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29/08/13 Movimentos contemporâneos de reestruturação urbana e a ressignificação do ambiente construído de cidades inseridas no circuito mundial de viagen…

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Biblio 3W
REVISTA BIBLIOGRÁFICA DE GEOGRAFÍA Y
CIENCIAS SOCIALES
Universidad de Barcelona
ISSN: 1138-9796. Depósito Legal: B. 21.742-98
Vol. XVIII, nº 1035, 30 de julio de 2013
[Serie documental de Geo Crítica. Cuadernos Críticos de
Geografía Humana]

MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS DE REESTRUTURAÇÃO URBANA


E A RESSIGNIFICAÇÃO DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO DE CIDADES INSERIDAS NO CIRCUITO MUNDIAL DE
VIAGENS: UM OLHAR SOBRE OS EDIFÍCIOS HOTELEIROS
Ana Paula Garcia Spolon
Universidade Federal Fluminense

Recibido: 25 de febrero de 2013. Devuelto para revisión: 4 de marzo de 2013. Aceptado: 28 de mayo de 2013

Movimentos contemporâneos de reestruturação urbana e a ressignificação do ambiente construído


de cidades inseridas no circuito mundial de viagens: um olhar sobre os edifícios hoteleiros
(Resumo)

A compreensão da dinâmica dos movimentos contemporâneos de reestruturação de espaços urbanos é


fundamental para o entendimento dos processos de ressignificação do ambiente construído, em especial em
áreas urbanas nas quais a edificação se pode transformar, reconhecidamente, em um objeto cultural,
colaborando para o aumento do valor do entorno. Nesse sentido, devem ser vistos os edifícios não a partir
de uma visão reducionista, mas desde um ponto de vista amplo e totalizante: como produtos imobiliários e
como artefatos arquitetônicos, dotados de valor material, social e simbólico. Como artefatos, poderiam
colaborar para a ressignificação dos espaços urbanos por meio da reconfiguração dos espaços internos e do
próprio redesenho da edificação, bem como por sua relação com o entorno, a partir da dialética entre a
estrutura material edificada e a sociedade. Como produtos imobiliários, poderiam inserir-se de uma maneira
inovadora no circuito de valorização do capital, firmando-se como mercadorias diferenciadas e orientando a
própria sobrevida e expansão do capitalismo em ambiente urbano. A dinâmica socioespacial e as
características do capitalismo contemporâneo levam a um movimento de reestruturação imobiliária, processo
complexo e amplo, que se dá em dois níveis: a reestruturação espacial (novas formas e funções do imóvel e a
revisão de seu papel estruturante junto à sociedade e ao espaço) e a reestruturação produtiva (novas
maneiras de construir e administrar o produto imobiliário). Este texto está baseado na interpretação da
produção imobiliária voltada para fins específicos e usos determinados, neste caso, para os edifícios
hoteleiros instalados em importantes destinos do circuito mundial de viagens. Tem como objetivo maior
orientar a apreensão dos novos sentidos e significados do ambiente construído e de sua adequação aos
processos de valorização do capital e de reestruturação dos espaços urbanos contemporâneos.

Palavras-chave: Capital, espaço urbano, reestruturação urbana, cidades, hotelaria.

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Contemporary movements of urban restructuring and the redefinition of built environment of cities
included in the world travel circuit: a look at the hotel buildings (Abstract)

The understanding of contemporary movements of urban spaces restructuring is vital to the knowledge of re-
signification processes of built environment, particularly in urban areas in which building can admittedly
become a cultural object, collaborating with increase of surroundings value. In this sense, buildings must be
seen not from a reductionist view, but from a broad and all-absorbing point of view: as real state products
and architectural artifacts, endowed with material, social and symbolic value.

As artifacts, they could collaborate with re-signification of urban spaces through reconfiguration of internal
spaces and of building redesign itself, as well as by its relation to the setting, from the dialectic between built
material structure and society. As real state products, they could insert themselves in an innovative manner
into the circuit of capital valuing, standing as differentiated commodities and orienting capitalism’s own
survival and expansion in a urban environment.

Social spatial dynamics and characteristics of contemporary capitalism lead to a movement of real state
restructuring, a complex and broad process, that happens in two levels: spatial restructuring (new forms and
functions of property and review of structuring role within society and space) and productive restructuring
(new ways of building and managing real state product) this text is based upon interpretation of real state
production turned to specific purposes and determined uses, in this case, to hotel buildings located in
important destinations of world travel circuit. It aims at orienting the apprehension of new senses and
meanings of the built environment and its adequacy to processes of capital valuing as well as restructuring of
contemporary urban spaces.

Key words: Capital, urban space, urban restructuring, cities, hotels

Los movimientos contemporáneos de reestructuración urbana y la redefinición del entorno


construido de las ciudades incluidas en el circuito mundial de viajes: una mirada a los edificios
hoteleros (Resumen)

La comprensión de la dinámica de los movimientos de restructuración contemporánea de los espacios


urbanos es fundamental para entender los procesos de redefinición del ambiente construido, especialmente en
las zonas urbanas en las que el edificio puede llegar a ser reconocido como un bien cultural, contribuyendo
para el aumento en el valor del entorno. En este sentido, los edificios deben ser vistos no desde una visión
reduccionista, pero desde un punto de vista amplio y totalizador: como productos inmobiliarios y como
artefactos arquitectónico dotados de valor material, social y simbólico.

Como artefactos, podrían contribuir para la redefinición de los espacios urbanos a través de la
reconfiguración de los espacios interiores y el rediseño del propio edificio, así como su relación con el
entorno, a partir de la dialéctica entre la estructura material construida y la sociedad. Como productos
inmobiliarios, podrían ser parte innovadora en el circuito de la revalorización del capital, estableciéndose
como bienes diferenciados, y dirigir la propia supervivencia y expansión del capitalismo en el espacio
urbano.

La dinámica socio-espacial y las características del capitalismo contemporáneo conducen a un movimiento de


restructuración inmobiliaria, complejo y extenso, que se produce en dos niveles: una restructuración espacial

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(nuevas formas y funciones del edificio y el examen de su papel estructural en la sociedad y en el espacio) y
la restructuración de la producción (nuevas formas de construir y administrar el producto inmobiliario). Este
texto se basa en la interpretación de la producción de inmóviles orientados a fines específicos y usos
determinados, en este caso, los edificios de hoteles instalados en el circuito mundial de destinos de viaje.
Tiene como objetivo orientar la comprensión de los nuevos significados del ambiente construido y de su
adecuación a los procesos de revalorización del capital y la restructuración urbana contemporánea.

Palabras clave: Capital, espacio urbano, restructuración urbana, ciudades, hoteles

Não é tranquila a interpretação da relação entre a expansão do capital e a reestruturação das cidades,
embora ela pareça muito óbvia e viva querendo se expor. Fato é que as cidades contemporâneas têm sido
constante e continuamente modificadas, melhoradas, como que atendendo a um desafio constante de
adequação às novas referências mundiais em termos de economias urbanas.

É sabido que, mundialmente, os “nossos espaços urbanos” começaram a ser constituídos, na feição que têm
atualmente, quando da “revolução urbana” referenciada por Henri Lefebvre[1] na década de 1960. Mas,
bem antes, no século XIX, a implantação da moderna propriedade da terra através da instituição da Lei de
Terras de 1850 – processo que Paulo César Xavier Pereira, sociólogo[2] chama de absolutização da
propriedade da terra –, já deu forma à condição de a terra transformar-se em produto monopolizável e
irreprodutível. Com o tempo, o espaço valorizou-se e a cidade tornou-se palco muito adequado às
sociedades contemporâneas, para quem a mercantilização da experiência é força propulsora.

