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Antropometria

ANTROPOMETRIA

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SUMÁRIO

Antropometria laboral ......................................................................................... 6

Planos de referência .......................................................................................... 7

As 5 falácias, segundo Pheasant ....................................................................... 7

PRINCÍPIOS E PRÁTICA DA ANTROPOMETRIA ........................................... 11

A descrição estatística da variabilidade ........................................................... 12

Erro padrão ...................................................................................................... 14

Coeficiente de variação .................................................................................... 17

Cálculo de percentis ......................................................................................... 18

Critérios e limitações: As limitações cardinais .................................................. 21

1ª Limitação cardinal: Espaço .......................................................................... 23

2ª Limitação cardinal: Alcance ......................................................................... 23

3ª Limitação cardinal: Postura .......................................................................... 23

4ª Limitação cardinal: Força ............................................................................. 24

Princípios e técnicas em "design” .................................................................... 24

"Design" para amplitude ajustável .................................................................... 24

“Design” para indivíduos extremos ................................................................... 25

"Design" para o indivíduo médio ...................................................................... 26

Testes de ajustabilidade ................................................................................... 27

Simulação......................................................................................................... 28

Método dos limites ........................................................................................... 29

Um método simplificado ................................................................................... 32

TIPOS DE DADOS ANTROPOMÉTRICOS ..................................................... 34

Tabelas antropométricas .................................................................................. 36

Diagramas ........................................................................................................ 36

Formatos gráficos............................................................................................. 37

Mapas .............................................................................................................. 37

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Manequins ........................................................................................................ 37

Sistemas computadorizados ............................................................................ 39

Relações biométricas ....................................................................................... 42

DIMENSÕES ANTROPOMÉTRICAS ESTÁTICAS .......................................... 43

Medição das dimensões do corpo .................................................................... 43

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Antropometria aplicada

Existe uma grande variabilidade nas dimensões e dos tipos físicos entre
os indivíduos. Muitas razões contribuem para estas diferenças, tais como o
sexo, raça, idade, clima, nutrição, etc. Assim, mesmo em pequenos grupos
encontramos uma grande variedade de dimensões.
Como nos habituamos a conviver com pessoas de vários tamanhos e
tipos, aceitamos estas diferenças como naturais, bem como as dimensões das
coisas que usamos: as portas que são suficientemente altas (pelo menos para
a grande maioria), cadeiras e mesas que aceitamos usar, não poucas vezes
com evidente desconforto. Quando nos encontramos em situações nas quais
as dimensões dos objetos que necessitamos de utilizar nos colocam
dificuldades acrescidas, usamos da nossa capacidade para nos adaptarmos às
condições existentes.
As lesões músculo-esqueléticas, em particular na região dorso-lombar,
têm vindo a assumir cada vez maior importância nas questões de saúde
ocupacional. As atividades profissionais tornam-se cada vez mais sedentárias
e as pessoas passam mais tempo sentadas durante o trabalho quer em
escritórios quer em veículos motorizados. A incidência de dores na região

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lombar aumenta na população trabalhadora o que leva alguns a questionar a


alegada pouca importância em geral atribuída à relação mais íntima entre as
pessoas e os objetos que utilizam. Desde os primeiros estudos no campo da
ergonomia se procurou determinar as distâncias necessárias para o eficiente
controlo manual numa grande variedade de postos de trabalho, sendo também
considerados os problemas relacionados com o assento e respectiva postura.

Figura – Desde a antiguidade que existem várias tentativas para


estabelecer medidas do corpo humano, sendo os “canon” de Vitrúvio e
Leonardo da Vinci dois exemplos dos mais conhecidos

Assim, a antropometria que era inicialmente utilizada para a classificação


e identificação de diferenças rácicas e dos efeitos de dietas alimentares,
condições de vida, etc., no crescimento, foi cada vez mais utilizada no
fornecimento de informações acerca das dimensões humanas importantes para
a concepção dos postos de trabalho. A princípio, muitas das decisões eram
tomadas com base em critérios simples: o alcance era definido pelo
comprimento do braço estendido entre o ombro e o punho, o comprimento do
antebraço definia as áreas de fácil alcance e a distância entre a face inferior da
coxa e o solo, como a perna dobrada pelo joelho em ângulo reto era a dimensão
adequada para a altura do assento de uma cadeira.

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Estas e outras dimensões do mesmo tipo, obtidas de muitas diferentes


populações durante as últimas quatro décadas, constituem ainda a fonte de
dados em que se baseiam muitas das decisões tomadas no projeto ou "design"
de postos de trabalho. Contudo, como se verá adiante, os dados e as suas
aplicações tornaram-se mais complexos. Os ergonomistas reconhecem agora
mais claramente a importância da harmonização, o mais perfeita possível, das
dimensões dos equipamentos com a forma e dimensões das pessoas que os
utilizam.
É hoje sabido que uma pequena diferença entre a distância do plano de
trabalho e o assento, mesmo de apenas um ou dois centímetros, pode ser
suficiente para causar - ou evitar - dores no pescoço ou nos ombros. Em certas
atividades, uma inclinação do tronco à frente, ainda que ligeira, mantida durante
algum tempo, pode ser mais incómoda e provavelmente mais prejudicial que
outras posturas aparentemente mais extremas. Reconhece-se também que a
natureza das tarefas pode ser um fator tão importante para dimensionamento
de um posto de trabalho como, por exemplo, a estatura das pessoas.
Que relação existe entre ergonomia, antropometria e "design"?
A antropometria aplicada pode ser considerada uma das ciências
humanas básicas que contribuem para a ergonomia, que por sua vez contribui
com dados, conceitos e metodologias para o processo de "design".

Figura - Relação entre antropometria, ergonomia e "design". A


ergonomia surge como um canal de informação.

Antropometria laboral

Conforme já foi referido anteriormente, a antropometria é e foi utilizada


com os mais diferentes objetivos, abrangendo áreas como a subnutrição das
crianças no terceiro mundo, ou tendo servido de “ferramenta” para a seleção
racial dos nazis alemães. No que se refere à sua utilização no campo da

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ergonomia dos postos de trabalho, devemos mencionar as seguintes


particularidades:
• Refere-se a uma população de ambos os sexos e com idade entre
os 18 e os 65 anos;
• Têm de ser consideradas medidas estáticas e medidas dinâmicas;
• O seu objetivo é o desenho de postos de trabalho, o desenho de
modelos biomecânicos e de produtos finais, tais como ferramentas, máquinas,
dispositivos de proteção, etc.

Planos de referência

As definições de largura, comprimentos, etc. podem ser melhor


entendidas se definias em relação a planos de referência.
Assim, as medidas em antropometria podem ser definidas em relação
aos seguintes planos:
• Horizontal ou transversal;
• Frontal;
• Sagital ou lateral.

Figura – Planos de referência utilizados em antropometria. As 5


falácias, segundo Pheasant

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Segundo Pheasant são utilizadas "cinco falácias fundamentais" como


argumento (entenda-se desculpa) para a falta de aplicação da ergonomia ao
"design".

Quadro - As cinco falácias fundamentais (Pheasant).

1º - Este "design" satisfaz-me, logo será satisfatório para toda a gente.


2º - Este "design" é satisfatório para o indivíduo médio, logo será
satisfatório para toda a gente.
3º - A variabilidade dos seres humanos é tão grande que é impossível
satisfazê-Ia completamente em qualquer "design", mas isso não tem muita
importância pois as pessoas têm uma maravilhosa capacidade de adaptação.
4º - Como a aplicação da ergonomia é cara e o critério para a escolha
depende principalmente do custo, das características técnicas e da aparência
(ou estilo) dos produtos, as considerações ergonómicas podem muito bem ser
ignoradas no "design".
5º - A ergonomia é uma coisa excelente. Eu tenho sempre preocupações
ergonómicas no "design", mas faço-o intuitivamente, baseado no bom senso,
pelo que não preciso de tabelas de dados.
A 1ª falácia poderá parecer exagerada e muito provavelmente os
projetistas de equipamentos nunca chegarão a exprimi-la, nem sequer estarão
conscientes de que estão implicitamente a invocá-Ia. Contudo, quantos
produtos são na realidade testados durante a fase de "design" por uma amostra
representativa de utilizadores, ou pelo menos por meio de uma técnica de
simulação? Certamente muito poucos.
Na maior parte das vezes, a avaliação do "design" é inteiramente
subjetiva. O projetista considera o assunto, concebe o equipamento, ensaia o
protótipo (se este chegar mesmo a ser construído) e conclui "parece-me OK!",
com a evidente implicação de que se é satisfatório para si, sê-lo-á também para
as outras pessoas. Muitas vezes, os objetos projetados para os indivíduos mais
fortes ou mais aptos elementos de uma população apresentam dificuldades
insuperáveis de utilização para os mais fracos ou menos hábeis.
A 1ª falácia está muito próxima da 5ª por empatia. Também se aproxima
muito da 2ª porque a maioria das pessoas se considera mais ou menos próxima

