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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE BACHARELADO EM GEOGRAFIA

YAN BRENO AZEREDO GOMES DA SILVA

ANÁLISE DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DO SOLO EM DIFERENTES


CLASSES DE RELEVO E SUAS INFLUÊNCIAS NA OCORRÊNCIA DE
DESASTRES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO MATEUS (ES/MG)

Niterói
2020
YAN BRENO AZEREDO GOMES DA SILVA

ANÁLISE DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DO SOLO EM DIFERENTES

CLASSES DE RELEVO E SUAS INFLUÊNCIAS NA OCORRÊNCIA DE

DESASTRES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO MATEUS (ES/MG)

Monografia apresentada ao curso de


Bacharelado em Geografia, como requisito
parcial para a obtenção do título de
Bacharel em Geografia.

Orientador:
Prof.
Prof. Dr. Felix Carriello

Coorientadora:
Dr.a Rochane de Oliveira Caram

Niterói
2020
YAN BRENO AZEREDO GOMES DA SILVA

ANÁLISE DAS MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DO SOLO EM DIFERENTES


CLASSES DE RELEVO E SUAS INFLUÊNCIAS NA OCORRÊNCIA DE
DESASTRES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO MATEUS (ES/MG)

Monografia apresentada ao curso de


Bacharelado em Geografia, como
requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Geografia.

Aprovada em 07 de dezembro de 2020.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________
Prof. Dr. Felix Carriello (Orientador) - UFF

_____________________________________________
Drª Rochane de Oliveira Caram - Cemaden

_____________________________________________
Drª Minella Alves Martins - Cemaden

Niterói
2020
Para Luzia Azeredo da Silva e Ana Aline Gomes, alicerce e farol.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida.

À minha mãe, Luzia Azeredo da Silva, por ser meu suporte e alicerce de toda a vida.
Acredito que sem ela não teria chegado até aqui. Reconheço todo o esforço e amor empenhado,
obrigado por acreditar em mim.

À Ana Aline Gomes, amada companheira, que assistiu e participou de toda minha
caminhada acadêmica. Nos momentos de desalento sempre estava ali como um farol a me guiar,
obrigada também por acreditar em mim.

Aos meus orientadores, Prof. Dr. Felix Carriello e Dra. Rochane Caram, que mostraram
e me auxiliaram no caminho a qual devia seguir. Obrigado pelo compartilhamento do
conhecimento e acima de tudo, obrigado pela amizade construída, vocês foram bastante
importante.

Ao Prof. Dr. Carlos Alberto, pelo apoio incondicional em diversos momentos e pela
confiança posta em mim. Sentirei saudades das melhores aulas da minha graduação.

À Prof.ª Dra. Cristina Pessanha Mary, pelos ensinamentos e pelas conversas.

À Universidade Federal Fluminense e a todos os servidores, dentre funcionário e


docentes, que participaram direta ou indiretamente para a conclusão deste curso.

Agradeço em especial a Andrei Tartaroni, Eugenio Tuorto e Israel Bonadiman pela forte
amizade construída ao longo do curso e que levarei para a vida inteira. Obrigado por todos os
momentos vividos com vocês, dentro e fora da universidade. Saudades dos trabalhos de campo.

À Lucas de Oliveira, amigo, com seu apoio integral e incondicional. Agradeço por tudo,
pelas conversas até tarde da noite, pelo auxílio na revisão não só deste trabalho, mas de todos
os outros projetos acadêmicos.

Por fim, agradeço a todos os outros colegas de vida e de faculdade que atuaram direta
ou indiretamente na minha formação. Diversas conversas e acontecimentos que estarão
guardados em minha mente.
Pouco conhecimento faz com que as pessoas se sintam orgulhosas. Muito conhecimento,
que se sintam humildes. É assim que as espigas sem grãos erguem desdenhosamente a cabeça
para o céu, enquanto que as cheias as baixam para a terra, sua mãe.

Conhecer o passado e a superfície da Terra é ornar e nutrir a mente humana.

Leonardo di Ser Piero da Vinci


RESUMO

Mediante as dinâmicas socioambientais, a busca de informações que possibilite uma


maior compreensão das mudanças ocorridas no espaço é de extrema importância. A análise do
uso e cobertura da terra, juntamente com descritores de terreno, se mostram importantes
ferramentas nos estudos em bacias hidrográficas. A Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus
(BHSM), região de estudo, nos últimos cinquenta anos tem sido alvo de um acelerado,
indiscriminado e imponente processo de desmatamento. Desse modo, percebe-se que a redução
de áreas florestadas acabam produzindo efeitos na vazão e consequentemente na influência na
ocorrência de desastres. Desse modo, tendo em vista que, a ocorrência de desastres pode estar
associada à degradação do meio ambiente, o presente trabalho visa analisar as mudanças de uso
e cobertura da terra em diferentes classes do relevo nesta bacia, o que possibilitará avaliar se
tais mudanças podem exercer influência na ocorrência de desastres na região de estudo, tais
como, movimentos de massa e inundações.

O uso de técnicas de sensoriamento remoto e o auxílio dos Sistemas de Informação


Geográficas (SIGs) ajudaram na elaboração do trabalho. A classificação do uso e cobertura do
solo realizou-se através de imagens orbitais dos satélites Landsat 5 e 8, juntamente com análises
de modelos topográficos, como os dados SRTM, e a extração do modelo HAND na
classificação das classes de relevo. Como resultado, vemos que tal relação, pretendida nesse
trabalho, está estreitamente relacionada ao planejamento e ao desenvolvimento espacial.
Entende-se que mediante aos tipos de uso e cobertura e sua dinâmica em diferentes relevos, a
ocorrência de desastres é posta em xeque. Verifica-se que na bacia, suas áreas demarcadas por
situações de risco estão sempre relacionadas ao processo de expansão urbana, principalmente
nas regiões susceptíveis a desastres como por exemplo encostas e baixios, regiões inundáveis.
Por fim, este trabalho tem como intuito frisar a importancia do planejamento e do
desenvolvimento sustentável tendo como objeto de estudo os municípios inseridos no contexto
da Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus.

Palavras-chave: Sensoriamento Remoto, Uso e Cobertura, Desastres.


ABSTRACT

Through socio-environmental dynamics, a search for information that enables a greater


understanding of the changes occurring in space is extremely important. The analysis of land
use and cover, together with land descriptors, stands out as tools in studies in watersheds. The
São Mateus River Basin (BHSM), region of study, in the last fifty years has been the target of
an accelerated, indiscriminate and imposing deforestation process. Thus, it is clear that the
reduction of forested areas ends up producing effects on the flow and consequently on the
influence on the occurrence of disasters. Thus, considering that the occurrence of disasters may
be associated with degradation of the environment, the present study aims to analyze changes
in land use and land cover in different classes of relief in this basin, which will enable us to
assess whether such changes can impact impact on the occurrence of disasters in the study
region, such as mass movements and floods.
The use of remote sensing techniques and or assistance from Geographic Information
Systems (GIS) helped in the elaboration of the work. The classification of land use and land
cover is carried out using orbital images from the Landsat 5 and 8 satellites, together with
analysis of topographic models, such as SRTM data, and the extraction of the HAND model in
the classification of relief classes. As a result, we see that such a relationship, intended in this
work, is closely related to spatial planning and development. It is understood that, due to the
types of use and coverage and their dynamics in different reliefs, the occurrence of disasters is
put in check. It appears that in the basin, its areas demarcated by risk hypotheses are always
related to the process of urban expansion, especially in regions susceptible to disasters such as
slopes and lowlands, flooded regions. Finally, this work aims to emphasize the importance of
planning and sustainable development with the object of study the municipalities inserted in the
context of the São Mateus River Basin.

Keywords: Remote Sensing, Use and Coverage, Disasters


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Mapa da localização da Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus................................18


Figura 2 - Mapa do Modelo Digital de Elevação da BHSM.......................................................19
Figura 3 - Classificação órbita/ponto 217/72, 2 ao 215/72, 3 ao 217/73 e 4 ao 216/73...............21
Figura 4 - Consistência hidrológica do MDE.............................................................................22
Figura 5 - Cálculo do Modelo HAND........................................................................................22
Figura 6 - Diferentes drenagens extraídas de limites variados de contribuição..........................23
Figura 7 - Drenagem extraída a partir de um limiar de 50 pontos...............................................23
Figura 8 - Síntese da Metodologia.............................................................................................24
Figura 9 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo, BHSM, 1985.......................................................25
Figura 10 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo, BHSM, 2001.....................................................26
Figura 11 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo, BHSM, 2017.....................................................27
Figura 12 - Alterações do Uso e Cobertura do Solo na bacia......................................................28
Figura 13 - Padrão da dinâmica do Uso e Cobertura para os anos de 1985, 2001 e 2017............29
Figura 14 - Classificação do Modelo HAND.............................................................................30
Figura 15 - Uso e Cobertura, município de Nova Venécia.........................................................32
Figura 16 - Quantificação das mudanças ocorridas, município de Nova Venécia......................32
Figura 17 - Modelo HAND, município de Nova Venécia..........................................................34
Figura 18 - Detalhes dos setores de risco...................................................................................36
Figura 19 - Detalhes dos setores de risco...................................................................................37
Figura 20 -Total de gastos em danos materiais, município de Nova Venécia.............................39
Figura 21 - Uso e Cobertura, município de São Mateus.............................................................41
Figura 22 - Quantificação das mudanças ocorridas, município de São Mateus..........................41
Figura 23 - Modelo HAND, município de São Mateus..............................................................42
Figura 24 - Detalhes da área de risco..........................................................................................43
Figura 25 - Detalhes dos setores de risco...................................................................................44
Figura 26 - Danos humanos causados por inundações e enxurradas..........................................46
Figura 27 - Uso e Cobertura, município de Conceição da Barra.................................................47
Figura 28 - Quantificação das mudanças ocorridas, município de Conceição da Barra.............47
Figura 29 - Modelo HAND, município de Conceição da Barra..................................................48
Figura 30 - Danos humanos causados pela erosão costeira........................................................50
Figura 31 - Total de gastos em danos materiais por erosão costeira...........................................50
Figura 32 - Uso e Cobertura, município de Vila Pavão..............................................................52
Figura 33 - Quantificação das mudanças ocorrida, município de Vila Pavão.............................52
Figura 34 - Modelo HAND, município de Vila Pavão...............................................................53
Figura 35 - Detalhe quadrante 1, figura 34.................................................................................54
Figura 36 - Detalhe quadrante 3.................................................................................................55
Figura 37 - Detalhe quadrante 2.................................................................................................56
Figura 38 - Detalhes quadrantes 4, 5 e 6.....................................................................................56
Figura 39 - Total de danos humanos e materiais por inundações e enxurradas, município de Vila
Pavão.........................................................................................................................................57
Figura 40 - Uso e Cobertura, município de Ecoporanga.............................................................59
Figura 41 - Quantificação das mudanças ocorrida, município de Ecoporanga...........................59
Figura 42 - Modelo HAND, município de Ecoporanga..............................................................60
Figura 43 -Detalhe quadrante 1..................................................................................................61
Figura 44 - Detalhes quadrantes 2 , 3 e 4....................................................................................62
Figura 45 - Total de danos humanos por estiagem e enxurradas, município de Ecoporanga......63
Figura 46 - Uso e Cobertura, município de Água Doce do Norte...............................................65
Figura 47 - Quantificação das mudanças ocorridas, município de Água Doce do Norte............65
Figura 48 - Modelo HAND, município de Água Doce do Norte................................................66
Figura 49 - Detalhe quadrante 1.................................................................................................67
Figura 50 - Detalhes quadrantes 2, 3. 4 e 5.................................................................................68
Figura 51 - Detalhe quadrante 6.................................................................................................68
Figura 52 - Uso e Cobertura, município de Barra de São Francisco...........................................71
Figura 53 - Quantificação das mudanças ocorridas, município de Barra de São Francisco........71
Figura 54 - Modelo HAND, município de Barra de São Francisco..........................................72
Figura 55 -Detalhe quadrante 1.................................................................................................73
Figura 56 - Uso e Cobertura, município de Mantena................................................................76
Figura 57 - Quantificação das mudanças ocorridas, município de Mantena...............................76
Figura 58 - Modelo HAND, município de Mantena...................................................................77
Figura 59 -Detalhe do quadrante................................................................................................78
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANA Agência Nacional de Águas


