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Rio de Janeiro
2014
Iomara Barros de Sousa
Rio de Janeiro
2014
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/C
CDU 528.9:681.783(815.3)
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese.
______________________________________ ______________________
Assinatura Data
Iomara Barros de Sousa
Rio de Janeiro
2014
DEDICATÓRIA
À Deus, aos meus queridos pais, aos meus irmãos e ao meu esposo.
AGRADECIMENTOS
À Deus toda honra e glória pela inspiração, força e saúde para superar os desafios e
vencer os obstáculos desde o processo seletivo até a concretização desta pesquisa.
Aos meus pais, Edeomar e Ivo pelo amor incondicional e apoio nas horas mais
difíceis.
Aos meus irmãos Iomar e Ivomar pela atenção no decorrer desta pesquisa.
Ao meu esposo Sávio, pelo carinho, compreensão, incentivos e conselhos.
Ao meu Orientador Prof. André Reyes Novaes pela confiança em minha capacidade
para desenvolver esta dissertação e pelas orientações e ideias ao longo da pesquisa.
Aos Professores do Programa de Pós-Graduação de Geografia da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro pela construção de novos conhecimentos.
Ao Professor Paulo Márcio Leal de Menezes que me acolheu prontamente desde as
primeiras orientações para a realização desta pesquisa com seus incentivos e sua amizade.
A Professora Angelica Carvalho Di Maio que, desde a graduação, sempre contribuiu
com sua amizade, incentivos, críticas, conselhos e orientações para minha vida acadêmica.
Ao Professor Hindenburgo Francisco Pires pelas contribuições, incentivos, sugestões
e, principalmente pela amizade construída.
A Professora Thaís Alves Gallo Andrade pela ajuda e sugestões na elaboração das
bases cartográficas.
A Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo/RJ pela autorização e apoio para
aplicação dos testes avaliativos.
A Diretora da Escola Municipal Raul Veiga, Sra. Márcia Arabela Aleluia Gomes pelo
apoio à pesquisa.
Ao Professor de Geografia Reinaldo Henrique Salvino da Escola Municipal Raul
Veiga pela autorização, compreensão e apoio no decorrer dos testes avaliativos.
A querida Dra. Maria Fernanda Reis Gavazzoni Dias pelo apoio, incentivo e amizade
no decorrer desta investigação.
As queridas amigas e companheiras Flávia Costa da Silva e Luiziana Simões de
Almeida pelo apoio e compreensão.
Aos Professores Dr. Manoel do Couto Fernandes da UFRJ e Gustavo Mota de Sousa
da UFRRJ pelos conselhos e sugestões.
Ao Professor Vinícius da Silva Seabra da FFP-UERJ pelo empréstimo do seu aparelho
de GPS.
Ao amigo Edgar Tonel Rossato pela ajuda em geoprocessamento.
A todos meus amigos, muito obrigada pelo carinho e atenção.
Speak a new language, so that the world will be a new world.
Mawlana Jalal-ad-Din Muhammad Rum
RESUMO
The free accessibility to satellite images and GIS plus the students’ ability in handling
multimedia on their own smartphones enable the use of geo-technologies and multimedia
resources in teaching cartography. This research, has considered the input, limits and
possibilities of employing space technology, geo-processing and multimedia resources in
Geography classes for 7th-grade students in the public schools of São Gonçalo in Rio de
Janeiro; a digital material has also been developed through the web, named “Mapeando Meu
Rio (MMR)” or “Mapping My River (MMR)”, which addresses the issue of the socio-
environmental perception of the Alcântara river. The interest and involvement from the
students throughout the different activities proposed on the aforementioned methodology has
been remarkable especially in the use of multimedia resources and geo-technologies as
support material for the Environmental Education. Based on the MMR evaluation, 7th grade
students have fallen short in their cartographic literacy at the end of their school year; this
failure has been noticed both in their ability to make mental maps and in the handling of GPS,
Google Earth and ArcGIS Online. When requested to produce a spatial layout on their own,
students were not able to put into practice their basic knowledge of cartography, especially in
the use of legends, geographical coordinates, and spatial orientation. The cartographic literacy
should not be restrained to the syllabus of 7th grade classes; instead, it should be considered
as a means of communication to the understanding of the spatial dynamics during the whole
course of elementary and high school. All geography-based activities are meant to give
students a better understanding of their geographical space, in such a way that they may be
able to build meaningful abstractions from their own reality, that is, from their own living
place.
INTRODUÇÃO.............................................................................................. 17
1 O RIO ALCÂNTARA NO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO/RJ:
ASPECTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS E O USO E OCUPAÇÃO DO
SOLO.............................................................................................................. 23
1.1 Breve contextualização do Município de São Gonçalo/RJ........................ 25
1.2 Caracterização da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara, município de
São Gonçalo/RJ.............................................................................................. 32
1.3 A situação ambiental do Rio Alcântara....................................................... 34
2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O USO DA REPRESENTAÇÃO
ESPACIAL NA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.............................................. 38
2.1 A linguagem cartográfica na Educação Ambiental formal: o estudo dos
rios no terceiro ciclo do Ensino Fundamental............................................. 39
2.2 O Mapa Mental como recurso didático-pedagógico para a percepção
socioambiental................................................................................................. 43
2.3 Práticas pedagógicas e tecnologias aplicadas à Cartografia como
materiais de apoio à Educação Ambiental............................................. 46
3 NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS À CARTOGRAFIA NO
ENSINO DE GEOGRAFIA........................................................................... 49
3.1 Mapas na WEB (webmapping)....................................................................... 49
INTRODUÇÃO
1
A sigla correspondente na tradução é: “Sistema Global de Navegação por Satélite (GNSS).” O GPS é um
instrumento de navegação e posicionamento na superfície terrestre que funciona por meio do sistema.
2 A sigla original correspondente na tradução é: “Geographic Information System (GIS)”.
18
oportunidades para as pessoas elaborarem seu próprio mapa a partir do espaço vivido que,
segundo Merleau-Ponty (2006), possibilita fazer reflexões sobre sua orientação no mundo.
Gartner (2009) afirma que a popularização da web 2.0 proporcionou maior
interatividade, colaboração e participação do usuário no processo de mapeamento, como
escrevem November, Camacho-Hübner e Latour (2010), por meio dos mapas interativos
como um SIG, mapas de ruas na Internet o que permite ao indivíduo “percorrer” dentro dos
mapas como ressalta Peterson (1997).
Todavia, a maioria da população não apreendeu os elementos básicos da Cartografia
(orientação espacial, legenda, escala e coordenadas geográficas) para elaborar e ler mapas em
papel ou em meio digital, conforme afirma Elzakker (2001), embora representações espaciais
estejam presentes no cotidiano dos indivíduos através dos telejornais, revistas, livros, sites de
busca, dentre outras mídias.
Uma justificativa quanto às limitações das pessoas para elaborar e ler representações
espaciais se deve as formas empregadas no ensino de Cartografia nas aulas de Geografia em
que, muitas vezes, os mapas são usados para “ilustrar” conteúdos geográficos seja pendurado
no quadro ou, mesmo impressos para colorir, o que representa uma realidade estática e com
informações desatualizadas. Segundo Seemann (2003, p.24), os “mapas de leitura” possuem
“[...] possíveis distorções, deformações, generalizações, simplificações”, ou seja, estes mapas
não tem significado, como ressaltam Almeida e Passini (2005), para o uso na prática cotidiana
dos indivíduos.
Desta forma, as tarefas mecanicistas no Ensino de Cartografia, como pintar ou
localizar fatos e fenômenos geográficos nos mapas e, ainda escrever nome de países, oceanos,
lugares em mapas impressos prontos, acabados e estáticos, como assinala Wiegand (2005),
não proporcionam ao aluno construir conhecimentos básicos da Cartografia.
A disponibilidade gratuita na Internet de imagens de satélite e SIG somada à
facilidade, por exemplo, do educando para obter foto ou registrar vídeo e som de uma dada
área da superfície terrestre através dos seus smartphones contribuem para desenvolver o
Ensino de Cartografia mais interessante e envolvente ao considerar o aluno como ator da
produção do conhecimento.
O uso da linguagem cartográfica na Educação Ambiental através da utilização de
dados e informações obtidas em formato multimídia e observações levantadas em campo
possibilita ao aluno representar cartograficamente o meio ambiente a partir do contato físico
com o meio que se vivencia e experimenta.
19
Esta pesquisa tem como objetivo principal desenvolver e avaliar uma metodologia
para o sétimo ano do ensino fundamental baseada no uso de geotecnologias e recursos de
multimídia aplicados à Cartografia no estudo da percepção socioambiental do Rio Alcântara,
localizado no município de São Gonçalo/RJ.
20
Esta pesquisa se justifica pela ausência de material cartográfico interativo, por meio de
tecnologias contemporâneas aos alunos (computador, smartphones, Internet), para o estudo do
meio ambiente relativo ao município de São Gonçalo/RJ. Foram realizados testes avaliativos
que apresentaram as contribuições, os limites e as possibilidades em relação ao uso de
geotecnologias e recursos de multimídia aplicados ao ensino de Cartografia nas aulas de
Geografia.
Foi elaborado um material gratuito, por meio da Internet, denominado “Mapeando
Meu Rio” (MMR) cuja temática abordou o Ensino de Cartografia e Percepção socioambiental
do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ; este material está disponível no seguinte
endereço eletrônico: http://www.mapeandomeusrios.com.br. Acrescenta-se que este material
tem como temática a percepção socioambiental do Rio Alcântara a partir de um dos seus
canais cujo recorte temporal remonta a expansão urbana desenfreada do município de São
Gonçalo/RJ a partir da década de 1970 e suas consequências o meio ambiente, em especial, os
recursos hídricos, notadamente o Rio Alcântara.
Escolheu-se como estudo de caso, o sétimo ano de escolaridade, partindo do
pressuposto que, os alunos tenham apreendido conhecimentos básicos da Cartografia
(orientação espacial, legenda, escala e coordenadas geográficas), como também o conteúdo
21
curricular “Hidrografia” que integram ao terceiro ciclo (6º e 7º ano) do Ensino Fundamental,
segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia.
