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ANAIS
Aline Rozenthal de Souza Cruz
Guido Cruz de Assis
Organizadores
ISSN: 2763-8596
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTODE GEOCIÊNCIAS – IGEO/CAMPUS PRAIA VERMELHA
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
DIRETÓRIO ACADÊMICO TELMA REGINA
Comissão Organizadora
Contato: sag.geouff@gmail.com
grafias do país, na qual se abrem novos campos de luta em defesa dos direitos
humanos, do meio ambiente, das liberdades individuais e contra a expansão das
eixos temáticos:
1 - Geo-grafias e Distopias (Urbana, Agrária e Política): este GT visou
1 - GEO-GRAFIAS E DISTOPIAS
A FÁBRICA BHERING NA ZONA PORTUÁRIA DO RIO DE JANEIRO: reflexões sobre o fenômeno de
“gentrificação” no âmbito do projeto Porto Maravilha
Gabriel Figueiró Santos Gomes, Vicente Brêtas Gomes dos Santos e João Carlos Carvalhaes dos
Santos Monteiro ............................................................................................................................... p. 6-11
EXPANSÃO IMOBILIÁRIA NO SUBÚRBIO CARIOCA: um estudo de caso sobre a Avenida Dom Hélder
Câmara
Pedro Henrique Pereira Leite dos Santos ................................................................................................ p. 38-47
A DISTOPIA DO FUNK CARIOCA: ascensão do 150 bpm, violência nas favelas e as evidências de
uma cidade dividida
Thais da Silva Matos e Carlos Eduardo Cesário Lemos ..................................................................... p. 55-63
O HABITAR COMO SEGURANÇA ONTOLÓGICA: um estudo de caso sobre a Igreja de São José
Operário na Vila Autódromo
Yago Evangelista ................................................................................................................................................ p.84-91
2 – ESTUDO DE IMPACTOS AMBIENTAIS
INVASÃO E OCUPAÇÃO IRREGULAR EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: o exemplo do Parque
Estadual da Costa do Sol (PECS) – RJ
Karina Costa de Almeida, Jéssica Conceição da Silva e Thaís Baptista da Rocha ...................p.92-101
3 – INTERSECCIONALIDADES
O ESGOTO É MEU QUINTAL: O PROCESSO DE OCUPAÇÃO E OS DETERMINANTES SOCIAIS DA
SAÚDE NA FAVELA DE RIO DAS PEDRAS
Matheus Edson R. da Silva ........................................................................................................................ p. 145-150
4 – EDUCAÇÃO E GEOGRAFIA
DUALIDADE ESTRUTURAL DA EDUCAÇÃO: análise sobre sua história e as novas tendências
neoliberais
Bruna Machado da Rocha e Marcos Thiago da Costa Souza ...................................................... p. 159-166
RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo analisar, dentro do escopo do projeto Porto Maravilha,
a questão da gentrificação a partir do estudo de caso da Fábrica Bhering. Como aponta Smith
(2006), a refuncionalização com foco na cultura é elemento central na atração de uma nova
população, com perfil de renda mais alto, para as antigas zonas urbanas revitalizadas.
Buscamos compreender as dinâmicas espaciais estabelecidas entre a Bhering e seus arredores
e analisar se o incentivo, por parte do poder público municipal, à permanência de ateliês na
estrutura da antiga fábrica impulsionou a gentrificação da área.
1
Graduando em Geografia na UFF.
2
Graduando em Geografia na UFF.
3
Doutorando em Geografia na UFF.
6
1. INTRODUÇÃO
No curso da realização desta pesquisa,5 duas visitas foram feitas à Bhering em ocasião
do evento no qual locatários exibem, mensalmente, suas obras e produtos ao público. Durante
as visitações, realizadas em 4 de maio e 6 de abril de 2019, foram aplicados, de forma anônima,
questionários com artistas residentes e visitantes do evento. Buscamos compreender de que
maneira as dinâmicas que se desenrolam no interior das instalações da fábrica se relacionam
com seus arredores.
2. A ESTRATÉGIA DE GENTRIFICAÇÃO
4
Jornal O Globo. “Roda-gigante de 90 metros já ganha forma na Zona Portuária”. Johanns Eller, 28/05/2019.
Acesso em 29/09/19.
5
Pesquisa “Urbanização neoliberal, revalorização e refuncionalização da área central do Rio de Janeiro”,
financiada pelo CNPq na modalidade Iniciação Científica, com bolsa outorgada ao estudante Vicente Brêtas, e
pesquisa “Transformações recentes na área central da cidade do Rio de Janeiro: reflexões críticas sobre a produção
do espaço urbano em um contexto de neoliberalização”, financiada pela Faperj na modalidade Iniciação Científica,
com bolsa outorgada ao estudante Gabriel Figueiró. Ambos os projetos são supervisionados pela Profa. Dra. Ester
Limonad (PPGEO-UFF) em colaboração com o doutorando João Carlos Carvalhaes dos Santos Monteiro
(PPGEO-UFF).
7
Se nos reportamos a Neil Smith (2006) e ao debate que o autor levanta acerca da
gentrificação, veremos que, por definição, este é um fenômeno que se dá através da substituição
de populações residentes em certos bairros por outras, de poder de compra mais elevado.
Ocorre que este processo, primeiramente observado nas metrópoles do capitalismo central,
como Londres e Nova York, se configurou como “estratégia urbana global” após a década de
1980 (Smith, 2006), inserindo-se no bojo dos empreendimentos de retorno aos centros e de
suas propostas de “regeneração” da cidade (Silva, 2006). A alteração do perfil social dos
moradores, neste sentido, se dá geralmente em função da especulação e do aumento
significativo do custo de vida nos bairros gentrificados.
8
3. O CASO BHERING
9
residente por outra de maior poder aquisitivo; os artistas, em sua maioria, não veem a Região
Portuária a partir da perspectiva do estabelecimento residencial, apropriando-se do espaço no
Santo Cristo apenas para fins de ofício/ocupação.
Isso não significa que a Região Portuária do Rio de Janeiro, na qual a Bhering está
inserida, não tenha sido objeto de interesses por parte de agentes gentrificadores, públicos e
privados: tudo indica, na realidade, que o intento final do Projeto Porto Maravilha consistia na
profunda alteração da composição social dos moradores que tradicionalmente habitavam os
bairros da Gamboa, Santo Cristo e Saúde e na atração de novos residentes, das classes médias
e altas, para a região. Entretanto, a atração desta nova população residente jamais vingou.
Assim como feito com os artistas, foi perguntado aos visitantes da Bhering se estes se
interessariam em morar na Região Portuária. De um total de 25 questionários aplicados junto
aos visitantes, apenas em 4 a resposta para essa pergunta foi positiva; em um único caso, as
entrevistadas já residiam na área do porto; 80% dos visitantes entrevistados afirmou que não
moraria na região. Neste caso, as justificativas gravitavam especialmente em torno de questões
como precarização, insegurança e abandono. Foram citadas ruas desertas, falta de escolas,
“ambiência asséptica”, presença de favelas, etc. Vale citar que a média de renda salarial dos
frequentadores entrevistados é de 7.9 salários mínimos e uma grande parcela destes (12) mora
na Zona Sul da cidade. Os demais residiam em outras áreas das zonas norte e oeste, com
destaque para a Tijuca (5).
Outra questão levantada junto aos visitantes da fábrica buscou descobrir quais pontos
da Zona Portuária eles frequentam. As respostas deste ponto atestam, sem muitas surpresas,
que os entornos da Praça Mauá, com os Museus de Arte do Rio e do Amanhã e o Boulevard
Olímpico, configuram-se enquanto os principais polos de atração (ao menos no que se refere
ao lazer e ao turismo) da região do porto — 18 das respostas citavam a localidade. Quando
perguntados se frequentavam os entornos da Bhering, de um total de 25, apenas uma resposta
foi afirmativa. Isto parece apontar para uma seletividade espacial dos investimentos no Projeto
Porto Maravilha, que, aglomerados em certas partes específicas da Área de Especial Interesse
Urbanístico do Porto, impelem os fluxos de frequentadores apenas para estes recortes
reduzidos. Isto implica na estruturação de quadro curioso no que se refere à Bhering enquanto
10
polo cultural, de lazer e de consumo na região: são pouquíssimas as relações que se estabelecem
entre as atividades que ocorrem no interior do edifício, tanto no cotidiano dos artistas quando
nos eventos mensais abertos ao público, e a comunidade do entorno. Diferentemente dos
equipamentos culturais da Praça Mauá, que contam como toda uma infraestrutura de apoio em
seus arredores, a Bhering constitui um ponto isolado, quase como um enclave inserido na
comunidade do Santo Cristo.
4. CONCLUSÕES
11
da sociedade, utilizando-se da apropriação espetacularizada de formas e estruturas históricas
abrandecidas.
5. REFERÊNCIAS
BORDENAVE, Geisa. A" antiga fábrica da Bhering" e o projeto de" revitalização" da Zona
Portuária do Rio de Janeiro. Revista Intratextos, v. 9, n. 1, p. 47-62, 2018.
12
GT- 1: Geo-grafias e Distopias
RESUMO:
Os fundos de pensão brasileiros atuam no mercado imobiliário através de investimentos
que podem assumir natureza direta, através da compra do imóvel, ou indireta, através da
compra de veículos financeiros “lastreados” na terra e na produção imobiliária. Apesar
de serem reconhecidos internacionalmente pelo seu papel no capitalismo contemporâneo
(CLARK, 1998, 2000; DATZ, 2013, 2014), atualmente há pouco conhecimento
produzido acerca de como os objetivos financeiros modificaram a formação e as
estratégias de investimento desses investidores institucionais e como isso afeta o espaço
urbano construído (VAN LOON & AALBERS, 2017).
1
Graduando em Geografia. Atualmente é bolsista do Projeto Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC/CNPq) no âmbito do grupo de pesquisa “Economia, território e urbanização”.
13
Essa pesquisa dialoga com os estudos já existentes ao se voltar para investigar o
papel dos fundos de pensão no mercado imobiliário comercial. Os fundos de pensão
podem ser considerados agentes importantes na produção do espaço das cidades
brasileiras já que parte de seu capital, que chega hoje em cerca de 790 bilhões de reais
(cerca de 12,8% do PIB Brasileiro) (ABRAPP, 2017), é destinada para o mercado
imobiliário comercial, diferindo somente na forma de aplicação: direta, através da compra
de imóveis, ou indireta, através da compra de veículos e papéis financeiros que encontram
como “lastro” a terra e a produção imobiliária, tais como, as Letras de Créditos
Imobiliário (LCI), os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e os fundos de
investimento imobiliários (FII). Conforme aponta a literatura internacional, a direção que
esses investidores tomam para minimizar os riscos associados com a gestão de ativos
atuariais e maximizar o retorno na propriedade imobiliária tem resultado em ambos
diversificação (entre setores e localizações) e seletividade (de tipos particulares de
propriedades e lugares), criando novas geografias de investimento e remodelando cidades
e regiões (HALBERT et al., 2014; SANFELICI, 2018).
