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NATAL-RN
2019
ALISSON MEDEIROS DE OLIVEIRA
NATAL – RN
2019
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -
CCHLA
_______________________________________
Prof. Dr. Diógenes Félix da Silva Costa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGe)
Orientador
_______________________________________
Prof. Dr. Luiz Antônio Cestaro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PPGe)
Examinador interno
_______________________________________
Prof.ª Dra. Rosemeri Melo e Souza
Universidade Federal do Sergipe (PPGE)
Examinadora externa
À Francisca Adelina e Maria Severina, in memorian;
Aos meus amados pais, Francisco das Chagas e Dilma Medeiros
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, que cuidou de mim todos os dias, e que me deu oportunidades que ninguém mais
da minha família teve.
Agradeço aos meus pais, Francisco das Chagas e Dilma Medeiros, que me apoiaram sempre!
Agradeço ao meu amigo Hermínio, foi um irmão para mim! Acho que foi um dos melhores “irmão
mais velho” que já tive. Muito obrigado meu caro, foi muito importante!
Agradeço ao meu orientador, Diógenes Costa, que muito me ajudou e me instigou a continuar a
estudar. Agradeço a todos que compõe o LABIGEO e o grupo TRÓPIKOS, que me ajudaram, direta
e indiretamente.
Agradeço aos meus ex-colegas de trabalho da Escola Municipal Joel Lopes Galvão, que me
apoiaram. Até hoje sinto saudades de lá.
Aos meus colegas do PPGe, deixo meus agradecimentos por bons momentos divididos.
Agradeço ao Centro de Ensino Superior do Seridó - CERES/UFRN, que forneceu apoio na logística
de campo e de gabinete. Deixo também meus agradecimentos ao PPGe/UFRN, que me auxiliou na
jornada tanto com conhecimento quanto com ajuda financeira.
Agradeço a Prefeitura de Jucurutu-RN, que cede transporte diário para os estudantes. Agradeço a
Jorge, motorista muito dedicado!
No âmbito das pesquisas sobre serviços ecossistêmicos (SE), o semiárido brasileiro tem sido
abordado por importantes pesquisas de levantamento, mas para o Bioma Caatinga as
informações ainda são escassas. Ainda com relação a Caatinga, esta apresenta uma diversidade
de ambientes que conferem a ela fisionomias e formações vegetais heterogêneas, e dentre os
diversos ambientes, dá-se destaque, na presente pesquisa, aos ambientes serranos. Com relação
a produção de conhecimento acerca dos serviços ecossistêmicos prestados por sua cobertura
vegetal, a situação configura-se como uma lacuna, tendo em vista a escassez de estudos e/ou
dados. Nesse preocupante contexto está inserido a serra de João do Vale (RN/PB), um maciço
capeado pela formação arenítica serra de Martins e recoberta pela Caatinga e por fragmentos
de Floresta tropical sazonalmente seca, sendo desconhecido, para a cobertura vegetal, os seus
serviços ecossistêmicos. Posto isso, o objetivo principal avaliar os serviços ecossistêmicos
prestados pela cobertura vegetal na paisagem da serra de João do Vale (RN/PB). As
interpretações das condições paleoambientais do semiárido do Nordeste Setentrional permitem
inferir que a fisionomia da Caatinga oscilou entre savanas com condições de manter uma
megafauna pleistocênica e fisionomias florestais entre 42 mil anos A.P. e 11.800 anos A.P., e
infere-se que a área de estudo apresentou variações semelhantes. O mapeamento das coberturas
vegetais foi realizado em duas etapas: 1) Mapeamento via NDVI e SAVI, e posterior avaliação
dos produtos cartográficos; 2) Mapeamento orientado ao objeto. Com base no mapeamento
orientado ao objeto, as classes de usos e cobertura da terra identificadas foram: Caatinga
arbórea, Caatingas arbustiva, Corpos hídricos, Floresta tropical sazonalmente seca, Solo
exposto/Habitações/Rochas e Usos agrícolas/Cajucultura. Quanto a cobertura vegetal, sua atual
fisionomia é resultado de ações humanas que começaram no século XVIII. A Caatinga arbustiva
(191,8 km2) e a Caatinga arbórea (39,4 km2) apresentaram padrão de distribuição recobrindo
encostas e escarpas cristalinas, e suas estruturas são fortemente influenciadas pela ação humana
e a sucessão ecológica. A Floresta tropical sazonalmente seca (21,8 km2), inicialmente
localizada nos platôs, foi devastada, restando apenas alguns fragmentos em encostas e escarpas
mais declivosas e em pequenos platôs. Considerável porção destes fragmentos encontram-se
em estágio de sucessão. Devido à complexidade das dinâmicas dos usos e coberturas, bem como
as fisionomias dos ecossistemas presenta na serra, os índices de vegetação (NDVI e SAVI)
comumente empregados em estudos de vegetação no semiárido não obtiveram excelente
desempenho, como era esperado. Como forma alternativa de mapeamento, lançou-se mão do
método de mapeamento orientado ao objeto, cujos resultados foram melhores e muito
aproximados aos vistos em campo. Quanto aos serviços ecossistêmicos prestados pela cobertura
vegetal, dá-se destaque aos SE de Provisão e SE Culturais, os quais tiveram informações obtidas
diretamente de seus moradores. Concluiu-se que a declividade, a localização e a distribuição
das fisionomias influenciam na prestação de serviços ecossistêmicos (principalmente os SE de
Regulação e Manutenção), e que tais SEs prestados têm elevado potencial auxiliar e embasar
tomadas de decisão referentes a conservação de ecossistemas, bem como ações para
conscientização e educação ambiental.
In the scope of research on ecosystem services (SE), the brazilian semiarid has been approached
by important surveys, but for the Caatinga Biome the information is still scarce. Still in relation
to the Caatinga, this one presents/displays a diversity of environments that confer to her
physiognomies and heterogenous vegetal formations, and of the diverse environments, it is
emphasized, in the present research, to the mountain range environments. With regard to the
production of knowledge about the ecosystem services provided by its vegetation cover, the
situation is a gap, given the scarcity of studies and/or data. In this worrisome context is inserted
the João do Vale mountain range (RN/PB), a solid mass capped by the arenite formation of
Martins and covered by the Caatinga and fragments of Seasonally dry tropical forest, being
unknown, for the vegetal cover, its services ecosystems. Thus, the main objective was to
evaluate the ecosystem services provided by the vegetation cover in the João do Vale mountain
range (RN/PB). The interpretations of the paleoenvironmental conditions of the northern
Northeast semiarid allow us to infer that the Caatinga physiognomy oscillated between
savannas with conditions to maintain a pleistocene megafauna and forest physiognomies
between 42,000 years AP and 11,800 years AP, and it is inferred that the study area presented
variations. The mapping of vegetation cover was carried out in two stages: 1) Mapping via
NDVI and SAVI, and subsequent evaluation of cartographic products; 2) Object-oriented
mapping. Based on object - oriented mapping, land use and land cover classes identified were:
Tree caatinga, Shrub caatingas, Water bodies, Seasonally dry tropical forest, Exposed
soil/Dwellings/Rocks and Agricultural uses/Cajuculture. As for vegetation cover, its present
physiognomy is the result of human actions that began in the eighteenth century. The shrub
caatinga (191.8 km2) and the arboreal Caatinga (39.4 km2) presented distribution pattern
covering slopes and crystalline escarpments, and their structures are strongly influenced by
human action and ecological succession. The Seasonally dry tropical forest (21.8 km2), initially
located on the plateaus, was devastated, leaving only a few fragments on slopes and steeper
slopes and on small plateaus. Considerable portion of these fragments are in the succession
stage. Due to the complexity of the dynamics of the uses and coverages, as well as the
physiognomies of the ecosystems present in the mountain range, the vegetation indexes (NDVI
and SAVI) commonly used in vegetation studies in the semiarid region did not obtain excellent
performance, as expected. As an alternative form of mapping, the object-oriented mapping
method was used, whose results were better and very close to field seen. Regarding the
ecosystem services provided by the vegetation cover, the SE of Provision and SE Culturalis are
highlighted, which had information obtained directly from its residents. It was concluded that
the declivity, location and distribution of physiognomies influence the provision of ecosystem
services (mainly the SEs of Regulation and Maintenance), and that such SEs provided have a
high auxiliary potential and support decision-making regarding the conservation of ecosystems,
as well as actions for environmental awareness and education.
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Classificação pioneira das principais funções ecológicas e serviços ecossistêmicos.
.................................................................................................................................................. 24
Tabela 02: Semelhanças e diferenças das principais classificações. ........................................ 27
Tabela 03: Categoria “Provisão” de serviços segundo a CICES. ............................................. 28
Tabela 04: Categoria “Regulação e manutenção” de serviços segundo a CICES. ................... 29
Tabela 05: Categoria “Cultural” de serviços segundo a CICES............................................... 30
Tabela 06: Matriz de Confusão segundo Congalton (1991). .................................................... 62
Tabela 07: Valores e suas respetivas do Índice de Kappa. ....................................................... 63
Tabela 08: Classes de cobertura da terra e seus respectivos valores segundo o NDVI e SAVI.
.................................................................................................................................................. 70
Tabela 09: Pontos de controle/avaliação para as classes de cobertura da terra. ....................... 72
Tabela 10: Matriz de confusão elaborado para o mapa produzido com base no NDVI. .......... 75
Tabela 11: Acurácia do Produtor para a matriz de confusão do NDVI. ................................... 76
Tabela 12: Acurácia do Usuário para a matriz de confusão do NDVI. .................................... 76
Tabela 13: Matriz de confusão elaborado para o mapa produzido com base no SAVI. .......... 78
Tabela 14: Acurácia do Produtor para a matriz de confusão do SAVI. ................................... 79
Tabela 15: Acurácia do Usuário para a matriz de confusão do SAVI. ..................................... 79
Tabela 16: Área ocupada por cada classe de usos e cobertura da terra. ................................... 81
Tabela 17: Unidades fitoecológicas da serra João do Vale. ..................................................... 93
Tabela 18: Serviços de Provisão prestados pela cobertura vegetal da serra João do Vale.
Legenda: CaaArbó – Caatinga arbórea; CaaArbu – Caatinga arbustiva; Ch – Corpos hídricos;
FTSS – Floresta tropical sazonalmente seca; Us - Usos agrícolas/Cajucultura; S. exp./H. –
Solo exposto/Habitações/Rocha. ............................................................................................ 104
Tabela 19: Serviços Culturais prestados pela cobertura vegetal da serra João do Vale.
Legenda: CaaArbó – Caatinga arbórea; CaaArbu – Caatinga arbustiva; Ch – Corpos hídricos;
FTSS – Floresta tropical sazonalmente seca; Us - Usos agrícolas/Cajucultura; S. exp./Hab –
Solo exposto/Habitações/Rocha. ............................................................................................ 105
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 15
ÁREA DE ESTUDO ........................................................................................................................... 17
Clima e hidrografia ......................................................................................................................... 18
Caracterização geológica, geomorfológica e pedológica .............................................................. 19
CAPÍTULO 01 - REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................. 22
Serviços Ecossistêmicos................................................................................................................... 22
Mapeamento de serviços ecossistêmicos ........................................................................................ 34
Ecossistemas de Caatinga ............................................................................................................... 36
Conservação da Caatinga ............................................................................................................... 38
Gradiente altitudinal em ambientes serranos do semiárido do Brasil ....................................... 43
CAPÍTULO 02 - CONSIDERAÇÕES SOBRE AS IMPLICAÇÕES DAS OSCILAÇÕES
CLIMÁTICAS DURANTE O QUATERNÁRIO TARDIO NA EVOLUÇÃO FISIONÔMICA
DA COBERTURA VEGETAL NO NORDESTE SETENTRIONAL E NA SERRA JOÃO DO
VALE (RN/PB) .................................................................................................................................... 46
Introdução........................................................................................................................................ 46
Oscilações paleoclimáticas e dinâmica biogeográfica neotropical no Quaternário ................... 47
Inferências sobre a influência do Quaternário em paleoambientes do semiárido do Nordeste
Setentrional ...................................................................................................................................... 52
Considerações finais do capítulo .................................................................................................... 57
CAPÍTULO 03 - EVOLUÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA NOS ÚLTIMOS 30
ANOS NA SERRA JOÃO DO VALE (RN/PB) ................................................................................ 58
Introdução........................................................................................................................................ 58
Materiais e métodos ........................................................................................................................ 59
Dinâmica temporal das formas de uso, cobertura e ocupações entre 1985 e 2015 .................... 66
Resultados e produtos cartográficos obtidos via NDVI e SAVI .................................................. 69
Desempenho dos índices NDVI e SAVI no mapeamento de detalhe da cobertura vegetal....... 79
Mapeamento alternativo: classificação orientada ao objeto com base em imagens CBERS 4. 80
Considerações finais do capítulo .................................................................................................... 83
CAPÍTULO 04 - UNIDADES FITOECOLÓGICAS DA SERRA DE JOÃO DO VALE ............ 84
Introdução ........................................................................................................................................ 84
Materiais e métodos ........................................................................................................................ 85
Diversidade fisionômica e padrões fitogeográficos....................................................................... 86
Unidades fitoecológicas ................................................................................................................... 92
Considerações finais do capítulo .................................................................................................... 94
CAPÍTULO 05 - SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS PRESTADOS PELA COBERTURA
VEGETAL DA SERRA DE JOÃO DO VALE ................................................................................ 95
Introdução........................................................................................................................................ 95
Materiais e métodos ........................................................................................................................ 96
Resultados e Discussões ................................................................................................................ 103
Considerações finais do capítulo .................................................................................................. 113
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................... 114
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................ 116
APÊNDICE 01 ................................................................................................................................... 133
APÊNDICE 02 ................................................................................................................................... 136
APÊNDICE 03 ................................................................................................................................... 139
ANEXO 01 ......................................................................................................................................... 142
15
INTRODUÇÃO
Entre os anos finais da década de 1970 e os anos iniciais da década de 1980 foram
redigidas as primeiras ideias e cunhados os primeiros termos acerca dos benefícios que os
processos ecológicos propiciam, direta e indiretamente, a humanidade (WESTMAN, 1977;
EHRLICH; MOONEY, 1983). Logo após o fim dos anos 1990, o tema “serviços
ecossistêmicos” desenvolveu-se rapidamente e logo foram desenvolvidos sistemas de
classificações (e.g. COSTANZA et al., 1997; MEA, 2005; TEEB, 2010; CICES, 2013), os quais
influenciaram a produção de conhecimento sobre serviços ecossistêmicos em todo o mundo
(e.g. PERIOTTO; TUNDISI, 2013; COSTA et al., 2014; BASTIAN; GRUNEWALD;
KHOROSHEV, 2015; WANG et al., 2015; COSTANZA et al., 2017).
