Você está na página 1de 55

ERGONOMIA, AMBIENTE E AS DOENÇAS DO TRABALHO

1
Sumário
A origem e evolução da ergonomia......................................................................... 3

Conceito ................................................................................................................ 11

Intervenção ergonômica ........................................................................................ 12

Antropometria........................................................................................................ 14

Biomecânica ......................................................................................................... 18

Análise dos postos de trabalho ............................................................................. 20

Ergonomia Cognitiva ............................................................................................. 21

Métodos/Ferramentas de Avaliação Ergonômica ................................................. 24

UNIDADE II ............................................................................................................. 1

Abordagem Ergonômica Moderna .......................................................................... 1

A Noção de Variabilidade ........................................................................................ 2

A Integração das Características da População .................................................. 7


UNIDADE III – FISIOLOGIA DO TRABALHO ....................................................... 12

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 23

1
NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em


atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação.
Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais
em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de
promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem
patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras
normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável


e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética.
Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de
cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor
do serviço oferecido.

2
A origem e evolução da ergonomia
A origem e a evolução da ergonomia estão relacionadas às transformações sociais,
econômicas e, sobretudo, tecnológicas, que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. A
ergonomia surge de modo mais sistematizado por volta de 1940, sua origem prática está,
em parte, associada às necessidades de guerra, basicamente ligadas à construção de
aviões e armas mais adaptados às características dos seres humanos e, portanto, mais
facilmente manejáveis por uma quantidade maior de pessoas. Segundo Iida (2005, p. 6):

Com o avanço da II Guerra Mundial (1939-1945), foram utilizados conhecimentos


científicos e tecnológicos disponíveis para construir instrumentos bélicos
relativamente complexos como submarinos, tanques, radares e aviões. Estes
exigiam habilidade do operador, em condições ambientais bastante desfavoráveis e
tensas, o campo de batalha. Os erros e acidentes eram frequentes e muitos tinham
consequências fatais. Todo este contexto fez com que se redobrassem os
investimentos em pesquisas com o objetivo de adaptar esses instrumentos bélicos
às características e capacidades do operador/militar, melhorando o desempenho e
reduzindo a fadiga e por efeito, os acidentes.

Nesta fase inicial da ergonomia, o foco estava em desenvolver projetos e pesquisas


voltados para os aspectos microergonômicos definidos como: Antropometria que é o
processo ou técnica de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes; análise e
definição de controle, de painéis, do arranjo de espaço físico e dos ambientes de trabalho;
questões fisiológicas de esforço físico, higiene nos postos de trabalho e interface com a
máquina, equipamentos, ferramentas, mobiliário e instalações.

Sempre houve preocupação com a adaptação do homem ao meio ambiente, quer


natural ou construído, abordando os aspectos físico-ambientais, como ruído, ventilação,
iluminação, vibração, aerodispersóides, temperatura, mobiliário e as questões posturais.
No início da década de 1960, a ergonomia estava voltada para a área de softwares,
envolvendo-se em pesquisas sobre questões do conhecimento relacionadas a aspectos
específicos da interface com o usuário. E na década de 1980, a ergonomia passa a se
preocupar com o grau de repetitividade, monotonia, desempenho, turnos de trabalho,
segurança, higiene, layout e biorritmo. Nesse contexto, o caráter participativo do
funcionário/cliente/usuário serve como base para as avaliações ergonômicas.

Paralelamente às questões específicas do trabalho, de acordo com Rio e Pires


(2001) “os princípios e técnicas ergonômicas têm-se expandido para fora dos ambientes

3
de trabalho, visando maior conforto e adequação anatômica pelas pessoas. Isto se aplica
aos sapatos, colchões, carros, etc.”. Rio (1999, p. 22-23) distingue três fases históricas
dos estudos e pesquisas relacionados ao trabalho:

1ª. A adaptação do homem à máquina - os estudos se concentram sobre a máquina,


procurando formar e selecionar os operadores de acordo com as exigências da máquina;

2ª. O erro humano - que pode levar aos acidentes e a custos econômicos. Surge a
consciência de que os estudos devem se concentrar no homem, a fim de respeitar e
conhecer seus limites;

3ª. O sistema homem-máquina - as investigações se reconduzem aos sistemas


determinados pelo homem e pela máquina, buscando a mútua adaptação e
operacionalidade.

A crescente globalização da economia e dos processos produtivos desencadeou


um forte sentimento de competitividade, o trabalho vem enfrentando situações inusitadas
para a ergonomia, como apontam Rio e Pires (2001, p. 75):

Novas exigências de produtividade e desempenho que trazem desafios crescentes,


exigindo que as concepções e práticas aliem de maneira mais incisiva as questões de
saúde e produtividade.

A progressiva falta de exercício físico no trabalho exige não apenas a redução de


cargas físicas, mas também a oferta de cargas mínimas necessárias para a manutenção
da saúde de sistemas orgânicos. Como o músculo-esquelético e o cardiovascular.

A intensificação e globalização do estresse psíquico exigem novas abordagens,


para as quais a ergonomia ainda não desenvolveu metodologias eficazes e necessita
solicitar apoio de outras áreas como a psicologia, sociologia e antropologia do trabalho.

Você sabe quais são os principais objetivos da ergonomia? Ela atua para garantir
o bom funcionamento do sistema produtivo das empresas ou se preocupa também com a
saúde dos trabalhadores? Devemos entender que a ergonomia como ciência não é um
estudo independente, mas sim comum a diversas outras disciplinas, como a Medicina do
Trabalho: estudo da biomecânica, antropometria e fisiologia; Engenharia da produção:
EPIs e CIPA; Ciências Humanas e Sociais: psicologia, sociologia, antropologia; e, com a
Economia: administração, relações sindicais. Todas estas áreas do conhecimento buscam

4
criar a ergonomia com uma diretriz ética e técnica fundamental: Adaptar o trabalho ao ser
humano e nunca o contrário!

Entretanto, na prática, nem sempre isto é possível em função das dificuldades


operacionais, que vão desde a insuficiência técnica até as questões financeiras e de
interesses políticos da empresa. Para Vidal (2002, p. 28), trabalhar com ergonomia é
desenvolver maneiras de dar conta dos problemas que surgem na vida profissional. A
forma de encaminhar soluções ou perspectivas para uma ação ergonômica efetiva, o autor
denomina de modalidades, e assim os campos de atuação das ergonomias para ele
podem ser:

1. Quanto ao objeto – Ergonomia de Produto e de Produção.

2. Quanto à perspectiva – Ergonomia de Intervenção e de Concepção.

Moraes e Mont’Alvão (2000) indicam alguns métodos e técnicas para este processo
de intervenção. As autoras recomendam as pesquisas participantes, onde o
usuário/cliente/consumidor/funcionário expressa sua opinião sobre a forma de executar a
tarefa, o funcionamento do posto, as dificuldades pertinentes às ferramentas em uso, ou
mesmo, o desconforto proveniente de alguma situação. Deste modo, nas pesquisas
descritivas o pesquisador/ ergonomista procura conhecer e interpretar a realidade, sem
nela interferir, somente descreve, classifica e interpreta os dados, eventos, fatores,
situações ou problemas. Para tanto, os métodos recomendados pelas autoras para fazer
uma exploração ergonômica são:

1. Observação: direta (pessoalmente), indireta (registro através de fotografia,


filmagem, binóculo, etc.), assistemática (ocasional, sem agendamentos, não segue
nenhum padrão sequencial) ou de forma sistemática (estruturada, controlada, planilhas de
registro, fichas de entrevista, etc.).

2. Registro de comportamento: anotações expressões verbais e não-verbais em


relação a posturas, deslocamentos, comunicações, exploração visual, tomada de
informação, movimento do corpo em geral: cabeça, braços, pernas, olhos, etc.

3. Inquirição: entrevistas tanto abertas como fechadas (questionário), testes,


enquetes, escalas de avaliação, etc.

Seguindo estas técnicas e métodos, podemos estabelecer parâmetros para aplicar


uma intervenção ergonômica dentro de uma organização, seja no chão de fábrica, no

5
operacional, seja nos escritórios, no setor administrativo. Diversas etapas são descritas
por diferentes autores para explicarem a maneira apropriada para a análise ergonômica.
Moraes e Mont’Alvão(2000) dividem este processo em cinco etapas:

A primeira etapa é o mapeamento dos problemas ergonômicos denominada por


Apreciação ergonômica, que consiste de um levantamento sobre situações problemas. Na
segunda etapa, a da Diagnose ergonômica, podemos aqui entrevistar o trabalhador, filmar
e fotografar para depois comparar com as melhorias feitas. O importante é ouvir as queixas
para focar no problema. A terceira etapa busca adaptar as condições de trabalho na
promoção da qualidade de vida, gerando assim maior segurança ao trabalhador. Na
quarta etapa, Avaliação ou Validação é o momento de testar o projeto incialmente proposto
através de simulações ou outras formas pertinentes. A última etapa Detalhamento
ergonômico e otimização consiste de uma revisão durante o acompanhamento do projeto
na busca de falhas para novas melhorias.

A ergonomia objetiva, através de sua ação, “resolver os problemas da relação entre


homem/trabalhador, máquina, equipamentos, ferramentas, programação do trabalho,
instruções e informações, solucionando os conflitos entre o humano e o tecnológico, entre
a inteligência natural e a artificial nos sistemas homem-máquina-produção” (Moraes;
Mont’alvão, 2000, p. 35). Da mesma forma, é válido repetir que a ação do ergonomista
dentro de uma organização, busca melhorar as condições ambientais; aumentar a
motivação, a segurança, o conforto e a satisfação do trabalhador; evitar riscos de
acidentes de trabalho; reduzir o retrabalho e o absenteísmo, como também, atua
diretamente na saúde ocupacional.

PRIMEIRA DEFINIÇÃO DE ERGONOMIA


A primeira definição de Ergonomia foi feita em 1857 na égide do movimento
industrialista europeu. Esta definição foi feita por um cientista polonês, Wojciech
Jarstembowsky numa perspectiva típica da época, de se entender a Ergonomia como uma
ciência natural em um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia, ou ciência do trabalho,
baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”. Esta primeira definição
estabelecia que: A ergonomia como uma ciência do trabalho requer que entendamos a
atividade humana em termos de esforço, pensamento, relacionamento e dedicação
(Jastrzebowski, 1857). KARWOWSKY (1991), assim descreve o texto pioneiro:

6
A partir de que Wojciech Jastrzebowski da Polônia (1857) definiu ergonomia
juntando dois termos gregos ergon= trabalho e nomos= leis naturais, os
pesquisadores têm procurado estabelecer as leis fundamentais baseadas nas quais
este disciplina em desenvolvimento pode ser classificada como uma ciência6 . O
conceito de Jastrzebowski para esta proposta trata da maneira de mobilizar quatro
aspectos da natureza anímica, quais seriam a natureza físico-motora, a natureza
estéticosensorial, a natureza mental-intelectual e a natureza espiritual-moral. Esta
ciência do trabalho portanto significava a ciência do esforço, jogo, pensamento e
devoção. Uma das idéias básicas de Jastrzebowski é a proposição chave de que
estes atributos humanos deflacionam-se e declinam devido a seu uso excessivo ou
insuficiente.

ERGONOMIA NO PERÍODO CLÁSSICO


das por Plaute. Neste mesmo período, anotam-se trabalhos no campo da
toxicologia e da patologia do trabalho, abordando particularmente riscos físicos como os
impactos do temperatura e da umidade (Villeneuve, Idade Média; Coulomb e Lavoisier,
séc. XVIII), riscos ergonômicos como a adoção de posturas inadequadas (Villeneuve,
Idade Média,). Entretanto, é no período dito moderno onde mais elementos podem ser
aludidos dada a existência de fontes históricas mais consistentes como os estudos de
manuseio inadequado de cargas (Vauban e Bélidor, séc XVII), riscos químicos como
inalação de vapores e poeiras (Fourcroy, séc XVIII). Existem, também, registros de
estudos de biomecânica e antropometria (Leonardo Da Vinci), trabalhos de higiene
industrial, basicamente sobre ventilação e iluminamentos dos locais (Désargulires, Hales
e Camus, séc XVI; D’Arret, séc. XIX) e de medicina do trabalho, tanto num âmbito
específico de afecções profissionais (Ramazzini e Tissot, séc XVIII), como na
epidemiologia (Villermé e Patissier, séc. XIX). Este último século é também a origem da
higiene do trabalho (D’Arret, regras de higiene nas fábricas; Patissier, mentor do
movimento para criação da inspeção do trabalho na França). Importante menções cabem
ser feitas ao período que circundou a chamada Revolução Industrial, que não pode ser
limitada a avanços nos processos técnicos mas a toda uma evolução das formas de
divisão do trabalho e das formas de interação entre pessoas e equipamentos técnicos.

A passagem do putting-out system para as manufaturas engendrou a criação de


postos de trabalho que rapidamente se diferenciaram das instalações da produção
doméstica. Em seguida a instrumentação de energia possibilitada pelo sucesso da
Spinning Jenny de James Watt cria novas possibilidades. Mais adiante as propostas de

7
Adam Smith significaram postos e métodos de trabalho distintos de seus antecessores. E
é nesse bojo que aparece a proposição de Wojciech Jastrzebowski, autor da primeira
definição de ergonomia.

ERGONOMIA NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO


A virada do século XIX para o século XX caracterizou-se pela passagem dos
fisiologistas aos engenheiros como os principais agentes ergonômicos. Já no início do
século a proposta de F.W. Taylor não se limitava a um novo projeto organizacional. Seu
estudo sobre as pás - de capacidade maior para o manuseio do carvão, material mais
leve, e de menor capacidade para o minério, material mais pesado e, sem sombra de
dúvida um dos primeiros trabalhos empíricos de Ergonomia publicados que temos notícia.
Isto não se deu por acaso, pois já haviam alguns estudos que permitiam esse tipo de
concepção. Os fisiologistas do final do século XIX já haviam desenvolvido uma série de
métodos, técnicas e equipamentos que permitiam, finalmente, mensurar efetivamente o
desempenho físico do ser humano: o esfigmógrafo, o cardiógrafo, o pneumógrafo (Marey),
ao mesmo tempo que se aprofundava o estudo teórico acerca do desgaste fisiológico e
da energética muscular. Em relativa contemporaneidade a Taylor, J. Amar verificava, de
forma experimental os princípios apontados por Taylor, então acusados de falta de
embasamento. O trabalho de J. Amar, é, nesse sentido, um verdadeiro clássico sobre a
fisiologia experimental do trabalho. Suas formulações constituem-se no primeiro dos
paradigmas da ergonomia: o homem como transformador de energia, o motor humano,
como o próprio autor denomina.