AVADAN Avaliação de Danos
BHSM Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus

CEMADEN Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais


CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ES Espírito Santo
FIDE Formulário de Informações de Desastres
GEOBASES Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo
HAND Height Above the Nearest Drainage
IEMA Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
MDE Modelo Digital de Elevação
MDT Modelo Digital de Terreno
PD Potencialidades de Deslizamento
PE Potencialidades de Erosão
RH Risco Hidrológico
SIG Sistema de Informação Geográfica
SR Sensoriamento Remoto
SRTM Missão Topográfica Radar Shuttle
S2iD Sistema Integrado de Informações sobre Desastres
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................13

2. OBJETIVO.........................................................................................................................17

3. ÁREA DE ESTUDO..........................................................................................................17

4. METODOLOGIA..............................................................................................................19

4.1 Classificação do Uso e Cobertura....................................................................................19

4.2 Obtenção do Modelo HAND............................................................................................21

5. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO..................................................................24

5.1 Mudança de Uso e Cobertura do Solo da BHSM...........................................................24

5.2 Modelo HAND...................................................................................................................29

5.3 Análise dos Municípios Monitorados..............................................................................30

5.3.1 Nova Venécia...................................................................................................................31

5.3.2 São Mateus.......................................................................................................................40

5.3.3 Conceição da Barra..........................................................................................................46

5.3.4 Vila Pavão........................................................................................................................51

5.3.5 Ecoporanga.......................................................................................................................58

5.3.6 Água Doce do Norte........................................................................................................64

5.3.7 Barra de São Francisco....................................................................................................70

5.3.8 Mantena............................................................................................................................75

6. CONCLUSÕES.................................................................................................................79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................81
1. INTRODUÇÃO

Mediante as dinâmicas socioambientais, a busca de informações que possibilite uma


maior compreensão das mudanças ocorridas no espaço é de extrema importância. A análise do
uso e cobertura da terra se mostra uma importante ferramenta pois apresenta de maneira
competente a distribuição espacial das dinâmicas antrópicas projetadas sobre o meio natural,
assim como a própria distribuição da mesma. Isto posto, a utilização deste tipo de estudo se
manifesta como essencial no que diz respeito ao processo de planejamento espacial,
principalmente quando se trata de problemas pertinentes ao desenvolvimento descontrolado de
determinadas regiões (ANDERSON et al. 1976).

A crescente preocupação com o meio ambiente, instigado sobretudo pelas mudanças


climáticas, favoreceram a importância e a produção de trabalhos que direcionassem reflexões
sobre as transformações ocorridas no espaço, juntamente com a manutenção dos recursos e o
equilíbrio dos processos conjuntos sócio-econômico-ambientais.

Conter os impactos ambientais pode ser considerado um dos grandes desafios da nossa
sociedade. Tais efeitos afetam o espaço como um todo, sendo um importante recorte as bacias
hidrográficas, consideradas unidades físico-territoriais de estudo, gerenciamento, pesquisa,
análise, planejamento e desenvolvimento relativos à gestão dos recursos hídricos e da paisagem,
que são extremamente afetadas provocando expressivas alterações hidrológicas como o
aumento do escoamento superficial (MACHADO & TORRES, 2012).

Os dados sobre o uso e cobertura do solo acabam sendo necessários na análise dos
processos e problemas ambientais que devem ser compreendidos. Analisar e a partir disso
extrair informações sobre como o solo está sendo usado e recoberto, possui grande relevância
na elaboração de dados que auxiliam as tomadas de decisões no que diz respeito ao manejo do
ambiente. Desse modo, sabe-se que a expressão “uso e cobertura do solo” está relacionada às
características do estado físico, químico e biológico da camada da superfície terrestre, ou seja,
como o espaço está sendo ocupado (LORENA, 2001).

Essa ocupação ocorre a partir de dois vetores, o antrópico e o natural. Quando falamos
sobre o uso do solo, nos referimos às ações do homem associadas a certas atividades como a
pecuária, agricultura, urbanização entre outras. Quando pronunciamos sobre a cobertura do
14

solo, atribuímos a ideia do revestimento dos objetos naturais como as florestas, cursos d'água,
afloramento rochosos e muitos outros (TURNER, 1994).

Um importante instrumento para o mapeamento do uso e da cobertura do solo é a


utilização das técnicas de geoprocessamento como o sensoriamento remoto juntamente com as
ferramentas dos Sistemas de Informação Geográficas (SIGs). O geoprocessamento de acordo
com Santos et al (2000), engloba diversas tecnologias de tratamento e manipulação de dados
geográficos, através de programa computacionais. Os SIGs são sistemas computacionais
utilizados para o entendimento dos fatos e fenômenos que ocorrem no espaço geográfico, tendo
uma capacidade de reunir uma grande quantidade de dados de expressão espacial integrando-
os adequadamente (SANTOS et al, 2000). Estas técnicas, em especial o sensoriamento remoto
(SR) capaz de registrar imagens da cobertura do solo, tornaram viável a execução de pesquisas.
A forma de se trabalhar se tornou mais eficiente e prática, com um elevado nível de
confiabilidade, algo que anteriormente era tido como dispendioso e não muito confiável. As
imagens de SR são fonte para estudos e levantamentos dos mais diversos assuntos, também
representa formas viáveis de monitoramento ambiental em escalas locais e globais, devido sua
eficiência, periodicidade e visão sinóptica que as caracterizam (CRÓSTA, 1992 apud
SCHLINDWIEEN, 2007). De acordo com Novo (2010), o SR utiliza sensores e equipamentos
para processamento de dados, com o objetivo de estudar eventos, fenômenos e processos que
ocorrem na superfície terrestre a partir do registro e da análise das interações entre a radiação
eletromagnética e as substâncias que o compõem em suas mais diversas manifestações.

Mediante a utilização do SR é possível adquirir informações de determinada área do


espaço, possibilitando a elaboração de diversos mapas temáticos das inúmeras estruturas
espaciais que resultaram do processo de uso e ocupação do solo (BORGES, 2008). Os SIGs, no
entanto, vão auxiliar todo este processo, permitindo uma maior eficiência no manuseio dos
dados e possibilitando a combinação das informações em uma grande variedade de formas.
Desta forma, o uso destas técnicas e ferramentas vem se mostrando de extrema importância no
estudo e na compreensão do espaço em suas mais diferentes variáveis, possibilitando aos
tomadores de decisão uma maior segurança nas suas deliberações (BARROS, 2017). Todavia
essas imagens não registram as atividades diretamente, compete exclusivamente ao analista
buscar as associações de reflectâncias, texturas, estruturas e padrões de formas para extrair
informações a respeito das atividades de uso (FILHO et al. 2007).
15

Tal processo está relacionado intimamente com o tipo de uso do solo, o tipo de cobertura
vegetal e como ela está ou não distribuída, além da declividade do terreno. Desse modo, uma
observação multitemporal do uso e cobertura permite identificar e entender como essas
características ao decorrer do tempo influenciam, por exemplo, na ocorrência de desastres.
Nesse contexto, buscar entender o relevo é de grande importância às ciências que estudam os
componentes da superfície terrestre. Ele se tornou um atributo primário da paisagem e um
parâmetro físico fundamental (MOORE et al, 1993). A ocupação irregular de encostas e
consequentemente o desmatamento pode propiciar uma maior suscetibilidade à ocorrência de
movimentos de massa, já que a variação espacial do relevo resulta em gradientes de potencial
energia, tornando-se principais agentes físicos dos fluxos (FLORENZANO, 2008; NOBRE,
2011).

A Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus (BHSM), região de estudo, nos últimos
cinquenta anos têm sido alvo de um acelerado, indiscriminado e imponente processo de
desmatamento. A BHSM está quase totalmente desprovida de vegetação nativa, apresentando
apenas 13% de vegetação primária e secundária da área total da bacia, enquanto a pastagem
apresenta 74% no ano de 2017 (AZEREDO et al., 2019). A efeito, a região perpassa por grandes
focos de erosão, o que contribui para a ocorrência de desastres, sendo agravado ainda pelo
desmatamento, constituindo um dos principais problemas e afetando a população que reside na
bacia (AZEREDO et al., 2019). Desse modo, percebe-se que a redução de áreas florestadas
acaba produzindo efeitos na vazão e consequentemente influencia na ocorrência de desastres.
Além disso, a maioria dos processos que integram o balanço hídrico estão fortemente ligados
com a vegetação, principalmente no que diz respeito aos regimes de chuvas. A interceptação,
evaporação e transpiração são processos estritamente influenciados pelo tipo de cobertura do
solo e colaboram para a regulação e equilíbrio do ciclo hidrológico (BAYER, 2014).

O relevo, da mesma maneira, atua em conjunto a falta de vegetação nas ocorrências de


desastres, já que dependendo da morfologia este processo pode ou não ser intensificado.
Portanto, a elaboração de mapas estáticos de uso e cobertura do solo, mesmo tendo sua
importância, não atende de maneira efetiva a necessidade dos tomadores de decisão, sendo
necessária a utilização de modelagens digitais (PISANI et al 2016, ALMEIDA & GLERIANI,
2007). Dessa forma, o aproveitamento de dados altimétricos provenientes de modelos
topográficos são fundamentais nas análises sobre estudos de desastres. A partir do Modelo
Digital de Terreno (MDT), o SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) tem sido o dado mais
empregado no processo de representação do relevo de uma determinada região (PIRES &
16

BORMA, 2013). Esses modelos digitais de elevação permitem a realização de cálculos que nos
ajudam a descrever, entender e prever o armazenamento e o movimento da água no solo
(MOORE, 1992). Tais dados podem ser correlacionados às alterações do uso e da cobertura da
terra, possibilitando a produção de simulações como ferramenta potencial na antecipação de
eventos passíveis de ocorrerem (PISANI et al 2016).

A análise dos MDEs possibilitou o desenvolvimento de diversos descritores numéricos


de paisagem, principalmente no que tange às questões hidrológicas, a qual é possível identificar
áreas de captação, vazão, caminho da água, área de contribuição e redes de drenagem (NOBRE,
2011). Um desses descritores de terreno que vem contribuindo na extração de dados
quantitativos e qualitativos para o relevo é o algoritmo HAND, Height Above the Nearest
Drainage, ou Altura Acima da Drenagem mais próxima (PIRES & BORMA, 2013). Este
descritor de terreno representa o potencial gravitacional relativo dos terrenos,
proporcionalmente ao potencial de drenagem, revelando de modo coerente diversos processos
superficiais relativos ao movimento, acumulação, infiltração, armazenamento e drenagem da
água1. Ele utiliza a diferença entre a altitude extraída de MDT e a rede de drenagem calculando
alturas relativas, correlacionando com a profundidade do lençol freático e a topografia do
terreno (SILVA, SOUTO, & MOLLEI, 2013). Em outros termos, o HAND mede a diferença
altimétrica de qualquer ponto da grade do MDT e o respectivo ponto de escoamento na
drenagem mais próxima, a qual se considera a trajetória superficial do fluxo ligando os pontos
da superfície com a rede de drenagem (PIRES & BORMA, 2013). Dessa maneira, é possível
identificar regiões no relevo que possam influenciar no escoamento, como por exemplo regiões
com baixas alturas relativas que podem indicar porções mais suscetíveis a inundações (SILVA,
SOUTO, & MOLLEI, 2013).

De acordo com Goerl et al (2017), o modelo HAND foi proposto primeiramente por
Rennó et al (2008) para mapear áreas susceptíveis a inundação no município de Igrejinha – RS,
e avaliar a influência da resolução do MDT sobre o seu desempenho. Gharari et al (2011)
também aplicou o modelo para classificar a hidrologia da paisagem. Outros utilizaram o modelo
em diversas pesquisas, todavia, ainda existe uma lacuna relacionada a trabalhos que analisem
o desempenho do HAND em função da variação da resolução espacial.

1
http://handmodel.ccst.inpe.br, acesso em 19 de outubro de 2019.
17

Desse modo, considerando a ocorrência de desastres causados por eventos extremos


associada à degradação do meio ambiente, o presente trabalho visa analisar as mudanças de
uso e cobertura em diferentes classes do relevo na BHSM, o que possibilitará avaliar se tais
mudanças podem exercer influência na ocorrência de desastres na região de estudo, tais como,
movimentos de massa e inundações.

