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Ergonomia

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1- INTRODUÇÃO

Actualmente, não restam dúvidas quanto à relação entre condições de trabalho e produtividade, quer
pelos custos directos e indirectos dos acidentes de trabalho, quer pelo absentismo por doença,
particularmente no que se refere a doenças profissionais. De uma maneira geral, não tem sido dada
grande atenção às condições em que a actividade de trabalho é realizada, embora se saiba que um meio
que exponha os trabalhadores a riscos graves pode ser a causa directa de acidentes de trabalho e de
doença profissionais. Por outro lado, sabe-se que a insatisfação decorrente de condições de trabalho não
adequadas pode afectar a produtividade, em termos qualitativos e quantitativos, e determinar uma
rotação excessiva do pessoal e até um absentismo elevado.

Neste contexto, a Ergonomia assume uma importância particular, não só pelos objectivos que persegue,
como pelas características das acções que preconiza. Os resultados da aplicação de critérios
ergonómicos, quer em concepção de produto, quer em intervenção em sistemas de produção, já são, na
verdade reconhecidos. O adjectivo “ergonómico” tornou-se um factor de marketing, mas é preciso
controlar alguma superficialidade com que possa ser utilizado. Já se pode dizer com segurança que uma
intervenção ergonómica num sistema de produção, desde a fase de projecto, se reflecte em ganhos
significativos a vários níveis, desde a diminuição da duração da fase de arranque ao aumento do grau da
satisfação dos operadores. Quando pudermos quantificar estes efeitos a longo prazo, os resultados serão
ainda mais positivos, particularmente no que se refere aos seus efeitos sobre a segurança e a saúde dos
operadores.

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2 - A Origem da Ergonomia como Ciência

A palavra Ergonomia provém do grego, Ergon que significa trabalho e Nomos que significa estudo das
regras e normas. O termo foi utilizado pela primeira vez em 1857, quando o polaco Wojciceh
Jastrzebowski publicou uma das suas obras, intitulada “Esboço de Ergonomia ou Ciência do Trabalho”,
em que definia a ergonomia como a ciência da utilização das forças e das capacidades humanas.

A Ergonomia tem as suas origens como ciência na segunda guerra mundial (1939 – 1945), quando os
engenheiros desenharam máquinas complexas, inovações que não corresponderam ao que delas se
desejava porque não foram tomadas em consideração as características e as capacidades dos seus
operadores.

A nível militar, no final da guerra, em 1945 os Estados Unidos da América faziam esforços paralelos na
criação dos laboratórios de psicologia pela Força Aérea e pela Marinha. Esta evolução nos Estados
Unidos deu origem à Engenharia Humana, tendo sido criada em 1957, a Human Factors Society.

A atribuição da sua designação deve-se no entanto a K. Murrel, um engenheiro inglês, que no ano de
1949 lhe atribuiu o significado que hoje conhecemos.

A partir do início da década de 50, com a criação da Ergonomics Research Society, em Inglaterra, a
ergonomia começa a sua expansão pelo mundo industrializado, desenvolvendo-se assim o interesse
pelos problemas inerentes ao trabalho humano.

Nos vinte anos que se seguem, entre 1960 e 1980 assiste-se a um rápido crescimento e expansão da
ergonomia para além das fronteiras militares, pois o meio industrial começa a tomar consciência da
importância da sua aplicação na concepção de produtos e de sistemas de trabalho.

Na Europa, alguns anos mais tarde a Ergonomia começou a ser utilizada com o objectivo de optimizar o
trabalho humano. Os primeiros estudos centram-se no aperfeiçoamento das máquinas, uma vez que até
aí eram os trabalhadores que a elas se tinham que adaptar muitas vezes á custa de longos e difíceis
processos de aprendizagem. Com o aumento da complexidade e dos custos das máquinas e
simultaneamente, com a imposição do valor da vida humana, surge a preocupação de conceber
máquinas e equipamentos mais adaptados às características humanas do ponto de vista antropométrico,
biomecânico, fisiológico, psicológico, de formação e competência, etc.

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Nesta evolução em 1963 surge uma das maiores sociedades de Ergonomia do mundo – a SELF (Société
d’Ergonomie de Langue Française), com profissionais franceses, belgas, suíços e luxemburgueses.

A Ergonomia continua a crescer e na década de 80 a revolução da tecnologia computacional coloca a


ergonomia em cartaz. A tecnologia informatizada vem proporcionar novos desafios á Ergonomia pois
novos dispositivos de controlo, apresentação da informação por écran e sobretudo o impacto das novas
tecnologias sobre o homem constituíram áreas de análise e de intervenção para o ergonomista.

Em Portugal por esta altura a ergonomia era inexistente, julga-se que as necessidades sociais criadas
com a integração da União Europeia e o cumprimento de normas comunitárias relativamente à
regulamentação do trabalho e das suas condições ambientais levaram à necessidade de
desenvolvimento e aparecimento desta área.

Tendo em conta o DL nº 441/91 de 14 de Novembro refere no primeiro parágrafo o seguinte: “ A


realização pessoal e profissional encontra na qualidade de vida do trabalho, particularmente a que é
favorecida pelas condições de segurança, higiene e saúde, uma matriz fundamental para o seu
desenvolvimento”, podemos deduzir que sem a implementação de uma prática ergonómica, esta
qualidade de vida no trabalho dificilmente será alcançada.

Em 1985 na Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade Técnica de Lisboa, dá início ao


desenvolvimento de formação nesta área, com a criação da Licenciatura em Ergonomia. Nesta escola
cujo objecto de estudo é a Motricidade Humana, a perspectiva que se desenvolve tem características
particulares, assim a Ergonomia é entendida como “O estudo multidisciplinar do Homem no seu universo
existencial, visando a optimização das suas relações em termos estéticos, operacionais, de eficiência,
conforto e segurança”

Em 1992 por iniciativa do Departamento de Ergonomia da Faculdade de Motricidade Humana, é criada a


APERGO (Associação Portuguesa de Ergonomia).

Em 1994, na sequência dos trabalhos do grupo HETPEP (Harmonising European Training Programmes
for the Ergonomics Profession) é criado o CREE (Centro de Registo do Ergonomista Europeu), que
especifica os conhecimentos standards e a prática profissional que definem o Ergonomista Europeu e
regista todos os seus candidatos que reúnam os requisitos.

Em forma de resumo sobre a evolução desta matéria podemos dizer que, numa perspectiva histórica, se
consideram três pontos fundamentais na evolução da Ergonomia:

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 Uma primeira fase em que o estudo se centrava sobre a máquina e o seu aperfeiçoamento, á
qual o operador se tinha de adaptar; procurava-se seleccionar e formar o operador de acordo
com as exigências e características das máquinas.
 Uma segunda fase em que, face aos problemas levantados pelos erros humanos, o estudo
começou a centrar-se no homem, procurando modificar as máquinas tendo em consideração as
características, capacidades e limites do homem.
 A terceira e última fase, ou seja, a actual, em que se considera a análise do sistema global
Homem-Sistema, sistema este que inclui não só máquinas e equipamentos, mas também todo o
ambiente de trabalho.

2.1 - Conceitos e Perspectivas da Análise do Trabalho

Várias são as definições ou conceitos que são atribuídos á Ergonomia, dependendo das linhas orientarias
dos seus autores, fazendo uma pequena revisão da literatura é fácil encontrar vários exemplos:

“ A Ergonomia é uma tecnologia das comunicações nos sistemas Homem(s)/Máquina(s).” MONTMOLIN

“ A Ergonomia é um conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem e necessários para


conhecer os utensílios, as máquinas e os dispositivos que possam ser utilizados com o máximo de
conforto, segurança e eficácia” WISNER

“ A Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e ambiente, e


particularmente, a aplicação dos sues conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos
problemas surgidos desse relacionamento”. ERGONOMICS RESEARCH SOCIETY

“A Ergonomia é um corpo de conhecimento sobre as capacidades humanas, características e limitações


humanas que são relevantes para a concepção. Concepção ergonómica é a aplicação deste corpo de
conhecimento na concepção de ferramentas, máquinas, sistemas, tarefas e envolvimentos seguros com
vista ao uso humano confortável e eficiente.” BOARD OF CERTIFICATION FOR PROFESSIONAL
ERGONOMISTS

“A Ergonomia é entendida como o domínio científico e tecnológico interdisciplinar que se ocupa da


optimização das condições de trabalho visando de forma integrada o conforto e a segurança do
trabalhador e a eficiência do sistema produtivo e o aumento da produtividade”. Brochura da Faculdade de
Motricidade Humana.

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A Ergonomia entra assim em todas as áreas de uma organização, como se pode concluir pelos os
conceitos que nos são transmitidos por duas grandes organizações:

“A Ergonomia é uma ciência que visa o máximo rendimento, reduzindo os riscos do erro humano ao
mínimo, ao mesmo tempo que trata de diminuir, dentro do possível os perigos para o trabalhador. Estas
funções são realizadas com a ajuda de métodos científicos e tendo em conta, simultaneamente, as
possibilidades e as limitações humanas devido à anatomia, fisiologia e psicologia.” ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DE SAÚDE

“A Ergonomia consiste na aplicação das ciências biológicas do Homem em conjunto com as ciências de
engenharia, para alcançar a adaptação do homem com o seu trabalho medindo-se os eus efeitos em
torno da eficiência e do bem-estar para o Homem.” ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Para concluir podemos definir a Ergonomia como uma ciência aplicada, na medida em que o seu objecto
de estudo - a actividade humana, quer seja ela profissional, utilitária ou mesmo recreativa - nunca está
desligada do contexto em que se insere, nem dos objectivos em vista. Estes objectivos são pois, a
eficácia das acções, não perdendo de vista a segurança e o conforto dos actores, podendo afirmar-se
que este triângulo formaliza os objectivos da acção ergonómica.

Assim, se a Ergonomia é uma ciência aplicada que estuda o trabalho humano, também este pode ser
entendido de diferentes formas, consoante a evolução do valor que se foi atribuindo ao mesmo. O
trabalho humano é então uma forma de actividade humana, cujo valor que o homem lhe atribui variou ao
longo dos anos.

Os valores atribuídos nas épocas anteriores parecem todos coexistir. É através da sua natureza, do seu
conteúdo, dos seus modos de organização, das suas condições de realização, mas também através de
posição social que o trabalho confere, que é possível compreender o valor que cada um lhe atribui.

2.1.1 - As Raízes
A Revolução industrial (1830-séc. XIX) modificou profundamente as concepções sobre o trabalho ao
enfatizar a existência de uma relação salarial que põe em confronto dois grupos e trabalhadores dentro
da empresa: os que gerem e os que executam as tarefas produtivas, sendo estes últimos que recebem
dos primeiros um salário em troca da sua força de trabalho.

No final do Século XIX, início do século XX, a sociedade industrial, com crises económicas cíclicas, lutas
e reivindicações sociais dos trabalhadores, o aparecimento de partidos políticos e sindicatos, confronta-se
com a tendência para a queda de lucros. Para contrariar esta tendência foram procuradas soluções fora

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das próprias empresas nomeadamente pela prática de monopólios, exploração de colónias e


investimentos exteriores (Lacombez, 1995). Os fracos resultados obtidos a este nível levou a que fossem
tentadas soluções no interior das próprias empresas pelo estudo do comportamento dos homens no
trabalho. È pois neste contexto que surgem as primeiras investigações sobre o trabalho humano com o
objectivo de tornar a mão de obra mais produtiva.

2.1.2 - O Taylorismo e a Escola das Relações Humanas

Aproveitando o facto de àquela data as máquinas estarem já mais aperfeiçoadas, o que permitia não só
diminuir os trabalhos de ajustamento mais delicados, como ainda a sua utilização por operadores não
qualificados Taylor elaborou um conjunto de princípios de organização do Trabalho designados por
Organização Científica do Trabalho (OCT) que se caracterizava principalmente pela separação entre
tarefas de concepção e tarefas de execução, pela fragmentação/racionalização destas últimas e
consequentemente estandartização dos instrumentos de trabalho.

