta do Povo em 19 de março de 189814, associa as mudanças de nome à tentativa de
“moralizar” o local, que com suas brigas e discussões poluía a área respeitável lotada
de moradias dos arredores.

Com a pressão da câmara e a influência dos políticos, passou aquela rua, oficialmente, a chamar-
se Rua de São Francisco, em homenagem ao das Chagas, visto que a Ordem Terceira instalada
no Largo propunha certo respeito. Ficou portanto a rua pertencendo ao Santo que procedeu a
uma reforma geral no sentido da moralidade, o que era exigido pelos ínclitos cidadãos de
Curitiba. Não conseguiu saneá-la de todo, a despeito does esforços dirigidos. Mas manteve-se ali
politicamente circunspecto, antevendo êxito administrativo em face da aproximação do
progresso.15

Entre as casas comerciais que se estabeleceram na São Francisco, é possível


citar: padarias, sapatarias, alfaiatarias, relojoarias, floriculturas, barbearias, açougues,
funerárias, charutarias, armazéns de gêneros, funilarias, casas de tecidos, entre outros,
além da Casa de Saúde. Esta, criada na década de 1920, foi o primeiro estabelecimento
particular de saúde da capital, a Casa de Saúde São Francisco, de propriedade do
médico Jorge Meyer. Para além dos atendimentos ambulatoriais, o hospital também
prestava cirurgias com técnicas avançadas. As atividades da Casa de Saúde, com o
passar do tempo, foram inviabilizadas pelo processo de degradação do endereço,
prejudicado pela instalação de bares e hotéis na vizinhança.
O tráfego de carroças preocupava os administradores de Curitiba, sobretudo
porque colidia com as vestes modernas que se pretendia atribuir à cidade. No final do
século XIX, aliás, foi instituída pena de multa para os que usassem o referido veículo
nas proximidades da Praça da Matriz, tendo o problema, porém, persistido até o século
seguinte. Na São Francisco, o detestado meio de transporte se fez presente durante
muito tempo (há jornais de 1945 denunciando o tráfego de carroças na rua)16, utilizado
principalmente por imigrantes que vinham ao centro trazer seus víveres, em sua maioria
italianos e poloneses. As vendas eram feitas durante a manhã, e no horário de almoço os

14
Informações obtidas em materiais coletados na pasta temática da Casa da Memória de Curitiba.
15
HOERNER JR, 1989 (completar referência).
16
Materiais obtidos na pasta temática da Casa da Memória de Curitiba.
imigrantes voltavam às suas colônias, não sem antes se abastecerem de secos e
molhados, ferragens e outros utensílios.
Até pouco tempo atrás, quem parasse próximo ao número 171 podia encontrar
uma antiga argola, presa ao meio fio, como uma sobrevivente “da época em que se
amarravam cavalos na calçada”, contam antigos moradores. Com o início do processo
de revitalização da rua, muita atenção foi dada a argolinha e à expectativa quanto ao seu
destino: removida durante as obras, ao que tudo indica, encontra-se guardada em um
cofre do Ipuc.

3. A REVITALIZAÇÃO DA RUA SÃO FRANCISCO: A MEMÓRIA


FABRICADA

Foi entregue à população curitibana, em dezembro de 2012, a revitalizada Rua


São Francisco. A restauração faz parte de um projeto de maior abrangência, que visa à
revitalização do centro histórico da cidade. Intitulado de “Novo Centro”, o projeto é
fruto de uma parceria entre a Prefeitura da cidade, o Serviço Social do Comércio (Sesc),
a Federação do Comércio (Fecomércio), o Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial (Senac) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae). O “Novo Centro”, conforme informações públicas dispostas no site do
SEBRAE, foi idealizado a partir de um diagnóstico:

Um estudo realizado pelo SEBRAE/PR destacou quais eram as necessidades e oportunidades da


região, o que resultou no Diagnóstico do Ambiente Econômico e Empresarial do Entorno do
Paço da Liberdade, fruto da percepção de empresários, consumidores e turistas. A partir desse
estudo, um plano de atratividade foi proposto, definindo quatro eixos atrativos a serem
desenvolvidos em parceria entre as três instituições do Projeto. São eles:

- eixo histórico/arquitetônico/turístico;
- eixo gastronômico;
- eixo de serviços/especializados; e
- eixo conceitual17

Assim, resta evidente que as motivações da requalificação do espaço tiveram


como critério fundamental a atratividade da região e a ativação das potencialidades
tornadas ociosas devido à depredação do espaço público.

17
SEBRAE. Paço Municipal em Curitiba. Disponível em:
<http://app.pr.sebrae.com.br/portalsetor/Conteudo.do?conteudo=1202&nivel=550&portal=20om>
Por outro lado, no sentido propriamente objetivo, podemos resumir a
revitalização da rua a uma reforma das calçadas e da iluminação, em parte restauradas
para manutenção de aspectos originais e do incentivo à pintura das fachadas dos
edifícios comerciais. Somou-se a isso, a proibição de carros estacionados em trechos da
rua. É o que ressaltam testemunhos:

A reforma da São Francisco começou em maio deste ano e contempla iluminação pública com
postes e arandelas fixadas nas fachadas, preservando as características da região. Parte da
calçada histórica, feita de grandes blocos de basalto negro, será preservada, assim como
aconteceu na Riachuelo, via pública vizinha à São Francisco, que também passou por
revitalização. 18

Da mesma forma que já foi revitalizada a Rua Riachuelo, agora a São Francisco receberá
alargamento das calçadas de 2 metros para 3,5 metros, privilegiando o comércio local. Também
no centro, a Rua Carlos de Carvalho terá um visual mais limpo, com parte dos cabos transferidos
para o subsolo e uma redução naqueles que continuarão aéreos. Calçadas mais largas estão
previstas no local para permitir que comerciantes do ramo de gastronomia coloquem sobre elas
mesas e cadeiras.19

Nos últimos anos, foram realizados trabalhos semelhantes na Rua Riachuelo e na Rua São
Francisco, onde, além da pintura das fachadas e do atendimento aos empresários, o Ippuc
promoveu a melhoria das calçadas, meio fio, iluminação, tubulação para dados de telefonia, TV
e conectividade, instalação de câmeras de segurança e orientações aos comerciantes para a
despoluição visual do lugar.20

