Você está na página 1de 52

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE GEOGRAFIA

LEANDRO DA SILVA CRUZ

A NOVA GEOGRAFIA DO ESPAÇO URBANO DEVIDO A PROJETOS NACIONAIS DE


INFRAESTRUTURA:
O CASO DE ANGRA DOS REIS, RJ

JUIZ DE FORA
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE GEOGRAFIA

LEANDRO DA SILVA CRUZ

A NOVA GEOGRAFIA DO ESPAÇO URBANO DEVIDO A PROJETOS NACIONAIS DE


INFRAESTRUTURA:
O CASO DE ANGRA DOS REIS, RJ

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Geografia, da
Universidade Federal de Juiz de Fora,
como um dos critérios para obtenção do
grau de Bacharel em Geografia.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Maria Lucia Pires


Menezes

JUIZ DE FORA
2022
LEANDRO DA SILVA CRUZ

A NOVA GEOGRAFIA DO ESPAÇO URBANO DEVIDO A PROJETOS NACIONAIS DE


INFRAESTRUTURA:
O CASO DE ANGRA DOS REIS/RJ

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Curso de Geografia, da
Universidade Federal de Juiz de Fora,
como um dos critérios para obtenção do
grau de Bacharel em Geografia,
submetido à seguinte banca:

_____________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Lucia Pires Menezes
Departamento de Geociências - UFJF

_____________________________________
Prof. Dr. Pedro José de Oliveira Machado
Departamento de Geociências - UFJF

_____________________________________
Prof. Dr. Júlio Cesar Gabrich Ambrozio
Departamento de Geociências - UFJF

Conceito obtido:___
Juiz de Fora ___ de _____________ 2022.
AGRADECIMENTOS

Só há uma forma de começar aos agradecimentos sobre esse período em que pude
cursar geografia, que é a minha família. A minha mãe, Rosimere, meu muito obrigado por ser
meu maior exemplo de vida, com toda sua garra, inteligência, carinho, empatia, paciência e por
me fazer acreditar que poderia fazer qualquer coisa desde que não faltasse empenho. Ao meu
pai, Carlos, que infelizmente não está mais aqui para ver esse momento, agradeço por todo
carinho, proteção, conselhos e ao apoio incondicional sempre. Ao meu irmão, júnior, por
sempre servir de espelho na minha vida e por sempre mostrar que estará disposto a me auxiliar
em qualquer situação, aliás irmão é para isso. A minha cunhada, Carol, por todas as trocas e
incentivos para seguir firme no meio acadêmico. Por fim, a minha sobrinha, Anna Julia, que
mesmo chegando ao mundo tão recente consegue trazer uma leveza e amor por onde passa.
Obviamente, não posso deixar de falar sobre meus amigos da geografia, que me
acompanharam durante toda essa caminhada da graduação e que sem eles não conseguiria
chegar até aqui. Agradeço especialmente ao Adriano, Augusto, Clara, Daniel, Guilherme, João
Pedro, João Vitor, Julia, Liana, Luiza, Marina, Stéfani, Vitória e Wesiley, por possibilitarem uma
experiência mais leve na universidade e pela construção coletiva da geografia nesse período.
Levo todos vocês no coração e sou grato por poder dividir tantos momentos com cada um de
vocês e, principalmente, por poder ser amigo de todos. Agradeço também aos meus
companheiros de teto durante essa trajetória, Alexandre e Nathan, obrigado por tornarem a
experiência de viver em outra cidade algo inesquecível e agradeço por todo companheirismo,
parceria e momentos vividos. Ainda agradeço a minha namorada, Maria Clara, por todo amor e
companheirismo firmado nesses últimos meses e, também, por não permitir que desanimasse
nessa reta final.
Agradeço também aos meus amigos de vida, que me acompanham desde sempre, Alan,
Bárbara, João, Lucas, Rafael, Sofia e Victor, muito obrigado pelas trocas, viagens, festas,
carnavais e pelo apoio de sempre. Mesmo distantes fisicamente vocês foram importantes nessa
caminhada.
Gostaria de agradecer também a professora Maria Lucia, por mostrar que o
conhecimento acadêmico também pode ser construído com leveza e ternura; e pela orientação
desse trabalho e os conhecimentos passados durante a iniciação científica. Agradeço ao
professor Pedro e Júlio pelo aceite do convite para compor a banca avaliadora. A todos os
demais professores do curso de geografia o meu muito obrigado.
Por fim gostaria de agradecer a Universidade Federal de Juiz de Fora por me
proporcionar a possibilidade de cursar geografia com um ensino público e de qualidade.
RESUMO

Propondo compreender os processos que delimitaram a configuração espacial urbana do


município de Angra dos Reis e identificando o Estado como agente produtor do espaço. Sendo
assim, elaborou-se uma revisão histórica acerca dos processos de ocupação do território
angrense, buscando compreender como as decisões do passado refletem no presente,
reafirmando a necessidade do estudo da história da cidade na compreensão das problemáticas
atuais. Dessa forma, por meio de levantamentos bibliográficos, analisa-se o papel determinante
da implantação de projetos de infraestrutura nacional no município nas décadas de 1960 a
1980, forçando o processo de urbanização e de crescimento econômico e populacional. Além
disso, identifica-se a formação de uma nova classe social na cidade, a do operariado,
importante na tomada de decisões futuras. Com intuito de reforçar a importância desse período
de forma concisa é realizada uma diferenciação das condições pré e pós urbanização, notando
como os impactos desse processo alavancou o desenvolvimento do urbano e na formação da
nova geografia de Angra dos Reis. Portanto, demonstra-se como a implantação dos
empreendimentos de infraestrutura pelo Estado é um divisor de águas na história da cidade.

Palavras-chave: espaço; urbanização; cidade; infraestrutura.


ABSTRACT

Proposing to understand the processes that delimited the urban spatial configuration of the
municipality of Angra dos Reis and identifying the State as a producer of space. Therefore, a
historical review was carried out about the occupation processes of Angrense territory, seeking
to understand how the decisions of the past reflect in the present, reaffirming the need to study
the history of the city in the understanding of current problems. Thus, through bibliographic
surveys, the determining role of the implementation of national infrastructure projects in the
municipality in the 1960s to 1980s is analyzed, forcing the process of urbanization and economic
and population growth. In addition, the formation of a new social class in the city is identified,
that of the working class, important in making future decisions. In order to reinforce the
importance of this period in a concise way, a differentiation of pre and post urbanization
conditions is carried out, noting how the impacts of this process leveraged the development of
the urban and the formation of the new geography of Angra dos Reis. Therefore, it is
demonstrated how the implementation of infrastructure projects by the State is a watershed in
the history of the city.

Keywords: space; urbanization; city; infrastructure


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Localização do município de Angra dos Reis/RJ........................................................15


Figura 2 – Vista aérea do Estaleiro Verolme em 1975..............................................................22
Figura 3 – Trecho da rodovia BR-101 no município de Angra dos Reis/RJ, 1:25000.................26
Figura 4 – Construção da Central Nuclear em 1976................................................................28
Figura 5 – Terminal da baía da Ilha Grande (TEBIG)..............................................................30
Figura 6 – Centro histórico atualmente...................................................................................44
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Taxa de crescimento anual médio em Angra dos Reis, Barra Mansa, Volta Redonda,
Resende, Estado do RJ e Brasil (1940 – 2010)...........................................................................38
Tabela 2 – Indicadores de imigração em Angra dos Reis (1950 – 2010)....................................40
Tabela 3 – Taxa de crescimento anual por distritos (1950 – 2010).............................................40
Tabela 4 – População em Aglomerados subnormais por distritos em 2010...............................45
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Evolução da população de Angra dos Reis (1940 – 2021).......................................37


SUMÁRIO

1 - INTRODUÇÃO ___________________________________________________________ 11
2 - METODOLOGIA __________________________________________________________ 13
3 - GEOGRAFIA E HISTÓRIA ECONÔMICA DA CIDADE ___________________________ 14
3.1 - BREVE CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO ____________________________________ 14
3.2 - HISTÓRICO DE ANGRA DOS REIS PRÉ-INDUSTRIAL _______________________ 17
4 - EMPREENDIMENTOS NACIONAIS E A FORMAÇÃO DO URBANO ________________ 21
4.1 - O ESTALEIRO VEROLME ______________________________________________ 22
4.2 - RODOVIA BR-101 _____________________________________________________ 25
4.3 - CENTRAL NUCLEAR ALMIRANTE ÁLVARO ALBERTO _______________________ 27
4.4 - TERMINAL DA BAÍA DA ILHA GRANDE (TEBIG) ____________________________ 30
5 - A NOVA GEOGRAFIA DE ANGRA DOS REIS __________________________________ 32
5.1 - PLANO DIRETOR _____________________________________________________ 33
5.2 - CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO_________________________________________ 37
5.3 - DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO _____________________ 42
6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS _________________________________________________ 47
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________ 49
11

1 - INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como enfoque a análise, pautada na geografia urbana, da


formação do urbano e suas alterações no espaço do município de Angra dos Reis, RJ. A
discussão acerca da gênese urbana do município torna-se interessante devido aos fatores que
alavancaram esse processo, com a inserção no projeto nacional desenvolvimentista, numa
dinâmica de desenvolvimento partindo de fora para dentro. Além disso, a morfologia do sítio
urbano permite observar uma composição singular da apropriação do espaço.
Sendo assim, a problemática da pesquisa será baseada, inicialmente, no processo de
industrialização e na formação do espaço urbano angrense. Lefebvre (2001) destaca, em sua
obra O direito à cidade, que a industrialização é formadora do urbano e os sujeitos que ali
vivem, por meio de suas relações, transformam o espaço. Junto a isso, Corrêa (2004),
considera mais agentes responsáveis pela formação do espaço urbano, como os promotores
imobiliários, os promotores fundiários, os grupos sociais excluídos e o Estado. Dessa maneira,
as cidades modernas devem ser analisadas dentro da lógica capitalista de produção, realçando
como é refletido na sociedade e como a diferenciação entre as classes se manifesta. Portanto,
“é o espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de
símbolos e campos de luta” (CORRÊA, 2004, p. 9).
Somado a isso, o estudo da geografia não restringe-se a somente a análise do espaço,
mas obrigando uma relação espaço-temporal para o entendimento dos fenômenos.

Um outro tema de nossa insatisfação é a famosa união espaço-tempo, mediante a


consideração da inseparabilidade das duas categorias. A verdade, porém, é que,
frequentemente, após a listagem de um rosário de intenções, o tempo aparece na prática
separado do espaço, mesmo quando é o contrário que se afirma. A ideia de período e
de periodização constitui um avanço na busca desta união espaço-tempo, e a proposta
de Hägerstrand, quando permite pensar na ordem criada pelo tempo, representa um
marco considerável. (SANTOS, 2017, p. 19)

Sendo assim, na pesquisa geográfica é de suma importância para a pesquisa de um


fenômeno, adequá-lo num recorte temporal, pois “a ciência da cidade exige um período
histórico para se construir e para orientar a prática social” (LEFEBVRE, 2001, p. 112). Com
isso, para o entendimento da formação urbana do município de Angra dos Reis, é preciso
analisar o contexto pré e pós industrialização, para entender as alterações nas dinâmicas
socioeconômicas e populacionais da cidade.

A partir da perspectiva de Lefebvre (2001), em que as problemáticas urbanas surgem


juntamente ao processo de industrialização, e baseado na obra de Corrêa (2004), o presente
12

trabalho tem como objetivo geral identificar e analisar o papel do Estado como agente formador
do espaço urbano de Angra dos Reis. Justamente, por meio dos empreendimentos estratégicos
nacionais instalados no município durante as décadas de 1960 a 1980. Com isso, buscam-se
os seguintes objetivos específicos:

 Investigar o crescimento demográfico angrense com a chegada dos novos


empreendimentos, analisando quais distritos foram mais afetados.

 Compreender a maneira em que a geomorfologia da região influenciou na formação do


espaço urbano.

 Identificar como essas modificações no espaço urbano promovem a segregação


socioespacial do município.

 Sublinhar a evasão demográfica da Ilha Grande durante esse período e como isso
dificultou na preservação da cultura caiçara.

