Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A TERRA PROMETIDA:
GEOGRAFIA E LITERATURA ENQUANTO REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO
VIVIDO
MARINGÁ
2020
GUSTAVO GABRIEL GARCIA
A TERRA PROMETIDA:
GEOGRAFIA E LITERATURA ENQUANTO REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO
VIVIDO
MARINGÁ
2020
RESUMO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 10
1 A LITERATURA COMO FONTE DE PESQUISA NA CIÊNCIA GEOGRÁFICA .. 16
1.1 Geografia e literatura ....................................................................................... 23
1.2 Espaço vivido como conceito chave na relação geografia e literatura ....... 32
2 A GEOGRAFIA DO SERTÃO: DE CANUDOS AO CONTESTADO .................... 36
2.1 “Os sertões” como representação imagética ................................................ 36
2.1.1 A formação positivista de Euclides da Cunha ................................................. 38
2.1.2 “Os Sertões” como referencial na apreensão da Guerra de Canudos ............ 41
2.1.3 Visão euclidiana do sertanejo, e a luta pela terra, com base na obra
“Os Sertões”............................................................................................................ .46
2.2 “Geração do deserto” e a terra prometida ..................................................... 66
2.2.1 Considerações iniciais sobre o Contestado .................................................... 68
2.2.2 “Geração do Deserto” e a busca pela terra prometida .................................... 71
3 LITERATURA E ESPAÇO VIVIDO ....................................................................... 85
3.1 A terra prometida ............................................................................................. 89
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 99
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 101
10
INTRODUÇÃO
A relação entre Geografia e Literatura compõe a atual dissertação, por meio das
obras literárias "Os Sertões", de Euclides da Cunha e "Geração do Deserto", de Guido
Wilmar Sassi, os quais representam a espacialidade de milhares de sertanejos em
seus tempos respectivos, permitindo expor as relações de poder que transpassam os
movimentos da luta pela terra e o messianismo. A dissertação está dividida em três
capítulos, além da presente introdução. A mesma está composta pelo tema de estudo,
com as devidas justificativas, objetivo geral e objetivos específicos.
Esse trabalho é resultado de reflexões, que surgiram ao longo da graduação
em Geografia, despertando-me para a relação entre Geografia e Arte, especificamente
da Literatura; de que forma a mesma contribui para desvelar as espacialidades e
tempos, que nortearam os escritores e suas narrativas.
A Geografia possibilita essa aproximação por oferecer meios de compreensão,
interpretação dos aspectos objetivos e subjetivos que envolvem a espacialidade,
sendo a mesma, tangível (espaço concreto) ou imagética, por meio de representações
como no caso de obras literárias. Dessa forma, a literatura colabora para ampliação
do conhecimento referente ao espaço e suas especificidades, enriquecendo os
estudos geográficos.
O entrelaçamento entre Geografia e Literatura não é recente. Segundo Michel
Collot (2012), a ideia de relacionar a literatura com estudos geográficos – ou
naturalistas – tem como marco o ensaio de Madame de Staël (1766-1817), que
opunha as literaturas do Norte às do Sul. Contudo, foi necessário esperar até o início
do século XX, para conceber pela primeira vez, o termo “geografia literária”, que
apareceu inicialmente em um trabalho publicado na França, intitulado de “[...] Esboço
de uma geografia literária, anexada a um estudo sobre [...] As Literaturas das
Províncias”.
As pesquisas de Geografia referente à Literatura, apenas ganharam
visibilidade a partir de 1970, com o avanço da corrente de pensamento humanístico e
crítico, que se tornara predominante nos trabalhos científicos. Autores como Paul
Claval (2008, 2010, 2014), Roberto Lobato Corrêa (2003, 2004, 2007), Armand
Frémont (1980) e Michel Collot (2012), contribuíram diretamente para a
11
quase todas as regiões, como a luta pela terra, opressão em relação a população
mais pobre e a ignorância.
O movimento modernista na Literatura brasileira, inclusive, o regionalismo,
voltou-se o olhar introspectivo para o Brasil, a fim de apresentar a diversidade, a
riqueza da sociedade brasileira e do ambiente natural, como também, denunciar as
injustiças sociais que oprimiam a sociedade.
O primeiro capítulo desta dissertação fundamenta-se apresentando o
referencial teórico e metodológico. Assim, é elaborado um diálogo entre Geografia,
Literatura e suas múltiplas possiblidades de investigação, dando enfoque ao conceito
“espaço vivido,” elaborado por Armand Frèmont (1980).
No capítulo dois é realizada uma breve análise da obra “Os Sertões”,
objetivando investigar a espacialidade do sertanejo, por meio da narrativa euclidiana.
A princípio, é apresentada uma breve introdução sobre a mesma e sua importância
para os estudos geográficos, além da descrição da vida de Euclides da Cunha e do
livro “Os Sertões”, ressaltando suas especificidades. Por fim, é feito uma análise da
obra, dialogando com as questões que permeiam a luta pela terra e o movimento
messiânico. Ainda no segundo capítulo, realiza-se a leitura da obra “Geração do
Deserto,” e as questões referentes à vida dos sertanejos. Essa abordagem permite
uma aproximação entre Geografia e Literatura, que visa explorar a espacialidade da
mesma , e como essa, pode auxiliar na apreensão dos conflitos que ocorreu no
Contestado. O segundo capítulo é mais extenso que os demais, por tratar de duas
obras literárias, e suas especificidades ligadas à luta pela terra e messianismo.
O terceiro capítulo faz correlação entre as obras “Os Sertões” e “Geração do
Deserto” e como contribuem para análise do espaço vivido dos caboclos. Esse
capítulo enfatiza a importância da Literatura como foco narrativo, daqueles que são
esquecidos dos meios de comunicações oficiais.
O objetivo geral do presente trabalho é estudar os movimentos messiânicos, e
a disputa pela terra, através da Literatura nacional. Assim, foi escolhido duas obras, a
primeira, “Os Sertões” de Euclides da Cunha, que retrata a “Guerra de Canudos”
(1896-1897) no interior da Bahia, e a segunda, “Geração do Deserto” de Guido Wilmar
Sassi, que narra a “Guerra do Contestado” (1912-1916), que aconteceu nas áreas
limítrofes, entre os atuais estados de Santa Catarina e Paraná.
14
Para tanto, será estabelecido a leitura dos espaços vividos, a partir das obras
selecionadas, considerando a percepção do autor e personagens como dimensão
espacial da realidade. Para interpretar a representação do sertanejo, através da
narrativa, será necessário, assim, compreender como a Literatura está relacionada ao
espaço, e qual sua contribuição para os estudos geográficos. E por fim, como a
Literatura contribui para contrapor o discurso oficial.
Como procedimento metodológico, foi realizado a leitura das obras “Os
Sertões”, de Euclides da Cunha e “Geração do Deserto”, de Guido Wilmar Sassi,
estabelecendo relações com os movimentos da luta pela terra e messianismos, como
elementos em comum.
Tais aspectos semelhantes nas respectivas obras, representam as questões
agrárias do Brasil, em duas regiões distintas – a primeira, no nordeste, e a segunda
no sul do país; no entanto, ambas apresentam similaridades, inclusive, na organização
desses movimentos.
