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Dissertacao Evelyn Costa Parte 1 Pags 1 A 100
Dissertacao Evelyn Costa Parte 1 Pags 1 A 100
São Gonçalo
2019
Evelyn de Castro Porto Costa
São Gonçalo
2019
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/BIBLIOTECA CEH/D
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação, desde que citada a fonte.
_________________________________ ____________________________
Assinatura Data
Evelyn de Castro Porto Costa
_____________________________________________
Prof. Dr. Vinicius da Silva Seabra
Faculdade de Formação de Professores – UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. André Luiz Carvalho da Silva
Faculdade de Formação de Professores – UERJ
_____________________________________________
Prof. Dr. Raúl Sánchez Vicens
Universidade Federal Fluminense - UFF
São Gonçalo
2019
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho ao meu avô, Nilton Costa (in memorian), nascido e criado em Araruama.
AGRADECIMENTOS
COSTA, Evelyn de Castro Porto. Transformations of the landscape in the coastal plain of the
Lagoon of Araruama between the years of 1929 and 2017. 2019. 143 f. Dissertação (Mestrado
em Geografia) – Faculdade de Formação de Professores, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, São Gonçalo, 2019.
From the beginnings of its occupation the coastal plain of the Lagoon of Araruama
suffered the transformations in its landscape, such as the trees of species that live in the region
and an urban occupation. These transformations occurred with greater intensity from the 70's,
and continue to the present day. In this way, it is proposed to analyze, from cartographic
representations, how transformations occurred in the city during the last 88 years, being
possible to discuss as main substitutions of uses, their unfoldings and future perspectives for a
study area. In order to carry out the study, object - based image classification techniques
(GEOBIA) were used for a classification of land use and cover, allowing for analyzes
regarding the spatial and dynamic distribution of the region. The methodology used to
investigate multitemporal consisted in the use of remote sensing and geoprocessing
techniques, using historical cartographic materials, so that they could be identified as the main
changes occurred in the years 1929, 1976 and 2017. The landscape transformations occurred
in the areas of salinas, spanning its extension in 1929 (about 18.54 km² of saline), growth in
1976 (about 65.79 km² of saline) and more recently in 2017, its decline to detriment and new
uses (about 61.45 km² of saline). The replacement of old saline areas with a new look may be
highlighted by urban growth in recent decades, but there are others that have changed the
landscape of the region.
Figura 47 – Mapeamento das detecções de mudanças entre 1929 a 2017 .................. 109
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 15
4.2 Análise da trajetória evolutiva da paisagem (1929, 1976 e 2017) ................. 103
INTRODUÇÃO
O litoral compreende uma área dinâmica que necessita ser planejada e gerida de modo
equilibrado e sistêmico, abrangendo as relações entre sociedade e natureza e as
transformações sofridas temporalmente. Os diferentes usos do espaço litorâneo para fins de
ocupação urbana, sem o prévio planejamento e gerenciamento, podem comprometer os
ecossistemas litorâneos e sujeitar a população que a ocupa a diversos riscos.
O estudo das transformações da paisagem se constitui num instrumento essencial para
a compreensão das dinâmicas espaciais e a distribuição dos recursos naturais e infraestruturas
disponíveis. Além disso, pode dar subsídios ao planejamento ambiental e urbano, apontando
quais são as pressões sofridas com essas transformações; podendo prognosticar as
consequências que essas mudanças podem ocasionar à sociedade e à natureza (SEABRA,
2012).
Os estudos ambientais podem dar subsídios ao manejo costeiro, auxiliando na
preservação da vegetação litorânea, na prevenção de problemas relacionados à expansão
urbana e de atividades econômicas predatórias, que comprometem o equilíbrio dos
ecossistemas litorâneos. Sendo este um processo delicado, devido ao litoral ser uma área de
grande valor econômico, com alto valor paisagístico para o turismo, setor imobiliário e
inúmeras outras atividades econômicas.
A área de estudo compreende a planície costeira na região da Lagoa de Araruama,
localizada no Litoral Leste Fluminense (figura 1). Esse recorte espacial auxilia na análise das
principais transformações na margem da laguna de Araruama e áreas adjacentes, onde se
localizam os principais usos desse litoral, relacionados de forma pioneira a implantação das
salinas, encontradas em grande quantidade na região. Essa planície costeira abrande parte dos
municípios de Saquarema, Araruama, Iguaba Grande, Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia e
Cabo Frio (figura 1).
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O ambiente costeiro sofre com constantes alterações do uso do solo que são refletidas
diretamente na paisagem. Segundo Lang e Blaschke (2009), a forma de expressão espacial da
influência humana sobre a paisagem é a forma específica de uso do solo. Os estudos
relacionados à análise do uso do solo fornecem as informações necessárias para a
identificação do período em que as mudanças ocorreram; permite a compreensão de suas
estruturas no passado; e, também, torna viável a determinação dos vetores e tendências das
pressões sobre os espaços naturais (SEABRA & CRUZ, 2013).
Na planície costeira da Lagoa de Araruama, a paisagem foi constituída através de
mudanças em pequenos e longos intervalos de tempo, ocasionadas pela natureza e pelo
homem. Segundo Santos (1988), a paisagem não se cria de uma só vez, mas por acréscimos,
substituições. Lang e Blaschke (2009), também destacam as mudanças relacionadas aos
sistemas ambientais, em que as paisagens estão submetidas a mudanças resultantes da
dinâmica natural deste litoral, o que independe da influência humana.
Historicamente, a laguna de Araruama possui como principal atividade econômica a
salicultura, que tem por finalidade o extrativismo do sal. O objeto que mais marca a presença
dessa atividade são os moinhos de vento (figura 2), sendo possível encontrar algumas dessas
estruturas nas margens lagunares com atividade salineira ativa.
Legenda: As setas indicam a área em que foi construído um shopping em uma área de antigas salinas.
Fonte: Cabo Frio Histórico
Cabe ressaltar que essas transformações são motivadas pelo grande fluxo turístico e de
residências de veraneio. Entretanto, a crescente urbanização nessa região pode ser explicada
pelas atividades petrolíferas no estado do Rio de Janeiro. Devido a sua proximidade às áreas
de exploração de petróleo, a região tornou-se alvo de crescente ocupação de trabalhadores em
atividades offshore na Bacia de Campos e Macaé. Esses trabalhadores buscam suas moradias
em áreas mais afastadas, com menor custo de vida e maior oferta de infraestrutura e lazer.