Esta interpretação mecânica serviu de paradigma científico do início do século até


o início da segunda metade deste século, portanto o período de expansão da base material
da produção industrial no planeta. Ela se consolida a partir de 1915 quando, na Inglaterra,
foi formado um comitê destinado a estudar a saúde dos trabalhadores empregados na
indústria de guerra, uma espécie de assistência técnica ao fator humano na indústria. Esse
comitê, formado por médicos, fisiologistas e engenheiros, atacou, na época, uma ampla
variedade de questões de inadaptação entre trabalho e trabalhadores envolvidos nessa
produção. Estes resultados se mantiveram nos tempos (breves) de paz entre as duas
grandes guerras. Forma-se a ergonomia clássica imediatamente após a segunda guerra,
enquanto um disciplina estruturada a partir da atividade dos grupos citados. A definição
de ergonomia adotada por estas pessoas foi a seguinte: ergonomia é o estudo do
relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e ambiente, e particularmente

8
a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia, e psicologia na solução dos
problemas surgidos desse relacionamento. Esta ergonomia com seu paradigma
mecânico/termodinâmico do ser humano foi o desaguar de atividades portanto milenares
a partir de diversas disciplinas científicas como mostra o quadro abaixo.

Quadro 1 - Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico

A ERGONOMIA NA II GUERRA MUNDIAL : IMPORTÂNCIA DOS FATORES


HUMANOS
Na II guerra mundial, a falta de compatibilidade entre o projeto das máquinas e
dispositivos e os aspectos mecânico-fisiológicos do ser humano se agravou com o
aperfeiçoamento técnico dos motores. Foram registradas situações terríveis, agora
atingindo tropas e material bélico em pleno uso. Os aviões, por exemplo, passaram a voar
mais alto e mais rápido. Os pilotos, porém, sofriam da falta de oxigênio nas grandes
altitudes, perda de consciência nas rápidas variações de altitude exigidas pelas manobras
aéreas, e vários outros "defeitos" no sub-sistema fisiológico. Os projetistas não
consideraram o funcionamento do organismo em diversas altitudes e submetidos a
acelerações importantes! Como conseqüência, muitos aviões se perderam. A perda do
material bélico era importante, vultosa e por si só justificaria esforços. No entanto, dado
que o treinamento de um piloto levava dois a quatro anos, a perda de um piloto treinado
se constituía em perda irreversível no duração da guerra. Nessas novas circunstâncias
foram formados, tanto na Inglaterra como nos Estados Unidos, novos grupos
interdisciplinares, agora com a participação de psicólogos somados aos engenheiros e
médicos. Os objetivos eram os de "elevar a eficácia combativa, a segurança e o conforto
dos soldados, marinheiros e aviadores". Os trabalhos desses grupos foram voltados para
a adaptação de veículos militares, aviões e demais equipamentos militares às
características físicas e psicofisiológicas dos soldados, sobretudo em situações de
emergência e de pânico. E o que nos interessa particularmente, estes estudos se

9
baseavam na análise e nos estudos dos materiais que retornavam e no relato de seus
problemas operacionais. Assim sendo, em seu nascedouro, a Ergonomia se alimentou
profundamente de dados e estudos de manutenção bélica.

Segundo nos relata Iida (1990), os cientistas que haviam participado desse esforço
de guerra decidiram continuar a empreitada voltando-se para a produção civil, utilizando
os métodos, técnicas e dados obtidos para a indústria. Numa precursora forma de
extensão universitária, são formados laboratórios universitários para atender a demandas
industriais, com sucesso. Em decorrência é formada em 1947 a primeira sociedade de
Ergonomia do planeta, a Ergonomics Research Society. Nasce a corrente de ergonomia
chamada de fatores humanos (Human Factors Engineering ou HFE ), como uma
continuidade da prática acima mencionada em operações civis. Desde então a corrente
HFE tem buscado responder à seguinte pergunta: o que se sabe acerca do ser humano e
que pode ser empregado nos projetos de instrumentos, dispositivos e sistemas. Em suas
interfaces com o operador humano a HFE, até o presente, tem sido baseada em
procedimentos experimentais que vão do laboratório clássico para o estudo de fatores
humanos em si mesmo até às modernas técnicas de simulação, buscando uma melhor
conformação das interfaces entre pessoas e sistemas técnicos. Os principais tratados de
ergonomia foram produzidos nos anos 60 tendo como dominante a abordagem HFE. Os
mais interessantes a nosso ver são Woodson e Conover, (USA, 1966) e Grandjean (Suiça,
1974), aqui lançado pela Editora Qualimark sob o título “Ergonomia”. Uma compilação
acessível destes livros pode ser obtida em Iida, (1991). Para um uso prático de
especialistas recomendamos o “Ergonomic Checkpoints” editado pela International Labour
Office, em Genebra, com o apoio da International Ergonomics Association – IEA.

A ERGONOMIA NA RECONSTRUÇÃO EUROPÉIA: A ANÁLISE ERGONÔMICA DO


TRABALHO
No período do pós-guerra surgiu uma outra vertente da ergonomia, ensejada pelas
necessidades da reconstrução do parque industrial europeu dizimado. No bojo de um
amplo pacto social, o projeto de reconstrução abria uma janela para o estudo de condições
de trabalho, tendo como emblema a fábrica de automóveis Renault que, dadas suas
características peculiares tornarse-ia um modelo da nova política industrial francesa7 .
Esta segunda vertente partiu da seguinte questão: como conceber adequadamente os
novos postos de trabalho a partir do estudo da situação existente? Desta preocupação
nasce em 1949 com Suzanne Pacaud, a análise da atividade em situação real, resgatada

10
em 1955 por Obrendame & Faverge como análise do trabalho. Estes autores
preconizavam que o projeto de um posto de trabalho deveria ser precedido por um estudo
etnográfico da atividade e mostravam o distanciamento entre as suposições iniciais e o
auferido nas análises. A proposta veio a ser formalizada somente em 1966 por Alain
Wisner8 já como Análise Ergonômica do Trabalho (AET).

AS ERGONOMIAS CONTEMPORÂNEAS
A década de 1970 marca a passagem definitiva da análise situada para o campo
da ação com uma crescente integração da ergonomia na prática industrial, para o que, foi
decisivo o mesmo ambiente que engendra o movimento pela gestão da qualidade. Surge
em especial na Europa um conceito novo, a intervenção ergonômica, hoje expressão
corrente nos EUA, Japão,

França, Alemanha, Canadá, Suécia e Brasil, apenas para citar os países onde
existe um maior avanço da ergonomia. As mudanças de paradigmas econômicos, no limiar
dos anos 80, ampliaram este quadro fazendo brotar duas novas considerações que dão à
ergonomia seu formato atual da ação ergonômica. A primeira delas nos Estados Unidos e
Países Nórdicos, preconiza que os projetos de melhoria ergonômica são mais bem
sucedidos numa perspectiva maior e inseridas na estratégia organizacional, e que foi
chamada a partir de 1990 de Macroergonomia (Brown Jr., 1990). A segunda nova vertente
amplia este mesmo debate para o nível das contingências sociais e culturais, a que uma
empresa está afeita no seu ambiente mediato e que foi cunhada por seu autor em 1974
de Antropotecnologia(Wisner, 1974, 1980). Examinemos, pois, estes três formatos da
ação ergonômica contemporânea.

Conceito
O conceito de ergonomia é derivado das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos
(lei ou regra). “Pode-se dizer que a ergonomia se aplica ao projeto de máquinas,
equipamentos, sistemas e tarefas, com o objetivo de melhorar a segurança, saúde,
conforto e eficiência no trabalho” (DUL; WEERDMEESTER, 1995, p. 17). Muitos autores
buscam conceituar a ergonomia como uma ciência associando-a a diversos enfoques. O
termo ergonomia data de 1857, quando o polonês W. Jastrzebowski nomeou como título
de uma de suas obras o “Esboço da Ergonomia ou Ciência do Trabalho baseada sobre as
Verdadeiras Avaliações das Ciências da Natureza”. Oficialmente o termo Ergonomia foi

11
adotado na Inglaterra em 1949, ano da fundação da Ergonomic Research Society -
Sociedade de Pesquisa Ergonômica. Vejamos alguns conceitos:

“Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho,


equipamentos e ambiente, e particularmente, a aplicação dos conhecimentos de
anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse
relacionamento” (IIDA, 2005, p. 54).

“Ergonomia é o conjunto dos conhecimentos científicos relativos ao homem


e necessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos que
possam ser utilizados com o máximo de conforto, de segurança e de eficácia”
(WISNER, 1987, p. 25).

“Ergonomia é uma nova ciência que transcende a abordagem médica


ortodoxa focada no indivíduo, para, com a coparticipação da psicologia, engenharia
industrial, desenho industrial, etc., conceber, transformar ou adaptar o trabalho às
características humanas” (GUIMARÃES, 1999, p. 43).

“Ergonomia é o estudo do comportamento do homem no seu trabalho,


convertendo-se o mesmo homem no sujeito-objeto, ou ainda, como o estudo das
relações entre o homem no trabalho e seu ambiente” (KROEMER, 2005, p. 28).

Há muitos outros autores que tratam desse tema e também vários outros modos de
conceituar ergonomia, mas independentemente do autor, o enfoque desta ciência está no
homem, no seu processo de trabalho para a eliminação de riscos e esforços, na constante
busca da maximização do conforto e da eficiência do sistema. Para Kroemer (2005) as
contribuições dos estudos ergonômicos auxiliam no ajuste das exigências do trabalho em
relação do ajuste de carga física e mental, a concepção de máquinas, ferramentas ou
instrumentos que ofereçam maior eficácia, precisão com segurança, buscando sempre
adaptar o ambiente às necessidades do trabalhador.

Intervenção ergonômica
O conceito de intervenção ergonômica inicialmente desenvolvido pela escola
francesa de Ergonomia (Wisner, 1974, Duraffourg et al. 1977; Guérin et al. 1991) é hoje
uma forma internacional de atuação do profissional que trabalha com a ergonomia9 . A
efetividade da ergonomia consiste no fato de resultar em transformações positivas no
ambiente de trabalho (ambiente aqui tomado em seu sentido amplo, o que inclui a
tecnologia e a organização como seus componentes). Segundo um consultor norte-
americano contemporâneo (Burke, 1998), o trabalho de preparar um diagnóstico é

12
irrelevante se este não criar mudanças positivas. Isto significa que a intervenção
ergonômica é uma tecnologia da prática que objetiva modificar a situação de trabalho para
torná-la mais adequada às pessoas que nela operam. Diferencia-se desta forma de
estudos e análises de caráter apenas descritivo ou sem comprometimento de fato com as
mudanças no trabalho, como a produção de laudos ou diagnósticos puramente
acadêmicos.

O que caracteriza uma intervenção ergonômica é a construção que vai viabilizar a


mudança necessária, e que possa inserir os resultados da ergonomia nas crenças e
valores das organizações que as demandam e recebem os seus resultados. Esta
construção divide a intervenção e se realiza em distintas etapas: a instrução da demanda,
a análise da atividade e dos riscos ergonômicos, a concepção de soluções ergonômicas
e a implementação ergonômica (figura 1).

Figura 3 : Esquema de uma intervenção ergonômica (Vidal, 1999)

A instrução da demanda compreende todo o encaminhamento contratual da


intervenção, o que passa pelo ajuste e foco do problema, identificação do processo de
tomada de decisão na organização, levantamento dos recursos humanos para formar a
consultoria interna, e determinação das formas de apresentação de resultados. A análise
da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de coletas de dados e
informações que permitem ao ergonomista realizar as modelagens necessárias para
prover mudanças no ambiente de trabalho. Por risco ergonômico entenderemos a
condição ou a prática que traga obstáculos à produtividade, que desafie a boa qualidade
ou que traga prejuízos ao conforto, segurança e bem estar do trabalhador. A etapa de

13
concepção de soluções ergonômicas varia de acordo com a natureza do problema e da
forma com a demanda foi instruída e ainda dos resultados da fase anterior. A
implementação ergonômica se constitui na fase final de uma intervenção.

Os trabalhos em ergonomia têm uma dupla vertente: cientifica e prática. Os


resultados práticos se traduzem nas mudanças implantadas nas organizações onde as
intervenções são realizadas. Do ponto de vista científico os resultados das intervenções
ergonômicas vão interagir nos diversos campos e áreas do conhecimento.

Numa intervenção em uma agência de notícias (Pavard et al.,1980), a finalidade


era realizar um rearranjo das instalações para torná-la compatível com os procedimentos
de editoração eletrônica em redes e da estrutura dinâmica de uma grande redação de
jornal. O resultado da intervenção foi efetivamente um rearranjo, porém o estudo no qual
se baseou permitiu uma discussão conceitual em arquitetura (Dejean, 1981), teórica em
psicolingüística (Pavard, 1982) e mesmo metodológica em ergonomia (Guérin et al.,1981).

A ergonomia é uma disciplina para a ação sobre o real, e, como tal, se expressa de
forma especialmente pertinente para os projetos de mudanças na tecnologia física e de
gestão. Os desdobramentos de uma intervenção ergonômica, no âmbito científico e
tecnológico podem ser muitos, mas o que confere a uma ação no ambiente de trabalho, o
caráter de intervenção ergonômica é o resultado materializado num projeto implantado de
mudanças para melhor. Assim, uma intervenção cujo resultado aparentemente pífio seja
a redefinição de especificações da compra de mobiliário (Santos e Palmer, 1992) é
ergonômica na medida em que atinge um resultado em termos de boas modificações da
situação de trabalho; inversamente, uma profunda reflexão detalhada e interessante sobre
as dimensões psíquicas dos maquinistas ferroviários sem repercussões concretas
(Moscovici, 1977) não caracteriza uma intervenção ergonômica10 .

Antropometria
A etimologia da palavra vem do grego e significa anthropos, homem, e, metron,
medida, ou seja, forma de mensurar as medidas físicas do corpo humano ou de suas
partes. Inicialmente parece ser uma tarefa muito simples, mas, se você considerar que
cada indivíduo tem um biótipo específico para altura, peso, medida de mãos, dedos,
braços, pernas, peito do pé, coxas, quadril, ombros, etc., então é preciso ter cuidado para

14
dimensionar postos de trabalho, uniformes, calçados entre outros Equipamentos de
Proteção Individual. As variações das medidas diferem entre sexo, homens e mulheres;
faixa etária entre crianças, jovens, adultos e idosos; etnia; genótipo; região climática, etc.
Na figura 2 podemos observar algumas diferenças nas proporções corporais para diversas
etnias. O homem americano branco e negro, o japonês e o brasileiro. Os movimentos
migratórios fazem com que hábitos alimentares, locais de convívio, clima e culturas se
mesclem gerando descendentes miscigenados, ou seja, mistura de etnias em decorrência
de fatores externos.

