Você está na página 1de 63

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIENCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTE


DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

ANDERSON MOURA GONDIM DE FREITAS

ESTUDO DA PAISAGEM NO TRANSECTO


NATAL- MOSSORÓ/ RN

Natal/RN
2018
Anderson Moura Gondim de Freitas

ESTUDO DA PAISAGEM NO TRANSECTO NATAL-MOSSORÓ/ RN

Monografia apresentada ao curso de


Geografia da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte (UFRN) –
CCHLA, como requisito para a
obtenção do título de Bacharel em
Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo de


Freitas Amorim

Natal/RN
2018
Anderson Moura Gondim de Freitas

ESTUDO DA PAISAGEM NO TRANSECTO NATAL-MOSSORÓ/ RN

Trabalho de monografia apresentado


de Geografia da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), com
banca de avalição composta por:

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________
Prof. Dr. Rodrigo de Freitas Amorim
Orientador, departamento de Geografia / UFRN

____________________________________________
Prof. Dr. Laécio Cunha de Souza
Membro, departamento de Geologia / UFRN

____________________________________________
Prof. Dr. Silvio Braz de Sousa
Membro, departamento de Geografia / UFRN
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter iluminado toda trajetória feita enquanto
graduando e pelas suas bênçãos sobre minha família.
Meus agradecimentos aos meus pais, irmãos e cunhadas pelos apoios,
deslocamentos, conselhos e críticas. A meus sobrinhos pelos momentos de felicidade e
risadas. Ao meu avô Josué, agricultor aposentado que sempre me incentivou a atuar na
área relacionada a geografia, a meus avós Antônio Lucas, Severina e Gercina por todas
vibrações, torcidas e incentivos.
Meu obrigado a toda UFRN e sua estrutura, disponibilizando utensílios necessários
para trabalhos de laboratório e campo. Relacionada a ela, meus agradecimentos a Prof.
Edna Furtado pela primeira oportunidade de atuar na iniciação científica, que revelou minha
proximidade com o geoprocessamento.
Agradeço ao grupo “Orlando que pediu”: Jhonathan, Rosyellen, Orlando, Vinnicius e
Paulinha pelos apoios, disponibilidade para ajudas e pelas descontrações, especialmente
a Vinnicius e Jhonathan (trio “Caba Vei”) pela companhia em todo tipo de situação ao longo
da graduação.
Agradeço aos amigos do laboratório de geografia física: Ivaniza, Cleanto, Moacir,
Gabi, Dyego, Diogo, Joyce, Jaqueline, Edimara e seus doces, Carol, Vilaneide, Miquéias,
Erick Jordan e Thereza pelas conversas e contribuições a meu trabalho e vida.
A Samara, parceira de curso, de Circular e de conversas sobre a vida no geral e a
Carol Barros pelo longo ciclo de amizade, carinho e todo tipo de ajuda necessária.
Ao amigo Lucas Lima, do curso de geologia, por me ensinar e ajudar em questões
relacionadas a sua área e ao geoprocessamento mais aplicado, bem como sua fiel
disponibilidade.
Agradeço especialmente a Professor Rodrigo pela orientação, pela oportunidade e
confiança concedida a trabalhar como monitor de Climatologia, Pedologia e Hidrologia, por
ajudar nas burocracias e nas contribuições cientificas das atividades de campo que
consolidaram essa produção como um todo. Ao Professor Laécio Cunha, pela cordialidade
e disponibilidade de sempre tirar dúvidas e a muito ajudar nas produções que tangem o
trabalho. Ao professor Silvio, pela disponibilidade de fazer parte da banca e por
contribuições presentes e futuras.
Aos que eu não citei, meu muito obrigado!
“Para o geógrafo, o mundo é
uma superfície branca que ele
preenche pouco a pouco,
inscrevendo as coordenadas
dos lugares conhecidos”
(Paul Claval)
RESUMO
A paisagem é uma das categorias de análise da geografia, sendo utilizada pelo homem
desde os primórdios das civilizações, que pode ser associada a uma análise contemplativa,
sem fins científicos, ou sistematizada, que responde a exigências de processos, formações
e resultantes. Disso, observou-se a necessidade de fazer um estudo sistematizado dessa
categoria, associado a geomorfologia, pedologia e geologia, que estão inseridas na
paisagem. Uma das características dessa sistematização, é a utilização de técnicas
metodológicas, como a de transectos, metodologia essa utilizada com mais frequência na
ecologia, mas que possui, mesmo assim, resultados convincentes nos estudos geográficos.
O transecto, quando traçado, pode apresentar diversas nuances que desencadeiam
diversas discussões, e analisando isso, fez-se o transecto no percurso da BR-304, do eixo
Natal-Mossoró, com o intuito de se coletar informações contidas nas compartimentações
da paisagem. Além de traçados por meios sistemáticos ou até tecnológicos, a ida em
atividade de campo também possui grande importância, por nele se certificar ou desmentir
determinadas informações que a bibliografia pode trazer. Em laboratório são realizados os
procedimentos de geoprocessamento voltados aos transectos, que resultam em perfis
topográficos, eles então são complementados com informações do meio físico e discutidos.
Dessa construção, tem-se perfis de geomorfologia, pedologia e geologia em variadas
escalas geoespaciais e detalhes do meio físico analisados da paisagem e de dados
secundários. Esse tipo de metodologia elucida um trabalho de fácil compreensão, que tem
sua aplicabilidade geográfica potencializada, oferecendo re-delimitações de unidades
físicas, novo viés para gestões, análise ambiental apurada, entre outros, que em sua
totalidade contribuem para a sociedade e para fins científicos e acadêmicos.

Palavras-chave: Paisagem, Transecto, Perfis topográficos.


ABSTRACT
The landscape is one of the categories of analysis of geography, and has been used by man
since the dawn of civilizations, which can be associated with a contemplative, scientific or
systematized analysis that responds to process, formation and resultant demands. From
this, it was observed the need to make a systematic study of this category, associated with
geomorphology, pedology and geology, which are inserted in the landscape. One of the
characteristics of this systematization is the use of methodological techniques, such as
transects, a methodology that is most frequently used in ecology, but still has convincing
results in geographic studies. The transect, when traced, can present several nuances that
trigger several discussions, and analyzing this, the transect was done in the course of the
BR-304, of the Natal-Mossoró axis, in order to collect information contained in the landscape
subdivisions. In addition to tracing by systematic or even technological means, going to field
activity is also of great importance, because it certifies or denies certain information that the
bibliography can bring. In the laboratory, the geoprocessing procedures are performed with
the transects, which result in topographic profiles, which are then complemented with
information from the physical environment and discussed. From this construction,
geomorphology, pedology and geology profiles are present in various geospatial scales and
details of the physical environment analyzed from the landscape and secondary data. This
type of methodology elucidates an easy-to-understand work, which has its geographic
applicability enhanced, offering re-delimitations of physical units, new bias for management,
accurate environmental analysis, among others, which in their totality contribute to society
and scientific purposes and academics.

Keywords: Landscape, Transect, Topographic profiles.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo. .......................................................... 15


Figura 2 - Elementos da descrição da paisagem. ............................................................. 18
Figura 3 – Metodologia de uso de trado (1) e de horizontes em zona de empréstimo (2) e
trincheira (3). .................................................................................................................... 19
Figura 4 - Representação para nuances em mapas geológicos, geomorfológicos e
pedológicos. ..................................................................................................................... 20
Figura 5 - Exemplificação de vetorização da BR-304. ...................................................... 21
Figura 6 - Elaboração de um perfil topográfico. ................................................................ 22
Figura 7 - Técnicas de suavização do perfil topográfico. .................................................. 23
Figura 8 Exemplificação de índice de drenagem e Ordem de grandeza das formas. ....... 25
Figura 9 - Informações de formas de relevo presentes na Folha SB. 24/25 -
Jaguaribe/Natal. ............................................................................................................... 26
Figura 10 - Nuance paisagístico para Tabuleiros Costeiros. ............................................. 28
Figura 11 - Nuance paisagístico para Serra da Borborema e Depressão Sertaneja. ........ 29
Figura 12 - Serras e serrotes vistos da Depressão Sertaneja. .......................................... 30
Figura 13 - Suíte Intrusiva Dona Inês, no Planalto da Borborema. ................................... 31
Figura 14 - Nuance da paisagem para Tabuleiros Costeiros interiores. ............................ 32
Figura 15 - Perfis de solo. ................................................................................................ 33
Figura 16 - Perfis de NEOSSOLO LITÓLICO. .................................................................. 33
Figura 17 - Perfis de LUVISSOLO CRÔMICO .................................................................. 34
Figura 18 - Corte em zona de retirada para a construção civil. ......................................... 35
Figura 19 - Representação geológica em corte de estrada .............................................. 36
Figura 20 - Visualização de ângulo de mergulho da unidade............................................ 37
Figura 21 - Corte de estrada para análise de rochas. ...................................................... 37
Figura 22 - Perfil Geomorfológico da BR- 304. ................................................................. 38
Figura 23 - Localização das redes hidrográficas de Tabuleiros Costeiros. ....................... 39
Figura 24- Localização das redes hidrográficas da Depressão Sertaneja. ....................... 40
Figura 25 - Localização das redes hidrográficas do Planalto da Borborema..................... 41
Figura 26 - Localização das redes hidrográficas do segundo curso da Depressão
Sertaneja. ......................................................................................................................... 42
Figura 27 - Localização das redes hidrográficas de Tabuleiros Costeiros (Interiores). ..... 43
Figura 28 - Formas de relevo associados a Tabuleiros Costeiros. ................................... 44
Figura 29- Formas de relevo associados a Depressão Sertaneja. .................................... 45
Figura 30 - Formas de relevo associados ao Planalto da Borborema. .............................. 45
Figura 31 - Formas de relevo associados ao segundo curso da Depressão Sertaneja. .... 46
Figura 32 - Formas de relevo associados a Tabuleiros Costeiros Interiores. .................... 47
Figura 33 - Representação de tipos de solos para a unidade de Tabuleiros Costeiros. .... 48
Figura 34 - Representação de tipos de solos para a unidade da Depressão Sertaneja. ... 49
Figura 35 - Representação de tipos de solos para a unidade do Planalto da Borborema. 50
Figura 36 - Representação de tipos de solos para a unidade do segundo curso da
Depressão Sertaneja. ....................................................................................................... 51
Figura 37 - Representação de tipos de solos para a unidade de Tabuleiros Costeiros
Interiores. ......................................................................................................................... 52
Figura 38 - Representação Geológica .............................................................................. 53
Figura 39 - Demonstração da revisão da Borborema segundo Zonas de Cisalhamento... 58

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Formas de Relevo para a carta SB. 24/25 - Jaguaribe/Natal .......................... 24


