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v. 14, n. 4, p. 5954-5972,
DOI: http://doi.org/10.7769/gesec.v14i4.2030
Resumo
O setor agrícola é um dos principais pilares de sustentação da balança comercial brasileira.
Para que esse setor seja um pilar efetivo são necessários constantes investimentos em
produção. As startups agrícolas (agtechs) construem muito para o aumento da produção e
consequentemente da produtividade. Embora sejam importantes, poucos estudos são
encontrados com foco exclusivo nesse tipo de empresa nascente (agtechs) e mais raros ainda
são os estudos que buscam entender a gênese de sua criação. Diante disso o trabalho buscou
compreender a criação e fundamentação dessas novas empresas de base tecnológicas. Para
isso realizou-se um estudo de caso de carater exploratório, primeiramente com coleta de dados
em artigos científicos e em segundo momento com uma entrevista com o CEO de uma
empresa consolidada do setor. Os resultados obtidos apontam para a importância que a
empresa tem para a economia do local onde está inserida. Apresenta, também os principais
desafios que ela viveu e quais oportunidades podem ser buscadas. Como principal limitação
desse artigo, pode-se destacar o estudo de caso único que gera resultados que dificilmente
pode ser extrapolado para outras regiões e ramos de atuação dessa empresa. Como estudos
futuros indica-se compreender a gênese de outros tipos de empresas, bem como utilizar
estudos de caso múltiplos.
1
Graduanda em Administração pela Faculdade Federal de São Carlos (UFSCAR), Rod. Washington Luiz, s/n,
Monjolinho, São Carlos - SP, CEP: 13565-905. E-mail: ma.viprado@hotmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0876-6900
2
Doutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da
Universidade de São Paulo (FEA-USP), Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Butantã, São Paulo - SP,
CEP: 05508-010. E-mail: phbramos@ufscar.br Orcid: https://orcid.org/0000-0002-2389-6351
A gênese de criação de uma startup com foco no agronegócio. 5955
Abstract
The agricultural sector is one of the main pillars supporting the Brazilian trade balance. For
this sector to be an effective pillar, constant investment in production is required. Agricultural
startups (agtechs) contribute greatly to the increase in production and, consequently, to
productivity. Despite their importance, few studies focus exclusively on this type of nascent
company (agtechs), and even fewer seek to understand the genesis of their creation. Therefore,
this study sought to understand the creation and foundation of these new technology-based
companies through an exploratory case study. Firstly, data was collected from scientific
articles, and secondly, an interview was conducted with the CEO of a consolidated company
in the sector. The results indicate the importance of the company to the local economy where
it is inserted. They also present the main challenges it faced and what opportunities can be
pursued. The main limitation of this article is the single case study that generates results that
are difficult to extrapolate to other regions and business areas of this company. For future
studies, it is suggested to understand the genesis of other types of companies, as well as to use
multiple case studies.
Keywords: Startup. Agtech. Technology. Agrotechnology.
Introdução
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2022).
O Produto Interno Bruto gerado pelo agronegócio (PIB-Agro) foi responsável por
24,8% de todo PIB brasileiro em 2022. Tal valor corresponde, monetariamente a 2,3 trilhões
de reais. Desse montante o ramo agrícola corresponde a 1,7 trilhões de reais e a pecuária 0,6
trilhões de reais. O agronegócio está, cada dia mais, expandindo sua produção e sendo
chamado de mola propulsora para o progresso da economia (Centrode Estudos Avançados
em Economia Aplicada [CEPEA], 2022).
Segundo Figueiredo, Jardim e Sakuda (2022), um país como o Brasil com ampla
atuação no senário agropecuário necessita identificar empreendimentos tecnológicos
aplicados à agricultura. A concepção de uma empresa de sucesso demanda mercado, o setor
agropecuário nesse sentido não deixa a desejar visto suas abrangentes áreas de atuação.
Esses empreendimentos tecnológicos aplicados à agricultura são chamados AgTechs,
e são responsáveis por impulsionar a tecnologia voltada ao campo, simultaneamente elas ainda
têm o dever de aumentar a sustentabilidade, expandir a produtividade e fazer uso consciente
de recursos disponíveis, como finalidade elas oferecem lucratividade a seus investidores, bem
como crescimento no valor da agricultura a longo prazo (Dutia, 2014).
