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ANTROPOMETRIA

10/11/2022
ANTROPOMETRIA
Naturalmente você já deve ter experimentado a desagradável
sensação de ter de manipular objetos localizados em lugares muito altos
ou excessivamente baixos, tanto como se ver na contingência de
manusear, com frequência, dispositivos ou aparelhos localizados a uma
distância maior do que seria razoável. Quando se trata de um telefone ou
estante em sua própria casa, menos mal, você ainda pode trocar essas
coisas de lugar e ficar mais confortável. Quando se trata de um produto
industrial que já veio de fábrica com essa configuração, resta-lhe trocar o
modelo por outro, o que já dificulta um pouco mais. Mas quando se trata
de um posto de trabalho, pode ser que você não possa sequer reclamar
disso. Você pode, assim, imaginar o problema de muitos trabalhadores
com relação a tais restrições.

A antropometria é o ramo das ciências humanas que estuda as medidas


do corpo, particularmente o tamanho e a forma. A ergonomia é a ciência do
trabalho e envolve: as pessoas que o fazem, a forma como é feito, as
ferramentas e equipamentos que elas usam, os lugares em que elas
trabalham e os aspectos psicossociais nas situações de trabalho.

A ergonomia é a ciência do trabalho e envolve as pessoas que o fazem,


a forma como é feito, as
ferramentas que elas usam, os
lugares em que eles trabalham e A meta principal é a segurança
os aspectos psicossociais das e o bem-estar dos trabalhadores
situações de trabalho (Pheasant,
no seu relacionamento com o
1998). De maneira bastante
simplificada pode ser entendida trabalho. A eficiência é
como a adaptação do trabalho ao consequência e não fim.
homem. Segundo a Ergonomics
Research Society, “Ergonomia é o
estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho, equipamento e
ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia,
fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos desse
relacionamento” (Iida, 1991). “Ergonomia é um conjunto de ciências e
tecnologias que procura a adaptação confortável e produtiva entre o ser
humano e seu trabalho, basicamente procurando adaptar as condições de
trabalho às características do ser humano” (Couto, 1995).

A ergonomia estuda uma diversidade de fatores que são: o homem e


suas características físicas, fisiológicas e psicológicas; a máquina que

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constituem todas as ferramentas, mobiliário, equipamento e instalações; o
ambiente que contempla a temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores, etc.; a
informação que refere-se ao sistema de transmissão das informações; a
organização que constitui todos os elementos citados no sistema produtivo
considerando horários, turnos e equipes; e as consequências do trabalho onde
entram as questões relacionadas com os erros e acidentes além da fadiga e o
estresse (Iida, 1991).

A antropometria é uma parte importante e funcional da ergonomia. Ela


tem como um de seus principais objetivos, contribuir na concepção
ergonômica. Na área do trabalho apresenta um grande desafio, que é
adaptar, seja na concepção ou na correção, os postos de trabalhos de acordo
com as características físicas das pessoas. Sendo que o resultado das medidas
antropométricas deve ser capaz de proporcionar maior conforto, saúde e
segurança as pessoas possibilitando uma postura adequada (OLIVEIRA,
1998).

A falta de uma norma, com parâmetros antropométricos para população


trabalhadora, impossibilita em muitos casos, que as empresas adquiram
equipamentos e máquinas, com características que se adaptem aos
trabalhadores brasileiros.

Sempre que possível e justificável, deve-se realizar as medidas


antropométricas da população para a qual está sendo projetado um produto
ou equipamento, pois equipamentos fora das características dos usuários
podem levar a estresse desnecessário e até provocar acidentes graves.
Normalmente as medidas antropométricas são representadas pela média e o
desvio padrão, porém a utilidade dessas medidas depende do tipo de projeto
em que vão ser aplicadas (Iida, 1991). Um primeiro tipo de projeto pode ser
considerado como sendo para o tipo médio.

O “homem médio” ou padrão é uma abstração, pois poucas pessoas


podem ser consideradas como padrão, porém uma cadeira construída para a
pessoa média, vai provocar menos incômodos para os muito grandes e para
os muito pequenos do que se fosse feita para um gigante ou para um anão.
Não será ótimo para todas as pessoas, mas causará menos inconvenientes do
que se fosse feita para pessoas maiores ou menores em relação à média.

