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A SENDA DO CALVÁRIO

PASSOS PARA O AVIVAMENTO VOLUME 1

Prefácio

A primeira edição deste livro saiu em 1950. Com o passar do tempo, cada vez
mais me certifico de que as verdades expressas nestas páginas constituem a base de
todos os movimentos de avivamento pelos quais Deus tem revigorado sua igreja com
nova vida, em suas horas de sequidão e necessidade. Esses movimentos de
avivamento não são apenas memórias gloriosas do passado, mas estão em
atuação agora mesmo em várias partes do mundo.
As formas externas dos avivamentos naturalmente diferem bastante, mas o seu
conteúdo interno e permanente é sempre o mesmo — uma nova experiência de
convicção de pecado entre os salvos; uma nova visão da cruz de Jesus e da redenção;
uma nova disposição para o quebrantamento, o arrependimento, a confissão e a res-
tituição; uma alegre experiência do poder do sangue de Jesus para limpar
completamente do pecado e restaurar e curar tudo que o pecado arruinou e tudo
que nos fez perder; uma nova compreensão da plenitude do Espírito Santo e do seu
poder de realizar sua própria obra através do seu povo; e uma nova volta dos perdidos
para Jesus.
Como essas coisas estão acontecendo em nossa época, em diferentes partes do
mundo, estas páginas têm uma significação especial para o leitor de nossos dias.
Espero que este livro possa ser com a bênção de Deus, a maneira de ajudar muitos
outros a chegarem à cruz e se apresentarem como candidatos ao avivamento,
pela confissão do seu vazio e do seu fracasso. Porque o avivamento não é como um
vale verdejante que se torna ainda mais verdejante, mas um vale cheio de ossos secos
que tornam a viver (Ezequiel 37). Aqueles ossos mortos se erguem como um grande
exército. Não se trata de bons cristãos se tornarem melhores — porque do ponto
de vista de Deus não há bons cristãos — e sim de cristãos, sinceramente, confessarem
que sua vida espiritual é um vale de ossos secos e, por essa mesma confissão, se
habilitarem a receber a graça que emana da cruz e que faz novas todas às coisas.
Este livro expressa as verdades que constituem o âmago do avivamento,
justamente porque ele mesmo é produto do avivamento. Em 1930, Deus começou
a operar de um modo novo na incipiente igreja de Ruanda, na África Oriental.
Apesar de nova, a igreja trazia dentro de si as sementes da decadência, mas
uma decadência que Deus começou a transformar em frutificação gloriosa,
quando o avivamento surgiu. Com o passar dos anos, a bênção do avivamento se
espalhou pelas igrejas dos países vizinhos — Uganda, Quênia e Tanzânia. Uma
grande multidão de africanos, entre eles missionários, não só vieram a conhecer
Cristo como Salvador pessoal, mas começaram a desfrutar uma qualidade de vida
raramente experimentada, mesmo nas igrejas mais evangélicas do Ocidente.
Esse avivamento tem continuado na África Oriental até o dia de hoje, numa parte
ou noutra, com todas as vicissitudes e lutas que naturalmente se podem esperar
de um movimento de vida.
Em 1947, eu estava trabalhando como evangelista na Grã-Bretanha, quando
me senti em profunda necessidade espiritual. De algum modo perdera o poder do
Espírito Santo que antes conhecera na obra do Senhor. Todavia, tinha de continuar
realizando campanhas de evangelização. Era uma experiência terrível fazê-lo sem
o poder do Espírito! Eu me sentia como o filho de profeta na escola de Eliseu, que havia
perdido o machado ao derrubar uma árvore, mas que talvez tenha continuado por
algum tempo a cortar só com o cabo, sem saber por que não estava tendo
resultado em seu trabalho! Sem perceber o que realmente havia acontecido, redobrei
meus esforços e me tornei cada vez mais tenso e ativo, mas tudo isso nem de longe
podia tomar o lugar do poder suave e penetrador do Espírito. Naturalmente, é ao olhar
para trás que posso descrever minha situação desse modo. Naquele tempo eu
ignorava qual era minha necessidade.
Em abril de 1947, convidei diversos missionários da África Oriental para falarem em
uma conferência de Páscoa que eu estava organizando, porque tinha ouvido que
eles estavam experimentando um avivamento em seu campo havia vários anos. Como
evangelista, eu estava interessado em avivamento. O que eles tinham para dizer
era muito diferente daquilo que eu havia associado com a palavra avivamento. Era
algo muito simples e muito calmo. Quando apresentaram sua mensagem e deram
seus testemunhos, descobri que eu era a pessoa mais necessitada na
conferência. Precisava ser avivado — muito mais do que pensava! Essa descoberta,
todavia, veio muito vagarosamente. Sendo um dos oradores, creio que estava mais
preocupado com as necessidades dos outros do que com as minhas próprias. Ao passo
que minha esposa e outros se humilharam diante de Deus e experimentaram a
purificação pelo sangue de Jesus, eu fiquei sozinho em meu orgulho e minha aridez. Fui
humilhado pela simplicidade da mensagem, ou melhor, pela simplicidade do que eu
tinha de fazer para ser avivado e cheio do Espírito. Quando, ao final da conferência,
outros testemunharam de como Jesus os havia quebrantado ao pé de sua cruz, e
enchido o coração deles com o Espírito até transbordar, eu não tinha um testemunho
desses para dar. Foi só mais tarde que aprendi a desistir de tentar encaixar as
verdades em meu esquema doutrinário e resolvi chegar humildemente à cruz para
receber a purificação dos meus próprios pecados. Foi como começar minha vida cristã
toda de novo. Minha carne "se tornou como a carne de uma criança", como aconteceu
com Naamã quando se dispôs a humilhar-se e mergulhar no Jordão (2ª Reis 5.14). Desde
então um capítulo inteiramente novo começou em minha vida. Como resultado,
entretanto, preciso escolher constantemente morrer para o grande "EU" a fim de que
Jesus se torne tudo. Tenho de ir constantemente a ele para ser purificado em seu
precioso sangue.
Aquilo que aprendi naquela ocasião e nos meses seguintes escrevi e
publiquei em forma de artigos, os quais foram reunidos para formar este livro. Desde
que foi publicado, espalhou-se por todo o mundo de língua inglesa, e foi traduzido em
aproximadamente quarenta línguas — para minha grande surpresa. Sua vasta
divulgação é simplesmente a evidência de que em todo o mundo os cristãos têm
fome de uma realidade espiritual e de um cristianismo que na verdade funcione.
Mais do que isso, é uma das muitas evidências de que "é tempo de te com -
padeceres dela (de Sião), e já é vinda a sua hora" (Salmos 102.13) e de que o
propósito de Deus, de construir os muros de Jerusalém que estão demolidos,
está chegando (Neemias 2.13).
Não quero que pensem que este livro representa uma contribuição puramente
pessoal de minha parte. As coisas registradas aqui foram aprendidas na comunhão com
muitos outros, em diferentes lugares, que começaram a andar na senda do Calvário
de um modo novo. Outros participantes dessa comunhão poderiam ter escrito estes
capítulos tão bem quanto eu. É uma comunhão que está crescendo continuamente,
porque um grande número de vidas foi influenciado em todo o mundo, na medida
em que equipes visitaram diversos países em várias viagens. Creio que esse fato
aumenta a força e a significação do que está escrito neste livro. É preciso
compreender que, sem dúvida, essa corrente de bênção de que somos parte é apenas
uma de diversas correntes de nova vida, todas elas emanando da mesma fonte, que
é a cruz, e estão todas contribuindo para esse tão necessário avivamento da igreja.
Através dos anos, alguns ocasionalmente põem em dúvida o uso do termo
avivamento para descrever o tipo de mensagem e de experiência expresso neste livro.
Salientam o fato de não poderem ver nenhum despertamento religioso espetacular,
envolvendo grande número de pessoas, com muitos voltando-se para o Senhor, como
se costuma pensar popularmente ao ser empregado o termo avivamento. Mas nunca
pudemos concordar com essa objeção. Antes, sentimos que devemos insistir em que
as coisas que aprendemos durante todos esses anos, algumas das quais se acham
nestes capítulos, são a própria essência do avivamento. Sua aceitação e aplicação
resultariam no mais amplo avivamento da igreja — tão amplo quanto o atendimento à
chamada ao quebrantamento junto à cruz. Certamente, para aqueles que se
humilharam sob a mão de Deus no lugar em que os pecados são lavados, isso sig-
nificou o avivamento de sua vida no sentido mais verdadeiro e simples da palavra. Há
realmente agora crescentes cabeças-de-ponte de avivamento em muitos corações, num
grande número de igrejas em diferentes países. Aqueles em cujo coração Jesus
estabeleceu essas cabeças-de-ponte devem manter firme a visão de que aquilo
que eles descobriram, e continuam descobrindo em sua experiência, é de fato
avivamento. Essas cabeças-de-ponte são certamente só o prelúdio da invasão de Deus
com grande e extenso poder em nossas situações de necessidade. Enquanto escrevo,
chegam notícias alentadoras sobre o poder com que Deus está avivando sua
igreja nesse e naquele lugar, de acordo com a sua graça sobe rana. Que
estejamos prontos nesse dia do seu poder!
Isso me leva a dizer uma palavra sobre a atitude de coração necessária por
parte do leitor. Para que Deus possa abençoá-lo através da leitura destas páginas,
você precisa vir a elas com uma fome profunda no coração. Precisa estar possuído de
insatisfação quanto ao estado da igreja em geral, e quanto a si mesmo em particular —
especialmente quanto a si mesmo! Deve estar pronto a permitir que Deus comece a
obra dele primeiramente em sua pessoa, e não em outra. Precisa, além disso, ser
possuído de uma santa expectativa de que Deus pode satisfazer sua necessidade e
irá fazê-lo. Se é em qualquer sentido um líder cristão, a urgência do assunto se
intensifica. A disposição de admitir sua necessidade e de ser abençoado determinará o
grau de que Deus irá abençoar o povo a quem você ministra. Acima de tudo, é
preciso que compreenda a necessidade de ser o primeiro a se humilhar junto à cruz.
Se uma nova sinceridade com respeito ao pecado se faz necessária entre o seu povo,
precisa começar consigo mesmo. O povo de Nínive se arrependeu quando seu rei
se levantou do trono, cobriu- se com um saco e se assentou nas cinzas como sinal
do seu arrependimento.
Não aconteça, porém, que os leitores que não são líderes sejam tentados a olhar
para os que o são e fiquem esperando por eles. Deus deseja começar com cada
um de nós. Ele quer começar com você. — O autor.

Capítulo 1 Quebrantamento

Desejamos tratar com muita simplicidade deste tema — avivamento. Avivamento é


tão-somente a vida do Senhor Jesus derramada em corações humanos. Jesus é
sempre vitorioso. No céu ele está sendo louvado perenemente por sua vitória.
Qualquer que seja nossa experiência de fracasso e aridez, ele jamais é
derrotado. Seu poder é ilimitado. De nossa parte, o que temos a fazer é somente
colocar-nos num relacionamento acertado com ele, e veremos seu poder de-
monstrado em nossa vida e serviço. Sua vida vitoriosa nos encherá, e
transbordará através de nós para alcançar outros. Em sua essência, isso é avivamento.
Entretanto, para que possamos estabelecer esse relacionamento adequado com
ele, a primeira coisa que precisamos aprender é que nossa vontade tem de ser
quebrantada e conformada com a vontade dele. Ser quebrantado é o início do
avivamento. É algo doloroso e humilhante, mas é o único caminho. Quer dizer:
"Não mais eu, mas Cristo". O Senhor Jesus só poderá viver plenamente em nós e
revelar-se através de nós quando o orgulhoso eu dentro de nós for quebrado.
Isso simplesmente quer dizer que o resistente e obstinado eu, que se justifica, que
quer impor sua vontade, lutar por seus direitos e buscar sua própria glória,
finalmente se curva à vontade de Deus, admite o seu erro, submete-se a Jesus,
abre mão dos seus direitos, e se desfaz da sua própria glória — para que o Senhor
Jesus possa ser tudo c ter tudo. Em outras palavras, é morrer para o eu e seus
desejos.
Se examinarmos nossa vida cristã, veremos quanto desse eu existe em cada um
de nós. Com que freqüência o eu tenta viver a vida cristã! (O simples fato de
usarmos a palavra "tenta" indica que o eu é que tem a responsabilidade.) É o eu,
também, que muitas vezes está fazendo nosso trabalho cristão. É sempre o eu que
se irrita, que se torna invejoso, ressentido, crítico e preocupado. O eu é duro e
inflexível em sua atitude para com os outros. É o eu que é tímido, acanhado e
reservado. Não é de admirar que precisemos ser quebrantados. Enquanto o eu
estiver no controle, pouca coisa Deus pode fazer conosco, porque o fruto do
Espírito (Gálatas 5.22.23), com o qual ele anseia nos encher, é a antítese
completa desse espírito resistente e inflexível dentro de nós, e pressupõe que
o eu já tenha sido crucificado.
O quebrantamento tanto é obra de Deus como nossa. Deus nos pressiona,
mas nós temos de fazer a escolha. Se de fato estivermos abertos à convicção
de pecado e buscarmos a comunhão com Deus (e a disposição de andar na luz
é a condição essencial para a comunhão com Deus), ele nos mostrará as expressões
desse orgulhoso e inflexível eu que lhe causa tristeza. Nossa atitude, então, pode
ser a de endurecer nossa cerviz, recusando arrepender-nos, ou podemos curvar a
cabeça e concordar com Deus dizendo: "Sim, Senhor". O quebrantamento na experiência
diária é simplesmente a reação da humildade à convicção de Deus, e visto que essa
convicção é contínua, precisaremos ser quebrantados continuamente. Isso pode
ser muito custoso, quando vemos toda a submissão de direitos e interesses
egoístas que isso envolve, e as confissões e restituições que às vezes poderão Ser
necessárias.
Por essa razão, não seremos quebrantados a não ser aos pés da cruz. A
prontidão de Jesus de ser quebrantado por nós é o motivo que nos compele a ser
quebrantados também. Ele, que subsistiu em forma de Deus, não julgou como
usurpação o ser igual a Deus, mas se esvaziou por nós e tomou a forma de servo
— servo de Deus e servo dos homens. Nós o vemos pronto a renunciar a todos os
seus direitos, sem um lar, sem possessões, permitindo que os homens o injuriassem
sem revidar, pronto a deixar que o pisassem sem se vingar nem se defender. Acima de
tudo, nós o vemos quebrado, caminhando submisso em direção ao Calvário, a
fim de se tornar o bode expiatório dos homens, levando os pecados deles em seu
próprio corpo sobre o madeiro. Numa passagem tocante de um salmo profético, ele diz:
"Sou verme e não homem" (Salmos 22.6).
Os que já estiveram em terras tropicais contam que há uma grande diferença
entre uma cobra e um verme, quando se procura atacá-los. A cobra ergue-se,
assobia e avança — um quadro adequado do nosso eu. Mas o verme não oferece
resistência, deixa você fazer o que quiser com ele, chutá-lo ou amassá-lo debaixo
do seu calcanhar — uma figura do verdadeiro quebrantamento. Jesus se dispôs a
ser exatamente isso por nós — verme e não homem; e ele o fez porque foi assim
que ele nos viu — vermes que haviam perdido todos os direitos, devido ao pecado, só
merecendo o inferno. Ele agora nos chama para tomar o lugar que nos pertence, o
de vermes por amor a ele e juntamente com ele. Todo o Sermão do Monte, com
seus ensinos — retribuir o mal com o bem, amar os inimigos, agir desinteressa-
damente — pressupõe ser essa a nossa posição. Mas só a visão do amor que se
dispôs a ser quebrantado por nós pode nos constranger a agir assim.
Todavia, morrer para o eu não é algo que fazemos de uma vez por todas.
Pode haver um morrer inicial, quando Deus a princípio mostra essas coisas, mas
daí por diante será um morrer constante, porque só assim pode o Senhor Jesus se
revelar constantemente através de nós (2ª Coríntios 4.10). Durante o dia todo, a
escolha estará diante de nós de mil maneiras. Isso significará nenhum plano, ou
tempo, ou dinheiro, ou prazer próprio. Antes uma constante submissão aos que estão
ao nosso redor, porque a nossa submissão a Deus se mede por nossa submissão ao
homem. Cada humilhação, cada um que nos prova e contraria é a maneira de Deus
nos quebrantar, para que assim haja uma abertura maior para Cristo viver sua vida
em nós.
O fato é que a única vida que agrada a Deus, e que pode ser vitoriosa, é a vida dele —
jamais a nossa, por mais que nos esforcemos. Mas em vista de nossa vida egocêntrica
ser exatamente o oposto da vida dele, não podemos nunca ser cheios de sua vida
a não ser que estejamos prontos a permitir que Deus conduza nossa vida à morte
constantemente. E nisso temos de cooperar mediante nossa escolha moral.