De acordo com Simielli (2003) e Wiegand (2006), o educando do sétimo ano de
escolaridade da educação básica que, está na faixa etária entre 11 a 13 anos, é capaz de
localizar e analisar um fenômeno a partir do seu nível de desenvolvimento cognitivo formal,
como demonstra Piaget e Inhleder (1978); assim, o aluno é capaz de conceber o espaço
geográfico a partir de diferentes formas de representação espacial, de modo a codificar e
decodificar as informações espaciais numa relação entre significados e significantes.
Nesta fase escolar, os estudantes são capazes de trabalhar com mapas de maneira
mais analítica porque eles compreendem a diferença entre termos geográficos (como
forma e função) como também as tarefas que são definidas, como por exemplo, a
diferença entre descrever e explicar. (WIEGAND, 2006, p.118).3
Nesse sentido, foram delineadas as seguintes questões para esta pesquisa: Como os
alunos e professores se relacionam com as tecnologias digitais dentro e fora da sala de aula?
Qual é a percepção socioambiental dos alunos em relação ao Rio Alcântara localizado no
município de São Gonçalo/RJ? Quais seriam as contribuições, os limites e os desafios do uso
da Cartografia Digital para sensibilizar os alunos para questões socioambientais?
Para responder estes questionamentos e aprofundar a problemática esboçada, a
dissertação está estruturada em cinco capítulos.
O primeiro capítulo desta dissertação trata da área de estudo cujo tema é “O Rio
Alcântara no município de são Gonçalo/RJ: aspectos físicos e ambientais e o uso e ocupação
do solo”. Foi realizada uma breve caracterização do município de São Gonçalo/RJ e os
principais fatores que, nos últimos quarenta anos contribuíram para a atual situação
socioambiental do município. A partir de artigos, livros, teses e bases cartográficas foram
levantados dados e informações sobre o Rio Alcântara; assim foi possível gerar mapas com o
objetivo de analisar os aspectos físicos e ambientais, como também o uso e ocupação do solo
da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara; esta bacia encontra-se em médio estágio de
degradação ambiental devido à atuação de fatores de ordem política e socioeconômica que
favoreceram a expansão urbana desenfreada e desordenada ao longo deste recurso hídrico e,
3
O texto em língua estrangeira é: “ Students in this phase are able to work with maps more analytically because
they understand the difference between geographical terms (such as settlement form and function) as well as
the rubric of tasks they are set (for example, the difference between describe and explain).”
22
4 A Lei Complementar 20/1974 da Constituição de 1967 consta no Art.19 - parágrafo único- “A Região Metropolitana do Rio de Janeiro constitui-se dos seguintes
Municípios: Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, Itaboraí, Itaguaí. Magé, Maricá, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Petrópolis, São Gonçalo, São João de Meriti e
Manguaratiba. Hoje, essa região engloba os municípios de Japeri, Mesquita, Guapimirim, Cachoeiras de Macacu e Rio Bonito.
24
índice de degradação de suas águas o que tem afetado a qualidade de vida da população e,
também a fauna e flora local.
Dentre as bacias hidrográficas que estão nesse quadro ambiental crítico encontra-se a
Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara, localizada na região central do município de São
Gonçalo/RJ, onde predomina ocupação urbana de média e alta intensidade.
Este capítulo trata do Rio Alcântara, área de estudo escolhida para a elaboração e
aplicação do Mapeando Meu Rio, que é o principal rio da Bacia do Rio Alcântara, a maior do
município (88,5Km²) que está localizada entre as coordenadas geográficas (ϕ=22°
53´32.80´´S, ϕ=22° 44´19.84´´S e λ=43° 00´50.52´´O, λ=43° 00´13.50’’O).
A escolha do Rio Alcântara como objeto de estudo esteve relacionada aos seguintes
fatores: acesso as informações e bases cartográficas fornecidas pela Secretaria Municipal de
Fazenda da PMSG/RJ, abrangência geográfica deste Rio que percorre 14 bairros com uma
densidade demográfica (4.677 hab/Km²) e, ainda a importância socioeconômica do bairro
com mesmo nome deste Rio.
Primeiramente, realizou-se uma breve contextualização do município de São
Gonçalo/RJ no intuito de apresentar os principais condicionantes naturais e sociais
responsáveis pela atual situação ambiental dos rios no município, em especial, o Rio
Alcântara.
Em seguida, foi realizada a caracterização dos aspectos físicos e ambientais como
clima, vegetação, a geomorfologia e as formas de ocupação e uso do solo da Bacia do Rio
Alcântara; além disso, foram realizadas observações em campo e obtenção de dados junto à
Secretaria Municipal de Fazenda de São Gonçalo/RJ como imagens do satélite QuickBird
(2006) e bases cartográficas referente a esta unidade ambiental.
Dessa forma, foi possível analisar o atual quadro físico-ambiental do Rio Alcântara e
os diferentes tipos de uso e ocupação do solo, como também os fatores que contribuíram para
sua fragilidade ambiental e as consequências para a população e a fauna e flora local.
Neste sentido, torna-se importante o desenvolvimento da Educação Ambiental na
disciplina de Geografia da rede municipal de ensino de São Gonçalo/RJ a partir da linguagem
cartográfica para representar a espacialidade do processo de ocupação e, por conseguinte
degradação socioambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara e, buscar possíveis
soluções ou ações para minimizar a poluição das águas desta bacia.
25
5
A denominação de São Gonçalo como Manchester foi motivada pela pujança industrial do município em
relação ao estado do Rio de Janeiro como ocorreu com a cidade inglesa de Manchester durante o período da
Revolução Industrial.
28
Outros fatores como o baixo preço dos terrenos associados aos desmembramentos de
loteamentos sem legislações específicas, a posição e a proximidade geográfica com a capital
do Rio de Janeiro6, a localização intermediária entre a capital e o interior do Estado, como
também a presença de linha férrea que ligava Niterói a Itaboraí cortando São Gonçalo/RJ
contribuíram para a forte migração populacional para o município.
O aumento significativo da população sem que houvessem infraestrutura e saneamento
básico associado a frágil legislação que regulamentasse o uso e ocupação do solo,
comprometeram enormemente o meio ambiente.
Densas áreas verdes desapareceram, rios foram canalizados ou comprometidos por
desmatamento das suas encostas, construções às margens ou mesmo dentro do leito dos rios
ocuparam extensas áreas de mata galeria; vários trechos dos canais fluviais foram aterrados e,
deram lugar às residências ou estão assoreados com excesso de matéria orgânica devido à
ausência de sistema de tratamento de esgoto e o acesso à água tratada em muitos bairros do
município; observa-se também a ocorrência de enchentes resultante do lançamento de
resíduos sólidos nos rios devido à coleta de lixo inadequada ou mesmo inexistentes em vários
bairros.
6
Entre 1960 a 1975, o atual território da capital do Estado do Rio de Janeiro, a cidade do Rio de Janeiro,
constitui o estado da Guanabara.
29
As pesquisas realizadas por Silva (2012) apontam que São Gonçalo atualmente possui
apenas 68% dos domicílios atendidos pelo sistema de saneamento básico, o que mostra a
ineficiência ou mesmo a ausência de políticas públicas que conciliem crescimento urbano e
preservação dos recursos naturais; isso, afeta a saúde da população devido aos riscos de
doenças, comprometem a fauna e a flora e, se torna uma ameaça as áreas remanescentes de
vegetação do município, como os manguezais. A Figura 3 mostra o mapa atual de uso e
cobertura do solo do município.
30
Os dados extraídos da tabela mostra que a maior parte do uso do solo no município de
São Gonçalo é caracterizada pela ocupação urbana. As áreas de florestas correspondem aos
manguezais (ao norte) e as serras (ao sudeste e ao sudoeste do município).
A vulnerabilidade da ocupação urbana em São Gonçalo/RJ é decorrente,
principalmente de legislações urbanas frágeis que favoreceram o uso intensivo do solo por
moradias ao longo das Rodovia Federal BR-101 (trecho Niterói – Manilha) e as Rodovias
Estaduais RJ-106 e RJ-104; soma-se a insuficiência de serviços de fiscalização e mecanismos
de dragagem e desassoreamento dos rios aliado aos padrões precários das construções; todos
esses fatores contribuíram fortemente para a degradação socioambiental desta bacia
hidrográfica no município.
Diante dessa problemática ambiental, é preciso que as autoridades municipais em
parceria com o governo estadual e o governo federal identifiquem os fatores de ordem natural
e os fatores antrópicos, de modo a elaborar medidas mitigadoras para reduzir, por exemplo, o
risco de enchentes e deslizamentos de encostas. Será necessário ampliar áreas verdes, fazer
32
realização de obras para contenção de encostas e dos rios e, com isso recuperar a mata ciliar e,
se possível fazer, como salienta Botelho e Silva (2011, p. 108), “[...] remoção da população e
de todo artefato urbano (vias, instalações de iluminação, prédios públicos etc.) que ocupam a
planície de inundação” realocando em outros lugares.
Figura 4- Mapa da Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara e suas sub-bacias no município de São Gonçalo/RJ
34
O Rio Alcântara, principal rio desta bacia, é afluente do Rio Guaxindiba e possui 29
km de extensão com uma rede de drenagem em torno de 130,3 km²; parte de suas nascentes
está localizada no município de São Gonçalo/RJ e a outra parte se localiza no município de
Niterói/RJ. Possui padrão de drenagem meandrante junto à foz (encontro com o Rio
Guaxindiba) devido à presença da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim.
A localização desta bacia em uma região de clima tropical com temperatura média
anual de 26,5º C com média de pluviosidade anual em torno de 100 mm mensais (Coutinho,
2011) em uma planície flúvio-marinha onde predominam altitude entre 50 a 500 metros.
Azevedo (2006) constatou que os tipos de solos atuantes no município são latossolo vermelho
e amarelo, podzólico vermelho e amarelo, hidromórfico e halomórfico.
Estas características físicas somadas à ocupação desordenada pela qual passou o
município nas últimas quatro décadas facilitaram a ocorrência de problemas ambientais, como
por exemplo, degradação socioambiental das águas do Rio Alcântara.
Figura 5- Mapa de uso e cobertura do solo na Bacia do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ
36
Santos (1985) assinala que o processo de produção social do espaço deve ser
compreendido concomitantemente em sua forma, função, estrutura e processo. Neste sentido,
a Cartografia como uma linguagem, um sistema de códigos de comunicação, conforme aponta
Castellar (2005), possibilita ao indivíduo representar o espaço geográfico nas mais diversas
escalas espaciais e temporais, de acordo com seus interesses e necessidades o que permite
melhorar a percepção e a compreensão dos fenômenos geográficos.