2. OBJETIVO

O objetivo desta pesquisa foi analisar as mudanças ocorridas no uso e na cobertura do


solo em diferentes classes de relevo da BHSM, para os anos de 1985, 2001 e 2017. Para isso,
foram utilizadas técnicas e ferramentas de sensoriamento remoto e processamento digital de
imagem, com a obtenção de imagens de satélite dos anos mencionados para a análise,
classificação e o mapeamento das mudanças de uso e cobertura do solo. Com auxílio dos
sistemas de informação geográfica (SIG), além da classificação do uso e cobertura, o
processamento do Modelo Digital de Elevação possibilitou a geração de um modelo
normalizado de terrenos HAND e uma classificação para representar diferentes feições do
relevo, a qual foi comparada entre os mapas do uso e cobertura. Como objeto de estudo foi
analisado os 8 municípios monitorados pelo CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento
e Alertas de Desastres) no intuito de obter como resultado o mapeamento das áreas mais
suscetíveis a eventos críticos.

3. ÁREA DE ESTUDO

A Bacia hidrográfica do Rio São Mateus (Figura 1) está localizada nos estados do Espírito
Santo e Minas Gerais, tendo mais da metade de sua presença no estado capixaba. Possui uma
área de drenagem de 13.482 km² e, é formada por dois rios principais, o rio Cotaxé (braço norte)
e o rio Cricaré (braço sul) ambos com suas nascentes em Minas Gerais, que se unem próximo
à cidade de São Mateus (ES). No alto curso, a bacia apresenta um relevo bastante acidentado
com a presença do Maciço Montanhoso de Mantena em Minas Gerais, ao longo do percurso do
rio, surge o Planalto Dissecado do Divisor de Águas do São Mateus e o Planalto Deprimido do
Médio São Mateus (FIGUEIREDO et al, 2008).
18

Figura 1 - Mapa da localização da Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus.

A Figura 2 apresenta o Modelo Digital de Elevação da BHSM, onde é possível observar


a transição da região do maciço montanhoso para o planalto deprimido e destes para os
patamares e colinas costeiras ocorrendo de forma bastante gradativa. Em razão dessa condição,
o fácil acesso nas áreas mais suaves, permite a utilização de motomecanização em diversos
trechos. Dessa maneira, a região é alvo de um indiscriminado processo de desmatamento, que
contribui para a ocorrência de desastres, principalmente em áreas com altos índices de erosão.
19

Figura 2 – Mapa do Modelo Digital de elevação da BHSM.

4. METODOLOGIA

4.1 CLASSIFICAÇÃO DO USO E COBERTURA

Para realizar este trabalho, em um primeiro momento, buscou-se realizar um


levantamento bibliográfico sobre o tema das mudanças de uso e cobertura do solo e a influência
do relevo em uma bacia hidrográfica na geração de escoamento. Concomitante a isso, foram
obtidas imagens orbitais dos anos de 1985, 2001 e 2017 para o processo de classificação,
utilizando imagens do satélite Landsat 5 e 8 órbitas/ponto 215/73, 216/72, 216/73, 217/72,
217/73. As imagens foram adquiridas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
sendo o processamento realizado no sistema de informação geográfica ArcGis 10.5.

A metodologia empregada para o mapeamento do uso e cobertura do solo contou tanto


com processamentos de imagens como forma de otimizar a extração das informações das
imagens Landsat, e também etapas de correção e edição vetorial. Para a classificação de uso e
cobertura do solo, foi utilizado como base, o mapa de uso e cobertura do solo do Espírito Santo
elaborado pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA, 2015) a partir
20

das informações do Sistema Integrado de Bases Geoespaciais do Estado do Espírito Santo


(GEOBASES). Foram escolhidas as seguintes classes: associação de agricultura, associação de
floresta natural secundária em estágio inicial de crescimento, associação de floresta plantada,
associação de pastagem, corpos hídricos, associação de floresta natural primária ou secundária
em estágio avançado ou médio de crescimento, manguezal, núcleos urbanos, praias e dunas e
associação de solo exposto e afloramento rochoso.

A classificação supervisionada por regiões foi o processamento selecionado para o


alcance das informações pretendidas. Neste tipo de método, procura-se identificar o
comportamento espectral de cada pixel, além da informação espacial com seus vizinhos. Desse
modo, coleta-se amostras homogêneas para cada uma delas, a qual esse treinamento diz respeito
ao reconhecimento da assinatura espectral de cada uma das classes de uso e cobertura do solo
(INPE, 2006; FREITAS & PANCHER, 2011). Para avaliação da classificação utilizou-se o
mapeamento base de uso e cobertura do IEMA para o ano de 1985, para 2017 utilizou-se o
Google Earth. Como a bacia hidrográfica possui uma extensa área, optou-se por classificar cada
imagem separadamente e posteriormente formar um mosaico com todas as classificações. A
figura 3 representa a classificação separada de cada uma das imagens classificadas que
compõem o mosaico.

Figura 3 - Classificação órbita/pontos 217/72, 2 ao 216/72, 3 ao 217/73 e 4 ao 216/73.


21

4.2 OBTENÇÃO DO MODELO HAND

A extração do modelo HAND foi obtida através de dados SRTM que foram adquiridos
junto ao banco de dados da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) com
resolução espacial de 90 metros. Para isso foi utilizado o software livre TerraHidro (ROSIM et
al., 2014), desenvolvido pelo INPE.

Para obter o modelo HAND, a primeira etapa é a correção hidrológica do MDT, a qual se
elimina os “sinks” (depressões, áreas de drenagem interna e vazios ou erros do SRTM), Figura
4a, para garantir a propagação do fluxo em todas as células (Figura 4b). Contudo, ao final da
primeira etapa tem-se as direções de fluxo e o MDT modificado. Em seguida, é gerado as áreas
acumuladas de cada célula e a partir de um limiar mínimo estabelecido para iniciar o canal, a
rede de drenagem é extraída do MDT (GOERL et al, 2017) (figura 4c).

Figura 4 – Consistência Hidrológica do MDE: (a) consistência hidrológica; (b) determinação da direção do
fluxo; (c) extração da rede de drenagem (Fonte: Nobre et al 2011 apud Goerl et al, 2017).

Segundo Rennó et al (2008), a partir da rede de drenagem extraída do dado topográfico,


a diferença existente entre cada elemento da grade MDT e o ponto mais próximo relacionado à
rede de drenagem extraída possibilita a origem do modelo de superfície HAND. Observando a
Figura 5 identifica-se que o atributo de altitude de um determinado ponto é definido pela
posição que este se encontra em relação ao curso d’água para qual ele deságua, o que inicia uma
contagem a partir do zero e aumentando o valor na medida em que se distancia da drenagem.
22

Figura 5 – Cálculo do modelo HAND, os quadrados marcados representam à rede de drenagem (MENG et al
2016, adaptado de Rennó et al, 2008).

Algo importante no processo de extração é a sensibilidade da rede de drenagem. Segundo


Rennó et al. (2008), a densidade da drenagem é um parâmetro importante no que diz respeito a
precisão do HAND, por isso é necessário que esse parâmetro seja ajustado. Quanto menor for
o limiar de ajuste em pontos, maior será o detalhamento da densidade da drenagem e, quanto
maior o limiar, menor o detalhamento da drenagem, conforme pode ser observado na Figura 6.
Dessa maneira, para este estudo optou-se por utilizar o limiar da área de 50 pontos de grade,
pois apresentou uma densidade da rede de drenagem mais precisa, em azul na imagem da direita
(Figura 7). Na Figura 8 a seguir resume a metodologia empregada: os processamentos para
alcançar os produtos e resultados esperados.
23

Figura 6 – Diferentes drenagens extraídas de limites variados de contribuição em número de pontos. (Adaptado
de Rennó et al, 2008)

Figura 7 – A – Modelo HAND e a drenagem extraída a partir de um limiar de 50 pontos; B – Drenagem


extraída do Modelo HAND, limiar de 50 pontos; C – Rede de drenagem da ANA. Elaborado pelo autor.
24

Figura 8 – Síntese da metodologia

5. RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO

5.1 MUDANÇAS DE USO E COBERTURA DO SOLO NA BHSM

Com todas as partes do trabalho finalizadas, obtive-se os seguintes mapas de classificação


do uso e cobertura do solo da BHSM para os anos de 1985, 2001 e 2017 (Figuras 9, 10 e 11).
Figura 9 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo, BHSM, 1985.
Figura 10 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo, BHSM, 2001.
Figura 11 - Mapa de Uso e Cobertura do Solo, BHSM, 2017.
Dos seguintes resultados, identifica-se que a BHSM é recoberta majoritariamente pela
pastagem, representado no mapa pela cor amarela. Ela caracteriza mais de 70 % da cobertura
da bacia variando de 71% em 1985, chegando a 78% em 2001 e 73% em 2017. Em grande
contraste, a segunda cobertura mais presente é a florestal, constituindo menos de 20% da bacia.
De acordo com os mapas, a cobertura vegetal se subdivide em três categorias: a associação de
floresta natural secundária em estágio inicial de crescimento que ao longo dos 3 anos varia entre
8% e 7%, floresta natural primária ou secundária em estágio avançado/médio de crescimento
variando de 7% a 5% e por fim, associação de floresta plantada que apresenta em 1985
aproximadamente 3% da bacia chegando a 4,5% em 2001 e a apenas 2,3% em 2017.. Desse
modo, percebe-se que mais de 80% da bacia constitui-se de coberturas pastoris e vegetais, com
incrível disparidade entre elas. Em especial no ano de 2001, essa porcentagem alcançou
impressionantes 97% da bacia. Os 3% restantes estão distribuídos entre as classes: associação
de agricultura, corpos d'água, manguezais, praias e dunas e solo exposto e afloramento rochoso.
Observe na Figura 12 a quantificação e a porcentagem das mudanças do do uso e cobertura do
solo da BHSM para os anos selecionados.

Figura 12 - Alterações do Uso e Cobertura do Solo na BHSM. Elaborado pelo autor.


29

A Figura 13 apresenta o padrão do uso e da cobertura do solo na BHSM para os 3 anos,


representando um intervalo total de 32 anos. Analisando a figura, é correto afirmar que de um
modo geral não há mudanças drásticas, existindo um padrão principal que persiste e que se
altera substancialmente em algumas classes. Além disso, identifica-se que as mudanças
ocorridas na bacia não alteram esse padrão geral de uso e cobertura do solo. Isso significa que
as relações sócio-econômicas-ambientais da bacia permanecem contínuas, onde o processo
desordenado de desmatamento evidencia o padrão de uso e cobertura.

Figura 13 – Padrão da dinâmica do uso e cobertura do solo para os anos 1985, 2001 e 2017. Elaborado pelo autor.

5.2 MODELO HAND

Após a obtenção do Modelo Hand, o mesmo foi classificado seguindo as propostas de


fatiamento de Rennó et al (2008) e Nobre et al (2011). A Figura 14 apresenta o resultado do
fatiamento do HAND em função dos limiares na qual foram identificadas quatro classes: Baixio
(até 5 metros); Ecótono (de 6 a 15 metros); Encostas (de 16 a 50 metros e declividade maior
que 4,5%) e Topos de morro (de 16 a 50 metros e declividade menor ou igual 4,5%). No detalhe
da Figura 14 (a direita), é possível visualizar melhor as classes. A classe referente ao baixio
(em azul) representa áreas susceptíveis à inundações e alagamentos, a classe ecótono (em
verde), relaciona-se a áreas de transição entre baixio e encostas susceptíveis a movimentos de
30

massa, já nas classes encostas (em amarelo) e topos de morro (vermelho) estão relacionadas as
áreas susceptíveis a deslizamentos. Sobre a distribuição dessas classes, verifica-se que as
regiões de topo de morros abrangem 39% da bacia, seguido das áreas de encostas com 30%,
baixio com 18% e ecótono com 13%.

Figura 14 – Classificação do Modelo HAND aplicado a BHSM.