O Brasil, atualmente, possui mais de 1.200 AgTechs, sendo que 90% dessas
organizações estão concentradas na região Sudeste e Sul do país, com predomínio na primeira,
com 66% das AgTechs, isso ocorre devido essa região apresentar grande concentração de
sedes empresariais e tecnologias avançadas (Figueiredo, Jardim e Sakuda, 2022).
Partindo do pressuposto que novas empresas são cruciais na captação de renda e
avanço nacional, esse artigo se baseia no estudo das motivações e concepção da fundação de
uma agtech bem como a jornada empreendedora por trás dessa fundação.
Segundo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] (2020) os meses de
janeiro, fevereiro e março de 2020 totalizaram 12,9 milhões de pessoas em situação de
desemprego, isso demonstra que o país necessita de novos postos de oportunidades para que
essas pessoas sejam inseridas no mercado de trabalho. As startups revolucionam não somente
o modo de empreender como também trouxeram novas ocupações profissionais. Só no Brasil,
no ano de 2017, 3.694 empresas em processo de incubação geraram 14.457 novos postos de
trabalho, o número ainda é maior quando falamos de empresas graduadas (já não dependem
mais da incubadora), onde 6.143 empreendimentos foram responsáveis por gerar 55.942
empregos (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores –
[ANPROTEC], 2019).
Outro dado a ser levado em conta, que justifica o desenvolvimento do artigo, diz
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Referencial Teórico
A origem da palavra startup surge por volta dos anos 90, do século passado. Esse termo
aparece como a força propulsora da expansão e utilização da internet (Feld, 2020). Roure e
Keely (1990) caracterizavam a startup como uma organização, de base tecnológica, que tem
como fundamento o uso da tecnologia para criar serviços e produtos que possibilitam
vantagens competitivas sobre adversários de mercado.
Uma startup é uma organização incipiente ou em processo de formação que tem como
base projetos inovadores ligados à pesquisa, investigação e desenvolvimento. Por ser uma
empresa jovem e com ideias novas no mercado, há uma certa dose de risco envolvido no
negócio. Apesar disso, essas empresas normalmente requerem baixos custos iniciais e
apresentam grande potencial de crescimento, tornando-se altamente escaláveis quando bem-
sucedidas. (SEBRAE, 2017).
Para Blanck e Dorf (2012) startup refere-se a uma empresa da qual o propósito que se
pretende alcançar é definir um protótipo a ser reproduzido (modelo) voltado para o negócio,
a fim de que o mesmo seja escalável e perdure durante um longo período de tempo. Para esses
mesmos autores, a criação da startup consiste em legitimar a hipótese (ideia de negócio) por
meio dos seguintes passos: (1) definição de hipótese; (2) criação de experimento; (3) teste e
(4) produção de solução.
Seguindo esses passos, a interatividade entre os utilizadores do sistema, cliente e
mercado, faz com que a hipótese seja confirmada de forma eficiente, deixando manifesto,
quais ações devem ser ajustadas para que o modelo de negócio de uma startup seja elaborado
de forma mais assertiva e efetiva (Blanck & Dorf, 2012).
Para a criação de uma startup Blanck e Dorf (2012) valem-se de um modelo
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esquemático dividido em duas vertentes: (1) Busca e (2) Execução. Na primeira vertente o
empreendedor está preocupado em descobrir validar os possíveis clientes. Já na segunda, ele
prima por criar novos clientes, através do oferecimento do seu serviço ou produto e construir
a empresa. A figura 1, apresentam as duas vertentes e sua dependências e correlações.
BUSCA EXECUÇÃO
PIVOT
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2.2 Agtech
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Metodologia
Para Fonseca (2002), metodologia é o estudo da organização, das vias a serem trilhadas
para o desenvolvimento de um trabalho ou pesquisa. Para isso é necessário descrever
logicamente os caminhos, e, por conseguinte, as ferramentas utilizadas para a realização do
trabalho científico. De acordo com Gil (2008), toda e qualquer classificação de pesquisa deve
atender a algum critério metodológico levando em consideração a comparação entre a visão
teórica do estudo, com os dados tangíveis. Assim, o autor classifica as pesquisas em
exploratórias, descritivas e explicativa.