No âmbito das pesquisas sobre esse tema, o semiárido brasileiro tem sido abordado
por trabalhos que envolvem o levantamento e mapeamento (e.g. COSTA et al., 2014; GUEDES,
2018), mas para a Caatinga as informações ainda são escassas. Este bioma recobre o semiárido
brasileiro e é o menos protegido, com menos de 1% protegido de forma integral e menor número
de Unidades de Conservação dentre todos os biomas do país (TABARELLI; SILVA, 2003;
LEAL et al., 2005). Ainda com relação a Caatinga, esta apresenta uma diversidade de ambientes
que conferem a ela fisionomias e formações vegetais heterogêneas (PRADO, 2003), e dentre
os diversos ambientes, dá-se destaque, na presente pesquisa, aos ambientes serranos.
Estes ambientes, no contexto do semiárido, apresentam significativas diferenças
quanto aos aspectos climáticos, geológico, geomorfológicos e biogeográficos (MAIA;
BEZERRA, 2014; MORO et al., 2015). Com relação a produção de conhecimento acerca dos
serviços ecossistêmicos prestados por sua cobertura vegetal, a situação configura-se como uma
lacuna, tendo em vista a escassez de estudos e/ou dados. Nesse preocupante contexto está
inserida a serra de João do Vale (RN/PB), um maciço capeado pela formação arenítica serra de
Martins e recoberta pela Caatinga e por fragmentos de Floresta tropical sazonalmente seca,
sendo desconhecido, para a cobertura vegetal, os seus serviços ecossistêmicos.
Além do disposto acima, a população de três municípios residente no platô utilizou,
por mais de um século, a vegetação nativa para a construção de suas residências, assim como
para matriz energética, além de desmatar áreas para agricultura (subsistência e cajucultura) e
formação de pasto para o gado. Recentemente, uma nova demanda social com relação aos
loteamentos para construção de mirantes privados, futuros condomínios e áreas de lazer
próximas as encostas têm acelerado o processo de degradação da cobertura vegetal e dos
sistemas ambientais.
16
ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo tem cerca de 280 km2 e está localizada na divisa dos estados do Rio
Grande do Norte e da Paraíba, ocupando parcialmente 4 municípios: Jucurutu-RN, Triunfo
Potiguar-RN, Campo Grande-RN e Belém do Brejo do Cruz-PB (Figura 01). A delimitação da
área de estudo foi feita mediante a seleção de curvas de níveis que melhor abrangesse o maciço,
sendo escolhida a curva de nível referente a altimetria de 190 metros. A imagem do radar
ALOS/sensor Palsar, com resolução espacial de 12,5 metros (Data: 30/10/2012, Órbita
Absoluta: 26270, Ângulo: 34.3° e Data: 16/01/2011, Órbita Absoluta: 26518, Ângulo: 34.3°)
foi a utilizada neste processo. O software utilizado foi o ArcMap/ArcGIS 10.3 (ESRI®).
A área de estudo apresenta insipiente dinâmica econômica, havendo predomínio de
culturas agrícolas para subsistência, tais como plantações de caju (Anacardium occidentale L.,
da família Anacardiaceae), da palma para nutrição de rebanhos (Opuntia cochenillifera (L.)
Mill. Da família Cactaceae), além do feijão (Phaseolus vulgaris L., da família Fabaceae) e
milho (Zea mays L., da família Poaceae), sendo os dois últimos são plantados geralmente em
períodos chuvosos. É praticado também a criação de caprinos, bovinos e suínos.
O comércio local é representado por revendedores de gêneros alimentícios e demais
produtos de uso doméstico. Há também a comercialização da castanha oriunda do caju e
excedentes do milho e do feijão. O turismo é uma atividade que vem apresentando um sutil
desenvolvimento, haja vista as potencialidades que serra apresenta. Por fim, prospecções para
18
a instalação de torres para a geração de energia eólica vem sendo feita, e no futuro, essa pode
ser a mais nova atividade econômica no maciço.
Clima e hidrografia
Figura 03: Mapa simplificado das unidades geológicas da serra João do Vale (RN/PB).
Serviços Ecossistêmicos
entendimento desses fundamentos fogem dos domínios dos recursos naturais, pois os serviços
são gerados por um conjunto de capitais: Capital Natural, Capital Social, Capital Humano e
Capital Construído (COSTANZA; DALY, 1992; ANDRADE; ROMEIRO, 2009; COSTANZA
et al., 2014; COSTANZA et al., 2017). Assim, os serviços não advêm somente do Capital
Natural, que pode ser entendido como o estoque de recursos naturais com potencial para
gerarem serviços tangíveis e intangíveis (COSTANZA; DALY, 1992).
Na interação dos capitais, as funções e/ou processos ecológicos são apenas uma
contribuição do Capital Natural para o bem-estar humano, já que para que seja considerado um
serviço, é necessário que haja algum benefício para sociedade, que é representada pelo Capital
Humano, Capital Social ou Cultural e o Capital Construído ou Manufaturado (Figura 06)
(COSTANZA; DALY, 1992; COSTANZA et al., 2017).
Figura 06: Os serviços ecossistêmicos contribuem para o bem-estar humano, sendo necessária a interação entre
Capital Natural, Capital Social, Capital Humano e Capital Construído.
1
A Millennium Ecosystem Assessment (Avaliação Ecossistêmica do Milênio) foi um programa de pesquisas
lançado em 2001 com o apoio das Nações Unidas que buscou realizar uma avaliação global sobre os principais
ecossistemas mundiais, frente as mudanças ambientais globais, buscando identificar os principais serviços
prestados para o bem estar humano e gerar cenários para as próximas décadas (Disponível em
https://www.millenniumassessment.org/documents/document.446.aspx.pdf. Acessado em 10/01/2019).
24
Tabela 01: Classificação pioneira das principais funções ecológicas e serviços ecossistêmicos.
Serviços e funções ecossistêmicas
Número Serviço ecossistêmico Função ecossistêmica Exemplos
Regulação da composição Balanço CO2 / O2, O3 para
01 Regulação do gás
química atmosférica proteção de raios UVB e SOx.
Regulação da temperatura
Regulação de gases de efeito
global, precipitação e
estufa, produção de DMS
02 Regulação climática outros processos climáticos de
afetando
medição biológica
formação de nuvens.
níveis globais ou locais.
Aprovisionamento de água
para agricultura (como
Regulação dos fluxos irrigação) ou processos
04 Regulação da água
hidrológicos. industriais (como moagem)
ou
transporte.
Aprovisionamento de água
Armazenamento e retenção de por bacias hidrográficas,
05 Abastecimento de água
água. reservatórios e
aquíferos.
Meteorização da rocha e
07 Formação do solo Processos de formação do solo. acumulação de orgânicos
material.
Armazenamento, ciclagem
Fixação de N, P e outros
08 Ciclagem de nutrientes interna, processamento e
elementos ou nutrientes.
aquisição de nutrientes.
25
Recuperação de nutrientes
móveis e remoção ou Tratamento de resíduos,
09 Tratamento de esgoto repartição de nutrientes em controle de poluição,
excesso ou xênicos e desintoxicação.
compostos.
Aprovisionamento de
polinizadores para a
10 Polinização Movimento de gametas florais.
reprodução de plantas
populações.
2
A “Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade” (The Economics of Ecosystems and Biodiversity - TEEB) foi
um estudo global instigado pelos ministros de Meio Ambiente do G8 e pelas cinco maiores economias em
desenvolvimento, que traz a discussão sobre a necessidade de consideração do valor da Biodiversidade e Serviços
Ecossistêmicos (BSE) nas abordagens econômicas. (Disponível em
http://www.mma.gov.br/publicacoes/biodiversidade/category/143-economia-dos-ecossistemas-e-da-
27
Millennium Ecosystem
TEEB, 2010 CICES, 2013
Assessment, 2005
biodiversidade.html?download=969:teeb-relatorio-preliminar-sumario-executivo-2012. Acessado em
10/01/2019).
3
A “Classificação Internacional Comum de Serviços Ecossistêmicos (The Common International Classification
of Ecosystem Services - CICES) foi desenvolvida a partir dos trabalhos sobre contabilidade ambiental realizados
pela Agência Ambiental Européia (EEA). Apoia sua contribuição para a revisão do Sistema de Contabilidade
Econômica Ambiental (SEEA), que atualmente está sendo liderado pela Divisão de Estatística das Nações Unidas
(UNSD) (Disponível em https://cices.eu/. Acessado em 10/01/2019).
28
Além do novo número de classes, a proposta da CICES foi estruturada em três níveis
ou “dígitos”, sendo elas: Seção, Divisão e Grupo, conforme se pode observar nas Tabelas 03,
04 e 05, que detalham as seções de “Provisão”, “Regulação e Manutenção” e “Cultural”,
respectivamente.
Materiais genéticos
Água de superfície não-
Água potável
Água subterrânea não-potável
Filtragem, sequestro
MEDIAÇÃO DE
RESÍDUOS Filtragem, sequestro
Estabilização de massa e
Fluxos de controle de taxas de erosão
massas Atenuação dos fluxos de
massas
MEDIAÇÃO DE Ciclo hidrológico e
FLUXOS Fluxos de manutenção do fluxo da água
líquidos
Proteção de enchentes
Manutenção
do ciclo da Polinização e dispersão de
vida, habitat sementes
MANUTENÇÃO e proteção do
DAS CONDIÇÕES banco de
FÍSICAS. A manutenção de viveiros e
genes
QUÍMICAS E habitat
BIOLÓGICAS
Controle de Controle de pragas
pragas e
doenças
Controle de doenças
30
Processo de intemperismo
Formação de
solo Processo de decomposição de
fixação
Condição química da água
Condição da doce
água Condição química da água
salgada
Regulação climática global
Composição para a redução da
da atmosfera concentração de gases do
e regulação efeito estufa
climática Regulação climática micro e
macrorregional
Fonte: Adaptado de CICES V4.3 (2013) (Disponível em https://cices.eu/resources/. Acessado em 08/12/2018).
INTERAÇÕES Simbólico
Espiritual ou
INTELECTUAIS E emblemática
SIMBÓLICAS
COM O
ECOSSISTEMA
Sagrado ou religioso
Existência
Outros
Legado
CULTURAL
Em uma visão abrangente, as interações entre os capitais podem nos fornecer um bom
entendimento e direcionamento das origens de um serviço ecossistêmico e seus benefícios
(COSTANZA et al., 1997; COSTANZA et al., 2017), porém, um ponto de vista mais detalhado
é apresentado no modelo “Serviços em Cascata” (HAINES-YOUNG; POTSCHIN, 2009;
HAINES-YOUNG; POTSCHIN, 2010).
O modelo “Serviços em Cascata” apresenta um esquema em que as bases do benefício
estão nas estruturas biofísicas dispostas na paisagem, onde nelas ocorrem processos e funções
que podem beneficiar a sociedade, tornando-se um serviço ecossistêmico, que por sua vez gera
um ou mais de um benefício, podendo este último ser valorado monetariamente (HAINES-
YOUNG; POTSCHIN, 2009; HAINES-YOUNG; POTSCHIN, 2010). A seguir, a Figura 07
dispõe o modelo “Serviços em Cascata”, o qual embora pareça linear e que possa levar ao
entendimento dos serviços pela simplificação (COSTANZA et al., 2017), constitui-se em uma
abstração hierárquica elaborada pelos próprios propositores do modelo (HAINES-YOUNG;
POTSCHIN, 2010), tentando facilitar uma melhor compreensão sobre a relação entre a estrutura
biofísica do ecossistema com a geração de serviços para a sociedade.