Duas regiões distintas em suas características físicas e naturais, foram palcos
de movimentos similares, ressaltando os aspectos sociais, econômicos e políticos do
Brasil como geradores desses conflitos. De acordo com Queiroz (1981, p.17):
É uma nova geografia que há que inventar, rompendo ainda divisórias entre
disciplinas, com geógrafos abertos à literatura e à arte, e homens de letras a
par da geografia. As especializações atuais progridem muito pouco nesse
sentido. Em última instância, a pedagogia do espaço deve ser criativa. [...]
Sobretudo, quando se impõe como objetivo a elaboração de documentos de
síntese que fazem apelo a uma certa imaginação, ao mesmo tempo, que ao
espírito de análise. Mas é preciso ir mais longe, incitar à crítica do que existe,
recusar a ordem do “standard”, suscitar a elaboração de projetos que deem
aos lugares habitados, aos espaços de reunião, às regiões a viver, as cores
e as formas, as necessidades e os sonhos de imaginações jovens.
Descobrir o espaço, pensar o espaço, sonhar o espaço, criar o espaço... Uma
pedagogia nova para um espaço vivido [...] (FRÉMONT,1980, p.262).
1
Filosofia que relaciona um fato com sua causa final.
18
Isto posto, a Geografia cultural nasceu das análises dos gêneros de vida,
ligados à paisagem que eram elaboradas pelos geógrafos a fim de explicar a
identidade de certa região. O período entre 1890 e 1940 ficou marcado como a
primeira fase da Geografia Cultural, relacionada com o estudo da paisagem, que era
considerado um resultado da relação do homem com o meio ambiente, exprimindo
suas peculiaridades. Segundo Corrêa:
Um dos maiores nomes deste período foi o geógrafo Carl Sauer (1889-1975),
influenciado pelas bases teórico-metodológicas dos autores alemães –
principalmente, Otto Schlüter (1872-1959), Siegfried Passarge (1866-1958) e Eduard
Hahn (1856-1928).
Sauer ressaltou a importância dos estudos direcionados à cultura, como agente
modificador da superfície terrestre. Os estudos desenvolvidos por Sauer foram de
suma importância, pois, sem estes, a Geografia cultural teria sido completamente
ignorada pelos teóricos norte-americanos que se dedicavam largamente ao estudo de
caráter quantitativo de mensuração espacial.
As pesquisas de Sauer tomaram a proporção considerável em Berkeley, o qual
atuou em parceria com alguns antropólogos – como A. L. Kroeber, que promoveu uma
pesquisa sobre os indígenas que habitavam a região Sudoeste dos Estados Unidos.
Esses povos despertaram encantamento em Sauer, pois permaneciam à margem do
desenvolvimento moderno, preservando culturalmente traços milenares, cuja
compreensão, segundo o mesmo, era de suma importância para que fosse possível
elucidar o presente.
O ensaio “A morfologia da paisagem” (1925) – considerado o mais célebre da
trajetória acadêmica de Sauer, foi amplamente influenciado pelas abordagens da
geografia germânica, em razão de sua proximidade com as obras de autores alemães
e franceses. Essa relação entre a geomorfologia e a paisagem remete aos estudos de
Otto Schlüter (1872-1959) e Siegfried Passarge (1866-1958).
19
2
A perspectiva supraorgânica na Geografia cultural retifica a noção de cultura, atribuindo-lhe status
ontológico e poder causativo. Esta teoria da cultura foi esboçada pelos antropólogos Alfred Kroeber e
Robert Lowie durante os primeiros 25 anos do século XX, posteriormente elaborada por Leslie White,
e transmitida para Carl Sauer e alguns de seus alunos em Berkeley. Segundo esta teoria, a cultura é
vista como uma entidade acima do homem, não redutível às ações dos indivíduos, e respondendo
misteriosamente às leis próprias. Argumenta-se que a explicação deve ser descrita em termos de nível
cultural e não em termos de indivíduo (DUNCAN, 2003, p. 7).
20
Taine foi utilizada como referência, na obra “Os Sertões” de Euclides da Cunha, a qual
será analisada no segundo capítulo.
[...] Paul Vidal de La Blache aponta para uma geografia existente na obra
Odisseia, em um artigo publicado nos Annales de Geografia em 1904.
Também é importante notificar que Humboldt – autor base para o
desenvolvimento do pensamento geográfico moderno – dedicou dois
capítulos do Cosmos à Literatura e Pintura.
A literatura está associada desde o início aos trabalhos sobre o espaço vivido,
campo que tem dado lugar a inúmeras investigações. As pesquisas sobre o
espaço vivido encontraram na literatura, um meio de fazer face aos aspectos
monótonos e fastidiosos„da Geografia escolar (BROUSSEAU, 2007, p.21).
lo como ferramenta em si, pois não possui compromisso com o discurso científico
utilitarista.
Nesse campo entre Geografia e Literatura, merece destaque a obra “Atlas do
Romance Europeu: 1800-1900”, do crítico literário italiano Franco Moretti, publicada
em 1997. Neste livro, o autor busca analisar o espaço na Literatura e a Literatura no
espaço através dos romances publicados na Europa ao longo do século XIX.
Na primeira parte do livro, Moretti aborda a representação dos lugares na
Literatura e a formação do Estado-nação; na segunda parte, apresenta o conto de
duas cidades – sendo a primeira um centro metropolitano, enquanto a segunda uma
cidade do interior, e como esses espaços são representados na Literatura; e discorre,
na terceira e última parte, sobre como o domínio das culturas francófonas e anglófonas
influenciaram as obras literárias, além de como estas estiveram presentes na
formação e conservação dos Estados. Moretti também expõe a diferença que existe
entre uma província e a capital, no quesito de disponibilidade de obras para leitura. Na
capital, prevalecem as obras estrangeiras, em detrimento das obras clássicas;
enquanto que nas pequenas provinciais, permanecem os cânones literários.
Nessa obra, “os lugares da ficção romanesca são analisados, em função de
seus eventuais referenciais geográficos” (COLLOT, 2012, p.23).
De acordo com Michel Collot, os estudos relacionados à “inscrição da Literatura
no espaço e/ou à representação dos lugares nos textos literários,” aumentaram
significantemente ao longo da década de 1980, representando uma aproximação entre
a ciência Geográfica e a Literatura (Idem, ibidem, 2012, p.18). Essa aproximação
possibilitou revisar os paradigmas e os problemas epistemológicos da ciência
Geográfica com o intuito de propor novas veredas no estudo relacional entre homem-
meio, individuo-sociedade, real-ficção, permitindo assim, a superação da ótica
dicotômica e dualista do paradigma positivista – predominante na Geografia até a
década de 1970.