Capítulo 2 Cálices transbordantes

O quebrantamento, porém, é só o princípio do avivamento. O avivamento como


tal consiste em estarmos completamente cheios do Espírito Santo ao ponto de
transbordar. E essa é a vida vitoriosa. Se nos perguntassem neste momento se
estamos cheios do Espírito Santo, quantos de nós ousaríamos responder que sim?
Avivamento é quando podemos dizer sim a qualquer momento do dia. Não há
orgulho envolvido em dizer isso, porque a obra de encher até transbordar é
inteiramente de Deus — é toda da sua graça. Tudo que temos a fazer é apresentar nosso
eu vazio e quebrantado e deixar que ele nos encha e mantenha cheios. Andrew Murray
diz:
"Da mesma forma que a água sempre procura e enche o ponto mais baixo,
assim, no momento em que Deus encontra você humilhado e vazio, sua glória e
poder correm para dentro de você."
O quadro que revela as coisas simples e claras para tantos de nós é o do
coração humano como um cálice que estendemos a Jesus, desejando que ele possa
enchê-lo com a água da vida. Jesus é representado como aquele que leva o
cântaro de ouro contendo a água da vida. Ao passar, ele olha para o nosso
cálice, e se está limpo ele o enche até transbordar com a água da vida; e como
Jesus está sempre passando, o cálice pode estar sempre transbordando. Era
algo assim que Davi tinha em mente quando disse: "Meu cálice transborda". Isto é
avivamento — a paz de Deus dominando de modo constante os nossos corações
porque estamos transbordando de bênçãos e compartilhando -as com outros.
Há pessoas que imaginam que morrer para o eu nos torna infelizes, mas é
exatamente o oposto. É a recusa de morrer para o eu que nos torna infelizes.
Quanto mais experimentarmos a morte com ele, mais conheceremos sua vida em
nós e tanto mais experimentaremos paz e alegria. Sua vida também transbordará
através de nós para as almas perdidas, numa ansiedade profunda por sua
salvação, e para os nossos irmãos em Cristo, num desejo intenso de que sejam
abençoados.

DEBAIXO DO SANGUE

Só há uma coisa que impede Jesus de encher o nosso cálice ao passar por nós: o
pecado em suas multiformes manifestações. O Senhor Jesus não enche vasos
sujos. Qualquer coisa que se origine no eu, por menor que seja, é pecado. Esforço
próprio ou autocomplacência em nosso serviço é pecado. Autocompaixão em
tempo de provas ou dificuldades, interesses próprios no negócio ou no trabalho
cristão, o emprego do nosso lazer para satisfação própria, suscetibilidade,
melindre, ressentimento, autodefesa quando somos feridos ou injuriados por outros, aca-
nhamento, reserva, preocupação, medo, tudo isso provém do eu e tudo é pecado e
torna o nosso cálice impuro.
Alguns poderão discordar de que a timidez, a reserva e o medo podem ser
considerados pecados. "Chamem-nos de enfermidades, inaptidões, fraquezas
de temperamento, se quise rem", alguns têm dito, "mas não de pecados. Fazer
isso seria colocar -nos debaixo de escravidão." O contrário, entretanto, é
verdade. Se essas coisas não são pecado, então temos de aturá-las pelo resto
da vida. Não há libertação. Mas se essas e outras coisas semelhantes a elas
são realmente pecados, poderemos experimentar purificação e libertação
delas, se as colocarmos imediatamente debaixo do precioso sangue de Jesus,
no momento em que tivermos consciência delas. E elas são pecados. Sua origem
é a incredulidade e uma forma invertida de orgulho que impede a atuação do
Senhor e o tem ocultado inúmeras vezes.
Todas essas coisas foram colocadas naquele outro cálice, do qual o Senhor
Jesus se esquivou por um momento no Getsêmani, mas que ele sorveu até a última
gota no Calvário — o cálice do nosso pecado. E se permitirmos que o Senhor nos
mostre o que o nosso cálice contém e então o entregarmos a ele, ele o purificará no
precioso sangue que ainda corre para limpar o pecado. Isso não quer dizer simples
purificação da culpa do pecado, mas também da sua mancha e contami nação, de
modo a não termos mais consciência do pecado. E na medida em que ele
purifica o nosso cálice, ele o transborda com o Espírito Santo.
Podemos nos beneficiar diariamente desse sangue precioso. Suponhamos
que você deixou o Senhor Jesus purificar seu cálice e confiou nele para
transbordá-lo, mas depois surge algo — um pouco de inveja ou mau gênio. O
que acontece? Seu cálice suja-se e deixa de transbordar; e se somos
constantemente derrotados dessa forma, então o nosso cálice nunca trans borda.
Para experimentar o avivamento contínuo, precisamos aprender a manter nosso
cálice limpo. Não é da vontade de Deus que um aviva mento cesse e seja
conhecido na história como o avivamento deste ou daquele ano. Quando isso
acontece, a causa é uma só — o pecado, aqueles pecadinhos que o diabo lança em
nosso cálice. Mas quando voltamos ao Calvário, e reconhecemos o poder do
sangue de Jesus para nos purificar cada momento, então aprendemos o segredo
de cálices constantemente purificados, e que transbordam continuamente. No
momento em que você tiver consciência daquele toque de inveja, crítica, irritação —
seja o que for — entregue a Jesus e peça-lhe que o purifique pelo poder do seu
sangue, e você verá que a reação desaparece, sua alegria e paz são restauradas, e o
seu cálice volta a transbordar. Quanto mais você vier buscar a purificação dessa
maneira, tanto menos sentirá essas reações. Mas a purificação só é possível
quando somos quebrantados diante de Deus em relação àquele ponto. Suponha-
mos que você se irrite por certas características de uma pessoa. Não basta levar suas
reações ou irritações ao Calvário. Precisamos antes ser quebrantados, isto é,
entregar a Deus todo o assunto, e aceitar aquela pessoa e seus modos como a
vontade de Deus para nós . . Então estaremos em condições de levar nossa
reação errada a Jesus, sabendo que o seu sangue nos purifica do pecado.
Quando tiver sido purificado do pecado, não fique lamentando esse pecado; não
se ocupe consigo mesmo, antes erga seus olhos para o Senhor vitorioso, e louve-
o porque ele ainda é vitorioso.
A Palavra de Deus nos dá uma orientação muito simples, mas completa, para
regular nosso andar com Jesus e nos fazer saber quando o pecado entrou.
Colossenses 3.15 diz: "E a paz de Deus... domine em vossos corações". Tudo aqui-
lo que perturba a paz de Deus em nosso coração é pecado, independentemente de ser
pequeno, e mesmo que a princípio não pareça ser pecado. Essa paz deve "dominar"
nosso coração ou, conforme a versão atualizada de Almeida, ser "o árbitro" em nosso
coração. Quando o árbitro toca o apito no jogo de futebol, o jogo tem de parar
porque uma falta foi cometida. Quando perdemos nossa paz, o árbitro de Deus
faz soar o apito! Devemos então parar imediatamente, pedir que Deus nos mostre
o que está errado, confessar-lhe o pecado que ele nos apontar, e a paz de Deus
será restaurada pelo sangue de Jesus. Então podemos prosseguir em nosso
caminho com o cálice transbordando. Mas, se Deus não nos der sua paz, é porque
realmente não estamos quebrantados. Talvez seja necessário pedir perdão a alguém
mais, além de Deus. Ou talvez ainda pensamos que a falta é da outra pessoa. Mas,
se perdemos a paz, é evidente que a culpa é nossa. Não perdemos a paz de Deus
por causa cio pecado de outra pessoa, mas somente por causa do nosso. Deus quer
mostrar-nos as nossas reações, e só ternos a sua paz quando estamos prontos a ser
purificados. Que coisa tão simples mas tão penetrante é ser guiado pela paz de
Deus, que é o próprio Espírito Santo! Maneiras egoístas anteriores, com as quais
nunca nos preocupamos, agora nos são reveladas, e não podemos mais praticá-las
sem que o árbitro toque o apito. Murmuração, autoritarismo, descuido e até as
menores coisas, são reveladas como pecados, quando estamos prontos a deixar
nossa vida ser dominada pela paz de Deus. Muitas vezes no dia, e pelas menores coisas,
teremos de nos valer do sangue purificador de Jesus, e andaremos no caminho do
quebrantamento como nunca antes. E Jesus será manifestado em toda a sua
beleza e graça nesse quebrantamento.
Muitos de nós, entretanto, ternos desprezado o apito do árbitro tantas vezes e por
tanto tempo que já não mais o ouvimos. Passam-se os dias e sentimos muito pouca
necessidade de purificação ou de quebrantamento. Nessa situação, estamos em
geral num estado muito pior do que poderíamos imaginar. Será necessário um
grande desejo de ter a comunhão com Deus restaurada para chegarmos ao ponto de
clamar a Deus que nos mostre onde o sangue de Jesus precisa ser aplicado. Ele, a
princípio, nos revelará somente uma coisa, e quando obedecermos e nos
quebrantarmos naquela coisa, daremos o primeiro passo no sentido de trazer o
avivamento até nós.

Capítulo 3 A senda da comunhão

Quando o homem caiu e escolheu fazer de si mesmo — em vez de Deus — o


centro da sua vida, o resultado não só foi o homem perder a comunhão com Deus, mas
também com o seu semelhante. A história da primeira desavença do homem com
Deus, no terceiro capítulo do Gênesis, vem seguida, no capítulo quatro, pela
história da primeira desavença do homem com o seu irmão, quando Caim mata
Abel. A queda do homem consist iu simplesmente em que "cada um se
desviava pelo caminho" (Isaías 53.6). Se eu preferir o meu caminho ao caminho
de Deus, é evidente que também estou preferin do meu próprio caminho ao do
meu próximo. O homem não afirma sua independência de Deus para tornar-se
dependente do seu semelhante, a menos que não o possa evitar. Mas um
mundo em que cada pessoa quer fazer a própria vontade não pode deixar de
ser um mundo cheio de tensões, barreiras, desenten dimentos, lutas e conflitos.
A obra do Senhor Jesus Cristo na cruz não foi só a de reintegrar o homem à comunhão
com Deus, mas também com o seu próximo. Na verdade, uma dessas coisas não
pode ser feita sem a outra. À medida que os raios se aproximam do centro da
roda, aproximam-se uns dos outros. Portanto, se não tivermos sido trazidos à
comunhão com o nosso irmão, isto é prova de que na mesma medida não fomos
trazidos à comunhão com Deus. A primeira epístola de João insiste em provar a
profundidade e a realidade da comunhão do homem com Deus pela pro -
fundidade e realidade da sua comunhão com os seus irmãos (1ª João 2.9;
3.14,15; 4.20). Alguns chegam a ver a íntima ligação existente entre o relacionamento
do cristão com o seu semelhante e o seu relacionamento com Deus. Tudo que é
obstáculo entre mim e outra pessoa, por menor que seja, é obstáculo entre mim
e Deus. Temos verificado que, onde essas barreiras não são derrubadas
imediatamente, elas se tornam cada vez maiores, até ao ponto de nos separar de
Deus e do nosso irmão, por aquilo que parece ser uma verdadeira muralha.
Evidentemente, se permitirmos entre nós a nova vida, ela terá de se manifestar
por uma união íntima com Deus e nosso irmão, sem nenhuma barreira entre nós
e eles.