Além disso, outro aspecto que ajuda a explicar o aumento populacional é a alta demanda da
terceira idade, que migra da Região Metropolitana para a Região dos Lagos, em busca de uma
melhor qualidade de vida e oferta de serviços.
Algumas pesquisas retratam as transformações ocorridas ao entorno da Lagoa de
Araruama ainda na década de 90, como é o caso de Castro (1995), que aborda a experiência
empírica do uso de instrumentos cartográficos para a gestão e fiscalização ambiental, dando
subsídios ao trabalho de órgãos públicos. Como consequência, diversos empreendimentos
imobiliários localizadas na margem da lagoa foram embargados na década de 1980. As
transgressões relatadas pela autora, tais como construção de píeres, cercamento da faixa
marginal da laguna para a consolidação de praias particulares, apropriação de terras públicas,
aterramentos de áreas de salinas desativadas para construção de condomínios, transgrediam as
legislações vigentes, tal como a Deliberação CECA 1 422/83, que propõe:
1
Comissão Estadual de Controle Ambiental
2
Barragem feita de materiais diversos para desviar ou conter a invasão da água do mar ou de rio
20
outras obras que impeçam a livre circulação das águas, de forma a reintegrá-las à
superfície da lagoa.
3
Estruturas largas e compridas, de pedra e terra que são erguidas no espelho d’água pelos sedimentos, isolando
partes da lagoa.
4
Local em que a água é armazenada para ser cristalizada para a produção do sal.
21
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
1 TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM
A partir de meados dos anos 1960, quando a ciência geográfica passou a perceber a
necessidade do estudo dos processos, por causa da crescente maneira com que os processos
estavam aparecendo em outras ciências, a geografia física passou a se preocupar com as
causas dos processos, constituindo desta forma a construção de modelos, e as investigações
empíricas, considerando inputs, outputs e as dinâmicas que os transformam, sob uma
perspectiva geossistêmica (GREGORY, 1992).
Uma das bases conceituais fundamentais para a consolidação do conceito de
geossistemas é a Teoria Geral dos Sistemas, concebida pelo biólogo Bertalanffy (1901), no
qual é proposta uma abordagem sistêmica aplicável a diferentes ciências e áreas do
conhecimento. As contribuições da Teoria Geral dos Sistemas à geografia podem ser vistas na
estruturação do pensamento geossistêmico em que considera o funcionamento, correlações e
os níveis hierárquicos.
Outra abordagem fundamental para o conceito de geossistemas é o conceito de
Geoecologia da Paisagem, que propõe os estudos da paisagem através de aspectos espaciais
(geográfico) e funcionais (ecológico). Ou seja, relacionando as interações entre homem e o
meio.
Influenciado pela teoria geral dos sistemas de Bertalanffy (1901), o geógrafo russo
Sochava propôs o conceito de geossistemas (figura 5). O autor buscou um entendimento dos
processos para além da forma, tecendo críticas à visão puramente morfológica do conceito de
paisagem. A partir do conceito e de uma visão geossistêmica, Troll (1950) propõe os
fundamentos da Geoecologia da Paisagem, em que correlaciona a natureza e o homem para
uma análise holística da paisagem, ajudando em interpretações e investigações de
planejamento e gestão ambiental
Além disso, a presença das áreas de salinas nos esporões interfere na circulação de
sedimentos e na dinâmica interna da laguna, que tende a ser controlada mediante a construção
das infraestruturas das salinas. A ocupação urbana na margem lagunar, caracterizada
principalmente por condomínios e empreendimentos, também afetam diretamente na
circulação de sedimentos e a eutrofização da laguna, desiquilibrando suas condições naturais
(figura 6).
27
fatores torna-se de grande importância para estudos geográficos que visam representar essa
paisagem a partir de ferramentas cartográficas.
Segundo Menezes e Neto (1999), a escala temporal é importante para o estudo de uma
grande quantidade de fenômenos, sendo muitas vezes aplicada em conjunto com a escala
espacial, principalmente para a indicação de elementos ligados à fatores evolutivos e
ambientais, como seus períodos de ocorrência e atuação.
Monteiro (2000) enfatiza a necessidade de se considerar as escalas temporais nos
estudos geográficos. A perspectiva temporal permite analisar um fenômeno de forma
histórica, possibilitando compreender a frequência, padrões e interações nas dinâmicas
espaço-temporais dos eventos.
A dimensão do tempo proporciona aos estudos geográficos uma perspectiva mais
ampla das ocorrências de fenômenos ambientais e sociais, possibilitando análises mais
completas para o entendimento das dinâmicas da paisagem atual, pois, ao conhecer as
características anteriores é possível inferir na sua estrutura e consolidação presente.
Além disso, a análise temporal pode promover entendimentos complexos e profundos
sobre a geomorfologia, litologia, mudanças climáticas, ações antrópicas, etc. É nessa lógica
em que Troll (1997) destaca que a paisagem reflete as transformações temporais, conservando
testemunhos pretéritos. Desse modo, é possível compreender que a própria paisagem
resguarda indícios e provas concretas dessas mudanças, podendo ela (a paisagem), ser o
objeto de estudos mais apropriado para a análise temporal dessas mudanças.
Uma consideração relevante é que essas transformações podem ser naturais ou
antrópicas, sendo em ambos os casos, variadas de acordo com o fenômeno a ser estudado.
Kohler (2002) aponta exemplos de análises temporais na geomorfologia, segundo o autor, a
deriva continental (pequena escala) é medida em milímetros /ano, já a evolução de uma
voçoroca (grande escala) é medida em metros/ano e a evolução de um sulco num paredão
calcário (lapiás) em milímetros / minuto.