Nos últimos anos, uma literatura interdisciplinar tem investigado como a
aproximação do mercado imobiliário com o mercado financeiro vem transformando a
morfologia e as dinâmicas que caracterizam a produção das cidades (AALBERS, 2008;
RUFINO & PEREIRA, 2011; SHIMBO, 2012; HALBERT et al, 2014; SANFELICI &
HALBERT, 2016; KLINK & BARCELLOS, 2017). Parte dessa literatura tem se
empenhado em compreender o papel dos fundos de pensão como importantes agentes do
mercado imobiliário a luz do fenômeno da financeirização, que pode ser compreendida
como:
Essa definição de financeirização proposta por Manuel Aalbers deixa evidente que
este fenômeno atingiu diversos atores da sociedade, desde o próprio mercado financeiro,
instituições, até mesmo as famílias e indivíduos (ASENCIO, 2019). Dessa forma, a
financeirização repercutiu também na forma como os investidores institucionais (como
os fundos de pensão) lidam com o mercado imobiliário comercial o que, por sua vez, gera
3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
15
dez maiores fundos de pensão; sistematizar e examinar a evolução das normativas da
PREVIC e regulações do Conselho Monetário Nacional (CMN) referentes à aplicação da
carteira dos fundos de pensão em imóveis; organizar as publicações realizadas por
entidades especializadas como a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de
Previdência Complementar (ABRAPP).
No rol das recentes mudanças regulatórias experimentadas pelos fundos de pensão
brasileiros destaca-se a entrada em vigor da resolução CMN nº 4.661 de 25 de maio de
2018. A partir desta resolução os fundos de pensão nacionais foram proibidos de investir
diretamente em imóveis, sendo permitido somente a realização de investimentos
imobiliários através de veículos financeirizados lastreados em imóveis (como CRIs, FIIs
e CCIs). Ademais, os imóveis frutos de investimentos diretos já presentes nas carteiras
das entidades, segundo a resolução, devem ser alienados ou incorporados a FIIs até 2030.
Nessa perspectiva, através de uma análise parcialmente realizada das publicações da
ABRAPP e matérias de jornais especializados no setor financeiro e imobiliário foi
possível perceber, dentre outros aspectos, que a agenda da resolução do CMN Nº
4.661/2018 não foi bem aceita pelos fundos de pensão e continua sendo intensamente
debatida em reuniões e eventos do setor. Desta forma, procuraremos investigar, em
consonância com os outros projetos que compõe o grupo de pesquisa, de que forma os
investimentos imobiliários presentes no portfólio dessas entidades evoluíram ao longo do
tempo e se alteraram graças às imposições legais. Preliminarmente, sugere-se que não
houveram grandes alterações no que diz respeito ao investimento imobiliário, ou seja, que
o padrão espacial seletivo continua sendo seguido por essas entidades no momento do
investimento.
4 - REFERÊNCIAS
DYMSKI, G.. Racial exclusion and the political economy of the subprime
crisis. Historical Materialism, 17(2), 149-179, 2009.
17
RUFINO, M. B.; PEREIRA, P. C. X. Segregação e produção imobiliária na metrópole
latino americana: um olhar a partir da cidade de São Paulo. In: LENCIONI, S. VIDAL-
KOPPMANN, S.; HIDALGO, R.; PEREIRA, P. C. (orgs). Transformações sócio-
territoriais nas metrópoles de Buenos Aires, São Paulo e Santiago. São Paulo:
FAUUSP, 2011.
VAN LOON, J.; AALBERS, M. B. How real estate became ‘just another asset class’:
the financialization of the investment strategies of Dutch institucional investors.
European Planning Studies, 25:2, p. 221-240, Jan 2017.
RESUMO:
O presente trabalho procura apresentar os impactos das políticas econômicas de caráter
neoliberal a partir dos anos de 1970 até os dias atuais, na formulação de políticas sociais
públicas e na redução da gerência do assistencialismo através do Estado, focando no caso
brasileiro. Será abordado também como o Estado é gerido, segundo Antonio Gramsci
(2007), pela articulação entre sociedade civil e sociedade política, e como essa articulação
impacta na construção hegemônica do sistema capitalista que, estrategicamente,
constitui-se de poderes verticalizados, que regulam materialmente a realidade econômica,
política, jurídica e social de um país.
1
Graduando em Geografia na UFRRJ.
2
Graduando em Geografia na UFRRJ.
No final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970, com a crise das políticas
públicas do Estado Keynesiano, conhecidas também como “capitalismo democrático” 3
3
Segundo Wolfang Streeck (2012), o capitalismo democrático constitui-se na mediação do conflito entre
mercados capitalistas e políticas democráticas sociais, de forma que o mercado não deixe de garantir sua
lucratividade a partir do livre comércio de seus capitais e que os trabalhadores consigam garantir seus
direitos sociais básicos, como direito à habitação, educação e etc.
Vale ressaltar que, todos esses direitos foram conquistados através das lutas
sindicais por melhores condições de trabalho e assistência social. Em contrapartida, o
mercado conseguia manter sua lucratividade através do consumo, que era incentivado
inclusive pelo Estado, devido à classe trabalhadora da época ter ao menos um poder de
compra razoável. Além, é claro, de os Estados assumirem dívidas privadas de bancos e
empresas tanto nacionais quanto estrangeiras, transformando-as em dívida pública.
(STREECK, 2012).
Vale destacar também que, um importante ponto para as ações desses organismos
multilaterais de caráter neoliberal, foi a criação do Consenso de Washington em 1989, na
capital dos EUA. Como citado por Leher (1999), o consenso contou com a participação
de economistas e políticos neoliberais, representantes do FMI, Banco Mundial e
Departamento do Tesouro dos Estados Unidos. Esse encontro constituiu-se na realização
de uma série de recomendações econômicas, com vistas ao desenvolvimento do
neoliberalismo nos países ditos subdesenvolvidos, em especial, da América Latina.
Algumas orientações para os governos latino-americanos visavam as privatizações de
empresas estatais, maior abertura comercial e econômica diminuindo o protecionismo do
mercado nacional, reformas fiscais e tributárias com reformulação nos sistemas de
arrecadação de impostos, dentre outras medidas.
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
5 – REFERÊNCIAS
RESUMO:
2
Cabe enfatizar que este trabalho deriva da pesquisa de monografia de conclusão de curso de Licenciatura
Plena em Geografia pela FFP, sob orientação do Dr. Mário Pires Simão.
3
Encontrado em: https://amaphiko.redbull.com/pt-BR/projects/bem-biblioteca-engenho-do-mato
3. A PRODUÇÃO DE TERRITORIALIDADES
Desse modo, podemos destacar uma comunidade local corporificada que forneceu
mudanças naquele local. Uma forte relação com seu ambiente de vivência por meio de
valores simbólicos, coletivos e afetivos, afirmando o poder do laço territorial. Bem como,
“todo o espaço definido e delimitado por e a partir das relações de poder, é um território”
(SOUZA, 1995, p. 111), por meio da autogestão, o poder é horizontal e não hierárquico.
Buscam uma sociedade com menos desigualdade e mais autonomia perante o Estado.
Em suma, podemos verificar a dimensão política que a BEM oferece para seus
participantes, sempre em constante articulação com o CIEP, como estudantes e corpo
docente, com o princípio de atender ao público da escola. Observamos como suas práticas
espaciais estão em constante diálogo com as escolas da região promovendo exibição de
filmes, roda de ciranda e contação de histórias por exemplo, levando uma nova forma de
educação popular diferente da tradicional, quebrando com estereótipos de uma Biblioteca
padronizada.
5. REFERÊNCIAS
RAFFESTIN, C. Por uma geografia do poder. Tradução de Maria Cecília França. São
Paulo: Ática, 1993.
RESUMO:
1
Graduando em Geografia na UFF.
Este texto possui alguns propósitos. Fornecer noções básicas para formulação de soluções
que freiem a especulação imobiliária e seus efeitos negativos na periferia. Compreender os padrões da
produção de moradia brasileira e carioca. E, posteriormente, contribuir para a memória suburbana do
Rio de Janeiro2. É imprescindível, portanto, perceber a cidade para além de seu cartão-postal.
A estrutura habitacional do subúrbio da Zona Norte carioca passou por transformações
radicais na urgência do século XXI. As razões para a expansão imobiliária ali ocorrida são
múltiplas: a passagem do fordismo para a acumulação flexível, o crescimento acelerado do
Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, uma sequência de Mega Eventos no Rio de Janeiro. Esses
serão alguns dos fatores em que me embasarei para examinar parte da capital fluminense.
A Avenida Dom Hélder Câmara (Av. DHC), especificamente, é o recorte espacial
escolhido. A via possui relevância por ser localizada em uma área reconhecida por ser violenta e
subvalorizada. O que se percebe como fenômeno desde 2007 é uma quantidade avassaladora de
lançamentos imobiliários. Nesse cenário, a questão que se coloca é como uma área antes
considerada repulsiva passa a ser atrativa para a atividade construtiva.
Assim, como recorte temporal, serão comparados dois períodos distintos. O primeiro de
2000 a 2006 e o segundo de 2007 até 2016. Os dados utilizados foram extraídos da Associação
de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI), Secretaria Municipal de
Urbanismo (SMU) e Data.rio. Através do ArcMap, ferramenta de geoprocessamento, pude
compor os mapas aqui presentes.
Como ponto de partida, podemos identificar três tipos de delimitação para contextualizar a Av.
DHC. Subúrbio carioca, Zona Norte e Área de Planejamento 3 (AP3). A primeira, isenta de sentido
histórico e espacial, é determinada pela sua classe social3. No imaginário da cidade, o suburbano
possui teor pejorativo, sinônimo da malandragem. Seu uso é desassociado do significado literal, ou
seja, “vizinhança da cidade ou de qualquer povoação”4. Já Abreu (1987) aponta como o termo se
refere aos bairros populares e ferroviários dentro do perímetro urbano. Zona Norte, tradicionalmente,
utiliza-se para expor as contradições em relação a Zona Sul. Guarda parte da carga negativa
2
Aqui estão reunidas informações coletadas para o projeto “Expansão imobiliária e desconcentração industrial: análise
e estudo espacial da Avenida Dom Hélder Câmara”. Uma Iniciação Científica oferecida pela FAPERJ com conclusão
em 2020/1.
3
FERNANDES, 2011.
4
DICIONÁRIO MICHAELIS, 1998, p.1179.
Enfim, ficam algumas questões para examinar. Como se organiza o setor imobiliário? O
que faz com que certas localidades sejam preteridas em detrimento de outras?
Corrêa (1992) cita as funções de incorporação, financiamento, estudos técnicos, atividade
construtiva e a venda dos imóveis. O caso estudado por Shimbo (2011) revela que as empresas podem
possuir mais de uma atribuição, senão todas elas. No Brasil, as incorporadoras, responsáveis pela
concepção dos projetos e da organização da construção, são absorvidas pelo modelo
financeirizado da produção habitacional. Passam a arrecadar fundos por meios sofisticados e
diversificam seus capitais por todo território nacional.6 Veremos em breve os impactos desse
fenômeno na produção de moradia do país.
