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28/02/2023, 10:51 UNINTER

ERGONOMIA E ACESSIBILIDADE
AULA 3

Profª Maria Barbosa

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CONVERSA INICIAL

O objetivo desta aula é mostrar como utilizar tabelas antropométricas para o dimensionamento

correto de ambientes e mobiliário em diferentes contextos.

Nesta aula, iremos abordar 5 temas:

tabelas antropométricas, atividade e usuário;


aplicação das tabelas antropométricas em projetos de interiores – ambiente e mobiliário – parte

1;

aplicação das tabelas antropométricas em projetos de interiores – ambiente e mobiliário – parte


2;

aplicação das tabelas antropométricas em projetos de interiores – ambiente e mobiliário – parte


3; e

aplicação das tabelas antropométricas em projetos de interiores – ambiente e mobiliário – parte

4.

CONTEXTUALIZANDO

Villarouco (2011) define que os fatores de análise de ergonomia em um ambiente devem

contemplar a acessibilidade, o conforto ambiental, a percepção ambiental, as adequações de

materiais, a sustentabilidade e os fatores antropométricos.

TEMA 1 – TABELAS ANTROPOMÉTRICAS: USUÁRIO VERSUS


ATIVIDADE

A antropometria aborda os temas relacionados às medidas físicas e segmentos corporais. No

contexto desta aula, vamos abordar algumas aplicações especificas para projetos de arquitetura,
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design de interiores e produtos que se relacionam a esses contextos, como mobiliário, equipamentos

etc.

Os fatores antropométricos estão relacionados às medidas de segmentos corporais. Tabelas

antropométricas são produzidas tendo em vista medidas físicas do corpo humano, com diferentes
tipos físicos ou biótipos. A realização das medidas deve ser feita por meio de critérios e instrumentos
padronizados.

1.2 USUÁRIOS E ATIVIDADES

A antropometria desenvolveu-se a partir da Primeira e Segunda Guerra Mundial, em função da

necessidade de adequação dos armamentos dos exércitos e soldados que possuíam diferentes
características biofísicas (Figura 1), relacionadas às proporções dos seus segmentos corporais, de

acordo com sua etnia.

Figura 1 – Características biofísicas

Crédito: Joa Souza/Shutterstock.

A corrida espacial também fomentou estudos antropométricos, pois cada centímetro poderia

comprometer o desempenho ou viabilidade de uma nave ou traje espacial, o que significava perder

tempo, aumentar os custos e inviabilizar o projeto.

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Em função da necessidade de adequações de diferentes perfis de usuários em diferentes


atividades, empresas passaram a desenvolver tabelas antropométricas, pesquisando dimensões de

segmentos corporais de diferentes tipos de pessoas por grupos étnicos, sexo e idade para o
desenvolvimento de projetos de produtos e ambientes.

Entende-se por ambiente, neste primeiro momento, o espaço ocupado pelo usuário, podendo
ser um cockpit de um avião ou um posto de trabalho e espaços laborais. Com o tempo, esse

conhecimento foi incorporado a projetos de ambientes industriais, incluindo mobiliário e produtos


residenciais para a população em geral.

Iilda (2005) relata que os padrões de medidas antropométricas inicialmente eram nacionais, e

cada país possuía seu padrão antropométrico, o qual foi sendo alterado levando-se em conta três
fatores.

1. Globalização: aberturas de economias e acordos internacionais para produção de produtos em


um país para ser vendido para o mundo todo.

2. Acordos internacionais para transferência de tecnologia e formação de blocos econômicos para


importação e exportação de produtos.

3. 3. Alianças militares entre países e a necessidade de adequação de material bélico.

O dimensionamento inadequado em projetos gera impactos negativos no uso de ambientes e

produtos. A antropometria, em nosso contexto, visa atender a demandas relativas ao

dimensionamento humano em projetos de arquitetura, design de interiores e de produtos para


beneficiar os usuários finais de seus projetos residenciais e de trabalho.

1.3 PROJETOS DE AMBIENTES DE TRABALHO

Para ambientes de trabalho, a NR 17 estabelece critérios para adaptação das condições de


trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores.