Para esse estudo, a temporalidade é de extrema relevância, devido à perspectiva
histórica necessária para investigar as transformações da paisagem. Sendo assim, a presente
escala temporal está associada a três momentos históricos distintos entre o início do século
XX e XXI; correspondentes aos anos de 1929, 1976 e 2017 (figura 7). A partir de tais dados
torna-se possível realizar a análise do acréscimo e decréscimo das áreas de salinas, bem como,
as principais alterações no entorno da lagoa, permitindo assim, a compreensão de padrões
espaciais e o estudo de trajetórias evolutivas dessas paisagens.
29
Legenda: (a) mapa temático do ano de 1929, (b) fotografia aérea do ano de 1976, (c) imagem de satélite World
View 2 do ano de 2017.
Fonte: (a) Arquivo Nacional, (b) FAB, (b) WorldView.
30
Dessa forma, as áreas de salinas podem ser classificadas como Paisagens Antrópicas,
pois ocorre uma artificialização da paisagem, que é diretamente controlada pelo homem,
através de intervenções na paisagem natural para a exploração do sal, tal como a consolidação
de barramentos artificiais para controle do sistema lagunar.
Quanto ao impacto econômico sobre o meio ambiente, as salinas podem ser
classificadas como paisagens esgotadas, devido a intensidade de opressão sofrida por ações
antrópicas. Nesse sentido, sofrem com a salinização do solo, perda da vegetação nativa,
aumento da sedimentação da laguna, etc.
A paisagem aqui discutida foi exposta ao alto grau de influência antrópica, tendo sua
vegetação degradada e seu solo comprometido com a exploração do sal durante longas
décadas. Dessa forma, tal paisagem, que sofreu fortes transformações, possui alta
possibilidade de regeneração natural, tendo em vista que sua vegetação nativa suprimida,
caracterizada por restingas possui baixa capacidade de resistência e resiliência, tendo em vista
que trata-se de uma vegetação delicada.
quando são analisadas verticalmente, diferentes camadas são analisadas de forma integrada,
sobrepostas e combinadas, possibilitando diversas inferências.
A análise da paisagem apoiada em SIG objetiva fundamentalmente gerar novas
informações, o que se dá por meio da manipulação e integração com camadas de dados já
existentes (LANG E BLASCHKE, 2009). É nesse sentido que as análises espaciais podem
apoiar a tomada de decisões referentes às paisagens.
Como visto, as geotecnologias possuem inúmeras funcionalidades na análise da
paisagem, sendo de suma importância para análises geográficas de qualquer natureza. Dessa
forma, as metodologias de análise da paisagem têm adquirido cada vez mais recursos nas
geotecnologias, por otimizar tempo e custos para diferentes tipos de estudos, tal como a
análise da trajetória evolutiva da paisagem.
Legenda: (a) Paisagem irreversível, (b) paisagem cíclica, (c) paisagem reversível.
Fonte: Google Earth Pro (2003 e 2017).
Segundo Lu et al. (2004), uma boa pesquisa de detecção de mudanças deve fornecer
informações a respeito da mudança de área e taxa de mudança; distribuição espacial dos tipos
alterados; mudança nas trajetórias de tipos de cobertura do solo; avaliação da precisão da
detecção de alterações resultados.
As geotecnologias possuem muitas ferramentas capazes de realizar mapeamentos de
detecções de mudanças, de forma otimizada e eficaz. É através das imagens de satélite e
demais fontes de dados matriciais que é possível realizar tais detecções, além disso, o
ambiente SIG possuem ferramentas que permitem analisar, calcular e avaliar tais alterações
nas paisagens.
Existem diversas técnicas que nos permitem realizar um projeto de detecção de
mudanças. É importante destacar três etapas principais para objetivar a análise dessas
alterações: o pré-processamento de imagem, incluindo retificação geométrica e correção
radiométrica e atmosférica; a seleção de técnicas adequadas para implementar análises de
detecção de alterações; e avaliação de precisão (LU et al, 2004).
No sensoriamento remoto, os procedimentos de detecção de mudanças, também são
denominados de “change detection” na literatura e podem ser subdivididos em procedimentos
de pré e pós-classificação (SINGH, 1989 apud LANG E BLASCHKE, 2009):
• Pré-classificatórios: incluem todas as análises de mudanças que comparam a própria
informação da imagem (image-to-image comparasion).
• Pós-classificatórios: as classificações são comparadas entre si (map-to-map-
comparasion).
Segundo Lu et al. (2004), a análise pós-classificação consiste na geração de uma
classificação para cada data em separado, para uma posterior detecção de mudanças na
comparação destes mapas temáticos, que pode ser em uma integração entre o sensoriamento
remoto e um Sistema de Informações Geográficas. Para Mertens e Lambin (2000), a
comparação pós-classificação consiste na sobreposição e comparação de duas classificações
sucessivas da cobertura do solo. Já a pré-classificação consiste na classificação de todas as
imagens de diferentes datas juntas (WECKMÜLLER e VICENS, 2016). Segundo Singh
(1989), a premissa básica desse tipo de classificação é a de que todas as alterações na
cobertura terrestre deverão resultar em mudanças nos valores de radiância (SINGH, 1989).
38
Segundo Turcq et al (1999), a Lagoa de Araruama teve sua formação relacionada aos
últimos eventos de transgressão marinha ocorridos por volta de 120.000 anos. Ainda segundo
o autor, a relativa mudança do nível do mar durante os últimos 7.000 anos, poderia explicar a
formação de barreiras arenosas, bem como dos sistemas lagunares (TURCQ, 1999).
Turcq et al (1999) aponta que a característica mais marcante desta planície costeira é a
presença de dois sistemas lagunares:
para traz à medida que a linha de costa avançou em consonância com as flutuações do nível
do mar, sendo sua largura e altura reflexo da disponibilidade de sedimentos, da altura do nível
marinho, e da energia das ondas, podendo ainda sua altura ser posteriormente aumentada pela
acumulação de depósitos eólicos.
Segundo Silva (2011), nas barreiras arenosas estão localizadas as praias mais bonitas
do mundo, o que contribui para que estas áreas sejam extremamente importantes, tanto do
ponto de vista da ocupação, quanto da própria valorização econômica das mesmas. Ao longo
da sua história de ocupação, a barreira arenosa na região da Lagoa de Araruama foi tomada
por áreas de salinas. Atualmente, tais salinas estão sendo substituídas por construções de casa
e criação de lotes, dinamizando o fluxo de pessoas que circulam essa área.
chuva (pluviais) seja inferior a vazão da evaporação da água da laguna, o que intensifica a sua
característica hipersalina.