Esse avanço da ciência Geográfica sobre a Literatura também se deve ao
avanço das ciências humanas e sociais que têm se dedicado a compreender a
sociedade, e o espaço como teatro das relações humanas. “Pode-se falar a esse
propósito, de uma “virada espacial” ou “virada geográfica”. Marcel Gauchet, por
exemplo, afirmava em 1996: “Testemunhamos uma virada geográfica” que vem
impregnando as ciências sociais” (COLLOT, M. 2012, p.18). Reflexo do processo de
29
Concebeu-se, desse modo, uma nova visão do homem e do mundo, que supera
o conceito do sujeito cartesiano, que seria capaz de aprender apenas pela reflexão e
o coloca no mundo, tornando-se “ser-no-mundo”. 3 Assim, o homem introspectivo,
preso dentro de si, é lançado no espaço, passando a fazer parte do lugar e da
paisagem que o cinge; consequentemente, cria-se a solidariedade entre res cogitans
e a res extensa.4
“A escrita é uma forma de espacialização do sujeito, que tem a necessidade de
se exprimir, de se projetar no espaço: o da página e o da paisagem” (COLLOT, 2012,
p. 27). Portanto, o espaço não é compreendido apenas como um cenário exterior, mas
como expressão de valores e sentidos que comportam diversas significações, nas
quais o escritor irá lançar em seus escritos.
3
A expressão „ser-no-mundo‟ refere-se ao ente que nós mesmos somos e implica que, sendo, estamos
sempre juntos ao mundo e existimos sempre em um mundo. Isto quer dizer que o homem é ser-em e
ser-junto ao mundo. Com o conceito de ser-no-mundo, Heidegger pretendia caracterizar a
simultaneidade de mundo e homem, mostrando que a existência do homem recebe seu sentido da sua
relação com o mundo e que este obtém sua significação através do homem. (FERREIRA, A. 2010, p.
250)
4 Em Descartes, coisa é sinônimo de substância, de algo que existe por si mesmo. Ex: a “coisa pensante"
ou alma (res cogitans), a coisa extensa (res extensa). Cf. JAPIASSÚ, MARCONDES, 2001, p. 38.
32
‟A ciência geográfica, definida pelo viés do espaço vivido, não tenta criar leis,
nem observar regularidades generalizadoras. Seu ponto de partida é, ao
contrário, a singularidade e a individualidade dos espaços estudados. Ela
também não procura avançar resultados prospectivos e normativos, como as
ciências ditas reacionais. Seu objeto principal é fornecer um quadro
interpretativo às realidades vividas espacialmente. A objetividade não provém
de regras estritas de observação do comportamento social dos atores no
espaço (GOMES, 1996, p. 320).
A literatura está associada desde o início aos trabalhos sobre o espaço vivido,
campo que tem dado lugar a inúmeras investigações. As pesquisas sobre o
espaço vivido, encontraram na literatura um meio de fazer face aos aspectos
monótonos e fastidiosos (BROUSSEAU, 2007, p.21).
Em verdade, toda trama, um enredo que se desenrola sobre uma cena, tudo
é narrado num romance, acontece (tem lugar„) num continuum espacial mais
ou menos definido, e a participação do leitor – que não é totalmente passiva
como na leitura jornalística – tende a identificá-la a uma realidade concreta,
ou seja, geográfica (MONTEIRO, 2006, p. 61).
Um mês após assumir sua função no clássico liceu carioca, foi assassinado pelo
amante de sua esposa, com três tiros no coração, falecendo no Rio de Janeiro, em 15
de agosto de 1909.
“Os Sertões” foi publicado pela primeira vez em 2 de dezembro, de 1902, pela
Livraria Lammaert, do Rio de Janeiro. Recebido com êxito pelo público e pelos críticos
literários, ficou marcado como uma obra memorável, que traz em sua narrativa
aspectos literários e científicos, os quais ressaltam a identidade do Brasil e do
brasileiro. É possível identificar em sua obra uma confluência entre a Literatura
artística e cientifica. Esse modelo de escrita torna sua obra ainda mais notória no
cenário nacional e internacional. O livro contém em torno de 600 páginas, todas
escritas com base em suas observações in loco, e experiências vivenciadas durante
o conflito, que o permitiram escrever inúmeros rascunhos, os quais, no final, expõem
cronologicamente a ressignificação da compreensão do narrador, relacionado à
Guerra de Canudos. Atualmente, a obra é de domínio público e pode ser acessada
gratuitamente pela internet.
O livro-reportagem foi organizado em três partes. A primeira, intitulada como “A
Terra”, em que o autor se debruça sobre os aspectos geofísicos do Brasil e da região
Nordestina, ressalta os fenômenos cíclicos das estiagens nessa região. Através de
uma linguagem artística e cientifica, retrata o cenário da narrativa, e do meio ambiente
que compõe a realidade nordestina, a partir de uma descrição apurada da paisagem
semiárida da caatinga.
A segunda parte é intitulada “O Homem” nesse aspecto, o narrador descreve
o perfil do homem sertanejo, seus costumes, práticas, tradições e origem, em que
busca relacionar os aspectos ambientais com a formação do morador da região de
Canudos; descreve a resistência desse povo e suas asperezas, ocasionadas pelo
ambiente árido e hostil em que vivem; dedica-se a estudar minuciosamente o líder
espiritual Antônio Conselheiro, responsável pela formação do arraial de Canudos, no
interior baiano. Assim, o narrador constrói os personagens nordestinos de seu enredo,
ante a influência darwinista, positivista e determinista, construindo a teoria dos “dois
42
Brasis” – “de um lado, o sertão anacrônico e bárbaro; de outro, o litoral, em sua marcha
decisiva, ainda que incipiente, em direção à modernidade” (MURARI, 2007, p.23).
A última parte é intitulada “A Luta”, na qual é relatado o conflito entre as tropas
governamentais e os moradores do arraial de Canudos – um embate entre “dois
Brasis” que compõe a narrativa de um momento histórico. Nesse trecho, é possível
compreender as contradições que originam a sociedade brasileira.
É notória na organização da obra uma estrutura próxima aos trabalhos
desenvolvidos pelos geógrafos clássicos que, em seus estudos, possuíam influências
do pensamento positivista e das ciências naturais, despertando um vivo interesse
pelos aspectos naturais como forma de explicar os aspectos humanos, tornando o
homem, um produto de seu meio ambiente.
Dessa maneira, pode-se compreender o porquê de Euclides da Cunha haver
reservado a primeira parte para escrever sobre “A Terra” e, em seguida, a relação da
mesma, com os aspectos humanos. De acordo com Roberto Ventura, o autor conhecia
os trabalhos de Alexandre Von Humboldt, devido às disciplinas cursadas na Escola
Superior de Guerra (1890-1892) como, por exemplo: climatologia, geomorfologia,
geologia, geografia, entre outras. É possível constatar “apenas como parênteses, três
lugares em “Os Sertões,” em que as ideias de Humboldt, claramente glosadas na
Caderneta, fundiram-se com a escritura euclidiana” (p. 108, 114,128) (BERNUCCI.
2009, p.25).
Em um trabalho de reconhecimento em 1905, do Alto Purus – no Acre, na região
da fronteira do Brasil com o Peru –, Euclides da Cunha recorreu aos relatórios de
expedições anteriores e de naturalistas – entre eles, Alexandre Von Humboldt –, que
visitara o Peru e constatara a comunicação do Rio Orinoco e do rio Amazonas, no ano
de 1800. De acordo com Ventura:
Como o cientista alemão Alexander Von Humboldt (1769- 1859), que estudou
documentos em Paris antes de viajar pela América no início do século
passado, Euclides consultou os relatórios das expedições anteriores,
sobretudo, a do inglês William Chandless em 1861, antes de enfrentar a
floresta tropical. [...] No caminho para Manaus, Euclides se desapontou ao
entrar no rio Amazonas, que não correspondia ao "ideal" concebido a partir
das páginas de Humboldt e de outros exploradores. (VENTURA, R. 1994,
s/p).