Dado os objetivos, essa monografia está estruturada em introdução, metodologia,


desenvolvimento e conclusões. O desenvolvimento foi estruturado em três capítulos, o primeiro
aborda a geografia e a história econômica de Angra dos Reis, importante para contextualizar a
situação da cidade antes da chegada desses empreendimentos nacionais; o segundo capítulo é
referente às transformações provocadas no espaço urbano nas décadas de 1960 a 1980,
focado no papel do Estado como agente desse processo; e o último capítulo busca identificar
os impactos desse processo na configuração atual do município, analisando aqui uma Angra
dos Reis urbanizada.
13

2 - METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos adotados para a realização desta monografia, iniciam-


se por meio do levantamento bibliográfico por livros, artigos científicos, teses e dissertações que
abordassem informações acerca das temáticas do trabalho. Dessa maneira, possibilitou o
embasamento teórico para as discussões propostas na redação. Além disso, cabe aqui
destacar um dos maiores obstáculos nessa parte do processo é devido a carência de fontes e
estudos sobre o município, principalmente no que tange aos eventos históricos de origem da
cidade e nos dados referentes aos eventos mais recentes, muito por causa da ausência do
censo da última década. Sendo assim, a revisão histórico-geográfica de Angra dos Reis
baseou-se, principalmente, nas obras de Machado (1995) e Abreu (2005).
Somado a isso, as discussões sobre o urbano foram fundamentadas nas perspectivas
de Corrêa (2004), considerando o papel dos agentes transformadores do espaço urbano no
município, e em Lefebvre (2001), onde acredita-se que o urbano é formado a partir de uma
relação dialética entre o sujeito e o espaço, ou seja, os sujeitos como reprodutores do espaço.
Junto a isso, a metodologia adotada para realizar a análise dos eventos responsáveis por esse
fenômeno, está baseada nas ideias de Milton Santos (2013, p. 67-68):

É através desses dois dados que vamos unir a cidade e o urbano. É desse modo que
poderemos tentar ultrapassar o mistério das formas e buscar a construção do método,
mediante a escolha da fenomenologia a adotar, a aproximação da contextualização, a
reconstrução dos cenários de uma realidade que em parte se esvaiu, a busca do
significado e da memória, memória que, através desse enfoque histórico, vamos
encontrar expungida ao máximo dos filtros. Assim, é-nos permitido dirigir perguntas à
cidade, indagando a respeito de sua formação, já que a história da cidade é a história de
sua produção continuada.

Ademais, foi fundamental a busca de dados e indicadores do município para


fundamentar os resultados, utilizando-se de fontes importantes como os censos demográficos
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de documentos da prefeitura
municipal de Angra dos Reis (PMAR). Ressalta-se que os mecanismos descritos acima foram
feitos de forma remota, devido às complicações impostas pelo cenário de reinserção do
contexto pandêmico da COVID-19.

Para encerrar a discussão sobre as metodologias utilizadas, buscou-se a construção de


gráfico e tabelas pelas ferramentas do pacote office, a exposição de fotografias históricas e a
organização de um mapa de localização com fontes oficiais, elaborado no software ArcGis.
14

3 - GEOGRAFIA E HISTÓRIA ECONÔMICA DA CIDADE

O presente capítulo revela alguns pontos acerca do município de Angra dos Reis,
focando na geografia e no período histórico pré-industrial. Sendo assim, abordará a posição
geográfica e a morfologia do sítio urbano buscando situar as características físicas
condicionantes da região. Além disso, traz um breve histórico no sentido de contextualizar a
estrutura socioeconômica da cidade antes do processo de industrialização. Dessa maneira, o
capítulo vem como forma de um antecedente para a discussão principal do trabalho, tornando-
se uma base para o debate sobre as transformações do espaço urbano angrense.

3.1 - BREVE CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO

A cidade de Angra dos Reis é uma das primeiras instalações coloniais do litoral
fluminense, descoberta pelos portugueses em 1502. Localizada na porção sul do estado do Rio
de Janeiro (figura 1), a aproximadamente 156 km da capital, dividindo suas fronteiras com os
municípios de Mangaratiba, Paraty e Rio Claro, no território fluminense, e Bananal e São José
do Barreiro, no lado paulista. Além disso, parte do seu território abrange a região da baía da
Ilha Grande, composta por um arquipélago de 197 ilhas, fato esse que permite a divisão de
duas unidades: a parte continental e a parte da baía.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2021), o município
compreende uma área territorial de 813,420 km², com uma população estimada em 210 mil
habitantes. Dividido em 6 distritos: Angra dos Reis, Abrão, Cunhambebe, Jacuecanga,
Mambucaba e Praia de Araçatiba. Os distritos de Abraão e da Praia de Araçatiba são referentes
a localidades na Ilha Grande, originadas por comunidades pesqueiras caiçaras e que
atualmente são as mais povoadas e com maior infraestrutura. Já nos distritos da parte
continental, os distritos mais populosos são Cunhambebe e Jacuecanga. Junto a isso, de
acordo com o censo demográfico de 2010, essas duas localidades são as regiões com maiores
concentrações de aglomerados subnormais, diferentemente do distrito sede. Sendo assim, os
dados revelam o caráter desigual da urbanização angrense, ponto que será discutido de forma
mais aprofundada no decorrer do trabalho.
Na parte continental, sua morfologia é marcada por pequenas planícies costeiras
incrustadas entre as vertentes da Serra do Mar e o Oceano Atlântico. Junto a isso, a parte da
baía é marcada pela presença de morros testemunhos frutos da erosão regressiva das
escarpas da Serra do Mar. Possibilitando, segundo Botelho (2001), a formação de um conjunto
15

de diversas ilhas continentais, separadas por canais de pouca profundidade, que apresentam
um vínculo litólico, estrutural e morfológico com o continente.

Figura 1 - Localização do município de Angra dos Reis/RJ.

Fonte: IBGE, 2022.

A região de Angra tem um clima muito interessante, que segundo o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), é marcado pela predominância de
temperaturas elevadas durante todo o ano, com média de 21 a 23°C. Somado a isso, há a
presença de fortes chuvas e índices pluviométricos elevados, tendo 1912 mm de média anual.
Segundo Abreu (2005), esse grande volume de chuvas, mesmo nos períodos de seca, ocorre
devido ao bloqueio das massas de ar úmidas pela serra, acarretando o fenômeno chamado de
chuvas orográficas. Além disso, a superfície é recoberta, em grande parte, pela ainda
preservada vegetação da Mata Atlântica, que aliada aos fatores já descritos compõem belas
paisagens, remetentes ao ideário de paraísos tropicais, justificando a forte presença da
atividade turística.
A área de Angra dos Reis está inserida na unidade de relevo dos Planaltos e Serras do
Atlântico Leste Sudeste, segundo a classificação de Ross (1985). Unidade marcada pela
16

“presença de diversos níveis de caráter regional que vão desde 800 metros, passando para
1000 a 1200” (ROSS, 1985, p. 33), no qual se constitui a Serra do Mar. Sendo assim, segundo
Abreu (2005), o município tem 80% de seu território marcado pelas escarpas e reversos da
Serra do Mar, já o restante por pequenas parcelas de planícies costeiras e do planalto
dissecado. Dessa forma, a morfologia da região é determinada pelas escarpas da serra, com
altitudes próximas aos 1000 m, e seu basculamento em direção ao litoral, determinando,
também, a morfodinâmica. Devido a essas características supracitadas, outra observação que
deve ser feita é referente aos tipos de solos, pois está diretamente atrelado às problemáticas da
urbanização do município. Predomina-se os solos podzólicos, litólicos ou cambissolos, em sua
maioria, formados pelos processos deducionais no embasamento rochoso, possuindo pouca
profundidade e tornando-se muito suscetíveis aos movimentos de massa (ABREU, 2005).
Apesar das planícies costeiras representarem uma parcela bem inferior do território, é
necessário analisá-las com atenção, pois são nessas localidades onde se encontram as
maiores concentrações urbanas. Formadas majoritariamente por depósito de sedimentos
coluviais e de origem marinha. Constituem as áreas mais planas e de melhor acesso não só
para a população, mas para a fauna também, possibilitando a formação dos manguezais pela
orla. Entretanto, essa característica acarreta diversas problemáticas urbanas sobre os
ecossistemas, como destaca Abreu (2005, p. 22):

Formam os cordões litorâneos, lagunas, vales fluviais e manguezais cujas condições


ambientais específicas, de grande importância ecológica, são as mais prejudicadas pelo
processo de ocupação e urbanização desenvolvido neste território ao longo dos últimos
30 anos, dado sua maior viabilidade econômica para a implantação dos assentamentos
urbanos em comparação com as condições existentes nas escarpas e encostas .

Devido às condições citadas, a forma do espaço urbano de Angra revela-se de maneira


singular. As maiores aglomerações ocorrem nos espaços mais propícios, sendo eles as
pequenas áreas das planícies costeiras, que são segmentadas pelo relevo. Posto isto, o
município apresenta seguidos núcleos urbanos separados e dispostos de acordo com a costa e
tendo a BR-101 como a via de ligação entre eles. Portanto, a integração do urbano depende
exclusivamente da rodovia.
A constatação desses elementos físicos e administrativos, mesmo que de forma mais
descritiva, é importante para dar a contextualização da área de estudo e facilitar no
entendimento das problemáticas. Sendo assim, é primordial considerar que as problemáticas
urbanas e ambientais estão numa relação articulada, onde não podem ser analisadas de forma
separada.
17

3.2 - HISTÓRICO DE ANGRA DOS REIS PRÉ-INDUSTRIAL

A região onde está localizada a cidade de Angra dos Reis foi descoberta pelos
colonizadores portugueses ainda nas primeiras expedições de reconhecimento da costa
brasileira, sendo encontrada em 1502. No primeiro contato já houve interesse na localidade,
devido às suas características morfológicas citadas anteriormente e a imponência da Ilha
Grande, bastante propícias para o refúgio das embarcações. Aparentando ser estratégica tanto
para atividades legais quanto para as ilegais, pirataria e contrabando. Entretanto, durante esse
período as ocupações portuguesas no litoral eram apenas estratégicas para a defesa da sua
soberania no território, “pois embarcações holandesas, francesas e inglesas comerciavam com
os indígenas, desafiando o domínio português” (MACHADO, 1995, p. 4).
Dessa maneira, mesmo com dados muito escassos acerca desse período, Machado
(1995) destaca, que na região de Angra dos Reis, existem indícios de relações de escambo
entre as navegações francesas e a tribo cunhambebe na região de Mambucaba. Além disso,
Machado (1995) revela dados do documento “Livro que dá Razão do Estado do Brasil”, no qual
consta um mapa da atual baía da Ilha Grande indicando a presença da Provação Nova de
Nossa Senhora da Conceição na parte continental. Posteriormente, subiu para a categoria de
paróquia e, em 1608, foi elevada à categoria de vila, destacando certa importância para essa
povoação, que viria a se instalar no atual local da cidade em 1624 (MACHADO, 1995), uma das
datas marcadas no brasão de Angra dos Reis. Entretanto, assumir essa categoria de
classificação não significa o crescimento de uma estrutura urbana, porém é um fato embrionário
para o estabelecimento de uma possível cidade, como destaca Machado (1995, p. 6):

Chamar uma povoação de vila, por exemplo, não significava a presença de uma
estrutura urbana, e sim a existência de uma pequena aglomeração de casas
precariamente construídas, onde um número ínfimo de colonos de origem européia e
seus agregados, em geral, caboclos, se reuniam aos domingos para freqüentar a missa
e as festas da Igreja nos dias santificados. As únicas construções de alvenaria
pertenciam às ordens religiosas.