49
Segundo Bidegain e Bizerril (2002), a Lagoa de Araruama possui uma área de 220
km², perímetro de 190 km; profundidade média de 2,9m e um volume de 636 milhões de m³.
Além disso, a laguna possui cerca de 13 km de largura (Norte-Sul) e 30 km (Leste-Oeste).
O tempo estimado de renovação da água da laguna é em torno de 83,5 dias, devido a
troca de águas através do Canal de Itajuru, em Cabo Frio, ser muito pequena. Bidegain e
Bizerril (2002) apontam que a onda de maré é atenuada para praticamente zero pouco depois
de atingir a laguna propriamente dita.
Em relação a batimetria da laguna, conforme aponta o mapeamento realizado pela
COPPETEC (figura 15), a laguna possui profundidade máxima de 14 metros. É possível
inferir que a porção sul da lagoa, em sua maioria, é rasa, estando a porção mais profunda
situada na região central do corpo hídrico, mais ao norte. Isso pode ser explicado pela
presença dos esporões e da presença de atividades como a produção de sal, extração de
conchas e urbanização.
Muehe (2001) caracteriza a área da laguna de Araruama ao norte como recortada por
pequenas enseadas, enquanto na orla sul, formada por cordões arenosos de orientação Leste-
Oeste, composta por extensos arcos de praia. Bidegain e Bizerril (2002) destacam que no eixo
sul, a laguna é composta por largas enseadas de contornos suaves, separadas por esporões
arenosos encurvados para oeste. Os autores justificam a curvatura para oeste devido a ação
combinada dos ventos e correntes circulares em direção ao oeste.
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Legenda: (a) Esporões localizados na porção oeste da laguna; (b) Esporões localizados na porção leste da laguna.
Fonte: O autor, 2019.
localização espacial junto a laguna hipersalina. Nos esporões da Lagoa de Araruama estão
presentes infraestruturas para a produção do sal, compostas por marnéis, diques e tanques de
cristalização. Tais estruturas podem interferir diretamente na dinâmica evolutiva dos
esporões, tendo em vista a influência antrópica exercida sobre essas áreas.
É importante enfatizar a presença dos marnéis, que são estruturas fixas construídas a
partir dos esporões para dentro da laguna, que tem a intencionalidade de barrar o acesso das
águas da laguna para dentro das salinas. Tais estruturas impedem a livre circulação das águas
e por consequência, as interações realizadas pela naturalmente pela dinâmica lagunar.
Corrente do Brasil (CB), que é desviado ao largo no verão; e, sobretudo, ao regime de ventos
da região.
O ciclo de ressurgência é interrompido mais frequentemente durante o inverno,
quando os ventos SW prevalecem, na passagem de frentes frias, proporcionando o
empilhamento das águas superficiais na costa, fazendo com que a ACAS retorne às
profundezas. A intensificação da ressurgência na região de Cabo Frio induz a uma redução na
precipitação e na cobertura de nuvens, levando, consequentemente, a um aumento na
insolação e na aridez climática, evaporação (compensando o fato que esta seria reduzida pelas
temperaturas mais baixas das águas oceânicas) e salinidade das lagoas (COE e CARVALHO,
2013).
Segundo o levantamento realizado pelo Climate Data (2019), para o município de
Cabo Frio, agosto corresponde ao mês mais seco do ano, com precipitação média de
37mm/mês. Em relação ao regime de chuvas, no mês de dezembro cai a maior parte da
precipitação anual, com uma média de 110 mm/mês. O mês de fevereiro aparece como o mês
mais quente do ano, com temperatura média de 25,4 °C, em contrapartida, o período com a
temperatura mais baixa do ano é o mês de julho, chegado a temperatura média de 20.8 °C. Em
aspectos gerais, a temperatura média do município de Cabo Frio é de 22.9 °C, e a
pluviosidade média anual variando entre 750mm a 900 (figura 17).
55
Tais UCs sofrem constantes pressões antrópicas, tais como recorrentes pressões
imobiliárias e econômicas, devido ao crescimento populacional e constantes práticas
turísticas.
Com a criação do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), pela Lei
9.985/2000, ocorreu uma sistematização das UC em esferas federais, estaduais e municipais.
A lei divide as UC em dois grandes grupos, os de proteção integral e os de uso sustentável.
As UCs de proteção integral têm por objetivo preservar a natureza, sem o uso direto de
seus recursos naturais. Enquanto as UCs de uso sustentável têm por premissa equilibrar o uso
sustentável da área preservada com a conservação da natureza, permitindo o desenvolvimento
sustentável da população envolvida.
O SNUC ainda é composto por 12 categorias que variam de acordo com a
biodiversidade existente, bem como os objetivos previstos e usos permitidos para a área. Para
as UC de Proteção Integral (PI) existem 5 categorias previstas (anexo I) e para as UC de Uso
Sustentável (US) são 7 categorias (anexo II).
Dentre as unidades de conservação presentes no LLERJ (tabela 3), destacamos o
Parque Estadual da Costa do Sol (PECS). Criado pelo Decreto Estadual nº 42.929 de 18 de
abril de 2011, o parque tem área total aproximada de 9.841 hectares, dividida em quatro
setores, cada qual abrangendo partes dos municípios de Araruama, Armação dos Búzios,
Arraial do Cabo, Cabo Frio, Saquarema e São Pedro da Aldeia.
Essa UC se destaca devido a sua característica física diferente das demais UCs da área
de estudos, que se trata de uma UC descontínua composta por 43 fragmentos, localizados em
diferentes municípios, totalizando cerca de 9.841 hectares. A UC possui o objetivo de
assegurar a preservação dos remanescentes de Mata Atlântica e ecossistemas associados dessa
região de baixadas litorâneas (restingas, mangues, lagoas, brejos, lagunas).
É importante mencionar que as UC de esfera estadual são as áreas protegidas que mais
integram a área evidenciada no estudo, tendo em vista sua presença em grande parte do eixo
sul da laguna, onde se situa os cordões arenosos e os remanescentes de restinga, que integram
mais de um município de modo contínuo (tabela 3).
