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Natal-RN, 2022.
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Natal-RN, 2022.
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BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________
Prof. Dr. Hugo Arruda de Morais (Orientador)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
______________________________________________________
Profª. Drª. Eugênia Maria Dantas (Examinadora Interna)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
______________________________________________________
Prof. Dr. Cláudio Jorge Moura de Castilho (Examinador Externo)
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
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Dedico a minha mãe Karine Roseane, que mesmo em momentos difíceis, nunca
desistiu. Suas palavras e sua fé em mim sempre foram minha inspiração.
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
A análise entre o espaço e sociedade, a partir da relação entre o povo e seu território,
foi uma problemática existente na literatura brasileira no século XIX e início do
século XX. Interpretar a vida econômica, política e cultural do país passou a ser o
objetivo de vários intelectuais, permitindo não só a formação de um sentimento de
nacionalidade, mas também, de uma representação do território e de sua população,
durante o processo conjuntural vivenciado pelo país naquele momento. Dentre as
várias obras que se destacam no período, o livro Os Sertões de Euclides da Cunha,
chama a atenção. Considerado um dos principais autores da literatura brasileira,
Euclides, ao retratar os fatos da Guerra de Canudos, deflagrada no interior da Bahia,
no ano de 1896, expõe não somente o contexto da guerra civil que se desencadeou em
Canudos, mas um sertão desconhecido e desintegrado do restante do espaço
nacional. Dividido em três partes, A Terra, O Homem e a Luta, o livro, Os Sertões,
estabeleceu uma perspectiva de saber histórico e geográfico que foi capaz de
contribuir para abertura de um caminho que possibilita a leitura do Brasil. Essas
observações introduzem a questão central da presente pesquisa: Quais as principais
contribuições geográficas do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, para a
interpretação da formação territorial do Brasil? Com base neste questionamento
norteador, tem-se como objetivo central analisar as principais contribuições
geográficas do livro, Os Sertões, de Euclides da Cunha para a interpretação da
formação territorial do Brasil. Para tal, parte-se do entendimento teórico de que o
conhecimento geográfico, como uma forma de interpretação da história do homem
na ocupação do espaço, pode ser visto em diversas ideologias e discursos que
emergem em várias esferas do entendimento, tais como: o acadêmico, o literário, os
discursos políticos, a ensaística e/ou relatos de viagem. À vista disso, presencia-se na
Literatura desse período o debate das representações sobre o território e a sociedade
brasileira, permitindo serem interpretados como discursos geográficos, dado que eles
exerceram um papel social e que consistia em manifestar a dinâmica presente no
contexto responsável por delimitar e definir território e povo. O procedimento
metodológico deu-se por meio dos elementos de compreensão da obra e por uma
análise crítica do discurso presente no livro. Por conseguinte, a investigação permitiu
a construção de uma percepção do discurso geográfico em Euclides da Cunha, por
meio do livro Os Sertões, e como esse discurso desencadeou um pensamento sobre a
representação espacial do território do Brasil.
ABSTRACT
The analysis between space and society, based on the relationship between the
people and their territory, was an existing problem in Brazilian literature in the
nineteenth century and early twentieth century. Interpreting the economic, political,
and cultural life of the country became the goal of several intellectuals, allowing not
only the formation of a feeling of nationality, but also a representation of the territory
and its population, during the conjunctural process experienced by the country at
that time. Among the many outstanding works of the period, Os Sertões (Rebellion in
the Backlands) written by Euclides da Cunha stands out. Considered one of the main
authors of Brazilian literature, Euclides, in portraying the facts of the War of
Canudos, which broke out in the interior of Bahia in 1896, exposes not only the
context of the civil war that broke out in Canudos, but also an unknown hinterland
disintegrated from the rest of the national space. Divided into three parts, The Land,
The Man and the Struggle, the book, Os Sertões (Rebellion in the Backlands),
established a perspective of historical and geographical knowledge that was able to
contribute to the opening of a path that enables the reading of Brazil. These
observations introduce the central question of this research: What are the main
geographical contributions of the book Os Sertões (Rebellion in the Backlands)
written by Euclides da Cunha, to the interpretation of the territorial formation of
Brazil? Based on this guiding question, our central objective is to analyze the main
geographical contributions of the book Os Sertões (Rebellion in the Backlands)
written by Euclides da Cunha for the interpretation of the territorial formation of
Brazil. For this purpose, we start from the theoretical understanding that geographic
knowledge, as a form of interpretation of the history of man in the occupation of
space, can be seen in various ideologies and discourses that emerge in various
spheres of understanding, such as: the academic, the literary, the political discourses,
the essayistic and/or travel reports. In view of this, we witness in the literature of
this period the debate of the representations about the territory and the Brazilian
society, allowing them to be interpreted as geographical discourses, since they
played a social role and consisted in manifesting the dynamics present in the context
responsible for delimiting and defining territory and people. The methodological
procedure was carried out through the elements of understanding the work and a
critical analysis of the discourse present in the book. Therefore, the research allowed
the construction of a perception of the geographic discourse in Euclides da Cunha,
through the book Os Sertões (Rebellion in the Backlands), and how this discourse
triggered a thought on the spatial representation of the territory of Brazil.