LUZ E TREVAS

Em que base podemos ter real comunhão com Deus e com nosso irmão? 1 João
1.7 responde: "Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo
pecado" (grifo do autor). A luz revela, e as trevas escondem. Quando alguma coisa nos
reprova, mostrando-nos como realmente somos — isso é luz. "Todas essas coisas se
manifestam... porque a luz tudo manifesta." (Efésios 5.13 — ARC.) Mas sempre que
fazemos ou dizemos alguma coisa (ou não dizemos nada) para esconder o que
somos ou o que fizemos — isso é trevas.
O primeiro resultado do pecado em nossa vida é, sempre, levar-nos a tentar
esconder o que somos. O pecado fez os nossos primeiros pais esconderem-se
atrás das árvores do jar dim, e desde então tem sempre produzido o mesmo
efeito em nós. O pecado sempre nos leva a f ug ir da r ealida de, sendo
f ing idos, desculpando-nos a nós mesmos e culpando os outros — e podemos
fazer tudo isso tanto com o silêncio como dizendo alguma coisa. A isso é que o
versículo já citado chama de "andar nas trevas". Para alguns de nós, o pecado
em questão pode ser simplesmente o acanhamento, e a maneira de esconder é
uma delicadeza tingida que tem o propósito de encobrir esse acanha mento;
contudo isso não deixa de ser "andar em trevas", porque qualquer coisa que
tenha o eu como centro é pecado.
Em contraste com tudo isso em nós, o versículo 5 do capítulo 1 de 1ª João, diz
que "Deus é luz", ou seja, Deus é aquele que tudo revela, e que mostra cada
homem como realmente é. O versículo continua: "não há nele treva nenhuma", isto
é, não há absolutamente nada em Deus que se possa unir com a menor porção de
trevas em nós.
É evidente, portanto, que se torna absolutamente impossível para nós andar
em qualquer grau de trevas e ter comunhão com Deus. Enquanto estivermos
nessa condição de trevas, também não podemos ter verdadeira comunhão com o
nosso irmão — porque não somos sinceros para com ele, e ninguém pode ter comunhão
com uma pessoa que não é sincera. Uma muralha de reserva a separa de nós.
A única base para a verdadeira comunhão com Deus e com o homem é sermos
completamente abertos com ambos. "Mas se andarmos na luz, como ele na luz
está, temos comunhão uns com os outros." (1ª João 1.7) Andar na luz é o oposto de
andar nas trevas. Spurgeon define isso, em um de seus sermões, como sendo "a
disposição de conhecer e ser conhecido". Em relação a Deus, isso significa que
estamos prontos a conhecer toda a verdade a nosso respeito, que nos achamos abertos
à convicção de pecado. Curvaremos a nossa cerviz aos primeiros toques da
consciência. Tudo que ele nos mostra ser pecado, trataremos como pecado — sem
esconder ou desculpar nada. Quando andamos na luz assim, descobrimos o pecado
de maneira crescente em nossa vida, e consideramos pecado coisas que nunca antes
havíamos julgado como tal. Por essa razão, podemos nos esquivar de andar na luz e
ser tentados a esconder o pecado. Mas o versículo continua com estas preciosas
palavras: "e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado". Tudo que a
luz de Deus nos revela como pecado, podemos confessar e levar à fonte de sangue, e
desaparecerá tanto da vista de Deus como do nosso coração. Pelo poder do precioso
sangue podemos nos tornar mais alvos que a neve. Assim podemos permanecer
continuamente na luz e, uma vez purificados pelo sangue, temos comunhão com
Deus.
Mas a comunhão que nos é prometida aqui não é só com Deus, mas também "uns
com os outros". Isso envolve andar na luz com o nosso irmão também. De
qualquer forma, não podemos estar na luz com Deus e em trevas com nosso
irmão. Quer dizer que precisamos estar prontos a conhecer a verdade a nosso
próprio respeito através de nosso irmão, como estamos prontos a conhecê-la apontada
por Deus. Devemos estar dispostos a deixar que ele ilum ine nosso caminho e
nos mostre em amor qualquer coisa que veja em nossa vida que não ocupa o
nível mais alto. Não só devemos estar prontos a conhecer, mas também a ser
conhecidos por ele quanto ao que r ealmente somos. Nesse caso, não vamos
esconder nosso íntimo daqueles com quem devemos viver em comunhão; nem
apresentar uma fachada de falsa aparência, ou desculpa. Vamos ser sinceros
com eles, quanto a nós mesmos, abrindo mão de nosso isolamento espiritual,
de nosso orgulho, arriscando nossa reputação para que possamos ser francos e
transparentes com nossos irmãos em Cristo. Quer dizer também que não vamos
alimentar nenhum ressentimento para com um irmão, mas vamos primeiro
buscar nos libertar desse sentimento e resolver a situação com ele. Andando
assim, descobriremos que a nossa comunhão fraternal atingiu um nível intei-
ramente novo e não nos amaremos menos, porém infinitamente mais.

MIRAR ESCRAVIDÃO

Andar na luz é simplesmente andar com Jesus. Por conseguinte, não deve haver
nenhuma escravidão nisso. Não temos necessariamente de dizer a todo mundo tudo a
nosso respeito. O importante e fundamental é nossa atitude de andar na luz, mais
do que a ação. Estamos dispostos a ser abertos com o nosso irmão — e a sê-lo em
palavras — quando Deus assim nos diz? Essa é a armadura da luz — a verdadeira
transparência. Isso poderá por vezes ser humilhante, mas irá nos ajudar a ter uma
nova realidade com Cristo e um novo conhecimento de nós mesmos. Temos nos
acostumado tanto ao fato de que Deus sabe tudo sobre nós, que isso parece
não nos impressionar, e acabamos inevitavelmente por não saber a verdade sobre
nós mesmos. Mas se alguém começa a ser inteiramente franco a respeito de si
mesmo com outra pessoa, conforme Deus o dirigir, alcançará um conhecimento de
si mesmo e dos seus pecados que nunca teve antes, e começará a ver mais
claramente onde a redenção de Cristo precisa ser aplicada progressivamente em sua
vida. Essa é a razão pela qual Tiago escreve que devemos nos colocar sob a
disciplina de confessar os nossos pecados uns aos outros.
Em 1ª João 1.7, naturalmente, o propósito de "andar na luz" é que "tenhamos
comunhão uns com os outros". E que comunhão preciosa é essa quando andamos
juntos assim! Evidentemente, o amor se manifesta de um para o outro quando cada
um está pronto a ser conhecido como pecador arrependido aos pés da cruz de
Cristo. Quando as barreiras caem e as máscaras são retiradas, Deus tem a
oportunidade de realmente nos tornar um. Mas há também a alegria de saber que
nessa comunhão estamos seguros. Ninguém terá receio do que outros estejam
pensando, ou da reação que possam ter, ou do que estejam escondendo. Num grupo
habituado a andar na luz à sombra da cruz, sabemos que se houver qualquer
pensamento sobre nós, ele será rapidamente trazido à luz, seja por quebrantamento
ou confissão (onde tiver havido qualquer erro ou falta de amor) ou então como um
desafio de amor, como algo que precisamos saber sobre nós mesmos.
Não devemos esquecer, porém, que o nosso andar na luz deve ser antes de mais
nada e acima de tudo com o Senhor Jesus. É com ele que precisamos acertar tudo
primeiro. É a sua purificação e sua vitória que temos de obter antes de qualquer
outra coisa. Depois, então, quando Deus nos der a orientação para abrirmos o coração
para outros, iremos a estes, mais com um testemunho do que com uma confissão (a
não ser nos casos em que isso seja necessário) e louvaremos a Deus juntos.

EQUIPES DE DOIS PARA AVIVAMENTO

Jesus deseja que você comece hoje a andar na luz com ele de um modo novo.
Una-se a outra pessoa — um amigo cristão, alguém com quem você mora, sua
esposa, seu marido. Tire a máscara. Sem dúvida Deus o convenceu de alguma
coisa sobre a qual deve ser franco. Comece aí. Forme uma equipe de dois para
promover o avivamento em seu círculo. Ao passo que outros forem quebrantados
aos pés da cruz, serão acrescentados ao seu grupo de comunhão, conforme Deus
orientar. Reúnam-se de vez em quando para ter comunhão e para compartilhar
suas experiências de modo muito aberto. Em completa unidade, orem juntos com
um novo testemunho. Deus começará a operar maravilhosamente através desses
grupos de comunhão. À medida que ele salva e abençoa outros, eles podem começar
a viver e operar também como um grupo de comunhão. Como uma bola de bilhar
movimenta outra bola, assim um grupo dará origem a outro grupo até que a nação
inteira esteja cheia dessa nova vida que vem do Senhor ressuscitado.

Capítulo 4 A estrada da santidade

Uma das coisas que precisamos aprender, se quisermos viver a vida cristã
vitoriosa, é a sua extrema simplicidade. Como a temos tornado complicada! Grandes
volumes são escritos; emprega-se toda espécie de frases técnicas; dizem- nos que o
segredo está nisto ou naquilo. Mas para a maioria de nós tudo isso é tão complicado
que, ainda que o saibamos na teoria, somos incapazes de relacionar o que sabemos
com o nosso viver diário. Para tornar ainda mais claras as simples verdades que
estamos considerando, desejamos, neste capítulo, apresentá-las em forma de
ilustrações.

A ESTRADA

Uma figura ampla da vida vitoriosa, que muitos de nós experimentamos, é a da


Estrada em Isaías 35: "E ali haverá uma grande estrada, um caminho que será
chamado Caminho da Santidade" (NVI). O quadro é o de uma estrada construída
acima do pântano — o mundo. Ainda que a Estrada seja um caminho estreito e uma
subida, ela não está fora do nosso alcance, porque os caminhantes, até mesmo os
loucos, nela andarão. Ainda que haja muitos perigos, caso nos desviemos desse
Caminho, há segurança enquanto nos conservamos nele porque "ali não haverá
leão, nem animal feroz passará por ele, nem se achará nele". Só uma espécie de
pessoa é impedida de andar ali — "o imundo não passará por ele". Isso inclui não
só o pecador que não conhece a Cristo como Salvador, mas também o cristão que
o conhece, mas está vivendo em pecado inconfesso e sem ser purificado.
O único acesso à Estrada é uma subida estreita, escura e difícil — o monte
Calvário. É o tipo de monte que temos de subir de gatinhas — com os joelhos em
terra. Se estamos satisfeitos com a nossa vida cristã atual, se não desejamos com uma
fome desesperada alcançar a Estrada, nunca nos poremos de joelhos, e assim não
subiremos o monte. Mas se estivermos descontentes e famintos, nós nos
disporemos a subir. Não tenha pressa. Deixe que Deus lhe dê um grande desejo de
alcançar a Estrada. Permita que ele o leve a dobrar os joelhos em oração
ardente. Os turistas não irão muito longe. "Buscar-me-eis e me achareis quando me
buscardes de todo o vosso coração." (Jeremias 29.13.)

UMA PORTA BAIXA

No alto do monte, protegendo o acesso para a Estrada, ergue-se sombria e


horrível... A cruz. Ali está ela, a divisora do tempo e a divisora dos homens. Ao pé da
cruz há uma porta baixa, tão baixa que para transpô-la precisamos nos abaixar e
entrar de rastos. É o único ingresso para a Estrada. Temos de passar por ela, se
desejarmos prosseguir em nosso caminho. Ela é chamada a porta dos
quebrantados. Só os quebrantados podem entrar por ela. Ser quebrantado é viver
"não mais eu, mas Cristo". Existe em cada um de nós um orgulhoso "eu" de dura
cerviz. A dura cerviz começou no Jardim do Éden quando Adão e Eva, que haviam
sempre curvado sua cabeça em submissão à vontade de Deus, endureceram a cerviz,
proclamaram sua independência, e procuraram ser "como deuses". Através da Bíblia
toda, Deus acusa seu povo da mesma cerviz dura, e ela se manifesta em nós também.
Somos obstinados. Somos sensíveis e nos ofendemos com facilidade. Irritamo-
nos, somos invejosos e críticos. Guardamos ressentimento e não perdoamos. Lu-
tamos na nossa própria força e tentamos fazer por nossos esforços o que
devíamos deixar que Deus fizesse. Somos indulgentes — e quantas vezes isso nos
conduz à impureza! Cada uma dessas coisas e muitas outras se originam do orgu-
lhoso "eu" dentro de nós. Se ele não estivesse ali e Cristo estivesse em seu lugar,
não teríamos essas reações. Antes que possamos ingressar na Estrada, Deus
precisa dobrar e quebrar aquele "EU" dc dura cerviz, de modo que Cristo reine em
seu lugar. Ser quebrantado significa não ter direitos diante de Deus e do homem. Não
só quer dizer a entrega dos meus direitos a ele, mas o reconhecimento de que eu não
tenho direito nenhum, e que só mereço o inferno. Significa que não sou nada, nada
tenho que possa chamar de meu, quer seja tempo, dinheiro, possessões ou
posições.
A fim de quebrantar nossa vontade e sub metê-la à dele, Deus nos traz ao
pé da cruz e ali nos mostra em que consiste realmente o quebrantamento. Vemos
aquelas mãos e aqueles pés feridos, aquela face impregnada de amor, coroada
de espinhos e vemos o completo quebrantamento daquele que disse: "Não se faça
a minha vontade, e sim a tua" (Lucas 22.42.), ao sorver, até a última gota, o
cálice amargo dos nossos pecados. Assim, só seremos quebranta dos se
olharmos para ele e compreendermos que foram os nossos pecados que o
pregaram ali. Então, ao vermos o amor e o quebranta mento de Cristo, que
morreu em nosso lugar, nosso coração se sentirá estranhamente movi do e
desejaremos ser quebrantados por amor a ele, e então oraremos:

"Oh! Salva-me do meu 'eu', Senhor! Quero abrigar-me em ti. Oh! Que não seja nunca o
'eu', Mas Cristo que viva em mim."

