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Natal
2018
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Natal
2018
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FICHA CATALOGRÁFICA
Aos Geógrafos,
que pensam o espaço do homem
com a mente e com o coração.
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AGRADECIMENTOS
O caminho percorrido até aqui, finalizado com certo nível de amadurecimento pessoal
e acadêmico, me trouxe transformações enquanto ser pensante e político. Buscando melhorar
o “eu” professor e cientista, com certa dose de ativismo, encontrei dificuldades e estímulos ao
longo desses dois anos na pós-graduação. Algo que naturalmente o universo acadêmico
proporciona dentro e fora das paredes da universidade. Esse caminho foi facilitado por
pessoas que de bom grado contribuíram direta ou indiretamente com a pesquisa, com o apoio
pessoal e com minha vida profissional como um todo. A lista é relativamente grande e, desde
já, peço perdão aos que aqui não foram citados, mas sabem que de alguma forma me
ajudaram no processo.
Andreia Braz, mãe, amiga, irmã e conselheira, que me acolheu em Natal, depositando
todos os níveis de confiança possíveis para um então “estranho” que por aí chegava em 2016.
Além de cama, casa e comida, tive a honra de aprender lições de humanidade com cada
atitude sua durante dois anos; muitas vezes criticadas pelos mais próximos, mas sempre
guiada pela vontade de ajudar, sem escolher padrões ou proximidade. Tenho certeza que
muitos como eu, seu Francisco, Lindalva e outros vão lembrar para sempre cada gesto seu. Se
eu pudesse escolher a pessoa mais importante nesses dois anos, essa pessoa seria você, sem
dúvida.
Mariana Melo, como sempre ao meu lado em todas as etapas desde a graduação, sendo
não só a namorada invejável por muitos, mas a amiga e companheira de todas as horas,
dividindo as alegrias de cada conquista e as crises e choros dos momentos mais bizarros que
passei ultimamente, coisas que apenas eu e você sabemos. Encontrei conforto e paz ao teu
lado, por isso agradeço o acolhimento e a ajuda em todas as fases desde que te conheci.
André Pessoa, coordenador do projeto Barco Escola, que me acolheu como professor,
pesquisador e, acima de tudo, amigo. Explorou todas as potencialidades possíveis, me dando
oportunidades únicas e possibilitando experiências profissionais desejáveis por muitos.
Agradeço por todos os caminhos percorridos no projeto e pelo amadurecimento que isso me
trouxe.
À equipe do Barco Escola Chama Maré, aos monitores, também colegas de curso, e,
especialmente aos professores de História e Biologia Lorena e Thiago, que deram confiança a
esse geógrafo invasor paraibano e oportunidade de pensar e estudar Natal em todas as
atividades desenvolvidas.
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Eugênia Dantas, professora e orientadora rigorosa e cética, por quem tive o prazer de
ser guiado na academia. Admirada por muitos colegas de curso, parece conseguir desatar os
nós que endurecem qualquer pesquisa, ao mesmo tempo que faz da escrita acadêmica poemas
que são lidos sem nenhum esforço.
Aos colegas de turma (2016.1), especialmente o piauiense Ricardo e o potiguar Hugo.
Crises, perspectivas, otimismo e fofocas não faltaram nas conversas a caminho do RU ou no
Circular. Espero que o futuro de vocês seja como sonham; espero encontrar vocês pelas
estradas da academia ou no São João de Campina Grande no mês de junho.
Aos amigos de longa data Rodrigo, Jonathan e Ramon. História, geografia e economia
se misturam a boas doses de humor e sarcasmo nas tradicionais Ramonzadas, regadas a
comida, bebidas e conversas sobre política, cosmos e futuro pessoal. Sou uma pessoa melhor
devido a vocês. Obrigado!
Aos eternos amigos da graduação Danilo, Dênis, Aliery, Silvano, Renalle e Letícia
(falsa). Nossas vidas profissionais e pessoais já se cruzam como a intimidade e confiança
existente entre nós. Nesses últimos dois anos de pós-graduação, devo agradecer especialmente
à Aliery, que fez a ponte com a família de Pedro e, consequentemente, com Andreia, na
minha acolhida em Natal.
Pedro Vitor e dona Tereza, sua mãe, que nos acolheram na seleção do mestrado e
sempre estiveram dispostos a ajudar mesmo distantes e em lares diferentes. Obrigado por
tudo.
Ângela Patrícia, amiga paulista que mesmo distante fez questão de corrigir o trabalho,
depositando toda sua delicadeza e profissionalismo que enriqueceram a dissertação. Outra
figura cheia de humanidade e carinho que vou guardar no meu coração para sempre.
A todos esses meu muito obrigado, espero ter vocês ao meu lado sempre e me coloco à
disposição para um dia retribuir de alguma forma o que me foi dado nesse importante
momento.
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RESUMO
A moradia na cidade manifesta-se como uma temática para os estudos geográficos, dentre
outros motivos, por marcar a paisagem de diferentes formas. Nesse contexto, os condomínios
horizontais fechados aparecem como formas “exclusivas” de morar, ampliando as
possibilidades para a acumulação de capital, no processo de produção do espaço urbano. Em
Campina Grande-PB, esse tipo de moradia configurou-se a partir dos anos 2000 como uma
das estratégias utilizadas pelo mercado imobiliário para uso do solo urbano voltado para a
obtenção de lucro e sobrelucros. Este estudo tem por objetivo analisar a configuração da
produção/organização do solo urbano de Campina Grande, considerando a ação do mercado
imobiliário na estruturação dos condomínios horizontais fechados. A base teórica está
assentada nas contribuições de David Harvey (1980, 2005, 2011, 2013), quando discute o
processo de produção do espaço urbano a partir da lógica de acumulação do capital e da renda
da terra, e nas análises de Ribeiro (2015), que coloca a moradia como mercadoria situada na
dinâmica que envolve uso e troca, mercado e consumo. Essas contribuições estão amparadas
pelas análises de base dialética, sendo a principal forma de abordagem a pesquisa qualitativa,
que se deu a partir de procedimentos metodológicos como: análise do Plano Diretor
Municipal de Campina Grande e de documentos encontrados no site da Secretaria de
Planejamento da cidade, observações de campo, análise de anúncios publicitários dos
condomínios e dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
também alguns dados encontrados em trabalhos acadêmicos já desenvolvidos. Dessa forma,
esses procedimentos nos permitem aprofundar o entendimento de como os condomínios
horizontais fechados se inserem na lógica do mercado imobiliário na cidade, utilizando
estrategicamente as vantagens de localização e monopólio para ampliar as possibilidades de
negócio da moradia e de uso do solo urbano no contexto social e espacial de Campina Grande.
ABSTRACT
The dwelling in the city manifests itself as a theme for geographic studies, among other
reasons, for marking the landscape in different ways. In this context, the closed horizontal
condominiums appear as a “new” way of living, expanding the possibilities for the
accumulation of capital in the process of production of the urban space. In Campina Grande-
PB, this type of housing was configured from the 2000s as one of the strategies used by the
real estate market to use urban land for profit and surpluses. This study aims to analyze the
configuration of the urban land production/organization of Campina Grande considering the
real estate market action in the structuring of the closed horizontal condominiums. The
theoretical basis is based on the contributions of David Harvey (1980, 2005, 2011, 2013)
when he discusses the process of production of urban space from the logic of accumulation of
capital and income of the land and the analyzes of Ribeiro (2015) that places the dwelling as a
commodity situated in the dynamics that involves use and exchange, market and
consumption. These contributions are supported by dialectical analyzes and the main
approach to qualitative research is the methodological procedures such as: analysis of the
Municipal Master Plan of Campina Grande and documents found on the website of the City
Planning Department, observations field analysis, commercial advertisements analysis of
condominiums and data provided by Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
also some data found in academic papers already developed. Thus, these procedures allow us
to deepen the understanding of how closed horizontal condominiums fit into the logic of the
real estate market in the city, strategically using the advantages of location and monopoly to
expand the business possibilities of housing and urban land use in the context social and
spatial development of Campina Grande.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Avenida Floriano Peixoto, década de 1940 (Destaque para o Grande Hotel ao fundo)
.................................................................................................................................................. 38
Figura 6: Anúncio do condomínio vertical Privilége Residence, no bairro do Mirante ..... Erro!
Indicador não definido.
Figura 7: Anúncio do condomínio vertical Palazzo Roberto Pinto, no bairro do Alto Branco.
................................................................................................... Erro! Indicador não definido.
Figura 12: Anúncio do condomínio Serra Ville. ....................... Erro! Indicador não definido.
Figura 13: Anúncio do condomínio Atmosphera Eco. .............. Erro! Indicador não definido.
LISTA DE MAPAS
Mapa 1: Ferrovias no Nordeste com destaque para Campina Grande-PB (2017).............. Erro!
Indicador não definido.
Mapa 4: Renda per capita por bairro – Campina Grande-PB (2010). ...................................... 50
Mapa 5: Remuneração média mensal por bairro – Campina Grande-PB (2010). .................... 52
Mapa 6: Bairros com preços do m² mais elevados em 2010 (Mais de 200 R$ até 320 R$ o m²).
.................................................................................................................................................. 54
Mapa 7: Bairros mais verticalizados em 2017 (mais de 10 edifícios com cinco ou mais
pavimentos). ............................................................................................................................. 57
Mapa 8: Bairros com maior densidade demográfica em Campina Grande – 2010. ................. 59
Mapa 9: Campina Grande: bairros rentáveis e eixos de valorização na cidade (2010). ........... 61
Mapa 11: Grandes obras viárias e setores de valorização em Campina Grande-PB (2017). .. 93
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LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 3: Preço médio do m² dos terrenos por bairro na cidade em 2010. ............................. 55
LISTA DE QUADROS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14
1.1. A terra como mercadoria: reflexões sobre o uso do solo urbano. ........................... 19
CONCLUSÃO....................................................................................................................... 105
INTRODUÇÃO
A cidade é uma das formas em que a marca do homem se faz presente. Mais do que
um conjunto de obras que configuram uma paisagem, a cidade reflete, em grande medida, o
processo de urbanização, estando sujeita a transformações, ordenamentos e reordenamentos
em sua organização interna. Analisar a cidade é um desafio, pois implica compreender um
conjunto de problemas que a cada dia se avoluma, revelando para o geógrafo possibilidades
de encontrar em velhas temáticas novos objetos.
