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Maria Elisa Zanella, João Luís Olímpio, Maria Clélia Lustosa Costa, Eustógio, Wanderley Correia Dantas
Resumo
O presente estudo trata da vulnerabilidade ambiental, social e socioambiental do baixo curso da bacia hidro-
gráfica do rio Cocó, em Fortaleza-CE. A metodologia consistiu na utilização dos Sistemas de Informações
Geográficas para elaboração e integração dos mapas de geologia, geomorfologia, pedologia, cobertura
vegetal, uso e infraestrutura urbana e dados sociais e econômicos, a fim de se obter a vulnerabilidade
natural, ambiental, social e por fim, a socioambiental. Os resultados obtidos indicam que os ambientes
de maior vulnerabilidade ambiental coexistem com os de maior vulnerabilidade social, ampliando os
problemas socioambientais daqueles espaços. O mapeamento da vulnerabilidade visa contribuir para o
planejamento urbano-ambiental do baixo curso da bacia e neste sentido os Sistemas de Geoinformação
foram fundamentais para a sua espacialização.
Palavras-Chaves: SIG; Vulnerabilidade socioambiental; bacia hidrográfica.
Abstract The following study is about the vulnerability environmental, social and socio environmental of down
progress of Coco river’s watershed, at Fortaleza-CE. The methodology has been based in the use of
Geographic Information Systems to the preparation and integration of geology maps, geomorphology,
vegetation, vegetation, urban infrastructure and economic and social information with the view to get the
natural vulnerability, environmental, social and finally the socio environmental. The results indicate that
the environments of high environmental vulnerability coexist with the high social vulnerability, expanding
the socio environmentals problems of those spaces. The vulnerability mapping aims to contribute to the
urban-environmental planning of watershed down progress and this sense the Geoinformation System
has been primordial to itself spatialization.
Keywords: SIG; Socio environmental vulnerability; watershed.
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estar inserida em uma política de planejamento territo- Este trabalho visa identificar as áreas de maior
rial, envolvendo, de forma integrada, os objetivos e as vulnerabilidade socioambiental do baixo curso da
atividades desenvolvidas nos planejamentos setoriais bacia hidrográfica do rio Cocó, por meio da análise
e ambientais (RODRIGUEZ, SILVA; LEAL, 2011). dos elementos naturais, da qualidade de infraestru-
Ressalta-se que a aplicação das geotecno- tura e por meio dos indicadores socioeconômicos.
logias, principalmente por meio dos Sistemas de Tais informações são uma importante fonte de dados
Informação Geográfica (SIG), tem demonstrado espaciais para o ordenamento, objetivando contribuir
ser eficiente para análises das interações das ações para a gestão do território urbano.
humanas sobre o meio físico e biológico, permitindo
obter informações complementares a respeito destas A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO COCÓ
influências mútuas.
Por meio das técnicas de geoprocessamento, A bacia hidrográfica do rio Cocó drena a
tornou-se possível gerar produtos que possam contri- Região Metropolitana de Fortaleza e está situada na
buir para uma melhor planificação territorial, especial- porção norte/nordeste do estado do Ceará. O seu baixo
mente no estudo da vulnerabilidade A superposição curso, área escolhida como recorte espacial para o
das camadas de informação da base cartográfica digital presente estudo, corresponde à área drenada inserida
permite a visualização das informações espaciais e no município de Fortaleza (Figura 1), portanto é o setor
relacionamentos, de modo a melhorar a interpretação mais urbanizado da bacia. Grosso modo, a apropriação
e compreensão das características ambientais, sociais deste espaço é complexa, remetendo a ocupação de
e das relações que ocorrem em um determinado es- populações socialmente menos favorecidas, confron-
paço. Assim, os elementos naturais e sociais podem tando-se com o processo atual de expansão urbana,
ser visualizados de forma integrada, estabelecendo-se voltada para parcela mais abastada da cidade.
vulnerabilidades.