Atualmente, a urbanização é uma realidade global, embora em escalas e dimensões diferentes e não sem o
enfrentamento de enormes contrastes e dificuldades, pelos mais diversos grupos sociais. Retrato de Rick
Burdett e Deyan Sudjic[3] mostra que vivemos em um mundo efetivamente urbanizado, onde há a riqueza e a
pobreza, bem como a qualidade dos espaços acompanhada de perto por sua total degradação.

Das relações entre a expansão do capital e a reestruturação das áreas urbanas:


o desenvolvimento imobiliário e o redesenho das paisagens
Ao mesmo tempo em que há pujança no distrito de Pudong, em Xangai (China), vê-se a pobreza em
Mumbai, na Índia. Pobreza estrutural, que não condiz exatamente com falta de oportunidades para geração
de renda – que o mostre a realidade da favela de Dharavi, uma concentração de estimados um milhão de
moradores que, juntos, movimentam cerca de R$ 2 milhões por ano, mas não contam com políticas públicas
eficazes de educação ou de saúde pública, não dispondo sequer de saneamento básico.

Do outro lado do mundo, em Nova York, há uma cidade rica e próspera, com qualidade de vida em níveis
consideráveis – a ponto de ser possível, por exemplo, que 95% das pessoas que entram e saem de
Manhattan todos os dias façam uso (satisfeitas) do eficiente sistema de transporte público[4].

Tal situação se contrapõe ao lastimável estado das coisas em Lagos, onde o fato de as pessoas viverem com
apenas algumas horas de eletricidade por dia não se explica por estatísticas como a que mostra que a Nigéria
foi, em 2008, o sétimo produtor de petróleo do mundo e que goza de significativo potencial hidrelétrico. Mas
talvez se explique pelo fato de o país estar “entre os dez países mais corruptos do mundo”[5].

No Brasil, a primeira macrometrópole do hemisfério sul está em formação: uma mancha urbana que reúne 65

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municípios e 12% da população brasileira[6]. O epicentro é São Paulo, mas nesta mancha está também
Campinas, onde fica, por exemplo, o maior terminal aéreo de cargas do país, o Aeroporto de Viracopos.

Bogotá, na Colômbia, por sua vez, tem aos poucos vencido problemas sociais recorrentes a partir de ações
como a implantação de 300 quilômetros de ciclovias na cidade ou a instalação de uma rede municipal de
bibliotecas que registrava, há pouco mais de uma década, sete milhões de usuários por ano[7].

Em todos esses lugares, tem-se verificado nos últimos anos alguns movimentos que, a despeito de todas as
diferenças, lhes é comum: um deles é o desenvolvimento imobiliário.

Constroem-se edifícios gigantescos em Shangai[8]. São Paulo, por seu lado, aparecia em 2008 em quarto
lugar em um ranking de desenvolvimento imobiliário comercial que classificava 63 cidades[9].

Londres, em 2007, era um dos mercados imobiliários mais caros do mundo (só atrás de Mônaco e Nova
York), hiperinflacionado pelo fato de a cidade ser o principal centro financeiro global e o destino preferido
das chamadas indústrias criativas[10].

Lourival Sant´Anna[11] fala da situação em Moscou: “Em menos de duas décadas, o mercado imobiliário
moscovita saiu da propriedade privada para a proibitiva [...], com enorme fôlego”. Em Mumbai, “morar em
certas partes (da cidade) chega a ser mais caro que em Nova York ou Londres, seja para comprar um
apartamento de R$ 4,6 milhões ou pagar aluguel de R$ 7,8 mil por um três-dormitórios”[12].

Em Nova York, aliás, fala-se em “construção de lajes sobre estradas e ferrovias, que serão a base para
novos espaços imobiliários”[13]. Reflexos de uma cidade de nunca parou de crescer e desenvolver-se.

Aos movimentos locais, regionais e mundiais de reestruturação imobiliária por meio da expansão de área
construída e do espalhamento geográfico urbano das edificações, acrescenta-se situações de aumento de
vazios imobiliários, com edifícios disponíveis para venda e aluguel e pessoas físicas sendo retiradas de seus
imóveis por conta da dificuldade de quitar hipotecas, em função da crise que experimentam vários países.

Mundialmente, a crise do mercado imobiliário acontece simultaneamente à sua expansão, evidenciando um


desequilíbrio na distribuição geográfica de imóveis nas áreas urbanas e, ao mesmo tempo, uma enorme
inadequação nas formas correntes de ocupação dessas edificações, bem como a fragilidade de muitos dos
sistemas de financiamento imobiliário, em especial os voltados para pessoas físicas e para grupos sociais de
baixa renda.

O espaço urbano (e sua ocupação cada vez mais extensiva) de fato passou há muito ao protagonismo da
cena mundial. O significado dado às cidades e às suas mercadorias (ela mesma, a cidade, uma mercadoria)
no circuito de produção e reprodução capitalista é tão grande que faz com que destinos de todo o mundo
passem a ser altamente valorizados – a despeito de suas fragilidades –, não somente em termos materiais,
mas também em termos sociais e simbólicos.

Desde sempre, a produção imobiliária foi atividade econômica promissora. Já nos idos de 1880 se falava,
em Manhattan (desde então o grande foco de espacialização material de riquezas nos Estados Unidos), da
construção de grandes edifícios comerciais e da mudança do padrão construtivo da Quinta Avenida, a artéria
mais importante de Nova York[14].

Este momento também é descrito por Lewis Mumford[15], que comenta a importância econômica do setor
imobiliário ao falar sobre as construções destinadas a alojar escritórios, nascidas do desenvolvimento
tecnológico e industrial do final do século XIX: “Esta época encontrou a sua forma num novo tipo de edifício
de escritórios, nos Estados Unidos, nos anos de 1880: simbolicamente, uma espécie de arquivo vertical de
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seres humanos, com janelas uniformes, fachadas uniformes, acomodações uniformes, subindo um andar após
o outro, na concorrência com outros arranha-céus pela conquista da luz, do ar, mas, acima de tudo, do
prestígio financeiro”.

Se há tempos a prática de construir e vender imóveis é interessante desde o ponto de vista econômico,
desde há algumas décadas passou a ser um negócio estratégico – por conta dos resultados da atividade e da
sua proximidade cada vez maior com o sistema de produção e reprodução capitalista, em sua expressão
material, nas cidades. Um processo contínuo e sempre evolucionista, cuja história é relevante.

A organização humana partiu de um modelo social primitivo e mais tarde feudal para tornar-se industrial e,
depois, realizar-se na sociedade urbana preconizada por Lefebvre[16]. Em termos espaciais, Julio Vinuesa
Angulo e M. Jesús Vidal Domínguez[17] enxergam a evolução do modelo de apropriação e uso do “solo
rústico até o espaço construído” e organizado para o mercado, por meio do parcelamento, que se transforma
em “uma função essencial do crescimento urbano, tornando o solo imprescindível para o crescimento da
cidade e fazendo aumentar o valor da propriedade privada do solo”.

A mercantilização do solo pela atividade imobiliária expõe fenômenos característicos da urbanização


capitalista – a fragmentação, a implosão/explosão das cidades para fora e sobre si mesmas, a formação de
novas centralidades, a hierarquização, a (i)mobilidade, a exclusão, a segregação.

Isso exacerba a condição da raridade do espaço, que Lefebvre (escrevendo em 1972) reconhecia, mas
tomava em certa contradição. Segundo ele, o espaço não era raro. Lefebvre[18] dizia: “Tomado em
absoluto, pode-se falar em raridade? Não. Ele (o espaço) se abre de todos os lados. As técnicas permitem
“construir” o que se quiser, tanto na superfície quanto no fundo dos mares, nos desertos e nas montanhas, até
nos espaços interplanetários. [...] A penúria do espaço só se observa em “lugares” definidos: nos arredores
dos centros que se mantêm nas centralidades historicamente realizadas ou se estabelecem fora delas”.