Assim, adentrar o tecido citadino é perceber em suas formas vestígios de um passado
que tende a resistir à presença de erupções que provocam outras perspectivas para o olhar
geográfico. Nesse caminho de persistências e mudanças, a moradia vai se delineando como
um tema/problema em um amálgama de múltiplas edificações, espelhando práticas espaciais e
interesses sociais diversos.
A moradia pode ser vista como a parte da cidade que ocupa as maiores frações de uso
do solo urbano, ela é um elemento essencial à vida humana. Pensar a moradia hoje nos faz
considerar as inúmeras transformações sociais, econômicas e espaciais que marcam o tecido
urbano. Sendo assim, notamos que o significado da moradia mudou não somente para o
morador (enquanto indivíduo que obtém um lar), mas também para os agentes da produção
urbana, que passaram a tratá-la como mercadoria dentro do processo produtivo.
As mudanças relativas ao significado da moradia vão se comportar como reflexo e
condição daquilo que acontece no cenário urbano como um todo, seja nos comportamentos
sociais multifacetados, seja no próprio uso do solo urbano através do ambiente construído. A
investigação sobre a questão da moradia como mercadoria coloca em pauta agentes que
associam o ato de morar (como necessidade básica individual), a uma série de estratégias
mercadológicas do setor imobiliário para viabilizar a acumulação de capital.
Nesse contexto, as formas de morar na cidade contemporânea são diversas e vão sendo
construídas, em certa medida, para atender a lógica desse mercado. Casas de alvenaria,
apartamentos em grandes torres, habitações em condomínios horizontais fechados são
exemplos da dinâmica imobiliária que se contrapõe a outros tipos de moradia como casas de
papelão, de madeira, que surgem sem aparatos mercadológicos diretos.
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Esses tipos de moradia servem para abrigar diferentes indivíduos, de distintas classes
sociais, sendo a cidade um cenário composto de vilas, condomínios fechados, sejam
horizontais ou verticais, favelas, cortiços, casas isoladas e conjugadas. Observar e
compreender esses diferentes modelos é situar no tecido citadino os agentes, as formas e as
condições socioespaciais que se configuram tramando o uso e ocupação do solo urbano e, por
conseguinte, a atuação do mercado de terras na confecção do espaço urbano.
Em Campina Grande, cidade do interior da Paraíba com 407.754 habitantes (IBGE,
2016), essas formas de moradia estão presentes como marcas do passado ou emergências de
uma estratégia de produção do espaço mais recente. Nesse sentido, no começo do milênio,
surgem os condomínios horizontais fechados como alternativas “exclusivas” de moradia para
aqueles segmentos sociais com condições econômicas de adquirir um modelo habitacional de
alto-valor. Esses condomínios se efetivam dentro de um cenário de crescimento imobiliário na
cidade, onde não só a mancha urbana se espraia, mas ocorre um significativo e visível
processo de verticalização (COSTA, 2013).
A partir dos anos 2000, verificamos em Campina Grande o surgimento dos
condomínios horizontais fechados como resultado de uma lógica de mercado que tem
incorporado agora a proposição de um “modelo de moradias exclusivas”, que oferecem
vantagens como o contato com a natureza, a segurança, a tranquilidade, o conforto, induzindo
a criação de um “modo de vida único”. Os condomínios horizontais fechados situados às
margens da mancha urbana e fora do setor mais valorizado, parecem corresponder a essa
lógica, ocupando na paisagem campinense um lugar de destaque.
Observamos que a escolha da moradia é condicionada por diferentes fatores, mesmo
que aquele ligado ao poder aquisitivo se sobreponha. No entanto, não podemos deixar de
considerar que o mercado imobiliário tem criado cada vez mais artifícios para justificar
valores de uso ligados a essas moradias e assim expande suas condições de acumulação de
capital.
Considerando o exposto, a questão geral que norteia a pesquisa é: como se dá a
configuração da produção/organização do solo urbano de Campina Grande, considerando a
ação do mercado imobiliário na estruturação dos condomínios horizontais fechados? A essa
questão se associam outras, tais como: como se dá o processo de produção do espaço urbano a
partir da lógica de acumulação do capital e da renda da terra? Quais as estratégias utilizadas
pelos agentes imobiliários para incorporar a moradia como mercadoria? Como os
condomínios horizontais fechados se apresentam na trama do uso do solo na cidade se
configurando como modelos de moradia de alto valor fora dos tradicionais eixos valorizados?
16
Grande, visando dá suporte a reflexão sobre aspectos que regulam o uso e ocupação do solo e
como o problema foi analisado.
Para entendermos a dinâmica da rentabilidade do mercado imobiliário considerando o
uso do solo, trabalhamos com cinco variáveis: 1- concentração de serviços de alto valor; 2 –
renda per capita por bairro; 3 – remuneração média salarial dos moradores; 4- preço do metro
quadrado e 5 – Verticalização (bairros mais verticalizados). Para trabalhar com as variáveis
realizamos levantamentos in loco nas diferentes áreas da cidade para identificar serviços que
compreendem escolas privadas, universidades, hipermercados, serviços de saúde, academias,
casas de shows, hotéis, shoppings etc.; para obter os dados, por bairro, sobre renda per capita
dos moradores, remuneração média salarial, fizemos levantamentos no site Observa Campina
da Secretaria de Planejamento de Campina (SEPLAN), que disponibiliza dados dos bairros de
Campina Grande incluindo o perfil socioeconômico dos moradores; no que diz respeito ao
preço da terra por metro quadrado, consideramos os dados levantados por COSTA (2013); e
sobre a verticalização fizemos coleta no campo, sendo que para isso consideramos o número
total de edificações com cinco ou mais pavimentos por bairro. A partir dessas visitas de
campo podemos ainda identificar e analisar as obras de infraestrutura que interferem na
dinâmica de valorização de determinadas áreas da cidade, a partir da ação dos incorporadores
no mercado imobiliário de Campina.
Essas variáveis foram tratadas e permitiram a elaboração de mapas que favoreceram
identificar como se dá a distribuição das atividades e serviços de alto valor, a renda per capita
por bairro, remuneração média, o preço do m² mais elevado, os bairros mais verticalizados, as
menores densidades demográficas. Esse mapeamento foi importante para situarmos os bairros
rentáveis e os eixos de valorização, o que nos colocou diante dos condomínios horizontais
fechados fora desses eixos.
Também nas visitas in loco registramos por meio de fotografias aspectos da paisagem
natural onde estão inseridos os condomínios. Essas imagens serviram de subsídios a análise
das características físicas que vão ser destacadas nos anúncios dos empreendimentos
horizontais de acordo com sua localização; fizemos a descrição das características internas e
externas de cada condomínio; colhemos e analisamos os anúncios publicitários de todos os
empreendimentos para juntamente com outras fontes secundárias subsidiar a análise do perfil
de cada condomínio destacando suas especificidades quando são negociados no mercado da
cidade; por fim coletamos dados referentes ao preço do metro quadrado dentro de cada
empreendimento, considerando o tamanho médio dos lotes que são vendidos e o preço médio
dos lotes, para só assim relacionarmos com o preço do solo de cada bairro/zona da cidade
18
onde estão localizados os empreendimentos. Desse modo consideramos três variáveis que
aparecem para justificar a valorização dos condomínios horizontais: 1- elementos naturais; 2 –
elementos estruturais e 3- acessibilidade.
Nesse contexto, organizamos o trabalho em três capítulos. O primeiro diz respeito à
análise sobre mecanismos socioespaciais e econômicos que dão forma ao ambiente construído
e à produção do espaço sobre a lógica de acumulação, considerando os processos econômicos
no uso do solo urbano e as estratégias de incorporação da moradia como negócio. O capítulo
tem como proposta um resgate teórico geral sobre o tema/problema da pesquisa, alicerçado
nas contribuições de alguns autores já mencionados aqui.
No segundo capítulo, refletimos sobre o contexto do mercado imobiliário e a cidade de
Campina Grande, a condução de práticas nos diferentes usos do solo e a formação das
diferenças de preço do solo na cidade. Analisamos a localização e concentração de serviços
em determinados bairros, com o intuito de observar como isso pode interferir na elevação dos
preços nos arredores dos principais equipamentos e como o mercado local interage com as
ações do Estado através de políticas de uso e ocupação do solo urbano, considerando
documentos legais como o Plano Diretor Municipal e as obras públicas de infraestrutura em
alguns setores.
No terceiro e último capítulo, discutimos sobre os condomínios horizontais fechados
no contexto citadino de Campina Grande, considerando os arranjos geográficos preexistentes
a instalação de cada condomínio, a configuração econômica inerente a cada recorte da cidade
onde existem condomínios e sua relação com os diferentes usos de solo e com os setores mais
rentáveis do núcleo urbano.
19
a utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. Mas essa utilidade não
flutua no ar. Condicionada pelas propriedades do corpo da mercadoria ela
não existe sem esse corpo. Por isso, o próprio corpo da mercadoria, como
ferro, trigo, diamante etc., é um valor de uso ou um bem.
O valor de troca está caracterizado por uma definição social que se altera no tempo e
no espaço e que está para além do objeto material em si. Ele surge obrigatoriamente em
relação a outros tipos de mercadorias, especificamente na relação com a quantidade de outras
mercadorias, incluindo aí o dinheiro. “O valor de troca aparece inicialmente como a relação
quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de
outro tipo, uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço” (MARX, 2013, p.
113).
Levando em consideração essa primeira abordagem sobre os valores das mercadorias,
notaremos que dentro dessa perspectiva, ocorre uma abstração dos valores de uso, uma vez
21
que o objeto concreto (a expressão física ou química da mercadoria) fica abstraído em relação
a sua funcionalidade ou utilidade real.