Segundo Taylor o Homem não é mais do que gestos e movimentos, não tendo actividade mental. Uma
vez efectuada a aprendizagem, o homem funciona como uma máquina. O homem não é mais do que
uma peça na engrenagem, cujo comportamento foi programado se modifica, nem com a experiência, nem
com a idade, ou em função de constrangimentos exteriores.

Neste contexto organizacional, as tarefas caracterizavam-se por uma forte componente sensório-motora
colocando problemas ao nível da aquisição de habilidades e aparição de fadiga.

Na organização Tayloriana as tarefas são concebidas de maneira a que sejam específicas e


individualizadas, evitando assim, as discussões entre trabalhadores e permitindo que cada um seja
remunerado em função da sua produtividade. Este princípio é sistematizado por Henry Ford no Trabalho
em Cadeia:
- a segmentação dos gestos do taylorismo transforma-se na segmentação das tarefas
- o número de postos de trabalho é multiplicado, abrangendo cada um o menor número possível de
actividades.

Fala-se então na parcelização do trabalho, que se desenvolverá também ao trabalho administrativo.

As mudanças que se impunham neste novo modelo de sociedade fez surgir na década de 30 o
Movimento das Relações Humanas, desenvolvido por Elton Mayo, este movimento procurou actuar no
seio da empresa com o objectivo de transformar o “clima empresarial e vencer as resistências à
mudança”, que corriam devido ás características inerentes ao trabalho industrial – trabalho repetitivo que

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pode originar fadiga. Este movimento tinha como objectivo compreender as relações no interior dos
grupos de trabalho e de grupo em grupo de trabalho sem, no entanto, por em causa o taylorismo no que
se refere à organização do trabalho propriamente dita, mas antes acrescentar-lhe um certo número de
vantagens e de condições que lhe permitiam a plena eficácia.

A partir dos trabalhos de Elton Mayo e da sua equipa aparece a Escola das Relações Humanas, na qual o
homem é caracterizado pela sua necessidade de pertencer a um grupo. A escola das Relações Humanas
contesta a tese do Taylorismo por um conjunto de experiência que se consideram científicas, prova-se
que o homem, tem acima de tudo necessidade de ser considerado, respeitado e de se reconhecer
pertencente a um grupo.

A moral do grupo tem uma influência sobre o nível de produção e não independentemente das condições
materiais de trabalho, nem da qualidade das relações hierárquicas.

2.1.3 - Uma Perspectiva Mecanicista – crítica á Escola das Relações Humanas


Á semelhança do Taylorismo, que considerava o homem como uma peça da engrenagem, a Escola das
Relações Humanas desenvolve uma perspectiva mecanicista, na qual o grupo é a peça da engrenagem
essencial ao desenvolvimento do sistema. Assim a Escola das Relações humanas, mostra que considera
o indivíduo e o grupo como um elemento de um mecanismo que é preciso conhecer, mas ao qual não se
confere nenhuma capacidade de decisão.

2.1.4 - O Impacto da 2ª Guerra Mundial

Á semelhança do que já ocorreu na 1ª Guerra Mundial a mobilização dos Homens para o combate,
obrigou as empresas a colocarem mão-de-obra substituta para garantir o funcionamento das fábricas. De
igual modo, no final da guerra colocou-se o problema da readaptação ao trabalho de homens e mulheres
mutilados e traumatizados. (Billard, 1996). È neste contexto que em Inglaterra, mas principalmente nos
Estados Unidos, se vê surgir o desenvolvimento da engenharia Humana.

A perspectiva da engenharia Humana era de procurar integrar na concepção das ferramentas, máquinas
e dispositivos técnicos, os conhecimentos desenvolvidos sobre o homem pela fisiologia e psicologia
experimental, com o objectivo de alcançar a adaptação da máquina ao homem. Formam-se então
equipas multidisciplinares (antropólogos, médicos, engenheiros,...) que abordavam temas como a
percepção, memória, vigilância, posturas, fadiga, comunicação,...).

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A análise é centrada nas condições de trabalho procurando corrigir ou eliminar os incómodos e limitações
que se opõe à capacidade humana, tal como uma cadeira demasiado alta, iluminação inadequada, etc.
Está por isso centrado numa perspectiva física dos fenómenos tendo em conta as características
psicofisiológicas dos indivíduos.

Enquanto nos Estados Unidos se desenvolvia a Engenharia humana, na Europa Ombredane e Faverge
publicam em 1955 o seu livro “L’analise du Travail” – (A Análise do Trabalho) cujos princípios vão dar
origem ao desenvolvimento de uma tradição de estudos em ergonomia apelidada “Ergonomia da
Actividade Humana”. A abordagem seguida pelos autores não só propõe uma distinção entre o trabalho
prescrito e o trabalho real, como ainda fomenta o abandono do laboratório e preconiza a análise do
trabalho no terreno (in situ), ou seja, no próprio contexto de trabalho, único local onde é verdadeiramente
possível conhecê-lo. O trabalhador passa a ser encarado como actor do sistema e não um mero
elemento, e por este motivo a investigação debruça-se sobre as características e especificidades de cada
trabalhador na realização do seu trabalho, nas estratégias que desenvolvem, nos comportamentos de
regulação postos em acção, nos modos operatórios que utilizam e nas consequências da sua actividade
em termos de saúde e eficácia.

Wisner faz um percurso análogo mas na área da fisiologia, pois ele defende que é preciso sair-se do
laboratório para compreender que por exemplo, os picos apresentados num electrocardiograma
representam na actividade um esforço acrescido das capacidades do trabalhador. A característica
essencial da análise do trabalho numa perspectiva ergonómica, segundo este autor é que representa um
método destinado a examinar aquilo que se passa na complexidade da realidade de trabalho sem ter um
modelo predefinido à priori. Esta orientação é oposta à das ciências aplicadas que ensaia no terreno os
modelos elaborados em laboratório através de métodos experimentais.

A Ergonomia preconiza pois, uma intervenção que partindo da análise da actividade de trabalho e das
condições da sua realização, propõem medidas que são estudadas nos seus efeitos múltiplos e
recíprocos de forma a dar coerência à intervenção e resposta aos objectivos do sistema produtivo.

A análise é centrada no sistema de trabalho é definida como apoios e ajudas que favorecem a eficácia e
a competência humana, como por exemplo a organização de trabalho, a formação profissional, etc.
Centra-se na actividade, fazendo registos da dimensão física e química do sistema, da tarefa, das
condições, da dimensão histórica, etc.

Pelo que se o modo de analisar o trabalho difere, consequentemente o modo de intervir também difere
em função da abordagem em que é feita essa intervenção.

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A análise ergonómica reside numa análise realista do trabalho, que se centra na análise da tarefa e da
actividade, efectuada no terreno, para se conhecer e compreender essa mesma realidade e para sobre
ela se poder intervir.

A Análise do trabalho segundo outros autores:

Motmollin
A Análise do Trabalho fixa-se na análise dos dois componentes que são a Tarefa e a Actividade

Tarefa

Actividade

Quadro 1 – Componentes do trabalho segundo Montmolin

Tersac
Procura compreender a tarefa (o dever fazer) e o modo de realização, ou seja, a actividade ( o modo de
fazer) em relação com quem faz.
“dever fazer”

“modo de fazer”
quem?

Quadro 2 – Componentes do trabalho segundo Tersac

Assim, na análise do Trabalho, seja qual for o modelo a análise é feita a partir do pressuposto que Tarefa
e Actividade são distintas, isto e aquilo que se deve fazer e aquilo que efectivamente se faz não é a
mesma coisa.

A abordagem behaviorista: o operador isolado visto como sistema sinal-resposta (década de 50). O
argumento da abordagem behaviorista é que a actividade humana é baseada na relação estímulo-
resposta, sem qualquer referência a processos psicológicos que ocorrem entre ambos.

Enquadrado neste paradigma o modelo mais simples de posto de trabalho comporta um homem e uma
máquina emitindo esta última informações para o homem e este efectuando comandos de resposta ás

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informações recebidas da máquina. Este modelo simplista constitui a base do conceito de sistema
Homem-máquina que prevaleceu até ao desenvolvimento das teorias comitivas modernas.

Mas não podemos limitar o trabalho humano a tal visão: um conjunto de ligações elementares entre o
homem e o seu envolvimento técnico. Entre outras razões salienta-se (Sperandio , 1996):

 O posto de trabalho comporta não um mas vários operadores que interagem entre si.
 O comportamento dos operadores não é determinado unicamente pelos sinais explícitos que
emite a máquina, mas também por regras e instruções exteriores à própria máquina, pelas suas
características individuais, como a sua experiência, conhecimentos, envolvimento social de
trabalho e ainda pelos objectivos do próprio operador.
 Pelo facto da máquina emitir sinais não significa que sejam percebidos pelo homem
 O tratamento de sinais, quer provoquem ou não uma resposta, não se pode exprimir como uma
simples associação condicionada entre um sinal perfeitamente interpretado e uma resposta
quase reflexa. O processo de tratamento pode ser muito longo e não constante.
 É necessário ainda considerar que o comportamento da máquina não é unicamente determinado
pelos comandos do homem.
 Não obstante as limitações referidas, esta abordagem, com grande apogeu no período da
segunda guerra mundial, foi relevante para a ergonomia, como disse Sperandio : “ ... a noção de
sinal, como a de informação permanece importante na análise do trabalho. De um ponto de vista
ergonómico os sinais são todos os índices (estímulos) aos quais o operador reage ou é
susceptível a reagir”.
 A abordagem do tratamento de informação.
 Esta abordagem tem as suas raízes na teoria da informação desenvolvida por Shannon em
1948. Embora fosse uma teoria matemática, concebida para a quantificação das
telecomunicações a psicologia experimental viu nela uma base teórica e metodológica de grande
utlidade para uma variedade de experiência sobre a percepção, a memória e a carga mental.
Muitos conceitos dessa teoria foram importados e acabaram por ter também a sua aplicação no
domínio da análise e transformação das condições de trabalho.
 A abordagem aos processos cognitivos no decurso do trabalho.
 A psicologia cognitiva nasceu da impossibilidade de se desenvolver a análise comportamental
para além de certos limites de complexidade das condutas. Não é possível explicar o
comportamento humano sem criar variáveis intermédias ou construções hipotéticas que possam
sozinhas permitir passar de um plano de descrição objectiva a um plano de interpretação teórica.
As representações centrais são tão importantes quanto as variações do envolvimento. Assim o
indivíduo passa a ser visto como um sistema de tratamento de informação que transforma as
informações de natureza física em informações de natureza mental.