Neste sentido, é preciso desmitificar a ideia de que os mapas prontos e acabados, em
papel ou em meio digital, são verdades absolutas e inquestionáveis do espaço geográfico. Em
consonância com Crampton e Krygier (2008), os mapas são representações da dinâmica
espacial e, portanto são ativos; por sua vez, esta forma de representação espacial pode ser uma
poderosa linguagem de comunicação gráfica para promover a transformação social.
Cabe o seguinte questionamento: Como a Cartografia tem sido ensinada nas escolas?
Como a linguagem cartográfica contribui para visualizar, interpretar e compreender os
conhecimentos relativos ao meio ambiente?
O ensino de Cartografia não deve se reduzir a métrica euclidiana, como coloca Lévy
(2008, p.156), a “[...] abordagem euclidiana que se baseia numa visão cartesiana da extensão
sobre a ideia de um espaço abstrato, independente dos objetos que nele se dispõem”, pois
existem diferentes linguagens gráficas que permitem ao aluno representar o meio ambiente
com suas subjetividades, valores, concepções e suas relações afetivas com o lugar.
As práticas pedagógicas no ensino da Cartografia aplicadas à Educação Ambiental
deve considerar o aluno como protagonista do processo de ensino-aprendizagem, sob a
mediação do professor, a partir de atividades que estimulem e envolvam e, por conseguinte
contribuam para a formação de cidadãos conscientes, críticos com o meio ambiente a partir do
seu espaço cotidiano.
Dessa forma, o objetivo do presente capítulo é entender a importância da Cartografia
para o desenvolvimento de um projeto de Educação Ambiental para o ensino fundamental, a
partir do uso de mapas mentais e do uso de tecnologias aplicadas à linguagem cartográfica, na
abordagem referente ao rio como unidade temática ambiental.
39
Os recursos hídricos são importantes fontes para a vida na Terra. Na Grécia Antiga,
Tales de Mileto, filósofo pré-socrático ocidental, afirmava que água era a physis, “fonte
originária”, o princípio de todas as coisas que existiam na Terra, concebendo desde então, a
água como fonte de energia imprescindível para a manutenção e sustentação para a vida na
Terra, conforme mostrou Souza (1996).
Ao longo da história da humanidade, em meio à busca por novos espaços de ocupação,
o homem converteu a natureza em meio de produção e, não se preocupou devidamente com o
uso racional dos recursos hídricos; assim, construções irregulares foram feitas ao longo do
leito dos rios, obras de canalização, retificação, alargamentos, desvio do curso natural dos rios
sem considerar seus aspectos geológicos, geomorfológicos e hidrológicos, conforme apontam
Botelho e Silva (2011).
Embora no Brasil existam legislações referentes às políticas de recursos hídricos,
como o Código das Águas (1934), Lei de Proteção das Florestas (1965) e a Lei de Proteção à
Fauna (1967), Política e o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) de (1981),
Política Nacional de Recursos Hídricos (1997), o crescimento e o desenvolvimento das
cidades brasileiras ao longo do século XX, em sua maior parte, não foram acompanhados por
políticas públicas que buscassem conciliar urbanização e preservação da qualidade das águas
preponderando, na maioria das vezes, uma visão racionalista ao invés de uma concepção
preservacionista do meio ambiente, em especial, dos recursos hídricos.
Os primeiros passos relacionados aos debates sobre o meio ambiente no Brasil, apesar
das legislações direcionadas à proteção e ao uso racional dos recursos naturais, somente
ocorreram com a promulgação da Constituição de 1988 que, no capítulo VI “Do Meio
ambiente” da Constituição (1988, art. 225, § 1º) encontra-se a preocupação em, “[...]
promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para
a preservação do meio ambiente”.
Com a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) a temática
ambiental passou a integrar o currículo da Educação Básica no Brasil, como um tema
interdisciplinar, e permitiu o estudo do meio ambiente por meio de diferentes disciplinas
(Geografia, Matemática, Ciências), conforme consta nos Parâmetros Curriculares Nacionais -
Temas Transversais (Brasil, 1998, p. 193), “[...] os alunos construam a visão da globalidade
40
das questões ambientais é necessário que cada profissional de ensino, mesmo especialista em
determinada área do conhecimento, seja um dos agentes da interdisciplinaridade que o tema
exige”.
Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (Brasil, 1999, Lei n.9795, Art. 10
§ 1o), “A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo
de ensino” nem tampouco não pode ser vista como um “capítulo suplementar”, como
abordam Porcher, Ferrant e Blot (1975), dos conteúdos programáticos de Geografia
considerando, em primeira instância, as características ambientais do espaço de vivência do
aluno.
A compreensão dos fenômenos geográficos está intimamente relacionada à
Cartografia, uma linguagem de comunicação gráfica importante para o entender à
espacialidade e compreender as relações complexas e dialéticas do espaço geográfico por
meio de um conjunto de signos que tem uma ordem, ou seja, uma verdadeira informação, uma
resposta visual dos fenômenos e, deve responder as três questões básicas propostas por Bertin
e discutidos por Fonseca e Oliva (2013, p.112):
1. Num lugar qualquer, o que há?; 2. Um fenômeno qualquer, onde ele está? (...); 3.
Para um fenômeno representado, qual é a sua distribuição espacial? E, com mais
sofisticação: Nessa distribuição espacial, qual a ordem, ou então, quais as relações
de proporcionalidade?
É preciso levar em conta não apenas o conjunto das múltiplas dimensões das
realidades socioambientais como também das diversas dimensões da pessoa que
entra em relação com estas realidades, da globalidade e da complexidade de seu
“ser-no-mundo”. O sentido de “global” aqui é muito diferente de “planetário”,
significa antes holístico, referindo - e à totalidade de cada ser, de cada realidade, e à
rede de relações que une os seres entre si em conjuntos onde eles adquirem sentido.
(SAUVÉ, 2005, p. 27)
Não há dúvida de que as questões ambientais nas aulas de Geografia são importantes
para a construção de saberes críticos e reflexivos a respeito da produção social do espaço.
Para tanto, a linguagem cartográfica aplicada na Educação Ambiental não deve se restringir a
métrica euclidiana, como afirmam Fonseca e Oliva (2013, p.138) “[...] o espaço euclidiano é
apenas uma forma de apreensão do espaço” dentre outras métricas possíveis para construção
de um saber ambiental.
Sendo assim, cabem os seguintes questionamentos:
a) Como trabalhar a Educação Ambiental no ensino da Cartografia nas
aulas de Geografia do ensino básico?
b) Como o Ensino de Cartografia contribui para a percepção
socioambiental dos rios?
42
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante –
identidade – lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida e
do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm
com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas
condições mais banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser
sentido, pensado, apropriado e vivido através do corpo. (CARLOS, 2007, p. 17)
pesca; por conseguinte, os rios passaram a ser usados como depósitos de lixos e percebidos
como um valão.
A utilização da linguagem cartográfica na Educação Ambiental deve contribuir para
mudanças de valores e atitudes em direção ao uso sustentável dos rios por meio do diálogo
com as práticas cotidianas do educando.
A representação espacial significa, aqui, mais do que uma simples indicação da
localização dos fenômenos; ela permite, com efeito, resgatar a inteligibilidade que os
fatos espaciais adquirem quando são compreendidos a partir de seus contextos
próprios. (GOMES, 1996, p. 312)
como complementa Richter (2011, p. 125), “[...] elementos subjetivos [...] torna mais rica essa
representação do próprio punho por incluir contextos que podem ampliar a compreensão do
espaço”.
Gould e White (2002) acrescentam que a imagem mental pode ser formada tanto pelo
contato com o lugar como através da utilização de mídias obtidas na televisão, no rádio ou por
meio do diálogo com outra pessoa.
Na corrente da Geografia Humanista, na vertente da fenomenologia, o mapa mental
representa uma construção social, cultural e histórica como resultado da percepção do
indivíduo em seus múltiplos sentidos (tocar, ouvir, cheirar, experimentar) da experiência
cotidiana com os lugares; além disso, representa uma visão de mundo e mostra uma
interpretação do meio ambiente compreendido em meio às paisagens naturais, culturais,
históricas e sociais.
Gould e White (2002) discutem que os mapas mentais criam possibilidades para que
os indivíduos representem o mundo real mediante satisfações, insatisfações, necessidades,
valores e ações que envolvem suas vivências.
Esta representação espacial condiciona aos professores identificar a imagem mental do
aluno formada pela sua experiência e informação direta e imediata com o meio ambiente. No
caso desta pesquisa, a temática ambiental proposta para a elaboração do mapa mental foi a
“Percepção Socioambiental do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ” em que,
muitas vezes, não é percebido pelos educandos quanto à sua importância e existência nos
lugares onde moram devido obras de aterro, canalização, construções residenciais que, dentre
outros fatores contribuem para perda de laços afetivos com este recurso hídrico e, com isso
reduz ou até mesmo desaparece.
A fenomenologia fornece subsídios para compreender as relações socioambientais que
ocorrem no espaço a partir do mundo vivido, como aponta Gomes (1996, p. 124), “O mundo
vivido é, portanto, a fonte e a base de todo conhecimento e a legitimidade de toda
consciência”.
Os mapas mentais são representações da percepção espacial, sem a rigidez dos
processos cartográficos, mas que permitem a comunicação e a reconstituição da informação
do mundo real e, assim permitem ao professor conhecer a percepção dos alunos em relação ao
espaço geográfico que, segundo Richter (2011, p. 128) permite “[...] incluir suas
interpretações particulares e/ou coletivas”, suas percepções, apreensões, sentimentos,
tornando-se parte do espaço geográfico representado cartograficamente.
45
Diferentemente do “naturalismo” dos mapas prontos e acabados que, muitas vezes são
submetidos à função ideológica dos poderes hegemônicos, o mapa mental possibilita o
exercício da cidadania, de modo a intervir sob um olhar crítico na busca de soluções e
alternativas que permitam a convivência digna e voltada para o bem estar de todos na
sociedade, conforme afirma Reigota (2009).
do computador e, mapas interativos que constituem mapas dinâmicos, ou seja, mapas que
podem ser elaborados on-line, passíveis de atualizações e modificações, sem ocupar espaço
rígido no computador e, ainda funcionar na interface com componentes de multimídia, como
fotografias, textos e vídeos e/ou outros mapas (hipermapas).