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da média. Suponhamos que definíamos as dimensões de uma porta com base


na estatura e largura médias da população. A metade mais alta da população
bateria com a cabeça na ombreira da porta e a metade mais larga teria que
rodar o corpo para caber nela. Uma vez que a metade mais alta da população
não é necessariamente a metade mais larga, iríamos de fato satisfazer ou
acomodar menos de metade dos utilizadores. Este exemplo de mau "design"
pode parecer demasiadamente grosseiro, mas no mundo real abundam os
exemplos de situações reais em que foram cometidos erros deste tipo. Como é
evidente, o principal objetivo do projetista deve ser acomodar a maior
percentagem possível da população.
A 3ª falácia tem o seu quê de verdade, pois os seres humanos são de
fato muito adaptáveis talvez até demais, para sua desgraça! Na realidade, são
capazes de suportar muito, sem que necessariamente se queixem. No exemplo
acima citado, a metade mais alta da população teria provavelmente que se
curvar para passar. Esta é a abordagem procusteana para o "design". Contudo,
a adaptação procusteana "cobra" habitualmente mais tarde a sua "fatura" em
termos de conforto ou mesmo a saúde afetados, embora raramente de uma
forma tão dramática como a perna amputada como sucedeu a Procustes...
apesar das consequências, por vezes dramáticas, de acidentes de trabalho
causados por erros de "design". Lamentavelmente, são por demais importantes
os prejuízos físicos, sociais e económicos resultantes das lesões músculo-
esqueléticas atribuíveis ao mau "design" de postos de trabalho e de
equipamentos.
Parte da refutação da 3ª falácia baseia-se nos "custos escondidos" da
adaptação. Mas a 4ª falácia refere-se aos custos reais resultantes da aplicação
dos conceitos e da metodologia ergonómicos ao "design". O projetista sofre a
influência de uma série de fatores tais como o "marketing" e a publicidade, por
um lado, e a pressão dos consumidores e da legislação, por outro. O "designer"
deve responder a uma variedade de forças socio-económicas e o produto do
seu trabalho reflete a sociedade em cujo contexto foi concebido e para a qual
foi realizado. Em alguns casos a pressão dos consumidores leva à introdução
de características ergonómicas no "design" – tal como se verifica de um modo
acentuado na área da tecnologia dos escritórios.

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Os modernos terminais são ergonomicamente bastante melhores que os


de há dez anos atrás, provavelmente devido aos efeitos que a pressão dos
utilizadores (em especial através dos sindicatos nos países mais
desenvolvidos) tem exercido no equilíbrio das forças do mercado. Em algumas
situações, os consumidores estão dispostos a pagar um preço extra pela
qualidade. Contudo para além de todos estas considerações, está o simples
fato de que muitas vezes custa tanto fazer as coisas com o tamanho certo do
que fazê-Ias do tamanho errado. Frequentemente, a decisão de ignorar a
ergonomia por razões económicas não é mais que uma fraca desculpa para
disfarçar a ignorância e talvez uma certa dose de incúria.
A 5ª falácia envolve alguns aspectos mais complexos. A intuição e o bom
senso de que se fala neste contexto são por vezes designados por "empatia".
Trata-se de um ato de introspecção ou imaginação pelo qual somos capazes
de "nos colocarmos no lugar de outra pessoa". Pode-se argumentar que o
"designer", ao colocar-se empaticamente no lugar do utilizador, o ato de projetar
para os outros se torna uma extensão de projetar para si próprio, de acordo
com a abordagem tradicional da ergonomia: "design" centrado no utilizador. Em
alguma medida isto será provavelmente verdade, mas será a intuição suficiente
para considerar os problemas da diversidade humana? Seremos nós capazes
de imaginar o modo como alguém muito diferente de nós experimentará uma
dada situação? Trata-se de uma questão ainda pouco estudada, com
importantes implicações psicológicas. Será certamente difícil para um jovem
adulto em boa forma física imaginar-se no lugar de uma senhora idosa com
artrose tentando levantar-se de uma cadeira de braços, ou de uma atarefada
mãe de três crianças irrequietas arrastando a sua prole enquanto faz compras
num supermercado. Em tais casos, os dados empíricos serão certamente de
maior confiança, por mais forte que julguemos a nossa intuição. O bom senso
é, em si próprio, um conceito difícil de analizar, embora por vezes tenha "as
costas largas". Por exemplo, podem ouvir-se expressões tais como "trata-se
apenas de uma questão de bom senso" para justificar a aceitação cega de uma
hipótese ainda não testada. Mas "bom senso" tem um significado diferente:
pode ser definido como a forma prática de resolver problemas corretamente.
Pode dizer-se que, de certo modo, bom senso e método científico são
basicamente a mesma coisa, sendo este uma forma mais sofisticada e

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organizada daquele. Coligir a maior quantidade de dados sobre a população


utilizadora e testar objetivamente as suas próprias intuições é certamente uma
boa prática na solução de problemas. O ergonomista deve segui-Ia
religiosamente. Com isto não se pretende banir a simulação como via
económica e importante para ensaiar a qualidade de um "design", mas apenas
dizer que, sendo ambas úteis, cada uma deve ter o seu momento próprio de
utilização.

PRINCÍPIOS E PRÁTICA DA ANTROPOMETRIA

No capítulo anterior foi referida a importância de considerar a diversidade


humana no projeto de equipamentos e ambientes de trabalho. Veremos agora
como proceder no campo dos princípios e da prática. Existem situações em que
os equipamentos e espaços de trabalho podem ser projetados especificamente
para o utilizador individual. Os fatos feitos por medida, a alta-costura e os
assentos dos carros de corrida são alguns exemplos mais comuns. Trata-se,
porém, de artigos que podemos considerar de luxo. Na realidade, a maioria das
pessoas não está disposta a pagar o preço extra, aceitando as soluções pré-
fabricadas, tais como o pronto-a-vestir, que se adaptam aproximadamente às
suas características físicas. Para alguns de nós, o suposto "luxo" do projeto sob
medida torna-se uma necessidade se quisermos levar uma vida normal e
independente: as características físicas e limitações dos deficientes são de tal
modo variáveis que os equipamentos de ajuda têm, muitas vezes, que ser feitos
especialmente "à medida" para o próprio utilizador.
Todos concordamos com a necessidade de o vestuário ser fabricado
com vários tamanhos, mas haverá a mesma opinião acerca de cadeiras ou
mesas, por exemplo? A resposta mais provável será, "sim, mas dentro de certos
limites". Não esperamos que crianças e adultos usem as mesmas mesas e
cadeiras nas suas escolas e escritórios; parecem, contudo, adaptar-se muito
bem à mesma mesa de jantar, em casa. Habitualmente, fornecem-se às
datilógrafas cadeiras ajustáveis, mas todavia as suas mesas têm altura fixa.
Como é óbvio, aceitamos mais facilmente um ajustamento menos perfeito numa
mesa ou numa cadeira do que numa camisa ou numas calças. Será menos
óbvio, porém, o modo como chegar ao melhor compromisso acerca das

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dimensões fixas a adoptar para um equipamento destinado a uma vasta gama


de utilizadores ou como definir o ponto a partir do qual concluímos que é
indispensável haver ajustabilidade no "design". Para uma decisão
fundamentada deste tipo exigem-se três tipos de informação:
a) as características antropométricas da população;
b) o modo como essas características impõem restrições ao projeto;
c) os critérios que definem a adaptação perfeita do produto ao
utilizador.

A descrição estatística da variabilidade

As dimensões antropométricas humanas seguem uma distribuição


normal ou de Gauss. Trata-se de uma distribuição muito conveniente pois pode
ser descrita por apenas dois parâmetros: a média µ e o desvio-padrão σ. A
figura abaixo mostra as percentagens de medições situadas entre os intervalos
definidos em abcissas pelos múltiplos inteiros do desvio-padrão. Pode assim
ver-se que, por exemplo, cerca de 95% das medições (mais exatamente
95,45%) estão compreendidas no intervalo [-2 σ , 2 σ] centrado em µ . Como a
curva é simétrica, 50% das medições são inferiores à média e 50% são-lhe
superiores. Na prática, os limites antropométricos são expressos e utilizados de
uma forma diferente: os percentis. Um percentil indica a percentagem de
pessoas de uma dada população que têm uma dimensão do corpo igual a, ou
menor que um determinado valor. Pode-se assim dizer que a média é igual ao
50º percentil. De um modo geral, k% das medições são menores que o percentil
de ordem k (kº percentil).