5.3 ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS MONITORADOS

O Cemaden realiza o monitoramento de 8 municípios que estão inseridos na BHSM,


sejam eles: Nova Venécia, São Mateus, Conceição da Barra, Vila Pavão, Barra de São
Francisco, Ecoporanga, Água Doce do Norte localizados no Estado do Espírito Santo e Mantena
localizado no Estado de Minas Gerais. Para realizar as análises, foram utilizados os Relatórios
de Ação Emergencial para Delimitação de Áreas em Alto e Muito Alto Risco de Enchentes e
Movimentos de Massa realizados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM, 2012)
disponibilizados no banco de dados do CEMADEN em conjunto do Atlas Brasileiro de
Desastres Naturais para o estado do Espírito Santo, além das informações dos mapas de uso e
cobertura do solo (1985, 2001 e 2017) e o modelo HAND.
31

Optou-se, para a análise, dividir os setores em três categorias. A primeira categoria


engloba as áreas com potencialidade de deslizamentos (PD), recortes onde os processos
erosivos podem ser intensificados principalmente em casos de chuvas intensas, podendo
ocasionar movimentos de massa de proporções variadas, e por consequência destruir ou
provocar graves danos às moradias na crista e na base dos taludes. Segundo Cerri (1993, 2001)
os deslizamentos estão entre os riscos ambientais naturais relacionados ao meio físico e
geológico e ainda de origem exógena. São movimentos gravitacionais de massa que
correspondem a um dos processos erosivos na modelagem do relevo. A segunda categoria
também enquadra áreas com processos erosivos (PE), entretanto, são processos generalizados
nos taludes que intensificam o risco de queda de solo residual devido a verticalidade. Por
último, a terceira categoria enquadra todas as áreas de risco hidrológico (RH), onde tem-se alta
probabilidade de ocorrência de inundação (fenômeno de extravasamento das águas dos canais
de drenagem para áreas marginais, sejam elas, planícies de inundação, várzea ou leito maior do
rio) e/ou enchente (elevação temporária do nível da água em um canal de drenagem derivado
do aumento da vazão (CPRM, 2012).

5.3.1 Nova Venécia

O município de Nova Venécia, de acordo com o relatório da CPRM, apresenta 21 setores


de risco. Desses 21 setores, 13 são classificados como de alto risco no que diz respeito a
processos erosivos, deslizamentos, inundações e enxurradas e 8 setores classificados como
muito alto risco de processos erosivos e deslizamentos.

Inicialmente foi analisado a dinâmica do uso e cobertura do solo, buscando entender se


tais modificações podem influenciar na ocorrência de desastres. A Figura 15 apresenta um mapa
das mudanças ocorridas no uso e cobertura do solo para os anos de 1985, 2001 e 2017 no
município de Nova Venécia. Para todos os anos nota-se que no município a pastagem é a classe
dominante na paisagem, e, para o ano de 2001, atingiu 80% de sua extensão, e posteriormente
apresentando uma redução no ano de 2017. Nas classes de florestas primárias e secundárias, foi
identificado uma redução no período de 1985 a 2001, chegando a 10%, enquanto no período
entre 2001 e 2017 observou-se um aumento destas classes, atingindo um pouco mais de 15%
da área do município, como pode ser observado nas Figuras 15 e 16. Nas demais classes não
foi observado mudanças significativas, entretanto, identificou-se um aumento contínuo no
perímetro urbano do município. Destaca-se ainda que, os principais setores de risco de desastres
mapeados pela CPRM neste município se sobrepõe a classe de área urbana.
32

Figura 15 – Uso e cobertura do solo para os anos de 1985, 2001 e 2017 no município de Nova Venécia.

Figura 16 – Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Nova Venécia. Elaborado
pelo autor.
33

A Figura 17 apresenta o modelo HAND classificado aplicado ao município de Nova


Venécia, juntamente com as áreas de risco. Para esta análise, dividiu-se o município, em
termos de classes do relevo, em duas regiões: a parte setentrional, na qual verificamos uma
predominância de áreas de encosta e de baixio, e, a parte meridional, a predominância de áreas
de topo de morros.

Correlacionando o uso e cobertura do solo com as classes de relevo identificou-se que na


parte setentrional as grandes áreas de encosta coincidem principalmente com as classes de
pastagem, enquanto as áreas de baixio, verifica-se a presença de núcleos urbanos. Nas restritas
áreas de topos de morro observou-se a presença de conjuntos de vegetação. Na região
meridional, há o domínio de topos de morro, que correspondem majoritariamente as classes de
afloramento rochoso, pasto e núcleos de vegetação. Em áreas de encosta e baixio se encontram
classes pastagem e pequenos núcleos urbanos.

No que concerne aos setores de risco hidrológico, verifica-se a presença tanto na região
setentrional como na meridional. Entretanto, as maiores áreas deste tipo de risco se concentram
na porção norte do município, principalmente na zona urbana. O quadrante 1 na Figura 15,
mostra áreas de risco mapeadas dentro do perímetro urbano. De acordo com o relatório da
CPRM a área urbana do município de Nova Venécia apresenta áreas de risco hidrológico e de
processos erosivos.
34

Figura 17 - Modelo HAND aplicado ao município de Nova Venécia.


35

O quadrante 1 (Figura 17), mostra que as áreas de RH coincidem com a classe baixio do
modelo HAND. Nota-se que a maior área de risco hidrológico do município se localiza bem
próximo do curso d’água do Rio Cricaré que atravessa a área urbana do município, e, identifica-
se que a parte oeste do quadrante, onde há uma grande área de baixio, apresenta grande
potencial para ocorrência de enchentes e alagamentos.

Analisando os dados levantados pela CPRM (2012), conforme pode ser visto na Figura
18a, evidenciamos na área urbana um crescimento desordenado, tendo em vista a ocupação da
região ribeirinha e da planície de inundação, o que provavelmente vem contribuindo para
recorrência de inundações conforme consta nos dados registrados no AVADAN (Avaliação de
Danos/S2iD).

De acordo com o relatório da CPRM (2012), a parte norte da zona urbana também
apresenta áreas de risco hidrológico com risco de enxurradas, e pode estar associado a ocupação
de agricultores na drenagem natural da encosta (Figura 18b). Coincidentemente, observando o
quadrante 1 (Figura 17), a mesma área de risco citada sobrepõe a classe ecótono no modelo
HAND, área de transição entres baixios e encostas, e com as classes de pastagem e de área
urbana no mapa de uso e cobertura da terra.

Ainda na parte setentrional, no extremo norte e fora da zona urbana, há um setor de risco
hidrológico, conforme mostra quadrante 2 (Figura 17). Neste setor tem-se o risco de inundações
periódicas no Rio Cotaxé mediante as ocupações da planície de inundação natural (Figura 18d).
É possível observar no quadrante 2 que esta área coincide a classe de baixio do modelo HAND
e de pastagem no mapa de uso e cobertura.

Na região meridional, localizado no distrito rural do município de Nova Venécia,


conforme pode ser visto no quadrante 4 (Figura 17), há duas pequenas áreas de risco hidrológico
(Figura 19b e 19c), onde há risco recorrentes de inundações devido a ocupação da planície de
inundação do Córrego Guararema (CPRM, 2012), e estas áreas, se sobrepõem a classe de baixio
no modelo HAND.
36

Figura 18 – Detalhes dos setores de risco. Fonte: CPRM, 2012

As demais áreas de risco mapeadas pela CPRM relacionam-se a processos erosivos e


deslizamentos. No que se trata dos processos erosivos no setor setentrional, grande parte dessas
áreas se encontram no perímetro urbano e se caracterizam por erosões na superfície do solo e
taludes, além de ravinamentos (Figura 18c) que se encontram em encostas na porção sudoeste
da zona urbana (quadrante 1, Figura 17). Destaca-se ainda que, estas áreas de riscos coincidem
com a classe de encostas do modelo HAND e as classes de pastagem e núcleo urbano no mapa
de uso e cobertura.
37

Figura 19 - Detalhes dos setores de risco. Fonte: Relatório CPRM, 2012

Na parte meridional do município, há duas áreas com setores de risco de deslizamento.


Estas áreas de risco estão localizadas na zona rural, situada nas bases de corpos graníticos de
grande porte. De acordo com a CPRM, existe um alto risco de rolamento/queda de blocos
rochosos em casos de eventos extremos de chuva (Figura 18 e quadrante 3 Figura 17), e além
disso, as áreas de risco de deslizamento estão localizadas entre duas porções de encostas no
modelo HAND. Em outro setor de risco de deslizamento, quadrante 4 (Figura 17) e Figura 19d,
o maciço rochoso no distrito de Guararema possui ocupações irregulares e alto risco de quedas
e rolamentos de blocos em tálus (CPRM, 2012), e observou-se que, este setor está localizado
na classe de encosta e afloramentos rochosos do modelo HAND.

Os resultados apresentados evidenciaram que os setores de risco mapeados no município


de Nova Venécia estão diretamente ligados a dinâmica de uso e cobertura do solo da bacia, na
qual observamos grandes focos de erosão que colaboram na ocorrência de movimentos de
massa. Um dos fatores principais é aumento do desmatamento, como a remoção das matas
38

ciliares próximas aos cursos d’agua e nas encostas, principalmente nas áreas urbanas. Ressalta-
se ainda que, na sede do município, se concentra a maior parte dos setores de risco, já que se
incidem maiores pressões ao meio causada pela ocupação desordenada. Nas outras regiões, os
setores de risco se encontram em áreas irregulares próximo a encostas e planície de inundações
sem suas respectivas matas ciliares, conforme foi verificado no modelo HAND.

Consultando o banco de registros de desastres (AVADAN) e o Histórico de Desastres do


Estado do Espírito Santo, nota-se que o município apresenta mais registros de desastres
relacionados a processos hidrológicos, principalmente enxurradas. Tanto a zona urbana como
a zona rural são afetadas por tais eventos, sendo que, as principais áreas afetadas são ocupações
residenciais e comerciais. No que tange restritamente a zona urbana, existem registros em áreas
residenciais e industriais, e, na zona rural, há registros tanto em áreas de atividades agrícola e
pecuária como também em áreas residenciais.

Segundo o relatório da CPRM (2012), a quantidade de pessoas expostas nas áreas de risco
mapeadas ultrapassa 5000 habitantes, sendo mais de 3500 no perímetro urbano. Comparando
com a população total do município de quase 50.000 habitantes, conclui-se que
aproximadamente 10% da população de Nova Venécia residem em áreas de risco, sendo 67%
na zona urbana e 33% na zona rural.

De acordo com histórico de ocorrência de desastres no Estado do Espírito Santo, o


município de Nova Venécia não é o que apresenta mais registros de desastres, entretanto, é o
que mais sofre com os danos causados pelas inundações dentro da BHSM. Segundo o Atlas de
Brasileiro de Desastres Naturais (2013), entre 1991 e 2012 foram contabilizados 11 ocorrências
de enxurradas, sendo o evento mais severo ocorrido em 2001, a qual mais de 4.600 pessoas
ficaram desabrigadas, 6.100 desalojados, 12 mortes e mais de 9.600 afetados direta ou
indiretamente, e quanto aos danos materiais, foram mais de 500 bens materiais destruídos e
3.576 danificados, incluindo desde edificações a obras de arte. A Figura 20 apresenta o total de
gastos com danos materiais ocasionados por desastres em geral no município durante o período
de 2001 a 2013 . Os anos com maiores gastos foram 2001 com quase 60 mil reais e 2003 com
85 mil reais.
39

Figura 20 – Total de gastos em Danos Materiais no Município de Nova Venécia/ES entre 2001 e 2013. Fonte: S2iD –
Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres

Em síntese, após observar e correlacionar a dinâmica do uso e cobertura do solo com as


diferentes classes de relevo do HAND, pode-se concluir que há a influência na ocorrência de
desastres no município de Nova Venécia. O aumento das ocorrências, principalmente quando
relacionados a risco hidrológico, coincide com o desenvolvimento urbano, em especial, com os
assentamentos em áreas de baixio e nas planícies de inundações. Nas situações de PE e PD a
característica é parecida, onde vê-se a expansão urbana se estabelecer em porções de encosta e
ecótono de modo irregular, favorecendo a ocorrência de eventos adversos.

5.3.2 São Mateus

O município de São Mateus está localizado na porção leste, próximo ao litoral. Dentre os
municípios pertencentes à bacia, este possui a maior atividade socioambiental.
Consequentemente, é a região que apresenta a maior dinâmica do uso e da cobertura do solo, e
tais mudanças podem ser observadas nas Figuras 21 e 22.