E alguns já descobriram que não há oração que Deus responda tão


prontamente como aquela em que pedimos que ele nos quebrante!

UMA ESCOLHA CONTÍNUA

Ninguém pense, porém, que precisamos ser quebrantados somente uma vez ao
transpor a porta. A partir daí, sempre teremos de tomar decisões. Deus exerce
pressões sobre nós, mas a decisão final é nossa. Se alguém nos magoa ou
menospreza, imediatamente temos de decidir se vamos aceitar o menosprezo, vendo-o
como um meio de nos quebrantarmos mais, ou se vamos resistir a ele, endurecer
a cerviz de novo e suportar toda a perturbação de espírito que isso inevitavelmente nos
trará. Deus testa nosso quebrantamento a cada instante. Contudo de nada adiantará
aparentarmos quebrantamento diante de Deus, se não estivermos quebrantados em
nossa atitude para com os que nos cercam. Quase sempre, Deus nos prova através
de outras pessoas. Para o crente, não existem outras causas. Deus manifesta sua
vontade em suas providências, as quais, muitas vezes, são outras pessoas com suas
inúmeras exigências. Se alguém sentir que está com a cerviz endurecida, o que tem a
fazer é voltar de novo ao Calvário e ver Cristo quebrantado por ele. Assim estará
disposto novamente a se quebrantar por amor ao Senhor.
Sobre a porta dos quebrantados está aspergido o precioso sangue do Senhor
Jesus. Ao nos curvarmos para atravessá-la, o sangue nos purifica de todo pecado,
porque não só temos de nos curvar para passar por ela, mas somente os limpos
podem andar na Estrada. Talvez você nunca tenha conhecido Jesus como seu
Salvador; ou talvez o conheça há muitos anos. De qualquer forma, você pode estar
contaminado pelo pecado — o pecado do orgulho, da inveja, do ressentimento, da
impureza, etc. Se você os entregar a ele, que os carregou na cruz, ele repetirá
para você o que já disse uma vez na cruz: "Está consumado", e o seu coração ficará mais
alvo que a neve.

O DOM DA SUA PLENITUDE

Assim chegamos à Estrada. Ela se estende diante de nós, um caminho estreito,


banhado de luz, que sobe e que conduz à Jerusalém celestial. Dos lados da Estrada
há densas trevas. Na verdade, as trevas chegam até bem junto da Estrada da, mas na
Estrada mesmo há luz intensa. Atrás de nós está a cruz, não mais escura e
ameaçadora, mas radiante e esplendorosa, e não mais vemos Jesus preso a ela,
mas andando na Estrada transbordante da vida da ressurreição. Em suas mãos ele
carrega um cântaro com a água da vida. Ele se aproxima de nós e pede que lhe
apresentemos o coração — e, exatamente como se lhe estivéssemos estendendo um
cálice, apresentamos- lhe o coração vazio. Ele olha para dentro, e se nós já
permitimos que seu sangue nos purificasse, ele o enche com água da vida. Assim
prosseguimos em nosso caminho, regozijando-nos e louvando a Deus, e
transbordando com sua nova vida. Isto é avivamento: você e eu cheios do Espírito
Santo em todo o tempo, amando outros e interessados na salvação deles. Nenhuma luta,
nenhuma espera, simplesmente entregando a Cristo cada pecado para ser
purificado em seu precioso sangue e aceitando de suas mãos o dom gratuito da
sua plenitude, e então permitindo que ele realize a obra através de nós. Ao
caminharmos ao seu lado, ele está sempre ali, enchendo- nos de tal modo que nosso
cálice transborda continuamente.
Assim, daí em diante, nossa vida cristã consiste simplesmente em andarmos
pela Estrada, com o coração transbordando, curvando nossa cerviz à sua
vontade o tempo todo, constantemente confiando no sangue para nos purificar, e
vivendo em completa identificação com Jesus. Não há nada espetacular nesse
tipo de vida, nenhuma experiência emocional a buscar ou esperar. É simplesmente
viver dia a dia a vida que o Senhor deseja que vivamos. Nisso reside à verdadeira
santidade.
FORA DA ESTRADA
Mas é possível escorregar para fora da Es trada, e, às vezes, isso acontece
conosco, porque ela é estreita. Um pequeno passo em falso e estamos fora do
caminho e nas trevas. Isso acontece sempre por causa de uma desobediência, ou
por não nos sentirmos fracos ao ponto de deixarmos que Deus faça tudo. Satanás
está sempre à beira do caminho, acenando, mas ele não pode nos tocar. Todavia,
podemos ceder à sua voz por um ato da vontade. Esse é o começo do pecado e do
afastamento de Jesus. Às vezes, vemo-nos endurecendo a cerviz a alguém, até
mesmo ao próprio Deus. Outras vezes nos assalta a inveja, ou o ressentimento.
Outras, ficamos tensos, e esforçamo-nos, sem descansar nele. Imediatamente
saímos da Estrada, porque nenhum impuro pode andar por ela. Nosso cálice
sujou-se e não mais transborda, e perdemos nossa paz com Deus. Se não
voltarmos logo para a Estrada, iremos escorregar cada vez mais para o lado.
Precisamos voltar. Como? A primeira coisa a fazer é pedir a Deus que nos mostre
o que nos levou a escorregar, e ele o fará, ainda que muitas vezes leve tempo até que
o vejamos. Talvez alguém me tenha irritado. Deus quer que eu veja que o
importante não é o que a pessoa fez, mas a minha reação para com o que ela fez. Se
eu estivesse quebrantado, não ficaria irritado. Assim, ao olhar ansiosamente para a
Estrada, vejo o Senhor Jesus de novo, e vejo também como é feio ficar irritado, e
que Jesus morreu para salvar-me da irritação. Engatinhando de volta para a Estra-
da, venho novamente a ele e o seu sangue me purifica. Jesus está ali esperando para
fazer transbordar o meu cálice mais uma vez. Aleluia!
Não importa onde você deixa a Estrada, você sempre encontrará Jesus chamando-
o para voltar e ser quebrantado de novo, e o sangue sempre estará ali para purificá-
lo e limpá-lo. Este é o grande segredo da Estrada — saber o que fazer com o pecado,
quando ele entra em sua vida. O segredo é sempre levar o pecado à cruz, ver ali sua
hediondez, confessá-lo a Deus e crer que ele foi removido pelo poder do sangue de
Jesus.
Assim, a verdadeira prova ao longo da Estrada será: O meu cálice está
transbordando? Tenho a paz de Deus em meu coração? Tenho amor e interesse pelos
outros? Estas coisas são o barômetro da Estrada. Se fico perturbado, então é
porque o pecado se introduziu de algum modo — auto compaixão, egoísmo, indulgência
por pensamentos ou ações, suscetibilidade, irritabilidade, confiança própria, timidez,
preocupação, medo e assim por diante.

NOSSO ANDAR COM OUTROS

Uma coisa importante sobre a Estrada, e que ainda não foi mencionada, é que
não a percorremos sozinhos. Outros andam conosco. Temos conosco, sem
dúvida, o Senhor Jesus. Mas há outros caminhantes, também, e o regulamento é
que a comunhão com eles é tão importante como a comunhão com Cristo. Na
verdade, as duas coisas estão intimamente ligadas. Nosso relacionamento com os
semelhantes e nosso relacionamento com Deus estão ligados de tal forma, que não
podemos perturbar um deles sem perturbar o outro. Tudo que interferir entre nós e
outra pessoa, como a impaciência, o ressentimento ou a inveja, interfere entre nós e
Deus. Essas barreiras, às vezes, não são mais que véus — véus através dos quais
podemos ver, até certo ponto. Mas se não forem removidas imediatamente, as paredes
vão se tornando mais espessas e assim ficamos separados tanto de Deus como do nosso
semelhante, e encerrados dentro de nós mesmos. Por que esses dois relacionamentos
estão ligados? Porque "Deus é amor", isto é, amor para com os outros. No momento em
que falhamos para com outra pessoa, nós nos colocamos fora da comunhão com
Deus — porque Deus a ama, mesmo que nós não a amemos.
Mais do que isso, porém, o efeito desses pecados é sempre fazer-nos "andar em
trevas" (1ª João 2.9-11) — isto é, encobrir aquilo que somos na verdade ou o que
realmente estamos sentindo. Esse é sempre o sentido de "trevas" nas Escrituras, por-
que, enquanto a luz revela, as trevas escondem. O primeiro efeito do pecado em nós é
sempre nos fazer esconder, trazendo como resultado o fingimento, colocando-nos
uma "máscara", fazendo com que deixemos de ser sinceros para com Deus ou o
próximo. E, na realidade, nem Deus nem o homem podem ter comunhão com uma
pessoa insincera.
A volta à comunhão com o Senhor Jesus também nos trará de volta à comunhão com
o nosso irmão. Toda falta de amor precisa ser reconhecida como pecado e
confessada como tal, para que possa ser coberta pelo sangue de Jesus — e então pode-
rá ser acertada com o nosso irmão também. Ao voltar dessa maneira ao Senhor
Jesus, veremos seu amor por nosso irmão enchendo nosso coração e desejando
expressar-se em atos para com ele, e de novo andaremos juntos em comunhão.
Essa, pois, é a vida da Estrada. Não é nenhuma doutrina nova e
surpreendente. Não é algo novo para se pregar. Não é nada espetacular. É
simplesmente uma vida para se viver dia a dia, em quaisquer circunstâncias que
o Senhor nos coloque. Não contradiz o que temos lido ou ouvido sobre a vida
cristã. Apenas coloca numa linguagem figurada as grandes verdades da santificação.
Começar a viver essa vida agora significa avivamento. Continuar a vivê-la será o
avivamento contínuo. Avivamento é simplesmente você e eu andando pela Estrada em
completa identidade com o Senhor Jesus e uns com os outros, com cálices
continuamente purificados, deles transbordando a vida e o amor de Deus.

Capítulo 5 A Pomba e o Cordeiro

A vida vitoriosa e o serviço eficiente de ganhar almas não são produtos da


nossa capacidade e esforço, mas simplesmente o fruto do Espírito Santo. Não
somos chamados para produzir o fruto, mas simplesmente revelá-lo. O tempo
todo devemos revelar o fruto de Cristo. Nada mais importante, então, do que
sermos continuamente cheios do Espírito Santo ou, em outras palavras, que "as
árvores do Senhor estejam sempre cheias de seiva" — a sua seiva.
Como isso pode acontecer em nós, é graficamente ilustrado na narrativa do
primeiro capitulo de João, sobre como o Espirito Santo veio sobre o Senhor Jesus
em seu batismo. João Batista viu Jesus vindo em sua direção e disse dele: "Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". Depois de batizá-lo, viu o céu
aberto e o Espirito de Deus descendo como pomba e pousando sobre ele.

A HUMILDADE DE DEUS

Que quadro sugestivo temos aqui — a Pomba descendo sobre o Cordeiro e


pousando sobre ele! O Cordeiro e a Pomba são, sem dúvida, as mais dóceis de todas
as criaturas de Deus. O Cordeiro comunica mansidão e submissão, e a Pomba é
símbolo de paz. Não nos sugere isso que no próprio coração de Deus exista
humildade?
Quando o Deus eterno escolheu revelar-se em seu Filho, deu-lhe o nome de
Cordeiro, e quando se tornou necessário que o Espírito Santo viesse ao mundo,
ele se revelou sob a figura de Pomba. É evidente, então, que a razão pela qual
devemos ser humildes para andar com Deus não é apenas porque Deus é tão grande
e nós tão pequenos — mas também porque Deus mesmo, como visto em Jesus, é manso
e humilde de coração.
A principal lição deste incidente é que o Espírito Santo, como Pomba, só podia
vir sobre o Senhor Jesus e permanecer sobre ele, porque ele era o Cordeiro. Se o
Senhor Jesus tivesse outra inclinação que não a do Cordeiro — humildade, submissão e
entrega — a Pomba nunca poderia ter descansado sobre ele. Sendo ela mesma
tão dócil, teria fugido espantada se Jesus não fosse manso e humilde de coração.
Aqui, então, temos a descrição da condição sob a qual o mesmo Espírito Santo
pode vir e permanecer sobre nós. A Pomba pode permanecer sobre nós somente
enquanto nos dispomos a ser como o Cordeiro. É impossível que ela descanse
sobre nós enquanto o "eu" não está quebrantado. As manifestações do "eu" inflexível
são exatamente opostas à ternura da Pomba. Leia de novo em Gálatas 5 as nove
manifestações do fruto do Espírito (amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade,
bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio) com as quais a Pomba anseia por nos
encher. Contraste-as, então, com as feias obras da carne (o nome que o Novo
Testamento dá ao "EU" inquebrantado) no mesmo capítulo. É o contraste entre o
lobo uivador e a mansa pomba.

AS CARACTERÍSTICAS DO CORDEIRO

É evidente, então, que o Espírito Santo só virá e permanecerá sobre nós se


estivermos dispostos a ser como o Cordeiro — e isso cada vez que ele produzir em
nós convicção de pecado. E nada nos torna tão humildes como olhar para o Cordeiro
caminhando para o Calvário em nosso lugar, e reconhecer de quantas maneiras
temos nos recusado a tomar a posição de cordeiro em seu lugar.
Contemple-o por um momento como o Cordeiro.

ELE ERA SINGELO

O cordeiro é a mais singela das criaturas de Deus. Não tem projetos nem
planos para ajudar- se a si mesmo — vive em sua incapacidade e simplicidade. Jesus
tornou-se como nada por amor de nós, e tomou a forma do despretensioso Cor-
deiro. Ele não tinha força própria, nem sabedoria própria, nem projetos para sair
das dificuldades, mas viveu todo tempo na total dependência do Pai. "O Filho de si
mesmo nada pode fazer, se não o que vir o Pai fazer." Mas nós — como somos
complicados! Quantos projetos temos feito para ajudar a nós mesmos e para nos
livrarmos das nossas dificuldades! De quantos esforços próprios lançamos mão
para viver a vida cristã e fazer a obra de Deus, como se fôssemos alguma coisa e
pudéssemos fazer algo! A Pomba teve de bater asas (ao menos no que diz respeito à
bênção consciente da sua presença) porque não nos dispusemos a ser simples cordeiros.