Demandas e aspectos referentes a condições de trabalho relacionados com o layout e

organização do espaço, mobiliário, equipamentos e posto de trabalho são aspectos pertinentes a

projetos de arquitetura e design de interiores que se encontram na NR 17 e estão nos itens:

17.3 Mobiliário dos postos de trabalho;


17.4 Equipamentos dos postos de trabalho; e
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17.5 Condições ambientais de trabalho contemplando conforto sonoro, térmico e iluminação


(Brasil, 1978).

As condições de trabalho citadas na NR 17 se referem também aos aspectos de levantamento e


transporte de carga/materiais. Em geral, esses parâmetros são coletados e analisados por médico de
trabalho, ergonomistas e fisioterapeutas.

A organização do trabalho, que envolve os aspectos cognitivos e organizacionais, em geral são


atendidos por psicólogos ou profissionais de RH para análises cognitivas necessárias à função,
treinamentos específicos de cada área e por profissionais de consultorias com domínio em gestão

empresarial.

Por isso, para o atendimento pleno dos requisitos de ergonomia física, cognitiva e

organizacional, é necessária a atuação de uma equipe interdisciplinar, de modo a proporcionar o

máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente no ambiente de trabalho.

Saiba mais

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Subsecretaria de Assuntos

Administrativos. Cartilha de ergonomia: aspectos relacionados ao posto de trabalho. Brasília:

Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartilha_


ergonomia.pdf>. Acesso em: 23 nov. 2021.

TEMA 2 – APLICAÇÃO DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS – PARTE 1

Como citamos anteriormente, tabelas antropométricas são produzidas com base em medidas
físicas do corpo humano, com diferentes tipos físicos ou biótipos. A maioria das tabelas com medidas

antropométricas existentes em livros referem-se à antropometria estática e trazem padrões de outras

nacionalidades e isso pode representar um erro fatal em um projeto.

Se compararmos a altura de um americano, por exemplo, com um asiático, em geral os

americanos possuem estatura e seguimentos corporais maiores (Figura 2).

Figura 2 – Diferenças antropométricas entre etnias


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Fonte: Iida, 2005.

Quando você usar tabelas antropométricas, verifique qual é a referência de medições dessas
tabelas. Aconselhamos que você busque referências de medidas em tabelas antropométricas

brasileiras. É importante frisar que, mesmo no Brasil, há diferenças antropométricas por região.

Couto e Couto (2020) fizeram levantamentos antropométricos com a população dos estados do

Sul e do Nordeste do Brasil e observaram variações antropométricas nessas duas regiões. Há uma

prevalência maior de pessoas altas no Sul do que no Nordeste. Por isso, é interessante observar as
diferenças e a fonte dos dados fornecido em cada tabela e qual se adequa melhor ao seu projeto.

De acordo com as especificidades e complexidades de projetos de produtos e ambientes, é

aconselhável a coleta de medidas representativas diretamente do perfil de usuário do público-alvo,


no entanto, enquanto for possível, o uso de tabelas antropométricas é mais viável e aconselhável.

A coleta de dados antropométricos é complexa, leva tempo e exige a submissão de protocolos a

comitês éticos para coleta de dados com seres humanos, além da Lei Geral de Proteção de Dados

(LGPD), que exige o consentimento do usuário por escrito, para uso de qualquer dado pessoal, como

nome, idade, características pessoais, dentre outras.

Para projetos com baixa complexidade, como os residenciais, que possui um grupo pequeno de

usuários, o ideal é o uso de tabelas antropométricas disponibilizadas em inúmeros livros que

atendem perfeitamente à maioria dos projetos de arquitetura de interiores.


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No entanto, para projetos industriais ou corporativos, talvez seja necessário o levantamento do

perfil dos funcionários/usuários para gerar a própria tabela antropométrica. No caso de pessoas com
deficiência motora, é adequada a medição de seus segmentos corporais para desenvolvimento de
um produto ou mobiliário específico e, se necessário, customizado.

Portanto, o conhecimento de antropometria e medições de usuários é necessário, tanto para


designers de interiores quanto para arquitetos, para a criação de suas tabelas antropométricas ou

para saber como usar as tabelas antropométricas existentes.

2.1 MEDIÇÕES CORPORAIS

Existem catalogados mais de 300 segmentos corporais do ser humano, em diferentes tabelas,
para uso da indústria, por exemplo, comprimento, altura e formato do pé para uso na indústria de

calçados (Iida, 2005).