Vale lembrar da submissão do solo urbano às regras do jogo capitalista. Singer (1979)
aponta que a origem da valorização do capital imobiliário está na propriedade privada da terra. O
direito exclusivo a este bem imobilizado oferece a possibilidade de seu dono manipular o preço
de acordo com que a “demanda estiver disposta a pagar”7. O autor busca frisar a característica
5
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável (PDDUS) – Lei Complementar 111/2011.
6
SHIMBO, 2011; SANFELICI & HALBERT, 2016.
7
Ibid, p.23.
8
SANTOS, 2005.
9
Ibid, p.39.
10
BARROS, 2019; CANO, 2012.
11
SANTOS & SANFELICI, 2015.
O ano de 2008, contudo, é marcado por uma forte crise financeira de nível global. O
governo Lula, como reação, lança o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) no ano
12
SANTOS & SANFELICI, 2015, p.6.
13
MARICATO, 2005, p.1.
14
SILVA, 2019.
15
Ibid, p.84.
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados da ADEMI e SMU.
16
PDDUS, 2011, p.15.
17
Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU), segundo informa a SMU, é aquela destinada a projetos específicos
de estruturação ou reestruturação, renovação e revitalização urbana.
18
Além dos demais estímulos vistos, tivemos os Jogos Pan Americanos (2007), a Copa do Mundo (2007) e os Jogos
Olímpicos (2016).
19
“Violência afeta setor imobiliário do Rio” - Valor Econômico – 06/10/2017 -
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2017/10/06/violencia-afeta-setor-imobiliario-do-rio.ghtml.
20
“UPP faz preço de imóveis disparar no Rio” – Folha de SP – 15/03/2011.
21
FRANCO, 2014, p.84.
Além disso, os shoppings, ambos marcados no mapa, são tanto beneficiados quanto
estimuladores do setor imobiliário da região. O vice-presidente da RJZ/Cyrela chegou ao ponto de dizer
que “O Norte Shopping está para a Zona Norte como a praia para a Zona Sul”22 O maior número de
lançamentos está nos arredores desses centros comerciais. O transporte também é uma informação
recorrente na publicidade imobiliária. A Av. DHC, em sua extensão, é cortada tanto pelo metrô
quanto pelo trem. A concentração dos empregos no Centro da cidade e os engarrafamentos
aumentam o tempo de trajeto dos suburbanos. A mobilidade, portanto, é um critério igualmente
demandado na escolha do local de moradia. A concentração de investimento na Av. DHC é de
chamar atenção. Pode-se constar da mesma forma como a distribuição é desigual ao longo da via.
A atual estrutura residencial no subúrbio confirma como os recursos não são partilhados de forma
a garantir o acesso à moradia.
22
“Os segredos de Del Castilho”. Disponível em:
http://www.ademi.org.br/article.php3?id_article=21933&var_recherche=norte+shopping.
6. REFERÊNCIAS
FRANCO, M. UPP – A redução da favela a três letras: uma análise da política de segurança
pública do estado do Rio de Janeiro. Dissertação de Mestrado - Niterói: Universidade Federal
Fluminense, 2014.
SANFELICI, D.; HALBERT, L. Financial markets, developers and the geographies of housing
in Brazil: A supply-side account. Urban Studies, v. 53, n. 7, p. 1465–1485, maio 2016.
SINGER, P. O uso do solo urbano na economia capitalista. In: MARICATO, Erminia (Org.). A
produção capitalista da casa e da cidade no Brasil industrial. São Paulo: Alpha-omega,
1979.
RESUMO:
O presente artigo busca compreender por meio do método materialista histórico e
dialético e da teoria da produção capitalista do espaço, os processos e agentes que atuam
e impactam no processo recente de transformação espacial da Favela do Vidigal. Através
da analise dos contextos e programas de urbanização que culminam no atual processo de
turistificação evidenciaremos o papel do Estado e da iniciativa privada, que no atual
cenário do neocapitalismo contemporâneo, é responsável direta pelas consequências que
vão além das transformações estruturais, impactando também no cotidiano da favela e na
vida do morador.
1
Mestre em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da UERJ/FFP.
Esse novo cenário surge, segundo Abreu (2013), pelo não acompanhamento entre
o crescimento populacional e o aumento de ofertas de moradia e transporte, afetando
principalmente a parcela mais pobre da população, que impossibilitada de competir
financeiramente pelo espaço com as demais parcelas da sociedade, passa a se colocar nos
entornos e/ou locais não ocupados até então, que desde então passam a ser popularmente
conhecidos como favelas. Essa realidade, iniciada no fim do século XIX chega ao século
XXI com, de acordo com o IBGE/Censo 2010, com cerca de 1.500.000 de habitantes em
cerca de 750 favelas, equivalendo aproximadamente a ¼ da população carioca.
O surgimento desse tipo de moradia no Rio de Janeiro traz consigo novos agentes
e relações dentro do processo de produção do espaço, pois é a partir desse momento que
o Estado, compreendido como relação social que se materializa a partir da interação dos
poderes entre os agentes e grupos que o compõem, passa a ser um agente ativo do
processo. Essa mudança de status do Estado pode ser vista e evidenciada através da
análise da atuação do poder público, que associado ao capital privado, desde o século
XIX e principalmente durante a primeira metade do século XX, foi o responsável e
principal produtor do espaço. Essa atuação, feita através de políticas higienistas e grandes
Ao final dos anos 2000, após os modelos de reestruturação, é possível ver uma
nova tendência surgir no processo de ‘’urbanização’’ das favelas, sendo essa associada
majoritariamente à questão de segurança, que ao longo de todos os anos 1990 e início de
2000 vinha ganhando peso no processo de discussão do modelo de produção da cidade.
A entrada do capital nesse contexto ficaria condicionada a tais questões, pois ficava
evidente para os gestores e principalmente para a iniciativa privada, que para que o capital
pudesse entrar nas comunidades seria necessário transformar não apenas as estruturas
urbanas, como já vinha sendo proposto, mas também o imaginário relacionado às favelas,
que ao longo dos anos vinha sendo quase que unicamente associado à violência. Essa
necessidade de segurança, além de se originar da crescente pressão pública, ganha força
também devido aos grandes eventos que ocorreriam na cidade entre meados de 2000 e
2016.
2
Entre os anos de 1980 e 2000 o Vidigal passou de 9.696 para 13.719 habitantes (IBGE), um crescimento
muito maior que o da cidade, que na mesma época, passa de 5.183.992 habitantes para 5.851.914 (12%).
Esse processo de inserção da favela no circuito do capital não pode ser encarado
como algo de mão única, pois esse está associado também a um gama de processos
internos, como a mudança de perfil do morador citada por Leitão (2009), que junto com
tais mudanças estruturais, vão ser responsáveis também por ampliar o mercado interno,
através de pequenos comércios, que ajudam a transformar algumas das representações e
generalizações históricas associadas à favela. Essa transformação simbólica e sua relação
com a valorização em questão se dá também pela mídia, que aos poucos, principalmente
após as coberturas midiáticas da ”retomada do território” e das mudanças posteriores,
eleva o Vidigal a categoria de favela ”cool”, “point” dos jovens cariocas, centro de
produção cultural (funk, samba, rap, entre outros), que ao passar a contracenar com a
3
Reportagem Estadão - https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,alemao-monta-complexo-turistico-no-
vidigal,331501.
4
Entrevista concedida ao autor no dia 28/05/2019 por José Neguinho, principal articulador do investidor
alemão Rolf Glaser, que entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009 adquirira 37 propriedades, anunciando
a construção de hotéis e etc.
5
Entrevista concedida ao autor no dia 09/05/2019 por André Maurício Pogsi, Diretor Cultural e Social da
Associação dos Moradores da Vila do Vidigal (AMVV).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6
A agência Vidigalo, do idealizador André Koller distribuiu e divulga um projeto chamado “Vidigal 100
fronteiras”, que além de funcionar como uma revista interna para o morador nas redes sociais, também
produziu mapas entre 2012 e 2017.
Essa percepção nos leva a conclusão de que a atual dinâmica do Vidigal, que em
muitas vezes é mais atrativa aos que vem de fora do que para os moradores, intensificando
o processo de competição e disputa em curso. Esse processo faz com que os mesmos
tenham seu direito à cidade reprimido, o que cria cada vez mais questionamentos no
Vidigal, que busca assim como fez em 1978, através de uma organização associativa
exercer o tal direito, pautado por Harvey (2015) como sendo muito mais que a liberdade
4. REFERÊNCIAS
RESUMO:
Neste trabalho iniciaremos uma análise do processo antagônico por meio do qual o Funk
Carioca se firma como um dos principais ritmos brasileiros contemporâneos. Enquanto o
funk, principalmente as batidas a 150 bpm, ganha notoriedade nacional e internacional,
em paralelo a isso, as favelas são alvo de crescente repressão do Estado. A partir dessa
dicotomia, buscamos entender o papel da marginalização e repressão das favelas e de suas
manifestações culturais na produção de uma cidade dividida por uma fronteira simbólica
que não reconhece a favela e suas produções como parte integrante da sociedade.
1
Graduanda em Geografia na UFF.
2
Graduando em Geografia na UFF.
O Funk Carioca, gênero musical advindo das favelas do Rio de Janeiro, assim
como suas manifestações culturais, não são fenômenos recentes. Apesar de terem
assumido grande notoriedade na mídia somente nos últimos anos, esses movimentos
resistem na cultura brasileira desde a década de 90 e refletem os processos e
transformações que a favela experimentou enquanto território.
Por um lado, temos o funk se afirmando como um dos principais ritmos
brasileiros. Por outro, a perversa intervenção do Estado nas favelas, caracterizada pela
extrema violência e pelo extermínio da população marginalizada e dos corpos negros. Tal
abordagem é apoiada por discursos que elaboram a favela enquanto um território a ser
controlado e civilizado. Esse imaginário negligencia as complexas relações que se
desenvolvem nas favelas através de atores diversos, além de não reconhecer a capacidade
de produção de saberes dos seus moradores e ignorar, quando se supõe necessário, seu
status de cidadania.
A construção da favela enquanto espaço não reconhecido pela sociedade remonta
a produção racista do espaço urbano do Rio de Janeiro. A situação enfrentada pelos negros
no Brasil do século XX é herança de uma sociedade escravocrata que, mesmo após a
abolição, manteve estruturas sociais racistas, condicionando os afro-brasileiros a
categoria de sub-humanidade, sem possibilidade de ascensão social. A falta de assistência
a essa população resultou no surgimento de moradias precárias e “irregulares” nas áreas
centrais da cidade que ao longo dos anos se multiplicaram.