LISTA DE QUADROS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12
2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS ......................... 20
2.1 A concepção de discursos geográficos ....................................................... 20
2.2 Literatura brasileira como arcabouço histórico-espacial do Brasil ....... 24
2.3 Procedimentos Metodológicos e Técnicos ................................................ 27
2.3.1 Os elementos de compreensão como percurso ........................................... 28
2.3.2 A Análise Crítica de Discurso como técnica ............................................... 31
3. A OBRA OS SERTÕES: TEMAS, LINGUAGEM E DIMENSÃO
ESPACIAL ....................................................................................................... 36
3.1 Euclides da Cunha e as características gerais do livro Os Sertões ........... 36
3.2 A linguagem literária e a perspectiva filosófica e científica: narrativas
e temas .............................................................................................................. 47
3.3 Os Sertões e teoria interpretativa sobre o Brasil moderno: o discurso
euclidiano da nacionalidade pelo espaço .................................................... 51
4 DISCURSO GEOGRÁFICO E A INTERPRETAÇÃO DA
FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL EM EUCLIDES DA
CUNHA ........................................................................................................... 58
4.1 O sertão na organização espacial do Brasil ............................................... 58
4.1.1 A natureza do sertão: deserto e paraíso ...................................................... 58
4.1.2 O Sertão e a visão dos dois Brasis ................................................................. 61
4.2 O Sertão e a representatividade de uma nacionalidade ......................... 67
4.2.1 A nacionalidade mestiça e em construção .................................................. 67
4.2.2 A sociedade sertaneja: fé, pecuária e nacionalidade .................................. 69
4.2.3 Os Sertões e o saber geográfico ................................................................... 71
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 77
1. INTRODUÇÃO
Com uma escrita forte e com grande caráter cientificista e literário, Euclides da
Cunha afirmava ser, incialmente, uma publicação voltada a contar o ocorrido
durante a guerra, porém, se torna um livro de denúncia ao grande “crime” ocorrido
no Brasil: “A campanha de Canudos tem por isto a significação inegável de um
primeiro assalto, em luta talvez longa [...] Aquela campanha lembra um refluxo para
o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime” (CUNHA, 2017, p.
35). Chegando a afirmar que houve um avanço impiedoso da “civilização” contra o
sertão e o povo sertanejo, como sendo uma “força motriz da História” (CUNHA,
2017, p. 34).
Dividido em três partes, A Terra, O Homem e a Luta, a obra, Os Sertões,
estabeleceu uma perspectiva de saber histórico que possibilitou uma leitura do país.
Embora possuísse uma visão de forte caráter positivista, determinista e
evolucionista1, Euclides apresentou descrições e análises que mostraram um forte
saber geográfico ao apresentar uma indissociabilidade do homem e o meio na
organização do espaço.
É importante destacar que Euclides não era geógrafo. Isso o “exime” de
“culpas” de alguns erros teóricos e de método dentro da geografia. No entanto, não
podemos desprezar o saber geográfico presente no seu livro, que é de suma
importância, dado que é um conhecimento capaz de contribuir para a abertura de
um caminho que possibilite a leitura da formação territorial do Brasil.
Tal hipótese é uma tentativa de mostrar claramente seu pensamento com
perspectivas modernas até então, e com forte capacidade científica (CÂNDIDO,
2006), mas, principalmente, com grande contribuição a Geografia (ANDRADE, 1977).
Esse discernimento, nos possibilita compreende que há no Brasil um saber que
extrapola os critérios acadêmicos da ciência geográfica.
1Euclides tem uma visão carregada de forte cientificismo do século XIX. Traz análises centradas na
relação em que o homem é fruto do meio, este último irá influenciar tanto na fisiologia (somatismo) e
na psicologia (caráter) dos indivíduos e, através destes, na sociedade: “A nossa História traduz
notavelmente estas modalidades mesológicas” (CUNHA, 2017, p. 105). Ao mesmo tempo, o autor
afirma que o meio físico tem um peso muito forte na organização e formação social do sertanejo e da
sociedade brasileira como um todo. Mostra que o território do Brasil é fruto de um quadro natural e
que este tem uma grande influência “logo na fase colonial” (CUNHA, 2017, p. 106).
