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INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA
Niterói
2020
YAN BRENO AZEREDO GOMES DA SILVA
Orientador:
Prof.
Prof. Dr. Felix Carriello
Coorientadora:
Dr.a Rochane de Oliveira Caram
Niterói
2020
YAN BRENO AZEREDO GOMES DA SILVA
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________
Prof. Dr. Felix Carriello (Orientador) - UFF
_____________________________________________
Drª Rochane de Oliveira Caram - Cemaden
_____________________________________________
Drª Minella Alves Martins - Cemaden
Niterói
2020
Para Luzia Azeredo da Silva e Ana Aline Gomes, alicerce e farol.
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Luzia Azeredo da Silva, por ser meu suporte e alicerce de toda a vida.
Acredito que sem ela não teria chegado até aqui. Reconheço todo o esforço e amor empenhado,
obrigado por acreditar em mim.
À Ana Aline Gomes, amada companheira, que assistiu e participou de toda minha
caminhada acadêmica. Nos momentos de desalento sempre estava ali como um farol a me guiar,
obrigada também por acreditar em mim.
Aos meus orientadores, Prof. Dr. Felix Carriello e Dra. Rochane Caram, que mostraram
e me auxiliaram no caminho a qual devia seguir. Obrigado pelo compartilhamento do
conhecimento e acima de tudo, obrigado pela amizade construída, vocês foram bastante
importante.
Ao Prof. Dr. Carlos Alberto, pelo apoio incondicional em diversos momentos e pela
confiança posta em mim. Sentirei saudades das melhores aulas da minha graduação.
Agradeço em especial a Andrei Tartaroni, Eugenio Tuorto e Israel Bonadiman pela forte
amizade construída ao longo do curso e que levarei para a vida inteira. Obrigado por todos os
momentos vividos com vocês, dentro e fora da universidade. Saudades dos trabalhos de campo.
À Lucas de Oliveira, amigo, com seu apoio integral e incondicional. Agradeço por tudo,
pelas conversas até tarde da noite, pelo auxílio na revisão não só deste trabalho, mas de todos
os outros projetos acadêmicos.
Por fim, agradeço a todos os outros colegas de vida e de faculdade que atuaram direta
ou indiretamente na minha formação. Diversas conversas e acontecimentos que estarão
guardados em minha mente.
Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento,
que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça
para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................13
2. OBJETIVO.........................................................................................................................17
3. ÁREA DE ESTUDO..........................................................................................................17
4. METODOLOGIA..............................................................................................................19
5.3.5 Ecoporanga.......................................................................................................................58
5.3.8 Mantena............................................................................................................................75
6. CONCLUSÕES.................................................................................................................79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................81
1. INTRODUÇÃO
Conter os impactos ambientais pode ser considerado um dos grandes desafios da nossa
sociedade. Tais efeitos afetam o espaço como um todo, sendo um importante recorte as bacias
hidrográficas, consideradas unidades físico-territoriais de estudo, gerenciamento, pesquisa,
análise, planejamento e desenvolvimento relativos à gestão dos recursos hídricos e da paisagem,
que são extremamente afetadas provocando expressivas alterações hidrológicas como o
aumento do escoamento superficial (MACHADO & TORRES, 2012).
Os dados sobre o uso e cobertura do solo acabam sendo necessários na análise dos
processos e problemas ambientais que devem ser compreendidos. Analisar e a partir disso
extrair informações sobre como o solo está sendo usado e recoberto, possui grande relevância
na elaboração de dados que auxiliam as tomadas de decisões no que diz respeito ao manejo do
ambiente. Desse modo, sabe-se que a expressão “uso e cobertura do solo” está relacionada às
características do estado físico, químico e biológico da camada da superfície terrestre, ou seja,
como o espaço está sendo ocupado (LORENA, 2001).
Essa ocupação ocorre a partir de dois vetores, o antrópico e o natural. Quando falamos
sobre o uso do solo, nos referimos às ações do homem associadas a certas atividades como a
pecuária, agricultura, urbanização entre outras. Quando pronunciamos sobre a cobertura do
14
solo, atribuímos a ideia do revestimento dos objetos naturais como as florestas, cursos d'água,
afloramento rochosos e muitos outros (TURNER, 1994).
Tal processo está relacionado intimamente com o tipo de uso do solo, o tipo de cobertura
vegetal e como ela está ou não distribuída, além da declividade do terreno. Desse modo, uma
observação multitemporal do uso e cobertura permite identificar e entender como essas
características ao decorrer do tempo influenciam, por exemplo, na ocorrência de desastres.
Nesse contexto, buscar entender o relevo é de grande importância às ciências que estudam os
componentes da superfície terrestre. Ele se tornou um atributo primário da paisagem e um
parâmetro físico fundamental (MOORE et al, 1993). A ocupação irregular de encostas e
consequentemente o desmatamento pode propiciar uma maior suscetibilidade à ocorrência de
movimentos de massa, já que a variação espacial do relevo resulta em gradientes de potencial
energia, tornando-se principais agentes físicos dos fluxos (FLORENZANO, 2008; NOBRE,
2011).
A Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus (BHSM), região de estudo, nos últimos
cinquenta anos têm sido alvo de um acelerado, indiscriminado e imponente processo de
desmatamento. A BHSM está quase totalmente desprovida de vegetação nativa, apresentando
apenas 13% de vegetação primária e secundária da área total da bacia, enquanto a pastagem
apresenta 74% no ano de 2017 (AZEREDO et al., 2019). A efeito, a região perpassa por grandes
focos de erosão, o que contribui para a ocorrência de desastres, sendo agravado ainda pelo
desmatamento, constituindo um dos principais problemas e afetando a população que reside na
bacia (AZEREDO et al., 2019). Desse modo, percebe-se que a redução de áreas florestadas
acaba produzindo efeitos na vazão e consequentemente influencia na ocorrência de desastres.
Além disso, a maioria dos processos que integram o balanço hídrico estão fortemente ligados
com a vegetação, principalmente no que diz respeito aos regimes de chuvas. A interceptação,
evaporação e transpiração são processos estritamente influenciados pelo tipo de cobertura do
solo e colaboram para a regulação e equilíbrio do ciclo hidrológico (BAYER, 2014).
BORMA, 2013). Esses modelos digitais de elevação permitem a realização de cálculos que nos
ajudam a descrever, entender e prever o armazenamento e o movimento da água no solo
(MOORE, 1992). Tais dados podem ser correlacionados às alterações do uso e da cobertura da
terra, possibilitando a produção de simulações como ferramenta potencial na antecipação de
eventos passíveis de ocorrerem (PISANI et al 2016).
De acordo com Goerl et al (2017), o modelo HAND foi proposto primeiramente por
Rennó et al (2008) para mapear áreas susceptíveis a inundação no município de Igrejinha – RS,
e avaliar a influência da resolução do MDT sobre o seu desempenho. Gharari et al (2011)
também aplicou o modelo para classificar a hidrologia da paisagem. Outros utilizaram o modelo
em diversas pesquisas, todavia, ainda existe uma lacuna relacionada a trabalhos que analisem
o desempenho do HAND em função da variação da resolução espacial.
1
http://handmodel.ccst.inpe.br, acesso em 19 de outubro de 2019.
17
2. OBJETIVO
3. ÁREA DE ESTUDO
A Bacia hidrográfica do Rio São Mateus (Figura 1) está localizada nos estados do Espírito
Santo e Minas Gerais, tendo mais da metade de sua presença no estado capixaba. Possui uma
área de drenagem de 13.482 km² e, é formada por dois rios principais, o rio Cotaxé (braço norte)
e o rio Cricaré (braço sul) ambos com suas nascentes em Minas Gerais, que se unem próximo
à cidade de São Mateus (ES). No alto curso, a bacia apresenta um relevo bastante acidentado
com a presença do Maciço Montanhoso de Mantena em Minas Gerais, ao longo do percurso do
rio, surge o Planalto Dissecado do Divisor de Águas do São Mateus e o Planalto Deprimido do
Médio São Mateus (FIGUEIREDO et al, 2008).
18
4. METODOLOGIA
A extração do modelo HAND foi obtida através de dados SRTM que foram adquiridos
junto ao banco de dados da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) com
resolução espacial de 90 metros. Para isso foi utilizado o software livre TerraHidro (ROSIM et
al., 2014), desenvolvido pelo INPE.
Para obter o modelo HAND, a primeira etapa é a correção hidrológica do MDT, a qual se
elimina os “sinks” (depressões, áreas de drenagem interna e vazios ou erros do SRTM), Figura
4a, para garantir a propagação do fluxo em todas as células (Figura 4b). Contudo, ao final da
primeira etapa tem-se as direções de fluxo e o MDT modificado. Em seguida, é gerado as áreas
acumuladas de cada célula e a partir de um limiar mínimo estabelecido para iniciar o canal, a
rede de drenagem é extraída do MDT (GOERL et al, 2017) (figura 4c).
Figura 4 – Consistência Hidrológica do MDE: (a) consistência hidrológica; (b) determinação da direção do
fluxo; (c) extração da rede de drenagem (Fonte: Nobre et al 2011 apud Goerl et al, 2017).
Figura 5 – Cálculo do modelo HAND, os quadrados marcados representam à rede de drenagem (MENG et al
2016, adaptado de Rennó et al, 2008).
Figura 6 – Diferentes drenagens extraídas de limites variados de contribuição em número de pontos. (Adaptado
de Rennó et al, 2008)
Figura 13 – Padrão da dinâmica do uso e cobertura do solo para os anos 1985, 2001 e 2017. Elaborado pelo autor.
massa, já nas classes encostas (em amarelo) e topos de morro (vermelho) estão relacionadas as
áreas susceptíveis a deslizamentos. Sobre a distribuição dessas classes, verifica-se que as
regiões de topo de morros abrangem 39% da bacia, seguido das áreas de encostas com 30%,
baixio com 18% e ecótono com 13%.