• Projetos para indivíduos extremos. Uma saída de emergência


projetada pela média, provavelmente não permitiria que um indivíduo
grande sair, ou num determinado painel de controle projetado para a
população média uma pessoa baixa poderia não alcançar. Nestes casos
aplica-se o projeto para indivíduos extremos, maior ou menor,

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dependendo do fator limitativo do equipamento. Deve-se tentar
acomodar pelo menos 95% dos casos.
• Projetos para faixas da população. São equipamentos
normalmente desenvolvidos para cobrir a faixa de 5 a 95% de uma
população. Por exemplo, bancos e cintos de automóveis. Desenvolver
produtos para 100% de uma população apresenta problemas técnicos
e econômicos que não compensam.
• Projetos para o indivíduo. São produtos projetados
especificamente para um indivíduo. São raros no meio industrial. É o
caso dos aparelhos ortopédicos, roupas feitas sob medida.
Proporcionam melhor adaptação entre o produto e o usuário, mas
aumentam o custo e só são justificáveis em casos onde a possibilidade
de falha teria consequências muito graves e onerosas, como é o caso
das roupas dos astronautas, corredores de fórmula 1, etc.

Serve para seu corpo ou poderia ser melhor? Pode você


ver e ouvir tudo o que você precisa ver e ouvir? É
confortável de usar o tempo todo? É fácil e conveniente de
usar ou poderia ser melhorado? É fácil de aprender a
usar? As instruções são claras? Se sente relaxado após o
uso? Se as respostas a todas estas perguntas forem sim,
então o produto provavelmente tenha sido desenhado
pensando no usuário.

O projeto para a média é baseado na ideia que isso maximiza o conforto


para a maioria. Na prática isso não se verifica. Há diferença significativa
entre as médias de homens e mulheres, e a adoção de uma média geral acaba
beneficiando uma faixa relativamente pequena da população, cujas médias
caem dentro da média adotada. Nos casos onde há uma predominância de
mulheres, deve-se adotar a média feminina, pois isso proporcionará conforto
para essa maioria.

Uma das grandes aplicabilidades das medidas antropométricas na


ergonomia é no dimensionamento do espaço de trabalho. Iida (1991), define
espaço de trabalho como sendo o espaço imaginário necessário para realizar

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os movimentos requeridos pelo trabalho. O espaço de trabalho para um
jogador de futebol é o próprio campo de futebol e até uma altura de 2,5 m
(que é a altura de cabeceio). O espaço de trabalho de um carteiro seria um
sólido sinuoso que acompanha a sua trajetória de entregas e tem uma seção
retangular de 60 cm de largura por 170 de altura. Porém a maioria das
ocupações da vida moderna desenvolve-se em espaços relativamente
pequenos com o trabalhador em pé ou sentado, realizando movimentos
relativamente maiores com os membros do que com o corpo e onde devem ser
considerados vários fatores como: postura, tipo de atividade manual e o
vestuário.

Dentro do espaço de trabalho as superfícies horizontais são de especial


importância, pois são sobre elas que se realiza grande parte do trabalho. Na
mesa de trabalho os equipamentos devem estar corretamente posicionados
dentro da área de alcance que corresponde aproximadamente a 35 – 45 cm
com os braços caídos normalmente e de 55 a 65 cm com os braços estendidos
girando em torno do ombro. A altura da mesa também é muito importante,
principalmente para o trabalho sentado, sendo duas varáveis as
responsáveis para a determinação da sua altura, a altura do cotovelo, que
depende da altura do assento e o tipo de trabalho a ser executado. A altura
da mesa resulta da soma da altura poplítea e da altura do cotovelo. Com
relação ao tipo de trabalho deve-se considerar se este será realizado a nível
da mesa ou em elevação. O assento é, provavelmente, uma das invenções que
mais contribuiu para modificar o comportamento humano. Muitas pessoas
chegam a passar mais de 20 horas por dia na posição sentada e deitada. Daí
o grande interesse dos pesquisadores da ergonomia com relação ao assento.
Na posição sentada, o corpo entra em contato com o assento só através da
sua estrutura óssea. Esse contato é feito através das tuberosidades
isquiáticas que são recobertas por uma fina camada de tecido muscular e
uma pele grossa, adequada para suportar grandes pressões. Em apenas 25
cm2 de superfície concentra-se 75% do peso total do corpo. Com relação aos
assentos, deve-se observar os seguintes princípios gerais: 1) existe um
assento adequado para cada tipo de função, 2) as dimensões do assento
devem ser adequadas às dimensões antropométricas, 3) o assento deve
permitir variações de postura, 4) o encosto deve ajudar no relaxamento, 5)
assento e mesa formam um conjunto integrado (Iida, 1991).