Menezes (2003) acrescentou também que a maior contribuição da Internet para
Cartografia é a utilização de mapas interativos juntamente com elementos multimídia,
imagens de satélite, fotografia área e SIG para melhorar o entendimento da dinâmica espacial.
Os mapas interativos, por sua vez, possibilitam superar os limites da “resolução
espacial”, como aponta Peterson (1997) e, com isso, tornam-se mapas dinâmicos, ao
proporcionar maior engajamento dos usuários com a informação geográfica se comparado aos
mapas em papel, na medida em que o usuário move o mapa de acordo com seus interesses e
necessidades, escolhe um dado e/ ou informação geográfica para incluir no mapa e,
principalmente controla como e o que é representado.
As pesquisas realizadas por Peterson (1997) permitiram refletir sobre as potencialidades
dos Mapas na Web nas aulas de Geografia. A Figura 7 apresenta as potencialidades do ensino
de Cartografia WEB nas aulas de Geografia da educação básica:
Portanto, os mapas web nas aulas de Geografia são materiais de apoio ao estudo da
dinâmica do espaço geográfico, dentre outras formas de representação da superfície terrestre
em meio digital ou em meio analógico.
7
O texto em língua estrangeira é: “[…] the internet has already improved the distribution of maps. If done
properly, the Internet has also the potential to improve the quality of maps as a form of communication,
thereby changing both the mental representations that people have of the world and how people mentally
process ideas about spatial relationships.”
52
é, suportes materiais, canais físicos, nos quais as linguagens se corporificam e através dos
quais transitam”.
Segundo Peterson (1999), a utilização de recursos de multimídia na Cartografia pode
ser identificada por cinco princípios básicos, são eles:
a) inadequação da representação da dinâmica espacial em papel,
especialmente por não suportar a modificação da resolução espacial;
b) os mapas em papel apresentam maiores custos de produção e distribuição,
enquanto os mapas produzidos na Internet possibilitam elaborar e
disponibilizar mapas simultaneamente e distribuir em fração de segundos,
além de permitir o “diálogo” com os mapas, ou seja, o usuário pode mudar
a escala do mapa para melhor visualização dos fenômenos geográficos;
c) o uso de multimídias na representação espacial possibilita ao usuário
formar sua perspectiva de mundo e, consequentemente melhorar os
conhecimentos básicos de Cartografia e, ao mesmo tempo, produzir uma
representação mental do seu espaço de vivência e, especialmente o espaço
além das suas experiências diretas em outras escalas espaciais;
d) valor intrínseco da multimídia: melhora aquisição da informação e
construção do conhecimento espacial em um processo participativo;
e) obrigação moral da comunicação cartográfica em levar as pessoas a
perceber o espaço geográfico e proporcionar acesso à informação para a
tomada de decisões.
8
O texto em língua estrangeira é: “... the integrated multimedia-GIS approach provides a multi-sensory learning
environment.”
57
ferramentas para dar mais zoom ou aumentar a escala do mapa em diferentes áreas
para inserir vídeos de lugares com fotos e sons. (Peterson, 1995, p. 45)9
9
O texto em língua estrangeira é: “The interactive map is characterized by an intuitive user interface consisting
of graphical icons, a pointing device and the near instantaneous display of maps. The interactive map
includes “tools” to further zoom in on the map or “open-up” different areas and may include “videoclips” of
places with pictures and sound.”
59
possibilitaram obter dados e informações espaciais mais precisos, atualizados e com maior
rapidez sobre a superfície terrestre.
Estas geotecnologias no processo de mapeamento se mostram como importantes
materiais de apoio as atividades cartográficas nas aulas de Geografia ao permitir o educando
localizar, correlacionar, analisar fatores geográficos atuantes na dinâmica da superfície
terrestre com dados/informações em diferentes escalas espaciais e temporais a partir do seu
espaço de vivência, como o bairro.
O pesquisador José Jésus Reyes Nunes (Nuñez, 2006) desenvolveu um material em
meio digital relacionado ao Ensino de Cartografia para alunos dos níveis fundamental e
superior na Hungria. Este material denominado “TÉRKÉPTÖRTÉNET” agrega três temáticas
que correspondem a História dos Mapas que, também tratou um pouco da História da
Hungria, Sistema de Informações Geográficas e Cartografia Multimídia e contém textos
interativos e jogos cartográficos.
Neste contexto, a tese de doutorado da profa. Angelica Carvalho Di Maio da
Universidade Federal Fluminense (2004) mostra a importância da inserção das geotecnologias
aplicadas ao ensino de Cartografia nas aulas de Geografia:
O termo GNSS foi criado em 1991 como sistemas que possuem capacidade de
posicionamento de cobertura global; compreende ao GPS, GLONASS e o GALILEU e,
entrando o CAMPASSS da China. Assim, os GNSS são sistemas de navegação global que
foram usados a partir de 1991, entre os quais se encontra o GPS.
O GPS foi desenvolvido na década de 1960 pelo projeto Navstar e fornece o
posicionamento de um objeto móvel através do sistema de coordenadas, medidas de distância
de um ponto em qualquer parte do mundo com grande precisão, conforme afirmaram Bernardi
e Landim (2002), inserindo assim maior dinamismo no levantamento e representação dos
dados geográficos.
Dentre os GNSS, o GPS (Sistema de Posicionamento Global) é o sistema de
localização por satélite mais utilizado no processo de mapeamento. Segundo Bernardi e
Landim (2002), o GPS consiste em três segmentos principais, são eles:
a) espacial - está relacionado aos satélites que estão em órbita da Terra,
distribuídos em 6 órbitas distintas a uma altitude de 20.200Km
aproximadamente com uma inclinação de 55 em relação ao Equador com
período de revolução de 12 horas . Essa configuração garante que ao menos
quatro satélites sejam captados pelo GPS permitindo seu uso em qualquer
local da Terra;
b) controle - está relacionado ao monitoramento e o controle do sistema de
satélites e, atualiza os dados de navegação de cada satélite que é realizado
em cinco estações de monitoramento mundial;
c) usuário- está relacionado a comunidade usuária que pode ser dividida em
civil (navegação por carros, ônibus, uso em esportes radicais,
posicionamento de objetos) e militar (treinamento, movimentos
conflituosos).
Cada vez mais, o GPS faz parte do cotidiano de adolescentes e jovens em idade
escolar; entretanto, a maioria deles não sabe manusear e, por conseguinte obter informações
sobre rotas e deslocamentos e dados sobre uma dada área.
61
10
O texto em língua estrangeira é: “[…] the geography educator and student can view most locations on the
Earth’s surface from any angle and from any distance. The tool simulates flying above the landscape and
stopping at key points of interest that you specify. At any point, you can zoom, pan, or tilt the Earth view for
a 3D perspective.” (KERSKI, 2009, p.1).
63
A inserção deste programa nas aulas de Geografia requer metodologias de ensino que
contribuam para o desenvolvimento da cognição e percepção espacial do aluno, pois em
alguns locais as imagens de satélite são marcadas pela baixa resolução caracterizado pelo
excesso ou omissão de informações geográficas como abordaram Gonçalves et al. (2007)
devido aos contextos sociais e políticos, como acrescenta Crampton (2010). Novaes (2014)
mostra as escolhas que o Google faz para representar os lugares que, muitas vezes impõe
limites para controlar territórios, como as comunidades; em outros lugares, as imagens de
satélite apresentam boa resolução devido aos mecanismos de estratégias e controle do espaço
urbano pelas autoridades do Estado.
Martins, Seabra e Carvalho (2013) apontam o uso do Google Earth para o ensino da
Geografia na construção de mapa do bairro de residência dos alunos para o 6° ano de
escolaridade. Os resultados mostraram a importância dos conhecimentos prévios para
trabalhar a tecnologia espacial nas atividades cartográficas com o espaço de vivência dos
educandos.
12
O sistema em nuvem consiste no sistema operacional de programas ou softwares armazenados em servidores
interligados por meio da Internet não ocupando espaço no disco rígido do computador.
65
fundamental apontam que “A Geografia pode ser trabalhada com imagens, recorre a
diferentes linguagens na busca de informações e como forma de expressar suas interpretações,
hipóteses e conceitos”.
Os PCNs apresentam a Cartografia como eixo temático da grade curricular para o
terceiro ciclo do ensino fundamental notadamente “Eixo 4: A Cartografia como instrumento
na aproximação dos lugares e do mundo” e, não como sinônimo de representação dos
fenômenos espaciais. A Cartografia é uma linguagem essencial para entender a espacialização
dos fenômenos geográficos e, dessa forma é uma linguagem que deve ser utilizada no
decorrer de todos os anos de escolaridade e, portanto desde os anos iniciais da Educação
Básica.
Apesar do Ministério da Educação no Brasil ter criado o Programa Nacional de
Informática na Educação (Brasil, 2010)13 o qual esteve voltado para informatização do ensino
na rede pública de ensino com a implantação de laboratórios de informática nas escolas da
rede pública de todo Brasil, a Cartografia Digital não é discutida nos PCNs de Geografia
(Brasil, 1998, p.7) embora um dos objetivos do ensino fundamental no ensino de Geografia é
“[...] utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir
conhecimentos”.
A Cartografia ensinada nas escolas, em especial no segundo segmento do Ensino
Fundamental, deve ultrapassar a localização dos fenômenos geográficos tornando uma
linguagem que desperta interesse e motivação dos alunos para a leitura espacial tanto na sala
de aula, como na vida cotidiana. Nesse sentido, é essencial que alunos saibam utilizar os
elementos básicos da Cartografia tanto para codificação quanto para decodificação das
representações cartográficas.
As práticas docentes devem trabalhar diferentes formas de representação do espaço
geográfico, seja por meio do croqui, planta, mapa, carta topográfica, carta temática, globo,
mapa mental como também o uso de fotografias aéreas e imagens de satélite no processo de
alfabetização cartográfica, conforme apontam os PCNs de Geografia para o terceiro ciclo do
Ensino Fundamental.
O uso da tecnologia espacial e do SIG se configuram como materiais de apoio às aulas
de Geografia, ou seja, ferramentas que, segundo Di Maio (2004, p. 9) facilita o “[...]