Figura 2: Proporções corporais típicas das etnias

Estas questões antropométricas reiteram que a ergonomia não trabalha com


médias corporais, pois conforme o relato do autor uma máquina, layout ou posto de
trabalho deve ser projetado e desenvolvido para cada indivíduo em particular, sob medida
ou de forma personalizada para gerar conforto, segurança e bem-estar. Claro que para
não se ter tanta especificidade a ergonomia busca o ajuste, a adaptação ou regulagem
dos postos e do layout para que cada trabalhador faça as devidas adaptações do seu local
de trabalho para as suas proporções físicas. As diferenças inter-individuais, dentro de uma
mesma população foram apresentadas por William Sheldon (1836-1915), arquiteto
americano, que realizou um minucioso estudo com estudantes americanos e acabou por
definir três tipos físicos básicos, cada um com certas características bem específicas.

Ectomorfo: tipo físico de formas alongadas. Tem corpo e membros longos e finos,
com um mínimo de gorduras e músculos. Os ombros são mais largos, mas caídos. O

15
pescoço é fino e comprido, o rosto é magro, queixo recuado e testa alta e abdômen estreito
e fino.

Mesomorfo: tipo físico musculoso, de formas angulosas. Apresenta cabeça cúbica,


maciça, ombros e peitos largos e abdômen pequeno. Os membros são musculosos e
fortes. Possui pouca gordura subcutânea.

Endomorfo: tipo físico de formas arredondadas e macias, com grandes depósitos


de gordura. Em sua forma extrema, têm características de uma pêra (estreita em cima e
larga em baixo). O abdômen é grande e cheio e o tórax parece ser relativamente pequeno.
Braços e pernas são curtos e flácidos. Os ombros e a cabeça são arredondados. Os ossos
são pequenos. O corpo tem baixa densidade, podendo flutuar na água. A pele é macia.

Outra forma de análise antropométrica é pertinente à maneira de execução das


tarefas. Iida (2005) apresenta a antropometria estática, dinâmica e funcional. Mas o que o
autor quer dizer com estes termos? Que há um diferencial caso a pessoa tenha a sua
atividade laborativa parada, em movimento e as relacionadas com a execução de tarefas
específicas. Vamos detalhar. A antropometria estática se refere ao corpo parado ou com
poucos movimentos onde as medições a serem feitas serão através de pontos anatômicos
claramente identificados. Por exemplo, o comprimento entre ombro e cotovelo ou entre o
quadril e joelho. A antropometria dinâmica mede os alcances dos movimentos. “Os
movimentos de cada parte do corpo são medidos mantendo-se o resto do corpo estático”
(IIDA, 2005, p. 110). O autor sugere como exemplo o alcance máximo das mãos com a
pessoa sentada. Todos os autores sugerem que, quando necessário, se façam ajustes
para acomodar os movimentos corporais. A antropometria funcional refere-se às medidas
na execução de uma tarefa, como ao acionar uma manivela ao fechar uma comporta.
Nesta situação a extensão do braço será acompanhada por uma inclinação do tronco para
frente ou para o lado, sem estes movimentos integrados não há como executar a tarefa
prescrita.

Sempre que a adaptação não for possível entre as dimensões corporais e a


realidade dos postos de trabalho a eficácia da tarefa estará comprometida. Muitas
decorrências podem advir desta situação como: falhas, retrabalho, acidentes,
desencadeamento ou agravamento de doenças ocupacionais, ou seja, custos que são
acrescidos ao produto ou ao serviço mas que não devem ser repassados ao
consumidor/cliente/usuário. Para que ocorram as adaptações necessárias e se garanta

16
um trabalho seguro e produtivo Iida (2005) comenta sobre cinco princípios para a
aplicação das medidas antropométricas. São eles:

 Os projetos são dimensionados para a média da população: a idéia é ter um


produto de uso coletivo para servir vários usuários/ clientes/consumidores,
como um banco, uma altura de pia ou bancada de recepção. Já comentamos
sobre a ergonomia não ser utilizada para uma média de pessoas e neste
caso este banco ou bancada não será ótimo para todos. Haverá
inconvenientes e dificuldades para a grande maioria das pessoas.
 Os projetos são dimensionados para um dos extremos da população: boa
parte dos produtos industrializados é dimensionada para acomodar e
satisfazer até 95% da população, muito em função de questões econômicas.
Aumentar ou reduzir o tamanho, tornar ajustável o produto implica em
aumentar custos e nem sempre as indústrias se dispõe a isto.
 Os projetos são dimensionados para faixas da população: os produtos são
fabricados em diversos tamanhos e números que vão desde o PP (muito
pequeno) ao GG (extragrande), como também a numeração dos calçados
que é muito variável se for calçados masculino (números maiores) ou
femininos (numeração menor). Uma diversidade maior de tamanhos e
numerações tornariam o produto no mercado, então as pessoas buscam se
adaptar à numeração vigente. Você deve conhecer alguém que gostaria de
comprar para o pé direto uma numeração e para o pé esquerdo outra; ou
mesmo pessoas que sempre compram calçados com cadarço, pois o peito
do pé direito é maior do que o esquerdo, ou vice-versa, e comprar um
calçado não ajustável significa ter algum desconforto ao usar aquele produto.
 Os projetos que apresentam dimensões reguláveis: as dimensões variáveis
não abrangem o produto como um todo, ou que ergonomicamente seria
ideal, mas são ajustáveis algumas variáveis consideradas críticas para o
desempenho: altura do assento, do apoio para braços e pés ou mesmo
ângulo do encosto. • Os projetos são adaptados ao indivíduo: aqui se
encontra a ação ergonômica ideal, pois o produto projetado é feito
especificamente para o indivíduo como uma roupa feita pelo alfaiate, uma
cadeira de rodas específica para o cadeirante ou o cockpit de um carro de
fórmula 1.

17
Biomecânica
A biomecânica ocupacional implica no estudo dos movimentos corporais e das
forças relacionadas ao trabalho. Quando um operador de máquinas vai utilizar
determinada ferramenta ou transportar algum material qual a postura adotada? Que
músculos estão presentes nesta atividade? Este operador conhece as consequências de
posturas inadequadas? Há possibilidade de ele desenvolver doenças ocupacionais ou
mesmo se acidentar em função do estresse muscular? A ergonomia também está
presente em todas estas situações e objetiva encontrar soluções para eliminar ou
minimizar alguns distúrbios decorrentes de uma biomecânica ocupacional incorreta ou
inadequada. Mas quais ações ergonômicas são cabíveis? As pausas, ajustes de
mobiliário, melhoria no layout, redução de jornada de trabalho, avaliação do biorritmo,
melhorias na organização do trabalho, etc.

Esta preocupação não é recente como possa parecer para alguns. Bernardino
Ramazzini, médico italiano, considerado o “Pai da Medicina do Trabalho”, já realizava
estudos sobre este tema desde 1700. Este estudioso analisou diversas categorias
profissionais (mineiros, químicos, ferreiros, parteiras, coveiros, joalheiros) com o objetivo
de sistematizar e classificar as doenças segundo a natureza e o grau de nexo com o
trabalho. Ramazzini associou que certos movimentos violentos ou irregulares, bem como,
o constante posicionamento inadequado da coluna ou de outras regiões do corpo levavam
ao adoecimento de muitos artesões. Em alguns postos de trabalho não há como se ter
uma postura adequada, por exemplo, os trabalhadores que permanecem agachados,
submersos ou em altura. É preciso redesenhar postos, ferramentas, equipamentos,
melhorar posturas para a promoção da redução da fadiga, dores corporais, adoecimentos,
acidentes com lesões permanentes ou afastamentos.

Para Iida (2005, p. 165) existem três situações principais em que a má postura pode
produzir consequências danosas:

 Trabalhos estáticos que envolvem uma postura parada por longos períodos.
 Trabalhos que exigem muita força.
 Trabalhos que exigem posturas desfavoráveis, como o tronco inclinado e
torcido. (Grifo meu).

Algumas posturas são básicas para todas as pessoas e para todas as profissões:
posições sentada, deitada e em pé. Para cada uma destas posturas há o esforço de feixes

18
musculares específicos para manter a posição do corpo na execução das tarefas
laborativas. A permanência prolongada de uma determinada postura pode provocar dores
localizadas naquele conjunto de músculos solicitados na manutenção da mesma.
Permanecer muito tempo em pé pode levar a problemas de dores nos pés e pernas como
varicose, varizes ou trombose. E sentar-se sem encosto compromete os músculos
extensores do dorso, fazer rotações do corpo independente de estar sentado ou em pé
com certeza levará a problemas de coluna em geral e utilizar ferramentas com pegas
inadequadas decorre em problemas no antebraço.

Mas também há posições quase inconscientes que causam transtornos para a


saúde do trabalhador/operador, como por exemplo, a inclinação da cabeça em
decorrência de um assento muito alto, ou de uma mesa muito baixa, ou de estar sentado
em uma cadeira distante do posto ou do painel, ou utilizar alguma ferramenta como
microscópio ou lupa. Se o tempo de exposição for grande, as dores no pescoço, ombros,
braços e até mesmo na coluna são inevitáveis.

A fadiga muscular pode ser reduzida distribuindo-se o tempo de pausa durante a


jornada de trabalho. Paradas curtas e mais frequentes são mais adequadas do que uma
única parada longa. Outra situação muito comum para algumas atividades laborativas é o
levantamento de peso ou carga. Para minimizar ou até eliminar os problemas decorrentes
deste trabalho é preciso estabelecer condições favoráveis para sua realização,
respeitando os princípios da fisiologia e da biomecânica que estabelecem alguns
parâmetros de levantamento tolerável de carga máxima: na posição agachada é de 15 Kg;
para a posição dobrada aumenta para 18Kg; e conforme a NR 17 – Ergonomia, todo o
conteúdo referente ao item 17.2 se reporta ao levantamento, transporte e descarga
individual de materiais de carga A ergonomia prescreve como ações preventivas a
alternância de posturas e movimentos. As articulações devem buscar posições neutras,
tanto quanto possível, como também, evitar curvar o corpo ou cabeça para frente, torcer
tronco, evitar movimentos bruscos e, para o levantamento de carga, manter o objeto de
trabalho o mais próximo possível ao corpo. Mãos e cotovelos devem sempre permanecer
abaixo do nível dos ombros, mas se isso não for possível, em decorrência do posto
inadequado, o tempo de exposição deve ser controlado e pausado.

19
Análise dos postos de trabalho
Ao longo do estudo sobre ergonomia analisamos diversas áreas e métodos que
otimizem melhorias nos postos de trabalho. Mas qual o significado técnico deste termo tão
utilizado em segurança do trabalho? Para Iida (2005, p. 17) a análise dos postos de
trabalho:

É o estudo de uma parte do sistema onde atua um trabalhador. A


abordagem ergonômica ao nível do posto de trabalho faz a análise da tarefa, da
postura e dos movimentos do trabalhador e das suas exigências físicas e cognitivas.
Considerando um posto mais simples, onde o homem opera apenas uma máquina,
a análise deve partir do estudo da interface homem-máquina-ambiente, ou seja, das
interações que ocorrem entre o homem, a máquina e o ambiente.

O mesmo autor ainda afirma que ao se analisar um posto de trabalho é possível se


ter dois enfoques: o taylorista e o ergonômico. Frederick Winslow Taylor (1856 - 1915)
engenheiro mecânico estadunidense, é considerado o “Pai da Administração Científica”
por propor a utilização de métodos científicos na administração de empresas. Seu foco
está na eficiência e eficácia operacional na administração industrial através do controle de
tempos e movimentos. Seu modelo de gestão prescreve a centralização do poder; a
limitada mobilidade ou flexibilidade para mudanças no ambiente de trabalho; a baixa
participação ou envolvimento dos trabalhadores nas decisões administrativas; valorização
das normas, rotinas; a restrita comunicação entre as pessoas. Sua ênfase está na
produtividade, na valorização da tecnologia e não nas pessoas.

O enfoque ergonômico busca desenvolver postos de trabalho que reduzam as


exigências biomecânicas e cognitivas, colocando o trabalhador/ operador em uma postura
confortável e segura de trabalho. Para Iida (2005, p. 192):

No enfoque ergonômico, as máquinas, equipamentos, ferramentas e


materiais são adaptados às características do trabalho e capacidades do
trabalhador, visando promover o equilíbrio biomecânico, reduzir as contrações
estáticas da musculatura e o estresse geral. Assim, se pode garantir a satisfação e
segurança do trabalhador e a produtividade do sistema. Procura-se também eliminar
tarefas altamente repetitivas, principalmente aquelas de ciclo menores a 1,5 minuto.

Fica claro que a diferença entre os enfoques está na valorização do potencial


humano, na forma de execução das tarefas e nas implicações para a saúde ocupacional
do trabalhador. Diferentes aspectos podem ser adotados para se avaliar um posto de

20
trabalho que vão desde o tempo gasto na execução até o percentual de falhas, erros,
incidentes e acidentes. A ergonomia busca priorizar a postura, o esforço, as tensões, as
pausas. É bem verdade que todos os aspectos abordados em nosso estudo são
relevantes, pois os fatores físicos ambientais, a organização do trabalho, os fatores
cognitivos na execução das tarefas, o layout, a biomecânica, etc., todos devem estar
presentes ao se fazer uma análise ergonômica, pois deve-se ter um “olhar” macro para
que se possa contemplar a soma dos fatores que viabilizam um posto de trabalho
ergonomicamente correto, e não apenas a altura de um monitor ou de uma cadeira.

Ergonomia Cognitiva
A ergonomia cognitiva é para Guimarães (2000, p. 4.3-1) uma área que “engloba
os processos perceptivo, mental e de motricidade”. Pense agora o que você mais utiliza
mentalmente para executar suas tarefas diárias: memória? Cálculos? Raciocínio lógico?
Criatividade? Alguns destes aspectos mais que outros? Todos ao mesmo tempo? Qual é
a carga mental que você precisa “gastar” para ser produtivo/competente?

Para Fonseca (1999, p. 43), “é o ato de conhecer ou de captar, integrar, elaborar e


exprimir informação, para a resolução de problemas”. Está diretamente relacionada aos
processos pelos quais um indivíduo percebe (input), elabora e comunica (output) a
informação para se adaptar ao meio em que vive. O input está associado aos órgãos dos
sentidos que captam os estímulos do meio externo. Esses estímulos de cores, sons,
texturas, sabores, odores são processados sob a forma de informações no cérebro,
através das percepções do indivíduo. O resultado final de processamento será observado
pelos comportamentos, ações ou movimentos, aqui denominados de output.