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Figura - Curva da distribuição normal mostrando as percentagens


das medições compreendidas entre múltiplos inteiros do desvio-padrão.
Adaptado de [2].

Na prática, não conhecemos em geral a média nem o desvio-padrão do


universo ou população em causa. Sabemos, porém, que as amostras tendem a
apresentar uma distribuição semelhante à da população de que foram obtidas.
Assim, para caracterizarmos antropometricamente uma dada população,
recorremos à medição de uma amostra representativa dessa população e
dessa amostra calculamos os parâmetros estimadores dos correspondentes
parâmetros da população.
Assim, a média µ e o desvio-padrão σ são estimados, respectivamente,
por

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Na equação da estimação do desvio-padrão usa-se por vezes n-1 em


vez de n a fim de corrigir o enviesamento resultante da dimensão finita da
amostra, assim se obtendo uma melhor predição.
Assim, tratando-se de pequenas amostras (em geral n ≤ 30), o desvio-
padrão fica definido pela equação

Erro padrão

É evidente que, ao aumentar n, m e s tornam-se estimativas de maior


confiança de µ e σ e diminui a amplitude provável dos erros aleatórios de
amostragem. Demonstra-se que estes erros se distribuem normalmente, com
média zero e desvio-padrão (designado por erro-padrão, EP) do parâmetro em
causa, tal que

As amplitudes prováveis dos erros de amostragem são geralmente


expressas em termos dos limites de confiança de 95% do parâmetro em causa,
que são definidos por ±1,96 EP, i.e., os verdadeiros valores de qualquer
parâmetro da população estarão dentro de ±1,96 erros-padrão da estatística,
95 vezes em cada 100 amostras que forem obtidas. (Contudo, se estivermos
interessados em erros numa só direção, deveremos usar 1,645 EP).
Isto pode ser resumido dizendo que em qualquer estudo antropométrico
os limites de confiança de 95% (d) de uma dada estatística são dados por,

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onde K1 é uma constante para cada estatística dada no quadro 2.1, s é


o desvio-padrão dos dados, n é a dimensão necessária da amostra e d é a
precisão desejada para a medição (±d unidades). Alternativamente, poderemos
usar a equação

que nos indica quantos sujeitos deveremos medir para obtermos a


estatística em causa com o grau de precisão adequado. A precisão desta
fórmula reduz-se quando a dimensão da amostra inicial Ni é inferior a 100.
Nesse caso, poderemos obter uma estimativa mais precisa usando K 2 em vez
de K1 (ver nota ao quadro 2).
Exemplo 1
Se desejarmos medir o valor médio da altura dos ombros com uma
precisão de ±5 mm, sendo o desvio-padrão desta dimensão 66 mm, a dimensão
necessária da amostra de indivíduos a medir seria:

Quadro – Valores do parâmetro K1 definido na equação 2.6.


(Segundo Pheasant [1] e Roebuck, Kroemer e Thomson [14]).

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Estatística pretendida K1
1.96
1.39
Média
Desvio-padrão Percentis 2.46
50º 2.46
45º e 55º 2.49
40º e 60º 35º e 65º 2.52
30º e 70º 2.58
25º e 75º 20º e 80º 2.67
15º e 85º 2.80
10º e 90º 3.00
5º e 95º 3.35
4º e 96º 4.14
3º e 97º 2º e 98º 4.46
1º e 99º 4.92
5.67
7.33
NOTA: Se a dimensão da amostra inicial (Ni) for inferior a 100,
poderemos obter na prática uma estimativa mais precisa de n para a média
usando o valor K2 em vez de K1:

K2= 2,00 para (100>N1>40)


K2= 2,05 para (40>N1>20)
K2= 2,16 para (20>N1>10)
K2= 2,78 para (10>N1)

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Coeficiente de variação

O coeficiente de variação (CV) é dado por

Trata-se de um índice útil que traduz a variabilidade inerente a cada


dimensão corporal, i.e., é independente do valor absoluto dessa dimensão bem
como da unidade de medição. Na grande maioria das populações, a estatura é
a dimensão com o mais baixo CV. No quadro 3 apresentam-se coeficientes de
variação característicos de algumas dimensões antropométricas. Os números
são oriundos de diversas fontes e não dizem respeito a uma população
específica, pelo que devem ser interpretados apenas como guia aproximado.
Os valores elevados da parte inferior do quadro são indicativos de distribuições
enviesadas – característica das dimensões antropométricas que incluem tecido
adiposo e das medidas funcionais tais corno a força muscular.
Quadro – Coeficientes de variação característicos de algumas
dimensões antropométricas. (Segundo Pheasant).

Dimensão CV (%)
Estatura 3-4
Alturas do corpo (sentado, do cotovelo, etc.) 3 -5
Segmentos dos membros 4 -5
Larguras (ancas, ombros, etc.) 5 -9
Espessuras do corpo (abdominal, peito, etc.) 6 -9
Alcance dinâmico 4 - 11
Peso 10 - 21
Amplitude de movimentos das articulações 7 - 28
Força muscular (estática) 13 - 85

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Cálculo de percentis
Como se disse, uma distribuição normal fica perfeitamente definida pela
média e pelo desvio padrão. Sendo estes conhecidos, pode-se calcular
qualquer percentil sem necessidade de utilizar as medições originais.
O percentil de ordem p de uma variável é dado por
Px = m + s . z X
em que z é uma constante para o percentil considerado, que se pode
obter em tabelas estatísticas (ver tabela normal). Suponhamos que queremos
calcular o 95º percentil da estatura de uma população normalmente distribuída
com média de 175 cm e desvio padrão de 9,8 cm, ou seja, N ≈ (175 ; 9,8). Na
tabela da distribuição normal vemos que a p=0,95 (ou 95%), corresponde
z=1,64.
Aplicando a equação 2.9 obtemos
P95 = 175 + 9,8 x 1,64 = 191,07 cm.
Por vezes é necessário fazer o cálculo inverso para determinar a que
percentil corresponde uma certa dimensão. Assim, se quisermos saber, por
exemplo, a que percentil corresponde uma estatura de 163 cm, teremos,
resolvendo a equação 2.9 em ordem a z:

que corresponde a uma estatura muito próxima do 11º percentil pois,


segundo a tabela da distribuição normal, p=0,11 para z = -1,224.
Exemplo 2
Pretende-se saber qual a percentagem de indivíduos de uma dada
população cuja estatura é inferior a 158 cm, sabendo que a população se
caracteriza do seguinte modo:
X ≈ N (164,5 ; 24) (Isto é, distribuição normal, m=164,5 e s=24)

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Toma-se o valor de z e obtém-se a correspondente valor p


(probabilidade) numa tabela da distribuição normal padronizada, por exemplo
do Anexo 2. Há que interpolar entre os valores 0,39 e 0,40, pelo que a diferença
tabular é d=0,01. Fica então
0,03 ………………………………. 0,01
0,01 ………………………………… d d=0,00333 donde p=0,3933

Conclui-se então que 39,33 % da população tem estatura inferior a 158


cm. Por outras palavras, pode dizer-se que, para aquela população, a estatura
de 158 cm é aproximadamente o 39º percentil.

NOTA: no caso, mais habitual, de não ser necessária muita precisão não
é necessário fazer a interpolação, podendo considerar-se de imediato o valor
mais aproximado, neste exemplo p = 0,39.
Exemplo 3
Outro tipo de problema consiste em calcular um determinado percentil
duma população normal.
Seja:
Para a população definida no exemplo anterior, X ≈ N (164,5 ; 24),
calcular o 90º percentil.
Trata-se do problema inverso do exemplo anterior:
Determinar z tal que p = 0,9. (Por vezes representa-se por z90). Pela
tabela da distribuição normal padronizada, temos que para p = 0,90 então z
=1,28
Resta apenas aplicar a equação 2.9 para calcular

P90 = m + s . z90 = 164,5 + 24 x 1,28 = 195,22 cm.