A pesquisa exploratória tem como objetivo principal tornar mais compreensível ou
transformar uma ideia formada sobre determinado assunto. Essa pesquisa é realizada através
de fontes bibliográficas e documentais, estudo de caso e entrevistas. Tal pesquisa, em um
primeiro momento, oferece uma visão abrangente do estudo realizado, e posteriormente indica
caminhos para elucidar outros problemas (Gil, 2008). A pesquisa descritiva, por sua vez,
enfatiza a ideia da descrição de atributos presentes em uma determinada população, bem como
ocorrência de fatos ou situações, ou ainda a correlação entre variáveis. Os dados geralmente
são obtidos através de método padrão de coleta (Gil, 2008). Já a pesquisa explicativa almeja,
além de identificar as razões pelas quais um fenômeno ocorre explicá-los. Essa explicação
pode ocorrer tanto pelos métodos experimentais (quantitativos) como pelos métodos
qualitativos (Gil, 2008).
Em relação ao espaço amostral, uma pesquisa pode ter como foco um único ambiente
(estudo de caso único) ou múltiplos ambientes (estudo multicaso). O estudo de caso único
apresenta informações que, na maioria das vezes, não pode ser extrapolada para outros
ambientes. Já o estudo de casos múltiplos tentam tornar o trabalho mais robusto e com
possibilidade de extrapolação (Yin, 2005).
O presente artigo, por sua natureza, se caracteriza como um estudo de caso único,
descritivo e exploratório, isso por que busca analisar toda a jornada de um empreendedor
específico, a fim de tentar descrever a motivação para a criação da agtech estudada.
A confecção do artigo foi primeiramente baseada em pesquisa de cunho teórico, por
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Resultados e Discussão
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empresas desse segmento. As startups possuem dados alarmantes quando se trata de questões
relacionadas ao gênero de seus contribuintes. De acordo com o censo realizado em 2022 pela
Agtech Garage, em 38% das organizações o número de mulheres atuantes nas equipes é nulo,
em 26% contém apenas uma, e somente em 14% das startups há um número de 4 ou mais
mulheres nas equipes de trabalho. Segundo Rubio e Mathur (2022), a aquisição de
investimento para o negócio também se torna mais difícil quando se é mulher. Os dados
apontam que, na maioria dos casos, os fundadores de empresas são homens. Nos Estados
Unidos, apenas 2% das aplicações de Venture Capital foram destinadas a empresas fundadas
por mulheres, enquanto mais de 82% das aplicações foram feitas em organizações fundadas
por homens. No Brasil, a explicação dada para essa falta de participação das mulheres em
atividades empreendedoras é fundamentada com base no fato de que a mulher não representa
apenas uma questão de gênero ou condição biológica, mas também é influenciada por fatores
sociais em sua postura empreendedora (Pavan, Ortega e Nogueira, 2021).
Ainda que os dados representem tal disparidade, a tendência tende a mudar, segundo
o Sebrae (2022), na América Latina houve aumento de 100% de capital proveniente de venture
capital destinado a empresas lideradas por mulheres, essa crescente foi notada do ano de 2019
a 2022.
Após esse primeiro componente, foram solicitadas informações sobre a formação
acadêmica tanto do empreendedor quanto dos demais colaboradores. As respostas obtidas
indicaram que mais de 50% dos colaboradores possuem formação técnica superior na área de
atuação. Essa constatação é relevante, pois ter formação na proposta de valor da startup é
considerado um fator decisivo para o sucesso da organização, uma vez que influencia
diretamente na oferta de soluções voltadas para o produtor rural. O relatório executivo do
projeto Global Entrepreneurship Monitor (2019) apontou que 27,6% dos indivíduos ativos em
atividades empreendedoras possuem ensino superior completo.
O terceiro bloco de componentes abordou a caracterização da empresa. Com base
nesses componentes, é possível verificar as características presentes que a credenciam como
uma agtech, uma vez que desenvolve soluções conjuntas para a agricultura 4.0 e transforma a
agricultura. Seu quadro de colaboradores conta com mais de cem colaboradores ativos, o que
demonstra que a empresa já está inserida como uma empresa de pequeno porte (EPP), de
acordo com o SEBRAE (2021). Para fazer parte desse grupo, a organização precisa ter uma
receita anual entre 360 mil e 4,8 milhões de reais.
O quarto bloco de componentes verificou a adesão/necessidade de incentivos
financeiros e governamentais para instalação e crescimento da empresa estudada.
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Conclusão
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