O raciocínio do ser humano pode ser comparado a um sistema aberto, flexível às


mudanças ao longo de toda a sua vida. O conhecimento é obtido através do
desenvolvimento das potencialidades ou aptidões inerentes a qualquer pessoa. O nível ou
grau de conhecimento que um indivíduo apresenta denomina-se inteligência. Sendo
assim, inteligência é o conjunto de habilidades para a resolução de problemas, ou, se
preferir, a capacidade que uma pessoa tem de criar alternativas que visem alcançar seus
objetivos. Para Abbad e Borges-Andrade (2004), a aprendizagem, para ser realizada,
precede de três domínios pessoais e intransferíveis: cognitivo, afetivo e psicomotor:

 Domínio cognitivo: aborda a resolução de tarefas mediante aprendizagem


escolar ou de treinamentos profissionais (princípio organizador).

21
 Domínio afetivo: está associado aos interesses, apreciações, atitudes,
valores que estão presentes durante o ato de aprender, as relações
emocionais pertinentes entre o aprendiz e a instrução ou conhecimento a ser
assimilado (princípio de internalização).
 Domínio psicomotor: diz respeito às ações motoras ou musculares
decorrentes da manipulação de objetos, ferramentas, instrumentos durante
o processo de aprendizagem (princípio de automatização).

Vamos imaginar um trabalhador que executa a tarefa de movimentação de cargas


e mercadorias. Ele precisa montar um sistema de rotas de transporte, níveis de estoque,
processar pedidos, ou seja, vai planejar geograficamente o aspecto espacial, o tempo,
estratégias e custos operacionais. Todo este processo logístico exige domínios cognitivo,
afetivo e psicomotor. A preocupação da ergonomia cognitiva está em saber se o
trabalhador em questão executa com habilidade os três domínios ou se há uma deficiência
em algum deles e claro, investigar qual é a mais comprometida para partindo desta análise
oferecer uma capacitação mais específica para este trabalhador. Por exemplo, o
trabalhador compreende a tarefa a ser realizada, mas apresenta algum tipo de
comprometimento motor, de lateralidade, de percepção visual, de atenção ou de
concentração, de memória, ou ainda, tem dificuldade em se adequar a ferramentas,
equipamentos de proteção e não simpatiza muito com a tarefa. Seu desempenho nesta
situação está comprometido não somente na produtividade, mas também pode levar a
algum acidente em função da carência de atenção, concentração, lateralidade ou outro
comprometimento que o trabalhador possa ter.

As empresas buscam profissionais competentes que saibam aplicar suas


qualificações, transformando-as em resultados e ações valiosas. Estes são os chamados
trabalhadores multifuncionais ou polivalentes, capazes de aprender, de se autoavaliar
constantemente, de buscar novas soluções, resolver problemas complexos, assumir
riscos e enfrentar desafios sem medo de errar. Além das qualificações técnicas e
tecnológicas para a função, ainda devem guardar características de automotivação, com
valores internos bem arraigados e uma aprendizagem flexível para toda a alteração que
se faça necessária. É preciso que as empresas se estruturem para que haja mudanças e
novas aprendizagens por meio da criação de programas de TD&E, ou seja, a importância
de investirem financeiramente em programas de Treinamento, Desenvolvimento e
Educação. O conhecimento é um processo, e como tal exige tempo, dedicação,

22
motivação, investimentos, e, principalmente, a participação integrada de ações da
diretoria, gestores e trabalhadores.

Para os autores Abbad e Borges-Andrade (2004, p. 256) para que o desempenho


seja eficaz, as pessoas precisam saber e fazer a tarefa de acordo com certo padrão de
excelência. Para isso, precisam, obrigatoriamente, do suporte organizacional (máquinas,
equipamentos, ferramentas), terem o domínio da tarefa através de treinamento oferecido
pela empresa, como também do fator motivacional, relacionado à organização do trabalho
(comunicação, relacionamento interpessoal, relações de poder harmoniosas).

É fundamental um clima organizacional sinergético para que esses aspectos


possam ocorrer. O conceito de desempenho compreende, além do conjunto de
habilidades, conhecimentos, atitudes, capacidades, inteligência e experiências pessoais,
componentes de saber fazer a motivação e as condições de trabalho. Isso implica criar
condições pelas quais o trabalhador possa expressar sua subjetividade, suas
características individuais e pessoais nos ambientes de trabalho.

Dessa forma, os inputs e outputs precisam ser direcionados de acordo com as


características de cada um e não de forma generalizada, pois cada trabalhador apresenta
uma característica particular de aprendizagem e de execução da tarefa a ele determinada.
O conhecimento deve ser estimulado de forma contínua e sequencial, iniciando pelos
elementos mais simples até alcançar os mais complexos. E sendo acompanhada pelos
gestores, os quais devem apresentar características mediadoras, ou seja, ações
gerenciais mais flexíveis, participativas, solidárias e empáticas, de tal forma que o
processo de aprendizagem organizacional não se torne uma luta pelo poder ou elemento
de obrigatoriedade por parte dos trabalhadores.

23
Métodos/Ferramentas de Avaliação Ergonômica
Desde a década de 70 vêm sendo desenvolvidos roteiros para execução de uma
análise ergonômica, alguns dos quais se converteram em modelos e serviram de base
para outras propostas metodológicas (LIMA, 2004). Wisner (1987) fez referência aos
métodos como protocolos de avaliação das condições de trabalho. Para Iida (2005), o
método é um procedimento para estabelecer a relação entre causa e efeito, sendo
composto pelas etapas que vão da hipótese ao resultado. Na prática, a avaliação
ergonômica do trabalho é realizada através de métodos/ferramentas e normas, que
consideram um grupo de condições de trabalho e um foco específico, melhor definida
por Másculo e Vidal (2011): “O método ergonômico consiste no uso de recursos dos
campos de conhecimento que possibilitem averiguar, levantar, analisar e sistematizar o
trabalho e suas condições, através de instrumentos qualitativos e quantitativos”. Essa
definição é alinhada com o significado da palavra “método”, definindo-o como o conjunto
dos meios dispostos convenientemente para alcançar um fim e chegar a um
conhecimento científico (MICHAELIS, 2009). Essa definição embasará a classificação
dos métodos para o desenvolvimento deste artigo; entretanto, é válida para este estudo
e não representa um novo conceito. No intuito de contribuir para a fluidez, e ainda,
respeitar as diferentes nomenclaturas, o termo ferramenta será utilizado como sinônimo
de método de avaliação ergonômica. Nos quadros de 1 a 5 são apresentados os 24
métodos/ferramentas de avaliação ergonômica revisados neste artigo, e suas
características fundamentais, classificados como métodos com base nas definições
adotadas e agrupados por tipo de avaliação.

24
Quadro 1 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de riscos posturais e posto de
trabalho.

Elaborado pelo autor a partir de múltiplas fontes

(Continua)
FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DE RISCOS POSTURAIS E POSTO DE TRABALHO
Método Definições Procedimentos
Checklist de São utilizados para avaliação de riscos Em observação ao checklist, percebe-se que a
Couto para trabalhos manuais, DORT, ferramenta permite uma avaliação simplificada do
lombalgias, trabalhos informatizados, fator biomecânico no risco para distúrbios
condição ergonômica e condição musculoesqueléticos de membros superiores
biomecânica. relacionados ao trabalho. Neste checklist, as
perguntas avaliam seis aspectos: sobrecarga
física, força com as mãos, postura no trabalho,
posto de trabalho e esforço estático, repetitividade
e organização do trabalho e ferramenta de
trabalho.
Constitui-se de perguntas que são Avaliação das condições ergonômicas em postos
avaliadas percentualmente em intervalos, de trabalho e ambientes informatizados – Versão
indicando resultados de péssimo – alto 2013. Este checklist avalia os aspectos
risco (abaixo de 31%) à excelente – relacionados à estação de trabalho, sistema de
ausência de risco (próximo a 100%) trabalho e ambiente.
(SOARES; SILVA, 2012)
EWA, O EWA (Ergonomics Workplace Analysis) Avalia os seguintes aspectos: espaço de trabalho,
também é uma metodologia criada pelo Instituto atividade física geral, levantamento de cargas,
chamado de Finlandês de Saúde Ocupacional (FIOH) posturas de trabalho e movimentos, risco de
FIOH utilizada para identificar riscos acidente, satisfação com o trabalho, restrições,
ergonômicos do local de trabalho. Tem comunicação entre trabalhadores, tomada de
como base a fisiologia do trabalho, decisão, repetitividade, atenção, iluminação,
biomecânica ocupacional, aspectos temperatura ambiente e ruído.
psicológicos, higiene ocupacional e um
modelo participativo de organização do
trabalho (PACOLLA;
SILVA, 2009).
LUBA - Avalia cargas relacionadas à postura da Considera os índices de desconforto, expressos
Loading on parte superior do corpo (mão, braço, através de pontuação numérica, e o número
the Upper pescoço e costas), sendo a postura de máximo de movimentos em posturas estáticas, no
Body uma parte do corpo classificada de acordo intuito de avaliar estresse postural e atuar na
Assessment com os ângulos das articulações prevenção de distúrbios osteomusculares (KEE;
(ROMAN-LIU, 2014). KARWOWSKI, 2001).
OCRA Método desenvolvido pela Dra. Daniela Também chamado de índice OCRA, baseia-se na
Colombini e Dr. Enrico Occhipinti, na relação entre Ações Reais Técnicas (ATA), obtidos
Clínica de Lavoro de Milão em 2000, que por meio da análise de tarefas e ações de
por meio de um checklist avalia e Referência Técnica (RTA). O valor RTA é obtido
recomenda ações para prevenção de levando-se em conta a frequência e repetitividade
riscos decorrentes de esforços repetitivos. de movimentos dos membros superiores, uso
Também considera fatores mecânicos, excessivo da força, tipo de postura inadequada ou
ambientais e organizacionais que falta de variação postural, períodos de recuperação
forneçam evidências da relação de insuficientes e fatores adicionais, tais como
causalidade com DORT (COLOMBINI; vibração e compressão do tecido localizado. O
OCCHIPINTI, 2006). método OCRA fornece dois índices separados
(ombro e cotovelo / pulso / mão) para cada um dos
lados direito e esquerdo do corpo
(CHIASSON, 2012).

25
Quadro 1 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de riscos posturais e posto de
trabalho

(Continuação)

FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO PARA RISCOS POSTURAIS E POSTO DE TRABALHO


Método Definições Procedimentos
OREGE Desenvolvido na França pelo INRS Para cada ação considerada, à força atribui-se um
(Instituto Nacional de Pesquisa de valor de 0 a 10 em uma ficha de avaliação,
Segurança), é um método de identificação preenchidas uma pelo pesquisador e outra pelo
e avaliação cujo objetivo é quantificar operador, separadamente, sendo a avaliação
tensões biomecânicas representadas por realizada com base nas duas fichas. Para cada
forças, posturas constrangedoras e aspecto preocupante, o pesquisador observa os
movimento repetitivo, sendo baseado na movimentos dos membros superiores do operador
observação do operador, sua percepção (pescoço, ombro, cotovelo e punhos), atribuindo
das demandas e indicações. É realizada a valores de 1 (aceitável), 2 (não recomendado) e 3
partir da avaliação de força, vigor e (a evitar) para cada articulação, considerando a
repetitividade (APTEL, 2008). lateralidade, impressas em figuras que
representam as pontuações e os respectivos
ângulos. Já os movimentos repetitivos dos
membros superiores são avaliados numa escala de
0 a 10, num período de tempo, duplamente e
separadamente avaliados em fichas, cuja
pontuação também é representada por figuras.
OWAS - Foi desenvolvido na Finlândia entre 1974 A partir de análises fotográficas, foram
Ovako e 1978, no intuito de analisar as posturas colecionadas 72 posturas típicas (dorso, braços e
Working corporais durante as atividades no pernas e carga/força) que ocorrem em uma
Posture trabalho. Os dados para a aplicação indústria pesada, sendo codificadas de 1 a 4, onde
Analysing desse método podem ser coletados 1 é não patológico e 4 indica que providências
System através de observação direta (em campo) imediatas devem ser tomadas. Também se
ou indireta (por vídeo), e as fases da considera a frequência e o tempo despendido em
atividade podem ser categorizadas em um cada postura, a fim de avaliar o efeito resultante
código de seis dígitos. Após a sobre o sistema musculoesquelético.
categorização, o método calcula e
classifica a carga de trabalho em quatro
categorias, determinando ainda as
medidas a serem adotadas
(MÁSCULO; VIDAL, 2011).
QEC - Quick Baseia-se na postura, onde a combinação Avalia a postura, a força aplicada, a frequência, a
Exposure da avaliação do observador com duração, os movimentos e os fatores psicológicos
Check respostas do trabalhador para questões relacionados à tarefa. É aplicado em duas etapas:
fechadas, permite que os fatores de risco 1) avaliação das posturas por meio de checklist,
MSD para as costas, braços, pescoço e 2) questionário aplicado ao trabalhador.
extremidades superiores a uma estação Os níveis de exposição são obtidos através do
de trabalho cruzamento das etapas.
sejam avaliados (CHIASSON, 2012).
Questio- O questionário bipolar de fadiga foi A pontuação varia de 1 a 7, sendo 1 a esquerda e
nário Bipolar elaborado pelo médico Hudson Couto em 7 à direita; quanto mais à direita, maior a fadiga. A
1995. Ele é composto por 3 análise dos questionários é realizada de forma
questionários/etapas, sendo o primeiro qualitativa, observando: a fadiga acumulada (4
aplicado no início da jornada, o segundo pontos ou mais em dor nos músculos do pescoço
na hora de saída para o almoço e o e ombros e dor nos braços, e continuidade das
terceiro no final da jornada (COSTA; queixas durante a jornada) e o nível de fadiga
SOUZA, 2014). (intensa quando 6 ou 7 em alguns itens).
R.N.U.R / R.N.U.R. ou job profile method (método Analisa oito fatores através de vinte e três critérios,
Renault de perfil de trabalho), com origem nos pontuados em cinco níveis de satisfação (onde 1 é
Régie anos 50, Renault, França, onde muito satisfatório e 5 é muito perigoso).
Nationale especialistas procuravam soluções para
des Usines definir de forma objetiva as variáveis que
Renault definem as condições de um posto de
trabalho (CALLEJÓN-FERRE, 2009).