Ainda que pesem as observações acerca das motivações e das medidas que
incidem sobre os bons imóveis históricos, como qualquer obra que se torna objeto de
publicidade, os discursos a seu respeito trazem pretensões muito mais complexas. As
revitalizações em geral, e a revitalização da Rua São Francisco especificamente, trazem
em seus anúncios, como justificativa cultural, o resgate da memória da cidade, a
valorização de seus centros históricos e o “embelezamento” do espaço.
18
REVISTA PEQUENAS EMPRASAS & GRANDES NEGÓCIOS, Curitiba, 20 dez.2012.
Revitalização de rua em Curitiba incentiva comércio local. Disponível em:
http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI327216-17180,00.html.
19
PARANÁ ONLINE, Curitiba, 21 jun. 2012. Ruas comerciais de Curitiba ganharão Revitalização.
Disponível em: http://www.parana-
online.com.br/editoria/cidades/news/616693/?noticia=RUAS+COMERCIAIS+DE+CURITIBA+GANH
ARAO+REVITALIZACAO.
20
PREFEITURA DE CURITIBA, 20 dez. 2012. Luciano Ducci resgata a memória de Curitiba com a
renovação da São Francisco. Disponível em: http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/luciano-ducci-
resgata-a-memoria-de-curitiba-com-a-renovacao-da-sao-francisco/28206.
Segundo o então Prefeito de Curitiba, em matéria intitulada Luciano Ducci
resgata a memória de Curitiba com a renovação da São Francisco, da comunicação da
Prefeitura:

As obras na rua São Francisco são a continuidade do programa Novo Centro, que desde 2005
vem transformando a região central/histórica da cidade com o restauro de antigos prédios como o
Paço Municipal, Catedral Basílica de Curitiba, Praça Tiradentes e a vizinha da São Francisco, a
rua Riachuelo. Nesse período a Prefeitura também melhorou a iluminação das ruas, instalou
câmeras de monitoramento entre outras medidas.21

O arquiteto do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba


(Ippuc), Mauro Magnabosco, responsável pelo projeto, nos traz, em outra notícia, mais
alguns aspectos importantes:

Estamos buscando uma forma de criar mais atrativos para o Centro‟, comenta o arquiteto. De
acordo com ele, as calçadas foram melhoradas e os paralelepípedos foram preservados. Além
disso, uma nova pintura foi feita e a iluminação foi reforçada. Dois trechos da rua contarão com
tapumes conceituais, que resgatam a história do local e têm o propósito de oferecer mais
segurança, já que um deles isolará um terreno baldio. 22

Por fim, os parceiros anunciam sua perspectiva:

A mobilização empresarial é fundamental para a revitalização de espaços comerciais. Os


empresários precisam estar comprometidos. Não basta reformar a fachada, melhorar a gestão,
tornar a vitrine atrativa se não houver um desejo mútuo dos empresários em torno do
desenvolvimento da região”, diz Walderes Bello, consultora do Sebrae no Paraná. Para ele, as
mudanças já podem ser percebidas no centro de Curitiba. A região está mais iluminada, passa
uma sensação de maior segurança e conta com atrativos turísticos como o Paço da Liberdade,
que atrai milhares de turistas. “Revitalizar espaços comerciais é uma tendência irreversível. Os
centros antigos, muitos deles marcados pela concentração de drogas e de prostituição, precisam
passar por uma reformulação urgente. 23

21
PREFEITURA DE CURITIBA, 20 dez. 2012. Luciano Ducci resgata a memória de Curitiba com a
renovação da São Francisco. Disponível em: http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/luciano-ducci-
resgata-a-memoria-de-curitiba-com-a-renovacao-da-sao-francisco/28206.
22
GAZETA DO POVO, Curitiba, 20 dez. 2012. Rua São Francisco ganha nova cara após 4 meses.
Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1329453&tit=Rua-
Sao-Francisco-ganha-nova-cara-apos-4-meses.
23
REVISTA PEQUENAS EMPRASAS & GRANDES NEGÓCIOS, Curitiba, 20 dez.2012.
Revitalização de rua em Curitiba incentiva comércio local. Disponível em:
http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI327216-17180,00.html
Trata-se de uma reforma estética - fachada nova e higienização do espaço.
Oficialmente, no entanto, se trabalha com a ideia de um projeto que valoriza o passado
da cidade e preserva sua memória, sendo, ao mesmo tempo, capaz de fortalecer a
segurança pública e o desenvolvimento local. O elemento fundamental que faz com que
as medidas objetivas tornem parcialmente eficaz a pretensão do projeto é o marketing.
A recuperação destes centros para a ampliação de espaços públicos qualificados
é correlata a projetos turísticos que trabalham com a nova divina trindade do mercado
de cidades: a cultura, entretenimento e gastronomia. As características históricas de
antigos centros são assim apropriadas (parcialmente) para a construção de uma imagem
da cidade que contribua para a alavancagem econômica, como estratégia de marketing
para atrair investidores e turistas. Por um lado, a reforma faz da região um local não
apenas frequentável, mas consumível. Por outro, a revitalização tomada em seu sentido
de obra do poder público serve bem às check lists de fim de mandatos.
A questão, entretanto, que mais nos importa é que, para além da consecução de
interesses econômicos, o projeto é extremamente eficiente quanto à sua percepção
social. Os espaços revitalizados (higienizados ou elitizados) operam de fato uma
ressignificação do espaço por meio de um upgrade cultural, que encontra ressonância na
opinião pública local, a qual sente sua identidade pátrio-citadina reafirmada.
Trata-se de uma eficácia parcial, ou seja, não há verdadeiramente uma
recuperação das memórias ou a valorização da história local, mas sim a fabricação de
uma imagem que preenche o local da memória e da história na forma de um pastiche.24
O problema reside nesta operação de substituição, pois ela empobrece a realidade e
consolida falsos consensos sobre os aspectos urbanos e históricos a serem valorizados
dentro de um quadro de disputa pela memória social.
A política de revitalização da Rua São Francisco pode ser anunciada, sobre certo
aspecto, como uma política de preservação do patrimônio coletivo. A ideia de
patrimônio, como obra, prática, ou meio-ambiente destacado a partir de sua importância
para conformação da identidade de um grupo social; traz em si a indissociabilidade
entre a cultura e sua construção social. Este pressuposto exige que a identificação dos
bens ou práticas que compõem o patrimônio histórico e cultural atente para a construção
da memória social da comunidade, na qual o patrimônio se encontra e pela qual, muitas
vezes, é preservado.

24
“uma colagem fragmentária (...) da realidade, estilhaços de experiência enriquecidos por referências
históricas”. In: HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. p. 83
No caso da São Francisco, observamos, ao contrário de tal pressuposto, a
apropriação do fator histórico de forma instrumental. Não há, de fato, política de
recuperação da história e da memória social que torne inteligível o valor do patrimônio,
o porquê deste ser considerado como tal. A revitalização passa a ser, assim, adequada
para conformação de novos espaços da cidade voltados para um novo público e novos
consumidores. Tudo se dá por meio de uma operação em que o sentido histórico do
espaço é reduzido à justificativa panfletária de ações público-privadas voltadas para a
qualificação e valorização de regiões centrais da cidade.

