Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Santa Maria, RS
2022
Igor da Silva Knierin
Santa Maria, RS
2022
Knierin, Igor da Silva
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O ESTUDO INTEGRATIVO DO
RISCO DE INUNDAÇÕES: UMA APLICAÇÃO NOS MUNICÍPIOS DE
TAQUARA E PAROBÉ, RS/BRASIL / Igor da Silva Knierin.-
2022.
245 p.; 30 cm
________________________________________
Luís Eduardo de Souza Robaina, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
________________________________________
Romario Trentin, Dr. (UFSM)
________________________________________
Alexander Josef Sá Tobias da Costa, Dr. (UERJ)
________________________________________
Marcos Antônio Mattedi, Dr. (FURB)
________________________________________
Mariana Madruga de Brito, Dra. (UFZ)
Santa Maria, RS
2022
AGRADECIMENTOS
A presente tese aborda, como temática, o risco de inundação no baixo curso da bacia
hidrográfica do rio Paranhana nos municípios de Taquara e Parobé, localizados na Região
Metropolitana de Porto Alegre. No período entre 1975 e 2020, ocorreram 77 eventos de
inundação que ocasionaram danos e perdas aos sujeitos e seus ativos. No desenvolvimento
da pesquisa, evidenciaram-se dificuldades de disponibilidade de dados primários,
especialmente, quantitativos, que subsidiassem a análise da suscetibilidade, perigo e risco de
inundação. A partir desse contexto, o objetivo da pesquisa é desenvolver uma proposta
metodológica para o estudo integrativo do risco de inundação. Os procedimentos
metodológicos basearam-se em uma abordagem integrativa e participativa para análise
holística do risco. Os estudos iniciaram com o inventário de registro de eventos de inundação
para o período entre 1975 e 2020 e, com apoio dos técnicos das Defesas Civis Municipais e
da comunidade local, a partir da indicação das áreas de risco e entrevistas não estruturadas
durante a realização dos trabalhos de campo. Isso subsidiou a identificação das áreas
suscetíveis à inundação e, posteriormente, na validação da pesquisa. Para a análise das
áreas de perigo de inundação e vulnerabilidade, foi realizada a seleção de indicadores e
dimensões condicionantes. A análise e atribuição de pesos para as respectivas variáveis
foram estabelecidas com base na revisão da literatura, decisão multicritério com o Processo
Analítico Hierárquico e suporte do sistema de informação geográfica na integração de dados
quantitativos e qualitativos e definição de classes. De maneira abrangente e integrativa, a
análise conjunta do perigo e da vulnerabilidade resultaram na identificação das áreas de risco
e definição das classes de grau baixo, médio, alto e muito alto. Na área de estudo, os locais
suscetíveis à inundação abrangem aproximadamente 9,27 km² e estendem-se em 28 setores
censitários em Taquara e 16 em Parobé, de forma parcial ou integral. Nessas áreas, as
dinâmicas fluviais distinguem-se em processos de inundação do rio Paranhana, do arroio
Taquara e de afluentes do rio Paranhana. Dessa forma, as áreas de perigo, vulnerabilidade e
risco foram segmentadas em diferentes setores estabelecidos de acordo com as
características dos processos de inundação e as classes de perigo alto e muito alto,
vulnerabilidade baixa e alta e risco alto e muito alto foram as mais representativas. A
(re)produção do espaço na área de estudo é marcada pela instalação das ocupações junto
aos cursos d’água e, em muitos casos, por sujeitos com elevada vulnerabilidade. Isso
representa um processo de segregação residencial. Essa problemática retrata a falta de
planejamento e a desigualdade socioeconômica, originando, muitas vezes, uma cidade
informal. Diante disso, a pesquisa poderá ser utilizada pela administração pública no emprego
de práticas de gerenciamento de risco. Nas áreas de risco mais elevado, a colaboração de
múltiplos setores da sociedade é elementar para que o gerenciamento de risco atue na
prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação aos desastres.
The present thesis addresses, as a theme, the risk of flooding in the lower course of the
Paranhana river basin in the municipalities of Taquara and Parobé, located in the Metropolitan
Region of Porto Alegre. In the period between 1975 and 2020, 77 flood events occurred that
caused damage and losses to subjects and their assets. During the development of the
research, it became evident that there were difficulties in the availability of primary data,
especially quantitative data that could subsidize the analysis of susceptibility, hazard, and risk
of flooding. From this context, the objective of this research is to develop a methodological
proposal for the integrative study of flood risk. The methodological procedures were based on
an integrative and participatory approach for holistic risk analysis. The studies started with the
inventory of flood event records for the period between 1975 and 2020, with the support of
Municipal Civil Defense technicians and the local community, based on the indication of risk
areas and non-structured interviews during the fieldworks. This subsidized the identification of
the areas susceptible to flooding and, later, the validation of the research. For the analysis of
the flood hazard and vulnerability areas, indicators and conditioning dimensions were selected.
The analysis and attribution of weights for the respective variables were established based on
the literature review, multicriteria decision with the Analytic Hierarchy Process and geographic
information system support in the integration of quantitative and qualitative data and class
definition. In a comprehensive and integrative manner, the joint analysis of hazard and
vulnerability resulted in the identification of risk areas and the definition of low, medium, high,
and very high degree classes. In the study area, the sites susceptible to flooding cover
approximately 9.27 km² and extend over 28 census sectors in Taquara and 16 in Parobé, either
partially or fully. In these areas, the fluvial dynamics are distinguished in processes of flooding
of the Paranhana River, the Taquara stream and tributaries of the Paranhana River. Thus, the
areas of hazard, vulnerability and risk were segmented into different sectors established
according to the characteristics of the flooding processes, and the classes of high and very
high hazard, low and high vulnerability, and high and very high risk were the most
representative. The (re)production of space in the study area is marked by the installation of
occupations near water courses and, in many cases, by subjects with high vulnerability. This
represents a process of residential segregation. This problem portrays the lack of planning and
socioeconomic inequality, often giving rise to an informal city. In view of this, the research can
be used by the public administration to employ risk management practices. In areas of higher
risk, the collaboration of multiple sectors of society is elementary for risk management to act
in the prevention, mitigation, preparedness, response, and recovery to disasters.
dejetos no curso d’água (C), obra de construção do canal auxiliar para o arroio
Taquara em 1989 (D), área em que houve a construção de uma edificação sobre o
arroio Taquara (E), construção do novo canal auxiliar para o arroio Taquara em 2004
e 2005 (F e G), vistoria em segmento canalizado do arroio Taquara em 2010 (H) e
evento de inundação decorrente do arroio Taquara, na área central de Taquara em
fevereiro de 2019 (I) ............................................................................................... 130
Figura 27 – Gráfico da distribuição mensal das inundações em Taquara e Parobé entre
1975 e 2020 ............................................................................................................ 133
Figura 28 – Ruas da área central de Taquara durante o evento de inundação de
fevereiro de 1978 .................................................................................................... 134
Figura 29 – Áreas de perigo às inundações em Taquara e Parobé no baixo curso da
bacia hidrográfica do rio Paranhana ....................................................................... 139
Figura 30 – Planície de inundação e áreas de perigo do rio Paranhana e afluentes,
setor montante em Taquara .................................................................................... 142
Figura 31 – Áreas de perigo alto e muito alto de inundação afetadas por evento em
julho de 2020 na planície de inundação do rio Paranhana em Taquara (A, B), áreas
ribeirinhas de perigo muito alto em Taquara, identificadas durante trabalho de campo
em julho de 2019 (C), marca de inundação em edificação em Taquara e indicação do
limite médio das inundações na edificação (D) ....................................................... 143
Figura 32 – Planície de inundação e áreas de perigo do rio Paranhana e afluentes,
setor montante em Parobé ..................................................................................... 144
Figura 33 – Áreas de perigo alto e muito alto de inundação afetadas por evento em
julho de 2020 na planície de inundação do rio Paranhana em Parobé (A, B), áreas
ribeirinhas de perigo muito alto em Parobé identificadas durante trabalho de campo
em julho de 2019 (C), marca de inundação em edificação em Parobé e indicação do
limite médio das inundações na edificação (D) ....................................................... 145
Figura 34 – Planície de inundação e áreas de perigo do rio Paranhana, setor jusante
em Taquara e Parobé ............................................................................................. 146
Figura 35 – Planície de inundação e áreas de perigo no alto curso do arroio Taquara
................................................................................................................................ 147
Figura 36 – Segmento canalizado no alto curso do arroio Taquara na Escola Municipal
de Ensino Fundamental Rosa Elsa Mertins (A), segmento mais a jusante do arroio
Taquara (B)............................................................................................................. 148
Figura 37 – Planície de inundação e áreas de perigo no médio curso do arroio
Taquara, centro de Taquara ................................................................................... 149