Figura 15 – Uso e cobertura do solo para os anos de 1985, 2001 e 2017 no município de Nova Venécia.
Figura 16 – Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Nova Venécia. Elaborado
pelo autor.
33
No que concerne aos setores de risco hidrológico, verifica-se a presença tanto na região
setentrional como na meridional. Entretanto, as maiores áreas deste tipo de risco se concentram
na porção norte do município, principalmente na zona urbana. O quadrante 1 na Figura 15,
mostra áreas de risco mapeadas dentro do perímetro urbano. De acordo com o relatório da
CPRM a área urbana do município de Nova Venécia apresenta áreas de risco hidrológico e de
processos erosivos.
34
O quadrante 1 (Figura 17), mostra que as áreas de RH coincidem com a classe baixio do
modelo HAND. Nota-se que a maior área de risco hidrológico do município se localiza bem
próximo do curso d’água do Rio Cricaré que atravessa a área urbana do município, e, identifica-
se que a parte oeste do quadrante, onde há uma grande área de baixio, apresenta grande
potencial para ocorrência de enchentes e alagamentos.
Analisando os dados levantados pela CPRM (2012), conforme pode ser visto na Figura
18a, evidenciamos na área urbana um crescimento desordenado, tendo em vista a ocupação da
região ribeirinha e da planície de inundação, o que provavelmente vem contribuindo para
recorrência de inundações conforme consta nos dados registrados no AVADAN (Avaliação de
Danos/S2iD).
De acordo com o relatório da CPRM (2012), a parte norte da zona urbana também
apresenta áreas de risco hidrológico com risco de enxurradas, e pode estar associado a ocupação
de agricultores na drenagem natural da encosta (Figura 18b). Coincidentemente, observando o
quadrante 1 (Figura 17), a mesma área de risco citada sobrepõe a classe ecótono no modelo
HAND, área de transição entres baixios e encostas, e com as classes de pastagem e de área
urbana no mapa de uso e cobertura da terra.
Ainda na parte setentrional, no extremo norte e fora da zona urbana, há um setor de risco
hidrológico, conforme mostra quadrante 2 (Figura 17). Neste setor tem-se o risco de inundações
periódicas no Rio Cotaxé mediante as ocupações da planície de inundação natural (Figura 18d).
É possível observar no quadrante 2 que esta área coincide a classe de baixio do modelo HAND
e de pastagem no mapa de uso e cobertura.
ciliares próximas aos cursos d’agua e nas encostas, principalmente nas áreas urbanas. Ressalta-
se ainda que, na sede do município, se concentra a maior parte dos setores de risco, já que se
incidem maiores pressões ao meio causada pela ocupação desordenada. Nas outras regiões, os
setores de risco se encontram em áreas irregulares próximo a encostas e planície de inundações
sem suas respectivas matas ciliares, conforme foi verificado no modelo HAND.
Segundo o relatório da CPRM (2012), a quantidade de pessoas expostas nas áreas de risco
mapeadas ultrapassa 5000 habitantes, sendo mais de 3500 no perímetro urbano. Comparando
com a população total do município de quase 50.000 habitantes, conclui-se que
aproximadamente 10% da população de Nova Venécia residem em áreas de risco, sendo 67%
na zona urbana e 33% na zona rural.
Figura 20 – Total de gastos em Danos Materiais no Município de Nova Venécia/ES entre 2001 e 2013. Fonte: S2iD –
Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres
O município de São Mateus está localizado na porção leste, próximo ao litoral. Dentre os
municípios pertencentes à bacia, este possui a maior atividade socioambiental.
Consequentemente, é a região que apresenta a maior dinâmica do uso e da cobertura do solo, e
tais mudanças podem ser observadas nas Figuras 21 e 22.
contrapartida, de 2001 a 2017, verifica-se um intenso declínio nas áreas de pasto, atingindo
cerca de 41%. Dessa maneira, para entendermos melhor as alterações ocorridas na pastagem,
foi necessário analisar outras classes em conjunto.
Figura 21 – Uso e cobertura do solo município de São Mateus, para os anos de 1985, 2001 e 2017.
Figura 22 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de São Mateus. Elaborado
pelo autor.
Figura 23 – Modelo HAND aplicado ao município de São Mateus
A Figura 23 apresenta o modelo HAND aplicado ao município de São Mateus, juntamente
com as áreas de risco. Por estar localizado no baixo curso do Rio São Mateus, o município
apresenta um relevo bastante suave com a presença de tabuleiros. Desse modo, percebe-se o
predomínio de encostas e baixios. Correlacionando as classes de relevo e o uso e cobertura do
solo verifica-se que as áreas de encosta coincidem principalmente com as de floresta plantada,
pastagem, agricultura e núcleo urbano. As pequenas áreas de vegetação primária e secundária
estão restritas às áreas que correspondem às classes de topo de morro.