26
Quadro 1 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de riscos posturais e posto de
trabalho

(Conclusão)

FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO PARA RISCOS POSTURAIS E POSTO DE TRABALHO


Método Definições Procedimentos
REBA É derivado dos métodos de avaliação Estabelece uma tabela relacionada ao Fator de
postural RULA e OWAS (CARDOSO JR, “Pega”, onde são estabelecidos cinco níveis de
2006). ação (ao invés dos quatro propostos no RULA).
É uma ferramenta de análise de posturas Avalia o nível do risco, de muito baixo a muito alto
de corpo inteiro desenvolvido para avaliar e indica a ação da investigação, de não necessária
posturas de trabalho imprevisíveis à necessária e urgente.
(GUIMARÃES, 2004).
ROSA – Foi criado com base nas posturas Os fatores de risco no uso do computador foram
Rapid Office descritas nas orientações da CSA identificados, diagramados e agrupados nas
Strains (Canadian Standarts Association) e da seguintes áreas: cadeira, monitores, telefone,
Assessment CCOHS (Centro Canadense de Saúde teclado e mouse. Uma pontuação foi atribuída,
Ocupacional e Segurança), onde variando de 1 a 10 (quanto maior a pontuação,
especialistas chegaram a um consenso maior o desconforto). Em testes realizados por
sobre a configuração da estação de Sonne et al. (2012), este método provou ser eficaz
trabalho adequada (SONNE et al., 2012). e confiável para a identificação de fatores de
desconforto no uso do computador.
RULA - Método de observação rápida para Na prática, utiliza-se de figuras de diferentes
Rapid Upper análise postural, desenvolvido pelos Prof. posturas corporais, que recebem um valor
Limb McAtammey e Corlett, da Universidade de numérico que indica o grau de intervenção
Assessment Ohio, para investigações ergonômicas de necessário. Essa pontuação vai de 1 a 7, com
postos de trabalho onde é possível níveis de ação de 1 a 4, onde o nível 1 é postura
desenvolver lesões por esforços aceitável, e 4 sugere mudanças imediatas.
repetitivos em membros superiores
(DOCKRELL, 2012).
O RULA baseia-se na metodologia
OWAS, onde as posturas adotadas são
representadas através de escores, que
associados a critérios biomecânicos e de
função muscular classificam a postura de
acordo com a carga (BARROS et al.,
2014).
Suzzane Quantificação numérica, com pontuação Avalia o nível de esforço em baixo (1), moderado
Rodgers indicativa de risco da ocorrência de (2) e pesado (3); o tempo de esforço de 0 a 6
LER/DORT, para os diversos segundos (1), 6 a 20 (2), 20 a 30 (3) e maior que
seguimentos corpóreos, como os punhos, 30 (4); e o número de esforços por minuto de 0 a 1
pescoço, ombros, cotovelos, tronco, mãos minuto (1), 1 a 5 minutos (2), 5 a 15 minutos (3) e
e membros inferiores (GUIMARÃES, maior que 15 minutos (4). Essa avaliação
2004). contempla os segmentos do pescoço, ombros,
tronco, braços, punho, mão e dedos, pernas,
joelhos, tornozelos, pés e dedos.
ERGO/ IBV Desenvolvido pelo Instituto de Classifica os riscos laborais associados à carga
Biomecânica de Valência – Espanha, física em quatro níveis, de ergonomicamente
avalia os riscos laborais associados à aceitável (nível 1) à prioridade de investigação
carga física (COSTA, 2011). (nível 4) (COSTA, 2011).
Permite analisar tarefas repetitivas dos
membros superiores com ciclos de
trabalho claramente definidos, a fim de
avaliar o risco de lesão
musculoesquelética (INSHT, 2009).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de múltiplas fontes

27
Quadro 2- Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de carga física (continua)
FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DA CARGA FÍSICA
Método Definições Procedimentos
NIOSH - Método que avalia a carga levantada O NIOSH considera:
National pelos trabalhadores sem causar lesões, LPR: Limite de Peso Recomendado, ou seja, o
Institute of foi concebido em 1981, e revisado ao peso da carga suportada por trabalhadores sadios
Occupa- longo dos anos, tornando-se uma num período de tempo, sob determinadas
tional Safety equação que fornece métodos para a condições, sem aumentar o risco de lombalgia.
and Health avaliação de tarefas de levantamento Sua fórmula considera a distância horizontal entre
assimétrico de cargas e levantamento de o indivíduo e a carga, a distância vertical entre
objetos com pegas não ideias com ambos, o deslocamento, o ângulo de assimetria, a
ambas as mãos (ERGO, 2006). frequência média de levantamentos e a qualidade
da pega.
IL: Índice de Levantamento, fornece uma
estimativa do nível de estresse físico em
levantamento manual;
Terminologia e Definições de Dados: Define os
parâmetros do levantamento, peso da carga,
distância horizontal, altura vertical, altura vertical
percorrida, ângulo de assimetria, posição do
corpo, frequência e duração do levantamento,
classificação da pega e controle motor
significativo.
INSHT (Inst. É um método de avaliação de riscos na Considera severidade do dano (ligeiramente
Nac. MMC (Manipulação Manual de Cargas) prejudicial, prejudicial, extremamente prejudicial)
Seguridad (CCOO, 2015). e a probabilidade de ocorrência do dano (alta,
Higiene em média, baixa). Entretanto, por ser de
el Trabajo aplicabilidade individual e subjetiva, recomenda-
se combinar os resultados técnicos com as
condições de trabalho e a opinião dos
trabalhadores.
JSI – JOB O método JSI, também conhecido como Utiliza como parâmetros a intensidade, duração e
STRAIN critério semi-quantitativo, criado em 1995 frequência do esforço, postura, ritmo e duração do
INDEX ou SI por Moore & Garg, quantifica a exposição trabalho e avalia o índice de sobrecarga para os
ou a fatores de risco MSD (desordens membros superiores, sendo baseado no campo
MOORE musculoesqueléticas) para as mãos e da fisiologia, biomecânica e epidemiologia, e vem
AND GARG pulsos, fornecendo um índice que leva sendo amplamente aplicado na indústria. Vários
em conta o nível de percepção de estudos validam a ferramenta, em termos de
esforço, tempo de esforço como uma conteúdo relevante e consistente, validade
percentagem do tempo de ciclo, número preditiva (identifica corretamente um perigo), e
de esforços, mão e postura de pulso, validade externa (eficaz em diferentes cenários)
velocidade de trabalho e tempo de (CABEÇAS, 2007).
deslocamento (CHIASSON, 2012).
É um aprimoramento do método de
Rodgers, feita com base em vídeos. Se
propõe a avaliar mãos e pulso. Sugere a
avaliação de 6 fatores, dividindo-a em
hemicorpo direito e esquerdo
(GUIMARÃES, 2004).

28
Quadro 2- Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação de carga física
(C
onclusão)
FERRAMENTAS PARA AVALIAÇÃO DA CARGA FÍSICA
Método Definições Procedimentos
KIM – Key É utilizado para avaliar tarefas que Segundo o ETUI - Instituto Sindical Europeu
Indicator Method envolvem operações de movimentação (2014), duas ferramentas KIM foram
manual (DOUWES, KRAKER, 2014). desenvolvidas para a avaliação dos riscos no
caso de tarefas de: levantar, manter, colocar; e
empurrar ou puxar uma carga. Considera o
número de levantamentos ou transporte de carga
por dia de trabalho, a sua duração total no dia
(<5s) e a distância total percorrida no
transporte da carga, o que gera uma pontuação
de duração de 1 a 10.
Este método realiza a descrição da A análise de risco é baseada num modelo de
tarefa e a avalição separadamente, dose (duração multiplicada pela intensidade).
quando os itens chaves são pontuados
sem necessitar de medições exatas
(imprecisão calculada) (OSHA - Agência
Europeia para a Segurança e
Saúde no Trabalho, 2015).
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de múltiplas fontes

Quadro 3 - Métodos/ferramentas ergonômicas para avaliação do conforto térmico


FERRAMENTA PARA AVALIAÇÃO DO CONFORTO TÉRMICO
Método Definições Procedimentos
FANGER O modelo de conforto térmico de Fanger (anos É baseado em dois índices:
70), é um dos modelos mais adiantados e PMV (voto médio estimado, de um grande grupo
ainda o mais extensamente usado em predizer de pessoas sujeitas a um mesmo ambiente
a sensação térmica (ALAHMER, 2012). térmico) e PPD (percentagem de pessoas
insatisfeitas, calculado sobre o valor de PMV e
na escala de ASHRAE) (TALAIA, 2013).
O conforto térmico é condição essencial para É baseado em um contrapeso de energia do
a saúde, segurança e produtividade do corpo humano, considerado como um sistema
trabalhador (OLIVEIRA et al., 2010). termodinâmico que troca calor com o ambiente
externo.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de múltiplas fontes

0
UNIDADE II
Abordagem Ergonômica Moderna

A análise ergonômica do trabalho não se restringe ao uso de


ferramentas de medição, observações e entrevistas com os
trabalhadores, cada ação ergonômica deve se contextualizar com a
situação demandada (GUÉRIN, 2001). Deve conceber os diversos pontos
de vistas que envolvem o trabalho e ter uma contribuição significativa
daqueles que estão diretamente envolvidos no mesmo (GUÉRIN, 2001).
Dentro de uma abordagem ergonômica é importante fazer a distinção
entre tarefa e atividade. Tarefa é a prescrição que é imposta ao operador
para executar seu trabalho, trata-se de normas e regulamentos que
devem ser seguidos, já a atividade será aquilo que realmente o operador
irá fazer no dia a dia de trabalho. Trata-se de uma realidade complexa
que envolve a invocação de saberes por parte dos trabalhadores,
projeção de seus valores em sua atividade, articulação com o coletivo de
trabalho, usos de si por si e uso de si pelos outros, entre vários outros
elementos envolvidos na complexidade do trabalho. A análise da
atividade possibilita a identificação dos mecanismos de regulação, em
tempo real pelo trabalhador, que auxiliarão para compreensão do
trabalho, e assim transforma-lo (GUÉRIN, 2001).

Uma análise dos mecanismos funcionais da organização do


trabalho possibilita, em grande parte, a compreensão da atividade
desenvolvida pelo trabalhador. Conhecer como se dá a comunicação dos
serviços na empresa, a relação entre gestão e operação, entender os
procedimentos de manutenção, as ferramentas de segurança, a
engenharia de projetos, contribuem para esclarecer muito da realidade
de trabalho enfrentada pelo indivíduo. Entender se há reconhecimento e
valorização do agir competente dos trabalhadores por parte dos gestores,
e se o sujeito possui certa autonomia para desenvolver seu trabalho,
auxilia a decifrar a complexidade da atividade de trabalho.

1
Na obra “Compreender o Trabalho Para Transformá-lo”, Guérin
(2001) propõe que a atividade possui um papel integrador no trabalho, pois
é nela que as contradições entre o prescrito e o real se materializam; é
onde trabalhador mobilizará conhecimentos para driblar as variabilidades;
é o local onde os valores dos indivíduos são projetados e histórias são
construídas. Portanto, para que uma análise ergonômica tenha bons
resultados é de suma importância uma compreensão significativa da
atividade de trabalho.

Segundo Mendes (2014, p.49), "a análise da atividade pode ser


feita, a partir da observação e apreensão de comportamentos, e de
verbalizações ligadas diretamente à realização do trabalho ou que se
fazem durante a realização do mesmo". Portanto, na construção deste
estudo foi utilizada a análise ergonômica do trabalho para fazer emergir
da atividade, a variabilidades que os indivíduos estão susceptíveis, a
materialização do confronto de diversas dimensões do trabalho, os
mecanismos de regulação adotados pelos mecânicos, que garantem que
atinjam os objetivos da produção, de saúde e segurança.

A Noção de Variabilidade
As empresas, na organização do processo de trabalho, planejam e
fornecem os meios necessários à produção, na medida em que dividem tarefas,
estabelecem critérios, nor- mas e regras definindo, assim, os objetivos a serem
alcança- dos no processo de trabalho. Muitas vezes, adotam como referência
um pressuposto herdado de Taylor, cuja máxima reside na concepção de um
“operário médio”, bem treinado e que trabalha em um posto estável (Wisner,
1987). Porém, o que se observa no cotidiano é que esta estabilidade não
corresponde à realidade. Os estudos demonstram uma dife- rença entre o que é
previsto e o que é realizado, entre o desejável e o real, pois nas situações de
trabalho ocorrem variações freqüentes, em decorrência de vários fatores. Den- tre
eles, vale ressaltar a organização do trabalho bem como aqueles relacionados às
características do trabalhador.

Na perspectiva da organização do trabalho, devem ser incluídos desde os


materiais, os equipamentos e os proce- dimentos, até a gestão dos incidentes.

2
Quanto às caracte- rísticas do trabalhador, a literatura aponta as fontes de va-
riabilidade do indivíduo como as de natureza inter e intra individuais, levando-se
em conta os aspectos físicos, psí- quicos e cognitivos, neles inseridos, a
experiência como história das representações mentais, o envelhecimento como
história biológica e outras intrinsecamente ligadas à histó- ria do trabalho. É
neste contexto do real que a atividade realmente ocorre e não naqueles
previstos, malgrado os esforços da organização na sua tentativa de estabilização
do processo ou ainda da normatização.

A atividade compreende vários artefatos tais como ins- trumentos, signos,


procedimentos, máquinas, métodos, re- gras e formas de organização do
trabalho. Entretanto, uma das características importantes destes artefatos é o
seu pa- pel de mediação entre o trabalhador e o objeto do trabalho (Wisner,
1997; Rabardel, 1995 e Monoud, 1970).

A mediação entre o objeto e objetivo, segundo Engeström (1987), é


estabelecida através de um terceiro elemento - ar- tefato. Portanto, a relação
entre o sujeito e o objeto tem como mediador os artefatos que podem ser
instrumentais utilizados no processo de transformação, sejam eles, mate- riais
ou intelectuais. Por exemplo, a relação entre o sujeito e o coletivo tem como
mediador as regras que compreen- dem as normas explicitas ou implícitas, as
convenções e as relações sociais no seio do coletivo. A relação entre o obje- to
e o coletivo tem como mediador a divisão de trabalho que qualifica a organização
explicita e implícita em relação ao processo de transformação do objeto em
produto. Cada um destes mediadores é constituído historicamente e de forma
diferente.

Muitas vezes, os artefatos são criados e transformados durante o


desenvolvimento da atividade e trazem em si uma cultura particular, resíduo
histórico deste desenvolvimen- to. Assim sendo, a atividade constitui por si só o
contexto significativo mínimo para a compreensão das ações de tra- balho. Neste
sentido, é possível que o objeto e o objetivo só se revelem no processo do fazer.