Figura 38 – Áreas de perigo muito alto na área central de Taquara na esquina das
ruas Marechal Floriano com a Federação (A), rua Guilherme Lahm (B), segmentos
retificados do arroio Taquara situados a montante (C) e jusante (D) na área central,
rua Júlio de Castilhos e Rio Branco durante eventos que ocorreram em outubro de
1990 (E) e fevereiro de 2019 (F) ............................................................................. 150
Figura 39 – Planície de inundação e áreas de perigo de um afluente no médio curso
do arroio Taquara, área central de Taquara ........................................................... 151
Figura 40 – Rua Pinheiro Machado durante evento de inundação em fevereiro de 2003
(A) e sem evento de inundação (B) ........................................................................ 152
Figura 41 – Planície de inundação e áreas de perigo de afluente do rio Paranhana no
setor montante em Parobé ..................................................................................... 153
Figura 42 – Arroio Sanga Funda em área de perigo alto ........................................ 153
Figura 43 – Planície de inundação e áreas de perigo de afluente do rio Paranhana no
setor jusante em Parobé ......................................................................................... 154
Figura 44 – Arroio local próximo a edificação em área de perigo alto .................... 155
21
Figura 71 – Risco em área de afluente do arroio Taquara no médio curso, área central
de Taquara ............................................................................................................. 215
Figura 72 – Rua João Bayer durante evento de inundação em fevereiro de 2002 (A) e
Rua Pinheiro Machado durante evento de inundação em outubro de 2002 (B) ..... 216
Figura 73 – Risco na planície de inundação de afluente do rio Paranhana no setor
montante em Parobé .............................................................................................. 217
Figura 74 – Área de risco muito alto em segmento do arroio Santa Funda e estrada
Sanga Funda no setor montante em Parobé de afluente do rio Paranhana ........... 218
Figura 75 – Risco na planície de inundação de afluente do rio Paranhana no setor
jusante em Parobé .................................................................................................. 219
Figura 76 – Áreas de risco médio e baixo, respectivamente, em segmento de arroio
local (A) e rua Barão do Rio Branco (B) no setor jusante em Parobé de afluente do rio
Paranhana .............................................................................................................. 220
LISTA DE TABELAS
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 27
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................................... 33
2.1 BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARANHANA ........................................... 33
2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIOECONÔMICOS DE TAQUARA E
PAROBÉ ................................................................................................................... 40
3 REVISÃO DA LITERATURA ......................................................................... 45
3.1 DESASTRES: UMA CONSEQUÊNCIA DA (RE)PRODUÇÃO DO ESPAÇO . 45
3.2 PROCESSOS DE INUNDAÇÃO E FATORES CONDICIONANTES EM ÁREAS
URBANAS ................................................................................................................. 51
3.3 ÁREAS DE RISCO NO ESPAÇO URBANO................................................... 58
3.4 CONCEITUAÇÃO ASSOCIADA AO RISCO DE INUNDAÇÃO ...................... 61
3.5 METODOLOGIAS PARA ANÁLISE DE ÁREAS DE RISCO DE INUNDAÇÃO ..
....................................................................................................................... 67
3.6 GERENCIAMENTO DE RISCO DE INUNDAÇÃO ......................................... 79
4 METODOLOGIA ............................................................................................ 85
4.1 DADOS E CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ............................... 86
4.1.1 Instrumentos e ferramentas utilizados para o desenvolvimento da
pesquisa ................................................................................................................... 87
4.2 INVENTÁRIO DE REGISTRO DOS EVENTOS DE INUNDAÇÃO ................. 88
4.3 TRABALHOS DE CAMPO .............................................................................. 90
4.4 ANÁLISE DA SUSCETIBILIDADE DE INUNDAÇÃO ..................................... 92
4.5 FATORES CONDICIONANTES DO PERIGO E VULNERABILIDADE........... 96
4.5.1 Estado da arte e seleção de indicadores condicionantes do perigo e da
vulnerabilidade ........................................................................................................ 97
4.5.2 Fatores condicionantes do perigo........................................................... 98
4.5.3 Fatores condicionantes da vulnerabilidade ......................................... 101
4.5.3.1 Exposição ................................................................................................. 102
4.5.3.2 Vulnerabilidade socioeconômica ............................................................... 103
4.5.3.3 Vulnerabilidade física ................................................................................ 107
4.6 PONDERAÇÃO DOS PESOS DOS INDICADORES E DEFINIÇÃO DO
PERIGO E VULNERABILIDADE ............................................................................. 108
4.6.1 Ponderação dos pesos dos indicadores e definição do perigo.......... 112
4.6.2 Ponderação dos pesos dos indicadores e definição da vulnerabilidade
.................................................................................................................. 114
4.7 RISCO DE INUNDAÇÃO .............................................................................. 119
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................... 121
5.1 AS ÁREAS SUSCETÍVEIS À INUNDAÇÃO ................................................. 121
5.2 O ESPAÇO E A (RE)PRODUÇÃO DAS ÁREAS DE RISCO DE INUNDAÇÃO .
..................................................................................................................... 127
5.3 O INVENTÁRIO DE REGISTRO DOS EVENTOS DE INUNDAÇÃO ........... 131
5.4 AS ÁREAS DE PERIGO DE INUNDAÇÃO .................................................. 137
5.5 A VULNERABILIDADE EM ÁREAS DE PERIGO DE INUNDAÇÃO ............ 156
5.6 AS ÁREAS DE RISCO DE INUNDAÇÃO ..................................................... 191
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 223
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 227
1 INTRODUÇÃO
Figura 1 – Localização dos municípios de Taquara e Parobé e da bacia hidrográfica do rio Paranhana
inundação. Dessa forma, a tese defendida é de que é possível elaborar e aplicar uma
proposta metodológica que sistematize e organize dados provenientes de diferentes
fontes para o estudo do risco.
Neste sentido, o objetivo da pesquisa é desenvolver uma proposta
metodológica para o estudo integrativo do risco de inundação.
Como objetivos específicos, destacam-se:
- Desenvolver um banco de dados de registro de eventos de inundação.
- Identificar as áreas suscetíveis à inundação e determinar os fatores condicionantes
de perigo para ocorrência de inundação.
- Analisar a exposição e elementos socioeconômicos e físicos para determinar a
vulnerabilidade dos sujeitos e seus ativos nas áreas de perigo de inundação.
- Analisar o risco de inundação e estabelecer sua hierarquização em diferentes graus
com base no perigo de inundação e na vulnerabilidade.
O estudo apresenta um modelo de análise abrangente e integrativo, que se
baseou na identificação do perigo de inundação e na vulnerabilidade dos sujeitos e
seus ativos, em grande parte dos estudos, considera-se apenas um ou o outro. A
combinação das distintas variáveis fornece uma avaliação de risco holística que
combina informações qualitativas e quantitativas com auxílio do sistema de
informação geográfica.
Para abordar a lacuna de dados, esta pesquisa apresenta um amplo
levantamento e compilação de informações para produção do inventário de registro
de eventos de inundação que abrangeu o período de 1975 a 2020. Esse componente
foi essencial e auxiliou na delimitação das áreas de suscetibilidade e perigo de
inundação e, posteriormente, na validação da pesquisa.
Ademais, considerou-se a participação dos agentes públicos representados
pelos técnicos das Defesas Civis Municipais de Taquara e Parobé, que atuam na
tomada de decisão, assim como da comunidade local, na identificação das áreas de
risco de inundação durante a realização dos trabalhos de campo. Isso é importante
para aumentar a acurácia dos resultados e a chance de que eles sejam usados pelos
gestores públicos, pois eles foram parte envolvida e a sua opinião foi levada em
consideração, o que resulta em maior credibilidade à pesquisa, conforme é
corroborado nas investigações de Vojinović et al. (2014) e Ferreira, Albino e Freitas
(2017).
31
Figura 2 – Regiões hidrográficas do Rio Grande do Sul e localização da bacia hidrográfica do rio
Paranhana
Figura 4 – Rede fluvial da bacia hidrográfica do rio Paranhana e municípios localizados na área da
bacia hidrográfica
Figura 10 – Visão do espaço urbano de Taquara, na rua Júlio de Castilhos (A) e visão oblíqua do
espaço urbano de Parobé, Prefeitura Municipal de Parobé
Os desastres têm se tornado tema cada vez mais presente no cotidiano das
sociedades em diferentes regiões da superfície da Terra. Existe um aumento
considerável não apenas na frequência e na intensidade, mas também nos impactos
que ocasionam danos e prejuízos, especialmente, nas áreas de maior aglomeração
populacional (MARCELINO, NUNES e KOBIYAMA, 2006; UFSC, 2013; TOMINAGA,
2015b). Eles podem ser ocasionados por diferentes fenômenos como inundações,
movimentos de massa, secas, furacões, atividades vulcânicas, abalos sísmicos, entre
outros (KOBIYAMA et al., 2006; MARCELINO, NUNES, KOBIYAMA, 2006).
Entende-se por “desastre” as consequências de um evento adverso sobre um
ambiente vulnerável, que excede a capacidade de resposta do sistema social atingido.