A principal atividade econômica da região em todo período pré-industrial é atividade


portuária, com a sua atuação mais intensa ocorreu durante o século XVIII até metade do século
XIX, em decorrência, principalmente, do ciclo do ouro e do café. Momento em que ocasionou
uma acumulação de riquezas nas mãos de certos proprietários da região, devido ao
escoamento de produtos agrícolas, do tráfico de escravos e contrabando de produtos.
Sendo assim, no século XVIII, o reativamento do Caminho dos Guaianases possibilitou
o surgimento de Paraty e seu porto, visando o escoamento de produtos do interior, região do
atual estado de São Paulo, ao Rio de Janeiro. Fato determinante para, que com a descoberta
18

do ouro na Região de Minas Gerais, o porto de Paraty integrasse no antigo Caminho do Ouro,
sendo agora o ponto de escoamento para o porto do Rio.
Nesse contexto, a atividade portuária começou a ser fomentada devido a sua
localização, pois surge como uma alternativa para burlar a cobrança do quinto e suscetível ao
roubo de cargas.

Podemos atribuir o enriquecimento da povoação de Angra dos Reis na primeira metade


do século XVIII à mudança na rede de comunicação regional, associada ao contrabando
de ouro. A boa fortuna da povoação está expressa na construção do imponente
Convento de S.Bernardino de Sena, iniciado em 1753 e concluído dez anos depois
(MACHADO, 1995, p. 8).

Com a abertura do Caminho Novo, o ouro não seria mais transportado pelo porto de
Paraty ao Rio de Janeiro, mas chegaria por terra ao Rio. Fato esse, responsável por ocasionar
uma grande crise na cidade de Paraty. Entretanto, em Angra não foi o que ocorreu, pois as
inúmeras tentativas de achar novos caminhos para o contrabando do ouro, transpuseram as
vertentes da Serra do Mar, através do vale do Rio Ariró e da atual Lídice, possibilitando a
ligação da cidade com o Vale do Paraíba.
A ligação de Angra dos Reis ao Vale do Paraíba nesse momento, na crescente da
produção cafeeira na região, possibilitou que a atividade portuária crescesse com o
escoamento do café proporcionou o acúmulo de riquezas na região. Como destaca Abreu
(2005), ainda continuou atrelada às atividades primárias, mas devido aos frutos da sua
atividade portuária, Angra passou de vila para a categoria de cidade em 1835. Junto a isso,
“seu núcleo urbano central continuou, todavia, subordinado à premência comercial da cidade do
Rio de Janeiro” (ABREU, 2005, p. 32).
Entretanto, mesmo o escoamento de café sendo a principal atividade do porto, também
tinha um fluxo gigante proveniente do tráfico de escravos, até após a Lei Eusébio de Queirós.
Nesse sentido, podemos afirmar que:

É graças ao café e ao tráfico que, pela primeira vez em sua história, Angra dos Reis
conhece o desenvolvimento urbano. Elevada a Termo em 1808, à sede de Comarca em
1828, abrangendo uma área que se estendia desde Itaguaí, Mangaratiba e Paraty, a
antiga povoação de N.S. da Conceição, agora Angra dos Reis, foi elevada à categoria de
cidade em 1835. A Santa Casa da Misericórdia foi construída em 1836, para atender aos
casos de tifo, impaludismo e febre amarela; o Paço Municipal em 1876; e o primeiro
jornal semanal aparece em 1860 (MACHADO, 1995, p. 13).

Com o declínio do período cafeeiro no Vale do Paraíba, a criação da linha férrea ligando
Rio de Janeiro a São Paulo e a abolição da escravidão, a economia angrense enfrenta uma
19

recessão gigantesca. O que anteriormente fora salvo pela produção cafeeira, dessa vez não
houve escapatória. Pois, nesse período a cidade perde todas as bases de sua economia.
Dessa maneira, nesse período de declínio, Angra dos Reis foi muito afetada e viveu
praticamente 100 anos de estagnação, de 1850 a 1945, segundo Machado (1995). Uma das
piores recessões econômicas da história angrense. Essas consequências foram tão severas
devido a base econômica da cidade ser voltada para fora, não buscando alternativas de
sustentação internamente, sendo totalmente dependente das atividades externas, como no
Vale do Paraíba e no Rio de Janeiro. Portanto, a população foi obrigada a buscar alternativas
de sobrevivência que não dependessem de estímulos oriundos de fora da cidade, ou seja, não
mais num movimento de fora para dentro.
Com a crise, ocorre um processo interessante sobre o uso e ocupação do solo do
município. No qual, segundo Machado (1995), grandes proprietários de terra migraram para
outras regiões, abandonando sua produção e suas terras. Abrindo, assim, espaço para que os
homens livres e escravos libertos tomassem posse dessas terras para, principalmente,
agricultura de subsistência. Além disso, segundo Abreu (2005), o abandono dessas fazendas, a
queda do desmatamento para a produção e o decréscimo populacional possibilitaram a
restauração de parte da Mata Atlântica, que fora desmatada nos anos anteriores. Junto a isso,
a indústria da pesca e a de aguardente ganharam destaque principal nas finanças do município.
Posto isso, apesar de ser o maior período de estagnação da economia local, para uma parte da
sociedade foi extremamente significativo, como os escravos libertos obtendo acesso à terra e
ao desenvolvimento de pequenos agricultores, voltados à agricultura familiar. Ademais,
possibilitou a restauração de parte da vegetação devastada para a realização do plantio do
café, patrimônio natural da cidade.
Posteriormente, na década de 1930, empresários mineiros propuseram a construção de
um ramal ferroviário que se liga o porto de Angra com o Oeste de Minas. Essa ideia agradou o
poder público e privado local, gerando a expectativa de que as reativações do porto para
escoamento de produtos agrícolas pudessem melhorar a economia da cidade, igualmente nos
tempos áureos do café. Porém, a construção da ferrovia para esse objetivo não sofreu efeito
prático na restauração da economia.
Já na década de 1940, com a construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em
Volta Redonda, a estrada de ferro ganha importância, tornando o porto angrense o principal
meio de abastecimento de matéria prima e de escoamento da produção da siderúrgica. Nesse
momento, segundo Abreu (2005), ocorre uma reativação do núcleo urbano devido às diversas
modernizações que chegam ao município. Momento também em que “a dinâmica demográfica
20

de Angra dos Reis renasceu timidamente: a população aumentou em 2,4 mil habitantes entre
1940 e 1950 voltando ao seu tamanho de população do início do século” (CHETRY, 2019, p.
3943). Dessa forma, nota-se que outros estímulos externos ao município foram responsáveis
por fomentar sua economia e aumentar sua população, período em que a economia sai de sua
inércia.
A influência da CSN sobre o município de Angra dos Reis é muito importante, por
consequência de impulsionar a revitalização do centro urbano em torno do porto, o que é
também o centro da cidade. Desse modo, as modernizações provindas com esse fomento
econômico possibilitaram o início da alteração do espaço urbano e a incipiente formação de
uma classe social não existente na cidade, a operária. Nesse contexto, começa a emergir a
formação do urbano e suas problemáticas na cidade, como defende Lefebvre (2001),
evidenciando-se, principalmente, com a construção do Estaleiro Verolme e marcando a entrada
da fase industrial.
Analisando os fatos descritos, acerca do, aqui definido como período histórico pré-
industrial, percebe-se que a economia angrense, por ser condicionada por interesses externos,
é, até esse momento, historicamente dependente da atividade portuária. Pois, devido a sua
morfologia, a falta de tecnologias e a velocidade dos meios de transporte na época, o porto, era
o melhor meio de ligação entre a cidade e o mundo externo. Junto a isso, um fator que
prejudica uma análise mais profunda dos fatos e do contexto desse período é a carência de
dados sobre o município, muito por não ser uma localidade de grande importância no período
colonial e republicano.
21

4 - EMPREENDIMENTOS NACIONAIS E A FORMAÇÃO DO URBANO

Neste capítulo a discussão principal será pautada acerca das transformações causadas
no município de Angra dos Reis relacionadas à chegada da atividade industrial em grande
escala. Na escala temporal, o período delimitado aqui é entre as décadas de 1960 a 1980.
Recorte escolhido por marcar a formação do espaço urbano da cidade, com a alteração de uma
população rural para urbana, pela mudança da base econômica e a formação de uma nova
classe social, a operária. Sendo assim, mudanças significativas tanto no espectro social quanto
da economia, um período que é, praticamente, um “divisor de águas” na história angrense.
Dessa maneira, caberá aqui, a análise dos agentes transformadores do espaço urbano
na época, apoiando-se nas ideias de Corrêa (2004), na qual os agentes são sociais e
concretos, não um conjunto de processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato. Nessa
lógica de análise, os principais agentes atuantes na formação do urbano em Angra estão
relacionados ao Estado, ao capital imobiliário e aos grupos socialmente excluídos. Com isso, a
organização do capítulo será dividida nos quatro grandes empreendimentos de infraestrutura,
instalados por interesse do Governo Federal, responsáveis por alterar a dinâmica local, sendo
eles: o Estaleiro Verolme, a BR-101, o Complexo Nuclear Almirante Álvaro Alberto e o Terminal
da Baía da Ilha Grande (TEBIG).
A produção do espaço urbano pelo Estado, está ligada ao investimento do capital estatal
nos aparatos de infraestrutura, na formação de indústrias, na manutenção da tributação e no
auxílio à inflação imobiliária, assumindo, ao mesmo tempo, diversas facetas na produção do
espaço urbano. Além disso, é importante ressaltar que o Estado, como todos os outros agentes,
não atuam de forma neutra. Em seu caso, especificamente, a tomada de decisões será, em sua
maioria, voltada para atender aos interesses das classes dominantes e do modo de produção
capitalista. Sobre o papel do poder estatal, aponta Corrêa (2004, p. 24):

Uma primeira observação refere-se ao fato de o Estado atuar diretamente como grande
industrial, consumidor de espaço e de localizações específicas, proprietário fundiário e
promotor imobiliário, sem deixar de ser também um agente de regulação do uso do solo
e o alvo dos chamados movimentos sociais urbanos.

A elucidação do papel do poder público, pela ótica escolhida, sobre os processos


transformadores e formadores do urbano é ideal para compreender como os empreendimentos,
enunciados acima, foram determinantes no processo de urbanização de Angra dos Reis.
Contudo, reforça-se a ênfase de que são projetos instalados pelo interesse do Governo
Federal, não Municipal, realçando, novamente, o desenvolvimento local por desejos externos.
22

4.1 - O ESTALEIRO VEROLME

Na década de 1950, o Brasil ainda estava passando por um processo de industrialização


e urbanização lento, apresentando maior parte de sua população ainda no meio rural, com
baixos indicadores sociais e atraso em relação ao acesso à modernidade. No entanto, a partir
da segunda metade da década, com a eleição do mineiro Juscelino Kubitschek, iniciou-se o
investimento massivo para adentrar o país na dita modernidade a partir do famoso “Plano de
Metas”, com o slogan marcante do governo “50 anos em 5”. O principal projeto de seu governo,
no qual, segundo Ziliotto (2005), buscava-se, através do planejamento econômico e de
investimentos públicos e privados nos setores estratégicos da economia, promover uma rápida
industrialização, objetivando superar o subdesenvolvimento, a pobreza e as desigualdades
sociais.

Figura 2 - Vista aérea do Estaleiro Verolme em 1975.

Fonte: IBGE.

Nesse contexto, de fomento à industrialização por parte do Governo Federal, a indústria


naval foi uma das favorecidas por isenções de taxas alfandegárias. Com isso, atraiu os
investimentos de um grupo de capital holandês, responsável por instalar o estaleiro em uma
área cedida pela União de 1500 ha, em 1959.
23

O município de Angra dos Reis foi escolhido para receber esse grande empreendimento
industrial, num período onde não tinha uma estrutura pronta para suportar. Dessa maneira,
outros motivos foram determinantes para a instalação no local, como destaca Machado (1995,
p. 18):

Porque Angra foi escolhida para a implantação do estaleiro? Em primeiro lugar, o sítio
geográfico da baía da Ilha Grande, com águas profundas e protegidas pelo conjunto
insular. Outro motivo foi a excelente posição, de proximidade com a principal fonte de
matéria-prima - o aço de Volta Redonda, cidade com a qual se conectava por ferrovia.
Porém, como destaca Rodolfo Bertoncello, também fatores políticos e institucionais
tiveram um papel importante: o interesse do Ministério da Marinha, e a política
deliberada de se criar um pólo de desenvolvimento industrial, possivelmente para
compensar o Estado do Rio de Janeiro da mudança da Capital Federal para Brasília.