No caso do valor de troca, a característica do trabalho empregado também muda em
relação ao valor de uso. O trabalho (trabalho útil) que fora empregado no ato de produzir a
mercadoria e seu devido valor de uso, também se torna abstrato no ato da troca. Temos nesse
caso o surgimento do conceito do trabalho abstrato, diretamente ligado ao valor de troca das
mercadorias. Sobre isso, Marx (2013, p. 115) mais uma vez esclarece:
As relações de troca, o sentido dos valores de troca, estão expressas através da forma
mercadoria dinheiro, que hoje mais do que nunca, se estabelece dentro do sistema de preço
das mercadorias e aparece como um equivalente universal que norteia os diversos atos de
trocas por todas as partes. Em outras palavras, o dinheiro é uma mercadoria essencial para as
trocas se realizarem de forma rápida e eficiente. Harvey (2013, p. 41) mostra que:
O valor pode ser encarado como uma manifestação de medida para definir preços das
mercadorias dentro do processo produtivo, mas manifesta-se muito além do que simples
questões de medidas. O valor é acima de tudo uma condição social importante que está
imbricado dentro do meio de produção, especialmente de trabalho humano socialmente
necessário para seu surgimento (HARVEY, 2013, p. 45). Essa condição do valor faz dele um
conceito caro não só as análises econômicas, mas em todo plano das ciências sociais.
A teoria do valor deixa claro o caminho a ser percorrido em busca dos processos e
elementos que compõem o meio de produção capitalista, aparecendo como sistema que
norteia o processo produtivo, mas que compõe um quadro que integra também as relações
sociais, os mecanismos que se estabelecem em diversas escalas e suas manifestações espaciais
através do ambiente construído na forma de moradias nas cidades.
A renda da terra aparece nesse sentido para justificar os mecanismos econômicos que
dão base à produção do ambiente construído e da cidade como um produto trocado como
mercadoria. Podemos conceber a renda da terra como sendo a quantidade monetária que é
paga para o proprietário de parcela da terra, podendo ser essa urbana ou rural, pois devemos
considerar que a terra é um bem e vai se comportar nesse caso como mercadoria, uma vez que
ela está contida de valor. Esse pagamento se fará pelo ato de usar a terra de outrem, seja para
uso conforme necessidade ou desejo, seja para incorporá-la a algum processo produtivo que
venha a ser implantado por quem paga o arrendamento. Em outras palavras:
ela tem também um valor? Se tem, como a existência desse valor pode ser
conciliado com as teorias do valor que se baseiam no tempo de trabalho
incorporado (como a de Ricardo) ou, no caso de Marx, no tempo de trabalho
socialmente necessário? (HARVEY, 2013, p. 333).
o valor de uso vai se dá pela necessidade da terra para produzir algo, nesse caso temos as
moradias como exemplo de produto final. “Não posso existir sem ocupar espaço; não posso
trabalhar sem ocupar um lugar e fazer uso de objetos materiais aí localizados; e não posso
viver sem moradia de alguma espécie” (HARVEY, 1980, p. 135). Dessa forma, percebemos
que o próprio espaço é produzido em virtude de processos de acumulação, onde incorporar e
valorizar novos recortes espaciais torna-se uma atividade comum, sendo na cidade a expansão
da franja urbana um caso típico.
Se ocupar espaço é produzir um uso e se este uso conduz a reforma das condições pré-
existentes, a localização da terra urbana é um dado variável que incorpora valores, sejam
esses de natureza material ou imaterial, mas que, em todo caso, altera as condições valorativas
do espaço. A terra ganha significado especial frente a outras mercadorias na medida em que
pode ser renda de monopólio e renda diferencial. Na condição de renda de monopólio, a terra
é uma mercadoria especial na medida em que pode obter renda a partir de sua localização.
Nesse contexto, o detentor de terras torna-se um agente importante dentro do processo
produtivo na/da cidade enquanto ambiente construído, uma vez que as ações dos outros
agentes (incorporadores, construtores, moradores etc.) vão depender das ações dos detentores
de terra que podem ou não as inserir no processo de produção da cidade.
Nesse caso, já temos uma consideração plausível sobre a renda da terra e sua condição
de monopólio, ligada, nesse caso, ao valor de uso. No entanto, não podemos desprezar a outra
dimensão que esta relacionada e contida na renda da terra: a renda diferencial. No caso da
renda diferencial, o solo também assume uma condição especial ligado à composição dos
elementos espaciais do entorno de determinado recorte da terra, que pode ser relativamente
“favorável” à produção de valores ou não. “Relativamente”, pois se considera outros recortes
espaciais no entorno à determinada parcela do solo, principalmente quando consideramos o
ambiente urbano em constante movimento e processo de produção.
A renda diferencial surge justamente pelo seu caráter diferencial de lucros além do que
é “planejado” e que é obtido ao final do processo produtivo em relação a outras mercadorias,
não podendo entrar no custo da produção ou no preço final dos produtos justificado pelo seu
caráter excessivo e diferencial. “Ele surge novamente do excesso de lucros de certos
produtores em virtude de sua situação vantajosa. Esses lucros excessivos são embolsados
pelos proprietários na forma de renda” (HARVEY, 1980, p. 154). No caso do solo urbano,
essa condição diferencial se faz justamente por determinada localização vantajosa de algum
empreendimento (proximidade de vias de acesso, pontos turísticos, amenidades naturais,
prédios públicos de importância etc.).
25
Todo esse processo descrito acima possibilitado pelas dinâmicas de valor de uso, valor
de troca e renda da terra, faz da cidade um fervoroso celeiro de investimentos e olhares
interessados nas melhores condições de localização, cenário que pode ser condicionado
justamente por intervenções públicas com grandes obras. A construção de um viaduto, por
exemplo, nem sempre aparece como um “beneficio” comum a toda sociedade, mas pode
alterar o sistema de preços de determinada região da cidade beneficiando empreendedores do
setor imobiliário.
A renda de monopólio pode explicar fenômenos no qual o detentor da terra (dono)
obtém valores e lucros apenas por deter um recorte da terra, que nesse caso é monopolizável
por ser única. Já no caso da renda diferencial, para ser mensurada ela precisa ser relacionada
com os objetos que compõem o seu entorno, com o espaço que a circunda (em diferentes
escalas). A especificidade espacial é que faz surgir à condição de monopólio da terra e as
características do entorno é que podem levar o aparecimento da renda diferencial por uma
suposta situação vantajosa de localização. Nem todas as moradias podem estar ao lado do
shopping ou de uma grande via de acesso, por exemplo, isso justifica os processos de escolha,
especulação e reprodução do solo através da verticalização, praticadas pelos produtores
imobiliários. “Marx não achava que esse tipo de renda monopolista iria ser muito disseminado
na agricultura, mas sugere que em áreas densamente povoadas as rendas advindas de casas e
terras só podem ser explicáveis nesses termos” (HARVEY, 2013, p. 349).
Se considerarmos todas as particularidades espaciais que determinado recorte da terra
(do espaço) na cidade contem como praias, amenidades naturais, proximidade com pontos
turísticos, proximidade de serviços etc., notaremos que a base da renda de monopólio é a
própria condição do espaço em si, o espaço absoluto, que particulariza os diversos recortes
que podem ser monopolizáveis, seja por condições da natureza, seja por intervenções
humanas, seja pelas duas coisas integradas. Nesse caso, os condomínios horizontais fechados,
por estarem relativamente “desprivilegiados” pela localização, distante da área valorizada da
cidade de Campina Grande, desenvolvem uma lógica diferente das demais moradias de alto
valor, pois acabam se apropriando de características naturais do seu entorno em alguns casos,
mas parecem desprezar as demais características espaciais do entorno justamente por não
estarem contidos nos tradicionais bairros valorizados, o que pode permitir “criar” vantagens
de monopólio dentro do empreendimento.1
1
Discutiremos esse fenômeno de maneira mais aprofundada no último capítulo, averiguando o caso dos
condomínios em Campina Grande.
26
A caracterização do espaço absoluto, segundo Harvey, é o que vai fazer dele (em seus
recortes locais) único, em diversas escalas, principalmente na condição dos objetos
localizados no espaço urbano, em constante processo de produção e movimento. Segundo o
autor:
A noção de espaço relativo também esta ligada a localização e deve ser considerada
em relação às diferentes dimensões do espaço em sua totalidade, observando nesse caso a rede
de interação que existe entre indivíduos e o meio, especialmente como cada indivíduo ou
grupo enxerga o espaço que o cerca. “Todas as formas de medição dependem do modelo de
referência do observador” (HARVEY, 2006, p. 11). Essa característica do espaço relativo tem
ainda como condição a própria formatação material (ambiente físico) que compõe o espaço
absoluto e isso de certa maneira vai alterar as visões e interpretações que fazemos do espaço
quando consideramos, por exemplo, o tempo de deslocamento de um ponto a outro. Harvey
(2006, p. 11) afirma que:
Por último, podemos analisar a noção de espaço relacional, também defendida por
Harvey (2006) que aparece como uma condição do espaço enquanto “recorte” que não
acontece de maneira isolada do seu entorno. O espaço relacional se dá por que uma série de
características, processos, fenômenos e manifestações na paisagem acontecem “fora” de
determinado ponto do espaço. Essas características existem para podermos relacionar esse
ponto com o que existe no espaço de seu entorno. Sendo assim, esses componentes “externos”
a determinado recorte espacial são relacionáveis com esse ponto. O espaço absoluto só existe
27
por que acontecem outras formas, características, processos, fenômenos e formas da paisagem
externas a ele (recorte) para termos uma referência para relacioná-lo. Nas palavras de Harvey
(2006, p. 12):
A diversidade gerada por tudo isso vai se refletir não só no ambiente construído das
cidades, mas também nas manifestações culturais, num estilo de vida urbano e nos problemas
sociais mais diversos, gerando demandas por “necessidades” que antes não eram comuns e
agora são como uso do automóvel, as compras no shopping ou a moradia em espaços isolados
e “seguros” nos condomínios, por exemplo. Essa mesma diversidade é também o que vai
fundamentar ainda mais a questão da renda de monopólio e da especificidade locacional em
relação a esse panorama tão heterogêneo que é a cidade, ampliando dessa forma as
possibilidades de negociação do solo urbano e do que é construído sobre ele.