Além de objetivar o bem-estar da sociedade, a interação entre os capitais deve ter como
resultado o desenvolvimento sustentável, e a compreensão dos serviços ecossistêmicos podem
contribuir para este resultado, uma vez que os serviços podem ser usados como fatores
importantes para as tomadas de decisões por gestores (COSTANZA et al., 1997; DE GROOT
et al., 2010; COSTANZA et al., 2017). Nesta perspectiva, os serviços ecossistêmicos passaram
a ser catalogados em diversos ambientes (e.g. TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI;
TUNDISI, 2008; TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI; PERIOTTO, 2012; PERIOTTO;
TUNDISI, 2013; COSTA et al., 2014; OLIVEIRA et al., 2016) passando também a ganhar
monetização (valoração monetária) (COSTANZA et al., 1997; DE GROOT et al., 2010;
COSTANZA et al., 2017). A valoração monetária dos serviços foi bastante criticada de início,
mas logo foi aceito pela crítica, pois auxiliam no desenvolvimento sustentável (COSTANZA et
al., 1997; COSTANZA et al., 2017).
Outro ponto de vista em que os serviços ecossistêmicos podem ser usados como uma
ferramenta de gestão para a sustentabilidade é a sua compreensão em relação aos usos e
ocupações da terra, os quais podem suprimir ecossistemas e degradar os serviços ecossistêmicos
(POTSCHIN; HAINES-YOUNG, 2011). Dessa forma, surge um conflito: a necessidade de
ocupar/usar uma área hoje preenchida por um ecossistema implicará em perdas (Trade offs),
contudo, não ocupar/usar esta mesma área também implicará em perdas, principalmente aos
interessados em ocupar/usar.
Neste âmbito, a análise trade-off ("perde-e-ganha", em tradução livre) vem sendo
utilizada na resolução de conflitos entre formas usos e ocupações da terra e os serviços
ecossistêmicos (COSTANZA et al., 2014). A análise trade-off no âmbito dos serviços
ecossistêmicos é tida como uma ferramenta para resolver de forma igualitária os dois lados do
conflito, tanto os serviços quanto as formas de uso e ocupação, de modo que uma decisão seja
tomada com o objetivo de evitar que as perdas sejam maiores que os ganhos (COSTANZA et
al., 2014). É possível pensar que no contexto da sustentabilidade, as análises trade-offs venham
a pesar para o lado dos serviços ecossistêmicos, mas a escolha de uma alternativa em que seja
vantajoso a depreciação de serviços em lugar de um uso/ocupação gerará uma sustentabilidade
diferente daquela que se almeja.
Neste sentido, a sustentabilidade almejada é chamada de “Sustentabilidade Forte”
quando é percebido que alguns elementos do Capital Natural não podem ser substituídos pelos
outros tipos de capitais, ou pelas interações destes (BARBIER, 2003). Portanto, na
Sustentabilidade Forte deve haver um planejamento ambiental onde elementos do Capital
33
Natural que não podem ser substituídos, mas sim usados de forma inteligente, preservando
estoques deste para as gerações futuras (ANDRADE; ROMEIRO, 2009).
Relacionando os serviços ecossistêmicos, análise trade-off e Sustentabilidade Forte, as
decisões a serem tomadas devem privilegiar a manutenção dos serviços (consequentemente, os
ecossistemas) que não são facilmente permutados pelas relações dos capitais. Antagônico à
“Sustentabilidade Forte”, a “Sustentabilidade Fraca” prevê que o Capital Natural não é
essencial em relação aos demais, havendo, portanto, permuta de elementos do Capital Natural
pelas relações dos outros capitais (BARBIER, 2003; ANDRADE; ROMEIRO, 2009). A seguir,
a Figura 08 apresenta um quadro teórico-conceitual dos graus de sustentabilidade.
34
compreensivo que a Geografia possa contribuir para o desenvolvimento desta discussão, uma
vez que a ciência geográfica estuda a relação homem-meio (MENDONÇA, 1996).
Desta maneira, as principais contribuições da Geografia são: uma abordagem sócio-
ecológica dos serviços ecossistêmicos, mudanças de serviços de acordo com a distribuição
espacial, mudanças na qualidade/quantidade dos serviços em relação à dinâmica dos usos e
ocupações da terra e mapeamentos e introdução dos serviços ecossistêmicos no Sistema de
Informação Geográfica (POTSCHIN; HAINES-YOUNG, 2011).
Alguns estudos já foram realizados buscando a abordagem sócio-ecológica,
relacionando a paisagem, a Teoria Geossistêmica e formas de uso e ocupação (e.g. BASTIAN;
GRUNEWALD; KHOROSHEV, 2015). Já os mapeamentos dos serviços são destaques na
produção dos geógrafos (POTSCHIN; HAINES-YOUNG, 2011), havendo uma boa produção
relacionada com as dinâmicas de usos e ocupações da terra (e.g. WANG et al., 2015; MAES;
CROSSMAN; BURKHARD, 2016; SOUSA et al., 2016; KINDU et al., 2016).
No tocante aos mapeamentos de usos e ocupações e fragmentação de ecossistemas, a
ciência geográfica tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento destes tipos
de estudos, que empregam cada vez mais as métricas de paisagem (FRANK; WALZ, 2017).
Estas métricas têm potencial para auxiliar em mapeamentos que envolvam parâmetros de
diversidade e com elementos da paisagem, além de ser imprescindível envolver as formas de
usos e ocupações da terra (FRANK; WALZ, 2017). Os mapas resultantes (mapas de serviços
ecossistêmicos) podem ser úteis para constatar ou prever riscos a integridade dos ecossistemas,
usos insustentáveis, impactos prejudiciais aos fluxos de serviços ecossistêmicos, entre outros
(SYRBE et al., 2017), onde o mapeamento de serviços tem grande emprego e utilidade também
na gestão (e.g. EGOH et al., 2008; MAES et al., 2012; DOMINGOS et al., 2014; MAES et al.,
2015).
Para Syber et al. (2017), os mapas de serviços ecossistêmicos fornecem informações
importantes para maximizar os serviços ecossistêmicos e a priorização dos ecossistemas e da
biodiversidade. Os mapeamentos devem contemplar informações quanto as propriedades dos
serviços ecossistêmicos (integridade e funcionamento dos ecossistemas), potencial de prestação
de serviços (contribuições dos ecossistemas para gerar serviços), fornecimentos (prestação de
serviços por um determinado ecossistema), fluxo (quantidade de serviços mobilizados),
demanda (necessidade, pela sociedade, de serviços ecossistêmicos) e insumos humanos (todos
os aspectos humanos que auxiliam na geração de serviços (SYRBE et al., 2017). Quanto aos
ambientes (locais) onde os serviços estão localizados, deve-se levar em consideração que os
36
serviços são gerados por processos ecológicos, e que estes processos ocorrem na área de
influência do ecossistema (WALZ; SYRBE; GRUNEWALD, 2017).
Outros aspectos, tais como condições naturais (geologia, solos, climas, hidrografia
etc.), seu posicionamento na paisagem e configuração da paisagem devem ser considerados
(WALZ; SYRBE; GRUNEWALD, 2017). Quanto a questões temporais, o fornecimento de
serviços ecossistêmicos varia com o tempo, dependendo fortemente dos processos ecológicos
envolvidos (GUERRA; ALKEMADE; MAES, 2007).
Ecossistemas de Caatinga
Conservação da Caatinga
Figura 11: Ambientes identificados como prioritários para estudos e possível conservação.
Nos dois levantamentos citados acima sobre áreas prioritárias para a conservação de
ecossistemas de Caatinga, alguns ambientes serranos, tais como a serra de Santana e a serra de
Martins-Portalegre (ambos no estado do Rio Grande do Norte) foram considerados como de
informação insuficiente acerca da importância biológica para a conservação. Porém, outros
ambientes semelhantes do ponto de vista ambiental, como a serra João do Vale (RN/PB), não
foram considerados. Tal ausência pode ser considerado como produto da falta de informações
e dados científicos acerca da biodiversidade do maciço João do Vale, uma vez que estudos
sobre levantamentos fitofisionômicos e florísticos pavimenta o caminho para a conservação.
A seguir, a Figura 12 mostra o mapa do levantamento de áreas prioritárias de Giulietti
(2003) (Figura 12A) e a Figura 12B mostra o mapeamento realizado pelo MMA (2007), em que
ambos é destacado a ausência do maciço João do Vale, que é ambientalmente semelhante aos
maciços serra de Santana e serra de Martins-Portalegre. Levando em consideração o relevante
potencial para conservação do maciço João do Vale e de outros ambientes serranos semelhantes,
é chamado a atenção para a urgência no levantamento de informações que visem o detalhamento
de aspectos fisionômicos e florísticos, além de estudos para o ordenamento do território de
gestão ambiental.
41
Figura 12: Ambientes identificados como prioritários para estudos e possível conservação.
Outros obstáculos para a gestão de UCs são a falta de recursos para o funcionamento
e manutenção da UC e a implementação de planos que não geram os resultados esperados e
obtenção dos objetivos da gestão (TABARELLI; SILVA, 2003).
mais espessos e férteis (MEDEIROS, 2016), o que contrasta fortemente com ambientes de
Caatinga na depressão sertaneja, que em geral, apresentam baixos índices anuais de umidade e
conta com solos pouco desenvolvidos.
Em termos de bioma, a diversidade fitogeográfica em serras do bioma Caatinga vem
sendo documentada em levantamentos fitogeográficos nas últimas décadas, sendo dado maior
ênfase a áreas serranas onde as condições ambientais permitiram colonização e permanência de
vegetação florestal, sendo estas áreas denominadas de “brejos” ou “brejos de altitude”, e estão
localizados principalmente no planalto da Borborema (TABARELLI; SANTOS, 2004;
CAVALCANTE, 2005; RODAL et al., 2005). Os enclaves florestais existentes são
frequentemente interpretados como refúgio de determinadas comunidades ecossistêmicas
florestais que durante o Quaternário tiveram distribuição mais ampla, e que no decorrer das
mudanças climáticas, retraíram, havendo expansão da Caatinga e permanecendo enclaves
florestais os topos de algumas serras, chapadas e planalto da Borborema (TABARELLI;
SANTOS, 2004; CAVALCANTE, 2005; DE OLIVEIRA; AQUINO, 2007; MARQUES;
SILVA; SILVA, 2015; MEDEIROS, 2016). Dessa forma, estes enclaves são disjunções de
florestas tropicais (ANDRADE LIMA, 2014).
A relação entre diversidade e gradiente altitudinal é positiva em ambientes serranos da
Caatinga recoberto por florestas (e.g. CAVALCANTE, 2005; RODAL et al., 2005;
ANDRADE; RODAL, 2004; LIMA et al., 2008; LIMA et al., 2009; LIMA; FREITAS
MANSANO, 2011; MEDEIROS, 2016). Há também ambientes serranos que não abrigam
relictos florestais, mas sim uma cobertura vegetal de Caatinga que difere florística e
fisionomicamente da que recobre a depressão sertaneja, sendo que tais ambientes já apresentam
estudos que comprovem sua riqueza em diversidade, quando comparados com as áreas mais
rebaixadas do entorno (e.g. OLIVEIRA et al., 2009; NETO; SILVA, 2012; PEREIRA JÚNIOR;
ANDRADE; ARAÚJO, 2012; MORO et al., 2015; MEDEIROS, 2016).
A diversidade desses ambientes serranos está aliada a condições ambientais distinta de
umidade e solos, bem como um grau menor de degradação se comparado com o estado atual de
conservação de ecossistemas da depressão sertaneja (MORO et al., 2015; NETO;
FERNANDES, 2016; MEDEIROS, 2016). Por fim, os inselbergues também experimentam
aumento de diversidade em relação a depressão sertaneja (e.g. CONCEIÇÃO; PIRANI;
MEIRELLES, 2007; PORTO et al., 2008; TOLKE et al., 2011). A diversidade em tais
formações geomorfológicas decorre principalmente da degradação da Caatinga na depressão
sertaneja (PORTO et al., 2008).
46
Introdução
4
Capítulo já publicado como artigo na Revista de Geociências do Nordeste: OLIVEIRA, A. M.; AMORIM,
R.F.; COSTA, D F.S. Implicações das oscilações climáticas do Quaternário tardio na evolução da fisionomia da
vegetação do semiárido do Nordeste Setentrional. Revista de Geociências do Nordeste, v. 4, p. 50-65, 2018.
47
virtude sobreutilização dos componentes vegetais de Caatinga, a erosão dos solos da região foi
amplificada (SANTOS et al., 2000), gerando ambientes com relações edafológicas que
permitem a colonização apenas por vegetais de comunidades secundárias, sobretudo de
espécies indicadoras de ambientes ecologicamente estressados (SANTANA et al., 2011).
Para a área em questão, estudos paleoambientais são escassos (e.g. MUTZENBERG,
2007; KINOSHITA et al., 2005; DANTAS et al., 2013). Bem como na Região Nordeste, há
falta de dados e estudos sobre a dinâmica da vegetação de Caatinga ao longo do
Pleistoceno/Holoceno (BEHLING et al., 2000). No contexto de estudos paleoambientais e
dinâmica fisionômica da cobertura vegetal na área de estudo durante o Quaternário tardio, a
área carece de informações, e aproveitando esta lacuna, este capítulo objetiva realizar uma
discussão sobre a evolução da dinâmica fisionômica da vegetação no Semiárido do Nordeste
Setentrional e para a serra João do Vale.