Algumas indústrias fizeram seu próprio levantamento antropométrico e usam esses dados com

exclusividade, por isso acontece de uma pessoa se sentir confortável com um tipo de sapato e outra

não. Este pode ser um diferencial competitivo, pois, se o sapato se adequa melhor ao formato do seu
pé, com certeza você irá priorizar comprar da marca que proporcionou mais conforto.

Você irá se deparar com tabelas e protocolos para aferição e avaliação antropométrica realizadas
por médicos, nutricionistas, personal trainer e outros profissionais que utilizam diferentes critérios
para mensurar segmentos corporais de acordo com as especificidades de suas profissões.

As avaliações podem incluir peso, dobras cutâneas, Índice de Massa Corporal (IMC), dentre

outros. Alguns profissionais precisam incluir em suas avaliações de posturas levantamentos de pesos

ou cargas, aspectos cognitivos que são abordados pela ergonomia, mas que não fazem parte do

escopo destes estudos.

No contexto de arquitetura e design de interiores, em geral, utilizamos tabelas referentes à

antropometria estática, com as medidas de segmentos corporais e alcances desses segmentos

quando os relacionamos a pequenos movimentos corporais (Iida, 2005).

Em ambientes funcionais e operacionais, com necessidade de movimentos constantes, é

necessário usar tabelas com dados de antropometria dinâmica ou talvez fazer a aferição do usuário,

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de acordo com as necessidades especificas dele, de acordo com a tipologia do projeto para

identificar as zonas de alcance mínimo ou máximo.

Em alguns casos específicos, é necessário saber o peso do usuário, quando, por exemplo,

queremos especificar a densidade de um colchão ou distribuição de carga para uso de algum


mobiliário ou equipamento específico.

O método para aferição dos segmentos corporais do usuário pode ser direto, com uso de
instrumentos como réguas, fita métricas, esquadros etc. e indiretas, quando usamos fotos, scanners
3D ou algum aplicativo mobile.

A realização de medidas deve ser planejada de acordo com os objetivos, definindo quais

medidas são realmente necessárias. Além disso, é necessário buscar protocolos validados e selecionar

o que melhor se adequa à sua necessidade e especificidade de projeto. Para cada protocolo, há

instrumentos diferentes que alteram a maneira como as medições serão realizadas e como será a
análise dos resultados, tendo em mente o objetivo do projeto.

É importante frisar que qualquer inferência e interação com o ser humano, seja para aferição de
medidas ou qualquer ação que haja toque no seu corpo, é necessário um Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE) para uso dos dados pessoais de qualquer natureza.

É importante ter sempre em mente que o melhor projeto é aquele em que o usuário adota
posturas naturais, evitando esforços incompatíveis com suas características físicas, por exemplo, um

idoso que faz um esforço extra para se levantar de uma poltrona, que não tem um apoio de braço ou

é muito baixa, ou uma pessoa com características endomórficas que não consegue sentar em uma

poltrona porque o espaço entre os braços é pequeno para suas proporções corporais.

Figura 3 – Segmentos corporais

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Fonte: Panero; Zelnik, 2008.

No exemplo do assento (Figura 3) para um perfil endomorfo, o assento pode ser mais largo
(medida E) e talvez mais baixo (medida B), para maior conforto do usuário.

Panero e Zelnik (2012, p. 31) afirmam que as dez dimensões mais importantes são, nessa ordem:
altura, peso, altura quando sentado, comprimento nádegas-joelho e nádegas-sulco poplíteo, largura

entre os cotovelos e entre os quadris em posição sentada; altura do sulco poplíteo, dos joelhos e

espaço livre para as coxas. O sulco poplíteo é a dobra interna do joelho.

TEMA 3 – APLICAÇÃO DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS – PARTE 2

Percentis estão relacionados às medidas mínimas e máximas de uma população. Segundo Ilda

(2005), as medidas antropométricas de homens são maiores que as das mulheres, com poucas

exceções.

As medidas máximas representam o percentil 95, que, em geral, corresponde às dimensões

corporais masculinas. As medidas mínimas representam, geralmente, o percentil 5, que quase sempre
corresponde às dimensões corporais femininas. Chegou-se a essa conclusão após inúmeras coletas

de medidas antropométricas e análise de diferentes tipos físicos (endomorfo, mesomorfo e

ectomorfo) e características étnicas.