A moradia nas cidades passa a ser peça principal de sua composição enquanto espaço
de produção e acumulação. Os diferentes usos do solo para melhor aproveitamento no
processo acumulativo de capital fazem da moradia um elemento essencial para a ampliação
dos lucros. Dessa forma, notamos que as diferentes formas de moradias na cidade (casas,
condomínios verticais, condomínios horizontais etc.) aparecem não apenas como formas de
valor de uso para o individuo que obtém um lar, mas são representações espaciais das
constantes relações de troca que se dão no mercado que é a própria cidade.
A exemplo do que está sendo discutido, podemos citar os condomínios horizontais
fechados que faz parte deste estudo. Eles, embora estejam localizados nas franjas da cidade,
não podem ser considerados formas isoladas da dinâmica urbana de Campina Grande. A rede
elétrica, a rede de esgoto, a mobilidade dos moradores, o modo de vida, a hierarquização de
preços das casas e do solo, todos são elementos que integram de alguma forma esses espaços
a dinâmica do ambiente citadino de Campina Grande. Nesse contexto, podemos entender a
cidade com um constante movimento de usos de solos em diferentes escalas e configurações
econômicas.
segunda como objeto de investimento no mercado de terras, vista a partir do seu valor de
troca. As duas frentes estão diretamente relacionadas, assim com as demais mercadorias que
alimentam a dinâmica do capitalismo. Para Ribeiro (2015, p. 124),
O fator localização é uma peça-chave para os incorporadores, pois uma vez que foi
investido determina quantia de capital para a produção da mercadoria-moradia, seu capital
ficará “imóvel” no espaço através da edificação. Sobre isso Harvey (2013, p. 243) explica:
A imobilidade no espaço significa que uma mercadoria não pode ser movida
sem que o valor nela incorporado seja destruído. Os elementos do ambiente
construído têm uma posição ou localização espacial como atributo mais
fundamental do que incidental. Por isso eles têm de ser construídos ou
reunidos in situ na terra, de forma que a terra e a apropriação do
arrendamento da terra se tornem significativas. Além disso, a utilidade de
elementos particulares depende da sua localização em relação a outros –
lojas, moradias, escolas e fábricas devem todas ser razoavelmente próximas
umas das outras. Toda a questão da ordenação espacial do ambiente
construído tem então de ser considerada; a decisão de onde colocar um
elemento não pode ser divorciada do “onde” dos outros. O ambiente
construído tem então de ser encarado como uma mercadoria
geograficamente ordenada, complexa e composta.
A forma do ambiente construído nos diferentes locais da cidade, o arranjo das ruas e as
formas arquitetônicas das residências, vão nos mostrar através da heterogeneidade da
paisagem como se dá essa variação de preços em diferentes usos do solo. Essa
heterogeneidade deve ser compreendida a partir dos distintos processos que fazem da moradia
uma mercadoria, com produção, consumo, distribuição e circulação complexos.
31
rede de esgoto e energia, são exemplos de como a atuação do Estado pode interferir no preço
do solo e por consequência da moradia. Nesse caso, alguns setores já valorizados na cidade
podem gerar uma centralização e vetorizar serviços públicos e privados diversos, gerando
ainda mais centralização e valorização.
O que observamos é que a mercadoria moradia é um tipo complexo de
empreendimento na medida em que ela tem seu preço regulado pelo fator da localização, que
também interfere de forma simultânea nos outros preços dos terrenos e das moradias no seu
entorno. Quanto mais a malha urbana cresce, mais complexa será a variação de preços de
determinado local. A instalação de um único equipamento de relativo impacto pode alterar os
preços das moradias e do solo no seu entorno em um curto período de tempo.
Entendemos, portanto que, assim como o preço da terra urbana, o preço da moradia é
determinado pelo valor de monopólio, uma vez que as condições locacionais vão engrenar
vantagens especificas a determinados pontos do espaço e consequentemente para a moradia
que ali for construída. Essa condição tem como base a teoria da “concorrência monopolista
elaborada por E.H. Chambelein” (RIBEIRO, (2015, p. 114), em que os investidores sempre
vão disputar por vantagens de monopólio os diferentes locais da cidade ou mesmo produzir
essas vantagens, como no caso dos condomínios horizontais fechados, tentando reproduzir
condições especificas de segurança, qualidade, conforto ou lazer dentro do muro dos
condomínios. A exclusividade nesse caso aparece como elemento primordial para ocorrência
da vantagem de monopólio.
Segundo Ribeiro (2015, p. 117), a ocorrência do preço de monopólio tem como
pressuposto ainda a ocorrência de três fatores que vão influenciar no preço relacionado ao
local: 1- fatores de microlocalização, relacionados ao meio ambiente local (natural e
construído) que tem uma escala mais limitada próximo ao terreno da moradia como a
qualidade da infraestrutura, por exemplo; 2- fatores de macrolocalização, relacionados ao
bairro ou a zona homogênea em que determinado conjunto de sistema espacial está inserido
na cidade; e 3- fatores gerais, ligados à conjuntura econômica, crescimento populacional e
condições da propriedade em si.
Se considerarmos os condomínios horizontais fechados de Campina nessa dinâmica,
perceberemos que o fator de maior peso nesse caso será o de microlocalização, apropriado
para dentro do empreendimento pela lógica de um “modo de vida exclusivo” que inclui
natureza, conforto, segurança, privacidade e lazer no mesmo espaço. No que se refere aos
fatores de macrolocalização, não haverá tanta interferência direta desse fator, uma vez que por
estarem localizados quase sempre à margem da mancha urbana ou em áreas rurais, os
33
produção do espaço. A valorização do solo urbano e dos imóveis que são construídos tem
como ponta de lança a própria valorização do espaço produzido. A acumulação capitalista tem
na produção do espaço a sua condição de se realizar. O espaço não é mais o meio de
produção, ele próprio é produto do processo acumulativo. Sobre isso Lefebvre (2002, p. 142)
prossegue:
A busca por vantagens de monopólio para elevação de preços faz com que a condição
de monopólio seja criada ou recriada em determinados setores da cidade através da produção
do espaço. Essa condição é viabilizada pela inserção de “s espaços” ao ambiente construído
na cidade, criando assim novas condições monopolistas para os investidores. Sendo assim,
três práticas aparecem nesse cenário, segundo Ribeiro (2015, p. 128):
A lógica para criar um modelo “exclusivo” de moradias aparece como forma rentável
de produzir a moradia mercadoria. Dessa forma, observa-se que as vantagens obtidas através
da “seletividade espacial” por parte dos incorporadores podem ser criadas a partir de
diferentes frentes, incluindo aí ações articuladas às políticas públicas do Estado. Segundo
Moreira (2001), essa “seletividade espacial” está atribuída como uma das práticas sociais que
vão ser direcionadas pela escolha dos “melhores locais” para consolidação de determinada
atividade humana, no caso do objeto de investigação desse estudo, elas são direcionadas pelas
lógicas de acumulação de capital.
efetiva entre Campina a importantes centros urbanos como Recife-PE. No período da chegada
do trem, a cidade funcionou como “ponta de trilho”, pois a linha férrea que vinha do litoral se
encerrava aqui; e, desse modo, os produtos transportados do interior da Paraíba e de parte dos
estados vizinhos, entre eles o algodão, eram trazidos para Campina Grande através de
caminhões e daqui levados de trem para o porto em Recife-PE. Segundo Diniz (2012, p. 64-
65, grifo do autor)
década de 1930: “A construção em Art déco2, com quatro pavimentos, não apenas rompe com
um estilo arquitetônico tradicional característico do período colonial, mas ajuda-nos a pensar
sobre uma cidade cuja remodelação foi pensada para também impressionar aqueles que a
visitavam”.
A construção a qual o autor se refere é a do Grande Hotel, erguido no cruzamento da
Avenida Floriano Peixoto com a Rua Maciel Pinheiro no centro da cidade na década de 1930,
mostrada no canto superior esquerdo da Figura 1. Na imagem, é possível observar o destaque
dado ao hotel devido a sua construção em pavimentos verticais. O prédio construído em
andares situa os primeiros indícios de uma cidade que se projeta para novos tipos de uso e
ocupação do solo, uma mudança que se dá nesse caso através da arquitetura moderna da
verticalização.
Figura 1: Avenida Floriano Peixoto década de 1940 (Destaque para o Grande Hotel ao fundo)
Fonte: Acervo: Dr. Severino Bezerra de Carvalho Filho. (Modificado por Adjael Maracajá).
2
Movimento artístico internacional que começa na Europa em 1910 e conhece o seu apogeu nos anos de 1920 e
1930.
41
interna que também começam a mudar pela inserção dos primeiros automóveis, resultantes
também das mudanças ocorridas pela dinamização econômicas causadas pela chegada do trem
e pelo comércio do algodão.
Através do binômio algodão-trem, Campina Grande conheceu seu primeiro grande
boom demográfico no inicio do século XX como demonstrando anteriormente por Costa
(2012), uma vez que sua dinamização econômica atraiu migrantes de cidades circunvizinhas e
de outras partes do interior do estado, que viam na cidade oportunidades de emprego e
possíveis melhorias de vida. Segundo Diniz (2012, p. 65),
Muitas dessas pessoas eram antigos agricultores e assim como em outros centros
urbanos acabaram sendo “empurrados” para as áreas mais pobres da cidade. Esse fato se deu
pela absorção dessa população em trabalhos precários (principalmente na indústria), que
pagavam baixos salários e não eram suficientes para suprir necessidades básicas como a
moradia, por exemplo. Na interpretação de Diniz (2012, p. 69),
1960, que financiava a construção de habitação popular em diversas cidades, dentre elas
Campina Grande. Sobre isso, Costa (2013, p. 50) completa:
Ao longo das margens dessas avenidas foram se instalando mais residências e serviços
diversificados em virtude do surgimento e ampliação de outros setores econômicos na cidade.
47
Desde então, cada vez mais o processo de expansão da mancha urbana foi ocorrendo com
abertura de novas vias, reestruturação urbana promovidas pelo Estado e especialização de
serviços em alguns pontos da mancha urbana.