Todos esses processos vão de encontro com a marginalização e perseguição que
o funk, enquanto gênero musical, vem sofrendo ao longo dos anos e assim como a
contradição em sua ascensão como um dos gêneros mais populares do país e que ganha
notoriedade do mercado mainstream internacional. Com isso, nossa pesquisa busca
apresentar tais contradições, além de contextualizar os fatos que nos trouxeram até o
panorama atual e as políticas públicas de intervenção e perseguição à população mais
pobre e negra, que se localizam nas periferias do espaço urbano.
A violência extrema sempre foi uma marca na relação da favela com o Estado,
que se apoia na produção de um imaginário racista profundamente enraizado na sociedade
brasileira e que não tolera assimilação dos favelados a cidadania urbana, para dar
continuidade ao projeto de embranquecimento da população e da cultura, através do
genocídio das pessoas pretas desse país. Hoje, tal abordagem é justificada pela guerra às
drogas; mas antes mesmo da ocupação pelas facções criminosas, reconhecemos ações
brutais por parte do Estado, oprimindo atividades e manifestações culturais de favela,
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LOPES, A. Funk-se quem quiser: no batidão negro da cidade carioca. 1 ed. Rio de
Janeiro: Bom Texto: FAPERJ, 2011.
NOVAES, Dennis. Funk proibidão: música e poder nas favelas cariocas. 2016. 137f.
Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) - Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2016.
RESUMO:
O artigo busca estabelecer relações entre a cobertura midiática do Projeto Porto Maravilha e
a produção do espaço urbano carioca no contexto do planejamento estratégico. Tendo em
mente que “representação e ação se encontram relacionadas no movimento de produção do
espaço” (Sánchez, 2003), a mobilização, pela grande mídia, de preconceitos coletivos
territorialmente referenciados parece ter tido papel central no empreendimento de adaptação
da Zona Portuária do Rio de Janeiro — região historicamente invisibilizada da cidade — a
demandas estéticas e organizativas do capital global. O processo se materializa na violação
de direitos da população local e na mercantilização do espaço público.
Palavras-chave: Porto Maravilha; Mídia; Representação.
1
Graduando em Geografia na UFF.
2
Graduando em Geografia na UFF.
3
Doutorando em Geografia na UFF.
64
1. INTRODUÇÃO
4
Pesquisa “Urbanização neoliberal, revalorização e refuncionalização da área central do Rio de Janeiro”,
financiada pelo CNPq na modalidade Iniciação Científica, com bolsa outorgada ao estudante Vicente Brêtas, e
pesquisa “Transformações recentes na área central da cidade do Rio de Janeiro: reflexões críticas sobre a
65
2. A CONSTRUÇÃO DE UMA IMAGEM DA ZONA PORTUÁRIA CARIOCA
66
e Santo Cristo endossaram e reforçam o imaginário social acerca da região (Figuras 1, 2 e
3).5
5
Destaques e manchetes de matérias publicadas pelo Jornal O Globo tratando de questões acerca dos bairros
da zona portuária carioca. Figura 1: edição de 23 de junho 1991 (a Barão de Angra é uma rua no bairro do Santo
Cristo); Figura 2: 21 de setembro de 1990; Figura 3: edição 28 de outubro de 1973.
67
3. O PROJETO PORTO MARAVILHA E A REINVENÇÃO DA ZONA
PORTUÁRIA PELA MÍDIA
6
Manchetes e destaques retirados de reportagens do Jornal O Globo. Figura 4: edição de 22 de março de
2010; Figura 5: edição de 6 de janeiro de 2011; Figura 6: edição 3 de abril de 2011.
68
No bojo do alvoroço ocasionado pela escolha do Rio de Janeiro como sede das
Olimpíadas de 2016, a costura do Projeto Porto Maravilha refletiu um excepcional cenário
de alinhamento entre os governos federal, estadual e municipal e a grande mídia nacional.
Entretanto, a partir de 2016, denúncias de corrupção na engenharia financeira do projeto no
contexto da Operação Lava Jato passam a ser veiculadas com maior frequência no O Globo.
Após as eleições municipais e a posse de Marcelo Crivella, em 2017, o tom do jornal em
relação à zona portuária se altera radicalmente: passa-se a chamar a atenção do público para
adversidades financeiras e para o risco de abandono do empreendimento, passando uma
representação de falta de interesse e até mesmo de abandono por parte do poder público em
relação ao prosseguimento do projeto (Figuras 7, 8 e 9).7
7
Manchetes retiradas de reportagens do Jornal O Globo. Figura 7: edição 19 de junho 2018; Figura 8: edição
18 de junho 2017; Figura 9: edição 5 de junho 2017.
69
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
70
Nos últimos dois anos, o tom atual das reportagens do O Globo referencia o abandono
do projeto, trazendo ao primeiro plano o acirramento de ânimos existente entre o
conglomerado midiático e o atual prefeito, ligado à Record TV e à Igreja Universal. A crise
que se abateu sobre o Porto Maravilha - apesar de seu óbvio lastro na insustentabilidade
financeira do projeto (Giannella, 2019) - não se desvencilha das disputas políticas que tem a
cidade como objeto e expõe de que maneira a produção hegemônica do espaço urbano se
atrela a alianças e embates no campo do simbólico, como aponta Sánchez (2003).
5. REFERÊNCIAS
71
SÁNCHEZ, F. A cidade-mercadoria: produção do espaço e lógica cultural nos processos de
renovação urbana. In: SÁNCHEZ, F. A reinvenção das cidades para um mercado
mundial. Chapecó: Argos, 2003.
SANTOS, M. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países
subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Ferreira Alves, 1979.
72
GT – 01: Geo-grafias e distopias
RESUMO
O presente texto se propõe a refletir acerca da elaboração e execução de políticas públicas
voltadas aos povos indígenas, apoiando-se sobre a investigação da relação de violência
historicamente constituída pelo Estado brasileiro sobre os povos originários. Objetivando
assim construir outros sentidos de políticas públicas relacionados aos povos indígenas,
apoiamo-nos na análise dos conceitos de cidadania e de território frente a este debate.
1
Graduando em Geografia da UFF. Integrante do PET – Programa de Extensão Tutorial.
2
Graduando em Geografia da UFF. Integrante do LEMTO – Laboratório de Estudos e Movimentos Sociais
e Territorialidades.
O debate sobre políticas públicas tem uma longa trajetória nas ciências que têm
como preocupação a sociedade, as relações sociais de poder e o papel do Estado. Nesse
sentido, através de um enfoque geográfico, é importante retomarmos um debate acerca
da própria organização territorial do Estado moderno e situarmos os processos de
descentralização política pelos quais o país vem passando desde as últimas décadas do
século XX, haja vista as inconsistências estruturais na garantia de acesso a políticas
públicas pela sociedade desigual que é a brasileira.
Segundo Castro (2005), a centralidade territorial do poder político é marco de
nascimento do Estado moderno, cuja razão de sucesso está na construção de uma máquina
administrativa eficiente e funcional. Se a centralidade territorial do poder político só foi
possível pela submissão e o controle do território, a racionalização do direito apoiada em
uma burocracia administrativa impessoal e uma força militar profissional e permanente
são características fundantes do Estado Moderno (CASTRO, 2005).
Neste sentido, a estrutura administrativa aparece enquanto aparelho de gestão de
poder sobre a sociedade e sobre o território. Ademais, no decorrer do espaço-tempo, a
organização social e a relativa ampliação da participação política desencadearam em
processos de emancipação dos indivíduos e a racionalização da burocracia estatal
(CASTRO, 2005).
No tocante às funções administrativas, a promoção de políticas públicas é
primordial, pois age na prestação de bens e serviços às coletividades e aos seus territórios,
como na manutenção da ordem, regulamentação do trabalho, assistência social, saúde e
educação. Segundo Castro (2005), tanto a organização do corpo político como a do seu
aparato administrativo são moldadas no território submetido pelo Estado e condicionadas
pelo processo histórico de cada sociedade. Assim, no território, a atividade a função, as
sedes, a acessibilidade e provisão do serviço administrativo são elementos-chave na
correlação espacial da geografia com a administração (CASTRO, 2005).
Portanto, a distribuição espacial dos aparatos institucionais vinculados à
administração pública e o fornecimento de políticas públicas deveria ser o mais igualitária
possível. No Brasil, Estado Federativo (moderno), através da Constituição Federal de
1988, opera-se um sistema de administração pública que reduziu a esfera do local, do
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
4. REFERÊNCIAS
Yago Evangelista1
Universidade Federal Fluminense
souzayt3@gmail.com
RESUMO:
Aqui trataremos o habitar como uma questão ontológica e fenomenológica em ocupações
urbanas, focando no caso da Vila Autódromo e, especialmente, na Igreja de São José
Operário. Utilizaremos de base conceitual Henri Lefebvre e Martin Heidegger.
1
Estudante de Licenciatura em Geografia.
O habitar, como aponta Barbosa (2016, p. 103), quando trabalhado por geógrafos,
é um tema normalmente reduzido ao direito a habitação, e isso é um erro, pois além da
necessidade de um abrigo por excelência e de uma casa ser uma construção vital para a
reprodução humana, quando convivemos com grupos que lutam pelo direito à moradia o
que percebemos é que quando falamos de casa não estamos falando somente do abrigo
individual e monofamiliar, estamos falando da morada – ou como trabalharemos aqui o
habitar, que é uma experiência territorial corpórea, que se dá em determinados grupos que
são unidos por suas proximidades de práticas, valores, vivências, memórias e posição
social, a partir da junção das qualidades materiais e simbólicas produzidas, que são
mobilizadas pelos seus membros em um processo de atribuir significado a sua existência.
Na primeira parte traremos uma breve história da Vila Autódromo, que passará
sua origem até os atuais. Fazendo uma revisão bibliográfica do assunto, bem como relatos
de moradores sobre as violações que ocorreram na época do processo de remoção, depois
abordaremos o caso da Igreja de São José Operário.
A comunidade da Vila Autódromo tem seu marco inicial entre as décadas de 1960
e 1970, como uma vila de pescadores que se instalaram às margens da Lagoa de
Jacarepaguá. Na mesma época, o crescimento da cidade do Rio de Janeiro vai em direção
à região da Barra da Tijuca, o bairro em que a Vila se encontra.
A década de 1990 chega com diversas ameaças de remoção por parte do governo
municipal, sob o comando de Cesar Maia, que alegava que a comunidade causava dano
estético e ambiental, e com a concessão de direito real de uso2 por noventa e nove anos
dado pelo Governo do Estado, do Lionel Brizola, que já demonstrava um claro conflito
de interesses sobre a região. A Vila Autódromo foi demarcada em parte como Área de
Especial Interesse Social pela Câmara Municipal em 2005. A Vila Autódromo recebeu
2
Através desse instrumento disponibiliza a posse de bens públicos imóveis a terceiros, visando dar
efetividade à sua competência de definição e implantação das políticas locais.
Como aponta Vainer et al. (2013), a região da Vila Autódromo corresponde a área
do município que mais cresceu em população nos últimos anos. Ela teve um crescimento
de 73% do número de moradores entre 2000 e 2010. De acordo com Censo 2010 (IBGE,
2011), 1.252 habitantes residiam na Vila, e, segundo relatos de moradores, pouco antes
do processo de remoção em 2016, havia cerca de 3.000 habitantes organizados em 700
núcleos familiares.