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Esses saberes possuíam sua temática centrada numa análise da interação entre
o homem e a superfície terrestre (MORAES, 2008), sendo nomeados assim como
discursos geográficos, uma vez que formularam um conjunto de pressupostos que
incidem sobre as temáticas abordadas pela Geografia e que embasam a noção
científica desse conhecimento. Entretanto, faz-se necessário ressaltar que tais saberes
não adquirem o rótulo concebido pela ciência geográfica, mas que ultrapassam essa
concepção, dentro de um contexto de ideologias (MACHADO, 2000).
Ainda segundo Moraes (1991), o discurso geográfico é uma forma de
representação espacial, colocando a ideia geográfica e o debate ideológico de Estado-
Nação, povo e território como centrais. Para o autor, o traço que marca tais ideias é a
21
forte ligação entre o saber proferido e a afirmação das identidades nacionais. Assim,
afirma:
[...] um traço, todavia, (que) parece aproximar as várias manifestações: a
centralidade do discurso geográfico nos momentos de ordenamento ou
reordenamento das esferas de dominação estatal necessariamente momentos
de dificuldade na afirmação das identidades (MORAES, 1991, p. 167).
determinação, antes reforçam-na [...]” (MORAES, 1991, p. 168). Nesse caso, a unidade
e o reconhecimento de nação vêm da perspectiva de reconhecer e conquistar o
território. Com isso, surge a perspectiva da “identidade pelo espaço” (MORAES,
1991, p. 168).
Tal panorama é apresentado uma vez que o entendimento do discurso
geográfico, construído ao longo do século XIX, parte de um conjunto de reflexões
sociais que é fruto de uma leitura de realidade existente. Nesse caminho,
compreendemos que o lugar de ideias e um pensamento geográfico se constitui a
partir desse conjunto de reflexões que se fundamentam no meio (MORAES, 1991).
Porém, sem perder de vista a perspectiva da construção de um discurso que traga
um conjunto de idealizações desse real.
Tal reflexão nos aproxima da concepção de ideologias geográficas apresentada
por Machado (2000). Para essa autora, não há saber que se descole de sua realidade, é
um erro pensar assim:
[...] a vida intelectual é independente dos conflitos internos, e de que os
intelectuais são capazes de uma autonomia conceptual e de originalidade
qualquer que seja a condição concreta da sociedade que os produziu, é, no
mínimo, bastante discutível (MACHADO, 2000, p. 02).
O Brasil por muito tempo - se não até hoje - esboçou-se enquanto um projeto
em construção, sendo o seu Estado constituído antes de sua nacionalidade
(MORAES, 2005). Com isso, ao longo do século XIX, o pensamento social brasileiro,
por meio da literatura, estabeleceu como sua missão histórica “[...] ajudar a construir
uma nação civilizada” (ZILLY, 1995, p. 05).
Nesse sentido, as atividades dos intelectuais brasileiros estavam ligadas muito
ao contexto de aparecimento do Estado-nação moderno, do nacionalismo, o
desenvolvimento das ciências humanas e a organização da população no território
(SEVCENKO, 2003).
Partindo dessa perspectiva, concordamos com Cândido (1991) que o
nacionalismo presente na literatura é fruto do contexto de formação do Estado e da
identidade nacional:
[...] o nacionalismo artístico não pode ser condenando ou louvado em
abstrato, pois é fruto de condições históricas – quase imposição nos
momentos em que o Estado se forma e adquire fisionomia nos povos antes
desprovidos de autonomia ou unidade. Aparece no mundo contemporâneo
como elemento de autoconsciência, nos povos velhos e novos que adquirem
ambas, ou nos que penetram de repente no clico da civilização ocidental,
esposando as suas formas de organização política (CÂNDIDO, 1991, p. 27).
2É importante destacar que Oliveira (1900) coloca esses intelectuais no quadro da “geração de 1870”.
A autora chama atenção para o papel dessa geração de 1870 que buscou criar um sentimento de pátria
em seus escritos, no qual a nacionalidade era um critério central na produção literária: “Entender o
Brasil, construir o Brasil, era uma meta fundamental para esses homens que julgavam que o país
26
Também, chama atenção que esses intelectuais tiveram suas ideias centradas
em concepções científicas e filosóficas do positivismo, darwinismo, spencerismo e no
materialismo: “cientificismo do século XIX analisava o mundo humano como um
objeto em mutação, um mundo histórico cuja evolução era regida por leis naturais”
(OLIVEIRA, 1990, p. 83). O que, nas palavras de Zilly (1999), há nessa forma de saber,
uma forte influência no âmbito mundial do pensamento universal e no Brasil das
ideias evolucionistas, do entendimento força da raça branca e da homogeneidade
étnica.