Essas consequências são representadas por danos humanos, materiais e ambientais
e seus consequentes prejuízos socioeconômicos, patrimoniais e ambientais. Dessa
forma, o desastre não é o evento adverso em si (a inundação, por exemplo), mas os
efeitos nocivos provocados por esse evento no sistema atingido. Esses efeitos, por
sua vez, são diretamente proporcionais à vulnerabilidade e à exposição dos elementos
em risco em seus diversos aspectos: físico, ambiental, econômico, político,
organizacional, institucional, educativo e cultural (VARGAS, H., 2010; MIGUEZ,
GREGÓRIO e VERÓL, 2018).
Os termos catástrofe e desastre, muitas vezes, são considerados sinônimos,
no entanto, o primeiro corresponde a uma situação mais extrema. Quando ocorre,
significa que um desastre atingiu um patamar de perdas e danos que o sistema
atingido sofreu modificações em nível tão elevado que demanda intervenções
políticas, governamentais e mesmo internacionais para manter as condições
46
intrínsecas e salvar vidas humanas (ZUQUETTE, 2018a). Para Almeida (2011), o que
os diferencia é a escala ou a magnitude das consequências e, nesse caso, a catástrofe
possui dimensões mais amplas, podendo ser quantificada quanto às perdas humanas,
financeiras e ecológicas.
Benson e Clay (2003) definiram desastre como sendo a ocorrência de um
anormal e não frequente perigo que impacta comunidades ou áreas vulneráveis e que
ocasiona danos substanciais, alterando o estado de funcionalidade da comunidade
afetada. Segundo Zamparoni (2012), resulta da combinação entre as características
físicas do lugar, que refletem suas suscetibilidades e fragilidades associadas à
capacidade de resposta e recuperação da sociedade expressas por sua
vulnerabilidade e resiliência. Dessa forma, a terminologia “desastre natural” relaciona-
se à causa do desastre, neste caso, por eventos provenientes da natureza, em
contraposição a desastres humanos, em que as causas relacionam-se às ações ou
omissões humanas, ou ainda desastres mistos, quando as ações antrópicas
contribuem para agravar os desastres naturais (CASTRO, 1998; MIGUEZ,
GREGÓRIO e VERÓL, 2018).
O desastre também pode ser compreendido como um acontecimento ou, mais
especificamente, a concretização de um perigo, que é o resultado de processos
naturais da Terra ou que a afeta levando à perda de vidas humanas, ocorrência de
feridos ou ainda a perdas econômicas e ambientais. A materialização do desastre no
espaço pode ser expressa “quando os perigos se cruzam com a vulnerabilidade”
(SARAIVA, 2012, p. 21).
Para Nunes (2015), o risco de desastres tem sido agravado em razão das
práticas antrópicas que desconsideram as características físicas dos locais. Com isso,
eventos dessa natureza constituem ameaça ao desenvolvimento real, tendo em vista
que as perdas infligidas por eles podem comprometer esforços de décadas. Seus
indutores são de diversas naturezas, porém dois processos sociais contemporâneos
merecem destaque em razão de sua capacidade em alterar rapidamente o ambiente
natural: a urbanização e a globalização.
As consequências negativas de um desastre podem estar mais relacionadas
às formas como acontece a ocupação do espaço pela sociedade do que à magnitude
do fenômeno desencadeador (NUNES, 2015). Narváez, Lavell e Ortega (2009) e
Freitas et al. (2012) corroboram com essa ideia, ao argumentar que os desastres não
representam apenas fenômenos naturais, mas também as consequências de
47
processos sociais não sustentáveis, que proporcionam uma relação inadequada com
os ambientes naturais e construídos.
Nesse contexto, Alcántara-Ayala (2002) menciona dois fatores principais para
justificar o motivo pelo qual as consequências são mais expressivas quando ocorrem
em países em processo de desenvolvimento.
Classificação
Grupo Subgrupo
Terremoto
Emanação vulcânica
Geológico
Movimento de massa
Desastres naturais
Erosão
Inundações
Hidrológico Enxurradas
Alagamentos
Sistemas de grande escala/escala regional
Meteorológico Tempestades
Temperaturas extremas
Climatológico Seca
Epidemia
Biológico
Infestações/pragas
Desastres siderais com riscos radioativos
Desastres relacionados Desastres com substâncias e equipamentos
a substâncias radioativos de uso em pesquisas, indústrias e usinas
radioativas nucleares
Desastres relacionados com riscos de intensa poluição
ambiental provocada por resíduos radioativos
Desastres em plantas e distritos industriais, parques e
Desastres tecnológicos
Figura 11 – Gráfico da porcentagem do registro de afetados por tipo de desastres no Brasil entre
1991 e 2012
Figura 12 – Gráfico da porcentagem do número de mortos por tipo de desastres no Brasil entre 1991
e 2012
De acordo com Reis et al. (2012), as enxurradas são ocasionadas por chuvas
intensas e concentradas, em locais de relevo acidentado. Esses fatores são
responsáveis por predisporem súbitas e violentas elevações dos corpos hídricos que
passam a escoar de forma rápida e intensa.
Os alagamentos, por sua vez, são definidos como o acúmulo de água em
depressões naturais e antropogênicas (ruas, cavas, áreas escavadas), apresentam
curta ou longa duração de acordo com as condições de drenabilidade e do volume de
água acumulado (ZUQUETTE, 2018b).
Esse tipo de processo relaciona-se ao sistema de drenagem das áreas
urbanas, podendo ou não ter relação com processos de natureza fluvial. Em cidades
com rápida expansão urbana e deficiente planejamento urbano, são comuns, em
função do não acompanhamento das estruturas de drenagem e de esgotamento para
as águas pluviais (REIS, 2011; MIGUEZ, GREGÓRIO e VERÓL, 2018).
Integrados à definição conceitual dos diferentes processos de dinâmica fluvial
(enchente ou cheia, inundação, inundação brusca ou enxurrada e alagamento) é
possível elencar alguns fatores condicionantes para a deflagração deles em áreas
urbanizadas. Esses processos, muitas vezes, estão associados a situações de risco
de desastres em áreas urbanas, à medida que interagem com a sociedade e
ocasionam danos aos sujeitos, bens, estruturas, entre outros, afetados.
Entre os condicionantes naturais das inundações, Amaral e Ribeiro (2015)
destacam: a forma do modelado do relevo; as características da rede de drenagem; a
intensidade, quantidade, distribuição e frequência das chuvas; as características do
solo e o seu teor de umidade; e a presença ou ausência de cobertura vegetal.
Como condicionantes antrópicos para as inundações, os autores mencionam:
o uso e ocupação irregular nas planícies e margens de cursos de água; a disposição
irregular de lixo nas proximidades dos cursos d’água; as alterações nas características
da bacia hidrográfica e dos cursos d’água (vazão, retificação, canalização de cursos
d'água, impermeabilização dos solos etc.) e os processos de erosão dos solos e de
assoreamento dos cursos d’água (AMARAL e RIBEIRO, 2015).
Considerando o ciclo hidrológico, em uma bacia hidrográfica natural, o
escoamento natural tende a ser uma fração menor da precipitação, enquanto, em
bacias urbanizadas, essa fração passa a ser maior (MIGUEZ, GREGÓRIO e VERÓL,
2018), em razão da impermeabilização do terreno, através das edificações e da
pavimentação das vias de circulação (BOTELHO e SILVA, 2014).
56
f(R) = P x V (1)
danos. Como recursos de análise e tratamentos, podem ser utilizados modelos físicos,
árvore lógica de eventos, de decisão e de falha, métodos empíricos, probabilísticos,
análises multivariadas e redes neurais (ZUQUETTE, 2018a).
Estudos com esse tipo de abordagem são apresentados por Jamrussri e Toda
(2018), Afifi et al. (2019) e Abdrabo et al. (2020), em que são empregados modelos
hidrológicos para avaliação e definição do perigo. Esse tipo de análise possibilita
definir diferentes cenários para os eventos, com distintos tempos de retorno, mas é
necessária a disponibilidade de dados que, muitas vezes, não estão disponíveis para
todas as áreas de estudo, além disso, os modelos devem ser validados de modo que
representem, de forma satisfatória, a dinâmica do perigo. Exemplos disso são
verificados na área de estudo da presente pesquisa, com os estudos desenvolvidos
pela METROPLAN (2018) e Tucci (2019) em que os autores buscaram estipular o
perigo de inundação com base em modelos hidrológicos, todavia os resultados obtidos
apresentam diversas inconsistências, o que corrobora a necessidade de validação in
loco.
Com base no que foi exposto, entende-se que o método para análise do perigo
deve ser adotado de acordo com as características e disponibilidade de informações
da área de estudo. Dessa forma, deve-se dar prioridade a um método que melhor
possibilite representar a dinâmica do perigo. Embora análises quantitativas
apresentem menos subjetividade, em áreas que apresentam escassez de dados, sua
aplicação torna-se inviável ou sujeita a inconsistências com a realidade.