Na verdade, Lefebvre[19] estava falando sobre o caráter político da raridade do espaço, sobre a prática
social que se baseia no instituto da propriedade privada da terra, que dá a todo proprietário o direito de
dispor como bem quiser do solo que lhe pertence, colocando-o ou não à disposição da urbanização
capitalista.

A constituição da sociedade urbana traz à tona este e outros problemas, novos, problemas que pedem novas
soluções. Entre os desafios a serem enfrentados por esta realidade contemporânea está exatamente o de
vencer o obstáculo da propriedade privada da terra, matéria prima necessária à ampliação da base material
de circulação do capital. Aluísio Wellichan Ramos[20] diz que “a terra, em princípio entendida como
montante de capital improdutivo imobilizado, adquire importância ao ser alçada à condição de bem
indispensável ao processo de produção de espaços urbanos (pela construção), passando a ser vista como
uma mercadoria, ou como uma forma de capital capaz de gerar lucros e rendas extraordinários aos agentes
envolvidos nos processos de incorporação, construção e financiamento da edificação (ou da produção de
espaços urbanos). A terra aparece como elemento indispensável para a reprodução do capital, entrando na
composição final do valor dos imóveis, gerando rendas e sobrelucros ao agente incorporador”.

A importância da terra urbana expõe as possibilidades de expansão do capital nos espaços urbanos e abre
espaço para o nascimento e amadurecimento de uma atividade econômica que viria provocar profundas
alterações nas cidades: a indústria imobiliária. Diz Antonio Zárate Martín[21] que “os elementos da cidade
(solo, edifícios, moradias, etc.) convertem-se em mercadorias que são trocadas no mercado como qualquer
outra”. Mais relevante do que ocupar o espaço, passa a ser primordial construir, criar bens imóveis,
expandir, embelezar.

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Com o passar do tempo, a produção imobiliária desenvolve-se, aprimora-se e desenha maneiras cada vez
mais eficientes de aliar-se ao capital, este se apresentando também como mercadoria para o financiamento
da construção, da aquisição do imóvel e dos inúmeros e inventivos processos de reestruturação dos espaços
urbanos.

A economia urbana, que antes tinha como preocupação tradicional a formação dos preços da terra, passa a
ter uma preocupação nova: o desenvolvimento imobiliário[22]. Neste processo atuam vários agentes, em
meio a articulações e conflitos, tendo como interesse maior a valorização do capital.

Os papéis desses agentes, muitas vezes, confundem-se. Mariana Fix[23] comenta: “No setor imobiliário,
encontramos um sistema especializado de agentes econômicos que se dedicam a uma ou várias funções –
incorporação, desenvolvimento imobiliário, financiamento, gestão da obra, construção, consultoria,
arquitetura, comercialização e administração predial”. O papel dos agentes pode ser confuso, mas sua
eficiência é inquestionável. Se assim não fosse, o desenvolvimento imobiliário não seria tão notável.

Mas... Como o capital domina o espaço?

O grande boom imobiliário mundial foi registrado a partir da década de 1980[24]. Este crescimento foi em
parte uma resposta à expansão das atividades terciárias e à consequente necessidade de alojá-las em
espaços qualificados (dotados de requisitos diferentes dos apresentados pelos imóveis tradicionais).

Por outro lado, foi somente uma oportunidade de criação de novas estratégias para a produção coordenada
de espaços urbanos, estratégias que trariam bons resultados e investidores[25]. Era a produção da cidade
como mercadoria e também como grande parceira do capital em suas tentativas constantes de expansão e
valorização.

Na contemporaneidade, a expansão do capital se dá pela conquista do espaço[26]. Mas não basta produzir
o espaço, é preciso que as relações sociais de produção aconteçam em uma base ampliada.

Edward Soja[27] explica que as relações sociais de produção são “processos pelos quais o sistema
capitalista como um todo consegue ampliar sua existência, através da manutenção de suas estruturas
definitórias”. Significa que quanto mais amplas forem as bases nas quais se reproduzirem as relações sociais,
mais ampla será a extensão da produção do espaço decorrente dessa reprodução. Segundo o autor, se o
capital domina o espaço por meio da reprodução das relações sociais de produção e “a crise final do
capitalismo só poderá surgir quando as relações de produção não mais puderem ser reproduzidas, e não
simplesmente quando a produção em si for paralisada”, há que se cuidar, portanto, da reprodução das
relações de produção.

Daí a importância da orientação de novos processos produtivos (reestruturação produtiva) e da


ressignificação do espaço (reestruturação espacial), base física de reprodução do capital contemporâneo.
Esses dois processos conjugam o que para Pereira (2006) constitui um movimento de reestruturação
imobiliária.

Dessa forma é que se multiplicaram, nas últimas décadas, as associações entre o mercado imobiliário e o
capital, inclusive o portador de juros (em diferentes momentos também chamado de autonomizado,
monetário, financeiro, fictício e rentista), a forma por excelência de um capital que se expande em termos
mundiais[28]. E iniciou-se um ciclo continuado de ampliação da base das relações sociais de produção de
espaços urbanos. Esta integração do espaço com os circuitos de valorização do capital por meio da
atividade imobiliária resultou produtos imobiliários diferenciados e a transformação da propriedade absoluta
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em outra, desabsolutizada e de caráter total ou parcialmente rentista[29]. Este caminho se deu por conta da
participação do capital portador de juros em todas as etapas do processo, quais sejam, o financiamento da
compra do terreno, a construção e a aquisição do imóvel pelo proprietário.

Outra característica é que boa parte desses imóveis passou a ser comprada também com objetivos rentistas:
para obtenção de renda de aluguel, seja para moradia, seja para o funcionamento de escritórios, sedes
corporativas e outros formatos de negócios, este o modelo mais interessante desde o ponto de vista da
reprodução do capital, dada a necessidade de locação de espaços adequados para as operações do setor
de serviços, em especial nas grandes áreas urbanas.

Fix[30] explica que, cada vez mais, isso acontece porque as empresas optam por alugar espaços, a fim de
deslocarem-se com mais facilidade. Além disso, por não mobilizarem capital na sede própria, têm recursos
livres para investir no próprio negócio ou para optar por aplicações mais rentáveis. Acrescente-se o fato de
inúmeras atividades do setor de serviço necessitarem estar próximas da área de concentração de atividades
complementares e sinérgicas – hotéis perto de edifícios corporativos, restaurantes, escritórios, etc.

Para a autora, “visto da perspectiva geral do sistema, isso significa que o capital total ganha maior mobilidade
ao custo de fixar uma fração do capital, que passa a circular no meio ambiente construído”[31]. Para a
indústria imobiliária, significa oportunidade de inovação.

Trata-se de uma troca: o espaço serve à expansão e valorização do capital e o capital orienta a
ressignificação do ambiente construído. Desde o ponto de vista da gestão do processo, há que se fazer um
acompanhamento mais rigoroso. Com isso, o imóvel, “produto desse sistema, passa a fazer parte da carteira
de investidores [...], ao lado de ações, títulos da dívida, etc., que [...] passam a exigir dele, acima de tudo,
rentabilidade. As características dos edifícios passam a ser definidas pela dinâmica da esfera financeira, nas
relações que estabelece com a circulação do capital no ambiente construído. As singularidades dos edifícios
são removidas em nome da padronização e da homogeneização, de modo que se transformem em um bem
de alta liquidez, mais facilmente negociável no mercado”[32].

Há que se dizer que o setor imobiliário, mais profissionalizado, efetiva e continuamente se desenvolve. Adere
sobremaneira ao capital portador de juros, mas nem sempre cede à “padronização e homogeneização”, nos
termos indicados por Fix[33]. Pode, ao contrário, mostrar ao mercado que se a repetida comercialização de
módulos é favorável à reprodução da mercadoria, sua diferenciação formal também o é.

De alguma forma, a indústria imobiliária segue também em busca da singularidade, não somente no segmento
de produção de moradias, mas, da mesma maneira, na concepção de produtos destinados a funções
específicas[34].