Frequência cumulativa
Outra forma de representar dados antropométricos consiste na curva de
frequência cumulativa de que se mostra um exemplo na figura abaixo. Nesta
curva, os percentis estão em ordenadas e em abcissas temos os valores da
dimensão correspondente ou valores de z se calibrarmos a curva em desvios-
padrão. A curva é também designada por ogiva normal. A vantagem desta curva

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é permitir-nos avaliar as consequências de uma determinada decisão no


"design" em função da percentagem de indivíduos acomodados. Por exemplo,
permitir-nos-ia saber diretamente qual a percentagem dos indivíduos que
conseguiriam passar sob um obstáculo com uma dada altura sem nele baterem
com a cabeça.

Figura - A distribuição de frequência cumulativa da estatura de uma


amostra de ingleses adultos. (Segundo Pheasant).

O declive da ogiva normal é máximo para o valor médio (que é também


ponto de probabilidade máxima e ponto de inflexão da curva), diminuindo
progressivamente com a aproximação dos extremos da distribuição. A curva é
assintótica com a horizontal a 0 e 100% (i.e., teoricamente encontra a horizontal
no infinito). A consequência prática deste fato é ser muito difícil acomodar os
percentis e extremos da população. Isto significa que, à medida que
pretendemos adaptar o "design" a uma maior proporção de indivíduos, maiores
restrições se colocam ao projetista e mais difíceis se tornam as soluções. Em
termos de custo/benefício trata-se de uma situação cujas compensações
tendem a anular-se face à subida dos custos.
Resta agora saber como determinar o ponto exato a partir do qual os
benefícios deixam de compensar os custos, isto é, os custos, de tão elevados,
já não se justificam face à pequena percentagem de utilizadores que será
beneficiada pela amplitude do "design" a partir desse limite. É óbvio que não

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existe uma resposta simples para esta questão. Caso a caso as condições são
diversas e não pode haver uma regra, mesmo que muito geral, aplicável a
todos. Todavia, em muitas circunstâncias é aplicada uma regra que, apesar de
arbitrária, é considerada satisfatória: trata-se de projetar para a faixa
compreendida entre o 5º e o 95º percentis, ou seja, abrangendo 90% da
população centrada na média. Esta prática parece ser um compromisso
razoável – mas é preciso não perder de vista as consequências da eventual
falta de ajustamento para os 10% que ficarão fora da amplitude dos limites do
"design". Haverá apenas um ligeiro incómodo ou desconforto ou ficará
comprometida a operacionalidade do sistema? Haverá riscos para a saúde ou
a segurança do trabalhador, a curto, médio ou longo prazo? Um indivíduo de
dimensões inferiores ao 5º percentil sentado à mesa de jantar numa cadeira
demasiadamente alta poderá sentir-se algo desconfortável no final da refeição;
mas se não for capaz de pisar o travão do seu carro com eficiência ou se não
conseguir ver bem a estrada, as consequências poderão ser mais sérias. O
projetista deve ponderar muito bem estes aspectos.

Critérios e limitações: As limitações cardinais

Em ergonomia e antropometria define-se:


• Limitação – característica observável do ser humano, de
preferência mensurável, que tenha consequências para o projeto de um dado
objeto;
• Critério – uma norma de julgamento com a qual se mede ou
averigua o grau de ajustamento do objeto ao utilizador.
Existe uma hierarquia para os diversos níveis de critérios. No topo,
situam-se conceitos gerais como conforto, segurança, eficiência, estética, etc.,
que poderemos designar como critérios gerais ou primários, de alto nível.
Porém, para se alcançarem estes objetivos, há que satisfazer diversos outros
critérios, especiais ou secundários, de nível mais baixo. A relação entre estes
conceitos pode ser ilustrada pelo exemplo seguinte. No projeto de uma cadeira,
o conforto deveria ser obviamente um critério primário; o comprimento da perna
do utilizador impõe uma limitação ao projeto pois, se a cadeira for alta demais,
a pressão na face posterior da coxa causará desconforto. Isto leva-nos a

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Antropometria

formular um critério secundário: que a altura do assento não deve ser maior que
a distância vertical entre a base do pé e a concavidade posterior do joelho (esta
dimensão é designada por altura do popliteu). Poderemos obter a distribuição
desta dimensão numa tabela de dados. Pareceria razoável escolher o valor do
5º percentil (por hipótese 355 mm), pois se uma pessoa com um comprimento
de perna tão curto como o 5º percentil ficasse acomodada, também os restantes
95% da população ficariam. Isto leva, mais ou menos diretamente, a uma
especificação para o projeto ou critério terciário: que a altura do assento não
deve ser maior que 355 mm.
Na prática, de um modo geral, é necessário ir descendo ao longo de
níveis sucessivos da hierarquia antes de se chegar a um conjunto de
recomendações operacionais realmente úteis. Em qualquer nível da hierarquia
podem ocorrer conflitos entre critérios cuja solução exige compromissos. No
exemplo atrás referido, o nosso critério secundário diz-nos quando um assento
está muito alto mas não quando está baixo demais. Os critérios para este caso
são menos bem definidos – poderíamos chamar-lhes imprecisos. Na realidade,
é perfeitamente possível que um homem alto se possa sentir muito
desconfortável numa cadeira desenhada para acomodar as pernas curtas de
uma mulher do 5º percentil, e em situações desse tipo terá que se encontrar um
compromisso satisfatório no sentido de conseguir o maior conforto para o maior
número. Do mesmo modo, poderá haver circunstâncias em que seja necessário
chegar a compromissos como, por exemplo, o conforto contra a eficiência ou a
segurança. Não serão muito comuns circunstâncias conflituais deste tipo, mas,
quando existem, levantam habitualmente problemas interessantes sobre que
critério utilizar para as avaliar em conjunto.
Em termos práticos, o meio da hierarquia é muitas vezes o melhor ponto
de começo para o ataque de um problema (há quem lhe chame "abordagem
pelo meio"). Nesta linha, consideraremos quatro tipos de limitações que entre
si condicionam a grande maioria dos problemas mais comuns de aplicação e,
por consequência, uma parte considerável da ergonomia. Pheasant chama-lhes
as "quatro limitações cardinais" da antropometria: espaço, alcance, postura e
força. Seguem-se alguns comentários acerca dessas limitações.

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1ª Limitação cardinal: Espaço

Ao projetar postos de trabalho é necessário prever espaço adequado


para a cabeça, cotovelos, pernas, etc. Deve providenciar-se espaço adequado
para acessos e circulação de materiais e pessoas. As pegas devem ter
aberturas adequadas para os dedos ou a palma da mão. Trata-se de limitações
de espaço livre ou de espaço mínimo porque determinam as mínimas
dimensões aceitáveis para os objetos. Se tal dimensão for escolhida de modo
a acomodar um membro avantajado da população (por exemplo, o 95º percentil
em altura ou largura, etc.), o resto da população, menor que ele, ficará
necessariamente também acomodada.
Trata-se de uma limitação "majorante". Como há que considerar apenas
um dos extremos da população, é uma limitação de um só sentido ("one-way").

2ª Limitação cardinal: Alcance

A capacidade para alcançar e operar um manípulo de controlo é um


exemplo óbvio – como a limitação da altura da cadeira ou a capacidade de ver
a estrada por cima do "capot" do automóvel. As limitações de alcance
determinam a dimensão máxima aceitável para um objeto, mas desta vez
devem ser determinadas por um membro pequeno da população, por exemplo,
o 5º percentil. Neste caso estamos perante uma limitação "minorante". Trata-se
também de uma limitação de um só sentido, visto que consideramos apenas o
extremo inferior.

3ª Limitação cardinal: Postura

As relações entre as dimensões dos objetos e as dimensões


antropométricas dos utilizadores determinam, entre outras coisas, a postura
desses utilizadores. A altura de uma superfície de trabalho (quer sentado, quer
de pé) é um bom exemplo. Neste caso, pode ser igualmente indesejável que a
altura seja muito alta ou muito baixa, isto é, trata-se de uma limitação com dois
sentidos ("two-way") que obriga a considerar os grandes e os pequenos

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Antropometria

utilizadores. Os critérios para a postura são em geral menos óbvios que os dos
espaços livres ou dos alcances pois dependem de considerações de natureza
biomecânica, tais como amplitudes de movimento das articulações e dos
segmentos do corpo.

4ª Limitação cardinal: Força

O quarto tipo de limitação diz respeito aos limites aceitáveis para a força
a exercer em tarefas de controlo ou noutras tarefas de manipulação. Em geral,
os limites da força humana impõem de uma forma natural uma limitação de um
só sentido, bastando estimar qual o esforço máximo aceitável para os
indivíduos mais fracos. Porém, em alguns casos este procedimento pode ter
consequências indesejáveis para os indivíduos mais fortes, como, por exemplo,
um manipulo ficar leve demais, correndo-se o risco do seu acionamento
involuntário.