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 A ergonomia viu aqui a oportunidade de juntar aos desenvolvimentos teóricos uma dimensão
essencial que a caracteriza, a abordagem de terreno, ou seja com operadores em situação real
de trabalho.
 De facto, se por um lado os estudos permitiram a construção de modelos de funcionamento
cognitivo do homem, por outro é necessário considerar que todo um conjunto de factores
presentes na realidade de trabalho historie esses mesmos modelos e que por isso justifica a
realização de estudos ecológicos.
 Estas preocupações levaram a que na década de 70 começassem a ser efectuados estudos
segundo uma abordagem mais ecológica. É também nesta mesma altura que Ochaie (1981)
apresenta a sua tese obre a imagem metal e o conceito de operatividade que acabaram por ser
centrais na evolução da ergonomia. Estas teorias permitiram um novo enfoque em temas como a
fiabilidade e o erro humano.
 “ O homem é também agente de fiabilidade e, nesse sentido devem ser feitos esforços para tirar
proveito das suas capacidades”. O erro não pode nunca deixar d ser visto como resultado de
uma interpretação do operador com a sua tarefa e, como tal, implicando outro nível de análise
que não puramente cognitiva. A sua análise e interpretação deve pois ser enquadrada com a
característica contextuais, circunstanciais da situação de trabalho.
 Isto emite-nos para uma outra abordagem do erro, deixando de considerá-lo simplesmente como
um desempenho degradado, inadequado de um operador e como tal susceptível de
condenação, para olhá-lo sob o ponto de vista positivo, ou seja, como revelador de um
disfuncionamentos nessa interacção e que por isso merece ser objecto de uma análise
específica, de modo a permitir uma concepção de uma intervenção posterior susceptível de
melhorar as condições em que se trabalha. (Lacomblez, 1997).
 Posicionamento Epistemológico
 “As certezas experimentais têm limites” (Wisner, 1990)
 Em meados do presente século, os problemas colocados pela inadequação das situações de
trabalho ao homem levou à formulação da ergonomia. Ela construiu-se sob o paradigma da
aplicação de conhecimentos científicos sobre o funcionamento do homem à concepção de meios
de trabalho. De facto, a ergonomia não começou por ser considerada uma disciplina científica,
mas como um campo multidisciplinar, que usufruía de conhecimentos desenvolvidos por outras
ciências, essencialmente a psicologia e a fisiologia, obtidos pela via da experimentação
laboratorial.
 A prática da análise ergonómica do trabalho e a confrontação que desde sempre tem vindo a
fazer com outras disciplinas, conduziam a um conjunto de constatações entre as quais Daniellou
(1996) refere:
 A diferença entre o trabalho prescrito e o trabalho real;
 Colocar em evidência a actividade cognitiva e as competências dos operadores;

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 A realização de raciocínios em numerosas situações;


 A complexidade dos compromissos elaborados pelos operadores e seus efeitos em termos de
desempenho e custo;
 A complexidade dos mecanismos atingindo a saúde.
 O conjunto destas descobertas contribuiu para reforçar o estatuto do objecto de pesquisa – o
próprio trabalho humano encorajando a ergonomia a demarcar-se como ciência autónoma.

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3 - PRINCIPAIS CORRENTES
Da Abordagem Ergonómica de Sistemas Homem – Máquina.

Com a evolução do significado atribuído ao trabalho, também a evolução do conceito da ergonomia como
ciência foi evoluindo. De acordo com o tipo de valor atribuído ao trabalho e de acordo com a importância
e do papel do homem no trabalho derivaram duas principais correntes no entendimento da Ergonomia
como ciência.

A primeira corrente a anglo-saxónica (hoje mais Americana), considera a Ergonomia como a utilização de
algumas ciências para melhorar as condições do trabalho humano. É uma corrente que orienta a
Ergonomia para a concepção de dispositivos técnicos (écrans, utensílios, postos de trabalho, máquinas,
programas, etc.)

A segunda corrente, mais recente, portanto a corrente Europeia, considera a Ergonomia como o estudo
específico do trabalho humano com vista a melhorá-lo. Nesta perspectiva a Ergonomia preocupar-se-á
menos com o écran ou com o assento isoladamente do que com todo o conjunto da situação de trabalho
em questão: nesta perspectiva a fadiga, os erros cometidos pelo trabalhador só podem ser realmente
explicados e minorados se a sua tarefa particular e a forma como é realizada (a sua actividade) forem
analisadas nos seus locais específicos.

Na corrente europeia a Ergonomia está orientada essencialmente para a organização do trabalho,


levantando questões como: Quem faz?; O que faz?; Como faz?; Como poderia fazer?; etc.

A corrente Americana centra-se portanto sobre o factor humano, considerando o homem como um
componente do sistema de trabalho. Tem em conta as suas características antropométricas para o
desenvolvimento de produtos.

A corrente Europeia centra-se sobre a actividade humana, considerando o homem como actor do sistema
de trabalho. Tem em conta todas as características físicas e psicológicas para a adaptação do sistema de
trabalho, quer seja em termos de layout ou de organização do trabalho.

Vejamos as divergências existentes no que diz respeita á análise do trabalho:

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Corrente AMERICANA Corrente EUROPEIA

Situação de Trabalho Situação de Trabalho

É definida como os incómodos e É definida como os apoios e ajudas


limitações que se opõem à que favorecem a eficácia e
Capacidade Humana competência Humana
ex. cadeira muito alta e iluminação ex. organização do trabalho e
inadequada formação profissional

Centra-se numa perspectiva Física Centra-se na actividade fazendo:


e Química dos fenómenos
Registos :
- da dimensão física e química
- Tarefa (material, condições)
- Dimensão histórica
(experiência do homem)
Características psicofisiológicas
dos indivíduos

Assim, como resumo podemos dizer que a corrente americana se centra na análise das condições do
trabalho e a corrente europeia se centra na análise do sistema de trabalho.

Na corrente Americana a situação de Trabalho engloba:


(2) Tarefa

(1) Homem (3)Material

(4)Meio

(1) Com as suas características próprias, história e evolução pessoal;

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(2) Constituída por um certo número de situações elementares construídas conforme as directrizes
e normas;
(3) Compreende equipamentos, produtos, etc.;
(4) Reúne o meio físico, químico, social, etc.

Segundo a corrente americana, entre estes elementos estabelece-se um certo número de relações
recíprocas, gerando deste modo inputs e outputs.

Na Corrente Europeia a situação de trabalho


Define

O que o ergonomista retira da O que o operador retira do local em


realidade para sobre ela poder intervir que vive por agir e para agir

Esta realidade de Trabalho só se consegue recorrendo ao método de análise Ergonómica

Mas se o modo de analisar a situação de trabalho diverge nas duas correntes, consequentemente o
modo de intervenção também será diferente.

A intervenção vai então ser diferente consoante a corrente em que nos situamos, sendo que na
perspectiva Americana a intervenção é vista como uma aplicação de conhecimentos com vista à melhoria
das condições de trabalho, servindo-se do conhecimento para intervir directamente na situação. Visa
essencialmente objectos e estruturas.

Na perspectiva europeia a intervenção é um acompanhamento, apoiando-se na formulação de hipóteses


ou questões e a sua confrontação. A intervenção visa os processos e modos operatórios para além das
estruturas e objectos. O conhecimento é construído a partir da análise.

Temos vindo a usar na descrição da análise da história da análise do trabalho palavras-chave como a
tarefa e a actividade, tornando-se assim imperativo a definição destas palavras do ponto de vista dos
ergonomistas.

Nalgumas publicações de Ergonomia, as noções de Trabalho prescrito são definidas como o trabalho que
é dado ao trabalhador para ele executar, este trabalho tem limites de actuação definidos pela

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empresa/empregador, bem como as medidas a por em prática para a sua execução. Mas muitas vezes
por imperativos técnicos, pessoais ou outros aquilo que é descrito ao trabalhador para ele realizar numa
determinada forma, não é possível de pôr em prática pelo mesmo, assim o trabalhador, altera o “modus
operando” de acordo com as suas características pessoais, experiência, idade, etc. e de acordo com
imperativos técnicos como a avaria de algum equipamento, a falta de um colega, etc.

Desta forma as noções de Trabalho prescrito e Trabalho real dão progressivamente lugar ás noções de
tarefa e actividade.

3.1 – Distinção entre Trabalho prescrito e Trabalho real

 O Trabalho Prescrito ou TAREFA


Estes termos abrangem o que na organização do trabalho, define o trabalho de cada operador no seio de
determinada estrutura:
 Os objectivos a atingirem em contrapartida da remuneração;
 O modo de os atingir, as indicações e procedimentos impostos;
 Os meios técnicos colocados à disposição (instrumentos, máquinas, ferramentas);
 A repartição das tarefas entre os diferentes operadores;
 As condições temporais do trabalho (horários, duração, pausas);
 As condições sociais (remuneração, qualificação);
 O envolvimento físico do trabalho.

Nas empresas de grande dimensão, os serviços de métodos ou de organização concebem as diferentes


tarefas e a sua repartição. Isto dá origem à elaboração de fichas de trabalho, instruções, indicações, que
definem com maior ou menor precisão os elementos que compõem a tarefa. Nas empresas de menor
dimensão, esta função de concepção e organização é muitas vezes assegurada na própria secção, não
dando obrigatoriamente lugar a uma formalização escrita. Em qualquer dos casos, existe sempre uma
parte implícita, um trabalho esperado, do qual, cada um, entre os responsáveis como entre os
operadores, elabora uma representação.

 O Trabalho Real ou ACTIVIDADE


Sendo a tarefa uma prescrição, um quadro formal, é o trabalho real dos homens, a sua ACTIVIDADE que
permite a realização da produção. Em todos os planos definidos pela organização do trabalho,
manifestando-se entre o prescrito e o real, pois o trabalho real dos operadores nunca é o puro reflexo,
nem uma mera execução.

Carina Carvalhal Outubro 2005 16


Ergonomia
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Os objectivos interiorizados, os que o operador estabelece para si próprio, não são necessariamente
idênticos aos objectivos prescritos.
Os resultados obtidos, a performance realizada, não são sempre o reflexo dos objectivos
interiorizados, pois não basta crer;
O modo operatório, ou seja, a maneira como o operador realiza o seu trabalho, é a expressão do
ajustamento constante que efectua para responder ás variações da situação e do seu próprio estado
interno, afectivo, fisiológico, que variam em função da carga de trabalho, das equipas, etc.
O envolvimento físico tem uma incidência sobre a actividade dos operadores, sabe-se que o trabalho
realizado sob condições térmicas adversas como calor ou frio, ou ambiente húmido impõe
constrangimentos particulares e diferentes do trabalho em ambiente de conforto térmico.
Acontece ainda que os meios técnicos fornecidos, não são utilizados ou não desempenham todas as
funções que é suposto desempenharem, muitas vezes por estarem a ser subaproveitados (os ficheiros de
papel continuam a ser utilizados em massa apesar da informatização dos serviços que já devia tê-lo
substituído). Além disso, meios não previstos pela organização podem ser utilizados pelos operadores: o
controlador de um sistema de produção automatizada, que é suposto dispor de toda a informação
necessária na sala de controlo, vai no entanto procurar informações sobre o produto.

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Ergonomia
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4 - PRÁTICA ERGONÓMICA

A prática Ergonómica consiste em conhecer o trabalho para o transformar:


1º Compreender o trabalho, entendido como expressão da actividade humana, ou seja, como algo que
põe em jogo capacidades físicas, psicológicas, de competência, de experiência...
2º Transformar o trabalho, a partir da concepção de um projecto centrado no homem, com vista a
proporcionar-lhe conforto, segurança e bem-estar, ao mesmo tempo favorecer a eficácia e a
produtividade.

A prática ou Metodologia de Intervenção Ergonómica estrutura-se em torno da:

ANÁLISE ERGONÓMICA, que consiste na identificação e compreensão das relações existentes


entre as condições organizacionais, técnicas, sociais e humanas que determinam a actividade de trabalho
e os efeitos desta sobre o operador e o sistema operativo.

INTERVENÇÃO ERGONÓMICA, consiste na operacionalização de planos de acção resultantes


da análise ergonómica. Pode situar-se a diferentes domínios de actuação: concepção/ reconcepção,
formação profissional, higiene, segurança e saúde ocupacional.

A análise do trabalho deve centrar-se quer nos aspectos qualitativos, quer nos aspectos quantitativos,
com o objectivo de melhorar os equipamentos; formalização de consignes; cálculo da carga de trabalho;
determinação das condições de conforto e segurança; organização colectiva do trabalho, estabelecimento
de programas de formação; etc.

A análise Ergonómica dos postos de trabalho consiste portanto na análise da actividade, decompondo-a
nos seus vários elementos e descrevendo-os, bem como na contabilização e quantificação dos factores
de risco inerentes a esses elementos, identificando as condições que contribuem para esses factores de
risco e determinando assim o factor de risco associado a cada tarefa, sendo cada factor avaliado em
termos de magnitude, número de vezes que ocorre e quanto tempo existe em cada vez que ocorre.

As tarefas podem ser descritas em termos de ferramentas, equipamentos e materiais usados na


actividade; o layout das workstations e envolvimento físico, as exigências das tarefas e o clima
organizacional no qual o trabalho é realizado.