Nesse sentido, a partir da segunda metade do século XIX, abriu-se no país um
debate com mais rigor de caráter geográfico e científico mais presente, inaugurando
uma nova visão da paisagem e do território brasileiro. Magnoli (1997) afirma que o
território brasileiro passou a ganhar dimensões reais e capaz de ser caracterizado.
Por isso, a produção literária e intelectual deu mais cientificidade aos seus relatos,
passando o território a ser representado nos seus limites fronteiriços.
Nesse caminho, o livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, assume um papel
fundamental nesse processo de produção literária, uma vez que apresenta uma
descrição com forte imaginário espacial do país, mas também, com autoridade de
construção de uma identidade à nação, por meio do território e da região de
Canudos no sertão nordestino.
Por fim, como terceira etapa do percurso metodológico, buscou-se uma análise
dos elementos discursivos em Euclides, por meio da técnica de análise crítica do
discurso, numa perspectiva que possibilite uma compreensão da forma de
representação do território e da população, como também, a descrição e análise da
dinâmica da organização espacial e territorial do Brasil, a partir do livro Os Sertões.
Com o objetivo de deixar mais claro as escolhas teóricas, mas, principalmente,
metodológicas, as etapas dois e três, citadas anteriormente, estão melhor detalhadas e
explicitadas nas duas próximas seções.
como o escritor o fez para retratar essa realidade presentes no texto (CÂNDIDO,
2014). Logo, não se busca o autor em si na sua produção, mas a posição dele face ao
tema abordado e, como manifesta a sociedade e seu território por meio da descrição
feita. Cândido (2014) afirma ainda: “Consiste nisso e mais em analisar a visão que a
obra exprime do homem, a posição em face dos temas, através dos quais se
manifestam o espírito ou a sociedade” (CÂNDIDO, 2014, p. 34).
Portanto, o aspecto social externo ao livro torna-se interno, pois entrelaça-se as
palavras do romancista e a sua visão de mundo, seus costumes, sua cultura,
ambiente e ideias (CÂNDIDO, 2014). O crítico literário ressalta que:
Quando fazemos uma análise deste tipo, podemos dizer que levamos em
conta o elemento social, não exteriormente, como referência que permite
identificar, na matéria do livro, a expressão de uma certa época ou de uma
sociedade determinada; nem como enquadramento, que permite situá-lo
historicamente; mas como fator da própria construção artística, estudado no
nível explicativo e não ilustrativo” (CÂNDIDO, 2014, p.16).
saber o que o “texto exprime” (CÂNDIDO, 2000, p. 35). Desse modo, o foco não era
buscar averiguar na obra a pessoa do autor Euclides da Cunha, mas a posição dele
face ao tema abordado, a Guerra em Canudos, e como o escrito manifesta uma
descrição sobre o território e a organização da sociedade.
Diante dessa posição, o caminho percorrido consistiu “[...] em analisar a visão
que a obra exprime do homem, a posição em face dos temas, através dos quais se
manifestam o espírito ou a sociedade” (CÂNDIDO, 2000, p. 34). Nisso, buscou-se
“nas condições do meio”, ou seja, da realidade territorial, os elementos necessários
para se entender o significado e “a realidade superior do texto” (CÂNDIDO, 2000, p.
35).
Dessa forma, a partir de Cândido (2000), buscou-se analisar três aspectos
centrais no livro Os Sertões: a) o autor e a estrutura da obra; b) a linguagem e o
conhecimento científico e filosófico empregado no texto por Euclides; e, por último,
c) a dimensão espacial presente na descrição do texto (Quadro 01).
Tema/
Tema central em
Capítulo Centralidade do
Euclides da Cunha
Discurso geográfico
Título/Numeração Resumo do objetivo a) A representação espacial da nação:
do Capítulo central do capítulo argumentos que criam imagens sobre
o território e o povo; da leitura da
formação-nacional-territorial.
c) A dinâmica da organização
espacial do Brasil.
de Janeiro, o autor de Os Sertões divide sua obra em três partes estratégicas: A Terra,
O Homem e A Luta, como pode ser observado no quadro 04 abaixo:
Depredações. O templo.
Estrada para o céu. As rezas.
Agrupamentos bizarros. O
“beija” das imagens. Por que
não pregar contra a
República? Uma missão
abordada. Retrato do
Conselheiro. Maldição sobre
a Jerusalém de taipa.
Capítulo 01 Preliminares; Antecedentes.
