Você está na página 1de 38

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA

CAMPUS SÃO GABRIEL


CURSO DE GESTÃO AMBIENTAL

ANÁLISE AMOSTRAL DA CARACTERIZAÇÃO TUMULAR E


GESTÃO DO CEMITÉRIO DE SÃO GABRIEL

Trabalho de Conclusão de Curso


Renara Bittencourt Vieira

São Gabriel – RS
Julho, 2018
Renara Bittencourt Vieira

ANÁLISE AMOSTRAL DA CARACTERIZAÇÃO TUMULAR E GESTÃO DO


CEMITÉRIO DE SÃO GABRIEL

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Graduação
em Gestão Ambiental, da Universidade
Federal do Pampa, como requisito
parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Gestão Ambiental.

Orientadora: Drª Cibele Rosa Gracioli

São Gabriel – RS
Julho, 2018
Mas eis a hora de partir: eu para morte,
vós para a vida. Quem de nós segue o
melhor rumo ninguém o sabe, exceto os
deuses.
Sócrates
À professora Drª Nara Rejane Zamberlan dos
Santos (in memoriam), a quem esteve comigo
ao longo da jornada acadêmica, orientando,
transmitindo o seu conhecimento com muito
carinho.

Dedico
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, à professora Drª Cibele Rosa Gracioli, que aceitou orientar-me


e principalmente desafio de orientar um trabalho que já havia sido iniciado, onde
contribuiu grandiosamente e tornou o término este Trabalho de Conclusão de Curso
possível, à ela não tenho palavras para agradecer, o companheirismo, a amizade e
o acolhimento.
Agradeço imensamente a amizade, o carinho, os ensinamentos acadêmicos,
os valores pessoais e a confiança que a grandiosa professora Drª Nara Rejane
Zamberlan dos Santos sempre dispôs à mim, agradeço ao Grande Pai, pelo
convívio, com esse ser iluminado e de um amplo conhecimento. À Nastaja
Cassandra Zamberlan dos Santos, pelas palavras de incentivo, apoio emocional e
amizade nos momentos difíceis.
Agradeço imensamente a minha família, pelo carinho, compreensão e apoio,
em especial, agradeço a minha adorável Eliara, que esteve ao meu lado em todos
os momentos da minha vida, inclusive na aplicação do instrumento de pesquisa
deste trabalho à campo, pessoa que com sua sabedoria e amor auxiliou-me a
sempre superar e continuar. Meu irmão maravilhoso, César, só tenho à agradecer
todos os momentos juntos, a amizade, companheirismo e as alegrias. Aos eternos
Lenóra e Raul que ensinaram-me valores como solidariedade, simplicidade, amor ao
próximo e principalmente a valorização do viver.
Aos amigos de escola, Guilherme Afonso e Stephane Ayres que sempre
estiveram comigo, agradeço pela amizade, pelas conversas, risadas e momentos de
lazer durante o tempo de graduação. Ao meu colega e grande amigo Felipe Barreto
pelo companheirismo, e amizade ao longo do curso.
RESUMO

Os cemitérios brasileiros foram fundados após 1850, por medidas de vigilância


sanitárias, tendo em vista que anterior a esta data, os cemitérios eram dentro e nos
entornos das igrejas, onde a crença era que os entes queridos poderiam descansar
próximos a Deus. O presente trabalho de conclusão de curso tem como objetivo
analisar as tipologias, os materiais construtivos, a ornamentação funerária usual, as
patologias contidas nas sepulturas e o estado de conservação dos bens tumulares
no Cemitério da Irmandade da Santa Casa de Caridade - São Gabriel. A
metodologia consistiu na busca por bibliografias sobre a história dos cemitérios,
desde os primeiros povos, a arte funerária bem como, referencias que
correlacionassem cemitério e meio ambiente. Construiu-se um instrumento de
pesquisa exploratória, onde foram amostradas quarenta e oito sepulturas, de duas
alas distintas do cemitério. Em relação às tipologias, os jazigos e os túmulos eram
mais predominantes na Ala Oeste, que na Ala Leste, a maior quantidade de
grandiosidades encontrou-se na Ala Leste e as covas apresentaram as mesmas
quantidades em ambas as alas; os materiais construtivos mais aparentes foram
alvenaria pintada em jazigos e túmulos; em relação ornamentação funerária há uma
simetria nos adornos e o uso nas duas alas; Os danos causados pela natureza mais
recorrentes são causados pela umidade, vegetação e musgos e liquens, também
nas duas alas, os causados pelas ações humanas mais recorrentes foram partes
faltantes nos ornamentos e na própria sepultura. O dano temporal mais constante
em ambas as alas foram rachaduras e as tricas; atualmente há bens tumulares em
estado ruim, abandonados e até mesmo em ruinas, principalmente na Ala Oeste.
Contudo, os danos podem trazer inúmeros impactos à conservação do cemitério,
tanto no âmbito ambiental como histórico.

Palavra-chave: bens tumulares, gestão de cemitério, conservação cemiterial.


ABSTRACT

The Brazilian cemeteries were established after 1850 due to sanitary surveillance
needs. Before that date, cemeteries were placed inside and around the church
settings where the belief was that loved ones could rest close to God. The aim of this
study was to analyze the typologies, the constructive materials, the usual funerary
ornamentation, the pathologies contained in the graves and the state of preservation
of the grave goods in the Cemetery of the “Irmandade da Santa Casa de Caridade” -
São Gabriel. The methodology consisted in searching for bibliographies about the
history of cemeteries, from the earliest peoples, funerary art as well as references
correlating cemetery and environment. An exploratory research instrument was
constructed, where 48 graves were sampled, from two distinct wings of the cemetery.
In relation to the typologies, the deposits and tombs were more predominant in the
West Wing than in the East Wing, the greater amount of grandiosities was found in
the East Wing and the pits presented the same quantities in both wings. The most
apparent building materials were masonry painted in graves and tombs. Concerning
the funerary ornaments, there is symmetry in the adornments and the use in the two
wings. The most recurrent nature damage is caused by moisture, vegetation and
mosses and lichens, also in the two wings, those caused by the most recurrent
human actions were missing parts in the ornaments and in the grave itself. The most
constant temporal damage in both wings were cracks. There are currently bad,
abandoned, and even ruined tumulatory goods, especially in the West Wing.
However, the damage can bring innumerable impacts to the conservation of the
cemetery, in the environmental as well as historical scope.
 