Pasteurizar as interpretações e os instrumentos de patrimonialização e de salvaguarda tem


repetido a fórmula de uma mesma estética, de um mesmo espetáculo. Assim, conhecer uma ou
outra seria a mesma coisa. Nesse aspecto, o turismo massa não aproveita as possibilidades
interpretativas e ignora a riqueza de um cultura diversa e dinâmica, com elementos vivos, para
além de uma arquitetura, uma escultura e uma pintura realizadas no passado.25

O problema fundamental, porém, não é a ineficiência da revitalização enquanto


política de valorização de patrimônios coletivos, mas a fabricação de uma nova
imagem-identidade da região que substitui a história, anulando-a.
Todos os comportamentos e obras humanas são passíveis de valorização
simbólica, mas apenas alguns são escolhidos para representar identidades como
patrimônios coletivos e para serem rememorados. Então quais são os elementos que o
projeto da Nova Rua São Francisco valoriza? Mais uma vez os testemunhos podem nos
dar algumas pistas:

Magnabosco [arquiteto do projeto] explica que a prospecção resgata a cor original dos imóveis,
mas o estudo que está sendo feito estabelece as cores para cada unidade não apenas com base na
prospecção. "A gente leva em consideração as prospecções para a definição das cores para cada
imóvel porque este é o retrato de uma época, são as cores de uma época", diz o arquiteto do
IPPUC ao explicar que o estudo procurou buscar a originalidade das cores. "Mas a prospecção é
apenas norteadora, é uma referência", completa. O trabalho feito até agora indicou cores como o
cinza, tons de amarelo, verde, uva, entre outras [...] As mudanças nas fachadas favorecem o
movimento já iniciado pelos lojistas nas melhorias de seus próprios negócios, seja na estrutura da

25
MENEZES, José N.C. A patrimonialização da vida: vivências, memória social e interpretação do
patrimônio cultural. In: BRUSADIN, Leandro Benedinii; COSTA, Evaristo Batista; PIRES, Maria do
Carmo (ORG.). Valor patrimonial e turismo: limiar entre história, território e poder. p. 26.
loja, no atendimento, como também na gestão de seus negócios", explica a consultora do
26
Sebrae/PR e gestora do projeto, Walderes Bello.

Ainda, em entrevista concedida à Radio Band News27 o arquiteto Mauro


Magnabosco expressa claramente, “começa com a pintura, mas desenvolve um processo
de capacitação e qualificação para o atendimento do turismo”, afinal trata-se da “área
que tem um maior conjunto de patrimônio histórico”.
Como já afirmamos, a centralidade da recuperação das fachadas dos prédios e a
ampliação das calçadas estão longe de ser políticas de valorização da memória social.
Os prédios se apresentam apenas como fragmentos do passado, um passado descolado
de qualquer outro elemento que permita uma leitura sobre seu tempo histórico. A rigor,
o sujeito visado pela revitalização não é o cidadão político, o habitante da cidade, que
estabelece relações subjetivas com os locais urbanos de memória. Ao contrário, o
sujeito visado pela revitalização é o transeunte (não o flâneur)28, os consumidores não
só de produtos de vitrines, mas principalmente os consumidores de lugares. A imagem
produzida pela reforma corresponde a um nicho de mercado que tem como incremento
valorativo de seu espaço o fator histórico.
Usando como exemplo a questão dos parques étnicos, Fernanda Sanchéz fala
sobre a capacidade dos empreendimentos culturais de fabricarem uma identidade fake e
rasa e que, portanto, oferece resistência:

A política cultural é, de fato, o álibi com o qual se fabrica o espelho que reflete o próprio poder
[...]. Completados por imagens-síntese da historia de cada grupo étnico, reinterpretados sob o
prisma oficial, aos turistas e cidadãos é oferecida uma visão simplificada, uma experiência
depurada, que substitui as indisciplinadas complexidades da cidade pela celebração da ordem
existente.29

Algo muito similar se opera na revitalização da São Francisco. O patrimônio,


resumido às formas dos edifícios e aos ladrilhos das ruas transmite uma imagem vazia

26
AGENCIA SEBRAE DE NOTÍCIAS, 16 mar. 2010. Rua comercial de Curitiba ganha novas cores.
Disponível em <http://www.agenciasebrae.com.br/noticia.kmf?canal=0&cod=9666302&indice=0>.
27
BAND NEWS FM, Curitiba, 15 mai. 2013. Fachadas do centro histórico da capital serão revitalizadas
– entrevista com Mauro Magnabosco. Disponível em
<http://bandnewsfmcuritiba.com/2013/05/15/fachadas-do-centro-historico-da-capital-vao-ser-
revitalizadas/>
28
“O flanêur encontra-se ainda no limiar tanto da grande cidade quanto da classe burguesa. Nenhuma
delas ainda o subjulgou”. BENJAMIN, Walter. Paris, a capital do século XIX. Exposé de 1935. p. 47.
29
SÁNCHEZ, Fernanda. A Reinvenção das Cidades para um Mercado Mundial. p. 536.
do passado, remetendo-nos a um tempo histórico sobre o qual a única característica que
captamos é seu caráter pretérito. O patrimônio, nesta configuração, se esgota em objetos
antigos que, por sua oficialização como patrimônio, devemos preservar. Trata-se de uma
tautologia.
Ainda, de acordo com a urbanista e professora Otília Arantes, podemos concluir
que a identidade que se busca afirmar é indiferente em relação ao conteúdo sobre o qual
se assenta. “Assim, numa situação como essa, nada se expõe além da própria
exposição”30 Contudo, se padecemos de uma história superficial e sem conteúdo, a nova
imagem da rua traz elementos afirmativos e atribuidores de certo sentido. Define-se a
personalidade da Rua São Francisco, que segundo uma tradição forjada com a reforma,
sempre teve vocação gastronômica. Conforme cobertura da Revista digital Bem
Público:

O prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que descerrou a faixa da „nova‟ Rua São Francisco,
destacou a importância das parcerias. “O centro de Curitiba foi o centro que mais cresceu no
Brasil, nos últimos anos. Com a revitalização, está mais agradável e seguro trazendo público para
o local e isso só aconteceu devido à parceria firmada entre poder público e entidades, como o
Sebrae/PR, Sistema Fecomércio, e iniciativa privada (...).Durante o processo de reforma da São
Francisco, que, de acordo com a proposta de revitalização, tem potencial para se transformar em
um eixo gastronômico, o Sebrae/PR, em parceria com a Rede Empresarial do Centro Histórico,
trabalhou com cada uma das empresas da região por meio de consultorias que orientaram desde a
gestão financeira até o atendimento aos clientes e manipulação de alimentos.31

Na inauguração da Nova São Francisco foram promovidas atividades culturais,


mais especificamente apresentações musicais abertas ao público e uma feira
gastronômica que demarca a funcionalidade da reforma. Embora a obra seja um
exemplo pontual, é preciso ter em conta que se trata de parte de um projeto maior de
revitalização do centro histórico da cidade, que tem como pontos de incidência
principais o restauro de antigos prédios como o Paço Municipal, Catedral Basílica de
Curitiba, Praça Tiradentes e a vizinha da São Francisco, a rua Riachuelo.