Para que o risco ocorra, é necessário que o perigo afete elementos expostos a
ele, nesse entendimento, a exposição representa o nível ao qual pessoas, indústrias,
edifícios, usos e todos os elementos (físicos e biológicos) estão sujeitos em uma área
com probabilidade de ser afetada por um perigo (ZUQUETTE, 2018a). Isso inclui
todos os elementos que estão expostos aos efeitos de um perigo, mas que não
necessariamente sejam vulneráveis (CARDONA, 1990; UNISDR, 2004, 2009).
Nessa análise, podem ser utilizadas diferentes variáveis, no estudo de
Fernandez, Mourato e Moreira (2016), os autores consideraram o uso da terra,
densidade populacional e densidade de edificações. Komi, Amisigo e Diekkrüger
(2016) adotaram, como critérios estruturais (número de unidades habitacionais e
casas com água potável encanada), a população (população residente total) e a
economia (Produto Interno Bruto local). Luu e Meding (2018) utilizaram categorias de
uso da terra, distância dos rios e densidade populacional. Conforme observado, as
64
índice único. Além disso, são consideradas tanto variáveis socioeconômicas, quanto
físicas.
De acordo com a discussão exposta, considera-se extremamente complexa a
análise do risco de inundação, sendo necessária a abordagem de diferentes aspectos
na área de estudo, como o perigo, os elementos expostos e a vulnerabilidade. O
sucesso nessa avaliação é condicionado às características in loco e de disponibilidade
de dados consistentes, em que a escolha do método empregado deve estar
centralizada no melhor resultado. A participação colaborativa, tanto dos sujeitos que
vivem nesses locais como dos agentes públicos empenhados na gestão do risco, pode
contribuir significativamente no sucesso da análise e posterior gerenciamento do risco.
Quadro 2 – Síntese de dados utilizados por diferentes autores para análise do perigo, vulnerabilidade e risco de inundação
(continua)
Autor/ano Indicadores na análise do perigo Indicadores na análise da Análise do Método Escala País
vulnerabilidade risco?
Kienberger, Sem análise do perigo Sensitividade: Sem análise AHP com Bacia Áustria
Lang e Zeil - Suscetibilidade; do risco base na hidrográfica
(2009) - Habitação/Edifícios; opinião de
- Suscetibilidade - Infraestrutura; especialistas
- Suscetibilidade - Ativos;
- Suscetibilidade - Cobertura da Terra;
- Suscetibilidade - População: distribuição
por idade;
- Suscetibilidade - População: meios de
subsistência).
Capacidade adaptativa:
- Resiliência - Força de trabalho em
setores da economia;
- Resiliência - Tamanho das
empresas/locais de trabalho;
- Resiliência - integridade do ecossistema;
- Resiliência - Acesso;
- Capacidade Social - Aviso Prévio;
- Capacidade Social - Origem da
população;
- Capacidade Social - Educação.
Sar, - Índice de vegetação por diferença - Uso e cobertura da terra; Sim AHP Bacia Índia
Chatterjee normalizada; - Distribuição da população; hidrográfica
e Adhikari - Índice de água por diferença - Densidade de assentamento.
(2015) normalizada;
- Índice de umidade da diferença
normalizada;
- Altitude;
- Lençol freático;
- Distância do curso d'água.
72
Quadro 2 – Síntese de dados utilizados por diferentes autores para análise do perigo, vulnerabilidade e risco de inundação
(continuação)
Autor/ano Indicadores na análise do perigo Indicadores na análise da Análise do Método Escala País
vulnerabilidade risco?
Fernandez, Sem análise do perigo - População (idade, gênero, número de Sem análise Multicritério Município Portugal
Mourato pessoas por família); do risco (GIS - MCDA)
e Moreira - Edifícios (ano de construção, o número
(2016) de pisos, o tipo de uso e a função dos
edifícios);
- Socioeconômico (nível educacional,
ocupação habitacional (senhorio/inquilino),
taxa de desemprego e taxa de
analfabetismo);
- Elementos expostos (uso da terra,
densidade populacional e densidade de
edificações).
Komi, Modelagem hidráulica (LISFLOOD-FP): Exposição: Sim AHP Comunidades Togo
Amisigo - Probabilidade (frequência de eventos nos - Estruturas (número de unidades rurais
e Diekkrüger últimos 30 anos; habitacionais; casas com água potável
(2016) - Probabilidade de eventos possíveis); encanada);
- Intensidade (intensidade do pior evento - População (população residente total);
dos últimos 30 anos e intensidade - Economia (Produto Interno Bruto local).
esperada de eventos possíveis). Vulnerabilidade:
- Física/demográfico (densidade
populacional; taxa de crescimento
populacional; casas em áreas de risco
(ravinas, margens de rios etc.); acesso a
serviços básicos);
Vulnerabilidade:
- Social (nível de pobreza; taxa de
alfabetização; atitude; descentralização;
participação da comunidade);
- Econômico (base de recursos locais;
diversificação; estabilidade;
acessibilidade);
- Ambiental (área coberta por floresta).
73
Quadro 2 – Síntese de dados utilizados por diferentes autores para análise do perigo, vulnerabilidade e risco de inundação
(continuação)
Autor/ano Indicadores na análise do perigo Indicadores na análise da Análise do Método Escala País
vulnerabilidade risco?
Komi, Modelagem hidráulica (LISFLOOD-FP): Capacidade e medidas: Sim AHP Comunidades Togo
Amisigo - Probabilidade (frequência de eventos - Planejamento físico e engenharia rurais
e Diekkrüger nos últimos 30 anos; (planejamento do uso da terra; estrutura
(2016) - Probabilidade de eventos possíveis); preventiva; gestão ambiental);
- Intensidade (intensidade do pior evento - Capacidade social/capacidade
dos últimos 30 anos e intensidade econômica (programas de conscientização
esperada de eventos possíveis). pública; currículos escolares; participação
pública; acesso a fundos de emergência
locais; acesso a fundos de emergência
internacionais; mercado de seguros);
- Capacidade institucional e de gestão
(comitê de gestão de risco; mapa de risco;
plano de emergência; sistema de alerta
precoce; capacitação institucional;
comunicação).
Luu e - Profundidade de inundação; Exposição: Sim AHP - WLC Regional - Vietnã
Meding - Duração da inundação. - Categorias de uso da terra; com base na Província
(2018) - Distância dos rios; opinião de
- Densidade populacional. especialistas
Vulnerabilidade:
- Taxa de pobreza;
- Densidade de estradas;
- Número de médicos e enfermeiras.
Jamrussri e Modelo hidrodinâmico: Vulnerabilidade Social: Sim Hierarquia Bacia Tailândia
Toda (2018) - Profundidade de inundação; - Censo populacional; Analítica hidrográfica
- Velocidade de inundação; - Densidade populacional; Fuzzy (AHP)
- Duração da inundação. - Idade; e lógica
- Censo de Habitação; Fuzzy
- Distância até a rodovia estadual;
- Uso da terra;
- Preço da Terra.
74
Quadro 2 – Síntese de dados utilizados por diferentes autores para análise do perigo, vulnerabilidade e risco de inundação
(conclusão)
Autor/ano Indicadores na análise do perigo Indicadores na análise da Análise do Método Escala País
vulnerabilidade risco?
Afifi et al. Modelo de Inundação: - DEM SimModelo de Município Taiwan
(2019) - DEM; - Distância do curso d’água; inundação e
- Uso da terra; - Distância do corpo de bombeiros AHP
- Profundidade da água; (instalações críticas);
- Perda de inundação. - Densidade populacional.
Abdrabo et al. Modelo de Inundação: - Uso da terra; Sim Modelo de Município Egito
(2020) - Coeficiente de rugosidade do rio; - Altura do edifício; inundação e
- Coeficiente de rugosidade da encosta; - Condições de construção; AHP
- Profundidade do solo; - Materiais de construção;
- Porosidade do solo; - População total;
- Condutividade hidráulica; - Densidade populacional;
- Sucção na frente de umedecimento - Valor da terra.
vertical;
- Porosidade do efeito de instauração.
Fonte: Adaptado de Kienberger, Lang e Zeil (2009), Sar, Chatterjee e Adhikari (2015), Fernandez, Mourato e Moreira (2016), Komi, Amisigo e Diekkrüger
(2016), Luu e Meding (2018), Jamrussri e Toda (2018), Afifi et al. (2019) e Abdrabo et al. (2020).
75
Fonte: Adaptado de Sayers et al. (2013, p. 3) e Miguez, Gregório e Veról (2018, p. 160).
Integrado a isso, no Brasil, a Lei nº. 12.608 de 2012 dispõe sobre o Sistema
Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC), o Conselho Nacional de Proteção e
Defesa Civil (CONPDEC) e institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil
(PNPDEC) (BRASIL, 2012a). Nesse contexto, as ações de gestão e gerenciamento
de risco podem ser estruturadas em cinco macroprocessos: prevenção, mitigação,
preparação, resposta e recuperação (Figura 16).