As áreas RH abrangem dois recortes espaciais. O primeiro, com maior área, está
localizado na parte central da zona urbana próximo ao rio São Mateus e, nos períodos de cheia
da bacia há recorrência de inundações em extensas áreas com residências e áreas de pasto que
ficam às margens do rio.
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No setor de PD, existem 2 recortes considerado de risco alto ou muito alto de movimentos
de massa (Figura 23, quadrante 3), e estão localizadas próximo a primeira área de RH.
Observando o modelo HAND, verificamos que as duas áreas coincidem exatamente com a
classe de encosta.
A primeira, a esquerda, apresenta risco alto de deslizamento planar em uma encosta onde
foram construídas casas próximas à crista e algumas na base (Figura 25a). Segundo o Relatório
(2012), existem relatos de que durante intensos eventos chuvosos há um forte escoamento de
água pela encosta, que potencializa os processos erosivos podendo gerar futuramente
deslizamentos de terra.
O levantamento realizado pela CPRM (2012) quantificou cerca de 1200 pessoas nas áreas
de risco, sendo que, 93% estão localizadas exclusivamente em áreas de RH. Dos registros
encontrados sobre os danos humanos, o maior índice foi em 2009, quando se contabilizou mais
de 2000 pessoas desalojadas e 300 desabrigadas (Figura 26). Segundo o Atlas Brasileiro de
Desastres Naturais (2013), o total de pessoas afetadas direta ou indiretamente pelo evento
chegou a cerca de 18.000 pessoas, além do prejuízo de mais de R$1.400.000.
De modo geral, o município de São Mateus não é classificado como o de maior número
de ocorrências de inundações, entretanto, a probabilidade de que tais desastres ocorram é
bastante alta devido a recorrência de eventos de chuva intensas associada às características de
relevo de baixio da sede municipal e os entornos, juntamente com a dinâmica de crescimento
urbano desarranjado que não leva em consideração tal aspecto.
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Figura 26 - Danos Humanos causados por inundações e enxurradas no município de São Mateus/ES. Fonte: S2iD – Sistema
Integrado de Informações Sobre Desastres
O município de Conceição da Barra/ES possui apenas o extremo sul de sua extensão como
parte integrante da BHSM e está localizado no baixo curso da bacia, exatamente na foz do rio
São Mateus, apresenta relevo plano, o que viabiliza o processo de ocupação e
consequentemente uma dinâmica socioambiental acentuada. Nas Figuras 27 e 28, é possível
visualizar as mudanças do uso e cobertura do solo no município, em que se percebe claramente
que o uso mais recorrente é a silvicultura, representada pela classe de floresta plantada. Esta
classe representa no ano de 1985, cerca de 40% da área total, e atinge 70% em 2001, onde já é
perceptível notar o desaparecimento das florestas naturais, apresentando menos de 10%. Entre
2001 e 2017 verifica-se uma redução das áreas de floresta plantada, menos de 30%, podendo
estar relacionado ao período de corte do eucalipto. Há nesse intervalo o ressurgimento de
núcleos florestais, alcançando mais de 25%. Em relação a classe de pastagem, houve pouca
alteração, sendo apenas um pequeno aumento entre 1985 e 2001, pontualmente no período de
crescimento da floresta plantada. Nas demais classes também não foi verificado muita alteração,
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o que se manifesta é o aumento natural dos núcleos urbanos e o surgimento de pequenas áreas
agrícolas.
Figura 27 - Uso e cobertura do solo, município de Conceição da Barra para os anos de 1985, 2001 e 2017.
Figura 28 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Conceição da Barra.
Elaborado pelo autor.
48
Sobre as áreas de risco, o relatório da CPRM (2012), pontua dois setores no município de
Conceição da Barra, ambos relacionados a RH. A figura 29 a seguir, localiza tais áreas, assim
como o modelo HAND aplicado a esse recorte do município. É assertivo dizer que as classes
de relevo mais comuns são as áreas de baixio, ecótono e encostas, justamente devido ao relevo
plano. São nas áreas de baixio, majoritariamente, que os dois setores de risco apontados pela
CPRM se apresentam.
O segundo setor de risco é uma comunidade que está localizada na zona rural, bem
próximo ao limite municipal com São Mateus, representada no quadrante 2 da figura 29, onde
há presença de residências assentadas na planície de inundação do rio São Mateus, distantes
cerca de 10 a 60 metros do leito do rio. Segundo a CPRM (2012), há relatos que no local é
possível observar nas paredes das residências marcas de aproximadamente 1 e 1,5 metros de
altura. Observa-se que os setores de risco coincidem em grande parte com áreas de baixio.
Os danos humanos causados pelos processos erosivos costeiros, figura 30, corresponde
ao todo 57.232 afetados direta ou indiretamente. Os danos materiais causados pela erosão
costeira correspondem a uma média de aproximadamente R$2.521. É possível visualizar na
figura 31 o histórico de gastos referentes aos danos materiais, onde o ano de 2006 registrou o
maior valor, cerca de R$5.474.