No início da década de 1990, a indústria da construção civil, e por consequência a do
mercado imobiliário, começa a se estabelecer na cidade de maneira mais significativa, pois
agora, além das habitações promovidas pelos programas do Estado, a produção de residências
passa a contar também com os setores da sociedade com rendas mais elevadas. Essa indústria
tem como base o estímulo causado pelo período anterior (produção de moradias populares), e
pela concentração cada vez maior de elites e populações ricas causadas pelos setores
industriais, de educação superior, de saúde e comércio varejista que vieram a se estabelecer
em Campina. Nos Gráficos 1 e 2, notaremos que é a partir dessa década que a construção
civil começa a ganhar força.
serviços vai condicionar a valorização do solo do seu entorno possibilitando uma dinamização
econômica para a formação dos bairros com preços mais elevados, ampliando a atuação do
mercado imobiliário, uma vez que esses pontos funcionam como vetores que geram demandas
de mercado de terras e de moradias cada vez maiores, levando a uma hierarquia de preços
mais complexa e heterogênea no uso do solo urbano. Segundo de Harvey (1980, p. 160),
de uso e ocupação estratégica que é dada por demandas populacionais com rendimentos mais
elevados que passam a frequentar esses locais.
51
3
O Colégio Motiva é uma tradicional escola particular da cidade, conhecida pelo alto padrão de preços nas
mensalidades e modelos de escolas “estilizadas” em Campina Grande e João Pessoa. No bairro do Catolé se
destaca o “Motiva Jardim Ambiental”, que proporciona para os alunos o contato com a “natureza” através da
oferta do “Mini Rancho” com animais (minivaca, poney, tartarugas, galinhas, pássaros) e plantas, além de
comportar um teatro dentro das dependências da Escola.
4
Campina Grande apresenta, além da UniFacisa, outras universidades e faculdades particulares, no entanto
decidimos escolher essa como destaque pois ela concentra os cursos com os maiores valores das mensalidades da
cidade como por exemplo os cursos de Medicina, Direito e Aviação Civil, além de ser a instituição particular de
ensino superior melhor estrutura em relação a laboratórios e aparelhos técnicos.
5
A Korpus Academia é também conhecida por seu alto padrão e por atender um público de alto rendimento. A
academia tem duas unidades na cidade, uma no bairro da Prata e outra as margens do Açude Velho no Centro.
53
SANDRA
CAVALCANTE
Os dados referentes à remuneração média mensal por bairro, também coletados no site
da SEPLAN, encontramos os valores divididos em quatro classificações, são elas: 1- Menor
ou igual a R$ 715; 2- De R$ 715 a R$ 1038; 3 – De R$ 1038 a R$ 1426 e 4- Maior ou igual a
R$ 1426. Desse modo, considerando apenas os dados com maiores valores de rendimento
mensal (maior ou igual a R$ 1426) teremos como destaque basicamente os mesmos bairros:
Centro, Catolé, Mirante, Sandra Cavalcante, Itararé, Alto Branco, Conceição, Jardim Tavares,
Nações, Lauritzen, Santo Antônio, Prata e São José. Comparando com a lista de bairros de
renda mensal per capita, temos nesse caso apenas à troca do bairro Bela Vista, pelo bairro
Santo Antônio, que não apareceu na primeira classificação (Mapa 5).
56
SANDRA
CAVALCANTE
O preço médio do metro quadrado por bairro foi considerado a partir do levantamento
de dados e elaborado por Costa (2013). Nesse caso, a metodologia utilizada pelo autor foi
assim descrita: primeiramente obtiveram-se os preços das áreas por metro quadrado, através
da divisão do preço anunciado dos terrenos nos classificados de jornais, dividido pela medida
em metros do terreno; em seguida somaram-se os preços dos metros quadrados dos terrenos
de cada bairro anunciados e dividiu-se pelo número de guias do Imposto de Transmissão de
Bens Imóveis (ITBI) computados por cada bairro. “Tal procedimento foi repetido para todos
os bairros até se chegar ao preço médio do metro quadrado para cada bairro” (COSTA, 2013,
p. 131).
Os preços foram divididos em cinco classificações, são elas: 1- até 50R$ o m²; 2- mais
de 50R$ até 100R$ o m²; 3- mais de 100R$ até 150 o m²; 4- mais de 150R$ até 200R$ o m² e
5- mais de 200R$ até 320R$ o m². Considerando apenas a variável de preço mais alta (mais
de 200R$ até 320R$ o m²), três bairros se destacam em Campina: Centro, Catolé e Bela Vista.
No Mapa 6, podemos visualizar a fragmentação apresentada por Campina Grande,
considerando o preço médio do metro quadro e os três bairros com os maiores preços do
metro quadrado em 2010.
58
Mapa 6: Bairros com preços do m² mais elevados em 2010 (Mais de 200R$ até 320R$ o m²)
59
Mapa 7 – Bairros mais verticalizados em 2017 (mais de 10 edifícios com cinco ou mais pavimentos)
A imagem “inovadora” atribuída aos condomínios horizontais parece ser uma das
principais características associadas a esses espaços enquanto produtos para a comercialização
no contexto imobiliário na cidade. Alguns rótulos como “novo modo de vida”, “novo estilo”
ou “exclusividade” são, com frequência, utilizados nos anúncios desses empreendimentos,
criando atributos para justificar a valorização desses espaços.
Características naturais, segurança, conforto e privacidade são alguns dos elementos
que aparecem para justificar essa condição “inovadora” desses espaços no mercado
imobiliário e, consequentemente, validar sua valorização frente ao mercado de terras no
contexto urbano. O que identificamos com o resgate histórico desse modelo de moradia é que
na verdade o padrão de organização de residências de alto valor nos subúrbios da cidade já era
identificado no final do século XVIII com algumas das características observadas nos
condôminos fechados da atualidade.
Segundo D’Ottaviano (2008, p. 37), essas moradias de alto valor nos subúrbios dos
centros urbanos surgem na Inglaterra no final do século XVIII e tinham como primeiro padrão
geral a lógica de inversão do centro rico versus periferia pobre, uma vez que esses espaços
residenciais nas zonas periféricas pretendiam “afastar” elementos da cidade que de alguma
forma destoavam com o padrão socioeconômico dos moradores dessas novas áreas
residenciais. É identificada nesse momento a separação entre residência, indústria, áreas
comerciais e áreas pobres nos principais centros urbanos ingleses.
Uma outra característica identificada pela autora nessas residências de alto padrão na
Inglaterra, e que é vista até hoje nos condomínios em Campina Grande, é o “casamento” do
rural com o urbano. Esse modelo residencial tinha em sua forma de apresentação um padrão
“rural urbanizado”, uma vez que apenas sua localização e as características arquitetônicas da
moradia faziam referencia ao campo, todavia o estilo de vida de seus moradores tinha ligação
direta com a cidade, pois ainda precisavam usufruir dos serviços, facilidades e amenidades
encontradas na urbe.
Nesse período identifica-se a incorporação de áreas periféricas de baixo valor para a
construção das novas residências burguesas, onde o acesso era praticamente restrito devido a
distancias e se faziam apenas pelas carruagens privadas pelas estradas que partiam até esses
68
Fonte: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade>.
69
Fonte: <www.andrademarinholmf.com.br>.
Fonte: <www.andrademarinholmf.com.br>.
72
Fonte: <www.andrademarinholmf.com.br>.
Figura 7: anúncio do condomínio vertical Palazzo Roberto Pinto no bairro do Alto Branco
Fonte: <www.massai.com.br>.
condomínios são destacadas, por exemplo, como um dos principais atributos nesse modelo de
produção de moradias. Dessa forma, consideramos três características gerais relacionadas aos
anúncios dos condomínios que nesse caso funcionam como elementos para justificar a
valorização: 1- elementos naturais (verde, campo, clima, lagos, eco, green, sustentabilidade,
meio ambiente); 2- elementos estruturais (segurança, lazer, privacidade, status, conforto,
tranquilidade, moderno, padrão) e 3- Acessibilidade (facilidade em acessar áreas centras da
cidade por rodovia ou grandes avenidas).
Essas características vão conduzir uma lógica de valorização residencial ligada
especialmente à tipologia residencial em condomínios horizontais fechados, uma vez que o
fator bairro/localização não será evidenciado como um componente importante como ocorre
nas outras tipologias residenciais de alto valor na cidade. Dessa forma, identificar os
elementos que justificam a valorização das moradias em condomínios horizontais, nos dará
uma outra perspectiva para entender como a dinâmica imobiliária ocorre e como a lógica de
produção, valorização e consumo de moradias é mutável em virtude da dinâmica de mercado
e das diferentes lógicas de produção do espaço urbano.
C. Grande
Fonte: Porto (2004).
Esse perfil natural também pode ser observado com a tipologia da vegetação
observado nos arredores dos condomínios, capturados pelas imagens fotográficas feitas em
campo durante a pesquisa. Na primeira imagem (Figura 10), é possível observar o condomínio
AtmospheraEco localizado na parte nordeste da cidade, com predominância de vegetação
arbórea e úmida no seu entorno. Na segunda imagem (Figura 11), observamos o condomínio
Parkville, localizado na parte oeste da cidade com predominância de vegetação típica de
regiões semiáridas.
76
Vegetação
predominante
Condomínio
Condomínio
Vegetação
predominante
3.1.3 Acessibilidade
Por último temos o elemento de acesso aos condomínios, que nesse caso será
evidenciado nos anúncios justamente pelas distancias dessas moradias em relação às partes
centrais mais valorizadas da cidade. A localização dos condomínios horizontais irá fugir do
padrão tradicional de uso do solo urbano a partir da lógica de valorização dada pela
proximidade do bairro/setor de onde o empreendimento se instalará, pois no caso dessa
tipologia residencial, os locais escolhidos para construção serão geralmente as margens da
mancha urbana ou mesmo a zonas rurais de Campina Grande e Lagoa Seca. Dessa forma, essa
tipologia de moradia terá que “compensar” essas distancias “perdidas” dos serviços da cidade
através da instalação dos empreendimentos nas margens das rodovias ou grandes vias de
acesso rápido existentes em Campina.