Na fase da normalidade, estão presentes as ações de prevenção, mitigação e
preparação, enquanto, na fase pós-desastre, destacam-se as ações de resposta e
recuperação. Cada macroprocesso, é constituído por atividades afins que estão
alinhadas com o propósito do processo e possuem forte grau de inter-relação,
desenvolvendo-se em fases concomitantes no decorrer no ciclo de desastre
(GREGÓRIO, 2013; GREGORIO, SAITO e SAUSEN, 2015; BRASIL, 2017).
82
Figura 18 – Espacialização dos pontos de controle coletados com o receptor GPS durante a
realização dos trabalhos de campo nos municípios de Taquara e Parobé
Figura 19 – Setores de risco alto e muito alto de inundação no município de Parobé elaborado pela
CPRM (2013)
Figura 20 – Área de Inundação com tempo de retorno de 100 anos no baixo curso do rio Paranhana
elaborada pela METROPLAN (2018)
Taquara e definiu manchas de inundação com tempo de retorno para 100 anos. Esse
estudo determinou um zoneamento de risco com base no cálculo de passagem da
cheia a partir do modelo hidráulico HEC-RAS.
O mapa da Figura 21 apresenta a mancha de inundação para área de estudo,
que contempla áreas para os municípios de Taquara e Parobé, em ambas as margens
do rio Paranhana e afluentes. Essa pesquisa apresentou áreas de intersecção com as
mapeadas nos estudos da CPRM (2013) e METROPLAN (2018). No entanto,
desconsiderou áreas suscetíveis à inundação relativa ao arroio Taquara, afluente do
rio Paranhana, no município de Taquara, que apresenta grande frequência de eventos
de inundação. Isso foi constatado a partir do inventário de registro de eventos de
inundação, informações da Defesa Civil Municipal e em trabalhos de campo. Também
se optou por utilizar a nomenclatura de zoneamento de risco de inundação ao invés
de área suscetível, uma vez que foi a nomenclatura empregada por Tucci (2019).
A área suscetível à inundação foi delimitada com base nos eventos
extraordinários de 1978 para área central de Taquara e de 1982 para a planície de
inundação do rio Paranhana até a planície de inundação do rio dos Sinos. Para isso,
foram interseccionados os planos de informações das três bases de dados
apresentadas (CPRM, 2013; METROPLAN, 2018; TUCCI, 2019) e, após isso, utilizou-
se o inventário de registro de eventos de inundação para identificar locais não
contemplados nos trabalhos apresentados.
Além disso, realizaram-se trabalhos de campo para corroborar as áreas já
delimitadas, retificar os limites onde havia inconsistências e determinar novas áreas
de inundação que não haviam sido constatadas. Nesses trabalhos de campo, houve
as participações de técnicos das Defesas Civis Municipais de Taquara e Parobé e
foram coletados pontos de controle com uso de GPS, registros fotográficos e
entrevistas não estruturadas com os sujeitos que residiam nas áreas com o propósito
de estabelecer o limite da área suscetível à inundação.
Em síntese, utilizou-se um método de análise qualitativo em razão das
informações e dados disponíveis para o desenvolvimento da pesquisa. Desse modo,
em vista a indisponibilidade de dados quantitativos, a análise qualitativa com emprego
de estudos prévios, inventário de registro de eventos de inundação e trabalhos de
campo com a participação colaborativa foram adequados em vista da escassez de
dados. Estudos com abordagens similares foram apresentados por Kormann,
96
Schirmer e Freitas (2013), Galvão (2014), Menezes (2014), Trentin e Dias (2014),
Saueressig e Robaina (2015), Freitas (2017) e Furlan (2019).
Figura 21 – Área de inundação com tempo de retorno de 100 anos no baixo curso do rio Paranhana
elaborado por Tucci (2019)
Por fim, o indicador dimensão do curso d’água foi analisado com base em
fatores que influenciam nas áreas afetadas pelas inundações e, dessa forma,
potencializam maior ou menor severidade ao evento de inundação. Para isso, atribuiu-
se, como critérios, a análise da dimensão do curso d’água e as características quanto
à severidade dos processos de inundação. Esse indicador é subjetivo, todavia
possibilita representar de modo satisfatório a área de estudo, sendo que avaliações
similares foram apresentadas nos estudos de Kormann, Schirmer e Freitas (2013),
Menezes (2014), Freitas (2017), Afifi et al. (2019) e Furlan (2019).
Com base nisso, foram identificadas duas dinâmicas fluviais distintas na área
de estudo que potencializam perigo: rio Paranhana e os afluentes do rio Paranhana.
Foi possível discriminar a dimensão dos processos de inundação em relação à
duração dos eventos (estimativa para horas, dias ou semanas) e aos impactos, como
vias de circulação interrompidas, atividades industriais, de comércio e prestação de
serviço afetadas e número de desabrigados. Visto que os corpos hídricos apresentam
características distintas quanto à intensidade e severidade dos eventos, atribuiu-se
uma nota para cada um, conforme descritas a seguir:
Afluentes do rio Paranhana: eventos de média duração (horas/dias), afetam
a circulação viária temporariamente (horas/dias), afetam atividades industriais, de
comércio e prestação de serviços. Considerou-se a nota 1 para eventos decorrentes
dos afluentes do rio Paranhana, porque apresentam menor severidade em relação à
dinâmica fluvial que ocorre nas áreas afetadas pelo rio Paranhana.
Rio Paranhana: eventos de maior duração (dias/semanas), afetam a
circulação viária por maior tempo (dias/semanas), afetam atividades industriais, de
comércio e prestação de serviços e apresentam pessoas desalojadas. A nota 2
atribuída para eventos decorrentes do rio Paranhana justifica-se em razão da maior
severidade identificada para os eventos de inundação que possuem, como agente de
perigo, o rio Paranhana.
Os dados desse indicador também foram agregados à tabela de atributos das
edificações. Neste sentido, identificou-se quais cursos d’água manifestavam a
situação de perigo para as edificações inseridas na sua área de influência. Nas
edificações em que as situações de perigo eram expressas tanto pelo rio Paranhana,
quanto pelos seus afluentes, considerou-se, como critério, a nota mais alta.
101
(continua)
Dimensão Indicador Dado utilizado Fonte
Exposição
Mapa de
Área suscetível suscetibilidade e Autor e IBGE (2010b)
setores censitários
102
Tipo de material da
edificação Trabalhos de campo Autor
Vulnerabilidade física
Adaptação contra
inundação Trabalhos de campo Autor
4.5.3.1 Exposição
Material reciclado 3
Adaptação na edificação Presente 1
contra inundação Ausente 2
Infraestrutura urbana Presente 1
Ausente ou precária 2
Fonte: Autor (2022).
𝐶𝐼
𝐶𝑅 = 𝑅𝐼 < 0,1 = 10% (2)
𝜆𝑚á𝑥 − 𝑛
𝐶𝐼 = (3)
𝑛−1
n 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
RI 0 0 0,58 0,9 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45 1,49
Fonte: Saaty (1991).
𝑥 −(𝑥 )
𝑦𝑖𝑛 = (𝑥 𝑖𝑛 )− (𝑥𝑖𝑛 (4)
𝑖𝑛 𝑖𝑛 )
socioeconômica
Vulnerabilidade
Tabela 7 – Matriz de comparação pareada e ponderações dos pesos dos indicadores do perigo de
inundação
disponíveis que podem sofrer variações de registros por parte dos periódicos de
circulação regional, sendo as áreas centrais dotadas de maior visibilidade em relação
às áreas periféricas.
Por fim, para o indicador dimensão do curso d’água, foi atribuído o peso de
10.473, sendo o de menor valor. A análise baseou-se nas observações in loco, assim
como no inventário de registro de eventos de inundação da área de estudo. Dessa
forma, também estabelecido com base em caráter subjetivo, por meio da análise das
características dos canais fluviais, assim como da dinâmica fluvial e consequências
dos processos de inundação (FREITAS, 2017; AFIFI et al., 2019; FURLAN, 2019).
A razão de consistência entre os indicadores de perigo foi de 0.037, sendo o
valor inferior a 10%, o que indica que os julgamentos foram considerados coerentes
(SAATY, 2005). Para estabelecer-se classes de perigo foram estipulados quatro
graus: perigo baixo (P1), perigo médio (P2), perigo alto (P3) e perigo muito alto (P4).
Essas classes foram definidas com base no método de quebras naturais na
distribuição dos dados da variável (Tabela 8), conforme Ferreira (2014) e Moreira,
Brito e Kobiyama (2021). O mapa de perigo foi validado a partir dos trabalhos de
campo na área de estudo e com base no inventário de registros de eventos de
inundação.
gerenciamento do risco com foco nas ações de resposta. Neste sentido, a dimensão
vulnerabilidade socioeconômica foi a que se atribuiu maior importância na análise,
com um peso de 55.907. A vulnerabilidade física foi a dimensão com o segundo maior
peso, com o valor de 35.219, e a exposição foi a dimensão com menor peso,
respectivamente, com o valor de 8.875.