A partir dessa constatação, nota-se que os motivos da escolha pelo local foram devido a
sua morfologia, que permite uma navegação mais tranquila com o mar pouco movimentado; a
ligação com a CSN, facilitando o acesso aos seus recursos; e por uma questão diplomática
compensatória a redução do status do Estado fluminense ser detentor do distrito federal.
Novamente reforçando a predominância de interesses externos na tomada de decisões internas
ao município.
A instalação do Estaleiro já causa impacto antes mesmo de iniciar suas atividades na
indústria naval. Para a construção de um projeto de tal magnitude, o município não dispõe de
mão de obra suficiente e nem qualificada para realizar as funções. Com isso, observa-se uma
grande onda migratória em direção a cidade, por uma população em busca dessas
oportunidades de emprego, denotando um forte crescimento demográfico. Portanto, diversas
mudanças são notórias, tanto na parte econômica quanto na social, e principalmente na
espacial, pois, na planície que abriga o Estaleiro, ocorre a formação do bairro Jacuecanga,
composto pela classe operária.

A composição social do município se modifica com a formação de uma classe


trabalhadora fabril composta em sua maioria de metalúrgicos. Um novo núcleo
urbano é gerado com a implantação de uma vila industrial autônoma ao
derredor do parque industrial. O núcleo urbano central do Município se amplia
em direção aos morros e se desenvolve com maior dinâmica. A classe média se
expande com o incremento no comércio. Trata-se da consolidação da
modernização capitalista no âmbito local, modernização esta que viria a se
manifestar mais incisiva e drasticamente nas décadas seguintes com outros
empreendimentos de grande porte (ABREU, 2005, p. 37).

A partir da instalação do parque industrial do Estaleiro Verolme, o município passa a


contar com uma nova classe social, a do operariado. Junto a isso, segundo Lefebvre (2001),
24

inicia-se o processo de urbanização do município, pois é um fenômeno que acompanha a


industrialização e a modernidade.
Dessa maneira, a reprodução social dos sujeitos sobre o espaço permite a formação de
um novo bairro na cidade, em torno do parque industrial, composto pelos trabalhadores. A
proximidade ao local de trabalho e por ser uma planície costeira, são fatores determinantes
para a instalação dessa população no local. Sendo assim, devido a morfologia da região
segmentar as planícies costeiras, o processo de urbanização começa a ocorrer de forma
fragmentada, com o núcleo urbano distante da nova área urbana, ou seja, separa o bairro do
Centro da Jacuecanga.
Entretanto, nesse estágio inicial de ocupação, o desenvolvimento urbano não se deu
somente na planície da Jacuecanga. O núcleo urbano, compreendido pelo bairro do Centro,
sofreu mudanças consideráveis com o aumento de sua população, o avanço sobre as vertentes
e o desenvolvimento do setor de serviços e comércio. Um dos provocadores é a falta de
infraestrutura próximo ao parque industrial para receber os migrantes, diferente da área central,
onde já existia um suporte fruto da reativação das atividades portuárias na década de 1940.
Com o início das atividades do Estaleiro a partir de 1969, a economia local observou
uma crescente considerável, sendo a década seguinte reconhecida como o seu auge,
controlando cerca de 8000 empregos diretos (ABREU, 2005). Nesse cenário, as transformações
espaciais continuaram ocorrendo, o crescimento do bairro Jacuecanga, e o surgimento de
novos bairros, por meio da incorporação de antigas áreas agrícolas, entre os núcleos urbanos e
em direção às vertentes. Além disso, ocorreu o desenvolvimento forte do setor de serviços e do
comércio, intensificando um processo já iniciado.
Todavia, é impossível deixar de comentar as problemáticas atreladas a esse processo
de urbanização no período. Como dito anteriormente, o município não detinha a infraestrutura
ideal para suportar um complexo industrial dessa magnitude, muito menos para lidar com um
crescimento populacional acelerado. Dessa forma, segundo Machado (2005), esse cenário não
foi de todo positivo, pois o governo municipal não detinha a verba necessária para prover as
mudanças necessárias, acarretando diversas problemáticas urbanas como falta de
abastecimento d'água, pouco acesso à energia elétrica e ao saneamento básico. Censos
demográficos do IBGE apontam que até 1970, 37,8% dos domicílios tinham acesso à
eletricidade e 32,7% ao esgoto. Porém, esses dados serão abordados com mais profundidade
no próximo capítulo.
A fim de encerrar a discussão sobre este empreendimento no recorte temporal
estabelecido, até a década de 1980. Cabe aqui destacar que a partir dos anos 80, a indústria
25

naval brasileira entra num ciclo de recessão, acarretando uma crise no Estaleiro. Dessa
maneira, após seu apogeu na década de 1970, suas atividades entram em declínio,
ocasionando demissões em massa e perda de parte de seu patrimônio imobiliário para quitação
de dívidas trabalhistas. Portanto, a crise resultou num aumento de desempregados e um abalo
grande na economia local, gerando novas problemáticas urbanas.

4.2 - RODOVIA BR-101

O fragmento da rodovia federal BR-101 que atravessa o município de Angra dos Reis
faz parte do trecho conhecido como Rio/Santos. O intuito da construção dessa estrada consistia
em possibilitar uma ligação pelo litoral entre as cidades de Santos e Rio de Janeiro, de forma
que concedesse acesso às belezas do litoral sul fluminense e do norte paulista. Acompanhando
a costa e serpenteando as encostas da Serra do Mar, esse empreendimento é o principal meio
responsável por promover o crescimento do espaço urbano angrense e, ao mesmo tempo,
condicionar a sua distribuição. Além disso, possibilitou a instalação de uma nova atividade
econômica na região, o turismo.
Com suas obras finalizadas em 1974, ocorreu uma remodelação do espaço geográfico,
decorrente das estratégias contidas para sua construção, modificando as formas do relevo, da
estrutura viária pré existente e inserindo os interesses do capital imobiliário.A abertura da
rodovia foi o fator determinante para a entrada da atividade turística na região, pois ao
possibilitar uma ligação entre as duas metrópoles, Rio de Janeiro e São Paulo, junto ao recurso
paisagístico da região, com boa parte da Mata Atlântica ainda preservada e a região onde a
Serra do Mar encontra-se mais próxima do Oceano Atlântico, atraiu todo o interesse da
indústria turística. A soma desses fatores, resultou numa valorização da região, aumentando a
especulação imobiliária e os conflitos com os habitantes locais, principalmente o povo caiçara.
Nesse contexto, deve-se realçar o processo de posse de terras, descrito anteriormente,
ocorridos após a crise cafeeira. Na qual, os homens livres e escravos libertos tiveram acesso à
terra por meio da posse das propriedades abandonadas, estabelecendo-se lá por praticamente
um século, mas sem documentos que comprovem a possessão do terreno. Essa fragilidade na
jurisdição, permitiu ao capital imobiliário agir e tomar o direito dessas terras junto ao Estado,
desencadeando diversos conflitos fundiários.

Os proprietários fundiários podem então exercer pressões junto ao Estado,


especialmente na instância municipal, visando interferir no processo de definição das leis
de uso do solo e zoneamento urbano. Esta pressão não é feita uniformemente nem
beneficia a todos os proprietários fundiários. Alguns, os mais poderosos, poderão até
26

mesmo ter suas terras valorizadas através do investimento público em infra-estrutura,


especialmente a viária: as cidades brasileiras fornecem vários exemplos dessa prática
(CORRÊA, 2004, p.16).

Sendo assim, com a entrada do capital imobiliário foram surgindo diversos


empreendimentos visando a exploração do potencial turístico da região, nas margens da
rodovia. Atrelado a isso, a população expulsa de suas propriedades foi obrigada a buscar
outras alternativas para a sua sobrevivência, provocando o processo de favelização. Acerca
dessa problemática, destaca Siqueira (1989, p. 62):

Inicia-se, então, um novo drama na vida dos habitantes desta região, o caboclo do litoral
conhecido pelo nome de “caiçara”, bem como nas comunidades indígenas Guarani que
se espalhavam nesta costa brasileira. A ameaça de expulsão de suas posses
centenárias concretizou-se em várias ocasiões, ao mesmo tempo em que começavam a
surgir favelas nas periferias nas cidades da região. Sem terra onde plantar sua pequena
roça de consumo e sem seu mar, de onde tirava o “peixe nosso de cada dia”, o caiçara,
expulso da posse, tornou-se mais um segmento marginalizado em nossa sociedade.

As decisões tomadas para planejar a Rio/Santos foram todas tomadas em função dos
interesses do capital turístico-imobiliário com o Estado, desconsiderando as condições pré
existentes no município, o que poderia render mais frutos para as atividades econômicas
atuantes na cidade. Dessa maneira, o traçado escolhido dá o aporte ao setor turístico, o qual o
desenvolvimento era de interesse do governo federal. Portanto, “a decisão de construir a
estrada foi tomada fora de Angra, a rodovia foi construída dentro de Angra, mas não para Angra
dos Reis” (GUANZIROLI, 1983, apud ABREU, 2005, p. 40).

Figura 3 - Trecho da rodovia BR-101 no município de Angra dos Reis/RJ, 1:25000.

Fonte: Google Maps, 2022.


27

Com o intuito de finalizar a discussão acerca da implantação desse empreendimento, convém


pontuar alguns fatores. Como foi descrito no capítulo, nota-se a importância da BR-101 para o
capital turístico-imobiliário, facilitando o acesso à região; possibilitando a construção de casas
de veraneio, resorts e hotéis luxuosos; e estimulando a economia local com o crescimento do
setor de serviços e do comércio. Além disso, a rodovia serve como a principal via de acesso
intermunicipal, estabelecendo conexões entre os bairros e as áreas urbanas fragmentadas pelo
relevo (figura 3), e estabelecendo uma conexão rápida com a capital do estado, em torno de
duas horas. Portanto, conclui-se que “a opção pela rodovia impôs novos ritmos no processo de
acumulação, outras temporalidades em relação à dinâmica anterior, acarretando um
considerável impacto à região como um todo” (ABREU, 2005, p. 40).

4.3 - CENTRAL NUCLEAR ALMIRANTE ÁLVARO ALBERTO

A construção do complexo nuclear em Angra dos Reis segue a mesma lógica dos
empreendimentos abordados anteriormente, “ou seja, a produção de um espaço industrial cuja
gestação foi feita a partir de fora, com capital acumulado fora do município e visando atender a
uma demanda também de fora” (ABREU, 2005, p. 41). Portanto, é mais um investimento que
comprova como Angra é condicionada por decisões externas, afetando diretamente a sua
economia e seu espaço urbano.
Com a inserção na área de Segurança Nacional do governo ditatorial militar, o município
sofreu com maior intensidade a participação do governo federal nas suas decisões internas,
tornando-se palco de seus empreendimentos de infraestrutura. Nesse contexto, os motivos que
resultaram na escolha de Angra para abrigar as usinas nucleares, conforme divulgação no site
da Eletronuclear, foram: a proximidade do eixo Rio-São Paulo, região de maior consumo de
energia do país; e a sua posição estratégica junto à costa, que permitia o acesso às águas do
mar, ideais para serem utilizadas no resfriamento dos reatores. Portanto, a soma desses fatores
resultou na escolha da praia de Itaorna para receber a central nuclear.
Em 1972, iniciam-se as obras da primeira usina nuclear brasileira, a Angra 1, com
reatores americanos da Westinghouse. Em seu projeto inicial, a previsão para a conclusão das
obras era para o ano de 1977 e no ano seguinte o início de suas operações. No entanto,
diversos problemas técnicos e imprevistos atrasaram os planos dos militares, permitindo o início
de sua operação apenas no ano de 1985.
28

Figura 4 - Construção da Central Nuclear em


1976.

Fonte: IBGE.