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 12
1.1 OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 14
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................... 14
1.3 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ................................................................. 15
2 METODOLOGIA ........................................................................................................... 16
2.1 PROCEDIMENTOS TEÓRICOS ............................................................................. 16
2.1.1 Levantamento das informações físicas da área de estudo ................................ 17
2.1.2 Planejamento do trabalho de campo ................................................................. 17
2.2 PROCEDIMENTOS DE CAMPO ............................................................................. 18
2.2.1 Descrição da geomorfologia .............................................................................. 19
2.2.2 Descrição da pedologia ..................................................................................... 19
2.2.3 Descrição da geologia ....................................................................................... 20
2.3 PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO ................................................................ 20
2.3.1 Elaboração de mapas-base .............................................................................. 20
2.3.2 Elaboração do perfil topográfico ........................................................................ 21
2.3.3 Elaboração de perfis geomorfológicos .............................................................. 23
2.3.4 Elaboração das associações pedológicas ......................................................... 26
2.3.5 Elaboração de perfil geológico .......................................................................... 26
3 RESULTADOS .............................................................................................................. 27
3.1 PRIMEIRO EIXO: ESTRUTURAS DA PAISAGEM .................................................. 27
3.1.1 Geomorfologia .................................................................................................. 27
3.1.2 Pedologia .......................................................................................................... 32
3.1.3 Geologia ........................................................................................................... 34
3.2 SEGUNDO EIXO: A REPRESENTAÇÃO DIGITAL DOS DADOS ........................... 38
3.2.1 Geomorfologia .................................................................................................. 38
3.2.2 Pedologia .......................................................................................................... 47
3.2.3 Geologia ........................................................................................................... 52
3.3 A UNIÃO DO ESTUDO DA PAISAGEM COM AS TÉCNICAS DE GABINETE: UMA
FERRAMENTA DE OTIMIZAÇÃO DOS ESTUDOS GEOGRÁFICOS........................... 57
4 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 60
12

INTRODUÇÃO

O homem reside e usufrui dos elementos da paisagem, desenvolvendo com ela uma
relação não unívoca e histórica, vivenciando e se adaptando as suas mudanças, buscando
compreender as variações física e abstrata da estrutura superficial do planeta. Ao mesmo
tempo, as transformações que a sociedade insere nos componentes naturais interferem,
através de artifícios que potencializam sua vivência, promovendo ajustes na dinâmica que
remodela continuamente a paisagem.
Nesse sentido, a caracterização dos elementos que estruturam o meio físico é o
ponto de partida para o entendimento da composição e dinâmica da paisagem, ao mesmo
tempo que lastreia a análise da relação sociedade-natureza. Nesse contexto, os trabalhos
de campo e os mapeamentos existentes, são as duas fontes básicas de informação, sendo
necessário, procedimentos metodológicos bem construídos para que os dados coletados e
as análises expressem da melhor forma a realidade que se pretende estudar.
A paisagem é dinâmica, e fruto de variadas transformações geogênicas e sobretudo
antropogênicas, composta pela intercalação das ramificações geográficas, como pedologia,
geomorfologia, geologia e relações de ocupação humana, dando singularidade ao ambiente
natural, mostrando horizontes dos mais variados de acordo com sua posição na terra, que
segundo Bertrand (1968):

Ao propor o estudo de Geografia Física Global, pensou a paisagem como “resultado


sobre uma certa porção do espaço, da combinação dinâmica e, portanto, instável
dos elementos físicos, biológicos e antrópicos que interagindo dialeticamente uns
sobre os outros fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em contínua
evolução.

Historicamente, desde o surgimento das primeiras civilizações, o homem sempre


analisou a paisagem para várias finalidades, e essa análise pode ser aleatória (sem fins
científicos, apenas para contemplação) ou sistemática, a qual depende do que o observador
deseja estudar ou apreciar. Para a observação sistemática da paisagem, precisa-se
analisar o horizonte de maneira difusa (VENTURI, 2010 p. 24).

A análise a partir da observação de campo, dados de sensoriamento remoto e


produtos de programas disponibilizados em Sistemas de Informação Geográfica (SIG),
possibilitaram uma grande oportunidade de reanalisar a paisagem e melhorar informações
do meio natural, os quais servem de base para as pesquisas Geográficas. Os grandes
13

levantamentos sistemáticos de recursos naturais, como o do Projeto RADAMBRASIL


(1981), possibilitou avanços notáveis no conhecimento do território brasileiro. Não obstante,
essas informações passaram a apresentarem-se obsoletas às novas demandas da gestão
do território, especialmente pelas escalas e coleta dos dados originais. Ao mesmo tempo,
as informações em grande escala geográfica podem servir de base para as atuais
pesquisas, lastreadas em novas técnicas e ferramentas de aquisição e processamento de
dados.
A análise através de novas tecnologias também traz sua grande contribuição para
estudos geográficos, por conta da grande disponibilidade de dados, adquiridos por meio de
técnicas de sensoriamento remoto, que são vetorizados e mapeados por diversos órgãos
ambientais e geográficos (IBGE, EMBRAPA, CRPM, Exército, SUDENE) facilitam o
desenvolvimento de estudos em Geografia Física, que inferem principalmente na
diminuição do levantamento de campo. Essa diminuição atrelada à comodidade por conta
da tecnologia melhora a capacidade dos geógrafos pesquisadores em obter novas
informações de trabalho de campo.
Ao mesmo tempo, é importante não perder de vista que, ao analisar uma paisagem
pode-se perceber que quando se pensa em levantamentos de campo, nem sempre é
possível acessar todas as partes de uma determinada área, sendo cogente estabelecer
procedimentos técnicos para coletar os dados que possam ser especializados e permitam
caracterizar uma região, por exemplo.
A análise de uma área tende a ser mais aprofundada, com um maior volume de
informações, quando se mescla, no estudo, dados disponíveis de sensoriamento remoto e
a observação direta de campo, unindo-os para se chegar a resultados mais completos e
complexo da realidade. Nesse sentido, a metodologia de estudo em campo é baseada em
transectos (linhas de secção do terreno), que são linhas inseridas em determinada área de
estudo, costumeiramente utilizadas na Ecologia e Biologia, que oferecem uma amostragem
de “gradientes de transição entre comunidades” (BROWER & ZAR,1984), possuindo
comprimento e largura variados, que permitem coletar dados dos mais diferentes tipos,
desde de que sejam sistematizados procedimentos que congreguem trabalho em gabinete
e campo, bem como que os trajetos percorridos sejam representativos das áreas
estudadas.
Estes transectos, quando expressados metodologicamente em perfis topográficos,
(gráficos que representam os fenômenos em escala vertical e horizontal de altitude e
distância) podem entregar uma abordagem sistêmica e objetiva da área de estudo,
14

principalmente àqueles voltados à Geografia Física, oferecendo uma leitura simplificada e


didática das estruturas físicas, nuances, variações e fenômenos de diferentes escalas de
análise, tal método enriquece as maneiras de se mostrar a Geografia, tanto em meios
acadêmicos, como para o público em geral.
Desta forma, a aplicação da metodologia de levantamentos de dados e análise da
paisagem baseada em transectos possibilita à Geografia um ganho nos estudos que visem
expressar toda a variação física-humana de uma dada região, indicando as nuances em
diferentes escalas espaciais e temporais. Ao mesmo tempo, é importante observar que os
dados possíveis de serem acessados por essa metodologia, unindo levantamentos de
campo e trabalho de laboratório são multidisciplinares, podendo contribuir para a diminuição
de custos nas pesquisas como um todo.

1.1 OBJETIVO GERAL

Elaborar um transecto de paisagem entre os dois principais municípios do estado do


Rio Grande do Norte, de forma a identificar e discutir os aspectos do relevo, geologia e
solos, evidenciando suas nuances qualitativas.

1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Identificar, através da análise de campo as nuances paisagísticas ao longo da BR


304;
 Organizar, a partir de procedimentos de gabinete, estudos para identificar atributos
geológicos, geomorfológicos e pedológicos;
 Aplicar a metodologia de estudo de transecto para analisar componentes no meio
natural;
 Discussão de como a metodologia de transectos expressados em perfis topográficos
é importante para a Geografia.
15

1.3 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo (figura 1) compreende o transecto traçado na delimitação da BR


304, no eixo Natal-Mossoró, englobando os municípios potiguares de: Natal, Parnamirim,
Macaíba, Ielmo Marinho, São Pedro, Santa Maria, Riachuelo, Caiçara do Rio do Vento,
Lajes, Fernando Pedroza, Angicos, Itajá, Açu e Mossoró.

Figura 1 - Mapa de localização da área de estudo.

Fonte: Elaborado pelo Autor (2018), fonte de dados do IBGE (2010).

O trecho Natal-Mossoró tem 261km de extensão, e possui, segundo o CENSO 2010


(IBGE, 2010), 1.454.177 habitantes, sendo 1.366.804 habitantes em áreas urbanas e
87.373 habitantes em áreas rurais. Cinco municípios do eixo Natal-Mossoró estão nos dez
municípios mais populosos do Rio Grande do Norte, que são: Natal, Parnamirim, Macaíba,
Açu e Mossoró, e possuem juntos 1.388.893 habitantes.
16

Além do grande contingente populacional para o Estado, a rota representa o maior


fluxo de material, economia, pessoas e informações, possuindo extrema importância
quando também relacionado aos estados circunvizinhos.

2 METODOLOGIA

A definição do objeto de estudo foi pautada na perspectiva do uso, a BR 304, trecho


Natal-Mossoró, é a mais utilizada do estado, atravessando variados contextos
gemorfológicos, geológicos, pedológicos e de ocupação humana, sendo adequada para a
aplicação da metodologia pautada em transectos e para a confecção de perfis e mapas,
aumentando o detalhamento das representações geográficas.
A metodologia do presente trabalho foi esquematizada em três grandes grupos, um
pré-operatório, relacionado a teorias posteriormente discutidas, o operatório, relacionado a
presença física expressada em campo e o pós-operatório, com as produções em
laboratório. Por fim, como base nos dados gerados, foi realizada uma análise à luz das
teorias da Geografia Física, onde buscou-se explicar os diferentes compartimentos físicos
da área de estudo.
O trabalho está ancorado em resultados provenientes da análise teórica,
notadamente de conceitos geográficos, utilizando autores que os conceituaram ou fizeram
importantes contribuições a respeito da observação paisagem, coleta de dados em campo,
elaboração de transectos, perfis e mapas como elemento de modelagem da realidade. Para
atingir os objetivos foi realizada a distinção e organização dos processos, apresentados de
maneira explanatória e detalhada.

2.1 PROCEDIMENTOS TEÓRICOS

Procedimentos de gabinete, ou teóricos, constituíram a etapa que auxiliou os


levantamentos de campo. A realidade só pode ser lida e apreendida com base no que se
conhece e nas formas de abordagem da realidade. Assim, foi realizado um estudo prévio
dos fatores que formam a paisagem, em seguida foram realizados levantamentos
cartográfico e bibliográfico sobre a área de estudo, para em seguida serem definidos pontos
de coleta e os objetivos da pesquisa, segundo as organizações disponibilizadas no livro
Geografia - práticas de campo, laboratório e sala de aula. (VENTURI, 2010, p. 22).
17

A revisão dos trabalhos que descrevem a configuração geológica, geomorfológica e


pedológica da área de estudo, permitiu o preenchimento das lacunas não possíveis de
serem atendidas no trabalho de campo. As próprias incertezas que apareceram diante da
observação in locu e dos dados geoespaciais, foram, em parte, sanadas pela revisão da
literatura. Pautou-se na leitura de dados paleo-geográficos e de processos atuais de cada
compartimento da área de estudo.