A vulnerabilidade socioeconômica foi considerada com maior importância,
especialmente, em razão do indicador crianças e idosos, que, durante a necessidade
de evacuação em resposta a um evento, são grupos que podem demandar maior
atenção. Já para a vulnerabilidade física, atribuiu-se maior importância em relação à
exposição, uma vez que, embora determinados ativos estejam expostos a um perigo,
características físicas, como o tipo de material e adaptações contra inundação nas
edificações, podem atenuar de modo significativo o perigo no local, tornando a
exposição com menor relevância.
A razão de consistência para as dimensões da vulnerabilidade foi de 0.052,
enquanto, para as dimensões exposição, vulnerabilidade socioeconômica e
vulnerabilidade física foram, respectivamente, 0.062, 0 e 0.037. Neste sentido, os
julgamentos empregados nas análises foram considerados coerentes, visto que os
valores resultantes foram inferiores a 10% (SAATY, 2005).
Para dimensão exposição, a densidade demográfica foi o indicador com maior
peso, com o valor de 73.064. Isso se justifica, uma vez que a densidade demográfica
elevada em uma dada área representa que mais pessoas podem estar expostas ao
perigo, como também mais complexas tornam-se as ações de gerenciamento de risco,
em função da maior demanda por recursos necessários em uma situação de desastre
(GOERL, KOBIYAMA e PELLERIN, 2012; RAMOS, 2017; RAMOS et al., 2018).
A densidade de domicílios foi o indicador com o segundo maior peso, com o
valor de 18.839. A densidade de domicílios elevada pode ocasionar a
impermeabilização do solo e isso contribui na potencialização dos eventos de
inundação, como também pode representar a concentração maior de edificações
expostas ao perigo (OLIVEIRA et al., 2015; FERNANDEZ, MOURATO e MOREIRA,
2016; RAMOS et al., 2018).
A área suscetível, por sua vez, foi o indicador com menor peso, para o qual foi
atribuído o valor de 8.096. O indicador possibilita mensurar a área dentro do setor
censitário exposta às inundações, sendo que nem sempre toda a população de um
setor censitário encontra-se exposta ao perigo (RAMOS et al., 2018).
116
Vulnerabilidade 1 2 5 55.907
socioeconômica
demográfica
idosos
Percentual de
crianças e idosos 1 2 66.667
CR = 0
Indicador Tipo de material Adaptação na Infraestrutura Peso
da edificação edificação contra urbana
Vulnerabilidade física
inundação
Tipo de material 1 3 5 63.699
da edificação
Adaptação na
edificação contra 1/3 1 3 25.828
inundação
física menor. Como essa variável pode ser condicionada às características do tipo de
material da edificação, entendeu-se que sua importância é secundária em relação ao
indicador tipo de material da edificação.
Por fim, para o indicador infraestrutura urbana, foi atribuído o peso de 10.473,
isso se justifica porque os demais indicadores relacionam-se diretamente na condição
de enfrentamento diante da ocorrência de um evento de inundação. Contudo, a
disponibilidade ou não de condições de infraestrutura urbana, como vias asfaltadas
ou calçadas, acesso a saneamento básico e sistema de drenagem pluvial eficiente,
atribuem diferenças na vulnerabilidade. Neste sentido, condições como falta de
saneamento básico podem potencializar a disseminação de doenças, assim como um
sistema de drenagem pluvial deficitário potencializa que eventos como alagamentos
sejam mais frequentes e vias de acesso em condições ruins podem acarretar na
inviabilidade da circulação o que representa uma vulnerabilidade maior (AVILA, 2015;
PRINA, 2015; AIMON, 2017; FURLAN, 2019).
As classes de vulnerabilidade foram estipuladas em quatro graus:
vulnerabilidade baixa (V1), vulnerabilidade média (V2), vulnerabilidade alta (V3) e
vulnerabilidade muito alta (V4). Essas classes foram definidas a partir do método de
quebras naturais na distribuição dos dados da variável, o mesmo que foi utilizado na
análise do perigo (Tabela 10).
Para análise dos dados, foram definidos os valores médios dos indicadores de
vulnerabilidade com base na média aritmética em cada uma das classes de
vulnerabilidade. O mapa final de vulnerabilidade foi validado a partir dos trabalhos de
campo na área de estudo.
119
O risco de inundação foi determinado a partir dos dados obtidos para o perigo
e vulnerabilidade e apresentou, como resultado, a interação entre as duas variáveis.
A partir disso, foram hierarquizados graus de risco, considerando que quanto maior
apresentam-se os graus de perigo e de vulnerabilidade, maior é o grau de risco. Como
referência para isso, baseou-se nos estudos de Tominaga et al. (2015), Jamrussri e
Toda (2018), Afifi et al. (2019) e Abdrabo et al. (2020).
A partir dos planos de informações de perigo (mapa de perigo) e vulnerabilidade
(mapa de vulnerabilidade), os dados das duas variáveis foram cruzados em uma
matriz, conforme é exemplificado na Tabela 11.
431405005000036 84
431405005000037 53
431405005000038 100
431405005000039 27
431405005000058 31
431405005000066 100
431405005000075 74
431405005000076 94
431405005000077 40
432120405000001 36
432120405000002 46
432120405000003 77
432120405000004 18
432120405000005 37
432120405000006 26
432120405000007 24
432120405000016 28
432120405000017 39
432120405000018 1
432120405000023 12
432120405000024 38
432120405000025 5
Taquara
432120405000033 52
432120405000034 62
432120405000035 76
432120405000038 1
432120405000051 53
432120405000056 41
432120405000062 22
432120405000066 20
432120405000075 4
432120405000084 10
432120405000085 12
432120405000087 15
432120405000090 91
432120405000092 0,3
432120405000096 71
Fonte: Autor (2022).
124
Fonte: Fotografia A obtida em trabalho de campo, abril de 2019; fotografia B adaptada de Rede Mais
de Comunicação (2020). Autor (2022).
125
Figura 24 – Segmentos montante (A) e jusante (B) do arroio Taquara, arroio Müller (C), arroio local
em Taquara (D), arroio Sanga Funda (E) e arroio local em Parobé (F)
Figura 25 – Expansão das áreas urbanas entre o período de 1975 e 2020 nos municípios de Taquara
e Parobé
Fonte: Fotografias A a H adaptadas do Jornal Panorama (1978, 1989, 2004, 2005, 2010); fotografia I
adaptada da Rádio Taquara (2019). Autor (2022).
(continua)
Ano Mês Observação
1978 Fevereiro Estado de Calamidade Pública
1982 Junho Situação de Emergência
1984 Junho
1985 Agosto
1986 Novembro
1988 Janeiro
1990 Outubro Situação de Emergência
132
Figura 27 – Gráfico da distribuição mensal das inundações em Taquara e Parobé entre 1975 e 2020
8 7 7
7 6
6 5
5 4 4 4 4
4 3 33 3 3
3 2 2 2 2 2 Taquara
2 1 1 Parobé
1 0 0 0
0
Meses do ano
Figura 28 – Ruas da área central de Taquara durante o evento de inundação de fevereiro de 1978
contemplava o histórico de dados para o período e parte de seu acervo que, continha
os anos 1982, 1983 e 1984, foi danificado.
Na área de estudo, os diversos eventos de inundação que foram registrados,
sejam de maior ou menor magnitude e severidade, manifestaram-se ao longo do
tempo em função da (re)produção do espaço ocorrer em áreas naturalmente
suscetíveis a eventos dessa natureza. Em função disso, áreas de risco de inundação
materializaram-se nesses locais em que é elementar a compreensão da dinâmica
desses processos e eventos que ocasionam danos.
As diferenças de distribuição dos eventos de inundação nos meses do ano são
distintas nos municípios. Todavia, parte dos registros identificados tanto em Taquara,
quanto em Parobé, retratam um mesmo evento de inundação decorrente do rio
Paranhana que inundou áreas ocupadas em ambos os municípios.
Em Parobé, a maioria dos eventos de inundação restringem-se mais à dinâmica
fluvial do rio Paranhana, sendo afetado, em grande parte, por eventos de maior
magnitude e de forma sazonal. Já em Taquara, além da dinâmica fluvial decorrente
do rio Paranhana, observa-se dinâmica particular associada ao arroio Taquara, em
que as ações antrópicas são muito significativas, com intervenções estruturais no
curso d’água (retificações e canalizações), impermeabilização da planície de
inundação, densa ocupação, áreas assoreadas no leito fluvial e sistema pluvial
insuficiente. Isso ocasiona inundações com maior recorrência em Taquara, que se
distribuem no decorrer do ano inteiro.