Com novas informações sobre o modelo de reator adquirido, os responsáveis pelo


projeto nuclear decidiram buscar outra tecnologia que atendesse de melhor forma as
demandas. Sendo assim, em 1975, é assinado o acordo nuclear Brasil-Alemanha, que consiste
no auxílio da tecnologia alemã para a construção das próximas usinas. Na época, previa a
construção de mais oito até o ano 2000. Nesse contexto, são obtidos os materiais para a
construção das usinas gêmeas, a angra 2 e 3. Entretanto, devido a forte crise que assolou o
país em 1980, as obras foram totalmente paralisadas em 1986. Contudo, as obras de angra 2
foram concluídas em 2000, com o início de suas atividades no ano seguinte, e as obras de
angra 3 seguem inacabadas até o hoje, deixando um enorme canteiro de obras exposto.
Além das obras referentes a usina propriamente dita, foram construídas duas vilas
residenciais para atender ao pessoal gabaritado, a vila da Praia Brava e da vila residencial de
Mambucaba, essa já nos domínios do município de Paraty. O intuito da construção dessas
residências era de viabilizar a construção e a manutenção da usina, garantindo moradias
29

próximas e infraestrutura, com hospital, escola e na beira da praia, para atrair esses
funcionários.
Entretanto, para atender aos trabalhadores menos qualificados, muitos vindos de outras
cidades, não foi realizado nenhum suporte ou garantia de infraestrutura. Dessa maneira, coube
a esses sujeitos formarem bairros nas redondezas da central nuclear, como o Frade e o Parque
Mambucaba. Essas localidades são bastante populosas, no contexto municipal, e carentes de
infraestrutura urbana, onde os investimentos em serviços públicos tiveram de partir do poder
local, sem receber nenhum tipo de auxílio do governo federal ou da usina.

O gigantismo vincula-se ao tamanho da tarefa, que exige grande quantidade de capital e


trabalho, assim como a centralização das decisões nas mãos de administradores de alto
poder decisório. Dominam lógicas empresariais, técnicas e políticas, frequentemente
distantes da lógica dominante dos lugares onde estão inseridos os empreendimentos. O
isolamento está relacionado ao local de implantação, onde aparece um território sob
jurisdição direta do órgão responsável. Por outro lado, criam-se territórios vinculados aos
empreendimentos mas não sob seu controle, coexistindo, então, diversos tipos de
processos espontâneos que escapam do controle e da responsabilidade da empresa,
aparecendo, frequentemente, conflitos das mais diversas ordens. Por último, o caráter
temporário das obras de instalação permite um enorme fluxo de mão de obra, no
primeiro momento, seguido de esvaziamento, ou fixação de uma parcela, depois de
terminada (MACHADO, 1995, p. 20).

Como pontuado acima por Machado, é característica desses grandes empreendimentos


federais a formação de territórios urbanos ao seu redor e, atrelado a eles, as suas
problemáticas. Além disso, um fato pontuado por ela e por Abreu (2005), é o impacto inicial do
empreendimento com o aumento da oferta de empregos, principalmente ligado à construção
civil, e as consequências resultantes do encerramento dessas atividades, o desemprego numa
população que sente dificuldades para reintegrar-se no mercado ou voltar ao seu local de
origem.
Assim sendo, a instalação da central nuclear na praia de Itaorna gerou consequências
significantes no município, por meio do aumento das migrações e, principalmente, pelas
alterações no espaço, formando outro núcleo urbano às margens da BR-101, na formação de
novos bairros e aumentando as problemáticas urbanas num distrito pouco povoado
anteriormente. Portanto, esses fatores expostos construíram no imaginário da população
angrense que a usina nunca cessou suas dívidas com o município e “os ônus gerados pela
localização das usinas em Angra nunca foram devidamente quantificados” (ABREU, 2005, p.
43).
30

4.4 - TERMINAL DA BAÍA DA ILHA GRANDE (TEBIG)

Figura 5 - Terminal da baía da Ilha Grande (TEBIG)

Fonte: Prefeitura de Angra dos Reis, 2017.

O terminal da baía da Ilha Grande (TEBIG) está inserido na mesma lógica do que furnas.
Um empreendimento instalado por decisão do governo federal, voltado ao setor energético e de
gigantismo, isso inclui o que foi dito por Machado no trecho destacado no capítulo anterior,
principalmente, no tocante ao isolamento do local de implantação.

Sua instalação no local deveu-se à superação do limite de capacidade operacional dos


terminais e oleodutos da baía de Guanabara. Mais uma vez a opção pela implantação de
uma grande instalação industrial na região teve suas bases em interesses, a partir de
demandas exógenas, mas interferindo radicalmente na dinâmica local sem
contrapartidas claras e imediatas (ABREU, 2005, p. 44).

O TEBIG é um dos maiores terminais petrolíferos da PETROBRÁS, composto por duas


áreas segmentadas que totalizam uma área de 1250000 m², localizadas às margens da rodovia
BR-101 e, relativamente, próximas de onde está localizado o estaleiro. Suas obras tiveram
início em 1974 e foram concluídas em 1977, ano de sua inauguração. Além disso, para a sua
31

instalação foi necessário modificar a rede fluvial local, na qual, de acordo com Abreu (2005),
implicaram na alteração do curso de três rios, no movimento de 7000000 m³ de terra e na
escavação de profundos canais marítimos para permitir o acesso dos navios ao porto. Portanto,
nota-se o enorme esforço realizado para que o município recebesse esse terminal e, junto a
isso, como a sua instalação modificou a paisagem da região e sua dinâmica.
As principais funções exercidas no parque industrial são receber o petróleo dos navios e
abastecer, por meio de oleodutos, as refinarias de Duque de Caxias, na baixada fluminense, e
de Gabriel Passos, em Minas Gerais. Assim sendo, segundo a PETROBRÁS, o TEBIG consta
com dez tanques de armazenamento, com capacidade de 860000 m³, e com 123 km de
oleoduto com 38 polegadas de diâmetro, com destino final o terminal de Campos Elíseos, em
Duque de Caxias.
O seu impacto sobre o espaço urbano de Angra dos Reis assemelha-se ao da central
nuclear, pois também ocorreu a construção de uma vila para os funcionários mais qualificados,
enquanto os menos qualificados instalavam-se na periferia do empreendimento. Nesse
contexto, foi estabelecida a vila da PETROBRÁS fornecendo infraestrutura com casas prontas,
acesso a eletricidade, a saneamento básico e com vias de acesso bem pavimentadas. Em
contraposto, os operários, que atuaram na construção e os pouco que conseguiram um
emprego no terminal, foram obrigados a se alojarem nas áreas mais próximas, dando origem ao
bairro Monsuaba, dentre outros, e intensificando a ocupação do núcleo urbano próximo
preexistente, a Jacuecanga.
Além dos fatores citados, cabe destacar que durante a década de 1980 o TEBIG ficou
marcado por acidentes responsáveis por promover danos ambientais à baía da Ilha Grande.
Durante essa década foram registrados dois grandes vazamentos, um em 1988 e outro em
1989, onde somados completam 300 toneladas de óleo despejado no mar. Além disso, no ano
de 1990, ocorreu mais um vazamento de 40 toneladas. Desse modo, são três anos
consecutivos de lançamento de um material danoso ao meio ambiente em quantidades
enormes, resultante de sucessivas falhas, causando impactos à natureza que não foram
mensurados e questionando a integridade da estrutura construída.
32

5 - A NOVA GEOGRAFIA DE ANGRA DOS REIS

Quando queremos saber algo sobre a evolução histórico-geográfica de Angra dos Reis,
isto é, sobre as mudanças pelas quais passou o lugar, o que se está buscando é uma
melhor perspectiva do nosso próprio tempo e do nosso próprio lugar, quer dizer,
queremos compreender os caminhos seguidos pelas gerações que nos precederam,
coletividades que, assim como a nossa, conheceram o êxito e o fracasso, a
generosidade e a perversidade, acumulando e desperdiçando oportunidades,
construindo e destruindo coisas, lutando por determinadas coisas e desprezando outras
(MACHADO, 1995, p. 2).

Apoiando-se nas palavras do trecho destacado acima, cabe ressaltar a necessidade de


realizar toda essa revisão histórico-geográfica acerca de Angra dos Reis, no intuito de identificar
a origem dos processos que resultam na organização espacial atual, nas problemáticas
urbanas e na cultura local. Posto isso, este capítulo partirá de um recorte temporal mais atual,
definido da década de 1990 até o final dos anos 2010. Período no qual a dinâmica do município
é totalmente distinta da primeira metade do século XX, com uma base econômica voltada ao
setor de serviços e indústria, uma população majoritariamente urbana e expressivamente maior,
novas classes sociais formadas, novos problemas e, basicamente, uma nova maneira de
relacionar-se com o espaço. Portanto, busca-se efetuar uma análise sistêmica da organização
interna da cidade, identificando como todos fatores mutuamente se causam na construção das
problemáticas (SANTOS, 2020).
O destaque dado no capítulo anterior, no período entre as décadas de 1960 a 1980, se
deu basicamente pelo impacto da instalação dos empreendimentos nacionais de infraestrutura,
promovendo a formação do urbano e a entrada da atividade turística. Dessa maneira, o maior
impacto desse período não está relacionado ao crescimento populacional, mas ao impacto
sobre o território do município, pois, como dito anteriormente, com o encerramento de cada
obra uma parcela desses trabalhadores estabeleciam-se aos arredores dos empreendimentos.
Somado a isso, a morfologia singular do município, com pouca disponibilidade de áreas planas,
acarretou a concentração da população trabalhadora nessas pequenas planícies aluviais, como
é o caso da Jacuecanga, Japuíba, Mambucaba e Monsuaba (MACHADO, 1995, p. 21).

[...] a urbanização corporativa, isto é, empreendida sob o comando dos interesses das
grandes firmas, constitui um receptáculo das consequências de uma expansão
capitalista devorante dos recursos públicos, uma vez que esses são orientados para os
investimentos econômicos, em detrimento dos gastos sociais (SANTOS, 2020, p. 105).

Com o aporte construído pelos empreendimentos do governo federal, a partir da década


de 1990 os processos iniciados posteriormente são intensificados, denotando um crescimento
urbano acelerado, responsável pelas alterações descritas anteriormente. Além disso, ocorre
33

crescimento do setor turístico na região em condicionado pela ação do capital turístico


imobiliário e pela propaganda realizada sobre as belas paisagens tropicais da baía da Ilha
Grande. Dessa forma, chegam ao município pessoas com grande poder aquisitivo investindo
em hotéis, resorts, iates, clubes, condomínios e casas de veraneio para um público de alto
padrão de consumo. Atrelado a isso, o setor de serviços é o que mais se desenvolve no
município, atraindo mão de obra para atender a demanda dos projetos de alta classe social,
desenvolvendo atividades como caseiro, marinheiro, segurança e etc. Entretanto, esses
trabalhadores não residem nessas áreas valorizadas mas em bairros com a infraestrutura
precária, intensificando um processo já iniciado pela industrialização, o da formação do espaço
urbano marcado pela desigualdade social.
Para esclarecer os processos mais recentes que ocorreram no município, delimitou-se a
divisão deste capítulo em tópicos específicos para cada um dos mais importantes. Para isso,
foram escolhidas três divisões, a primeira referente às decisões definidas no Plano Diretor da
cidade, identificando quais medidas foram acatadas e como atendeu aos interesses do capital,
dos trabalhadores e da conservação ambiental; a segunda sobre o crescimento demográfico,
identificando os fatores responsáveis e como os distritos foram afetados; a terceira a respeito
do desenvolvimento desigual do espaço urbano, identificando como a desigualdade social
reflete e condiciona a reprodução do urbano em Angra dos Reis.

5.1 - PLANO DIRETOR

Para compreender o papel do plano diretor no município é necessário retratar o contexto


político da década de 1980 e expor os agentes dominantes no poder local na época. Por Angra
fazer parte do conselho nacional de segurança, o governo federal tinha total controle sobre as
decisões locais, principalmente no executivo, onde os prefeitos eram escolhidos pelos militares.
Nesse contexto, apenas em 1985, com o fim da ditadura militar, que a população angrense
pode escolher o seu representante por meio do voto, recuperando a sua autonomia política.
Como revelado no capítulo anterior, a formação do espaço urbano ocorreu pela
conciliação de interesses do governo federal, com os empreendimentos de infraestrutura, e pelo
capital turístico-imobiliário, por meio da especulação imobiliária estimulada pelo potencial
turístico da região. Dessa maneira, nota-se como as escolhas para o direito ao uso da terra
estava centrado na propagação do capital, pautando as decisões do Estado a atender aos
anseios dos empresários e elite local, ignorando as exigências das classes populares.
34

Já dissemos que os novos processos que deram à região e ao lugar uma nova
configuração espacial resultaram da articulação entre o estado representado pelo
governo federal, com interesses voltados para outras regiões e escalas, o setor privado
representado pelas empresas ligadas às atividades turístico-imobiliárias, e às classes
dominantes tradicionais do local, representadas pelos grandes proprietários de terras
(ABREU, 2005, p. 64).