Nesta perspectiva, podemos constatar que na situação real de trabalho, a


variabilidade está sempre presente e de forma estrutural. Este cenário é o
espaço onde se confron- tam as características do indivíduo, as exigências da

3
pro- dução e a organização do trabalho. Portanto, é necessário integrar estas
variações de maneira a facilitar a qualidade de vida no trabalho e a favorecer, a
contento, o funciona- mento da produção.

Perrow (1967) e Wisner (1994a), em períodos distintos, ressaltam que a


variabilidade das tarefas pode ser avaliada segundo o número de exceções
verificadas para o funcio- namento normal do sistema. Outro aspecto destacado
pelos autores está relacionado ao grau de dificuldade que o tra- balhador
encontra, para identificar as alterações e varia- ções dos parâmetros que
ocorrem durante o processo de trabalho e que afetam o funcionamento do
sistema. Estes fatos, na prática, têm grande importância para a ergonomia que,
há muito tempo, tem se empenhado em demonstrar que as tarefas
aparentemente mais monótonas e as estrita- mente organizadas exigem uma
adaptação permanente dos trabalhadores às variações das máquinas e da
matéria pri- ma (Wisner, 1994a, p.166). É por isto que os ergonomistas tendem a
recomendar uma organização mais flexível, quan- do se fala na inserção de
novas tecnologias, com o objetivo de permitir ao trabalhador responder
adequadamente a es- sas variações no decorrer do seu trabalho.

A resposta dos operadores a esta variabilidade era en- tendida


anteriormente como o afastamento do trabalho pres- crito e, portanto, como um
risco à qualidade da produção e aos equipamentos. Entretanto, com os avanços
da psicolo- gia cognitiva, este afastamento é hoje entendido como uma forma de
gestão desta variabilidade. Wisner (1996) afirma que o operador constitui a todo
momento, o problema que ele tem a resolver. Esta construção se apoia tanto nas
vari- ações da máquina, do ambiente, da matéria prima e das relações
sociotécnicas, quanto nas competências do pró- prio operador.

A compreensão da competência dos trabalhadores está relacionada à sua


capacidade de regulação, ou seja, gerir a variabilidade de acordo com as
situações. Quanto maior a variabilidade das situações, menor a probabilidade de
an- tecipação, exigindo assim, maior competência dos traba- lhadores para a
passagem de uma operação prescrita à uma ação situada (contextualizada).
Esta competência possibi- lita, também, redefinir a atividade, favorecendo a
reconsti- tuição de situações anteriores por meio de reformulações, utilizando
para isto recursos do próprio contexto como, por exemplo, o apelo à competência

4
de outros trabalhadores, a elaboração de novos parâmetros para esta atividade
ou, até mesmo, a utilização eventual de uma estratégia operatória antiga. Esta
capacidade de regulação constitui uma compe- tência, que é necessário
considerar nas diferentes etapas de um projeto industrial ou organizacional,
objetivando atin- gir um funcionamento que possibilite uma produção está- vel
em quantidade e qualidade.

A análise ergonômica do trabalho permite identificar, por intermédio da


observação do contexto real de trabalho, quais são as variáveis que o operador
busca para compre- ender os problemas aos quais ele é confrontado e, desta
forma, associar os processos cognitivos que ele mobiliza na execução do seu
trabalho. Estes dados são fundamentais para a melhoria do dispositivo técnico,
da organização e da formação.

Segundo Laville (1976/1977), o objetivo do estudo da atividade do


trabalhador é conhecer as funções que este mobiliza e compreender as
modalidades de utilização des- tas funções.

Os modelos que habitualmente são utilizados nas inter- venções


ergonômicas buscam estabelecer uma relação en- tre a atividade e a
multiplicidade de fatores que a determi- na, ou seja, procuram integrar a atividade
com estes fato- res. Por exemplo, compreender como se processa a inter-
relação entre as características da população (variabilidade intra e inter-
individual) com aquelas oriundas do contexto do trabalho (organização,
tecnologia, gerenciamento, den- tre outros).

Por que é importante considerar estas características no projeto, seja no


momento da concepção ou da introdu- ção de novas tecnologias? Em outros
termos, para que de- veria servir uma analise das características da população
em um projeto industrial/organizacional?

Às vezes, o modo de funcionamento deteriorado de uma unidade é


caracterizado pela multiplicidade e diversidade entre o prescrito (o que é
estabelecido pela organização do trabalho) e o real (atividade). Perrow (1967),
sociólogo americano da área organizacional, realizou um estudo onde, já naquela
época, demonstrou a importância da variabili- dade das atividades nas
contingências da organização do trabalho, bem como a importância das

5
empresas conside- rarem este elemento nas etapas de um projeto industrial/
organizacional.

Os erros da produção atribuídos, muitas vezes, à incom- petência dos


trabalhadores, são frutos do desconhecimento da empresa sobre as reais
situações do trabalho, assim como à variabilidade das atividades às quais os
operadores são confrontados. Neste enfoque, a literatura é consensual e aponta
para a importância de se considerar, nas diferentes etapas de um projeto
industrial/organizacional, as caracterís- ticas da população e as competências
exigidas para cada situação a fim de prevenir o risco de um funcionamento
técnico de forma degradada, comprometendo as competên- cias já
estabelecidas.

A atividade de trabalho, entendida neste contexto, como o modo segundo


o qual cada um dos indivíduos se relaciona com os objetivos propostos, com a
organização do trabalho e com os meios que ele dispõe para realizá-los. Este
modo configura um conjunto sempre singular de determinações, denominado
modo operatório, ou seja, seqüências de ação, de gestos, de sucessivas buscas
e tratamento de informações, de comunicações verbais ou gráficas e de
identificação de incidentes. Enfim, significa a mobilização de suas represen-
tações mentais, de suas estratégias operatórias e das suas competências. Este
fazer, reafirmamos, é o que caracteriza a atividade efetivamente realizada pelo
sujeito.

Neste sentido, a atividade atua como um agente integrador desta


multiplicidade de fatores no processo de trabalho, em especial, da integração
das características di- ferenciadas e variáveis.

Portanto, ao considerar a variabilidade, busca-se um equilíbrio entre as


características dos sujeitos e o seu ambi- ente de trabalho visando obter os
resultados esperados pela produção, dentro das melhores condições possíveis.
Segundo Weill-Fassina (1990), o trabalho é considerado uma condu- ta finalística
que o sujeito apreende e é dirigida por uma meta cuja consecução deve se
adaptar às exigências do ambiente material e social.

A análise ergonômica do trabalho possibilita o estabe- lecimento das


relações entre a atividade e os seus diferen- tes níveis de determinantes. Como

6
integrar a noção de variabilidade, se conside- rarmos a singularidade de cada
situação estudada, a vari- abilidade natural do homem e, por vezes, a volatilidade
da ação? Quais as conseqüências desta integração para o pro- cesso de
trabalho?

A Integração das Características da População


O trabalho é uma atividade desenvolvida por homens e mulheres, para
suprir o que não é determinado pela organi- zação do trabalho. Por isto, não é
suficiente o trabalhador seguir somente as prescrições, é necessário interpretar,
cor- rigir, adaptar e às vezes criar. Para atender às exigências da situação de
trabalho, ele está constantemente submetido a um processo de regulação
interna. A sua inteligência se manifesta ao suprir as lacunas da prescrição e ao
transitar pela variabilidade da situação de trabalho, das ferramentas, do objeto
de trabalho e da organização real do trabalho.

Ao transitar nestas situações, o trabalhador utiliza es- tratégias


individuais, denominadas modos operatórios, bem como estratégias coletivas,
caracterizadas pelo comparti- lhar da atividade de trabalho com a hierarquia e
com os seus pares.

A atividade de um operador de processo contínuo, por exemplo, consiste,


basicamente, em obter, processar e ar- mazenar informações oriundas de
pontos diferentes, de na- tureza diversa e de conteúdos distintos. A partir disso,
ele constrói seu problema para, posteriormente, agir sobre o funcionamento do
processo. Para que esta ação seja efici- ente é preciso que ele tenha acesso à
uma representação atualizada (tempo real) do estado funcional do sistema.

Esse operador, raramente, age sozinho. Ele confronta seus indicadores e


indícios com as representações mentais que outros operadores constróem do
processo, para assim efetivar o seu diagnóstico. Nesse sentido, o trabalho de
equi- pe, regulado por um coletivo de trabalho, constitui um dos fatores
determinantes para a execução do trabalho. Esse coletivo, se apoia, de um lado,
na competência dos operado- res e de outro, tão importante quanto o primeiro,
nos limi- tes impostos pelas práticas de segurança.

Segundo Vigotsky (1996), um princípio regulatório am- plamente difundido


no comportamento humano é o da siginificação através do qual as pessoas, no

7
contexto de seus esfor- ços para solucionar um problema, criam ligações
temporári- as e dão significado a estímulos previamente neutros (p. 98). A
competência permite ao indivíduo atribuir um signi- ficado para a ação nas
situações de trabalho. Segundo Vergnaud (1985), a competência de um
indivíduo pressu- põe um repertório de procedimentos ou métodos alternati- vos,
que lhe permite se adaptar de forma mais fina às dife- rentes situações que se
apresentam. Isto ocorre em função do valor que ele atribui às diferentes
variáveis da situação. Assim, o operador é capaz de adotar o procedimento
corre- to em menor espaço de tempo, com menor custo operacional e de forma
menos aleatória, o que lhe permite transitar com maior ou menor grau de
dificuldade na diversidade das si- tuações às quais é confrontado. Nessa
perspectiva, as com- petências são descritas do ponto de vista da atividade,
possibilitando a compreensão da própria ação.

Se nós admitirmos que toda a ação é inscrita no tempo e que ela sofre
evolução contínua, podemos afirmar que a experiência favorece a reconstituição
de um novo evento a partir de situações vivenciadas anteriormente. Este fato é
o que é visível e passível de formalização. A experiência per- mite, inclusive, a
regulação dos efeitos das más condições do trabalho, na medida em que
contribui no processo de antecipação dos incidentes.

Desta forma, ele modifica procedimentos, elabora so- luções e avalia


alternativas, realizando a gestão de eventu- ais incidentes que podem ser
previstos, evitados, identifi- cados e até corrigidos. Este processo, exige
condutas de regulação interna, que podem resultar em aumento da car- ga de
trabalho que varia em função, dentre outros fatores, daqueles decorrentes da
experiência.

Assim, a atividade, como fio condutor da análise ergonômica, adota como


base de sustentação o fundamen- to e a gênese das experiências e das
competências solicita- das no processo do fazer e que estruturam as tarefas no
contexto organizacional.

Quando integramos no projeto de trabalho a noção de variabilidade


(experiências, formação) a distância entre o prescrito e o real toma um outro
significado, o de campo de atividade de construção de resposta relevante,

8
especialmente no que concerne ao processo de aprendizagem e à melhoria das
condições de trabalho. A prescrição polariza uma for- ma de agir.

A ausência do reconhecimento da interação, entre os pla- nos do trabalho


prescrito e do trabalho real, é um fator nega- tivo para a produtividade, pois, além
de não favorecer um espaço adequado para o processo de aprendizagem
necessá- ria, nega todos os processos de regulação executados pelos
operadores quando estes são os meios que permitem aos ope- radores
estabelecerem relações privilegiadas entre as infor- mações presentes no
ambiente, suas próprias ações e seus resultados. Neste sentido, a integração dos
resultados da aná- lise ergonômica constitui um suporte muito importante para os
processos de capacitação/qualificação dos operadores.

A análise ergonômica, quando abordada sob a ótica do processo de


aprendizagem e articulada com os diferentes níveis de competência, nos fornece
subsídios para a com- preensão das exigências de qualificação dos indivíduos,
pois permite descrever e explicar as condutas de regulação dos indivíduos,
considerando o contexto sociotécnico no qual está inserido.

As competências podem ser analisadas sob dois ângu- los, aqueles


exigidos pelas tarefas (formalizadas) e aqueles operacionalizados em função
das condições reais da reali- zação do trabalho (vivenciadas). Weill-Fassina,
Rabardel e Dubois, (1993) chama a atenção para o fato de que o nível de
complexidade de uma tarefa para determinado operador depende de sua
competência. As abstrações, as antecipa- ções, o tratamento de um número
elevado de dados, as in- terferências e as coordenações, segundo a mesma
autora, constituem algumas das dimensões da complexidade das tarefas. A
passagem à antecipação é uma atividade de natu- reza cognitiva, o que significa
esquematização, diagnósti- co, teste de hipóteses, enfim, abstrações em
situação.

A transição do pensamento situacional para o pensa- mento taxonômico


conceitual, segundo Vigotsky, citado por Luria (1994), está relacionada a uma
mudança básica no tipo de atividade que o indivíduo está envolvido (p. 70). Ele
afirma, no seu trabalho sobre a formação de conceitos, que o “pensamento
categorial” e a “orientação abstrata” são conseqüências de uma reorganização

9
fundamental da atividade cognitiva que ocorre sob o impacto de um fato novo,
social.

A característica principal do pensamento categorial ou abstrato, segundo


Luria (1994), está relacionada com a ca- pacidade dos sujeitos transitarem
livremente de uma cate- goria para outra. Já no pensamento concreto ou
situacional, os sujeitos classificam os objetos não em categorias lógi- cas, mas
os incorporam às situações gráfico-funcionais reproduzidas de memória.

Vigotsky (1996) distinguiu duas formas fundamentais de experiência que


deram origem a dois grupos de concei- tos diferentes, contudo interdependentes,
o “científico” e o “espontâneo”. O grupo dos conceitos “científicos” tem sua
origem nas atividades altamente estruturadas e especializa- das da instrução
escolar e são conceitos logicamente defi- nidos. O grupo dos conceitos
“espontâneos” emerge da re- flexão do sujeito sobre a sua experiência cotidiana.
Os con- ceitos “espontâneos”, segundo Vigotsky, seguem um cami- nho
ascendente em direção a uma maior abstração, deline- ando assim o caminho
para os conceitos científicos no seu desenvolvimento descendente em direção
ao concreto.

Nesta perspectiva, distinguimos duas formas possíveis de aprendizagem


na formação de conceitos: uma sistema- tizada pela via da instituição escolar e,
a outra, a aprendi- zagem espontânea, decorrente das vivências do sujeito.

A compreensão destes conceitos quando da introdução de novas


tecnologias, é importante, pois torna-se difícil não considerarmos neste processo
os conceitos espontâneos dos operadores, quando são submetidos às novas
tecnologias. Se tal dinâmica não é considerada, o processo de aprendi- zagem
se inicia tendo como base os conceitos científicos que exigem maior
capacidade de abstração.