PRONTO A SER TOSQUIADO

Ele se prontificou a ser tosquiado dos seus direitos, de sua reputação, e de tudo
aquilo que lhe era lícito, exatamente como um cordeiro é tosquiado da sua lã. À
semelhança de um cordeiro, ele nunca ofereceu resistência. Quando injuriado, por
amor de nós, não revidou. Ao padecer, não lançou ameaças. Ele nunca disse: "Vocês
não podem me tratar assim. Não sabem que eu sou o Filho de Deus?" Nós, porém, oh
nós! Quantas vezes não nos esquivamos de ser tosquiados do que era nosso
direito! Não estávamos dispostos, por amor a ele, a perder o que nos pertencia.
Insistimos também em ser tratados com o res peito devido à nossa posição.
Resistimos e lutamos. A Pomba teve de bater asas porque não estávamos dispostos a
ser cordeiros tosquiados, e fomos deixados sem paz, rígidos e sem disposição de
amar.

ELE NADA RESPONDEU

Ele foi o Cordeiro silencioso. "Como ovelha, muda perante os seus tosquiadores, ele
não abriu a boca." Enfrentando as calúnias dos homens "ele nada respondeu". Ele
nunca se defendeu, nunca se explicou. Contudo, é assim que nós agimos — fazemos
tudo, menos ficar silenciosos quando outros nos tratam com falsidade e são
descaridosos. Nossa voz se ergue em defesa própria e em justificativas, num tom
de ira. Desculpamo- nos quando devemos simplesmente admitir com franqueza o nosso
erro. Em cada uma dessas atitudes a Pomba bate as asas e retira sua paz e bênção do
nosso coração, porque não nos dispomos a ser cordeiros silenciosos.

NENHUM RANCOR

Ele foi também o Cordeiro sem manchas. Seu coração nada abrigou a não ser amor
por aqueles que o enviaram à cruz. Não guardou contra eles ressentimentos, nem
rancor, nem amargura. Mesmo enquanto cravavam os pregos em suas mãos, ele
murmurava: "Eu lhes perdôo" e pediu ao Pai que lhes perdoasse também. Com
mansidão, estava disposto a sofrer por nós. Mas quanto ressentimento e amargura
guardamos em nosso coração — para com este ou aquele, e por coisas tão menos
importantes do que fizeram a Jesus! Cada reação deixou mancha em nosso cora-
ção, e a Pomba teve de bater asas porque não estávamos prontos a suportar e perdoar
por amor a Jesus.

VOLTA, Ó POMBA

E s s a s , e n t ã o , s ã o a s a ç õ e s e a t i t u d e s q u e afugentam o Espírito Santo


de nossa vida, impedindo-nos de receber suas bênçãos, e todas elas são
pecados. O pecado é a única coisa que impede o avivamento da igreja de Cristo. A
pergunta de suprema importância para nós agora é: "Como pode a Pomba
retornar à nossa vida com sua graça e poder?" A resposta outra vez é simplesmente:
"Pelo Cordeiro de Deus". Porque ele não só é Cordeiro singelo, o Cordeiro tos-
quiado, o Cordeiro silencioso e o Cordeiro sem mancha, mas, acima de tudo, ele é o
Cordeiro substituto.
Para o judeu, o cordeiro que era oferecido a Deus era sempre um cordeiro
substituto. Sua mansidão e submissão eram puramente incidentais em relação à
sua obra principal, a de ser imolado pelo pecado e de ter seu sangue espargido
sobre o altar, a fim de ser expiado. A humildade do Senhor Jesus, ao se tornar
nosso Cordeiro, era necessária, para que na cruz ele pudesse se tornar nosso
substituto, nosso bode expiatório. No madeiro ele levou nossos pecados em seu
próprio corpo, para que possamos ser perdoados e purificados de todas as
manchas, quando nos arrependemos. Deus deseja, além disso, levar-nos de volta
àquela cruz e mostrar nossos pecados ferindo e magoando o Cordeiro. Por
nossa falta de quebrantamento, demonstramos que fazíamos parte daquela
multidão que o matou no Calvário. E o Cordeiro manso prontificou- se a deixar que
nós e eles o fizéssemos, para que, quando afinal nos arrependermos, haja sangue
precioso para garantir nosso perdão e purificação de todo o pecado. Que esse
pensamento importante possa quebrantar o nosso orgulhoso coração em
arrependimento! Porque somente quando virmos nossos pecados sobre Jesus,
de modo que estejamos quebrantados e prontos a nos arrepender deles e
endireitar tudo, é que o sangue do Cordeiro nos purificará deles e a Pomba retornará
com paz e bênção ao nosso coração.
Um piedoso cristão africano contou que, certa vez, ao subir a encosta de um
morro para o culto, ouviu passos. Voltou-se e viu um homem subindo a mesma
encosta e carregando um fardo muito pesado. Sentiu pena e dirigiu- se a ele.
Foi então que notou em suas mãos cicatrizes, e compreendeu que era Jesus. Ele
lhe disse:
— Senhor, estás carregando o pecado do mundo nesta subida?
— Não, disse o Senhor Jesus, não os pecados do mundo; só os seus.
Enquanto aquele africano contava à visão que Deus lhe havia dado, o coração do povo
e o seu próprio foram quebrantados, ao ver seus pecados na cruz. Seu coração
também precisa ser quebrantado, e somente quando o for você estará pronto a
fazer confissões, desculpar -se, reconciliar-se e restituir — atitudes que estão en-
volvidas no verdadeiro arrependimento de pecado. Então, quando você estiver
pronto a se humilhar, como o Senhor se humilhou, a Pomba retornará ao seu
coração.

Capítulo 6 Avivamento no Lar

Há milhares de anos, no mais belo jardim que o mundo já conheceu, viviam um


homem e uma mulher. Formados à semelhança do seu Criador, viviam unicamente para
glorificar a Deus em cada momento do dia. Humildemente eles aceitaram a posição de
criaturas — de completa submissão e sujeição à vontade do Criador. Porque eles
sempre submetiam sua vontade à dele, porque viviam para ele e não para si mesmos,
viviam também completamente submissos um ao outro. Assim, no lar formado naquele
jardim encantador, havia absoluta harmonia, paz, amor e unidade, não só com Deus mas
também um com o outro.
Certo dia, a harmonia se quebrou, porque a serpente penetrou naquele lar em
que Deus era o centro, e com ela o pecado. Agora, porque haviam perdido a paz e a
comunhão com Deus, perderam-na também um com o outro. Não mais viviam para Deus
— cada um vivia para si mesmo. Cada um era o seu próprio deus agora, e porque não
mais viviam para Deus, não mais viviam um para o outro. Em vez de paz, harmonia, amor
e unidade, agora havia discórdia e ódio — em outras palavras — pecado!
Foi no lar que o pecado entrou primeiro. É no lar que pecamos talvez mais do que
em qualquer outro lugar, e é ao lar que o avivamento precisa vir primeiro. O
avivamento é profundamente necessário na igreja, no país e no mundo, mas uma
igreja avivada, sem lares avivados é pura hipocrisia. É o lugar mais difícil, o mais
custoso, porém é aquele em que é mais necessário que o avivamento comece.
Antes de prosseguir, entretanto, vamos recordar o que o avivamento realmente é. Ele
simplesmente significa nova vida no coração em que a vida espiritual declinou —
não, porém, uma vida de esforço próprio ou de atividade humana. Não é a vida do
homem, mas a de Deus, a vida de Jesus enchendo-nos e fluindo através de nós.
Essa Vida se manifesta por comunhão e unidade com aqueles com quem vivemos —
nada se interpondo entre nós e Deus, e nada entre nós e os outros. O lar é o lugar,
antes de qualquer outro, em que isso deveria ser experimentado.
Como é diferente a experiência de muitos de nós, cristãos professos, em
nossos lares — pequenas irritações, rixas, egoísmo e ressentimentos. E mesmo
quando não há nada de abertamente errado em nosso relacionamento, falta
àquela completa unidade e comunhão que deve caracterizar cristãos que vivem
juntos. Tudo o que nos separa uns dos outros nos separa de Deus, e prejudica
a nossa comunhão com ele, e assim o coração deixa de transbordar a Vida
divina.

O QUE ESTÁ ERRADO EM NOSSOS LARES?


Em sua origem, o que está errado em nossos lares? Quando falamos do lar,
queremos dizer o relacionamento entre marido e mulher, pais e filhos, irmãos e
irmãs, ou entre quaisquer outros que, devido a circunstâncias diversas, são força-
dos a viver juntos.
O primeiro problema com muitas famílias reside no fato de não serem realmente
abertos uns com os outros. Vivemos quase sempre com as persianas abaixadas.
Os outros não nos conhecem como realmente somos e não nos interessa que
assim nos conheçam. Mesmo os que vivem em relacionamento mais íntimo
conosco não sabem o que se passa dentro de nós — nossas dificuldades, lutas,
fracassos, nem aquilo de que o Senhor Jesus tem de nos purificar tão
freqüentemente. Essa falta de transparência e franqueza é sempre o resultado do
pecado. O primeiro resultado do primeiro pecado foi fazer com que Adão e Eva
se escondessem de Deus por detrás das árvores do jardim. Eles, que tinham sido tão
transparentes com Deus e um com o outro, agora estavam se escondendo de Deus
por causa do pecado. E se eles se esconderam de Deus, você pode estar certo de
que não demoraram a se esconder um do outro. Havia reações e pensamentos no
coração de Adão que Eva não sabia, e igualmente havia coisas escondidas no coração
de Eva. E assim tem sido desde então. Tendo algo para esconder de Deus, nós o
escondemos também um do outro. Atrás daquele muro de reserva, que age como
máscara, escondemos o nosso "eu" real. Às vezes, escondemo-nos atrás de uma
atitude jocosa. Receamos mostrar seriedade porque não queremos que os outros se
aproximem demais e nos vejam como realmente somos, e assim procuramos blefar.
Não somos sinceros um com o outro e ninguém pode ter comunhão com uma
pessoa insincera. Assim, a unidade e a comunhão íntima se tornam impossíveis no lar.
Isto é o que as Escrituras chamam de "andar nas trevas" — porque as trevas
encobrem.

FALTA DE AMOR

O segundo problema em nossos lares consiste em realmente não nos amarmos


uns aos outros. "Ora", dirá alguém, "isso nunca se poderia dizer do nosso lar, porque
ninguém pode ter mais amor um pelo outro do que meu marido e eu." Mas espere
um pouco! Tudo depende do que você chama de amor. Amor não é simplesmente um
sentimento, nem mesmo uma paixão forte. O conhecido trecho de 1ª Coríntios
13 nos diz em que consiste o verdadeiro amor e, se nos aferirmos por ele,
podemos descobrir que, afinal de contas, amamo-nos muito pouco, e que o nosso
comportamento está todo na direção oposta — e o contrário de amor é ódio. Vejamos
algumas das coisas que aquela passagem diz sobre o amor:
"O amor é paciente (sofredor), é benigno; o amor não arde em ciúmes (não é
invejoso); o amor não se ufana (não se gaba); não se ensoberbece (não é vaidoso); não
se conduz inconvenientemente (não é rude); não procura os seus interesses (não é
cheio de si); não se exaspera (não se impacienta); não se ressente do mal (não
abriga pensamentos descaridosos para com os outros)."
Como nos sairemos numa prova dessas em nosso lar? Quão freqüentemente
agimos de maneira oposta!
Somos muitas vezes impacientes uns com os outros e mesmo descaridosos no
modo de responder ou reagir.
Quanta inveja pode haver num lar! Marido e mulher podem ter inveja dos dons
naturais um do outro, mesmo no seu progresso espiritual. Os pais podem ter inveja
dos filhos, e com freqüência há amarga inveja entre irmãos e irmãs.
Também "não se conduz inconvenientemente" — isto é delicadeza. Que dizer
quanto a isso? A delicadeza é simplesmente o amor nas pequenas coisas, mas é
nessas pequenas coisas que tropeçamos. Pensamos que podemos prescindir delas no
lar.
Como somos às vezes cheios de nós mesmos! Nossa presunção se revela de mil
maneiras. Achamos que sabemos tudo. Queremos que o nosso ponto de vista
prevaleça, e importunamos ou procuramos mandar no outro. E a importunação e a
atitude dominante nos levam a desprezar o outro. Nossa atitude de superioridade
nos leva a desprezar o outro e culpamos a pessoa de tudo — e, entretanto, pensamos
que amamos!
E que diremos a respeito de procurar os próprios interesses, isto é, não ser
egoísta? Quantas vezes no correr do dia colocamos nossos desejos e interesses
acima dos outros!
Como nos irritamos facilmente! Com que rapidez nos impacientamos com qualquer
coisa!
Quantas vezes alimentamos um pensamento descaridoso, um ressentimento por
qualquer coisa que o outro fez ou deixou de fazer! E ainda afirmamos que não há falta
de amor em nosso lar! Essas coisas acontecem diariamente, e não lhes damos a
menor importância. Todas elas são o aposto do amor, e o oposto do amor é ódio.
Impaciência é ódio. Inveja é ódio. Presunção, egoísmo, irritabilidade, ressentimento
— tudo isso é ódio. E ódio é pecado. "Aquele que diz estar na luz, e odeia a seu
irmão, até agora está nas trevas." Quantas tensões, barreiras e discórdia isso tudo
causa! E a comunhão com Deus e com o outro então se torna impossível.

