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SESSÃO TEMÁTICA 5:
HISTÓRIA E CULTURA URBANA
CIDADES: PLANOS E INTERVENÇÕES
COORDENADORA: DENISE PINHEIRO MACHADO (PROURB-UFRJ)
Algumas considerações
De olhos diversos surgiram imagens destoantes da cidade, que foram, algumas, se
enraizando, se realimentando no cotidiano e no imaginário da nova capital. Outras,
durante certo período, permaneceram como que adormecidas, submersas, esmaecidas
em meio à torrente dominante do ideal de cosmopolitismo e modernidade. Não que
tivessem deixado de ser produzidas, porém, não seriam objeto de uma recuperação e
reafirmação dentro de um discurso que sempre buscou fixar a qualidade de moderna - e o
sentido positivo com o qual essa se revestiria - dessa nova cidade e que, pode-se dizer,
dominaria o imaginário de boa parte de seus cidadãos durante anos.
Estas percepções distintas sobre a cidade seriam retomadas e evidenciadas a partir
destes estudos críticos. Foram seus autores que as exploraram de modo mais intenso,
dando voz àqueles que vivenciaram e sentiram esse novo viver moderno como perda e
exclusão.
A noção de que o moderno também traz perdas e negações não é apenas construção de
um determinado olhar historiográfico. O historiador seleciona entre seus materiais, frisa,
ressalta percepções e sentidos. Esses textos críticos vão privilegiar os testemunhos que
apontam para os problemas inscritos no moderno, vão dimensionar seu aspecto negativo.
Opera-se nessas abordagens um desvio de foco nas imagens que comumente se
perpetuava da capital, anteriormente exclusivamente dirigidas para o positivo - em
especial, pelo discurso oficial. Se o passado é um campo de possibilidades, como nos fala
Walter Benjamin, a tarefa do historiador é tentar recuperá-lo, explorá-lo nas suas
diferentes variantes. Mais que apenas descrever seus processos, é preciso buscar
entender e expor as tensões que o compõem.
Como se viu, o sentido negativo da palavra moderno já estava presente nos primeiros
textos sobre a cidade. Nesse sentido, ele não é apenas o produto de uma forma
determinada de abordagem, de uma leitura, de uma construção que seria invariavelmente
definida pelo próprio tempo daquele que examina o passado.
Assim, é interessante observar que a ambigüidade não parece ser fruto unicamente das
recuperações que se faz desse passado, ou dos discursos produzidos a respeito da
moderna capital mineira. A ambigüidade está nos próprios testemunhos, na própria
testemunha e, no limite, no próprio termo com o qual se buscou definir a cidade: o
moderno.
1
- Para uma discussão a respeito dessas associações ver: JULIÃO, Letícia. Belo Horizonte: intinerários
da cidade moderna (1891-1920). Belo Horizonte: UFMG, 1992.
2
- LIMA, Bernardino Augusto de. Pronunciamento ao Congresso Constituinte do Estado de Minas Gerais
de 1891, citado in JULIÃO, 1992.
3
- REGO, José Ricardo de Sá. Relatório apresentado à Assembléia Constituinte da Província de Minas
Gerais, 1851, citado in Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XXXIII, 1982.
4
- LIMA, Antônio Augusto de. Mensagem dirigida ao Congresso Constituinte Mineiro, citado in Revista do
Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XXXIII, 1982.
5
- Decreto n. 680, 17 dez 1893.
6
- Comissão Construtora, Ofício n.26, 23 de março de 1895
7
- Revista Geral dos Trabalhos, 1895.
10
- Revista Alterosa, Belo Horizonte, julho de 1940.
11
- A Capital. Belo Horizonte, 21 dez 1897.
12
CAMPOS, Paulo Mendes. Subir & descer a Rua da Bahia, in ANDRADE, Carlos Drummond. (org). Brasil,
terrra e alma: Minas Gerais. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967, p59-61.
13
-Reflexo, no discurso sobre o urbano, do discurso positivo da ciência no século XIX.
14
A relação entre a “pré-escrita”, “prescrição” e “proscrição” que perpassam o espaço planejado da capital
mineira foi uma imagem trabalhada pelo Professor Michel Le Ven, em mesa redonda sobre Belo Hrizonte
realizada em abril de 1997 na PUC-MG. Sobre a capital de mineira ver: LE VEM, Michel Marie. Classes
sociais e poder político na formação espacial de Belo Horizonte (1893-1914).Belo Horizonte: UFMG,
1977.
15
- NEVES, Margarida de Souza. Uma escrita do tempo: memória, ordem e progresso nas crônicas
cariocas, in A crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil. CANDIDO, Antônio et
all. Campinas: Editora da Unicamp; Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1992.
16
– Sobre ficcio e ficção ver: CANEVACCI, 1993, e SEGRE, C. Ficção, in: Einaudi. Lisboa: Imprensa
Oficial/Casa da Moeda, 1989. vol 17.
17
-ANDRADE, Carlos Drummond. Confissões de Minas. Rio de Janeiro, sd, p. 148.
18
- O baile sob o holofote, in: Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XXXV, 1984. Pp
47-48
19
- Avenida ao sol, in: Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XXXV, 1984. pp 52-53.
20
-ALVES DA SILVA, Regina Helena. A Cidade de Minas. Belo Horizonte: UFMG, 1991.
21
– Enquete realizada pelo jornal Correio Mineiro, durante o mês de junho do ano de 1933.
22
- O amor fugiu da cidade, in: Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XXXV, 1984.
pp.144-146.
23
- A música da cidade, in: Revista do Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte, Ano XXXV, 1984.pp.
37-38.