Figura 30 – Danos Humanos ocasionados pela Erosão Costeira, no município de Conceição da Barra/ES. Fonte: S2iD –
Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres
Figura 31 – Total de Gastos em Danos Materiais ocasionados pela erosão costeira, no município de Conceição da
Barra/ES. Fonte: S2iD – Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres
51
O município de Vila Pavão/ES está localizado na região central da BHSM, fazendo divisa
ao norte com Ecoporanga, a oeste com Barra de São Francisco e ao sul com Nova Venécia,
todos monitorados pelo CEMADEN. De modo geral, Vila Pavão pode ser classificado como
um município rural tendo cerca de 78% de sua população residindo na zona rural. Tal
característica é vista na dinâmica socioambiental demonstrada nas figuras 32 e 33, em que a
classe dominante no município é a pastagem.
É interessante observar que no intervalo entre 1985 a 2001, a pastagem expandiu de 70%
(1985) para mais de 90% (2001). De modo concomitante, no mesmo período, as áreas vegetadas
reduziram, de aproximadamente 15% (1985) para menos de 4% (2001). Na figura 32 é possível
observar o desaparecimento dos núcleos florestais assim como o crescimento da pastagem.
De acordo com a CPRM (2015), Vila Pavão apresenta dois tipos de risco de desastres,
sendo eles os de RH e PD. Observando a figura 34 é possível identificar tais áreas, assim como
a aplicação do modelo HAND no município. Ao todo, 14 setores são sinalizados no relatório,
nos quais 6 correspondem a PD e 8 a RH.
52
Figura 32 - Uso e cobertura do solo, município de Vila Pavão para os anos de 1985, 2001 e 2017..
Figura 33 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Vila Pavão. Elaborado
pelo autor.
53
A última área com PD está localizada fora da zona urbana, especificamente ao norte do
município (quadrante 3, figura 34; detalhe figura 36). O pequeno recorte está no distrito de
Praça Rica, onde há residências próximas a taludes de corte. Nesse local, não existe elementos
de drenagem pluvial o que induz a formação de feições erosivas na encosta. Além disso, as
intervenções inadequadas, juntamente com a inexistência de contenções e o mal gerenciamento
da drenagem pluvial, podem ocasionar ou agravar processos de movimentação de massa,
principalmente durante eventos chuvosos.
A respeito dos setores de RH, estão distribuídos pelo município, sobretudo no perímetro
rural. O quadrante 2 (figura 34) indica algumas áreas de risco hidrológico na comunidade de
Beira Rio às margens do rio São Mateus (detalhe figura 37), enquanto o quadrante 3 tem-se o
distrito rural de Praça Rica em que existem córregos cortando uma pequena área urbana, e para
ambos em períodos chuvosos ocorrem eventos de inundação afetando as casas situadas nas
margens. O mesmo ocorre nos distritos de Todos os Santos, Todos os Anjos e São Sebastião
(quadrantes 4, 5 e 6 respectivamente; figura 34; detalhe figura 38).
Nas áreas de RH, são identificados que todas se compatibilizam nas regiões referentes a
classe de relevo baixio, dispondo de característica importante, a presença de córregos e rios.
Mediante a isso, é interessante destacar o não aparecimento de setores de RH no perímetro
urbano, caso recorrente nos municípios analisados anteriormente. Na sede municipal de Vila
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Pavão, há a presença de áreas de baixio, zonas relativas à drenagem natural, que estão
totalmente ocupadas, vide figura 35. Todavia, não foi identificado cursos d’água que possam
ocasionar processos de inundações, logo, não se observa setores de RH neste recorte. Após
investigar a dinâmica do uso e cobertura, constatou-se que os setores de RH estão associados a
áreas de pastagem e vegetação, essa última bastante restrita. Foi possível observar a presença
de áreas de vegetação ciliar nas proximidades dos rios e córregos. Entretanto, muitos desses
núcleos florestais desaparecem no decorrer dos anos dando lugar a pastagem e pequenos
núcleos urbanos.
No que se refere aos danos humanos causados por inundações e principalmente pelas
enxurradas, os registros apontam mais de 6000 afetados direta ou indiretamente para os anos
de 2006 e 2009. Ressalta-se que o número total de afetados excede bastante o número total de
pessoas expostas nas áreas de risco relatado no relatório. A Figura 39 apresenta os danos
humanos e os danos materiais registrados para os eventos de desastres ocorridos nos de 2006,
2009 e 2013.