Nesse contexto, de embate de interesses e poder das camadas populares contra a elite
e os empresários, junto a crise econômica que o Brasil atravessa na década de 1980, surgem
alguns movimentos sociais lutando pelo acesso à terra, melhores condições de trabalho, defesa
do meio ambiente e garantia de direitos. Formando-se organizações sindicais, a Comissão
Pastoral da Terra (CPT), a Sociedade Angrense de Proteção Ecológica (SAPÊ), o Conselho
Municipal das Associações de Moradores (COMAM) e a seção local do Partido dos
Trabalhadores (PT) (ABREU, 2005). Portanto, a inclusão dos movimentos sociais no contexto
da cidade demonstra uma nova organização da população frente a um período de
redemocratização nacional.
O motivo da necessidade de explicitar esse contexto político local é de reforçar a
mudança que ocorre na administração local a partir da abertura do governo à democracia,
possibilitando uma participação maior e ativa das camadas populares na política, dando voz a
esses sujeitos. Posto isso, a mudança mais significativa para o poder popular no município, foi a
partir de 1988, onde o PT elege seu primeiro prefeito em Angra. O partido reforçava o
compromisso com a gestão democrática, invertendo as prioridades administrativas, calcadas
nos interesses dos empresários, para o de atender todas as parcelas da sociedade, atendendo
assim, aos anseios dos movimentos populares. Portanto, um dos projetos elaborados que
reforçam isso foi o Plano Diretor.

O suporte dessa prática foi a elaboração do Plano Diretor, que se baseou num processo
intenso de reuniões com as associações de moradores locais. O Plano foi proposto num
contexto que conjugava, além da eleição do PT, a recente promulgação da Constituição
Federal de 1988 e as demandas sociais geradas pelo processo de urbanização do
município, anteriormente relatadas (ABREU, 2005, p. 66).

O processo de redemocratização brasileiro teve como uma das suas principais pautas a
promulgação de uma nova constituição federal, garantindo uma série de direitos indispensáveis
para a população, que antes foram tomados pelas imposições da ditadura militar. Dentro da
constituição de 1988, há um capítulo referente à Política Urbana, pautado nas propostas dos
grupos engajados nas lutas contra as problemáticas urbanas. Dessa maneira, segundo Abreu
(2005), buscou-se um planejamento urbano dinâmico e contínuo, voltado para a garantia do
direito à cidade e a cidadania. Junto a isso, delimitou as cidades com mais de 20000 habitantes
a elaboração de Planos Diretores, incluindo a participação popular nas decisões sobre o
35

planejamento. Sendo assim, “o planejamento nas cidades tem na sua perspectiva o


enfrentamento do desafio de superar as desigualdade sociais reproduzidas por uma desigual
possibilidade de planejar o uso dos recursos condensados na cidade” (RIBEIRO; DE GRAZIA,
2001, apud GRAZIA, 2003,p. 65).
Portanto, a constituição possibilitou que as classes exploradas pudessem pontuar e
expor suas contestações acerca da realidade urbana, uma participação ativa na tomada de
decisões, não seguindo apenas aos interesses do capital privado e da elite. Para enfatizar a
importância dessas conquistas para a classe trabalhadora em relação ao urbano e a
necessidade da sua participação ativa, vale destacar as ideias de Lefebvre (2001, p. 113):

Das questões da propriedade da terra aos problemas da segregação, cada projeto de


reforma urbana põe em questão as estruturas, as da sociedade existente, as das
relações imediatas (individuais) e cotidianas, mas também as que se pretende impor,
através da via coatora e institucional, àquilo que resta da realidade urbana. Em si mesma
reformista, a estratégia de renovação urbana se torna “necessariamente” revolucionária,
não pela força das coisas mas contra as coisas estabelecidas. A estratégia urbana
baseada na ciência da cidade tem necessidade de um suporte social e de forças
políticas para se tornar atuante. Ela não age por si mesma. Não pode deixar de se apoiar
na presença e na ação da classe operária, a única capaz de pôr fim a uma segregação
dirigida essencialmente contra ela.

Posto isso, o Plano Diretor de Angra dos Reis seguiu o objetivo proposto de garantir a
participação popular na definição de suas decisões, buscando através desse fator amenizar as
desigualdades sociais no município. Dessa maneira, segundo Guimarães e Abicalil (1990, apud
ABREU, 2005), a elaboração se deu em duas etapas: na primeira, de forma introdutória,
realizaram-se diversas reuniões com representantes populares, associações de moradores,
câmara municipal, dentre outros, buscando esclarecer pontos sobre os limites, a metodologia,
os objetivos e coletar dados para um pré-diagnóstico; na segunda etapa, novas reuniões foram
realizadas, divididas por temáticas, para debater os problemas e as soluções, identificando
diversos atores sociais e suas divergências.

O plano diretor de Angra dos Reis (Lei Municipal n° 162/LO de 12/12/91) é um


documento tecnicamente bem elaborado e conforme ao ideário da reforma urbana. Seus
princípios são fortes e límpidos quanto à tentativa de salvaguarda das funções sociais da
cidade e da propriedade e à inversão de prioridades, isto é, o atendimento preferencial
aos segmentos pobres e segregados (SOUZA, 2010, p. 481).

O plano diretor de Angra recebeu certa notoriedade devido ao papel preponderante da


participação popular na sua elaboração, contendo diversas premissas bastante progressistas, e
por conseguir a garantia de direito à cidade, freando os interesses do capital turístico-
imobiliário. Exemplos que justificam isso é a criação da Companhia Municipal de Saneamento,
responsável pelo esgoto sanitário, o abastecimento de água e destinação final dos resíduos
36

sólidos; e estabelecer o acesso a praia, definindo a praia como um espaço público, impedindo
que os condomínios luxuosos e os resorts as transformassem em praias particulares. Além
desses fatores, outro ponto positivo definido foi referente a preocupação com a preservação
ambiental, buscando manter o patrimônio natural, preservando manguezais e a vegetação da
Mata Atlântica, por exemplo. Entretanto, um dos pontos falhos notados no documento são os
poucos instrumentos adotados para lidar com a reforma urbana (SOUZA, 2010).
Mesmo contendo esses avanços, os pontos delimitados não estavam de acordo com os
interesses da elite e dos empresários. Sentindo-se desfavorecidos realizaram esforços para
reduzir as propostas populares, cobrando mais tecnicidade na elaboração do projeto e menos
política. Dessa forma, pressionaram a prefeitura por meio da câmara dos vereadores, a qual na
época era composta por apenas um integrante do PT e os demais de oposição, para rejeitarem
o primeiro Plano Diretor apresentado, obrigando a realizar revisões e acatarem algumas de
suas exigências, podendo assim ser finalmente aprovado.
Com o Plano Diretor em voga, a prefeitura conseguiu a formação do Conselho
Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (CMUMA), responsável por analisar e aprovar os
projetos urbanos no município, seguindo o definido na lei. Segundo Abreu (2005), esse
conselho era formado por um coordenador, pela PMAR e por entidades que compõem a
sociedade civil, com representantes sindicais, por distritos, do turismo, da pesca, da
preservação ecológica, da construção civil e de áreas rurais. Com isso, as decisões eram
definidas em audiências públicas e seus membros tinham rotatividade de 2 anos, trazendo
democratização nas decisões sobre a ocupação do espaço urbano.

Indiscutivelmente, a criação, implantação e manutenção do CMUMA representaram uma


mudança radical de procedimentos, pois inverteu as práticas clientelistas usualmente
adotadas, em que os interesses privados eram atendidos a partir de negociações em
gabinetes fechados. Tais práticas foram substituídas por embates onde a tônica passou
a se pautar pela explicitação dos conflitos e a transparência das negociações (ABREU,
2005, p. 79).

Entretanto, mesmo o conselho ter perpetuado por bons anos, ativamente até 2002, com
o passar dos anos os representantes frequentes foram se esvaziando. Em parte, pela ausência
da própria prefeitura nas reuniões, dificultando a discussão entre os representantes da
sociedade civil com o poder administrativo. Além disso, a maioria das pautas debatidas eram
acerca da implantação de projetos, no qual os empreendedores pressionavam com pedidos de
urgência, deixando de lado as decisões sobre o crescimento da cidade e as demandas da
população. Portanto, esses fatores contribuíram para o enfraquecimento do conselho,
37

afastando a população das decisões referentes ao urbano, atenuando um caminho de volta ao


padrão anterior, das decisões nos gabinetes (ABREU, 2005).
Analisando esses fatores, nota-se o esforço realizado para integrar o planejamento
urbano em uma gestão mais democrática, incluindo a representatividade popular na tomada de
decisões, trazendo bons frutos. Porém, com o passar dos anos, a falta de fomento e interesse
do poder público na manutenção das medidas tomadas na elaboração do Plano Diretor,
possibilitou o afastamento do poder popular das decisões administrativas, significando um
retrocesso nas conquistas adquiridas anos antes.

5.2 - CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO

Gráfico 1 - Evolução da população de Angra dos Reis (1940-2021).

Fonte: IBGE, Censos Demográficos.

Para a realização deste subcapítulo utilizou-se as informações disponíveis nos censo


demográficos do IBGE, de 1940 até 2010, e as estimativas publicadas, devido a realização do
recenseamento. Além disso, baseia-se no estudo de Michael Chetry (2019) referentes à
dinâmica demográfica de Angra dos Reis. O gráfico acima revela o número de habitantes no
município desde a década de 1940 até os dias atuais, compreendendo o período de transição
do município e a sua nova configuração.
38

Dessa forma, nota-se que entre 1940 e 1950 a população cresceu em pouco mais de 2
mil habitantes, reflexo da reativação da atividade portuária servindo de aporte para suprir e
escoar produtos da CSN. Ainda um crescimento muito tímido, concentrado principalmente no
centro histórico, ou seja, em volta do porto. Já, “a partir dos anos 1950, observou-se uma
mudança radical da dinâmica demográfica da cidade de Angra dos Reis, quando se abriu um
longo período de 60 anos de crescimento demográfico intenso e ininterrupto” (CHETRY, 2019,
p. 3944.), fenômeno perceptível ao olhar o gráfico. Sendo assim, o município passou de uma
população total de praticamente 21 mil habitantes, em 1950, para aproximadamente 210 mil,
em 2021. Esses dados comprovam que a população do município foi multiplicada por 10 vezes
em um período de 71 anos, um crescimento abrupto em um intervalo curto de tempo.
As décadas iniciais deste crescimento, coincidem com a implantação dos
empreendimentos nacionais de infraestrutura no município, período em que muitos migrantes
chegaram na cidade devido a oferta de empregos, principalmente, relacionados à construção
civil. Como dito anteriormente, o impacto desses empreendimentos não teve grande impacto no
crescimento demográfico, pois a crescente tornou-se muito maior nos anos posteriores.
Entretanto, a atuação como determinantes na urbanização do município, principalmente pela
BR-101, ao disponibilizar a entrada do capital turístico imobiliário, foram importantes em garantir
a base para que os processos fossem intensificados nas décadas subsequentes.

A sociedade local se diversifica em novas camadas sociais. A composição dos


trabalhadores agora possui, além dos tradicionais trabalhadores vinculados à pesca e à
atividade rural, o operariado vinculado à modernização capitalista (metalúrgicos,
petroleiros, eletricitários) e também portuários, ferroviários, trabalhadores da construção
civil, funcionários públicos municipais, comerciários, trabalhadores do setor de turismo e
outros serviços. A classe empresarial é formada pelos proprietários de terras,
empresários da construção civil, do setor de turismo e comerciantes. Destaca-se ainda
uma camada “interclasse”, formada por alto escalão do setor público, executivos e
dirigentes das estatais e do estaleiro e os profissionais liberais (cf. OLIVEIRA, 1993). A
nova composição social produz-se no espaço, apresentando uma estrutura urbana de
maior complexidade e conflitos (ABREU, 2005, p. 54).