2.1.1 Levantamento das informações físicas da área de estudo

O levantamento das informações físico-naturais possui dois pilares para a aquisição


de informações, que são: a leitura de dados físicos primários obtidos em órgãos públicos
(CPRM, EMBRAPA, IBGE, RADAMBRASIL) e a análise de imagens de sensoriamento
remoto (SENTINEL I-II, Missão Topográfica Radar Shuttle). Divididas em três componentes
do meio físico, geomorfologia, pedologia e geomorfologia, sendo elas também divididas em
outras unidades, os dados foram impressos em perfis, de forma integrada, mostrando
convergências e divergências que possuem entre si.
No tocante a geomorfologia, o levantamento em gabinete foi baseado na leitura da
folha SB.24/25 Jaguaribe/Natal, elaborada no âmbito do projeto RADAMBRASIL (1981) nos
trabalhos de Correa et al (2010) e Diniz et al. (2016), os quais subsidiaram a abrangência
de cada compartimento geomorfológico e seus índices de dissecação, importante para a
elaboração de mapas e perfis. Quanto à descrição e interpretação desses compartimentos,
fez-se uso da metodologia de mapeamento do relevo de Ross (2006).
Em relação à pedologia, as informações foram levantadas a partir de relatórios de
solos da EMBRAPA (2006), do IBGE (2007), mostrando a variação de tipos de solos ao
longo da área de estudo.
Para a geologia, utilizou-se o mapeamento geológico do Rio Grande do Norte
(ANGELIM et al, 2007), que dá subsídios aos agrupamentos de unidades geológicas, seu
direcionamento e mergulho, bem como através de comunicações verbais do professor Dr.
Laecio Cunha de Souza do Departamento de Geologia da UFRN.

2.1.2 Planejamento do trabalho de campo

Antes da realização do trabalho de campo, foram definidos os pontos de coleta de


dados, evidenciando os principais dados a serem coletados, através da observação dos
18

elementos em análise. Idealizou-se, então, dois trabalhos de campos, um voltado à coleta


de materiais pedológicos, e outro para a análise de estruturas geológicas e de separações
das unidades geomorfológicas.

2.2 PROCEDIMENTOS DE CAMPO

A descrição da paisagem foi executada de forma esquemática, através da


observação direta, baseada nas informações extraídas dos mapeamentos existentes,
conforme descrito na Figura 2, geologia (1), geomorfologia (2) e solos (3). Nos dois
trabalhos de campo buscou-se descrever e correlacionar os aspectos levantados em
gabinete com os visualizados in loco.

Figura 2 - Elementos da descrição da paisagem.

Fonte: Autor (2018).

As coordenadas, dos pontos de observação, serviram de base para orientação e


organização de coleta de cada elemento, de forma a auxiliar as direções das fotografias ao
longo do percurso. A descrição foi feita de acordo com as separações das unidades
geomorfológicas, com cinco grupos: Tabuleiros Costeiros, Depressão Sertaneja, Serra da
Borborema, Depressão Sertaneja (segundo curso), e Tabuleiros Costeiros (interiores).
19

2.2.1 Descrição da geomorfologia

Em campo, os aspectos de cada compartimento geomorfológico foram sendo


comparados com formatos apresentados nos perfis, previamente elaborados, observando-
se as diferenças de formas entre as unidades em níveis escalares diferentes, tendo a
altitude dos pontos como um norteador dos tipos de modelados. Foram observadas as
vertentes, para entender a declividade do relevo, segundo as metodologias da Súmula da
X reunião técnica de levantamentos de solos (EMBRAPA, 1979), unidades morfoesculturais
e características ecodinâmicas do relevo Tricart (1977), Prates (1981) e Diniz et al. (2016).

2.2.2 Descrição da pedologia

A melhor forma de se descrever a pedologia é com as técnicas básicas de coleta de


material utilizando, em determinadas pontos de parada, o trado (figura 3), fazendo a coleta
em cortes de estrada e pontos de retirada de material, ou utilizando trincheiras. Quando
uma área é considerada representativa do ponto de vista do solo, aplicou-se as técnicas
com base nos critérios estabelecidos no Sistema Brasileiro de Classificação de solos da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2006).

Figura 3 – Metodologia de uso de trado (1) e de horizontes em zona de empréstimo (2) e trincheira (3).

Fonte: Autor (2018).

Segundo comparabilidade e semelhança, a descrição dos solos forneceu o subsídio


para compreensão dos tipos de solos em cada compartimento de relevo e sua respectiva
geologia, tendo sido empregadas apenas avaliações de campo.
20

2.2.3 Descrição da geologia

Em trabalho de campo, utilizou-se o mapa geológico do Rio Grande do Norte da


CPRM (ANGELIM et al, 2006), em cada parada ele foi aberto, comparando as unidades
geológicas, ângulos de mergulho da estrutura das rochas e agrupamentos que mostravam
direções as quais as rochas sofriam processos de extrusão, e zonas de cisalhamento em
variadas escalas.

2.3 PROCEDIMENTOS EM LABORATÓRIO


2.3.1 Elaboração de mapas-base

Os mapas-base não serviram, em primeira instancia, para ser representados como


resultados. Seu objetivo principal foi auxiliar na elaboração dos perfis em sua
esquematização, montagem, e encaixe/correção de elementos e unidades geológicas e
geomorfológicas. Esse auxílio permitiu a visualização em planta da representação em perfil
(Figura 4).

Figura 4 - Representação para nuances em mapas geológicos, geomorfológicos e pedológicos.

Fonte: adaptado de EMBRAPA (2010), CPRM (2006), RADAMBRASIL (1981).


21

O sentido de orientação que o mapa-base pode trazer é importante para o


direcionamento do perfil, por conta disso, em todos os perfis, existe um mapa que mostrará
a localização aproximada daquele perfil ou aproximação dele, Imagens de satélite foram
utilizadas, para comparar a informação em duas dimensões (distância em latitude e
longitude) de observação.

2.3.2 Elaboração do perfil topográfico

Para elaborar o perfil, uma sequência de procedimentos foi aplicada. O primeiro trata
da montagem da estrutura, utilizando o software Quantum GIS, versão 2.18.17, e nela os
dados SRTM, formando o embasamento necessário para a montagem do perfil topográfico.
Para isso, foram adquiridos os rasters das cartas SB.24-X-A, SB.24-X-B, SB.24-X-C,
SB.24-X-D, SB.24-Z-A, SB.24-Z-B, SB.25-V-C e SB.25-Y-A disponibilizados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que cobrem todo o estado e área de estudo, com
resolução espacial de 30 metros, o suficiente para representar a variação vertical dos 261
quilômetros do eixo da BR-304. Após essa etapa, as oito imagens foram unificadas e
recortadas segundo o limite de todo o estado, plotando sobre, o trecho da BR 304, adquirido
através da vetorização no aplicativo Google Earth (figura 5). Com essa organização foi
possível traçar o transecto em cima da BR 304 com mais precisão.

Figura 5 - Exemplificação de vetorização da BR-304.

Fonte: Autor (2018), INPE (2018).


22

Em seguida a linha foi exportada no formato KMZ/KML para o Quantum GIS, onde
utilizou-se o complemento Profile tool, para gerar um gráfico com altitude e distância,
conforme explicitada na Figura 6.

Figura 6 - Elaboração de um perfil topográfico.

Fonte: Autor (2018), INPE (2018).

O perfil topográfico contém a hipsometria e distância, e deu o embasamento e


direcionamento dos resultados e discussões presentes no trabalho, servindo para inserção
das informações de geologia, geomorfologia e pedologia. Nesse contexto, o perfil produzido
através do transecto teve como finalidade mostrar essas informações esquematicamente,
com uma escala de detalhes suficiente para uma leitura de fácil compreensão.
Após esse procedimento, o perfil é salvo em arquivo de formato de gráficos vetoriais
escaláveis (SVG), no programa Inkscape. Foi realizada uma suavização do percurso, com
o intuito de facilitar a leitura e evitar a poluição de dados, afinal, por se tratar de um percurso
longo (261 km), os picos de altimetría ficam supervalorizados verticalmente, atrapalhando
a compreensão do perfil. A suavização foi feita em cima da projeção original, ainda
respeitando limites e atributos geomorfológicos, segundo as numerações, como na
representação abaixo (figura 7).
23

Figura 7 - Técnicas de suavização do perfil topográfico.

Fonte: Adaptado de Venturi (2010).

O ponto de número 1 mostra a suavização de formas aguçadas, passando a ser


representado um pouco mais achatado e arredondado, controlando o exagero vertical. O
ponto 2 mostra a suavização de vales, um encontro côncavo de vértices, e o ponto 3
representa a suavização de trepidações do perfil, traçado por linhas conectadas aos topos
da área.

2.3.3 Elaboração de perfis geomorfológicos

Após aplicação da suavização, observou-se a necessidade de separar os


compartimentos geomorfológicos em duas escalas de análise e representação, sendo a
primeira unidade Morfoescultural, compreendida pelo segundo táxon geomorfológico de
Ross (1992). Foram separados os domínios geomorfológicos da área de estudo, utilizando
embasamento metodológico e teórico de identificação de megageomorfologia e
morfoestrutura do Planalto da Borborema (CORRÊA et al, 2010). No tocante aos limites
dos Tabuleiros Costeiros, Tabuleiros Costeiros (interiores) e Depressão Sertaneja, utilizou-
se Diniz et al (2016) e o projeto RADAMBRASIL (PRATES,1981).
Como resultado, tem-se um aspecto geral, dos grandes compartimentos de relevo
ao longo do transecto, tomando como base as cotas de altitudes geradas pelo perfil, a
descrição dos mapeamentos geomorfológicos. A partir da leitura de imagens de satélite
Sentinel I/II, informações do RADAMBRASIL e observações em mapas de rodovia e
delimitações vetorizados e foram pontuadas as cidades no transecto.
A segunda escala de análise, compreende as formas de relevo, representando o
quarto táxon geomorfológico de Ross (1992). Foram utilizadas informações do mapa de
geomorfologia da carta SB. 24/25 Jaguaribe/Natal (RADAMBRASIL, 1981) (Quadro 1).
24

Quadro 1 - Formas de Relevo para a carta SB. 24/25 - Jaguaribe/Natal

FORMAS ESTRUTURAIS FORMAS DE ACUMULAÇÃO


Aai- Áreas de acumulação inundáveis. Áreas aplainadas
St - Superfície Tabular estrutural. Superfície plana
com ou sem cobertura arenosa, sujeitas a inundações
geralmente coincidente com a estrutura geológica,
periódicas, precariamente incorporadas à rede de
limitada por escarpas erosivas e trabalhadas por
Ad- Dunas. Depósitos de origem marinha e/ou
FORMAS EROSIVAS continental remodelados por ventos.
Et- Superfície tabular erosiva. Relevo residual de topo Adf- Dunas fixas. Depósitos de origem marinha e/ou
plano testemunho de superfície de erosão, geralmente continental remodelados por ventos e fixados por
limitada por escarpas erosivas, com diferentes níveias Apf- Planície fluvial. Área plana resultante de acumulação
altimétricos. fluvial sujeita a inundações periódicas.
Ep- Superfície pediplana. Superfície plana elaborada por
processos de pediplanação, ocorrendo em diversos tipos Apfm- Planície fluviomarinha. Área plana resultante da
de litologias. combinação de processos de acumulação fluvial e
marinha, geralmente sujeitas a inundações periódicas,

FORMAS DE DISSECAÇÃO Apm- Planície marinha. Área plana resultante de


a- Formas aguçadas. Relevos de topo contínuo e acumulação marinha localmente comportando restinga
aguçado com diferentes ordens de grandeza e de Aptf- Planície e terraço fluvial. Área plana resultante de
aprofundamento de drenagem, separados geralmente por acumulação fluvial eventualmente sujeita a inundações
c- Formas convexas. vales em "V"
Relevos de topo convexo com periódicas ligadas sem ruptura de declive e patamares
diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento de mais elevados
drenagem, separados por vales em "V" e eventualmente Atf- Terraço fluvial. Área de acumulação fluvial esculpida
por vales de fundo plano pelo rio, com declive voltado para o leito fluvial,
eventualmente comportando meandros colmatados.
t- Formas tabulares. Relevos de topo plano, com
diferentes ordens de grandeza e de aprofundamento de
drenagem, separados geralmente por vales de fundo

Fonte: RADAMBRASIL (1981).