Parte-se assim, do conhecimento da actividade do homem e dos processos a ela subjacentes, por uma
lado, e do conhecimento dos sistemas, por outro, para a realização da análise ergonómica que permitirá

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Ergonomia
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definir as orientações para a concepção/reconcepção das situações de trabalho adequadas e identificar


as necessidades de formação.

Os principais métodos utilizados para a análise da situação de trabalho segundo uma perspectiva
ergonómica são: a observação, a experimentação, a simulação e a verbalização.

 A observação na prática ergonómica constitui o ponto de partida para a construção das etapas
seguintes, nomeadamente da formulação de hipóteses para a elaboração de um diagnóstico da situação
de trabalho. As observações realizam-se em duas fases, sendo a primeira fase uma abordagem à
situação de trabalho através de observações livres (que constitui assim os primeiros contactos) e uma
segunda fase onde se realizam observações sistemáticas. (visando recolher dados precisos que
traduzam a actividade desenvolvida e se possível respondam a hipóteses levantadas durante as
observações livres).

 A experimentação é utilizada para análise de situações constantes/transversais e não


pontuais/específicas.

 A simulação é praticada como uma forma de previsão, como instrumento de investigação e concepção,
particularmente utilizada para produzir elementos de observação de situações de baixa probabilidade de
ocorrência ou de grande complexidade e/ou que envolvam riscos elevados.

 A verbalização pretende compreender o ponto de vista do trabalhador, actor da situação de trabalho


em análise, é um método que completa os anteriores, em particular o da observação. A verbalização
pode ser espontânea ou provocada – dependendo do tipo de ralação estabelecida. E pode ser simultânea
(à observação e caso seja realizada durante a execução da actividade) ou consequente (caso seja
realizada após o trabalho).

Actualmente encontram-se bastante desenvolvidos alguns domínios de investigação e de intervenção em


Ergonomia, cujas designações traduzem os respectivos campos científicos ou aplicações específicas:
 a Ergonomia do Produto, que se situa na área de estudos e pesquisas, colaborando com o
sector de produção na avaliação dos custos da produção e na definição da sua finalidade, e com
outros sectores da concepção do produto, desde o design ao controlo de qualidade;
 a Ergonomia da Produção, que está voltada para a procura das condições de trabalho
adequadas, em termos organizacionais e de posto e ambiente de trabalho, em função das
características e capacidades dos trabalhadores.

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Ergonomia
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A monitorização de todas as actividades para identificar factores de risco já fornece alguns elementos
significativos, mas existem outros procedimentos:
 Observação dos trabalhadores realizando as suas actividades em ordem a fornecer uma análise
tempo-actividade e/ou ciclo da actividade. Filmar os operadores é tipicamente utilizado nestas
situações;
 Avaliação e quantificação das posturas dos trabalhadores por intermédio de um software único
desenvolvido pela Faculdade de Motricidade Humana na pessoa do Prof. Dr. Francisco Rebelo –
PASEA – Posture Analisys System for Ergonomics Aplication; quantificação do stress postural na
coluna vertebral através do programa informático “Spinal Dynamics” desenvolvido pelo
Laboratório de Biomecânica do instituto Gulbenkian / Ciências e Laboratório de Ergonomia da
F.M.H.-U.T.L;
 Estudo dos Layouts dos postos de trabalho, das workstations, ferramentas, etc.
 Medidas dos locais de trabalho (Antropometria e Design Ergonómico);
 Medidas das pegas das ferramentas, medidas do peso das ferramentas e respectivo balanço e
medidas das vibrações caso existam;
 Cálculos biomecânicos (ex: força exercida para empurrar, levantar, etc);
 Medidas fisiológicas (consumo de oxigénio, ritmo cardíaco, electromiografias, etc.;
 Uso de questionários, entrevistas e avaliar a responsabilidade de outros factores como sejam de
ordem psicofisiológicas e averiguar a sua influência na performance do trabalho.

A análise da actividade permite pois ao ergonomista identificar e quantificar qualitativamente e em alguns


casos quantitativamente factores de risco ergonómicos, esta avaliação não é estática no tempo, e deverá
ser acompanhada ao longo do mesmo e articulada com outros departamentos da organização.

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Ergonomia
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5 - ABORDAGEM ERGONÓMICA DE SISTEMAS


(SISTEMÁTICA ERGONÓMICA)

A Sistemática é, por definição, a área do conhecimento que, preconiza a organização das ideias,
dos conceitos, dos objectos em sistemas, definindo critérios de agrupamento e as categorias existentes
em cada grupo. A sistemática envolve assim um processo que compreende a classificação e a
nomenclatura.

Centra-se na organização de construções teóricas relativas a conceitos, conhecimentos e


métodos subjacentes aos diferentes domínios da performance humana, quer se trate da optimização
através da intervenção directa sobre o homem, quer se preconize a intervenção sobre os sistemas e o
meio

CONCEITOS

 Interacção – processo de comunicação; relação existente entre os membros envolventes


 Interface – O que possibilita a interacção, é sempre algo físico.
 Performance – resultado da actividade, ou resultado da execução da actividade com objectivos,
procedimentos e factores envolventes.

Na interface homem/ posto de trabalho/ sistema consideram-se três tipos de relações:

Relações dimensionais: procurando-se a compatibilidade entre as características antropométricas da


população e as dimensões e formas dos componentes físicos do posto de trabalho;
Relações informativas: pretendendo-se a compatibilidade entre a capacidade de percepção da
informação transmitida ao trabalhador, o tipo de informação transmitida e os meios de transmissão;
Relações de controlo: visando a compatibilidade entre as necessidades, por parte dos trabalhadores, de
adaptação das ferramentas e de regulação dos equipamentos e os mecanismos de segurança e de
conforto e dos objectivos de eficácia estabelecidos.

Assim, as variáveis de referência a relacionar para a análise de um posto de trabalho são:

Homem

Equipamento Espaço de trabalho Ambiente Físico Organização do Trabalho

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Ergonomia
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Existem ainda mais duas variáveis importantes a considerar numa análise ergonómica ao interface
Homem/sistema de trabalho

A Postura
As posturas consistem na organização dos segmentos corporais no espaço, desencadeados por
aspectos/exigências da situação de trabalho, salientando-se as seguintes: visuais, a precisão gestual, a
força, espaciais (dimensões e disposição dos planos de trabalho) e temporais (ritmos de trabalho, turnos
e trabalho nocturno).

A Carga de Trabalho
Que se entende pelo conjunto de exigências do trabalho relativo a um posto e ao próprio trabalhador, em
condições determinadas. Consoante o esforço determinado pelo trabalho, seja físico (muscular, estático
ou dinâmico) e /ou mental (cognitivo/intelectual), assim determina carga física e/ou carga mental. Os
efeitos destes dois tipos de cargas sobre o indivíduo são ainda condicionados positiva ou negativamente
por questões psicológicas – segurança/insegurança, satisfação/insatisfação, motivação/frustração,
monotonia/variabilidade.

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Ergonomia
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6 - ANTROPOMETRIA

A antropometria é a ciência que faz a medição do corpo humano (Pheasant, 1988) e baseia-se
na diversidade humana.

A interacção do Homem com o espaço de trabalho que o rodeia pressupõe o estudo dos elementos que
possam afectar a posição, a postura e o alcance da faixa esperada de utilizadores e, consequentemente,
o seu conforto e eficiência.

Como exemplos desses elementos temos o tamanho e a posição das cadeiras, máquinas, secretárias,
consolas, corredores etc.

O equipamento deve acomodar não só o utilizador médio, mas também (através de ajustamento, se
necessário) 90% (ou mais, se possível) da população esperada de utilizadores.

Na antropometria para se realizar uma adaptação dos postos ou equipamentos, é feita uma descrição
estatística, tendo em conta as diferenças étnicas e entre o sexo da população, tendo por isso implicações
na transformação do trabalho. A antropometria através da criação de bases de dados que incluem as
dimensões lineares e variáveis dinâmicas, assim como a sua aplicação no contexto do design
ergonómico.

6.1 - A Antropometria divide-se em


Estrutural ou estática– trata dimensões lineares internas e externas.
Funcional ou dinâmica – trata variáveis dinâmicas, como as amplitudes articulares, limites de força, áreas
de trabalho, alcance, espaço livre, espaço pessoal, postura.

6.2 - As origens
A origem da antropometria reporta-se á Antiguidade Clássica em que Vitruvius (sec. 15 A.C.) argumentou
que “uma vez que as várias partes do corpo representavam beleza, poderiam ser usadas no design da
construção” – “O homem é a unidade de medida de todas as coisas”

No Renascimento esta teoria foi levada em conta por Leonardo DaVinci (1452 – 1519) e por Albertch
Durer (1471 – 1528).

O rápido implemento dos estudos antropométricos no sec. XX levaram à realização das convenções da
Antropologia física mantendo estas duas áreas em estreita relação.

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Ergonomia
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Actualmente a classificação proposta por Pheasant coloca a antropometria como a ciência humana que
contribui para a Ergonomia, com todo o seu conhecimento acerca das dimensões do corpo humano. Esta
por sua vez possui dados, conceitos, princípios e metodologias que são necessárias para os processos
de design.

Antropometria

Ergonomia

Design

Existe portanto uma partilha de informação por parte destas ciências e do design, sendo de prever que o
fluxo de informação deve ser em ambas as direcções.

6.3 - A importância da Antropometria na Ergonomia

O problema que se coloca ao Ergonomista consiste em organizar uma estrutura dimensional que
conjugue uma adaptação óptima do indivíduo com o trabalho a realizar, nas condições fisiológicas
conveniente por um lado, e na boa execução da actividade e conforto do operador do outro.

Assim, examinar o dimensionamento do posto de trabalho, do ponto de vista ergonómico, consiste em


estudar a existência e natureza das relações que o trabalho determina. Desta relação resulta uma
interacção dos diversos segmentos corporais, numa determinada intensidade de esforços dispendidos e a
duração da postura.

Para que esta optimização seja a melhor possível o estudo posturográfico, movimentos profissionais,
espaços de trabalho, concepção de ferramentas ou de órgãos de comando, necessitam de conhecimento
prévio das medidas antropométricas. Estas medidas variam no entanto de indivíduo para indivíduo e
existem ainda diversos factores que vão influenciar as características antropométricas, como o sexo, a
idade, etc.

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Ergonomia
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Então se:

Diversidade humana Envolvimento físico


Que
adequação Envolvimento organizacional
? Exigências da tarefa

Por um lado temos a diversidade humana e por outro o envolvimento e as exigências da tarefa a
exercerem influência sobre o indivíduo, que adaptação podemos fazer?

A Adequação só pode ser sujeita ao nível do envolvimento e das exigências da tarefa com base nas
características antropométricas.

6.4 - Categorias de adequação:

A - Concepção individual – há adequação perfeita ao utente.


Ex.: acontece quando é pedido (exigida) alta performance ou necessidades
especiais tendo em conta essas necessidades e limitações do utilizador.

B – Ajustabilidade – leva em conta os percentis para garantir que os equipamentos permitam acomodar a
maior quantidade possível de utilizadores.

C – Situação de compromisso

Adequação negociada

Função material Tempo de utilização

Ajustabilidade
Técnicas de optimização

As técnicas de optimização consistem em encontrar o melhor compromisso em termos de segurança,


conforto e eficácia.

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Ergonomia
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6.5 - Critério de adequação

A figura 1 ilustra a distribuição das estaturas da população laboral portuguesa. Os resultados obtidos a
partir de uma amostra de 817 trabalhadores do sexo masculino de uma empresa industrial do norte do
país traduzem a ampla variação de estaturas.

Gráfico 1 – Distribuição da Estatura da População

Admitindo que as estaturas de uma dada população em estudo seguem uma distribuição normal, a
expressão daqueles percentis é a seguinte:

P5 = x – 1,65 s
P95 = x +1,65 s
Sendo:
X a média aritmética da estatura da amostra
S o desvio padrão correspondente

Considerando que a amostra em questão é constituída por a% de homens e b% de mulheres, podemos


utilizar a seguinte expressão (segundo Kroemer, 1983):

P = a Pa + bPb

Estatura
Frequência
em encontrar
individuo

1550 1750 1950 (mm)

Percentil 5 50 95

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Ergonomia
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Para além da estatura devemos considerar, no desenho dos postos de trabalho outras medidas
antropométricas, considerando também a posição de pé ou sentado, consoante de exerça ou desenvolva
a actividade de trabalho.