Princípios e técnicas em "design”

Alguns autores referem três tipos distintos de princípios utilizados no


design de equipamentos, em função das características desses equipamentos,
das especificidades do projeto, dos recursos financeiros disponíveis e da
importância que assume, para a população utilizadora, a maior ou menor
adequação dos equipamentos às suas características. Esses princípios são os
seguintes:

"Design" para amplitude ajustável

É sem dúvida o tipo de solução mais eficiente e desejável quando se


trata de assegurar a melhor adaptação dos equipamentos aos utilizadores, de
forma a minimizar os efeitos da grande variabilidade humana.
Há exemplos bem conhecidos:

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• os assentos de automóveis e outros veículos permitindo diversos


graus de ajustamento para a frente e para trás, da inclinação das costas, da
altura do assento, etc.
• a cadeira ajustável para trabalho com computador, permitindo
diversos tipos de regulação.
De um modo geral, este tipo de soluções tem algumas limitações:
• acréscimo de custo resultante dos dispositivos que asseguram a
ajustabilidade;
• maior complexidade dos equipamentos que poderá torná-los mais
susceptíveis de avariar e mais difíceis de reparar;
• nem sempre é viável o uso da ajustabilidade, em particular quando
se trata de equipamentos destinados a terem muitos utilizadores durante
períodos de tempo curtos.

“Design” para indivíduos extremos

Trata-se de uma abordagem só aplicável quando pretendemos garantir


que a grande maioria da população fique abrangida pelo "design". Imaginemos
que se pretende definir a largura mínima de um corredor de modo que nele se
possam cruzar duas pessoas sem necessidade de uma ter que ceder
passagem à outra. Neste caso, a solução seria escolher um percentil elevado
da largura de ombros da população masculina (por exemplo o 95º ou o 99º
percentil) e fixar a largura do corredor no dobro desse valor, porventura com
algum acréscimo se fosse previsível o uso de qualquer equipamento mais
volumoso. É a solução típica para problemas relativos a espaços mínimos livres
que satisfaçam a uma elevada percentagem da população. Outro exemplo, será
determinar a altura mínima do parapeito de um postigo de inspeção por forma
que mesmo os utilizadores mais baixos da população possam olhar através
dele com comodidade e eficiência. Trata-se ainda de um problema de projetar
para os extremos, na circunstância o extremo inferior da população. Caso não
fosse praticável uma solução mais sofisticada, o melhor seria talvez escolher o
5º percentil, ou mesmo inferior, da distância olhos-solo da população feminina.
Satisfaríamos os mais baixos, mas os mais altos teriam que se curvar de
maneira incómoda.

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"Design" para o indivíduo médio

Embora este talvez seja o tipo de solução que ao leigo possa parecer
mais óbvia, facilmente se demonstra ser o tipo de abordagem menos
recomendável. Imaginemos a especificação da altura para o assento de uma
cadeira não ajustável de uso geral. Aplicando este princípio, a solução mais
evidente seria escolher uma altura igual ao valor médio dos 50º percentis da
altura do popliteu das populações masculina e feminina, que admitiremos serem
caracterizadas, respectivamente, por (440 ; 29) mm e (400 ; 27) mm. O valor
médio seria 420 mm. Calculando os correspondentes percentis para as duas
populações, conforme foi exemplificado em 2.1, tem-se:
Para os homens,

ou seja (Tabela da distribuição normal), P ≈ 24,5% para os homens, e


para as mulheres,

sendo para as mulheres, P ≈ 77%.


Admitindo que a população global é composta por proporções
aproximadamente iguais de homens e de mulheres e interpretando os
resultados acima à luz do que foi discutido a propósito do exemplo 2, verifica-
se que o "design" não satisfaria à seguinte proporção da população global:

Isto significa que mais de metade dessa população ficaria mal servida
com a referida cadeira, pelo que se pode considerar uma solução muito fraca.

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Habitualmente, as soluções obtidas com a aplicação deste princípio são pouco


satisfatórias, pelo que se pode dizer que, de um modo geral, só se justifica
quando não seja praticável qualquer dos princípios anteriores e as implicações
ergonómicas do projeto sejam pouco relevantes.

Testes de ajustabilidade

Chegados a este ponto, convém esclarecer que, de um modo geral, nos


casos práticos de projeto os princípios acima descritos não se aplicam de uma
forma absolutamente rígida. Muitas vezes acontece que num dado problema
são usadas técnicas mistas fazendo apelo a mais do que um daqueles
princípios.
Consideremos então alguns dos conceitos introduzidos acima e
apliquemo-los na resolução de um problema prático de projeto. Analisaremos o
problema com bastante pormenor - talvez mais do que seria necessário num
caso real.
Trata-se de especificar a altura correta para uma superfície de trabalho
na qual vai ser executada uma certa tarefa de montagem industrial exigindo
pouca força e precisão. Podemos admitir que, por força da prática corrente na
empresa, o trabalho será executado de pé e que a população utilizadora é um
grupo representativo da população masculina adulta. Por onde começar?
Uma boa maneira seria esquecer as teorias e seguir uma abordagem
totalmente empírica para o problema, realizando um ensaio de ajustabilidade.
Para isso precisamos de uma mesa de altura ajustável, na qual se possa
desempenhar a montagem, e de uma amostra representativa da população dos
potenciais utilizadores. Cada sujeito deverá desempenhar a tarefa com a
superfície de trabalho colocada a diferentes alturas e opinar de cada vez sobre
se a altura da mesa está demasiadamente alta ou demasiadamente baixa, ou
correta. Poderíamos ainda refinar estes julgamentos sugerindo categorias
intermédias de avaliação. Teríamos também que tomar certas precauções para
evitar influenciar os julgamentos dos nossos sujeitos, escolhendo com cuidado
a ordem de apresentação das várias alturas. Um teste de ajustabilidade é
essencialmente uma experiência psico-fisica na qual os sujeitos fazem
julgamentos acerca das sensações que experimentam (por exemplo, conforto)

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em resposta a certos estímulos físicos (por exemplo, altura da superfície de


trabalho). Uma vez terminada a nossa experiência, teremos um conjunto de
dados que nos permitirão prever a percentagem de utilizadores que achará
satisfatória uma determinada altura de trabalho. Os dados obtidos refletirão não
só a variabilidade antropométrica dos nossos sujeitos, mas também a sua
experiência coletiva no desempenho de tais tarefas e a sua capacidade para
julgar quais as posições de trabalho mais apropriadas.
Mas não haverá outra alternativa à realização de ensaios de ajustamento
cada vez que surge um problema de "design"? A metodologia é boa, mas o
número de sujeitos terá que ser elevado se quisermos boa precisão nos
resultados, o que torna o processo caro e demorado, muitas vezes impraticável.
Por isso os testes de ajustabilidade só se justificam em situações especiais.

Simulação

Uso de manequins

Uma alternativa aos ensaios de ajustabilidade é o recurso a técnicas de


simulação, utilizando manequins à escala ou mesmo em tamanho natural com
os quais se testa a ajustabilidade de determinado "design". Como é evidente,
este método exige que os manequins sejam representativos da população que
irá utilizar o equipamento em projeto. Outra consequência inevitável deste
método é a necessidade de construir protótipos ou maquetes em tamanho
natural ou pelo menos modelos reduzidos dos equipamentos a produzir a fim
de testar a ajustabilidade com os manequins.

Simulação em computador

Outra alternativa é o uso da simulação em computador. Existem


programas apoiados em bases de dados antropométricos com os quais é
possível simular postos de trabalho ou equipamentos e gerar silhuetas
humanas com dimensões antropométricas escolhidas pelo experimentador a
fim de testar a adequação dos equipamentos. Trata-se de uma espécie de

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Antropometria

ensaios de ajustamento sem recorrer a pessoas, tornando os ensaios muito


mais rápidos e económicos. E assim possível testar um grande número de
hipóteses, eliminando as menos satisfatórias sem os custos e perdas de tempo
da construção de muitos protótipos ou modelos reduzidos. Em princípio, este
tipo de ensaio não substitui totalmente a experimentação com indivíduos, mas
permite importantes ganhos na redução do número de protótipos, no gasto de
materiais e no pagamento de ensaios com seres humanos com características
antropométricas representativas dos potenciais utilizadores.