Keyword: grave goods, cemetery management, cemetery conservation
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Imagem de satélite do Cemitério da Irmandade da Santa Casa de


Caridade de São Gabriel............................................................................................17
Figura 2 - Tipologias de sepulturas encontradas no cemitério: A) covas, B) túmulos,
C) jazigos e D) grandiosiades....................................................................................18
Figura 3 - Representação gráfica dos tipos de sepulturas encontradas nas Alas
amostradas. Cemitério de São Gabriel, 2018...........................................................19
Figura 4 - Tipos de materiais construtivos encontrados na amostra da Ala Leste. São
Gabriel, 2018.............................................................................................................20
Figura 5 - Tipos de materiais construtivos encontrados na amostra da Ala Oeste.
São Gabriel, 2018......................................................................................................21
Figura 6 - Sepultura em uso na Ala Leste. São Gabriel, 2018...................................22
Figura 7 - Sepultura em uso na Ala Oeste. São Gabriel, 2018..................................23
Figura 8 - Conservação da Ala Leste. São Gabriel, 2018..........................................24
Figura 9 - Conservação da Ala Oeste. São Gabriel, 2018.........................................25
Figura 10 - Danos pela ação humana na Ala Leste. São Gabriel, 2018....................26
Figura 11 - Imagens de túmulos abertos. São Gabriel, 2018....................................27
Figura 12 - Danos pela ação humana na Ala Oeste. São Gabriel, 2018...................28
Figura 13 - Danos Naturais Ala Leste. São Gabriel, 2018.........................................29
Figura 14 - Danos Naturais Ala Oeste. São Gabriel, 2018........................................30
Figura 15 - Danos causados pelo tempo na Ala Leste. São Gabriel, 2018...............31
Figura 16 - Danos causados pelo tempo na Ala Oeste. São Gabriel, 2018..............32
Figura 17 - Ornamentos funerários das Alas Leste e Oeste. São Gabriel, 2018.......33
SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO....................................................................................................... 10
2. REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................... 11
2.1 Cemitérios: evolução histórica.................................................................... 11
2.2 A arte cemiterial.......................................................................................... 12
2.3 Cemitério e Meio Ambiente ....................................................................... 14
3. METODOLOGIA................................................................................................... 16
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................................ 18
5. CONCLUSÃO....................................................................................................... 34
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 35
7. REFERÊNCIAS .................................................................................................... 36
APÊNDICE................................................................................................................ 38
10

1. INTRODUÇÃO

A arqueologia nos revela que desde a pré-história desenvolveu-se a cultura de


dar destino aos corpos dos mortos, sendo eles muitas vezes enterrados, dispostos
em cavernas para que pudesse assim decompor, ou até mesmo cobertos por
pedras, e assim foram surgindo os primeiros cemitérios, embora a palavra cemitério
só tenha ganhado sentido séculos depois. Lugar de descanso, este era o significado
empregado à palavra cemitério.
Os cemitérios são monumentos históricos, podendo abranger diversas culturas
e contar as mais diferentes historias de um povo. Segundo Castro (2004), o
cemitério é um lugar de muitos significados e território de diversas crenças, o
cemitério com suas imagens, seus símbolos, suas referências, são importantes
fontes para a construção da história. Atualmente existem tipos distintos de
cemitérios: os cemitérios parques, os verticais e os horizontais.
Os cemitérios parques possuem covas subterrâneas, identificações em cruzes
e epitáfios, sendo todo gramado, com jardins e bosques, caracterizando um
ambiente tranquilo para visitação e lazer, a opção por este tipo de cemitério
começou na década de 60, no Brasil, em estados como São Paulo, Salvador e Rio
de Janeiro.
Os cemitérios horizontais são os modelos mais antigos de cemitérios
encontrados no Brasil, possuem túmulos, jazigos, mausoléus, um ambiente rico em
sua arquitetura e arte funerária. Já os cemitérios verticais, surgiram com o propósito
de otimizar os espaços físicos, principalmente nas grandes cidades.
O objetivo deste trabalho foi conduzir um estudo no Cemitério da Irmandade
da Santa Casa de Caridade - São Gabriel (CISCC-SG), visando levantar a
problemática da influencia da conservação cemiterial para o meio ambiente. Os
aspectos analisando foram: os tipos de sepulturas, as tipologias construtivas, os
ornamentos funerários, os danos que as sepulturas apresentam e o estado atual de
conservação das mesmas.
11

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Cemitérios: evolução histórica

Há milhares de anos antes de Cristo, os homens desenvolveram o hábito de


cultuar os cadáveres de seus familiares. Segundo Gomes (2014), em um
acompanhamento da evolução histórica observou-se que os cemitérios teriam um
sentido de necrópole, de campo santo e de descanso eterno, com destinação
específica, sendo formado por duas ou mais sepulturas.
Segundo Araújo (2006), descobertas arqueológicas revelaram sepultamentos
requintados, onde os defuntos encontravam-se rodeados de diversos utensílios,
armas, joias e muito ouro. Os primeiros sepultamentos surgiram a partir da
necessidade de um lugar seguro para depositar o cadáver, devido ao incômodo
causado pela decomposição dos corpos, seja numa cova ou num processo de
inumação natural, dentro de uma gruta ou caverna (BAYARD, 1996).
Conforme Araújo (2006), na cultura greco-romana existem muitos costumes que
deram origem às formas atuais de culto aos mortos e preservação de sua memória.
Desde então, a cremação e o enterramento são duas das práticas fúnebres mais
utilizadas, sendo o enterramento a prática mais comum. Os ritos fúnebres são
muitos e variados, e evoluem não só com os costumes regionais, mas também com
a idade, o sexo e a posição social do defunto (ARAÚJO, 2006).
Para Gomes (2014), nas Leis das XII Tábuas, em Roma, havia sido
estabelecido na décima tábua, que não era permitido sepultar ou incinerar os mortos
dentro da cidade. Sendo assim, o povo romano passou a sepultar seus entes
queridos em suas casas de campo ou nas estradas, construindo jazigos. Gomes
(2014), também no trás que embora as Leis das XII Tábuas proibissem os
sepultamentos dentro dos muros da cidade, alguns romanos continuavam com tais
práticas, pois o Imperador havia autorizado os sepultamentos dentro e fora da
cidade, assim surgindo os primeiros cemitérios ao redor das igrejas ou até mesmo
dentro delas. Sendo eles, os cemitérios, que mais se assemelham aos que temos
hoje, oriundos da Idade Média, quando os mortos passam a lotar as dependências
da igreja e o seu redor (ARAÚJO, 2006).
A palavra cemitério significa lugar de dormir, ou lugar de descansar. Conforme
12

