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A EDUCAÇÃO INFANTIL NA BNCC:

Direitos de aprendizagem e desenvolvimento

A BNCC está organizada, primeiramente, em seis grandes direitos de


aprendizagem e desenvolvimento.

1 - Conviver

Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando


diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, e o respeito em
relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.

2 - Brincar

Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com


diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a
produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade e suas
experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e
relacionais.

3 - Participar

Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da


escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da
vida cotidiana, como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes,
desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se
posicionando.

4 - Explorar

Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções,


transformações, relacionamentos, histórias, objetos e elementos da natureza, na escola e
fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura em suas diversas modalidades: as
artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
5 - Expressar

Expressar como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções,


sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e questionamentos por meio de
diferentes linguagens.

6 - Conhecer-se

Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma


imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de
cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em
seu contexto familiar e comunitário.

CAMPOS DE EXPERIÊNCIAS:

A BNCC organiza as aprendizagens em torno de campos de experiência.


Os campos de experiência compõem-se como um arranjo ou organização curricular
interdisciplinar por natureza. Têm como objetivo principal oportunizar às crianças a
significação dos saberes e conhecimentos propostos na Educação Infantil, garantindo os
direitos de aprendizagem e a vivência plena da infância. Essa proposta curricular permite
o protagonismo da criança na construção do conhecimento ao orientar experimentações e
experiências, habilidades e competências, e não conteúdos e informações.

Há quem compreenda que o campo de experiência é uma metodologia que implica


criar determinados espaços com materiais específicos para as experiências que as
crianças poderão viver. No entanto, essa é, ainda, uma ideia muito geral que pode ser
referenciada em inúmeras outras metodologias já consagradas pelos estudos na área da
Pedagogia. Seria muito estranho se assim fosse, pois requereria considerar a imposição
de uma metodologia para todas as crianças, nos mais diferentes contextos da Educação
Infantil no Brasil, o que seria, de fato, uma tarefa impossível e pouco efetiva. O outro erro
que essa ideia evoca é a crença de que seria possível e desejável determinar a
experiência dos sujeitos: as experiências são sempre elaborações complexas e singulares
de sujeitos.

O campo de experiência não se resume a uma metodologia; trata-se, antes, de um


conceito articulador de conteúdos em uma proposta curricular que leva em conta a
centralidade do sujeito e a sua experiência.

A BNCC define cinco campos de experiência:

O eu, o outro, o nós

O processo de construção da identidade da criança é central para o seu


desenvolvimento. Acontece ao longo de toda a vida, mas é particularmente intenso
durante a Educação Infantil.

Esse campo destaca experiências que possibilitem às crianças, na interação com


outras crianças e adultos, viverem situações de atenção pessoal e outras práticas sociais,
nas quais aprendem a se perceber como um eu, alguém que tem suas características,
desejos, motivos e concepções; a considerar seus parceiros como um outro, com seus
desejos e interesses próprios; e a tomar consciência da existência de um nós, um grupo
humano cada vez mais ampliado e diverso. Nesse processo, vão se constituindo como
alguém com um modo próprio de agir, sentir e pensar. A ênfase neste campo de
experiências está ligada à constituição de atitudes nas relações vividas ao longo de toda a
permanência da criança na unidade de Educação Infantil, abrindo caminho para outras
aprendizagens.

Corpo, gestos e movimentos

Na primeira infância, o corpo é o instrumento expressivo e comunicativo por


excelência, que serve de suporte para o desenvolvimento emocional e mental, sendo
essencial na construção de afetos e conhecimentos.
Esse campo destaca experiências nas quais o corpo, os gestos e os movimentos
constituem linguagens das quais as crianças, desde cedo, fazem uso e que as orientam
em relação ao mundo. O referido campo destaca experiências ricas e diversificadas, em
que gestos, mímicas, posturas e movimentos expressivos constituem uma linguagem vital
com a qual as crianças percebem e expressam emoções, reconhecem sensações,
interagem, brincam, ocupam espaços e neles se localizam, construindo o conhecimento
de si e do mundo. Destaca-se também que a capacidade de nomear, identificar e ter
consciência do próprio corpo (assim como a construção de uma autoimagem positiva)
está associada às oportunidades oferecidas às crianças para a expressão e o
conhecimento da cultura corporal da sociedade em que vivem.