Método dos limites

E na realidade, na maior parte dos casos, podemos conseguir resultados


comparáveis aos do método anterior apenas com o recurso a papel e lápis.
Contudo, na essência, a nova metodologia não é muito diferente da anterior: de
certo modo, podemos considerar que os sujeitos de carne e osso são agora
substituídos pelos dados e critérios antropométricos. Usemos um exemplo para
ilustrar o método:
Segundo Grandjean, a altura mais indicada para o desempenho de
tarefas manipulativas de força e precisão moderadas situa-se entre 50 e 100
mm abaixo da altura do cotovelo ao solo, conforme ilustra a figura. Será este o
nosso critério. Repare-se que se trata de um critério com dois sentidos por ser
relativo à postura, como vimos anteriormente, visto poder ser excedido em
ambas as direções. Admitamos que a altura do cotovelo (AC) da população em
causa é N ≈ (1090 ; 52) mm, à qual devemos adicionar uma correção de 25 mm
para a espessura dos sapatos, ficando a nossa variável definida por N ≈ (1115
; 52). Combinando estes dados com o critério adoptado, obtemos os limites
superior e inferior para o nível óptimo de trabalho:
AC - 50 = (1065 ; 52) e AC -100 = (1015 ; 52).
Podemos tratá-los como sendo novas dimensões antropométricas
normalmente distribuídas e calcular os percentis nestas distribuições
correspondentes a uma dada altura de trabalho. Contudo, devemos ter presente
que o critério se refere a "altura óptima" pelo que será razoável admitir que os
nossos trabalhadores estão dispostos a aceitar, um pouco menos que a
perfeição absoluta. Neste pressuposto, será útil considerar mais duas zonas

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abrangendo 50 mm acima e abaixo da zona óptima, que poderemos designar


por "satisfatórias embora não perfeitas. Escolhemos o valor de 50 mm apenas
por parecer, um valor razoável e não por obedecer a qualquer critério científico.
Do mesmo modo definiremos as duas distribuições correspondentes aos novos
limites: (1115; 52) e (965; 52). Estamos agora em condições de calcular a
percentagem de indivíduos que previsivelmente considerarão satisfatória
qualquer altura do plano de trabalho.

Figura - Critérios para altura de trabalho óptima e satisfatória para


trabalho de montagem industrial, (Segundo Grandjean),

No quadro mostram-se as previsões das respostas da população em


percentagens de indivíduos satisfeitos para uma superfície de trabalho com
1000 mm de altura. Foram obtidas com a ajuda da fórmula 2.8. Verificamos que
a altura de 1000 mm corresponde ao 75º percentil da distribuição do critério
inferior - do qual inferimos que essa altura seria "demasiadamente baixa" ou
"não satisfatória" para os 25% de indivíduos com AC superior a esse valor. Do
mesmo modo, o critério central corresponde aos 39º e 11º percentis,
respectivamente - do qual concluímos que 28% dos homens com AC entre
estes valores consideraria a altura "correta" ou mesmo "óptima".
Poderíamos continuar a efetuar cálculos semelhantes para outras alturas
até encontrarmos um valor que optimizasse a percentagem de boa
acomodação e minimizasse a percentagem de insatisfeitos (um computador

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Antropometria

daria certamente uma boa ajuda). A figura mostra os resultados de uma série
de cálculos desses. Verifica-se sem surpresa que os valores "óptimos"
descrevem uma curva normal (e); enquanto os valores "muito altos" e "muito
baixos" originam ogivas normais com inclinações opostas (a, b, c, d). Se
juntarmos os valores "óptimos" com os "um pouco altos" e "um pouco baixos"
numa categoria de "satisfatórios" curva (f), deixaremos de fora os residuais "não
satisfatórios" curva (g) fora desses limites (26% não satisfatórios e 74%
satisfatórios para 1000 mm de altura de trabalho). Pela figura se vê que o valor
ideal seria 1050 mm.

Quadro - Cálculos da percentagem de homens acomodados por


uma superfície de trabalho com altura de 1000 mm.

Critério Distribuição Percentil Conclusão

AC -
150 (965 ; 52) 75 25% demasiadamente baixa

AC -
100 (1015; 52) 39 61% muito baixa

AC -50 (1065 ; 52) 11 11% muito alta

AC (1115 ; 52) 1 1% demasiadamente alta

28% altura correta

Será que podemos considerar o problema solucionado? Reparemos que,


apesar da optimização conseguida com o plano de trabalho a 1050 mm, cerca
de 15% dos utilizadores ainda consideram a altura insatisfatória. Ocorrem
diversas perguntas: Será a postura tolerável ou demasiadamente incómoda?
Será a situação aceitável ou em contrapartida haverá o risco de aparecimento
de lesões a médio ou longo prazo? Será preferível ter uma mesa
demasiadamente alta ou baixa? Será de fato indispensável recorrermos à
solução de altura ajustável ou de outro tipo (talvez com degraus)? Nem sempre
a resposta é fácil.

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Antropometria

Figura - Aplicação do método antropométrico dos limites na


determinação da altura óptima de trabalho para uma tarefa industrial de
montagem. As curvas mostram as percentagens de utilizadores para
diversas categorias de acomodação ou não acomodação: (a)
demasiadamente baixo; (b) muito baixo; (c) muito alto; (d)
demasiadamente alto; (e) altura correta; (f) satisfatória; (g) não
satisfatória. (Segundo Pheasant ).

Haverá algumas situações em que a única solução será construir e


ensaiar um protótipo – o que pode parecer que nos encontramos num círculo
vicioso que nos enviou de novo para os testes de ajustabilidade, mas na
realidade a análise estatística reduziu muito a amplitude das possíveis opções,
a ponto de tornar realizáveis os ensaios. A antropometria é ainda uma ciência
relativamente inexacta e por isso a maioria dos ergonomistas considera o
ensaio com utilizadores na fase de protótipo como um passo essencial do
processo de design (à semelhança dos engenheiros que testam os seus
modelos para confirmarem os cálculos e as hipóteses simplificativas).
O processo acima descrito para a procura do melhor compromisso é
designado por método dos limites. Esta designação, pedida emprestada a uma
técnica experimental psico-fisica com a qual tem algumas semelhanças formais,
reforça o fato de ser, na sua essência, uma técnica de testes de ajustabilidade
imaginários.
Um método simplificado

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Antropometria

O método dos limites não é de aplicação muito simples. Em muitos casos


pode-se utilizar uma abordagem mais direta que, embora sem possuir todas as
potencialidades do método dos limites, produz resultados em geral satisfatórios.
Trata-se de um método em grande parte baseado no bom senso, como
tantas coisas na vida, embora tenhamos que cuidar em não nos deixarmos cair
na 5ª falácia referida na secção 1 destes textos. A melhor forma de proceder
consiste, em primeiro lugar, em identificar a limitação (ou limitações) dominante
(s), isto é, cuja observância seja imperativa para a qualidade do projeto. Depois,
há que considerar as demais limitações por ordem decrescente de importância
para a qualidade do produto final. Finalmente, será preciso definir os critérios
de ajustamento aos utilizadores. Vejamos através de um exemplo como aplicar
esta metodologia:
Problema: Pretende-se determinar a altura (fixa) de uma bancada para
ser utilizada na posição de pé, para a montagem final de um ferro de engomar
pouco exigente em termos de força e de acuidade visual. A solução deve
satisfazer 90% da população masculina e deve admitir que será aceitável uma
tolerância de ± 50 mm, graças à excelente capacidade de adaptação humana.
Se for necessário, dimensionar também um estrado ou degraus.
Há que responder primeiro a quatro questões prévias:
(a) De que tipo de limitação se trata?;
(b) Qual é a limitação?
(c) Qual o critério a satisfazer?;
(d) Qual o percentil (ou percentis) a considerar?
Quanto à primeira questão, trata-se de nitidamente de uma limitação de
postura, isto é, com dois sentidos (two way). De fato, não é aceitável qualquer
das duas posturas: 1ª, trabalhar com acentuada flexão anterior do tronco,
problema que poderá afetar os indivíduos mais altos; 2ª, trabalhar com os
cotovelos afastados do tronco, postura que afetará as pessoas mais baixas por
terem que elevar os antebraços acima da bancada o que por sua vez obriga a
afastar os cotovelos do tronco se a bancada for demasiadamente alta para elas.
Esta postura produzirá fadiga muscular na musculatura dos ombros devida ao
esforço de sustentação do peso dos braços. Isto significa que, na prática,
teremos que dimensionar a bancada tendo em consideração dois limites, o
superior e o inferior.