A ÚNICA SAÍDA

A pergunta agora é: "Desejo eu nova vida, avivamento em meu lar?" Preciso fazer
essa pergunta a mim mesmo sinceramente. Estou satisfeito e pretendo continuar
como estou, ou estou realmente desejoso de nova vida — a vida de Jesus — em meu
lar? Porque, a não ser que haja esse interesse em mim, não me disporei a dar os
passos necessários. O primeiro passo que tenho de dar é chamar o pecado de
pecado (meu pecado, não o do outro) e levá-la à cruz, e confiar em que o Senhor
Jesus ali mesmo irá me purificar dele.
Ao curvarmos nossa cerviz ao pé da cruz, seu amor longânimo e perdoador invadirá
nosso coração. O precioso sangue nos purifica da falta de amor e da má vontade, e o
Espírito Santo nos enche com a própria natureza de Jesus. 1 Coríntios 13 nada
mais é que a natureza de Jesus, e tudo nos é oferecido como dádiva, porque
sua natureza é nossa, se ele é nosso. Esse abençoado processo pode ter lugar cada
vez que o pecado e a falta de amor começam a se manifestar, porque a fonte
purificadora do sangue está à nossa disposição o tempo todo.
Tudo isso nos levará, de maneira definitiva, a andar no caminho da cruz em nosso lar.
Vez após vez veremos circunstâncias em que precisaremos submeter nossos direitos,
como Jesus submeteu os seus a nosso favor. Teremos de ver que aquilo que nos
leva a reagir tão fortemente ao egoísmo e orgulho de outra pessoa é simplesmente o
nosso próprio egoísmo e orgulho, que não estamos prontos a sacrificar. Precisamos
aceitar a maneira de ser e o feitio dos outros como a vontade de Deus para nós e
mansamente curvar a cerviz a todas as providências de Deus. Isso não quer dizer
que precisamos aceitar o egoísmo do cônjuge ou filho ou irmão como a vontade
de Deus para ele — longe disso — mas somente como a vontade de Deus para nós.
Quanto ao outro, Deus provavelmente quererá usar-nos, se estivermos
quebrantados, para ajudá-lo a ver sua necessidade. Sem dúvida, quando se
trata de um filho, muitas vezes precisaremos corrigi-lo com firmeza. Nunca, porém,
isso deve ser feito por motivos egoístas, mas só por amor a ele e no desejo de agir
em seu benefício. Devemos sempre renunciar nossa própria conveniência e nossos
direitos. Só assim o amor de Jesus poderá nos encher e expressar-se através de
nós.
Quando formos quebrantados no Calvário, deveremos estar prontos para endireitar
nosso relacionamento com os outros — às vezes, mesmo com os filhos. Essa é,
muitas vezes, a prova do nosso quebrantamento. Quebrantamento é o oposto de
resistência. A resistência diz: "A culpa é sua!" Mas o quebrantamento diz: "A falta é
minha!" Que diferença na atmosfera do nosso lar quando os outros nos ouvirem dizer
isso! Lembremo-nos de que ao pé da cruz só há lugar para um de cada vez. Não
podemos dizer: "Eu estava errado, mas você também estava. Você também precisa vir!"
Não, você precisa ir sozinho, dizendo: "Estou errado". Deus age na outra pessoa
mais através do seu quebrantamento do que através de qualquer outra coisa que
você possa fazer ou dizer. Pode ser, entretanto, que você tenha de esperar — talvez
por muito tempo. Mas isso deverá levá-lo a compreender de modo mais perfeito
como Deus sente, porque, como disse alguém: "Ele também teve de esperar
muito tempo desde a sua grande tentativa de endireitar seu relacionamento com o
homem, há mil e novecentos anos, ainda que não houvesse nele culpa alguma". Mas
Deus certamente responderá nossa oração e também trará o outro ao Calvário.
Ali seremos um; ali a parede de separação entre nós será derrubada; ali poderemos
andar na luz, em verdadeira transparência com Jesus e um com o outro, amando um
ao outro fervorosamente com um coração puro. O pecado é quase a única coisa
que temos em comum com todas as demais pessoas, e, assim, aos pés de Jesus,
onde o pecado é purificado, é o único lugar em que podemos ser um. A verdadeira
unidade evoca o quadro de dois ou mais pecadores juntos no Calvário.

Capítulo 7 O argueiro e a trave

Aquele seu amigo tem alguma coisa no olho! Ainda que seja alguma coisa pequenina
— o que Jesus chamou de argueiro — como é dolorosa e como ele se sente mal
até que o argueiro seja removido! Cabe a nós, como amigos, fazer tudo para
removê-lo; e como ele ficará agradecido quando conseguirmos fazê-lo!
Deveríamos ser- lhe igualmente gratos, se ele nos prestasse a mesma ajuda.
À luz dessa consideração, parece claro que o objetivo na bem conhecida passagem de
Mateus 7.3-5 sobre o argueiro e a trave não é proibir que tentemos remover a falta da
outra pessoa, mas o contrário. É a ordem para que, a todo custo, prestemos esse serviço
uns aos outros. É verdade que a ênfase principal parece ser a condenação do
espírito de censura, mas quando o espírito de censura é removido de nós, a
passagem termina dizendo: "Então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu
irmão". De acordo com o Novo Testamento, devemos ter tanto cuidado para com a
outra pessoa, a ponto de estarmos dispostos a fazer todo o possível para remover o
argueiro que está prejudicando sua visão e impedindo-a de receber a bênção.
Somos advertidos a nos admoestarmos uns aos outros, a lavarmos os pés uns dos
outros e a nos estimularmos ao amor e às boas ações. O amor de Jesus
derramado em nós nos levará a desejar ajudar nosso irmão nesse sentido.
Que bênção poderá advir a muitos pela nossa disposição de humildemente nos
estimularmos uns aos outros, conforme Deus nos dirigir! Um humilde cristão suíço,
Nícolas de Basiléia, pertencente à Sociedade dos Amigos de Deus, atravessou as
montanhas de Estrasburgo e procurou a igreja do Dr. Tauler, o famoso pregador
daquela cidade. Disse-lhe Nícolas:
"Dr. Tauler, antes que possa fazer o seu maior trabalho para Deus, para o mundo e
para esta cidade, o senhor precisa morrer — morrer para o seu 'eu', para os seus
dons, para a sua popularidade, e mesmo para a sua bondade própria. Quando o
senhor tiver compreendido o completo significado da cruz, o senhor terá um poder
novo com Deus e com os homens."
Aquele humilde desafio de um obscuro cristão mudou a vida do Dr. Tauler, e ele
realmente aprendeu a morrer para o "eu", tornando-se um dos grandes
responsáveis pela preparação do caminho para Lutero e a Reforma. Nessa
passagem, o Senhor Jesus nos diz como podemos nos ajudar uns aos outros nessa
área.

O QUE E A TRAVE?

Primeiro, entretanto, o Senhor Jesus nos diz que é impossível procurar tirar o
minúsculo argueiro (uma partícula de serragem) dos olhos do outro, quando existe
uma trave, um grande pedaço de madeira, em nosso próprio olho. Quando isso
acontece, não temos nenhuma possibilidade de tirar o argueiro do outro, porque
nós mesmos não podemos ver direito, e, de qualquer forma, seria pura hipocrisia tentar
fazê-lo.
Todos sabemos o que Jesus queria dizer por argueiro: alguma falta que julgamos
descobrir em outra pessoa; algo que ela fez contra nós, ou alguma atitude que
assumiu para conosco. Mas o que queria Jesus significar pela trave em n osso olho?
Creio que a trave em nosso olho é simplesmente nossa atitude de falta de amor para com
o argueiro do outro. Sem dúvida algo está errado na outra pessoa, mas nossa
reação para com aquele erro é erro também. O argueiro nele provocou em nós
ressentimento, ou frieza, ou crítica, ou amargura, ou maledicência, ou má vontade —
tudo isso são variantes do mal básico: falta de amor. E isso, diz o Senhor Jesus, é
muito pior do que o pequenino erro (muitas vezes inconsciente) que o provocou. No
grego, um argueiro significa uma partícula minúscula, ao passo que a trave significa
uma viga. Por essa comparação, o Senhor Jesus quer nos ensinar que a nossa
reação de falta de amor ao erro do outro está na mesma proporção de uma
grande viga para com uma lasca minúscula. Cada vez que apontamos um dos
nossos dedos para outro e dizemos: "É sua falta", três ou quatro dedos estão
apontando para nós. Deus tenha misericórdia de nós pelas muitas vezes em que
isso tem acontecido conosco. Em nossa hipocrisia temos julgado a falta do outro,
quando Deus estava vendo alguma coisa muito pior em nosso próprio coração.
Mas não devemos pensar que a trave tenha de ser necessariamente alguma
reação violenta de nossa parte. O primeiro sintoma de ressenti mento, a primeira
sombra de um pensamento descaridoso, a primeira sugestão de uma crítica — já é
uma trave. Onde isso acontece, a nossa visão fica distorcida, e nunca veremos
nosso irmão como realmente é — amado de Deus. Se falarmos ao nosso irmão com
isso no coração, apenas o levaremos a adotar a mesma atitude dura para conosco,
porque é uma lei de relações humanas que "com o juízo com que julgais, sereis
julgados".

LEVE AO CALVÁRIO

"Tira primeiro a trave do teu olho." Esta é a primeira coisa que precisamos fazer.
Temos de reconhecer nossa reação descaridosa para com nosso irmão, como sendo
pecado. De joelhos precisamos levá-la ao Calvário, ver Jesus ali, e procurar
compreender o que aquele pecado custou a ele. A seus pés precisamos
arrepender-nos dele, ser de novo quebrantados, e confiar no Senhor Jesus para
purificar-nos com seu precioso sangue e para nos encher com seu amor por
aquela pessoa — e ele o fará, se recorrermos à sua promessa. Então talvez
tenhamos de ir à pessoa em atitude de arrependimento, falar-lhe do pecado que
temos abrigado no coração e do que o sangue de Jesus ali operou, e pedir-lhe
que nos perdoe também. Muitas vezes haverá espectadores que nos dirão, e, as vezes, o
nosso próprio coração, que o pecado confessado não se compara com o erro do
outro, o qual ele ainda não confessou. Mas é que nós estivemos no Calvário.
Estamos aprendendo a viver à sombra do Calvário, e ali temos visto o nosso pecado
e já não o podemos comparar com o do nosso irmão.
Ao darmos estes simples passos de arrependimento, então poderemos ver
claramente para poder tirar o argueiro do olho do outro, porque a trave do nosso
olho já se foi. Naquele momento Deus derramará luz em nós, e veremos a ne-
cessidade do outro, que nem ele nem nós tínhamos visto antes. Poderemos então
ver que o argueiro, do qual estávamos conscientes antes, praticamente não existia —
era simplesmente a projeção de algo que havia em nós. Por outro lado, pode ser
que Deus nos revele coisas ocultas sob a superfície, das quais quase não estáva-
mos conscientes. Então, de acordo com a direção de Deus, precisamos, de
maneira amorosa e humilde, desafiá-lo para que possa vê-las também, e levá-las à
fonte purificadora, achando livramento. Ele agora estará pronto a nos deixar fazê-lo
— e, realmente, se for humilde, será grato a nós, porque notará que não há
motivo egoísta em nosso coração, mas tão-somente amor e interesse por ele.
Quando Deus estiver nos levando a ajudar outra pessoa, não permitamos que
o medo nos impeça de fazê-lo. Sem discutir ou insistir, falemos simplesmente o que
Deus nos mandou dizer e limitemo-nos a isso. É obra de Deus, e não nossa, levar o
outro a vê-lo. Leva tempo para nos dispormos a curvar o "eu" orgulhoso, de cerviz
endurecida. Quando, por nossa parte, formos procurados, não nos defendamos nem nos
expliquemos. Aceitemos a exortação em silêncio, agradecendo, e depois levemos o
assunto a Deus. Se o outro tinha razão, sejamos bastante humildes para admitir, e
juntos louvaremos a Deus.
Não há dúvida de que precisamos imensamente uns dos outros. Há pontos cegos
na vida de todos nós, que nunca veremos a não ser que estejamos prontos a permitir
que outra pessoa seja o instrumento de Deus a nosso favor.

Capítulo 8 Você está pronto a ser um servo?