Traços, sons, cores e formas

As crianças vivem em ambientes onde, a cada momento, ocorrem situações


envolvendo pessoas, atividades, espaços, objetos e materiais que elas buscam perceber,
reconhecer, significar e representar. Essa busca é feita pela apropriação de diferentes
linguagens e recursos, como suas sensações, afetos e desejos, sua corporeidade, sua
linguagem verbal, sua percepção das ações de seus parceiros e sua atenção voltada para
os aspectos materiais do ambiente.

Este campo destaca experiências nas quais as crianças tenham a oportunidade de


perceber o ambiente como composto de traços, sons, cores e formas. Para isso, oferece
condições para as crianças sentirem a consistência da terra ou da areia; criarem misturas;
colecionarem coisas; modelarem com argila; criarem tintas; e explorarem formas
coloridas, texturas, sabores, sons e também silêncios, em um espaço acolhedor, cheio de
visualidades e sonoridades. Essas experiências promovem o desenvolvimento da
expressividade e da criatividade infantil e abrem caminhos para a elaboração de sua
afetividade.

Fala, escuta, imaginação e pensamento

A aproximação entre diferentes linguagens traz para o cotidiano das unidades de


Educação Infantil momentos de escuta – no sentido de produzir ou acolher mensagens
orais, gestuais, corporais, musicais e plásticas, além das mensagens trazidas por textos
escritos – e de fala – entendida como expressar ou interpretar não apenas pela oralidade,
mas também pela linguagem de sinais, pela escrita convencional, pela escrita não
convencional, pela escrita braile e também pela dança, pelo desenho e por outras
manifestações expressivas.

Este campo ressalta experiências que evidenciam a estreita relação entre os atos
de fala e escuta e a constituição da linguagem e do pensamento humanos desde a
infância. Destaca a experiência da criança com a linguagem verbal em diálogo com outras
linguagens desde o nascimento, de modo a ampliar não apenas essa linguagem, mas
também o pensamento (sobre si, sobre o mundo e sobre a língua) e a imaginação.

Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações

Temas como animais, plantas, sustentabilidade do ambiente, vida cotidiana,


produção de bens e economia, nossa cidade, organizações sociais etc. e atividades que
lidam com números têm orientado o trabalho na Educação Infantil. Esses e outros temas,
no entanto, precisam ser tratados por meio da discussão de noções de espaço, de tempo,
de quantidade, de relações e de transformações de elementos quando se pretende
motivar a criança a ter um olhar mais crítico e criativo sobre o mundo, propiciando a ela
aprendizagens mais significativas.

Neste campo, destacam-se experiências nas quais as crianças falam, descrevem,


narram, explicam e fazem relações, requisitos fundamentais para a construção e a
ampliação de saberes. As vivências cotidianas delas na unidade — construir um castelo
como cenário de um faz de conta; procurar um tatu-bola no jardim; cuidar de plantas e de
animais; colecionar objetos; movimentar-se por diferentes espaços com diversos desafios;
pensar sobre perguntas como: "Quanto tempo falta para o meu aniversário?", "Por que
quando minha avó era criança não havia televisão?", "Por que alguns objetos afundam e
outros não?", "Por que existem alguns animais com penas e outros com pelos?",
"Quantas vezes um elefante é maior do que um cavalo?" —, além de fortalecerem sua
autonomia, podem ser ricas oportunidades para a construção do raciocínio lógico, de
noções de espaço e tempo, de quantidade, de classificação, de seriação etc., para a
percepção de relações e de transformações nas situações, objetos e materiais
observados ou manuseados, e para o desenvolvimento da sua imaginação.
Como se dá a aprendizagem no campo de experiência?

Na trajetória de vida das crianças na Educação Infantil, os conhecimentos por


vezes se atraem, por vezes se repetem, provocando saudáveis tensões entre as
expressões espontâneas das crianças, o modo próprio como elas entendem o mundo e
os conhecimentos já sistematizados pela cultura.