Carneiro (2012), a palavra cemitério foi atribuída aos terrenos destinados às


sepulturas dos mortos, pelos primeiros cristãos. Por Araújo (2006), são chamados
de cemitérios também os conjuntos tumulares verticais, nos quais o morto é
depositado numa gaveta, de inspiração nas catacumbas cristãs, que por sua vez
possuem um caráter prático devido à falta de espaço nas grandes cidades.
O Brasil, sendo colônia de Portugal, seguia a legislação portuguesa, onde
recomendava-se que os cemitérios fossem construídos ao ar livre e distantes das
aglomerações urbanas (GOMES, 2014). Conforme Araújo (2006), no Brasil, os
cemitérios fora da Igreja surgiram no início do século XIX, quando os médicos,
influenciados pelas ideias higienistas europeias, começam a intervir nos setores da
saúde pública.
A partir do momento em que os cemitérios foram sendo construídos ao ar livre,
a arte funerária começou a evoluir. Segundo Araújo (2006), foi no século XVIII que
as placas de identificação, algumas com epitáfios, se tornavam cada vez mais
comuns. A confecção dos túmulos passou a refletir uma nova mentalidade, pois até
a Renascença somente os nobres mereciam túmulos com estátuas decorativas, a
partir do século XIX a produção em escala industrial popularizou tal uso (ARAÚJO,
2006).

2.2 A arte cemiterial

Denominou-se arte tumular ou arte funerária as obras e alegorias que tem por
fim decorar as sepulturas nos cemitérios. Atualmente em todas as grandes cidades,
os cemitérios ostentam túmulos que são verdadeiras obras de arte, assinadas por
escultores de renome (ARAÚJO, 2006).
Segundo Carneiro (2012), os egípcios tinham muitas habilidades relacionadas
as esculturas dedicadas ao culto da morte, porém foram os gregos que
relacionaram à essas esculturas um ideal de beleza, que combinaria com
idealismo, emoções humanas e racionalidade. Sendo assim, originou-se a
romantização da morte. Conforme Santos e Freitas (2012), trás que
A representação da dor é o tema favorito da escultura funerária,
apresentando uma espécie de tributo pago indiretamente à morte,
assim como efígies recostadas, relevos induzindo à ideia de
separação, onde, na maioria das vezes, o sobrevivente divide
sentimentos e pensamentos com o morto que repousa no túmulo. Na
maioria dos monumentos funerários, entretanto, a ideia da morte era
13

rejeitada, e o defunto era relembrado como era em vida (SANTOS,


FREITAS, 2012, p. 36).
Os monumentos funerários nos remetem ao ente querido, como uma
mensagem, por suas características e estilo de vida, sendo uma maneira de
honraria e homenagem pelos parentes vivos. Esta mensagem tem como caráter de
enaltecer o sepultado, destacando a sua importância na sociedade a que pertenceu
enquanto vivo (CARVALHO, 2015). Até mesmo o mais simples dos epitáfios
representam o sentimento e o carinho dos familiares do falecido. As escritas nos
epitáfios referenciam-se a algo ou alguém que foi bom e que se sente falta
(CARVALHO, 2015).
Segundo Carvalho (2015), a arte funerária é muito ampla, compreendendo
artefatos, modelos construtivos, técnicas, tradições e expressões, podendo ser
identificada pela estrutura urbanística e arquitetônica dos cemitérios, como seu
traçado, portais, paisagismos e todas as características das edificações fúnebres.
Os túmulos podem ser construções arquitetônicas de tipologias e materiais
variados, lápides e campas de em tamanhos e formatos diversos.
Ainda conforme Carvalho (2015), a ornamentação utilizada na arte fúnebre
pode tratar-se de pinturas e mosaicos, esculturas de tamanhos variados, fotografias
em porcelana, epitáfios e suas mensagens, gradis em metal, elementos de
sustentação, como pilares e colunas, também consideramos ornamentação os
elementos menores, como puxadores, fechaduras e vasos. Até mesmo os pisos das
edificações são considerados ornamentos. Os epitáfios, as fotos e a decoração das
sepulturas revelam como o morto é visto pelo seu grupo familiar e social,
geralmente de forma idealizada (ARAÚJO, 2006).
Conforme Bellomo (2000), a cidade dos mortos e suas artes podem ser
analisadas como fonte histórica para preservação da memória familiar ou da
memória coletiva, fonte de estudo das simbologias das crenças religiosas, fonte de
expressão do gosto artístico, como forma de expressão da ideologia política, forma
de preservação do patrimônio histórico ou como fonte de preservação das
identidades étnicas. Assim, as obras tumulares buscam aprimorar o caráter dos
indivíduos representados, através da exaltação da coragem, prudência e firmeza
(ARAÚJO, 2006).
Segundo Carneiro (2012), em nosso país as alegorias foram utilizadas pela
burguesia em ascensão, nas busca de se sobressair perante a sociedade, assim
14

demonstrando o aumento do poder politico e econômico. Carneiro (2012), ainda nos


trás que as alegorias não esta presentes somente nos jazigos suntuosos,
representadas por estatuas de expressivo valor artístico, mas também em túmulos
mais simples, através de pequenos adornos, relevos, inscrições e estatuetas eu
possuem o mesmo valor de representação. Desse modo, o potencial informativo
sobre as identidades das comunidades em que estão inseridos, para preservar a
memória dos indivíduos que estão lá sepultados, bem como dos contextos de que
faziam parte (ARAÚJO, 2006).