O Novo Testamento é bem claro quanto ao fato de o Senhor Jesus esperar que
tomemos a posição humilde de servos. Isto não representa um dever que podemos ou
não assumir, conforme nos pareça melhor. É a própria essência daquele novo
relacionamento que o discípulo tem de assumir para com Deus e seu semelhante, se ele
deseja experimentar em sua vida comunhão com Deus e um certo grau de santidade.
Quando compreendemos a humilhação e o esvaziamento pessoal que se requer de
alguém para realmente ser servo, torna-se evidente que somente aqueles que estão
preparados para viver constantemente à sombra do Calvário, na contínua contemplação
da humildade e do quebrantamento do Senhor Jesus por amor de nós, estarão dispostos
a assumir essa posição.
Ao abordarmos este assunto e sua aplicação à nossa vida, há três coisas preliminares
que precisam ser ditas, e que nos preparam para compreender a baixa e humilde posição
que ele deseja que tomemos.
O Antigo Testamento menciona dois tipos de servos — os trabalhadores, que recebem
salário e têm certos direitos, e os escravos, que não têm direitos, não recebem salário, e
não podem reclamar coisa alguma. Aos hebreus era proibido escravizar os membros da
sua raça. Só lhes era permitido tomar escravos dos gentios. Quando, porém, chegamos
ao Novo Testamento, à palavra no grego para o servo do Senhor Jesus Cristo não é
"trabalhador", mas "escravo". Com isso Deus deseja nos mostrar que não temos nenhum
direito nem corte de apelação. Somos propriedade absoluta do nosso Senhor, para
sermos tratados e usados como bem lhe parecer.
Além disso, veremos ainda mais claramente qual é nossa posição quando
compreendermos que devemos ser escravos daquele que se dispôs, ele mesmo, a ser
escravo. Nada revela melhor a surpreendente humildade do Senhor Jesus, de quem
devemos ser servos, do que o fato de que ele, "subsistindo em forma de Deus, não julgou
como usurpação o ser igual a Deus, antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma
de servo" (Filipenses 2.6,7) — sem direitos, dispondo-se a ser tratado como a vontade do
Pai e a maldade dos homens desejassem, se ele assim tão-somente pudesse servir aos
homens e trazê-los de volta a Deus. E você e eu somos chamados a ser servos daquele
que foi e sempre é um escravo, cuja disposição é sempre de humildade e cuja atividade é
sempre a de se humilhar para servir suas criaturas. Como é profundamente humilde,
então, a nossa verdadeira posição! Como isso nos revela o que significa ser dominado
pelo Senhor Jesus! Isso nos leva a outro ponto. Nossa servidão ao Senhor Jesus deve se
expressar em nossa servidão ao nosso semelhante. Paulo diz: "Porque não nos
pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como
vossos servos, por amor de Jesus" (2 Co 4.5). A humildade da posição que
assumimos para com o Senhor Jesus é julgada por ele pela posição humilde que
tomamos para com o nosso semelhante. O Senhor considera como falta de disposição
para servi-lo, a nossa falta de disposição para servir outros, em circunstâncias
difíceis e humilhantes. Isso nos coloca fora da comunhão com ele.
Estamos agora numa posição em que podemos aplicar tudo isso à nossa vida
de um modo muito mais pessoal. Deus me falou há algum tempo através de Lucas
17.7-10: "Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou em guardar o gado,
lhe dirá quando ele voltar do campo: Vem já e põe-te à mesa? E que antes não lhe diga:
Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e
beberás? Porventura, terá de agradecer ao servo porque este fez o que lhe havia
ordenado? Assim também vós, depois de haverdes feito tudo quanto vos foi ordenado,
dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer."
Vejo aqui cinco marcas de um escravo. Em primeiro lugar, ele tem de estar disposto
a receber uma ordem após outra, sem esperar qualquer consideração para com ele.
Após um dia de trabalho árduo, o servo da parábola teve de ir preparar a refeição
do seu senhor imediatamente, e além disso, servi-lo — e tudo isso antes que ele
mesmo comesse. Ele simplesmente obedeceu, nada esperando senão isso
mesmo. Como nós somos diferentes! Como surgem rapidamente murmurações e
amarguras em nosso coração, quando coisa semelhante se requer de nós! Mas no
momento em que começamos a murmurar, estamos agindo como se tivéssemos
direitos, e um escravo não tem nenhum!
Em segundo lugar, o servo, ao fazer tudo isto, deve estar disposto a não esperar uma
palavra de agradecimento. Quantas vezes servimos alguém e ficamos ofendidos e
nos queixamos amargamente porque nosso trabalho foi aceito naturalmente e não
nos agradeceram. Mas um escravo tem de estar pronto a isso. Trabalhadores
poderão esperar alguma coisa; escravos, não.
Em terceiro lugar, tendo feito tudo, ele não deve acusar o outro de egoísmo. Ao
ler a passagem, não pude deixar de sentir que o senhor foi um tanto egoísta e sem
consideração, mas o escravo não o acusou disso. Ele existe para servir os
interesses de seu senhor, e o egoísmo ou qualquer outra atitude de seu senhor
não entra em suas cogitações. E nós? Talvez permitamos que outros "abusem" de
nós, e é possível que nos sujeitemos a fazer algo sem receber agradeci mento,
mas no íntimo acusamos o outro de egoísmo. Mas essa não é a atitude de um
escravo. Ele deve descobrir no egoísmo alheio apenas uma oportunidade a mais de se
identificar de novo com o seu Senhor como o servo de todos. H á , p o r é m , u m
q u a r t o p a s s o q u e d e v e m o s estar prontos a dar. Tendo feito tudo isto, não há
lugar para orgulho ou auto -elogios. Devemos confessar que somos servos inúteis,
isto é, que em nós mesmos não temos valor nenhum, seja para com Deus ou para
com os homens. Precisamos confessar repetidamente que "em mim, isto é, na minha
carne, não habita bem nenhum" (Romanos 7.18), e que, se alguma coisa fizemos,
nenhum agrade cimento se deve a nós — pois o nosso coração é naturalmente
orgulhoso e rebelde — mas somente ao Senhor Jesus, que habita em nós e opera
em nós essa disposição.
O nosso "eu" recebe o golpe fatal com este quinto e último passo — o reconhecimento
de que o que fizemos e suportamos no caminho da mansidão e da humildade nada mais
foi do que o nosso dever. Deus fez o homem antes de tudo para que ele fosse escravo
seu. O pecado do homem consiste simplesmente em sua recusa de se tornar o
escravo de Deus. Sua restauração, então, só se pode dar pelo regresso à posição de
escravo. O homem, portanto, nada faz que tenha merecimento especial, quando se
dispõe a tomar essa posição, visto que foi criado e remido para esse fim específico.
Esta, então, é a Senda do Calvário. É o caminho que o humilde Escravo de Deus
primeiro trilhou por nós. Não devemos nós, que somos escravos daquele Escravo,
trilhar esse mesmo caminho? Parece-nos dura e ameaçadora essa descida
íngreme? Podemos estar certos de que é o único caminho para subir. Foi o
caminho pelo qual o Senhor Jesus alcançou o Trono, e é o caminho pelo qual nós
também alcançaremos a posição de poder espiritual, autoridade e uma vida de frutos
espirituais. Aqueles que trilham essa vereda são almas radiantes, felizes,
transbordantes da vida do seu Senhor. Descobrem que a verdade — "Aquele que se
humilhar será exaltado" — se aplica a eles tanto como ao seu Senhor. Onde a
humildade era antes uma intrusa indesejável, para ser tolerada somente em ocasiões
raras, ela agora se tornou a esposa da sua alma, com a qual se casaram para sempre.
Se a escuridão e o desassossego entram em sua alma é somente porque em algum
ponto eles não se dispuseram a andar no caminho da mansidão e do quebran-
tamento. Podem voltar sempre, quando buscarem o Senhor com arrependimento.
Isso nos traz um assunto de suma importância — o arrependimento. Não
entraremos na vida abundante simplesmente por resolvermos que vamos ser mais
humildes no futuro. Há atitudes e ações que já tiveram lugar, ou em que ainda
persistimos (talvez apenas por não nos dispormos a reconhecê-las como um fato), e
das quais precisamos nos arrepender primeiro. O Senhor Jesus não tomou sobre si a
forma de escravo simplesmente para nos dar o exemplo, mas para que pudesse morrer
por esses mesmos pecados na cruz, e abrir, com seu precioso sangue, uma fonte
onde todos os pecados podem ser lavados. Esse sangue, entretanto, não pode ser
aplicado aos pecados do nosso coração orgulhoso até que tenhamos sido
quebrantados em arrependimento por aquilo que já fizemos. Isso significa permitir
que a luz de Deus penetre em todos os recantos do nosso coração e em todos os
aspectos do nosso relacionamento. Significa que teremos de ver que os pecados
de orgulho, que Deus nos mostrará, tornaram necessária a vinda de Jesus dos
céus para morrer na cruz, a fim de que eles fossem perdoados. Significa não só
lhe pedir que nos perdoe, mas também pedir perdão aos outros, o que é realmente
humilhante. Mas ao nos arrastarmos através da porta dos quebrantados, sairemos para a
luz e para a glória da vereda da santidade e da humildade.

Capítulo 9 O poder do Sangue do Cordeiro

A mensagem e o desafio do avivamento, que chegam a muitos de nós nestes dias,


são penetrantes em sua profunda simplicidade. Em síntese, uma só coisa no
mundo pode impedir o cristão de andar em comunhão vitoriosa com Deus e de ser
cheio do Espírito Santo — é o pecado em uma forma ou outra. E só uma coisa no
mundo pode purificar do pecado, dando liberdade e vitória — o sangue do Senhor
Jesus. É, todavia, de suprema importância para nós que saibamos o que dá ao
sangue de Cristo poder tão extraordinário perante Deus, a favor dos homens,
porque então compreenderemos as condições mediante a s q u a i s o s e u
c o m p l e t o p o d e r p o d e s e r experimentado em nossa vida.
Quantas realizações e quantas bênçãos para os homens as Escrituras
atribuem ao poder do sangue do Senhor Jesus! Pelo poder do seu sangue, é feita a
paz entre o homem e Deus (Cl 1.20) Por seu poder, vem o perdão dos pecados e a vida
eterna para todos que colocam sua fé no Senhor Jesus (Cl 1.14; João 6.54). Pelo
poder do seu sangue, Satanás é vencido (Apocalipse 12.11). Por seu poder, há
contínua purificação de todo o pecado para nós (1 João 1.7). Pelo poder do seu
sangue, podemos ser libertos da tirania de uma consciência, a fim de servirmos
ao Deus vivo (Hebreus 9.14). Pelo seu poder infinito, o mais indigno dos homens tem
liberdade de entrar no Santo dos Santos da presença de Deus e ali permanecer
(Hebreus 10.19). Vale à pena perguntar o que dá ao sangue esse poder!
A essa pergunta precisamos ligar esta: Como podemos experimentar seu pleno
poder em nossa vida? Com freqüência esse sangue precioso não exerce em
nossa vida esse poder que purifica do pecado, outorga paz e transmite vida ao
nosso coração, e muito freqüentemente não nos encontramos na presença de Deus e
em comunhão com ele o dia todo.

DE ONDE VEM O SEU PODER?

A resposta à primeira pergunta nos é sugerida pela expressão do Apocalipse que


descreve o sangue de Cristo como o "sangue do Cordeiro" (Apocalipse 7.14). Em
outras palavras, aquilo que dá ao sangue poder perante Deus a favor dos homens é
a atitude de cordeiro daquele que o derramou, e da qual ele é a suprema expressão.
O título "o Cordeiro", atribuído com tanta freqüência ao Senhor Jesus, nas
Escrituras, é antes de tudo uma descrição da sua obra — a de ser um sacrifício por
nosso pecado. Quando um israelita queria se reconciliar com Deus, era o sangue de
um cordeiro (às vezes de um bode) que tinha de ser derramado e aspergido no altar.
Jesus é o cumprimento divino de todos aqueles cordeiros que os homens ofereciam —
ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (João 1.29). Mas o título de
Cordeiro tem um significado mais profundo. Descreve seu caráter. Ele é o
Cordeiro porque é manso e humilde de coração (Mateus 11.29), meigo e submisso,
sempre submetendo sua própria vontade ao Pai (João 6.38), para a bênção e
salvação dos homens. Qualquer outro teria se ofendido e resistido ao tratamento
que os homens lhe deram, mas ele, em obediência ao Pai (Filipenses 2.8) e por amor a
nós, nada disso fez. Os homens fizeram-lhe tudo que quiseram, e por nossa causa ele
se submeteu até o fim. Quando o injuriaram, não injuriou. Quando sofreu, não
ameaçou. Nunca fez uso dos seus direitos, nunca revidou, nunca se ressentiu,
nunca se queixou! Como era diferente de nós! Quando a vontade do Pai e a maldade
dos homens apontaram para o negro Calvário, o Cordeiro mansamente curvou sua
cabeça submetendo-se a tudo. Isaías o viu como o Cordeiro, ao profetizar: "Como
cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus
tosquiadores, ele não abriu a boca" (Is 53.7). Os açoites, o escárnio, as cusparadas,
os pêlos da sua barba arrancados, o último e penoso trajeto até o alto do monte,
os pregos cravados, a cruz erguida, o lado traspassado a verter seu sangue —
nada disso teria acontecido se ele não tivesse sido o Cordeiro. E tudo isso para
pagar o preço do meu pecado! Assim vemos que ele não é simplesmente o
Cordeiro porque morreu na cruz, mas ele morreu na cruz porque é o Cordeiro.
Precisamos ver essa virtude no sangue. Que cada menção do sangue nos recorde
a profunda humilhação e auto-entrega do Cordeiro, porque é isso que dá ao sangue o
maravilhoso poder que tem para com Deus. Hebreus 9.14 liga para sempre o sangue
de Cristo com o oferecimento de si mesmo a Deus: "Muito mais o sangue de Cristo,
que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus" (grifo do
autor). E é esse fato que lhe proporciona poder perante Deus a favor dos
homens, porque essa disposição tem sido sempre do mais alto valor para Deus.
Humildade semelhante a um cordeiro, submetendo a nossa vontade a Deus, é o que
ele procura acima de tudo no homem. Foi para manifestar isto tudo que Deus criou o
primeiro homem. Foi sua recusa em trilhar esse caminho que constituiu o seu
primeiro pecado e tem sido a essência do pecado desde então. Para trazer esta
disposição de volta a terra foi que Jesus veio. Foi somente porque o Pai viu isto nele
que ele pôde dizer: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo" (Mateus
3.17). O derramamento do seu sangue expressou de modo bem profundo esta
disposição, e por isso ele é extremamente precioso para Deus e inteiramente eficaz
para o homem e o seu pecado.

A SEGUNDA PERGUNTA

Chegamos agora à segunda pergunta: Como podemos experimentar seu pleno


poder em nossa vida? Nosso coração sem dúvida nos oferece a resposta ao
olharmos para o Cordeiro, curvando sua fronte por nós no Calvário — somente pela
nossa prontidão em ter a mesma disposição que o guiou e por curvarmos nossa cerviz
em quebrantamento como ele curvou a sua. Assim como a disposição do Cordeiro dá
ao sangue o seu poder, também é só quando estamos prontos a nos tornar
participantes da mesma disposição do Cordeiro que experimentamos seu pleno poder
em nossa vida. E podemos ser participantes da sua disposição (Filipenses 2.5; 1
Co 2.16), porque ela foi feita transferível a nós por sua morte. Todas as
manifestações do fruto do Espírito Santo, mencionado em Gálatas 5, — amor,
alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
próprio — que são elas, senão expressões da natureza de cordeiro do Senhor
Jesus, com as quais o Espírito Santo deseja nos encher? Não nos esqueçamos de
que o Senhor Jesus, mesmo exaltado à direita do trono de Deus, ainda é o Cordeiro
(o livro do Apocalipse nos diz isso) e ele deseja se reproduzir em nós.