A remoção como um todo dura mais de 20 anos, mas teve seu período mais
violento no período pré-olimpíadas, quando, os moradores da Vila souberam do processo
de remoção pelo Jornal O GLOBO no dia 4 de outubro de 2011, pois até então não tinham
sido avisados do processo, e então no dia seguinte o secretário de habitação do Rio de
Janeiro vai à Vila e tenta convencer os moradores que se retirem, mas falha.
A remoção na Vila Autódromo – cuja maioria dos lotes era regular e os moradores
detinham o título de Concessão de Direito Real de Uso – é apresentada como necessária
para a construção do Parque Olímpico, acionando argumentos de preservação ambiental.
Tal justificativa não se sustenta, uma vez que há condições de permanência dos moradores
com qualidade ambiental através de urbanização.
A Igreja de São José Operário é um pilar dentro da Vila Autódromo. Ela é hoje,
por falta de uma Associação de Moradores, o lugar onde se recebe as visitas de grupos
que venham de fora conhecer a história da ocupação, se projeta filmes e slides, e se faz
palestras sobre o processo de remoção, bem como onde se guarda uma grande parte do
acervo do Museu das Remoções, além de ser uma peça do mesmo – o museu é um
instrumento de resistência e luta, ele tem um alcance nacional, ele busca interagir e
orientar comunidades que sofrem ou sofreram com processos de remoções e práticas
especulativas. Além de ser um espaço a céu aberto que demarca o processo de remoção
AO CITAR ESTE TRABALHO, UTILIZE A SEGUINTE REFERÊNCIA:
EVANGELISTA, Yago. O habitar como segurança ontológica: um estudo de caso sobre Igreja de São José Operário na Vila
Autódromo. In: I SEMANA ACADÊMICA DE GEOGRAFIA DA UFF, 1, 2019, Niterói, RJ. Anais da I SEMAGEO. Niterói:
Repositório UFF, 2021. p.84-91.
ISSN: 2763-8596
88
através de um circuito pelos “escombros” das casas que restaram ali, e de exposições de
esculturas. Quando perguntado sobre o fato de a igreja ser uma peça central para o museu,
um dos nossos entrevistados disse “espero que Deus me perdoe por fazer essas coisas
aqui, mas não tem outro lugar”. Até mesmo antes da Associação de Moradores ser extinta
a Igreja de São José Operário já era um ponto de encontro, devido a associação não
comportar mais de 50 pessoas de uma vez.
A igreja que hoje é uma das duas construções que se mantiveram mesmo após os
processos de remoção, tem a sua história intimamente ligada a história da Vila
Autódromo. Ela passou junto com a Vila por todos os processos de remoção desde a
década de 90 quando Cesar Maia ameaçava remover a comunidade, a igreja também foi
ameaçada, mas permaneceu.
Com as novas ameaças nos anos 2000, a igreja foi ameaçada de remoção por
diversas vezes, e, durante o período pré-olimpiadas com a construção do condomínio Rio
2 e por consequência, por demanda popular, uma igreja dentro dele. Acreditava-se que a
igreja ali seria retirada, pois simultaneamente muitas famílias deixavam a comunidade.
Logo, foi marcada uma reunião com o Arcebispo do Rio de Janeiro, Don Orani Tempesta
Com o começo das remoções, após um episódio em que o então prefeito se recusou
a entregar as chaves dos novos apartamentos para os moradores da Vila, mesmo após ter
exigido que eles se retirassem das casas, os moradores decidiram que não confiariam mais
nas promessas do prefeito e decidiram ficar na comunidade mesmo durante as obras na
região. Para isso foi exigido a colocação de moradias temporárias em contêineres, o
processo de remoção não foi parado então alguns moradores utilizaram a igreja como
habitação temporária, para não morarem na rua.
Mesmo após o processo de remoção a igreja ainda é uma centralidade que une as
pessoas que migraram e as que se mantiveram na Vila Autódromo. Em trabalho anterior
se constatou, que uma moradora que se mudou da Vila decidiu comemorar o seu
aniversário na igreja, bem como o velório de antigos moradores, o que mostra a
importância que esse espaço ainda carrega.
RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo mapear o comportamento da ocupação em Monte Alto
e Figueira (Arraial do Cabo - RJ) no interior do Núcleo Atalaia-Dama Branca do Parque
Estadual da Costa do Sol de 2005 a 2019. Os mapeamentos foram feitos através do
ArcGIS 10.4, utilizando ortofotos, imagens de satélite e um ortomosaico. Os resultados
mostram que as edificações estão avançando sobre a restinga, pondo em risco a
existência da Geodiversidade e Biodiversidade local e os serviços por elas prestados. É
necessário que haja constante fiscalização do setor público, sendo as imagens de satélite
e produtos frutos de aerolevantamento ferramentas que auxiliam nesse monitoramento.
1
Graduanda em Geografia na UFF.
2
Graduanda em Geografia na UFF.
3
Prof.ª Dr.ª do curso de Geografia da UFF.
92
1. INTRODUÇÃO
Dentro dos limites do PECS existe uma grande Diversidade Natural que,
segundo Serrano e Ruíz-Flaño (2007), engloba a Biodiversidade e a Geodiversidade.
De acordo com Wilson (1992), o conceito Biodiversidade significa a variedade de
organismos vivos. Serrano e Ruíz-Flaño (2007) afirmam que a Organização das Nações
Unidas (ONU), em 1993, aprimorou a mencionada definição incluindo a diversidade
entre espécies, dentro de uma mesma espécie e de ecossistemas. Sobre a
Geodiversidade uma das definições clássicas é aquela cunhada por Gray em 2004 e
aprimorada em 2013. Para o autor, Geodiversidade é a variedade dos elementos
abióticos, ou seja, componentes geológicos (rocha, minerais e fósseis),
geomorfológicos (formas de relevo, topografia e processos físicos associados),
93
pedológicos e hidrológicos, além de suas assembleias, estruturas, sistemas e
contribuições para paisagem (GRAY, 2013).
Toda essa riqueza está protegida pela lei, mas vem sofrendo pressões
antrópicas. De acordo com o Plano de Manejo do PECS, no que tange a Diversidade
Natural do parque, uma das principais ameaças sofridas é a invasão e ocupação
irregular (INEA, 2019). No Município de Arraial do Cabo (RJ) elas ocorrem de forma
recorrente sobre o NADM, mais precisamente nos distritos de Monte Alto e Figueira.
Esse processo é explicado pelo crescimento desordenado e o foco do setor imobiliário
em casas de veraneio (mais caras) provocando especulação imobiliária. A especulação,
por sua vez, dificulta o acesso da população mais pobre à moradia regular e, ao mesmo
tempo, facilita o avanço da ocupação irregular sobre a restinga da Massambaba (RIO
DE JANEIRO, 2017).
Desta forma, foi construído um cenário no qual a área do NADM contém vários
elementos representantes da Geodiversidade, mas também sofre com invasões e
94
ocupações irregulares. Isso tudo em uma UC que permite apenas o uso indireto dos
recursos naturais e que tem como propósito proteger e recuperar seu patrimônio
natural, além de impedir a expansão imobiliária (SNUC, 2000; INEA, 2019). Assim, o
presente trabalho tem como objetivo mapear o comportamento da ocupação em Monte
Alto e Figueira no interior do NADM do PECS (Figura 1).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
95
satélite dos anos 2007, 2010, 2011, 2014 e 2018, um ortomosaico de 2019 e um
shapefile com os limites do PECS. As ortofotos foram produzidas pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e as imagens de satélite foram obtidas a
partir do Google Earth. Já o ortomosaico pertence ao acervo do Laboratório de
Geografia Física (LAGEF-UFF) e foi gerado através de um levantamento com
Aeronave Remotamente Pilotada (ARP). Por fim, o shapefile foi desenvolvido pelo
Instituto Estadual do Ambiente (INEA) e todos os dados foram trabalhados no
programa ArcGIS 10.4.
A metodologia para elaboração dos mapas seguiu cinco etapas, sendo elas: 1)
georreferenciamento das imagens do Google Earth tendo por base as ortofotos do
IBGE; 2) criação de shapefiles para cada ano (2005, 2007, 2010, 2011, 2014, 2018 e
2019) contendo todas as edificações da área de estudo; 4) Obtenção da quantidade de
edificações através da tabela de atributos; 5) Criação de mapas (modo layout)
mostrando a evolução do número de edificações dentro do parque.
Os mapeamentos das edificações dos anos de 2005, 2007, 2010, 2011, 2014 e
2018 foram feitos em uma escala de 1:1.000 e com o auxílio do Google Earth. Já no
mapeamento de 2019, utilizando do ortomosaico, a escala de mapeamento foi 1:1.500.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Como resultado, foram gerados dois mapas. Neles ficou evidente o avanço das
construções irregulares sobre o NADM e sua Diversidade Natural. Durante a série
histórica trabalhada, ficou perceptível um constante aumento do número de edificações
adentrando o parque. Em 2005, havia 250 delas no interior desse núcleo do PECS. Em
2018, houve um aumento de 210,4%, chegando a 776 edificações (Figura 2).
96
Figura 2 - Aumento do número de edificações do interior do PECS entre 2005 e 2018
97
Figura 3A - Ocupações irregulares no distrito de Figueira (2019).
Figura 3B - Avanço das edificações de Figueira sobre os limites do PECS, entre 2005
e 2019.
98
A problemática gerada pela pressão antrópica sobre os limites do PECS tem
sido tratada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e o INEA. Visando a
recuperação das áreas, que têm sofrido com incêndios e poluição por esgoto, após
audiências e requerimentos, são efetuadas demolições (MPRJ, 2019). No dia 15 de
agosto foram demolidas 148 construções ilegais no distrito de Monte Alto (MPRJ,
2019) (G1, 2019) e logo depois, no dia 29 de agosto, 53 edificações foram postas a
baixo em Figueira (PORTAL G1, 2019).
O distrito de Monte Alto é abordado como um caso à parte no Plano de Manejo.
Entre 2016 e 2017, o INEA discutiu internamente a possibilidade de alterar os limites
do PECS, depois de pedidos do conselho consultivo, proprietários da região e
comunidade científica. Inclusive, existe um projeto de lei visando à desafetação da
área. Entretanto, o MP proibiu a divulgação de qualquer pesquisa sobre esse tema por
parte do INEA até a publicação do Plano de Manejo. Dessa forma, ficou acordado que
seria criado um projeto específico para nova delimitação do PECS priorizando Monte
Alto. Ao longo do texto que indica diretrizes para esse projeto fica explicitada a
necessidade de tratar com cuidado a questão da desafetação, pois poderia se tornar um
incentivo a novas ocupações visando novas desafetações (INEA, 2019).