Causas próximas da luta. Ao longo desta
Capítulo 02
Uauá. parte do livro,
Preparativos da reação. A Euclides
Capítulo 03
guerra das caatingas. apresenta-nos a
Autonomia duvidosa. Guerra de
Canudos, suas
causas e
consequências não
Capítulo 04 só para a
população
sertaneja, mas
para o Brasil.
Incidentes. Um guia
temeroso: Pajeú. No
“Rosário”. Passagem nas
Pitombas. Recordações
cruéis. O alto da Favela.
Fuzilaria. Crítica. Trincheiras
dos Jagunços. Continua a
fuzilaria. Acampamento na
Favela. Canudos. Chuva de
balas. Confusão e Desordem.
Baixas. Uma divisão
aprisionada. Coluna
Savaget. De Aracaju a
Canudos. Carlos Teles.
Cocorobó. Retrospecção
geológica. Diante das
trincheiras. Carga de
baionetas excepcional. A
travessia. Macambira. Nova
carga de baionetas. Fuzilaria.
Bombardeio. Trabubu.
Emissário inesperado.
Destrói-se um plano de
campanha. Vitória singular.
O medo. Baixas. Começo de
uma batalha crônica.
Canhoneio. Réplica dos
jagunços. Regímen de
privações. Aventuras do
cerco. Caçadas perigosas.
Desânimos. Assalto ao
acampamento. A
“matadeira”. Atitude do
comando-em-chefe. Outro
olhar sobre Canudos.
Desânimo. Deserções
heroicas. Um choque
galvânico na expedição
combalida. O assalto. Plano
do assalto. O recontro. Linha
de combate. Crítica.
Confusão. Tocaias dos
jagunços. Nova vitória
desastrosa. Baixas. Nos
flancos de Canudos. Posição
crítica. Notas de um diário.
44
fazem do texto de Euclides uma obra com uma linguagem literária, mas com fortes
marcas científicas3 (SCHNEIDER, 2013).
Todavia, o engenheiro também foi responsável por representar as novas ideias
modernistas para o país e por desempenhar um papel de “homem de Estado,
interessado em pensar o Brasil” (SCHNEIDER, 2013, p.67), em um momento em que
o “país ansiava por compreender a si próprio” (ABREU, 1998, p. 05).
Para Abreu (1988), a guerra de Canudos despertou uma profunda reflexão
sobre o Brasil e o livro Os Sertões é uma mistura de “Emoção e razão, arte e ciência”,
com uma qualidade artística e uma forte rigidez científica.
Mas, além de ser um livro com fortes características científicas e literárias,
tanto Os Sertões, como as demais obras de Euclides, possui uma forte dimensão
espacial:
Um dos critérios que se prestam para uma ordenação geral da obra de
Euclides da Cunha, tendo em vista um estudo mais aprofundado e
sistemático, é o da distribuição regional proposto e seguido em seus textos,
guardando por si só uma significação altamente expressiva para a
compreensão do seu pensamento e de sua arte (SEVCENKO, 2003, p. 162).
3Esse pensamento de redigir uma obra a partir de uma feição cientifica foi partilhado por diversos
outros autores do período em suas produções (SCHNEIDER, 2013). Contudo, a particularidade do
discurso de Os Sertões se dá devido a sua peculiaridade de unificar a ciência e a arte (ABREU, 1988;
SVECENKO, 2003; BERNUCCI, 1998).
47
O que o exasperava, assim como no que tange à terra, mas com relação ao
homem com muito mais intensidade, era o desprezo, a indiferença, o pouco-
caso com que se consumiam as populações do país, como se fossem
consideradas recursos superabundantes, e, portanto, supérfluos e
prescindíveis, como ocorria com as matas e os solos (SEVCENKO, 2003, p.
174).
Com isso, o engenheiro que se fez escritor, apresentou em seus vários textos,
aspectos sociais e que dialogam com a temática científica: “Euclides da Cunha forjou
um estilo elevado híbrido, subordinado sobretudo a um novo critério científico, mas
conservando algo de seu conteúdo social anterior” (SEVCENKO, 2003, p. 160).
Nesse caminho, em Os Sertões, Euclides relata a região sertaneja em mesma
medida que a descobre transmitindo através de uma ótica metafórica, relevadora e
enérgica (SEVCENKO, 2003), demonstrando um apego a estrutura textual em que
permite ser sua escrita altamente elaborada e rebuscada.