30
ARANTES, Otília; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. A Cidade do Pensamento Único.
Desmanchando conceitos. p. 62.
31
REVISTA BEM PÚBLICO, Curitiba, 24 dez. 2012. Revitalização no centro de Curitiba promove
desenvolvimento. Disponível em
<http://www.bempublico.com.br/materias/materiaVer.php?materiaID=6086#sthash.zZt97v91.dpuf>
Acesso em 19 de jun. 2013.
Os processos de Revitalização incidem sobre uma pequena parte da cidade, mas
seus efeitos são generalizantes. Toma-se a parte pelo todo e as pontuais partes
reformadas se apresentam como representantes da totalidade da cidade modelar e
moderna. A categoria de “imagem-síntese” apresentada por Fernanda Sanchez esclarece
o alcance dos projetos de gentrificação32:

A síntese é desenvolvida mediante a apropriação seletiva de técnicas, saberes e fragmentos do


espaço. O efeito demonstração da síntese é produzido, sobretudo, pela seleção simbólica de
partes pinçadas da paisagem urbana e por sua referência expressiva à totalidade urbana. [...] É
assim que, para manter essa leitura dominante da cidade, as imagens necessitam ser
periodicamente recicladas incorporando novos valores, novas representações e novos ícones
espaciais.33

Os projetos de revitalização que incidem sobre a Rua São Francisco, o centro


histórico de Curitiba e outras regiões tidas como centralidades urbanas atuam como
fomentadores de consensos sobre a cidade. Não sobre a cidade tomada como um todo,
histórica e real, mas, sim, sobre uma cidade modelar e vendável. Esta compreensão
encobre a história e limita as possibilidades de desenvolvimento do restante da cidade, a
cidade ilegal e periférica que não se quer ver.
Desse modo, a revitalização repete o que, via de regra, as reformas estético-
urbanas brasileiras tem feito desde que a urbanização se tornou uma questão nas
agendas das administrações públicas: a produção de uma imagem-síntese modelar
forjada sobre a exclusão territorial. Nossas cidades-modelos, a Curitiba europeia e
ambiental, o Rio cidade maravilhosa, a São Paulo cosmopolita das highways e dos
arranha-céus, são assim estabelecidas, embora não se possa dizer que as conheçamos.
Problematizar essa noção de imagem-síntese, portanto, a partir de uma reflexão entre
memória e os sentidos com os quais as revitalizações trabalham o espaço urbano parece
fundamental.

32
A palavra tem origem no termo inglês gentry (classes abastadas) e expressa o movimento de retorno
das camadas afluentes ao centro requalificado das cidades. Neste sentido ver: ARANTES, Otília;
MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. A Cidade do Pensamento Único. Desmanchando conceitos. 3.
ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. p. 30-32.
33
SÁNCHEZ, Fernanda. A Reinvenção das Cidades para um Mercado Mundial. p. 209.
4. ENCAMINHAMENTOS PANORÂMICOS

A revitalização da Rua São Francisco pode encher os olhos de emoção dos


cidadãos curitibanos, em especial daqueles que amam a cidade e dos mais orgulhosos,
mesmo que essa rua nunca tenha feito parte de sua infância e tampouco de sua vida
adulta. Os indivíduos tornam-se cidadãos contemplativos da cidade, porque acreditam
estarem participando dos processos de renovação, quando, em contraponto, apenas a
admiram de longe. Todo esse processo de reforma e de reapropriação de um espaço
público degradado tem explicações que vão muito além da promoção do sentimento de
orgulho e de nostalgia dos cidadãos.
As políticas de resgate ou revitalização do centro das grandes cidades não são
capazes (ou nem poderiam sê-lo) de tomar o fenômeno urbano em sua inescapável
multiplicidade contraditória. Retomemos o modo precário como a noção de patrimônio
cultural é pensado, em especial nos citados discursos dos orquestrastes do projeto Novo
Centro, para lembrar que a historicidade é invocada apenas para ser esvaziada, em
conformidade com a construção de uma “nova história” (e falar em “a nova São
Francisco” não poderia ser mais elucidativo), aplicada para a produção de um novo
espaço de interesse. Não há como dissociar esse processo de uma limpeza do espaço
urbano, aliada à promoção do setor privado e de uma prática de gestão empresarial da
cidade. Há uma forte influência de interesses do setor empresarial privado para o
desenvolvimento de renovações urbanísticas, modificação do planejamento urbano e
resgate de locais degradados. É nessa medida que o urbanismo consolida um forte
vínculo estrutural com os interesses privados.
A atuação do urbanismo como agente de suporte e fomento às atividades
capitalistas vem sendo interpretada de duas formas. A primeira tende a reduzir a gestão
do espaço urbano a um processo nitidamente controlado por elementos oriundos da
classe empresarial ou que comungam de suas teses. Haveria um setor dominante no
cenário municipal que sucessivamente impõe seus pontos de vista a outras forças
sociais. A segunda vertente enxerga uma conexão mais enraizada, enfatizando a
situação de dependência estrutural da cidade face ao capital privado. 34 Apesar de se
destinarem à defesa do interesse público, as agências governamentais têm sido
sistematicamente tomadas pelos interesses privados. Essa “captura” é explicada pelo

34
OLIVEIRA, Dennison de. Curitiba e o mito da cidade modelo. Curitiba, Editora da UFPR, 2000. p. 37.
movimento de revezamento das elites administrativas da iniciativa privada em seus
postos e na direção das agências públicas.35
Algumas práticas de reestruturação das cidades são eleitas como adequadas,
como as mais certeiras, baseadas num conhecimento pretensamente técnico, difundido
por periódicos e publicações de especialistas na área de urbanismo. Conhecimento este
que visa à adequação das cidades à economia do capitalismo globalizado. Esse modelo é
também cristalizado através da entrega de prêmios internacionais referentes à gestão
urbana, de modo a conferir um status de reconhecimento internacional. Assim, um
padrão homogêneo de cidade é criado, baseado em cidades totalmente diferentes - como
Curitiba e Barcelona, casos emblemáticos estudados por Fernanda Sánchez.36 – que
modificaram sua lógica urbana a partir do conhecimento técnico (baseado na autoridade
desses especialistas, cujo legitimidade é conferida pelas agências de renome
internacional da qual fazem parte: Banco Mundial, ONU, entre outras) a fim de se
inserir em uma lógica competitiva e, consequentemente, atrair mais investimentos.
Há, portanto, uma contínua transformação da cidade em mercadoria.37 Seus
espaços são mercantilizados e os cidadãos são valorizados na exata medida em que
possam consumi-lo. Surge uma perspectiva de compra e venda no espaço mundial, pois
as cidades passam a ser geridas como mercadorias que estão à venda em um mercado
internacional e globalizado. Vence quem tiver a infraestrutura mais adequada aos
interesses dos grandes empresários:

Nos anos recentes, em particular, parece haver um consenso geral emergindo em todo o mundo
capitalista avançado: os benefícios positivos são obtidos pelas cidades que adotam uma postura
empreendedora em relação ao desenvolvimento econômico. Digno de nota é que esse consenso,
aparentemente, difunde-se nas fronteiras nacionais e mesmo nos partidos políticos e nas
ideologias.38

É preciso que as cidades ofereçam os melhores atrativos para o capital privado,


em especial o internacional. Constituem-se modelos de cidades que se reciclam
incessantemente, pois entram em uma ferrenha competição internacional.