No que se refere a pastagem, classe predominante no município, identifica-se um


crescimento de 1985 a 2001, passando de 49% para um pouco mais de 50%. Em
40

contrapartida, de 2001 a 2017, verifica-se um intenso declínio nas áreas de pasto, atingindo
cerca de 41%. Dessa maneira, para entendermos melhor as alterações ocorridas na pastagem,
foi necessário analisar outras classes em conjunto.

Tanto a floresta primária como a secundária sofreram reduções no intervalo de 1985 a


2001, ocasionando um aumento de áreas de pasto. Concomitante a isso, no mesmo período,
percebe-se que as áreas de floresta plantada, obtiveram um largo crescimento, saindo de 15%
para 30% em 2001. Visualizando a Figura 22, é possível perceber claramente que os núcleos
de floresta primária e secundária em 1985 se restringem a pequenas áreas em 2001, assim como
um aumento significativo da floresta plantada e pastagem.

No intervalo de 2001 e 2017 a alteração na pastagem é influenciada pela agricultura que


forma um grande cinturão no município. O crescimento da agricultura reorganiza a dinâmica
socioambiental e o uso do solo. Como dito anteriormente, no período de 2001 a 2017, ocorreu
uma redução nas áreas de pasto, e isto está relacionado ao desenvolvimento da agricultura que
partiu de aproximadamente 0,2% para 10%. Além disso, identificou-se neste período uma
redução das áreas de floresta plantada, e uma retomada das áreas de floresta primária e
secundária. Outra alteração significativa no município foi o aumento dos núcleos urbanos,
atingindo 1% em 2017.
41

Figura 21 – Uso e cobertura do solo município de São Mateus, para os anos de 1985, 2001 e 2017.

Figura 22 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de São Mateus. Elaborado
pelo autor.
Figura 23 – Modelo HAND aplicado ao município de São Mateus
A Figura 23 apresenta o modelo HAND aplicado ao município de São Mateus, juntamente
com as áreas de risco. Por estar localizado no baixo curso do Rio São Mateus, o município
apresenta um relevo bastante suave com a presença de tabuleiros. Desse modo, percebe-se o
predomínio de encostas e baixios. Correlacionando as classes de relevo e o uso e cobertura do
solo verifica-se que as áreas de encosta coincidem principalmente com as de floresta plantada,
pastagem, agricultura e núcleo urbano. As pequenas áreas de vegetação primária e secundária
estão restritas às áreas que correspondem às classes de topo de morro.

De acordo com o Relatório da CPRM (2012), as áreas de risco presentes no município de


São Mateus estão estritamente localizadas no perímetro urbano. No quadrante 1 da Figura 23
visualizamos a região mencionada (detalhe, figura 24), a qual é possível identificar a presença
de risco hidrológico (RH) e potencialidade de deslizamentos (PD).

Figura 24 – Detalhe das áreas de risco no município de São Mateus.

As áreas RH abrangem dois recortes espaciais. O primeiro, com maior área, está
localizado na parte central da zona urbana próximo ao rio São Mateus e, nos períodos de cheia
da bacia há recorrência de inundações em extensas áreas com residências e áreas de pasto que
ficam às margens do rio.
44

A segunda área de RH está ao sul da primeira, precisamente em um canal de drenagem.


Nesse recorte há também a ocorrência de inundações derivado dos eventos de intensa
pluviosidade, decorrendo ali o extravasamento das águas do córrego para as áreas marginais.
Segundo o Relatório da CPRM (2012), as inundações recorrentes ali apresentam alta energia
de escoamento, atingindo diversas casas que estão instaladas no leito e nas proximidades das
margens. Além disso, constata-se que esta área de risco corresponde às classes de baixio e
ecótono.

No setor de PD, existem 2 recortes considerado de risco alto ou muito alto de movimentos
de massa (Figura 23, quadrante 3), e estão localizadas próximo a primeira área de RH.
Observando o modelo HAND, verificamos que as duas áreas coincidem exatamente com a
classe de encosta.

A primeira, a esquerda, apresenta risco alto de deslizamento planar em uma encosta onde
foram construídas casas próximas à crista e algumas na base (Figura 25a). Segundo o Relatório
(2012), existem relatos de que durante intensos eventos chuvosos há um forte escoamento de
água pela encosta, que potencializa os processos erosivos podendo gerar futuramente
deslizamentos de terra.

A segunda, a direita, zona localizada na área periférica da sede municipal, também


apresenta risco de deslizamentos planar. A área é de risco alto e é constituída de casas que foram
construídas junto e sobre a encosta no padrão corte/aterro tornando o local extremamente
vulnerável a deslizamentos. Nesse recorte ainda há a ausência de um sistema de drenagem de
águas pluviais, além de lançamentos de lixo que contribuem para a desestabilização da área
(Figura 25b).

Figura 25 – Detalhes dos setores de risco. Fonte: CPRM, 2012.


45

Percebe-se que o município apresenta como principal tipo de desastre, as inundações, e


esta avaliação pode ser confirmada relacionando o uso e cobertura do solo e o modelo HAND.
Logo, analisando o uso e cobertura identifica-se que o núcleo urbano passou por um
crescimento de forma desordenada, tendo como consequência a ocupação irregular da planície
de inundação natural do rio e dos canais de drenagem, sendo esta, identificada como áreas de
baixio, portanto, mais suscetível a inundações. Outro fator relevante é o desmatamento da mata
ciliar presente no perímetro urbano que ocorre entre 1985 e 2001. Nos setores de PD o padrão
de crescimento urbano se mantém, sendo constatada ocupações irregulares em encostas o que
aumenta a possibilidade de ocorrência de desastres, principalmente em eventos de chuvas
intensas.

Com base no Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (2013) e do Sistema Integrado de


Informações Sobre Desastres, São Mateus registrou 6 eventos de inundações e 2 enxurradas no
período de 1991 a 2016. Diferente de Nova Venécia que tem como característica a ocorrência
de inundações bruscas (Enxurradas), o município aponta uma inundação mais gradual, efeito
do relevo mais suave. A inundação gradual é caracterizada pelo transbordamento das águas de
forma lenta, geralmente provocadas por chuvas fortes e prolongadas em toda a bacia a montante
e que podem ser intensificadas pelo assoreamento do leito do rio e/ou impermeabilização do
solo, além de outros fatores associados.

O levantamento realizado pela CPRM (2012) quantificou cerca de 1200 pessoas nas áreas
de risco, sendo que, 93% estão localizadas exclusivamente em áreas de RH. Dos registros
encontrados sobre os danos humanos, o maior índice foi em 2009, quando se contabilizou mais
de 2000 pessoas desalojadas e 300 desabrigadas (Figura 26). Segundo o Atlas Brasileiro de
Desastres Naturais (2013), o total de pessoas afetadas direta ou indiretamente pelo evento
chegou a cerca de 18.000 pessoas, além do prejuízo de mais de R$1.400.000.

De modo geral, o município de São Mateus não é classificado como o de maior número
de ocorrências de inundações, entretanto, a probabilidade de que tais desastres ocorram é
bastante alta devido a recorrência de eventos de chuva intensas associada às características de
relevo de baixio da sede municipal e os entornos, juntamente com a dinâmica de crescimento
urbano desarranjado que não leva em consideração tal aspecto.
46

Figura 26 - Danos Humanos causados por inundações e enxurradas no município de São Mateus/ES. Fonte: S2iD – Sistema
Integrado de Informações Sobre Desastres

5.3.3 Conceição da Barra

O município de Conceição da Barra/ES possui apenas o extremo sul de sua extensão como
parte integrante da BHSM e está localizado no baixo curso da bacia, exatamente na foz do rio
São Mateus, apresenta relevo plano, o que viabiliza o processo de ocupação e
consequentemente uma dinâmica socioambiental acentuada. Nas Figuras 27 e 28, é possível
visualizar as mudanças do uso e cobertura do solo no município, em que se percebe claramente
que o uso mais recorrente é a silvicultura, representada pela classe de floresta plantada. Esta
classe representa no ano de 1985, cerca de 40% da área total, e atinge 70% em 2001, onde já é
perceptível notar o desaparecimento das florestas naturais, apresentando menos de 10%. Entre
2001 e 2017 verifica-se uma redução das áreas de floresta plantada, menos de 30%, podendo
estar relacionado ao período de corte do eucalipto. Há nesse intervalo o ressurgimento de
núcleos florestais, alcançando mais de 25%. Em relação a classe de pastagem, houve pouca
alteração, sendo apenas um pequeno aumento entre 1985 e 2001, pontualmente no período de
crescimento da floresta plantada. Nas demais classes também não foi verificado muita alteração,
47

o que se manifesta é o aumento natural dos núcleos urbanos e o surgimento de pequenas áreas
agrícolas.

Figura 27 - Uso e cobertura do solo, município de Conceição da Barra para os anos de 1985, 2001 e 2017.

Figura 28 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Conceição da Barra.
Elaborado pelo autor.
48

Figura 29 - Modelo HAND aplicado ao município de Conceição da Barra.


49

Sobre as áreas de risco, o relatório da CPRM (2012), pontua dois setores no município de
Conceição da Barra, ambos relacionados a RH. A figura 29 a seguir, localiza tais áreas, assim
como o modelo HAND aplicado a esse recorte do município. É assertivo dizer que as classes
de relevo mais comuns são as áreas de baixio, ecótono e encostas, justamente devido ao relevo
plano. São nas áreas de baixio, majoritariamente, que os dois setores de risco apontados pela
CPRM se apresentam.

O primeiro deles, está posicionado no perímetro urbano do município, representado pelo


quadrante 1 na figura 29. Nessa região, há residências localizadas às margens do rio São
Mateus, área naturalmente susceptível a inundação em eventos chuvosos e/ou do aumento do
nível d’água durante as marés de sizígia. É possível notar que esta área coincide a área de baixio,
tanto referente a planície de inundação como também da extensão propensa ao aumento do
nível da água durante as marés altas.

O segundo setor de risco é uma comunidade que está localizada na zona rural, bem
próximo ao limite municipal com São Mateus, representada no quadrante 2 da figura 29, onde
há presença de residências assentadas na planície de inundação do rio São Mateus, distantes
cerca de 10 a 60 metros do leito do rio. Segundo a CPRM (2012), há relatos que no local é
possível observar nas paredes das residências marcas de aproximadamente 1 e 1,5 metros de
altura. Observa-se que os setores de risco coincidem em grande parte com áreas de baixio.

De modo geral, em Conceição da Barra não é recorrente eventos de caráter hidrológico.


Ao todo, no Sistema Integrado de Informações sobre Desastres e o Atlas Brasileiro de Desastres
Naturais foram registradas apenas 3 ocorrências de desastres desse tipo. O primeiro caso
registrado no município foi uma enxurrada no ano de 1985, e posteriormente, outros dois casos
de inundações em 2004 e 2013. Tais ocorrências, relacionando com as mudanças no uso e
cobertura e as classes de relevo, estão estreitamente ligadas ao processo de expansão urbana,
ocupação irregular em áreas susceptíveis a inundações e ao desmatamento, principalmente da
mata ciliar.

É importante salientar que Conceição da Barra é o município com o maior número de


registros de ocorrência de erosão costeira no estado do Espírito Santo, são 14 registros desde
1997. Em comparação, o segundo município do Estado com maior número de ocorrências é
Itapemirim, com 7 registros. Destaca-se ainda que a CPRM não disponibilizou o mapeamento
deste tipo de processo.
50

Os danos humanos causados pelos processos erosivos costeiros, figura 30, corresponde
ao todo 57.232 afetados direta ou indiretamente. Os danos materiais causados pela erosão
costeira correspondem a uma média de aproximadamente R$2.521. É possível visualizar na
figura 31 o histórico de gastos referentes aos danos materiais, onde o ano de 2006 registrou o
maior valor, cerca de R$5.474.

Figura 30 – Danos Humanos ocasionados pela Erosão Costeira, no município de Conceição da Barra/ES. Fonte: S2iD –
Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres

Figura 31 – Total de Gastos em Danos Materiais ocasionados pela erosão costeira, no município de Conceição da
Barra/ES. Fonte: S2iD – Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres
51

Segundo o Atlas Brasileiro de Desastres (2013), a intensificação do processo erosivo se


deve à intensa urbanização da costa, em que houve a retirada de grande parte da vegetação de
restinga. Desse modo, percebe-se novamente que o alargamento urbano desenfreado contribui
para as circunstâncias de desastres, sejam eles hidrológicos ou erosivos, como no caso de
Conceição da Barra.