61
Arraial do Cabo
RESEX Marinha do Arraial
Uso sustentável 1997 Araruama 516,77 0,00 0 km
do Cabo
Cabo Frio
Arraial do Cabo
APA de Massambaba Uso sustentável 2011 Araruama 91,34 58,24
Saquarema
Cabo Frio
APA Pau Brasil Uso sustentável 2002 103,70 4,07
Búzios
ESTADUAL
Iguaba Grande
APA da Serra de Sapiatiba Uso sustentável 1990 59,63 17,11
São Pedro da Aldeia
Saquarema
Arraial do Cabo
Araruama
PE da Costa do Sol Proteção Integral 2011 98,41 48,76
São Pedro da Aldeia
Cabo Frio
Búzios
APA do Peró Uso sustentável 2000 Iguaba Grande 0,27 0,00 0,5 km
APA do Morro de
Uso sustentável 2000 Iguaba Grande 0,67 0,00 3,3 km
Igarapiapunha
APA do Morro dos Canellas Uso sustentável 2000 Iguaba Grande 0,25 0,18
APA dos Guimarães Uso sustentável 2000 Iguaba Grande 0,38 0,20
APA do Governo Uso sustentável 2000 Iguaba Grande 0,94 0,94
MUNICIPAL
“Com tais imensos latifúndios em mãos dos jesuítas e uma população de pobres
pescadores, a vila não progredia. Faltava-lhe o principal, uma sólida e ampla base
agrícola. Os colonos não encontraram perto da cidade terras boas e planas, afastadas
da influência do mar, dos ventos e da maresia. Onde quer que olhassem, só viam
uma coisa: o areão, as dunas marinhas.”
Há indícios de relatos históricos que indicam o quanto essa região sempre possuiu
vocação para a produção de sal. Pizarro e Araújo (1945) apud Hanssen (1988) relatam que na
restinga que divide o mar da Lagoa de Araruama, formava-se tanto sal, que sem qualquer
trabalho teria dado “para fartar todo continente”.
Entretanto, cabe destacar que nesse período, a produção do sal era ilegal na colônia
portuguesa, mediante os decretos expressos na Carta Régia de 28/02/1690 e 18/01/1691, que
proibiam a exploração do sal na colônia em detrimento da importação de Sal da metrópole.
Conforme aponta Hanssen (1988), o sal naquele tempo e ainda muito mais tarde era
importado de Setubal (Portugal) e de Cadiz (Espanha).
Somente com a vinda da Família Real para o Brasil é que Dom João VI determinou e
incentivou a exploração das salinas brasileiras, a partir da Carta Régia de 7 de setembro de
1808, que rompeu com a importação pela indústria de sal portuguesa devido o domínio
napoleônico (CARVALHO JÚNIOR et al, 1982).
Foram os índios Goitacás os primeiros a elaborarem modos de extrair sal da Lagoa de
Araruama. Segundo Hanssen (1988), em São Pedro da Aldeia, naquela época conhecida como
63
São Pedro dos Índios, os remanescentes das tribos goitacás trabalhavam na produção do sal
pelo sistema de cacimbas 5. O sal obtido em tão penosa lida era de péssima qualidade, sujo,
cheio de terra, de folhas e capim em decomposição (HANSSEN, 1988).
Hanssen (1988) aponta que Luis Bonifácio Lindenberg e seu filho aperfeiçoaram o
método de extração de sal6, que é bem similar a técnica adotada até os dias de hoje (figura
21).
A partir desse período se adota os moinhos de vento para a produção do sal, objeto
esse que compõe a paisagem do entorno da laguna até os dias atuais e também faz parte da
memória afetiva da população, sendo este um símbolo da história dos municípios ao entorno
5
Consistia o processo em cavar perto da praia um fosso no qual, com a maré bem alta, o mar penetrava. Na
vazante ali ficava uma poça de água marinha. Antes que nela penetrasse nova maré, a água, uma salmora grossa
já em vias de se coalhar, era carregada em baldes para cacimbas mais afastadas do mar, ou seja, da laguna, fora
do alcance da preamar, onde terminava o processo de cristalização (HANSSEN, 1988).
6
Consiste em cavar um tanque raso, de um metro ou mais de largura por vinte a trinta metros de comprimento e
trinta centímetros de profundidade, e em nivelar e impermeabilizar o fundo. Bombas acionadas por rodas de
vento para ele levam a agua da laguna ou diretamente do mar aberto, conforme a situação. Nestes tanques
compridos e rasos conhecidos por praias ou marnotas na gíria técnica dos marnoteiros a água salina sofre uma
primeira concentração, sendo depois canalizada para os marnéis, tanques rasos menores, onde ela se condensa
mais ainda. Sob o sol forte e em parte sob a ação do vento se evapora todo e qualquer resto de água, resultando
cristais de sal alvo que são puxados com os rodos e amontoados entre os tanques na faixa de terra seca que os
separa uns dos outros (HANSSEN, 1988).
64
da Lagoa de Araruama. Cabe lembrar que as salinas atualmente adotam técnicas ainda mais
modernas para bombear a água para os tanques de cristalização e não utilizam mais de
moinhos de vento para a produção do sal. Nesse sentido, os moinhos de vento vêm sendo cada
vez mais suprimidos da paisagem lagunar dessa região.
Sendo assim, é a partir do cenário de aperfeiçoamento da técnica que as primeiras
grandes transformações ocorrem na paisagem ao entorno da Lagoa de Araruama. Hanssen
(1988) indica que por volta de 1850 três companhias exploravam as salinas, todas trabalhando
no sentido de melhorar a técnica, sendo as primeiras delas instaladas na restinga Perinã, as
margens da laguna de Araruama. Essa localidade, situada na Ponta da Costa, ainda se
denomina como Perynas e atualmente é pertencente à empresa “Sal Cisne”, que realiza nesse
local a produção e o refinamento de sal (figura 22).
65
Figura 22 - Mosaico de fotografias históricas e atual das salinas Perynas, atualmente Sal
Cisne
Legenda: (a) Construção da sede da salinas Perynas (pertencente à Sal Cisne); (b) sede da indústria salineira “Sal
Cisne” atualmente; (c) moinhos de vento da salinas Perynas (atual salinas da Sal Cisne); (d) atual
tanques de cristalização da Sal Cine, sem a presença dos moinhos de vento.