Uma unidade de aferição de medidas encontrada nos gráficos e na literatura da antropometria é o

percentil. O termo se relaciona à estatística descritiva, em que os percentis são as medidas da

amostra ordenada em 100 partes, cada qual com uma porcentagem de dados aproximadamente

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igual [...] os cálculos antropométricos realizados pelos militares americanos, que optaram por

excluir 5% da população situada na extremidade inferior e outros 5% da extremidade superior dos


gráficos. Assim, acomodaram 90% da população medida pelos padrões militares. O valor de 5% é

denominado percentil 5 e o valor de 95%, percentil 95. (Souza, 2019, p. 50)

Saiba mais

Uma tabela com as medidas corporais básicas usadas na arquitetura você encontra no livro
de Souza (2019), que consta nas referências desta aula.

SOUZA, D. A. de et al. Ergonomia do ambiente construído. Porto Alegre: SAGAH, 2019.

3.1 PERCENTIS EM TABELAS ANTROPOMÉTRICAS

Nas tabelas antropométricas, cada medida é ordenada de acordo com o número de vezes em

que ocorrem, ou seja, a frequência com que esses valores aparecem durante a medição.

Vamos revisar o significado de percentil, usando o exemplo de um gráfico com distribuição

normal, de um levamento de altura de um grupo aleatório de usuários.

Figura 4 – Exemplo com significado de percentil de altura

Fonte: Guimarães, 2004.

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Foi observado que esses valores/medidas são representados por uma curva de Gauss ou curva

normal, como exemplificada na Figura 4 de um gráfico com exemplo de coleta de alturas de um


determinado grupo de pessoas.

Esse gráfico indica que a maior frequência/ocorrência de uma medida está na área central do
gráfico. As ocorrências de uma medida diminuem nos dois extremos do gráfico, tanto medidas
referentes à menor altura (5% das medidas realizadas) quanto as medidas referentes à maior altura

(95% das medidas realizadas). Na arquitetura especificamente, alguns autores orientam trabalhar
com a amplitude de 90% da população, no entanto, aconselha-se também a verificar cada contexto
de projeto.

Em vários estudos, foi observado também que, na área central da curva normal, tanto a moda, a

mediana ou a média aritmética era coincidente.

De maneira bem resumida, moda, nesse contexto, é o valor que ocorre com maior frequência em
uma série de medidas tomadas ao acaso. Mediana é o valor que divide uma série de medidas em

duas, ou seja, o número de valores ordenados antes ou depois da mediana é o mesmo. Média
aritmética é o resultado encontrado depois de somar todos os valores e dividi-los pelo número de

valores que foram coletados (Guimarães, 2004).

Esse é um conteúdo de estatística descritiva, sobre o qual você pode, caso queira, buscar se

aprofundar, pesquisando os termos e aplicações práticas para o contexto da sua profissão.

O conteúdo de estatística descritiva será aprofundado em outra ocasião, pois requer

embasamentos (matemáticos) e abordagens que fogem ao escopo de nossos estudos.

3.2 PERCENTIS ANTROPOMÉTRICOS

É importante entender que, quando falamos de percentis antropométricos de uma pessoa,


estamos nos referindo apenas a uma dimensão ou segmento corporal. Por exemplo, podemos ter

interesse apenas nas dimensões que se relacionam com a antropometria estática para uma posição

sentada, então as medidas antropométricas ou percentis que me interessam nesse contexto são as

medidas corporais que se relacionam com o assento, o encosto ou apoio para os braços.

Panero e Zelnik (2012) defendem que os seres humanos não possuem dimensões corporais
uniformes. Uma pessoa pode ter uma altura com percentil 50% (média) e possuir diferentes percentis
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em cada segmento corporal como exemplificado na Figura 5 e no Quadro 1.

Figura 5 – Segmentos corporais

Fonte: Panero; Zelnik, 2012.

Quadro 1 – Segmentos corporais e alcances

ITEM SEGMENTOS CORPORAIS – ALCANCES PERCENTIL

A Estatura (Altura) 50

B Alcance lateral de braço 55

C Comprimento da mão 60

D Altura do joelho 40

Fonte: Panero; Zelnik, 2012, p. 35

Portanto, com esse entendimento, fica mais fácil compreender que não há um usuário médio.