Essas informações explicam as formas de relevo que podem estar presentes no


traçado, sendo separadas em formas estruturais, erosivas, de dissecação e de acumulação.
Cada forma do relevo entrará de acordo com as informações contidas no mapa da folha SB
24-25 do RADAMBRASIL (1981), segundo suas estruturações de relevo e vertentes.
Especificamente, para as formas de dissecações são atribuídos níveis relacionados
a grandeza delas e seus aprofundamentos de drenagem (figura 8):
25

Figura 8 Exemplificação de índice de drenagem e Ordem de grandeza das formas.

Elaborado pelo Autor (2018) baseado em RADAMBRASIL (1981)

As formas de dissecação são separadas pelas siglas: a – referida a formas


aguçadas, c – referente a formas convexas e t – relacionada a formas tabulares. Essas três
formas sempre acompanham uma numeração, variando, em tabela, de 11 a 55, que
representam a ordem de grandeza das formas de dissecação (1) e intensidade de
aprofundamento da drenagem (2). Então disso, sempre que se discute sobre a ordem ou
intensidade, usam-se as siglas O.G.F.D. (1) e I.A.D. (2), para otimizar o espaço.
Como exemplo, o trecho Macaíba – Lajes (figura 9), que possui a sigla a22 que
significa uma forma de dissecação aguçada com intensidade de aprofundamento fraco e
ordem de grandeza de dissecação entre 250m à 750m, a sigla Et, que mostra que a área é
de superfície tabular erosiva, a sigla t51, que significa que o local é de formas tabulares
com intensidade de aprofundamento muito fraco e ordem de grandeza de dissecação entre
3.750mm à 12.750m e Apf, que aponta para uma região de planície fluvial. Durante todo o
percurso, há uma variação de todas as formas geomorfológicas presentes, que serve de
subsídio para a esquematização do perfil geomorfológico, esse que servirá para a
orientação das etapas seguintes.
26

Figura 9 - Informações de formas de relevo presentes na Folha SB. 24/25 - Jaguaribe/Natal.

Fonte: RADAMBRASIL (1981).

2.3.4 Elaboração das associações pedológicas

A individualização das associações pedológicas foi baseada no mapeamento da


EMBRAPA, disponibilizadas em arquivo vetorial no formato de shapefile (SHP), o que
facilita o manuseio em ambiente SIG. Os critérios de descrição e normatização seguiram a
caracterização de solos do Sistema Brasileiro de classificação de solos da EMBRAPA
(2006), segundo a nova classificação brasileira de solos de Jacomine (2009). A coloração,
item principal para se distinguir visualmente as unidades, tomou como base o manual de
pedologia do IBGE (2007). Procurou separar o perfil em unidades para se aumentar a
escala de detalhes. As informações de uso e ocupação do solo foram retiradas em relatórios
de diagnósticos físicos dos municípios que estão inseridos na BR 304, segundo “Geologia
e recursos minerais do Estado do Rio Grande do Norte pela CPRM.

2.3.5 Elaboração de perfil geológico

Na elaboração de um perfil geológico foram utilizados os limites litológicos e a


cronologia disponibilizada no mapa geológico do estado, (ANGELIM, 2007). De forma
complementar, foram adicionadas informações de campo no tocante aos ângulos de
mergulho das rochas e agrupamentos geológicos. Com isso, utilizando o programa de
27

edição vetorial Inkscape, desenhou-se as unidades com ângulos de mergulho e


direcionamento. Essas unidades foram colorizadas de acordo com a legenda da CPRM e
as hachuras segundo convenções gerais. O processo de construção contou com a
colaboração do professor Dr. Laecio Cunha de Souza do Departamento de Geologia da
UFRN, especialmente no tocante ao direcionamento de mergulho das estruturas litológicas
e as simbologias de representação.

3 RESULTADOS

Os resultados são divididos em dois eixos de análise e discussões, de forma a


melhor representar a estrutura da paisagem no transecto Natal-Mossoró.
O primeiro eixo expressa os resultados obtidos pela análise na perspectiva da
paisagem através de campo e pré-leitura de informações contidas na rota do transecto, com
escalas de 1:250.000 até 1:1.000.000. O segundo eixo mostra e discute todas as
representações digitais obtidas no transecto, nas escalas de 1:1.000.000 de maneira geral,
que abarca o transecto em totalidade, e 1:250.000 em separações das unidades
morfoesculturais.
Existe, partindo da perspectiva de junção desses dois eixos, uma aplicabilidade de
maior respaldo para leitura e interpretação dos elementos do meio físico da paisagem, os
quais corroboram e/ou refutam os atributos descritos na literatura ou das observações de
campo, oferecendo uma análise mais concreta da realidade.

3.1 PRIMEIRO EIXO: ESTRUTURAS DA PAISAGEM


3.1.1 Geomorfologia

Tomando como base o RADAMBRASIL (1981), a área de estudo pode ser dívida em
quatro unidades morfoestruturais, as quais são cortadas pela BR 304. No sentido Natal-
Mossoró. A primeira compreende os Tabuleiros Costeiros, seguida da Depressão
Sertaneja, Planalto da Borborema e Tabuleiros Costeiro (interiores).
Os Tabuleiros Costeiros (figura 10), apresentam a maioria das formas variando de
planas a convexas, com leve dissecação, predominância de vertentes com declividade de
0% a 3% (1) e suavemente ondulado, 3% a 8% de declividade (2). A observação e descrição
desse compartimento foi realizada na margem esquerda da BR 304, em uma “área de
28

empréstimo” usada para retirar material para as obras de duplicação da BR 304, no trecho
da Reta Tabajara, município de Macaíba.

Figura 10 - Nuance paisagístico para Tabuleiros Costeiros.

Fonte: Autor (2018).

As formas tabulares desse compartimento são controladas pela geologia sedimentar


da Formação Barreiras, onde as cotas altimétricas se elevam até cerca de 100 metros.
Processos erosivos contemporâneos podem ser observados em várias partes, resultados
das formas de uso e ocupação da terra, especialmente em fusão das plantações de cana
de açúcar e expansão urbana da Região Metropolitana de Natal (RMN).
A Depressão Sertaneja (figura 11), observada a partir da Borborema, possui nos dois
cursos (partindo do pressuposto de que a Borborema divide a Depressão Sertaneja em
duas), uma suavização de relevo, com uma queda gradual da altitude no percurso da BR
304, sendo uma (primeira divisão) de oeste para leste, ou Borborema – Tabuleiros
Costeiros, e outra (segunda divisão), de leste para oeste, ou Borborema – Tabuleiros
Costeiros (Interiores).
29

Figura 11 - Nuance paisagístico para Serra da Borborema e Depressão Sertaneja.

Fonte: Autor (2018).

A partir da figura 11, localizada nos limites dos municípios de Caiçara do Rio do
Vento e Lajes, é possível observar um nuance paisagístico de transição extremamente
suavizada e pouco perceptível da unidade do Planalto da Borborema com a Depressão
Sertaneja, contendo uma faixa de transição considerável (1), a zona da própria Depressão
Sertaneja (2) se diferencia, tendo uma gradual diminuição da altitude, onde as formas de
relevo são onduladas, predominando de 8% a 20% de declividade. Nessa área, destaca-se
o vulcanismo Macau de idade cenozoica que originou o neck vulcânico do Pico do Cabugi
(3), onde os processos erosivos associados aos movimentos de isostasia/soerguimento
crustal permitiram a formação do relevo montanhoso com 45% a 75% de declividade no
enorno do Neck Subvulcânico.
Na área em destaque, as características geomorfológicas são controladas por uma
superfície de erosão que serve de base para o aplainamento da Borborema, apresentando
variações dos níveis de dissecação em função das diferentes resistências litológicas e
controles estruturais. Os Ortognaisses Caicó, e os Ortognaisses Suíte Poço da Cruz, ambos
de idade proterozoica, formam cristas com diferentes orientações de alinhamento,
resultando em formas geomorfológicas de serras, serrotes (figura 12) e inselbergues ali
presentes, por conta de uma maior resistência deles a processos erosivos.
30

Figura 12 - Serras e serrotes vistos da Depressão Sertaneja.

Fonte: Autor (2018).

O Planalto da Borborema possui as maiores cotas altimétricas da área de estudo,


bem como uma grande variabilidade de formas de relevo. A figura 13 mostra a unidade
estrutural pertencente à Suíte Granítica Dona Inês, unidade litológica presente no Planalto
da Borborema, que caracteriza um soerguimento (linha continua) diferenciado o suficiente
para apresentar nitidez na separação das unidades da Depressão Sertaneja (primeiro
curso) com a do Planalto da Borborema, dando uma separação menos suavizada,
praticamente abrupta. A linha pontilhada apresenta afloramentos graníticos, similar a um
pontão ou pão de açúcar que, segundo (IBGE, 2009) é uma:

Forma de relevo residual que apresenta feições variadas, tais como: topos
aguçados, encostas íngremes e predominantemente convexas, desnudadas por
esfoliação esferoidal. Ocorre em áreas de relevos dissecados constituídos por
rochas metamórficas e/ou intrusivas diaclasadas, podendo ocorrer em meio a
“mares de morros” como formas residuais de batólitos, stocks e outros tipos
intrusivos.
31

Figura 13 - Suíte Intrusiva Dona Inês, no Planalto da Borborema.

Fonte: Autor (2018).

Essas formas aguçadas possuem in loco grandes variações de ângulos de vértice,


com áreas de relevo ondulado (8% a 20%) e após o sopé, já na área soerguida,
representada pela linha continua vermelha da figura 15, forte-ondulado (20% a 45%).

Os Tabuleiros Costeiros (interiores) apresentam uma certa monotonia em termos de


estrutura do relevo, com a do início do percurso. Observa-se, a partir da figura 14, que o
relevo possui poucas variações, a única percebida é no final, mostrada pela linha tracejada
vermelha, mantendo altimetria similar até o final do percurso. Variados processos físicos a
diferem da primeira unidade apresentada, sendo bem recorrente e aplicado aos períodos
secos mais longos que os úmidos,
32

Figura 14 - Nuance da paisagem para Tabuleiros Costeiros interiores.

Fonte: Autor (2018).

3.1.2 Pedologia

A análise por meios de observação da paisagem, utilizando as técnicas de descrição


de perfis em campo, permitiu a identificação de quatro classes de solos os quais podem ser
agrupados no primeiro nível de classificação, são elas: LATOSSOLO AMARELO (Figura
15, 1), PLINTSSOLO (Figura 15, 2), NEOSSOLOS LITÓLICOS (Figura 16) e LUVISSOLO
CRÔMICO (Figura 17).
Perfil e cortes de estrada (figura 15, 16 e 17) que foram comparados com a literatura,
Com o intuito de se certificar se os tipos de solos visualizados ao longo do transecto estão
condizentes como os mapeamentos existentes.
33

Figura 15 - Perfis de solo.

