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ALUNO: ALINE ANDRADE SILVA

RA: 820146533

SÃO PAULO, 2020

A CARTA DE ATENAS
LE CORBUSIER

Em 1933, na cidade de Atenas, Grécia, é realizado o IV Congresso Internacional de Arquitetura


Moderna (CIAM), que resulta em um manifesto urbanístico que expressa o pensamento sobre
o meio urbano na época. No que diz respeito à Carta de Atenas, principalmente a de 1933, é a
preocupação que se tem em relação a arquitetura em um período de grande crescimento
urbano. Há aí dois seguimentos diferentes a serem levados em conta: os arquitetos voltados
designadamente à ação de conservação do patrimônio arquitetônico e urbano e os domínios
voltados as propostas de inovação do chamado Movimento Moderno (na arquitetura e
também no urbanismo). Foi esse Movimento Moderno, ocorrido no período entre as duas
Guerras Mundiais, que potencializou o determinismo e confiança dos arquitetos da época,
fazendo com que estes buscassem e procurassem novas tecnologias além de confrontar as
necessidades da população em geral. A Carta de Atenas, como é chamado este documento,
trata as cidades sob o ponto de vista de arquitetos, que reunidos buscam responder aos
problemas urbanísticos causados pelo rápido crescimento das cidades. A Carta, de modo geral,
analisa o estado atual e crítico das cidades, propondo aspectos que deveriam ser respeitados
para a melhoria da estrutura urbana.

A Carta de 1933 resume a visão do “Urbanismo Racionalista”, tendo como principais aspectos
debatidos a necessidade de planejamento regional e infra-urbano, a implantação do
zoneamento, através da separação de usos em zonas distintas, de modo a evitar o conflito de
usos incompatíveis, a submissão da propriedade privada do solo urbano aos interesses
coletivos, a verticalização dos edifícios situados em amplas áreas verdes, a industrialização dos
componentes e a padronização das construções.
Com considerações sobre as habitações, o lazer, o trabalho, a circulação e o patrimônio
histórico das cidades, a Carta prega, entre outros pontos, a separação das áreas residenciais,
de lazer e de trabalho, através da setorização das áreas e de um planejamento do uso do solo.
O grupo internacional de arquitetos então reunidos, reserva aos setores habitacionais as
melhores localidades urbanas e determina que deve haver limites em sua densidade de modo
a evitar problemas futuros. A melhoria da qualidade de vida destaca-se como item de grande
destaque, de modo que pregam que cada moradia deve receber insolação mínima, por direito;
devem afastar-se do alinhamento das vias de modo a distanciarem-se da poeira, gases tóxicos
e ruídos que ali se formam e que as construções mais elevadas distem uma das outras,
liberando o solo para áreas verdes. Os locais de trabalho e moradia devem ficar próximos e as
indústrias devem se concentrar em vias lineares de modo que os setores industriais e
habitacionais sejam separados por zonas verdes.
As periferias da cidade devem ser organizadas como áreas de lazer semanais de fácil acesso,
oferecendo atividades diversas e saudáveis de entretenimento e novas áreas verdes devem
servir ao embelezamento e ao mesmo tempo abrigar instalações coletivas. Quanto a
circulação, deverá ser feita uma classificação e separação das vias segundo seu uso/natureza e
velocidades média, sendo então categorizadas (passeio, trânsito...) e administradas por um
regime próprio. Zonas de vegetação devem isolar os leitos de grande circulação que serão
afastados das edificações.

A Carta de Atenas trata ainda do patrimônio histórico das cidades, decretando que os valores
arquitetônicos devem ser mantidos, respeitando-se a personalidade e o passado próprios da
cidade. Se sua presença for, entretanto, prejudicial, este será destruído e deve dar lugar a
áreas verdes, pois mesmo que destruindo um ambiente secular, bairros vizinhos se
beneficiarão desta mudança. Mas se este possui algum tipo de valor, se buscarão outras
soluções, mas sua conservação não deve acarretar o sacrifício de populações mantidas em
condições insalubres, por exemplo. O escrito prega que não se poderão empregar estilos
antigos em novas construções sob hipótese nenhuma, para que se evite uma reconstituição
fictícia, já que a intenção primitiva é a preservação.
A Carta de Atenas consolida-se então como um documento sobre teoria e metodologia de
planejamento.

O Crescimento urbano desde a Carta até nossos dias, promoveu a duplicação da população e
desencadeou uma crise tripla: ecológica, energética e alimentícia; somadas ainda a crise de
moradias e de serviços públicos. Assim, a raiz dos problemas das cidades atuais – o
crescimento acelerado – não foi algo solucionado, ou ao menos previsto, pelo documento
anterior. Transferências quantitativas de massas humanas migratórias produzem
transformações qualitativas fundamentais que determinam diferentes processos urbanos que
não podem ser controlados ou resolvidos pelo planejamento urbano. As técnicas que estão ao
seu alcance permitem apenas a tentativa de incorporação de áreas marginais à cidade que,
muitas vezes, com a dotação de serviços públicos, saúde ambiental, moradias, etc., agravam o
problema inicial uma vez que se convertem em incentivos para os movimentos migratórios
para as cidades.