2.3 Cemitério e meio ambiente

Conforme Ariès (1989), os cemitérios da antiguidade eram localizados fora dos


limites das cidades, pois havia medo da poluição causada pelos cadáveres em
putrefação. No entanto, conforme o crescimento das cidades, mesmo que tenham
levado os cemitérios para as regiões altas, muitos hoje fazem parte de suas áreas
urbanas (GOMES, 2014).
Segundo Anjos (2013), no ponto de vista científico, existe um
desconhecimento sobre a influência ambiental que os cadáveres têm quando
dispostos em um cemitério. No cenário brasileiro, tornou-se alarmante a forma como
as necrópoles estão sendo gerenciadas, podemos assemelhar um cemitério com
um aterro sanitário, visto que em ambos são enterrados materiais orgânicos e
inorgânicos. Porém, existe um agravante, a matéria orgânica enterrada no cemitério
tem a possibilidade de carregar consigo bactérias e vírus que foram a causa da
morte do indivíduo, podendo colocar em risco o meio ambiente e a saúde pública.
Para Kemerich et al. (2014), os problemas estruturais dos cemitérios podem
ser considerados os principais agentes causadores da contaminação do solo e da
água subterrânea com patógenos e metais pesados, em virtude de sua aplicação
sem prévio estudo ambiental e da má conservação dos túmulos. Migliorini et. al.
(2006), acreditam que alguns impactos ambientais relacionados a águas
subterrâneas podem ser oriundos de cemitérios, considerando que a decomposição
de corpos libera um líquido tóxico chamado necrochorume.
O necrochorume é um liquido viscoso, pardo amarelado composto por agua,
sais minerais e substâncias orgânicas, como a putrescina e a cadaverina, ambas
altamente tóxicas. O processo de decomposição de corpos libera diversos metais
15

que formam o organismo humano, sem falar dos diferentes utensílios que
acompanham o corpo e o caixão em que ele é sepultado (KEMERICH et al., 2012).
Além desse entendimento, o mesmo autor, explana que durante o processo de
decomposição orgânica, além dos líquidos liberados há emissão também de alguns
tipos de gases, entre eles principalmente os característicos da decomposição
anaeróbica, como o gás sulfídrico, incluindo dióxido de carbono, gás carbônico,
metano, amônia e hidrato de fósforo. A falta de medidas de proteção ao ambiente
no sepultamento de corpos humanos em covas no solo, ao longo dos últimos
séculos, fez com que a área de muitos cemitérios fosse contaminada por diversas
substâncias orgânicas e inorgânicas, e por microrganismos patogênicos
(KEMERICH et al., 2014).
Segundo Kemerich (2012), criou-se uma polêmica em torno dos potenciais
contaminante de cemitérios, levando os órgãos de vigilância e proteção ambiental a
fiscalizar e multar cemitérios (públicos e privados), que estivesse de acordo com a
nova legislação. O mesmo autor ainda afirma que as áreas ocupadas pelos
cemitérios necessitam de monitoramento contínuo do solo, águas (superficiais e sub
superficiais), considerando a contaminação em potencial das aguas nas regiões em
que estão situados os cemitérios. Sendo assim, preocupações com a implantação,
localização e operação de cemitérios se fazem necessárias para que não ocorram
problemas sérios de contaminação de mananciais de abastecimento, evitando
assim efeitos nocivos à população (ANJOS, 2013).
16

3. MATERIAL E MÉTODOS

Para o presente trabalho, a fim de proporcionar maior familiaridade com o


problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses, optou-se
pela pesquisa exploratória, aliada com a pesquisa descritiva que têm como objetivo
primordial a descrição das características de determinado fenômeno ou estabelecer
relações entre variáveis (GIL, 2002).
A pesquisa exploratória qualitativa e quantitativa descritiva, aplicada no
Cemitério de São Gabriel, 30º19’29S e 54º20’25O, objetivando identificar as
tipologias, os materiais construtivos, as ornamentações funerárias, as patologias e
as caracterizações da conservação dos bens tumulares.
O Cemitério da Irmandade da Santa Casa de Caridade de São Gabriel
apresenta alas do tipo horizontal e alas do tipo vertical, para o presente estudo
utilizaram-se as alas do tipo horizontais.
Neste estudo utilizaram-se o total de quarenta e oito (48) amostras tumulares.
Estas amostras foram selecionadas ao acaso, em transectos. O método de
transectos são conjuntos de paralelos, linhas equidistantes sendo delimitadas
através de croquis, mapas ou fotografias do local ou foto. Spurr (1952), resporta que
uma amostragem aleatória pode ser usada quando não há variação da sistemática.
Assim utilizou-se como ponto de referência o Portão Principal, dividindo as amostras
em dois grupos, a Leste do Portão e a Oeste do Portão (Figura 1).
17

Figura 1- Imagem de satélite do Cemitério da Irmandade da Santa Casa de


Caridade de São Gabriel

Fonte: Google Earth

O Instrumento exploratório para viabilizar a analise é apresentado em


Apêndice A. Este Instrumento apresenta itens que foram respondidos à partir da
exploração e descrição realizada no período de Março a Maio de 2018.
18

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As tipologias de sepulturas encontradas no cemitério são covas, túmulos,


jazigos e grandiosidades, também conhecidas como mausoléus. As covas são
sepulturas abaixo do solo, normalmente identificada apenas por cruzes e epitáfios,
os túmulos pertencem à mesma categoria dos jazigos, porém sua tipologia
caracteriza-se por sepulturas com apenas um nível acima do solo e os jazigos são
os monumentos com mais de um nível acima do solo, portando gavetas e sempre
no sentido horizontal, e por fim a tipologia grandiosidade ou mausoléu que
ultrapassam as dimensões dos jazigos, os remetendo a formas de capelas, ou até
mesmo casas (Figura 2).

Figura 2 – Tipologias de sepulturas encontradas no cemitério: A) covas, B)


jazigos, C) túmulos e D) grandiosiades. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.