Fonte: Autor (2018).

Figura 16 - Perfis de NEOSSOLO LITÓLICO.

Fonte: Autor (2018).


34

Figura 17 - Perfis de LUVISSOLO CRÔMICO

Fonte: Autor (2018).

A grande variação dos tipos de solos, em pequenas distâncias, adiciona


complexidade à análise, demanda a necessidade de trabalhos de campo com descrições
de forma detalhadas. Cabe ressaltar, que analisar os tipos pedológicos presentes nos
cortes de estrada, trincheiras e em abertura com trado auxiliam na compressão de como
cada unidade se comporta, em ambiente seco e úmido.

3.1.3 Geologia

Tomando como base o mapa geológico do Rio Grande do Norte (CPRM, 2006), foi
possível observar, em campo, os compartimentos das unidades geológicas do transecto.
No grupo Barreiras, foi possível observar a representação do grupo a partir da área
de retirada de material para a duplicação da reta Tabajara na BR 304 (figura 18).
35

Figura 18 - Corte em zona de retirada para a construção civil.

Fonte: Autor (2018).

O agrupamento rochoso, compreende os arenitos e conglomerados, com


intercalações de siltitos e argilitos, com frequente coloração amarelada e avermelhada
decorrente do cimento de óxidos e hidróxidos de ferro. Esses tipos litólicos condizem com
o grupo Barreiras, expressado em mapa pelo símbolo ENb.
Na identificação de dobramentos e foliações no embasamento cristalino, observou-
se os cortes de estradas a aproximadamente 4 quilômetros (de leste a oeste) da área
urbana do munícipio de Caiçara do rio do Vento (figura 19), no domínio do Planalto da
Borborema. Lá é possível analisar o direcionamento de foliações, dobramentos e direções
de mergulho, bem como zonas de cisalhamento.
36

Figura 19 - Representação geológica em corte de estrada

Fonte: Autor (2018).

Nas imagens é possível observar um conjunto de rochas da Formação Seridó,


representado por biotita xistos, com venulações de quartzos, sendo rochas geradas por
processos de metamorfismo. Nessas rochas se destacam, também, dobramentos e
estiramentos antigos, com mergulhos indicados nos pontos 1 e 3 da figura 19. O ângulo de
mergulho da unidade se dá para noroeste.
Há aproximadamente 9 quilômetros de Caiçara do Rio do Vento, no ponto mais alto
do percurso, é possível observar um afloramento pertencente a Suíte Poço da Cruz (figura
20), expressa pelo símbolo PP3gpc, localizada no compartimento Planalto da Borborema.
Em relação a composição litológica, é possível observar biotitas augen gnaisses graníticos.
37

Figura 20 - Visualização de ângulo de mergulho da unidade.

Fonte: Autor (2018).

Foi visto também, quase na separação entre as unidades geomorfológicas de


Depressão Sertaneja com Tabuleiros Costeiros (interiores), em um afloramento de corte de
estrada, possuindo as mesmas características geológicas da figura 18, caracterizada como
ENb, como mostra a figura 21:

Figura 21 - Corte de estrada para análise de rochas.

Fonte: Autor (2018).


38

3.2 SEGUNDO EIXO: A REPRESENTAÇÃO DIGITAL DOS DADOS

Com a aplicação de técnicas de campo, observação, e uso de dados primários já


disponibilizados, foi possível obter perfis detalhados e abrangentes de geomorfologia,
geologia e pedologia, os quais serviram de base para o transecto de paisagem, produto
principal do presente estudo.

3.2.1 Geomorfologia

Baseado na folha Jaguaribe/Natal RADAMBRASIL (1981) e Diniz et al. (2016), foi


possível produzir o conjunto das formas de relevo. Os dois autores seguem a mesma
orientação metodológica de compartimentação geomorfológica de ordem de táxons
geomorfológicos apresentados por Ross (1992), a principal metodologia de mapeamento
empregada no Brasil.
A partir da análise, montagem e organização do perfil geomorfológico, foi possível
montar a representação para as morfoesculturas (figura 22):

Figura 22 - Perfil Geomorfológico da BR- 304.

Fonte: baseado em RADAMBRASIL (1981) e Diniz et al. (2016).

Seguindo o trajeto Leste-Oeste a partir de Natal, na primeira faixa do percurso,


passa-se pelos Tabuleiros Costeiros, na subunidade de tabuleiros costeiros dissecados.
Esse compartimento é resultado direto do evento de separação continental da Gondwana,
separação Brasil-África (MATOS, 2000). A representação das formas é mais suavizada,
com curvas de relevo mais arredondadas e por vezes retas quando comparadas a outras
morfoestrulturas. A morfologia dos canais fluviais é visualizada na figura 23.
39

Figura 23 - Localização das redes hidrográficas de Tabuleiros Costeiros.

Fonte: CNES/airbus (2018), INPE (2018) e RADAMBRASIL (1981).

Observa-se, na figura 23, dois rios que cortam a BR-304, o Rio Pitimbu, que cruza
BR duas vezes a partir de seu meandro, e o Jundiaí, localizado na zona urbana de Macaíba.
É possível verificar que o Rio Jundiaí apresenta um entalhamento do seu talvegue maior
do que o rio Pitimbu.
Merece destaque, a suave transição entre os compartimentos Tabuleiros Costeiros
(rochas sedimentares) e Depressão Sertaneja (rochas ígneas e metamórficas),
considerando que são duas áreas com litologias distintas não há uma depressão entre as
duas unidades, como é amplamente destacado na teoria geomorfológica.
Continuando o percurso, perto do quilômetro 228 da representação, começa a
Depressão Sertaneja, primeira das duas áreas do transecto, fazendo parte da subunidade
de depressão interplanática oriental (DINIZ et al, 2016). Sua formação está relacionada a
diversos ciclos de aplainamento, especialmente após a deriva continental Gondwana no
Cretáceo, resultando em uma área mais aplainada, pontuada por iselbergues e
afloramentos mais resistentes aos processos erosivos. A variação altimétrica do percurso
40

é de 50 metros de altura e se dá de forma suavizada e gradual de leste para oeste, com


um aspecto morfológico convexo, caracterizando relevos suave ondulados (figura 24).

Figura 24- Localização das redes hidrográficas da Depressão Sertaneja.

Fonte: CNES/airbus (2018), INPE (2018) e RADAMBRASIL (1981).

É possível ver, ainda a partir da figura 24, que o início da unidade, da perspectiva
Natal-Mossoró, existe uma elevação em forma convexa que está contraria a subida de
quase toda a morfoescultura, sendo seu fim é marcado por uma descida mais abrupta
quando comparado no seu término no Rio Potengi. Após o rio, o percurso se eleva suave
e gradativamente entre os municípios de São Pedro e Santa Maria. No trecho entre Santa
Maria e Riachuelo é possível identificar formas côncavas, que separam estruturas convexas
com poucas ondulações. Seu final é marcado por uma elevação de aproximadamente 160
metros que se conectará abruptamente com a Unidade Morfoescultural do Planalto da
Borborema.
Perto do quilômetro 180, do transecto, a paisagem modifica abruptamente na
transição entre a Depressão Sertaneja e o Planalto da Borborema. Formada por atividades
magmáticas intraplaca que ocorreram na separação da Gondwana, e um “bombeamento”
regional ocorrido no cretáceo tem delimitadores as isolinhas que marcam 200 metros de
altitude na topografia (CORRÊA et al, 2010). A sua separação em relação a Depressão
41

Sertaneja tem a diferença de 80 metros de altitude em menos de 5 quilômetros de extensão,


onde é possível ver formas estruturais mais aguçadas (Figura 25).

Figura 25 - Localização das redes hidrográficas do Planalto da Borborema.

Fonte: CNES/airbus (2018), INPE (2018) e RADAMBRASIL (1981).

A configuração do relevo revela as interações com rede a hidrográfica, onde as


formas mais aguçadas representam pequenas “cristas” que controlam as orientações da
drenagem. Essa é a unidade que possui o pico de cota altimétrica, com 241 metros de
altitude, presente um pouco depois do afluente do rio Quinguimproá, sua representação em
perfil foi suavizada, visto que a leitura, em função do exagero vertical, ficaria destorcida
nessa escala, aparentando não ser mais alto que o entorno. Quando equiparado e
analisado todo percurso (figura 22), ver-se, com clareza, a diferenças altimétricas e de
formas, revelando ser uma estrutura única.
Após essa singular unidade, tem-se a Depressão Sertaneja. Essa segunda parte
pertence a subunidade da Depressão Interplanática do rio Piranhas-Açu (DINIZ et al, 2016).
Sua formação se deu da mesma forma que a oriental, porém tem a influência da bacia do
rio Piranhas-Açu, quando relacionado a deposições aluvionares, advindas do alto curso do
42

rio e nas formas de relevo lá presentes, sendo adiante melhor observado nas unidades
morfológicas propostas pelo RADAMBRASIL (1981).
Observa-se na figura 28, a descida gradual de leste para oeste na unidade de
maneira suavizada até os leitos do rio Piranhas-Açu, tendo nesse percurso uma amplitude
de aproximadamente 190 metros de altitude. O rio, que perpassa de maneira perpendicular
no transecto, possui um grande tamanho, profundidade e comprimento entre as bordas dos
leitos, e com ele uma grande deposição de sedimentos de aluvião. Essa deposição pode
ser percebida principalmente na esquerda, pela forma convexa e de altimetria considerável.
Após o leito do rio Piranhas-Açu, observa-se uma elevação mais forte e em curta distância.

Figura 26 - Localização das redes hidrográficas do segundo curso da Depressão Sertaneja.

Fonte: LandSat/Copernicus (2018), INPE (2018) e RADAMBRASIL (1981).

Após a ligeira elevação oriunda de deposições dos terraços aluvionares, recomeça


a unidade de Tabuleiros Costeiros, mas descrito, segundo Diniz et al. (2016), como a
subunidade de Tabuleiros Costeiros (interiores). Analisa-se, a partir da Figura 27, outro
morro de forma convexa, entre o riacho do palheiro e o rio Upanema, esse, influenciado
geologicamente e geomorfologicamente pelos agrupamentos de rochas carbonáticas e
deposições dos dois rios em seus extremos.
43

Figura 27 - Localização das redes hidrográficas de Tabuleiros Costeiros (Interiores).

Fonte: LandSat/Copernicus (2018), INPE (2018) e RADAMBRASIL (1981).