Figura 39– Total de danos humanos e materiais por inundações e enxurradas no município de Vila Pavão/ES. Fonte: S2iD –
Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres e Atlas Brasileiro de Desastres Ambientais
58
5.3.5 Ecoporanga
Dentre os municípios até aqui analisados, Ecoporanga é o que menos apresentou uma
dinâmica socioambiental acentuada, como pode ser observado nas Figuras 40 e 41. De modo
geral, não houve mudanças drásticas na paisagem, onde mais de 80% é representada pela
pastagem. As alterações mais significativas ocorreram nas classes pastagem e vegetação, com
uma expansão da pastagem até 90% e uma redução da vegetação para u menor do que 5%, entre
1985 e 2001, enquanto no período de 2001 a 2017 identifica-se uma retomada da configuração
apresentada no ano de 1985, onde a pastagem retorna para a faixa de 80% e a vegetação para
mais de 5%.
como principal classe de relevo os topos de morro. Entretanto, a maioria dos setores de risco
foram identificadas nas áreas de baixio ou próximo a elas, ecótono e encosta.
Figura 40 - Uso e cobertura do solo, município de Ecoporanga para os anos de 1985, 2001 e 2017.
Figura 41 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Ecoporanga. Elaborado
pelo autor.
Figura 42 - Modelo HAND aplicado ao município de Ecoporanga.
O município de Ecoporanga apresenta as três situações de risco: RH, PE e PD. Os setores
de RH estão distribuídos em quatro pontos no município, sendo o primeiro localizado na sede
municipal (quadrante 1, figura 42; detalhe figura 43). Esta área apresenta alto risco de
inundação, e se refere ao trecho onde o rio Dois de Setembro (afluente do rio Cotaxé) atravessa
a extensão urbana. Segundo a CPRM (2015), neste curso d’água foram realizadas obras de
retificação e aprofundamento do canal, todavia, ainda há registros de ocorrências de inundações
em eventos chuvosos.
As demais áreas referentes a RH estão mais distribuídas pelo município (Figura 41,
quadrantes 2, 3 e 4, detalhe Figura 44), em que se observa a presença de pequenos núcleos
urbanos próximos a córregos e rios (principalmente no rio Cotaxé, quadrantes 3 e 4), e
residências se encontram próximo ou dentro das planícies de inundação, logo, são áreas bastante
vulneráveis à ocorrência de enchentes e/ou inundações em períodos chuvosos. Todos esses
setores de RH já são considerados processos instalados em suas respectivas regiões.
Figura 45– Total de danos humanos por estiagens e enxurradas no município de Ecoporanga/ES. Fonte: S2iD – Sistema
Integrado de Informações Sobre Desastres.
Nas Figuras 46 e 47, visualizamos as mudanças ocorridas nos três anos avaliados. Nota-
se que a classe dominante é a pastagem e atinge o máximo em 2001, com cerca de 70%. No
período entre 1985 e 2001 que se vê o crescimento desta classe, assim como a redução das áreas
vegetadas, expressando em torno de 11% de floresta em estágio médio e avançado crescimento
e 13% de floresta em estágio inicial de crescimento. Observando a Figura 46, é possível
identificar no ano de 1985, grandes núcleos de floresta em estágio médio/avançado crescimento
que posteriormente se reduzem a pequenas áreas em 2001.
Para o período de 2001 a 2017, constata-se uma redução das áreas de pasto, demonstrando
uma configuração parecida com 1985, na qual apresenta aproximadamente 58% de área. Ao
mesmo tempo, nas áreas referentes a vegetação, identifica-se um considerável crescimento,
onde as florestas exibem juntas quase 35% da área do município. É possível visualizar na Figura
46 que em 2017 há numerosos núcleos de vegetação, principalmente as florestas em estágio
inicial de crescimento. Nas outras classes, com menores alterações, o solo exposto/afloramento
rochoso apresenta uma pequena oscilação nos três anos. Há o surgimento de um pequeno núcleo
65
Figura 46 - Uso e cobertura do solo, município de Água Doce do Norte para os anos de 1985, 2001 e 2017.
Figura 47 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Água Doce do Norte.
Elaborado pelo autor.
Figura 48– Modelo HAND aplicado ao município de Água Doce do Norte.
Sobre as áreas de risco, o relatório da CPRM (2012), salienta a existência das três
situações: PD, PE e RH. Na Figura 48, verifica-se as situações de risco em conjunto ao modelo
HAND aplicado ao município de Água Doce do Norte. Ao todo, existem 6 setores sinalizados
para o município, sendo um deles na sede, e os outros distribuídos pela zona rural. Das situações
mais frequentes tem-se as de PD e PE, abrangendo não só a zona urbana como também a rural.
O quadrante 1 da figura 48 (detalhe figura 49), indica a sede municipal e 5 situações de risco.
Dentre as áreas, três apresentam como característica a situação de deslizamentos com processos
erosivos instalados, onde as encostas densamente ocupadas e taludes de corte verticais sem
proteção contribuem para o alto risco de deslizamento. Os dois setores restantes têm por
característica os deslizamentos em conjunto a queda e rolamento de blocos, onde a presença de
encostas ocupadas e taludes de corte com inclinação de 90º aumentam a competência de
desastres.
De acordo com S2iD, o município apresenta como desastre mais recorrente a estiagem
com 17 registros contabilizados, o que equivale a aproximadamente 53% do total registrado.