Os mapas mostram que apenas a criação do parque não freia o avanço da
ocupação, já que o mesmo foi criado em 2011 e em 2019 é visível o aumento do número
de construções em seu interior. Os limites do PECS precisam de fiscalização constante
devido à rapidez das invasões e dos estragos por elas causados. A utilização de imagens
de satélite e ortomosaicos gerados por ARP para monitoramento das UCs permite o
reconhecimento das atividades praticadas nesses locais.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
99
sofre com atividades turísticas desordenadas, tráfego de veículos sobre dunas e
vegetação, queimadas, poluição, vandalismo entre outros.
Esse avanço das edificações sobre o PECS tem causado destruição tanto de
recursos bióticos quanto abióticos, mas no caso da ocupação das dunas, há uma
descaracterização de suas funções ecossistêmicas, interferindo nos processos
dinâmicos da linha de costa. Isso torna a ocupação de Monte Alto suscetível a
inundações. Assim, é recomendável que o Plano de Proteção e Monitoramento
Ambiental, previsto pelo Plano de Manejo, saia o mais rápido possível, além da
utilização de Sensores Remotos e seus produtos como ferramenta para o
monitoramento do interior do PECS.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, K.C; SILVA, J.C.; ROCHA, T.B. O avanço da ocupação de Monte Alto
sobre a restinga do parque estadual da costa do sol (PECSOL) - RJ: considerações
sobre risco à inundação e a perda de geodiversidade. In: Geografia Física e as
Mudanças Globais. 1ª Ed. Fortaleza (CE), No prelo, 2019.
100
<https://g1.globo.com/rj/regiao-dos-lagos/noticia/2019/08/29/operacao-para-demolir-
casas-em-area-irregular-e realizada-em-arraial-do-cabo-no-rj.ghtml>. Acesso em: 28
set. 2019.
INEA. 2019. Plano de Manejo do Parque Estadual da Costa do Sol - Anita Mureb
(PECS). Rio de Janeiro: Instituto Estadual do Ambiente, 2019.
WILSON, E.O. The diversity of life. Cambridge, Mass Belknap Press, 1992.
101
GT 2: Estudos de Impactos Ambientais
RESUMO
O seguinte artigo foi elaborado com o objetivo de analisar como é tratado o esgoto nas
cidades assim como elucidar o novo Sistema de Tratamento de Esgoto Wetlands (Brejos
Construídos) e seus benefícios ecológicos e econômicos. Observando a necessidade de
um novo modelo energético analisamos um método alternativo que a partir da reutilização
de águas residuais é capaz de complementar e, consequentemente, reduzir a utilização de
outras substâncias mais nocivas ao meio ambiente como os fertilizantes à base de
nitrogênio, carvão e o petróleo.
1
Graduando em Geografia na UFF.
2
Graduanda em Geografia na UFF.
2. METODOLOGIA
Atualmente o fluxo d'água retorna das cidades, após uso humano, para as Estações
de Tratamento de Esgoto (ETEs) e podemos ver os processos que ocorrem na figura 2.
As ETEs são unidades operacionais de águas residuais, que removem, através de
processos físicos (gradeamento), químicos (floculação) ou biológicos (processos
aeróbios) dejetos e impurezas dessas águas, devolvendo-as, ao final desse processo para
o ambiente.
A água captada pela rede urbana passa por uma fase de gradeamento onde os
maiores resíduos são removidos. Em seguida, é direcionada para outro reservatório onde
será retirada a areia que depois será decantada. Na parte final do tratamento ocorre a
aeração do tanque onde os microrganismos se multiplicarão usando os substratos da água
para se reproduzir e, consequentemente, limpá-la. Por último, esse corpo hídrico seguirá
para uma decantação secundária e subsequente despejo em rios ou reutilização para
limpar a cidade.
2.1. INOVAÇÃO
Fonte: <https://ecoandoblog.wordpress.com/2016/05/27/sistema-de-saneamento-por-wetland-no-rio-de-
janeiro/>.
Essa estação começou a operar em 2005 e passou por reformas em 2009 para
atender o aumento da demanda da cidade. Atualmente é capaz de tratar 200l de esgoto
por segundo e atende a uma população de 144.000 habitantes. Além de toda a importância
para o funcionamento da cidade a ETE Ponte dos Leites ainda reaproveita os resíduos de
seus processos para um projeto socioambiental que os utiliza na produção de artigos
artesanais que a própria empresa (Concessionária Águas de Juturnaíba S.A.)
comercializa. Outra parte dos resíduos é utilizada para a compostagem, o que acrescenta
valor a esses materiais, e essas reutilizações são responsáveis por uma economia de
3
Vídeo Institucional ETE Águas de Jurtunaíba. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=GrjukwSxj1o>. O vídeo auxilia o compreendimento da estrutura e
como funciona o Sistema Wetlands, além de mostrar suas possibilidades econômicas.
4
Prêmio Firjan de Ação Ambiental 2016. Disponível em: <https://www.firjan.com.br/seminario-acao-
ambiental-2016/premio.htm>. Acesso em: 20 out. 2019.
2.4. DOIS EM UM
Fonte: Adaptado do artigo “Constructed wetlands as biofuel production systems” publicado na revista
Nature Climate Change, volume 2, p. 190-194, 2012.
5
SILVEIRA, Daniel. Consumo de combustíveis aumenta 0.4% no Brasil, aponta ANP. Disponível em:
<https://g1.globo.com/economia/noticia/consumo-de-combustiveis-aumenta-04-no-brasil-aponta-
anp.ghtml>. Acesso em: 18 out. 2019.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6
Ambrizzi e Magaña definem “extremo de tempo ou clima como a ocorrência de um valor de uma variável
de tempo ou clima que esteja acima (ou abaixo) de um valor próximo do limite superior (ou inferior) de um
conjunto de valores observados desta variável” (AMBRIZZI e MAGANÃ, p. 116).
4 - REFERÊNCIAS
DONG, L. ; XU, W.; JIE, C.; BAOJING, G.; YONG, M. et al. Constructed wetlands as
biofuel production systems. Nature Climate Change, volume 2, p. 190-194, 2012.
RESUMO:
1
Graduando em Geografia na UFF.
2
Mestranda em Geografia na UFF.
3
Prof.ª Dr.ª do Departamento de Geografia da UFF.
Praias arenosas são ambientes dinâmicos que estão em constante mudança por
uma série de processos, tais como energia das ondas, transporte litorâneo, marés, variação
do nível do mar e fatores antrópicos, os quais podem alterar o balanço sedimentar do
sistema praial, podendo ocasionar processos de erosão costeira ou acreção notáveis em
escalas de eventos, histórica e até geológica (STIVE et al., 2002). A linha de costa mostra-
se como uma feição sensível a essas mudanças, respondendo as alterações no balanço
sedimentar no ambiente praial, sendo definida por Boakand Turner (2005) como linha de
interseção entre o mar e o continente.
A susceptibilidade de um ambiente representa uma área potencial a ser afetada
por algum fenômeno natural (no caso da zona costeira, a erosão costeira, por exemplo),
sem que aqui se analise a probabilidade de sua ocorrência, sua frequência e as
consequências de seu impacto (JULIÃO et al., 2009 in MAGALHÃES, 2018). A
definição de vulnerabilidade a ser utilizada é referente à desenvolvida pela ISDR
(International Strategy for Disaster Reduction) que considera esta como “um conjunto de
condições e processos resultado de fatores físicos, ambientais, sociais e econômicos, que
aumentam a suscetibilidade de uma comunidade ao impacto do perigo” (ISDR, 2009 in
MAGALHÃES, 2018).
O presente trabalho teve por objetivo realizar um mapeamento da vulnerabilidade
e susceptibilidade à erosão costeira para dois pontos analisados no arco praial entre a foz
do rio São João e a foz do rio Una, assim como mapear a linha de costa para os anos de
1970, 2005 e 2018, visto que recentemente o setor norte deste arco praial vem sofrido
com eventos de ressaca com características erosivas. A área de estudo localiza-se no
município de Cabo Frio, ao sul de Rio das Ostras e norte de Búzios, a qual se insere,
segundo Muehe et al. (2006) no Macro Compartimento da Bacia de Campos (Litoral
Oriental do Rio de Janeiro), mais precisamente no compartimento do rio Macaé ao
embaiamento do rio São João.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Objetivando mapear a propensão de uma área ser afetada pela erosão costeira,
Para a identificação das áreas mais vulneráveis à erosão costeira foram acrecidos
aos geoindicadores de susceptibilidade 3 novos geoindicadores, sendo eles: (8) a posição
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
STIVE, M.J.F; AARNINKHOF, S.G.J.; HAMM, L.; HANSON, H.; LARSON, M.;
WIJNBERG, K.M.; NICHOLLS, R.J.; CAPOBIANCO, M. Variability of shore and
shoreline evolution. Coastal Engineering, v. 47, pp.211-235, 2002.
DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE:
o caso do setor elétrico no Brasil
RESUMO
1
Aluna do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal Fluminense.
2. A CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO
Apesar de hoje a AAI fazer parte nos Estudos de inventário, percebe-se que estes
últimos têm como preocupação central a questão da seleção da alternativa de maior
potencial energético, enquanto a AAI preocupa-se com as questões socioambientais que
o aproveitamento hidroelétrico pode fomentar no espaço em que se encontra. Ou seja:
“[o]s estudos de AAI têm seu foco principal na situação ambiental da bacia hidrográfica
em consequência da implantação do conjunto de aproveitamentos existentes ou
planejados” (BRASIL, 2007, p.597). Por meio destes estudos são analisados alguns
indicadores como: ecossistemas aquáticos, ecossistemas terrestres, modos de vida,
organização territorial, base econômica e populações indígenas/ tradicionais.
Dessa maneira, vemos que o peso dos componentes-sínteses varia de acordo com
a relevância que possui na interação com os demais componentes. Este peso é atribuído
por uma equipe técnica multidisciplinar que precisa hierarquizar estes componentes de
acordo com sua importância socioambiental em determinada área.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS:
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Senado Federal, 1988.
CABRAL, L. M. M. O meio ambiente e o setor de energia elétrico brasileiro. Rio de
Janeiro: Centro de Memória da Eletricidade no Brasil, 2009.
CAMPOS, D.V. de A. O uso de indicadores ambientais do meio físico e ecossistemas
terrestres na Avaliação Ambiental Integrada de empreendimento hidrelétrico em
bacias hidrográficas no Brasil. São Paulo, 2012. Monografia (Especialização em
Gestão Ambiental). USP. Instituto de Eletrotécnica e Energia, 2012.
CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE MEIO AMBIENTE HUMANO.
Estocolmo, 1972. Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano. Nova
York: ONU, 1972.
RESUMO
O presente trabalho relata as problemáticas relacionadas ao processo de afundamento dos
solos na favela de Rio das Pedras. O objetivo do trabalho é analisar se a interação entre
as características físicas do local e o processo de ocupação potencializou esses eventos.
Foram realizados trabalhos de campo na área de estudo e entrevistas com os moradores,
que em seu conjunto, evidenciam que essa problemática vai além dos aspectos físicos,
mas abrange também as questões sociais da população e da negligência do poder público
referente ao processo de afundamento das moradias.