Entretanto, quando da introdução de uma nova tecnologia, o processo de


formação deve se iniciar tomando como base o repertó- rio oriundo dos
“conceitos espontâneos”, retidos pela po- pulação de trabalhadores, fazendo
com que a passagem à abstração seja facilitada. O processo conduzido desta
for- ma permite ao operador transitar do concreto ao abstrato e facilita a
elaboração de ligações preferenciais nas situa- ções de resolução de problemas.

10
Esta possibilidade de abstração contribui favoravelmente para a
capacidade de antecipar os incidentes durante o pro- cesso, demonstrando,
assim, o papel essencial dos opera- dores para gerir a distância entre o trabalho
prescrito e aquele efetivamente realizado. Assim, face a uma situação anor- mal,
os operadores constróem e resolvem problemas de características singulares,
mediante processos, muitas ve- zes de natureza heurística, que combinam
uma certa criatividade com anos de experiência socialmente distribu- ída e
compartilhada entre os demais participantes.

Para compreender as modalidades de atividades cognitivas presentes


na situação real de trabalho e, eventu- almente, transformá-las, é indispensável
dispor de um ins- trumento metodológico que possibilite, especialmente, apre-
ender a forma segundo a qual os operadores constituem os problemas, antes de
resolvê-los. A abordagem adotada como referencial neste artigo – a ergonomia,
através da metodo- logia de AET em um sentido mais geral, permite descrever
a alternância das fases de constituição e resolução dos pro- blemas, fornecendo
parâmetros não só para a transforma- ção de sistemas técnicos, como também
para a organização do trabalho, a formação e a transferência de tecnologia.

11
UNIDADE III – FISIOLOGIA DO TRABALHO
O corpo humano é um organismo complexo que pode ser amplamente
afetado por riscos químicos e físicos; o corpo também possui muitas maneiras
de regular a si mesmo quando exposto aos riscos. Para controlar os riscos para
o corpo é necessário entender como ele funciona e os tipos de danos que podem
ocorrer como resultado da exposição.

PELE
A pele é a camada externa que cobre o corpo, também conhecida como
epiderme. É o maior órgão do corpo e é formada por múltiplas camadas de
tecidos epiteliais e protege os músculos, ossos e órgãos internos subjacentes.
Uma vez que a pele entra em contato com o ambiente, ela tem um papel
importante na proteção (do corpo) contra patógenos.

A pele desempenha múltiplas funções:

▪ Proteção: uma barreira anatômica contra patógenos e danos entre o


interior e o ambiente externo na defesa do corpo.

▪ Sensação: contém uma variedade de terminações nervosas que reagem


ao calor, frio, toque, pressão, vibração e lesão do tecido.

▪ Regulagem de calor: a pele contém um suprimento sanguíneo muito


maior que sua necessidade, o que permite controle preciso da perda de energia
por radiação, convecção e condução. Vasos sanguíneos dilatados aumentam a
perfusão e a perda de calor enquanto vasos contraídos reduzem muito o fluxo
sanguíneo cutâneo e conservam o calor.

▪ Controle de evaporação: a pele fornece uma barreira relativamente seca


e impermeável contra a perda de líquidos. A perda de função contribui para a
perda massiva de fluidos em queimaduras.

▪ Armazenagem e síntese: age como um centro de armazenagem para


lipídeos, assim como um meio de síntese da vitamina D.

▪ Excreção: o suor contém ureia, no entanto, sua concentração é de 1/130


a da urina, portanto a excreção pelo suor é no máximo uma função secundária
para regulagem da temperatura.

12
▪ Absorção: Enquanto a pele age como uma barreira, alguns químicos são
prontamente absorvidos por ela.

▪ Resistência à água: A pele age como uma barreira resistente contra a


água, de forma que nutrientes essenciais não sejam lavados para fora do corpo.

A pele pode ser afetada por agentes químicos, físicos e biológicos e os


transtornos cutâneos são responsáveis por uma proporção substancial de
doenças industriais. Os tipos de efeitos podem ser classificados em: dermatite,
dano físico, câncer, biológico ou outros efeitos.

DERMATITE
O transtorno mais comum é a dermatite de contato e 70% dos casos se
devem a irritação primária, isto é, ação direta na pele, mais frequentemente nas
mãos e antebraços. Um irritante é um agente que danifica diretamente as células
se aplicado à pele em concentração e por tempo suficientes (isto é, todos os
efeitos são relacionados à dose), levando a dermatite de contato por irritante.
Álcalis dissolvem a queratina e alguns solventes removem o sebo. Quaisquer
efeitos diretos na pele podem tornar a superfície mais vulnerável a outros
agentes e reduzem as defesas de entrada na pele.

A outra forma de dermatite de contato é a dermatite por contato alérgico.


Isto resulta da sensibilização da pele por contato inicial com uma substância e
subsequente repetição do contato. Um sensibilizante (alergênico) é uma
substância que pode induzir uma sensibilidade imunológica especifica a si
mesmo. A dose inicial pode precisar ser bem alta e leva a uma resposta de
hipersensibilidade retardada mediada por linfócitos e envolvendo a produção de
anticorpos. A primeira dose não produz nenhum efeito visível, mas exposições
subsequentes, frequentemente de um minuto, podem levar a dermatite.

Irritantes comuns incluem detergentes, sabões, solventes orgânicos,


ácidos e álcalis. Sensibilizantes comuns são plantas (jardinagem), antibióticos
(indústria farmacêutica), corantes (indústria de tintas e cosméticos), metais
(níquel (geralmente não-industrial) e cromados (indústria de cimentos)),
borrachas e resinas. Pessoas que trabalham com óleos de corte podem
apresentar dermatite de contato irritante e alérgica, sendo irritadas pelo óleo em
si e alérgicas aos biocidas nele presentes.

13
DANOS FÍSICOS
Agentes físicos que podem danificar a pele incluem o clima, fricção e
lesão. Frio, vento e chuva podem causar pele rachada e o sol pode queimar ou
causar tumores de pele, então ocupações expostas a esses elementos (pesca,
agricultura) apresentam risco. Lesões por fricção são comuns em trabalhos
manuais pesados (construção e mineração) e equipamentos cortantes usados
em muitas ocupações podem levar a abrasões e lacerações.

AGENTES BIOLÓGICOS
A pele está sujeita aos efeitos de agentes biológicos tais como infecções
virais de animais, infecções por leveduras e fungos quando contato prolongado
com água ocorre e infecções por antraz onde produtos animais são manuseados.

CÂNCER
Tumores de pele benignos e cânceres podem resultar de contato com
creosoto, óleos minerais e radiação ultravioleta e radiação ionizante (trabalho
com radioisótopos, radiologistas) podem causar câncer de pele. Exposição à
radiação ultravioleta ao trabalhar em áreas externas também é uma causa
comum de câncer de pele.

OUTROS EFEITOS
Trabalhos que envolvem óleos minerais podem levar a acne oleosa
particularmente nos antebraços e coxas. Poros obstruídos que se tornam
infectados produzem cravos e pústulas. Cloracne, com cravos e cistos na face e
pescoço resulta dos efeitos de alguns hidrocarbonetos aromáticos policlorinados
nas glândulas sebáceas. Alterações na pigmentação da pele podem resultar do
contato químico. Fortes soluções alcalinas e ácidas causam queimadura.

SISTEMA MÚSCULO ESQUELÉTICO


O sistema músculo esquelético fornece forma, estabilidade e movimento
ao corpo humano. Ele é formado por ossos do corpo, o esqueleto, músculos,
cartilagem, tendões, ligamentos e articulações. As funções primárias do sistema
músculo esquelético incluem suportar o corpo, permitir o movimento e proteger
órgãos vitais. A porção esquelética do sistema serve como sistema de
armazenamento principal para cálcio e fósforo e contém componentes
essenciais envolvidos na produção do sangue.

14
Há, no entanto, doenças e transtornos que podem afetar adversamente a
função e eficácia geral do sistema. Estas doenças podem afetar o diagnóstico
em decorrência da relação próxima do sistema músculo esquelético com outros
sistemas internos. O sistema músculo esquelético se refere ao sistema que tem
seus músculos conectados a um sistema músculo esquelético interno e é
necessário para que os seres humanos de movimentem para uma posição mais
favorável.

O sistema esquelético tem muitas funções importantes; ele estabelece o


formato e forma de nossos corpos, além de suporte, proteção, permitindo o
movimento corporal, produzindo sangue para o corpo e armazenando minerais.
Outra função dos ossos é a armazenagem de certos minerais. Cálcio e fósforo
estão entre os principais minerais armazenados. A importância deste
“dispositivo” de armazenagem ajuda a regular o equilíbrio mineral na corrente
sanguínea. Esta capacidade de armazenagem pode ser importante durante a
exposição a substâncias perigosas. Por exemplo; chumbo é armazenado no
sangue por longos períodos após a exposição, este pode ser liberado de forma
seletiva posteriormente e gera problemas com envenenamento por chumbo no
corpo, por exemplo, durante a gravidez.

SISTEMA NERVOSO
O sistema nervoso é uma rede de células especializadas que comunicam
informações sobre o ambiente dos nossos corpos e nós mesmos. Ele processa
estas informações e causa reações em outras partes do corpo. O sistema
nervoso está dividido, grosso modo, em duas categorias: o sistema nervoso
central e o sistema nervoso periférico. O sistema nervoso central (SNC) é a parte
maior do sistema nervoso e inclui o cérebro e a medula espinhal. O sistema
nervoso periférico é um termo para as estruturas nervosas coletivas que não
estão no SNC.

Toxinas industriais podem afetar o sistema nervoso central (cérebro e


medula espinhal) ou sistema nervoso periférico (nervos motores e sensoriais) ou
ambos e as condições resultantes dependem do local do ataque. O sistema
nervoso é semelhante ao fígado uma vez que agentes solúveis em gordura têm
muito mais probabilidade de causar danos. Elas também podem cruzar a barreira
hematoencefálica. Danos no sistema nervoso central podem produzir narcose,

15
psicose orgânica tóxica, epilepsia, Parkinsonismo e alterações
comportamentais.

Provavelmente, o efeito sobre o sistema nervoso central mais facilmente


reconhecido é a perda aguda de consciência produzida por agentes narcóticos
tais como clorofórmio, tetracloreto de carbono e tricloroetileno (todos
hidrocarbonetos halogenados solúveis em gordura) e solventes tais como
acetona, tolueno e dissulfeto de carbono. Descobriu-se que alterações
comportamentais, demonstradas por testes de inteligência, destreza e vigilância,
resultam em níveis muito mais baixos que os normalmente aceitos como seguros
na exposição ao tricloroetileno, benzina, monóxido de carbono e cloreto de
metileno.

SISTEMA ENDÓCRINO
O sistema endócrino é o nome coletivo dado a um sistema de pequenos
órgãos que liberam moléculas sinalizadoras extracelulares conhecidas como
hormônios. O sistema endócrino é essencial para regular o metabolismo,
crescimento, desenvolvimento, puberdade e função dos tecidos. Também tem
um papel importante na determinação de nosso humor. O sistema endócrino é
um sistema de sinalização de informação muito similar ao sistema nervoso. No
entanto, o sistema nervoso utiliza os nervos para transportar as informações,
enquanto o sistema endócrino utiliza principalmente vasos sanguíneos como
canais de informações por meio dos quais transporta os hormônios.

Trabalhadores farmacêuticos que manuseiam fármacos endócrinos como


estrogênio (na “pílula') ou tiroxina (usada para o tratamento da tireoide)
apresentam risco de perturbar seu próprio equilíbrio endócrino e o
dietilestilbestrol (DES) levou a tumores em crianças de trabalhadores de ambos
os sexos. Gases anestésicos (anestésicos femininos) e a exposição de cloreto
de vinila durante a gravidez foi associada a parto de natimorto ou defeitos
congênitos. Radiação ionizante pode danificar as gônadas reduzindo a fertilidade
ou aumentando os riscos de más-formações congênitas e câncer nos filhos.

16
O SISTEMA CIRCULATÓRIO
O sistema circulatório move nutrientes, gases e resíduos de e para as
células para ajudar a combater doenças e ajudar a estabilizar a temperatura e o
pH do corpo. Este sistema pode ser visto estritamente como uma rede de
distribuição de sangue, mas algumas pessoas podem considerar o sistema
circulatório como composto pelo sistema cardiovascular, que distribui o sangue
e o sistema linfático, que distribui a linfa. Os principais componentes do sistema
circulatório humano são o coração, o sangue e os vasos sanguíneos. O sistema
circulatório inclui:

▪ Circulação pulmonar: onde o sangue passa pelos pulmões e se torna


oxigenado.

▪ Circulação sistêmica: onde o sangue oxigenado passa pelo resto do


corpo.

Um adulto médio contém 4,7 a 5,7 litros de sangue, que consiste de


plasma, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Também, o sistema
digestivo trabalha com o sistema circulatório para fornecer os nutrientes que o
sistema precisa para manter o coração bombeando. O sistema linfático é
responsável pela remoção do fluido intersticial dos tecidos assim como a
absorção e transporte de gorduras e ácidos graxos. O sistema linfático também
é responsável pelo transporte de células que possuem antígeno (APCs).

O sistema cardiovascular é exposto a qualquer agente transportado no


sangue. Acredita-se que o monóxido de carbono e muitos metais (incluindo
cromo, manganês e chumbo) causem danos ao músculo cardíaco, mas a única
associação comprovada é com o cobalto. Hidrocarbonetos clorinados como
CFCs, tricloroetileno e 111- tricloroetano podem induzir arritmias (ritmos
cardíacos anormais em decorrência de defeitos na condução elétrica no
coração). O tricloroetileno causa morte súbita desta forma. Dissulfeto de carbono
(setor de viscose rayon) acelera a aterosclerose (endurecimento das artérias). O
trabalho em temperatura alta ou baixa afeta a circulação periférica e pode
prejudicar o coração.

17
O SANGUE
A produção de hemoglobina, o pigmento vermelho que transporta
oxigênio nas células, é inibida pelo chumbo inorgânico que interfere com os
sistemas de enzimas. O resultado é anemia caracterizada por pele e membranas
mucosas pálidas, fadiga e algumas vezes dispneia de esforço. Arsina e estibina
causam o rompimento dos glóbulos vermelhos (hemólise) e o resultado
novamente é anemia. Radiação X (acidentes nucleares) ou benzeno pode
causar leucemia (crescimento excessivo das células sanguíneas),
provavelmente por ação na síntese do DNA.

O transporte de oxigênio pode ser afetado de duas formas, ambas sendo


formas de asfixia. Em atmosferas onde o ar normal é deslocado pelos gases
inertes como nitrogênio, metano, hélio e dióxido de carbono, o conteúdo de
oxigênio (normalmente 21%) é diluído resultando em hipóxia (baixa tensão de
oxigênio no sangue). Isto inicialmente levará a um aumento compensatório na
frequência cardíaca e respiratória. Se a hipóxia continuar, o julgamento será
prejudicado e a pessoa ficará inconsciente e eventualmente morrerá. Respirar
100% de gás inerte (colocar a cabeça em uma câmara cheia de gás) causará
inconsciência instantânea.