Os dados do município de Parobé passaram a ser contabilizados
separadamente apenas a partir do ano de 1982, quando o município se emancipou
de Taquara. As coberturas dos periódicos de circulação regional concentraram-se
com maior ênfase na área central de Taquara, com registros de eventos de pequena
a grande magnitude. As áreas periféricas de Taquara e Parobé possuem menor
cobertura por parte dos periódicos, sendo registrados eventos de maior magnitude.
O desenvolvimento do inventário de registro de eventos de inundação foi em
grande parte manual e exigiu bastante tempo para o levantamento e compilação de
informações de diferentes fontes de dados. Com base no contexto apresentado, é
necessário analisar as áreas que são recorrentemente afetadas por processos de
inundação que foram ocupadas pelos sujeitos e materializaram situações de perigo
às inundações. Na área de estudo, essas características estão presentes e resultam
em danos de diferentes magnitudes à comunidade e seus ativos.
137
(continua)
Município Setor censitário Grau de perigo
431405005000019 Médio
Alto
Muito alto
431405005000021 Baixo
Médio
Alto
431405005000023 Baixo
431405005000024 Baixo
431405005000025 Baixo
431405005000034 Médio
Alto
431405005000035 Médio
Alto
Muito alto
Parobé
431405005000036 Médio
Alto
Muito alto
431405005000037 Baixo
Médio
Alto
431405005000038 Médio
Alto
Muito alto
431405005000039 Baixo
Médio
Alto
Muito alto
431405005000058 Baixo
Médio
Alto
138
Alto
Muito alto
431405005000077 Médio
Alto
432120405000001 Muito alto
432120405000002 Alto
Muito alto
432120405000003 Muito alto
432120405000004 Muito alto
432120405000005 Muito alto
432120405000006 Médio
Alto
Muito alto
432120405000007 Baixo
432120405000016 Muito alto
432120405000017 Alto
Muito alto
432120405000018 Muito alto
432120405000023 Alto
432120405000024 Médio
Alto
Muito alto
432120405000025 Alto
Taquara
Muito alto
432120405000033 Muito alto
432120405000034 Muito alto
432120405000035 Alto
Muito alto
432120405000038 Alto
432120405000051 Médio
Alto
432120405000062 Alto
Muito alto
432120405000066 Alto
Muito alto
432120405000075 Alto
432120405000084 Baixo
432120405000085 Alto
Muito alto
432120405000087 Alto
432120405000090 Alto
Muito alto
432120405000092 Muito alto
432120405000096 Muito alto
Fonte: Autor (2022).
139
Figura 30 – Planície de inundação e áreas de perigo do rio Paranhana e afluentes, setor montante em
Taquara
Figura 31 – Áreas de perigo alto e muito alto de inundação afetadas por evento em julho de 2020 na
planície de inundação do rio Paranhana em Taquara (A, B), áreas ribeirinhas de perigo muito alto em
Taquara, identificadas durante trabalho de campo em julho de 2019 (C), marca de inundação em
edificação em Taquara e indicação do limite médio das inundações na edificação (D)
Figura 32 – Planície de inundação e áreas de perigo do rio Paranhana e afluentes, setor montante em
Parobé
Figura 33 – Áreas de perigo alto e muito alto de inundação afetadas por evento em julho de 2020 na
planície de inundação do rio Paranhana em Parobé (A, B), áreas ribeirinhas de perigo muito alto em
Parobé identificadas durante trabalho de campo em julho de 2019 (C), marca de inundação em
edificação em Parobé e indicação do limite médio das inundações na edificação (D)
Figura 34 – Planície de inundação e áreas de perigo do rio Paranhana, setor jusante em Taquara e
Parobé
Figura 36 – Segmento canalizado no alto curso do arroio Taquara na Escola Municipal de Ensino
Fundamental Rosa Elsa Mertins (A), segmento mais a jusante do arroio Taquara (B)
Figura 37 – Planície de inundação e áreas de perigo no médio curso do arroio Taquara, centro de
Taquara
Na Figura 38, são retratadas áreas de perigo muito alto na área central de
Taquara, nas fotografias A e B localizam-se, respectivamente, a esquina das ruas
Marechal Floriano com a Federação e a rua Guilherme Lahm, são áreas com extenso
histórico de recorrência de inundações. Nos trechos da rua Guilherme Lahm, o arroio
Taquara encontra-se canalizado, quando ocorre aumento da vazão devido ao
incremento de água pluvial, processos de inundação e alagamento são deflagrados.
O mesmo tipo de evento ocorre nos pontos das fotografias C e D, em que se observam
segmentos retificados do curso d’água situados a montante e jusante na área central.
Nas fotografias E e F, são observadas as ruas Júlio de Castilhos e Rio Branco durante
eventos que ocorreram em outubro de 1990 e fevereiro de 2019 na área central de
Taquara, sendo que, no evento, ocorrido em 1990 foi decretado Situação de
Emergência.
150
Figura 38 – Áreas de perigo muito alto na área central de Taquara na esquina das ruas Marechal
Floriano com a Federação (A), rua Guilherme Lahm (B), segmentos retificados do arroio Taquara
situados a montante (C) e jusante (D) na área central, rua Júlio de Castilhos e Rio Branco durante
eventos que ocorreram em outubro de 1990 (E) e fevereiro de 2019 (F)
Ainda no médio curso do Arroio Taquara, foi identificada uma área que
apresenta perigo baixo, localizada nos setores censitários 432120405000007 e
151
Na Figura 40, pode ser observada a rua Pinheiro Machado, situada no setor
censitário 432120405000007, durante evento de inundação que ocorreu em fevereiro
de 2003 (fotografia A) e em situação sem evento de inundação (fotografia B). Essa
área é afetada por eventos decorrentes do barramento da água pluvial junto à rua
perpendicular a ela, que é mais elevada, e ao sistema de drenagem pluvial ineficiente,
situação similar ocorre nas demais ruas paralelas desse setor de perigo.
152
Figura 40 – Rua Pinheiro Machado durante evento de inundação em fevereiro de 2003 (A) e sem
evento de inundação (B)
Fonte: Fotografia A adaptada do Jornal Panorama (2003); fotografia B obtida em trabalho de campo,
junho de 2022. Autor (2022).
Figura 41 – Planície de inundação e áreas de perigo de afluente do rio Paranhana no setor montante
em Parobé
Figura 43 – Planície de inundação e áreas de perigo de afluente do rio Paranhana no setor jusante
em Parobé
Com base no que foi discutido, corrobora-se que, na área de estudo, o perigo
materializou-se a partir da ocupação das áreas suscetíveis às inundações com a
criação e expansão das áreas urbanas junto à rede hidrográfica. As intervenções
155
431405005000037 Baixo
431405005000038 Alto
Muito alto
431405005000039 Alto
431405005000058 Muito alto
431405005000066 Alto
431405005000075 Alto
431405005000076 Alto
Muito alto
431405005000077 Baixo
432120405000001 Baixo
432120405000002 Baixo
432120405000003 Médio
432120405000004 Baixo
432120405000005 Alto
432120405000006 Baixo
432120405000007 Alto
432120405000016 Médio
432120405000017 Médio
432120405000018 Alto
432120405000023 Médio
432120405000024 Baixo
432120405000025 Alto
Taquara
432120405000033 Alto
432120405000034 Muito alto
432120405000035 Médio
Alto
432120405000038 Médio
432120405000051 Médio
432120405000062 Alto
432120405000066 Baixo
432120405000075 Médio
432120405000084 Médio
432120405000085 Médio
432120405000087 Baixo
432120405000090 Muito alto
432120405000092 Baixo
432120405000096 Alto
Fonte: Autor (2022).
159
Tabela 14 – Média dos indicadores da dimensão exposição de acordo com o grau de vulnerabilidade
Tabela 16 – Média dos indicadores da dimensão vulnerabilidade física de acordo com o grau de
vulnerabilidade.