Figura 15: Ecossistemas de savanas da América do Sul, que no UMG, formaram a FTSS.
A Floresta Tropical Sazonalmente Seca teve seu apogeu em termos espaciais no UMG
entre 18.000 e 12.000 anos A.P. (PRADO; GIBS, 1993), e permitiu que espécies dessa floresta
se dispersassem pelo Neotrópico, explicando assim a ocorrência de diferentes espécies de
distintos ambientes de savanas (e.g. Anadenanthera colubrina (Vellozo), Amburana
cearensis (A. C. Smith) e Myracrodruon urundeuva (Allemão) (PRADO; GIBS, 1993;
PENNINGTON; PRADO; PENDRY, 2000; PENNINGTON et al., 2004; CAETANO et al.,
2008). No intuito de corroborar com a hipótese que as espécies se dispersaram pela América do
Sul por meio da FTSS, foi realizado um estudo sobre a estrutura genética da Myracrodruon
urundeuva (Allemão), com dados coletados em ambientes que formaram a FTSS. A pesquisa
mostrou que o cloroplasto do vegetal investigado teve poucas mudanças, indicando pouco
isolamento, o que significa dizer que a Myracrodruon urundeuva (Allemão) não colonizou o
Neotrópico se dispersando por meio de savanas fragmentadas (o que implicaria em isolamento
e mudanças na estrutura genética, ou até mesmo em especiação) (CAETANO et al., 2008).
Atualmente, a Floresta Tropical Sazonalmente Seca está distribuída de forma disjunta
pelo Neotrópico, sendo a Caatinga um bioma considerado uma dessas disjunções
(PENNINGTON; PRADO; PENDRY, 2000; CAETANO et al., 2008). A FTSS
51
fisionomicamente diferente das savanas, pois a primeira apresenta ecossistemas dominados por
árvores e copa relativamente contínua (PENNINGTON; PRADO; PENDRY, 2000). Contudo,
a Caatinga não vem sendo considerada uma FTSS, mas uma savana (VELOSO, 1991; IBGE,
1992; RODAL; BARBOSA; THOMAS, 2008; IBGE, 2012). É importante salientar que a
Caatinga já foi bastante antropizada desde a ocupação deste bioma pelos colonos europeus,
sendo sua fisionomia atual decorrência da sua alteração. A seguir, a Figura 16 mostra três
ambientes atuais de FTSS no Neotrópico. No que tange a ocorrência de paleofauna, Dantas et
al. (2013a) realizaram um estudo sobre o potencial de distribuição do Mastodonte pela América
do Sul (Notiomastodon platensis (Ameghino, 1888)) (Figura 17).
Figura 16: Atual FTSS no Neotrópico: Formações no México - A (PENNINGTON et al., 2004), Brasil – B
(Acervo do autor) e Equador - C (PENNINGTON et al., 2004).
Figura 17: Potencial de distribuição do Notiomastodon platensis (Ameghino, 1888) para 120 mil anos A.P. e 21
mil anos A.P.
maciços e inselbergs provavelmente refletiram as mesmas que foram inferidas a partir destas
datações.
É provável que este ambiente de savana tenha se mantido entre 24 mil e 18 mil anos
A.P., pois as condições climáticas se mantiveram com fases úmidas relativamente rápidas e
intercaladas por condições secas (BEHLING et al., 2000). Além disso, a megafauna
pleistocênica ainda ocorria nesse período, sendo registados fósseis do Notiomastodon platensis
(Ameghino, 1888), datados entre 19.450 – 18.930 anos A.P. no município de Barcelona-RN, e
de preguiças gigantes (Eremotherium laurillardi (Lund, 1842)) nos municípios de Currais
Novos-RN e Barcelona-RN, datados de 18.850 – 18.580 anos A.P. (DANTAS et al., 2013). Por
volta de 15.000 anos A.P., as condições climáticas na área de estudo se tornam úmidas, podendo
ter havido no máximo 3 meses secos ao longo do ano (BEHLING et al., 2000), sendo que neste
cenário climático houve a expansão da Floresta Tropical Sazonalmente Seca (PRADO; GIBS,
1993).
Para o semiárido do Nordeste Setentrional, é inferido que a cobertura vegetal tenha
mudado sua formação, passando de um ambiente com ecossistemas de sanavas e com condições
semiáridas intercaladas por momentos úmidos para um ambiente com ecossistemas de florestas
54
montanas nos maciços, expansão das matas de galerias, ambas com características decíduas,
estrato herbáceo bem definido ainda ocorrente e condições climáticas mais úmidas que o atual.
Para a depressão sertaneja, o porte da vegetação provavelmente era dominado pelo estrato
arbóreo com presença de lianas e estratos arbustivo e herbáceo ocorrendo de forma mais densa
que o atual. Estas condições paleoambientais e paleoclimáticas persistiram provavelmente até
cerca de 11.800 anos A.P. (PRADO; GIBS, 1993; BEHLING et al., 2000). O último registro
da megafauna pleistocênica para a região era de um mamífero de pasto, o Toxodonte (Toxodon
platensis (Owen, 1840)), encontrado no município de Rui Barbosa-RN e datado de 12.720 –
12.560 anos A.P. (DANTAS et al., 2013).
Por volta de 11 mil anos A.P., as condições climáticas semiáridas retornaram, sendo
mais frio e seco que o clima semiárido atual, sendo que este paleoclima pode estar ligado ao
evento Younger Dryas (BEHLING et al., 2000; MUTZENBERG, 2007; AMORIM, 2015). A
provável resposta da cobertura vegetal às características climáticas foi a de perda da densidade
de todos os estratos e provável aceleração da erosão dos solos em eventos de pluviosidade com
baixa recorrência e alta magnitude. Com base em datação de sedimentos aluviais no município
de Carnaúba dos Dantas-RN, Mutzenberg (2007) identificou o retorno de condições úmidas por
volta de 7.600 anos A.P. e provável adensamento da cobertura vegetal.
Já no Holoceno Médio, por volta de 7 mil anos antes do presente, o clima no semiárido
do Nordeste Setentrional passa possivelmente a ter maior influência do El Niño Oscilação Sul
(ENOS), que eram mais duradouros que os atuais eventos ENOS (MARTIN et al., 1993;
AMORIM, 2015). Com as estações secas mais prolongadas na região, é possível que tenha
havido aumento da dissecação de solos da região com a volta das estações chuvosas. Devido às
características xerofíticas e caducifólias da cobertura vegetal, é provável que não tenha havido
grandes alterações na fisionomia da mesma, que do Holoceno Médio até meados do século
XVII, poderia ter fisionomia arbóreo-arbustiva para todo o semiárido, sendo o estrato arbustivo
dominante na depressão sertaneja, onde também poderia ter havido presença do estrato arbóreo
aliado a lianas. Já nos maciços e inselbergs, o estrato arbóreo juntamente com trepadeiras
lenhosas era dominante (atualmente, em muitos desses relevos, este estrato ainda é dominante).
Antes e durante o início da ocupação dos colonos europeus, o evento climático
conhecido como a Pequena Idade do Gelo (1.700 – 200 anos A.P.) rebaixou as temperaturas
médias em todo o planeta, sendo que suas influências climáticas no Nordeste do Brasil foram
registradas por Amorim (2015). Este evento climático provavelmente produziu condições mais
secas que as atuais, podendo ter levado a um aumento das taxas de remobilização dos solos em
eventos pluviométricos mais intensos.
55
Figura 19: Caule do Myroxylon peruiferum (L. f.) em primeiro plano (juntamente com a lâmpada) e o caule da
Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore, ao fundo.
Introdução
Materiais e métodos
𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀 − 𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀
𝑳𝑳𝝀𝝀 = � � (𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸 − 𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸) + 𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀
𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸 − 𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸
Ou
Onde:
(01)
𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀 − 𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀
𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮𝑮 =
𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸 − 𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸
𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀 − 𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀
𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩𝑩 = 𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝑳𝝀𝝀 − � � 𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸
𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸 − 𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸𝑸
Onde:
Onde:
Lλ = Radiância espectral;
ML = Parâmetros de radiância (Fator de redimensionamento multiplicativo de cada banda
específica);
AL = Parâmetros de radiância (Banda específica de aditivo);
Qcal = Valores de pixel do produto padrão de cada banda (ND);
5
Disponível em <http://landsat.usgs.gov/Landsat8_Using_Product.php> Acesso em 18 de setembro de 2017.
61
Onde:
Onde:
Sendo os valores ótimos de L (nesta pesquisa, foi usado L = 0,5) (HUETE; JACKSON;
POST, 1985):
Onde:
C = Caatinga;
SE = Solo Exposto;
AS = Agrossistemas;
CH = Corpos Hídricos;
Σ = Somatória;
% = Resultado em porcentagem;
63
AM = Acurácia do mapa;
AC = Acurácia da classe.
Onde:
Para avaliar a qualidade do Índice de Kappa, Landis; Koch (1977) elaboraram uma
tabela contendo valores do índice e suas respectivas qualidades com relação a acurácia dos
mapas (Tabela 07).
A amostragem dos pontos para avaliar a acurácia dos mapas resultantes dos índices
acumulou 125 pontos, os quais foram armazenados em planilhas eletrônicas do OpenOffice.org
Calc/Apache OpenOffice v. 4.1.5 (2013 GNU Lesser General Public License v.3®).
Posteriormente, foram submetidos a análise de suficiência amostral no software PAST v. 3.0
64
(HAMMER; HARPER; RYAN, 2001), onde foi adotado o estimador “JackKnife 1”. O software
usado para a confecção dos mapas foi o ArcGIS 10.3.
Com intensão de apresentar um mapeamento alternativo para a área de estudo, o
presente estudo apresenta um produto fruto de segmentação de classes com base em imagens
de média resolução. Este mapeamento foi auxiliado pelos 125 pontos amostrais.
Para a classificação dos usos e coberturas da terra foi usado o software Ecognition
Developer (Trimble®), que deu suporte na segmentação de classes, no qual foi usado o
algoritmo “multiresolution segmentation” e fator escala “10”, que se mostrou o mais
apropriado. A imagem de entrada foi a banda pancromática do satélite CBERS 4, (resolução
espacial de 5 metros, Órbita: 149, Ponto: 107, e Data: 27/12/2017). A segmentação foi auxiliada
por uma imagem CBERS 4 composta pelas bandas R3G4B2 (resolução espacial de 10 metros,
Órbita: 149, Ponto: 107, e Data: 27/12/2018). No ato da classificação, foram levados em
consideração a tonalidade, a geometria e a localização dos agrupamentos resultantes da
segmentação, para que cada um deles fosse classificado corretamente nas classes pré-
estabelecidas. A Figura 21 dispõe dos critérios para a classificação das formas de usos e
ocupações.
Por fim, no intuito de guiar a escolhas das imagens de satélite para os mapeamentos,
foram coletados dados referentes a pluviosidade na serra João do Vale. Como este ambiente
serrano não conta com estações pluviométricas de instituições oficiais, utilizou-se dados de um
pluviômetro manual J. Prolab com capacidade máxima de registro de 130 mm (710.831,63E e
9.337.640,00S, a altitude 458 metros – UTM/DATUM SIRGAS 2000/Zona 24S), localizada
numa encosta a barlavento. Para este estudo, as imagens de entrada para a geração do NDVI e
do SAVI foram escolhidas dando prioridade a sua disponibilidade em meses que marcam o fim
do período chuvoso, neste caso, o mês de abril.
65
Dinâmica temporal das formas de uso, cobertura e ocupações entre 1985 e 2015
Com base nas imagens de Landsat 5 e Landsat 8, foram gerados mapas multitemporais
das formas de uso e ocupação do maciço estudado, tais mapas são referentes aos anos de 1985,
1995, 2005 e 2015. A seguir, a Figura 22 dispõe a distribuição das classes mapeadas para cada
ano na área de estudo. A Figura 23 apresenta um gráfico mostrando a variação temporal da área
ocupada por cada classe.
A Caatinga arbórea foi a classe que dominou em termos de área ocupada, sendo a
maior para os anos de 1985 (140 km2/50,2%), 1995 (167,4 km2/60%), 2005 (134,2 km2/48,1%)
e em 2015 (160,3km2/57,5%). Tal superioridade deve-se a resolução da imagem (média
resolução) e também devido a declividade das encostas, dificultando a retirada dos indivíduos
arbóreos. A classe Caatinga arbustiva foi a segunda maior em extensão, estando intimamente
relacionada com a Caatinga arbórea, sendo percebido que quando há expansão da primeira, a
segunda retrai, tal como foi registrado para o intervalo de 1995 para 2005.