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O alto curso bacia está localizado em áreas tes áreas do conhecimento. Vulnerabilidade natural,
de maciços cristalinos (vertente úmida da Serra da ambiental, social e socioambiental são expressões
Aratanha), onde se desenvolvem solos espessos (Ar- encontradas nas mais diversas literaturas.
gissolos), recobertos pela Mata Úmida. A conservação Para as geociências o termo vulnerabilidade
da vegetação nas áreas mais elevadas da serra se deve vem sendo utilizado para expressar a instabilidade
à transformação desta em uma unidade de conserva- dos ambientes. Para Tricart (1977) e Grigio (2003),
ção, importante para a manutenção das nascentes das a vulnerabilidade natural (ou fragilidade ambiental)
drenagens. consiste no maior ou menor estágio de estabilidade/
Após descerem as serras, os rios adentram instabilidade dos elementos físicos e bióticos, frente
nas áreas aplainadas da Depressão Sertaneja, onde à intensidade, dinâmica e magnitude dos processos
os solos apresentam-se mais rasos, tendo-se como morfogenéticos, pedogenéticos e de fitosucessão.
cobertura vegetal dominante a caatinga, atualmente Enquanto a vulnerabilidade ambiental enten-
descaracterizada pelas as atividades agropecuárias de-se pela capacidade de resposta do meio aos efeitos
desenvolvidas. Em seu médio e baixo cursos o rio adversos provocados por ações antrópicas, variando
drena sobre os Tabuleiros Costeiros, onde ocorrem conforme suas características naturais e humanas e
Argissolos e Neossolos Quartzarênicos sustentando a afetando diretamente a estabilidade do meio, bem
Mata de Tabuleiro, hoje ocupada pela malha urbana de como sua qualidade ambiental (SANTOS; CAL-
Fortaleza. Finalmente, drena sobre a Planície Litorâ- DEYRO, 2007; TAGLIANI, 2002). Neste sentido,
nea, cujas formas são representadas pelos campos de além dos elementos naturais e da dinâmica reinante
dunas, terraços marinhos e praias, também ocupadas também são considerados as intervenções antropogê-
pelo uso urbano. nicas e suas reflexões no comportamento dos espaços
Em suas margens, principalmente em seu naturais.
médio e baixo curso, o rio Cocó desenvolve exten- Nas ciências da sociedade, a vulnerabilidade
sas áreas planas que são submetidas às inundações social decorre de fenômenos diversos, com causas e
periódicas. Essas planícies são formadas por aluvi- consequências distintas, que afetam de forma dife-
ões, os quais deram origem aos Neossolos Flúvicos, renciada as pessoas e os grupos sociais. As condições
sustentando uma cobertura vegetal de mata ciliar. Na culturais, étnicas, políticas, econômicas, educacionais,
desembocadura, influenciada pelas marés, forma-se sociais e de saúde vão tornar as pessoas e os grupos
uma planície fluviomarinha, cuja vegetação exis- sociais mais ou menos vulneráveis, ou seja, refletem
tente são os mangues. Grosso modo, essas planícies na capacidade de enfrentar, superar ou minimizar as
encontram-se ocupadas por população carentes, que dificuldades e aproveitar as oportunidades para me-
por ocasião de chuvas mais intensas, é submetida às lhorar sua situação de bem-estar. Nesta condição, con-
adversidades desse ambiente. forme Katzman (1999), deve-se considerar também a
É importante considerar, ainda, que grande situação das pessoas quanto à inserção e estabilidade
parte da área do baixo curso da bacia encontra-se im- no mercado de trabalho, a debilidade de suas relações
permeabilizada, não permitindo a infiltração das águas sociais e o grau de regularidade de acesso aos serviços
das chuvas, facilitando o aumento do escoamento das públicos ou a outras formas de proteção social.
águas pluviais e a ocorrência de inundações, princi- Kowarick (2002) enfatiza a relação entre desi-
palmente onde a infraestrutura da drenagem pluvial gualdade urbana e vulnerabilidade social, apontando a
não tem capacidade para escoar a água precipitada. situação de desproteção em que vastas camadas popu-
lacionais estão submetidas, especialmente em relação
MATERIAIS E MÉTODOS aos eixos moradia, emprego/desemprego e violência.