Somente 4% da população têm três segmentos corporais na média e somente 1% da população tem

4 segmentos corporais considerados na média. Não foi achado, em nenhum levantamento, pessoas

com 10 dimensões médias. Usar medidas do percentil 50% de uma tabela antropométrica e criar um

projeto com estas medidas, achando que está atendendo à maior parte da população, poderia ser

um erro fatal, dependendo do projeto.

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Você poderia optar por um percentil 5% ou 95% que atenderia um número maior de usuários,

dependendo da tipologia de projeto. A seleção de dados antropométricos adequados deve ser de


acordo com a necessidade específica de cada projeto (Panero; Zelnik, 2012).

De maneira resumida, em se tratando de dimensionamento humano, podemos destacar cinco


princípios sugeridos por Iida (2005).

1º Princípio: os projetos dimensionados para a média da população (um público especifico


que foi medido), ou seja, para o percentil 50%, apenas em projetos de uso coletivo quando se
trata de antropometria estática. Isso não quer dizer que seja ótimo para todas as pessoas. Não
existe pessoa média, já que os percentis/medidas das tabelas se referem aos segmentos

corporais.
2º Princípio: os projetos são dimensionados para um dos extremos da população percentil 5%

ou 95%, para o dimensionamento de projetos, é necessário definir qual o percentil que mais se
adequa ou a variável limitante, pois há situações que a média não é recomendada e, portanto,

para cada projeto, uma decisão.

3º Princípio: os projetos podem servir para diferentes faixas da população, por exemplo, a
média de altura do homem brasileiro é 1,67m. 95% da população em geral (de diferentes

etnias) possuem 1,82m. O padrão para a altura de uma porta é 2,10m. Isso significa que tanto a
pessoa mais baixa quanto a pessoa mais alta passam confortavelmente por uma porta com

padrão de 2,10m de altura.

4º Princípio: os projetos possuem opções de dimensões reguláveis para diferentes faixas de


usuários ou população, como mesas de trabalho com alturas reguláveis, para ajustes de

diferentes alturas de profissionais que trabalham por turno. É aconselhável regulagens em

variáveis críticas, como a regulagem de altura, pois, para cada regulagem, os custos de

fabricação aumentam. Portanto, o profissional deve considerar esses custos no projeto.


5º Princípio: os projetos podem ser adaptados ao indivíduo para usos específicos, por

exemplo, por faixa etária, como os idosos ou pessoas com necessidades motoras, visuais,

auditivas, dentre outras.

TEMA 4 – APLICAÇÃO DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS – PARTE 3

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Panero e Zelnik (2012) apontaram, em suas pesquisas, a escassez de dados adequados de

antropometria específicos para o uso de arquitetos e designers de interiores e da dificuldade de


encontrar dados úteis a esses profissionais, dentro de uma única fonte de referência.

Sendo assim, Panero e Zelnik (2012) fizeram um compilado de dados que envolveram mais de
100 estudos de antropometria, envolvendo mais de 1000 diferentes medidas corporais. Foi percebido
que os percentis 5 e 95 são as mais indicados para as finalidades de projeto. Devido a muitas

variáveis e tabelas existentes, é necessário que o profissional tenha bom senso para selecionar as
dimensões de tabelas antropométricas, de acordo com o projeto e o usuário, correlacionando a
idade, sexo, ocupação e etnia.

Fizemos uma síntese de aplicação de medidas e percentis, como exemplo para aplicação em
projetos, que apresentaremos na sequência, embora sugerimos fortemente que leia o material

original dos autores, pois Panero e Zelnik (2012) são uma referência para consulta em sua prática
profissional.

Quadro 2 – Aplicação de medidas e percentis – Estatura (altura do usuário)

Crédito: Barbosa, 2021.

Quadro 3 – Aplicação de medidas e percentis – Alcance vertical em pé

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Crédito: Barbosa, 2021.

Quadro 4 – Aplicação de medidas e percentis – Altura usuário sentado normal

Crédito: Barbosa, 2021.

Quadro 5 – Aplicação de medidas e percentis – Alcance vertical sentado

Crédito: Barbosa, 2021.

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Com essa síntese de aplicação de medidas e percentis, observamos que a escolha de medidas

antropométricas mínimas e máximas está diretamente relacionada ao contexto e especificidade do


projeto e os segmentos corporais a eles relacionados.