13
O Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) é um programa educacional criado pela Portaria nº
522/MEC, de 9 de abril de 1997, para promover o uso pedagógico de Tecnologias de Informática e
Comunicações (TICs) na rede pública de ensino fundamental e médio. O MEC incentiva a utilização de
softwares livres e produz conteúdos específicos, voltados para o uso didático-pedagógico, associados à
distribuição Linux-Educacional.
67
Esta investigação foi direcionada ao sétimo ano do ensino fundamental da rede pública
municipal de São Gonçalo/ RJ.
Juntamente com a Coordenadora de Ensino e Apoio Pedagógico do 6° ao 9° ano da
Secretaria Municipal de Educação de São Gonçalo/RJ, a pesquisadora escolheu a Escola
Municipal Raul Veiga está localizada no bairro Raul Veiga para aplicação da presente
metodologia em razão dos seguintes fatores, a saber:
4.3 Levantamento das tecnologias digitais utilizadas pelos alunos em seu dia a dia
em http: <//www.hostnet.com.br>, sendo que este é pago anualmente. Apesar do custo tanto
para o registro do domínio quanto do servido para hospedar a página na internet, a escolha por
um domínio próprio contribui para personalizar a elaboração deste material de apoio ao
ensino de Cartografia. Ressalta-se que este material será disponibilizado para a Secretaria
Municipal de Educação de São Gonçalo/RJ, como também ficará disponível online, no
mesmo endereço eletrônico.
As bases cartográficas utilizadas para a elaboração das atividades do MMR foram
manipuladas e tratadas no SIG Terra View 4.2 e no ArcGIS 10.1. Ressalta-se que os alunos
não usaram estes SIG para o desenvolvimento das atividades, mas o ArcGIS Online que é um
SIGWeb gratuito. O software Autocad 2013 também foi utilizado para o desenvolvimento
das atividades que, posteriormente foram avaliadas, conforme descrito a seguir:
a) base cartográfica “Geral2003”.dwg referente a malha municipal de São
Gonçalo/RJ obtida no formato shapefile(shp) com os seguintes metadados:
Sistema Geodésio SAD 69 e projeção: UTM_ e fuso 23S. O Sistema
Geodésio foi convertido para SIRGAS_2000. No software AUTOCAD
2013 foram extraídas a rede de drenagem e as curvas de nível as quais
foram convertidas para o formato shapefile no ArcGIS 10.1;
b) base cartográfica “Malha Estadual (Rio de Janeiro)” no formato shapefile
com os seguintes metadados: escala geográfica 1:100.000, projeção UTM,
Sistema Geodésio:WGS84 e fuso:23S. O Sistema Geodésio foi mantido.
No ArcGIS 10.1 foi feita o recorte do município de São Gonçalo e, também
da Região Metropolitana do Rio de Janeiro a partir da “Malha Estadual
(Rio de Janeiro)” gerando arquivos no formato shapefile;
c) base cartográfica “Uso e Cobertura” referente ao uso e cobertura do solo do
Estado do Rio de Janeiro no formato shapfile com os seguintes metadados:
escala geográfica 1:100.000, projeção UTM, Sistema Geodésio: WGS84 e
fuso:23S. No ArcGIS 10.1 foi feita a intersecção dessa base cartográfica
com o shapefile São Gonçalo.shp e, em seguida, o recorte do município
para obter o atual uso do solo e cobertura vegetal em São Gonçalo/RJ;
d) base cartográfica “Bacia Hidrográfica do Rio Alcântara” no formato
shapefile com os seguintes metadados: escala geográfica 1:100.000,
projeção UTM, Sistema Geodésio:WGS84 e fuso:23S. Essa base
cartográfica foi obtida junto à Secretaria Municipal de Fazenda de São
74
A escolha dos conteúdos foi realizada com base nos PCNs de Geografia e PCNs de
Meio Ambiente para o terceiro ciclo do ensino fundamental que propõe, dentre outros
conteúdos curriculares, a “Cartografia” e “Hidrografia” em consonância com a proposta
curricular da rede municipal de ensino de São Gonçalo/RJ para o sétimo ano de escolaridade.
Definiu-se como temática “Percepção Socioambiental do Rio Alcântara” em função da
população de São Gonçalo/RJ considerar, o Rio Alcântara como valão e, consequentemente
não possuir nenhuma relação com este recurso hídrico como afirma Ramos (2011).
Desta forma, este material está em consonância a um dos objetivos que integra a
Política Municipal de Meio Ambiente de São Gonçalo/RJ que é “promover a conscientização
permanente e sistemática da população e a adequação do ensino dentro do princípio da
conscientização e mobilização, de forma a incorporar os princípios e objetivos de Educação
Ambiental na escola e na comunidade (Lei 016/2011. Art. 3°)” de acordo com o (Plano
Diretor Municipal Participativo 2006, p.47), “criar no cidadão o vínculo com o espaço físico,
ou seja, o orgulho de ser e de morar em São Gonçalo”.
Este material foi estruturado em três módulos: Módulo 1 (Aplicando novas tecnologias
à Cartografia), Módulo 2 (Explorando o Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ) e Módulo 3
(Percepção Socioambiental do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ). A Figura 9 apresenta a
estrutura do MMR.
75
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
e atitudes sobre o meio ambiente que, tem pesadas consequências para a fauna e flora, como
também para a população local.
Na segunda pergunta “Quais são os materiais cartográficos utilizados nas suas aulas
e/ou que estão disponíveis na escola?” constatou-se que os mapas em papel são utilizados por
100% dos professores, ou seja, todos os entrevistados; ressalta-se que 30%, ou seja, nove dos
professores utilizam somente mapas em papel. A Figura 11 apresenta os materiais utilizados
no ensino de Cartografia nas aulas de Geografia.
14
“Espaço & Vivência” escrito por Levon Boligian Rogério Martinez e Wanessa Andressa Alves.
84
Entende-se que estes professores estão literalmente presos aos mapas prontos e
acabados sem participação dos alunos. É preciso conceber outras formas de representação
espacial como mapa mental, croqui, imagens de satélite e, também o uso do SIG Web como
materiais de apoio.
Entretanto, foram detectadas duas respostas em que os professores abordam o ensino
do mapa, porém os professores não especificaram qual(is) material (is) eles utilizam para
confeccionar estes mapas e, ainda se envolve a participação dos alunos, conforme as respostas
colocadas abaixo:
-“trabalhamos com a confecção de mapas das áreas mais atingidas
em nosso estado e no município”.
-“confecção de mapas”.
Meio Ambiente, como informou a bibliotecária da escola onde foi aplicado o projeto, embora
13%, ou seja, 3 professores deram resposta positiva. A Figura 13 mostra a interpretação das
respostas dos professores em relação à disponibilidade na rede de material sobre Cartografia e
Educação Ambiental sobre São Gonçalo/RJ.
É preciso que sejam oferecidos cursos de formação continuada aos professores da rede
pública municipal de ensino de São Gonçalo/RJ abordando o uso de recursos de multimídia e
88
Antes da avaliação do Mapeando Meu Rio foi aplicado um questionário, aos alunos
das turmas participantes, formado por cinco perguntas.
Na primeira pergunta “Quais os aparelhos eletrônicos mais utilizados por você no seu
a dia a dia?” constatou-se que o smartphone e o computador são tecnologias contemporâneas
aos alunos participantes desta investigação. A Figura 16 mostra a identificação das
tecnologias utilizadas pelos alunos.
Na quinta pergunta “Alguma vez esse ano você realizou tarefa escolar no laboratório
da sua escola? Caso responda sim, especifique.”, todos os alunos participantes da pesquisa
91
O Mapeando Meu Rio (MMR) foi organizado em três módulos cujas temáticas
abordadas seguem a nova Taxonomia de Bloom analisado por Ferraz e Belhot (2010) que
propõe objetivos instrucionais ao processo de ensino e aprendizagem para apoiar a
estruturação, o planejamento da aplicação do MMR e as formas de avaliação deste
instrumento como apoio ao ensino de Cartografia para o estudo do meio ambiente. A Figura
21 mostra os objetivos da Taxonomia de Bloom.
92
Neste módulo, o texto interativo teve como propósito revisar sobre a importância dos
mapas e os elementos que compõe uma representação espacial. O item “Curiosidade – A
descoberta da Longitude” teve como objetivo disponibilizar mais informações sobre as
coordenadas geográficas. A Figura 23 apresenta a tela do texto interativo e do item
“Curiosidade” do Módulo 1.
Ano: 7º ano
Objetivos Específicos: - reconhecer os elementos básicos da Cartografia (orientação espacial, legenda, escala e coordenadas geográficas);
- aplicar três categorias cartográficas (localização, correlação e análise) por meio de imagens de satélite multitemporais no Google Earth;
- praticar os conceitos de paisagem e lugar;
- avaliar as contribuições da Cartografia digital para o ensino de Geografia.
06/05/2013 Aula expositiva sobre a importância dos mapas e as novas tecnologias aplicadas à Cartografia.
13/05/2013 Uso do GPS no pátio da escola. Cada dupla ou grupos de três alunos coletaram dois pontos de GPS.
- Entrevista a
moradores e
comerciantes.
Neste módulo encontram-se dois textos interativos. O primeiro texto buscou relembrar
o ciclo da água, sua importância para o meio ambiente e a dinâmica fluvial e o conceito de
bacia hidrográfica. A Figura 26 apresenta a tela deste texto interativo e dos itens “Leitura
Complementar” do Módulo 2.
101
O propósito do segundo texto foi apresentar uma breve explicação sobre o Rio
Alcântara “com vida” e o Rio Alcântara “sem vida” e o seu processo de degradação
ambiental. Além disso, encontram-se os itens “Leitura Complementar”, sendo o primeiro
102
interpretar e analisar a percepção dos alunos sobre o Rio Alcântara através do mapa mental
compreender os problemas ambientais urbanos no município de São Gonçalo/RJ
O Apêndice C mostra o material usado pelos alunos para levantar dados e informações
sobre aspectos ambientais e sociais no entorno de um dos canais do Rio Alcântara.