Fonte: (a) Sal Cisne, (c) Acervo Wolney Texeira, (b) e (d) O autor, 2019.
O transporte ferroviário veio muito mais tarde para a região, pois até a década de 30,
as ferrovias que saiam de Niterói tinham seu término em Iguaba. Somente na década de 30
que foram construídas linhas de trem que se estendesse de Iguaba até Cabo Frio. Entretanto,
as ferrovias (que foram construídas tardiamente para região), logo foram substituídas a partir
da década de 40 por rodovias, sendo a Rodovia Amaral Peixoto o primeiro meio de
possibilidade de acesso à região (CHRISTOVÃO, 2011).
Hanssen (1988) aponta que “com a rodovia asfaltada, isso que nos habituamos a
enfeixar sob o nome progresso, veio quase da noite para o dia, pois a extração de sal passou a
avançar para outras áreas planas”. Além disso, o transporte rodoviário foi o aspecto que
dinamizou toda a região, alavancando as transformações da paisagem ao entorno da Lagoa de
Araruama, tendo em vista que as ocupações e adensamentos populacionais foram se
desenvolvendo ao longo da rodovia principal, de acesso à capital do Estado (figura 24)
68
Segundo Christovão (2011), outro aspecto que deve ser mencionado para a rápida
ocupação urbana na Região dos Lagos é a idealização da praia quanto destino turístico, após o
fim da Segunda Guerra Mundial (figura 26).
O autor aponta que o turismo era incentivado e praticado nas regiões serranas do Rio
de Janeiro. Entretanto, com as construções das rodovias para Cabo Frio e o estimulo cultural
dado à praia, através do Cinema e artistas foi um dos elementos fundamentais para a rápida
ocupação urbana no litoral leste fluminense, no qual proporcionou a construção de casas,
hotéis, restaurantes e obras de infraestrutura para atender a demanda turística.
70
Figura 26 - Fotografia história da Praia das Conchas em Cabo Frio, entre as décadas de 60/70
Legenda: praia das Conchas cheia de carros e banhistas aos finais de semana.
Fonte: Cabo Frio Antigo.
Entretanto, não foi apenas o turismo que proporcionou a queda econômica das salinas
na Região dos Lagos. Segundo Christovão (2011), a solução da questão dos transportes para o
sal do Rio Grande do Norte marca o início do fim da indústria salineira fluminense. Segundo
o autor, o ano de 1974 foi emblemático para a economia do país, pois, foi o ano de
inauguração do Porto Ilha no Rio Grande do Norte e da ponte Rio-Niterói, que marcaram,
respectivamente, a solução para a o escoamento do sal produzido no Nordeste, e a facilidade
de acesso da região metropolitana com a região dos Lagos, que culminou na facilidade de se
obter práticas turísticas na região. A produção do sal no Nordeste, mais especificamente no
Rio Grande do Norte, torna-se mais rentável, devido à qualidade do sal, baixo custo da mão
de obra e alta produtividade.
Cabe destacar que a produção de sal marinho no estado do Rio de Janeiro está situada
quase que integralmente restrita aos municípios da Região dos Lagos, especificamente, ao
entorno da Lagoa de Araruama. Nesse sentido, através da Figura 27, é possível se ter ideia dos
anos de maior e menor produção dessas salinas, até o ano de 2015. É importante salientar que
71
anos de 2003 e 2004 não foram inseridos no gráfico devido à ausência de informações
disponibilizadas pelo DNPM para esses anos. Bem como, os anos de 2016 e 2017, que
também não foram divulgados no site do órgão.
destacar que nos últimos 78 anos, entre 1940 a 2018, ocorreu um expressivo aumento
populacional nos municípios que compõem a planície costeira da região da Lagoa de
Araruama (tabela 5). Esses dados apontam que a população cresceu cerca de 90% desde 1940,
o que representa um elevado contingente populacional.
Cabo Frio 8.816 9.750 16.646 29.297 50.239 76.311 126.894 186.222 222.528
Araruama 25.049 26.242 30.904 40.031 49.822 59.024 82.717 112.028 130.439
São Pedro
14.340 16.109 15.868 23.668 33.371 42.400 63.009 88.013 102.846
da Aldeia
Saquarema 18.970 18.880 19.865 24.378 28.194 37.888 52.464 74.221 87.704
Arraial do
2.897 3.195 7.275 10.974 15.362 19.866 23.864 27.770 30.096
Cabo
Iguaba
2.877 2.877 3.528 4.153 4.131 8.074 15.052 22.858 27.762
Grande
Total 74.889 79.003 96.046 134.471 183.099 245.554 366.000 511.112 543.517
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
*População estimada para 2018, pelo IBGE Cidades.
Com a finalidade de realizar uma melhor análise espacial da área em estudos, utilizou-
se como metodologia o mapeamento de uso e cobertura do solo, que auxiliará nas discussões
da dinâmica espacial, bem como, nas distribuições dos elementos naturais e antrópicos
presentes na planície costeira da região da Lagoa de Araruama.
Para esse trabalho foram utilizadas imagens do Sentinel 2, sensor MSI,
disponibilizadas gratuitamente a partir da Agência Espacial Europeia (ESA), que oferece
resoluções espaciais que variam entre 10, 20 e 60 metros nas suas 13 bandas e resolução
radiométrica de 12 bits, o que permite mapeamentos em alta-média resolução.
77
Para se obter um melhor desempenho das imagens foi realizado a correção atmosférica
das bandas da cena 23KQQ, do sensor MSI Sentinel 2. A correção foi realizada a partir do
software Qgis, pelo método DOS1 (Dark Object Subtraction) , presente no plugin SCP (Semi
Automatic Classifiation Plugin) para imagens Sentinel 2. Dessa forma, a correção atmosférica
foi realizada através da metodologia empírica de subtração do valor do pixel mais escuro,
sendo esta a metodologia mais simples proposta na literatura (ANTUNES et al., 2012).