Dessa forma, pode-se constatar que Euclides da Cunha foi inspirado em seus
estudos pelo determinismo, assim como Friedrich Ratzel, que buscou formular uma
43
Como já citado anteriormente, o romance “daria conta não apenas dos aspectos
objetivos da realidade, mas também de sua subjetividade, sendo assim, o encontro
entre o mundo objetivo, e o mundo da subjetividade humana” que é, nesse caso,
resultado da relação entre a estrutura independente e os fatores sociais (VILANOVA
NETA, p. 49); dessa forma, a Literatura apresenta a realidade e a realidade possível.
Assim “Os Sertões” representa a espacialidade vivida por Euclides da Cunha,
o qual expõe a formação do arraial de Canudos e a geografia da região, até o momento
desconhecida pelos meios de comunicação oficial.
De acordo com Candido, “Os sertões” inaugura “[...] o começo da análise
científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade brasileira (no caso, as
contradições contidas na diferença de cultura entre regiões litorâneas e o interior)”
(CANDIDO, 1985, p.133). Sendo assim, contribuiu para a formação de uma
consciência nacional – além de possibilitar a investigação das contradições e dos
problemas endêmicos ao Brasil e sua população.
Publicado pela primeira vez em 1902, “Os Sertões”, se apresenta como uma
obra que traz contrastes do seu autor, Euclides da Cunha, e de sua qualificação no
Colégio Superior de Guerra (1890-1892), refletindo sua capacitação em Engenharia
Militar e seu apreço pelo cientificismo da época, além de sua paixão pela escrita e
literatura, que o levaram a desempenhar a função de enviado especial à Guerra de
Canudos pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.
A sua trajetória acadêmica e pessoal marca a “estrutura” da obra e, através
dessa estrutura – como bem destaca Candido – a um processo de internalização dos
aspectos sociais observados, conferindo à obra sua identidade própria, que reflete
traços do autor e da sociedade. Por isso, é necessário conhecer a formação do autor,
como feito brevemente.
Ainda em 1902, logo após a publicação de “Os Sertões”, o escritor José
Veríssimo publicou uma resenha sobre o livro, e verificou ser essa a obra prima de
Euclides da Cunha, pois era ao mesmo tempo livro de um homem de ciência, reflexão
e pensamento, afeição e paixão pela vida, como pode ser observado no trecho abaixo:
45
Já Luís Costa Lima (1997), crítico literário e autor do livro “Terra Ignota”,
contesta a ideia de que “Os Sertões”, seja um livro ficcional ou romanesco,
defendendo a ideia que a Literatura para Euclides da Cunha estava sempre
subordinada à ciência, possibilitando a livre expressão; dessa maneira, a Literatura
seria exclusivamente um elemento embelezador ressaltante das observações e
teorias cientificas dispostas na obra.
Assim, em “Os sertões” só “é permissível à entrada da Literatura sob a condição
de constituir uma cena de ornato” (LIMA, 1997, p. 138). Leopoldo M. Bernucci, que
atualmente dirige o Departamento de Literatura Brasileira na Universidade de Austin,
afirma que Euclides da Cunha defendia a relação da arte com as ciências, e mais
especificamente entre a ciência e a Literatura. De acordo com Bernucci:
Por isso, pode-se conceber “Os Sertões” como uma obra híbrida, que possui
traços artísticos e científicos, literários e históricos, refletindo a formação e aspiração
do autor.
Conforme ressalta Antônio Candido, uma obra não se deixa definir apenas por
fatores externos e tampouco por uma estrutura independente (estética), mas sendo a
relação entre ambas, de liberdade artística e de método científico. É possível
constatar que “Os Sertões” é a obra síntese de um tempo (social) e de um autor
(sujeito), apreendidos de forma inseparável em seu valor científico e estético. Essa
46
2.1.3 Visão euclidiana do sertanejo, e a luta pela terra, com base na obra “Os
Sertões”
[...] Quase todo mundo admite hoje que a organização econômica do arraial
inspirava-se na tradição sertaneja. Em particular, o mutirão deve ter sido uma
prática corriqueira, especialmente para o trabalho da roça e a construção das
casas. Essa organização econômica, porém, foi provavelmente além da
simples ajuda mútua no dia-a-dia, se admitirmos que o fundo comum
institucionalizava a solidariedade, ao permitir a redistribuição da parte dos
excedentes (BLOCH, 1997, 87-88).
[...] que essa religiosidade, com seu apelo cristão de construção de uma
fraternidade universal, estabeleceria os traços identificadores no processo
semiótico de leitura/captura do referente modo de produção sertanejo e que,
desse desenvolvimento, só poderia resultar uma concepção de trabalho
mutualista, cooperativo, solidário ou, numa única palavra, fraterno. O adjunto
sertanejo, prática intensamente utilizada pelas comunidades rurais do sertão
brasileiro até os nossos dias, é o produto cultural mais genuíno dessa práxis
laborativa (MARTINS, 2007, p.4-5).
Destarte, Canudos foi um grande mutirão, “cuja liderança assumiu uma forma
de autoridade singular, a qual identificamos como a de um “coronel com o sinal
contrário” ou de um “coronel pelo avesso”, parodiando a ideia euclidiana sobre Antônio
Conselheiro (MARTINS, 2007, p.15).
Euclides da Cunha buscou no primeiro capítulo da segunda parte do livro
ressaltar a formação racial nordestina através da miscigenação, como responsável
pela sua organização social, de cunho comunitário e religioso, resultado de sua
formação positivista e das teorias naturalistas da época, corrente entre os intelectuais
da época. Dessa maneira, fica evidente que o autor partiu de sua espacialidade
litorânea, de sua vida na capital, a fim de explicar o Nordeste e sua espacialidade
física e mental.
Dessa forma, negligencia as questões sociais, econômicas e políticas,
evidentes nos trechos citados anteriormente, se apegando a teoria do historiador
Taine “raça”, “meio” e “momento”, como modelo explicativo.
No capítulo dois da segunda parte do livro, Euclides da Cunha ressalta a
diferença entre o povoamento do nordeste e do litoral, dando ênfase a essa diferença.
Assim, considera as desigualdades raciais e, consequentemente, a
inferioridade das raças não-brancas. Pondera a mestiçagem um processo negativo, e
prejudicial a formação de uma futura população brasileira. Contudo, esse
determinismo é modificado e ajustado, devido à necessidade explicativa de diferenciar
a mestiçagem do litoral e do interior do nordeste.
As teorias raciais, oriundas da Europa, encontraram no Brasil ao longo do
século XIX, um solo fértil, marcado por um "cientificismo difuso", adotado por muitos
intelectuais, que visava examinar e interpretar a sociedade brasileira.