O elemento “acessibilidade” aparece em quase todos os anúncios publicitários dos
condomínios, distribuídos em termos como “poucos minutos do centro” ou “a 8 minutos do
shopping”, por exemplo. O elemento de acessibilidade também será possibilitado pelas
condições de locomoção dos moradores dessas residências, pois sabendo do padrão
econômico dessa tipologia residencial, entende-se que seus moradores fazem parte de uma
camada social de alto valor e o acesso desses será realizado por veículos particulares, sem a
necessidade de dependência de transporte público.
Distância
Transporte
Localização Ano de Incorporadora/construto até o Centro Existência de Via de
Condomínio público até o
(bairro/zona) lançamento ra da cidade vizinhança acesso
condomínio
(em Km)
Av.
Andrade Marinho LMF Sim (Condomínio
SERRAVILLE Malvinas 2013 7,3 Floriano Não
(Campina Grande-PB) Montville)
Peixoto
Av.
Andrade Marinho LMF
PARKVILLE Malvinas 2015 7,3 Não Floriano Não
(Campina Grande-PB)
Peixoto
Av.
Andrade Marinho LMF Sim (Condomínio
MONTEVILLE Malvinas Em construção 7,3 Floriano Não
(Campina Grande-PB) Serraville)
Peixoto
ATMOSPHERA Zona Rural mun. Lagoa Andrade Marinho LMF Sim (Condomínio
2011 6,4 BR 104 Não
ECO Seca. (Campina Grande-PB) Atmosphera Green)
ATMOSPHERA Zona rural mun. Lagoa Andrade Marinho LMF Sim (Condômino
2012 6,4 BR 104 Não
GREEN Seca. (Campina Grande-PB) Atmosphera Eco)
Rua
Engenheiro
Mirante 2009 Alphaville Urbanismo 3 Não
ALPHAVILLE José Celino Não
Filho
Av. Sen.
Itararé
TERRAS 2017 Alphaville Urbanismo 5,4 Não Argemiro
Não
ALPHAVILLE de
Figueiredo
SIERRA HOME Rocha (Campina Grande- Sim (poucas casas) Av. Manoel
Jardim Tavares 2012 3,3 Sim.
RESORT PB) Tavares
NAÇOES RES. Zona Rural Mun. de
* * 5,7 Não BR 104 Não
PRIVÊ Campina Grande.
CAMPOS DO Zona Rural Mun.
* 9,5 Não BR 230 Não
CONDE Campina Grande 2013
Zona Rural Mun.
REINO VERDE 2010 Rocha (Campina Grande) 12 Não BR 230
Campina Grande Não
Na análise do Quadro 1, que se refere às características externas, notamos que sete dos
11 condomínios foram construídos/incorporados por empresas locais, tendo predominância do
grupo Andrade Marinho LMF, responsável pela construção de cinco condomínios em
diferentes zonas da cidade. O grupo também comercializa outras tipologias residenciais com
predominância de condomínios verticais, sendo sete no total e quatro bairros planejados em
loteamentos.
Outra característica observada é que quase todos os empreendimentos não possuem
nenhum tipo de vizinhança no seu entorno imediato, salvo algumas exceções como no caso do
condomínio Atmosfhera Eco e Atmosphera Green que são vizinhos, bem como o Parkville e o
Montvile, todos pertencentes ao mesmo grupo empreendedor
No que se refere às características internas dos condomínios, identificamos que todos
os empreendimentos contêm: Muro ou cerca, Aparatos de segurança (câmeras cerca elétrica,
agentes), Serviços internos (portaria, zelador, faxineiros), Área de lazer infantil (play ground,
parquinho, brinquedoteca.), Área verde (campo, bosque, lago, jardim), Área de esportes
(pista, quadra, campo), Áreas comuns (churrasqueira, salão de festas, salão de eventos). Além
desses elementos que apresentamos, alguns condomínios possuem outros equipamentos como
capela ecumênica e centro comercial integrado ao condomínio.
O transporte público é algo que também notamos ser escasso nas proximidades de
alguns dos condôminos. No geral, existem pontos de ônibus nas proximidades de cinco dos 11
condomínios, mas com apenas uma linha para servir a região. Essa condição prejudica os
trabalhadores desses locais, uma vez que boa parte depende do transporte público para a
locomoção diária casa-trabalho-casa.
O dado mais relevante que podemos considerar para a natureza de nossa pesquisa é
justamente a localização dos condomínios, predominantemente distantes da parte central da
cidade. Consideramos o Centro da cidade como local de referência para medir as distancias
até os condomínios, pois é desse bairro onde se inicia e se centraliza os três eixos de
valorização identificados e os bairros mais rentáveis no seu entorno. É também no Centro na
cidade que temos grande parte dos serviços oferecidos em Campina Grande, sendo esse bairro
o que concentra o maior número de serviços comerciais, bancários, serviços públicos e sede
de empresas locais.
A característica distancia até o Centro da cidade se mostra muito variável quando
consideramos todos os dados coletados de todos os condomínios. Quando consideramos, por
exemplo, os dados referentes aos condomínios Alphaville e Sierra Home Resort, notamos que
esses estão relativamente próximos ao Centro se comparados aos demais, pois estão
81
localizados a 3 km e 3,3 km, respectivamente. Esses também são os únicos condomínios mais
próximos dos eixos de valorização e dos bairros identificados como os mais rentáveis para o
mercado de terras, estando à margem de dois deles respectivamente: Mirante e Jardim
Tavares.
O condomínio Terras Alphaville, apesar de margear um dos bairros também
identificados dentre os 13 mais valorizados, encontra-se em distância relativamente maior ao
Centro (5,4 km), essa condição influencia diretamente na dinâmica geográfica do
empreendimento através da perda gradual das vantagens e valorização oferecidas no Centro e
nos seus arredores.
Os condomínios localizados mais distantes são o Reino Verde e o Campos do Conde,
a 12 km e 9,5 km do Centro respectivamente. Para chegarmos ao dado sobre a distancia,
consideramos o percurso mais próximo sugerido no Google maps, ligando, através da
ferramenta “rotas”, os condomínios até o bairro Centro por meio da principal e mais curta via
de ligação existente.
Para os outros dados referentes à coluna de características externas, adotamos para a
localização os limites propostos por documentos oficiais como Plano Diretor da cidade, por
exemplo. Para o dado referente ao ano de lançamento, consideramos o período que o
condomínio foi lançado de acordo com informações coletadas nos sites oficiais dos
empreendimentos ou em sites de imobiliárias da cidade. Para o item da construtora ou
incorporadora responsável pelos empreendimentos também consideramos os dados coletados
nos sites na internet. Para os três últimos dados da coluna (existência de vizinhança, via de
acesso e existência de transporte público), consideramos as informações que foram
observadas e coletadas em campo.
De acordo com os dados e com as informações encontradas nos sites dos
empreendimentos, podemos agora classificar os elementos dos anúncios de acordo com os
três seguimentos que adotamos anteriormente (elementos naturais, elementos estruturais e
acessibilidade) para classificá-los em categorias especificas, bem como identificar como
ocorre a distribuição espacial dos atributos de valorização contidos e evidenciados em cada
condomínio.
adotamos para classificar as palavras encontradas. Portanto, não foi feito comparativo entre os
anúncios dos condomínios, pois alguns textos publicitários são mais extensos do que outros e
naturalmente o número e a frequência de palavras foi maior. Dessa forma, tivemos a seguinte
classificação de acordo com o Gráfico 4, considerando a frequência de palavras existentes em
cada grupo variando entre 0 e 35 vezes (localizado na coluna esquerda do gráfico) relativo a
cada empreendimento.
35
30
25
20
15
10
0
e
e
le
de
e
lle
lle
en
õe
ill
ill
nd
Ec
vil
vi
vi
r
e
av
tv
Ho
Ve
ç
Gr
Co
a
a
ra
rk
Na
on
er
ph
ph
Pa
r
o
rra
a
o
Se
ph
M
Al
in
Al
er
sd
e
Re
os
ph
as
Si
po
m
os
rr
m
At
Te
m
Ca
At
Essas áreas residenciais “exclusivas” irão surgir, no caso de Campina Grande, fora dos
eixos de valorização identificados, em alguns casos fora do perímetro urbano da cidade e irão
se materializar através dos condomínios horizontais fechados que aparecem na cidade a partir
dos anos 2000, especificamente do ano de 2010 em diante.
Ao observarmos o local onde estão instalados os condomínios de Campina Grande
percebemos que eles estão inseridos em bairros relativamente desvalorizados (com exceção
do Sierra Home Resort e do Alphaville) ou mesmo em áreas rurais, afastados das vantagens
locacionais oferecidas pela concentração de serviços na parte central, nos bairros valorizados.
O Mapa 10 apresenta a configuração espacial de Campina com os condomínios
horizontais no que se refere ao contexto do mercado fundiário e imobiliário da cidade, onde a
distância das áreas mais valorizadas é o principal elemento a ser considerado nessa análise.
Mapa 10: Condomínios horizontais fechados e os bairros valorizados – Campina Grande –PB (2017)
Seguindo a mesma lógica, nos apropriamos dos valores dos tamanhos dos lotes
vendidos em cada condomínio, também coletando os dados de Albino (2016) e do site da Lins
Imóveis, somamos o tamanho do menor e do maior lote vendido, dividimos por 2 e chegamos
ao valor médio do tamanho de cada lote nos referidos condomínios.
Para obtermos o valor médio referente ao metro quadrado dentro de cada condomínio,
dividimos o valor do preço médio do lote pelo tamanho médio do lote. Por exemplo, o preço
médio dos lotes no condomínio Serraville custa R$130.000, sendo que o tamanho médio de
cada lote desse condomínio é de 200 m², logo, 130.000 ÷ 200 = 650. O preço médio do metro
quadrado no Serraville é de R$650.
A coluna da do quadro referente à localização de cada condomínio foi elaborada de
acordo com o mapeamento dos condomínios seguindo a normatização do solo elaborada pelo
Plano Diretor Municipal de 2006. Nos dados observamos que cinco dos 11 condomínios estão
localizados na Zona Rural dos municípios de Campina Grande e Lagoa Seca.