A atividade imobiliária é reconhecidamente uma das mais importantes da economia contemporânea e sua
capacidade de geração de produtos imobiliários renovados é latente. Salgueiro[35] diz que “novos produtos
imobiliários destacam-se na paisagem urbana, pois implicam diversas rupturas com a forma tradicional de
fazer a cidade”.

Por esta lógica, a produção imobiliária vem se alterando, no mundo todo, em dimensão, uso e localização.
Em termos de dimensão, Teresa Salgueiro[36] comenta a mudança de escala dos empreendimentos, muitas
vezes diferentes dos que, antigamente, seguiam a lógica de produção em lotes. Atualmente, os projetos
podem diferenciar-se deste modelo, atingindo escalas maiores e inserindo-se em conjuntos, como os
complexos de múltiplo uso, por exemplo.

No que se refere ao uso, a cidade contemporânea vem encontrando novas alternativas para a inserção dos

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edifícios em uma nova dinâmica de desenvolvimento imobiliário. Salgueiro[37] cita que esses novos produtos
imobiliários “representam a negação do zoneamento rígido que caracterizava a cidade moderna, misturando
atividades no mesmo espaço, reunindo a habitação e o trabalho, o lazer e as compras, residentes e
forasteiros”.

Também em termos de localização mudou a dinâmica da implantação imobiliária. O imóvel, agora, além de
buscar uma posição privilegiada em termos de localização, que lhe garanta boa visibilidade e acesso, precisa
também estar perto de uma vizinhança que lhe seja favorável em termos de sociabilidades e que esteja em
um ambiente que seja agradável desde o ponto de vista estético.

É nesse momento que começam a acontecer processos diferenciados de valorização do capital junto ao
mercado imobiliário, processos esses baseados na importância que se passa a atribuir a elementos que, para
a sociedade, funcionam como propulsores do consumo. Para Salgueiro[38], “[...] o consumo impôs-se ao
comércio desde o momento em que os bens adquirem um valor secundário e simbólico que se sobrepõe ao
seu valor de uso [...]. A mudança das relações das pessoas com os objetos dá novo sentido às práticas de
compras, permite a valorização dos ambientes, das experiências de vida que servem de contexto aos objetos
ou que os objetos hipoteticamente propiciam”.

Neste movimento, a cidade e os produtos imobiliários nela instalados surgem como objetos especiais,
mercadorias desejadas, cujo sentido nem sempre é totalmente apreendido.

Do novo significado do ambiente construído: interpretação de edifícios hoteleiros

Pierre Bourdieu[39] descreve que esta condição de “objetos especiais” é exatamente o que define o caráter
dos bens culturais, que muitas vezes são ininteligíveis e, exatamente por isso, exercem verdadeiro fascínio
sobre as pessoas. Este fascínio, ou a “alquimia social” a que se referiu Bourdieu[40] é, na verdade, uma
transliteração das necessidades de consumo da sociedade.

Na cidade, essas necessidades são exploradas por meio da criação de marcos de distinção que acabam por
caracterizar, historicamente, a cultura urbana. Esses marcos, inseridos no ambiente construído sob inúmeros
formatos, entre os quais as construções, são, em sua forma e em sua função, como que objetos simbólicos.
Ao integrarem-se ao ambiente construído, esses objetos simbólicos ganham novo significado.

No caso das construções, a arquitetura emblemática, a inserção marcante da edificação nos espaços urbanos
e a percepção do imóvel como um objeto simbólico dão novo fôlego à atividade imobiliária, pois estendem o
caráter técnico do bem (como produto imobiliário) a uma dimensão simbólica (transformando-o em artefato
arquitetônico). Salgueiro[41] explica: “Um imóvel de prestígio (pela arquitetura arrojada, pela qualidade dos
acabamentos, pelo custo) situado em um local prestigiado contribui para a visibilidade das empresas lá
instaladas, que disso tiram mais-valias em termos simbólicos de imagem e competitividade. Este capital
simbólico é susceptível de conversão em capital-dinheiro”.

Neste contexto, a atividade de construir encontra novo desafio. É preciso que os profissionais envolvidos
com a atividade imobiliária consigam produzir de uma maneira diferente da comum e encontrar novas formas
de fazer com que a circulação do capital no ambiente construído seja rápida e dê bons resultados. Dito de
outra forma, faz-se necessário desenvolver produtos imobiliários que se tornem artefatos arquitetônicos, a fim
de serem economicamente reconhecidos e mercadologicamente valorizados.

Para isso, profissionaliza-se o setor imobiliário. E “a arquitetura, em particular a arquitetura da cidade, torna-
se referência obrigatória na interpretação da sociedade contemporânea”[42]. Não basta construir objetos, é
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preciso que eles tenham sentido e significado. E é preciso que esse significado se transubstancie em valor.

Martín[43] descreve que a produção de objetos culturais e o reconhecimento da cidade como uma
mercadoria dotada de valor simbólico são efetivamente uma expressão da enorme capacidade de expansão
e valorização do capitalismo contemporâneo. Para o autor, “morfologia e estrutura urbanas refletem o
impacto de um modo de produção cujo principal objetivo é assegurar a circulação e acumulação de capitais
em um marco de estabilidade social que se constrói sobre relações de classe”.

De fato, “os novos produtos imobiliários distinguem-se pelas características que apresentam, pelos processos
que lhes dão origem e ainda pelo capital simbólico que transportam”[44].

O capital busca bons negócios dos quais participar. Gentil Corazza[45] diz que “o objetivo [...] da economia
capitalista não é produzir valores de uso e nem mesmo mercadorias, mas [...] a acumulação e valorização da
riqueza/valor social e abstrata na forma monetária, financeira e mesmo fictícia”.

Em outras palavras, os detentores de capital-dinheiro buscam alternativas de investimento que lhes dêem
bom retorno. No mercado imobiliário, hoje em dia não importa que as mercadorias sejam reais
(representadas pela propriedade física do bem imóvel) ou não (caso do imóvel convertido em títulos
mobiliários).

O mais importante é que a viabilidade da associação entre o mercado imobiliário e o capital já se vem
continuamente comprovando e que, em termos econômicos, essa associação explica o processo
contemporâneo de produção e reprodução de espaços. Para Salgueiro[46], “Do ponto de vista da
circulação do capital, os booms imobiliários coincidem com a transformação do capital do circuito primário
de acumulação (a esfera produtiva) para o circuito secundário (produção do ambiente construído) ou
terciário (reprodução pelas atividades de investimento em ciência e tecnologia indispensáveis à inovação no
circuito produtivo) em épocas de excesso de liquidez e problemas de acumulação registrada no setor
produtivo. Esta posição ajuda também a compreender a importância do investimento na dinâmica imobiliária.
Nos anos (19)80, como resposta às crises da década anterior, aumentou consideravelmente o volume de
capitais em busca de oportunidades de investimento”.

Neste movimento em busca de novas oportunidades de investimento, tem-se continuamente buscado


viabilizar, no mundo todo, a recomposição da forma urbana, pelo aporte de valores na produção do
ambiente construído.

Ocorre que, por trás dessa realidade, há uma pergunta inicial recorrente: qual a medida da importância dos
edifícios e qual a dimensão de sua influência sobre as realidades urbanas, nos diferentes momentos e espaços
de valorização do capital?

Dito de outra forma, os edifícios conseguem inserir-se nas sociedades contemporâneas como mercadorias e
ganhar um significado tal que lhes confira valor diferenciado, a ponto de permitir que a atividade imobiliária
colabore de maneira efetiva para a valorização do capital em geral? Como e quando isso acontece?

A atividade imobiliária pode efetivamente orientar a maximização da dimensão utilitária do espaço (em
termos tanto quantitativos quanto qualitativos) e valorizar o espaço urbano, garantindo a sobrevida e a
contínua expansão do capital(ismo)?