O sertão nordestino até aquele momento negligenciado pela ciência brasileira,
tornou-se objeto de investigação dos antropólogos, historiadores e naturalistas,
assumindo para esses a posição de um espaço, que abriga uma população mestiça
em um "estagio inferior da evolução social", sem capacidade intelectual de
compreender as transformações políticas, econômicas e sociais, o qual é evidente na
obra do médico Raimundo Nina Rodrigues, intitulada de "A loucura epidêmica de
53
suas psicologias e feitos. No início do capítulo, o autor faz analogia entre as camadas
profundas da estratificação geológica, com o aparecimento de Conselheiro, como se
esse fosse o afloramento de um estrato profusamente arcaico de costumes e vícios
superados há muito tempo pela civilização. Conselheiro surge defronte com a
civilização, buscando propagar suas crenças e ritos.
Sendo assim, Conselheiro surge como um messias para milhares de
nordestinos, que sofriam constantemente a opressão do clima e da desigualdade
social, não tinham nada para se apegar, a não ser na fé, como um ato de esperança
e resistência.
Antônio Conselheiro foi a materialização de um processo coletivo formado,
através de milhares de consciências guiadas pela esperança de viver uma vida digna,
distante da opressão dos coronéis. Conselheiro de fato representava um afloramento
geológico profundo, pois simbolizava a consciência histórica da opressão que milhares
de nordestinos sentiam a séculos, tornando-se a resistência viva contra os desmandos
dos coronéis e do Estado.
Contudo, o mesmo era considerado pelo poder político, religioso e econômico
da época um louco, o qual deveria ser levado para o sanatório. De acordo com
Euclides da Cunha, esse movimento seria a consagração final da vitória da insânia
sobre o bom senso, e do misticismo comprimido sobre a razão da civilização moderna.
Portanto, é notório que autor não compreendia de fato as causas que levara o início
do movimento messiânico. A xilogravura do pernambucano José Francisco Borges,
representa a imagem de Antônio
Conselheiro, como é possível observar na figura a seguir:
58
Desse modo, Conselheiro tornou-se um guia espiritual que levaria aqueles milhares
de sertanejos à terra prometida. Segundo Otten (1989, p.40) “eram pequenos e
miseráveis, marginalizados e ociosos, um perigo e ameaça para sociedade,” e
independentemente de serem pecadores, marginalizados, Conselheiro aceitava todos
os sertanejos que queriam abdicar de seus laços, para integrar-se na
“Companhia de Jesus”.
A oligarquia baiana descrevia esse movimento como de facínoras, guiado por
um esquizofrênico, que visava desafiar as leis e as instituições. Entretanto, para a
socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz (1918-2018), que estudou vários
movimentos messiânicos no Brasil e no mundo, esses movimentos de fundo religioso
expressam um posicionamento político por mudanças sociais, uma ruptura com
sistema vigente, como pode ser observado no seguinte trecho:
todos que tivessem ali, seriam salvos. Essa era a terra da promissão, onde corre um
rio de leite e são de cuscuz de milho as barrancas.
Com o avanço dessas profecias, muitas pessoas abandonaram suas casas e
seguiram em direção a Canudos. A Igreja Católica buscou de início intervir, pedindo
ajuda ao presidente daquela República, que “dirigiu-se ao ministro do Império, pedindo
um lugar para o tresloucado no hospício de alienados do Rio” (CUNHA, 2018, p. 308).
Esse pedido, no entanto, foi negado sob a justificativa de que não havia mais vagas.
A igreja Católica buscou intervir várias vezes no movimento, devido sua relação com
os grandes proprietários de terra na região. Contudo, Conselheiro continuou
espalhando suas profecias e buscando construir, em Canudos, refúgios para todos
aqueles que acreditavam em suas palavras.
No quinto e último capítulo da segunda parte do livro, é apresentado à formação
do arraial de Canudos. De acordo com autor, Canudos, antes de tornar-se um arraial
populoso, era uma fazenda de gado abandonada à margem do rio VazaBarris,
ocupada por poucas pessoas que, em sua maioria desocupados, passavam o dia
bebendo aguardente, pitando cachimbos de barro em canudos de metro, e de tubo
que eram extraídos das solanáceas –planta encontrada à beira do rio que deu origem
ao nome do município e da região.
Após a chegada de Antônio Conselheiro, esse antigo assentamento passou a
crescer vertiginosamente, em um curto espaço de tempo. Muitas pessoas deixavam
as suas casas e se dirigiam para o arraial, vendendo os poucos bens que possuíam
para entregá-los a Conselheiro. O autor descreve o aumento acelerado desse arraial
e como eram construídas as casas, como pode ser observado no trecho abaixo:
A edificação rudimentar permitia à multidão, sem lares fazer doze casas por
dia; - e a medida que se formava, a tapera colossal parecia estereografar a
feição moral da sociedade ali acoitada. Era a objetivação daquela insânia
imensa. Documentos iniludíveis, permitindo o corpo de delito direito, sobre
os desmandos de um povo. Aquilo se fazia a esmo, adoidadamente (CUNHA,
2018. p. 291).
de uma nova igreja. O resto da cidade era como um labirinto, formado por estreitos
pátios internos irregulares, e as casas construídas sem padrões.
De acordo com Euclides da Cunha, a organização e a construção do arraial
refletiam a desorganização mental daqueles que ali se ajuntavam; era a prova material
de um povoamento retrógrado e bárbaro. Em alguns trechos, o autor relata que o
arraial se assemelhava a uma cidade sacudida por um terremoto, tamanha a
desordem. Em outro momento relacionando às casas construídas em Canudos, como
a transição da caverna primitiva para a casa, que acabou sendo malsucedida.
“Era a Troia de taipa”.
O geógrafo Armand Frémont (1980) defendeu a tese que o homem vive em
simbiose com seu espaço, concebendo identidade ao mesmo. Assim, é possível
constatar o espaço vivido, que tem suas marcas próprias, materializadas, exprimindo
suas características próprias. Frémont estuda os espaços da Revolução da Argélia
(1954-1962), e compara o espaço dos combatentes argelinos e do colonizador. De
acordo com o geógrafo francês:
Ao longo do dia 6 de outubro foram destruídas as 5.200 casas que havia ali.
Canudos “era um parêntese; era um hiato. Era um vácuo. Não existia”. Fora
completamente destruída pela força civilizadora da pólvora (CUNHA, 2018, p. 677).
“Os Sertões” denuncia a irresponsabilidade do Estado, ante os milhares de
brasileiros(as), que viviam a margem da sociedade, oprimidos pela oligarquia rural
nordestina, por um sistema latifundiário concentrador de terras, e pela ganancia de
coronéis. Contudo, a obra “Os Sertões” contada na ótica de um engenheiro militar, de
inspiração positivista, que presenciou de perto a hecatombe da opressão, da miséria,
e a resistência de milhares de sertanejos que lutaram bravamente até o fim, conclui-
se que “[...] foi um recuo prodigioso no tempo; um resvalar estonteador por alguns
séculos abaixo” (CUNHA, 2018, p. 735.)
66
relação com o meio. Por conseguinte, a obra apresenta os conflitos provocados pelas
relações díspares entre uma República recém-formada, e milhares de homens que
lutavam por suas terras, sujeitos à pobreza no interior do país. Esse romance – escrito
em terceira pessoa – possibilita uma aproximação dos fatores que levaram ao conflito,
permitindo a problematização do tema. A obra está diretamente vinculada ao
regionalismo, que se caracteriza pela busca da identidade brasileira e sua afirmação.