Como nos Tabuleiros Costeiros, essa subunidade também não possui formas
aguçadas, apenas formas convexas e côncavas das planícies fluviais. A unidade acaba em
Mossoró, um pouco antes da área urbana, mais necessariamente metros após o rio
Upanema, caracterizando o final do percurso.
Visto as unidades morfoesculturas segundo a nomenclatura de Diniz et al. (2016),
que abrangem o segundo táxon, o de unidades morfoesculturais (ROSS, 1992), utilizado
para áreas que possuem escalas com um pequeno nível de detalhes. Adentra-se agora a
formas de relevo (PRATES,1981), segundo o quarto táxon. As apresentações das formas
segundo o RADAMBRASIL servem para dar um detalhe quanto as formas presentes em
todo percurso, que possuem particularidades importantes de se observar. Elas estão
inseridas e separadas segundo as unidades morfoesculturais, possuindo uma escala de
detalhes mais intensa, dividindo o transecto em cinco perfis.
O primeiro perfil, nos Tabuleiros Costeiros (figura 28), é possível analisar quatro
formas de relevo: correspondente a áreas de dunas fixas (Adf), que são ocasionadas por
conta do transporte de sedimentos em sistemas fluviais e por ações eólicas, sendo fixadas
por conta das suas idades de sedimentação, que possibilitou o crescimento de vegetação
44

na sua superfície, impedindo que ela se movimente e atividades de compactação natural


e/ou antropogênica, dando formas convexas a essas formações. Após ela, outra forma
aparece, presente em várias partes de todo percurso, que é a Área de planície fluvial (Apf),
organizada em forma de vale esquematizadas em "U" ou em "V", e preenchida por
deposições de aluvião. Caracterizam áreas com redes hidrográficas que passam pelo
transecto, apresentando formas côncavas profundas ou suavizadas, essas dependentes
das forças que as redes hidrográficas exercem (IBGE, 2009). Disso, vem a t51, referente a
forma tabular com I.A.D. muito fraca e O.G.F.D. entre 3.750m e 12.750. São formas de topo
plano, costumeiramente separados pelos vales de planícies fluvio-marinhas. Ela é
caracterizada como uma forma de dissecação, ou seja, que constantemente é erodida ao
ponto da sua morfologia resultar dela. E a última, t52, que parece com a anterior citada,
com a diferença em seu I.A.D. que é fraco, ou seja, tem um pouco mais de aprofundamento
da drenagem.

Figura 28 - Formas de relevo associados a Tabuleiros Costeiros.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018), RADAMBRASIL (1981).

Após os Tabuleiros Costeiros, passa-se pela Depressão Sertaneja (figura 29), que
possui três formas geomorfológicas, sendo uma (t51) já presente na outra unidade, que
são: Superfície Pediplana (Ep), relacionado a superfície com alto grau de pediplanação em
cima do transecto e em seu entorno. Trata-se de rochas que sofreram processos erosivos
de aplainamento, possuindo uma superfície próxima a plana, mas com grupos litológicos
aflorados ou próximos da superfície, tratando-se de uma forma erosiva. Depois dela a forma
c11, sendo uma forma de dissecação convexa, separados em vales em "V", com o I.A.D.
muito fraco, ou seja, os canais de drenagem não se aprofundam muito, e possui a O.G.F.D.
com menos de 250 metros, caracterizando uma forma de curta distância.
45

Figura 29- Formas de relevo associados a Depressão Sertaneja.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018), RADAMBRASIL (1981).

Seguindo o percurso leste-oeste, passa-se pela terceira unidade morfoescultural, a


do Planalto da Borborema (figura 30), que possui quatro formas, sendo uma já apresentada,
que é a Apf, as outras formas são: a c12, forma de dissecação convexa, com I.A.D. fraca e
O.G.F.D. com menos de 250m. A a23, sendo a primeira forma de dissecação aguçada
presente, estando no ponto mais alto de todo o percurso, ela possui essa descrição por ter
topos em forma de crista e ser separados por vales em "V", possuindo I.A.D. mediana e o
O.G.F.D. entre 250m e 7.500m. A última é a t41. Forma dissecada tabular, que possui I.A.D.
muito fraca e O.G.F.D. entre 1.750m e 3.500m.

Figura 30 - Formas de relevo associados ao Planalto da Borborema.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018), CORREIA et al (2010).
46

Em continuidade, no segundo percurso da Depressão Sertaneja (figura 31), é vista


três formas, sendo duas já apresentadas anteriormente, que são a t41, iniciada no final do
perfil da unidade do Planalto da Borborema e dando continuidade até 2/3 do segundo curso
da Depressão Sertaneja e a c11, presente no final. A unidade inédita é a Aptf,
representando a área de planície e terraço aluvial, caracterizado por uma extensa área
plana resultante de cordões arenosos e meandros abandonados (IBGE 2009).

Figura 31 - Formas de relevo associados ao segundo curso da Depressão Sertaneja.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018), RADAMBRASIL (1981).

Então, chega-se a última unidade, a segunda parte dos Tabuleiros Costeiros


(interiores) (figura 32). Essa, por sua vez possui três formas, sendo duas já apresentadas,
a Apf, presente, como nas outras em vales, e a Ep, presente em boa parte da
representação, participando dos processos de aplainamento dos grupos litológicos
presentes. A forma inédita é a t31, sendo uma forma de dissecação tabular de I.A.D. muito
fraca e a O.G.F.D entre 750m e 1.750m. Essa forma está presente entre a primeira Apf,
referente ao Riacho do Palheiro, podendo por análise, ser oriundo de depósitos de aluvião.
47

Figura 32 - Formas de relevo associados a Tabuleiros Costeiros Interiores.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018), RADAMBRASIL (1981).

As duas escalas de representação geomorfológica possuem um encaixe preciso


quanto a pequenas formas e grandes unidades morfológicas, percebe-se que esse tipo de
estruturação auxilia e ilustra o que é representado em mapas e cartogramas. Observa-se,
claramente, o nuance estrutural de cada unidade e forma, sua singularidade serve como
um delimitador delas.
Relacionado a delimitação, houveram mudanças que diferem das feitas e expostas
em literatura. A técnica de altimetria proposto por Correa et al. (2010) é uma das maneiras
que mostram resultados diferentes, ela mostrou que a unidade morfoestrutural do Planalto
da Borborema se estende mais que o proposto, obtendo 47 km de toda a área de estudo,
enquanto na delimitação segundo o RADAMBRASIL é de 7,5 km, dando uma amplitude de
quase 40 km, uma distância considerável para a escala.
As formas do quarto táxon se encaixam visualmente, percebe-se que cada unidade
possui sua particularidade, bem como suas divisões são claras e coesas. Por mais que seja
uma representação, os dados expostos mostram uma realidade mais simplificada e rica de
informações.

3.2.2 Pedologia

A representação pedológica seguiu a mesma divisão morfoestrutural do quarto


táxon, mas sendo aplicado uma camada de tipos de solos em linhas. Não foi necessária
fazer um perfil geral de solos, uma vez que eles representam a mesma informação e
48

detalhes. Disso, foi possível obter cinco perfis que possuem, no total, doze tipos distintos
de solo, segundo a classificação do SIBCS, organizado pela EMBRAPA (2006).
O primeiro perfil, adentrado aos tabuleiros costeiros (figura 33), possui dois tipos de
solos. O LAd, LATOSSOLO AMARELO distrófico, presente no início do percurso e no final.
Esses solos, segundo EMBRAPA (2006) e IBGE (2007), possuem alto grau de
intemperização, e associado a isso, grande profundidade (mais de um metro) e baixa
fertilidade. Abaixo da camada arável, caracteriza-se por um solo distrófico, com baixo
potencial de nutrição, porém com uma saturação de alumínio não tão alta. Apesar do
grande adensamento urbano presente nele, entre natal e Parnamirim, o solo pode ser
aproveitado para a realização de culturas de fruticultura irrigada e plantio de cana-de-
açúcar, quando utilizado métodos de correção e equilíbrio nutricional. O segundo solo
presente é o PAd, ARGISSOLO AMARELO distrófico, presente dentro do município de
Macaíba, constituídos de material mineral, é caracterizado pela quantidade considerável da
fração argila, possuindo profundidades variadas que dependem exclusivamente dos grupos
litólicos abaixo e/ou da força e quantidade de transposição. Esse tipo de solo é aproveitado
para pequenas atividades agropastoris, utilizando da adubação parcelada (CPRM, 2005).
Em suas ordens (JACOMINE, 2009), apresenta a subordem de coloração amarela e
pertencente ao grande grupo distrófico.

Figura 33 - Representação de tipos de solos para a unidade de Tabuleiros Costeiros.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018) e EMBRAPA (2018).

Em continuidade, na segunda das cinco representações (figura 34), adentra-se a


Depressão Sertaneja, que possui quatro grupos de solos diferentes. O primeiro, LAd,
Latossolo Amarelo distrófico reaparece em um pequeno percurso antes da área urbana de
49

Ielmo Marinho, possui menos de cinco quilômetros e sua aplicação é a mesma do entorno.
O segundo, PAd, Argissolo Amarelo distrófico também reaparece, seguindo a linha de
continuidade da representação anterior (figura 33), possuindo, por lógica, a mesma
aplicabilidade de cunho agropecuário e econômico. Em sequência, onde se encontra a
planície fluvial do rio Potengi, existe a PVe, Argissolo Vermelho eutrófico, sua única
diferença para o PAd, é a coloração, e distrófico, possuindo uma produtividade maior,
considerada elevada. O quarto e último, é o SXe, Planossolo Háplico eutrófico, que está
presente desde o final da área do rio Potengi até o final do percurso. Se caracteriza por ser
mal drenado, com comumente alta concentração de argila responsável pela formação de
lençol d’água sobreposto (suspenso), de existência periódica e presença variável durante
o ano. (EMBRAPA, 2006).

Figura 34 - Representação de tipos de solos para a unidade da Depressão Sertaneja.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018) e EMBRAPA (2018).

A terceira representação está inserida na unidade morfoestrutural do Planalto da


Borborema (figura 35), possui três tipos de solos, sendo um já presente, que é o SXe,
abreviação que distingue o Planossolo Háplico eutrófico, presente em boa parte do
percurso. O segundo tipo de solo, é o RLe, Neossolo Litólico eutrófico, que são, segundo o
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006), são solos poucos
evoluídos e rasos, constituídos de material mineral, que possuem em média, 20 centímetros
de espessura. Estão em processos iniciais de erosão, sendo solos ricos em nutrientes. Sua
subordem, litólico, se refere a sua proximidade com a rocha matriz, e com fragmentos de
rochas com aproximadamente 2mm (grânulos, seixos, cascalhos, calhaus e matacões).
Segundo o relatório da de águas subterrâneas para Lajes (CPRM, 2005), município que
50

possui esse tipo de solo, quase não há atividades agropastoris, uma vez que os processos
de preparação do solo são caros e demandam maiores processos maquinizados, sem
contar a indisponibilidade hídrica periódica e sua pedregosidade e rochosidade. O terceiro
e último tipo de solo é o TCo, Luvissolo Crômico órtico, presente na área do município de
Lajes. São solos minerais não hidromórficos, de caráter médio a profundo (de 60cm a
120cm), imperfeitamente drenados, moderadamente ácidos e um pouco alcalinos. Seu uso
é pouco explorado, mas quando feito, é produzida pastagens locais, com pecuária
extensiva e cultivo de Palma forrageira para alimentação de gado e caprinos (CPRM, 2005).

Figura 35 - Representação de tipos de solos para a unidade do Planalto da Borborema.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018) e EMBRAPA (2018).