108
Ainda com relação à atividade desde módulo, na segunda etapa os alunos aplicaram
um questionário a um morador ou comerciante do bairro Raul Veiga para levantar
informações em relação à percepção dos moradores e comerciantes sobre o Rio Alcântara. O
apêndice D mostra o questionário utilizado pelos alunos na entrevista aos moradores e/ou
comerciantes.
verificar se o SIG Web ArcGIS Online desperta maior interesse e envolvimento dos alunos no Ensino de Cartografia
apontar através das mídias digitais os problemas ambientais e os fatores responsáveis pela atual situação ambiental do canal do Rio Alcântara
verificar as contribuições, os limites e as possibilidades de recursos de multimídia, da Internet e do SIG Web na percepção ambiental e, por conseguinte reflexões, ações e
atitudes em prol da conservação do meio ambiente.
A primeira etapa desta atividade consistiu na identificação do fluxo das águas do Rio
Alcântara em direção à nascente e à foz no ArcGIS Online diferenciando por meio da variável
cor.
Em relação ao número 2 da atividade, os alunos utilizaram a base Cartográfica
“Bairros do Rio Alcântara” e com apenas um click inseriam o nome de cada bairro, ao todo
são 14 bairros, com sua respectiva população e a área (Km²) por onde percorre o curso
principal do Rio Alcântara no município de São Gonçalo/RJ. A seguir, encontra-se a tabela 7
utilizada pelos alunos para o desenvolvimento desta etapa.
Tabela 7 – Atividade correspondente à população de cada bairro e sua respectiva área (Km²)
Atividade
População dos bairros por onde percorrem as águas do curso principal do Rio Alcântara em
São Gonçalo/RJ
Bairro População Área (Km²)
1-
2-
3-
4-
5-
6-
7-
8-
9-
10-
11-
12-
13-
14-
15-
Total: ___________ Total: ___________
N total da população/pessoas
Densidade demográfica
________________________________=________
por onde percorre as
águas do curso principal
Total de área dos bairros (em Km)
do Rio Alcântara em São
Gonçalo/RJ
114
A última etapa desta atividade consistiu na criação de um mapa por meio da base
cartográfica disponibilizada no SIG Web ArcGIS Online, “Imagem de satélite” ou
“OpenStreetMap” com o intuito de propor através da linguagem cartográfica, para os órgãos
públicos municipais, soluções para minimizar ou, até mesmo reduzir a degradação
socioambiental do Rio Alcântara.
Optou-se pelo uso do SIG Web ArcGIS Online que é um sistema de informação
geográfica disponibilizado gratuitamente na Internet desenvolvido em sistema de nuvens, pela
empresa norte-americana Esri. Após a escolha do Mapa Base no ArcGIS Online os alunos
utilizaram o Programa Paint para elaborar a legenda, inserir título no mapa e outros elementos
básicos da Cartografia. Os mapas foram postados em http:<www.mapeandomeusrios.com.br>
na pasta correspondente a dupla ou ao grupo de três alunos e, depois conectados as
multimídias produzidas por eles.
A Figura 33 mostra os alunos no Laboratório de Informática da escola desenvolvendo
a atividade do Módulo 3.
No “Terceiro passo” houve um envolvimento maior dos alunos, pois bastava clicar
no temporizador que o aluno conseguiria visualizar as mudanças na paisagem do lugar onde
ele vive. Dentre as respostas convém destacar duas delas:
a) “Há 10 anos nossa rua não tinha asfalto e o posto de gasolina era
desativado. A comunidade que tinha atrás das nossas casas não era menor;
não tinha o mercadinho, não tinha o lava jato que hoje e uma
concessionária de carro, não tinha o asilo, não tinha a farmácia Raul Veiga,
não tinha a igreja perto da escola, não tinha o brechó, não tinha a igreja
oceânica, não tinha a banca de jornal, não tinha o ponto de ônibus, não
tinha a casa de construção, não tinha a loja de pisos, não tinha a mecânica
de motos e não tinha a marmoraria e nem padaria !!”;
b) “Não asfaltaram as ruas, poucas casas foram construídas, isso só trouxe
prejuízos à rua tem muitos buracos, muita lama, o lixeiro não passa os
cachorros fazem xixi no portão tem ratos atropelados na rua.”, “asfalto as
ruas as casas mudaram cortaram muitas árvores construirão mais casa
prédios”.
Considerou-se que os alunos teriam apreendido estes conceitos no 6° ano e, nos anos de
escolaridade anterior.
Constatou-se que o uso de tecnologias digitais aplicadas à Cartografia, o GPS e o
aplicativo Google Earth são ferramentas que estimulam e despertam o interesse dos alunos
para participar de atividades cartográficas.
O plano de aula elaborado para este módulo foi organizado em dez aulas, porém a
atividade foi finalizada após quase três meses em razão da reduzida disponibilidade de
computadores, oito no total, e baixa conexão da Internet e sua distribuição em rede, como
também a liberação de alunos pela ausência de professores nos dias da avaliação do MMR.
Em busca de melhoria do ensino da Cartografia é preciso usufruir das contribuições e
das possibilidades das tecnologias aplicadas ao processo de mapeamento, de modo que os
limites não se tornam obstáculos ao uso dessas ferramentas como auxílio ao ensino da
Cartografia.
Considerando o conceito de escala abordado por Castro (2000, p.121) “[...] tão
importante saber como as coisas mudam com o tamanho, é saber o que muda e como mudam”
vai além da escala cartográfica que é a escala geográfica, como medida que confere
visibilidade ao fenômeno representado no mapa. Percebeu-se que os alunos utilizaram o termo
distância como medida para explicar a visualização dos objetos (casa e escola) nas duas
imagens de satélite.
O “Segundo passo” não foi analisado porque nenhum aluno registrou a foto do
caminho da casa à escola.
A realização do “Terceiro passo” foi estimulante para os alunos, pois puderam
visualizar as transformações da paisagem do lugar onde eles vivem em relação aos últimos
123
Verifica-se que a legenda dos mapas foi construída a partir da variável visual cor e
existe uma correlação entre os elementos representados graficamente.
A participação, o envolvimento, o interesse dos alunos durante todo o
desenvolvimento da atividade mostrou como o GPS e o uso do aplicativo Google Earth são
ferramentas que estimulam e despertam o interesse dos alunos e, por conseguinte se tornam
importantes recursos para o ensino dos mapas com adolescentes em idade escolar que são
contemporâneos as tecnologias digitais.
A inserção das geotecnologias, como o sensoriamento remoto por meio do Google
Earth e o uso GPS deve considerar os conhecimentos básicos de Cartografia e, também
conhecimento de Geografia na produção do mapa em meio digital.
125
Na primeira etapa deste módulo foi solicitado que os alunos que elaborassem um mapa
mental considerando os desenhos feitos a partir da experiência deles com o Rio Alcântara.
Foram selecionados quatro mapas mentais que foram interpretados e analisados, conforme as
especificidades do item 5.4.2.
5.4.2.1.1 Análise e interpretação dos mapas mentais: turma 701
5.4.2.1.1.1 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 1: Mapa mental e a natureza
“intocada” pelo homem
Figura 38- Mapas mentais e a natureza “intocada” pelo homem – turma 701
O imaginário desses alunos é formado por uma concepção mítica da natureza, como se
no entorno do Rio Alcântara fosse uma área natural protegida, um paraíso, um espaço
desabitado em que a natureza permanece virgem e intocada pelo homem e, conforme Diegues
(2001). Observou-se uma representação do ecologismo preservacionista não mostrando os
objetos artificiais e naturais que constituem esse espaço geográfico. Em conformidade com
Santos (2002, p. 153) “O espaço deve ser considerado como um conjunto de relações
realizadas através de funções e de forma que se apresentam como testemunho de uma história
escrita por processos do passado e do presente”.
Logo, não há uma leitura geográfica do entorno do Canal do Rio Alcântara
representada no mapa mental destes alunos. Além disso, não foi detectado nenhuma legenda o
que também dificultou a leitura destes mapas.
5.4.2.1.1.2 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 2: Mapa mental e a proximidade da
“realidade” socioambiental do canal do Rio Alcântara
127
Verificou-se a representação mais próxima do canal fluvial do Rio Alcântara com suas
águas poluídas, como mostram os mapas mentais representados na Figura 39.
5.4.2.1.2.1 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 1: Mapa Mental e a natureza
“intocada” pelo homem
Dentro dessa especificidade, os mapas mentais representam uma natureza sem que
haja ação do homem. A Figura 40 mostra os mapas mentais e a natureza “intocada” pelo
homem.
Figura 40- Mapas mentais e a natureza “intocada” pelo homem - turma 702
Ao analisar os mapas mentais das alunas representado na figura 40 nota-se que não
existem objetos naturais e objetos artificiais no entorno do canal do Rio Alcântara, como se o
entorno do canal do Rio fosse desumanizado, não existissem construções, ou seja, uma
representação de um espaço sem a presença do homem. Há uma noção de mito naturalista
que, segundo Diegues (2001, p.32), “[...] diz respeito a uma representação simbólica pela qual
existiriam áreas naturais intocadas e intocáveis pelo homem”.
Archela, Gratão e Trostdorf (2004) acrescentam que os mapas mentais permitem
estabelecer relações entre o modo como cada pessoa vê o seu lugar. Neste sentido, as alunas
129
percebem o canal do Rio Alcântara como um recurso hídrico límpido com vida e com uma
carga naturalista, uma vez que não representou elementos humanos e a paisagem construída
nas margens do canal, ou seja, não há uma concepção de espaço geográfico.
5.4.2.1.2.2 Análise dos mapas mentais referente ao Grupo 2: Mapa mental e proximidade da
“realidade” socioambiental do canal do Rio Alcântara
Em consonância com Richter (2010, p. 167), “[...] o mapa não é um reflexo direto da
realidade, ele passa por filtros, por leituras particulares que alteram sua dimensão – do geral
ao específico”.
Neste sentido, ao analisar os mapas mentais da Figura 41, verifica-se a percepção do
canal do Rio como “realmente ele se apresenta”, com suas águas escuras devido aos objetos
lançados ao longo do seu curso; entretanto, houve limitação em representar a poluição das
águas do canal ignorando as margens dos rios, os objetos espaciais no entorno, como casas,
130
comércios e oficinas sem relacionar como agentes produtores do espaço urbano responsáveis
pela atual situação ambiental deste canal.
Nos mapas mentais da turma 702 verificou-se que, a grande maioria dos alunos, não
representou correlações entre poluição e os fatores de ordem natural e ambiental responsáveis
pela degradação das águas do canal que o tornou impróprio para o uso e consumo.