19

A Ala Leste reuniu 24 amostras, sendo destas 43% de jazigos, 29% túmulos,
13% grandiosidades e 12% covas, já na Ala Oeste, também com vinte e quatro (24)
amostras, dispôs da mesma porcentagem para jazigos e túmulos, sendo eles 42%,
12% covas e apenas 4% de grandiosidades (Figura 3). Considera-se que perante a
amostragem a Ala Leste, apresenta maior numero grandiosidades visto que a
mesma está localizado ao centro do cemitério. Neste local as arquiteturas
apresentam mais requinte em seus materiais, estabelecendo uma representação de
alteridade. 1

Figura 3 - Representação gráfica dos tipos de sepulturas encontradas nas Alas


amostradas. Cemitério de São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

A arquitetura da construção cemiterial pode utilizar diversos recursos materiais,


algumas opções zelam pela simplicidade, como alvenaria pintada, alvenaria
revestida de azulejos, mas também para os que preferem empregar maiores
investimentos financeiros, há alvenaria revestida com mármore, granito e pedras.
A pesquisa verificou que na Ala Leste há três (03) covas, uma (01) com
identificações em pilares de alvenaria revestida com granito, e outras duas (02)
covas que apresentam outros materiais construtivos, uma (01) grama natural e uma

1
Representação da alteridade é um termo antropológico. Para Arruda (1999), a representação de
alteridade é a posição do homem em seu âmbito social e as relações em que ele estabelece nesse
meio.
20

(01) grama sintética; que existem sete (07) túmulos, sendo que três (03) são de
alvenaria pintada, dois (02) de alvenaria revestida com mármore, e dois (02) com
granito, ainda há onze (11) jazigos, sendo eles cinco (05) de alvenaria revestida
com azulejos, quatro (04) de alvenaria pintada, um (01) de alvenaria revestida com
mármore, e um (01) com granito, e, das três (03) grandiosidades presentes na
amostra, uma (01) é feita de alvenaria revestida com granito, uma (01) de alvenaria
pintada e uma (01) de outro material, sendo ele alvenaria revestida com pedras
(Figura 4).

Figura 4 - Tipos de materiais construtivos encontrados na amostra da Ala


Leste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

A Ala Oeste apresentou três (3) covas com (3) três distintos materiais
construtivos, uma (1) alvenaria com mármore, uma (1) de alveneria com azulejo, e
uma (1) de outro material, sendo ele grama natural, existem dez (10) tumulos, seis
(6) de alvenaria pintada, dois (2) de alvenaria revestida com azulejo e dois (2) com
outros materiais, neste caso alvenaria pura, há dez (10) jazigos, quatro (4) de
alvenaria pintada, um (1) de alvenaria revestida com mármore, um (1) com azulejo e
quatro (4) de outros materiais, sendo eles, tijolos à vista, uma (1) única
grandiosidade com outros materiais, que por sua vez é alvenaria revestida com
21

pedras (Figura 5).

Figura 5 - Tipos de materiais construtivos encontrados na amostra da Ala


Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

Segundo Kemerich et al. (2012), os túmulos em ruínas, com rachaduras que


permitem infiltração em especial das águas de chuva, problemas provocados pela
compactação do solo por raízes de árvores de maior porte, além de negligência de
proprietários de jazigos em cemitérios também favorecem de maneira específica a
contaminação do lençol freático com impactos ambientais capazes de afetar a
saúde pública. Contudo, a pesquisa revelou que as amostras da Ala Leste, as três
(3) covas existentes encontram-se em uso, os onze (11) jazigos estão em uso, as
três (3) grandiosidades estão sendo utilizadas, porém dos sete (7) túmulos, seis (6)
estão em uso e um está em ruínas (Figura 6).
22

Figura 6 – Sepultura em uso na Ala Leste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

A Ala Oeste, das três (3) covas existentes, duas (2) estão em uso, e uma (1)
está abandonada, dos dez (10) túmulos estudados, oito (8) estão em uso e dois (2)
estão em ruinas, dos dez (10) jazigos, oito estão sendo utilizados e dois (2) estão
abandonados, a uma (1) única grandiosidade dessa amostra encontra-se em uso
(Figura 7).
23

Figura 7 – Sepultura em uso na Ala Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

Manter os cemitérios conservados é de extrema importância para o meio


ambiente, visto que existe uma situação polêmica em torno dos seus potenciais
contaminantes. O estudo observou o estado de conservação de cada sepultura em
cada uma das alas em exploração. Na Ala Leste apenas um (1) tumulo amostrado
encontra-se em estado ruim, tres (3) jazigos e um tumulo em estudo regular, os
demais apresentam bom estado de conservação (Figura 8).
24

Figura 8- Conservação da Ala Leste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

Segundo Kemerich, Ucker e Borba (2012), o necrochorume é um composto


orgânico, muito solúvel à agua e que também libera gases poluentes, contudo
sabemos que as sepulturas em ruínas, com rachaduras que permitam infiltração
podem acarretar em problemas ambientais. Em posse desta constatação, a
conservação do cemitério foi um dos tópicos explorados. Na Ala Oeste, uma (1)
cova, cinco (5) jazigos e cinco (5) túmulos estão em estado regular de conservação,
porém três (3) túmulos estão em estado ruim, caracterizando a fragilidade da Ala
Oeste em relação a sua conservação (Figura 9).
25

Figura 9 - Conservação da Ala Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

O estado de conservação pode ser comprometido por diversas patologias ou


danos causados às sepulturas, estes danos podem ser originados por variáveis,
como a ação humana, o tempo ou até mesmo a natureza. Analisou-se cada tipo
dano a fim de observar quais os tipos construtivos apresentam mais patologias.
Para Costa e Castro (2015), os danos causados pela ação humana são
patologia de ordem antrópica e ainda as classificam como atos que vão desde
ações de vandalismo, a consequência da deposição de objetos em decorrência de
práticas ritualísticas, tais como respingos de cera das velas, lixo e também as
medidas paliativas de conservação existentes que acabam agredindo o bem
material ao invés de protegê-lo.
A pesquisa analisou os danos causados pela ação humana, no Cemitério de
São Gabriel, na Ala Leste, com os tipos construtivos, notou-se que as sepulturas de
alvenaria pintada apresentam mais danos que os outros tipos construtivos,
apresentando quatro (4) amostras com partes faltantes nos seus ornamentos, duas
(2) apresentam falta de manutenção, outras duas (2) a falta de manutenção acabou
por desfigura-la e uma (1) tem partes da própria sepultura faltando. Três (3)
sepulturas de alvenaria revestida com granito apresentaram patologias, uma (1)
26

sepultura tinha partes faltantes nos seus ornamentos, uma (1) mostrou desfiguração
por falta de manutenção, e uma (1) faltava partes da sepultura. Duas (2) sepulturas
de alvenaria revestida com azulejo tinham patologias, uma (1) apontou falta de
manutenção e uma (1) falta de partes na ornamentação. Os outros materiais
construtivos e a alvenaria revestida de mármore não apresentaram nenhuma
patologia, na Ala Leste (Figura 10).