Na quarta representação (figura 36), perpassando pela unidade morfoescultural do


segundo curso da Depressão Sertaneja, que possui seis tipos diferentes de solos, sendo
dois já apresentados, o RLe - Neossolo Litólico eutrófico e o TCo - Luvissolo Crômico órtico,
que possuem as mesmas características anteriormente discutidas. Depois, tem-se o Sno –
Planossolo Nátrico órtico, similar ao Planossolo háplico eutrófico anteriormente discutido,
mas que apresentam horizonte plânico. O quarto é o Ryve, Neossolo Flúvico Ta Eutrófico,
que é um solo jovem e pouco desenvolvido, oriundo de sedimentos aluviais de caráter
flúvico que possuem coloração pálida. Seu grande grupo é o Ta eutrófico, que caracteriza
argila de atividade alta e saturação por base alta (EMBRAPA, 2006). Possui alta fertilidade
natural, e profundidade considerável e por conta disso, o solo é bastante proveitoso,
principalmente para agricultura de várzea, para carnaubais e pastagens com vegetação
forrageira nativa (CPRM, 2005). O próximo, quinto representante de solo é o PVe, Argissolo
Vermelho eutrófico, tipo que possui uma grande quantidade de argila e é utilizado
economicamente para retirada de material para olaria, principal atividade econômica em
51

Açu, cidade ao qual o solo passa. O último, presente no final da representação, é o LVAe,
Latossolo Vermelho-Amarelo eutrófico, possui alto grau de intemperização, grande
profundidade e baixa fertilidade.

Figura 36 - Representação de tipos de solos para a unidade do segundo curso da Depressão Sertaneja.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018) e EMBRAPA (2018).

A última representação (figura 37) está inserida nos Tabuleiros Costeiros (interiores),
possui cinco tipos diferentes de solo, sendo o LVAe – Latossolo Vermelho-Amarelo
eutrófico e PVe – Argilossolo Vermelho eutrófico que são a continuidade da representação
passada (figura 35). O próximo, dando continuidade ao percurso, é o CXve – Cambissolo
Háplico Ta eutrófico, que pode possuir variadas profundidades e drenagem variada (IBGE,
2007). Seu uso se dá para a fruticultura irrigada, sendo uma das atividades econômicas de
grande expressão do estado, bem como um novo aplicador de novas tecnologias na
agricultura do semiárido e na organização de produção agrícola, segundo Souza (2006, p.
4). Em continuidade o quarto solo presente é o MDo – Chernossolo Rêndzico órtico,
presente na metade do percurso, se caracteriza por ser de material mineral, de “alta
saturação de base” (EMBRAPA, 2006), comumente escuros, de bem a imperfeitamente
drenados. As atividades lá presentes também são voltadas a fruticultura irrigada. O último,
presente no leito do rio Upanema, é o VXo – Vertissolo Háplico órtico. Solos caracterizados
horizontes vérticos, associados a bacias sedimentares e hidrografia do entorno, contendo
granulometria do material fina e com altos teores de cálcio e magnésio. Seu uso se assimila
a atividades ribeirinhas, bem como em agricultura de várzea.
52

Figura 37 - Representação de tipos de solos para a unidade de Tabuleiros Costeiros Interiores.

Fonte: Elaborado pelo autor (2018). Baseado em INPE (2018) e EMBRAPA (2018).

A representação de solos expressa em perfis topográficos mostra uma variabilidade


interessante para os estudos geográficos, todo esse contexto pode apresentar, em
percurso, a importância que cada tipologia pedológica possui, bem como classificar e
caracterizar os melhores lugares para se praticar as mais variadas atividades de cunho
econômico, nos âmbitos agrário e urbano.

3.2.3 Geologia

A representação geológica finaliza o tripé físico-geográfico do transecto por meios


digitais. Nele foi possível encaixar e representar os dados disponíveis no relatório e mapa
de geologia e recursos minerais da CPRM (ANGELIM, 2007), de dados obtidos por
orientação direta e em campo, para direções de mergulho. Com isso, foi possível obter uma
representação que engloba todo trajeto. As estruturas litológicas e domínios geológicos do
transecto possui a escala de 1:500.000, mesma escala utilizada para a confecção do mapa
de recursos geológicos CPRM (ANGELIM, 2007). O trajeto possui 16 unidades geológicas,
inseridas em formações, grupos, suítes e depósitos, com variadas eras, períodos e idades.
Para um melhor entendimento do perfil (Figura 38), os resultados e discussões serão
apresentados segundo a legenda, sendo descrito cada unidade litoestatigráfica e suas
respectivas informações, respeitando a sua hierarquia.
53

Figura 38 - Representação Geológica

Fonte: Elaborado pelo autor (2018), baseado em ANGELIM (2007)


54

Seguindo a legenda, a partir dos depósitos aluvionares, pertencentes a Era


Cenozóica, no período Neógeno, com idades inferiores a 23 milhões de anos, notadamente
pertencentes ao Quaternário. Ocorrem “ao longo de vales dos principais rios que drenam o
estado” (ANGELIM, 2007), e por conta disso é constituída, em maioria, por sedimentos de
ordem arenosa e argilo-arenosas, que se depositaram e se acumularam costumeiramente
do médio para o baixo-curso do rio. Analisando a representação, ver-se ocorrência dessa
unidade em um local, aproximada a são Pedro, correspondente a zona de deposição
aluvionar do Rio Potengi.
Em continuidade, ainda presente na era cenozoica, período Neógeno e também
idade de menos de 23 milhões de anos, observa-se a unidade de depósitos colúvio-eluviais,
que possuem deposições conglomeráticas com seixos de quartzo predominantes, sendo
bons depósitos de areias quartzosas, que possuem, segundo Angelim (2007), uso mais
nobre que as areias dos depósitos aluvionares. Ocorre, na representação, no leito do Rio
Piranhas-Açu, próximo aos munícipios de Itajá e Açu.
Após ele o grupo Barreiras, que possui aproximadamente 23 milhões de anos,
pertencendo a era cenozoica e em um entre períodos do Neógeno e Paleógeno. Segundo
o GOMES (1981), são conglomerados de arenitos de natureza variegada que ocorrem em
grande parte do litoral brasileiro, cobrindo em média, 50km do continente, toda em forma
de tabuleiros. No transecto, é possível perceber que ela recobre o próximo grupo litológico,
pertencente a rocha do embasamento, possível de analisar uma angulação transversal em
relação aos eixos da representação. Ocorre, quase que em totalidade, do início de Natal
até o município de Ielmo Marinho, e depois em Açu, sendo um resquício tanto da Formação
Martins, como da Bacia Potiguar acima.
Ainda no Cenozoico, é possível observar a Unidade de Basalto do vulcanismo
Macau, ocorrendo como neck vulcânico do pico do Cabugi, estando presente no final do
Cenozóico, mas já no período Paleógeno, próximo aos 65,5 milhões de anos. Caracterizado
como vulcanismo que possui, segundo CPRM (ANGELIM, 2007) rochas alcalinas tipo
olivinas basalto, basanitos, ankaratritos e nefelinitos, podendo apresentar textura vesicular.
Compreende, na representação, de uma área muito pequena, quando relacionada com
outras unidades, uma vez que ele está localizado, ali, apenas na área do corpo vulcânico.
Saindo da Era Cenozóica, e adentrando ao Mesozóico, no período do cretáceo
superior, como idade próxima de 96 milhões de anos, encontra-se a Formação Jandaíra,
pertencente a bacia potiguar, caracterizada pelas rochas carbonáticas presentes em
totalidade, com calcários utilizados para os mais diversos usos.
55

A Formação Açu é recoberta pela Formação Jandaíra, sendo possível observar pela
representação esse cobrimento, suavizado por conta do poder litológico das duas unidades.
Também pertence ao Mesozoico, porém no período do Cretáceo Inferior, com idades de
aproximadamente 110 milhões de anos. A formação também pertence a bacia potiguar,
que é caracterizada, segundo Angelim (2007) apud Kreider e Andery (1949), por arenitos
finos e grossos sobre o embasamento. Possui o principal aquífero da Bacia que ela
pertence.
Após essa unidade, adentra-se no Neoproterozóico, no período Ediacarano, com a
Suíte Intrusiva Dona Inês, pertencente ao Magmatismo Sin a Pós-Orogênico Brasiliano do
Ediacarano, que possui aproximadamente um pouco mais que 542 milhões de anos. É
caracterizado, por rochas plutônicas em corpos isolados, controladas e associadas a zonas
de cisalhamento transcorrente e em algumas partes por zonas de cisalhamento extensional.
A unidade está fragmentada em três, a primeira após Riachuelo, no quilômetro 189 do
percurso, em Fernando Pedroza, e após Angicos, entre o quilômetro 100 e 90.
Um pouco mais antiga, mas ainda pertencendo ao Neoproterozóico, no período
Ediacarano, existe a Suíte Intrusiva Itaporanga, que também pertence a grande unidade
Magmatismo Sin a Pós-Orogênico ao Ediacarano, sendo caracterizado por um conjunto de
rochas graníticas, (ANGELIM, 2007), associadas a rochas máficas a intermediárias, com
abundantes fenocristais de feldspato potássio. A unidade é caracterizada como pertencente
ao domínio Morfoescultural do Planalto da Borborema, mostrada no perfil como início dela.
Também pertencente ao Neoproterozoico, no período Ediacarano, com idade um
pouco mais antiga e dentro do domínio Rio Piranhas-Seridó, no grupo Seridó, está a
Formação Seridó. Sua abrangência no transecto é uma das mais expressivas, contida na
metade do embasamento cristalino, na parte de Caiçara do Rio do Vento e no final, na
região do município de Angicos. Caracteriza-se por conter micaxistos fesdspáticos ou
aluminosos.
A última unidade presente no período Ediacarano, da Era Neoproteroizóica, é a
Formação Jucurutu, também pertencente ao domínio Rio Piranhas-Seridó, dentro do grupo
Seridó, com idade de deposição próxima de 630 milhões de anos. Caracterizado, segundo
CPRM (ANGELIM, 2007) por ocorrerem nos interiores das faixas dobradas, como camadas
estreitas e intrudidas por plútons graníticos. Constituída por principalmente biotita, epidoto,
anfibólio paragnaisses entre outros. Presente nela estão os principais depósitos de
Scheelita do estado, representando sua importante participação na economia em relação a
56

recursos naturais. Percebe-se sua ocorrência abaixo da zona urbana de Riachuelo e em


uma estreita faixa entre Angicos e Itajá.
Partindo para o Paleoproterozóico, no Período Orosiriano, na ordem de 2.050 a
1.800 milhões de anos, existe a unidade de Suíte Poço da Cruz, pertencente ao grande
domínio Rio Piranhas-Seridó, associadas a zonas de cisalhamento compressionais, que
possuem corpos tabulares com espessuras variáveis. Sua composição varia de quartzo
monzolítica a granítica (ANGELIM, 2007). Observa-se sua ocorrência em quatro pontos
distintos. Sendo a primeira próxima ao município de Caiçara do Rio do Vento, no quilômetro
160, a segunda um pouco antes de Fernando Pedroza, e após ele, em uma estreita faixa
no quilômetro 80.
Após ela, ainda na Era Paleoproterozóica, mas no período Riaciano, está o
Complexo Caicó, com datação de aproximadamente 2.050 milhões de anos. Segundo
Angelim apud Meunieur (1964) é uma sequência litológica que possui alto grau
metamórfico, que se constitui, em suma, por gnaisses e migatitos. Está presente em grande
quantidade no transecto, onde ela se evidencia duas vezes, a primeira após o município de
Lajes, no quilômetro 120 e próximo ao município de Itajá, no quilômetro 80. Um pouco mais
antiga, mas em Era e Período iguais, está o Complexo Caicó com unidades de
ortognaisses, com presença em três pontos distintos, mas próximos, entre o quilômetro 170
a 140.
Simultaneamente, em mesmas era, período e ano, o Complexo Santa Cruz,
adentrado ao domínio São José do Campestre. Ocorre em grande quantidade no Rio
Grande do Norte, porém em cima da representação é expressada por uma estreita faixa
após o município de Riachuelo, próximo ao quilômetro 180. Caracteriza-se pela variedade
de ortognaisses que as particularizam pelas feições ígneas parcialmente preservadas.
Complexo João Câmara caracteriza a última unidade presente na era
Paleoproterozóica e período Riaciano, com datação próxima aos 2.300 milhões de anos.
Pertence ao Domínio São José do Campestre. Caracteriza-se por ser uma unidade de
migmatitos com algumas ocorrências de gnaisses bandados. Observa-se sua ocorrência
entre os quilômetros 200 a 180.
Finalizando as unidades, está presente a unidade mais antiga do percurso, datada
em aproximadamente 3.400 a 3.200 milhões de anos, dentro do Mesoarqueano, o
Complexo Presidente Juscelino de Migmatitos, que faz parte do Domínio São José do
Campestre. Observa-se segundo CPRM (ANGELIM, 2007), intercalações de mármore,
57