Para pensar a Educação Infantil não se pode opor experiência e sentido, nem
teoria e prática. Devemos privilegiar e fomentar o saber da experiência: o experimentar, o
ensaiar, o tentar e o transformar, entre outras ações relacionadas ao fazer. O
conhecimento tido como teórico deve ser aliado à experiência, e as crianças devem ser
formadas para dar significado a essas ações, refletindo de maneira crítica sobre elas.
Um bom exemplo dessa introdução é imaginar a presença de uma formiga no chão
do pátio: as crianças vão mexer, apertar, pisar e interagir, mas a educação só se efetiva
quando elas são chamadas a refletir sobre suas ações pela mediação do professor, o qual
as instrui a respeitar o animal que ali está.

Assim ocorre, por exemplo, com a criança que observa os fenômenos da natureza
e procura compreendê-los.

Uma criança observa o prenúncio de um temporal e logo aprende que aquele efeito
do movimento da copa das árvores não se deve à própria árvore, mas sim ao vento. E se
aventura a brincar com ele, conduzindo seu aviãozinho, sua capuxeta ou outro brinquedo
voador. Ela sabe que o vento está no ar e que, se lançar seu avião para cima, o vento o
conduzirá. Esse brincar funciona, algumas vezes, com sucesso. E a criança se realiza em
seu intento.
Mas isso não ocorre sempre assim: nem sempre ela consegue conduzi-lo
exatamente para onde deseja e, então, vive, com emoção de criança, a tensão entre o
que ela já sabe sobre o mundo e os mistérios que ele guarda: mas para onde o vento
leva?, se pergunta a criança. Ela não sabe que existem leis da física e condições
climáticas que regem o movimento das massas de ar e a propagação do vento. Que
linguagens poderá utilizar, então, para resolver seus desafios autoimpostos?
A tensão entre esses mundos impulsiona a criança a seguir explorando,
perguntando, criando e brincando. Entre seu saber espontâneo, sua curiosidade e suas
ideias e o saber organizado da física, há um campo de experiência que a criança vive na
tentativa de aproximar o que ela sabe aos mistérios do mundo que os adultos parecem
dominar.

Um outro exemplo seria o da criança que aprende a escrever: o contato da criança


com a escrita nas práticas sociais que ela observa em seu entorno, entre adultos que
escrevem na sua presença ou nos livros e demais materiais portadores de escrita, é uma
condição para que ela pense sobre como se escreve. Logo, ela passa a diferenciar letras
de outros sinais gráficos e aprende que, para escrever, é preciso usar certos sinais,
diferentes dos utilizados, por exemplo, para desenhar.

Diante da diversidade e das particularidades das crianças na Educação Infantil, como


trabalhar as práticas pedagógicas favorecendo os campos de experiência e os direitos de
aprendizagem e desenvolvimento? Assista ao vídeo a seguir com alguns exemplos de
práticas pedagógicas.

Objetivos de aprendizagem e desenvolvimento

Imersas nos campos de experiência, as crianças podem desenvolver-se a partir de


progressivas aprendizagens. Um planejamento comprometido com esse desafio pode
tomar como ponto de partida os objetivos da BNCC, procurando construir as condições
para a experiência das crianças de determinado grupo etário ao longo do tempo e
promovendo as progressões das aprendizagens das crianças.

Em outras palavras, a BNCC traz este mesmo conceito:

" Na Educação Infantil, as aprendizagens essenciais compreendem tanto


comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto vivências que promovem
aprendizagem e desenvolvimento nos diversos campos de experiências, sempre tomando
as interações e a brincadeira como eixos estruturantes. Essas aprendizagens, portanto,
constituem-se como objetivos de aprendizagem e desenvolvimento (BNCC, p. 42). "

Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento devem refletir diferentes


momentos dessa construção passando pela exploração, pela experimentação, pela
apropriação e pela recriação dos objetos culturais, conhecimentos e ações.

Texto extraído do Curso: A Educação Infantil na BNCC – Disponível em:


https://avamec.mec.gov.br/#/instituicao/seb/curso/2771/unidade/1201/acessar
Acesso em 01/02/2021.

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