4.1 ALCANCE E ESPAÇO LIVRE

Os critérios para definir percentis e medidas mais adequados e relevantes para o projeto devem
sempre priorizar as necessidades do usuário. É essencial observar se os dados consultados em
tabelas antropométricas se referem a medidas estáticas, dinâmicas ou funcionais.

Em geral, quando se fala de alcances dos braços, a partir de uma posição em pé ou sentada, o

percentil 5 deve ser utilizado, pois indica que 5% da população que é mais baixa será atendida e 95%
da população que é mais alta e possui maior alcance também será atendida. Quando a preocupação

é com os espaços livres e de fluxos, o percentil 95 deve ser usado, pois se o espaço é adequado para

usuários com maiores dimensões corporais, será confortável também para o percentil 5 (Panero;
Zelnik, 2012).

Figura 6 – Percentis mínimos e máximos

Fonte: Couto; Couto, 2020.

A Figura 6 mostra as diferenças dimensionais dos percentis 95 e 5, baseados em Couto e Couto


(2020), de um levantamento antropométrico do sexo masculino em Curitiba/PR, onde a estatura do

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percentil 95 é de 185,0 de altura e a estatura do percentil 5 é de 162,1. A maioria da população

masculina, nesse levantamento, foi com percentil 95.

4.2 DIMENSÕES OCULTAS

Embora o contexto abordado aqui seja o antropométrico, relativo às medidas do ser humano,

devemos considerar também as dimensões dos espaços vazios e distâncias necessárias para as
relações de uso do espaço por seres humanos e suas relações consigo e com o outro. Considere
sempre as questões que envolve os alcances sem deixar de lado as dimensões para os espaços livres,

fluxos e circulação, tanto para projetos de ambientes quanto de mobiliário.

As dimensões ocultas foram categorizadas em íntimo, pessoal, social, público e essas dimensões
devem ser analisadas para cada tipologia de projeto.

Cada categoria de dimensões para espaços livres é dividida em duas fases: próxima e distante.

Quadro 6 – Dimensões para espaços livres

CATEGORIAS FASE PRÓXIMA FASE DISTANTE

ÍNTIMO Pele com pele 45,7 ~ 15,2cm

PESSOAL 121,9 ~ 76,2cm 76,2 ~ 45,7cm

SOCIAL 365,7 ~ 213,4cm 213,4 ~121,9cm

PÚBLICO 762 ~ 365,7cm 762cm

Fonte: Panero; Zelnik, 2012, p. 39.

Para pessoas que estão em movimento, a zona de conforto pessoal é um espaço dimensional

com diâmetro em torno de 106,7 cm com 0,93m², e a zona de toque em torno 0,29m² (61,0 x 47,7

cm), como mostra a Figura 7.

Figura 7 – Dimensões ocultas

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Fonte: Panero; Zelnik, 2012, p. 41.

Panero e Zelnik (2012) sugerem que o tamanho, a forma e o grau de invasão do espaço pessoal
de cada pessoa está relacionado à construção cultural e psicológica do indivíduo.

De maneira prática, esse conceito ajuda a estabelecer parâmetros antropométricos mínimos para
o dimensionamento de circulação de pessoas em um ambiente.

TEMA 5 – APLICAÇÃO DE MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS – PARTE 4

Atualmente, há uma tendência de crescimento do número de idosos no mundo, o que demanda

alterações projetuais em ambientes construídos para adequação a uma nova fase da vida deste perfil
da população. Vamos abordar um pouco sobre esse perfil de usuário e de pessoas com deficiência.

5.1 DADOS ANTROPOMÉTRICOS DE IDOSOS

Em quase todas as tabelas antropométricas disponíveis, não há levantamento de dados

antropométricos de pessoas idosas ou com deficiência.

Panero e Zelnik (2012) observaram alguns padrões em levantamentos realizados com esse perfil
de usuários e identificaram que pessoas mais velhas, em geral, são mais baixas e têm alcance menor

do que jovens, principalmente em alcances verticais.

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Figura 8 – Redução da flexibilidade dos membros superiores em idosos

Crédito: Piotr Marcinski/Adobestock.