As enxurradas são a segunda mais recorrente, apresentando 10 registros que equivalente a 31%,
e as inundações correspondem apenas a 16% com 5 registros ao todo.
Sobre as estiagens, é interessante observar que no ano de 2003 tem-se um pico de registro,
chegando a quatro, seguido de 1998 com três casos, além de uma constante de dois registros
em 1995, 1996 e 2007. Comparando com os dados de enxurradas, verifica-se que os registros
de estiagem é maior, já que as enxurradas apresentam no ano de 2003, três registros e uma
constante de ocorrências nos anos de 2003 a 2006, 2008 e 2012. Já nos casos de inundações
tem-se um pico em 2012 com dois registros.
O município de Barra de São Francisco, localizado no Estado do Espírito Santo, faz limite
com os municípios de Água Doce do Norte, Vila Pavão, Ecoporanga, Águia Branca,
Mantenópolis, Nova Venécia e Mantena, na divisa com Minas Gerais. A dinâmica do uso e
cobertura no município é bastante correlata aos seus vizinhos, assim como da bacia. Verifica-
se a dinâmica socioambiental nas Figuras 52 e 53.
Nas outras classes não foi observado alterações significativas. Verifica-se uma constância
nas áreas de afloramento rochoso e solo exposto, um pequeno crescimento urbano variando de
0,16% em 1985 para 0,36% em 2017 e o surgimento em 2017 de pequenos hectares de floresta
plantada e agricultura correspondendo respectivamente cerca de 0,06% e 0,01%.
71
Figura 52 - Uso e cobertura do solo, município de Barra de São Francisco para os anos de 1985, 2001 e 2017.
Figura 53 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Barra de São Francisco.
Elaborado pelo autor.
72
Segundo a CPRM (2012), Barra de São Francisco exibe , apenas áreas de PD com PE
instalados. No quadrante 1 da figura 54 (detalhe figura 55) é possível ver as 8 situações de
deslizamentos. Nesses recortes é possível identificar que as áreas de risco estão assentadas nas
classes de relevo equivalentes a topos de morro e encostas. De acordo com o relatório essas
áreas possuem como característica a presença de morros instáveis, onde houve ocupação
desordenada, fundamentada a partir do desmatamento das encostas. A junção desses atributos
propicia um alto risco para movimentos de massa, confirmados pelas evidências de feições
erosivas, inclinação de árvores e cicatrizes de deslizamentos.
De acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (2013), Barra de São Francisco
apresenta apenas 4 registros de movimentos de massa, o que equivale a cerca de 15% do total
de desastres registrados. O maior número de registro vai para estiagem com 11 no total, tendo
seus primeiros casos registrados na segunda metade da década de 1990, e um contínuo
distribuído nas décadas 2000/2010 (picos de dois casos nos anos de 2008 e 2016). Esse índice
de estiagens equivale a aproximadamente 41% dos registros de desastres no município.
Posteriormente, as enxurradas apresentam um total de 10 registros, representando
aproximadamente 37%, tendo uma distribuição das ocorrências entre as décadas de 1980, 1990,
74
2000 e 2010. Por último, tem-se as inundações com apenas registros em 2003 e 2013, o que
corresponde a somente 7% do total.
Com relação aos eventos hidrológicos, identifica-se que suas ocorrências se concentram
nos assentamentos urbanos localizados nas regiões referentes a baixios, como é o caso da sede
municipal. Também é interessante mencionar que o município apresenta extensas áreas de
baixio relativamente próximas as dominantes regiões de topos de morro com altas declividades.
Percebe-se que em determinados trechos a faixa de encosta é bastante curta e íngreme o que
pode favorecer a ocorrência de rápidos movimentos de massa e queda ou rolamentos de blocos,
como é o caso do perímetro urbano de Barra de São Francisco.
75
5.3.8 Mantena
Nas Figura 56 e 57, é possível visualizar as mudanças ocorridas nos três anos analisados.
Seguindo o mesmo padrão dos municípios da BHSM, tem como principal uso e cobertura a
pastagem, apontando cerca de 66% em 1985 e quase 80% em 2001. Nesse mesmo intervalo,
verifica-se uma dinâmica interessante na vegetação, pois a floresta em estágio inicial de
crescimento se mantem praticamente constante, apresentando uma variação de 10% para 9%,
enquanto a floresta em estágio médio/avançado manifesta uma grande contração, saindo de
19% em 1985 para 7% em 2001. Observando a Figura 56, é nítido o desaparecimento dos
núcleos de floresta média/avançada em 2001 e a permanência dos núcleos de floresta primária.
No que diz respeito aos setores de risco, o relatório da CPRM (2012), sinaliza a existência
das três categorias de risco: RH, PE e PD. A Figura 58 apresenta tais situações de risco
juntamente com o modelo HAND aplicado ao município. Percebe-se que as áreas apresentadas
estão localizadas no perímetro urbano (quadrante 1, figura 58, detalhe figura 59). Ao todo são
4 áreas com ocorrências e potencialidades de desastres. A maior área se refere a risco
hidrológico, especificamente a inundação. Verifica-se que tal região está assentada na classe de
relevo baixio, onde as casas de alvenaria ocupam a planície de inundação e são afetadas
regularmente pelas inundações.