A figura 2 ilustra algumas dessas medidas.

Figura – 2 – Medidas Antropométricas

A – Estatura
B – Altura de ombros
C – Altura das ancas
D – Largura dos ombros
E – Largura das ancas
F – distância do cotovelo à extremidade da mão (comprimento máximo do antebraço)
G – distância do ombro ao cotovelo (comprimento do braço)
H – Distância da Parte inferior da coxa à planta do pé (altura de assento)
I – Altura do joelho
J – distância da barriga da perna à nádega (profundidade do assento).

6.6 - Constrições e critérios de adequação

No desenho dos postos de trabalho devemos ainda considerar as constrições existentes são elas o
alcance, o espaço livre, a postura e a força. Também estas constrições devem ser consideradas de
acordo com um critério de adequação aos percentis.

√ Espaço Livre – Mínimo espaço disponível necessário para dar acesso ou passagem

Que Critério de adequação?


Percentil 95 da população geral.

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Ergonomia
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√ Alcance – Resulta do deslocamento dos membros no espaço tridimensional, provavelmente com


mobilização do tronco.

Que Critério de adequação?


Percentil 5 da população geral.

√ Força – Característica individual, independente do comportamento dos segmentos corporais e da


postura adoptada.

Que Critério de adequação?


Percentil 5 da população geral.

√ Postura – Posição o orientação dos segmentos corporais no espaço

Que Critério de adequação?


Negociado para cada situação, porque é uma constrição de duas vias, .Uma vez que todas as outras
variáveis influenciam a postura.

Envolvimento físico· Envolvimento organizacional Exigências da tarefa

Espaço Livre

Força Alcance

Postura

Quadro 3 – Critério de Adequação da Postura do trabalhador

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7 - APLICAÇÕES DA ANTROPOMETRIA NO DIMENSIONAMENTO DOS


ESPAÇOS DE TRABALHO

A interacção do Homem com o seu espaço de trabalho requer o estudo dos elementos que podem afectar
a sua posição, nomeadamente da postura e do alcance da faixa esperada de utilizadores, e
consequentemente do seu conforto e eficiência.

São exemplos desses elementos a altura e a posição das cadeiras, secretárias, corredores de circulação
etc.

O equipamento deve acomodar não só o utilizador médio, mas também (através de ajustamentos do
equipamento) 90% (ou mais, se possível) da população esperada de utilizadores. Não é por isso
suficiente desenhar ou projectar um posto de trabalho adequado ao indivíduo médio (Percentil 50). Na
maioria das situações é necessário ter em consideração as pessoas mais altas (Percentil 95) , como por
exemplo no espaço livre por baixo das mesas para a colocação das pernas, ou ter em consideração as
pessoas mais baixas (Percentil 5), como por exemplo no desenho do um plano de trabalho tendo em
consideração o alcance máximo desse percentil.

Como não é possível desenhar postos de trabalho de forma a satisfazer o indivíduo mais alto ou o mais
baixo, teremos de desenhá-los obtendo as especificações para a maioria. Os percentis 5 e 95% traduzem
a variabilidade pretendida de uma determinada população.

Existem actualmente, numerosos dados para a concepção dimensional de postos de trabalho,


ferramentas, máquinas e equipamentos, comandos etc. Devido as exigências do trabalho que têm
consequências contraditórias com o plano dimensional, é necessário mudar as características do trabalho
o estabelecer compromissos, o que geralmente é difícil.

Alguns dados a ter em consideração no dimensionamento dos postos de trabalho são ilustrados pelas
figuras 3, 4, 5 e 6., que representam algumas medidas antropométricas estáticas.

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Ergonomia
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Figura 3 – Alturas de Trabalho recomendadas para trabalho de pé (Segundo Grandjean, 1969)

Figura 4 – Alcances Normal e Máximos dos braços e antebraços no plano horizontal Segundo Grandjean, 1969)

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Ergonomia
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Figura 5 – espaços mínimos (em cm) para a movimentação (segundo a norma americana )

A – De cócoras
B – de cócoras curvado
C – de joelhos
D – gatinhando
E – Deitado
F – deitado de costas

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Figura 6 – Distância visuais de conforto

Figura 7 – Medidas Antropométricas das mãos, dedos e pés.

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Figura 8 – Medidas Antropométricas da cabeça

8 - IMLPLICAÇÕES DA ANTROPOMETRIA NA SEGURANÇA DO TRABALHO


Para compreendermos as implicações da antropometria na segurança no trabalho, é importante
percebermos que qualquer actividade exercida, depende não só das medidas antropométricas estáticas,
mas também e principalmente das medidas Antropométricas dinâmicas.

As figuras 9,10, 11 e 12 representam algumas dessas medidas.

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Figura 9 – Amplitudes articulares do pé, perna e coxa.

Figura 10 – Amplitude articulares da cabeça

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Figura 11 – Amplitudes articulares do tronco.

Figura 12 – Amplitudes articulares dos membros superiores.

Todas estas medidas tornam-se importantes no dimensionamento de um posto de trabalho, na


concepção de uma ferramenta ou dispositivo. Na realização de uma actividade, a fim de minimizar os
riscos e diminuir a incidência de doenças profissionais.

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9 - FISIOLOGIA DO TRABALHO MUSCULAR

A descrição do trabalho muscular permite evidenciar as relações existentes entre o ser humano e o seu
posto de trabalho. Para a Ergonomia não será tanto de interesse os aspectos histológicos da fisiologia
muscular, mas sim a estrutura/mecanismo de funcionamento do músculo, para nos ajudar a compreender
as consequências dos trabalhos musculares realizados nas actividades por nós analisadas, uma vez que
toda a actividade profissional necessita de um trabalho muscular, mais ou menos importante, segundo as
tarefas a serem realizadas.

O conhecimento da fisiologia muscular é uma base dos estudos ergonómicos, do homem como sistema
de transformação de energia, onde uma adequação do posto de trabalho pode diminuir os gasto
energéticos e a fadiga física produzida pela realização de uma tarefa com forte solicitação muscular.

De um modo geral salientamos assim, a existência de dois grupos musculares: os músculos sinergéticos,
ligados às actividades dinâmicas, e os músculos de controlo, ligados às contracções prolongadas.

9.1 - Propriedades Essências


O músculo é constituído por fibras musculares, sendo este sistema de fibras constituído de substâncias
proteicas, nomeadamente actina e miosina.. Estes sistemas de fibras apresentam-se em dois estados
possíveis : contracção e relaxamento.

actina
miosina

Fibra Contraída Fribra relaxada


Figura 7 – Contracção e relaxamento das fibras musculares.

O tecido muscular é portanto adaptado à contracção, sendo esta a excitação da fibras musculares pelo
comandadas pelos centros sensório-motores, com uma frequência e impulsos determinados, e que leva a
uma resposta do músculo em tétanos perfeitos (40/s). Distinguem-se dois tipos de contracção muscular
possíveis:
- Contracção estática ou isométrica
- Contracção dinâmica ou anisométrica.

Carina Carvalhal Outubro 2005 36


Ergonomia
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Mas para além da contracção muscular para existir movimento, é também necessário o trabalho dos
tendões, cuja tensão desenvolvida a este nível depende dos seguintes factores:
- Número de fibras musculares excitadas;
- Ângulo de articulação;
- Estado do musculo;
- Tipo de organização espacial das fibras;
- Cor do músculo (branca ou vermelha).

Mas movimentos musculares, só se tornam possíveis, pelo facto de termos uma base de sustentação dos
mesmos, ou seja, a Coluna Vertebral.

9.2 – Constituição da Coluna Vertebral

A coluna vertebral é constituída por 33 vértebras:


- Vértebras cervicais (7);
- Vértebras torácicas ou dorsais (12);
- Vértebras lombares (5);
- Vértebras sacrococcigeas (9), das quais 5 estão fundidas e formam o sacro e as (4) da extremidade são
pouco desenvolvidas e formam o cóccix.

Figura 13 – Constituição da coluna vertebral.

Carina Carvalhal Outubro 2005 37


Ergonomia
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Das 33 vértebras que constituem a coluna vertebral, apenas 24 são flexíveis e, destas as que têm mais
mobilidade são as cervicais e as lombares. As vértebras dorsais estão unidas a 12 pares de costelas,
formando a caixa torácica, que limitam os movimentos.

Entre as vértebras existe um disco intervertebral cartilaginoso, e existem ainda ligamentos que unem as
vértebras.

Os movimentos da coluna só são possíveis pela compressão e deformação dos discos intervertebrais e
pelo deslizamento dos ligamentos.

Mas a coluna vertebral possui deformações naturais, são elas:


- Escoliose – desvio lateral da coluna;
- Cifose – é o aumento da convexidade, acentuando-se a curva para a frente na região torácica,
correspondendo a uma corcunda;
- Lordose – é um aumento da concavidade posterior da curvatura na região cervical ou lombar,
acompanhado por uma inclinação dos quadris para a frente.

9.3 – Noção de Trabalho Muscular


Todo e qualquer trabalho muscular requer uma força, a qual representa uma acção com uma direcção,
um sentido e uma intensidade e varia em função dos músculos solicitados, e do sujeito.

Podemos ter dois tipos de trabalho muscular, o trabalho estático, ou o trabalho dinâmico. O trabalho
estático é um trabalho sem deslocamento aparente, corresponde a contracções musculares isométricas.
Este trabalho estático permite a manutenção dos segmentos ósseos numa determinada postura.

O trabalho dinâmico é um trabalho que permite contracções anisométricas sucessivas com alternância de
relaxamentos dos músculos, como tarefas de martelar, serrar, virar um volante ou caminhar.

A contracção muscular necessita de aporte nutritivo, e é acompanhada por uma vasodilatação e aumento
do fluxo sanguíneo nos músculos, de uma aceleração cardíaca e consequentemente o aumento do fluxo
e trabalho cardíaco, aumento da capacidade respiratória e consequentemente o aumento do fluxo de
oxigénio.

Carina Carvalhal Outubro 2005 38


Ergonomia
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10 - BIOMECÂNICA OCUPACIONAL

10.1 - TRABALHOS ESTÁTICOS E DINÂMICOS


As actividades desenvolvidas pelos trabalhadores no seu local de trabalho podem ser divididas
consoante o tipo de trabalho em estático e dinâmico, consoante o tipo de contracção muscular
realizada pelas fibras musculares, conforme vimos no capítulo anterior.

Por trabalho estático compreende-se a actividade que é desenvolvida ou realizada numa postura sem
grandes alterações ou movimentações dos grandes grupos musculares e que pode ser realizada de pé ou
sentada.

Este tipo de trabalho cria algumas situações desagradáveis para o trabalhador que têm consequências,
muitas vezes graves, na sua saúde.

Uma das consequências do trabalho estático é que ele acaba normalmente por se tornar um trabalho
monótono. Ora existem trabalhadores que não são resistentes à monotonia e acabam assim por
desenvolver patologias psicológicas graves como as depressões.

A resistência à monotonia verifica-se em pessoas com baixo nível de instrução, com baixas expectativas
ou com elevado nível de motivação para ganhar dinheiro para satisfação de necessidades básicas.

10.2 - Consequências do trabalho monótono.


Cansaço
Dores FISICAS
Sonolência

Stress por aumento da tensão nervosa


Diminuição da vigilância
Saturação
Rejeição da actividade
Mal estar PSICOLÓGICAS
Inquietação
Ansiedade
Depressão
Agressividade

Carina Carvalhal Outubro 2005 39


Ergonomia
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F. W. Taylor , veio revolucionar as formas de organização do trabalho, na medida em que, os postos de


trabalho eram concebidos de forma a limitar o número de tarefas num curto espaço de tempo,
decompondo-as em movimentos elementares, procurando uma especialidade máxima, repetitiva e
diferente das restantes tarefas do processo produtivo.