A análise da produção imobiliária contemporânea mostra que sim. Ela, a atividade imobiliária, a partir dos
movimentos de reestruturação produtiva e espacial, é cada vez mais uma atividade propulsora da valorização
do capital.

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Como isso acontece? David Harvey[47] explica que o “capital é um processo, e não uma coisa. É um
processo de reprodução da vida social por meio da produção de mercadorias em que todas as pessoas do
mundo capitalista avançado estão profundamente implicadas. Suas regras internalizadas de operação são
concebidas de maneira a garantir que ele seja um modo dinâmico e revolucionário de organização social que
transforma incansável e incessantemente a sociedade em que está inserido. O processo [...] alcança
crescimento mediante destruição criativa, cria novos desejos e necessidades, [...] transforma espaços e
acelera o ritmo da vida. [...] Por intermédio desses mecanismos, o capitalismo cria sua própria geografia
histórica distintiva. Sua trajetória de desenvolvimento não é previsível em nenhum sentido comum exatamente
porque sempre se baseou na especulação – em novos produtos, novas tecnologias, novos espaços e
localizações, novos processos de trabalho (trabalho familiar, sistemas fabris, círculos de qualidade,
participação do trabalhador), etc. Há muitas maneiras de obter lucros. As racionalizações post hoc da
atividade especulativa dependem de uma resposta positiva à pergunta: ‘Foi lucrativo?’ Diferentes
empreendedores, espaços inteiros da economia mundial, geram diferentes soluções para essa questão, e as
novas respostas derrubam as antigas à medida que uma onda especulativa vai engolfando a outra. Agem no
capitalismo leis de processos capazes de gerar uma gama aparentemente infinita de resultados a partir da
mais diminuta variação das condições iniciais ou da atividade e imaginação humanas. Da mesma maneira
como as leis da dinâmica dos fluidos são invariantes em todo rio do mundo, assim também as leis da
circulação do capital não variam de [...] um sistema de produção de mercadorias para outro, de país para
país [...]. No entanto, Nova Iorque e Londres são tão diferentes entre si quanto o Hudson do Tâmisa”.

Não se trata, portanto, de um movimento particular. Ao contrário, é somente o movimento geral da


“incansável atividade transformativa da acumulação do capital”[48]. Um ciclo ininterrupto de valorização,
desvalorização e revalorização do capital fixo, transformado em ambiente construído. Um continuum de
movimentos de desestruturação e reestruturação que garantem a sobrevida e expansão do sistema capitalista.

Ao investigar se essa teoria se confirma, por meio da leitura de uma produção imobiliária específica – a dos
imóveis construídos para alojar a atividade hoteleira –, é possível perceber que o edifício hoteleiro, artefato
arquitetônico singular (tanto em sua forma como em sua função) e produto imobiliário arrojado e
tecnicamente flexível (com claro potencial estruturante do espaço a seu redor), aparece como elemento cada
vez mais útil às estratégias de valorização do capital no ambiente construído. Trata-se de um elemento cuja
forma e função foram-se alterando com o tempo, de maneira a ajustar a capacidade do edifício, como
artefato arquitetônico e como produto imobiliário, de colaborar para a contínua reestruturação e inovação do
ambiente construído no qual está inserido.

Por isso torna-se relevante buscar compreender, no decorrer do tempo e em todo o mundo, o que mudou
em relação às plantas internas dos hotéis e ao partido arquitetônico dos edifícios, bem como na situação de
implantação das edificações hoteleiras no espaço urbano?

Segundo Nelson Andrade, Paulo Lúcio Brito e Wilson Jorge[49], embora o produto hoteleiro, enquanto
construção, contemple uma planta altamente previsível e uma volumetria que na maioria dos casos se
estrutura em uma “caixa”, alterou-se a tipologia dos edifícios hoteleiros, que passaram a ser desenvolvidos
sob orientação do mercado, mas de maneiras diferenciadas.

O resultado disso, em termos do conjunto contemporâneo de edifícios hoteleiros em operação, no mundo


todo, é uma grande gama de produtos, desenvolvidos para atender às necessidades de cada um dos
segmentos de usuários. Assim, há atualmente um variadíssimo rol de tipologias hoteleiras, traduzidas em
edificações variadas e ajustadas às exigências dos mais diferentes mercados, em diferentes momentos do
tempo e em todo lugar.

É importante ressaltar que esta grande diversidade envolve imprecisões quanto às tipologias hoteleiras, o que
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é analisado por Mariana Aldrigui[50]. Penso que o excesso de tipologias e classificações não é problema,
mas apenas reflexo de especificidades sociais, que se manifestam nas práticas espaciais. Mais do que as
diferenças, lembremo-nos de que “[...] há um problema básico de nomenclatura no que diz respeito a meios
de hospedagem, pois, genericamente, dá-se preferência ao uso do termo “hotel” para designar os meios de
hospedagem em geral. Entretanto, a palavra “hotel” refere-se a apenas parte dos meios de hospedagem [...].
Há outras tipologias, como motéis, hotéis-fazenda, etc. [...]. Por isso, julgamos importante referirmo-nos,
tecnicamente, a meios de hospedagem para designar os estabelecimentos encarregados de comercializar o
direito de hospedagem, por tempo determinado e valor predefinido e estabelecido no contrato. Esse é o
conceito básico da hospedagem comercial, cuja prática se materializa nos edifícios dos meios de
hospedagem”[51].

Para complementar o dito por Andrade, Brito e Jorge[52], penso que a partir da definição do módulo base
da unidade habitacional hoteleira (o que ocorreu na década de 1970, a partir da expansão das redes
internacionais) e do reconhecimento do edifício-hotel como uma construção importante na paisagem urbana,
as principais mudanças na forma e na função dos meios de hospedagem das cidades deram-se em sua
dimensão simbólica.

Após a Segunda Guerra, com os projetos de reconstrução das cidades e um novo contexto de mobilidade e
comunicação dado pela expansão do transporte aéreo e da informática, a hotelaria (como outros setores das
economias urbanas) efetivamente internacionalizou-se, em função da própria expansão da indústria
internacional das viagens.

Na década de 1970, as redes hoteleiras espalharam-se mundialmente, notadamente através da expansão


pelo sistema de franquias, estabelecendo padrões operacionais e de gestão, induzindo a profissionalização
dos meios de hospedagem independentes e definindo as rotinas e procedimentos de utilização dos espaços
internos dos edifícios hoteleiros.

Nesta época, a planta regular dos hotéis e a disposição do mobiliário na unidade habitacional hoteleira (UH)
seguia o padrão das mais importantes cadeias hoteleiras internacionais. Até hoje, a UH é uma variação deste
módulo, desenhado na primeira metade do século XX pelos americanos, com poucas mudanças. O padrão
traduzia-se em interiores modulares e delimitados, pouco flexíveis e desenhados racionalmente, para facilitar
a operação. Com pequenas variações, a distribuição do mobiliário é recorrente e previsível, como mostram a
figura 1 e a figura 2, a seguir.

Figura 1. UH do Ibis Charles Street Hotel, em Manchester (Inglaterra)


Figura 2. UH do Ibis São Paulo Interlagos, em São Paulo (Brasil)
Fontes: Accor Hotels (2011) e Ana Paula Spolon (2008)

Em termos volumétricos, as implantações chegavam a demonstrar pouca sensibilidade em relação ao lugar,

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com volumes estáticos, cartesianos, muitas vezes de grande escala e indiferentes ao contexto do entorno ou
às práticas sociais ali engendradas. Eram edifícios de formas regulares, traçado rígido e sem ornamentos, que
se espalharam por todo o mundo.