Tabela 1 - Taxa de crescimento anual médio em Angra dos Reis, Barra Mansa, Volta Redonda, Resende, Estado do
RJ e Brasil (1940-2010).

Período: Angra dos Barra Volta Resende Estado do Brasil


Reis Mansa Redonda RJ

1940- 1,2% 2,8% - 2,4% 2,6% 2,3%


1950
39

1950- 3,2% 6,2% 9,5% 3,5% 3,7% 3,2%


1960

1960- 3,4% 4,8% 3,5% 3,2% 3,1% 2,9%


1970

1970- 3,7% 4,3% 3,9% 2,7% 2,3% 2,5%


1980

1980- 3,6% 1,0% 1,7% 0,4% 1,1% 1,9%


1991

1991- 3,8% -0,1% 1,1% 1,5% 1,2% 1,5%


2000

2000- 3,6% 0,4% 0,6% 1,4% 1,1% 1,2%


2010

Fonte: IBGE, censos demográficos, apud CHETRY (2019).

Por meio dos dados destacados na tabela acima, nota-se que durante o período da
urbanização brasileira há um crescimento populacional das cidades do sul fluminense,
destaque para Volta Redonda e Barra Mansa com um crescimento anual muito elevado na
década de 1950, consequência da instalação da CSN. Além disso, é perceptível a tendência de
crescimento populacional nas cidades vizinhas, no Estado do Rio de Janeiro e no Brasil, na
qual a partir da década de 1980 o crescimento anual entra em queda.
Em contrapartida, o município de Angra dos Reis apresenta um crescimento
anual constante a partir da década de 1950 e persiste até 2010 com uma taxa em volta de 3,5%
ao longo desses anos. Sendo assim, a sua dinâmica demográfica não segue as tendências do
país, nem do estado e nem das cidades próximas, mantendo um crescimento elevado enquanto
as outras localidades apresentam uma queda constante. Além disso, Chetry (2019) destaca que
esse crescimento de Angra não acompanha nem os padrões das cidades de mesmo porte, mas
de cidades bem maiores, revelando como esse crescimento é expressivo.
Assim sendo, o crescimento demográfico de Angra dos Reis está ligado a dois fatores
principais: a taxa natural de crescimento, aumento da natalidade e da longevidade advindos no
período de transição demográfica brasileiro; e as migrações, provenientes pela oferta de mão
de obra nos setores econômicos crescente, o industrial e o de serviços.
40

Tabela 2 - Indicadores de imigração em Angra dos Reis (1950-2010).

Período: Número de Imigrantes Taxa de imigração

1950-1960 4204 16,9%

1960-1970 7573 21,9%

1970-1980 14288 29,1%

1980-1991 17282 24,2%

1991-2000 27914 27,3%

2000-2010 30777 21,3%

Fonte: IBGE, censos demográficos, apud CHETRY (2019).

Segundo os dados apresentados na tabela acima, é perceptível o papel das pessoas


vindas de outras cidades para Angra. Comprovando que a ligação das atividades da CSN com
o porto pela estrada férrea, na década de 1950, já atraiu imigrantes para a cidade. Além disso,
é perceptível, a partir da década de 1960, que a taxa de imigração cresceu consideravelmente
e se manteve elevada até 2010, revelando, num primeiro momento, o impacto dos
empreendimentos do governo federal e, posteriormente, as consequências da entrada do
capital turístico imobiliário, desenvolvendo o setor de serviços, permitindo a diversificação da
economia local. Portanto, a cada década, por motivos variados, os imigrantes são responsáveis
por grande parcela do aumento populacional do município.

Tabela 3 - Taxa de crescimento anual por distritos (1950-2010)

Distritos: 1950- 1960- 1970- 1980- 1991- 2000-


1960 1970 1980 1991 2000 2010

Angra dos Reis 6,1% 4,0% 3,7% 1,6% 0,4% 1,7%

Jacuecanga 2,2% 8,3% 3,8% 4,8% 2,7% 3,3%

cunhambebe 0,¨6% 4,4% 5,1% 7,9% 6,9% 4,8%

Mambucaba -1,7% 4,3% 14,6% 7,5% 7,0% 4,6%

Ilha Grande 2,0% -1,0% -0,5% -4,2% 0,3% 0,8%

Fonte: IBGE, censos demográficos, apud CHETRY (2019).


41

A tabela apresentada acima traz dados interessantíssimos para o entendimento do


desenvolvimento urbano de Angra dos Reis, cabendo uma análise de cada distrito
representado. Somado a isso, cabe um adendo referente essa divisão dos distritos, na qual por
carência das fontes definiu-se o distrito Ilha Grande como representante de todos os dados
referentes a população da ilha, englobando o Abraão, a Praia de Araçatiba e as demais
ocupações.
Posto isso, nota-se que durante a década de 1950 o crescimento populacional é mais
intenso no distrito sede, devido a reativação do porto e a chegada de imigrantes destinados à
construção civil. Pois, ao final da década inicia-se as obras para a instalação do estaleiro, o que
justifica o crescimento de 2,2% no distrito de Jacuecanga.
Na década seguinte, o destaque agora é para Jacuecanga com o expressivo
crescimento de 8,3% ao ano, justificado pelo mesmo motivo anterior. Já o distrito sede,
demonstra uma queda, mas segue elevado. Pois, por abarcar uma infraestrutura melhor atrai o
interesse por melhores condições. Entretanto, com o pouco espaço disponível e um
crescimento acelerado no distrito central, aqueles que não preferiram instalar-se no alto das
vertentes foram para áreas mais periféricas, explicando o crescimento em Cunhambebe. Já em
Mambucaba é devido ao início das obras para a instalação da central nuclear, o que reflete
mais na década seguinte, alcançando 14,6% ao ano.
Já na década de 1970, o crescimento na sede decaiu devido à falta de terra disponível,
o que se perpetua nas décadas seguintes. O distrito de Jacuecanga sente os efeitos do término
da construção do estaleiro, diminuindo a oferta de empregos e o seu crescimento. Já em
Cunhambebe o crescimento se dá pela falta de disponibilidade nas áreas do centro histórico e
pela abertura da rodovia Rio/Santos, facilitando o acesso ao distrito que se desenvolve em seu
entorno.
A década de 1980 é muito importante, pois o crescimento de quase 7% no distrito de
Cunhambebe ocorre em decorrência da ação do capital turístico imobiliário nas redondezas da
rodovia. Em Mambucaba, mesmo decaindo, o crescimento se mantém elevado devido ao início
das obras para a construção das usinas nucleares Angra 2 e 3.
Outro ponto de extrema importância a ser analisado é a regressão demográfica do
distrito da Ilha Grande, evidenciado desde a década de 1960 e intensificado em 1980. Esse
fenômeno ocorre devido a entrada da atividade industrial no município, oferecendo
remunerações melhores do que a indústria da pesca fornecia. Com isso, diversos caiçaras, a
maioria jovens, partem ao continente para suprir a essa demanda, revelando uma alternância
desses sujeitos, abandonando a pesca tradicional para se dedicarem à atividade industrial.
42

Na década de 1990 não há tanta divergência da década anterior. Mantém-se o


crescimento pela ação do capital turístico imobiliário e a retomada das obras de Angra 2
impulsionou um crescimento local.
Já na década de 2000, houve um aumento na taxa do distrito sede e em Jacuecanga .
Fato este, acarretado pelo dinamismo econômico desenvolvido no município e o
desenvolvimento no setor de comércio. E na Jacuecanga, pela compra do estaleiro pelo grupo
BrasFels, retomando as atividades e oferecendo novos empregos. Já nos distritos atravessados
pela BR-101, como Cunhambebe e Mambucaba, o crescimento tem uma leve queda devido a
maior burocracia para a construção de empreendimentos voltados ao turismo.
Portanto, através dos dados aqui apresentados, é notório como o processo de
urbanização de Angra dos Reis foi determinante no seu dinamismo demográfico, permitindo um
crescimento acelerado e, em um intervalo de 71 anos, teve sua população aumentada em 10
vezes. Diferenciando-se totalmente da cidade que era antes da chegada dos empreendimentos
federais.

5.3 - DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DO ESPAÇO URBANO

Nessas cidades espraiadas, características de uma urbanização corporativa, há


interdependência do que podemos chamar de categorias espaciais relevantes desta
época: tamanho urbano, modelo rodoviário, carência de infraestruturas, especulação
fundiária e imobiliária, problemas de transporte, extroversão e periferização da
população, gerando, graças às dimensões da pobreza e seu componente geográfico, um
modelo específico de centro-periferia. Cada qual dessas realidades sustenta e alimenta
as demais, e o crescimento urbano é, também, o crescimento sistêmico dessas
características (SANTOS, 2020, p. 106).

No sentido de introduzir a discussão sobre o desenvolvimento desigual do espaço


urbano angrense, cabe ressaltar o trecho de Milton Santos destacado acima. No qual, esboça
uma visão sobre um processo de urbanização brasileiro, presente em muitas cidades,
alavancado a partir da implementação de grandes empreendimentos, de origem tanto no capital
privado quanto no público. Sendo assim, esse processo prioriza atender aos interesses do
capital e do empresariado através do consumo dos recursos públicos, sobrando ao estado arcar
com as problemáticas urbanas. Além disso, os pontos elencados no trecho acima estão
inseridos no contexto urbano de Angra dos Reis, principalmente, no que tange a sua
característica espraiada, especulação fundiária e imobiliária e a periferização da população.
Como revelado durante o trabalho, os empreendimentos nacionais implantados entre as
décadas de 1960 a 1980, tiveram como maior importância local condicionar a configuração
espacial urbana do município, resultando na formação de centros urbanos ao longo da costa e
43

fragmentados pelas escarpas da Serra do Mar. Essa característica, somada à especulação


fundiária promovida com a abertura da Rio/Santos, resultou num processo de urbanização
calcado na desigualdade social. Portanto, a “nova geografia” do município consta com cerca de
92% de sua população vivendo em áreas urbanas, comprovando como esse período é
responsável por alterar toda a sua dinâmica.
Posto isso, o contexto de desigualdade exposto exprime-se, primeiramente, de três
formas: a primeira com o crescimento não controlado em volta do centro histórico; a segunda
em relação aos impactos dos empreendimentos industriais; e a terceira devido às
consequências da ação do capital turístico-imobiliário, alavancadas pela criação da BR-101.
No que se refere ao crescimento desordenado em volta do centro histórico, ocorreu a
saturação das as áreas planas, obrigando a que os novos residentes se estabelecessem nas
vertentes. Fato esse que configura, hoje, numa das maiores problemáticas urbanas do
município, a de população em áreas de risco. Esse processo inicia-se junto a incipiente
urbanização de Angra dos Reis, pois essa área apresentava uma melhor infraestrutura e estava
próxima ao porto, atraindo assim os imigrantes e a população da Ilha Grande, ambos em busca
de melhores oportunidades de emprego. Posteriormente, com a intensificação do crescimento
demográfico e o desenvolvimento no setor terciário, no caso o crescimento da atividade
comercial nas últimas décadas, possibilitou a formação de mais residências vertentes acima.
Além disso, esse crescimento impulsionou a realização de obras de revitalização urbana,
propondo aterros para o alargamento de vias, construção de praças e a criação do cais Santa
Luzia, destinado à atividade turística (figura 6).
Já a segunda relaciona-se aos impactos dos empreendimentos industriais (estaleiro,
central nuclear e TEBIG). Na qual construíram vilas com infraestrutura para abrigar os
trabalhadores mais qualificados, enquanto permitiram aos demais trabalhadores se
estabelecerem nas planícies aluviais próximas (Jacuecanga, Mambucaba e Monsuaba,
respectivamente) sem nenhum tipo de auxílio a infraestrutura, restando ao poder público
municipal o fornecimento dessa demanda. Segundo Machado (1995), a formação desses
centros segmentados acarreta uma grande dificuldade no momento de promover infraestrutura,
principalmente, relacionados ao abastecimento de água, esgoto e energia elétrica. Dessa
maneira, a população dessas localidades sofrem com essas problemáticas ao longo de
décadas, apresentando, somente a partir da década de 1990, índices aceitáveis do acesso a
esses serviços (IBGE, 1991). Além disso, o impacto social desses empreendimentos está
atrelado também à dependência desses moradores dos empregos ali fornecidos, sendo
responsáveis por dinamizar toda a economia local. Portanto, “se de lado, os grandes projetos
44

podem ser criticados por seu isolamento, de outro, a comunidade trabalhadora se sente ligada
aos destinos do empreendimento” (MACHADO, 1995, p. 23).