5.3.4 Vila Pavão

O município de Vila Pavão/ES está localizado na região central da BHSM, fazendo divisa
ao norte com Ecoporanga, a oeste com Barra de São Francisco e ao sul com Nova Venécia,
todos monitorados pelo CEMADEN. De modo geral, Vila Pavão pode ser classificado como
um município rural tendo cerca de 78% de sua população residindo na zona rural. Tal
característica é vista na dinâmica socioambiental demonstrada nas figuras 32 e 33, em que a
classe dominante no município é a pastagem.

É interessante observar que no intervalo entre 1985 a 2001, a pastagem expandiu de 70%
(1985) para mais de 90% (2001). De modo concomitante, no mesmo período, as áreas vegetadas
reduziram, de aproximadamente 15% (1985) para menos de 4% (2001). Na figura 32 é possível
observar o desaparecimento dos núcleos florestais assim como o crescimento da pastagem.

No período de 2001 a 2017 tem-se a retomada de uma configuração próxima a encontrada


em 1985. Percebe-se a recuperação das áreas florestais, retornando aos 15%, assim como uma
diminuição do pasto, chegando a um pouco mais de 60%. No que se refere às outras classes não
há alterações significativas, entretanto, observou-se o surgimento de pequenos núcleos
agrícolas na região norte, aproximadamente 1% do município, e um limitado crescimento
urbano chegando a expressar menos de 0,20% em 2017.

De acordo com a CPRM (2015), Vila Pavão apresenta dois tipos de risco de desastres,
sendo eles os de RH e PD. Observando a figura 34 é possível identificar tais áreas, assim como
a aplicação do modelo HAND no município. Ao todo, 14 setores são sinalizados no relatório,
nos quais 6 correspondem a PD e 8 a RH.
52

Figura 32 - Uso e cobertura do solo, município de Vila Pavão para os anos de 1985, 2001 e 2017..

Figura 33 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Vila Pavão. Elaborado
pelo autor.
53

Figura 34– Modelo HAND aplicado ao município de Vila Pavão.


54

Nas áreas correlatas de PD, identifica-se a existência de três tipos de ocorrência. Os


deslizamentos de solo decorrente de processos erosivos, deslizamentos de solo proveniente de
ocupações irregulares e as quedas de blocos. Tais áreas se concentram no perímetro urbano com
5 recortes, como mostra o quadrante 1 da figura 34 (detalhe figura 35). Quatro destes setores
apresentam potencialidades de deslizamentos de solo mediante a presença de construções
irregulares nas proximidades da base e crista dos taludes de corte. Apenas um dos setores
presente na zona urbana apresenta risco de quedas de blocos. Especificamente nessa área, as
residências localizadas estão sobre depósitos coluvio-eluvial (solos transportados pela ação da
gravidade em que se identifica nos sedimentos a mesma estrutura da rocha-matriz), com
presença de cortes verticais que podem potencializar a ocorrência de queda e rolamento de
blocos.

A última área com PD está localizada fora da zona urbana, especificamente ao norte do
município (quadrante 3, figura 34; detalhe figura 36). O pequeno recorte está no distrito de
Praça Rica, onde há residências próximas a taludes de corte. Nesse local, não existe elementos
de drenagem pluvial o que induz a formação de feições erosivas na encosta. Além disso, as
intervenções inadequadas, juntamente com a inexistência de contenções e o mal gerenciamento
da drenagem pluvial, podem ocasionar ou agravar processos de movimentação de massa,
principalmente durante eventos chuvosos.

Figura 35 – Detalhe quadrante 1, figura 34.


55

Figura 36 – Detalhe do quadrante 3.

A respeito dos setores de RH, estão distribuídos pelo município, sobretudo no perímetro
rural. O quadrante 2 (figura 34) indica algumas áreas de risco hidrológico na comunidade de
Beira Rio às margens do rio São Mateus (detalhe figura 37), enquanto o quadrante 3 tem-se o
distrito rural de Praça Rica em que existem córregos cortando uma pequena área urbana, e para
ambos em períodos chuvosos ocorrem eventos de inundação afetando as casas situadas nas
margens. O mesmo ocorre nos distritos de Todos os Santos, Todos os Anjos e São Sebastião
(quadrantes 4, 5 e 6 respectivamente; figura 34; detalhe figura 38).

Em grande parte do município, as principais classes de relevo são: os topos de morro e as


encostas, o que já era esperado, pois o município localiza-se no médio curso da bacia, região
em que o relevo começa se mostrar mais acidentado. Desse modo, no que se refere aos setores
de PD, verifica-se que a maior parte se acomoda em áreas relativas a encostas e ecótonos.
Relacionando com a dinâmica do uso e cobertura, percebe-se que tais setores estão associados
exatamente a áreas urbanizadas, visto que a expansão ocorre de forma desorganizada
contribuindo para a intensificação dos processos erosivos, bem como a otimização de quedas
de blocos.
56

Figura 37 - Detalhe quadrante 2.

Figura 38 – Detalhes dos quadrantes 4, 5 e 6

Nas áreas de RH, são identificados que todas se compatibilizam nas regiões referentes a
classe de relevo baixio, dispondo de característica importante, a presença de córregos e rios.
Mediante a isso, é interessante destacar o não aparecimento de setores de RH no perímetro
urbano, caso recorrente nos municípios analisados anteriormente. Na sede municipal de Vila
57

Pavão, há a presença de áreas de baixio, zonas relativas à drenagem natural, que estão
totalmente ocupadas, vide figura 35. Todavia, não foi identificado cursos d’água que possam
ocasionar processos de inundações, logo, não se observa setores de RH neste recorte. Após
investigar a dinâmica do uso e cobertura, constatou-se que os setores de RH estão associados a
áreas de pastagem e vegetação, essa última bastante restrita. Foi possível observar a presença
de áreas de vegetação ciliar nas proximidades dos rios e córregos. Entretanto, muitos desses
núcleos florestais desaparecem no decorrer dos anos dando lugar a pastagem e pequenos
núcleos urbanos.

Avaliando os registros de desastres do município, verificou-se duas ocorrências de


inundação (2009 e 2013), quatro enxurradas (2006, 2009 e 2013), e além disso, sete registros
de estiagem, o que equivale a 50% do total de registros. De acordo com a CPRM (2015), cerca
de 722 pessoas estão localizadas nas áreas de riscos mencionadas, sendo 532 pessoas (74%)
residentes na zona rural, sujeitas principalmente a desastres hidrológicos, e, 190 pessoas (26%)
residentes no perímetro urbano, vulneráveis a deslizamentos.

No que se refere aos danos humanos causados por inundações e principalmente pelas
enxurradas, os registros apontam mais de 6000 afetados direta ou indiretamente para os anos
de 2006 e 2009. Ressalta-se que o número total de afetados excede bastante o número total de
pessoas expostas nas áreas de risco relatado no relatório. A Figura 39 apresenta os danos
humanos e os danos materiais registrados para os eventos de desastres ocorridos nos de 2006,
2009 e 2013.

Figura 39– Total de danos humanos e materiais por inundações e enxurradas no município de Vila Pavão/ES. Fonte: S2iD –
Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres e Atlas Brasileiro de Desastres Ambientais
58

O município de Vila Pavão, de modo geral, está propício à desastres hidrológicos,


principalmente pela sua localização geográfica na BHSM, que é onde inicia a parte de serra
com alguns trechos de relevo acidentado. Outro fator que pode contribuir para isso é a presença
dominante da pastagem e a ausência de vegetação, sobretudo da mata ciliar que pode funcionar
como uma zona de controle. Além disso, a carência de vegetação contribui para a ocorrência
de estiagens, pois a mesma serve como regulador hidrológico. Desse modo, todas as
características de relevo associadas à dinâmica socioambiental do município destacadas
mostram que eventos extremos, seja em períodos chuvosos ou de estiagem, podem acarretar
desastres de caráter hidrológico (inundação, enxurrada ou seca), assim como deslizamentos.

5.3.5 Ecoporanga

O município de Ecoporanga localiza-se ao norte do estado do Espírito Santo e na região


centro-norte da BHSM, fazendo divisa com o estado de Minas Gerais. Esse recorte é conhecido
como Alto São Mateus pois está localizado próximo a nascente do Rio Cotaxé (braço norte do
rio São Mateus). Destaca-se que o município apresenta maior vulnerabilidade a desastres,
principalmente hidrológicos e de deslizamentos e quedas de blocos, pois seu relevo é bastante
acidentado.

Dentre os municípios até aqui analisados, Ecoporanga é o que menos apresentou uma
dinâmica socioambiental acentuada, como pode ser observado nas Figuras 40 e 41. De modo
geral, não houve mudanças drásticas na paisagem, onde mais de 80% é representada pela
pastagem. As alterações mais significativas ocorreram nas classes pastagem e vegetação, com
uma expansão da pastagem até 90% e uma redução da vegetação para u menor do que 5%, entre
1985 e 2001, enquanto no período de 2001 a 2017 identifica-se uma retomada da configuração
apresentada no ano de 1985, onde a pastagem retorna para a faixa de 80% e a vegetação para
mais de 5%.

Assim como em outros municípios, Ecoporanga apresentou o surgimento de 0,93% de


agricultura, especialmente na porção norte, e também um crescimento urbano bastante
incipiente saindo de 0,04% em 1985 para 0,09% em 2017.

Como já destacado anteriormente, o município está posicionado no alto curso da BHSM,


logo, analisando o modelo HAND (Figura 42) observamos que grande parte do município tem
59

como principal classe de relevo os topos de morro. Entretanto, a maioria dos setores de risco
foram identificadas nas áreas de baixio ou próximo a elas, ecótono e encosta.

Figura 40 - Uso e cobertura do solo, município de Ecoporanga para os anos de 1985, 2001 e 2017.

Figura 41 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Ecoporanga. Elaborado
pelo autor.
Figura 42 - Modelo HAND aplicado ao município de Ecoporanga.
O município de Ecoporanga apresenta as três situações de risco: RH, PE e PD. Os setores
de RH estão distribuídos em quatro pontos no município, sendo o primeiro localizado na sede
municipal (quadrante 1, figura 42; detalhe figura 43). Esta área apresenta alto risco de
inundação, e se refere ao trecho onde o rio Dois de Setembro (afluente do rio Cotaxé) atravessa
a extensão urbana. Segundo a CPRM (2015), neste curso d’água foram realizadas obras de
retificação e aprofundamento do canal, todavia, ainda há registros de ocorrências de inundações
em eventos chuvosos.

As demais áreas referentes a RH estão mais distribuídas pelo município (Figura 41,
quadrantes 2, 3 e 4, detalhe Figura 44), em que se observa a presença de pequenos núcleos
urbanos próximos a córregos e rios (principalmente no rio Cotaxé, quadrantes 3 e 4), e
residências se encontram próximo ou dentro das planícies de inundação, logo, são áreas bastante
vulneráveis à ocorrência de enchentes e/ou inundações em períodos chuvosos. Todos esses
setores de RH já são considerados processos instalados em suas respectivas regiões.

Figura 43- Detalhe quadrante 1


62

Figura 44 – Detalhe quadrantes 2, 3 e 4.

As situações de PE e PD estão concentradas na sede do município e estão apresentadas


no quadrante 1 da Figura 42 (detalhe na Figura 43). Constam nesse recorte, em sua maioria,
processos de deslizamentos planares, em que há presença de taludes de corte e encostas
verticalizadas, onde já ocorreram deslizamentos nos setores sinalizados, atingindo casas na base
do talude.

De acordo com o Sistema Integrado de Informações Sobre Desastres e o Atlas Brasileiro


de Desastres Ambientais, ao todo no município, já foram registradas 23 ocorrências de
desastres, sendo quase 50% de estiagem, com 11 registros entre 1987 e 2016, 9 registros de
enxurradas e com 3 ocorrências de inundações.