35
OLIVEIRA, Dennison de. Obra citada, p. 39.
36
SANCHÉZ, Fernanda. Obra citada.
37
ARANTES, Otília; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. A Cidade do Pensamento Único. Desmanchando
conceitos. p. 78.
38
HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. 8ª ed. São Paulo: Annablume, 2006. p. 165.
Neste movimento, não são apenas fragmentos do espaço urbano que entram nos fluxos
mercantis, incorporados de acordo com interesses locacionais específicos e respectivas
estratégias de acumulação de empreendedores imobiliários, agentes empresariais multinacionais
ou empresários do turismo. São as cidades que passam a ser “vendidas” dentro das políticas do
Estado que, no atual estágio do regime de acumulação capitalista, procura cumprir com uma
agenda estratégica de transformações exigidas para a inserção econômica das cidades nos fluxos
globais. Neste contexto, não basta renovar as cidades, é preciso vendê-las e, ao fazê-lo, vende-se
a imagem da cidade renovada.39

Essas cidades se tornam cidades-modelo, a partir de uma ação conjunta de atores


hegemônicos (agências multilaterais), que servem a interesses dominantes, através da
realização do city marketing, o mecanismo de promoção e venda das cidades. Para
tanto, difunde-se um modelo de gestão urbana, de ideários, políticas e práticas de
planejamento. A compra e venda do espaço-mercadoria não diz respeito apenas à
comercialização de um território, mas a uma série de representações, ideologia, cultura,
costumes e valores.
Constrói-se, assim, uma geografia da difusão, para propagandear e vender esses
modelos de cidade para outros lugares do mundo, através de periódicos de circulação
internacional em diversos países, realização de eventos internacionais nessas cidades,
bem como a defesa desses modelos pelos especialistas e consultores internacionais. Da
mesma forma, utiliza-se dessas divulgações internacionais na mídia interna, a fim de
explorar o modelo de gestão dos políticos locais. Criam-se também programas de
consultoria de especialistas dessas próprias cidades, que prometem auxiliar governos de
outras cidades a implantar o mesmo modelo urbano.
O que é sustentado, portanto, é um modelo único de “cidade do futuro”,
“ecologicamente sustentável”, “eficiente”, “competitiva”, com um ambiente de
negócios adequado e boa qualidade de vida para a população. Os especialistas auxiliam,
com seu discurso de autoridade técnica, na criação de um pensamento único40, que
poderia ser utilizado para absolutamente todas as cidades do mundo, independente de
suas condições sociais ou culturais (e mesmo econômicas).

As imagens-síntese e o discurso sobre as cidades referem-se a estratégias baseadas na


racionalidade dos processos de reprodução da economia global. O discurso se baseia numa visão

39
HARVEY, David. Obra citada, p. 50.
40
ARANTES, Otília; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. A Cidade do Pensamento Único. Desmanchando
conceitos.
de mundo que justifica e permite a realização das necessidades impostas pelo estágio atual da
produção, aquele que se refere à construção do mercado mundial e do espaço mundial. “Sob a
égide da globalização, transformada em paradigma de entendimento do mundo moderno,
constrói-se um discurso que a justifica e que está na base de sua sustentação.41

Nesse sentido, as empresas privadas buscam mercados em que possam atuar


com baixos riscos nas tomadas de decisão, avaliando um conjunto complexo de
situações, que envolve uma série de estratégias comerciais, como a localização, a
influência comercial e os hábitos de consumo locais.42 Por essa via, são efetivadas
verdadeiras mudanças políticas, há grande descentralização do poder público, que se
manifesta nas esferas política, administrativa e orçamentária. São efetuadas diversas
manobras a fim de contornar e abarcar a maior quantidade possível de investidores para
a cidade-mercadoria.
Em favor disso, surgem flexibilizações da legislação local e uma série de
incentivos fiscais. Há uma modificação radical nas políticas urbanas que se modernizam
com o intuito de promover e legitimar um padrão de mercado. Mas a forma
emblemática de atuação do Poder Público é a concretização de um sem número de
Parcerias Público-Privadas e a construção de um novo perfil urbano. Esse mecanismo
(parcerias público-privadas) permitiu maior agilidade na administração das cidades, o
que possibilita maior competitividade e otimização dos recursos. Essa forma de
parceria, no entanto, não é novidade, mas apenas vem sendo apresentada com uma nova
aparência, como necessidade para a modernização dos centros urbanos.
O setor público oferece toda a infraestrutura para suprir as necessidades e atrair
o capital privado. Os governos devem atuar como agências facilitadoras, através da
concretização de parcerias público-privadas e os responsáveis pela gestão devem ser
aqueles que realmente sabem fazer isso, no caso, os empresários. Serão aceitos apenas
aqueles que puderem pagar pela cidade. As empresas participam como atores centrais,
conjuntamente aos políticos locais e agências multilaterais, e, assim, influenciam na
reestruturação das cidades, de modo que sirva a seus interesses.

Dessa forma, percebe-se uma clara apropriação privada das imagens urbanas produzidas a partir
da esfera pública. Nessa apropriação, o espaço é incorporado como “valor agregado” ao produto
ou serviço. Claro está que se trata de uma valorização subjetiva, porém, tecnicamente agregada

41
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 149.
42
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 269.
àquilo que se deseja colocar em circulação no mercado. Produto e cidade são vendidos juntos,
mutuamente referenciados e fortalecidos em suas estratégias promocionais. Alguns exemplos
dessa relação produto-cidade, para o caso de Curitiba são: um novo serviço de telecomunicações
que é lançado como “serviço de Primeiro Mundo” para a “Capital de Primeiro Mundo”, um
condomínio residencial de alto padrão, o “Alphaville”, promovido por meio de seus atributos
ecológicos – “venha viver num condomínio verde na Capital Ecológica”, um novo “shopping
cultural”, o “Estação Plaza”, é apresentado como equipamento essencial para a “Capital da
qualidade de vida”, também citada como a cidade onde se realizam os testes de mercado.43

Assim, Curitiba é exímio exemplo do marketing urbano. O investimento público


vem revestido de uma capa de promoção da vida cultural e limpa o terreno para que as
empresas – no caso da Rua São Francisco, as construtoras – sintam-se atraídas e,
portanto, iniciem seus grandes empreendimentos. Para o sucesso desses
empreendimentos, é necessário que o local ofereça consumidores. Mostra disso, são os
novos “galpões culturais Thá”, agora sendo construídos, não por acaso, num centro que
aos poucos vai se fazendo “clean”.
Nesse cenário, para a intensificação do processo da transformação da cidade em
mercadoria, novas ordens são colocadas para que as cidades sejam mais atraentes. Ou
seja, é preciso criar novas centralidades, que possuam atrativos culturais, estéticos e
artísticos. Sanchez elenca essas novas ordens, determinando ao mesmo tempo suas
características de mercadorias, entre elas:

- produção de espaços residenciais de alto padrão associada à oferta de bens e serviços de topo
de mercado, destinadas aos quadros executivos das empresas e aos segmentos sociais
emergentes, gestores da modernização. Esses espaços se expressam mediante a crescente
segregação/distinção espacial desses segmentos e mediante processos de “gentrificação” das
chamadas áreas de renovação urbana; que são a própria condensação dos novos valores
culturais junto à economia de mercado, repetição em série de modelos tidos como bem
sucedidos;
- criação de novas centralidades através de construção de rede hoteleira de luxo e espaços
seletivos de lazer e consumo, como shopping-centers, centros culturais e de lazer;
- renovação de áreas centrais, “revitalização de áreas degradadas”, recuperação de frentes
marítimas e áreas portuárias, investimento em espaços públicos tornados emblemas da
modernização (sem grifos no original).44

Assim sendo, não interessam ao mercado espaços degradados, que não gerem
acumulação e não incentivem o turismo e a circulação de bens e pessoas. Isto é, torna-se
necessária e incontornável uma constante renovação e reinvenção para que se incentive
o comércio. Os espaços que são degradados, por conseguinte, devem ser reapropriados

43
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 205.
44
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 61-62.
pelo mercado através de operações urbanas que lhes confira constantemente novo valor
econômico e simbólico, devem ser revitalizados.

As práticas espaciais voltadas para a modernização expressam a tensão entre rigidez e


mobilidade no território. São reveladoras dos momentos em que a estruturação espacial pretérita
se torna uma barreira para a acumulação e, por isso, passa a ser modificada. Trata-se de intensas
fases de transformação espacial, quando velhos espaços são destruídos ou recriados e novos
45
espaços aliados a condições atualizadas de infraestrutura são criados.

Tais processos de revitalização encontram correspondência em três imperativos


que se relacionam diretamente ao elemento da eficiência: higienização, embelezamento
e funcionalidade.46 É certo que dos três, são os dois últimos aqueles que mais se
destacam, sendo capazes de cativar moradores, turistas, autoridades econômicas: são
aquilo que aparece como algo necessariamente bom. Inclusive, sem higienização não há
embelezamento que possa embelezar: embelezar é ocultar o que incomoda.
Funcionalizar é funcionalizar para alguém.
Como se tratam de áreas centrais, degradadas e ocupadas pela marginalidade das
ruas, é comum encontrar antes da atuação dos processos de revitalização locais de
prostituição e pontos de venda e uso de drogas. São todos cidadãos que não podem
consumir o novo produto e, portanto, a higienização desses locais se dá claramente pela
retirada daqueles que ameaçam a segurança e que não condizem com as novas propostas
de promoção da nova vida cultural e de consumo que virá se instalar. Nesse sentido,
Dennison de Oliveira, ao analisar os planos diretores das cidades, afirma que o
urbanismo contemporâneo pensa os setores informais como disfunções ou anomalias,
que devem ser erradicadas. Dessa forma, as políticas de urbanismo seriam destinadas à
cidade legal e não à cidade real. Segundo o autor,

[...] se os setores informais têm uma inserção política significativa no conjunto do sistema de
poder local, eles buscarão, no mínimo, exercer o poder de veto sobre determinadas iniciativas de
reforma urbana, ou no limite, até inviabilizar a institucionalização de qualquer processo de
planejamento urbano. Inversamente, a imposição de uma prática urbanística consistente e dotada
de significativos recursos de imposição de suas propostas desarticula, expulsa ou elimina a
economia informal da malha urbana, no todo ou em parte. Concluindo, pelo menos sob o atual

45
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 62.
46
FREITAG (completar)
paradigma do planejamento urbano dominante, o urbanismo e a economia informal são
realidades antagônicas e destinadas à confrontação permanente e incansável.47

O processo de revitalização pela qual a São Francisco passou não representa,


portanto, um mero embelezamento da cidade. Foi necessária a reapropriação da rua, que
não vinha ofertando lucros, nem gerando circulação de produtos e serviços, para que a
mesma atendesse às necessidades do mercado urbano. Para que tal processo fosse
implementado, era preciso excluir determinada parcela da população: aquela que não
teria meios de consumir o espaço.
E, juntamente a todos os fatores de limpeza e de higienização dos espaços
públicos, surge um peculiar processo de criação da imagem da Cidade. Os espaços são
representados de acordo com a nova imagem oficial que o centro urbano quer transmitir,
criam-se símbolos que constituem marcas exclusivas e que são capazes de atraírem os
investidores privados. A proliferação das novas marcas da cidade é recheada de
conteúdo ideológico que valoriza o consumismo e a lógica liberal de mercado. Fernanda
Sánchez explica: há “uma forte relação de poder entre o governo local, a mídia e as
grandes agências de publicidade tornou-se fundamental para o alargamento das esferas
de difusão do projeto de cidade e das práticas de renovação urbana em Curitiba”.48 Os
novos projetos são capazes, ainda, através de sua roupagem inovadora, de capturarem
uma aparente unanimidade entre os cidadãos, pois se apresentam sempre de uma forma
interessante, atrativa e natural, evidenciando que a escolha daquele caminho é
inexorável à condição de cidade contemporânea e tornando improvável qualquer
questionamento a respeito da verdade daqueles fatos.
A propaganda e a imagem dos novos investimentos e das políticas urbanas
escondem seu caráter excludente. É ausente qualquer forma de crítica que evidencie que
a renovação da cidade se dá em áreas determinadas, para um público específico, pois se
trabalha na propaganda de um investimento feito para o bem de toda a população. É
transmitido o imaginário de que a modificação, por mais específica que seja, será feita a
favor de toda a população e os cidadãos compram essa ideia.
Verifica-se que há uma despolitização planejada, que, aliada à busca pela
manutenção de um estado de paz social, é configurada como elemento imprescindível
para a garantia de um investimento seguro feito pelo parceiro privado. Nota-se a