76
Figura 56 - Uso e cobertura do solo, município Mantena para os anos de 1985, 2001 e 2017.
Figura 57- Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Mantena. Elaborado pelo
autor.
77
A segunda área de risco refere-se a uma situação de processos erosivos. Há uma encosta
de alta declividade com presenças de casas em alvenaria próximas a voçorocas. Observando a
Figura 59, visualiza-se que tal recorte está no limiar entre a classes de encosta e topo de morro.
As duas situações restantes referem-se a potencialidades de deslizamentos vinculados a
processos erosivos tendo as mesmas características do recorte anterior, onde a ocupação
desordenada nas encostas favorece a intensificação da erosão como também a ocorrência de
deslizamentos.
CPRM (2012) o número de pessoas que residem nas áreas de risco ultrapassa mais de 3.300
habitantes.
6. CONCLUSÕES
Os resultados deste estudo permitiu a concepção de algumas considerações acerca das relações
das mudanças do uso e cobertura do solo com as classes relevo e suas influências na ocorrência
de desastres na Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus. A primeira consideração se refere à
dinâmica socioambiental, a qual observou-se um padrão em praticamente toda a bacia, que
reflete de modo intrínseco à própria organização espacial, onde foi possível verificar uma
regularidade no uso e cobertura do solo. Essa regularidade se expressou nas análises das
mudanças do uso e cobertura nos municípios monitorados, sendo possível confirmar o mesmo
padrão, com o domínio absoluto da pastagem seguido de núcleos florestais dispersos e o
desenvolvimento, ainda que restrito, dos núcleos urbanos.
Esse padrão nos permitiu indicar a segunda consideração que são as próprias alterações do uso
e cobertura nos anos selecionados para o trabalho, e, está claro que a BHSM sofreu e ainda
sofre com o intenso e indiscriminado processo de desmatamento, o que pode intensificar os
processos de erosões. A partir da geração dos mapas e gráficos das alterações de uso e cobertura,
foi observado um acentuado desaparecimento dos núcleos florestais entre 1985 e 2001, e um
aumento nas áreas de pastagem no mesmo período. Ainda que no intervalo de 2001/2017 essa
configuração tenha se revertido, o padrão da bacia permaneceu o mesmo, apenas em proporções
diferentes. Observamos que inúmeras áreas retornaram com seus núcleos florestais, todavia,
ainda com a presença absoluta da pastagem. Dessa maneira, essa notável e intensa dinâmica de
80
Essa consequência evidencia, portanto, a próxima consideração, que são as áreas de risco de
desastres e suas relações com as mudanças do uso e cobertura e as classes de relevo
apresentadas pelo modelo HAND. Com o auxílio dos relatórios da CPRM, foi possível elaborar
mapas que mostrassem se tais áreas com situações de risco correspondiam às classes de relevo
referentes aos eventos que podem ocorrer ou já ocorreram. Dessa maneira, pode-se considerar
a partir desses mapas e dos registros verificados, que a BHSM apresenta uma distribuição dos
eventos adversos estreitamente ligado ao relevo e das alterações do uso e cobertura.
Nos municípios localizados na porção leste da bacia, onde o relevo se apresenta bastante plano
e se visualiza classes de relevo majoritariamente de baixios seguido de ecótonos e encostas,
tem-se como principal característica, as áreas de RH, onde os eventos de inundações graduais
ou simplesmente inundações são os mais recorrentes. Tais áreas de ocorrência se configuram
com a presença de núcleos urbanos, principalmente as sedes municipais, assentadas
essencialmente próximas ou dentro de planícies de inundações dos rios, córregos e em áreas de
drenagem natural, regiões referentes a classe de relevo baixio.
O mesmo processo ocorre aos municípios da porção central da bacia, próximo à divisa entre os
estados do Espírito Santo e Minas Gerais. Os principais focos de ocorrência de desastres se
localizam também nas zonas urbanas municipais, tendo em especial as situações de RH. A
diferença desses municípios para os da porção leste é que o relevo nessa região é mais
acidentado e com maiores declividades. Por isso, os eventos hidrológicos nessa porção da bacia,
se caracterizam pelas inundações bruscas ou enxurradas.
Outra consequência do desmatamento, e que aflige sobretudo esses municípios a oeste da bacia,
são os episódios de estiagens. Vimos que nestes municípios, no intervalo de 1985/2001,
atravessaram um período de considerável desaparecimento de núcleos florestais. Como
81
resultado, o final dos anos 1990 e a década de 2000 foi marcada por um grande número de
registros de estiagens, levando a essa região carecer de um balanço hídrico favorável,
colaborando para uma susceptibilidade à desertificação.
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