Figura 10 – Danos pela ação humana na Ala Leste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

As patologias causadas pela ação humana na Ala Oeste foram identificadas


em sua maioria nas construções de alvenaria pintada, assim como na Ala Leste, das
treze (13) sepulturas de alvenaria pintadas três (3) estavam abertas, três (3)
faltavam partes da sepultura, duas (2) faltava manutenção, uma (1) apresentou lixo
acumulado, uma (1) estava desfigurada por não ter sua manutenção realizada e
outras três (3) apresentavam outros tipos de danos causados pelo homem, uma (1)
de alvenaria revestida com granito apresentou desfiguração por falta de
manutenção, duas (2) sepulturas de alvenaria com azulejo mostrou danos, uma (1)
com falta de manutenção e a uma (1) outra faltavam partes da própria sepultura. Por
sua vez os outros tipos construtivos não tinham apresentado danos na Ala Leste,
porém a Ala Oeste apresentou nove (9) sepulturas com danos, sendo três (3) deles
com partes faltantes na sepultura, duas (2) sepulturas abertas (Figura 11), duas (2)
27

com lixo acumulado, uma (1) desfigurada por falta de manutenção e a uma (1)
faltando partes de seus ornamentos (Figura 12). Sabe-se que danos causados por
sepulturas abertas, ou sepulturas com partes faltantes é de extrema preocupação,
pois os materiais fúnebres, restos mortais e seus poluentes podem ser lixiviados
pelas chuvas e contaminar os lenções freáticos e mananciais. Furtato et al. (2009),
julga os cemitérios como uma atividades urbanas potencialmente contaminantes,
pois através do necrochorume transportado pela água das chuvas infiltradas nas
covas ou pelo contato dos corpos com a água subterrânea, podem provocar
problemas hidrogeoambientais, ou seja, a contaminação do solo e das águas sub
superficiais.

Figura 11- Imagem de túmulos abertos. A) parte faltante na sepultura; B)


tumulo aberto. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

As construções de alvenaria revestidas com mármore em ambas as alas não


apresentaram nenhum dano causado pelas ações humanas. Notou-se que a falta de
manutenção, assim como a limpeza das covas, túmulos, jazigos e grandiosidades
acabam por resultar em maiores danos a sepultura, danos estes que podem
acarretar em alguns impactos ambientais, refletindo na saúde publica do município.
28

Figura 12 – Danos pela ação humana na Ala Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

Os danos podem ter causas variadas, sendo assim uma das patologias
estudas foi as causadas pela natureza, ou danos naturais. Costa e Castro (2015)
referem-se aos danos naturais como colonizações biológicas, por ser um conjunto
de deposito de organismos de origem orgânica, e ainda destacam na categoria
colonização biológica, a algas, os musgos, plantas e liquens, como possíveis
patologias dessa ordem. Logo, o estudo explorou estes danos e pode-se visualizar
que as sepulturas de alvenaria pintada que apontaram danos da Ala Leste, cinco (5)
apresentam danos causados pela umidade, e quatro (4) pelas vegetações e uma (1)
por musgos e liquens, já as feitas com alvenaria revestida com mármore que
exibiram danos, três (3) obtiveram danos por umidade, duas (2) por danos pela
vegetação, e uma (1) por musgos e liquens, as sepulturas de alvenaria revestida
com granito com danos, seis (6) eram por vegetação, três (3) por umidade e duas
(2) por musgos e liquens, nas de alvenaria revestida com azulejo, duas (2) tiveram
danos por umidade e duas (2) por vegetações, nos outros materiais construtivos o
dano aparente foi umidade, em uma (1) (Figura 13).
29

Figura 13 – Danos Naturais Ala Leste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

As sepulturas da Ala Oeste, construidas em alvenaria pintada apontaram


danos naturais, quatro (4) por vegetação, três (3) por umidade, três (3) por musgos
e liquens, as feitas de alvenaria revestida com marmores tiveram uma (1) com
danos por vegetação e uma (1) por umidade, das sepulturas feitas com alvenaria
revestida com granito, duas (2) tiveram danos por vegetações e uma (1) por musgos
e liquens, das construidas com revestimento em azulejo, uma (1) apresentou dano
por vegetação e um (1) apontou vespeiro, já nas outros tipos de construçôes três (3)
tinham danos por vegetação, três (3) por musgos e liquens, e duas (3) por umidade
(Figura 14).
Os danos por vegetação, umidade, musgos e liquens são frequentes em
ambas as alas, na Ala Leste a sepulturas de alvenaria em granito apresentaram
maiores indices da danos por vegetações, e por musgos e liquens os indices mais
abundantes de umidades foram apresentados nas construções e alvenaria pintada
30

(Figura 13). Porém na Ala Oeste as maiore proporções de danos por vegetação e
danos por umidade foram nas construções de alvenaria pintada, seguida pelos
outros tipos construtivos, os musgos e os liquens tiveram os mesmos indices tanto
em alvenaria pintada quando em outros tipos construtivos (Figura 14).

Figura 14 – Danos Naturais Ala Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

Há alguns danos que são causados pelo passar dos anos, com essa
relevância observamos que o tempo pode trazer algumas patologias a arquitetura
cemiterial, os danos estudados foram rachaduras, trincas e ferrugens, sempre tendo
como referencia os materiais construtivos. Costa e Castro (2015), caracterizam
rachaduras como aberturas que variam de grande a pequena na superfície,
deformações como mudanças na forma dos objetos pétreos sem perder a sua
integridade.
Nas sepulturas da Ala Leste, quatro (4) apresentaram trincas, três (3)
rachaduras e uma (1) ferrugem nas confeccionadas em alvenaria pintada, em
31

alvenaria com granito quatro (4) exibiram rachaduras, quatro (4) com trincas e uma
(1) com ferrugem, nas construções de alvenaria com azulejo, duas (2) tinham
rachaduras e outras duas (2) tinham trincas, já as estruturas revestidas em mármore
e de outros materiais, não apresentaram danos temporais (Figura 15).