Essa obra foi baseada em um amplo levantamento bibliográfico, realizado pelo
autor que, diferente de Euclides, não presenciou o conflito in loco. O levantamento
realizado por Guido Wilmar Sassi envolveu pesquisas etnográficas e etnológicas,
desde levantamentos documentais, até relatos de pessoas que presenciaram o
conflito.
O autor buscou, por meio de seu romance, dar voz aos sertanejos que viviam
nas paragens do interior dos estados catarinenses e paranaenses, que acabaram
duramente reprimidos pelas forças militares e por mercenários.
Desse modo, ele conta o fenômeno do Contestado pela ótica dos sertanejos,
situando-lhes como personagens históricos. A obra “Geração do Deserto” tornou-se
reconhecida nacionalmente por sua riqueza de detalhes, sendo um marco para a
compreensão da Guerra do Contestado. Este romance também foi responsável por
inspirar o filme “A Guerra dos Pelados”, lançado em 1970.
A obra “Geração do Deserto” assemelha-se em parte a narrativa do livro “Os
Sertões” por apresentar uma narrativa de cunho rural, que trata dos conflitos que
ocorreram no interior do Brasil ao longo da Primeira República (1889-1930), liderados
por monges que pregavam um novo tempo. De acordo com Sassi (2012, p.8), essas
obras manifestam “os problemas do nosso interior, quando sabemos que o Brasil tem
um processo de urbanização montado num sistema agrário retrógrado e iníquo,
repleto de vícios, contradições e conflitos”.
68
artística a respeito do conflito –, em diálogos com autores que estudaram esse período
histórico acirrado pela desigualdade, e por movimentos messiânicos da luta pela terra
no interior do Brasil.
O romance “Geração do Deserto”, escrito por Guido Wilmar Sassi, através de
relatos de sertanejos que vivenciaram esse conflito, possibilitou a construção da
narrativa com fundo histórico que permeia o espaço vivido pelo autor. Assim, Sassi
visa dar voz à memória dos sertanejos, através de seu romance, expondo suas
experiências e a sua própria, construindo paisagens, que dialogam com esse
momento.
Nós somos a geração do deserto! Como a nação dos judeus, nós estamos
neste deserto, em busca da terra Prometida. Faz quase quatro anos que nós
declaramos a Guerra Santa, e estamos lutando para conquistar nossa terra.
(...) Mas a Guerra Santa tem que continuar, porque, porque nós somos a
geração do deserto, os que devem ser sacrificados. (...) No tempo de Moises
ele também guiou o povo pelo deserto, e toda a geração velha morreu. Mas
os que nasceram no deserto chegaram à terra de Canaã, prometida por Deus
(SASSI, 2012, p.116,117).
Essa analogia elaborada por Guido Wilmar Sassi visa ressaltar a importância
da terra para o caboclo, comparando-a com a jornada do povo hebreu. Enquanto o
périplo rumo à Terra Prometida durou 40 anos, a do Contestado levou quatro anos. E
como os israelitas tinham Moisés como líder, os caboclos encontraram o seu em José
Maria.
A terra é figura central na narrativa, como também foi ao longo da Guerra do
Contestado. Com o avanço do capital sobre a região do Contestado, com destaque
para a Companhia Brazil Railway, que desapropriou de forma violenta milhares de
posseiros que viviam nas terras devolutas às margens da linha férrea, onde muitos
ficaram sem suas propriedades. Essas expulsões motivaram os sertanejos, a se
levantar contra o poder vigente.
Além dessa companhia, havia outra conhecida como Southern Brazil Lumber
e Colonization Company, criada pela Brazil Railway para explorar as terras adjacentes
à estrada de ferro e outras que viessem a adquirir. A mesma passou a deter o
monopólio da exploração da madeira na região, atingindo diretamente a economia das
famílias que dependiam da madeira e da erva mate, aprofundando ainda mais as
questões sociais e a luta pela terra. De acordo com Queiroz:
A linha férrea foi projetada em 1887, pelo engenheiro João Teixeira Soares,
objetivando ligar os municípios de Itararé (SP) e Santa Maria (RS), a distância
percorrida entre os dois pontos, pelo traçado da estrada de ferro chegava a 1.403 km
de extensão. A linha férrea era um empreendimento que visava interiorizar o poder
político em áreas fronteiriças com Argentina e Uruguai, passando pelas províncias de
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A figura (4) apresenta o
traçado da ferrovia sobre o território contestado entre Paraná e Santa Catarina:
Figura 4 – Mapa da Ferrovia Itararé (SP) - Santa Maria (RS), com destaque para
região do Contestado e as principais cidades.
4
A digitalização destas fotografias foi feita por Rubens Habitzreuter e Paulo Moretti a partir de cópias.
De acordo com os limites de recursos disponíveis para a elaboração deste trabalho, um total de 100
fotografias foi digitalizado por Jandira Jansson a partir dos negativos contidos no acervo familiar
conservado em Itararé, São Paulo (BEZERRA, 2009, p.25).
74
Os pinheiros eram utilizados pelos sertanejos para construir suas casas, cercas,
paiol e também para alimentação por meio do pinhão. Entre os pinheiros nasciam a
erva-mate que era extraída e consumida pelos mesmos. Contudo, com a chegada da
Lumber as atividades se tornaram inviáveis, devido o monopólio da exploração da
madeira e da erva-mate.
A fim de explorar esse contexto em sua obra, Guido Wilmar Sassi a organizou
em quatro capítulos - Irani, Taquaruçu, Caraguatá e Santa Maria - locais fictícias
relacionados às localidades, onde formaram-se de fato os principais redutos dos
caboclos, e em que ocorreram os conflitos armados.
Os nomes dos redutos, exceto Santa Maria, é de origem Tupi-Guarani. Irani
significa “Mel Envelhecido” relacionado a beleza da flora e da fauna local. Taquaruçu
significa “Bambus ou Taquaras”, nome comumente atribuído a locais que se encontra
considerável quantidade dessas plantas. O nome de Caraguatá se refere a planta da
família das bromeliáceas que produz fruto. O nome do reduto de Santa Maria, está
relacionado com a crença na salvação, fazendo alusão a fé cristã.
Na primeira parte, denominada de Irani, o autor destaca o messianismo,
narrando o surgimento de monges como João Maria e José Maria, que levavam
esperança ao povo, perdida já havia muito tempo, como é possível identificar no trecho
a seguir: “Esperança ele trouxera para todos, quando pelo mundo peregrinara,
auxiliando os oprimidos e consolando os aflitos. Ele se fora, mas os pobres,
relembrando seus conselhos e palavras, neles encontravam lenitivo.”
Fonte: Acervo da família de Claro Jansson – Itararé, imagem digitalizada por Rubens Habitzreuter e
procedente de Bezerra (2009, p. 108)
Fonte: Acervo da família de Claro Jansson – Itararé, imagem digitalizada por Jandira Jansson e
procedente de Bezerra (2009, p. 118).
77
A crença na vinda de um enviado divino, que trará aos homens justiça, paz e
condições felizes de existência; 2) a ação de um grupo obedecendo às ordens
do líder sagrado, que vem instalar na terra o reino da sonhada felicidade. A
crença nasce do descontentamento, cada vez mais profundo, de certas
coletividades, diante de desgraças ou de injustiças sociais que as
acabrunham; afirma formalmente a esperança numa transformação positiva
das condições penosas de existência a se produzir... (QUEIROZ, 1977, p.