Para Amory (2009), há na obra de Euclides um “Léxico mental”, ou seja, uma
linguagem literária difícil e com forte senso científico, uma vez que o autor ficou
muito preso a sintaxe, ou seja, a construção das frases. Configurando-se, portanto,
enquanto uma linguagem que é um misto contraditório entre “século XIX literário,
romântico e idealista; e o século XX, científico, naturalista e materialista”
(SEVCENKO, 2003, p. 159). Isso porque, apesar de sua vertente cientificista, Euclides
também buscou narrar o evento através de uma ótica poética e de prosa (BERNUCCI,
1998).
Com isso, percebe-se no livro uma narrativa que visou combinar suas as
estéticas e estilos ao longo de sua construção. Dessa forma, o aspecto literário tem
como função preencher os hiatos não presenciados pelo autor, e o científico traz a
face objetiva e factual da obra. Nesse sentido, há ao longo do livro uma “discrepância
entre as realizações artísticas e a precisão científica” (BERNUCCI, 1998, p. 6).
Nessa direção, há um constante entrelaçar, entre homem das letras e da
ciência, daí a sua originalidade:
Por esta razão, Euclides pode ser considerado um escritor original que, em
princípio, gostava de narrar pelo simples fato de narrar, logrando assim o
efeito estético desejado que iria auxiliá-lo na explicação dos fenômenos
históricos e científicos. Mas o homem das ciências predomina ao longo do
livro (BERNUCCI, 1998, p. 7).
Porém, nesse capítulo, podemos destacar, mais uma vez, o estilo na escrita de
Euclides. É um dos momentos em que o autor faz uso de uma linguagem poética e se
coloca dentro da obra e do ambiente do sertão nordestino:
Percorrendo certa vez, nos fins de setembro, as cercanias de Canudos,
fugindo à monotonia de um canhoneio frouxo de tiros espaçados e soturnos,
encontramos, no descer de uma encosta, anfiteatro irregular, onde as colinas
se dispunham circulando a um vale único. Pequenos arbustos, icozeiros
virentes viçando em tufos intermeados de palmatórias de flores rutilantes,
davam ao lugar a aparência exata de algum velho jardim em abandono. Ao
lado uma árvore única, uma quixabeira alta, sobranceando a vegetação
franzina (CUNHA, 2017, p. 62) (grifo nosso).
Essa citação mostra como o cientista que se faz poeta e se coloca na realidade,
ao afirmar que percorre o sertão, Euclides passa a narrar o que é o clima do sertão.
Mas, ao mesmo tempo, passa a descrever, em seu trajeto para Canudos, um cadáver
de um ex-combatente, por meio de uma retórica que busca um efeito na interpretação
do ouvinte:
O sol poente desatava, longa, a sua sombra pelo chão, e protegido por ela —
braços largamente abertos, face volvida para os céus, — um soldado
descansava. Descansava... havia três meses. [...] E estava intacto. Murchara
apenas. Mumificara conservando os traços fisionômicos, de modo a incutir a
ilusão exata de um lutador cansado, retemperando-se em tranqüilo sono, à
sombra daquela árvore benfazeja. Nem um verme — o mais vulgar dos
trágicos analistas da matéria — lhe maculara os tecidos. Volvia ao turbilhão
da vida sem decomposição repugnante, numa exaustão imperceptível. Era
um aparelho revelando de modo absoluto, mas sugestivo, a secura extrema
dos ares” (CUNHA, 2017, p. 62).
Esses exemplos são tomados aqui para mostrar que se delineia ao longo de Os
Sertões um diálogo estabelecido entre a realidade e as lacunas imaginativas
51
Para Svecenko (2003), entre 1870 e o início do século XX, o Brasil passou por
profundas transformações, principalmente, com relação a escravidão e a Monarquia.
Mudanças que proporcionavam novos rumos que o Brasil seguia (MACHADO,
52
2000). Porém, uma das características que marca esse momento é a busca do
pensamento social brasileiro pela definição de uma identidade nacional (LIMA,
1998).
Conforme nos aponta Lima (1998), os intelectuais nesse ensejo buscavam em
seus escritos caminhos interpretativos para o Brasil, colocando-o no debate dos
Estados nacionais modernos, constituindo-se, com isso, numa geração de modernista
de 1870 (CÂNDIDO, 1991) ou na “República dos Conselheiros” (SVCENKO, 2003, p.
60).
Para isso, temas como a raça, povo, o meio e a identidade nacional passaram a
compor a cena política e a centralidade do debate dos intelectuais do país:
O final do século XIX, em todo o mundo ocidental, foi um período de
intensa sensibilidade nacionalista, em que os debates intelectuais sobre as
supostas qualidades intrínsecas das “raças” humanas estavam na ordem do
dia. No Brasil, como não poderia deixar de ser, os termos “raça”, “povo”,
“nação” e “natureza tropical” compunham um vocabulário quase
inescapável às discussões políticas do período” (SCHNEIDER, 2013, p. 69).