formações ferríferas entre outras, caracteriza-se, por valores, as rochas como fonte crustal
arqueana retrabalhada. Percebe-se sua ocorrência do quilômetro 260 aos 200.
Dependendo do contexto, a representação geológica expressada em perfis
topográficos ilustra os atributos em duas dimensões a partir de um mapa geológico. A
ferramenta aplicada assim auxilia na confecção do trabsecto, e o transecto aplicado na via
mais movimentada (no contexto econômico e humano), enfatizando as principais unidades
litoestatigráficas.
Outro atributo passível de se analisar são os ângulos de mergulho das unidades, que
conforme o Apêndice 1, o perfil traçado consegue expressar todos os direcionamentos
segundo sugerido em literatura e orientação direta, facilitando as representações
geológicas.

3.3 A UNIÃO DO ESTUDO DA PAISAGEM COM AS TÉCNICAS DE GABINETE: UMA


FERRAMENTA DE OTIMIZAÇÃO DOS ESTUDOS GEOGRÁFICOS

Quanto mais facilitada e representativa uma técnica é, mais potencialmente utilizável


ela pode ser para os estudos geográficos, nesse contexto percebe-se que a união de
técnicas de campo e laboratório servem, em várias instâncias, para otimizar os trabalhos,
principalmente àqueles voltados ao viés geográfico.
A primeira contribuição significativa que o trabalho proporcionou, foram os métodos
didáticos que a metodologia de transectos pode trazer. O estudo geográfico principalmente
o físico é mais explanado e mais compreendido. A atividade de campo integrada com o
perfil gera supoerte indispensável na construção de transecto.
Do ponto de vista socioeconômico, esse trabalho explicita a importância dos atributos
pedológicos, geológicos e geomorfológicos a economia, ocupação humana e do solo, a
construção civil, a projetos ambientais, com a análise do espaço que podendo viabilizar ou
não determinados projetos, voltados a rodovias, agronomia, pecuária, loteamentos, gestões
de governos e prefeituras, entre outros.
É possível retirar novas informações e delimitações com o trabalho, que vão de
encontro com trabalhos anteriores. Um exemplo claro é a de redefinição da unidade
morfoescultural da Serra da Borborema, que teve uma nova delimitação de acordo com o
método de isolinhas que marcam cotas de aproximadamente 200 metros (CORREA et al,
2010), de acordo com as unidades de cisalhamento como consta na figura 39:
58

.
Figura 39 - Demonstração da revisão da Borborema segundo Zonas de Cisalhamento

Fonte: Elaborado pelo autor (2018), baseado em CPRM (2007), INPE (2018).

4 CONCLUSÃO

A união de duas ferramentas metodológicas para estudo do meio físico, mostrou ser
primordial para estudos geográficos, sendo que seus resultados podem ser aplicados em
diversas áreas, com contribuições tanto para o meio físico como para as ocupações
humanas e suas atividades.
Cada capítulo foi pensado para facilitar a leitura da paisagem e promover uma
compreensão mais detalhada sobre o uso de dados já existentes e a interpretação em
campo. O primeiro capítulo revela informações sobre o que se busca, e sobre a área de
estudo. O segundo procurou fazer uma explicação exaustivamente detalhada da
metodologia aplicada, particularizando a condução das análises, separando resultados e
discussões em dois pilares, um voltado a análise de campo, e outro referente ao trabalho
de laboratório. O terceiro capítulo inicia os dois eixos, onde no primeiro é possível observar
a análise de paisagem e uma montagem didática através de linhas que separam as
59

unidades e fazem uma nova compreensão do estudo de campo. O segundo eixo é iniciado
com a apresentação de resultados voltados a perfis topográficos, encaixando neles, os
atributos do tripé Geomorfológico-pedológico-geológico, expressando primeiramente uma
aplicação física geográfica de cada atributo analisável, e depois sobre as informações
atuais. Após isso, viu-se importante analisa-los juntos, de forma a concluir toda discussão
presente.
Os perfis permitiram expressar o resultado da abordagem metodologia,
apresentando, em variadas escalas, informações e processos da paisagem nos contextos
geomorfológico, geológico e pedológico. Percebe-se claramente as diferenças que cada
unidade apresenta em termos de formas e estrutura.
Os mapas-bases são importantes para uma análise, especialmente na
transformação de informações apresentadas em planta para informações apresentadas em
perfil, tipos de formas e processos.
Apesar dos resultados atingidos, dificuldades relacionadas a escalas de
representação das informações adicionam certas imprecisões, principalmente àquelas
voltadas a pedologia. Quando se faz a integração de campo com as técnicas de laboratório,
observa-se divergência de resultados, onde um não necessariamente contempla o outro, e
a forma de se resolver, pelo menos em parte, seria novos levantamentos de campo, com
coletas e processamento de amostras, gerando novos produtos com maior precisão.
Por fim, espera-se que essa produção possa contribuir para a sociedade e para a
ciência geográfica, a primeira associada a novas discussões sobre ordenamento do
território, aplicadas a gestão, a logística, e compreensão de potencial de uso e ocupação
do solo. A segunda para mostrar que a metodologia de perfis, que paulatinamente está
sendo abandonada pela ciência geográfica expressa resultados satisfatório que contribuem
diretamente para a geografia, principalmente como auxilio de campo, assim como mapas e
cartogramas.
60

REFERÊNCIAS

ANGELIM, L. A. A. Geologia e recursos minerais do Estado do Rio Grande do Norte. Recife:


CPRM, 2007. 233 p.

BERTRAND, G. Paysage et géographie physique globales: esquisse methodologique.


Révue de Géographie des Pyrenées et Sud-Ouest. Toulouse, v.39, p.249-72, 1968.

BROWER, J.E.; ZAR, J.H.; 1984. Field & laboratory methods for general ecology. 2ed.
Wm. C. Brown Publishers, Dubuque, Iowa, 226p.

CORRÊA, A. C. B.; TAVARES; B. A. C.; MONTEIRO, K. A.; CAVALCANTI, L. C. S.; LIRA;


D. R. Megageomorfologia e morfoestrutura do Planalto da Borborema. Revista do Instituto
Geológico, São Paulo, 2010.

CPRM, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Projeto cadastro de fontes de


abastecimento por água subterrânea: Diagnóstico do município de Macaíba, estado do Rio
Grande do Norte. Recife: 2005. 25 p.

________, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais. Projeto cadastro de fontes de


abastecimento por água subterrânea: Diagnóstico do município de São Pedro, estado do
Rio Grande do Norte. Recife: 2005. 20 p.

DINIZ, et al. Mapeamento Geomorfológico do Rio Grande do Norte. Revista Brasileira de


Geomorfologia v. 18 nº4, 2016, 13 p.

EMBRAPA. Empresa de pesquisas Agropecuárias. Súmula da X reunião técnica de


levantamentos de solos. – Rio de Janeiro. 1979.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. Sistema brasileiro de


classificação de solos. 2. ed. – Rio de Janeiro: EMBRAPA-SPI, 2006.

GOMES, J. R. C, et al. Geologia: Mapeamento Regional. In: PROJETO RADAMBRASIL


SB. 24/25 JAGUARIBE/NATAL, 1981, 275 p.

IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de geologia. Rio de


Janeiro: 1998. 302 p. Disponível em: <
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv7919.pdf>. Acesso em 14 de maio de
2018.

________, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de pedologia. 2º


edição. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. 316 p. Disponível em: <
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv37318.pdf>. Acesso em 14 de maio de
2018.
61

________, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Manual técnico de geomorfologia.


2º edição. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 175 p. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv66620.pdf>. Acesso em 14 de maio de
2018.

________, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico de 2010. Rio


de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: <https://censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em: 13
de maio de 2018.

INPE, Instituto Brasileiro de pesquisas espaciais. Banco de dados Geomorfométricos do


Brasil. São José dos Campos, 2011. Disponível em <http://www.dsr.inpe.br/topodata/>.
Acesso em: 12 de junho de 2018.

JACOMINE, P. K. T. A Nova Classificação Brasileira de Solos. Anais da Academia


Pernambucana de Ciência Agronômica, Recife, 161-179, 2009.

KREIDLER, W. L.; ANDERY, P. A. Mapa geológico da área sedimentar costeira do estado


do Rio Grande do Norte e parte do Ceará. Rio de Janeiro: Conselho Nacional do
Petróleo,1949. p. 86-90.

LANDSAT/COPERNICUS. Banco de dados de imagens LandSat e copernicus. Serco e


GAEL system, União Europeia, 2018. Disponível em:
<https://scihub.copernicus.eu/dhus/#/home> Acesso em: 20 de julho de 2018.

MATOS, R. M. D. Tectonic evolution of the equatorial south atlantic. In: MOHRIAK, W. U.;
TALWANI, M. (Eds.). AtlanticRift in Continental Margins. Washington, DC: American
Geophysical Union, 2000.

MEUNIER, A. R. Sucession stratigraphique et panages lateraux dus an metamorphisme


dans la Série Ceará, antecambrien du Nord- Est Brésilien. Acad. Sc. Paris. C. R., Paris,
v.2599, p.3796-799, 1964.

PRATES, M.; GATTO, L. C. S.; COSTA, M. I. P. C. Geomorfologia: Descrição e


mapeamento regional. In: PROJETO RADAMBRASIL SB. 24/25 JAGUARIBE/NATAL.
1981.

PROJETO RADAMBRASIL. Rio de Janeiro: DNPM, 1981.

ROSS, J. L. S. O Registro Cartográfico dos Fatos Geomórficos e a Questão da Taxonomia


do Relevo. Revista do Departamento de Geografia, n. 6, FFLCH/USP, São Paulo, 1992.

________, J. L. S. Ecogeografia do Brasil: subsídios para planejamento ambiental. São


Paulo: Oficina de Textos, 2006. 208 p.
62

SOUZA, F. C. S. Análise da sustentabilidade da fruticultura irrigada no semiárido norte-rio-


grandense. XLIV congresso da sober. Fortaleza, 2006. p. 4. 2006.

TRICART, J Ecodinêmica. Rio de Janiero: IBGE/SUPREN, 1977. 91p.

VENTURI, L.A.B Geografia: Práticas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo:
SARANDI, 2010. p. 530.
63

Você também pode gostar