Portanto, em ambas as turmas verificaram-se algumas dificuldades quanto às noções
cartográficas, como proporcionalidade entre o canal representado ou, mesmo o curso principal
do Rio Alcântara e os objetos espaciais no entorno deste recurso hídrico, em relação à
orientação dos objetos espaciais, como residências, comércio, ruas que, em muitas
representações espaciais foram colocadas sem correlação com o entorno desse canal;
entretanto, as águas do canal ou do curso principal do Rio foram representadas como objetos
mais significativos no mapa.
Nesta etapa, os alunos foram a campo para levantar informações sobre aspectos físico-
ambientais e sociais do entorno do canal do Rio Alcântara localizado a poucos metros da
escola. Cada dupla ou trio recebeu uma ficha, onde puderam registrar sua percepção a respeito
do canal fluvial do Rio Alcântara em estudo. As análises foram feitas separadamente por
turma.
Figura 43- Percepção socioambiental dos alunos da turma 702 em relação ao canal fluvial do
Rio Alcântara que percorre próximo à escola
Com o intuito de obter informações e coletar dados sobre o canal do Rio Alcântara que
percorre a pouco metros da escola, os alunos aplicaram uma entrevista aos moradores
e/comerciantes com o objetivo de compreender a percepção socioambiental em relação a este
recurso hídrico. Dentre as respostas, foram selecionadas as perguntas correspondentes aos
números 6 e 7.
133
Figura 44 – A qualidade das águas do canal do Rio Alcântara afeta a sua vida?
Quase todos os entrevistados, com exceção de 7%, percebem o canal fluvial como um
valão devido a acentuada degradação e a poluição de suas águas. A Figura 45 mostra a
percepão dos moradores e/comerciantes a respeito da qualidade das águas do Rio Alcântara a
partir de um dos seus canais.
134
Com relação a percepção dos moradores e/ou comerciantes sobre o canal do Rio
Alcântara que percorre próximo à escola, verificou-se que 67% dos entrevistados disseram
que as águas poluídas do canal afeta sua qualidade de vida, enquanto uma minoria deles, cerca
de 33% mencionaram que a degradação do canal não influencia seu dia a dia porque não
fazem uso das águas. A Figura 46 mostra como a qualidade das águas do canal do Rio
Alcântara afeta dos entrevistados.
Com relação à qualidade das águas deste Rio quase todos os entrevistados, com
exceção de 8%, percebem o canal fluvial como um valão, pois suas águas encontram-se em
alto estágio de degradação. A Figura 47 mostra a percepão dos moradores e/comerciantes a
respeito da qualidade das águas do Rio Alcântara a partir de um dos seus canais.
O Módulo 3 foi avaliado a partir das informações coletadas em campo sobre o entorno
do canal do Rio Alcântara que percorre a poucos metros da escola por meio de observações,
entrevistas com moradores/comerciantes, registro de mídias (texto, foto e vídeo). No item 4
desta atividade, os alunos produziram mapas no ArcGIS Online com propostas e soluções
para a Prefeitura Municipal de São Gonçalo/RJ para despoluir o Rio Alcântara.
Ressalta-se que as turmas foram avaliadas separadamente.
Na primeira etapa da atividade elaborada para este módulo, os alunos tiveram que
identificar a nascente e a foz do Rio Alcântara utilizando o “Conteúdo” que corresponde a
camada em um SIG, “Curvas de nível de São Gonçalo” e o Mapa Base “OpenStreetMap”
136
(disponibilizado no ArcGIS Online). Foi solicitado aos alunos que escolhessem um símbolo
partir das feições (símbolos) e cores disponíveis neste SIG Web para marcar a nascente e a foz
deste Rio.
Os alunos tiveram dificuldades para identificar à nascente e a foz a partir das curvas de
níveis; logo, a pesquisadora relembrou aos alunos, de uma maneira bem simplificada para não
interferir nas respostas, que a nascente é onde o rio nasce e a foz corresponde ao encontro do
rio com o mar, sendo o Rio Alcântara um afluente do Rio Guaxindiba.
Em virtude das dificuldades em relação aos conteúdos “Bacia Hidrográfica” e “Curva
de nível”, os alunos identificaram no mapa a nascente e a foz do Rio Alcântara
“acompanhando” por meio do nome desse recurso hídrico e, com o marcador por meio do
modo de implantação pontual e a variável cor e forma indicaram o fluxo em direção à
nascente e a foz do Rio Alcântara e consultaram a página
http://www.mapeandomeusrios.com.br/modulo-2/ onde estão disponibilizadas brevemente
algumas informações socioambientais sobre o Rio Alcântara. A Figura 48 mostra a
identificação da nascente e da foz do Rio Alcântara.
Figura 50- Identificação dos bairros que percorrem o curso principal do Rio Alcântara
Ao analisar a Figura 50, observa-se que 55% dos alunos, ou seja, 13 dentre os 24
alunos participantes localizaram e analisaram os bairros por onde percorre o curso principal
do Rio Alcântara em São Gonçalo/RJ e, apenas 18%, ou seja, apenas 4 alunos indicaram
corretamente os bairros.
Estes resultados demonstram claramente que os alunos, conforme aponta Simielli
(2003), não saíram do primeiro nível de categoria cartográfica que é a localização e análise e,
acrescenta que os alunos dos 7º ano já tem condições para trabalhar com análise/localização
dos fenômenos espaciais representados no mapa por terem passado pelo processo de
alfabetização cartográfica; logo, como essas categorias não foram apreendidas por estes
alunos.
É necessário que estes alunos retornem à alfabetização cartográfica, ou seja, construam
noções de elementos básicos da Cartografia para que o aluno possa entender a espacialização
dos fenômenos geográficos a partir da elaboração de mapas e gráficos, considerando o
processo de ensino e aprendizagem da Cartografia no Ensino de Geografia como linguagem,
como afirma Passini (2012).
Para a realização do item 3, os alunos que produziram um texto relacionando os
motivos e as ações do homem que contribuíram para a degradação do Rio Alcântara ao longo
das últimas décadas, a partir das informações coletadas em campo: “Minha Percepção do Rio
Alcântara” e “Questionário aplicado aos moradores/comerciantes”; foi solicitado também que
os educandos registrassem mídias (foto e vídeo) do entorno do canal.
139
Observou-se, conforme mostra a figura 51, que a percepção dos alunos a respeito das
fontes poluidoras do canal do Rio Alcântara localizado próximo à escola está relacionada aos
seguintes fatores de ordem antropogênica: falta de coleta de lixo responsável por 77% da
alteração da degradação do canal, seguido de lançamento de esgotos com 38% e construções
(casas, comércio e oficinas mecânicas) às margens do canal que, também contribuíram com
38% para degradação de suas águas, confirmam que:
“[...] o crescimento de áreas urbanas sem as necessárias condições de manutenção de
áreas verdes, para permitir o equilíbrio do ciclo hidrológico, sem as mínimas
condições de saneamento (lixo, sedimentos e esgoto), são exemplos de impactos
indiretos, oriundos da bacia de drenagem e que causam a degradação dos canais.”
(CUNHA, 2007, p.224)
Foram produzidos dois vídeos e uma foto que demonstraram a percepção deles sobre
as causas da poluição do canal fluvial; os vídeos estão disponibilizados no seguinte endereço
140
Foto Vídeo
Vídeo
no tratamento de esgoto, assim como pouco vínculo afetivo entre as pessoas com os canais do
Rio Alcântara devido ao despejo de objetos como móveis, sofás; enquanto, o outro vídeo
produzido apenas mostrou a situação ambiental do Rio. Não foi verificada nenhuma proposta
de minimização e soluções para a degradação das águas desse Rio.
Na última etapa desse módulo, os alunos fizeram uma proposta na tentativa de resolver
a degradação ambiental do Rio Alcântara a partir de um dos seus canais por meio de um mapa
utilizando o ArcGIS Online. Buscou-se avaliar como os alunos utilizaram seus conhecimentos
da Cartografia na elaboração das propostas propondo soluções para minimizar ou, mesmo
melhorar as condições socioambientais do Rio Alcântara a partir de um dos seus canais que
percorre próximo à escola, como também os conhecimentos geográficos na produção do
mapa. A Figura 53 apresenta as soluções propostas pelos alunos para despoluir o canal fluvial.
Figura 53 - Soluções propostas pelos alunos para despoluir o canal fluvial
Dentre todos os mapas elaborados pelos alunos, apenas duas alunas conseguiram
decodificar parcialmente a imagem de satélite. Construíram um mapa utilizando as variáveis
visuais cor e forma propondo à Prefeitura colocação de lixeiras em vias públicas e a remoção
de casas próximas às margens do canal do Rio Alcântara que se localiza a poucos metros da
escola no bairro Raul Veiga; entretanto, apresentaram dificuldades quanto à interpretação do
tamanho dos objetos devido à distorção do tamanho das lixeiras, ultrapassando as lixeiras,
ultrapassando as residências e, até mesmo a colocação dentro do leito do canal. A Figura 55
mostra uma proposta para minimizar ou mesmo despoluir o canal fluvial.
143
Na primeira atividade deste módulo, os alunos deveriam identificar o fluxo das águas
em direção à nascente e a foz do Rio Alcântara utilizando o “Conteúdo” que corresponde a
camada em um SIG, “Curvas de nível de São Gonçalo” e o Mapa Base “OpenStreetMap”;
utilizou-se modo de implantação pontual forma e foram escolhidas as variáveis visuais cor, a
partir de símbolos disponíveis no ArcGIS Online. A Figura 56 mostra um exemplo da
identificação em direção à nascente e a foz do Rio Alcântara.
144
Observou-se que esta turma apresentou dificuldades para localizar a nascente e a foz
por meio das curvas de nível, embora a proposta desta atividade tenha considerado
conhecimentos prévios dos alunos sobre “Bacia Hidrográfica” e “Curva de nível” no 6° ano
de escolaridade; logo, a identificação da nascente e da foz do Rio Alcântara foi localizada
consultando informações geográficas sobre o Rio Alcântara presentes no módulo 2 que está
disponível em http:<//www.mapeandomeusrios.com.br/modulo-2/>. A Figura 57 apresenta os
acertos relacionados à identificação dos bairros que percorrem o curso principal do Rio
Alcântara.