O seu principal objectivo era puramente económico, utilizar uma mão-de-obra não qualificada para o
maquinismo industrial que então florescia.

A programação, individualização e parcelização do trabalho eram encaradas como mais valias na


concepção dos sistemas de trabalho – Mecanização do Trabalho.

Embora se tenha verificado, com o evoluir dos tempos, uma Humanização do Trabalho; em que a
expansão económica não é um fim em si mesma, ou seja, deve prioritariamente permitir atenuar a
disparidade das condições de vida e traduzir-se numa melhoria da qualidade do nível de vida; ainda
assim, nos dias de hoje, são aplicados aqueles princípios de organização de trabalho em larga escala.

10.3 – Trabalho repetitivo

Trabalho repetitivo, é aquele, que pela sua especificidade, requerem os mesmos movimentos dos braços
ou das mãos, durante mais de duas horas por dia, ou de uma hora sem interrupção.

Os movimentos definem-se como repetitivos, desde que pela sua semelhança ou igualdade, solicitam do
mesmo modo, o trabalho dos mesmos músculos e seus plexos.

Existem variados exemplos, com este tipo de actividades, tais como:


Actividade Profissão
Dactilografar Jornalistas, secretárias, programadores
Apanhar Profissionais da horticultura, fruticultura e agricultura
Aplainar Trabalhadores metalúrgicos ,
Profissionais da industria de madeiras
Esfregar Caiadores, serventes, pessoal doméstico
Cortar Pessoal dos matadouros, talhos, profissionais da indústria de peixe,
Profissionais da indústria de curtumes
Deslocar Operadores gráficos CAD, programadores músicos,
“rato” premer Operadores de máquinas
Quadro 4 - Exemplos de actividades com trabalho repetitivo

Carina Carvalhal Outubro 2005 40


Ergonomia
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Existem outros exemplos, como o trabalho de uma empregada da caixa registadora de um supermercado
que executa a mesma sequência de movimentos durante horas , “ estende a mão para o produto, segura-
o, levanta-o, fá-lo deslizar diante do leitor óptico e larga-o “.

São situações de trabalho demasiado uniformes, com necessidade de recorrer ao mesmo movimento,
com pouca variedade de estímulos, que solicitam quase os mesmos músculos e plexos, do mesmo modo,
tornando-se repetitivos e por conseguinte monótonos.

10.4 - Trabalhar Sentado


Hoje em dia, com a introdução dos computadores, cerca de ¾ dos trabalhadores dos países
industrializados têm actividades profissionais sedentárias nas quais a posição de sentado por longos
períodos de tempo é provavelmente a postura mais utilizada no emprego.

As posturas incorrectas (postura estática /contraída) podem provocar perturbações no aparelho motor
(cabeça, nuca, braços, tronco e coluna vertebral). Estas perturbações manifestam-se sob a forma de
contracções musculares dolorosas e irritações ao nível dos pontos de inserção dos tendões e das
articulações.

10.4.1- Causas de dor e desconforto


A dor / desconforto na coluna podem ser causadas por actividades ou gestos que pelas suas
características ou exigências vão além daquilo que o corpo humano sente como natural.

Uma postura incorrecta ou mantida por longos períodos, a falta de exercício ou ainda excesso de peso
podem contribuir para o aparecimento de dor / desconforto nas costas. Uma postura incorrecta
sobrecarrega a coluna cervical e lombar tornando-a mais vulnerável a lesões.

A falta de exercício associado a situações como a fadiga, stress ou factores de ordem psicológica, tem
como resultado a fraqueza muscular e um aumento das curvaturas da coluna.

Por exemplo, músculos abdominais fracos e flácidos não fornecem o suporte necessário à coluna lombar.
Também o excesso de peso agrava a sobrecarga nas suas vértebras e discos.

10.4.2 - Riscos da postura de sentado


A postura sentada depende por um lado do design da cadeira, mas também de outros factores como
sejam, a altura e a inclinação do assento, a configuração e inclinação do encosto, a presença de outros

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Ergonomia
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tipos de suporte, e sobretudo, a forma habitual de um indivíduo se sentar, o tipo de actividades que
realiza nessa posição e também a interacção assento/plano de trabalho. De uma forma geral na posição
de sentado a pressão sobre o disco intervertebral é superior à da posição de pé. A pressão exercida nas
vértebras e discos, associada ao relaxamento dos músculos que estabilizam o tronco pode conduzir a
lesões no disco (hérnia discal), agravando a dor.

Em suma, uma postura de sentada incorrecta pode levar a:


- Alteração das curvaturas normais da coluna;
- Sobrecarga dos discos intervertebrais e ligamentos;
- Perca de força dos músculos que suportam a coluna;
- Fadiga muscular, dor e desconforto.

Assim, as queixas do foro postural estão relacionadas com os problemas posturais quer em termos
musculares quer em termos articulares, uma vez que a postura adoptada no posto de trabalho está
relacionada com as exigências da tarefa e com o conforto individual.

No trabalho com écrans de visualização a postura adoptada é normalmente a postura de sentado, que é
uma postura estática. Ora se por um lado a postura de sentado tem vantagens o facto de ser estática traz
também desvantagens, são elas:
. Retroversão da bacia;
. Inversão da lordose lombar.

As alterações da curvatura da coluna vão provocar uma deterioração do disco, a compressão nervosa e
por consequência produzem processos patológicos dolorosos. A postura estática tem desvantagens ao
nível da contracção muscular permanente dos grupos musculares implicados, havendo assim uma
restrição do fluxo de sangue aos músculos e um desequilíbrio na balança química do músculo, o que
provoca fadiga muscular.

É pois importante para a saúde dos trabalhadores que o seu posto de trabalho seja ordenado de acordo
com os princípios ergonómicos.

10.5 - Trabalho de pé
Em alguns locais de trabalho, principalmente os que se caracterizam pela existência de trabalho em
cadeia é realizado na postura de pé, a qual tem consequência na saúde do trabalhador.

As principais consequências desta postura são:


1. a diminuição da circulação sanguínea ao nível dos membros inferiores.

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Ergonomia
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2. A posturas incorrectas a nível da coluna com consequências idênticas ao trabalho sentado.

O trabalho dinâmico está essencialmente ligado a actividades com actividade física constante,
normalmente relacionada com trabalhos que requerem movimentação manual de cargas.

Para conhecer os riscos inerentes a esta actividade, é importante avaliar a carga física necessária ao
desenvolvimento do trabalho e a capacidade de trabalho do trabalhador.

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Ergonomia
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11 - FACTORES HUMANOS NO TRABALHO

11.1 - Psicológicos
11.1.1 - Stress
O conceito de stress foi introduzido por Selye (in Scherrer, 1981), que o definiu como “ a resposta não
específica do organismo a toda a solicitação que lhe é feita”.

Como já foi referido uma das consequências da introdução das novas tecnologias informatizadas foram
as mudanças ao nível de toda a organização e do conteúdo do trabalho, das classificações profissionais,
das características do emprego, tendo tudo isto repercussões sobre a saúde do trabalhador.

Assim com a introdução da informática no mundo laboral modificaram-se as solicitações de nível físico,
reduzindo-se os deslocamentos dos trabalhadores, o que requer um menor esforço dinâmico,
aumentando sobretudo a carga estática de determinados grupos musculares. Ao mesmo tempo
introduziu-se um aumento da carga mental e psíquica. Assiste-se a mudanças ao nível da autonomia, da
responsabilidade e do controlo sobre o próprio trabalho. Modificam-se igualmente o volume, a intensidade
e o ritmo de trabalho, as habilidades requeridas, a comunicação e o apoio social.

Na função de Atendimento ao Público este factor (stress) vê-se ainda aumentado com a pressão exercida
pelo contacto com os clientes, pelos elevados ritmos de trabalho, pela falta de pausas.

11.1.1.1 - Factores de Stress


Podem-se agrupar os factores que eventualmente estão na origem do stress:

O stress aparece devido ás solicitações excessivas do envolvimento (físico, organizacional, social, etc) as
quais dificultam a capacidade do sujeito responder e adaptar-se de uma forma conveniente.

Outro dos factores que poderá estar na origem de manifestações de stress são as necessidades do
indivíduo em matérias de aspiração profissional e satisfação e o conteúdo das tarefas que lhe são
oferecidas. Ou seja, uma carga mental demasiado “forte” ou demasiado “fraca” pode ser então uma
tensão resultante do facto do trabalho (conteúdo das tarefas) não estar adaptado às faculdades mentais e
ao nível da formação do trabalhador. A incapacidade de adaptação deve-se portanto a uma relação
insuficiente entre as necessidades do trabalhador.

Concluindo, pode-se dizer que é possível explicar o carácter do stress psicossocial da carga psíquica pela
identificação da inadequação existente entre, as necessidades (aspirações, motivações) e capacidades
do indivíduo e as características do envolvimento.

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11.1.1.2 - Fontes de Stress

1 ) – Tarefas Monótonas e Desinteressantes, com a simplificação do trabalho e com a intensificação dos


ritmos de trabalho, que se caracterizam pela acumulação de operações repetitivas; redução da actividade
pessoal e limitação dos contactos humanos, as actividades deste tipo solicitam as faculdades do utilizador
de modo unilateral (subcarga qualitativa) o que provoca stress e fadiga.

2 ) – Solicitações excessivas, a sobrecarga pode ser:


 qualitativa, sendo aquela que surge quando o operador executa as tarefas com grande esforço
por falta de qualificação ou aprendizagem.
 quantitativa, que diz respeito ao grande volume de trabalho ou tarefas a realizar.

3 ) – Angústia, são vários os factores angustiantes que contribuem ou são mesmo causadores de stress.
Algumas das causas são :
 o medo do que é novo;
 Receio de ser ultrapassado pelos acontecimentos;
 Medo de desqualificação;
Medo de perder o emprego;
 Medo das lesões provocadas pelas radiações;
 Medo por menor acuidade visual

Para prevenir a angústia (desprovida de fundamento) é muito importante dar formação aos trabalhadores
sobre os aspectos fundamentais a ter em conta no TEV, nos seus efeitos e medidas de prevenção a
adoptar.

4 ) – Factores psicossociais do trabalho, as influências psicossociais perturbadoras podem provocar


stress ou acentuá-lo. São exemplos deste tipo de perturbações :
 falta de informação;
 falta de responsabilidade;
 falta de significado das tarefas;
 conteúdo desinteressante do trabalho;
 conflitos com superiores, colegas, clientes, etc;
 falta de reconhecimento;
 ausência de possibilidade de promoção;
 falta de segurança no posto de trabalho.

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Ergonomia
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5 ) - Satisfação no Trabalho, a experiência prova – ainda que com algumas reservas – que os
trabalhadores que sentem satisfação no trabalho têm maior rendimento, faltam menos e têm mais
resistência do que aqueles que estão insatisfeitos. A satisfação no trabalho depende, entre outras, das
seguintes variáveis:
 o conteúdo do trabalho;
 o salário;
 a segurança no emprego;
 as relações sociais com os colegas e superiores;
 as possibilidades de promoção;
 a organização do trabalho.

6 ) – Organização no trabalho, não é possível dar orientações válidas para a orientação racional dos
postos de trabalho devido à sua diversidade. Os pontos essenciais para uma organização ergonómica do
trabalho, diferenciando as actividades actualmente mais comuns no trabalho com écrans de visualização,
são as seguintes:
 Duração diária total do trabalho com écran;
 Tipo e peso das tarefas de leitura;
 Frequência das entradas de dados;
 Duração dos intervalos de espera provocados pelo sistema;
 Em relação ao ritmo de trabalho, possibilidade de alteração pelo trabalhador;
 Controlo do ritmo de trabalho pelos superiores;
 Alternância do trabalho com écrans de visualização com outras actividades;
 Possibilidade do utilizador de écrans de visualização decidir quanto à repartição e organização do seu
trabalho.