1
Bolsista do PET do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio.
2
Professor Agregado do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio.
132
1. INTRODUÇÃO
2. METODOLOGIA
133
área de estudo, fazer as entrevistas com os moradores e identificar o afundamento de
moradias localizadas no trecho de Rio das Pedras conhecido como Pantanal.
3. ÁREA DE ESTUDO
Localizada na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, a favela de Rio das Pedras
é considerada a segunda maior favela da cidade, que de acordo com o Censo Demográfico
de 2010, possui 54.793 de habitantes. Além disso, “a favela de Rio das Pedras é um dos
locais mais nordestinos do Rio de Janeiro, reconhecida pela grande concentração do
comércio local, cuja economia gira em torno de 60% dentro da própria região” (Secretaria
Municipal de Urbanismo, 2013). Rio das Pedras abriga uma população crescente,
caracterizada pelas diferenças sociais identificadas na ocupação das diversas localidades.
134
A figura 1 apresenta, em laranja, a área foco do presente estudo, tida como a mais
afetada por essa problemática de afundamento, localizada próximo às margens da Lagoa
da Tijuca, em ambiente alagado e brejoso, conhecida como Pantanal.
O solo da área de estudo, classificado por Lumbreras & Gomes (2004) como
Organossolo Tiomórfico hêmico, aparenta ser suscetível a afundamentos, como ilustra a
figura 2, que mostra a distribuição dessa classe de solo justamente na área onde o processo
de afundamento é mais evidente. Essa classe de solo é encontrada em zonas úmidas da
orla marítima, sendo mal e muito mal drenados, em brejos e áreas próximas aos mangues.
135
Os Organossolos são conhecidos como solos “moles” que, por serem saturados, são
instáveis e suscetíveis ao processo de afundamento.
136
Figura 3 - Afundamento de uma rua em Rio das Pedras
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
As entrevistas realizadas com moradores da favela de Rio das Pedras tiveram como
objetivo trazer a percepção do morador sobre as problemáticas enfrentadas em seu
cotidiano, principalmente aquelas relacionados às fragilidades do solo.
137
Gráfico 1 - Origem dos entrevistados
138
vinda do marido para o Rio de Janeiro atrás de trabalho, e após se estabelecerem na favela,
vieram em seguida. Os entrevistados que responderam pelos valores acessíveis das
moradias, relataram que na época em que foram para o local, os preços eram bem menores
em relação a outros lugares. Mas o mais surpreendente foi que grande quantidade de
pessoas respondeu que foram para Rio das Pedras por ser um local menos violento em
relação às outras favelas do Rio de Janeiro, pois não possui tráfico e nem bandidos
(evidenciando que Rio das Pedras é comandado por milícia), mas totalmente cegos dos
outros tipos de violência em que o morador sofre no dia a dia.
Quando questionados sobre os maiores problemas que enfrentam no seu dia a dia
em Rio das Pedras a maioria dos entrevistados respondeu que são as inundações, chuvas
e enchentes (tabela 3). Entende-se que ao relatarem que os maiores problemas estão
relacionados aos eventos naturais, não percebem que as condições do local onde moram
são propícias a essas problemáticas, e que infelizmente serão recorrentes já que as ações
políticas para a prevenção de riscos e de gestão do território são negligentes. Outro grande
problema reconhecido pelos moradores é a ausência de saneamento básico, pois além de
esgotamento sanitário também não há tratamentos e coletas frequentes de lixo, o que
expõe ainda mais a população às vulnerabilidades relacionadas à saúde pública. Outros
139
problemas relatados foram a mobilidade, diante do congestionamento constante do
trânsito ou por ser um local longe do trabalho, e também sobre a densidade populacional,
pois relatam o quanto a favela cresceu e como isso afetou o seu dia a dia.
Quanto ao quesito sobre o afundamento das moradias, o gráfico 2 mostra que 94%
dos entrevistados disseram que estão cientes que o solo é instável para habitação, e apenas
6% não acham o solo instável. A tabela 4 esclarece que após o afundamento das moradias,
a maioria das pessoas continuaram em suas casas, e ao serem questionados pelo motivo
da permanência, relataram que permaneceram por falta de opção, já que não possuem
condições financeiras, nem outro local para morar. 18% dos entrevistados recorreram a
abrigos, mas não permaneceram por muito tempo nesses locais e 16% se mudaram de
suas casas. Um entrevistado não quis responder.
140
Gráfico 2 - Consciência referente ao solo
141
disseram que a defesa civil interditou as casas e 38% relataram que não houve
providências vindas do poder público, e sim dos moradores, como por exemplo, aterrar a
rua que sofreu o afundamento (gráfico 4). Vale ressaltar que 100% dos entrevistados
relataram que os moradores não receberam e nem estão recebendo qualquer tipo de
assistência por parte do poder público referente ao afundamento de suas casas,
evidenciando-se a negligência do poder público com os moradores de Rio das Pedras, que
em suas falas deixam bem claro a revolta frente a esse esquecimento.
142
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
143
RIO DE JANEIRO, Prefeitura da cidade do: SMU, Secretaria Municipal de Urbanismo.
Diagnóstico Urbanístico e Ambiental: POUSO RIO DAS PEDRAS. Rio de Janeiro:
Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, 2013.
144
GT – 3: Insterseccionalidades
RESUMO
O Rio de Janeiro sofreu diversas modificações na paisagem de acordo com as grandes
urbanizações na cidade, principalmente na formação das primeiras favelas e periferias.
As primeiras favelas do Rio de Janeiro se deram ao longo da década de 1890 quando os
antigos cortiços localizados no centro do Rio receberam novos moradores vindo da guerra
dos canudos e escravos libertos, intensificando assim, a formação de diversos barracos,
ocupados por uma população com uma vulnerabilidade social, Abreu e Vaz (1991). Ao
longo dos séculos XX e XXI a pobreza, o déficit habitacional, o êxodo rural e as grandes
migrações nordestinas ampliaram o número de pessoas ocupando as favelas, vivendo em
situações precárias e de abandono. Levando-se em consideração esses aspectos, este
artigo que se encontra em fase inicial, tem como o principal objetivo compreender o
impacto do processo de ocupação de Rio das Pedras na saúde de seus moradores, com o
conceito de saúde ampliada. Onde não se relaciona somente com o processo de adquirir
alguma doença, mas sim, quais as condições de ter uma vida saudável em Rio das Pedras,
principalmente com a falta de saneamento básico na região e como isso implica na vida
cotidiana destes moradores.
Por conseguinte, vale ressaltar as condições de vida na favela de Rio das Pedras
na zona oeste do Rio, onde diversas pessoas vivem expostas ao perigo causado pela falta
de saneamento básico, que é um fator bastante comum na maioria das favelas do Rio.
Levando em consideração as lutas cotidianas frutos da desigualdade, fez com que os
moradores convivessem cada vez mais com as situações precárias e expostos a riscos de
saúde ao se deslocarem de suas residências.
2. OBJETIVOS
A presente pesquisa busca compreender a vida cotidiana dos moradores do Rio
das Pedras e como se deu o processo de ocupação no Território. Consequentemente, é
importante analisar as relações sociais em que a população vive, dentre elas as lutas que
enfrentam diariamente, principalmente com a falta de saneamento básico na região. É
notório os problemas em que a população é submetida, principalmente pela questão do
esgoto a céu aberto e as grandes enchentes e inundações. Com isso, o interesse pelo tema,
analisando as preocupações em relação aos fatores que regem os Determinantes Sociais
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
No primeiro momento, a pesquisa abordará um levantamento de referências
bibliográficas que contextualizam o processo histórico de ocupação e urbanização da
cidade, tendo como foco a favela de Rio das Pedras e o bairro da Barra da Tijuca. Logo
após, serão construídos questionários semiabertos na forma física e online para
compreender a dinâmica social dos moradores de Rio das Pedras e qual a realidade acerca
dos marcadores sociais os mesmos estão sujeitos, para assim, gerar os dados quantitativos
da pesquisa. Também serão utilizadas fotografias de diferentes processos de
transformações no território de Rio das Pedras, levantamento hemerográfica relacionado
ao processo de ocupação e aos problemas abordados pela falta de saneamento básico
(figuras 1, 2 e 3).
Organização: Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (NEPHU). Fonte: UFF (2018).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
BURGOS, M. (Org.). A Utopia da Comunidade: Rio das Pedras, uma Favela Carioca.
2ª edição. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Loyola, 2002.
RESUMO
A questão agrária brasileira apresenta-se multifacetada quanto aos personagens que são
expostos a processos de opressão, espoliação e, consequentemente, de resistência. Dessa
forma, as contribuições dos ecofeminismos para o estudo geográfico do espaço agrário
brasileiro fomenta e visibiliza a discussão da centralidade da mulher nesse território – com
destaque ao seu papel nos movimentos agroecológicos -, assim como levanta o
questionamento sobre como as mulheres são as primeiras vítimas deste espólio.
1
Graduanda em Geografia na UFF.
4. CONCLUSÃO
5. REFERÊNCIAS
KOROL, C. Somos tierra, semilla, rebeldía: mujeres, tierra y territorio en América Latina.
GRAIN, Acción por la Biodiversidad y América Libre, 2016
MULHERES DO ENA. Sem feminismo não há agroecologia! Carta das Mulheres do ENA.
Disponível em: <https://marchadasmulheres.wordpress.com/2014/05/19/sem-feminismo-
nao-ha-agroecologia-carta-das-mulheres-no-ena>. Acesso em: 02 de out. de 2019.
RESUMO
Acerca de debates sobre a construção da educação ao longo de sua história, de sua incorporação
para o processo de humanização, sua implementação através do colonialismo e colonialidade
com caráter civilizatório, junto aos protagonismos do papel do Estado, das instituições
religiosas e das escolas frente às tendências neoliberais e convergências mundiais para a
educação, uma dualidade estrutural se concretiza reafirmando desigualdades sociais e
estabelecendo novo caráter ao espaço escolar, aos professores e aos alunos, frutos de um ensino
que se divide entre propedêutico e profissional. O objetivo deste artigo é traçar a historicidade
da organização educacional demonstrando as consequências do neoliberalismo econômico e do
neoconservadorismo político nas decisões no âmbito da educação.
1
Graduanda em Geografia na UFF.
2
Graduando em Geografia na UFF.
159
1. INTRODUÇÃO: o ato de educar, endoculturação e a estruturação de
desigualdades
Debater sobre educação requer entendimento da sua dimensão e do que ela tem como
objetivo em seus contextos, sejam eles em comunidades tradicionais, em escolas com pouca
infraestrutura no interior, na catequese, na escola pública da cidade, no colégio particular das
elites. As práticas que “humanizaram” muitos dos historicamente ditos inferiores ou
subalternos a partir do eurocentrismo, se concebe pela possibilidade que a educação tem de
conceber o que é ser humano, a educação pelo ato de humanizar (SCHELER, 1986).