O Fontainebleau Hotel (figura 3) é um dos edifícios hoteleiros mais representativos da arquitetura moderna,
em todo o mundo. Construído por Morris Lapidus em 1954, ainda está em operação. O antigo São Paulo
Hilton Hotel (figura 4) inovou em termos de implantação no terreno e em volumetria e forma da edificação,
embora ainda guardasse a rigidez do traçado moderno. Funcionou entre 01/10/1971 e 18/12/2004.

Figura 3. Fontainebleau Miami Beach Hotel, em Miami (Estados Unidos)


Figura 4. Hotel São Paulo Hilton, em São Paulo (Brasil)
Fonte: Wikipedia Commons, 2010

No decorrer da década de 1970 e início dos anos de 1980, os edifícios hoteleiros começariam a despontar
como artefatos arquitetônicos urbanos diferenciados, em meio ao movimento a que se convencionou chamar
de pós-modernidade. Na pós-modernidade, a arquitetura é uma das expressões sociais responsáveis pela
configuração de uma nova forma de cidade, que vai sendo percebida “pelo que irradiam (as) obras
arquitetônicas e urbanas”[53].

A produção arquitetônica orientada a partir das premissas deste momento seria, para Josep Maria
Montaner[54], a expressão da busca, pelos arquitetos, de “soluções alternativas para os critérios culturais
vigentes, [...] soluções [...] mais atrevidas, versáteis e adequadas a cada contexto social”.

Com isso, surge no cenário internacional outra forma de edificação e, por consequência, outra forma de
edificação hoteleira, que busca estabelecer uma “nova aliança entre o desenho e a cultura material e
simbólica”[55].

Trata-se, na verdade, de uma produção arquitetônica eclética que, da mesma forma que a arquitetura
modernista, pode ser percebida como bastante contraditória.

A renovação da forma pela heterogeneidade, a fim de contrapor-se com a homogeneidade do passado,


muitas vezes faz da arquitetura dita “pós-moderna”, ou contemporânea, uma abstração formal, que se
propõe a alcançar a condição de obra de arte. Esta nova forma aplica-se tanto a edificações quanto ao
mobiliário, bem como a objetos cotidianos, com o fim de traduzir a beleza estética.

Susana Gastal[56] comenta que “a pós-modernidade [...] recoloca o belo como questão. [...] no cotidiano,
exige-se um design magnífico nos objetos de uso comum como canetas, talheres, louças, livros, para não
falar das roupas, de acessórios e de carros (e) [...] as imagens abrem espaço para que a beleza e a forma

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avancem para além do estético e se constituam em aura na sociedade de consumo”.

Montaner[57] explica que a produção com essas características está agora voltada para a revalorização do
contexto e do usuário, na direção de uma arquitetura vernacular, reafirmando que “a sensibilidade em relação
ao lugar por parte da arquitetura contemporânea é um fenômeno recente”. Na prática, estamos falando de
uma arquitetura mais plástica, diferenciada, mais expressiva, que busca afirmar-se como linguagem.

Esta forma arquitetônica faz parte do novo circuito de desenvolvimento hoteleiro internacional, inaugurado no
final do século XX e ainda em curso, que apresenta a decoração de interiores diferenciada, o mobiliário
inovador e a edificação hoteleira com volumetria e fachada mais flexíveis e mais integradas às áreas urbanas.

Embora com novo mobiliário e efeitos decorativos interessantes, a planta interior continua sendo
relativamente hermética, dadas as exigências operacionais, como mostra a figura 5.

Figura 5. UH do Básico Hotel, em Quintana Roo


(México)
Fonte: Trendland (2011)

Por fora, entretanto, começam a surgir intervenções estéticas que criam “narrativas visuais, de acordo com
um padrão que, por estar generalizado pela publicidade e pelo cinema, tenderá a repetir-se em diferentes
pontos do planeta”[58] (figura 6 e figura 7).

Figura 6. Hotel Marques de Riscal, de Frank Gehry, em Elciego (Espanha)


Figura 7. Hotel Unique, de Ruy Ohtake, em São Paulo (Brasil)
Fontes: Hotel Traveler (2012) e Sara Mattei (2011)

Neste contexto, Donald McNeill[59] assinala que a relação do hotel com a cidade, que foi importante desde
sempre, agora é muito mais. Na opinião do autor, cada vez mais os hotéis têm aparecido como um elemento
fundamental do espaço urbano, tanto como marcos referenciais, quanto como componentes das estratégias
de reestruturação urbana.
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Hoje em dia, segundo ele, tem-se estabelecido uma maneira de inserção dos edifícios hoteleiros nos espaços
urbanos que está baseada no fato de o capital fixo das cidades ser fundamental para o seu desenvolvimento
econômico e para lhes garantir uma posição diferenciada no cenário regional, nacional e mundial.

Dessa forma, os projetos hoteleiros, sejam eles baseados na padronização e na funcionalidade da hotelaria
internacional dos anos de 1970 ou na unicidade e na diferenciação dos projetos contemporâneos, surgem
como elementos que refletem tendências de consumo, mercados, distinção e marcas. Fazem parte da
complexa geografia da vida citadina e reproduzem, à sua maneira, como que um microcosmo urbano.
Buscam adequação ao padrão global (em termos tanto econômicos quanto culturais) e guardam, por outro
lado, associação a padrões locais.

O projeto arquitetônico hoteleiro contemporâneo dá valor à estética, que vem reintegrar o edifício à vida
social de uma maneira mais contextualizada, tornando a edificação em um objeto simbólico, para além de
simplesmente um objeto técnico.

Ao olharmos para a estrutura material de hospedagem implantada nas áreas urbanas a partir da última
década do século XX, vemos que, de fato, como esclarece McNeill[60], “a relação entre os hotéis e o seu
entorno começa a ser redefinida”, o que, ao que tudo indica, está sendo feito basicamente por meio do
projeto, com uma importante participação dos arquitetos neste processo. Muitas vezes, esta redefinição
envolve somente uma maneira de redesenhar a antiga caixa, para torná-la menos sem graça ou dar-lhe mais
movimento, como mostram os projetos do Axis Viana Hotel (figura 8) e 25 Hours Hotel (figura 9).

Figura 8. Axis Viana Hotel, em Viana do Castelo (Portugal)


Figura 9. 25 Hours Hotel by Levi´s (PI), em Frankfurt (Alemanha)
Fontes: ArchDaily (2011) e Denimology (2011)

Na opinião do autor, os hotéis contemporâneos têm uma função urbana importantíssima, não somente por
conta de disporem de espaços intermediários em que a sociabilidade é constantemente induzida e promovida
(os lobbies, bares, restaurantes, áreas de eventos e equipamentos de lazer), mas também por conta do papel
que a edificação passou a ocupar na própria economia urbana, quando vista como mercadoria.

Outra característica dos projetos hoteleiros atuais, em termos de estrutura física e de inserção no tecido
urbano, é a arquitetura grandiosa, assinada por profissionais famosos, traduzida em megaprojetos, ou em
projetos diferenciados em relação ao que tradicionalmente se poderia esperar de uma planta tão
funcionalmente hermética e inflexível como a hoteleira (veja o caso do hotel Burj al Arab, na figura 10).

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Figura 10. Burj Al Arab, em Dubai (Emirados Árabes Unidos)


Fonte: Destination 360 (2011)

McNeill[61] aponta o design como o principal elemento desses novos projetos e cita que esta nova
“geração de hotéis design” é criada a partir de uma série de estratégias. Para Klumbis[62], “a clientela típica
dos hotéis contemporâneos interessa-se por arte e design, por moda, pela mídia e por tecnologia, tanto
quanto por qualidade e luxo”.

Em outras palavras, as tendências de design têm sido incorporadas aos projetos de arquitetura hoteleira
(bem como a outros produtos imobiliários específicos) de diversas formas, seja na decoração de interiores,
em mobiliário ou no desenho da própria edificação.