O processo de envelhecimento não é uniforme para todas as funções fisiológicas e em uma


idade específica, pois há vários fatores envolvidos. No entanto, Iida (2005) reforça que a pessoa

começa a diminuir sua estatura após os 50 anos. As maiores implicações ocorrem na antropometria

dinâmica. Há uma redução dos alcances e flexibilidade, principalmente nos braços. Por isso é
necessário fazer reduções dos dados antropométricos de tabelas, quando o projeto envolver pessoas

idosas.

5.2 DADOS ANTROPOMÉTRICOS DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Pessoa com deficiência é o termo que foi adotado na Convenção Internacional sobre os Direitos

das Pessoas com Deficiência, assinada em Nova York, em 30 de março de 2007, e promulgada no

Brasil pelo Decreto Presidencial n. 6.949/09. Pessoas com deficiência são aquelas que não podem
exercer de maneira plena suas aptidões físicas, em consequência de acidentes, doenças ou causas

congênitas. As deficiências são classificadas em deficiências físicas, visuais, auditivas, mental e

múltiplas (Brasil, 2004; Brasil, 2009).

Cada projeto e tipologia de deficiência tem necessidades específicas a serem atendidas e

transcende os conteúdos aqui apresentados, portanto, é necessária uma investigação completa de


leis e regulamentações locais onde o projeto será realizado, para atendimento às prerrogativas de

legislação e normas e, principalmente, às especificidades do usuário para quem está sendo

desenvolvido o projeto.
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Panero e Zelnik (2012) consideram que nessa categoria também se incluem as pessoas que

utilizam muletas, bengalas ou andadores e pessoas que utilizam cachorros guias e de apoio
emocional. Em essência, esses equipamentos de auxilio são uma parte funcional do usuário e devem
ser vistos como uma entidade única. Portanto, devem ser considerados no planejamento espacial dos

projetos de arquitetura e interiores.

5.3 USUÁRIOS DE CADEIRAS DE RODAS

Panero e Zelnik (2012) abordam a dificuldade de encontrar dados antropométricos sobre

usuários de cadeiras de rodas, entretanto, para definição de alcances, espaços livres e dimensões que
impactem o uso do ambiente e de mobiliários, o usuário e a cadeira de rodas devem ser vistos como

um todo, por isso utilizamos o termo Módulo de Referência (M.R.), conforme definido na NBR 9050
(ABNT, 2020).

A cadeira de rodas de maneira isolada possui as dimensões mínimas definidas na norma NBR
9050 (2020), conforme Figura 9, no entanto, é necessário que o arquiteto ou designer de interiores se

certifique sobre qual modelo o usuário usa, e se é motorizada ou não.

Figura 9 – Dimensões cadeira de rodas

Fonte: ABNT, 2020, p. 22.

Panero e Zelnik (2012) salientam que, em geral, os dados antropométricos utilizados de tabelas

são os relacionados aos segmentos corporais dos braços e seus alcances.

A NBR 9050 traz as dimensões para pessoa em cadeira de rodas (PCR) e considera as medidas

entre 5% e 95% da população brasileira para os parâmetros antropométricos utilizados na norma, ou

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seja, os extremos correspondentes a mulheres de baixa estatura e homens de estatura elevada

(ABNT, 2020).

A NBR 9050 estabelece dimensões máximas, mínimas e confortáveis para alcance manual lateral

e frontal para PCDs (Figuras 10, 11) e em diferentes contextos (ABNT, 2020). Portanto, é
imprescindível a consulta a essa norma para identificar quais parâmetros se aplicam em cada
contexto de projeto.

Figura 10 – Alcance manual lateral: pessoa de cadeira de rodas

Fonte: ABNT, 2020, p. 34.

Figura 11 – Alcance manual frontal: pessoa de cadeira de rodas

Fonte: ABNT, 2020, p. 33.

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As dimensões máximas, mínimas e confortáveis para alcance manual lateral e frontal para PCDs,

ilustradas nas Figuras 10 e 11, são utilizadas em projetos de mobiliário, instalação de acionamentos
elétricos e hidráulicos em ambientes diversos.

A NBR 9050 (2020) estabelece parâmetros projetos para normas de acessibilidade, abrangendo
quase todas as dimensões referenciais para PCDs em geral, mais em especial referências
dimensionais para pessoas com cadeiras de rodas contemplando deslocamento em linha reta,

rotação e manobras com e sem deslocamento e demais orientações para uso em projetos de
arquitetura e design de interiores.