Em relação a população residente nas áreas de risco, o relatório da CPRM (2015)


contabilizou aproximadamente 1.377 pessoas. Destas, 1.077 (cerca de 78%) se encontram no
perímetro urbano, área que apresenta todas as situações de risco, e 300 pessoas restantes estão
distribuídas pelo município e estão mais vulneráveis a desastres relacionados a risco
hidrológico.
63

Observando os dados disponibilizados no AVADAN (Avaliação de Danos) e FIDE


(Formulário de Informação de Desastres) percebe-se que o número de afetados no município é
muito maior, ainda mais quando se insere os afetados pelas estiagens como mostra a Figura 45.
Identifica-se que os afetados direta ou indiretamente pelas estiagens representam em torno de
61% do total de danos humanos, enquanto as enxurradas, 39%. É importante mencionar que
não foi encontrado dados referentes a danos humanos antes de 2003, e que no ano de 2016, de
acordo com o FIDE, não houve registro de população afetada. Em relação aos danos materiais,
o mesmo ocorre, com dados unicamente referentes a enxurradas para os anos de 2004, 2006
com cerca de 20.000 pessoas afetadas e um custo material de quase R$2.700.000 e, em 2009,
com 23.700 habitantes e um gasto de mais de R$2.900.000.

Figura 45– Total de danos humanos por estiagens e enxurradas no município de Ecoporanga/ES. Fonte: S2iD – Sistema
Integrado de Informações Sobre Desastres.

Analisando os registros de desastres, entende-se que as ocorrências estão estreitamente


relacionados a dinâmica do uso e cobertura ao invés das classes de relevo, principalmente nos
casos das estiagens. Devido a manutenção das restritas áreas vegetadas e o domínio do pasto, o
balanço hídrico do município de Ecoporanga se torna deficitário, visto que os níveis de
evapotranspiração se reduzem. De acordo com o Diagnóstico e Prognóstico das Condições de
Uso da Água na Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus (2018), a porção alta e média da bacia
possui características muito similares ao semiárido, sendo inclusive classificada no Programa
Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação aos Efeitos da Seca como área susceptível
64

à desertificação. Dessa maneira, o município de Ecoporanga vem apresentando altas taxas de


estiagens.

Para os registros de desastres hidrológicos, entende-se que há influência tanto do uso e


cobertura como das classes de relevo. É possível identificar que todas as áreas de risco estão
situadas nas regiões de baixio, acompanhadas de núcleos urbanos em expansão estabelecidos
de modo inadequado. O mesmo ocorre nas situações de PD e PE, associados as classes de
encosta e ecótono, dado que o manejo incorreto destes auxilia na ocorrência de deslizamentos
de solo, quedas de blocos e erosão.

5.3.6 Água Doce do Norte

O município de Água Doce do Norte/ES , assim como Ecoporanga, está localizado na


região do Alto São Mateus, a qual faz divisa com Minas Gerais, trecho onde o Rio Cricaré
(Braço Sul) banha o município. Dentre os municípios capixabas pertencentes a BHSM, é o
segundo que possui a menor população, com aproximadamente 11.000 habitantes. Desse modo,
não apresenta uma dinâmica do uso e cobertura diversificada, mas ainda assim, interessante de
ser analisada.

Nas Figuras 46 e 47, visualizamos as mudanças ocorridas nos três anos avaliados. Nota-
se que a classe dominante é a pastagem e atinge o máximo em 2001, com cerca de 70%. No
período entre 1985 e 2001 que se vê o crescimento desta classe, assim como a redução das áreas
vegetadas, expressando em torno de 11% de floresta em estágio médio e avançado crescimento
e 13% de floresta em estágio inicial de crescimento. Observando a Figura 46, é possível
identificar no ano de 1985, grandes núcleos de floresta em estágio médio/avançado crescimento
que posteriormente se reduzem a pequenas áreas em 2001.

Para o período de 2001 a 2017, constata-se uma redução das áreas de pasto, demonstrando
uma configuração parecida com 1985, na qual apresenta aproximadamente 58% de área. Ao
mesmo tempo, nas áreas referentes a vegetação, identifica-se um considerável crescimento,
onde as florestas exibem juntas quase 35% da área do município. É possível visualizar na Figura
46 que em 2017 há numerosos núcleos de vegetação, principalmente as florestas em estágio
inicial de crescimento. Nas outras classes, com menores alterações, o solo exposto/afloramento
rochoso apresenta uma pequena oscilação nos três anos. Há o surgimento de um pequeno núcleo
65

de floresta plantada, apresentando apenas 0,17% do município. E por fim, um pequeno


crescimento urbano que avança de 0,08% em 1985, para 0,17% em 2017.

Figura 46 - Uso e cobertura do solo, município de Água Doce do Norte para os anos de 1985, 2001 e 2017.

Figura 47 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Água Doce do Norte.
Elaborado pelo autor.
Figura 48– Modelo HAND aplicado ao município de Água Doce do Norte.
Sobre as áreas de risco, o relatório da CPRM (2012), salienta a existência das três
situações: PD, PE e RH. Na Figura 48, verifica-se as situações de risco em conjunto ao modelo
HAND aplicado ao município de Água Doce do Norte. Ao todo, existem 6 setores sinalizados
para o município, sendo um deles na sede, e os outros distribuídos pela zona rural. Das situações
mais frequentes tem-se as de PD e PE, abrangendo não só a zona urbana como também a rural.
O quadrante 1 da figura 48 (detalhe figura 49), indica a sede municipal e 5 situações de risco.
Dentre as áreas, três apresentam como característica a situação de deslizamentos com processos
erosivos instalados, onde as encostas densamente ocupadas e taludes de corte verticais sem
proteção contribuem para o alto risco de deslizamento. Os dois setores restantes têm por
característica os deslizamentos em conjunto a queda e rolamento de blocos, onde a presença de
encostas ocupadas e taludes de corte com inclinação de 90º aumentam a competência de
desastres.

Figura 49- Detalhe quadrante 1.

Fora do perímetro urbano as situações de PD e PE se localizam em quatro regiões. Esses


setores estão representados nos quadrantes 2 a 5 da Figura 48, (detalhes na Figura 50). Nessas
regiões há o risco de ocorrências de deslizamentos, quedas e rolamentos de blocos a partir de
processos erosivos. Verifica-se nesses recortes a presença de residências localizadas nas bases
de depósitos de tálus, como também nas encostas onde se encontram cortes de talude e trincas
68

no terreno. Estas características podem estimular ocorrências de desastres , principalmente em


períodos chuvosos intensos.

Figura 50 – Detalhes dos quadrantes 2, 3, 4, e 5.

A área de risco referente a RH está representada no quadrante 6, detalhe Figura 51. O


distrito rural de Bom Destino é cortado pelo rio de mesmo nome que se encontra bastante
assoreado. Neste local, as residências ocupam boa parte da planície de inundação, ocorrendo
enchentes e inundações nos períodos chuvosos.

Figura 51– Detalhe quadrante 6


69

De acordo com S2iD, o município apresenta como desastre mais recorrente a estiagem
com 17 registros contabilizados, o que equivale a aproximadamente 53% do total registrado.
As enxurradas são a segunda mais recorrente, apresentando 10 registros que equivalente a 31%,
e as inundações correspondem apenas a 16% com 5 registros ao todo.

Sobre as estiagens, é interessante observar que no ano de 2003 tem-se um pico de registro,
chegando a quatro, seguido de 1998 com três casos, além de uma constante de dois registros
em 1995, 1996 e 2007. Comparando com os dados de enxurradas, verifica-se que os registros
de estiagem é maior, já que as enxurradas apresentam no ano de 2003, três registros e uma
constante de ocorrências nos anos de 2003 a 2006, 2008 e 2012. Já nos casos de inundações
tem-se um pico em 2012 com dois registros.

Avaliando os danos humanos causados pelos eventos adversos, verifica-se que as


estiagens proporcionaram os maiores efeitos negativos na bacia. De acordo com os dados do
AVADAN e FIDE, mais de 30.000 pessoas foram afetadas direta ou indiretamente pelas
estiagens, o que equivale a 48% dos afetados, enquanto as enxurradas atingiu cerca de 40% dos
afetados, mais de 25.000 pessoas, e por fim, às inundações com 12% e quase 8.000 pessoas
afetadas.

Em termos de danos materiais, as enxurradas apresentam os maiores danos, apresentando


gastos totais de aproximadamente R$3.327.400,00, enquanto os danos nas estiagens são
equivalentes a R$6.730,00. Em comparação, confrontando o PIB per capita do município de
R$11.780,55, com apenas um registro de ocorrência, como por exemplo em 2008 em que
ocorrer enxurrada, os danos materiais contabilizados no AVADAN ultrapassaram
assombrosamente esse valor, chegando a R$894.400,00. Na situação das estiagens, realizando
a mesma comparação para 2016, os gastos equivalem a 57% do PIB.

Correlacionando as alterações de uso e cobertura com as classes de relevo, verifica-se que


tais mudanças influenciam fortemente os eventos de risco hidrológico, visto que grande parte
dos assentamentos urbanos estão nas áreas referentes ao baixio. Além disso, pode-se concluir
que a oscilação da vegetação apresentada no início desta análise neste município, contribuiu
para o grande número de registros de estiagem, com característica bastante parecida ao
município vizinho, Ecoporanga. Sobre os registros de deslizamentos, processos erosivos e
queda/rolamento de blocos, entende-se que a presença da crescente malha urbana nas classes
70

de relevo relativas a encostas e principalmente nas proximidades de topos de morro, qualificam-


se como recortes com potencialidades de desastres.

5.3.7 Barra de São Francisco

O município de Barra de São Francisco, localizado no Estado do Espírito Santo, faz limite
com os municípios de Água Doce do Norte, Vila Pavão, Ecoporanga, Águia Branca,
Mantenópolis, Nova Venécia e Mantena, na divisa com Minas Gerais. A dinâmica do uso e
cobertura no município é bastante correlata aos seus vizinhos, assim como da bacia. Verifica-
se a dinâmica socioambiental nas Figuras 52 e 53.

A cobertura dominante do município é a pastagem, expressando mais de 60% em 1985,


se expandindo até 75% em 2001 e em 2017 retorna a 60%. Em concordância, a cobertura
vegetal perpassa por um padrão similar e inverso, onde se identifica um declínio acentuado em
2001, em que a classe de floresta em estágio avançado e médio crescimento com 17% em 1985
reduz para 9% em 2001. Já a classe de floresta em estágio inicial de crescimento reduz de 14%
em 1985 para 10% em 2001. No intervalo 2001/2017, nota-se uma retomada onde as duas
classes de vegetação apresentam 15% da área do município.

Nas outras classes não foi observado alterações significativas. Verifica-se uma constância
nas áreas de afloramento rochoso e solo exposto, um pequeno crescimento urbano variando de
0,16% em 1985 para 0,36% em 2017 e o surgimento em 2017 de pequenos hectares de floresta
plantada e agricultura correspondendo respectivamente cerca de 0,06% e 0,01%.
71

Figura 52 - Uso e cobertura do solo, município de Barra de São Francisco para os anos de 1985, 2001 e 2017.

Figura 53 - Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Barra de São Francisco.
Elaborado pelo autor.
72

Figura 54– Modelo HAND aplicado ao município de Barra de São Francisco.


73

Segundo a CPRM (2012), Barra de São Francisco exibe , apenas áreas de PD com PE
instalados. No quadrante 1 da figura 54 (detalhe figura 55) é possível ver as 8 situações de
deslizamentos. Nesses recortes é possível identificar que as áreas de risco estão assentadas nas
classes de relevo equivalentes a topos de morro e encostas. De acordo com o relatório essas
áreas possuem como característica a presença de morros instáveis, onde houve ocupação
desordenada, fundamentada a partir do desmatamento das encostas. A junção desses atributos
propicia um alto risco para movimentos de massa, confirmados pelas evidências de feições
erosivas, inclinação de árvores e cicatrizes de deslizamentos.

Figura 55– Detalhe quadrante 1, figura 54.

De acordo com o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais (2013), Barra de São Francisco
apresenta apenas 4 registros de movimentos de massa, o que equivale a cerca de 15% do total
de desastres registrados. O maior número de registro vai para estiagem com 11 no total, tendo
seus primeiros casos registrados na segunda metade da década de 1990, e um contínuo
distribuído nas décadas 2000/2010 (picos de dois casos nos anos de 2008 e 2016). Esse índice
de estiagens equivale a aproximadamente 41% dos registros de desastres no município.
Posteriormente, as enxurradas apresentam um total de 10 registros, representando
aproximadamente 37%, tendo uma distribuição das ocorrências entre as décadas de 1980, 1990,
74

2000 e 2010. Por último, tem-se as inundações com apenas registros em 2003 e 2013, o que
corresponde a somente 7% do total.