11.2 - Psico-Físicos
11.2.1– Fadiga

A fadiga é um estado momentâneo que pode ser transitório ou tornar-se em fadiga crónica e
consequentemente derivar em doenças profissionais, mentais ou físicas.

A fadiga pode ser devida a um excesso de carga mental ou de carga física.

A Carga física esta fundamentalmente determinada pelo movimento manual de cargas com efeitos
negativos sobre a saúde dos trabalhadores, sob a forma de lesões osteomusculares.

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Ergonomia
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Apesar de forte mecanização dos processos de trabalho, o movimento manual de cargas é muito
frequente nos hábitos laborais.

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12 - METODOLOGIA DE DIAGNÓSTICO ERGONÓMICA

12.1 – ANÁLISE DO PEDIDO


A análise do pedido consiste em verificar as possibilidades/facilidades de implementação de medidas de
intervenção em caso de necessidade.

O pedido pode ser analisado quanto á origem e quanto ao conteúdo.

12.1.1 -. ORIGEM
Um pedido pode ter várias origens e o seu entendimento não é o mesmo por parte de todos os elementos
dentro da empresa ou organização.

Assim um pedido pode ter origem:


- Na direcção
- Na comissão de Segurança e Higiene dos trabalhadores
- Na chefia de uma secção ou serviço
- etc.

A facilidade ou probabilidade de implementação de medidas será tanto maior se a origem do pedido


provier da Direcção, uma vez que é à Direcção que cabe a decisão final de aceitação de propostas de
intervenção.

12.1.2 -. CONTEÚDO
O conteúdo pode ser em função do tipo de intervenção, isto é, pode partir de um projecto de concepção
ou do quadro de evolução permanente das condições de trabalho. Estes últimos são, normalmente, os
mais frequentes, partindo de um conjunto de questões que se foram evidenciando no interior da empresa
ou de questões mais pontuais e que necessitam de ser corrigidas ou alteradas.

12.2 – ANÁLISE ERGONÓMICA

12.2.1 – OBSERVAÇÕES LIVRES

As observações livres consistem em observar livremente, sem recurso a equipamentos sofisticados ( e


com recurso a papel e lápis) o local de trabalho a fim de identificar:

- Tarefas existentes;
- Actividades desenvolvidas – procurando centrar a observação nas posturas adoptadas para a sua
realização;
- Equipamento existente (electrónico, mecânico);
- Material existente (matéria prima, material e utensílios de trabalho, etc.);

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Ergonomia
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- Identificar prováveis riscos


- Químicos (utilização de substâncias e preparações perigosas);
- Físicos (iluminação, ambiente térmico, ruído, vibrações);
- Biológicos (doenças infecto-contagiosas),
- Mecânicos (movimentação cargas, corte, esmagamento, perfuração, etc.);
- Ergonómicos (posturais – quer por movimento repetitivo, quer pela manutenção de posturas
incorrectas por longos períodos temporais)
- Psicossociais (organização temporal, ritmos de trabalho, etc.)
- Observar as condições do local em termos de layout (disposição espacial).

Resumindo, uma observação livre pretende identificar:


- Condições de Trabalho: Factores estáveis e não estáveis que influenciem a actividade e
consequentemente a performance, segurança e saúde dos trabalhadores
- Actividade: seleccionar as variáveis/observáveis em função do pedido e fazer a escolha das
observáveis;
- Consequências da actividade sobre o operador e sobre o sistema (hipóteses grau 1).

12.4.2 – COLOCAÇÃO DE HIPÓTESES (GRAU 1)


Durante as observações livres podemos começar a estabelecer relações entre as condições observadas
e as queixas existentes (caso existam ), ou estabelecer relações de causalidade entre as condições
existentes e prováveis problemas de segurança e saúde.

12.4.3 – OBSERVAÇÕES SISTEMÁTICAS


As observações sistemáticas são realizadas com recurso a equipamentos, métodos ou técnicas próprias
e permitem quantificar os problemas existentes e observados.

Assim vamos quantificar os riscos:

- Químicos através de quantificação da qualidade do ar, análise de partículas em suspensão,


etc.;
- Físicos através de equipamentos como luxímetros, dosímetros, etc.
- Biológicos (doenças infecto-contagiosas),
- Mecânicos (através de métodos de avaliação de riscos como método de Marat.);
- Ergonómicos (posturais – através de métodos de avaliação da carga postural)
- Psicossociais (através de uma análise estatística)

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12.5 - COLOCAÇÃO DE HIPÓTESES (GRAU 2)


As hipóteses de grau 2 são a confirmação ou não das hipóteses de grau 1

12.6 – DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é então o estabelecimento de relações entre as condições existentes e os problemas
observado, é um julgamento sobre o estado dum sistema tendo em conta um conjunto de fenómenos
observados, o que nos dá a possibilidade de intervir sobre a natureza dos disfuncionamentos que não
estava imediatamente à vista.

Num estudo ergonómico o diagnóstico ou a interpretação ergonómica relaciona as dificuldades da


eficácia dum sistema de produção e/ou dos problemas de saúde com os determinantes da actividade de
trabalho dum ou de mais operadores.

12.7 – APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO


A apresentação de propostas requer que se apresente em conjunto uma análise de custo/benefício ou
análise de valor.

A apresentação de propostas não deve limitar-se a uma proposta de intervenção por cada problema, mas
sim deve existir mais do que uma possibilidade de intervenção devidamente fundamentada e com a
análise de valor da mesma.

12.8 – INTERVENÇÃO ERGONÓMICA

A intervenção ergonómica é a operacionalização das medidas de intervenção propostas e aceites pela


direcção ou pela origem do pedido.

A intervenção ergonómica deve ser sempre acompanhada pelo ergonomista a fim de verificar se as
medidas implementadas não vêem acrescentar outras problemáticas no sistema.

Esta intervenção também não é estática no tempo e deve ser enquadrada num ciclo de melhor

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Ergonomia
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13 - MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÓMICA

13.1 - Método de RULA - Rapid Upper Limbs Assessment


O RULA é um método observacional, de classificação postural, desenvolvido para a investigação
ergonómica de postos de trabalho com eventual risco de “LER”. Trata-se de um instrumento de análise,
que não necessitando de equipamentos sofisticados, permite obter uma rápida avaliação relativamente a
aspectos como:

Posturas assumidas pelos trabalhadores,


Forças exercidas,
Repetitividade,
Cargas externas sentidas pelo organismo.

O RULA foi inicialmente desenvolvido na industria de vestuário, onde a respectiva avaliação foi executada
em trabalhadores que realizavam essencialmente tarefas de corte (postura ortostática) em máquinas de
costura (postura sentada), tarefas de clivagem e ainda em operações de inspecção e empacotamento.

A principal finalidade de aplicação do método reside na identificação de esforço muscular, que está
associado à postura de trabalho assumida e às forças aplicadas na realização de actividades estáticas ou
repetitivas, que possam contribuir para o desenvolvimento de fadiga muscular localizada.

O método utiliza diagramas posturais de três tabelas de pontuação para aceder à exposição aos factores
de risco externos:

Número de movimentos;
Trabalho muscular estático;
Força;
Posturas de trabalho condicionadas pelos equipamentos e mobiliário;
Duração, sem pausas, do período de trabalho.

Através da pontuação obtida com a aplicação do método, é possível criar uma tabela com níveis de risco
de “LER” e classificar o posto de trabalho como:

Aceitável;
Posto de trabalho a investigar;

Carina Carvalhal Outubro 2005 51


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Posto de trabalho a investigar e a alterar rápidamente;


Posto de trabalho a investigar e a alterar urgentemente.

13.2 - PASEA. – Postural Analysis System for Ergonomic Aplication,


É uma metodologia de análise postural em ambiente de trabalho, foi desenvolvida no Laboratório de
Ergonomia da Faculdade de Motricidade Humana.

O PASEA consiste numa metodologia que possibilita a realização de uma análise de posturas adoptadas
em situações reais de trabalho. Constitui um método para análise do perfil postural o qual se baseia num
software informático desenvolvido em ambiente Windows.

O PASEA tem como objectivos gerais a definição do perfil postural dos operadores durante a actividade
de trabalho, diagnosticar as exigências posturais da situação real de trabalho e identificar as tarefas que
determinam um maior risco de alteração músculo-esquelética, com base no perfil postural dos
trabalhadores.

O objectivo específico do PASEA é a avaliação da carga postural através da quantificação da frequência,


duração e sequência da ocorrência temporal das posturas na situação real de trabalho.

A realização da análise no PASEA pressupõe o cumprimento de 4 fases sequenciais:


1 – Digitalização das imagens através do programa MiroMovie;
2 – Criação dos painéis de imagens, utilizando as imagens recolhidas anteriormente;
3 – Construção dos ficheiros de imagens, através do sistema MS-DOS, onde os painéis podem conter no
máximo 12 imagens;
4 – Utilização do PASEA.
Para atingir estes objectivos foi necessário registar o comportamento dos profissionais na realização das
tarefas, definir seguidamente as categorias posturais mais frequentemente adoptadas, aplicar uma
metodologia de análise do perfil postural, analisar e interpretar os dados daí resultantes.

Carina Carvalhal Outubro 2005 52


Ergonomia
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14 - CAMPOS DE APLICAÇÃO ERGONÓMICA

14.1 - Ergonomia dos Transportes


A ergonomia dos transportes tem duas vertentes de intervenção:
- a do produto, na qual se engloba a utilização profissional e não profissional do transporte, que é
neste caso o produto;
- a do meio circundante, que neste caso tem a ver com o meio ambiente, a disposição de
sinalética e todas as condições de trabalho. Inclui a própria actividade de condução e as condições de
conforto e segurança em que ela é desenvolvida.
Uma vez que a Tarefa de condução é complexa, requer ajustes contínuos e em tempo real de toda a
informação recolhida, existem critérios de produtividade, segurança e conforto a considerar, tais como a
experiência, a idade, a formação, etc.

14.2 - Ergonomia Hospitalar


A Ergonomia em seio hospitalar procura promover a saúde, conforto e segurança dos profissionais
ligados ao meio, através da implementação de programas que visam:
- diminuir problemas músculo-esqueléticos
- recolocação de indivíduos com incapacidades;
- organização temporal do trabalho

A problemática da organização dos hospitais deriva de diversos factores como a complexidade das
organizações do tipo hospitalar, da heterogeneidade dos seus recursos humanos, das dificuldades em
planear, organizar, gerir e controlar as organizações do tipo hospitalar.

A intervenção ergonómica em meio hospitalar faz-se ao nível do sistema:


- ambiente físico, químico e biológico);
- Instalações e equipamentos,
- aspectos organizacionais,
- aspectos psicossociais.

14.3 - Ergonomia e Populações Especiais


A intervenção ergonómica com populações especiais procura desenvolver produtos ou meios auxiliares
de ajuda adaptados ás características e necessidades de cada utilizador, bem como desenvolver um local
de trabalho seguro, como sejam a existência de rampas, corredores largos, corrimões etc. que facilitem o
desenvolvimento de actividades lúdicas ou laborais de todos aqueles que tenham uma mobilidade
reduzida ou sejam portadores de deficiência.

Carina Carvalhal Outubro 2005 53


Ergonomia
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14.4 - Ergonomia dos Sistemas Informáticos


Quando se fala em ergonomia aplicada aos sistemas de informação, todos nós pensamos primeiramente
nos ratos e teclados ergonómicos, nos apoios para os pulsos e em todos aqueles equipamentos que
facilitam a nossa interacção com o computador.

Mas a Ergonomia ligada aos sistemas informáticos centra-se naquilo que se denomina como Usabilidade
de sistemas. Antes sequer de se falar em usabilidade, já os ergonomistas falavam em design centrado no
utilizador. Com a evolução dos sistemas de informação foi começando a haver uma maior preocupação
ao nível do conforto dos utilizadores. No princípio apenas havia a preocupação com o conforto físico, no
entanto, com a globalização dos computadores em virtualmente qualquer posto de trabalho, tornou-se
importante estudar a melhor forma de apresentar a informação aos utilizadores de modo a evitar erros
humanos.