A outra forma industrial de asfixia é a asfixia química. Anilina e


nitrobenzeno, como líquidos absorvidos por meio da pele intacta e monóxido de
carbono inalado, interferem com a habilidade do sangue de transportar oxigênio
associada com oxigênio, como oxihemoglobina. Anilina e nitrobenzeno se
associam com hemoglobina para formar metahemoglobina levando a cianose
(uma coloração azul nas membranas mucosas, especialmente os lábios). O
monóxido de carbono combina com a hemoglobina competindo com o oxigênio
para formar carboxihemoglobina, uma coloração carmim brilhante, fazendo com
que a pessoa afetada pareça ter cor de cereja.

SISTEMA RESPIRATÓRIO
A principal função do sistema respiratório é a troca de gases entre o
ambiente externo e o sistema circulatório. Isto envolve retirar o oxigênio do ar e
levar para o sangue e liberar o dióxido de carbono (e outros resíduos gasosos)
do sangue de volta para o ar. Na inalação, a troca gasosa ocorre nos alvéolos,
as pequenas bolsas que são o componente funcional básico dos pulmões. As

18
paredes alveolares são extremamente finas (aprox. 0,2 micrômetros). Essas
paredes são compostas de uma única camada de células epiteliais próximas dos
capilares sanguíneos que, por sua vez, são compostos de uma única camada de
células endoteliais. A proximidade desses dois tipos de células permite a
permeabilidade para gases e, portanto, a troca gasosa. O oxigênio é levado para
o sangue enquanto o excesso de dióxido de carbono é liberado.

Como a pele e os olhos, os pulmões são afetados por irritantes e


alergênicos. Eles também respondem na forma de pneumoconiose fibrótica e
doença maligna a uma variedade de agentes industriais. Partículas maiores que
10 µm de diâmetro são filtradas pelo nariz. A estrutura ramificada das vias aéreas
encoraja a deposição de partículas de 2-10 µm que podem então ser eliminadas
pelo escalador mucociliar. Nos alvéolos, as partículas remanescentes passam
de volta na árvore brônquica livremente ou são fagocitadas pelos macrófagos e
levadas para o escalador mucociliar ou sistema linfático adjacente. A despeito
de sua eficiência, grandes volumes de partículas podem sobrecarregar estes
mecanismos de defesa.

A irritação causada pelos gases e vapores produz inflamação do trato


respiratório e os sintomas tendem a ser agudos ou retardados, dependendo da
solubilidade do agente tóxico. Também pode haver efeitos crônicos. Efeitos
crônicos da exposição prolongada podem ser bronquite crônica e danos
permanentes nos pulmões. Reações alérgicas a substâncias podem causar
asma ocupacional. Os sintomas incluem insuficiência respiratória grave assim
como chiado, tosse e aperto no peito. Certas substâncias tais como isocianatos
(usado em tintas), pó de farinha e vários vapores podem causar asma. Estas
substâncias são chamadas de “sensibilizantes respiratórios” ou asmagênicos.
Eles podem causar uma mudança nas vias aéreas das pessoas, conhecida como
'estado hipersensível'. Nem todos que se tornem sensíveis passam a sofrer de
asma. Mas, uma vez que os pulmões se tornam hipersensíveis, exposição
adicional à substância, mesmo em níveis muito baixos, pode gerar um ataque.

Pneumoconiose é a reação dos pulmões à poeira mineral inalada e a


alteração resultante em sua estrutura. As principais causas são pó de carvão,
sílica e amianto e todos eles levam a cicatrização do pulmão conhecida como
fibrose colagenosa. A pneumoconiose pode não produzir qualquer sintoma por

19
anos. No entanto, à medida que os pulmões se tornam menos flexíveis e porosos
sua função é amplamente reduzida. Os sintomas incluem insuficiência
respiratória, tosse e mal estar geral. A insuficiência respiratória geralmente
começa apenas com esforço severo. À medida que a doença progride, a
insuficiência respiratória pode estar presente todo o tempo. A tosse geralmente
não está associada com catarro, mas pode eventualmente estar associada com
sangue. Em decorrência da baixa oxigenação do sangue pelos pulmões
danificados, as unhas e lábios podem parecer pálidos ou azulados.

Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) se refere a bronquite crônica


e enfisema. Estas são duas doenças pulmonares que com frequência ocorrem
simultaneamente e resultam no estreitamento das vias aéreas. Isto leva a uma
limitação do fluxo de ar de e para os pulmões causando insuficiência respiratória.
Diferente da asma ocupacional, o estreitamento das vias aéreas não é fácil de
reverter e geralmente piora progressivamente com o tempo. A DPOC pode ser
ativada por uma variedade de partículas e gases que fazem com que o corpo
produza uma inflamação anormal dos tecidos.

Tumores malignos de origem industrial podem afetar os pulmões e tecidos


subjacentes. Câncer do pulmão foi descoberto em pessoas que trabalham com
amianto (mineiros, insuladores) e o risco é aumentado pelo fumo, arsênico
(pesticidas), cromo (fabricantes de pigmentos), hidrocarbonetos aromáticos
policíclicos (manufatura de gás de carvão, trabalhadores de tabaco) e radiação
ionizante (mineradores de urânio). Pó de madeira (fabricantes de móveis de
madeira), pó de couro e pó de níquel causaram câncer dos seios nasais.

O TRATO GASTROINTESTINAL
O trato gastrointestinal é o sistema usado pelo corpo para ingerir, quebrar
e absorver nutrientes, assim como excretar resíduos. Ingestão como uma rota
tóxica de entrada na indústria é improvável, mas pode ocorrer se as pessoas
puderem comer ou fumar em suas estações de trabalho, arriscando, dessa
forma, a contaminação pelas mãos ou a partir de superfícies contaminadas.
Vômito e diarreia são mecanismos naturais de defesa contra toxinas ingeridas e
o ácido gástrico neutraliza os invasores alcalinos até certo ponto e também mata
bactérias. Absorção de toxinas é relativamente menos eficiente do que via
inalação, também limitando a entrada no corpo. No entanto, qualquer agente

20
irritante ou corrosivo que afetaria as membranas mucosas do trato respiratório
também pode causar edema nos lábios, boca e epiglote (causando engasgo) e
ulceração do esôfago e estomago.

O FÍGADO
O fígado é um dos principais órgãos metabólicos usados para processar
nutrientes que foram absorvidos no sangue a partir do trato gastrointestinal ou
via outras rotas tais como inalação. O fato de que é usado para quebrar materiais
significa que é particularmente suscetível a quaisquer toxinas no corpo. As
células do fígado podem se regenerar após danos tóxicos, sendo que a causa
mais comum é o álcool. No entanto, a absorção contínua pode interromper o
processo de regeneração e causar dano permanente no fígado. Doença hepática
pré-existente pode tornar isso mais provável.

Industrialmente, álcoois solúveis em gordura e hidrocarbonetos


halogenados são particularmente conhecidos por seus danos nas células
hepáticas. O sinal mais óbvio de dano hepático é a icterícia. Dano hepático,
geralmente cirrose, é um precursor importante de hepatomas (tumores no
fígado) e, portanto, danos hepáticos a longo prazo industrialmente induzidos
predispõem os funcionários a tumores no fígado. O fígado em si é um órgão
protetor, uma vez que seu processo de desintoxicação normal altera toxinas
potenciais para formas seguras (e algumas vezes ocorre o contrário).

SISTEMA EXCRETOR
O rim tem um papel importante na manutenção do equilíbrio de fluidos e
eletrólitos por meio de filtragem e sua reabsorção seletiva no sangue. Ele excreta
(por meio da urina) resíduos indesejados (incluindo toxinas), que se tornaram
solúveis em água por meio do metabolismo no fígado.

Toxinas podem danificar os rins os quais, por sua vez, afetam o


metabolismo do cálcio, equilíbrio ácido-base e reabsorção de água. Na falha
renal aguda, o fluxo de urina cessa totalmente. A radiação ionizante pode causar
danos na célula renal e fibrose. Uma vez que a urina é concentrada e
armazenada na bexiga, a exposição a este órgão é bem mais longa do que ao
restante do trato urinário. Portanto, ele é bem mais suscetível aos cânceres
industrialmente induzidos.

21
OS OLHOS
Não há necessidade de explicação quanto à função dos olhos. Também
está claro que eles são relativamente frágeis. Os olhos são protegidos até certo
ponto pelos ossos frontais acima deles e pelas pálpebras, juntamente com o
reflexo de piscar.

Os cílios mantêm as partículas de poeira longe dos olhos e as lágrimas


fornecem um fator de diluição para químicos invasores e esterilização contra
agentes infecciosos. Em decorrência de sua construção frágil os olhos são
particularmente suscetíveis a lesões. Feridas perfuro-cortantes podem levar a
danos na córnea, catarata e descolamento da retina, todos levando a cegueira.
Danos à íris podem provocar uma reação simpática no outro olho e cegueira
total. Ácidos e álcalis queimam a córnea. Álcalis são especialmente perigosos,
pois a dor é menor e quando a vítima percebe e os lava, a frente do olho pode
ter sido dissolvida.

Qualquer gás irritante, como dióxido de enxofre e amônia, pode causar


conjuntivite (caracterizada por vermelhidão, desconforto e lacrimejamento dos
olhos). Alergênicos, como plantas e tinturas, algumas vezes produzem uma
reação semelhante. Uma conjuntivite extremamente dolorosa incluindo fotofobia
(desconforto ao olhar para a luz) ocorre algumas horas após exposição à
radiação ultravioleta usada em soldagem. A condição é conhecida como olho de
arco e geralmente envolve a córnea assim como a conjuntiva
(ceratoconjuntivite). Catarata (opacidade do cristalino) resulta de trauma (uma
ferida penetrante ou golpe grave), calor (olho do vidraceiro) e irradiação (lasers
e micro-ondas). Queimaduras da retina podem ser causadas por radiação
infravermelha e lasers. Cataratas podem ser removidas e substituídas por
cristalinos artificiais ou lentes de contato. Queimaduras e lacerações da retina
produzem danos irreparáveis naquela área de visão (pontos cegos).

22
REFERÊNCIAS
Abrahão, J., & Pinho, D. L. M. (1999). Teoria e prática ergonômica: seus limites
e possibilidades. In M. G. T. Paz & A. Tamayo (Orgs.), Escola, saúde e trabalho:
estudos psicológicos (pp. 229-240). Brasília: Editora Universidade de
Brasília.

Ambardar, A. K. (1984). Human-computer interacion and individual differences.


In G. Salvendy (Org.), Human-computer interacion. (v. 5, pp. 1207-1230).
Amsterdam: Elsevier.

Bialystok, E., & Ryan, E. B. (1985). A metacognitive framework for the


development of first and second language skills. In D. Forrest-Presseley
(Org.), Metacognition, cognition and human performance (v. 1, pp. 35-56.).
Cambridge: Academic Press.

Cesar, M. J. (1998). Serviço Social e reestruturação industrial, requisições e


condições de trabalho profissional. In M. J. Cesar (Org.), A nova fábrica de
consensos: ensaios sobre a reestruturação empresarial, o trabalho e as
demandas ao Serviço Social. São Paulo: Cortez.

Clot, Y. (1999). La fonction psychologique du travail. PUF: Paris.

De Keyser, V. (1991). Works analysis in French language ergonomics: origins


and current research trends. Ergonomics, 34(6), 653-669.

Dejours, C. (1996). Épistémologie concrète et ergonomie. In F. Daniellou


(Org.), Lérgonomie en quête de ses principes: débats épistémologiques.
Toulose: Octares.

Kirwan, B., & Ainsworth, L.K. (1992). A guide to task analyses. London: Taylor &
Francis.

Kuutti, K. (1996). Activity theory as a potential framework for human-computer


interaction research. In B. Nardi (Org.), Context and consciousness: activity
theory and human-computer interaction. (pp. 17-44 ). Cambridge: MIT Press.

Leplat, J. (1986). L'analyse psychologique du travail. Revue de Psychologie


Appliquée, 31(1), 9-27.

23
Leplat, J. (1993). L' analyse psychologique du travail: quelques jalons
historiques. Travail Humain, 56(2-3), 115-131.

Leontiev, A (1972) O desenvolvimento do psiquismo. São Paulo: Moraes.

Lojkine, J. (1999). A revolução informacional (2a ed.). São Paulo. Cortez.

Marmaras, N., & Pavard., B. (1999). Problem-driven approach to the design of


information technology systems supporting complex cognitive task. Cognition,
Technology & Work, 1(4), 222-236.

Montmollin, M.(1984). L' intelligence de la tâche: élements d' ergonomie


cognitive. Berne: Peter Levy.

Norman, D. A. (1991). Cognitive artifacts, in designing interaction, psychology of


human computer interface. Cambridge: Cambridge University Press.

Patesson, R. (1986). Avant-propos: L' ergonomie et l' informatique. In R.


Patesson (Org.), L'homme et l' ecran: Aspects de l' ergonomie en
informatique (pp. 21- 32) Bruxelles: Editions de l'Université de Bruxelles.

Shneiderman, B. (1987). Social and individual impact. In B. Shneiderman


(Org.), Designing the user interface (pp. 423-436). Boston: Addison-Wesley.

Simon, H. A. (1980). La nouveau management. La décision par les ordinateurs.


Paris: Economica.

Thereau, J. (1992). Le cours d'action: analyse semiologique. Neufchatel: Peter


Lang.

Vicente, K. (1999). Cognitive work analysis: toward safe, produtive, and healthy
computer-based work. London: Lawrence Erlbaum.

Wisner, A. (1990). La méthodologie en ergonomie: d'hier, à


aujourd'hui. Performaces Humaines & Techniques, 50, 32-38.

Wisner, A. (1995). Ergonomie et analyse ergonomique du travail:un champ de


l'Art de l'Ingénieur et une méthodologie générale des sciences
humaines. Performances Humaines & Techiniques, Nº hors serie Seminarie
Paris 1 (Septembre), 74-78.

24
Wisner, A. (1996). Questions épistémologiques en ergonomie et en analyse du
travail. In F. Daniellou (Org.). L' ergonomie en quête de ses principes – Débats
épistémologiques (pp. 29-55) Toulose: Octares.

Wisner, A., Daniellou, F., Pavard, B., Pinski, L., & Theureau, J. (1984). Place of
work analysis in software design. In G. Salvendy (Org.), Human-computer
interacion. Amsterdam: Elsevier.

25

Você também pode gostar