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Antropometria

Atendendo ao tipo de trabalho a realizar, é desejável que o trabalhador


possa mover livremente os braços sobre a bancada, pelo que a altura
recomendável seria um pouco inferior à altura do cotovelo (AC), na ordem dos
50 mm. Isto responde às questões (b) e (c).
Quanto à questão (d), uma vez que a bancada deve satisfazer 90% dos
indivíduos, poderemos dimensionar bilateralmente para P 95 e para P5. Assim
deixaremos "de fora" - isto é, não satisfeitas - 5% das pessoas em cada extremo
da distribuição. É um procedimento corrente.
A altura do cotovelo é AC ≅ N (1090 ; 52) mm. Logo, de acordo com as
três primeiras alíneas, os valores limitantes da nova variável [AC - 50 mm] são
P95 = 1130 mm e P5 = 995 mm. Concedendo uma correção de 25 mm para a
espessura do calçado (cf. pág. 4-3), os valores limitantes passam a ser VLc,95
= 1155 mm e VLc,5 = 1020 mm. Tomando em atenção o intervalo de tolerância
de ± 50 mm, os valores limitantes ficam respectivamente enquadrados pelos
intervalos S [1105 , 1205] e I [930 , 1030].
Então qual o valor a escolher? Tira-se muitas vezes partido da tolerância
humana no sentido de economizarmos nos materiais e no presente caso isso
levar-nos-ia a optar por uma altura da bancada igual ao limite inferior do
intervalo S, isto é, ABs = 1105 mm.
Idêntico raciocínio levar-nos-ia a admitir que os indivíduos do 50 percentil
considerariam aceitável o limite superior do intervalo I: ABi = 1030 mm graças
à sua tolerância. Isso permitir-nos-ia economizar nas dimensões do estrado. A
altura mínima do estrado, h, ficaria então definida pela diferença entre os dois
valores: h = ABs -ABi = 1105 mm -1030 mm = 75 mm.
Como a altura mínima necessária para o estrado é inferior à amplitude
do intervalo de tolerância que é, como foi definido, igual a 100 mm - podemos
concluir que um só estrado é suficiente para acomodar toda a variabilidade
individual.
Esta solução satisfaria todas as condições antropométricas definidas e
ao mesmo tempo minimizaria os custos materiais da construção da bancada e
do estrado.
TIPOS DE DADOS ANTROPOMÉTRICOS

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Antropometria

Convencionalmente, é costume distinguir entre dados antropométricos


estáticos e dinâmicos. Lamentavelmente, estes termos não são empregues
exatamente com o sentido físico correto, isto é, para denotar a ausência ou
existência de movimento. Isto levou alguns especialistas a propor a substituição
desses termos por antropometria estrutural e funcional. Embora mais corretos,
estes termos não encontraram, porém, aceitação geral. Por isso usaremos
nestes textos a nomenclatura convencional.
Os dados antropométricos estáticos dizem respeito às dimensões
estruturais do corpo, medidas habitualmente entre pontos anatómicos fixos em
posturas estereotipadas, habitualmente designadas por posturas
antropométricas normalizadas. São exemplos a altura de pé, as alturas dos
olhos e dos cotovelos de pé ou sentado, os comprimentos dos membros, as
larguras dos ombros ou das ancas e as espessuras do corpo a diversos níveis.
Também se enquadram nesta categoria os perímetros dos membros, da
cabeça, do pescoço e do tronco, bem como o peso.
Os dados antropométricos dinâmicos incluem medições de alcances ou
amplitudes efetuadas em condições "funcionais", assim permitindo ao indivíduo
um certo grau de liberdade de modo a poder adoptar posturas "naturais" para o
desempenho de uma dada tarefa. Também podem ser incluídas nesta categoria
as amplitudes de movimento das articulações e dos membros e a força exercida
em várias ações. O valor e relevância destes dados para aplicações práticas ao
"design" são tanto maiores quanto mais as condições de medição se
aproximam das do mundo real em que serão utilizadas essas aplicações.
Infelizmente, essa relevância é obtida à custa de um elevado grau de
especificidade. Na realidade, as medições de alcances para serem utilizadas
no "design" da cabina de um avião militar podem ser irrelevantes para
automóveis - devido às diferenças de formato do assento e do equipamento
usado pelos pilotos bem como às diferenças antropométricas da população
utilizadora. Por esta razão, a obtenção de dados dinâmicos pode ser exclusiva
para um dado problema de "design", o que a torna cara em matéria de tempo e
pessoal. Em muitos casos, as insuficiências dos dados estáticos não são tão
grandes como parecem, pois, podem ser ultrapassadas pela utilização judiciosa
dos critérios apropriados.

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Antropometria

Tabelas antropométricas

A forma mais generalizada de divulgação de dados antropométricos são


as tabelas antropométricas. Nelas são tabulados os percentis das dimensões
antropométricas habitualmente mais utilizadas e o respectivo desvio-padrão.
Muitos projetistas consideram as tabelas antropométricas
demasiadamente áridas e pouco práticas para uso corrente e pressionaram os
antropometristas para produzirem outras formas de apresentação dos dados
que fossem manipuláveis e que permitissem uma mais fácil avaliação dos
resultados do "design".

Diagramas

Uma das respostas a essa pressão surgiu sob a forma de diagramas que
permitem apresentar os dados de uma forma mais compreensível. Neste tipo
de dados incluem-se as medições das zonas de alcance dos membros
anteriores complementadas com tabulações de dados com percentis. Esses
diagramas dão uma imagem clara da natureza espacial dos dados e facilitam a
obtenção da informação.
Outro exemplo de utilização de diagramas são as medições
biomecânicas das forças estáticas apresentadas na figura

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Antropometria

Figura - Limites da força exercida no levantamento de pesos (em


Kgf) (a) com duas mãos e (b) com uma só mão em várias posições na zona
de alcance conveniente segundo diversos autores. Estes valores referem-
se a homens com menos de 50 anos e frequência inferior a um esforço por
minuto.

Formatos gráficos

Outro método de apresentação de dados antropométricos é o uso de


curvas de frequência cumulativa em papel normal de probabilidade. O método
tem algumas vantagens: permite a comparação de várias populações
relativamente a um dado parâmetro; dão imediatamente os valores para
qualquer percentil desejado; permitem condensar uma grande quantidade de
informação numa pequena área, permitindo obter rapidamente uma estimação
da distribuição das dimensões antropométricas.

Mapas

Trata-se de mapas bidimensionais do corpo humano ilustrando as


diversas dimensões representadas pelos respectivos valores para diferentes
percentis. Alguns mapas também apresentam aplicações mostrando figuras
humanas em posturas de trabalho normalizadas. Estes mapas são fáceis de
usar e podem ser reproduzidas em escalas convenientes para serem utilizadas
em modelos reduzidos. São bem conhecidos os mapas concebidos por
Dreyfuss, cujo maior inconveniente é serem baseados em dados
antropométricos bastante antigos, o que pode constituir uma limitação para o
seu uso.

Manequins

Outro modo de apresentar dados antropométricos é sob a forma de


manequins articulados a duas dimensões, habitualmente fabricados em
perspex transparente ou folha metálica, de que se mostram exemplos na figura

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Antropometria

e de que existem versões em vária escalas até ao tamanho natural. Uma das
características práticas interessantes dos manequins é a possibilidade de
combinar membros e tronco correspondentes a diferentes percentis, assim
permitindo ao projetista considerar a variação de proporções, além das
dimensões corporais. Contudo, há um inconveniente quanto à aplicação destes
manequins representando homens de percentis "híbridos": em geral, é difícil
obter a localização correta de alguns pontos de rotação das articulações, que
podem não ser compatíveis com outras dimensões (por exemplo, a articulação
do ombro quando se combinam braços e tronco de percentis de extremos
opostos).

Figura - Exemplo de manequins antropométricos,


(a) 52 percentil das mulheres;
(b) 952 percentil dos homens. Escala 0,76:10. (Segundo Pheasant).