Estudo antropométrico

Um estudo antropométrico abrange os métodos e técnicas que nos


possibilitam obter um conjunto satisfatório de medidas e conformações do

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corpo ou partes do corpo humano. Isso se materializa por meio de um
levantamento estatístico da população local (amostral ou censitário).2 A
obtenção das medidas corporais é possível, graças a alguns equipamentos
existentes no mercado – escala antropométrica ou antropômetro – ou por
métodos mais elaborados de captura de dados, como fotogrametria ou
digitalização humana (body-scan).

O estudo antropométrico é uma etapa necessária para a definição do


projeto, sua correção dimensional mediante verificação estática, e,
contrariamente ao que muitos pensam, é responsável direto por parte
importante da dinâmica dos movimentos. Caso o aspecto dimensional de um
posto de trabalho estiver mal elaborado, certamente o operador será obrigado
a adotar posturas forçadas, num dado momento, ou executar uma sequência
de movimentos desequilibrados numa configuração dinâmica. Esse fato pode
ser facilmente observado em postos cujos pontos de atuação estão muito
altos, obrigando o operador a abduzir os ombros, ou flexionar os punhos. Em
contrapartida, quando o ponto de trabalho estiver abaixo do recomendado,
haverá flexão do tronco numa orientação pelo menos desconfortável.

Estudos de antropometria estática

O estudo antropométrico estático tem por objeto as dimensões e


características do corpo parado. Ele visa, num primeiro momento,
estabelecer o melhor dimensionamento possível para alcance, uso, manuseio,
deslocamento, encaixe ou acesso.

Distribuições antropométricas

Distribuições antropométricas são distribuições estatísticas de


dimensões humanas. Em antropometria empregamos os percentis de 1%, 5%
e 10% para os limites inferiores e os limites superiores de 90%, 95% e 99%.
Um percentil significa um valor calculado e que nos garante um limite
(superior ou inferior) de pertinência a uma classe de equivalência.

Como isso funciona? A curva de Gauss, a distribuição de uma medida,


da forma como mostramos, nos responde à seguinte pergunta: quantas
pessoas encontramos numa dada faixa de medidas. Se voltarmos ao nosso
exemplo de comprimentos de pernas de 74, 72, 71, 83, 73, 85, 72, 75, 73, 80,
81 e 82 cm, quantas pessoas encontramos entre 72 e 75 de altura de quadris?
A resposta é cinco, e isso pode seu observado diretamente nas curvas de
Gauss abaixo.

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Leiamos essas figuras. À esquerda temos a distribuição da frequência
relativa em torno da média, chamada de curva de Gauss. Ela nos fornece a
frequência relativa da faixa de medidas (classe de equivalência). A
frequência relativa da classe de estaturas entre 72 e 75 é de cinco por cento
(5%). Ao lado temos a curva de frequência acumulada onde cada ordenada
expressa a frequência acumulada desde o mínimo e até o ponto em que se
avalia (medida limite), ilustrado pelas setas. Tomando a estatura de 1,85
como limite, abaixo dela encontraremos 82,5% da população.

Se fizermos outra pergunta-, por exemplo, quantas ocorrências existem


dentro de certo intervalo, teremos que realizar uma série de cálculos. Pois a
figura acima, inicialmente, nos indica que:

• Até 71cm = 3 casos;


• Até 79cm = 16 casos (os três até 71, cinco entre 72 e 75 e os entre
76 e 79);
• Até 83cm = 27 casos (o total anterior mais os 11 adicionais entre
79 e 83).

E assim sucessivamente. O percentil 5% significa que 5% da população


está abaixo daquele valor. O percentil 95% significa que esse valor engloba
95% da população. E a média? Ela fica no meio, pois corresponde ao percentil
50%.