Por fim, para chegarmos aos dados referentes ao valor do preço médio do metro
quadrado dos terrenos por bairro onde estão localizados os condôminos, consideramos os
dados de preços levantados por Costa (2013), apresentados no mapa 06. Os dados são
referentes ao ano de 2010, período mais próximo da instalação da maioria dos condomínios da
cidade com valores aproximados aos anos de lançamento dos empreendimentos para os
clientes em 2009, 2011, 2012, 2013 e 2015.
Para obtermos o valor referente às terras rurais que aparecem no quadro, consultamos
o site do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), onde coletamos os
dados da Planilha de Preços Referencial para fins de titulação de projetos de assentamento e
regularização fundiária, que apresenta os valores (mínimo, médio e máximo) da terra nua de
cada hectare proposto para cada região.
Os valores apresentados são apenas para fins de titulação, segundo advertência do
próprio site, porém, foi à única referencia segura de valores de terras rurais que conseguimos
obter para fazer os comparativos dos valores do solo dentro e fora dos condomínios. Segundo
a Planilha apresentada no site do INCRA, o valor médio do hectare na região de Campina
Grande é de R$ 545. Considerando que um hectare corresponde a 10.000 m², o valor do metro
quadrado na região é de R$ 0,05.
No Quadro 2, é possível observar a divergência de preços entre o metro quadrado
dentro do condomínio e o metro quadrado do setor/bairro onde ele foi instalado, justificando a
dinâmica de incorporação de novos espaços (muitas vezes rurais) para a produção de
89
moradias de alto padrão na cidade, obtendo margens de lucro superiores a outras tipologias de
moradias na cidade.
Para a elaboração do quadro, obtivemos cinco dados essenciais para fazermos o
comparativo de valores: 1- a localização (bairro/setor) onde foi instalado; 2- o tamanho médio
dos lotes; 3- o preço médio dos lotes de cada condomínio; 4- o valor médio do metro
quadrado no interior do condomínio e 5- o valor do metro quadrado de onde foi instalado.
Valor do m²
Tamanho Preço Valor médio do
Condomínio Localização médio dos médio dos do m² no bairro/zona
lotes lotes (R$) condomínio onde foi
instalado.
SERRAVILLE Malvinas 200 m² R$ 130.000 R$ 650 R$ 75
PARKVILLE Malvinas 240 m² R$ 150.239 R$ 625 R$ 75
MONTEVILLE Malvinas 240 m² R$ 136.950 R$ 570 R$ 75
Zona Rural
ATMOSPHERA
Mun. de 733,5 m² R$ 211.000 R$ 287 R$ 0,05
ECO
Lagoa Seca
Zona Rural
ATMOSPHERA
Mun. de 733,5 m² R$ 211.000 R$ 287 R$ 0,05
GREEN
Lagoa Seca
ALPHAVILLE Mirante 542 m² R$ 210.000 R$ 387 R$ 125
TERRAS Valor não
Itararé 340 m² R$ 173.350 R$ 509
ALPHAVILLE identificado
SIERRA HOME Jardim
535 m² R$ 400.000 R$ 747 R$ 125
RESORT Tavares
Zona Rural
NAÇOES RES.
Mun. de 487,5 m² R$ 140.000 R$ 287 R$ 0,05
PRIVÊ
Lagoa Seca
Zona Rural
CAMPOS DO Mun.
360 m² R$ 200.000 R$ 555 R$ 0,05
CONDE Campina
Grande
Zona Rural
mun.
REINO VERDE 850 m² R$ 94.000 R$ 110 R$ 0,05
Campina
Grande
em bairros (Mirante e Jardim Tavares), cujos metros quadrados são mais caros. A situação
fica mais evidente nos condomínios situados na Zona Rural, uma vez que o preço do solo
nesses locais é relativamente mais baixos em virtude da inexistência de serviços e
“amenidades” ligadas à cidade e ao modo de vida urbano (comercio, indústria, infraestrutura,
serviços públicos, lazer, transporte etc.).
Os altos preços identificados dentro dos condomínios podem ser justificados pelas
características “criadas” pelos incorporadores junto ao empreendimento, muitas vezes se
apropriando daquelas existentes nos locais do entorno, convidando o cliente a morar em
contato com a natureza ou distante dos “problemas” ligados à vida na cidade. Esses atributos
criados para valorizar o condomínio, também aparecem de maneira subjetiva, ao venderem
um “modo de vida exclusivo” ligado a esse tipo de empreendimento.
O contexto da “exclusividade” tem relação direta com os atributos encontrados nos
anúncios publicitários dos empreendimentos como: privacidade (devido aos muros que
cercam os condomínios), “segurança” (devido aos aparatos técnicos encontrados nesses
locais), lazer (pela oferta de serviços como playground, piscina, lagos naturais, pista de
cooper, bosque etc.) e “conforto” (pela possibilidade de morar longe dos problemas da cidade,
mas ter acesso rápido aos serviços da parte central devido a ligação por grandes vias de
acesso).
O fator localização nesse tipo de empreendimento de alto valor é uma característica
fundamental para entendermos sua dinâmica de comercialização. Verifica-se que essas
moradias sempre estão conectadas por uma grande via de acesso, permitindo uma ligação
rápida e viável dos moradores desses locais com os serviços centrais da cidade. Nesse caso, a
acessibilidade por essas vias torna-se um fator essencial para a ocorrência dessas moradias
como mercadorias, pois esses empreendimentos de alto valor ainda dependem de uma lógica
valorativa ocorrida nos setores centrais da cidade, mesmo estando mais afastados, e as vias de
conexão serão elementos fixos do espaço que proporcionaram demandas na relação de troca
entre os condomínios e a cidade.
Nesse caso, quatro grandes vias da cidade vão dar suporte e viabilizar a conexão dos
condomínios fechados com os serviços centrais de Campina Grande. Na parte norte, a rodovia
BR 104 conecta quatro condomínios à cidade, sendo que dois desses encontram-se fora dos
limites municipais administrativos de Campina, estando localizados na zona rural do
município de Lagoa Seca. Na parte leste a rodovia BR 230 (transamazônica) conecta três
condomínios, sendo que dois deles fazem parte da zona rural da cidade e estão fora do
91
perímetro urbano segundo o Plano Diretor Municipal de 20066. Na parte sul a continuação da
BR 230 (alça sudoeste) dá suporte ao único condomínio dessa região da cidade, e na parte
leste a maior via arterial da cidade, Avenida Floriano Peixoto, conecta três condomínios.
A relativa distância desses empreendimentos da parte central da cidade e dos setores
de valorização aparece com dois aspectos na lógica de produção do espaço com as moradias
de alto valor “fora” da cidade. O primeiro tem relação com a “perda” das vantagens de
localização ligadas à parte central da cidade. O tempo gasto e os problemas com o trânsito, ou
a “falta” de serviços nos arredores, por exemplo, poderiam ser vistos como aspectos negativos
nesse contexto. Porém, o segundo aspecto compensa isso, pois está relacionado com a
possibilidade de criar novas vantagens de monopólio. O que foi perdido por conta da distância
do centro pode ser relativizado pela proximidade do verde, da natureza, pela exclusividade,
pela segurança, pelo conforto e pelo lazer ofertado dentro desses espaços. Os atributos
internos do condomínio é que vão direcionar a valorização do empreendimento como medida
compensatória na dinâmica do mercado.
Grande parte das vantagens de localização que foram “perdidas” pela distancia das
áreas centrais, devem ser compensadas com as “economias internas” desses espaços. A
vantagem de monopólio nesse caso não surge necessariamente pela localização dos
condomínios em “locais exclusivos” do tecido urbano, mas surgem principalmente pelo que
eles oferecem no intramuros ou simbolicamente no contexto do “exclusivo”. A vantagem de
monopólio é criada com os atributos do próprio empreendimento. Sobre isso Ribeiro (2015, p.
133), afirma que,
6
Segundo o Estatuto da Cidade, os Planos Diretos Municipais devem ser revisados a cada 10 anos, mas até a
elaboração da pesquisa nenhum documento oficial de revisão havia sido promulgado. Vale observar que a
instalação dos condôminos que aparecem no mapa de nossa pesquisa, foram ordenados pelo Plano Diretor de
2006, uma vez que quase todos foram construídos após esse período, com exceção de um na parte norte,
instalado antes de 2006.
92
Fonte: <www.andrademarinholmf.com.br>.
93
Fonte: <www.andrademarinholmf.com.br>.
Fonte: <www.alphaville.com.br/>.
94
Fonte: <www.alphaville.com.br/>.
Fonte: <www.reinoverde.com.br>.
95
investimentos públicos podem beneficiar também a ação do mercado, valorizando ainda mais
os setores já valorizados na cidade e beneficiando os novos empreendimentos que se
consolidam na margem da malha urbana de Campina.
Ao averiguarmos a localização dessas obras, percebemos a confluência com os setores
valorizados da cidade e com os condomínios horizontais fechados. No Mapa 11, podemos
observar que os grandes corredores viários construídos na cidade nos últimos dez anos estão
direcionados para atender os setores de valorização identificados em Campina. No geral
identificamos cinco grandes obras viárias na cidade, quase todas localizadas na parte sudeste,
incluindo a construção do viaduto Elpídio de Almeida (no Centro) dois viadutos na Avenida
Argemiro Figueiredo (BR 230, no Itararé), a duplicação da Avenida Argemiro Figueiredo
(Itararé) e abertura da Alça Leste (no Mirante).
Mapa 11: Grandes obras viárias e setores de valorização em Campina Grande-PB (2017)
98
Essa dinâmica de incorporação de terras baratas fora dos eixos valorizados e até
mesmo fora da zona urbana, transformados e vendidos com preços elevados como os
praticados em setores rentáveis da cidade, faz dos condomínios horizontais um tipo de
empreendimento muito mais lucrativo para o empreendedor em relação às outras tipologias
residenciais praticadas pelos agentes incorporadores.