Nesta mesma perspectiva, Cardoso (2008) destaca
Muitas discussões acerca do conceito de vul- as dificuldades enfrentadas por grupos vulneráveis
nerabilidade têm sido feitas nas últimas décadas, haja ao acesso aos bens de caráter social e as condições
vista que o termo está sendo empregado em diferen- básicas à sobrevivência, como: moradia, solo urbano
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Vulnerabilidade Ambiental
Classes
MA A M B MB Legenda
Social
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baixas taxas de analfabetismo, ótimas condições de viços urbanos básicos. São parcialmente sujeitos as
renda e moradia. São indivíduos mais propensos a adversidades, podendo superá-las deste que a inten-
superar e suportar as adversidades promovidas pelas sidade dos eventos naturais não supere a capacidade
diversas formas de risco. de resistência da população.
Vulnerabilidade média: localizam-se em áreas
em que predominam populações de renda média e
baixa, mas habitando áreas melhor providas de ser-
Vulnerabilidade alta e muito alta: localizam- em estudo e no quadro 2 são indicados os componentes
-se onde os setores censitários se encontram em áreas naturais constituintes e a dinâmica de cada classe de
inundáveis ou com campos de dunas, cujas condições vulnerabilidade.
de moradia são precárias, a população apresenta baixo
nível de escolaridade e com renda próxima a um sa-
lário mínimo. Assim, a população residente não tem
condições para enfrentar os eventos naturais adversos.
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Mata de Tabulei-
Tabuleiros Clima Áreas naturalmente está-
ros em estágio de
Pré-Litorâneos tropical veis, onde predominam os
avançado e médio
Muito Baixa da Formação sub-úmido; Argissolos processos pedogenéticos.
de regeneração e
Barreiras Aquífero Não há risco de inunda-
Vegetação Antrópi-
Barreiras. ções
ca adensada
Vegetação Antrópi-
ca pouco adensada
Argissolos ou Mata de Tabulei-
Clima ro em estado inicial Áreas naturalmente está-
Tabuleiros
tropical de regeneração veis, mas que já apresen-
Pré-Litorâneos
Baixa sub-úmido; Mata de Tabulei- tam morfodinâmica mais
da Formação
Aquífero ros em estágio de acentuada. Não há risco de
Barreiras Neossolo Quart-
Barreiras.. avançado e médio inundações
zarênico e Neos-
de regeneração e
solo Flúvico
Vegetação Antrópi-
ca adensada
Dunas Fixas,
Clima
Móveis, Terraços Vegetação Subpere-
tropical
Marinhos e Faixa Neossolo Quart- nifólia de Dunas e
sub-úmido; Morfodinâmica alta.
de Praia (de- zarênico Vegetação Pioneira
Aquífero Predomínio dos processos
pósitos Eólicos Psamófila
Alta e Dunas erosivos. Risco de erosão
Litorâneos)
Muito Alta marinha, soterramentos,
Clima
Planícies fluvial, deslizamentos e inunda-
tropical Vegetação Palus-
lacustre e Fluvio- ções sazonais
sub-úmido; Gleissolo tre Marítima de
marinha (depósito
Aquífero Mangue
Aluvionares)
Aluvião
Elaboração dos autores.
Vulnerabilidade muito baixa – corresponde às lhor qualidade ambiental e menos expostas aos riscos
áreas dos setores oeste e sul do baixo curso, formadas ambientais, sendo as mais promissoras a intervenção
por espaços com vulnerabilidade natural baixa e muito antropogênica, deste que ambientalmente planejadas.
baixa associadas às áreas melhor providas de serviços
urbanos básicos. Portanto, são os ambientes de me-
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Vulnerabilidade baixa – é formada por am- naturais. São representados pelas planícies litorânea
bientes de vulnerabilidade natural baixa ou mediana e fluviomarinha degradadas pela ocupação irregular.
associada às áreas com infraestrutura mediana ou Observa-se que mesmo em estado natural esta unidade
precária. Apesar de apresentarem vulnerabilidade apresentaria vulnerabilidade muito alta, contudo devi-
baixa está unidade necessita de adoção de medidas do aos processos de degradação, este fator é ampliado,
de recuperação, controle e monitoramento ambiental, colocando em situação de risco a população usuária
além da reurbanização das áreas com infraestrutura deste ambiente.
mediana e precária.