Já Floresta tropical sazonalmente seca teve distribuição reduzida e restrita em
fragmentos no plateau, não ultrapassando os 15% da área de estudo. Sua localização pode
explicar a baixa área ocupada, estando próximo as classes “Usos agrícolas” e a “Solo
exposto/habitações/rochas”. A conversão de áreas com FTSS e Caatinga arbórea no local de
estudo pode ser explicada pelo uso dos componentes arbóreos para a edificação de casas, cercas
para delimitação de terrenos particulares e públicos e também para a combustão para usos
domésticos, comprovado por informações dos moradores locais. Quanto as fisionomias
florestais que recobrem ambientes serranos do semiárido, é observado queda na área ocupada
para outros ambientes serranos, tais como a chapada do Araripe (PE/CE) (e.g. SILVA NETO,
2013), serra de Martins-Portalegre (RN) (e.g. MEDEIROS, 2016; BARBOSA; CARVALHO;
CAMACHO, 2017) e no planalto da Borborema (PB/PE) (e.g. LIMA, 2013).
67
180,0
160,0
140,0
120,0
Área (km2)
100,0
80,0
60,0
40,0
20,0
0,0
1985 1995 2005 2015
Anos
Solo exposto/habitações/rochas. Tal dinâmica pode ser atribuída tanto ao desmate de Caatinga
arbustivas em algumas áreas como pela colonização de espécies e desenvolvimento de
comunidades secundárias. Já os corpos hídricos registrados são referentes a “barreiros” com
baixa capacidade armazenamento hídrico.
Figura 24: Registro pluviométrico para a serra João do Vale entre os anos de 2014 e 2018.
Tabela 08: Classes de cobertura da terra e seus respectivos valores segundo o NDVI e SAVI.
Após a segmentação das classes ocorrentes, foram gerados produtos cartográficos com
base dos dois índices. A Figura 25 espacializa as classes segundo os valores do NDVI, e em
seguida, a Figura 26 mostra as classes reconhecidas pelos valores de pixel advindos do SAVI.
71
Para avaliar o desempenho dos índices, foram realizadas campanhas de campo para
coletar pontos de controle/avaliação nas classes de cobertura da terra existentes no ambiente
serrano estudado. Foram plotados 125 pontos de controle/avaliação, todas as classes foram
visitadas, havendo representatividade de todas elas para análise. A seguir, a Tabela 09 mostra
a quantidade de pontos que cada classe concentrou, e a Figura 27 mostra um gráfico de Curva
de Coletor atestando a suficiência amostral para esta pesquisa. Na sequência, a Figura 28 dispõe
o mapa com a localização de cada ponto amostral na área de estudo. O Apêndice 01 mostra a
ficha de campo e o Apêndice 02 traz listado os pontos e suas coordenadas.
Figura 27: Curva de Coletor assegurando a suficiências amostral em relação as classes observadas.
Curva de Coletor
7
6
N° classe observadas
5
4
3
2
1
0
11
16
21
26
31
36
41
46
51
56
61
66
71
76
81
86
91
96
1
6
101
106
111
116
121
N° pontos amostrasdo
Após confecção dos mapas com base nos índices e as campanhas de campo, foram
montadas duas matrizes de confusão (uma para cada índice) para avaliar a acurácia de cada
mapa, que servirá para analisar o desempenho de cada um dos índices. A montagem da matriz
de confusão foi elaborada a partir do confronto dos pontos plotados em campo com os produtos
gerados do NVDI e do SAVI. A seguir, a Tabela 10 dispõe a matriz elaborada para o NDVI.
Dos 125 pontos amostrais para a análise do NDVI, apenas 37 foram classificados
corretamente, havendo confusão principalmente entre as classes, “Caatinga arbórea”, “Caatinga
arbustiva”, “Floresta tropical sazonalmente seca” e “Usos agrícolas/Cajucultura”, sendo esta
última não reconhecida pelo NDVI. Na sequência, a Tabela 11 traz os resultados da acurácia
do produtor e a Tabela 12 traz os resultados do usuário, que juntas, oferecem mais detalhes
sobre a acurácia de cada classe.
75
Tabela 10: Matriz de confusão elaborado para o mapa produzido com base no NDVI.
Caatinga arbórea 8 24 0 6 0 2 40
Caatinga
2 9 0 1 11 13 36
arbustiva
Corpos hídricos 0 0 8 0 5 0 13
Floresta tropical
1 13 0 4 0 6 24
sazonalmente seca
Solo exposto/
0 0 1 0 8 3 12
Habitações/Rochas
Usos agrícolas/
0 0 0 0 0 0 0
Cajucultura
Total 11 46 9 11 24 24
Cerca de 52,1% dos pontos da classe “Caatinga arbustiva” foram confundidos com a
“Caatinga arbórea”, o que contribui para que a primeira tivesse um baixo desempenho, como é
notado na acurácia do produtor, com apenas 19%. Já com relação a classe “Caatinga arbórea”,
houve melhor desempenho na acurácia do produtor, sendo registrado um erro de omissão de
27,3%. Como a classe “Usos agrícolas/Cajucultura” não foi reconhecida pelo NDVI, os pontos
coletados para esta classe foram em sua maioria confundidos com a classe “Caatinga arbustiva”
(54,1% dos pontos). A Floresta tropical sazonalmente seca teve cerca de 54,5% de seus pontos
confundidos com a classe “Caatinga arbórea”, tendo baixo desempenho no NDVI.
A classe de cobertura com melhor desempenho em acurácia do produtor foi “Corpos
hídricos”, que teve 88,8% de acurácia do produtor. Já a classe “Habitações/rochas/Solo
exposto” teve acurácia baixa, registrando apenas 33,3% na acurácia do produtor. Por fim, o
desempenho do NDVI pode ser avaliado pela acurácia total do produtor, que marcou apenas
41,73%, sendo este valor considerado “Moderado”, segundo a classificação de Landis; Kock
(1977).
77
Já com relação a acurácia do usuário, os valores da acurácia são ainda mais baixos,
com a exceção da classe “Caatinga arbustiva”, que teve leve aumento (6%), mas sendo
considerado baixo. Devido ao baixo desemprenho da acurácia das classes na acurácia do
usuário, a acurácia total do usuário foi de apenas 31,61%, sendo considerado “Razoável”
segundo a classificação de Landis; Kock (1977).
Para avaliar os resultados obtidos por meio do SAVI, foi montado uma matriz de
confusão (Tabela 13), a partir do qual foram analisadas as acurácias do produtor (Tabela 14) e
do usuário (Tabela 15). Dos 125 pontos de controle/avaliação, apenas 38 foram classificados
de forma correta.
Assim como na análise dos resultados do NDVI, houve confusão dos pontos coletados
para a classe “Caatinga arbustiva” com a “Caatinga arbórea”, sendo confundidos cerca de
52,1% dos pontos. Dessa forma, a acurácia do produtor da classe “Caatinga arbustiva” teve
baixo desempenho (17,3%). Já a classe “Caatinga arbórea” teve igual desempenho se
comparado com esta mesma classe no NDVI, apresentando acurácia do produtor de 72,7%,
sendo que cerca de 18,1% de seus pontos foram confundidos com a classe “Floresta tropical
sazonalmente seca”. No tocante a classe “Floresta tropical sazonalmente seca”, esta classe teve
81,8% de seus pontos confundidos com a classe “Caatinga arbórea”, culminando com uma
baixa performance (9%).
Com relação a classe “Usos agrícolas/Cajucultura”, esta também não foi reconhecida
pelo SAVI, sendo que 95,8% de seus pontos foram confundidos com as classes “Floresta
tropical sazonalmente seca” (25%), “Caatinga arbórea” (33,3%) e “Caatinga arbustiva”
(37,5%). Já a classe “Solo exposto/Habitações/Rochas” performance, com 54,1% de acurácia
do produtor. A classe com os melhores resultados foi “Corpos hídricos”, com 88,8% de acurácia
do produtor.
O desempenho geral do SAVI pode ser atestado com a acurácia total do produtor, que
foi de 40,31%, sendo considerado “Razoável”, segundo a classificação de Landis; Kock (1977).
Neste caso, a acurácia do produtor do NDVI teve melhor desempenho que o registrado para o
SAVI.
78
Tabela 13: Matriz de confusão elaborado para o mapa produzido com base no SAVI.
Floresta tropical
Formas de uso e Caatinga Caatinga Solo exposto/ Usos agrícolas/
arbórea arbustiva
Corpos hídricos sazonalmente
Habitações/Rochas Cajucultura
Total
cobertura seca
Caatinga arbórea 8 24 0 9 2 8 51
Caatinga
1 8 0 1 9 9 28
arbustiva
Corpos hídricos 0 0 8 0 0 0 8
Floresta tropical
2 13 0 1 0 6 22
sazonalmente seca
Solo exposto/
0 1 1 0 13 1 16
Habitações/Rochas
Usos agrícolas/
0 0 0 0 0 0 0
Cajucultura
Total 11 46 9 11 24 24
Para os resultados obtidos via SAVI, a acurácia do usuário apresentou valores que
aumentaram a acurácia de algumas classes (Caatinga arbórea e Corpos) e diminuiu os valores
de outras (Caatinga arbustiva, Floresta tropical sazonalmente seca e Solo
exposto/Habitações/Rochas). A acurácia total do usuário apresentou melhores resultados se
comparado os dados obtidos para o NDVI, sendo registrado 38,30%, valor este considerado
“Razoável”, segundo a classificação de Landis; Kock (1977).
Os resultados obtidos nas matrizes confusão elaboradas para cada índice de vegetação
deixaram claro que o NDVI apresentou melhor desempenho que o SAVI. Esta superioridade
não era esperada, haja vista que a bibliografia que abordou este tema aponta, em sua maioria,
que os resultados do SAVI superam o NDVI (e.g. ALVES et al., 2014; GUEDES, 2016;
RIBEIRO; SILVA; SILVA, 2016). Além de cruzamentos perdidos para o SAVI, o NDVI
80
também apresenta atuação inferior se comparado com outros índices (YANG; WEISBERG;
BRISTOW, 2012; LI; JIANG; FENG, 2013).
Apesar da performance ter sido melhor, a vantagem do NDVI sobre o SAVI não foi
tão ampla, e mesmo que a bibliografia aponte o SAVI como o melhor índice, o NDVI ainda
presenta ampla aplicação em estudos sobre a fenologia da Caatinga e em mapeamentos com
viés ambiental (e.g. COSME JÚNIOR, 2011; MELO; SALES; OLIVEIRA, 2011; CHAVES et
al., 2013; DANTAS, 2013), e em alguns casos, apresentam acurácia total satisfatória (e.g. SÁ
et al., 2010).
Ao avaliar a atuação dos índices aqui empregados, foi observado que as classes
“Caatinga arbórea”, “Caatinga arbustiva” “Floresta tropical sazonalmente seca” e “Usos
agrícolas/Cajucultura” foram as classes que mais exibiram confusões, o que pode ser resultado
de uma leve deficiência dos índices em reconhecer separadamente a atividade fotossintética
dessas classes. Os vegetais da Caatinga arbórea, de Caatinga arbustiva (normalmente em
rebrota) e as culturas agrícolas (comumente perenifólias em ambientes serranos) mostram
atividade fotossintética semelhante, dificultando a segmentação, algo que a bibliografia
especializada já observou tanto para o NDVI quanto para o SAVI em ambiente serrano (e.g.
GUEDES, 2016; RIBEIRO; SILVA; SILVA, 2016) e em demais ambientes de Caatinga
(CHAVES et al., 2013).
Por fim, os resultados aqui dispostos para o NDVI e SAVI são considerados
insatisfatórios, haja vista que bons produtos cartográficos com elaboração fundada em índices
deveriam ter classificações, segundo Landis; Kock (1977), de “Bom” a “Excelente”, como foi
observado por Guedes (2016) no ambiente serrano do município de Martins-RN, onde foi
obtido uma acurácia com classificação “Bom” segundo Landis; Kock (1977).
de cada forma de usos e cobertura da terra mapeada com base nas imagens CBERS 4 (Data:
27/12/2018).
Tabela 16: Área ocupada por cada classe de usos e cobertura da terra.
Formas de usos e cobertura Área (Km2) Área (%)
Caatinga arbórea 39,4 14,1
Caatinga arbustiva 191,8 68,5
Corpo hídrico 0,5 0,2
Floresta tropical sazonalmente seca 21,8 7,8
Solo exposto/Habitações/Rochas 14,7 5,3
Usos agrícolas/Cajucultura 11,8 4,2
Total 280,0 100,0
Fonte: Elaborado pelo autor.
Introdução
6
Os ambientes serranos do semiárido do Brasil se mostram, em sua grande maioria,
como ambientes de cobertura vegetal conservada ou em estágio de sucessão ecológica
avançado, o que confere a tais ambientes uma maior diversidade florística (ocorrência de
espécies que não ocorrem no seu entorno) e estrutural (geralmente, o porte da cobertura vegetal
é maior do que no entorno) (TABARELLI; SANTOS, 2004; CAVALCANTE, 2005; LEAL et
al., 2005; MARTINELLI, 2007; MARQUES; SILVA; SILVA, 2015). Além disso,
consideráveis parcelas desses ambientes suportam estruturas e fisionomias vegetais de Floresta
tropical sazonalmente seca (FTSS), comumente dispostas de forma fragmentária (ESPÍRITO-
SANTO et al., 2008; SANTOS et al., 2011).