ESTAMOS PRONTOS?
Mas estamos prontos para isso? Há um "eu" resistente, insubmisso, que se impõe e
resiste aos outros, o qual terá de ser quebrado, se desejamos possuir a
disposição do Cordeiro, e se queremos que o sangue precioso nos alcance em seu
poder purificador. Podemos orar muito para sermos purificados de algum pecado e
para que a paz seja restabelecida em nosso coração, mas, a não ser que
estejamos prontos a ser quebrantados no assunto em questão e a nos tornarmos
participantes da humildade do Cordeiro, nada irá acontecer. Cada pecado que
cometemos é o resultado do "eu" resistente e inquebrantado assumindo alguma
atitude de orgulho. E só acharemos paz por meio do sangue quando estivermos
prontos a ver a origem de cada pecado e a mudar a atitude errada que o causou,
por um arrependimento específico, que será sempre humilhante. Isto quer dizer que
não devemos simplesmente procurar sentir a humildade de Jesus. Tão-somente
precisamos andar na luz e estar dispostos a permitir que Deus revele qualquer
pecado que possa existir em nossa vida. Veremos, então, que o Senhor pedirá que
pratiquemos toda sorte de atos de arrependimento e submissão, muitas vezes em
relação a assuntos que consideramos mínimos e triviais. Sua importância,
entretanto, pode ser medida por aquilo que custa ao nosso orgulho para endireitá-
las. O Senhor poderá nos mostrar uma confissão ou pedido de desculpa que deve ser
feito a alguém, ou um ato de restituição que precisa ser praticado (Mateus
5.23,24). Ele poderá mostrar-nos que precisamos nos rebaixar em alguma
questão e abrir mão dos nossos pretensos direitos nela. (Jesus não teve
direitos — teremos nós?) Ele talvez nos mostre que precisamos ir àquele que nos tenha
prejudicado, a fim de confessar o mal muito maior de termos ficado ressentidos. (Jesus
nunca ficou ressentido por alguma coisa ou com alguém — temos nós esse direito?) O
Senhor poderá levar-nos a ser francos com nossos amigos para que eles nos
conheçam como realmente somos, e assim possam ter verdadeira comunhão
conosco.
Estas atitudes poderão ser humilhantes e completamente opostas às nossas
costumeiras atitudes de orgulho e egoísmo, mas através delas experimentaremos
verdadeiro quebrantamento e nos tornaremos participantes da humildade do
Cordeiro. Na medida em que estivermos prontos a agir assim em cada caso, o
sangue do Cordeiro será suficiente para nos purificar de todo o pecado, e andaremos
com Deus sem mácula e com sua paz em nosso coração.

Capítulo 10 Afirmando nossa inocência?

Estamos todos tão acostumados a condenar a atitude arrogante do fariseu, na


parábola do fariseu e do publicano (Lucas 18.9-14), que nos é difícil acreditar que a
sua história se aplica a cada um de nós — o que vem mostrar quão semelhantes a
ele nós somos! Certa professora de escola dominical nunca se aproximou tanto do
fariseu como quando terminou a lição sobre aquela parábola com estas palavras:
"E agora, crianças, podemos agradecer a Deus porque não somos como este fariseu!"
Estamos em perigo de assumir a atitude do fariseu principalmente quando Deus
está querendo nos humilhar aos pés da cruz e mostrar-nos os pecados do nosso
coração, que estão impedindo o avivamento pessoal.

COMO DEUS VÊ O NOSSO CORAÇÃO

Não podemos compreender o verdadeiro erro da atitude do fariseu, nem o nosso,


a não ser que o vejamos à luz do que Deus diz a respeito do coração humano.
Jesus Cristo disse: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os
maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as
malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura" (Mc
7.21,22). O mesmo quadro sombrio do coração humano nos é apresentado por
Paulo em sua carta aos gálatas: "Ora, as obras da carne são conhecidas, e são:
prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissenções, facções, invejas, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a
estas" (Cl 5.19-21). Que quadro doloroso! Jeremias acrescenta o mesmo testemunho:
"Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto;
quem o conhecerá?" (Jr 17.9.) Este, então, é o quadro do coração humano, como
visto por Deus. É o quadro do "eu" decaído, do velho homem (Efésios 4.22),
como as Escrituras o chamam, seja no incrédulo, seja no cristão mais fervoroso. É
difícil de crer que essas coisas possam provir do coração de ministros, evangelistas e
obreiros cristãos, mas é verdade. O fato é que a única coisa bela no cristão é Jesus
Cristo. Deus quer que reconheçamos esse fato como verdadeiro em nossa
experiência, de modo que num quebrantamento sincero e em desespero íntimo
permitamos que Jesus Cristo seja a nossa justiça, a nossa santidade, nosso "tudo".
Nisso reside à vitória.

FAZENDO DEUS MENTIROSO

Diante da descrição que Deus faz do coração humano podemos agora ver o que foi
que o fariseu fez, ao dizer: "Graças te dou porque não sou como os demais
homens, roubadores, injustos e adúlteros." Ele realmente declarou sua inocência da
exatamente nas coisas que Deus diz existirem em cada coração. Na verdade, ele
estava dizendo: "Estas coisas são, sem dúvida, verdadeiras a respeito de outros
homens — este publicano agora mesmo as está confessando — mas, Senhor, eu não
sou culpado delas!" E, assim, estava fazendo Deus mentiroso, porque "se dissermos
que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso" (1 João 1.10), porque ele
diz que temos pecado. Entretanto, tenho certeza de que ele era absolutamente sincero
no que dizia. Cria realmente ser inocente daquelas coisas. Na verdade, ele estava
atribuindo a Deus sua inocência imaginária, ao dizer: "Graças te dou!" A Palavra de
Deus, porém, ainda o condenava, mas ele simplesmente não percebia. Se o publicano
bateu no peito e confessou seu Recado, não é porque pecava mais que o fariseu. E
tão-somente porque viu aquilo que Deus diz ser a triste realidade ao seu respeito, e
o fariseu, não. O fariseu ainda pensava que a ausência de certos pecados
externos é tudo que Deus exige. Ainda não entendera que Deus olha, não para a
aparência externa, mas para o coração (1ª Samuel 16.7), e considera o olhar
cobiçoso como igual ao adultério (Mateus 5.27,28), a atitude de ressentimento e
ódio como igual ao homicídio (1 João 3.15), a inveja como o próprio roubo, e as
insignificantes arbitrariedades no lar tão más como as transações gananciosas no
negócio.
Quantas vezes temos também afirmado nossa inocência, quando Deus deu
convicção a outros, e quando era desejo dele trazer-nos convicção também. Na
verdade dizemos: "Estas coisas podem ser verdadeiras em outros, mas não em
mim", e podemos ter dito isto com muita sinceridade. Talvez tenhamos desprezado
outras pessoas que se humilharam, e fizeram confissões com o propósito de
endireitar sua vida. Ou pode ser que tenhamos realmente nos alegrado por elas
terem sido abençoadas. Mas, o que quer que seja, não nos parece que haja
alguma coisa em nossa vida para nos levar ao quebrantamento. Amados, se nos
sentimos inocentes, sem ter do que nos quebrantar, isto não quer dizer que estas
coisas não estejam lá, e sim que não conseguimos vê-las. Temos vivido num ambiente
de ilusão a respeito de nós mesmos. Deus tem de ser verdadeiro em tudo que
diz sobre nós. Duma forma ou de outra, ele vê estas coisas operando em nós (a
menos que as tenhamos reconhecido e permitido que Deus cuide delas) — egoísmo
inconsciente, orgulho e presunção; inveja, ressentimento e impaciência; reserva,
medo e timidez; desonestidade e fraude; impureza e lascívia; se não é uma
coisa, é outra. Mas estamos cegos a tudo isso. Talvez estejamos tão ocupados
com a ofensa que o outro nos fez, que não percebemos que estamos pecando
contra Cristo por não estarmos dispostos a aceitá-la com mansidão e humildade.
Vendo tão claramente como a outra pessoa deseja que sua vontade prevaleça,
ficamos cegos ao fato de que queremos que a nossa prevaleça igualmente;
contudo sabemos que falta algo à nossa vida. De algum modo não estamos em
comunhão vital com Deus. Falta-nos vigor espiritual. Nosso serviço não dá
evidência do sobrenatural. O pecado inconsciente é igualmente pecado aos
olhos de Deus e nos separa dele. O pecado em questão pode ser uma coisa
pequenina que Deus nos mostrará prontamente, se tão-somente pedirmos a ele.
Ainda há outro erro em que incidimos quando não estamos prontos a reconhecer
a verdade do que Deus diz a respeito do coração humano. Não somente afirmamos
nossa própria inocência, mas muitas vezes afirmamos a inocência dos nossos queridos.
Não gostamos de vê-los sendo convencidos e humilhados, e nos apressamos a defendê-
los. Não queremos que eles confessem nada. Não só estamos vivendo num ambiente
de ilusão quanto a nós mesmos, mas a respeito deles também, e não queremos vê-
lo desfeito. Mas só os estamos defendendo contra Deus — fazendo Deus mentiroso
quando os defendemos, como fazemos em nossa própria defesa, e impedindo- os de
receberem a bênção, como nós também deixamos de recebê-la.
Só uma fome profunda de verdadeira comunhão com Deus nos disporá a
clamar a ele por sua luz reveladora e a obedecer-lhe quando nos for concedida.
JUSTIFICANDO A DEUS
Isto nos leva ao publicano. Tendo em mente tudo o que Deus diz do coração
humano, podemos ver que sua confissão de pecado foi simplesmente uma admissão
de que o que Deus disse dele era verdade. Talvez (como o fariseu) não acreditasse
antes que o que Deus disse a respeito do homem era verdadeiro quanto a ele. Mas o
Espírito Santo lhe mostrou coisas na vida que provam que Deus está certo, e ele
foi quebrantado. Não só ele justificou a Deus em tudo que disse, mas, sem dúvida,
justificou a Deus em todo o castigo que trouxe sobre ele. A oração de Neemias
poderia muito bem ter sido a sua: "Porque tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre
nós; pois tu fielmente procedeste, e nós, perversamente" (Neemias 9.33).
Esta é sempre a natureza da verdadeira confissão de pecado — verdadeiro
quebrantamento. É a confissão de que meu pecado não é simplesmente um erro, um
deslize, algo inteiramente estranho ao meu coração ("Não costumo ter tais pensamentos
ou fazer tais coisas!"), mas que se trata de algo que revela o "eu" real; que me revela
como pessoa orgulhosa, corrompida, impura que Deus diz que eu sou, e que eu
costumo de fato ter esses pensamentos e fazer essas coisas. Foi nesses term os
que Davi confessou seu pecado, quando orou: "Pequei contra ti, contra ti somente,
e fiz o que é mal perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu
falar e puro no teu julgar" (SI 51.4 — grifo do autor). Não temamos, pois, fazer tal
confissão, quando Deus nos convencer de que a devemos fazer, pensando que isso
"vai decepcionar Jesus". O contrário é que é verdadeiro: de uma confissão assim
Deus recebe glória, porque o declaramos justo. Isso nos traz a uma nova
experiência de vitória em Cristo, porque expressa de novo a verdade de que "em
mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum" (Romanos 7.18) e nos
conduz ao lugar em que desistimos do esforço de santificar o nosso incorrigível "eu"
e em que aceitamos Jesus como nossa santidade, e sua vida para ser a nossa vida.

PAZ E PUDIFICACÃO

Mas o publicano fez algo mais do que justificar a Deus. Ele apontou para o
sacrifício no altar, e ao fazê-lo, ele achou paz com Deus e purificação do pecado. Isto
sobressai no sentido literal das palavras que ele pronunciou: "O Deus, sê propício a mim,
pecador". Para o judeu, o único modo pelo qual Deus podia ser propício a ele era por
um sacrifício, e com toda a probabilidade, naquele momento, o cordeiro para o
holocausto diário estava sendo oferecido no altar do tem plo.
Conosco se dá o mesmo. Só chegaremos a essa posição de quebrantamento
quando Deus nos mostrar o Cordeiro Divino na cruz do Calvário, expiando os nossos
pecados pelo derramamento do seu sangue. O Deus que declara antecipadamente
o que somos, providencia de antemão perdão para o nosso pecado. Jesus foi o
Cordeiro sacrificado por nossos pecados desde a fundação do mundo. Nele, que
os levou humildemente, meus pecados acabaram. Na medida em que eu, em
verdadeiro quebrantamento, os confesso, e coloco minha fé em seu sangue, eles são
purificados e desaparecem. A paz de Deus vem então ao m eu c or a çã o, a
c om un hã o c om De us é imediatamente restaurada, e eu ando com ele sem reservas.
Este modo simples de nos dispormos a justificar a Deus e de ver o poder
purificador do sangue traz ao nosso alcance, como nunca dantes, um andar íntimo
com Jesus, um habitar constante com ele no Santo dos Santos. Ao passo que
andamos com ele na luz, ele nos estará mostrando o tempo todo o princípio das coisas
que, se permitirmos que aconteçam, irão entristecê-lo e impedir a corrente da sua vida
em nós — coisas que são a expressão daquele "eu" velho e orgulhoso, para o qual
Deus só tem julgamento. Em caso nenhum devemos defender nossa inocência em
relação ao que ele nos mostra. O tempo todo devemos estar prontos a justificá-lo e a
dizer: "Tu estás certo, Senhor; isto simplesmente mostra o que eu sou", e estar
dispostos a entregar tudo a ele para purificação. Ao fazermos isso, verificaremos
que o seu precioso sangue nos purifica continuamente do pecado, e Jesus pode nos
encher constantemente do seu Espírito. Isso exige que sejamos pessoas de
"espírito quebrantado e contrito", isto é, pessoas dispostas a que se lhes apontem as
menores coisas. Mas é desses que Deus diz que com ele habitam "no alto e
santo lugar" (Is 57.15), os quais experimentam o avivamento contínuo.
O que escolheremos: Afirmar nossa inocência e voltar para casa sem a bênção,
de alma seca, e fora da comunhão com Deus, ou justificar a Deus e encontrar
paz, comunhão e vitória pelo sangue de Jesus?

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