Outro ponto revisto assinala a Carta de Atenas afirmando quatro funções básicas do
urbanismo: habitar, trabalhar, divertir-se e circular e que os planos devem fixar sua estrutura e
implantação. Determinaram-se assim cidades setorizadas em funções, onde o resultado é uma
vida urbana amena, onde cada espaço arquitetônico resulta num objeto isolado. O Conceito de
setor para o presente documento alterou-se e “adquiriu-se consciência de que o processo
urbanístico não consiste em setorizar, mas em criar definitivamente uma integração
polifuncional e contextual”
Em relação à Moradia, a principal adição do documento atual considera a comunicação
humana um fator predominante na razão de ser da cidade e que a qualidade de vida e a
integração com o meio ambiente natural devem ser objetivos básicos na concepção de
espaços habitáveis. A casa popular é então um instrumento de desenvolvimento social e o
projeto de casa, de modo geral, deve ser flexível a dinâmica social. A integração deve regular a
localização e a estruturação de áreas residenciais para diversos grupos, sem impor, entretanto,
distinções inaceitáveis para a dignidade humana.
Os Transportes nas cidades é outro ponto revisado e aqui, o transporte público é tratado como
objeto a ser planejado e mantido e o seu custo social avaliado e considerado no planejamento
urbano. Diferindo-se do documento anterior, esta Carta reconhece que não há solução ótima
para os cruzamentos de ruas e reconhece a subordinação do transporte individual ao
transporte coletivo de massa. A cidade deve ser então entendida como uma estrutura em
desenvolvimento, cuja forma final não pode ser definida. Assim, o transporte e a comunicação,
por exemplo, deverão ser projetados de forma a aceitar mudanças de extensão e forma.
Ainda na Carta de Atenas, estabeleceu-se que o interesse privado deveria subordinar-se ao
coletivo. A Disponibilidade do solo urbano apresenta-se neste texto ainda como uma
dificuldade básica que se mantêm no planejamento urbano. A preservação e defesa dos
valores culturais e patrimônio histórico-monumental, de forma mais ampla, afirma a
necessidade de se preservar e conservar tanto o patrimônio histórico monumental como
também o patrimônio cultural, conservando valores que têm um autêntico significado para a
cultura geral. Por isso, a tarefa de conservação, restauração e reciclagem de monumentos
deve considerar sua integração ao processo do desenvolvimento urbano analisando a
viabilidade de tais intervenções, tal como era sugerido na Carta de Atenas.

A Carta de Atenas referiu-se tangencialmente ao processo tecnológico ao discutir o impacto da


atividade industrial na cidade. Neste documento, a tecnologia torna-se um ponto de destaque,
já que alcançou níveis de desenvolvimento que tem afetado nossas cidades e também a
prática da arquitetura e do urbanismo. Sua difusão e aplicação eficaz se tornaram um dos
problemas básicos da época. É necessário que entender que a tecnologia é um meio, e não um
fim: a dificuldade de utilizar processos altamente mecanizados ou materiais construtivos
eminentemente industrializados deve significar um maior rigor no planejamento das soluções
possíveis para o meio. “A tecnologia construtiva deve considerar a possibilidade de reciclar os
materiais fim de conseguir transformar elementos construtivos em recursos renováveis.”
Deve ser ter presente ainda que o processo não termina na formulação de um plano a na sua
execução, mas também nos seus processos de manutenção. Cada região no processo de sua
implementação, deve criar e importar suas normas legais, de acordo com seu meio ambiente,
recursos e características formais próprias.

Porém, as conquistas dos anos 30 são ainda válidas no que dizem respeito à análise dos
edifícios e de suas funções, o princípio de dissonância, a visão espaço-tempo antiperspectiva, a
desarticulação do tradicional edifício caixa e a reunificação da engenharia estrutural e da
arquitetura. Soma-se agora a estas invariáveis a temporalidade do espaço (que corresponde a
visão dinâmica do espaço-tempo-cubista, com enfoque aplicado ao visual e aos valores sociais)
e a reintegração edifício-cidade-paisagem (consequência da unidade entre cidade e campo).
“O novo conceito de urbanização pede a continuidade de edificação, o que implica que cada
edifício não seja um objeto finito, mas um elemento do continuo, que requer um diálogo com
outros elementos para completar sua própria imagem”.

Na carta de Atenas, a arquitetura é defendida como a principal responsável pelo bem-estar e


beleza da cidade, já que é ela que organiza as unidades habitacionais, os locais de trabalho e as
áreas ligadas ao entretenimento nos territórios e, que estabelece as redes de ligação com as
diversas zonas da cidade. A arquitetura torna-se assim, como uma ciência fundamental para o
ordenamento de território das cidades modernas.

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