Cálculo dos percentis antropométricos

O cálculo de percentis de uma população real pode ser feito de duas


formas com dados locais: casos em que é necessária uma coleta de dados –
mediante calculo numérico ou mediante o uso da curva de Gauss
normalizada. Em alguns casos se pode empregar uma referência estrangeira,
pois já existem parâmetros de ajuste delas para a população brasileira. No

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entanto, a vantagem da facilidade é contrabalançada pelo fato de que esses
ajustes introduzem uma razoável imprecisão.

1. Mediante cálculo numérico

Para o cálculo numérico, nossa coleta de dados nos deverá ter


possibilitado o estabelecimento de parâmetro relativo à média e do desvio
padrão(s) da população. Partimos da constatação de que se a média
representa o percentil 50%, o percentil inferior estará abaixo da média e o
percentil superior acima dela.

Assim sendo, de posse de uma coleta de dados se calculam os valores da


média e desvio padrão, e tenta-se chegar ao valor de cada percentil.

2. Uso de tabelas padronizadas

Podemos obter essas medidas diretamente com o uso de tabelas


padronizadas. Esses padrões são dados por diferentes normas técnicas
nacionais e internacionais. No Brasil destacamos as normas da ABNT NBR
6068:1879 – Pesos e dimensões de adultos para uso em veículos rodoviários
Eletrônico e NBR 15127:2004 – Corpo humano – Definição de medidas. No
exterior os materiais mais criteriosos são os do FES 300 COMMITTEE,
organizado pela Sociedade Norte-americana de Ergonomia (HFES) e os da
própria ISO, do qual deriva o padrão NBR 15127. Essas tabelas utilizam um
valor de entrada (a estatura, por exemplo) ou um critério (um percentil
estabelecido). Com esse parâmetro, ao longo da mesma linha ou coluna
obtemos as demais medidas correspondentes ao valor ou ao percentil. Entre

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as publicações disponíveis, o software Ergokit desenvolvido pelo INT/RJ é o
mais interessante, já que apresenta os dados já calculados de algumas
populações típicas do Rio de Janeiro, cidade com forte componente migratório
das demais regiões brasileiras (Figura 17.4).

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3. Uso de material estrangeiro

No âmbito internacional temos dados confiáveis acerca de várias


populações, especialmente a latino-americana (Charaud; Prado, 2008). Nos
países europeus e norte-americanos as tabelas antropométricas fazem parte
de seus acervos normativos e estão disponíveis nos institutos de normas de
cada pais (AFNOR na França, BSI na Inglaterra, ANSI nos USA). No
entanto um cuidado particular é requerido no que tange ao uso de medidas
ditas internacionais para projetos no Brasil. A obtenção de dados mediante
a utilização de tabelas elaboradas em outros países é algo delicado, dado que
o biótipo brasileiro é diferente do europeu, que é diferente do asiático, e assim
por diante. Tais diferenças chegam a ser muito diferentes ao compararmos
certas partes do corpo. Numa pesquisa realizada na COPPE/UFRJ ficou
demonstrado que os pés dos europeus eram mais compridos e finos do que os
pés dos brasileiros, tipicamente mais curtos e altos. E a indústria calçadista,
por tradição, empregava, até então, moldes alemães (Lacerda, 1884).

O mesmo cuidado deve ser tomado ao se cogitar o uso de softwares


importados, alguns disponíveis para baixar na internet. A população de
referência não é a brasileira e isso invalidaria o uso desses dados em
dimensionamentos e em projetos, se a população de usuários for tipicamente
nacional. Uma aproximação desses dados com a população brasileira é
considerar um fator de correção de 0,96 para a migração desses dados (Iida,
2005). Mas, ponderemos se trata de manobra arriscada e que não
aconselhamos empregar em situações onde um melhor projeto seja
requerido.

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EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
- A contribuição da antropometria para adequação do posto de trabalho
na embalagem de linguiça granada: estudo de caso na agroindústria;

- Antropometria da Mão Humana: Influência do Gênero no Design


Ergonômico de Instrumentos Manuais;

- Avaliação antropométrica de trabalhadores em indústrias do polo


moveleiro de Ubá, MG;

- Mobiliário escolar: antropometria e ergonomia da postura sentada;

- Avaliação ergonômica da cabine de um trator florestal;

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