Assim como em Água Doce do Norte e Ecoporanga , em Barra de São Francisco as


estiagens atingem demasiadamente a população do município. Segundo os relatórios do
AVADAN e FIDE, o total registrado de danos humanos causados pelas estiagens é de
aproximadamente 149.705 pessoas, afetadas direta ou indiretamente. No ano de 2008 foram
afetados cerca de 65.706 habitantes, seguido de 2003 com 37.500.

Sobre os danos materiais e de acordo com os relatórios AVADAN e FIDE, as enxurradas


e inundações somadas, já custaram aproximadamente R$47.361.000,00 ao município.
Visualizando estes dados, é possível perceber que os danos causados por estes eventos
hidrológicos superam o PIB do município. No evento ocorrido no ano de 2006, por exemplo,
os danos causados materiais contabilizaram um total de R$744.000,00, sendo que o PIB
municipal se aproxima de R$17.500,00.

De modo geral, o município de Barra de São Francisco apresenta características e


comportamentos socioambientais similares aos municípios limítrofes. Como caráter marcante,
as estiagens podem estar associadas a perda de cobertura vegetal verificada e otimizada no
intervalo 1985/2001, algo que pode ser averiguado a partir dos registros de eventos na segunda
metade da década de 1990, assim como uma intensificação em meados dos anos 2000/2010.
Desse modo, a consequência disso é a região perpassar atualmente por um alto risco de
desertificação.

Com relação aos eventos hidrológicos, identifica-se que suas ocorrências se concentram
nos assentamentos urbanos localizados nas regiões referentes a baixios, como é o caso da sede
municipal. Também é interessante mencionar que o município apresenta extensas áreas de
baixio relativamente próximas as dominantes regiões de topos de morro com altas declividades.
Percebe-se que em determinados trechos a faixa de encosta é bastante curta e íngreme o que
pode favorecer a ocorrência de rápidos movimentos de massa e queda ou rolamentos de blocos,
como é o caso do perímetro urbano de Barra de São Francisco.
75

5.3.8 Mantena

O município de Mantena é o único monitorado no estado de Minas Gerais. Ele está


localizado na região do Alto São Mateus e apresenta um relevo bastante acidentado com uma
densa presença de morros e pontões graníticos. Tal característica influencia no padrão do uso e
cobertura do solo, assim como sua dinâmica ao longo dos anos.

Nas Figura 56 e 57, é possível visualizar as mudanças ocorridas nos três anos analisados.
Seguindo o mesmo padrão dos municípios da BHSM, tem como principal uso e cobertura a
pastagem, apontando cerca de 66% em 1985 e quase 80% em 2001. Nesse mesmo intervalo,
verifica-se uma dinâmica interessante na vegetação, pois a floresta em estágio inicial de
crescimento se mantem praticamente constante, apresentando uma variação de 10% para 9%,
enquanto a floresta em estágio médio/avançado manifesta uma grande contração, saindo de
19% em 1985 para 7% em 2001. Observando a Figura 56, é nítido o desaparecimento dos
núcleos de floresta média/avançada em 2001 e a permanência dos núcleos de floresta primária.

No segundo intervalo, 2001 a 2017, observa-se um declínio da pastagem, onde volta a


apresentar basicamente a mesma porcentagem de 1985. Ao mesmo tempo, na vegetação,
especificamente a floresta em estágio inicial, se verifica um desenvolvimento chegando a
apresentar em 2017 aproximadamente 16%. No caso da floresta média/avançada, constata-se
um crescimento em 2017 com 11%, todavia, menor que seu valor em 1985. Nas outras classes,
as outras alterações verificadas, foram o crescimento urbano que sai de 0,20% em 1985 para
0,40% em 2017 e o surgimento de restritas áreas de floresta plantada apresentando cerca de
0,01% em 2017.

No que diz respeito aos setores de risco, o relatório da CPRM (2012), sinaliza a existência
das três categorias de risco: RH, PE e PD. A Figura 58 apresenta tais situações de risco
juntamente com o modelo HAND aplicado ao município. Percebe-se que as áreas apresentadas
estão localizadas no perímetro urbano (quadrante 1, figura 58, detalhe figura 59). Ao todo são
4 áreas com ocorrências e potencialidades de desastres. A maior área se refere a risco
hidrológico, especificamente a inundação. Verifica-se que tal região está assentada na classe de
relevo baixio, onde as casas de alvenaria ocupam a planície de inundação e são afetadas
regularmente pelas inundações.
76

Figura 56 - Uso e cobertura do solo, município Mantena para os anos de 1985, 2001 e 2017.

Figura 57- Quantificação das mudanças ocorridas no uso e na cobertura do solo no município de Mantena. Elaborado pelo
autor.
77

Figura 58– Modelo HAND aplicado ao município de Mantena.


78

Figura 59 - Detalhe quadrante, figura 58.

A segunda área de risco refere-se a uma situação de processos erosivos. Há uma encosta
de alta declividade com presenças de casas em alvenaria próximas a voçorocas. Observando a
Figura 59, visualiza-se que tal recorte está no limiar entre a classes de encosta e topo de morro.
As duas situações restantes referem-se a potencialidades de deslizamentos vinculados a
processos erosivos tendo as mesmas características do recorte anterior, onde a ocupação
desordenada nas encostas favorece a intensificação da erosão como também a ocorrência de
deslizamentos.

Sobre o número de registros no município, o Sistema Integrado de Informações Sobre


Desastres e o Atlas Brasileiro de Desastres Naturais revelam apenas registros de inundações e
enxurradas. O primeiro registro ocorre em 1985 com um evento de enxurrada, já os demais,
aparecem nos anos 2000 e 2010, tendo o ano de 2009 dois registros de inundações. No que
tange aos danos causados, há poucos relatórios e avaliações. Com base nos registros existentes,
só as inundações de 2009 e 2010 juntas afetaram direta ou indiretamente cerca de 733 pessoas,
com um prejuízo de mais de R$3.400.600,00. É provável que o número de habitantes atingidos
seja muito maior do que o registrado no AVADAN e FIDE. De acordo com o relatório da
79

CPRM (2012) o número de pessoas que residem nas áreas de risco ultrapassa mais de 3.300
habitantes.

Analisando os eventos de desastres hidrológicos registrados, constata-se que sua


recorrência está ligada ao assentamento e expansão do núcleo urbano de Mantena localizado
em áreas susceptíveis a processos hidrológicos. Observa-se que a maior área em situação de
risco é justamente a porção que coincide com a classe de relevo baixio. Desse modo, verifica-
se que o desenvolvimento urbano nas áreas de drenagem, se expandem para regiões de encosta
e topos de morro potencializando a ocorrência de outros tipos de desastres. Os processos
erosivos e os deslizamentos se tornam uma consequência dessa ocupação desordenada nas
encostas, ainda mais decisivo no município de Mantena que apresenta 50% de seu território
pela classe de relevo topo de morro.

6. CONCLUSÕES

Os resultados deste estudo permitiu a concepção de algumas considerações acerca das relações
das mudanças do uso e cobertura do solo com as classes relevo e suas influências na ocorrência
de desastres na Bacia Hidrográfica do Rio São Mateus. A primeira consideração se refere à
dinâmica socioambiental, a qual observou-se um padrão em praticamente toda a bacia, que
reflete de modo intrínseco à própria organização espacial, onde foi possível verificar uma
regularidade no uso e cobertura do solo. Essa regularidade se expressou nas análises das
mudanças do uso e cobertura nos municípios monitorados, sendo possível confirmar o mesmo
padrão, com o domínio absoluto da pastagem seguido de núcleos florestais dispersos e o
desenvolvimento, ainda que restrito, dos núcleos urbanos.

Esse padrão nos permitiu indicar a segunda consideração que são as próprias alterações do uso
e cobertura nos anos selecionados para o trabalho, e, está claro que a BHSM sofreu e ainda
sofre com o intenso e indiscriminado processo de desmatamento, o que pode intensificar os
processos de erosões. A partir da geração dos mapas e gráficos das alterações de uso e cobertura,
foi observado um acentuado desaparecimento dos núcleos florestais entre 1985 e 2001, e um
aumento nas áreas de pastagem no mesmo período. Ainda que no intervalo de 2001/2017 essa
configuração tenha se revertido, o padrão da bacia permaneceu o mesmo, apenas em proporções
diferentes. Observamos que inúmeras áreas retornaram com seus núcleos florestais, todavia,
ainda com a presença absoluta da pastagem. Dessa maneira, essa notável e intensa dinâmica de
80

desmatamento juntamente com crescimento urbano desordenado nos municípios, contribuíram


para o surgimento de áreas com risco de desastre.

Essa consequência evidencia, portanto, a próxima consideração, que são as áreas de risco de
desastres e suas relações com as mudanças do uso e cobertura e as classes de relevo
apresentadas pelo modelo HAND. Com o auxílio dos relatórios da CPRM, foi possível elaborar
mapas que mostrassem se tais áreas com situações de risco correspondiam às classes de relevo
referentes aos eventos que podem ocorrer ou já ocorreram. Dessa maneira, pode-se considerar
a partir desses mapas e dos registros verificados, que a BHSM apresenta uma distribuição dos
eventos adversos estreitamente ligado ao relevo e das alterações do uso e cobertura.

Nos municípios localizados na porção leste da bacia, onde o relevo se apresenta bastante plano
e se visualiza classes de relevo majoritariamente de baixios seguido de ecótonos e encostas,
tem-se como principal característica, as áreas de RH, onde os eventos de inundações graduais
ou simplesmente inundações são os mais recorrentes. Tais áreas de ocorrência se configuram
com a presença de núcleos urbanos, principalmente as sedes municipais, assentadas
essencialmente próximas ou dentro de planícies de inundações dos rios, córregos e em áreas de
drenagem natural, regiões referentes a classe de relevo baixio.

O mesmo processo ocorre aos municípios da porção central da bacia, próximo à divisa entre os
estados do Espírito Santo e Minas Gerais. Os principais focos de ocorrência de desastres se
localizam também nas zonas urbanas municipais, tendo em especial as situações de RH. A
diferença desses municípios para os da porção leste é que o relevo nessa região é mais
acidentado e com maiores declividades. Por isso, os eventos hidrológicos nessa porção da bacia,
se caracterizam pelas inundações bruscas ou enxurradas.

Sobre os PD e PE pode-se concluir que são oriundos essencialmente do desmatamento e avanço


do desenvolvimento urbano. Vimos que grandes focos de deslizamentos e erosões estão
localizados principalmente no meio urbano e áreas rurais com infraestrutura urbana, onde a
expansão desordenada se dilata para regiões de encosta proporcionando o desmatamento. Além
disso, a maneira irregular de ocupação propicia as ocorrências desses eventos, sobretudo em
eventos pluviométricos intensos.

Outra consequência do desmatamento, e que aflige sobretudo esses municípios a oeste da bacia,
são os episódios de estiagens. Vimos que nestes municípios, no intervalo de 1985/2001,
atravessaram um período de considerável desaparecimento de núcleos florestais. Como
81

resultado, o final dos anos 1990 e a década de 2000 foi marcada por um grande número de
registros de estiagens, levando a essa região carecer de um balanço hídrico favorável,
colaborando para uma susceptibilidade à desertificação.

Totalizando, podemos afirmar que as relações socioambientais influenciam na dinâmica


do uso e cobertura, caracterizando um padrão que se segue por toda a bacia, onde ela,
desprovida de matas e quase que totalmente coberta por pastagem, auxiliam os processos
erosivos e consequentemente na ocorrência de desastres. Além disso o relevo e sua morfologia
de modo conjunto a dinâmica do uso e cobertura, atuam nas circunstâncias de desastre,
favorecendo ou não sua intensificação. No caso da BHSM, os resultados aqui apresentados
podem ser associados a produção de ferramentas potenciais na antecipação de eventos passíveis
de ocorrerem, em especial nas áreas de infraestrutura urbana, porções mais afetadas pelos
desastres.

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