4Por conta das restrições impostas pela pandemia da COVID-19, não tivemos contato ao livro em seu
formato físico. Dessa forma, o arquivo em pdf que tivemos acesso não constava as páginas da obra
citada. Por isso, as próximas citações diretas da referida autora e obra não terão as páginas
referenciadas.
54
mesmo tempo, em que era atribuído a esse espaço condicionantes singulares de sua
formação e que impediam o seu desenvolvimento, tais como: a atividade econômica,
o meio e, principalmente, o distanciamento do poder público e da sociedade
litorânea.
Tais fatores incidiram sob a constituição territorial do sertão, tornando-o algo
singular, díspare e desassociada do restante da nação. Assim, observa-se em Os
Sertões:
Reproduzamos, intactas, todas as impressões, verdadeiras ou ilusórias, que
tivemos quando, de repente, acompanhando a celeridade de uma marcha
militar, [demos de frente, numa volta do sertão, com aqueles desconhecidos
singulares, que ali estão — abandonados — há três séculos. (CUNHA, 2017,
p.132).
Toda aquela região apresenta o “cautério das secas” (CUNHA, 2017, p.17), se
projetando enquanto um local duro e de difícil adaptação. Era um território brasileiro
novo e diferente do conhecido. O sertão se faz irredutível, inacessível e repulsivo,
capaz de moldar uma sociedade única. Seu clima, vegetação, orografia, geologia, ou
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seja, todos seus aspectos físicos são condicionados a serem elementos repelentes5.
Daí, porque encontra-se a descrição de uma flora “agonizante” e “moribunda”
(CUNHA, 2017, p.70).
Nessa perspectiva, consegue-se observar no livro, e com destaque primeiro
para a parte da Terra, um conjunto de descrições que compõe “páginas
rigorosamente geográficas” (AZEVEDO, 1950, p. 35), uma vez que foi capaz de
demonstrar a dura realidade, ainda que romanceada, a partir de elementos literários,
do semiárido. O território brasileiro do sertão passa a ser descrito e apresentado
enquanto realidade. Nisso, ganha dimensão de uma imagem e/ou representação
geográfica.
Assim, Euclides compara:
Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma
estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte
largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga;
abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e
não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os
gravetos estalados em lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas,
imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e
secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-
se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora
agonizante... (CUNHA, 2017, p. 69). (grifo nosso)
5Abramos um parêntese. É notório em nossa leitura que Euclides da Cunha assume, por diversas
vezes, uma postura determinista e preconceituosa, tendo em vista que foi influenciado pelo contexto
científico do período. Sua obra encontra-se permeada de ideias deste cunho apesar de não
referenciadas. Isso pode ser compreendido, por exemplo, através de sua caderneta de campo, uma vez
que nela encontramos notas sobre consultar o material escrito pelo Naturalista Alexander von
Humboldt. Notas que buscam trazer explicações e dados sobre a botânica dos trópicos. Porém, em sua
obra final, não encontramos citações diretas aos cientistas do período.
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Por meio disto, reproduziam ali “uma quase fixidez nos caracteres fisiológicos
do tipo emergente” (CUNHA, 2017, p.130), onde, em seu ponto de vista, apesar do
desequilíbrio característico dos mestiços, o povo do sertão foi capaz de manter uma
estrutura sociológica fixa.
Nesse caminho de pensamento, Euclides apresenta um país que se divide e
que tem, em um de seus territórios, a formação de uma sociedade que é fruto de um
insulamento condicionado pelo meio físico, mas também, pelo processo da formação
econômica colonial. É claro que o ambiente, para ele, dentro de sua visão
determinista e evolucionista, por si só já apresenta uma condição de isolamento e de
caráteres repelentes a qualquer um que buscasse ali se fixar. Porém, as condições de
atividades impostas pelo sistema colonial foram apresentadas por ele como condição
para que os sertanejos fossem mantidos “inteiramente divorciados do resto do Brasil
e do mundo” (CUNHA, 2017, p.121), construindo e mantendo durante trezentos anos
de nossa história as suas estruturais culturais singulares.
Dessa forma, observa-se que para Euclides, aquela sociedade constituída no
entremeio dos “canaviais da costa e o sertão, entre o mar e o deserto, num bloqueio
engravecido pela ação do clima” (CUNHA, 2017, p.110) estiveram condicionados a
este divorcio em seu próprio solo, gerando um contraste que “não se baseia, por
certo, em causas étnicas primordiais” (CUNHA, 2017, p.110). Mas, que é “delineada,
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O sertanejo, tipo que o autor d’Os Sertões se dedica com afinco a descrever e
retratar por meio de uma linguagem poética e dramática, preenchida por oposições,
dicotomias e hipérboles, se apresenta para ele como uma incógnita que esteve
empenhado em decifrar.
