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EDUCAÇÃO

INFANTIL: JOGOS,
BRINQUEDOS E
BRINCADEIRAS
UNIDADE IV
A BNCC e a
Concepção do Ato
de Brincar na Educação
Infantil e Anos Iniciais –
Ensino Fundamental
Yasmin Augaitis
A BNCC e a Concepção do Ato
de Brincar na Educação Infantil e
Anos Iniciais – Ensino Fundamental

Introdução
A Lei n. 9.394/1996 (LDB), no art. 26, vem a estabelecer que os currículos na Educação
Infantil devem ter uma base de caráter nacional e comum. Caberia, nesse contexto,
ao Governo Federal desenvolver, junto com os estados, diretrizes e competências
que fossem referência para a elaboração de currículos e de conteúdos básicos de
aprendizagem.

Curiosidade
A BNCC não tem a função de remover a autonomia dos estados,
municípios e escolas, uma vez que a normativa deve ser
complementada levando em conta características regionais locais,
culturais, entre outras.

Assim, nesta unidade, aprofundaremos as práticas da BNCC.

Objetivos da Aprendizagem
Ao final do conteúdo, esperamos que você seja capaz de:

• Identificar a importância da BNCC para o escopo da Educação Infantil.


• Reconhecer os campos de experiência como garantia de vivências e de apren-
dizagens dentro da Educação Infantil.

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Brincar é um Direito
Entre os documentos governamentais normativos, temos a BNCC, a qual, como o
nome prediz, procura ser uma base curricular comum em âmbito nacional, voltada
para um esquema progressivo e orgânico de aprendizagens imprescindíveis para
o desenvolvimento dos sujeitos. A normativa contempla os conteúdos a serem
desenvolvidos em toda a Educação Básica, tanto na rede pública quanto na privada
(BRASIL, 2017). É uma conquista histórica prevista desde a Constituição de 1988.

O documento tem o intuito de garantir um ensino de equidade comum a todos os


estudantes do Brasil, criando um caráter de homogeneidade na educação do país.
Contudo, isso não significa que as especificidades não serão contempladas – cada
estado da federação pode fazer complementações de âmbito local, considerando as
especificidades regionais e locais das instituições escolares.

Crianças brincando

Fonte: Freepik (2023).


#pratodosverem: crianças brincando com brinquedos pedagógicos.

O documento visa à formação integral de crianças e adolescentes, objetivando a


construção de uma sociedade mais democrática, inclusiva e justa, por meio do
desenvolvimento dos aspectos intelectuais, físicos, emocionais, culturais e sociais
(BRASIL, 2017).

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Dez competências gerais elencadas pela BNCC

Fonte: Adaptado de Brasil (2017).


#Pratodosverem: a figura mostra os seguintes textos: “Responsabilidade e
cidadania”, “Empatia e cooperação”, “Autoconhecimento e autocui-
dado”, “Comunicação”, “Argumentação”, “Trabalho e projeto de vida”,
“Cultura digital”, “Repertório cultural”, “Pensamento científico, crítico e
criativo” e “Conhecimento”.

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As dez competências gerais influenciam as intenções pedagógicas, sustentando o
conceito de uma educação integral aos sujeitos.

Dez competências

Fonte: Freepik (2023).


#pratodosverem: Na foto, criança com os braços levantados, as mãos abertas,
indicando, com os dedos, as dez competências gerais da BNCC.

Por isso, elas são um conjunto de habilidades e de conhecimentos a serem


desenvolvidos com práticas e experiências que possibilitem uma ação efetiva em
relação à situação-problema (BRASIL, 2017).

Na Educação Infantil, as competências gerais estão ligadas a seis direitos de


desenvolvimento e de aprendizagem (BRASIL, 2017), a saber: a) explorar e expressar-
se (estéticos); b) brincar e conviver (éticos); c) participar e conhecer-se (políticos).
Eles são explorados da seguinte forma:

Explorar

Gestos, sons, movimentos, texturas, formas, palavras, cores, emoções, entre


outros, visando à ampliação de saberes sobre a cultura ligada às artes, à escrita,
à ciência e à tecnologia.

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Expressar-se

De maneira dialógica, sensível e criativa, expondo suas emoções, hipóteses e


opiniões por meio das diferentes linguagens.

Conviver

Com adultos e outras crianças, em grandes e em pequenos grupos, a fim de


ampliar o conhecimento do outro e de si, respeitando as diferenças culturais
existentes e se comunicando por meio de diversas linguagens.

Brincar

Nos diversos espaços, de diferentes formas, com adultos e crianças, visando


à ampliação da imaginação, da criatividade, do conhecimento, da cognição, de
experiências expressivas, corporais, sensoriais, relacionais e sociais.

Participar

Ativamente do planejamento, da gestão escolar e de atividades pedagógicas


por meio de propostas articuladas pelos educadores, escolhendo ambientes,
materiais e brincadeiras, com o intuito de desenvolver o posicionamento crítico
e a tomada de decisão.

Conhecer-se

E vir a construir sua própria identidade (nos âmbitos social, cultural e pessoal),
formando uma imagem positiva de si, encontrando seus grupos de pertencimento
com experiências de brincadeira e interação.

Esses direitos vêm a estar inclusos em campos de experiências, dividindo-se em


diversas áreas, conforme o quadro a seguir:

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Direitos de aprendizagem e campos de experiência - EI

Agregar situações que visem auxiliar a criança a desenvolver/construir


sua identidade e sua subjetividade. Assim, visa-se levá-la a encontrar
uma maneira própria de pensar, agir e sentir a si, o mundo e aqueles que
o cercam, em um processo de alteridade. Favorecem-se situações que
levem a criança a interagir entre si, e com os adultos, de forma a propiciar
O eu, o outro e o nós experiências na qual percebam as diferenças entre si, e semelhantes em
relação ao meio em que convivem. Assim, as crianças são incentivadas
a construir, participar e compartilhar relações sociais e de cuidado, ao
passo que atuam como protagonistas da construção de uma autonomia
e de um sentido de reciprocidade, de autocuidado e de interdependência
com o espaço sociocultural no qual convivem.

Destaca a experiência com o meio utilizando o corpo (gestos, sentidos,


movimentos espontâneos, coordenados, intencionais e impulsivos),
possibilitando a exploração dos espaços de diferentes formas e
tornando-se, desse modo, consciente de sua corporeidade. O ato
lúdico está em todas as práticas sociais: brincar de faz de conta, de
Corpo, gestos e
cantar, música e dança proporcionam o entrelaçamento entre emoção,
movimentos
corpo e linguagem, que, por sua vez, facilitam o conhecimento e o
reconhecimento das funções do corpo. Isso auxilia no reconhecimento
de potencialidades e limites. Assim, alguns movimentos que podem
ser explorados são: corrida, alongamento, salto, equilíbrio, escorregar,
rastejar, entre outros.

Ressalta a importância de vivências que contemplem as diferentes


manifestações artísticas, científicas, locais, culturais e universais, por
meio das diferentes linguagens, como: a arte (fotografia, colagem,
pintura, modelagem, entre outros), a música, a dança e o teatro.
Traços, sons, cores Cabe salientar a contribuição que essas experiências agregam à
e formas formação do indivíduo, já que colaboram para o desenvolvimento de
um senso crítico e estético logo cedo, além de contribuir para levá-las a
conhecer mais a si mesmas, ter um entendimento mais aprofundado dos
outros indivíduos e passar a interpretar e a interagir o meio (a realidade)
que os cerca.

Enfatiza experiências de linguagem oral, visando à ampliação do


vocabulário, da expressão, da compreensão, da interpretação e dos
usos comunicativos possíveis por meio da linguagem materna. Desse
modo, é importante promover experiências que potencializem a fala e
a escuta, aprimorando a participação das crianças na sociedade em
que vivem. Antes de adentrarem na cultura escrita, formal, escolar, eles
Escuta, fala,
têm a possibilidade de aprofundar seus saberes ao resgatar elementos
pensamento e
da cultura oral com diversas atividades: escuta e contação de histórias,
imaginação
conversas em grupo, descrição dos detalhes narrativos, criações
individuais (ou em grupo) de narrativas; bem como a possibilidade de
criação de textos por meio de diferentes linguagens, como a fala, o
gesto, o ritmo, as quais são inerentes ao grupo social ao qual a criança
pertence, e seu uso/resgate possibilita que ela venha a se entender como
sujeito singular desse mesmo grupo.

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Ênfase em experiências que insiram as crianças em espaços e em
tempos diversos, solidificando conceitos voltados às noções espaciais
Espaços, tempos,
relativas a uma situação dinâmica ou estática. A organização do
quantidades,
esquema corporal e espacial; tempo (cronológico, físico e temporal) deve
relações e
propiciar a construção de hipóteses para que as crianças desenvolvam
transformações.
as habilidades de ordenação, contagem, avaliação de distâncias,
percepção das dimensões, noção de medidas, capacidade de comparar
pesos e comprimentos, relações entre quantidades, entre outros.
Fonte: Adaptado da BNCC (2017).
#pratodosverem: quadro com duas colunas descrevendo os direitos de aprendi-
zagem e campos de experiência.

Cada campo de experiência possui alguns objetivos de desenvolvimento e


aprendizagem que devem ser atingidos até o final do período que compreende a
Educação Infantil (EI). Esses objetivos estão subdivididos em grupos que levam em
consideração a faixa etária, sendo eles: 0 a 1 ano e 6 meses; 1 ano e 7 meses a 3 anos
e 11 meses; 4 anos a 5 anos e 11 meses. (BRASIL, 2017).

Diversidade

Fonte: Freepik (2023).


#pratodosverem: foto de quatro crianças se abraçando: duas meninas e dois
meninos.

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Essa divisão etária busca abarcar etapas aproximadas da capacidade de aprendizagem
das crianças, bem como as respectivas características que englobam cada período de
aprendizagem. Entretanto, não deve ser entendida de forma estrita, uma vez que há
diferenças em relação ao ritmo de aprendizado dos sujeitos.

Desse modo, o conhecimento é produzido de forma horizontal e coletiva, dinamizando


a construção da compreensão, de fenômenos, de fatos, de situações-problemas,
entre outros. Não basta ter contato somente com aspectos históricos, tecnológicos
e culturais da sociedade. É necessário, também, considerar os fatores ligados à
comunicação e às diferentes formas de linguagem e expressão.

Além disso, há dois eixos estruturantes descritos pela BNCC: a interação e a brincadeira.
O binômio deve viabilizar o desenvolvimento integral (físico, cognitivo, linguagem,
emocional e social) das crianças que se encontram na Educação Infantil.

Programa de desenvolvimento da primeira infância (DPI)

Área do desen-
Descrição
volvimento
Habilidades motoras grossas e finas, aptidões físicas (correr, pular,
Físico
ficar de pé, entre outros).

Empilhar objetos, ordenar cores e formas, memorizar sequências,


Cognitivo
resolução de problemas mentais e habilidades matemáticas.

Balbuciar, produção e compreensão de palavras, contar histórias,


Linguagem
identificar letras e familiarizar-se com os livros.

Conviver com outras pessoas, resolver conflitos de maneira


Social e emocional funcional, identificar pensamentos e sentimentos, seguir instruções e
ter autocontrole em situações desafiadoras.
Fonte: Elaborado pela autora (2023).
#pratodosverem: o quadro possui 2 colunas e 5 linhas, na seguinte ordem: linha
1, “área do desenvolvimento” e “descrição”; linha 2, “físico” e “habilidades mo-
toras grossas e finas, aptidões físicas (correr, pular, ficar de pé, entre outros)”;
linha 3, “cognitivo” e “empilhar objetos, ordenar cores e formas, memorizar se-
quências, resolução de problemas mentais e habilidades matemáticas”; linha 4,
“linguagem” e “balbuciar, produção e compreensão de palavras, contar histórias,
identificar letras e familiarizar-se com os livros”; e linha 5, “social e emocio-
nal” e “conviver com outras pessoas, resolver conflitos de maneira funcional,
identificar pensamentos e sentimentos, seguir instruções e ter autocontrole em
situações desafiadoras”.

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Cada uma dessas áreas encontra-se descrita ao longo de toda a BNCC como
imprescindível para o desenvolvimento e aprendizado; por isso, é importante que haja
intencionalidade pedagógica.

Saiba mais
Para saber mais, clique aqui e leia o documento na íntegra.

O desenvolvimento dessas áreas não se dá somente de maneira espontânea e natural;


elas devem ser estimuladas com ações e vivências significativas, de contexto.

O Desenvolvimento da Criança pelo Ato de


Brincar: Planejamento Pedagógico Seguindo a
Base Comum Curricular
Segundo a Base Comum Curricular (2017), o educador tem funções essenciais na
prática pedagógica, pois dele é a função de promover reflexões sobre o conteúdo a
ser ministrado, considerando que, antes, ele faça a correta seleção e organização
deste, visando a um melhor planejamento das ações, à mediação pedagógica entre
os estudantes. além de promover uma série de práticas e interações que venham
a contribuir com o processo de aprendizagem. Essas premissas têm como meta
agregar toda uma pluralidade de experiências/situações de modo a colaborar com
um desenvolvimento mais pleno por parte das crianças.

Portanto, há uma intencionalidade no ato pedagógico que deve proporcionar às


crianças o conhecimento de si mesmo, do outro e do mundo pelo ato de brincar.
Chamamos de “intencionalidade”, já que essa atividade objetiva levar a criança a:
questionar, observar, propor hipóteses, desenvolver conclusões, julgar, assimilar
valores e, por fim, a construir conhecimentos por meio de toda uma série de atividades
e de possibilidades lúdicas.

Além disso, na etapa em que a criança transita do ciclo da Educação Infantil (EI) para
os Anos Iniciais do Ensino Fundamental (EF), requer-se maior atenção, pois deve haver
a integração e a continuidade dos processos de aprendizagem das crianças.

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Tendo em vista essas práticas, cabe ao docente desenvolver estratégias que favoreçam
o acolhimento e a adaptação – das crianças e dos docentes – para esse novo ciclo,
promovendo a construção de um novo momento com base nos saberes que a criança
agregou no ciclo anterior. Assim, estabelece-se uma relação de continuidade entre
os ciclos, de modo a se estabelecer uma relação ao longo do percurso formativo do
indivíduo (BRASIL, 2017).

Para um melhor aproveitamento, devem ser propostas diferentes atividades: visitas,


trocas de conteúdos entre professores dos diferentes ciclos, conversas e outras que
auxiliem a criança nesse processo de inserção.

Interação

Fonte: Freepik (2023).


#pratodosverem: A imagem mostra duas crianças, um menino e uma menina,
interagindo com uma mulher adulta, em uma atividade de mover peças.

Deve-se estabelecer um equilíbrio no decorrer dos processos de mudança, uma


delimitação das aprendizagens entre cada etapa – de forma continuada – e propostas
de acolhimento afetivo.

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Atenção
Seguem algumas orientações para o planejamento na Educação
Infantil:

• Conhecer em profundidade as leis que regem a etapa.

• Ter clareza em relação aos campos de experiência.

• Dominar os direitos da criança em relação aos processos de


desenvolvimento e de aprendizagem.

• Conhecer as especificidades individuais e do grupo.

Portanto, é importante que o estudante perceba a relação cognitiva entre o que é e o


que não é capaz de fazer, mas em um processo contínuo de troca de saberes, evitando
prejuízos pedagógicos nesse momento de transição (BRASIL, 2017 p. 55).

Saiba mais
Para se aprofundar na temática, clique aqui e leia: Educação infantil
e Arte de Luciana Esmeralda Ostetto.

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Conclusão
Esta obra teve como intuito desenvolver e ampliar os conceitos expressos na Base
Nacional Comum Curricular, sobretudo na seção destinada à etapa da Educação
Infantil. Os conhecimentos sistematizados da BNCC têm o objetivo de auxiliar o
docente a ter mais clareza e objetividade em relação às suas intenções educativas e,
com isso, mais consistência e consciência em sua prática cotidiana (BRASIL, 2017, p.
56). Isso é imprescindível, visto que serão os educadores que aplicarão as propostas
apresentadas pela BNCC, garantindo o direito à educação de qualidade às crianças.

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Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF:
Ministério da Educação, 2017.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Disponível em:


http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 22 maio 2023.

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