145
O grau de dificuldade desta turma pode ser considerado mediano, conforme aponta a
Figura 57, tendo em vista que 50% dos alunos conseguiram indicar o fluxo das águas em
direção à nascente e o mesmo percentual em relação à foz. Percebeu-se que os alunos
absorveram minimamente conteúdos relativos à “Bacia Hidrográfica” e “Curva de nível”.
Na segunda etapa desta atividade, os alunos localizaram, por meio do “Conteúdo:
Bairros do Rio Alcântara”, os bairros por onde percorrem o curso principal do Rio Alcântara
no município de São Gonçalo/RJ juntamente a população e a área Km² correspondente,
conforme o apêndice x. A Figura 58 apresenta os acertos relacionados à identificação dos
bairros que percorrem o curso principal do Rio Alcântara.
Figura 58- Identificação dos bairros que percorrem o curso principal do Rio
Alcântara
146
O mapa, portanto, é de suma importância para que todos que se interesse por
deslocamentos mais racionais, pela compreensão da distribuição e organização dos
espaços, possam se informar e se utilizar deste modelo e tenham uma visão de
conjunto. (ALMEIDA e PASSINI, 2005, p. 16)
Figura 60 – Mídias produzidas pelos alunos da turma 702 sobre o canal do Rio Alcântara
próximo à escola
Figura 61- Soluções propostas pelos alunos para despoluir o canal fluvial
Figura 62- Análise e interpretação de propostas para despoluir o canal do Rio Alcântara
5.4.4 Análise comparativa dos resultados entre as turmas 701 e 702 da Escola Municipal
Raul Veiga
53% dos alunos criaram mídias, como fotos e vídeos que, posteriormente foram combinadas
aos mapas.
Em terceiro lugar, buscou-se analisar o nível de conhecimento dos alunos em relação
aos conteúdos da Cartografia Básica e da Geografia. Em termos das noções básicas de
Cartografia no ensino, ambas as turmas apresentaram dificuldades, embora não seja regra
utilizar todos os elementos básicos da Cartografia (título, legenda, escala, coordenadas
geográficas) em uma representação espacial.
Observou-se que os alunos apresentaram dificuldades no entendimento relativo às
relações espaciais projetivas e euclidianas e, também noções de orientação espacial que, não
foram devidamente trabalhadas pelos professores nos anos escolares anteriores.
Por conseguinte, nas duas turmas do 7º ano, tanto nos mapas mentais como no uso de
imagens de satélite no Google Earth e, também no uso do SIG Web ArcGIS Online houve
dificuldades dos alunos para um dar título ao próprio mapa, identificar a escala gráfica e,
principalmente criar legenda relacionando os objetos presentes no mapa devido a dificuldade
quanto à visão vertical.
Em quarto lugar, os resultados do MMR nas duas turmas de 7º ano foram comparados
a partir do rendimento escolar dos alunos na disciplina de Geografia no decorrer do ano letivo
de 2013. A Figura 63 mostra as médias bimestrais das duas turmas participantes da pesquisa.
Com relação à turma 701, a média bimestral foi de 6,3 no primeiro bimestre (anterior
aplicação do MMR) e, chegou ao quarto bimestre com valor de 7,2 equivalendo a um
153
CONCLUSÃO
deles não desenvolve atividades relacionadas à temática ambiental; apenas dois professores
num universo de trinta docentes desenvolvem alguma atividade cartográfica relacionada aos
problemas ambientais do espaço próximo, neste caso o município ou a Região Metropolitana
do Rio de Janeiro.
É preciso superar a dicotomia entre o ensino de Geografia e a Educação Ambiental de
modo que as questões sociais e ambientais sejam compreendidas nas inter-relações entre
sociedade e natureza num única perspectiva para compreensão da produção do espaço
geográfico.
Constatou-se que existe um hiato entre os alunos, usuários frequentes do computador,
da Internet que possuem facilidades no manuseio de smartphones e as práticas pedagógicas
relacionadas à Educação Ambiental nas aulas de Geografia, pois não foi detectado o uso da
Cartografia Multimídia, Cartografia Web e as geotecnologias, o GPS, SIG, embora observou-
se minimamente o uso Google Earth e Google Maps na linguagem cartográfica para trabalhar
temática ambiental em diferentes escalas espaciais e temporais.
Torna-se importante que sejam oferecidos aos professores cursos de formação
continuada em nível de extensão ou pós-graduação abordando a inserção das geotecnologias,
recursos de multimídia e a Internet aplicada à linguagem cartográfica direcionada ao
desenvolvimento da Educação Ambiental no ensino de Geografia; conforme as respostas do
questionário, a maioria destes docentes não utiliza estas novas tecnologias que podem ser
obtidas gratuitamente como SIGs, imagens de satélite e até mesmo fotografias aéreas para
trabalhar com dados atualizados sobre o meio ambiente inclusive relacionado ao espaço
próximo do aluno.
Na avaliação do Mapeando Meu Rio constatou que, inicialmente houve rejeição por
parte dos alunos para compreender e entender o estado atual ambiental do Rio Alcântara a
partir de um dos seus canais cujas águas são percebidas por eles como valão; a proposta
metodológica em utilizar o computador, a Internet e a realização de atividades fora do âmbito
da sala de aula no pátio da escola e trabalho de campo estimularam e motivaram os alunos
para utilizar o GPS, o aplicativo do Google Earth e o SIG Web ArcGIS Online durante a
realização das atividades propostas nos módulos do MMR.
A metodologia da presente investigação mostrou que os alunos foram aprovados para
o oitavo ano com deficiências em relação às noções básicas de Cartografia. Detectaram-se
dificuldades para interpretar a visão vertical a partir das imagens de satélites, identificar
coordenadas geográficas no GPS e aplicar o conceito de escala. Somam-se, principalmente, as
dificuldades para codificar e decodificar as informações espaciais representadas seja nos
156
mapas produzidos com imagens de satélite ou mesmo nos mapas mentais elaborados pelos
próprios alunos abordando a percepção do canal do Rio Alcântara a qual faz parte do trajeto
cotidiano casa-escola.
É interessante ressaltar que a escolha do sétimo ano para aplicação das atividades do
MMR partiu do pressuposto que os alunos já teriam adquirido e desenvolvido conhecimentos
básicos para elaborar e ler o espaço geográfico considerando várias formas de representação
espacial que deveriam ter sido apreendidas no sexto ano e, nos anos escolares anteriores.
A proposta dos mapas mentais no ensino de Cartografia se mostra uma forma de
representação gráfica muito valiosa, tendo em vista a possibilidade de o professor analisar,
interpretar, entender, conhecer as leituras e a percepção do espaço geográfico, como também
verificar os conhecimentos relativos aos principais elementos da cartografia, como a legenda,
o titulo e escala.
Os resultados dos mapas mentais elaborados antes da busca de informações,
observações em campo e, coleta de dados sobre a percepção socioambiental do Rio Alcântara
mostraram uma grande preocupação com relação à percepção do espaço geográfico a partir do
lugar vivido do aluno; a grande maioria dos mapas mentais se restringiu a visão lateral do
canal do Rio Alcântara. Não houve preocupação em considerar a organização espacial no
entorno do canal fluvial, como também correlacionar os principais fatores responsáveis pela
poluição das suas águas.
Apesar da presença das desproporcionalidades da largura, comprimento do canal e
entre os objetos representados próximo ao canal remetem dificuldades quanto à noção de
escala juntamente com a ausência de objetos naturais e artificiais evidenciaram uma espaço
vivido com pouco significado, vivência, afetividade e, principalmente pouco raciocínio
geográfico. Por essa razão, o uso de mapas mentais se apresenta como um importante
instrumento para trabalhar não somente os elementos básicos de Cartografia, como também a
produção social do espaço e a temática ambiental. Ressalta-se que a proposta dos mapas
mentais nesta pesquisa foi conhecer como os alunos percebiam o Rio Alcântara antes das
atividades cartográficas e geográficas propostas no MMR.
De uma maneira geral, os resultados da aplicação das atividades do MMR detectaram
que a capacidade de elaborar mapas, realizar leitura e interpretação de imagens de satélite e,
ainda o entendimento quanto à importância dos elementos básicos cartográficos ao longo das
etapas do desenvolvimento dos módulos mostraram como a alfabetização cartográfica vem
ocorrendo de forma deficitária.
157
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2. Quais são os materiais cartográficos utilizados nas suas aulas e/ou que estão disponíveis na
escola?
(___) mapas em papel
(___) fotografias aéreas
(___) imagens de satélites
(___) material digital (softwares educativos, fotos, mapas)
(___) GPS
(___) Bússola
(___) outros. Especificar:________________________________________________
3. Já fez uso das novas tecnologias aplicadas à cartografia (Cartografia por meio da internet,
Sensoriamento Remoto, Sistema de Informação Geográfica, GPS, Cartografia Multimídia)
para abordar a temática ambiental?
( ) Sim ( ) Não
Em caso afirmativo, indique quais novas tecnologias aplicadas à cartografia você já utilizou
em suas aulas.
___________________________________________________________________________
4. A rede municipal de ensino possui material didático sobre a questão ambiental de São
Gonçalo? Caso responda sim, escreva sobre o material disponível:
( ) Sim ( ) Não
___________________________________________________________________________
Desde já, muito obrigada pela sua colaboração para o desenvolvimento desta pesquisa.
172
1. Quais os aparelhos eletrônicos mais utilizados por você no seu a dia a dia?
( ) celular
( ) computador
( ) câmera digital
( )Outros:_______________________________________________________
( ) Em casa
( ) Na sua escola
( ) No celular
( ) Lan House
( ) Procura usar rede sem fio
( )Zero Hora
( )1 Hora
( )2 Horas
( )Igual ou Mais que 3 Horas
5. Alguma vez esse ano você realizou tarefa escolar no laboratório da sua escola? Caso
responda sim, especifique.
( ) Sim ( ) Não
_________________________________________________________________
Coleta de lixo
Rede de esgoto
Residências
Comércio
Aterros
Asfaltamento
Mata ciliar
Observações:
174
Bairro:___________________________________________
3. Alguma vez você já utilizou as águas do Rio Alcântara ou do canal desse Rio que
percorre no seu bairro?
Sim Não
Caso responda SIM, qual foi o uso feito por você das águas do rio ou do canal fluvial?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________
4. O que existe no entorno do canal ou leito do Rio Alcântara?
Sim Não
Excelente
Boa
Razoável
Valão