A endoculturação foi responsável pelo epistemicídio de muitos povos que deveriam
ser educados à civilização, por meio desse processo de aquisição/produção de cultura que se
sustenta na imposição externa ao longo da história, no pleno domínio linguagem matriz da
reprodução de conhecimentos, baseada na violência simbólica e física. O sistema educacional
deve ser analisado partindo da sua esfera histórica, da herança cultural, econômica e política,
sendo determinante no que define o âmbito da memória e dos consensos. A realidade brasileira
se ampara historicamente na colonização, na estratificação social, na concentração do poder
político e na importação de moldes culturais. A educação e a escola passam a ter potencial em
reforçar as desigualdades, naturalizando as relações hierárquicas e estabelecendo status. A
dependência econômica do país nos deixa à mercê das tecnologias externas, estigmatizando o
trabalho manual e consagrando a educação brasileira com conservadora frente ao
desenvolvimento técnico industrial.
O padrão europeu educacional dos jesuítas consagrou a ampliação dos poderes
temporais, espirituais, estabeleceu o “profano” e o “sagrado”, agindo através da pedagogia
cristã, da oralidade, linguagem, imagens, representações, cantos e danças em combate à
"animalidade" dos indígenas. As medidas jesuítas se configuram por novos hábitos e valores
que não pertenciam aos nativos, como a proibição da nudez, abstinência sexual, incentivo à
monogamia e sujeição à vida cristã e suas regras políticas e culturais. Salienta-se que “é próprio
de elites separadas do trabalho produtivo — ou dos intelectuais que pensam o mundo por elas,
e para elas — propor como educação a formação da personalidade humana através do conselho
160
sistemático e da direção espiritual” (BRANDÃO, 1981). O que se constata é a continuação
dessa visão e desse posicionamento em relação à educação, por mais que outras ideologias e
valores sejam incorporados às relações sociais, econômicas, políticas e espaciais.
É imprescindível dizer que essa lógica da pedagogia cristã esteve nas políticas
educacionais para as favelas. Com suporte da leitura de Valla (1986), foi possível entender o
cenário da entrada da “educação legítima” nas favelas, os seus objetivos, o protagonismo da
Igreja Católica e do Estado impactando o processo educativo dos favelados e o reordenamento
espacial das favelas numa perspectiva centro-periferia. Os ideais de ensino mostram-se nítidos,
passando pelo reconhecimento da “população favelada como uma população que precisa ser
“educada”, que precisa de ser “elevada” em seu nível cultural, ou seja, uma população sobre a
qual deveria ser exercido um controle de outra qualidade”, adaptando o favelado à vida urbana
e nacional, concretizada pelas remoções e na destruição da autoconstrução e ensinamento da
autoajuda.
161
currículos, homogeneização do conhecimento, silenciamento de saberes, a partir de seus
interesses que afeta as classes sociais de maneiras distintas.
Compreender a figura do Estado mediante às tensões acerca da educação nos faz olhar
também para outras entidades que estão cada vez mais centrais nas diretrizes educacionais.
162
educação é mudada, é aplicada de outra forma, na expectativa de conceder diversas partes das
disciplinas, experiências, formas de linguagem, de ser abrangente, que se dá de forma
propedêutica, para as camadas detentoras dos privilégios, e que se mantém nessa posição das
relações de poder, onde conseguem ter acesso a uma forma de educação diferenciada, mais
democrática, mais política onde se apresenta para menos pessoas, privilegiadas, favorecidas
pelo sistema-mundo da modernidade colonial, nas diversas esferas das camadas sociais.
Está posto que o neoliberalismo econômico e o neoconservadorismo político estão
com unhas e dentes na educação. Esse contexto mais recente expõe ameaças às conquistas
históricas, viabilizando a ação das iniciativas privadas junto a redução substancial dos gastos
com as políticas públicas e sociais, fazendo com que a escola pública não seja mais uma
obrigação do Estado democrático. A perda da centralidade do Estado enquanto instância de
regulação social nacional caminha junto ao grande protagonismo do mercado e grande
globalização econômica e cultural que se alia às pressões externas (intermédio de agências
internacionais e de organizações supranacionais). A escola pública se constitui como um lugar
e tempo privilegiados para incutir e promover em todos os indivíduos os valores e visões do
mundo dominantes, e o neoliberalismo age com o intuito de esvaziamento da escola,
revalorizando o ensino privado e “mecanismos de mercado” para a educação (AFONSO, 2003).
163
população. E o fato de que a classe média goze de privilégios, não de
direitos, que impede aos outros brasileiros ter direitos. E é por isso que
no Brasil quase não há cidadãos. Há os que não querem ser cidadãos,
que são as classes médias, e há os que não podem ser cidadãos, que são
todos os demais, a começar pelos negros que não são cidadãos. Digo-o
por ciência própria. Não importa a festa que me façam aqui ou ali, o
cotidiano me indica que não sou cidadão neste país” (SANTOS, 1996).
164
Aponta-se, porém, uma contradição pois quanto mais simples as atividades (mais
simples também será essa educação), mais complexa são as formas de gerenciamento (controle
do trabalho), já que essa constante especialização do trabalhador promove maior fragmentação
dos conhecimentos e consequentemente das atividades. Esse cenário põe os dirigidos na divisão
social do trabalho e os dirigentes na ciência, como intelectuais. Com essas questões postas
convergentes ao posicionamento internacional e estatal, o Brasil se caracteriza como incapaz
de alcançar o desenvolvimento científico e tecnológico dos EUA, Europa e Japão. A educação
brasileira está pautada na separação entre ciência e tecnologia, configurando um retrato real das
desigualdades sociais a partir do momento que amplia as hierarquias e estabelece quem se
preocupa com direitos, de quem se preocupa com os privilégios.
4. CONCLUSÕES
165
5. REFERÊNCIAS
VALLA, V. V. (Org.). Educação e favela. Políticas para as favelas do Rio de Janeiro, 1940-
1985. Petrópolis em co-edição com Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva (ABRASCO), 1986.
166
GT - 4: Educação e Geografia
Filipe Patrizi1
Universidade Federal Fluminense
filipepatrizi@id.uff.br
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo discutir como as novas tecnologias podem ser usadas no
ensino de geografia. Trabalha-se a concepção de que as tecnologias podem ser
ferramentas para que o professor possa deixar uma aula de geografia mais inclusiva e
atraente aos seus discentes. Aborda-se também os desafios e a atual conjuntura do uso
das novas tecnologias, bem como das necessidades tanto de investimentos em
infraestruturas, como de preparação em incentivo aos professores.
1
Graduando em Geografia na UFF.
Evidentemente que quando Paulo Freire escreveu essas palavras, não se tinha todo
o aparato tecnológico que se tem nos tempos contemporâneos. Mais evidente ainda é o
fato de que não é apenas o uso da tecnologia que magicamente propiciará uma aula mais
inclusiva com os alunos e um aprendizado autônomo da ciência geográfica. Óbvio
também que muitos professores conseguem propiciar aproximações com os alunos sem o
uso das ferramentas tecnológicas. No entanto, não é possível ignorar o quanto as novas
tecnologias podem ser úteis para possibilitar aos educandos um pensar geográfico
autêntico, que fuja da velha concepção bancária, que tem a memorização de saberes como
regra.
Além disso, os alunos têm maior facilidade de aprender um novo conhecimento,
e posteriormente ter autonomia até mesmo para a criação de mais conhecimento, através
do uso de signos, ou objetos. “Quando o aluno vê o globo terrestre, na realidade ele está
vendo a Terra (conceito de Terra), formando uma representação do mundo” (CORREA,
FERNANDES e PAINI, 2010). Infere-se, com isso, que para a conceituação adequada é
necessário o uso de objetos que remetam aquele conceito. A geografia já trabalha desta
forma desde sua concepção. O mapa, além de uma ferramenta, é um signo, que ao fazer
uso do mesmo, consegue visualizar os diferentes espaços, as diferentes regiões, ou mesmo
os diferentes territórios, dependendo de qual mapa seja e também a sua escala. Imagina o
quão complicado seria explicar esses conceitos, sem a utilização de um mapa ou globo
terrestre.
As novas tecnologias, e nesse caso principalmente as geotecnologias, tem como
objetivo serem ferramentas e signos para auxílio dessa aprendizagem. Atualmente,
programas de imagens espaciais como o Google Maps ou Google Earth já estão
disponíveis para serem utilizados nos mais simples aparelhos de smartphones. Estes
aplicativos, além de mapas, são programas intuitivos que mudam a escala num simples
deslizar da tela. Não só a escala espacial como a escala temporal podem ser alteradas
nesses aplicativos, o que possibilita que o usuário se debruce sobre uma infinidade de
possibilidades. Esse tanto de possibilidade pode ser utilizado para despertar no aluno o
Segundo Valente e Santos (2015) existe uma dimensão, que Kant chama de
imaginativa, que é essencial para resolução de problemas. Segundo esses autores, as
novas tecnologias podem ser extremamente eficazes na promoção dessa dimensão, do
lado imaginativo do ser humano. Em especial, ao falarem sobre o uso da Realidade
Virtual, eles explicam como os alunos podem vivenciar situações que seriam
praticamente impossíveis numa aula tradicional. Utilizando o Street View junto aos óculos
VR, os alunos conseguem ter a sensação, ao menos visualmente, de estarem nos mais
diferentes lugares do mundo, sendo a livre escolha dos mesmos os locais que visitam,
indo desde um bairro próximo até as pirâmides do Egito ou a torre Eifel.
É fato que esse exemplo dos autores, exige uma infraestrutura mais sofisticada.
Mesmo no modelo mais barato de óculos, seria necessário gasto com equipamentos de
computação que a maioria das escolas brasileiras não tem ainda. Segundo Calado (2012),
observa-se que muitas escolas ainda não tem os mais simples dos aparelhos tecnológicos
para auxílio do professor, como um projetor de imagens. Algumas ainda não tem sequer
acesso a livros didáticos ou uma infraestrutura adequada para que alunos e professores
tenham aula. Isso é um problema que não pode ser ignorado e é constante nas escolas
públicas e privadas do Brasil. No entanto, mesmo quando a tecnologia é dada, esta tende
a não ser utilizada pelos docentes, devido aos mais diversos problemas enfrentados por
essa categoria, que vai desde a superlotação de salas de aula a sobrecarga de trabalho.
Além disso, as possibilidades que a nova tecnologia tem para ser usada em sala de aula
não é sequer apresentada ao professor pelos superiores responsáveis. Em alguns casos, os
professores utilizam a tecnologia, mas da mesma forma que utilizavam ferramentas de
tecnologias mais antigas, como o quadro negro. Cysneiros (1999) chama essa utilização
da tecnologia de “inovação conservadora”.
Ademais, percebe-se que na maior parte das vezes em que uma ação política
voltada para a incorporação tecnológica em sala de aula é feita, a mesma está mais ligada
a um plano de governo do que de Estado. Logo, não se tem uma preocupação em
transformar e orientar os professores a como utilizar aquela tecnologia. Antes, é dado a
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS