Você está na página 1de 14

BNCC

I se m a na
Rede
p ed a gógic a

Como contribuir para


o desenvolvimento
integral das crianças

Profa. Dra. Andréia Martinez


Profa. Ma. Daniela Lobato
SEMANA REDE PEDAGÓGICA

BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR: TEORIA E PRÁTICA

Como contribuir para o desenvolvimento integral das crianças

Andréia Pereira de Araújo Martinez


Daniela Lobato do Nascimento

Iniciamos nossa conversa, alertando que a Base Nacional Comum Curricular


(BNCC) não é Currículo, pois trata-se de um documento de nível federal, de caráter
normativo, que norteia os conhecimentos essenciais que todos os estudantes têm o
direito de aprender. A partir da BNCC, cada rede de ensino municipal, estadual ou
distrital, pública ou privada, irá elaborar ou reelaborar seu próprio Currículo,
dialogando com esse documento, ao trazer a parte comum de abrangência nacional,
e também, a parte diversificada, que envolve as particularidades de cada rede de
ensino.

A partir da elaboração ou reelaboração do Currículo por parte de cada rede


de ensino, emerge a necessidade de cada Unidade Escolar elaborar sua Proposta
Pedagógica (PP) ou seu Projeto Político Pedagógico (PPP), esclarecemos que trata-
se do mesmo documento, pois dependendo da localidade, pode-se usar um ou outro
termo. De posse da PP ou do PPP, emerge a necessidade de elaboração do
planejamento docente, em que se materializa o que está disposto nos documentos
que balizam a Educação Básica.
Essa organização curricular, a partir dos documentos legais que regem a
educação brasileira, objetiva oportunizar igualdade de direitos que proporcione uma
formação humana integral aos estudantes, para a constituição de uma sociedade
justa, democrática e inclusiva. Diante disso, a BNCC apresenta a seguinte estrutura,
em relação à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental:

Em relação a Educação Infantil, a BNCC, dialogando com as Diretrizes


Curriculares Nacionais (2009), apresenta três princípios: éticos, políticos e
estéticos. Desses três princípios emergem seis direitos de aprendizagem e
desenvolvimento: conhecer-se, conviver, participar, expressar, explorar e
brincar. Mas a BNCC inova em relação às Diretrizes, ao trazer uma nova organização
curricular, envolvendo várias linguagens em um mesmo campo de experiências.

São cinco campos de experiências: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e


movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e
imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações. Essa
nova organização curricular, acolhe as experiências e situações concretas da vida
cotidiana das crianças, na intenção de promover uma variedade de experimentações
para as crianças, dialogando com os conhecimentos e saberes constituídos pela
humanidade. A intenção, portanto, é relacionar os saberes e conhecimentos sociais,
culturais e históricos a ser propiciados às crianças, às suas experiências cotidianas.

Além disso, a BNCC traz uma nova organização de grupos etários: Bebês (0 a
1 anos e 6 meses), Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses)
e Crianças Pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses). Isso demonstra um cuidado com
as próprias crianças, pois evidencia um olhar atento e sensível às necessidades e
especificidades existentes em cada período da Primeira Infância. Para cada um dos
grupos etários, foram distribuídos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento,
mas ressalta-se que tal distribuição não é rígida, pois depende de vários aspectos,
entre eles, o próprio desenvolvimento das crianças.

Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento descritos na BNCC, estão


relacionados às crianças, ou seja, ao que elas têm direito de aprender e desenvolver.
Portanto, cada professora e professor, ao planejar sua atuação docente, precisa ter
em mente esses objetivos, para pensar como pode ser sua atuação pedagógica para
oportunizar que tais objetivos sejam alcançados por cada criança. A organização da
BNCC não traz o que a professora ou professor precisa ensinar, mas sim, o que as
crianças precisam aprender. Trata-se de um nova forma de organização curricular,
em que o destaque recai sobre os direitos das crianças.

Pensando nisso, que as crianças têm o direito ao desenvolvimento integral,


retomamos algo que foi mencionado anteriormente, que a BNCC inovou em relação
às Diretrizes, ao organizar as mais diversas linguagens em cinco campos de
experiências, nos convidando a pensar uma atuação docente que não seja
fragmentada, em que a crianças possam vivenciar diferentes conhecimentos,
simultaneamente, ao vivenciar uma determinada experiência no contexto educativo.
Para elucidar acerca de cada campo de experiências, segue breve explicação:

O eu, o outro e o nós: Conhecer-se e conviver com adultos e crianças de


várias faixas etárias, de modo a provocar a percepção do outro, da coletividade e de
si, contribuindo para a constituição de seu modo próprio de sentir, pensar e agir;
descobrindo que existem outros modos de vida e de organização social; elaborando
sua progressiva autonomia e senso de autocuidado, de reciprocidade e de
interdependência com o meio existente. Brincar, explorar, participar e expressar-se
de diferentes formas, com seus pares e os adultos. O contexto da Educação Infantil
precisa ser pensado e organizado de modo a propiciar experiências às crianças de
diversificadas culturas e desenvolvendo o respeito pelas diferentes formas de
expressões culturais existentes, bem como, o respeito à diversidade humana. Nessas
experiências, as crianças podem desenvolver a valorização de sua identidade e
podem ampliar seu modo de perceber a si mesmas e aos outros.

Corpo, gestos e movimentos: Desde os primeiros meses de vida, por meio


do próprio corpo, as crianças exploram os objetos e os espaços; estabelecem
relações, conhecem o próprio corpo, suas possibilidades e limites; convivem, brincam,
exploram, participam e se expressam de diferentes maneiras. As crianças começam
a se perceber e a perceber e se relacionar com o mundo. E por meio de diferentes
expressões, como a música, a dança, o teatro e as brincadeiras de faz de conta, se
comunicam por meio do próprio corpo e expressam suas emoções e sentimentos. No
contexto da Educação Infantil, é importante promover diferentes oportunidades para
que as crianças possam explorar e vivenciar seu corpo, de diversas maneiras.

Traços, sons, cores e formas: Oportunizar o contato com diferentes


manifestações artísticas, culturais e científica, possibilitando às crianças uma
diversidade de experiências, para que elas possam, também, conhecer-se em meio
às essas diferentes manifestações, conviver, brincar, explorar, participar e expressar-
se por meio de produções artísticas, culturais e científicas. O convívio com tais
experiências, contribuem para que, desde a mais tenra infância, elas possam
desenvolver o senso estético e crítico, o conhecimento de si mesmas, dos outros e
do mundo que as cerca. No contexto da Educação Infantil, é importante promover a
participação das crianças em produções com a música, dança, teatro, artes visuais,
ferramentas digitais, entre outras possibilidades, favorecendo o desenvolvimento da
curiosidade, da investigação, da sensibilidade, da imaginação e da criação das
crianças.

Escuta, fala, pensamento e imaginação: As crianças desenvolvem sua


compreensão do mundo por meio da fala do outro que faz parte das suas relações
sociais. Por meio da escuta, as crianças desenvolvem sua oralidade, organizam seu
pensamento, participam de conversas, desenvolvem narrativas. As crianças
conhecem sua história e constituem sua identidade por meio da escuta e da fala. Elas
convivem, brincam, exploram, participam e se expressam, compartilhando seus
pensamentos e imaginações. No contexto da Educação Infantil, é importante
promover experiências diversificadas de escuta e fala, contação de histórias,
conversas, narrativas, entre outras possibilidades. As experiências com a literatura
infantil, com diferentes gêneros literários, contribuem para a constituição do gosto
pela leitura, a promoção da imaginação, criação e ampliação do conhecimento de
mundo. Vale destacar, que a imersão na cultura escrita, deve partir do interesse e
curiosidade das crianças, respeitando o tempo particular de cada uma, que aos
poucos, levantam hipóteses sobre a escrita que se revela, inicialmente, por meio de
garatujas, rabiscos, desenhos e escrita espontânea e não convencionais.

Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações: As crianças,


constantemente, buscam conhecer-se e conhecer a realidade existente a sua volta,
pois elas vivem inseridas em espaços e tempos diferentes, em casa, nas ruas, nos
parques, entre outros lugares; durante o dia ou a noite; ontem, hoje ou amanhã. Essa
realidade em que vivem, causa curiosidade sobre o mundo, sobre si, sobre os grupos
sociais, sobre o próprio corpo, os animais, as plantas, os fenômenos da natureza, e
as transformações que ocorrem. Além disso, as crianças se deparam com
conhecimentos matemáticos, como ordenação, relações entre quantidades,
dimensões, contagens, medidas, distâncias, formas geométricas, entre outras
situações que causam sua curiosidade. O contexto da Educação Infantil precisa se
organizar de forma a promover experiências diversificadas de observações,
manipulações, investigações, por meio de brincadeiras, explorações e participações
no seu entorno, experimentando, convivendo, levantando hipóteses e indagações,
buscando fontes de informações, e assim, respostas às suas curiosidades.

Como é possível perceber, cada campo de experiências, já traz uma


diversidade de linguagens, conhecimentos e saberes. Todavia, não é recomendado,
fechar cada planejamento docente, em apenas um campo de experiências,
compreendemos que é possível ir além, ao pensarmos uma educação comprometida
com o desenvolvimento integral das crianças, realizando o movimento intercampos.
Mas o que seria isso? Pense na palavra interdisciplinar. O que vem a ser
interdisciplinar? Fazenda (1993, 64), esclarece que na educação, a
interdisciplinaridade não pode ser compreendida como uma “junção de conteúdos,
nem uma junção de métodos, muito menos a junção de disciplinas”.
Interdisciplinaridade implica em um novo modo de pensar e agir, uma nova postura
que oportuniza uma abertura para uma vivência interativa que contemple uma
diversidade de conhecimentos. Portanto, se interdisciplinaridade diz respeito ao olhar
para as disciplinas e propor uma nova postura que oportunize vários conhecimentos
que dialogam entre si, o intercampos é semelhante a isso, mas como na Educação
Infantil não tem disciplinas e sim, campos de experiências, diz respeito ao olhar para
os campos de experiências, de forma a organizá-los no sentido de oportunizar uma
educação que contemple vários conhecimentos e saberes que dialogam entre si.

Evidencia-se, portanto, o fato de que não é apropriado pensar um


planejamento da atuação docente, tendo o olhar focado em apenas um campo de
experiências, mas sim, que possa realizar o movimento intercampos, promovendo o
diálogo entre os vários campos de experiências, ao mesmo tempo, de forma fluida e
relacionada, e que faça sentido para as crianças.

Na intenção de deixar claro tal perspectiva, compartilhamos um exemplo: em


relação ao desenvolvimento da musicalidade das crianças, é possível fazer um
resgate da identidade musical das crianças, acerca do que elas costumam ouvir em
seus contextos sociais para além da Educação Infantil, o que está associado ao
campo de experiências “O eu, o outro e o nós”. Ao ouvir a música, as crianças podem
se expressar por meio do corpo, dançando ou realizando a percussão corporal, o que
está relacionado ao campo de experiências “Corpo, gestos e movimentos”. Com a
música, as crianças podem vivenciar experiências de escuta atenta, cantar, tocar,
brincar com o ritmo, melodia, altura, intensidade, duração da música, o que consta no
campo de experiências “Traços, sons, cores e formas”. Ouvindo a música, as
crianças podem expressar o que sentem, desenvolvendo seu pensamento e sua
oralidade, podem criar uma paródia, desenvolvendo sua imaginação, o que se
relaciona ao campo de experiências “Escuta, fala, pensamento e imaginação”. E por
fim, ainda com a música, as crianças podem fazer a marcação do tempo, marcando
pausa e som, o que se associa ao campo de experiências “Espaços, tempos,
quantidades, relações e transformações”. Percebem que ao trabalhar com a música,
é possível realizar o movimento intercampos, de forma relacionada e fluida, entre
todos os campos de experiências?

É justamente esse o desafio que se coloca diante de cada docente, olhar para
os campos de experiências de forma integrada, promovendo o diálogo e, assim,
oportunizando o desenvolvimento integral das crianças.

Desenvolvimento este, que não se encerra nesta primeira etapa. O Ensino


Fundamental, segundo momento da Educação Básica se organiza em anos iniciais
(1º ao 5º ano) e anos finais (6º ao 9º ano), diferente da Educação Infantil, os
componentes curriculares são apresentados por habilidades e competências.

A organização se dá por Áreas de Conhecimento, em anos iniciais a saber:


Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino
Religioso. Cada uma possui competências específicas da área, ou seja, o que o
estudante deve alcançar ao final de cada ano. Por isso, é importante trabalhar de
forma progressiva e interdisciplinar, pois muitas dessas competências dialogam entre
si e não devem ser trabalhadas como um conteúdo a mais no planejamento da
professora ou professor.

Seguimos então, para os componentes curriculares de cada Área de


Conhecimento, em linguagens temos:

Língua Portuguesa: que tem por objetivo promover aos estudantes experiências que
contribuam para a ampliação dos letramentos, para que possam participar de forma
significativa e crítica na sociedade permeadas/constituídas pela oralidade, pela
escrita e por outras linguagens.
Arte: em suas quatro linguagens (Artes Visuais, Dança, Música e o Teatro) articulam-
se propiciando a troca entre culturas e favorecendo o reconhecimento e semelhanças
entre elas. Deve permitir que os estudantes sejam protagonistas e criadores, que
alcancem experiências e a vivência como prática artística.

Educação Física: busca tematizar as práticas corporais de diversas formas como


possibilidade de expressão do sujeito.

A Área de Conhecimento da Matemática é o próprio componente curricular,


espera do estudante ao fim do Ensino Fundamental que ele seja capaz de participar
de forma significativa e crítica nas diversas formas sociais permeadas/constituídas
pela oralidade, pela escrita e por outras linguagens.

O letramento matemático na vida do estudante é extremamente importante,


articular as habilidades e competências da Base às vivências das crianças, é
caminhar para uma educação integral, dando sentido à essas aprendizagens.

[...]leitura e interpretação crítica de noticiários de jornais e televisão;


interpretação do momento social através de novelas, filmes, telenovelas,
programas de auditório; capacidade de se localizar com crescente precisão
(rua, número, bairro, CEP, telefone, distâncias da casa à escola, tempo de
percurso, avaliação do tempo gasto em transporte num dia, num mês, num
ano, numa vida) e leitura de mapas e sinopses internacionais; gestão da
economia pessoal (custos, moeda, orçamento familiar, do estado);
compreensão de questões demográficas (população, distribuição de
população, índices de qualidade de vida etc.) e ambientais (padrões de
temperatura, de precipitação, áreas florestais, cultivadas, recursos hídricos
etc.); interpretação de tabelas, iniciando, assim, a percepção do que são
estatísticas e probabilidades (D’AMBROSIO, 1999,p. 45-46).

As Ciências da Natureza também, é uma área de conhecimento e o próprio


componente curricular. Tem por compromisso o desenvolvimento do letramento
científico, “que envolve a capacidade de compreender e interpretar o mundo (natural,
social e tecnológico), mas também, de transformá-lo com base nos aportes teóricos
e processuais das ciências” (BRASIL, 2017, p.321).

Aprender ciências para vida, em suma, essas são as palavras citadas no trecho
da Base, para atuar sobre o mundo, exercer a cidadania, se posicionar sobre assuntos
quanto a alimentação, medicações, clima, transporte, comunicação, contraceptivos,
manutenção da vida na Terra, entre outros temas imprescindíveis para a formação
integral dos estudantes.

As Ciências Humanas, que contempla os componentes curriculares da


Geografia e da História, em anos iniciais busca valorizar vivências e experiências
familiares dos estudantes com procedimentos de investigação que muitas vezes, em
quase todas, partem do seu meio social (família, escola, bairro) por meio de diferentes
registros.

A Geografia que busca compreender o mundo em que se vive, ao mesmo


tempo os conceitos de identidade que são expressos de diferentes formas conforme
prescrito na BNCC (2017) por meio da percepção da paisagem, da vivência dos
indivíduos na coletividade e em suas relações com os lugares vividos, seus costumes
e memória social, sua identidade cultural, a consciência de que somos sujeitos de
história e distintos uns dos outros.