Há ainda outro aspecto a ser analisado na configuração dos hotéis atuais – o fato de o seu desenvolvimento
estar cada vez mais atrelado à expansão das marcas (de rede ou independentes) ao cenário do capitalismo
contemporâneo.

Para McNeill[63], “os mercados globais são dominados por seis das maiores operadoras – Marriott, Accor,
Hilton, Intercontinental, Starwood e Carlson-Rezidor SAS, enquanto que há uma série de hotéis vinculados a
grupos de pequeno porte que operam em nível global, tais como Radisson, Hyatt, Meridien, Kempinski”.

Da mesma maneira, o autor chama a atenção para a existência de pequenas sub-redes, implantadas pelas
próprias empresas hoteleiras ou por proprietários individuais, que vêm trabalhando a diferenciação dos
empreendimentos, conseguindo criar propriedades cujo nível de distinção é reconhecido pelo mercado.

Entre essas pequenas “redes” estão a W Hotels, da Starwood (que conta com cerca de 30
empreendimentos em todo o mundo, um deles em Barcelona, figura 11) e a rede brasileira Fasano, com uma
unidade no Rio de Janeiro e uma em São Paulo (figura 12), com os hotéis vinculados a uma cadeia de
restaurantes.

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Figura 11. Vista aérea do Hotel W, em Barcelona (Espanha)


Fonte: The Grand Selection (2012)

Figura 12. UH do Hotel Fasano, em São Paulo (Brasil)


Fonte: Total São Paulo Travel Guide (2010)

A mesma lógica da marca e da distinção é seguida por hotéis vinculados a empresas famosas de outro setor
que não o hoteleiro, como os vinculados à moda, entre os quais estão a Armani, a Bulgari e a Camper,
todas com pequenas redes hoteleiras constituídas.

Mais uma característica a ser considerada na nova estrutura material de hospedagem das cidades são os
projetos hoteleiros que não estão exatamente instalados em um edifício, este considerado como uma

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estrutura construtiva ou como capital fixo.

Nesses casos, o que se vê é uma relação de apropriação em que se constitui uma renda cuja destinação é
questionável, desde o ponto de vista da propriedade imobiliária, uma vez que esta passa a basear-se em um
modelo diferente de tudo o que já se viu.

Os vários exemplos existentes no mundo expõem a criatividade de arquitetos e empreendedores e desafiam


lógica de apropriação do espaço em áreas urbanas.

Alguns são o o Capsule Hotel (VLNR, Figura 13), Sleep Box (Arch Group, Figura 14), o Everland Hotel
(LB, Figura 15) e o TravelPod (Travelodge, Figura 16) - instalações temporárias e móveis, que não se
podem configurar exatamente como construções.

Além do fracionamento do espaço, esses “hotéis” operam o fracionamento do tempo, uma vez que limitam a
estadia a um dia, do qual não se pode usar as 24 horas, uma vez que o espaço pode ser “visitado” por
turistas, como no caso do Everland.

Por extensão, vendem-se períodos inferiores a 24 horas, como faz o Sleep Box, em geral instalado em
lugares de passagem, como aeroportos, nos quais os usuários precisam, eventualmente, de somente algumas
horas de descanso.

Figura 13. Capsule (PI), instalado em Haia (Holanda), em 2009


Figura 14. Sleepbox (PD), instalado em Paris (França), em 2010
Fontes: Nileguide (2010) e PPow (2011)

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Figura 15. Everland Hotel (PD) instalado em Paris (França), em 2008


Figura 16. (PD), instalação da Travelodge perto de Dublin (Irlanda), em 2010
Fontes: TrendHunter (2011) e LB (2010)

A mesma prática de parcelamento do tempo é seguida pelos hotéis cápsulas japoneses – modelo que já foi
adequado em outros lugares, como Estados Unidos, França e Inglaterra - que, além de reduzirem o espaço
ao mínimo necessário, formatam “diárias” equivalentes ao tempo estritamente necessário para as atividades
de dormir, tomar banho e fazer o desjejum. Assim trabalha o Nainawasu/9 Hours Hotel (figura 17).

Figura 17. UHs e indicação de formato de uso por tempo parcelado, no Nainawasu/9
Hours Hotel (PI), em Kioto (Japão)
Fonte: Design Launches (2011)

O que fica claro na análise dos projetos hoteleiros contemporâneos é que existe efetivamente uma rede
material de meios de hospedagem cuja estrutura desafia a lógica funcional, operacional e de gestão
tradicionalmente encontrada em estabelecimentos hoteleiros mais antigos. Trata-se de uma estrutura que
renova o projeto arquitetônico e inaugura novas formas de relacionamento do “edifício” com o urbano.

Algumas vezes, o projeto subverte esta lógica inclusive em termos de desafio aos modelos conhecidos de
produção, apropriação e reprodução de espaços urbanos e de valorização do capital, como no exemplo do
One Single Room Hotel (figura 18), que “funcionou” por um ano na Alemanha (Berlim), instalado na
estrutura de um outdoor.

O esquema mostra o desenvolvimento do projeto e de montagem do hotel. Um usuário[64] conta que se


surpreendeu ao verificar que havia um “banheiro de verdade”, água quente e energia elétrica – além de uma
TV no quarto. A diária foi comercializada por 20 euros, com serviço de quarto incluído.

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Figura 18. Plano de desenvolvimento e estrutura do One Single Room Hotel (PI), em
Berlim (Alemanha), idealizado por Etienne Boulanger e instalado entre 2007 e 2008
Fonte: Association Etienne Boulanger (2011)

Esta rede de edifícios e “pseudo edifícios” dedicados à hospedagem expõe uma evidente característica de
instrumentalidade, uma vez que reafirma as edificações hoteleiras como “agentes indutores de expansão
urbana e de desenvolvimento imobiliário”[65], no contexto de ressignificação dos espaços das cidades
contemporâneas.

Da conclusão sobre o processo contemporâneo de ressignificação dos espaços


urbanos

A análise de contextos contemporâneos de inserção de edifícios hoteleiros no tecido urbano e de seu


redesenho em termos arquitetônicos, tanto em espaços internos quanto em fachada e volumetria, conduz à
percepção de que a estrutura material de hospedagem vem se mostrando um elemento relevante para a
construção da nova cultura urbana e, consequentemente, da constante reestruturação socioespacial. A
influência dos edifícios hoteleiros vai muito além do aspecto econômico, vendo-a como objeto técnico
inserido no ambiente construído. O edifício hoteleiro é parte do ambiente e o modifica, atribuindo-lhe outros
sentidos e significados e orientando novas interações entre ele e a sociedade.

Embora a lógica da cidade contemporânea seja complexa e talvez ainda não seja possível compreendê-la
integralmente, é possível, entretanto, depreender algumas das características que a diferenciam. Na
contemporaneidade, uma das características formais das cidades é que a arquitetura firma-se como um
elemento extremamente representativo dentro do tecido urbano, tanto em termos de sociabilidade quanto em
termos da inserção da cidade no cenário competitivo internacional. Além disso, destaca-se a criatividade dos
arquitetos.

Trata-se de uma nova lógica de urbanização, em nova fase na urbanização capitalista. A estrutura material de
hospedagem das áreas urbanas participa desse novo contexto, ajudando a criar a nova morfologia das
cidades. Insere-se neste processo por meio de uma profunda alteração das características formais do edifício
e da inovação das formas pelas quais ele se insere no espaço urbano. É a dimensão espacial da
reestruturação imobiliária experimentada pelas cidades.

Se a hotelaria se insere no processo contemporâneo de ressignificação dos espaços urbanos por meio de
uma profunda reestruturação espacial de seus próprios equipamentos (edifícios hoteleiros), insere-se também
como produto imobiliário diferenciado.

A compreensão da instrumentalidade dos edifícios como parte do movimento de reestruturação imobiliária,


ou seja, desde o ponto de vista produtivo, mostra como se dá essa inserção. O edifício hoteleiro, recriado
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com nova forma e função, atua como mercadoria e se insere nos circuitos contemporâneos de valorização do
capital, um investimento fixo que se mobiliza como uma mercadoria extremamente versátil.