47
OLVEIRA, Dennison de. Obra citada, p. 112-113.
48
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 334.
relevância de uma liderança forte cuja posição deve ser alienada de disputas
partidárias49, o que, novamente, é um elemento de garantia de que na transferência de
governos não haverá mudanças políticas bruscas e os investimentos privados serão
assegurados por uma forma de gestão da cidade, em última análise, feita pelos próprios
empresários.
São as camadas médias que, em geral, podem utilizar os novos espaços de
consumo da cidade. Há uma procura muito intensa por locais de espetáculo e de
prestação de bens de serviços. É como se a criação dos novos ambientes convergisse
com os interesses de consumo das classes médias, pois eles são feitos propriamente para
atingirem esse fim. É nessa mesma corrente que as cidades acabam se tornando sujeitos
dotados de uma racionalidade própria do setor empresarial e para seu desenvolvimento
contam com o sentimento dos cidadãos de pertencimento à cidade, construído de forma
vertical, levando-se em consideração o sentimento ufanista e a sensação de viver num
meio privilegiado. A partir disso, ficam claros os mecanismos de controle social pela
criação de uma imagem de consenso social.
A venda da cidade, como se pode imaginar, é feita para certa variedade de
consumidores, porém, essa variedade é limitada àqueles que possam pagar por ela. Há
uma forte conotação elitista na venda da cidade, pois ela é vendida ao capital
internacional e ela quer atrair visitantes e usuários que estejam à altura de seus produtos.
Não é suficiente, porém, transformar a cidade em mercadoria, é preciso ir além,
mantendo-a atraente ao capital para poder desenvolver toda a sua potencialidade
empresarial. Nesse sentido, fica evidente a necessidade de competição entre essas
cidades para a atração de maior quantidade de capital.
A cidade-empresa se apresenta como condição para que seu planejamento
estratégico empresarial seja transplantado para a esfera da administração pública.
Exemplo claro disso foi a transformação das cidades europeias em uma espécie de
multinacional europeia. Para que essas cidades possuam êxito, elas precisam
desenvolver um programa capaz de prevenir a improvisação, não se admite que elas não
sejam planejadas e se desenvolvam espontaneamente.50
As políticas urbanísticas escondem por trás de si mesmas, ainda, um intenso
conteúdo preconceituoso e racista, apesar de o multiculturalismo ser um valor exaltado
na promoção da imagem da cidade. Muitas vezes, o discurso oficial associa o sucesso

49
ARANTES, Otília; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. Obra citada, p. 96.
50
ARANTES, Otília; MARICATO, Ermínia; VAINER, Carlos. Obra citada, p. 85.
dos projetos urbanos de Curitiba aos cidadãos que respondem adequadamente a eles,
por condições sociais e culturais/étnicas, ou seja, é graças aos cidadãos que se torna
possível a realização do progresso da cidade. Nesse sentido: “Ao tecer sua crítica à
cidade-vitrine desvenda a mensagem subliminar do „modelo Curitiba‟: „assim deverá ser
o Brasil urbano, no dia em que se embranqueça e se civilize, no dia em que se torne rico
e ordeiro‟”51
Essa visão preconceituosa encontra raízes nas políticas urbanas implementadas
em Curitiba e especialmente na execução do plano diretor da cidade pelas elites
planejadoras e administradoras da época. Dennison de Oliveira, ao analisar a segunda
gestão Jaime Lerner, destaca a importância dada à política de reciclagem dos espaços
tradicionais da cidade, pela sua conversão em salas de espetáculos, centros comunitários
e outros espaços culturais.52 O objetivo, segundo o autor, era promover a integração do
homem à cidade, fazer com que os cidadãos tivessem orgulho da cidade onde moravam.
No entanto, haveria nesse processo uma faceta étnica:

Não é preciso muito esforço para se perceber que o essencial da política de patrimônio histórico
e de promoção de atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte específica da
memória e da cultura imigrante. Essa parte era aquela de origem europeia, notadamente daquela
onde se originou a elite dirigente do período (...). Cabe destacar que esse esforço de celebração
dos valores das etnias mencionadas continua rendendo lucros, haja vista a sua importância na
veiculação da imagem da cidade como “europeia”, de “primeiro mundo”, etc. 53

Esta motivação étnica é também levantada por Nelson Rosário de Souza, ao


analisar o Plano Preliminar de Urbanismo, base do Plano Diretor de Curitiba:

A ocupação urbana empreendida pelos migrantes europeus teria sido saudável, pois teria
propiciado, segundo o PPU, „um desenvolvimento relativamente contínuo, centrífugo e
homogêneo‟ (PMC, 1965, p. 81); e teria, ainda, limitado a „especulação terrenista‟, o
„parcelamento em lotes‟ e os loteamentos clandestinos, resultado de uma recente „migração de
nacionais‟. Uma ocupação urbana racional por uma população saudável teria feito de Curitiba,
até pouco tempo, uma cidade orgânica. O planejamento deveria pautar-se pela recuperação dessa
condição de equilíbrio propiciada pelos colonizadores portugueses e imigrantes estrangeiros. 54

51
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 466.
52
OLIVEIRA, Dennison de. Obra citada, p. 47-59.
53
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 56.
54
SOUZA, Nelson Rosário de. Planejamento urbano de Curitiba: saber técnico, classificação dos citadinos
e partilha da cidade.
Ademais, concretiza-se uma espécie de reserva do “sujo” para as periferias,
porque, explica Fernanda Sánchez:

Os espaços renovados são vendidos como espaços “seguros”, que vêm restabelecer a ordem, a
civilidade, como contra-face das áreas estigmatizadas como “decadentes”. [...] As periferias
amontoam o mal-estar. Territórios em crise, espaços anônimos, distanciados dos benefícios da
modernização, neles se encontram as populações que circulam pelas zonas de vulnerabilidade –
onde se associam a precariedade econômica, a precariedade das condições de urbanização, a
fragilidade relacional e o isolamento social, intensificadas pela flexibilização das relações de
trabalho e pela ruptura das formas anteriores de inserção social, restando-lhes, porém, a inserção
perversa no mundo do espetáculo.55

As modificações na cidade são altamente seletivas. Busca-se investir nas regiões


centrais, selecionando quem serão seus potenciais espectadores e consumidores, de
modo a aprofundar o processo de acumulação de riqueza. Às periferias das
aglomerações urbanas são reservadas a pobreza e miséria, o desemprego e a violência.
Compreende-se, portanto, que não há qualquer modificação substancial da cidade,
apenas sua imagem é remodelada, mas suas estruturas desiguais são mantidas. Não há
relação clara entre o renascimento urbano e a prosperidade, em especial com grande
impacto na geração de novos empregos.
A urbanização está muito distante de ser pensada para todos. Não satisfeita com
seu caráter excludente, seus efeitos são altamente alienantes, provocam um processo de
neutralização do pensamento crítico e promovem grande isolamento social. A
aclamação do povo por uma sociedade de espetáculos é um prato cheio para a promoção
de controle, por parte do governo, da construção de uma memória coletiva e de
planejamento de projetos futuros.56 O indivíduo acaba se perdendo em meio a toda essa
malha espetacular que é construída em nome da cidade e, por isso, perde o senso crítico
que, como consequência, traz a redução da compreensão de sua condição de cidadão
urbano, seja individual ou coletivamente. Efetiva-se, assim, a criação de uma “anti-
memória”57 coletiva.
Cria-se um ambiente urbano efêmero, leve, passageiro e descartável. A cidade
perde qualquer possibilidade de integração e são construídas ilhas de bem-estar,

55
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 470-471.
56
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 495.
57
SÁNCHEZ, Fernanda. Obra citada, p. 535.
consolidando mais uma forma seletiva de dividir a cidade. Ocorre a privatização da vida
cotidiana, que é coordenada pelas pautas da agenda dos empresários e investidores. É o
poder deles que assume maior importância e que indica qual deve ser a atuação do
próprio poder Público, pois o novo paradigma é ter como horizonte o mercado.
A rua são Francisco enquadra-se em diversos aspectos dessa perspectiva de
resgate de valores e memórias hipotéticas, que, em verdade, não fazem parte de sua
história. As políticas de preservação e valorização da memória social devem levar em
conta os atores que conformam a própria história. Os imóveis revitalizados devem
agregar sentido histórico para o habitante local: o significado social do espaço urbano
deve ser captado a partir destes sujeitos. Os processos de revitalização anulam a política
da história, elemento sem o qual, não podemos falar em história das ruas e das cidades,
que como bem aponta Henri Lefebvre, são talvez os melhores exemplos de obras
humanas e como tal, tem seus sentidos construídos por mulheres, homens, moradores,
trabalhadores e uma série de identidades locais que não se enquadram na história
fabricada pelas imagens-sínteses da oficialidade vencedora.