383).
Essa trama juntou-se a outra como a estrada de ferro São Paulo-Rio Grande
do Sul, e os capitais estrangeiros que exploravam os recursos naturais da região.
Esses episódios são marcantes na primeira parte do livro, a fim de construir o contexto
vivenciado pelos sertanejos à época. Assim, a primeira parte termina no confronto
entre as tropas do governo e os caboclos em Irani-SC, que resultou na morte do
coronel João Gualberto e do monge José Maria.
Guido wilmar Sassi assumiu o discurso da memória coletiva, visando dar voz
àqueles que sofreram diretamente a violência do Estado e das forças colonizadoras.
Na segunda parte, intitulada “Taquaruçu”, o autor narra a reorganização dos
revoltosos na região homônima – atual município de Curitibanos (SC) –, em 1914.
Nessa parte do livro, o autor busca retratar a organização dos arraiais formados pelos
rebeldes, além de suas relações com as forças governistas.
A República é representada como adversário do povo, sendo o reflexo de um
governo opressor que instaurava a guerra, contra o direito à terra de milhares de
moradores do Contestado, além da esmagadora pressão do capital estrangeiro e dos
coronéis. O trecho a seguir retrata o antagonismo entre esses e a República:
de mão de obra de imigrantes que vinham para o Brasil, acreditando que conseguiriam
comprar um lote em curto período de tempo.
De acordo com Martins, o Estado instaurou a rigidez na posse da terra, com
objetivo de ampliar o exército de mão de obra miserável para a lavoura, excluindo-os
do aceso a terra:
[...] surge a questão agrária quando a propriedade da terra, ao invés de ser
atenuada para viabilizar o livre fluxo e reprodução do capital, é enrijecida para
viabilizar a sujeição do trabalhador livre ao capital proprietário de terra. Ela se
torna instrumento da criação artificial de um exército de reserva, necessário
para assegurar a exploração da força de trabalho e a acumulação. A questão
agrária foi surgindo, foi ganhando visibilidade, à medida que escasseavam as
alternativas de reinclusão dos expulsos da terra (MARTINS, 1997, p. 12).
Ainda no segundo capítulo da obra, Sassi narra a estória do menino Nenê e sua
mãe Zeferina. Nenê havia se apaixonado pela filha do fazendeiro D. Rocha Alves.
Mas, para casar-se com a moça, deveria provar sua valentia e, assim, lutar contra o
dragão de ferro – uma metáfora relacionada ao trem. Acabou sendo atropelado pelo
mesmo.
O autor buscou por meio dessa metáfora, apresentar a valentia e a inocência
dos sertanejos frente ao progresso que avançava destruindo os redutos e tomando a
terra de várias famílias.
O autor finalizou a segunda parte narrando o ataque das tropas ao reduto de
Taquaruçu e sua violência exacerbada. De acordo com Queiroz (1981, p. 128), em
“Taquaruçu contam-se 200 casas toscas e 30 barracas; o número de mulheres e
crianças excede de longe o dos homens”. O ataque sobre o reduto caracterizou-se
pela violência, tanto na narrativa expressa no seguinte trecho: “O dia inteiro o canhão
Krupp despejou destruição e morte em cima do reduto. E a metralhadora, pipocando
de contínuo, não ficou nunca sem resposta (...)” (SASSI, 2012, p. 75) como na
realidade através do relato de um médico:
Irani.
Os soldados do governo eram chamados de “peludos”, enquanto os caboclos
de “pelados”, por rasparem a cabeça. Esses termos se tornaram recorrentes na obra.
A organização dos redutos era baseada no cooperativismo, o qual todos
deveriam ajudar-se uns aos outros, para que ninguém tivesse mais do que o
necessário, a fim, de atender a necessidade do povoado – lógica semelhante ao arraial
de Canudos.
A liderança espiritual passou a ser exercida por Maria Rosa após a morte do
monge José Maria. A mesma era responsável de transmitir as profecias que recebiam
do monge. Dessa forma, o reduto foi crescendo aos poucos e aumentando sua
influência na região.
As tropas buscaram realizar um ataque massivo, sobre o reduto de uma vez por
todas, pois estavam perdendo vários soldados na luta devido à guerrilha montada
pelos caboclos. No entanto, os sertanejos ficaram sabendo antecipadamente, e
conseguiram abandonar o reduto a tempo, refugiando-se em outros arraiais pela
vizinhança. Então, o terceiro capítulo termina com a ida de milhares de sertanejos para
o acampamento derradeiro, a última resistência, denominada de Santa Maria.
A última parte do livro foi intitulada como Santa Maria, que leva o nome do
derradeiro reduto a resistir aos ataques das tropas do governo. Esse foi o maior reduto
até então, e com maior número de caboclos, como pode ser observado no seguinte
trecho:
Para Santa Maria afluíram todos os fugitivos dos redutos abandonados das
redondezas. Homens feridos, mulheres feridas, crianças feridas. E doentes e
mais doentes. Em Santa Maria está a segurança. Ali São Sebastião estava
com eles, São José Maria protegia-os. As mudanças não lhes abatiam a fé,
nem lhes destruíam a confiança (SASSI, 2012, p.101).
Esse fato é relatado também pelo historiador Maurício Vinhas de Queiroz, como se
pode observar na seguinte passagem:
nordestinos, e agora, atacava os caboclos do sul do Brasil, o qual pode ser observado
na seguinte passagem:
Os veteranos comentavam:
Guido Wilmar Sassi finaliza seu romance com desfecho trágico no reduto de
Santa Maria, no qual centenas de caboclos foram mortos, e o líder Adeodato foi preso
pelas tropas. A figura 9 representa a rendição de alguns caboclos um ano antes do
fim do conflito.
Fonte - Acervo da família de Claro Jansson – Itararé, imagem digitalizadapor Jandira Jansson
e procedente de Bezerra (2009, p. 156).
estrangeiro, das políticas nacionais e estaduais, além dos coronéis que os oprimiam
há tempos. O romance propicia essa aproximação dos fatos por intermédio da ficção,
ressaltando aspectos, e informações sonegados pela história oficial, possibilitando a
conservação da memória de um povo. De acordo com Monteiro (2002, p.15): “Não se
trataria, de nenhum modo, de substituir a análise cientifica pela criação artística, mas
apenas retirar desta (Literatura), novos aspectos de
“interpretação”; reconhecê-la como um meio de enriquecimento”.
O romance “Geração do Deserto” se aproxima da obra “Os Sertões”, pela
narrativa rural, por dar visibilidade a milhares de homens e mulheres que viviam no
interior do Brasil, de forma degradante, sob regime coronelista. Contudo, a primeira
está ligada à espacialidade dos caboclos, de suas crenças e modo de vida, que foram
representados pelo autor, que também se considera um protagonista, por ter vivido na
região e pelos relatos que escutava, enquanto Euclides da Cunha parte do
cientificismo para escrever sua narrativa. Por não conhecer o nordeste brasileiro,
Euclides trata o nordestino como antagonista à população da capital. Porém, após
alguns meses vivendo o conflito na região, conclui que a guerra era injusta, pois aquela
população havia sido abandonada. Logo, “Os Sertões” se remete ao espaço
antagônico vivido, entre o litoral e interior, enquanto que “Geração do Deserto,”
representa o espaço vivido do caboclo, pela narrativa romântica.