Figura 15 – Danos causados pelo tempo na Ala Leste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

A Ala Oeste as sepulturas de alvenaria pintada apresentaram duas (2) com


rachaduras, três (3) com trincas e três (3) com ferrugens, já as sepulturas feitas em
alvenaria revestida de mármore exibiu apenas uma (1) com rachaduras, nas de
alvenaria com granito, duas (2) apontaram rachaduras, em alvenaria com azulejos
uma (1) apresentou rachaduras, e uma (1) apresentou trincas, as sepulturas
confeccionadas com outras ordens de materiais foram apresentadas duas (2) com
rachaduras, uma (1) com trincas e uma (1) com ferrugens (Figura 16).
32

Figura 16 – Danos causados pelo tempo na Ala Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.

Outro fator não menos importante que a conservação cemiterial, é a sua arte,
o enriquecimento de adornos e da ornamentação funerária que embelezam as
necrópoles assim como trazem símbolos que fazem referencia a como teria sido
aquele individuo em vida. As simbologias cristãs empregadas cruzes, cristos, anjos
bíblias e Marias referenciam a vidas de pessoas católicas, que acreditam que na
morte encontram se com Deus. Sendo assim, observou-se que as ornamentações
funerárias existentes no CISCC-SG 2, e a frequência que ornamentos como epitáfios,
vasos, puxadores, oratórios, cruzes, imagens sacras, fotografias em porcelanas
aparecem nas sepulturas amostradas.
As sepulturas da Ala Leste, dezenove apontaram com epitáfios, já na ala
Oeste dezessete possuíam epitáfios. Sabendo da cultura dos familiares de levar
flores a seus mortos, considerou-se o uso de vasos e floreiras como ornamentação,
na Ala Leste as vinte e quatro (24) amostras exploradas apresentaram vasos e
floreiras, já na Ala Oeste dezoito (18) sepulturas exibiram vasos e floreiras. Em
relação às alças ou puxadores contidos nas gavetas das sepulturas, a Ala Oeste se

2
CISCC-SG: Cemitério da Irmandade da Santa Casa de Caridade de São Gabriel
33

sobressaiu a Ala Leste, com quatorze (14), já a Ala Leste apresentou apenas cinco
(5) vasos. Os oratórios estão em maior quantidade na Ala Leste, aparecendo seis
(6) vezes, estando ligados à maior quantidade de grandiosidades presentes na
amostragem a Leste, na Oeste apareceu somente em três (3). As cruzes estão
presentes de maneira proporcional nas duas Alas, assim como as imagens sacras,
diferenciando as apenas por uma (1) sepultura a mais em cada ala, sendo assim, a
Leste há mais cruzes que a Oeste, e a Oeste há mais imagens sacras que a Leste.
As fotografias também a presentam esta características, com uma a mais à Leste
que a Oeste. Outros ornamentos não descritos apareceram um (1) em cada ala
(Figura 17).

Figura 17 – Ornamentos funerários das Alas Leste e Oeste. São Gabriel, 2018.

Fonte: Autor, 2018.


34

5. CONCLUSÃO

Em relação aos tipos construtivos mais recorrentes nas alas estudadas, pode-
se concluir que em ambas as alas os túmulos e os jazigos são a maior parcela da
amostra. No entanto, a Ala Oeste se sobressaiu a Ala Leste em relação a
quantidade dos mesmos. Já as grandiosidades, estão em maior proporção nas
amostras da Ala Leste e as covas apresentam o mesmo numero em ambas as alas.
Em relação às analises da natureza construtiva pode-se concluir que as
sepulturas de alvenaria pintada apresentaram-se em maior numero em toda a
amostragem, prevalecendo em túmulos e jazigos. Este também é o mesmo material
construtivo que ocorrem as maiores porcentagens de danos, seguido pelas
sepulturas de alvenaria revestidas com granito. Em relação aos ornamentos e
adornos, há uma proporcionalidade na quantidade encontrada em ambas as alas.
A pesquisa exploratória conseguiu identificar alguns danos mais
frequentemente nas sepulturas, que ocorrem pela ação da natureza, do homem ou
do tempo. O dano de ordem natural mais frequente na Ala Leste foram os causados
pela umidade e os causados pela vegetação. Na Ala Oeste, além dos danos por
vegetação e umidade, o outro dano mais frequente é causado por musgos e liquens.
O dano causado pelas ações humanas, mais recorrentes na Ala Leste, foi o de
partes faltantes nos ornamentos e adornos das sepulturas. Já na Ala Oeste, o dano
mais aparente foi partes faltantes na própria sepultura. O dano temporal mais
constante em ambas as alas foram rachaduras e trincas.
Os danos podem comprometer o estado da conservação dos bens tumulares,
podendo, por falta de manutenção, as sepulturas ficarem abandonadas ou até
mesmo em ruinas. A pesquisa apontou que na Ala Oeste há sepulturas em estado
ruim, abandonas e em ruinas. Na Ala Leste há apenas uma em estado ruim e uma
em ruinas, não sendo registradas ainda, sepulturas abandonadas na amostra da Ala
Leste.
35

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados das analises nas sepulturas puderam mostrar a atual realidade


do Cemitério da Irmandade da Santa Casa de Caridade - São Gabriel. Considerou-
se que os resultados obtidos podem auxiliar  na gestão de cemitério, como medidas
mitigatórias aos danos apresentados, a partir da temática ambiental relacionada aos
cemitérios.
Para auxiliar em uma gestão cemiterial efetiva, será possível sugerir medidas
mitigatórias preventivas e corretivas. Para a melhoria dos aspectos visuais das
sepulturas, a gestão atual do cemitério poderia solicitar manutenções periódicas
pelos familiares responsáveis por cada bem tumular, e se necessário solicitar a
recuperação das construções tumulares, optando por materiais que
impermeabilizem as sepulturas, evitando a saída do necrochorume, e dos gases
poluentes.
Contudo, sabe-se que da existência de sepulturas antigas, das quais as famílias
já não residem mais no município. Entretanto, estas sepulturas poderiam ser
consideradas monumentos históricos, e deveriam ser conservadas pela gestão do
CISCC-SG, pois ali estão restos mortais de pessoas que colaboraram com a história
de um município, sendo considerado patrimônio cultural.
Para que as ações de mitigação sejam implementadas, há a necessidade de
investir na capacitação dos funcionários do cemitério. Abordar as normativas atuais
sobre gestão de cemitérios é de suma importância para que o funcionário saiba
conduzir as atividades propostas pelas ações e as mesmas possam dar resultados.
36

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANJOS, R. M. dos. Cemitérios: uma ameaça à saúde humana? CREA – SC.