Figura 6 - Centro Histórico atualmente

Fonte: PMAR, 2022.

Na terceira maneira, nota-se como a rodovia Rio/Santos tem um papel determinante na


distribuição espacial do município. Inicialmente, pelo fato de ser a principal via de acesso,
praticamente a única, entre os núcleos urbanos segregados pela morfologia local, sendo
indispensável para a dinâmica local. Além disso, devido a ação do capital turístico-imobiliário,
serve como instrumento de segregação social, delimitando áreas valorizadas entre a rodovia e
o mar e aglomerados subnormais entre a rodovia e a vertente. Essa espacialização ocorre em
diversos pontos, como na região do Frade, onde em uma margem há o condomínio Porto Frade
e na outra o bairro de mesmo nome. O mesmo repete-se quando a BR-101 separa o bairro
Gamboa de um lado e condomínios de luxo no outro.
Essa espacialidade se configura devido aos efeitos da instalação desses
empreendimentos voltados à exploração turística, pois a maioria dessas residências são para
uso veraneio, ou seja, uma população que não reside na cidade. Nesse contexto, a população
45

residente dos bairros em torno estabelecem-se nas proximidades devido a mão de obra
fornecida para atender os serviços estimulados pelo turismo, sendo trabalhos de baixa
remuneração. Portanto, destaca Machado (2005, p. 23):

Por outro lado, a atividade turística constitui um importante mercado de trabalho, com
reflexos na trama urbana: o trabalho feminino de tipo doméstico, os caseiros, jardineiros,
etc., geram pequenos bairros para a fixação da população trabalhadora, seja no fundo
dos loteamentos de turismo de alta renda, seja em áreas menos valorizadas, algumas
em terrenos impróprios para a construção.

Portanto, esses são os principais fatores que possibilitaram a formação desigual do


espaço do município. Sendo assim, para demonstrar a intensidade desse processo, foi
elaborada a tabela 4, com dados do último censo realizado, identificando a população vivendo
em aglomerados subnormais e sua distribuição pelos distritos. Novamente, considerando o
distrito de Ilha Grande como representante de todas comunidades locais insulares.

Tabela 4 - População em Aglomerados subnormais por distrito em 2010.

Distritos: Aglomerados subnormais População em favelas Pop. fav/ Pop. total

Angra dos Reis 5 6255 16%

Jacuecanga 12 12460 44%

Cunhambebe 16 33472 45%

Mambucaba 4 7822 35%

Ilha grande 0 0 0%

Total: 37 60009 35,4%

Fonte: IBGE, 2010.

A partir da análise dos dados descritos, pode-se concluir algumas considerações sobre
Angra dos Reis. Primeiramente, a expressiva quantidade de pessoas vivendo nessas
condições, cerca de um terço da população total. Além disso, é perceptível a diferença do
percentual entre os outros distritos continentais da sede, no qual é muito maior nas áreas
periféricas. Essa distribuição nos distritos de Jacuecanga e Mambucaba está relacionada
diretamente por abrigar a maioria dos trabalhadores industriais do município, ligados à
produção do estaleiro e da central nuclear, respectivamente. Já o distrito de Cunhambebe,
responsável por abrigar metade da população em favelas no município, está diretamente
46

relacionado às consequências impostas pelo capital turístico-imobiliário descrito acima e por


abarcar a maior extensão territorial. Já o distrito da Ilha Grande não apresenta formação de
favelas até 2010, devido a maior restrição na apropriação das suas terras, buscando manter a
conservação ambiental e o patrimônio natural preservado.
47

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história de Angra dos Reis está diretamente relacionada com as atividades


econômicas realizadas fora do município e como as suas medidas internas buscam atender
essas demandas. Dessa maneira, o desenvolvimento incipiente durante o período colonial,
participando dos ciclos do ouro e do café com propósitos distintos, pois, primeiramente servira
como uma rota de contrabando e pirataria, para posteriormente, ganhar importância portuária
na exportação do café do Vale do Paraíba. Além disso, notou-se como a crise cafeeira
acarretou uma das maiores recessões econômicas de sua história, tendo sua economia
reativada apenas com os projetos de incentivo a industrialização brasileira.
Angra dos Reis vivenciou, com a instalação dos grandes empreendimentos nacionais, o
seu processo de urbanização, responsável por marcar uma bifurcação na sua história. No início,
a partir da atividade industrial e posteriormente pela ação do capital turístico-imobiliário,
desenvolvendo o setor de serviços e comércio local. “Nessa perspectiva, entender a
urbanização a partir do desenvolvimento industrial, é procurar entender o próprio
desenvolvimento do capitalismo” (SPOSITO, 2021, p.43). Somado a isso, é notório a
identificação de estruturas construídas antes da urbanização condicionando o espaço urbano
atual, como a importância do centro histórico e as aglomerações habitacionais em volta de
antigas ocupações, como na vila histórica de Mambucaba.
Além disso, identifica-se como o desenvolvimento do espaço urbano por meio dos
interesses da reprodução do capital permite a segregação social de forma tão expressiva no
município. Nesse contexto, é inerente a retomada de uma gestão do território mais democrática,
semelhante aos parâmetros definidos no Plano Diretor, buscando meios para orientar o capital
turístico-imobiliário e ao mesmo tempo atender as demandas da população e manter a
conservação do patrimônio natural. Pois, a utilização do espaço promovendo apenas o
consumo do lazer e da exploração turística, resultará na degradação do próprio produto,
resultando numa situação paradoxal. Portanto, as políticas de planejamento urbano precisam
ser menos técnicas e mais políticas para que, de fato, melhorem as condições urbanas.
Sendo assim, o município de Angra dos Reis tem condições de possibilitar uma melhor
condição urbana para a sua população, mas necessita alterar o caráter empresarial da atual
gestão. Um dos exemplos mais recentes, que comprovam esses interesses, é a articulação do
governo federal e municipal na elaboração do projeto de transformar o município na “Cancún
brasileira”, fragilizando as legislações ambientais vigentes para atender aos anseios do capital
turístico-imobiliário. Além disso, necessita-se a maior atenção acerca do estudo das
48

problemáticas que permeiam o município, buscando identificá-las e propor medidas ativas para
suas soluções. Portanto, a importância deste trabalho se dá no intuito de identificar os
processos históricos que condicionaram a formação do espaço urbano angrense e expor
algumas problemáticas acarretadas pela forma de urbanização adotada, na qual sempre esteve
voltada a atender aos interesses externos ao município.
49

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, C. V. Urbanização, apropriação do espaço, conflitos e turismo: um estudo de


caso de Angra dos Reis. Dissertação de Mestrado em arquitetura e urbanismo. Universidade
Federal Fluminense, 2005.

ALMEIDA, D. R. Crescimento populacional, desastres e relações de moradores de áreas


de risco: uma breve análise histórica de Angra dos Reis. Trabalho de conclusão de curso
em ciências públicas. Universidade Federal Fluminense, 2019.

BOTELHO, A. L. M. Angra dos Reis - análise das questões ambientais. Dissertação


(Especialização) em organização espacial do Rio de Janeiro. Universidade Federal Fluminense,
2001.

CARVALHO, A. V. Escolhas políticas: memorial regional e patrimônios no caso Angra dos Reis,
RJ. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA - ANPUH, 26., 2011, São Paulo. Anais [...] São
Paulo: ANPUH, 2011. Disponível em:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1299076009_ARQUIVO_CarvalhoAlineAnpu
h.pdf. Acesso em: 30/06/2022.

CHETRY, M. Crescimento e dinâmica demográfica uma cidade média: o caso de Angra dos
Reis. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE GEOGRAFIA URBANA, 16., 2019, Vitória. Anais [...]
Vitória: UFES, v. 1, p. 3940-3957, 2019. Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/simpurb2019/article/view/25958. Acesso em: 07/02/2022.

CORRÊA, R. L.. O Espaço Urbano. 4ª Ed. São Paulo: Editora Ática. S.A, 2004.

GOIS, M. P. F. O espaço do público nos instrumentos da política urbana do município de Angra


dos Reis, Rio de Janeiro, Brasil (1988-2016). Revista Caminhos de Geografia. [S. l.], v. 19, n.
66, p. 189-202, 2018. DOI: 10.14393/RCG196613. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/view/39132. Acesso em: 18 fev. 2022 .

GRAZIA, G. Reforma urbana e Estatuto da Cidade. In: RIBEIRO, L. C. Q.; CARDOSO, A. L.


(org.). Reforma urbana e gestão democrática: promessas e desafios do Estatuto da
Cidade. 2. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003. p. 53-70.

IBGE. Censo Demográfico: 1950. Rio de Janeiro: IBGE, 1950.

IBGE. Censo Demográfico: 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1960.

IBGE. Censo Demográfico: 1970. Rio de Janeiro: IBGE, 1970.


50

IBGE. Censo Demográfico 1980. Microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 1980.

IBGE. Censo Demográfico 1991. Microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 1991.

IBGE. Censo Demográfico 2000. Microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

IBGE. Censo Demográfico 2010. Microdados da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

IBGE cidade. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/rj/angra-dos-reis/panorama>.


Acesso em: 08/06/2022.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (ICMbio) (org.).


CLIMA. Disponível em: <https://www.icmbio.gov.br/parnaserradabocaina/destaques/atributos-
naturais/clima.html>. Acesso em: 08/06/2022.

LEFEBVRE, H. O Direito à Cidade. 1. ed. São Paulo: Centauro, 2001.

MACHADO, L. O. Angra dos Reis: porque olhar para o passado? In: Diagnóstico Sócio-
Ambiental de Angra dos Reis, Projeto Mata Atlântica, Rio de Janeiro: Convênio Furnas-UFRJ,
1995. p. 1-31.

MELO, M. P. Da auto-segregação à segregação induzida: problemas urbanos em Angra dos


Reis, RJ. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE POPULAÇÃO, 5.,
2012, Montevideo. Anais [...] Montevideo: Alap, 2012. Disponível em:
https://web.archive.org/web/20180427061738id_/http://www.alapop.org/Congreso2012/DOCSFI
NAIS_PDF/ALAP_2012_FINAL490.pdf. Acesso em: 11/02/2022.

ROSS, J. L. Relevo brasileiro: uma nova proposta de classificação. Revista do Departamento


de Geografia. São Paulo, FFLCH/USP, n. 4, 1985. p. 25-39.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4. ed., 2002. 7.


reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2017.

__________. A urbanização brasileira. 5. ed., 2005. 5. reimpr. São Paulo: Editora da


Universidade de São Paulo, 2020.

__________. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico


informacional. 5. ed., 2008. 1. reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2013.

SIQUEIRA, P. Os caiçaras e a Rio/Santos. São Paulo em Perspectiva, v. 3, n. 4, p. 62-64,


out/dez. 1989. Disponível em:
http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v03n04/v03n04_12.pdf. Acesso em: 30/06/2022.
51

SOUZA, M. L. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão


urbanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Bertrand, 2010.

SPOSITO, M. E. B. Capitalismo e Urbanização. 16. ed. 5º reimpressão. São Paulo: Contexto,


2021.

ZILIOTTO, L. S. Plano de Metas no governo Juscelino Kubitschek (1956/61): uma análise


sobre o desenvolvimento econômico através do IDH. Orientadora: Françoise Latski de Lima.
2005. 65 p. TCC (graduação) - Curso de Ciências Econômicas, Setor de Ciências Sociais
Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.

Você também pode gostar