Figura 47 – Áreas de vulnerabilidade muito alta, alta e média localizadas na planície de inundação do
rio Paranhana em Taquara
Figura 49 – Áreas de vulnerabilidade muito alta e alta localizadas na planície de inundação do rio
Paranhana em Parobé
Figura 52 – Áreas de vulnerabilidade alta (A, B e C) média (D, E e F) e baixa (G, H e I) no alto curso
do arroio Taquara
Tabela 21 – Variáveis da vulnerabilidade no setor médio curso do arroio Taquara, área central de Taquara
Figura 54 – Áreas de vulnerabilidade alta (A e D), média (E a H) e baixa (I a P) no médio curso do arroio Taquara, área central de Taquara
Figura 55 – Vulnerabilidade em área de afluente do arroio Taquara no médio curso, área central de
Taquara
Tabela 22 – Variáveis da vulnerabilidade no setor de afluente do arroio Taquara no médio curso, área central de Taquara
Figura 56 – Área de vulnerabilidade alta (A, B e C) e média (D, E e F) em área de afluente do arroio
Taquara no médio curso, área central de Taquara
Tabela 23 – Variáveis da vulnerabilidade em área de afluente do rio Paranhana no setor montante em Parobé
Tabela 24 – Variáveis da vulnerabilidade em área de afluente do rio Paranhana no setor jusante em Parobé
Figura 61 – Risco às inundações em Taquara e Parobé no baixo curso da bacia hidrográfica do rio
Paranhana
Quadro 14 – Síntese das informações de perigo, vulnerabilidade e risco nos setores censitários de
Taquara e Parobé
(continua)
Município Setor censitário Grau de Grau de Grau de
perigo vulnerabilidade risco
431405005000019 Médio Médio
Alto Alto Alto
Muito alto Muito alto
431405005000021 Baixo Baixo
Médio Baixo
Alto Médio
431405005000023 Baixo Baixo Baixo
431405005000024 Baixo Médio Baixo
431405005000025 Baixo Alto Médio
431405005000034 Médio Médio Médio
Alto Alto
431405005000035 Médio Médio
Alto Alto Alto
Muito alto Muito alto
431405005000036 Médio Alto Médio
Alto Alto
Muito alto Muito alto Muito alto
Parobé
Quadro 14 – Síntese das informações de perigo, vulnerabilidade e risco nos setores censitários de
Taquara e Parobé
(conclusão)
Município Setor censitário Grau de Grau de Grau de
perigo vulnerabilidade risco
432120405000005 Muito alto Alto Muito alto
432120405000006 Médio Baixo
Alto Baixo Médio
Muito alto Alto
432120405000007 Baixo Alto Médio
432120405000016 Muito alto Médio Alto
432120405000017 Alto Médio Alto
Muito alto
432120405000018 Muito alto Alto Muito alto
432120405000023 Alto Médio Alto
432120405000024 Médio Baixo
Alto Baixo Médio
Muito alto Alto
432120405000025 Alto Alto Alto
Muito alto Muito alto
432120405000033 Muito alto Alto Muito alto
Taquara
infraestrutura urbana ausentes ou precárias, com grande parte das vias sem
calçamento e sistema de drenagem pluvial.
Em áreas pontuais, identificam-se edificações com adaptações contra
inundações, constituídas em dois pavimentos, como também edificações constituídas
de material reciclado, especialmente, em áreas de maior proximidade ao rio
Paranhana. A maior parte da população possui renda mensal de até um salário
mínimo e os percentuais de crianças e idosos são mais elevados.
Fonte: Fotografias A a G adaptadas do Jornal Panorama (1993, 1996, 2001, 2003, 2007, 2010);
fotografia H adaptada da Rádio Taquara (2013). Autor (2022).
203
Quadro 17 – Graus de perigo, vulnerabilidade, e risco no setor montante do rio Paranhana em Parobé
Fonte: Adaptado do Jornal Panorama (1993, 2001, 2003, 2007, 2011). Autor (2022).
207
Quadro 18 – Graus de perigo, vulnerabilidade e risco no setor jusante do rio Paranhana em Taquara
e Parobé
Quadro 19 – Graus de perigo, vulnerabilidade e risco no alto curso do arroio Taquara, setor nordeste
de Taquara
Figura 68 – Rua Tristão Monteiro durante evento de inundação em dezembro de 2003 (A) e limpeza
da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rosa Elsa Mertins após evento de inundação em abril
de 2010 (B)
Quadro 20 – Graus de perigo, vulnerabilidade e risco no médio curso do arroio Taquara, centro de
Taquara
Figura 70 – Eventos de inundação que ocorreram na área central de Taquara em fevereiro de 1978
(A), janeiro de 1988 (B e C), novembro de 1990 (D e E), novembro de 1996 (F), novembro de 2009
(G, H e I), janeiro de 2010 (J), abril de 2010 (K), março de 2012 (L) e março de 2019 (M, N e O)
Figura 71 – Risco em área de afluente do arroio Taquara no médio curso, área central de Taquara
Quadro 21 – Graus de perigo, vulnerabilidade e risco em área de afluente do arroio Taquara no médio
curso, área central de Taquara
Nas fotografias A e B da Figura 72, podem ser observadas as ruas Rua João
Bayer e Pinheiro Machado durante eventos de inundação que ocorreram em fevereiro
e outubro de 2002, respectivamente. Essas áreas apresentam grau de risco médio e
216
Figura 72 – Rua João Bayer durante evento de inundação em fevereiro de 2002 (A) e Rua Pinheiro
Machado durante evento de inundação em outubro de 2002 (B)
Figura 74 – Área de risco muito alto em segmento do arroio Santa Funda e estrada Sanga Funda no
setor montante em Parobé de afluente do rio Paranhana
Figura 75 – Risco na planície de inundação de afluente do rio Paranhana no setor jusante em Parobé
Figura 76 – Áreas de risco médio e baixo, respectivamente, em segmento de arroio local (A) e rua
Barão do Rio Branco (B) no setor jusante em Parobé de afluente do rio Paranhana
ABDRABO, K. I.; KANTOUSH, S. A.; SABER, M.; SUMI, T.; HABIBA, O. M.;
ELLEITHY, D.; ELBOSHY, B. Integrated Methodology for Urban Flood Risk Mapping
at the Microscale in Ungauged Regions: A Case Study of Hurghada, Egypt. Remote
Sens, v. 12, 3548. p. 1-22, 2020.
AFIFI, Z.; CHU, H.-J.; KUO, Y.-L.; HSU, Y.-C.; WONG, H.-K.; ZEESHAN ALI, M.
Residential Flood Loss Assessment and Risk Mapping from High-Resolution
Simulation. Water, v. 11, 751, p. 1-15, 2019.
BENSON, C.; CLAY E. J. Disasters, Vulnerability and the Global Economy. In:
KREIMER, A.; ARNOLD, M. (Ed.). The future disaster risk: building safer cities.
Disaster Risk Management Series n.3, Washington, D.C. 2003. p.3-32
BUTLER, D., KOKKALIDOU, A., MAKROPOULOS, C.K. Supporting the siting of new
urban developments for integrated urban water resource management. In:
HLAVINEK, P., KUKHARCHYK, T., MARSALEK, J., MAHRIKOVA, I. (eds.)
Integrated Urban Water Resources Management. Springer, Dordrecht, 2006.
___________. História & Fotos. Rio de Janeiro: IBGE, 2017a. Disponível em: <
https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em 09 ago. 2018.
JAMRUSSRI, S.; TODA, Y. Available Flood Evacuation Time for High-Risk Areas in
the Middle Reach of Chao Phraya River Basin. Water, v. 10, 1871, p. 1-23, 2018.
KABENGE, M.; ELARU, J.; WANG, H.; LI, F. Characterizing flood hazard risk in data-
scarce areas, using a remote sensing and GIS-based flood hazard index. Natural
Hazards, v. 89, n. 3, p. 1369-1387, 2017.
LI, G.-F.; XIANG, X.-Y.; TONG, Y.-Y.; WANG, H.-M. Impact assessment of
urbanization on flood risk in the Yangtze River Delta. Stochastic Environmental
Research and Risk Assessment, v. 27, p. 1683-1693, 2013.
LUU, C.; MEDING, J. A Flood Risk Assessment of Quang Nam, Vietnam Using
Spatial Multicriteria Decision Analysis. Water, v. 10, 461, p. 1-16, 2018.
LUU, C.; TRAN, H. X.; PHAM, B. T.; AL-ANSARI, N.; TRAN, T. Q.; DUONG, N. Q.;
DAO, N. H.; NGUYEN, L. P.; NGUYEN, H. D.; THU TA, H.; LE, H. V.; MEDING, J.
Framework of Spatial Flood Risk Assessment for a Case Study in Quang Binh
Province, Vietnam. Sustainability, v. 12, p. 1-17, 2020.
SAISANA, M.; SALTELLI, A. Rankings and ratings: Instructions for use. Hague
Journal on the Rule of Law, v. 3, p. 247-268, 2011.
SAITO, S. M.; SORIANO, E.; LONDE, L. R. Desastres naturais. In: SAUSEN, T. M.;
LACRUZ, M. S. P. (Orgs.). Sensoriamento remoto para desastres. São Paulo:
Oficina de Textos, 2015, p. 23-42.
SAR, N.; CHATTERJEE, S.; ADHIKARI, M. Integrated remote sensing and GIS
based spatial modelling through analytical hierarchy process (AHP) for water logging
hazard, vulnerability and risk assessment in Keleghai river basin, India. Modeling
Earth Systems and Environment. 1, n. 31, p. 1-21, 2015.
WALESH, S. G. Urban Surface Water Management. New York: John Wiley & Sons,
Inc., 1989.
WISNER, B.; BLAIKIE, P.; CANNON, T.; DAVIS, I. At Risk - Natural Hazards,
Peoples’s Vulnerability and Disasters. London, Routledge, 2003.