Além dessa “facilidade” de lucro que é dada pelos preços praticados, as vantagens de
escolha de localização também será uma característica importante para o incorporador, uma
vez que ele não precisará mais disputar com tanta frequência os melhores recortes da cidade
para valorizar o seu empreendimento. A busca de localização será atribuída apenas à
proximidade da margem de uma grande via de acesso para as áreas centrais da cidade. A
dinâmica de valorização dada pela renda de monopólio condicionada pelo que acontece no
entorno dos empreendimentos também será algo mutável com os condomínios fechados.
A dimensão de renda de monopólio possibilitada pelas especificidades do espaço
(melhor localização) será negligenciada em parte nesse caso. Ela será criada a partir do que é
incorporado dentro do condomínio, uma vez que a renda de monopólio não será, no caso
desse tipo de empreendimento, relacionada ao que está contido no seu entorno e sim ao que
eles podem construir no seu interior. Nesse caso, as características naturais nas proximidades
dos empreendimentos, que são enaltecidas em alguns dos condomínios, também sofrem
influencia dessa monopolização.
A renda de monopólio será forjada por um “microespaço” criado exclusivamente para
justificar a valorização que é dada por esse tipo especifico de renda ligada às moradias nos
condomínios. Não haverá a necessidade de referência a equipamentos de valorização que
estejam localizados (ou não) no entorno dos empreendimentos (shopping, escolas,
universidades, áreas de lazer etc.).
Essas condições serão criadas dentro do próprio empreendimento com segurança,
áreas de lazer, contato com a natureza e em alguns casos, serviços comerciais no próprio
empreendimento. Não podemos considerar que todos os condomínios serão autossuficientes,
ao ponto de tornar irrelevante os serviços ofertados na cidade, mas a lógica de valorização que
é dada pela renda de monopólio será suprida, em parte, por esses atributos que são criados
neles.
Considerando que os empreendimentos não vão depender da valorização que é dada
por aquilo que contém no seu entorno, uma questão nos aparece: a renda diferencial será
nesse caso aniquilada? Ou haverá a necessidade de justificar a renda diferencial a partir das
conexões que são dadas pelas grandes vias de acesso que ligam os condôminos a parte central
102
da cidade? Sabendo que a renda diferencial é dada por uma situação espacial vantajosa que é
atribuída a determinado empreendimento na cidade e que essa situação vantajosa irá
possibilitar o surgimento de renda diferencial justamente pelos lucros obtidos além dos que
foram programados pelas vantagens locacionais, consideramos que esse tipo de renda pode
ser desconsiderado no caso dos condomínios fechados, excluindo-se a situação em que as
características morfoclimáticas serão consideradas como elementos na valorização dos
empreendimentos. Porém, ao analisarmos mais a fundo, notaremos que essas características
naturais também serão incorporadas como vantagens internas ao condomínio, nesse caso,
como um tipo de renda de monopólio específico como vimos anteriormente.
Percebemos, portanto, que no caso dos condomínios horizontais a valorização será
atribuída por uma dinâmica espacial diferenciada, onde duas características vão predominar: 1
– a característica espacial micro, limitada ao que institui os condomínios na sua configuração
interna, ou seja, o que eles conseguem incorporar e criar a partir de atributos de valorização já
descritos aqui; 2- a característica espacial macro, relacionada ao contexto geral da cidade, ao
que acontece nas áreas centrais, no Centro e nos bairros valorizados, facilitados pela conexão
das vias de acesso rápido. A dimensão espacial meso, ou seja entre a micro e a macro,
relacionada ao bairro/zona dos empreendimentos será “perdida” nesse caso, pois a localização
dos empreendimentos não será algo vantajoso em relação à dinâmica de uso do solo urbano,
já discutida aqui.
Consideremos que os condomínios se apresentam como uma tipologia residencial no
qual se criam lógicas diferenciadas no uso do solo na cidade. Esses empreendimentos tem a
capacidade de criar um microambiente urbano único, segregado, diferenciando-se, nesse caso,
da dinâmica tradicional de uso estratégico do solo urbano. Esses recortes do espaço urbano
(os condomínios) funcionam como algo mais parecido com uma mutação em relação ao
espaço do seu entorno, pois nem dependem das dinâmicas espaciais ligadas ao mercado de
terras que os circundam de modo mais imediato, nem garantem que vão gerar algum tipo de
valorização para o setor onde estão instalados.
Dessa forma, eles se mostram especificidades no uso do solo, no que se refere à
moradia, ao mercado imobiliário e ao mercado de terras. A chave para entender essa dinâmica
é a visualização da localização dos empreendimentos. No esquema abaixo, resumimos o que
parece acontecer com o uso do solo urbano a partir dos condomínios horizontais fechados.
103
Nota-se, portanto que, quando mais afastado for o condomínio da área da mancha
urbana, mais sua possibilidade de valorização terá que ser compensada de outra forma, a
partir dos atributos de microespaço incorporados ao condomínio, seja enaltecendo os
elementos naturais, seja vendendo um modo de vida único afastado da caótica vida urbana.
104
CONCLUSÃO
ter condições de acessar essas áreas “comerciáveis” do espaço urbano, sejam as moradias, os
serviços de alto valor em espaços privados como shoppings, escolas privadas, museus etc.
seja as grandes obras viárias voltadas para as parcelas da população que tem o carro como
meio de locomoção na cidade. Podemos pensar que parte dessas contradições se se deve à
produção do/no espaço urbano apenas para atender a interesses mercantis, onde a moradia e a
terra urbana passam a ter papel fundamental na absorção de capital e produção cada vez maior
de lucros.
Visualiza-se, dessa forma, a cidade como um grande mercado onde seus recortes são
comercializados e valorizados constantemente. Cada um desses recortes e uso do solo que vai
se valorizando, acaba sendo limitado às populações que podem pagar pelos preços ali
incorporados; e é nessa dinâmica que observamos também o “não acesso” e a negação de
populações de baixa renda a esses recortes, sugerindo que as partes comerciáveis da cidade
apenas são acessíveis a quem pode pagar, seja pela moradia, seja pelos serviços de alto valor
que estão agregados a esses setores, obrigando constantemente o deslocamento dessas
populações pobres para as zonas mais afastadas e “baratas” ainda não “comerciáveis”.
Os condomínios horizontais fechados parecem ser uma das tipologias residenciais
mais rentáveis no mercado imobiliário e no mercado de terras urbano atualmente. Não é à toa
que cada vez mais ocorre o surgimento e a reprodução de moradias desse tipo, mesmo em
cidades com demandas imobiliárias ainda tímidas, mesmo identificando que essa tipologia
residencial necessita de um recorte espacial maior do que qualquer outro modelo de habitação
praticado pelo mercado imobiliário.
Observamos também que há certo aceleramento na produção de moradias de alto valor
através da produção dos condomínios, uma vez que a busca por dinâmicas espaciais urbanas
de valorização imobiliária, que acontecem geralmente no núcleo mais central, próximos aos
serviços urbanos, pode ser em parte negligenciada e direcionada agora pelo “microespaço”
criado no ambiente interno dos condomínios, justificando dessa forma a prática da valorização
de moradias nos subúrbios desvalorizados da cidade, fugindo do tradicional padrão centro rico
versus periferia pobre.
Os padrões de renda de monopólio e renda diferencial que regulam em parte os preços
das moradias na cidade, podem se somar à dinâmica de renda de monopólio que ocorre
especialmente nos condomínios, fazendo os preços dessas moradias aumentar além do que
fora programado, gerando uma margem de lucro e sobrelucro ainda maior.
Na tentativa de entender a função e o impacto desse modelo residencial no espaço
urbano, perseguimos análises teóricas que são base para compreender muitos fenômenos que
107
acontecem na produção do/no espaço urbano. Percebemos que esse modelo residencial de alto
valor nos subúrbios conduz outra lógica de valorização do espaço que parece ter origem em
uma dinâmica que integra novas áreas não urbanizadas à cidade e as novas demandas no
cotidiano urbano.
Pensar a reprodução desses espaços ligada a essas demandas, principalmente em
cidades de porte médio como Campina Grande, cria um caminho analítico para entender
como essa tipologia residencial é resultado de uma série de mudanças na estrutura
socioespacial ligada à vida urbana. O aumento da violência, a sensação de medo constante, a
mobilidade ligada ao automóvel, o consumo em locais fechados como o shopping e a busca
por um estilo de vida exclusivo, são demandas que devem ser pensadas paralelamente ao um
boom de moradias em condomínios fechados que acontece nas ultimas décadas.
Enxergando essas modificações na estrutura social das cidades, os incorporadores
criam, dessa forma, um modelo de moradia “ideal” para atender tais demandas urbanas. A
moradia em condomínios fechados é, portanto, um modelo habitacional que se integrará cada
vez mais à produção do espaço urbano, seja por “necessidades” de uso dos seus moradores,
seja por possibilidades de arrendamento em um negócio altamente lucrativo que surgem nas
cidades.
Portanto, a busca por outra lógica que vá de encontro a um modelo de produção
residencial que sirva apenas ao mercado imobiliário deve ser pensada considerando as
dinâmicas sociais, politicas e culturais que estão contidos no espaço urbano. A reprodução de
moradias em condomínios fechados é nesse caso reflexo de mudanças em macro escala que
são incorporadas e muitas vezes enaltecidas pelos agentes imobiliários (vide o caso da
violência e a busca por “espaço seguros”).
108
REFERÊNCIAS
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fragmentada em Campina Grande-PB. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em
Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campina
Grande, 2016.
______. O espaço como palavra-chave. In: CASTREE, N.; GREGORY, D. (Org.) David
Harvey: a critical reader. Tradução de Letícia Gianella. Universidade de Nova Yorque: 2006.
MARX, Karl. O capital, crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2013. Livro I.
RIBEIRO, Luiz Cesar de Queiroz. Dos cortiços aos condomínios fechados: as formas de
produção da moradia na cidade do Rio de Janeiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. São Paulo: Edusp, 2004.
SINGER, Paul. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: MARICATO, Ermínia
(Org.). A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil industrial. São Paulo: Alfa-
Omega, 1982).
APÊNDICES
Terras Alphaville
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