Os fragmentos da FTSS distribuídos pelo bioma Caatinga costumam ser apontados
como disjunções de uma formação florestal outrora distribuída como um “arco” bordejando as
florestas Amazônica e Atlântica durante o Quaternário tardio (PRADO; GIBBS, 1993;
PENNINGTON; PRADO; PENDRY, 2000; PENNINGTON et al., 2004). Compreende-se
como FTSS formações florestais ocorrendo em regiões com estação seca de vários meses, com
precipitações anuais totalizando entre 700 e 1.500 mm.ano-1 e temperaturas iguais ou maiores
a 25°C, culminando com a resposta do hábito foliar predominantemente decídua (> 50% da
flora decídua), havendo também perenifólias (MOONEY; BULLOCK; MEDINA, 1995;
SÁNCHEZ‐AZOFEIFA et al., 2005).
Estima-se que 52,2% das Florestas tropicais sazonalmente secas estejam na América
do Sul, e por se distribuírem em solos ricos em minerais e nutrientes, a FTSS vem sendo alvo
de práticas agrícolas (PRADO; GIBBS, 1993; MILES et al., 2006). Estes ambientes apresentam
baixa resiliência se comparados com florestas úmidas (POORTER et al., 2016) e importantes
serviços ecossistêmicos tem sido documentado para estas formações florestais (CALVO-
RODRIGUEZ et al., 2017), e importantes discussões envolvendo a conservação da FTSS vem
sendo realizadas (e.g. MILES et al., 2006; CAO et al., 2015; SUNDERLAND et al., 2015).
Diante do contexto de complexidade fitogeográfica em que os ambientes serranos se
associam, esta pesquisa teve como objetivo compreender os padrões e processos biogeográficos
6
Este capítulo está em fase de formatação e revisão para ser submetido ao Journal of Forest Ecology and
Management (QualisCAPES – A1/GEOGRAFIA).
85
da cobertura vegetal da serra João do Vale, recoberta por fisionomias de Caatinga e de Floresta
tropical sazonalmente seca. Além disso, para dar suporte a conservação dos ambientes serranos
do semiárido, a cobertura vegetal foi agrupada em unidades fitoecológicas.
Materiais e métodos
A classificação da cobertura vegetal e das demais classes foram apoiadas por uma
bateria preliminar de campo, no qual foram identificados 06 (seis) classes: Caatinga arbórea,
Caatinga arbustiva, Corpos hídricos, Floreta tropical sazonalmente seca, Solo exposto/
Habitações/ Rochas e Usos agrícolas/ Cajucultura. Para as classes vegetais, foram definidos
padrões quanto a fisionomia (Caatinga e floresta), estrato (arbóreo e arbustivo) e localização
quanto ao relevo (encostas, cristas e platôs) e a altimetria (m).
Para a classificação dos usos e coberturas da terra foi usado o software Ecognition
Developer (Trimble®), que deu suporte na segmentação de classes, no qual foi usado o
algoritmo “multiresolution segmentation” e fator escala “10”, que se mostrou o mais
apropriado. A imagem de entrada foi a banda pancromática do satélite CBERS 4, (resolução
espacial de 5 metros, Órbita: 149, Ponto: 107, e Data: 27/12/2017). A segmentação foi auxiliada
por uma imagem CBERS 4 composta pelas bandas R3G4B2 (resolução espacial de 10 metros,
Órbita: 149, Ponto: 107, e Data: 27/12/2018). No ato da classificação, foram levados em
consideração a tonalidade, a geometria e a localização dos agrupamentos resultantes da
segmentação, para que cada um deles fosse classificado corretamente nas classes pré-
estabelecidas.
Por sua vez, a identificação das espécies botânicas se deu a partir do sistema APG II,
com auxílio de bibliografia especializada (SOUZA; LORENZI, 2005). De maneira
complementar, também foram realizadas consultas ao sistema Trópicos®
(https://www.tropicos.org/home.aspx?langid=66), o qual contém dados e amostras botânicas
do Missouri Botanical Garden, assim como ao Flora do Brasil 2020 - INCT Herbário Virtual
da Flora e dos Fungos (http://reflora.jbrj.gov.br/reflora). Os exemplares botânicos foram
arquivados no Acervo de Amostras Botânicas do Laboratório de Biogeografia (UFRN/CERES
– Campus de Caicó).
Após a classificação, foram feitas novas visitas de campo para constatar as classes e
os padrões vistos no mapeamento, e eventuais erros foram corrigidos. Nesta segunda bateria de
campo, foram anotadas as espécies-chave que caracterizam cada classe de cobertura vegetal e
observados com mais detalhes padrões de distribuição da cobertura vegetal na serra João do
86
Vale. Por fim, com base em Moro et al. (2015), foram identificadas as unidades fitoecológicas
da serra João do Vale. Os parâmetros para a delimitação foram: fisionomia vegetal, unidades
do relevo e espécies-chave de cada fisionomia vegetal.
A diversidade de fisionomias encontradas na serra João do Vale era esperada, uma vez
que a bibliografia que tratam de ambientes serranos costuma apontar complexidade em
fisionomias e no componente florístico (e.g. OLIVEIRA et al., 2009; NETO; SILVA, 2012;
PEREIRA JÚNIOR; ANDRADE; ARAÚJO, 2012; MORO et al., 2015). Foram, ao todo, três
fisionomias registradas, todas condicionadas tanto por fatores ambientais como pela
intervenção humana, gerando padrões complexos de distribuição, algumas vezes não havendo
tendências, onde a aleatoriedade era proeminente. Para serra João do Vale, somando-se as áreas
ocupadas por cada classe de cobertura vegetal, ver-se que o ambiente serrano tem cobertura
vegetal predominando sobre as demais classes de usos e cobertura, totalizando 90,4% (ver
Tabela 17).
Das três classes de cobertura vegetal encontradas na serra João do Vale, a classe
“Caatinga arbustiva” foi a que predominou, abrangendo cerca de 68,5% do ambiente estudado.
Esta classe ocorre desde as encostas localizadas no contato com a Depressão Sertaneja, até as
encostas mais altas e em cristas rochosas cujo a altitude não supera os 600 metros. Assim como
ocorre na Depressão Sertaneja, a “Caatinga arbustiva” tem sua fisionomia induzida pelas
pressões dos usos de seu componente lenhoso, ou sua completa retirada para demais fins, o que
acarreta uma sucessão secundária, gerando uma fisionomia arbustiva e geralmente densa. Sua
fisionomia compreendia o estrato arbustivo, com indivíduos atingindo até 6 metros, o estrato
herbáceo é bem definido e havia a ocorrência de lianas, contribuindo para a densidade desta
classe.
O padrão de distribuição desta fisionomia pode ser explicado pela sucessão ecológica,
que pode ser mais ativa em encostas com densa camada de colúvios, ou menos atuante em
encostas declivosas com presença de afloramentos rochosos (Figura 30). Outro fator importante
é a atuação humana, a qual atua na retirada total ou seletiva da cobertura vegetal, retardando a
sucessão. Os processos ocorrentes são semelhantes aos que se desenvolvem na Caatinga
arbustiva na Depressão Sertaneja (e.g. AMORIM; SAMPAIO; ARAÚJO, 2005; AMORIM;
SAMPAIO; ARAÚJO, 2009), contudo, os efeitos da secessão ecológica são mais proeminentes
no ambiente serrano estudado.
87
A classe “Caatinga arbórea” foi a segunda maior em área (14,1% do total), seu padrão
de distribuição se assemelha com a classe “Caatinga arbustiva”, diferindo apenas na declividade
das encostas (ocorrem em encostas mais declivosa e de difícil acesso) e em cristas, escarpas e
em colúvios, também de difícil acesso (Figura 31). Ocorrem cotas altimétricas abaixo dos 600
metros, e dificilmente chega a ter contato com Depressão Sertaneja, pois logo é sucedida pela
Caatinga de porte arbustivo. A cobertura vegetal de Caatinga arbórea tem porte, para a área de
estudo, entre 6 e 10 metros, e assim como a Caatinga arbustiva, há nela a ocorrência de lianas.
89
Unidades fitoecológicas
Floreta tropical
FTSS de encostas Syagrus cearensis Noblick.
sazonalmente seca
A Caatinga, por sua vez, apresentou duas unidades fitoecológicas, sendo que a unidade
“Caatinga de escarpas cristalinas” pode apresentar fisionomias arbustiva ou arbórea, bem como
na unidade “Caatinga de encostas”. As unidades que representam as fisionomias de Caatinga
foram simplificadas devido, salvo algumas exceções, à similaridade florística entre elas,
diferenciando-se basicamente pelo porte dos vegetais.
Para a unidade que apresentou a fisionomia “arbórea”, as espécies-chave foram a
Manihot glaziovii Müll. Arg. (Família Euphorbiaceae) e a Myracrodruon urundeuva Allemão
(Família Anacardiaceae), ambas com porte arbóreo. As espécies-chave da fisionomia arbustiva
foram os táxons Croton sonderianus Müll. Arg. (Família Euphorbiaceae), a Anadenanthera
colubrina (Vell.) Brenan (Família Fabaceae), Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. (Família
Fabaceae) e a Bauhinia forficata Link (Família Fabaceae). As ocorrências destes táxons podem
ser observadas para ambientes serranos (e.g. PEREIRA NETO; SILVA, 2012; CALIXTO
JÚNIOR; DRUMOND, 2014; MEDEIROS, 2016).
Diante dos padrões e processos observados, a FTSS que recobre os platôs e as escarpas
e encostas mais altas são disjunções de formações florestais que recobrem ouras serras com
condições ambientais semelhante à da serra João do Vale (e.g. serra Martins-Portalegre, serra
de Sant’ana e encostas e cristas do planalto da Borborema) e em fragmentos nas cercanias da
Floresta Atlântica. No tocante as unidades fitoecológicas, foi observado que a área de estudo
apresenta complexidade fitogeográfica e paisagística.
Destaca-se, portanto, a consideração de que ambientes serranos, principalmente os que
são recobertos pela FTSS, devem ser incluídos em planos de conservação e manejo do bioma
Caatinga.
95
Introdução
7
Este capítulo está em fase de formatação e revisão para ser submetido ao Journal of Ecosystem Services
(QualisCAPES – A1/CIÊNCIAS AMBIENTAIS).
96
Materiais e métodos
Com relação aos serviços ecossistêmicos prestados pela cobertura vegetal dos
ambientes serranos, estes foram listados com base na classificação CICES – The Common
International Classification of Ecosystem Services V4.3 (HAINES-YOUNG; POTSCHIN,
2013). Os serviços listados foram enquadrados nas seguintes classes: 1) Serviços de provisão
(provisão comida e outros recursos, etc.); 2) Serviços de regulação e manutenção (regulação da
qualidade da água e do solo e degradação de áreas, etc.); 3) Serviços culturais (benefícios
recreacionais, de saúde física e mental, turismo, apreciação estética da paisagem e outros
benefícios não materiais) (HAINES-YOUNG; POTSCHIN, 2013).
As etapas de coletas de dados via questionários (Apêndice 03) foram importantes para
a listagem e corroboração da prestação dos serviços ecossistêmicos de “Serviços de provisão”
e de “Serviços culturais”. O levantamento de serviços via questionários foram feitas em duas
etapas: 1) Submissão do protocolo de coleta de dados via questionário semiestruturado ao
Comitê de Ética da UFRN (CEP/UFRN) e 2) Posterior a liberação do protocolo (CAAE:
98794918.5.0000.5537 e n° do parecer: 2.996.474 – Anexo 01), os questionários foram
aplicados com base no método “informante-chave” ou “bola de neve” (MARSHALL, 1996),
onde um entrevistado indicou o próximo participante, e assim por diante. Entre dezembro de
2018 e janeiro de 2019, foram 18 entrevistados, sendo 07 mulheres e 11 homens.
Para a espacialização dos “Serviços de provisão” e de “Serviços culturais”, e obtenção
dos “Serviços de regulação e manutenção” foram usados métodos de álgebra de mapas, onde
arquivos matriciais submetidos a ferramenta Weighted Overlay (Sobreposição Ponderada)
(Figura 35). Por fim, os resultados das álgebras foram inseridos na planilha de somatório de
serviços para definição dos pesos e respectivas cores para os mapas finais seguindo os descritos
em Burkhard et al. (2009) e Burkhard; Maes (2017).
97
Figura 38: Procedimentos dos cálculos Weighted Overlay para o SE “Mediação de Fluxos”.
Figura 39: Procedimentos dos cálculos Weighted Overlay para o SE Mediação de Líquidos.
Figura 40: Procedimentos dos cálculos Weighted Overlay para o SE Mediação por Ecossistema.
Figura 41: Procedimentos dos cálculos Weighted Overlay para o SE Formação de Solo.
Resultados e Discussões
A cobertura vegetal da serra João do Vale presta, segundo a parcela amostral, serviços
ecossistêmicos de “Provisão”, direta e indiretamente, por meio do componente vegetal e
faunístico. Dos recursos vegetais são extraídos para alimentação frutas e/ou sementes, tais como
o côco-catolé (fruto do Syagrus cearensis Noblick. ), maracujá do mato (Passiflora cincinnata
Mast.), umbú (fruto da Phytolacca dioica L.) e a semente da mucunã (Dioclea grandiflora Mart.
ex Benth.), além disso, o estrato herbáceo tem utilidade na alimentação de rebanhos de bovinos
e caprinos. Na Caatinga, a coleta de frutos e sementes, bem como o uso de herbáceas para
alimentar rebanhos são práticas realizadas principalmente em comunidades rurais do semiárido
(e. g. ARAUJO et al., 2010; LUCENA et al., 2012; SILVA et al., 2014; NASCIMENTO;
RAMOS; SILVA, 2019), sendo estes, portanto, serviços ecossistêmicos largamente prestados
pela Caatinga no semiárido.