Este árduo e conflituoso trabalho é apresentado ao leitor em toda a obra,
porém, de forma mais atenta em seu terceiro capítulo da segunda parte, “O
Sertanejo”. Nessa seção, Euclides inicia sua exposição da seguinte forma:
O sertanejo é, antes de tudo, um forte, não tem o raquitismo exaustivo dos
mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro
lance de vista revela o contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o
desempenho, a estrutura corretíssima das organizações atléticas. É
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O fazendeiro dos sertões vive no litoral, longe dos dilatados domínios que
nunca viu, às vezes. Herdaram velho vício histórico. Como os opulentos
sesmeiros da colônia, usufruem, parasitariamente, as rendas das suas terras,
sem divisas fixas. Os vaqueiros são-lhes servos submissos. Graças a um
contrato pelo qual percebem certa percentagem dos produtos, ali ficam,
anônimos — nascendo, vivendo e morrendo na mesma quadra de terra —
perdidos nos arrastadores e mocambos; e cuidando, a vida inteira, fielmente,
dos rebanhos que lhes não pertencem (CUNHA, 2017, p.140). (grifo nosso)
Tais condições faziam com que se formasse ali uma comunidade quase que de
súbito. Um crescimento desregulado, onde se fazia até doze casas por dia e se
“formava, a tapera colossal parecia estereografar a feição moral da sociedade ali
acoutada.” (CUNHA, 2017, p.192).
Para Cunha, seu aspecto espacial refletia a desordem social, dado isso ele a
descreve:
Ausência de ruas, as praças que, a parte a das igrejas, nada mais eram que o
fundo comum dos quintais, e os casebres unidos, tornavam-no como
vivenda única, amplíssima, estendida pelas colinas, e destinada a abrigar
por pouco tempo o clã tumultuário de Antônio Conselheiro. (CUNHA, 2017,
p.195).
Nesse caminho, afirmava ser uma sociedade selvagem (CUNHA, 2017, p.197)
e de aparência deplorável (CUNHA, 2017, p.197), em que refletia em sua fisionomia
as condições em que foram gestadas.
Porém, e de forma contraditória, como é tudo em Euclides, o autor de Os
Sertões afirma esses costumes tão excêntricos e isolado do resto do país fez com que
no sertão do Nordeste se constituísse divorciado do restante do espaço nacional e sua
expansão só alcançou aquela comunidade após mais de séculos. Euclides ainda
afirma ser o sertanejo a “rocha viva de uma nacionalidade.” (CUNHA, 2017, p.562),
os quais representados pelos canudenses, foram amaldiçoados e arrebatados para
uma guerra “monstruosa e ilógica” (CUNHA, 2017, p.259).
Tal perspectiva pode ser vista claramente quando Euclides analisa o combate
entre o exército republicano e os sertanejos de Canudos. Na visão do autor d’Os
Sertões, a guerra, enquanto uma manifestação do projeto nacional, colocou frente a
frente brasileiros contra brasileiros. Mas, principalmente, pois luz ao intuito
autoritário do Estado republicano que tentava “encobrir” a realidade desigual do
país, apresentando aquela parcela da população brasileira, não como desassistida e
isolada física e socialmente, mas como uma comunidade de retrógrados (CUNHA,
2017 p.131).
Para ele, tal condição torna-se clara na guerra de Canudos:
Decididamente, era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um
objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um
povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra
mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e
bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma
propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para nosso tempo e
incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários
(CUNHA, 2017, p.496). (grifo nosso)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Porém, indo além dessa questão, entendeu-se que o discurso apresenta uma
leitura de Brasil que volta o seu olhar para o interior. Euclides possibilita os
primeiros passos para se interpretar o que é a nação e o povo brasileiro com base na
perspectiva de formação territorial e organização espacial.
Observa-se que suas principais contribuições para o saber geográfico é trazer
uma representação espacial do Brasil. Nesse caminho, apresenta o sertão como uma
categoria geográfica, sendo descrito como real e imaginário; dando a essa realidade
uma imagem espacial e simbólica; também, apresenta um discurso que tem
determinações históricas e que permite uma representação espacial que passa a ser
uma forma de debate ideológico da nação. Resumindo, Euclides apresenta um
discurso geográfico baseado na representação espacial, colocando a ideia geográfica e
o debate ideológico de Estado Nação, povo e território como central.
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