Consideramos que suas diretrizes devem ser incorporadas em todos os projetos de arquitetura e

de interiores. Assim, é possível tornar o uso dos ambientes mais inclusivos e confortáveis, pois trazem
parâmetros antropométricos que beneficiam também pessoas que não possuem deficiências.

Saiba mais

1. Residência para cadeirantes:

100% ACESSÍVEIS: empreendimentos da MRV são adaptados às necessidades de

cadeirantes. MRV, 15 set. 2016. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=i2FViNuZw

VE>. Acesso em: 23 nov. 2021.

2. BOUERI, J. Antropometria aplicada a arquitetura, urbanismo e desenho industrial –

Manual de estudos. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008. Disponível em: <https://www.est

acaoletras.com.br/product-page/antropometria-aplicada-%C3%A0-arquitetura-urbanismo-e-des

enho-industrial>. Acesso em: 23 nov. 2021.

TROCANDO IDEIAS

Aproveite para discutir com os demais alunos e pergunte sobre quais tabelas antropométricas

eles têm conhecimento. Busque mais referências de tabelas antropométricas em fornecedores de

produtos como colchões, eletrométricos etc.

NA PRÁTICA
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1. Selecione uma tabela antropométrica de qualquer de um livro (cite a fonte na sua atividade);

2. Faça a aferição dimensional (tire a medida) do seu alcance vertical em pé;


3. Identifique na tabela, em qual percentil você se enquadra (5 ou 95);
4. Faça a aferição dimensional (tire a medida) do piso até a última prateleira de um armário

superior ou prateleira qualquer em sua casa e anote; e


5. Compare com os valores que você anotou do seu alcance vertical em pé e avalie se o seu
armário ou prateleira está instalado na altura correta para o seu percentil, de acordo com esta
tabela antropométrica.

Quadro 7 – Exercício

Crédito: Barbosa, 2021.

Essa atividade permitirá que você verifique se o móvel ou prateleira está instalado ou não, na

altura recomendada ao seu percentil e identificar a qual percentil você pertence.

FINALIZANDO

O objetivo desta aula foi mostrar como utilizar tabelas antropométricas para dimensionamento
correto de ambientes e mobiliário em diferentes contextos.

Como vimos, a antropometria aborda os temas relacionados às medidas físicas e segmentos

corporais, seu tamanho e proporções e os percentis a elas relacionadas para aplicações especificas

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em projetos de arquitetura, design de interiores e produtos que se relacionam a esses contextos,

como mobiliário, equipamentos etc.

O conteúdo é vasto e não se limita aqui, e reforçamos a consulta a normas ABNT NBR 9050-
2020, pois consideramos que suas diretrizes devem ser incorporadas em todos os projetos de
arquitetura e de interiores. Ambientes inclusivos acolhem a todos.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9050 – Acessibilidade a edifcações,


mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.

BRASIL. Decreto n. 5.296 de 2 de dezembro de 2004. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 3 dez. 2004.

_____. Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,
Brasília, DF, 26 ago. 2009.

BRASIL. Ministério do Trabalho. Portaria n. 3.214, de 8 de junho de 1978. Diário Oficial da


União, Poder Legislativo, Brasília, DF, 6 jul. 1978.

COUTO, H. A.; COUTO, D. C. Ergonomia 4.0 – Dos conceitos básicos à 4ª Revolução Industrial.
Belo Horizonte: Ergo Editora, 2020

GUIMARÃES, L. B. M. Ergonomia de produto. 5. ed. Porto Alegre: FEENG/UFRGS, 2004. v. 1.

IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. ed. rev. e ampl. São Paulo: Blucher: 2005

PANERO, J.; ZELNIK. M. Dimensionamento humano para espaços interiores. Trad. Anita Regina

Di Marco. São Paulo: Gustavo Gili, 2012.

SOUZA, D. A. de et al. Ergonomia do ambiente construído. Porto Alegre: SAGAH, 2019.

VILLAROUCO, V. Tratando de ambientes ergonomicamente adequados: seriam ergoambientes?

In: _____. Um novo olhar para o projeto: a ergonomia no ambiente construído. Rio de Janeiro: 2AB,

2011. v. 1.

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