A hotelaria inova em muitos aspectos. Adere de maneira extensiva ao mercado cultural, permitindo que os
edifícios (tanto no que diz respeito ao volume quanto a interiores) sejam identificados e reconhecidos como
mercadorias culturais. Com isso, colabora para a reestruturação espacial das áreas urbanas e para a melhoria
das qualidades do espaço.

Como produto imobiliário, adapta-se às condições do mercado, configurando-se em vários e distintos


modelos de negócios, de acordo com as necessidades e expectativas dos agentes envolvidos em sua
produção e reprodução. O edifício hoteleiro participa, portanto, dos movimentos gerais de reestruturação
econômica e produtiva. Mas também participa de movimentos específicos e cria as condições específicas de
seu próprio movimento.

Mark Gallaguer e Asieh Mansour[66] destacam ainda o fato de a hotelaria permitir o ajuste contínuo de sua
principal fonte de receitas – as diárias, que por nenhum mecanismo precisam seguir em um tempo
determinado e fechado um valor previamente acordado, bastando que o preço seja divulgado ao hóspede
antes do consumo da hospedagem.

Cada experiência é um novo negócio, fechado a um novo preço. O gestor tem autonomia para alterá-lo
como quiser, orientado, é claro, por parâmetros de mercado e concorrenciais, mas também circunstanciais.
De toda forma, em outros formatos de locação, como o de aluguel regular de apartamentos para moradia ou
de espaços para escritórios, o preço é estabelecido e fixado para períodos específicos de médio e longo
prazos. Só a hotelaria tem essa flexibilidade de fixação de preços em curto prazo.

Disso tudo, erra quem pensa que a atividade hoteleira (em todo o mundo) é amadora, ou que está reduzida
aos seus aspectos operacionais e de gestão. Erra quem avalia que os edifícios hoteleiros são “iguais”. Erra
quem interpreta a hotelaria com olhos ingênuos.

Lembremo-nos da fala de David Botterill[67]: não é possível ignorar as dimensões do poder econômico e
cultural que estruturam a atividade hoteleira. Mais do que isso, é preciso considerar atentamente as relações
entre essas dimensões culturais e econômicas.

A interpretação da hotelaria desde o ponto de vista de sua associação com o setor imobiliário e o
capitalismo contemporâneo mostra que a cultura e o capital não são dissidentes. Ao contrário, Harvey[68]
diz que “precisamente porque o capitalismo é expansionista e imperialista, a vida cultural, num número cada
vez maior de áreas, vai ficando ao alcance do nexo do dinheiro e da lógica da circulação do capital”. E o
capitalismo, enquanto sistema, cresce graças a essas interações bem sucedidas.

Notas

[1] Lefebvre, 2004, 2006.

[2] Pereira, 2006.

[3] Burdett e Sudjic, 2008.

[4] Escobar e Viegas-Lee, 2008.

[5] Sant´Anna, 2008a, p. 48.

[6] Zanchetta, 2008.

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29/08/13 Movimentos contemporâneos de reestruturação urbana e a ressignificação do ambiente construído de cidades inseridas no circuito mundial de viagen…
[7] Lores, 2006.

[8] Nunomura, 2008b.

[9] Dantas e Marchi, 2008, p. 21.

[10] Dantas, 2008.

[11] Sant´Anna, 2008b, p. 30.

[12] Nunomura, 2008a, p. 42.

[13] Escobar e Viegas-Lee, 2008, p. 52.

[14] Hirsh, 1997, p. 11.

[15] Mumford, Lewis. A cidade na história. São Paulo: Martins Fontes, 1998(1961), p. 577-578, citado por Gastal, 2006, p.
173.

[16] Lefebvre, 2004, 2006.

[17] Angulo e Domínguez , 1991, p. 124.

[18] Lefebvre, 2008, p. 123-124.

[19] Lefebvre, 2008.

[20] Ramos, 2006, p. 143.

[21] Martín, 1999, p. 56.

[22] Salgueiro, 1994.

[23] Fix, 2007, p. 15.

[24] Chesnais, 2005.

[25] Salgueiro, 1994.

[26] Lefebvre, 1974, 1999, 2001, 2004, 2006, 2008.

[27] Edward Soja, 1993, p. 115.

[28] Chesnais, 2005.

[29] Tone, 2010.

[30] Fix, 2007.

[31] Fix, 2007, p. 14.

[32] Fix, 2007, p. 15.

[33] Fix, 2007.

[34] Cada vez mais especializada, a área imobiliária associa-se a setores particulares, modelo que tem gerado resultados
subsetoriais interessantes, como mostram, por exemplo, os movimentos de construção de edifícios hoteleiros, ou de
shopping centers. No caso dos edifícios hoteleiros, em meados da década de 1990 testemunhei inúmeras situações em que
redes administradoras hoteleiras no Brasil ficaram à mercê de arquitetos estrangeiros, dada a falta de familiaridade dos
profissionais brasileiros com particularidades da hotelaria que influenciavam direta e profundamente o projeto de edifícios
hoteleiros. Com o tempo, no mundo todo, passaram a existir arquitetos especializados em projetar hotéis e foi mudando a
configuração interna dos espaços das edificações destinadas a este fim e tornando o edifício hoteleiro, cada vez mais, um
produto arquitetônico adequado à função a que se destina e, ao mesmo tempo, um ícone na paisagem das cidades.

[35] Salgueiro, 1994, p. 87.

www.ub.edu/geocrit/b3w-1035.htm 21/27
29/08/13 Movimentos contemporâneos de reestruturação urbana e a ressignificação do ambiente construído de cidades inseridas no circuito mundial de viagen…
[36] Salgueiro, 1994.

[37] Salgueiro, 1994, p. 87.

[38] Salgueiro, 2003, p. 103.

[39] Bourdieu, 2005.

[40] Bourdieu, 2005, 2007.

[41] Salgueiro, 1994, p. 89.

[42] Arantes, 1998, p. 147.

[43] Martín, 1999, p. 56.

[44] Salgueiro, 1994, p. 89.

[45] Corazza, 2001, p. 45.

[46] Salgueiro, 1994, p. 91.

[47] Harvey, 2007, p. 307.

[48] Harvey, 2007, p. 308.

[49] Andrade, Brito e Jorge, 2007, p. 44.

[50] Aldrigui, 2007.

`51] Spolon, 2011, p. 09.

[52] Andrade, Brito e Jorge, 2007.

[53] Pereira, 2006, p. 225.

[54] Montaner, 1993, p. 127.

[55] Montaner, 1993, p. 138.

[56] Gastal, 2006, p. 187-188.

[57] Montaner, 1997, p. 27.

[58] Gastal, 2006, p. 189.

[59] Mcneill, 2008.

[60] Mcneill, 2008, p. 384.

[61] Mcneill, 2008, p. 387.

[62] Klumbis, 2009, p. 04.

[63] Mcneill, 2008, p. 388.

[64] O relato pode ser lido na íntegra em http://www.happyhotelier.com/2008/05/30/street-art-4-the-berlin-billboard-single-


room-pod-hotel-visited. Há também um vídeo (em inglês) do projeto no You Tube, disponível em http://www.youtube.com/
watch?v=A4_3cuv T8igefeature=player_embedded#at=12).

[65] Jacob, 2006, p. 03.

[66] Gallaguer e Mansour, 2000, p. 137.

[67] Boterill, 2007.

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© Copyright Ana Paula Garcia Spolon, 2013.


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Ficha bibliográfica:

GARCIA SPOLON, Ana Paula. Movimentos contemporâneos de reestruturação urbana e a ressignificação


do ambiente construído de cidades inseridas no circuito mundial de viagens: um olhar sobre os edifícios
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