As interações da radiação solar e da radiação refletida por alvos da superfície terrestre
com constituintes da atmosfera interferem no processo de sensoriamento remoto, já que o
espalhamento e a absorção ocasionam mudanças na direção de propagação ou perda de
energia para outros constituintes atmosféricos (KAUFMAN, 1989). Sendo assim, a correção
atmosférica é fundamental uma vez que as interferências causadas por diferentes tipos de
gases e partículas presentes na atmosfera alteram significativamente as repostas espectrais
detectadas pelos sensores orbitais. Segundo Antunes et al. (2012) os efeitos diretos por conta
da absorção e do espalhamento atmosférico produzem a alteração do brilho da cena e a
78
realizadas e sanando dúvidas de algumas áreas. A partir do mapa (figura 28), é possível
acompanhar o percurso realizado em toda área de estudos, bem como, através da tabela 7, é
possível reconhecer os pontos visitados e identificados em campo.
80
ID X Y OBSERVAÇÃO ID X Y OBSERVAÇÃO
1 -42,07 -22,81 Reserva Militar - 19 -42,08 -22,94 Causarina -
São Pedro Alcális
2 -42,07 -22,81 Urbanização 20 -42,08 -22,94 Represa - Alcális
Rarefeita
3 -42,06 -22,85 Salina Seca 21 -42,08 -22,94 Represa - Alcális
4 -42,06 -22,85 Salina Seca 22 -42,09 -22,95 Construção -
Arraial
5 -42,05 -22,88 Salina Seca 23 -42,09 -22,95 Construção -
Arraial
6 -42,05 -22,89 Salina Úmida - Sal 24 -42,12 -22,95 Praia de
Cisne Massambaba
7 -42,06 -22,89 Salina Úmida - Sal 25 -42,12 -22,94 Construção -
Cisne Arraial
8 -42,06 -22,89 Sede Sal Cisne 26 -42,12 -22,95 Construção -
Arraial
9 -42,06 -22,89 Salina Seca - UVA 27 -42,13 -22,94 Dunas de
Massambaba
10 -42,08 -22,93 Condomínio - 28 -42,17 -22,94 Urbanização
Alcális desordenada
11 -42,08 -22,94 Causarina - Alcális 29 -42,19 -22,94 Salina Seca
12 -42,04 -22,92 Dunas - Casuarina 30 -42,19 -22,94 Salina Úmida
13 -42,03 -22,98 Pontal 31 -42,21 -22,92 Salina Seca
14 -42,06 -22,94 Causarina - Alcális 32 -42,21 -22,93 Salina Seca
15 -42,06 -22,93 Causarina - Alcális 33 -42,33 -22,92 Salina Úmida -
Praia Seca
16 -42,06 -22,93 Causarina - Alcális 34 -42,34 -22,92 Salina Úmida -
Praia Seca
17 -42,07 -22,93 Causarina - Alcális 35 -42,37 -22,92 Salina Seca
18 -42,07 -22,94 Causarina - Alcális
Fonte: O autor, 2019.
Foram identificadas outras áreas classes na área de estudos, sendo fundamental para a
definição das classes do mapeamento, tais como as áreas florestadas, em áreas mais
continentais, na porção norte do mapeamento (figura 29).
82
classificação das imagens, para que seja possível uma real interpretação das informações
obtidas.
• Água: lagoas, espelho d’água, rios e lagos artificiais;
• Areia: cordões arenosos e dunas;
• Áreas úmidas: áreas de inundação temporária (não permanente);
• Agropasto: áreas de agricultura e solos preparados para cultivos, ou vegetação
rasteira (gramíneas), caracterizada por pequenas colinas;
• Floresta: cobertura arbórea típica de mata atlântica, exceto restingas e mangues;
• Restinga: cobertura vegetal em depósitos arenosos;
• Salina ativa: área em atividade produtiva, com acúmulo de água salgada;
• Salina inativa: área em atividade produtiva ou em processo de desativação, com
acúmulo de sal marinho ou areia;
• Salina inativa com vegetação: área em que não há mais nenhuma atividade de
produção de sal e que tenha presença de casuarinas.
• Urbano Rarefeito: áreas de menor ocupação, com lotes vazios (não construídos)
intercalando as casas;
• Urbano Moderado: ocupação dada de forma contínua, com poucas ou nenhuma
interrupção de lotes vazios, podendo haver construções verticais de baixo porte.
Foi fundamental definir classes de áreas de salinas, que variam em áreas de salina
desativada (figura 31), salina em atividade (figura 32) e salina seca com vegetação (figura
33).
demais técnicas, pois considera muitos tipos de descritores, tratando-os como parâmetros
caracterizadores dos objetos, tais como: cor, textura, tamanho, forma, padrão, localização,
contexto, etc. (DEFINIENS, 2010).
Segundo Lang e Blaschke (2009), o software mais indicado para esse tipo de
classificação é o eCognition, da empresa Definiens. O pacote do software eCognition inclui,
entre outras, funções que consideram os parâmetros descritos, de informações de vizinhança.
(LANG et al, 2009). Segundo Moller et al (2006) apud Lang e Blaschke (2009), a vantagem
deste software reside no fato de que os dados de entrada espectrais e temáticos considerados,
são transformados em objetos por meio de um algoritmo de segmentação, o que corresponde a
uma mistura do ponto de vista do conteúdo e espacial.
A elaboração de mapeamentos de uso e cobertura do solo nos proporciona desafios
que podem ser superados mediante estudos de metodologias e variáveis capazes de otimizar a
realização do trabalho. Nas experiências obtidas com mapeamentos de uso e cobertura do solo
foram identificadas que as principais limitações encontradas estão no processo da modelagem,
devido à complexidade das respostas espectrais de algumas classes. O processo de
modelagem de áreas de salina, que são áreas particulares da área de estudo, se tornam tarefas
complexas, devido a presença de diferentes respostas espectrais, que, além disso, se
confundem com outras classes, tornando ainda mais difícil o processo de modelagem.
Além disso, a classificação de imagens baseada em objetos é essencial para o
conhecimento temático (uso do solo, cobertura vegetal, solos, litologia), e de se
sensoriamento remoto do intérprete. Esse conhecimento é necessário na definição das chaves
de interpretação, na avaliação e no resultado obtido de forma automática e na edição final do
mapa (FLORENZANO, 2011).