2013. Disponível em: http://www.crea-sc.org.br/portal/index.php?cmd=artigos-
detalhe&id=2635#.WtaeOy7wbIU. Acesso em: 17 abr 2018.
ARAÚJO, T. N. de. Túmulos celebrativos de Porto Alegre: Múltiplos olhares
sobre o espaço cemiterial (1889 – 1930). Dissertação. 2006. 127 fls. Mestrado
(Programa de Pós Graduação em História das Sociedades Ibéricas e Americanas).
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 2006.
ARIÈS, P. O homem diante da morte. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1989.
ARRUDA, A. Representando a alteridade. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.
BAYARD, J. P. Sentido Oculto dos Ritos Funerários: morrer é morrer? São
Paulo: Paulus, 1996.
BELLOMO, H.R. A Estatuária Funerária em Porto Alegre (1900-1950).
Dissertação. 1988. 204 fls. Mestrado ( Programa de Pós-Graduação em História).
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. 1988.
CARNEIRO, M. Construções tumulares e representações de alteridade:
materialidade e simbolismo no Cemitério Municipal São José, Ponta Grossa - PR.
Dissertação. 2012. 167 fls. Mestrado (Programa de Pós Graduação em Ciências
Sociais Aplicadas). Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2012.
CARVALHO, L. F. N de. História e arte funerária dos cemitérios São José I e II
em Porto Alegre (1888-2014). 2015. 548 fls. Tese. (Programa de Pós-Graduação
em Artes Visuais). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Artes.
2015.
CASTRO, E. T. Aqui jaz um cemitério: a transferência do cemitério público de
Florianópolis (1923-26). Monografia. 2004.78 fls. Bacharelado em História.
Universidade do Estado de Santa Catarina. 2004. 
COSTA, G. S da; CASTRO, V. M. C. de. Patrimônio Funerário do Cemitério
Histórico de Santo Amaro, no Recife: Estado de Conservação dos Primeiros
Túmulos. FUMDHAMentos, v.1. 2015. p. 50-73. Disponível em:
http://www.fumdham.org.br/wp-content/uploads/2016/09/3-patrimonio-funerario-do-
cemiterio-historico-de-santo-amaro-no-recife-estado-de-conservacao-dos-primeiros-
tumulos.pdf?x49464. Acesso em: 07 jun 2018.
37

FURTADO, Z. N. C.; FURTATO, M. C.; CRESPI, R. S. F. Estudo prévio de


viabilidade hidrogeoambiental face à vulnerabilidade do ambiente subterrâneo na
implantação de um cemitério em Araçatuba-SP. Águas Subterrâneas. v. 2009:
SUPLEMENTO - Anais do I Congresso Internacional de Meio Ambiente
Subterrâneo. 2009. Disponível em:
https://aguassubterraneas.abas.org/asubterraneas/article/view/22066. Acesso em
07 jun 2018.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo :Atlas, 2002.


GOMES, I. L. C. F. Elos Perdidos, memórias esquecidas: O cemitério das
cortiças, Candiota, RS. Monografia. 2014. 53 fls. Trabalho de Conclusão de Curso
(Bacharelado em Museologia, Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação).
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2014.
KEMERICH, P.D. da C.; UCKER, F. E.; BORBA, W. F. Cemitérios Como Fonte de
Contaminação Ambiental. Revista Scientific American Brasil. v. 1. 2012. p. 78-81.
Disponível em:
http://www2.uol.com.br/sciam/artigos/cemiterios_como_fonte_de_contaminacao_am
biental.html. Acesso 17 abr 2018.
KEMERICH, P. D. da C., BIANCHINI, D. C., FANK, J. C., BORBA, W. F. de,
POLONIA WEBER, D. P., UCKER. F. E. A questão ambiental envolvendo os
cemitérios no Brasil. Revista Monografias Ambientais. v. 13, n. 5. 2014. p. 3777-
3785. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/download/14506/pdf.
Acesso em: 17 abr 2018.
MIGLIORINI, R. B., LIMA, Z. M. de, ZEILHOFER, L. V. A. C. Qualidade das águas
subterrâneas em áreas de cemitério. Região de Cuiabá – MT. Águas
Subterrâneas. v. 20. n. 1. 2006. p. 15-28.
SANTOS, S. J. dos, FREITAS, A. A arte cemiterial com fator de distinção e
eternização do status social no cemitério São Francisco de Paula. O Mosaico:
Revista de Pesquisa em Artes. v. jan./jun. n. 7. 2012. p. 31-45. Disponível:
http://periodicos.unespar.edu.br/index.php/mosaico/article/view/64/pdf. Acesso em:
02 mar 2018.
SPURR, S. H. Forest Inventory. New York: Ronald Press, 1952.
38

Apêndice A

INSTRUMENTO

1. A determinação dos jazigos a serem avaliados: segundos os transects de


Elisiana Castro

2. Tipologia das construções:


( ) cova ( ) tumulo ( ) jazigo ( ) grandiosidade com capela

3. Determinação das delimitações:


( ) sem delimitação ( ) gradil metálico ( ) vegetação ( ) mureta de
alvenaria ( ) outros: _____________________________

4. Tipo construtivo:

( ) alvenaria pintada ( ) mármore ( ) granito ( ) alvenaria com azulejo (


) outros: _______________________________

5. Ornamentos:
( ) epitáfio ( ) vasos ( ) puxadores ( ) oratório ( ) cruz
( ) imagem sacra ( ) fotografia em porcelana
( ) outros: ________________________________

6. Estado de conservação:
( ) bom ( ) regular ( ) ruim

7. Estado de uso:
( ) em uso ( ) abandonado ( ) ruinas

8. Fatores de comprometimento:

( ) rachaduras ( ) trincas ( ) ferrugem ( ) pichação ( ) danos por


vegetação ( ) musgos e liquens ( ) falta partes da sepultura ( ) falta parte
dos ornamentos

9. Outros danos:

( ) umidade ( ) tumulo aberto ( ) resto de caixões à vista ( ) vespeiro e


formigueiro ( ) restos mortais à vista ( ) acumulo de água ( ) lixo acumulado ( )
presença de oferendas ( ) desfiguração por falta de limpeza/pintura ( ) falta de
manutenção ( ) outros: ___________________

10. Observações:
( ) há alinhamento ( ) presença de velários ( ) área destinada a crianças

Você também pode gostar