Os dois autores em suas narrativas levaram em consideração o espaço
geográfico, em alguns momentos ressaltando o mesmo, tornando-o também,
protagonista do conflito. É notória a proeminência da espacialidade como sujeito, que
em ambos os conflitos, resistiu juntamente com os sertanejos aos ataques do exército.
É possível verificar no delinear do capítulo a contribuição das narrativas para
formulação, e apreensão dos conflitos territoriais, que avança sobre as complexidades
que abrange determinadas espacialidades, não se limitando a um determinado
aspecto ou detalhe. Assim, as obras literárias conduzem à apreensão e percepção
dos fenômenos que ocorrem no espaço, no caso aqui a guerra de Canudos e do
Contestado. De acordo com Monteiro:
84
Estrutura Fundiária
Ao contrário do estancieiro, o fazendeiro dos
sertões vive no litoral, longe dos dilatados domínios
que nunca viu, ás vezes. Herdaram velho vício
histórico. Como os opulentos sesmeiros da colônia,
usufruem, parasitariamente, as rendas das suas
terras, sem divisa fixas. Os vaqueiros são-lhe
servos submissos. (CUNHA, 2018, p.218).
Arraial de Canudos
A sua topografia interessante, modelava-o ante a
imaginação daquelas gentes simples como o
primeiro degrau, amplíssimo e alto, para os céus...
(CUNHA, 2018, p.290).
Dessa forma, “Os Sertões” representa muito outros sertões no Brasil. Ele
ressalta a desigualdade social, a opressão sobre a população pobre que vive no
interior do Brasil ou nas periferias das grandes cidades, abandonada pelo poder
público, sem acesso a serviços essenciais à vida. Canudos é uma metáfora maior que
possibilita entender os brasis, que expõe a divisão de classe, e os preconceitos
reproduzidos, por uma minoria que detém o poder econômico e político.
Dessa maneira, a espacialidade presente na obra dialoga com o presente, pois
as estruturas da sociedade brasileira, se mantiveram sem mudanças substanciais.
Após 118 anos de sua primeira publicação, “Os Sertões”, continua sendo um
livro imprescindível para entender a sociedade brasileira.
A guerra contra Canudos representou o ataque massivo aos próprios
brasileiros, que almejavam ter um pedaço de terra, tornando esse ataque “um exemplo
extremo da condição de alienação do país em relação a si próprio, mantendo-se
insulado em relação à nação “oficial”, ou ainda incipiente (MURARI, 2014, p.40). Essa
condição de alienação é notória, pois representa um país que não conhece seu próprio
território e seus habitantes. De acordo com Euclides da Cunha: ” Ademais, entalhava-
91
Um dos motivos que determinou o levante dos caboclos foi a questão dos limites
entre Santa Catarina e Paraná; o mesmo não foi a causa principal, e sim, um motivo
a mais. Essa narrativa aparece no romance através do discurso do personagem Juca
Tavares, que defendia os interesses dos Catarinenses:
- Então ser catarinense é crime? Desde quando? Essa desordem não pode
continuar, meus amigos. Ninguém mais se entende. Um dia um catarinense
apanha, pelo crime de ser catarinense, e logo no dia seguinte, apanha de
novo, pelo crime de não ser mais. Isso porque as fronteiras não são fixas. Um
dia mudam para cá, e no outro mudam para lá. Esta zona do Contestado está
virando numa terra sem lei, sem dono. Mas os donos verdadeiros somos nós,
os catarinenses. E não é só o povo que está do nosso lado, meus amigos.
Gente de influência também (SASSI, 2012, p.20).
- Me cansei de ser agregado do coronel Tidico. Não digo que passasse mal,
e também nunca senti fome, mas me aborreci de trabalhar que nem cativo
para engordar ricaço. Mais dia, menos dia, o coronel me tocava mesmo das
terras dele. Resolvi sair antes, por minha conta. Agora vou indo para o
Espinilho, lá onde mora o monge São José Maria (SASSI, 2012, p.24).
A estrada de ferro Itararé (SP) à Santa Maria da Boca do Monte (RS), que cortou
a região do Contestado, causou agravo das questões sociais, pois o governo cedeu
15 km de cada margem da linha férrea às empresas responsáveis pela colonização.
Muitos posseiros perderam sua propriedade, enquanto que os limites das grandes
fazendas, pertencentes aos coronéis, foram respeitadas. É notório o descaso do
Estado com a população cabocla, a qual sofre constantemente com descaso e
abandono. Esse fato é relatado ficcionalmente no seguinte trecho:
história oficial não relatou, como é o caso dos nordestinos em “Os Sertões”, e os
caboclos do romance “Geração do Deserto”.
Os livros “Os Sertões” e “Geração do Deserto”, continuam sendo leituras
obrigatórias e necessárias, pois representam a voz de milhares de pessoas que hoje
sofrem a hostilidade do sistema capitalista e o abandono do Estado.
Solidariedade Impassibilidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BERNUCCI, L.M (2009): “Prefácio”, in: CUNHA, E. “Os Sertões”. Cotia, Atelier
Editorial, 2009, 900p.
COLLOT, M. Rumo a uma geografia literária. Revista Gragoatá, Niterói, n. 33, p. 17-
31, 2012.
FERRARA, L. D. Leituras sem Palavras. série Princípios, Ed. Ática, São Paulo, 1986.
IANNI, Octávio. A Idéia de Brasil Moderno. Ed. Brasiliense. São Paulo, 1992.
MARÉS, Carlos Frederico. A função social da terra. Porto Alegre: Sergio Antonio
Fabris, 2003.
MARÉS, Carlos Frederico. Terra mercadoria, terra vazia: povos, natureza e
patrimônio cultural. Insurgência: Revista de Direitos e Movimentos Sociais, v. 1, p.
57-71, 2015. MOURA, Margari
105
MELO NETO, João Cabral. A educação pela pedra: Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1996.
MONIZ, E. Canudos: A Guerra Social. 2. ED. Elo. Rio de Janeiro, RJ: ELO, 1987.
MORAES, Antonio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo:
HUCITEC, 1983.
SANTANA, J. C. B. de. Mestiço no país dos espelhos e o que ele viram lá. Feira
de Santana, m.13, p.57-68, jul./dez.1995.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova: da crítica da geografia a uma geografia
crítica. 6ª ed. São Paulo: EDUSP, 2004.
Stampar SN, Maronna MM, Vermeij MJA, Silveira FL, Morandini. Diversificação
evolucionária de anêmonas de anilhas tubulares (Cnidaria; Ceriantharia;
Isarachnanthus ) no Oceano Atlântico. PLoS ONE 7 (7): e41091. Disponível em:
<https://doi.org/10.1371/journal.pone.0041091> . Acesso em 15 de junho de 2019.
STÉDILE, João Pedro (org.). A reforma agrária e a luta do MST. Petrópolis: Vozes,
1997.
VILLA, Marco Antonio. Canudos: O povo da terra. São Paulo: Ática, 1995.