De um modo geral, os manequins fornecem medições precisas das


dimensões e do comprimento dos segmentos corporais e respectivos pontos de
rotação e das amplitudes de movimento das articulações. Podem também
incorporar ajustamentos às dimensões antropométricas para posturas de
trabalho sentado e de pé. Bons exemplos destes (manequins muito elaborados

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e precisos foram desenvolvidos pela 1 força aérea americana tendo sido


largamente utilizados pela NASA para o projeto das cabinas e dos alojamentos
das naves espaciais tripuladas.
É evidente que não se devem utilizar os manequins indiscriminadamente.
Na realidade, podemos dizer que a existência de um indivíduo do 95º percentil,
por exemplo, relativamente a todas as dimensões, antropométricas, é uma
impossibilidade prática, dada a enorme variabilidade das proporções entre os
vários segmentos corporais.
É preciso haver cautela no uso de manequins, não esquecendo as suas
limitações. Existem, no entanto, no comércio alguns manequins que preservam
as dimensões corporais principais, geralmente consideradas mais críticas para
o "design".
Em conclusão, pode dizer-se que os manequins, graças à sua
versatilidade, podem ser preciosas ajudas para o projetista, permitindo-lhe além
disso poupar tempo na construção de maquetes e no ensaio de protótipos
quando não é conveniente utilizar uma população selecionada para o efeito. O
principal inconveniente dos manequins é o seu custo, que pode ser muito
elevado no caso dos modelos de maior precisão.
No caso português, a inexistência de qualquer tipo de manequim
antropométrico relativo à nossa população, constitui obviamente uma limitação
adicional, pois não conhecemos qualquer modelo, para além daqueles
utilizados nas montras das lojas de vestuário com objetivos completamente
diferentes, que não têm qualquer utilidade prática para o "design".

Sistemas computadorizados

Outra forma alternativa de apresentação de dados antropométricos, são


os modelos computorizados. Os computadores têm sido largamente utilizados
para a análise estatística de dados antropométricos, combinação de dimensões
corporais para problemas específicos, cálculos de centros de massa, de
momentos de inércia e em muitas outras aplicações com objetivo de definir
critérios para o "design". Nos anos sessenta apareceram os primeiros modelos
computorizados do corpo humano a três dimensões com propriedades

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dinâmicas e, desde então, têm sido desenvolvidos diversos modelos


tridimensionais, com diferentes objetivos.
De um modo geral, os modelos computadorizados do homem consistem
em bases de dados antropométricos armazenados de uma forma versátil a fim
de permitir a sua leitura, manipulação, combinação e realização de cálculos
com várias finalidades.
Alguns dos diversos tipos de sistemas existentes permitem a inclusão do
modelo humano no posto de trabalho (cadeira, escritório, veiculo, etc.) pela
sobreposição das duas imagens no "écran" com uma considerável amplitude
de variação de dimensões. Assim, é possível testar o ajustamento do
equipamento às dimensões humanas. O programa SAMMIE, desenvolvido pelo
Prof. M. Bonney e cols., é um bom exemplo. Trata-se, essencialmente, de um
programa contendo uma tabela detalhada de dados antropométricos que lhe
permite gerar uma imagem tridimensional de um indivíduo de um percentil
especificado relativamente a certas dimensões. Esta imagem pode ser
visualizada num terminal gráfico, de perfil, de frente, em projeção horizontal e
em perspectiva. O programa pode também incluir na mesma imagem a
geometria do espaço de trabalho ou do equipamento a utilizar, apresentados
de idêntica forma, integrando ambas as imagens na mesma escala. A imagem
gerada pode ser movimentada sob o controlo do operador a fim de avaliar o
"design" relativamente à adequação entre as dimensões antropométricas do
utilizador, os espaços livres, o campo visual, etc. O sistema pode ser usado
como ferramenta quer de "design", quer de avaliação e tem sido utilizada em
problemas associados com o uso de veículos (camiões, automóveis, tratores,
navios, aviões e comboios), equipamentos e postos de trabalho tais como áreas
de pagamento em supermercados e "layout" de salas de controlo. Trata-se,
contudo, de um modelo essencialmente estático, não contendo dados
biomecânicos ou de inércia.

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Figura - Exemplo do "output" do modelo com computadorizado


SAMMIE, mostrando um manequim representativo de uma mulher do 95º
percentil utilizando um modelo de incubadora especialmente concebida
para tratamento de recém-nascidos. (Reproduzido de Pheasant).
Os modelos mais sofisticados incluem dados sobre a inércia e mesmo
biomecânica do corpo humano, permitindo a simulação das reações humanas
em resposta a forças externas tais como vibrações, impacto ou variações do
campo gravítico. Como exemplo, pode citar-se o Boeman, modelo avançado de
um indivíduo sentado, destinado à avaliação da geometria das cabinas de
pilotagem de avião.
Outro modelo muito sofisticado, designado por "Combiman", representa
as características estáticas e dinâmicas humanas, podendo incorporar
ambientes variáveis e diferentes postos de trabalho, a fim de avaliar as
interações entre o homem, o ambiente e o local de trabalho e os seus efeitos
combinados no desempenho das tarefas. Tanto quanto sei, constitui o mais
ergonómico de todos os modelos computadorizados construídos até hoje.
Podem ainda referir-se programas que permitem prever a percentagem
de utilizadores bem acomodados a um determinado "design" com o recurso a
técnicas de simulação, tais como o programa CAPE de Bittner e cols.

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Figura - Exemplo de imagem gerada pelo programa Boeman, um


modelo computadorizado do homem
Relações biométricas

É sabido que algumas dimensões antropométricas diferentes


apresentam boa correlação estatística entre si. Este fato pode ser útil para o
projetista em situações de escassez de tempo ou de natureza financeira que
não lhe permitem obter, por observação direta, os dados de certas dimensões
antropométricas de que necessita para resolver determinado problema.
Supondo que conhece a distribuição de uma dada dimensão, digamos, a altura
de pé, e a equação de regressão da altura do punho com aquela dimensão, ele
pode estimar os valores da altura do punho por meio dessa equação. Além
disso, se conhecer o coeficiente de correlação entre as duas variáveis, ele pode
também calcular a amplitude de variação previsível da variável dependente
assim obtida.
Outra aplicação da regressão em antropometria é o cálculo de
dimensões desconhecidas de uma dada população a partir das
correspondentes dimensões de outra população, se conhecermos as equações
e os coeficientes de regressão.
O interesse prático das técnicas de regressão depende em grande
medida da correlação entre as diferentes variáveis. É sabido que algumas estão
razoavelmente bem correlacionadas (p. ex. o peso com larguras, espessuras e

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perímetros; alturas com outras alturas, comprimentos, etc.). Por estas razões,
o projetista deve ser muito cuidadoso quanto à escolha das variáveis se
pretende obter estimativas com precisão. A premissa essencial para estas
técnicas serem de confiança é haver boa correlação entre as variáveis.
Podem ainda usar-se outros métodos para prever dimensões corporais
desconhecidas e outras estimações antropométricas entre indivíduos da
mesma população, ou mesmo entre médias de populações diferentes. Estes
métodos baseiam-se no conhecimento das relações (coeficientes) conhecidas
entre dimensões ou das proporções entre segmentos do corpo.

Figura – Estimativas dos cumprimentos de partes do corpo em pé,


em função da altura de pé (Contini e Drillis, 1966, citados por Lida)

DIMENSÕES ANTROPOMÉTRICAS ESTÁTICAS

Medição das dimensões do corpo

Conforme já foi dito, trata-se de comprimentos de segmentos lineares,


espessuras e larguras do corpo humano nu, medidos em posições
normalizadas. Existem diversos dispositivos para se fazer a medição das
dimensões antropométricas estáticas. O dispositivo mais comum é o vulgar

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antropómetro, de que existem modelos portáteis muito convenientes para


medições dentro e fora do laboratório. Outro dispositivo muito usado é bastante
conveniente pela simplicidade e economia, embora as suas dimensões tornem
impraticável a utilização fora do laboratório.

Figura - Instrumentos de antropometria: (a) Antropómetro portátil,


composto por diversos tipos de craveiras, e (b) Modelo fixo, constituído
por dois painéis com uma quadrícula graduada e banco de altura variável.
(Adaptado de Roebuck).

Outro equipamento utilizado para obter dimensões importantes para o


dimensionamento de postos de trabalho, nomeadamente, os alcances na
posição de sentados.

Figura – Aparelho construído para medir os alcances das mãos na


posição de sentado (Dempsey, 1953)

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REFERÊNCIAS

Costa, Luís Gomes, Textos de Ergonomia – Antropometria Aplicada,


Universidade do Minho, 1993
Pheasant, S., Bodyspace. Anthropometry, Ergonomics and Design, Taylor and
Francis, London, 1986
Grandjean E., Fitting the Task to the Man. A Textbook of Occupational
ergonomics, Taylor and Francis, London, 1988
Roebuck, Jr, J. A., Kroemer, K. H. E. e Thomson, W. G., Engineering
Anthropometric Methods, Wiley, New York, 1975
Lida, Itiro, Ergonomia, Projeto e Produção, Editora Edgard Blucher, Lda, S.
Paulo, 3ª Ed., 1995 Fundacion Mapfre, Manual de Ergonomia, Editorial Mapfre,
Madrid, 1995.

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