Muitas vezes dizemos que a causa de um acidente foi devido a erro humano. Pois bem, mas os
ergonomistas questionam de outra forma: “O que causou esse erro?”

Na maior parte das vezes o erro humano é causado por uma deficiente concepção do posto de
trabalho, ou por um deficiente sistema de informação. Se as informações não forem fornecidas
eficientemente ao utilizador, corremos o risco de ele cometer um erro.

A ergonomia nos sistemas de informação preocupa-se em conceber sistemas amigos do


utilizador que sejam fáceis de utilizar e fáceis de compreender, ou seja, que sejam intuitivos (sem
necessidade de aprender como funcionam devido à sua própria facilidade de uso).

Há até quem diga que os equipamentos que trazem manual de instruções não foram bem
concebidos, porque se fossem concebidos de forma ergonómica, seriam tão fáceis de usar que não seria
necessário sequer ter um manual de instruções… Eu pessoalmente acho que isso é impossível porque
não depende apenas do sistema, mas também da pessoa que o vai usar e da sua cultura. Às vezes um
equipamento é bem aceite numa região do mundo e é completamente abandonado em outra região. Isto
acontece devido às diferentes culturas e à sua forma de compreender o mundo.

Desta forma, como ergonomista especializado em sistemas de informação, tem como função
tornar a interacção homem-computador o mais simples possível para que, até uma pessoa que nunca
tenha usado um computador, possa compreender como funciona o sistema e possa usá-lo sem quaisquer
limitações.

A Ergonomia tem vindo a aumentar o seu ramo de actuação ao longo dos anos. Com o enorme
desenvolvimento dos Sistemas de Informação, começa também a haver uma enorme necessidade de
tornar esses sistemas mais acessíveis e usáveis.

Carina Carvalhal Outubro 2005 54


Ergonomia
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Com o crescimento substancial de informação disponível na Web, torna-se mais difícil distinguir
a qualidade da informação que se retém. A informação que conta é aquela que satisfaz a necessidade de
quem a pretende. Mas nem sempre o resultado que se obtém é qualitativamente, fiável, ainda que o
utilizador julgue que o seja.

A Internet é cada vez mais utilizada para transacções comerciais, quer no Business-to-Consumer
quer no Business-to-Business. Lojas e centros comerciais on-line, portais, home bankings, correctoras on-
line, sites institucionais, todos estes, para ser bem sucedidos, têm de ser concebidos e estar organizados
de forma a não fazer perder tempo ao utilizador: dar-lhe o que ele quer, e fazê-lo da forma mais simples e
intuitiva possível. A simplicidade pode não bastar para o tornar bem sucedido, mas é sem dúvida
necessária. Porque caso contrário, com mais de mil milhões de páginas na Internet, e mais de 2 milhões
só em Portugal, alguém vai fazer back no browser - e sem intenções de voltar.

A usabilidade aplicada aos sistemas de informação visa criar um sistema que seja intuitivo e fácil
de utilizar. O objectivo é criar um sistema tão simples e inteligível, que seja “impossível” haver erros por
parte dos utilizadores.

A usabilidade depende de um grande número de factores, incluindo o facto da funcionalidade ir


ou não de encontro com as necessidades do utilizador, os passos dados durante o uso do sistema
servem ou não para realizar as tarefas do utilizador, e as respostas dadas pelo sistema são compatíveis
ou não com as expectativas do utilizador.

Podemos aprender a criar melhores interfaces aprendendo os princípios do design ou as regras


do design. Mas nem mesmo o melhor designer do mundo seria capaz de construir um sistema
perfeitamente usável sem a ajuda das pessoas que realmente o usam. É necessário recolher informações
dos utilizadores, porque são eles que vão utilizar o produto e são eles que vão identificar quais as
dificuldades que sentem ao utilizá-lo.

14.5 - Ergonomia Tempo e Trabalho


A ergonomia neste campo de actuação procura conseguir uma harmonização ou equilíbrio entre os
tempos existenciais do homem, que são eles o tempo biológico, o tempo social e o tempo psicológico. A
ergonomia procura assim um equilíbrio entre estes tempos propondo formas de organização do tempo de
trabalho compatíveis com o modo de funcionamento do homem, e com os objectivos de cada sistema
produtivo.

Carina Carvalhal Outubro 2005 55


Ergonomia
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Os principais pontos a considerara são o trabalho nocturno e o trabalho por turnos, uma vez que cada
uma destas formas de organização laboral entram em conflito com a estrutura temporal das capacidades
humanas.

A Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de vida e de trabalho realizou um estudo das
condições de trabalho em 1996, a 15.800 trabalhadores representativos da população activa da EU, o
qual demonstrou que:
- mais de 50% dos trabalhadores estão sujeitos a ritmos de trabalho intenso e a prazos curtos de
entrega.

Duração do trabalho
- que 23% demora mais de uma hora no trajecto casa - trabalho, e 9% gasta mais de hora e
meia neste trajecto.
- 13% da população trabalha menos de 30h em tempo parcial;
- 49% trabalha mais de 40 horas e 23% trabalha mais de 45 horas
Irregularidade
- 33% tem horários irregulares
-13% trabalho por turnos
- 52% trabalha um sábado por mês
- 29% trabalha um domingo por mês
-21% trabalha de noite
Autonomia
- 42%não escolhe o horário da pausa que realiza
- 47% Não escolhe o dia de folga ou férias que goza

Carina Carvalhal Outubro 2005 56


Ergonomia
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15 - A ERGONOMIA E A SAÚDE OCUPACIONAL

Conceptualmente, a Saúde Ocupacional assenta nos princípios definidos na Declaração da Alma-Ata


(1978), que conduziram à elaboração dos objectivos de “Saúde para Todos” pela OMS 1985), e ao
progresso no desenvolvimento de políticas, estratégias e programas para a Promoção da Saúde no
Trabalho, centrados no indivíduo e no ambiente de trabalho.

A saúde e Bem-Estar é um objectivo social e estratégico no seio de uma empresa ou qualquer


organização, é uma condição de progresso económico e social, contribuindo para uma melhor qualidade
de vida dos indivíduos, com repercussões positivas no sistema produtivo.

Segundo um Estudo de Avaliação das Condições de Trabalho na Europa realizado em 1996 pela
Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, sobre uma amostra de mil
trabalhadores em cada estado membro, os resultados apontam que:

1. Os problemas de saúde mais comuns relacionados com o trabalho são as raquialgias em


30% e o stress em 28% dos indivíduos da amostra.
2. O absentismo devido a problemas de saúde relacionados com o trabalho afecta
anualmente, 23% dos trabalhadores da amostra.
3. Os problemas de saúde estão, na maior parte das vezes, relacionados com condições de
trabalho inadequadas (factores físicos, químicos e biológicos, configuração dos postos de
trabalho, organização do trabalho e factores psicossociais).

Estes resultados estão de acordo com dados apresentados pela OMS em 1994, relativamente à
população mundial, em que 30% a 50% dos trabalhadores referem estar expostos a factores de risco
físicos, químicos e biológicos com efeitos negativos para a saúde e para a capacidade de trabalho, assim
como à sujeição de sobrecarga física; entre 30% a 40% referem, também sobrecarga psicológica. Estas
situações conduzem a sofrimento humano e custos económicos elevados.

A intervenção em Saúde Ocupacional visa identificar, analisar e controlar os factores de risco e os


factores subjacentes à falta de saúde no trabalho e desenvolver acções qualificadas e efectivas para
assegurar um envolvimento de trabalho saudável, sadio e seguro e a saúde e bem estar dos
trabalhadores.

Carina Carvalhal Outubro 2005 57


Ergonomia
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O carácter dinâmico dos sistemas de trabalho relaciona-se com a modificação das suas características ao
longo do tempo (por exemplo, a evolução tecnológica, as modificações estruturais e organizacionais, etc.)
e determina a necessidade de adequação das acções dos indivíduos para alcançar os fins definidos.

De acordo com Wisner (1996), a Ergonomia pela sua análise conduz à identificação das variáveis e do
funcionamento dos sistema de trabalho, da variabilidade intra e inter-individual dos operadores, dos
resultados alcançados e dos efeitos sobre os indivíduos, nomeadamente ao nível da produtividade e da
saúde.

A abordagem Ergonómica do sistema de trabalho centra-se pois, na identificação e compreensão das


relações existentes entre as condições organizacionais, técnicas, sociais e humanas que determinam a
actividade de trabalho e os efeitos desta sobre o trabalhador e o sistema operativo. O que nos conduz
aos objectivos de transformação do trabalho ao nível das condições de trabalho, dos aspectos
organizacionais (horários, pausas, repartição de tarefas, etc.) e da formação (melhoria das competências,
hábitos e estilos de vida, etc.)

Para alcançar os objectivos de Saúde e Bem-estar no Trabalho, a Ergonomia integra-se nas intervenções
da saúde Ocupacional em interdisciplinaridade com as várias áreas que constituem a equipa
multiprofissional (Medicina do Trabalho, Psicologia, Segurança, Higiene e Toxicologia, Enfermagem do
Trabalho...)

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Ergonomia
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16 - PRINCIPAIS LINHAS DE NORMALIZAÇÃO ERGONÓMICA EUROPEIA

16.1 - Locais de Trabalho


Decreto-Lei 347/93 de 1 de Outubro
ALTERAÇÕES: L 113/99 de 3 de Agosto
REGULAMENTAÇÃO: Portaria 987/93 de 6 de Outubro

16.2 - Equipamentos de trabalho


Decreto-Lei 82/99 de 16 de Março
ALTERAÇÕES: L 113/99 de 3 de Agosto

16.3 - Equipamentos dotados de visor


Decreto-Lei 349/93 de 1 de Outubro
ALTERAÇÕES: L 113/99 de 3 de Agosto
REGULAMENTAÇÃO: Portaria 989/93 de 6 de Outubro

16.4 - Movimentação manual de cargas


Decreto-Lei 330/93 de 25 de Setembro
ALTERAÇÕES: L 113/99 de 3 de Agosto

16.5 - Acessibilidade nos edifícios públicos, equipamentos colectivos e via pública


Decreto-Lei nº 123/97 de 22 de Maio

16.6 - Princípios gerais de prevenção


Decreto-Lei nº441/91 de 14 de Novembro

Carina Carvalhal Outubro 2005 59


Ergonomia
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17 - BIBLIOGRAFIA
 - Apontamentos das aulas da Discipina de “Psicologia Ergonómica- Texto de Apoio à Unidade I”,
do 3º ano da Licenciatura em Ergonomia, FMH/UTL

 - Apontamentos das aulas da Discipina de “Análise da Capacidade de Trabalho”, do 3º ano da


Licenciatura em Ergonomia, FMH/UTL

 Barreiros, Luísa (1996) - Introdução à Ergonomia – disciplina do primeiro ano da Licenciatura


em Ergonomia, pela FMH/UTL.

 Cabral, Fernando A; Roxo, Manuel M., Segurança e Saúde no Trabalho (2003) – Legislação
Anotada, Livraria Almedina.

 Etxebarria, Genaro Gómez (2003) – Manual Para La Formación en Prevención de riesgos


Laborales, Especialidad de Ergonomia y Psicosociología Aplicada., CISS PRAXIS.

 - François, A.R.; Rés-Editora,Lda.; Organização dotrabalho.

 - Meister, David (1986) – “ Human Factors Testing and Evaluation”; Elsevier, New York.

 - Montmollin, Maurice (1997) – “Vocabulaire de L’Ergonomie”; Octares Editions, Toulouse.

 Rebelo, Francisco (2004) – Ergonomia no dia a dia – Edições Sílabo

 Weerdmeester, Bernard et Dul, Jan (2004); Ergonomia Prática – 2ª Edição., Editora Edgard
Blucher.

 Veiga, Rui et all (2002)– Higiene, Segurança, Saúde e Prevenção de Acidentes de Trabalho;
Verlag Dashofer.

Carina Carvalhal Outubro 2005 60

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