5. ENCAMINHAMENTOS FINAIS: REVITALIZAR A REVITALIZAÇÃO

“Tem noites que sonho passar por lugares que não existem mais. Do
lado do Colégio Santa Maria, onde hoje é um banco, em meados de
1960, havia uma gráfica. Ainda ouço as máquinas. Ruínas de sons,
ruínas de lembrança. Era ali que a gente se reunia para discutir os
filmes do momento. Não admito viver em uma cidade artificial” 58
Paulo Leminski

Muitos se faz cabível trazer à vez, assim como começamos este artigo, o
significado da palavra “revitalização”, mas, agora, em outros termos - tal como já
ponderou Carlos Vainer, muitas discussões partem de um esteio equivocado que é o de
considerar sem vida as áreas “revitalizáveis”. Por óbvio, temos aqui que defender a
evidente e inventiva vitalidade que possuem esses centros ou locais que, em diversos
casos, são ocupados por segmentos de baixa renda. Não se pode omitir a falácia do
discurso de um projeto de revitalização que pretende anunciar e dizer qual o tipo de
“vitalidade” adequado, negando àqueles que são, muita vezes, os verdadeiros
responsáveis pela preservação do centro e por sua utilização de fato, a possibilidade de

58
LEMINSKI, Paulo. Ensaios e Anseios Crípticos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2011, p. 171.
permanecer no local “revitalizado” e recuperado, ainda que para outros grupos que o
possam consumir.
O que ocorre, em verdade, é a falta de investimento público de que padecem
certos locais por um determinado período de tempo, justamente por serem ocupados por
grupos mais pobres. Vale lembrar que a possibilidade de estar no centro, sobretudo em
Curitiba, é cada vez mais difícil aos setores da periferia invisível da cidade modelo.
Vainer refuta a afirmação de que as classes mais pobres não valorizam as áreas
históricas ou as áreas urbanas em que vivem.

A sobrevivência da riqueza patrimonial dessas regiões se deu graças aos grupos de baixa renda e
não a outros. É como expulsar os índios da floresta para preservá-las, sendo que, graças a eles,
ela ainda está preservada.59

Nesse sentido, podemos considerar que as revitalizações têm contribuído muito


para a simplificação ou mesmo anulação da história dos territórios urbanos. Também se
nos faz clara a necessidade de políticas sérias de preservação da memória social
compartilhada pelos habitantes da cidade, atores que fundamentam o próprio processo
de formação de patrimônios históricos e culturais.

(...) a urbanização produz diversos artefatos, formas construídas, espaços produzidos e sistemas
de recursos de qualidades específicas, todos organizados numa configuração espacial distintiva.
A ação social subsequente deve levar em consideração esses artefatos, pois muitos processos
sociais (como viajar diariamente para o trabalho) se tornam fisicamente canalizados por esses
artefatos. A urbanização também estabelece determinados arranjos institucionais, formas legais,
sistemas políticos e administrativos, hierarquias de poder, etc. Isso também concede qualidades
objetivadas à “cidade”, que talvez dominem as práticas cotidianas, restringindo cursos
posteriores de ação. Finalmente, a consciência dos moradores urbanos influencia-se pelo
ambiente da experiência, do qual nascem as percepções, as leituras simbólicas e as
aspirações. Em todos esses aspectos, há uma tensão permanente entre forma e processo,
entre objeto e sujeito, entre atividade e coisa. (sem grifos no original)60

Além desse embate, o título do trabalho aqui se justifica: não se quer uma cidade
museada ou engessada numa memória autorreferente – que, a partir do momento que estagna e

59
VAINER, Carlos. Prós e contras da revitalização de centros urbanos. Disponível em:
http://www.comciencia.br/reportagens/cidades/cid02.htm.
60
HARVEY, David. Obra citada, p. 168.
não dialoga com o tempo que a acompanha, deixa de ser memória e passa a ser fetiche - ou
mercadoria por excelência.

O impulso de preservar o passado é parte do impulso de preservar o eu. Sem saber onde
estivemos, é difícil saber para onde estamos indo. O passado é o fundamento da identidade
individual e coletiva; objetos do passado são a fonte da significação como símbolos culturais. A
continuidade entre passado e presente cria um sentido de sequencia para o caos aleatório, e como
a mudança é inevitável, um sistema estável de sentidos organizados nos permite ligar com a
inovação e a decadência.61

A memória pretérita só existe em relação à memória do tempo presente,


construída no momento do agora. Assim sendo, a memória não é passível de ser
inaugurada por um processo de revitalização que pretende forjar um significado que até
então não existia ou varrer dali tudo o que hoje dá significado ao lugar.
É necessário revitalizar essa ideia de revitalização.
Em brilhante editorial da Gazeta do Povo, denominado “Razão e sensibilidade
na Saldanha Marinho - Rua do Centro Velho de Curitiba se torna laboratório de
revitalização urbana sem alarde ou eventos5” mostra-se um verdadeiro exemplo de
processo de revitalização:

Viver num desses centros e não ter acesso às boas escolas e bibliotecas, mundo do trabalho e
convivência com outras pessoas, é como estar na beira da praia e não poder entrar no mar. Assim
se sentem muitos moradores – olham a rua e a praça, mas, assim que se aproximam, elas
desaparecem de sua vista, transformando-se em outra coisa (...) A resposta a esse dilema é
simples: garantir o que é próprio da urbe.62

O que é próprio da urbe é justamente a busca pelo que lhe é próprio, ou como
anunciava Leminski, a busca de uma categoria que está além de passado e presente: “só
buscar o sentido faz, realmente, sentido”.63 Assim como o poeta que passou por essas
ruas, não admitimos viver em uma cidade artificial. É preciso não só criar o novo, mas

61
ROSSI, A. Architecture and the city. Cambridge, Massachesetts apud HARVEY, David. Condição pós-
moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. 15. ed. São Paulo: Loyola, 2006. p. 85.
62
Razão e sensibilidade na Saldanha Marinho - Rua do Centro Velho de Curitiba se torna laboratório de
revitalização urbana sem alarde ou eventos – Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?tl=1&id=1380135&tit=Razao-e-
sensibilidade-na-Saldanha-Marinho. Acesso em 19/06/2013.
63
LEMINSKI, Paulo. Obra citada, p. 13.
deglutir o passado, fundi-lo, fazê-lo presente na significação que se dá ao próprio
presente.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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