A fauna local também é empregada na alimentação, principalmente mamíferos (e.g.
Euphractus sexcinctus Linnaeus 1758; Dasypus novemcinctus L.; Conepatus semistriatus
(Boddaert, 1785); Cavia aperea Erxleben, 1777; Tamandua tetradactyla (Linnaeus,1758)) e
aves (e.g. Crypturellus tataupa (Temminck, 1815); Zenaida auriculata (DesMurs 1847);
104
Patagioenas picazuro Temminck, 1813), além da extração de mel (e.g. Trigona spinipes
Fabricius). A obtenção destes se dá principalmente pela caça, cuja prática é proibida, mas
amplamente empregada no semiárido para fins alimentícios (e.g. ALVES; PEREIRA FILHO,
2007; ALVES et al., 2009; BARBOSA; NOBREGA; ALVES, 2011; ALVES; GONÇALVES;
VIEIRA, 2012; BARBOSA; AGUIAR, 2015; ALVES et al., 2016). A seguir, a Tabela 18
dispõe os serviços de “Provisão” listados pelos entrevistados.
Tabela 18: Serviços de Provisão prestados pela cobertura vegetal da serra João do Vale. Legenda: CaaArbó –
Caatinga arbórea; CaaArbu – Caatinga arbustiva; Ch – Corpos hídricos; FTSS – Floresta tropical sazonalmente
seca; Us - Usos agrícolas/Cajucultura; S. exp./H. – Solo exposto/Habitações/Rocha.
Seção Divisão Grupo Classe Uso Exemplo CaaArbó CaaArbu Ch FTSS Ua S. exp./Hab
Ameixa da Caatinga;
Côco-catolé; Mucunã;
Umbú; Maracujá do
Plantas selvangens Coleta X X X X X
mato; Guabiraba;
Herbáceas para
Nutrição Biomassa alimentação do gado
Resina de Cumarú, do
Provisão Jatobá, Marmeleiro, da
Burra Leitera, Palha e
Fibras/materiais de
resina/óleo da palmeira
plantas e animais
Materiais Biomassa Coleta Catolé, Cipó d'água da X X X X
para usos direto ou
Caatinga, Casca do
transformação
Cumarú, do Brejuí, da
Jurema preta, da
Imburana e da Sucupira
Recursos lenhosos do
Marmeleiro, da Jurema
Fontes de
Recursos à base de preta, da Podolha, do
Energia energia a base Coleta X X X X
plantas Coração de Nego, da
de biomassa
Sucupira e do
Limãozinho
Além dos usos para alimentação, os recursos lenhosos tanto da Caatinga como da
Floresta tropical sazonalmente seca tem aplicações para a elaboração de estruturas como
faxinas, cercas, porteiras, linhas, caibros e ripas (e.g. Myracrodruon urundeuva (Allemão);
Myroxylon peruiferum L. f.; Copernicia prunifera (Mill.) H.E.Moore; Croton sonderianus
Müll. Arg.; Copaifera duckei Dwyer; Amburana cearenses (Allemão) A.C. Sm.; Syagrus
cearensis Noblick. ; Mimosa tenuiflora Benth.), assim como o emprego de cascas, resina e óleos
para usos medicinais (e.g. Mimosa tenuiflora Benth.; Amburana cearenses (Allemão) A.C. Sm.;
Myroxylon peruiferum L. f.). Tais usos são comuns em todo o semiárido (e.g. LUCENA et al.,
2011; LUCENA et al., 2012; SILVA et al., 2014; SILVA et al., 2015; SANTOS et al., 2017;
105
NASCIMENTO; RAMOS; SILVA, 2019). Por fim, o componente lenhoso das formações
vegetais na serra João do Vale também tem emprego do ponto de vista energético (e.g. Croton
sonderianus Müll. Arg.; Copaifera duckei Dwyer; Mimosa tenuiflora Benth.), principalmente
para usos do “fogão a lenha”, sendo que tal emprego é bastante citado na bibliografia
especializada (e.g. RAMOS et al., 2008; LUCENA et al., 2012; SILVA et al., 2014; LIMA et
al., 2016; NASCIMENTO et al., 2019).
Quantos aos serviços “Culturais”, foram observados elementos
míticos/supersticiosos/simbólicos associadas as formações vegetais, como a lenda da “Comadre
Fulozinha” (umas das variações da lenda da Caipora), e de componentes vegetais e animas (uso
de sementes e casulos de insetos como elementos coibidores de sentimentos como a inveja,
popularmente conhecida como “mal olhado”). Do ponto de vista sagrado/religioso, os usos
abrangem a religião cristã, onde alguns vegetais são empregados em datas religiosas específicas
(e.g. Copaifera duckei Dwyer; Syagrus cearensis Noblick; Phytolacca dioica L.). Há também
interações físicas e vivenciais com os ecossistemas presentes na serra, tal como o
entretenimento por meio de trilhas, a produção de trabalhos acadêmicos (e.g. SIMÃO, 2017) e
suporte na educação ambiental, como mostra a Tabela 19.
Tabela 19: Serviços Culturais prestados pela cobertura vegetal da serra João do Vale. Legenda: CaaArbó –
Caatinga arbórea; CaaArbu – Caatinga arbustiva; Ch – Corpos hídricos; FTSS – Floresta tropical sazonalmente
seca; Us - Usos agrícolas/Cajucultura; S. exp./Hab – Solo exposto/Habitações/Rocha.
Seção Divisão Grupo Classe Exemplo CaaArbó CaaArbu Ch FTSS Ua S. exp./Hab
Comadre Fulozinha (variação
da lenda da Caipora); Casulo
da Cigarra contra "mal
Simbólico X X X X
olhado"; Semente da
mucunã contra "mal
olhado"
Interações intelectuais
Espiritual ou Palha da palmeira Catolé no
e simbólicas com o
emblemática "Domingo de ramos" (data
ecossistema
religiosa Cristã); Lenha da
Cultural Sagrado ou podolha para fogueiras das
X X X X
religioso festas juninas (data religiosa
Cristã); Fruto do umbú para
consumo na "semana
santa" (data religiosa Cristã)
Produção de trabalhos
Interações físicas e Interações
Científica X X X X X X
acadêmicos
intelectuais com o físicas e
ecossistema vivenciais Educacional Educação ambiental X X X X X X
Entretenimento Mirantes e trilhas X X X X X
Quanto a espacialização dos serviços de Provisão, (Figura 42) observou-se que toda a
cobertura vegetal presta serviços, havendo destaque para as fisionomias de Caatinga e FTSS,
que tiveram relevância “Alta capacidade relevante”. Quanto aos serviços culturais, todas as
106
classes apresentaram capacidade relevante, até mesmo Solo exposto/Habitações, que teve
serviços classificados como “Capacidade relevante” (Figura 43).
hídrica de um dreno ou bacia hidrográfica (e.g. SILVA et al., 2015; DORNELLAS et al., 2017;
MOURA et al., 2018).
O padrão de distribuição desse tipo de serviço pelo maciço estudado foi a de que
quanto mais alto, mais declivoso e mais esparsa a cobertura vegetal, menor será a infiltração, e
assim, menor será a classificação em nível de importância. A seguir, a Figura 45 dispõe a
espacialização dos serviços “Mediação de Líquidos”.
biomassa sobrepostos a declividades medianas a suaves, uma vez que estas características
amplificam os processos de intemperismo e decomposição de biomassa.
O inverso é observado nas encostas mais declivosas, onde as importâncias mais baixas
na prestação deste tipo de serviço foram registradas. Contudo, as formações vegetais que
recobrem estas encostas desempenham importantes serviços de “Mediação de Fluxos”,
impedindo/retardando a dissecação dos solos e colúvios. A seguir, a Figura 47 espacializa os
serviços de “Formação de Solo”.
abarcaram a esfera cultural dos serviços ecossistêmicos, tal como a presente pesquisa se dispôs
a fazer.
No tocante aos serviços que foram analisados por meio de sobreposições ponderadas,
admite-se que não foram empregadas entrevistas semiestruturadas para mensurar pesos para
cada variável utilizada, tal como foi observado nos métodos empregados em Inkoom et al.
(2018). É possível que no ato da conversão de dados para arquivos raster, que tenham
acontecido os controles dos resultados por estes conforme os descritos em Bagstad et al. (2018),
onde foi destacado que tanto a escolhas dos modelos como dos tipos de arquivos podem
influenciar significativamente os resultados. Não obstante, os modelos simples empregados na
presente pesquisa tendem a ter resultados robustos (BAGSTAD et al., 2018).
Os levantamentos e análises de serviços vem sofrendo abordagens mais integradas,
levando em consideração tanto as interações entre os serviços como a integração e os principais
condicionantes dos serviços na paisagem (ou cada um destes em separado) (e.g. CASTRO et
al., 2014; BASTIAN; GRUNEWALD; KHOROSHEV, 2015; INKOOM et al., 2018). Neste
contexto, os resultados obtidos aqui são frutos de uma análise integrada de variáveis intrínsecas
da paisagem (e.g. SE Mediação de Fluxos e SE Fluxos de líquidos), bem como da relação entre
serviços (e.g. SE Formação de Solo).
Apesar dos avanços na análise entre os serviços e a paisagem, tem sido chamada a
atenção acerca da dificuldade em que os resultados destas pesquisas tem de serem absorvidas
pelos planejadores e tomadores de decisão (PORTMAN, 2013). Tal dificuldade reside na
incapacidade de se simplificarem as relações entre serviços e a paisagem e também entre
serviços (PORTMAN, 2013), que podem ser complexas tanto do ponto de vista teórico (e.g.
BASTIAN; GRUNEWALD; KHOROSHEV, 2015) como em representações cartográficas
(e.g. BAGSTAD et al., 2018; INKOOM et al., 2018).
Os resultados obtidos neste trabalho não são exceção ao que foi dito acima, porém,
esforços foram feitos no sentido de amenizar as dificuldades, e para tanto, foram empregadas
as entrevistas semiestruturadas para garantir a participação dos maiores beneficiados pelos
serviços. Além do mais, foram abarcadas pessoas com protagonismo social e local, como
lideranças locais e professores, tal como foi observado nos procedimentos metodológicos em
Kovács et al. (2015).
Quanto as classes mapeadas, as que mais contribuíram para a prestação dos serviços
foram as relacionadas as coberturas vegetais, que influenciaram positivamente os resultados
dos cálculos. As coberturas vegetais (Caatinga arbustiva, Caatinga arbórea, FTSS e Usos
113
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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APÊNDICE 01
UNIVERSIDADE FERERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ / DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
LABORATÓRIO DE BIOGEOGRAFIA - LABIGEO
PROJETO - Mapeamento da cobertura vegetal e serviços ecossistêmicos prestados pelas paisagens do Rio Grande do Norte
- (PROPESQ/PFV14404-2017).
Identificação
Unidade da paisagem:
Altura: ( ) 100 % > 10,0 m / ( ) 100 % entre 5,0 e 10,0 m /( ) 100 % entre 2,0 e 5,0 m /( )
100 % < 5,0 m
Indícios de fauna
Indiretos: ( ) ninhos / ( ) pegadas / ( ) excrementos / ( ) pêlos / ( ) penas / ( ) cupins
Aspectos gerais
Sucessão ecológica: ( ) Ambiente em sucessão; ( ) Ambiente em clímax
Ação antrópica:( ) Clara presença de ação antrópica; ( ) Baixa presença de ação antrópica
Sub-bosque: ( ) Presença de sub-bosque de plântulas; ( ) Presença de sub-bosque de arbustos;
( ) Ausente
Aspectos fenológicos:
( ) Abundância de flores; ( ) Presença de frutos; ( ) Folhagem perenifólia; ( ) Folhagem
caducifólia; ( ) F. Mista
APÊNDICE 02
Formas de Caatinga
36 705380,102 9334971,639
Ponto X Y usos e arbórea
cobertura Caatinga
37 705137,889 9335097,233
Usos arbustiva
1 705673,767 9337391,815
agrícolas Caatinga
38 704938,614 9335129,571
Usos arbustiva
2 705705,349 9337453,276
agrícolas 39 704468,493 9335438,759 FTSS
Usos
3 708178,762 9337686,889
agrícolas 40 703401,539 9335352,563 Habitação
Usos Usos
4 708023,684 9337703,736 41 703067,972 9335446,204
agrícolas agrícolas
Usos Caatinga
5 708054,099 9337660,213 42 703047,382 9335518,868
agrícolas arbustiva
Usos Caatinga
6 707200,016 9336964,499 43 704151,745 9336145,728
agrícolas arbustiva
7 707156,133 9336954,970 Habitação 44 704272,356 9335949,351 Solo exposto
Usos
8 707815,090 9336847,370 45 704416,240 9335412,309 Açude
agrícolas
Usos Estrada/via
9 707618,753 9337016,157 46 704998,998 9335048,301
agrícolas de acesso
Usos Caatinga
10 706132,740 9336793,199 47 706816,517 9334738,047
agrícolas arbustiva
Usos Estrada/via
11 706192,556 9336758,260 48 709782,217 9334292,842
agrícolas de acesso
Usos 49 709802,253 9334272,173 Habitação
12 706094,896 9336460,162
agrícolas
Usos Estrada/via
13 703679,903 9335541,202 50 700582,215 9331443,917
agrícolas de acesso
Usos Caatinga
14 703644,809 9335562,918 51 700607,286 9331382,826
agrícolas arbustiva
Caatinga
15 703592,883 9334730,796 Solo exposto 52 700578,933 9331477,612
arbustiva
Usos Caatinga
16 703674,882 9334663,718 53 700543,287 9331498,816
agrícolas arbustiva
Usos Caatinga
17 704940,794 9333501,337 54 700503,28 9331494,631
agrícolas arbustiva
Usos Estrada/via
18 703360,394 9332925,304 55 700498,674 9331475,428
agrícolas de acesso
Usos 56 700228,015 9331502,655 Solo exposto
19 703980,160 9336953,147
agrícolas
Caatinga Caatinga
20 709748,704 9334151,035 57 700210,218 9331453,968
arbustiva arbustiva
Caatinga Caatinga
21 708908,937 9334633,705 58 700119,758 9331489,300
arbórea arbustiva
Caatinga Caatinga
22 708859,155 9334597,329 59 700100,604 9331416,776
arbórea arbustiva
Caatinga Caatinga
23 708680,794 9334751,169 60 700122,328 9331375,229
arbustiva arbustiva
Caatinga Caatinga
24 708677,831 9334811,168 61 700134,123 9331483,892
arbustiva arbórea
Caatinga Caatinga
25 708250,562 9334723,871 62 700070,786 9331514,772
arbustiva arbustiva
Caatinga 63 700072,343 9331969,787 FTSS
26 708305,143 9334791,362
arbustiva
64 700006,345 9331992,213 FTSS
Caatinga
27 708223,624 9334577,697 Caatinga
arbustiva 65 699858,413 9332309,663
Caatinga arbórea
28 708174,736 9334545,290 Caatinga
arbustiva 66 699803,057 9332390,654
Caatinga arbórea
29 706682,748 9334811,995 Caatinga
arbustiva 67 699710,44 9332362,081
Caatinga arbórea
30 706638,266 9334866,255 Caatinga
arbustiva 68 699691,623 9332362,524
Caatinga arbórea
31 706652,097 9334882,770
arbustiva 69 699511,271 9332599,544 FTSS
Caatinga
32 706714,582 9334807,308 Estrada/via
arbustiva 70 699408,724 9332750,928
de acesso
Caatinga
33 706732,364 9334862,192 71 699293,057 9332786,669 FTSS
arbustiva
Caatinga Caatinga
34 706689,62 9334681,251 72 700654,266 9331421,959
arbustiva arbórea
Caatinga Caatinga
35 706706,249 9334575,599 73 701109,519 9331249,863
arbustiva arbustiva
Caatinga 113 706624,066 9339453,301 Açude
74 701140,693 9331086,224
arbustiva
75 708627,902 9337389,658 FTSS 114 706598,432 9339517,407 Açude
Estrada/via Estrada/via
76 709340,646 9336963,565 115 703802,745 9337835,815
de acesso de acesso
Caatinga Estrada/via
77 709688,818 9337225,145 116 702728,733 9338305,250
arbustiva de acesso
Usos Caatinga
78 709741,394 9337049,783 117 702326,564 9338734,122
agrícolas arbustiva
Caatinga Estrada/via
79 709682,148 9336834,68 118 702269,027 9338911,516
arbustiva de acesso
Caatinga Caatinga
80 709947,332 9337521,747 119 701699,819 9338756,270
arbustiva arbustiva
Caatinga Caatinga
81 709458,76 9337720,888 120 706140,600 9333444,150
arbórea arbustiva
Caatinga 121 706376,240 9333590,100 FTSS
82 709504,102 9337693,76
arbustiva
Caatinga 122 706533,540 9333520,580 FTSS
83 709627,09 9337761,58
arbustiva 123 699806,420 9332152,380 FTSS
Usos
84 710022,455 9337985,046 124 699824,600 9332027,720 FTSS
agrícolas
Usos
85 710412,373 9337850,267 125 699691,740 9332038,340 FTSS
agrícolas
86 710366,983 9337785,085 Açude
87 710794,321 9337652,982 Habitação
88 710879,819 9338061,33 Açude
89 710826,659 9338143,106 Açude
90 711099,546 9337889,611 Solo exposto
91 711189,862 9337824,343 Solo exposto
Caatinga
92 711025,34 9338008,876
arbórea
Usos
93 711722,031 9338012,961
agrícolas
Usos
94 711828,788 9338006,712
agrícolas
95 711934,244 9337974,233 Habitação
96 712000,169 9338029,782 Açude
97 711976,884 9338156,612 Solo exposto
98 712010,208 9338191,831 Solo exposto
Caatinga
99 711775,681 9338259,309
arbustiva
Caatinga
100 703934,668 9338143,339
arbustiva
Caatinga
101 703883,540 9338453,440
arbustiva
Estrada/via
102 703981,821 9338584,982
de acesso
Caatinga
103 704821,132 9338936,639
arbustiva
Caatinga
104 704983,786 9339177,990
arbustiva
105 705015,688 9339244,837 Habitação
Caatinga
106 705314,793 9338839,455
arbustiva
Usos
107 705487,550 9338857,713
agrícolas
108 705507,312 9338969,680 Açude
109 705567,155 9339080,360 Açude
Caatinga
110 706057,561 9339246,164
arbustiva
111 706349,296 9339343,896 Habitação
Caatinga
112 706476,168 9339305,784
arbustiva
139
APÊNDICE 03
UNIVERSIDADE FERERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ / DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
LABORATÓRIO DE BIOGEOGRAFIA - LABIGEO
PROJETO - Mapeamento da cobertura vegetal e serviços ecossistêmicos prestados pelas paisagens do Rio Grande do Norte -
(PROPESQ/PFV14404-2017).
Coordenadas UTM:
Escolaridade:
SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS
PROVISÃO
CULTURAL
ANEXO 01
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DADOS DO PARECER
Apresentação do Projeto:
Trata-se de uma pesquisa com nível de abrangência de Mestrado proposta pelo Programa de Pós-
graduação em Geografia. O objetivo geral da pesquisa é inventariar, analisar e agrupar os serviços
ecossistêmicos prestados pela cobertura vegetal na paisagem da serra de João do Vale (RN/PB) nas
unidades da paisagem para definir áreas prioritárias para a conservação. Os primeiros resultados desta
pesquisa, dispostos no Capítulo 01: “Dinâmica multitemporal da Caatinga no maciço Serra João do Vale
(RN/PB) como subsídio para o estudo da paisagem” apresentam o contexto multitemporal da Caatinga no
ambiente serrano, indo além da série histórica humana na área de estudo. As interpretações das condições
paleoambientais do semiárido do Nordeste Setentrional permitem inferir que a fisionomia da Caatinga
oscilou entre savanas com condições de manter uma megafauna pleistocênica e fisionomias florestais
entren42 mil anos A.P. e 11.800 anos A.P., e que a área de estudo apresentou variações semelhantes. Sua
atual fisionomia é resultado de ações humanas que começaram noséculo VXII. Após essas considerações,
com base nas imagens de Landsat 5 e Landsat 8, foram gerados mapas multitemporais das formas de uso e
ocupação do maciço, tais mapas são referentes aos anos de 1985, 1995, 2005 e 2015. Por fim, com base
nos resultados dos usos históricos, foram delimitados e classificados 06 (seis) unidades da paisagem na
área estudada: Cristas vegetadas e com usos agrícolas; Depressão sertaneja vegetada e com usos
agrícolas; Encostas vegetadas e com múltiplos usos; Escarpas vegetadas e com usos agrícolas pontuais;
Platô com predomínio de usos agrícolas e Platô vegetado.
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Objetivo da Pesquisa:
Hipótese:
Objetivo Primário:
Objetivo geral
Avaliar os serviços ecossistêmicos prestados pela cobertura vegetal na paisagem da Serra de João do Vale
(RN/PB) para definir áreas prioritárias para a conservação.
Objetivo Secundário:
Objetivos específicos
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Continuação do Parecer: 2.996.474
O participante da pesquisa poderá temer que a pesquisa seja ligada a uma fiscalização de um órgão
ambiental, o que pode gerar riscos de agressão verbal.
Para cada risco, serão tomadas medidas preventivas e de reparação, as quais serão dispostas a seguir:
1) Para diminuir o risco de o participante não se sentir à vontade de participar da pesquisa ou de o mesmo
se irritar no ato da entrevista, será apresentado o projeto de pesquisa seguindo todas as recomendações do
capítulo III da Resolução 510/2016;
2) No caso do participante se sentir inseguro ou apresentar sinais de impaciência ou irritação, o processo de
entrevista será imediatamente interrompido, e logo depois será perguntado se o participante deseja encerrar
a entrevista, e caso a resposta seja positiva em relação a pergunta, a entrevista será finalizada.
3) Será esclarecido aos participantes que a entrevista e a pesquisa não têm ligações com órgãos
ambientais, e que as informações cedidas por eles
serão vistas como sigilosas. Em caso de persistência da dúvida ou do medo do participante de que a
pesquisa esteja ligado a algum órgão ambiental, a entrevista será cancelada e/ou interrompida.
Benefícios:
Os possíveis benefícios na aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas no âmbito da pesquisa
“Fitofisionomia e serviços ecossistêmicos da cobertura vegetal da Serra João do Vale (RN/PB)” se resumem
a:
O participante da pesquisa poderá ter melhor conhecimento sobre o bioma Caatinga;
O participante da pesquisa pode ter noções de educação ambiental;
O participante da pesquisa poderá ter acesso, no término da pesquisa, aos mapas de serviços
ecossistêmicos da Caatinga.
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Recomendações:
Ler todos os campos desse parecer.
Atentar para necessidade ou não de cadastro no SISGEN Sistema de Cadastro do Acesso ao Patrimônio
Genético e ao Conhecimento Tradicional Associado.
Pendência nº 01
1) Incluir o orientador do Mestrando na equipe da pesquisa no PB projeto de pesquisa.
Resposta
O orientador de mestrado deste projeto de pesquisa não foi incluído como membro da equipe na execução
do presente projeto de pesquisa na Plataforma Brasil devido ao mesmo não possuir cadastro na plataforma,
mas é assegurado que o orientador está ciente da pesquisa (o que pode ser visto nos documentos em tem a
assinatura do próprio).
Análise: como trata-se de uma recomendação e não de uma obrigatoriedade, a pendência foi justificada.
Pendência nº 02
2) O pesquisador solicita dispensa de TCLE, na verdade o que está sendo solicitado é a dispensa do
registro formal do consentimento livre e esclarecido, porém tal dispensa não isenta do processo de
Consentimento Livre e Esclarecido. Recomendamos que o pesquisador tenha atenção a RES 510/16 CNS
no seu capítulo III e que siga rigorosamente o disposto nesse capítulo. Veja a possibilidade de ter esse
registro sob forma de gravação de voz e caso, opte por esse meio
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Pendência nº 03
3) Riscos da pesquisa: Art. 19 Res 510/16 CNS. O pesquisador deve estar sempre atento aos riscos que a
pesquisa possa acarretar aos participantes em decorrência dos seus procedimentos, devendo para tanto
serem adotadas medidas de precaução e proteção, a fim de evitar dano ou atenuar seus efeitos. O
pesquisador deverá explicitar no PB projeto de pesquisa melhor os riscos e as formas de minimizá-los.
Resposta
Os possíveis riscos na aplicação de questionários e entrevistas semiestruturadas no âmbito da pesquisa
“Fitofisionomia e serviços ecossistêmicos da cobertura vegetal da Serra João do Vale (RN/PB)” se resumem
a:
O participante da pesquisa pode se não sentir à vontade responder as questões;
O participante da pesquisa pode se irritar mediante as perguntas ou com a duração da pesquisa;
O participante da pesquisa poderá temer que a pesquisa seja ligada a uma fiscalização de um órgão
ambiental, o que pode gerar riscos de agressão verbal.
Para cada risco, serão tomadas medidas preventivas e de reparação, as quais serão dispostas a seguir:
1) Para diminuir o risco de o participante não se sentir a vontade de participar da pesquisa ou de o mesmo
se irritar no ato da entrevista, será
apresentado o projeto de pesquisa seguindo todas as recomendações do capítulo III da Resolução
510/2016;
2) No caso do participante se sentir inseguro ou apresentar sinais de impaciência ou irritação, o processo de
entrevista será imediatamente interrompido, e logo depois será perguntado se o participante deseja encerrar
a entrevista, e caso a resposta seja positiva em relação a pergunta, a
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Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não
Assinado por:
LÉLIA MARIA GUEDES QUEIROZ
(Coordenador(a))
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