Com o objetivo de auxiliar no projeto de mapeamento de uso e cobertura do solo,
optou-se em empregar mapas temáticos em formato raster para auxiliar no processo de
modelagem das imagens, possibilitando seu uso como descritor para a classificação, dessa
forma, foram adotados os mapas de litologia (CPRM) e geomorfologia (SEABRA e
AUGUSTO, 2018).
Além disso, foram adotados também os índices radiométricos, que aparecem como
excelentes ferramentas para distinguir classes em uma classificação. Dessa forma, ao analisar
o comportamento espectral de cada classe trabalhada a partir de diversos índices, é possível
avaliar o desempenho, bem como, a potencialidade de cada índice, auxiliando na organização
de metodologias para a realização de mapeamentos.
86
7
L1=0,5
8
L2=0,9
87
Para ser possível fazer análises eficientes na área de estudos, foi realizada uma
validação desse mapeamento através da metodologia de pontos aleatórios. A metodologia
abordada para atestar a qualidade do mapeamento é a de validação por amostragem aleatória e
estratificada (Landim, 2003), fazendo uso das imagens do Google Earth. A geração de pontos
aleatórios para validação de mapeamento já foi utilizada por outros autores, como Silva et al.
(2011) e Nascimento et al. (2013). Lopes (2009) atestou a fidelidade geométrica das imagens
do Google Earth em comparação com bases de dados utilizadas em mapeamentos, estando
passíveis de serem utilizadas para validação.
Diante da possibilidade de utilização da base de imagens do Google Earth para
validação, o resultado da classificação foi incorporado em formato vetorial ao software
ArcGIS 10.1, onde os centroides dos polígonos foram extraídos, gerando 1.114 pontos. Em
seguida, os pontos foram submetidos à função subset features, do módulo Geostatistical
Analyst, onde passaram por uma seleção estática aleatória de 20% dos pontos de cada classe,
restando 217 pontos aleatórios (tabela 9).
Esses pontos, que portam em seus atributos os nomes das classes a quem pertencem,
foram importados no software Google Earth Pro, e sobrepostos a imagens de alta resolução do
89
software, onde cada um foi validado (figura 35). Os pontos com usos compatíveis ou
incompatíveis por classes a que pertencem foram descritos e somados em uma planilha
contendo a matriz de confusão.
Legenda: (a) amostra de urbano rarefeito validada; (b) amostra de salina ativa validada.
Fonte: O autor, 2019.
Tendo como primeiro registro cartográfico o mapa temático de 1929 é necessário levar
em consideração suas limitações cartográficas, devido este ser um mapa temático histórico,
elaborado sem a devida precisão e tecnologia atualmente disponível. Dessa forma, o mapa
temático será abordado no trabalho como um balizador das áreas das primeiras salinas
existentes no início do século XX, sendo utilizado para caracterizar a localização das
primeiras salinas da área de estudos.
Para tanto, foi realizado um mapeamento pontual das áreas de salinas existentes no
mapa. Esse levantamento foi realizado pela plataforma Google Earth Pro, que possui a
ferramenta “Adicionar superposição de imagem”, onde foi possível inserir o mapa temático
sobrepondo ao Globo Digital, possibilitando a criação de pontos e polígonos sob as áreas de
salinas existentes no mapa temático (figura 37).
93
Devido às limitações das fotografias abordadas anteriormente, não foi possível realizar
uma classificação automatizada, com processos de modelagem do conhecimento e demais
recursos. Logo, o processo de segmentação proporcionou a facilitação da etapa de
classificação visual, que foi realizado pelo software Arcgis, através da ferramenta de edição.
A partir do mosaico de fotografias aéreas, foram classificadas visualmente as áreas de
água e salinas, armazenados em formato shapefile, possibilitando assim, um mapeamento
temático de 1976. Após, foi utilizado o shapefile histórico para a classificação visual das áreas
recentemente modificadas, a partir das imagens de satélite WorldView 2, do ano de 2017.
É importante enfatizar que as áreas classificadas como salinas formam o complexo
salineiro, como os diques, marnéis e tanques de cristalização de cloreto de sódio. Que
segundo Castro (1995) e Bidegain e Bizerril (2002), são definidos como (figura 42):
• Marnéis: estruturas largas e compridas, de pedra e terra que são erguidas no espelho
d’água pelos sedimentos, isolando partes da lagoa.
• Tanques de Cristalização: local em que a água é armazenada para ser cristalizada
através da ação do sol e do vento para a obtenção de sal.
• Diques: barragem feita de materiais diversos para desviar ou conter a invasão da água
do mar ou de rio.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
com pouca ou nenhuma verticalização, com exceção de algumas áreas do município de Cabo
Frio, localizadas na praia do Forte. Por ser uma área característica de população de veraneio, a
urbanização dessa região revela-se predominantemente como moderada (42,14 km²) e
rarefeita (31,06 km²), distribuídas predominantemente no entorno da Lagoa de Araruama e no
litoral, próximo às praias. As áreas urbanas totalizam cerca de 73,2 km², somando um
percentual de 17,33% da área de estudos.
A vegetação de restinga representa 6,18% da área, situada em unidades de
conservação e contemplando uma área de 26,10 km². Já os cordões arenosos representam as
faixas de praia, que se estendem por quase todo litoral e pelos campos de dunas, muito
presentes na área de estudos. Os cordões arenosos, classificados como areia no mapeamento,
representam 7,37 km² da área, o que resulta em 1,74% de toda superfície da representação
temática.
As salinas ativas somam uma superfície de 23,22 km², ou ainda, 5,50% da área de
estudos, ocorrendo sobretudo nos municípios de Araruama e Cabo Frio. Esta atividade
econômica, que já foi muito importante para estes municípios, hoje encontra-se em declínio,
estando em algumas áreas abandonadas. Estes casos foram classificados como salinas
inativas, que se encontram fora de atividade e com superfície seca, somando cerca de 12,73
km², que corresponde a 3,02% da área. Já as salinas inativas com a presença de casuarinas em
sua superfície, são encontradas principalmente na área da extinta Cia. Álcalis e possui uma
superfície de 13,69 km², o que corresponde a 3,24% da área de estudos.