Em História os estudos partem, inicialmente, do contexto da criança, e o


objetivo primordial é o reconhecimento do “Eu”, do “Outro” e do “Nós”.
Progressivamente, outros conhecimentos vão sendo agregados, mas inicialmente, o
objeto é o conhecimento de si, de sua família, da noção de comunidade e vida em
sociedade. Isso nos três primeiros anos do Ensino Fundamental, foco dos nossos
estudos.

O Ensino Religioso é o último componente curricular, de oferta obrigatório,


porém de matrícula facultativa que tem por objetivo, segundo a BNCC (2017),
desenvolver competências e habilidades que possam contribuir para o diálogo entre
as diversas perspectivas religiosas e seculares de vida, de forma respeitosa.

Após compreender brevemente a que se objetiva cada um dos componentes


curriculares que se apresentam na Base Nacional Comum Curricular, em anos iniciais
do Ensino Fundamental, uma pergunta pode se apresentar, como dar conta de todos
as habilidades e competências de cada uma delas? Considerando que a Base não é
Currículo e que outros conteúdos que são identitários da região devem, também,
fazer parte do planejamento do professor, que terão que ser trabalhados em sala de
aula, como contemplá-los sem desprestigiar ou favorecer um em prol do outro? E
principalmente, como educar para a formação integral dos nossos estudantes? Uma
possibilidade é a interdisciplinaridade.

Segundo Fazenda (1994) esse movimento surgiu em oposição à excessiva


especialização e fragmentação do conhecimento que acabavam assim, se
distanciando da realidade, estando apenas no campo das discussões das
universidades, longe da vida do estudante. O olhar tornava-se então, disciplinar, com
foco em um único campo, uma única visão.

Saberes compartimentados que não se relacionam entre si ou com a vida do


estudante acabam que são esquecidos, muitas vezes, é isso que acontece em nossas
escolas, atividades e avaliações de simples mensuração, sem espaços para a
constituição do saber coletivo, para diálogos com os colegas, professores, reflexões,
críticas, argumentações ou possibilidades de novos caminhos, em suma ficasse no
“decoreba”. Isso se distancia do que a BNCC prerroga sobre educação integral, que
é o de considerar o contexto histórico e cultural dos estudantes.

[...] a Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano


global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse
desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a
dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda,
assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do
jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e
promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e
desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. (BRASIL,
2017, p. 14)

Para se alcançar, então, este desenvolvimento pleno é que a Base foi


homologada em 2017, para que todas as crianças do Sul ao Norte, tenham os mesmo
direitos e que estes fossem garantidos. No planejamento das aulas, para que
nenhuma habilidade ou competência das áreas de conhecimento que foram
apresentadas deixem de ser trabalhadas, a interdisciplinaridade é uma ótima aliada.
Para isso, faz-se necessário que semanalmente ou quinzenalmente, a
professora ou professor planeje suas atividades, algumas podem ser fixas como:
acolhida, calendário, frequência diária, roda de conversa, ajudante do dia, como está
o tempo lá fora, quanto somos, entre outras de rotina que possam ser estabelecidas
de acordo com sua região ou ano em que os estudantes estão. Para ser o fio condutor
das atividades do planejamento pode-se elencar um livro de literatura, de um dos
gêneros textuais já indicados em Língua Portuguesa na BNCC, ou um texto, ou uma
situação ocorrida em sala, até mesmo, pode ser um projeto do Projeto Político
Pedagógico (PPP) ou Proposta Pedagógica (PP) da sua unidade escolar.

Logo após, inicie a organização da sua aula, com os dias da semana e o que
irá fazer em cada momento, observando a temática que se quer abordar, exemplo:
Combate a Dengue! Talvez esse possa ser um projeto da escola, por ter muitos casos
em seu bairro ou estado, principalmente, na época de chuvas. Você pode iniciar a
aula com um cartaz, isso já é um gênero textual:

Essa é uma das habilidades trabalhadas nos 1º e 2º anos, e que não devem e
nem precisam ser encerradas nesse único momento. Continuando a explorar esse
cartaz, faça perguntas, o propósito é que as crianças percebam que este meio de
comunicação está na vida social delas. Em que local vocês já viram esse cartaz? O
que ele comunica? O que é a dengue? O que podemos fazer para não pegar dengue?
Depois disso, um texto coletivo pode ser produzido, com a escrita da professora no
quadro, e o registro de todos no caderno.