Vulnerabilidade média – são áreas dispostas VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL:
em manchas por toda a bacia, mas com a maior fre- DINÂMICA NATURAL X DINÂMICA SOCIAL
quência na planície litorânea. São representadas por
mosaicos formados por diversas combinações entre os O mapa de vulnerabilidade socioambiental
elementos da paisagem. As intervenções devem con- representa um importante recurso para o processo de
siderar o arranjo dos elementos ambientais em nível tomada de decisão ao indicar espacialmente as condi-
local, evitando problemas socioambientais futuros. ções socioeconômicas da população associando-as a
Vulnerabilidade alta – representam áreas com dinâmica dos sistemas naturais, permitindo determinar
vulnerabilidade alta e muito alta, como as planícies quais as áreas são mais propícias à ocorrência de de-
fluviomarinhas e os campos de dunas, ocupadas por sastres naturais, principalmente aos relacionados aos
espaços urbanas com infraestruturas medianas, pre- eventos hidroclimatológicos, cujas categorias estão
cárias ou vegetadas. Recomenda-se que a expansão analisadas abaixo (Figura 5).
urbana sobre estes ambientes seja evitada, pois são
propícios a ocorrência de desastres naturais.
Vulnerabilidade muito alta – correspondem
aos setores com vulnerabilidade natural muito alta
com infraestruturas urbanas precárias, de modo que
a dinâmica natural expõe a população aos riscos
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Vulnerabilidade muito baixa: consiste nos áreas de alta e muito alta vulnerabilidade ambiental,
ambientes mais estáveis do ponto de vista morfodi- associadas às populações mais carentes do ponto de
nâmico, associado a populações com melhores condi- vista socioeconômico. As planícies fluviomarinhas e
ções sociais, abrangendo as áreas mais consolidadas os campos de dunas degradados constituem os locais
do ponto vista dos serviços urbanos. Nesta unidade onde convivem populações classificadas como de
devem-se priorizar as atividades de conservação e vulnerabilidade social alta e muito alta. Tais áreas são
dos processos de urbanização tendo em vista que são as mais atingidas quando da ocorrência de eventos
ambientes de relevante interesse para a qualidade hidroclimáticos extremos.
ambiental de Fortaleza.
Vulnerabilidade baixa: somando-se as áreas CONSIDERAÇÕES FINAIS
de vulnerabilidade muito baixa, correspondem à maior
porção do baixo curso da bacia. São áreas cuja morfo- Constatou-se que as vulnerabilidades natural
dinâmica é bastante estável, a infraestrutura urbana é e ambiental predominantes no baixo curso da bacia
predominantemente consolidada e a população apre- hidrográfica do rio Cocó são classificadas como baixa
senta boas condições sociais e econômicas. e muito baixa, correspondendo aos setores de tabulei-
Vulnerabilidade média: ocupa, predominan- ros urbanizados. A classe alta e muito alta representam
temente, áreas com vulnerabilidade ambiental e con- ambientes que a composição dos elementos ambientais
dições socioeconômicas medianas, mas podendo ter revelou elevada dinâmica ambiental, favorecendo os
outros combinações, variando conforme as relações processos morfogenéticos. A classe de vulnerabilidade
entre os elementos naturais e humanos em escala ambiental muito alta é constituída por ambientes de
local. Neste sentido, as unidades de baixa e média vulnerabilidade natural muito alta com infraestrutura
vulnerabilidade são as melhores áreas para a ocupação, precária, ocupadas por populações socialmente vul-
deste que respeitados os preceitos das legislações am- neráveis e susceptíveis aos eventos naturais severos.
bientais e urbanísticas, bem como a adoção de práticas Encontrapartida, a classe muito baixa corresponde aos
conservacionistas. tabuleiros vegetados ou aqueles com infraestrutura
Vulnerabilidade alta e muito alta: ocupam urbana consolidada.
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