No segundo dia, é importante retomar o que foi trabalhado, o texto coletivo


pode ser lido, e dele iniciar algumas conversas que irão conduzir a aula. Partir do
material em que se encontra água parada é uma opção, pois é de lá que eclodem os
ovos do mosquito, que tipo de material é esse? Será que tem aqui na nossa escola?
Que tal fazermos um tour pela escola e levantar os possíveis pontos de focos da
dengue. Materiais que são descartados na natureza, qual o melhor destino para eles?
Depois retornar para a sala de aula e ver os materiais que encontraram,
observar de que tipo são. Você professor e professora podem separar previamente
alguns sejam eles de (plástico, madeira, folhas, alumínio, garrafas, latinhas, tecidos)
e estudar junto com os estudantes como se dá o descarte na natureza e o que podem
fazer para utilizá-los melhor, quem sabe até instrumentos musicais.

Como sugestão para casa, eles também farão uma ação junto a suas famílias,
de observar seu quintal e ver os possíveis locais e focos da Dengue. E no dia
seguinte, será compartilhado com a turma o que foi encontrado.

Terceiro encontro após a conversa e depois dos materiais que foram vistos,
pode-se fazer uma lista do que a turma fará de ação de descarte, exemplos: lixeira
de reciclagem, jogos, artesanato e instrumentos musicais.

No quarto dia a turma receberá uma visita ilustre, mas antes a professora ou
professor conversará sobre o convidado que irá estar com eles no dia. Por se tratar
de um planejamento sugestivo para o 1º ano, observem o tempo aqui das atividades
que são todas propositivas, e com as habilidades para o referido ano.

Trazer um agente que trabalha com ações de combate a Dengue é aproximar


os estudantes com profissionais que podem ir a suas casas, e possibilitar aos
pequenos que formulem suas perguntas e que previamente, já tendo conhecimento
do assunto e já explorado suas casas e a escola possam tirar dúvidas mais concretas.
Possibilitar ao profissional que conte, também, sobre os desafios do seu dia, e o que
podem fazer para ajudá-lo nesse combate. Um jogo pode ser feito nesse dia, ou
outras atividades para explorar ainda mais o momento.

No quinto dia é hora dos Agentes Mirins, projeto da turma “X”, chegou a hora
de elaborar botons ou identificações de combate a Dengue com cartazes para colar
na escola divulgando e informando sobre essa temática.
O objetivo da interdisciplinaridade não é trabalhar o máximo de competências
e habilidades dentro de um planejamento, mas sim, que elas possam ter significado
na vida do estudante, que haja uma formação integral dele. Que em uma mesma
atividade eles possam desenvolver conhecimentos diversos e serem protagonistas
em suas aprendizagens. Não basta relacionar os conteúdos, é preciso que eles
dialoguem, e uma possibilidade para que o trabalho seja sistematizado e rico é a
sequência didática, projetos didáticos e rotinas mais flexíveis, isso possibilitará que
você integre cada vez mais os conteúdos apresentados pela BNCC.

Todas essas práticas devem ter uma finalidade para a formação integral do
estudante. Observe se seu estado, município ou distrito já possui um Currículo, em
caso positivo, é a partir dele que seu planejamento deve ser elaborado, pois a Base
não é Currículo.

Referências:

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais. Brasília: Conselho Nacional de


Educação: 2009.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional


Comum Curricular. Brasília: MEC, SEB, 2017.

______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional


pela Alfabetização na Idade Certa: Interdisciplinaridade no Ciclo de Alfabetização.
Caderno 03. Brasília: MEC, SEB, 2015.

FAZENDA, Ivani. A Interdisciplinaridade: um projeto em parceria. São Paulo:


Loyola, 1993.

FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa.


São Paulo: Papirus, 1994.

Você também pode gostar